DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO
NÚCLEO DE REVISÃO DE COMISSÕES
TEXTO COM REDAÇÃO FINAL
COMISSÃO ESPECIAL - SISTEMA FINANCEIRO NACIONALEVENTO: Audiência Pública Nº: 0437/00 DATA: 09/05/00INÍCIO: 15h02min TÉRMINO: 17h06min DURAÇÃO: 2h03min TEMPO DE GRAVAÇÃO: 2h07min PÁGINAS: 42 QUARTOS: 13REVISORES: ODILON, VEIGASUPERVISORES: MARIA LUIZA, JOSÉCONCATENAÇÃO: GILZA
DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO
ANTÔNIO CARLOS DE LAURA CASTRUCCI - Presidente da Associação Brasileira de BancosComerciais — ABBC.
SUMÁRIO: Debate sobre o papel das cooperativas de crédito no Brasil.
OBSERVAÇÕES
Há expressões ininteligíveis.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNome: COMISSÃO ESPECIAL - SISTEMA FINANCEIRO NACIONALNúmero: 0437/00 Data: 09/05/00
O SR. PRESIDENTE (Deputado Danilo de Castro) - Havendo número
regimental, declaro abertos os trabalhos da presente reunião da Comissão Especial
que trata do Sistema Financeiro Nacional.
Ata.
Tendo sido distribuídas cópias da ata da reunião anterior a todos os
membros presentes, indago da necessidade de sua leitura.
O SR. DEPUTADO MARCONDES GADELHA - Sr. Presidente, considerando
a distribuição de cópias da ata, creio seja dispensável sua leitura.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Danilo de Castro) - Em discussão a ata.
(Pausa.)
Não havendo quem queira discuti-la, em votação.
Aqueles que concordam permaneçam como estão. (Pausa.)
Aprovada.
Expediente.
Correspondências recebidas.
A presente reunião destina-se a ouvir a palestra do Dr. Antônio Carlos de
Laura Castrucci, Presidente da Associação Brasileira de Bancos Comerciais —
ABBC, sobre o entendimento do setor que representa com respeito à
regulamentação do art. 192 da Constituição Federal, do Sistema Financeiro
Nacional.
Peço aos Srs. Deputados que queiram participar dos debates que se
inscrevam junto à Secretaria.
Concedo a palavra, pelo tempo necessário, ao nosso nobre palestrante, Dr.
Antônio Carlos de Laura Castrucci.
O SR. ANTÔNIO CARLOS DE LAURA CASTRUCCI - Sr. Presidente, Srs.
Deputados, boa tarde. Primeiramente, gostaria de agradecer à Comissão o honroso
convite, a que atendo com muito prazer.
Vou usar mais ou menos 25 minutos para fazer uma exposição sobre o
Sistema Financeiro Nacional, principalmente acerca de assunto bastante atual: a
composição da taxa de juros. Para isso preciso usar recursos da tecnologia, que
facilitam muito a exposição. Então, peço licença para ficar nesta direção.
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Tenho a impressão de que, se os senhores se deslocarem mais para a
esquerda, verão melhor, porque, para minha explicação, é fundamental o apoio
visual.
Antes de iniciar, desculpo-me com os presentes pela possível falta de
precisão em assuntos jurídicos e econômicos, pois não sou advogado nem
economista, mas engenheiro. Por outro lado, compensarei um pouco essa falta de
formação pela vivência que tenho no sistema bancário, de mais de trinta anos.
É difícil falar na formação de taxas de juros sem passar pelo Sistema
Financeiro Nacional. É fundamental essa apreciação. Vou fazer, então, uma
apresentação do Sistema Financeiro Nacional. Ele não tem nenhuma precisão legal
e também não está baseado em nenhuma norma. É apenas uma apresentação
visual.
Serei rápido, porque o assunto do Sistema Financeiro Nacional é bastante
conhecido, ainda mais numa Comissão especializada como esta. Mas é importante
entrar um pouco no mérito.
(Projeção de slides.)
O topo do Sistema Financeiro Nacional seria o Conselho Monetário Nacional,
órgão que estabelece a política maior do sistema.
Abaixo, há três instituições bastante importantes, que põem em prática e
supervisionam a política desenvolvida pelo Conselho Monetário Nacional — repito
que na legislação não é bem assim —, pelo Banco Central, pela Comissão de
Valores Mobiliário e pelo SUSEP, cada um trabalhando na sua área específica: o
Banco Central, na supervisão do sistema bancário de todas as instituições
financeiras; a CVM, na proteção e fiscalização das emissões públicas — qualquer
título colocado junto ao público sofre regulamentação e fiscalização sua. Quer dizer,
no fundo, o Conselho Monetário Nacional está sempre muito preocupado com a
poupança pública, fiscalizando, de uma lado, bancos, financeiras, empresas de
crédito imobiliário, através do BACEN, certificando-se de que os depositantes
dessas instituições estejam protegidos. Quando sai do âmbito das instituições e vai
direto para o emitente, ou seja, uma empresa tomadora de recursos, ou vem de
emissoras de ações e do público direto, entra a CVM. E a SUSEP trata da parte de
seguros privados.
Abaixo — quando digo abaixo é apenas uma situação hierárquica, funcional
— existem três importantes instituições: Banco Nacional de Desenvolvimento
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Econômico e Social, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal. O BNDES trata
da política de investimentos e empréstimos a longo prazo, o Banco do Brasil atua
mais na área de crédito comercial e rural e a Caixa Econômica Federal garante
crédito para construção da casa própria.
Realmente não me deterei em detalhes nessa fase.
Numa outra classificação, teríamos instituições financeiras governamentais,
federais e estaduais, como Banco do Nordeste, Caixas Econômicas Estaduais,
bancos estaduais. Depois entraremos realmente na parcela das instituições de
iniciativa privada.
Quando foi regulado todo o Sistema Financeiro Nacional, com a extinção da
antiga SUMOC, em 1964, com a Lei nº 4.595, optou-se por especialização das
instituições financeiras. Tínhamos bancos de investimentos, bancos comerciais,
companhias de crédito de financiamento e investimento, empresas de leasing, que
datam do fim da década de 70, e sociedades de crédito imobiliário, cada uma
atuando num segmento específico.
Mais recentemente, em 1988, surgiu a idéia do banco múltiplo, ou seja, não
era mais necessário haver a especialização da instituição. Dentro de um mesmo
banco poderia haver todas as especializações, visando a dar maior (ininteligível) ao
sistema e a reduzir custos.
Uma parte muito importante no sistema é a forma de distribuição. Quer dizer,
não adianta ter valores se não há quem os distribua. Aí, destacamos as Bolsas de
Valores, as corretoras de câmbio e valores mobiliários, as bolsas de mercadorias e
futuros e as distribuidoras de valores.
Em resumo, apenas, para entrar no assunto, fiz essa introdução para que
todos os presentes chegassem mais ou menos no mesmo nível de entendimento.
Em toda economia há, de um lado, unidades familiares, governos, empresas
com excesso de fundos e investidores institucionais; de outro, simultânea ou
alternativamente, as mesmas unidades, também com escassez de recursos. Qual é
a função do Sistema Financeiro Nacional? É, de maneira harmônica, receber os
recursos de quem tem excesso e dar àquelas unidades que têm escassez de
recursos. Vamos ver um pouco mais à frente o que estou querendo dizer.
Então, o Sistema Financeiro recebe os excessos de recursos e os
redireciona para as unidades que apresentam, naquele momento, escassez. A
contrapartida são contratos e garantias. Basicamente, é esta a função do Sistema
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Financeiro Nacional: fazer essa transferência de maneira ordenada e disciplinada,
oferecendo segurança a todos os depositantes.
Vamos observar um pouco para o lado direito, onde há um detalhe
importante, que é a entrada desses recursos no sistema, saídos das unidades que
têm excesso. Como esses recursos entram no sistema? Através de depósitos de
toda natureza, à vista, por cheque, a prazo, caderneta de poupança e outras
modalidades. Qual o instrumento legal contra esses depósitos? Existem depósitos a
prazo fixo, em conta corrente e em caderneta de poupança.
Outra forma de entrar recursos no sistema é através de empréstimos e
financiamentos do exterior, para o que há a Resolução nº 163, o Decreto-Lei nº
4.131 e Financiamentos Sobre Títulos de Pré-Exportação. Qual é o documento de
contrapartida? Contratos, cartas de créditos, notas promissórias.
Outra forma de entrada de recursos no sistema são empréstimos e
financiamentos de instituições oficiais brasileiras. Nesse ponto o principal deles é o
BNDES. A contrapartida, sempre, é um contrato.
Existe ainda a possibilidade de fluir esse recurso dentro do próprio sistema
entre bancos, os depósitos interbancários. O documento básico seria o Certificado
de Depósito Interbancário — CDI.
Finalmente, recursos administrados. O sistema não fica exclusivamente
tomando recursos de um lado e emprestando do outro, assumindo riscos nessa
transação. Também administra recursos. Como? Sob a forma de fundos de pensão
e assim por diante.
Se quisermos examinar em detalhes o outro lado do Sistema Financeiro
Nacional, como as unidades que tinham escassez recebem esses recursos, eles
vão sob o título de financiamento à produção, à comercialização, para aquisição de
bens, financiamento de casa própria, financiamento a investimentos e
financiamentos agropecuários. Em contrapartida existem contratos, notas
promissórias e garantias.
Na parte a longo prazo, o banco simplesmente é um intermediário entre os
que têm excesso de recursos e as empresas, diretamente, sem tomar participação
no risco de crédito, do retorno, feito através de ações e debêntures, praticamente os
títulos principais.
É importante ressaltarmos outros problemas que o sistema bancário tem de
enfrentar, suas preocupações, o que chamamos de matching, ou seja, o
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casamento necessário. Quer dizer, por forças operacionais, o sistema bancário
trabalha com fontes e aplicações descasadas. Posso estar recebendo dinheiro em
dólar e, de repente, emprestá-lo em real; posso estar recebendo dinheiro em taxa
equivalente a caderneta de poupança, TR e mais alguma coisa e emprestar em
real. O importante é o banco casar essas duas fontes, porque não é dinheiro seu
que empresta, mas do depositante. O dinheiro do banco é a menor parcela dentro
do contexto. Normalmente, está aplicado nos investimentos e serve para atender —
o que vamos ver um pouco mais à frente — às exigências legais, que chamamos de
alavancagem.
O sistema bancário nada mais é do que um sistema intermediário: toma
dinheiro de um lado e passa para o outro de maneira ordenada, ganhando para isso
alguma coisa. A necessidade do casamento é fundamental, porque, vamos supor
que um banco tome dinheiro em dólar e o empreste em reais — uma
maxidesvalorização, como houve, o levaria a um prejuízo muito grande. Então, há
de casar, e o primeiro casamento seria o de moeda.
O segundo casamento seria o de prazos, que leva outro tipo de risco. No
Brasil, hoje, por exemplo, a maior parte da captação é de curto prazo: 30, 60, 90,
120, 180 dias, exagerando. Mas é necessário que os prazos para empréstimos
sejam mais longos: financiar um carro, 24 meses, 36 meses; uma televisão, 18
meses. Então, o banco também tem o problema de casar essas duas coisas.
Depois vamos ver como se faz esse casamento sem ser padre.
As modalidades também são casadas. Sentimos por parte do Banco Central
tendência muito correta de parar de carimbar os dinheiros. Hoje é assim: a
caderneta de poupança tem de ser usada para financiar casa própria; repasse do
BNDES tem de ser usado para o FINAME, para financiamento de compra de
equipamentos, ou para financiar Programa de Operações Conjuntas — POC, que,
enfim, serve para suprir recursos de longo prazo para as empresas ligadas a
investimentos.
O Pre Export, tomada de dinheiro no exterior em moeda estrangeira, de
prazo curto, serve para fazer financiamentos à exportação, através do
pré-financiamento. A Resolução nº 63 serve para emprestar em dólar, a prazos
mais longos, ou para fazer operações de leasing. Os depósitos livres são os únicos
em aplicações livres. Quer dizer, aquela parte de depósitos que é livre, o depósito a
prazo, é a única que o banco usa da melhor maneira que achar.
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Então, esse casamento é um fator muito importante para o sistema bancário.
Como se casa? Aí vem o famoso termo hedge, que é uma proteção. Como
funciona? Através da Bolsa de Mercadorias e Futuros, podemos comprar e vender
opções de moedas, de maneira que, se tomei um dinheiro em dólar e acabei por
emprestá-lo em real, posso fazer uma opção de comprar dólar a um preço prefixado
hoje. Essas são as opções. Existem outras formas, mas são índices. Pode-se
comprar e vender índices na BMF, em de taxa de juros, de dólar. Temos ainda os
famosos swaps, onde troco alguma coisa por alguma coisa: posso trocar uma
dívida teórica, em dólar, por uma dívida em reais, com taxas de juros.
Enfim, o Sistema Financeiro Nacional utiliza esses instrumentos com muita
facilidade e amplitude, de maneira a compensar a falta de casamento que a
necessidade operacional gera. Como dizia, se tomo o dinheiro a 30, 60, 90, 120
dias e, por questão de mercado, empresto a 24 meses, tenho de me preocupar. Por
quê? Porque, quando empresto a 24 meses, fixo a taxa de juros e estou captado a
seis meses. Se a taxa de juros oscilar, pode causar-me grande prejuízo. Aí, o
sistema bancário usa o mecanismo de hedge.
Chegando até aqui, o importante é imaginar que a função do Sistema
Financeiro é essa intermediação. Mas ele não é dono do dinheiro; é um
administrador e tem de ter todas as preocupações de um administrador.
Agora vou falar do que seria mesmo o tema da minha exposição, atual, que
preocupa desde o legislador até o povo, aquele que está pagando a taxa de juros:
como é formada a taxa de juros do sistema bancário? O que é isso? Que mistério é
esse? Qual é essa caixa preta?
Vou responder resumidamente. Depois detalho melhor. Existem vários
componentes da formação da taxa de juros. O primeiro é o custo básico dos
recursos, que seria equivalente à taxa de juros que o (ininteligível) federal paga.
Hoje, quando o COPOM se reúne e fala que é de 18,5 — que, vamos considerar,
seria o maior componente da taxa base —, vamos ver que existem alguns outros
pequenos componentes. Mas o componente fundamental é exatamente o Tesouro
Nacional.
As oscilações no Tesouro Nacional influenciam na taxa do consumidor final?
Sim. Em grande proporção? Não, porque os outros componentes são muito fortes
também, e nós vamos chegar lá.
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O segundo componente são as perdas por inadimplência, aquelas que o
banco sofre pelo fato de o cliente não cumprir seus compromissos, ou cumpri-los
fora das condições estipuladas inicialmente. Por exemplo, o banco empresta
dinheiro para um cliente comprar um carro. No meio do circuito, ele se atrapalha e,
do ponto de vista amigável ou não, devolve o carro, não paga a conta, e existe um
prejuízo parcial para o banco. Então, a perda por inadimplência é fator importante.
Muitos perguntam: mas por que, de repente, isso veio tão à tona? E o
brasileiro como é? Minha experiência de crédito tem mais de trinta anos — trabalhei
em crédito de loja, inclusive —, e eu diria que o brasileiro é um excelente pagador.
Na loja em que trabalhei há trinta anos, que chegou a ser a maior loja de varejo do
País, a inadimplência era menos que 0,3% sobre o total da carteira. Hoje falamos
em 15%, em 17%, em quase 20%. Então, não é o brasileiro que é mau pagador,
mas tivemos problemas conjunturais dos quais vamos falar.
Outro fator importante de componente é o custo administrativo do banco. A
estrutura de um banco é uma coisa pesada. Para cumprir todas as funções do
banco, há um custo alto. Ele tem de ter uma rede de distribuição para o público
poder ter acesso, e essa rede de distribuição é uma coisa muito cara.
Fora isso, o sistema bancário sempre teve um custo adicional — que hoje
está pesando, mas é extremamente benéfico —, que chamamos de custo de
observância. É aquele dinheiro que se gasta para seguir todas as normas. O
Sistema Financeiro Nacional tem caminhado a passos largos para cada vez ser
melhor, mais sólido e transparente. Isso implica custo de observância. As recentes
normas — e vamos falar disso um pouco mais à frente — que trataram de contrato
de risco de maneira geral têm realmente um custo de observância alto, que no
decorrer do tempo começa a baixar.
Outra parcela de componentes do custo é o que chamo de lucro risco zero.
O banqueiro também é capitalista, está certo, e tem exigência sobre o capital. Então
ele tem de ter um crescimento sustentado do seu banco, que, para isso, precisa dar
lucro. Lucro risco zero é aquele lucro de um empréstimo em que ele nunca perderia
nada. Ele tem de ter esse mínimo. Além disso, a empresa também tem de ter
crescimento sustentado, tem de gerar recursos suficientes para continuar
crescendo. Existe uma série de exigências que vêm de originários do BIS, do Banco
da Basiléia, que impõe restrições de capital para um banco poder operar. Isso é
mundial. Vamos falar sobre isso um pouco à frente também.
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Temos outro componente, a cunha fiscal, que não podemos criticar, porque é
uma necessidade para equilibrar o orçamento, pois estamos numa economia
(ininteligível), e tem de equilibrar o orçamento fiscal. Mas ela implica custo. Eu diria
que a cunha fiscal possui dois lados: a cunha fiscal entre a taxa que o banco paga e
a que o depositante recebe; depois tenho outra diferença entre a taxa que o
devedor paga, que o banco cobra, e a que o banco recebe. Essas diferenças nas
duas fontes são as cunhas fiscais, sobre as quais vamos falar um pouquinho. A
soma disso é a taxa de ouro praticada, a taxa de ouro cobrada.
O custo básico dos recursos de uma instituição financeira, de vez em
quando, chama-se Taxa Selic, que é uma gíria de mercado, pois na verdade é um
sistema de liquidação de títulos públicos federais e publica a taxa média, que nada
mais é do que basicamente a taxa que o COPOM define; é a taxa do título federal.
Mostrei naquele fluxo de fundos que nem todos os fundos de um banco ou
de uma instituição financeira são provenientes de certificado de depósito bancário,
depósito a prazo; podem ser de tomadas de recursos no exterior. Então o custo
básico seria a desvalorização cambial mais a taxa de juro incorporada.
O que vem a ser a Resolução nº 63? É um empréstimo que um banco toma
junto a outro banco ou a uma empresa no exterior, que vai querer seu dinheiro em
dólar. Então a desvalorização e a valorização cambial são despesa ou receita do
banco, mais uma taxa de juro.
Pre Export é um dinheiro que o banco toma para poder financiar uma
exportação. Esse Pre Export tem uma taxa de juro, e o banco tem como custo
básico a desvalorização cambial ou a valorização cambial mais os juros.
Temos outros tipos de recursos que são indexação mais juros. Existem nos
próprios depósitos a prazo fixo depósitos com taxa equivalente à ANBID, à TR,
assim sucessivamente, como a poupança também é TR. Sempre há uma taxa de
juros assim.
Esses seriam exemplos de custo básico. Fora isso, consideramos como
custo básico o prêmio desse casamento. Se tomo dinheiro a 18,5% ao ano para um
prazo de trinta dias e empresto para um ano, meu custo básico não é mais de
18,5%, mas de 18,5% mais o prêmio que tenho para bancar essa diferença. O
mercado dá esse preço. Então, por causa de um problema que eu diria meramente
psicológico, a taxa de ouro futuro através de um swap, se eu trocar uma taxa
atualizada dia a dia por uma prefixada, hoje, se eu for fazer isso no mercado,
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existem instrumentos. Isso é para ser feito dentro a BMF ou entre mesas de
bancos. Hoje a taxa é 21 e qualquer coisa. Então, os 18,5%, na verdade, seriam
21,5% para um ano. Então esse prêmio de 3% ao ano estaria dentro do meu custo
básico, se eu for emprestar a um ano e estiver captando a trinta dias. Não sei se
ficou claro. Também não sei qual o mecanismo de perguntas, mas se quiserem
fazer perguntas está aberto.
Ainda dentro do custo básico, colocamos o Fundo Garantidor de Crédito —
FGC. O sistema bancário recolhe uma taxa equivalente a 0,25% ao ano para esse
Fundo, que é uma empresa regulada por lei, por iniciativa privada, que indeniza os
depositantes até 20 mil reais, no caso de uma liquidação ou de insucesso de uma
instituição financeira. Assim, mais ou menos, cobrimos o custo básico.
O segundo componente seria perdas por inadimplência. Faço questão de
repetir que o Brasil tinha uma inadimplência muito mais baixa, e o brasileiro é um
bom pagador, por instinto. Como avaliamos essa perda? Ela ocorre em função de
várias coisas, e a primeira delas é o risco tomador. Temos um sistema bancário que
possui toda uma tecnologia para avaliar, talvez, uma análise de crédito. Eu diria que
aqui já existe algum risco, porque o sistema de informação não é preciso.
Conhecemos todas as dificuldades e incertezas que são encontradas nas
informações financeiras e cadastrais.
Há outra parcela que é a garantia em si. O risco de ouro pode ser má
garantia, pode ser um risco. A garantia tem risco de liquidez, ou seja, quando
retomo um veículo, tenho o risco do preço daquele momento e do estado do
veículo. Então, tenho risco de liquidez e de preço. Posso até não conseguir vender
o veículo.
A facilidade de retomada de posse ou de propriedade e a defesa da
propriedade são funções um pouco ligadas a problemas legais também, porque o
sistema brasileiro é lento numa execução. A execução de um imóvel financiado que
não tenha sido pago pode chegar a três anos. Em outros países, às vezes, em três
meses o imóvel é retomado. Então, posso dizer que tenho garantia? Tenho, mas a
garantia é líquida, tem preço, e, principalmente, é fácil de retomar?
E há a função do risco execução, que estávamos comentando, o tempo da
execução, pois há aspectos legais crônicos. Há a questão do juro composto e vários
assuntos que são crônicos e que o sistema não conseguiu resolver ainda.
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Há a função do risco operacional também. Às vezes o banco perde dinheiro,
porque, na formalização do contrato, alguma coisa errada aconteceu e não dá ao
banco o direito de executar no futuro, ou, às vezes, até mudança de legislação. Por
exemplo, para executar uma conta garantida ou cheque especial, apresentava-se
em juízo o extrato de conta corrente com todos os movimentos — o que foi sacado,
pago e tudo o mais. E aquilo valia como prova. Podia a parte contrária até pedir
uma auditoria para verificar. De um tempo para cá, existe decisão no Judiciário de
que isso não é mais prova. Então, uma ação normal executiva passou a ser uma
ação ordinária, que leva de cinco a seis anos para se executar. Essas são
mudanças durante o procedimento.
Quanto ao custo administrativo do banco, eu já havia dito mais ou menos
que é o custo operacional e o custo de observância. Vou voltar ao custo
administrativo, porque ele tem uma implicação, é um círculo vicioso. Só explicando
melhor o que chamamos de custo administrativo do banco: é o conjunto de despesa
fixa que existe para manter o banco aberto, todos os departamentos funcionando e
todas as despesas de observância. Esse custo, na verdade, é rateado pelos
empréstimos. Então, quanto mais empréstimo tenho, menos ele incide. Não estou
falando em custo em termos absolutos, mas em termos proporcionais, porque,
quanto mais empresto, menos esse custo incide no empréstimo.
Eu já havia falado alguma coisa sobre o lucro risco zero. O acionista precisa
ser remunerado, e existe hoje um problema de alocação de capital. O Banco
Central completou há pouco tempo o círculo das alocações de capital necessário
para fazer frente ao risco. Alocação de capital é a quantidade de capital que é
preciso ter para assumir determinado volume de risco. O primeiro tipo, e mais
tradicional, é alocação de capital ao risco de crédito. O banco deverá ter, para cada
real emprestado, onze centavos de capital próprio. Isso é para evitar uma crise
sistêmica, ou seja, um problema muito sério no sistema bancário. Esse número é
estimado em como os bancos deveriam responder perfeitamente pelos seus
compromisso. Essa é a alocação mais antiga que existe no sistema bancário
brasileiro.
De dois anos para cá, há uma série de alocações adicionais. Existe uma
para risco de câmbio. O banco é obrigado a fazer uma alocação de parcela do seu
capital para cada exposição em dólar que tenha. Se não fiz o casamento em dólar,
se tomei em dólar e resolvi emprestar em real, ou qualquer coisa desse tipo, e fiz o
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descasamento, ele exige uma chamada de capital, a não ser que eu faça um swapou coisa assim e nivele.
O mais recente agora é alocação de capital para variação de taxa de juro:
tomo dinheiro, vamos supor, a sessenta dias e empresto a 24 meses. Se eu ficar
nessa posição aberta, tenho de alocar um capital para isso. Posso ir à Bolsa ou a
outro banqueiro e propor um swap de doze meses, que na média dá 24; daí, eu
zero. Mas se eu ficar aberto, tenho de alocar capital.
Mais recentemente, tratando de utilização do capital que afeta o patrimônio
dos bancos — já não é a alocação —, temos uma legislação relativamente recente,
que começou a viger agora em março e estará implantada totalmente em julho. É a
classificação de crédito — o banco tem de fazer um provisionamento, que é mais do
que alocar capital: é reduzir capital. Ou seja, uso parte do capital para provisionar
contra créditos em liquidação. Podemos até falar mais sobre isso à frente.
Então, o problema do sistema bancário é que ele tem de ter capital, que não
é pequeno, tem de remunerar o acionista, tem de criar lucros suficientes para poder
continuar crescendo e também tem de ter patrimônio crescente, para poder fazer
frente a essas alocações.
No que se refere à cunha fiscal, como estamos falando de formação de taxa
de juros para o tomador, vou pegar só o lado da cunha fiscal a custo ou taxa que o
tomador paga e que o banco ganha. Então, do ponto de vista de impostos diretos,
temos o PIS, a COFINS, que incidem sobre a renda do banco, o Imposto de Renda
sobre provisão para devedores duvidosos. Nesse caso, a provisão para devedores
duvidosos é feita segundo uma regra — essa que eu estava falando agora a pouco,
que é mais recente. Porém, do ponto de vista fiscal, a regra é outra. Então
provisiono as perdas futuras, mas não deduzo para efeito fiscal.
Se me perguntassem se isso é certo ou errado, eu não diria que é errado.
Brigamos para que seja a mesma regra, mas há uma razão de ser. Quer dizer, para
provisionar, tenho de ser muito mais cauteloso, estar sempre mostrando que o
patrimônio do banco é o mais seguro possível. Então devo provisionar rápido, e
nem sempre o que provisiono perco. Essa diferença entre dedutibilidade e
provisionamento tem alguma razão de ser. Diria que, no nosso caso, vai um pouco
longe demais, mas tem de haver uma convergência maior. A convergência total,
porém, nunca deverá existir, porque acho que não (ininteligível). O Imposto sobre
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Operações Financeiras — IOF está em um nível bastante baixo, mas também é um
custo do tomador.
Vamos falar das tendências. Hoje me perguntaram o que é cada parcela
dessa composição do custo. Não conseguiria dizer, porque cada grupo de
empréstimo sofre incidências diferentes. O banco não pega toda sua despesa fixa e
rateia igualmente por todos os contratos. Conforme o tipo de carteira, rateia mais ou
menos, com maior ou menor custo, que dá para administrar uma carteira.
Administrar uma carteira de crédito direto ao consumidor com empréstimos de mil
reais, 1.500 reais é muito mais caro do que de grandes empresas, que tomam 500
mil reais, um milhão, 2 milhões, 3 milhões de reais. Não posso dizer exatamente
como cada um incide, mas que eles existem, que são representativos e, o mais
importante de tudo, para nós que somos brasileiros: qual é a tendência.
A tendência para o custo básico, ou seja, o custo do Tesouro Nacional, a
curto prazo — trinta, sessenta, noventa dias — é basicamente estável. Não
vislumbramos nada que possa derrubar de maneira muito forte essa taxa de juro. A
médio e longo prazos há tendência de baixa. Não existe nenhum país que chega a
remunerar o título do Governo Federal acima, em várias situações da vida do país,
de 9% ou 10%. Olhamos muito os Estados Unidos, e lá essa remuneração
dificilmente chegou a 9% em alguma fase da vida.
Esse componente custo básico foi muito mais representativo do que hoje.
Por quê? Porque toda política econômica do Plano Real era baseada na
manutenção de uma taxa de câmbio fixa. E como se mantinha uma taxa de câmbio
fixa ou crescente predeterminada quase? A taxa de câmbio crescia mais ou menos
no nível da inflação que se esperava no mês. Como se mantém uma taxa de
câmbio fixa em um país aberto? Se fosse um país fechado, que só operasse
internamente, seria muito fácil. Mas em um país aberto, que tem fluxo de capitais,
para manter esse câmbio fixo, era preciso forçar o fluxo de capitais positivo, ou
seja, chamar capital para cá. E como se chamava capital? Pagando juro alto. Então,
sem razão econômica nenhuma, chegamos a ter juros de 40% ao ano, com inflação
de 5%, de 7%, de 8% ou de 10%. Mas era a política econômica adotada no
momento. Então, os juros tinham muito pouco a ver com a inflação — tinham muito
mais a ver com o fluxo de capital.
É por conta da nova política que digo que a tendência de juro é (ininteligível)
primário. Isso se dá porque a taxa de juro estava sendo utilizada primordialmente
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para controlar a inflação futura. E de acordo com o modelo econométrico do Banco
Central, a taxa de juro de hoje influencia a inflação de daqui a seis meses. Então,
não há nada de imediato. O Banco Central tem projeções futuras em cima da taxa
que determina hoje.
Por que me exponho ao risco de dizer que a tendência é de baixa? Porque,
depois da liberação da taxa cambial, quando o fluxo de saída é forte,
automaticamente ele tem ajuste, pois o câmbio sobe. Temos assistido a isso agora,
nos últimos vinte, trinta dias; talvez nem isso — a taxa de câmbio foi de 1,73 para
1,80. Ocorreu um problema que não tem nada a ver com a economia brasileira,
mas apenas com uma conjuntura de bolsa, com a filosofia de bolsa do americano,
aliado a um susto de ressurgimento de inflação nos Estados Unidos: vieram buscar
os investimentos de curto prazo no País, ou seja, o dinheiro que estava na Bolsa.
Esse dinheiro sai depressa, a taxa de câmbio sobe. Mas a taxa de juro não foi
alterada. Os entes econômicos mexeram — desculpem a sinceridade —, talvez por
termos ainda a boca torta devido ao uso do cachimbo do passado. Quando está
saindo dólar, sobe a taxa de juros. Essa projeção de juros futuros a 21,5% não tem
razão nenhuma.
Quais são as ameaças a essa estabilidade, a essa tendência de baixa? É
claro que a estabilidade política, em qualquer país, dá volatilidade aos mercados.
Isso implica confiança.
Com relação ao custo de insumos básicos, as crises de petróleo em vários
insumos básicos do País realmente representam ameaça inflacionária. Outra
ameaça são as crises econômicas externas, por essa comunicabilidade, pela
globalização dos mercados, principalmente via mercados de bolsa. Uma crise
econômica poderá ter reflexo nessa tendência de baixa.
Outro fator pode ser uma mudança drástica nos indexadores econômicos.
Hoje estamos com um superávit de balança comercial, com inflação controlada,
superávit fiscal primário e tudo o mais. Se isso desvendar uma mudança, poderá
haver influência. Mas, de maneira geral, as perspectivas são as melhores possíveis.
Qual a tendência de perdas por inadimplência? A curto e médio prazos, é de
baixa; a longo prazo, de possível estabilização — uma oscilação. Por que tivemos
inadimplência tão alta? Não existe crédito melhorando com economia decrescente.
Se analisarmos o passado, os índices de crescimento do nosso Produto Interno
Bruto, em relação aos anteriores, foram cada vez menores. A economia teve um
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crescimento decrescente. Isso é um veneno para o problema da inadimplência,
porque gera desemprego, queda de produção, os juros ficam excessivamente
elevados. Na medida em que a inadimplência era alta, o volume de empréstimos
era baixo. O juro primário chegou a ser muito alto, quando se falava em 40%.
Então, juro alto eleva a inadimplência.
O sistema bancário passou por uma perda de liquidez muito forte. Em 1995,
1996, principalmente, havia todos aqueles depósitos compulsórios. Os depósitos
compulsórios sobre depósitos à vista chegaram a ser de 100%; sobre depósitos a
prazo, de 30%; sobre empréstimos, de 15%. O sistema bancário teve de buscar o
dinheiro, que estava emprestado. Isso apertou a liquidez.
Uma taxa de câmbio irreal é outro fator. Tudo isso é interligado. Estou
apenas citando para efeito de exposição. A taxa de câmbio irreal levou a uma
concorrência irreal dentro do País. O industrial teve dificuldade, na medida em que
entrava o produto exportado com um preço mais baixo, porque o câmbio era um
pouco fora da realidade. Enfim, só fiz uma decomposição. Todo o sistema bancário
perdeu a liquidez. Outros problemas são contrato, legislação e sistemas financeiros,
às vezes, inadequados.
Acredito na tendência de baixa, porque a economia é ascendente, os juros
ainda são elevados, porém, menos incompatíveis com a economia. A liquidez está
adequada, a taxa de câmbio é favorável, o Conselho Monetário Nacional criou uma
série de créditos bancários, que são um instrumento financeiro que elimina muitos
dos problemas de execução dos demais sistemas financeiros, porque a cédula de
crédito bancário admite o juro composto, admite uma série de necessidades do
sistema financeiro, para poder trabalhar adequadamente.
Essa classificação da legislação de que falamos há pouco (ininteligível) é
muito importante também, porque o sistema bancário passa a se educar melhor.
Começamos a ter a visão de que um grupo de risco dá riscos maiores ou menores.
Isso é uma coisa importante, e o mundo inteiro ainda está atrasado nesses termos.
Quais são as ameaças a essas tendências? Inversão nas tendências econômicas,
crises externas e algum problema com câmbio.
O custo administrativo do banco, como conceituei, com a incidência do custo
por empréstimo, de quanto é o custo por real emprestado, tende a ser, tanto de
curto quanto de médio prazo, declinante; e de longo prazo, de estabilização. Chega
a um ponto, não dá para descer mais. Essa queda de custo administrativo vem por
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dois lados: do aumento dos empréstimos — vou demonstrar um pouco à frente — e
de uma redução de custos. O sistema bancário vem cortando custos desde o plano
do ex-Ministro Dilson Funaro. Se analisarmos o número de funcionários naquela
época e hoje, verificaremos que vem sempre decrescendo. Há também agora uma
tecnologia muito maior.
O que é esse conceito de formação de custo? É a relação das despesas
fixas, menos as tarifas cobradas, aquelas que os bancos cobram pelos serviços que
prestam, dentro da relação depósito à vista. O banco tem toda aquela rede, e um
dos produtos é o depósito à vista. Como há menos depósito compulsório, esse
depósito à vista é remunerado e, automaticamente, existe a bateria do custo fixo
sobre o total de empréstimo. Aí já é uma fração. Como é que se diminui essa
fração? Ou se aumenta o denominador ou se diminui o numerador, ou os dois.
Aumentar o denominador é aumentar o volume de empréstimo.
Esse custo administrativo do banco diminui pela redução das despesas fixas,
sobre o que já tinha falado, pela liberação de depósitos compulsórios — quando se
libera um depósito compulsório, o dinheiro do banco passa a ser aplicado e rende, é
um componente negativo de custo —, pela redução dos custos de observância — o
sistema bancário está com um índice de (ininteligível) alto, porém necessário no
momento. Implantamos uma série de regras de segurança, de precaução. Isso
provoca um custo adicional inicial alto. Depois que é implantado, é claro, ele tende
a cair. O custo administrativo pode ser reduzido também pelo aumento do volume
de empréstimos.
Na verdade, este é o esquema: na medida em que se empresta menos há
uma taxa mais elevada; com taxa elevada, empresta-se menos. Aí, a taxa fica mais
elevada. É um círculo vicioso do sistema. Qual é a ameaça a essa tendência? A
inversão na tendência de evolução da economia e uma retomada da inadimplência.
Basicamente, o lucro risco zero é aquele em que está fora o risco, quer dizer,
como se fosse um empréstimo que fosse sempre pagável. Ele seria o mínimo
ganho para garantir a remuneração do capital. O sistema bancário tem limitação de
capital por conta daquelas alocações de capital, tem necessidade de fazer um
crescimento sustentado, como qualquer empresa, como qualquer país.
Com relação às alocações de capital — estou fornecendo o número das
resoluções —, o problema foi o Acordo de Basiléia, ao qual o Brasil acabou
aderindo, e era importante. Outro problema são os 11% que falei: que para cada
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real emprestado, tem de haver onze centavos de capital. Entrou, posteriormente,
quase no final da implantação, que está prevista para agosto, a classificação de
riscos de crédito. Aumenta-se o provisionamento e o capital é mais verdadeiro.
O sistema bancário é como se fosse uma companhia de seguros, que só
debita em despesa o sinistro recebido, comunicado e não faz uma provisão para
possíveis sinistros. Agora o sistema bancário faz uma provisão para cobrir sinistros.
Essas são as Resoluções nºs 2.099, sobre a exposição a risco de crédito,
2.692 e 2972, que são recentes, relativas ao risco da taxa de juro, sobre o que já
havia falado, e à exposição ao risco de variação cambial.
Basicamente, são esses os atributos a que o banco tem de atender. Quais
são as tendências? Seria maior controle e rigor na avaliação da exposição a risco e
nos limites de utilização de capital. Realmente, essa é uma tendência mundial. O
Brasil está passando por isso, em velocidade rápida. O sistema financeiro nacional
evoluiu muito. No meu ponto de vista, é comparável aos sistemas de outros países
desenvolvidos. O sistema está caminhando. Em novembro — acho que é a única
coisa importante que tem de ser feita — será implantado um novo sistema de
pagamento. Quando isso acontecer, estaremos pari passu com qualquer país do
Primeiro Mundo.
Estamos num nível muito bom de segurança e transparência. Podemos dizer:
conheço o meu banco. Cada vez mais, os bancos vão mostrar o que são, através
de demonstrações financeiras e notas explicativas. As taxas de juros vão começar a
trabalhar mais ajustadas aos níveis de risco. Agora, com essa classificação, sempre
me pergunto se o juro baixa. Não, ainda não baixa por causa disso, mas se vai
pagar a taxa mais de acordo com o risco que se ofereceu.
Vamos falar se há composição total. Analisei as várias partes. No total, a
tendência de taxa de juros do tomador, a curto prazo, é uma redução moderada; a
médio prazo, uma redução mais drástica; a longo prazo, uma estabilização.
Era o que tinha a falar. Muito obrigado. Estou à disposição para respostas.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Danilo de Castro) - A fim de que possamos
iniciar os debates, passo a palavra ao nobre Deputado Marcondes Gadelha.
O SR. DEPUTADO MARCONDES GADELHA - Cumprimento o Sr.
Presidente e os demais membros da Mesa.
Sr. Antônio Castrucci, quero cumprimentá-lo pela brilhante exposição,
extremamente didática. Afinal, começamos a abrir essa caixa-preta e a entender
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como é que se forma juro neste País. É claro que V.Sa. nos forneceu material para
reflexão durante muito tempo.
A pergunta que farei está na cabeça de todos os brasileiros neste momento:
considerados os diversos componentes da taxa de juro, todos eles com tendência
declinante — custo baixo de recursos, perda por inadimplência, custo administrativo
do banco, lucro risco zero, cunha fiscal —, por que a taxa de juro não baixa neste
momento? Vamos separar o componente mais importante nessa formação da taxa
de juro, que é a Taxa Selic, que depende fundamentalmente do Governo. Até que
ponto o Governo tem liberdade sobre o mercado para administrar essa taxa básica?
Até que ponto ele poderia, unilateralmente, decretar que, por exemplo, só pagaria
tanto pelos títulos do Tesouro, e com isso puxar todo o conjunto das taxas de juro
para baixo, imediatamente, já que praticamente não temos inflação, o câmbio está
liberado e há uma perspectiva florescente para a economia brasileira, uma
retomada de crescimento geral? A imagem do País, aqui dentro e lá fora, melhorou
bastante nestes últimos tempos. O que falta para que o Governo dê este passo, que
é fundamental, decisivo, para destravar o processo de crescimento econômico no
Brasil e, conseqüentemente, de distribuição de renda, que é o que está faltando?
O SR. ANTÔNIO CARLOS DE LAURA CASTRUCCI - Primeiramente, quero
agradecer o elogio e dizer que estou sempre à disposição, e que é importante esta
convivência.
Realmente, um componente importante é a taxa de juro básica. Apesar de
não ser só ela, vamos falar dela. Vou começar pelo fim da pergunta, o que deverá
respondê-la por inteiro.
Atualmente, o Governo é livre? É livre conceitualmente, mas não totalmente.
Ele se amarra em dois fatores. O primeiro é o mercado, que faz a taxa. Temos de
lembrar que saímos de 40% ao ano, em janeiro do ano passado. O mercado, às
vezes, não se adapta tão rapidamente. Suponha que o Governo falasse que iria
emitir títulos do Governo Federal a 10%, o que seria um número bom, razoável. O
que iria acontecer? Todo o sistema de poupança, os depositantes dos bancos, os
fundos de pensão, os administradores de recursos iriam se contentar com essa
taxa, porque ela tem uma relação muito íntima com a taxa do CDB. Se ele baixasse
a taxa para 10% e o CDB continuasse a 18%, taxa feita pelo mercado, não
conseguiria baixar para 10%, porque ninguém compraria a 10%. Então, existe, em
primeiro lugar, um problema de mercado, e a tendência do mercado é ir se
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acomodando. Cair de 40% para 18% é realmente uma coisa bonita, vamos dizer
assim. O mercado vai se adaptando. Este é o primeiro ponto.
O segundo ponto é que o Governo tem medo de errar. Ele não possui uma
fórmula mágica para dizer: hoje, 18,5% é bom. Ou: é bom 17%. Ele tem uma
intuição, tem modelos. Se errar e baixar rápido demais, ocorrerá o que todas as
teorias econômicas e toda a prática provaram: na recuperação, não adianta voltar
ao patamar anterior. Ou seja, se ele achar que 15% estava bom, e for a 15%, e o
mercado não aceitar, ele não pode voltar mais para 18,5%; terá de ir para 22%. Ele
vem baixando num critério de precaução. Veja o seguinte: ele foi para 18,5% com
viés de baixa. O que isso quer dizer? Que durante as reuniões do (ininteligível) ele
poderia baixar um pouco mais. Houve aquela oscilação toda lá fora, com a qual não
temos nada a ver. Mas refletiu no Brasil? Refletiu. O dólar foi de 1,73 para 1,80. Ele
pegou e tirou o viés de baixa e está esperando.
Eu diria que é uma arte você levar uma taxa de 40% para uma taxa
compatível. Comparo assim: V.Exa. anda a 140 quilômetros por hora, fora das
regras do trânsito, numa estrada molhada. De repente, há uma mancha de óleo. O
que faz? Nem acelera nem desacelera muito; pega a direção de levinho e vai
contornando. É o que o Governo está fazendo.
Acho o seguinte: a taxa primária é muito importante no orçamento fiscal do
Governo. Quer dizer, após o primário, para o bolso do consumidor, são mais
importantes os outros fatores: a inadimplência e o custo administrativo.
O SR. DEPUTADO MARCONDES GADELHA - Sr. Presidente, só mais
uma...
O SR. PRESIDENTE (Deputado Danilo de Castro) - Pois não, Deputado.
O SR. DEPUTADO MARCONDES GADELHA - Nessa relação do Governo
com o mercado, a impressão que se tem é de que o Governo estaria, de certa
forma, manietado pelo mercado, já que há o risco de o mercado não aceitar os seus
títulos, se ele resolver pagar uma taxa muito baixa. Mas me parece que a recíproca
também é verdadeira. O Governo detém uma espécie de monopólio sobre o crédito,
na medida em que os agentes financeiros, os bancos, hoje, só têm um tomador
fundamental, que é o próprio Governo. Os bancos não estão emprestando para as
empresas; preferem emprestar ao Governo. Nesse ponto, o poder de barganha do
Governo é muito grande. Parece-me que ele não está utilizando bem esse poder de
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barganha, está tendo perdas na área política, com risco de instabilidade, o que é
um feedback negativo, inclusive para a redução da taxa de juro.
Vamos tomar agora um exemplo concreto, dessa questão do salário mínimo.
Há quem diga que, se o Governo reduzisse a taxa de juros em 1%, ele encontraria
os recursos para fazer frente ao problema criado por um salário mínimo de 100
dólares ou de 177 reais junto à Previdência. Aquele buraco na Previdência poderia
ser coberto apenas reduzindo-se em um ponto percentual a taxa de juros que ele
paga hoje ao sistema. No entanto, ele não faz isso, correndo um risco político muito
grande. Quer dizer, neste momento, há uma queda de braço entre o Governo e a
sua própria base de sustentação no Congresso, cujas conseqüências não podemos
avaliar, mas, com certeza, uma instabilidade muito grande poderia ser evitada ou ter
sido evitada, sem falar, é claro, no componente mais ao largo daqueles que querem
ver o mar pegando fogo para comer peixe assado.
Então, de qualquer forma, o Governo está abrindo mão do seu poder de
barganha em favor do sistema financeiro e se expondo a um risco político
desnecessário por não querer ou não poder reduzir a taxa de juros em um ou dois
pontos percentuais.
O SR. ANTÔNIO CARLOS DE LAURA CASTRUCCI - Deputado, não tenho
os grandes números aqui, mas existe um pouco de, não diria falácia, mas erro de
interpretação. O sistema financeiro empresta, hoje, fora o Banco do Brasil, qualquer
coisa como 150 bilhões de reais. Esse é o valor que ele tem emprestado para
pessoa física, jurídica e tudo o mais, dentro de uma conjuntura bastante
desfavorável. Esse número, na hora em que a economia começar a realmente dar
sintoma de crescimento — e já deu — e der certa tranqüilidade, deverá triplicar.
A margem de lucro que o banco tem junto a título federal é quase zero.
Teoricamente, o banco paga um tostãozinho a mais do que paga o Governo
Federal, porque o melhor título é o do Governo Federal, que oferece maior liquidez
e segurança. Na história do Brasil inteiro o título federal nunca deixou de ser
honrado. Então, não é que ele ganha dinheiro nisso.
Agora, acontece o seguinte: o sistema financeiro é muito intermediário. Ele é
que comparece aos leilões. Mas, normalmente, esse papel não fica na carteira dos
bancos; flui para grandes instituições, para grandes investidores, os fundos de
pensão e tudo o mais.Outra coisa: quando ficam na carteira dos bancos, eles não
têm dinheiro para carregar, em função de terem de pagar mais caro para o público,
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para poder carregar. Vendem esse título dia a dia. É o mercado aberto. Quer dizer,
há um leilão do Tesouro, o banco vai lá, se inscreve e leva um pedação. Naquele
mesmo instante ele está vendendo, através do sistema Selic de liquidação e tudo o
mais; ou finalmente vende para alguém, ou financia no próprio sistema.
Realmente, não é pelo fato de eu ser da iniciativa privada — e sendo da
iniciativa privada temos de ser o mais transparente, o mais sincero e o mais limpo
possíveis —, mas não acho que o Governo esteja um pouco manipulado pelo
sistema. É o mercado que está levando a isso. Penso que com um pouco de
paciência chegaremos a um ponto bom. É assim que vejo. E digo só mais uma
coisa: se o Governo impusesse qualquer coisa diferente de mercado, um
fraquejamento no sistema bancário custaria muito mais caro do que essa economia,
porque hoje, não vou falar o óbvio, quer dizer, a estabilidade social e econômica de
um país está em função de seu sistema financeiro. Se o seu sistema financeiro
estiver forte, ele sobrevive; se tiver fraco, não sobrevive.
Na crise cambial que enfrentamos em janeiro, ninguém, por mais pessimista
que fosse, achava que o dólar pudesse bater em 2 reais. O País agüentou tudo e
saiu forte, porque o sistema financeiro estava fortificado em função de um plano
que foi mal ou bem falado. Particularmente, acho que o PROER foi um plano
tremendamente necessário e objetivo no momento. Se o nosso sistema financeiro
estivesse em 1996 não teríamos saído dessa crise.
Então, enfim...
O SR. DEPUTADO MARCONDES GADELHA - Só mais uma pergunta.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Danilo de Castro) - Pois não, Deputado.
O SR. DEPUTADO MARCONDES GADELHA - Agora um pouco mais
administrativa. Nos diversos componentes de custo, fora a taxa básica, os bancos
se obrigam a fazer diversas provisões contra flutuações das mais variadas
espécies.
Pergunto: do ponto de vista administrativo, seria mais barato o banco bancar
essas provisões ou buscar um hedge através da Bolsa Mercantil e de Futuros?
O SR. ANTÔNIO CARLOS DE LAURA CASTRUCCI - Voltando um
pouquinho, diria o seguinte: se um bancário tivesse fechado os olhos e dormido
durante seis anos e acordasse hoje, iria se perguntar onde estava. O sistema
bancário mudou muito, e para melhor.
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A verdade é que os instrumentos financeiros inventados para dar hedge ao
produtor, ao exportador, ao importador começaram a ser usados com grande
intensidade, tanto pelo mercado financeiro como o de capitais.
Hoje existe um balanceamento. Quer dizer, o banqueiro não deve ultrapassar
um nível de risco. Essas regras do Banco Central são exatamente para unificar
esses níveis de risco. Há quatro anos o banqueiro tomava risco muito maior do que
hoje, ameaçando o sistema muito mais do que hoje. Não é só por causa da regra.
Ele aprendeu muito também. No fundo, é uma coisa de seis, sete anos.
Não é problema de custo, de fazer hedge ou assumir o risco. Ele tem o seu
equilíbrio, que não ficou mais à mercê da decisão do banqueiro. Sabiamente, ficou
à mercê da decisão da entidade reguladora, que é o Banco Central, o Sistema
Financeiro Nacional.
O Sistema Financeiro Nacional está caminhando muito bem. Podemos
começar a nos orgulhar dele, sim.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Danilo de Castro) - Com a palavra o
Deputado Coriolano Sales.
O SR. DEPUTADO CORIOLANO SALES - Sr. Presidente, inicialmente,
gostaria que V.Exa. me permitisse registrar as presenças de três líderes do
cooperativismo de crédito do Brasil: do Presidente do Cooperativismo Urbano,
Marconi Lopes Albuquerque; do Presidente da Confederação Brasileira de
Cooperativas de Crédito de Mútuo — CONFEBRAS; do Presidente da Central de
Crédito Cooperativo Mútuo de São Paulo, que reúne cerca de duzentas
cooperativas de crédito naquele Estado, Sr. Manoel Messias; e do Presidente da
Central do Pará, que reúne cerca de cinqüenta cooperativas de crédito naquele
Estado, Sr. Valdecir Palhares.
Feito o registro, Sr. Presidente, permita-me cumprimentar o Sr. Castrucci,
amigo de muito tempo, e dizer também da satisfação de tê-lo aqui fazendo esta
palestra muito importante para os trabalhos desta Comissão. A questão dos juros é
fundamental.
Gostaria de saber o seguinte: por que a inadimplência tem de ser incluída na
taxa de juros, se ela deve ser um risco do negócio? Seria o mesmo que eu — se
fosse comerciante — vender um saco de feijão e o indivíduo não me pagar. Terei
de transferir o custo da inadimplência para o preço do feijão. Mutatis mutandis, é o
que ocorre no sistema financeiro.
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Se alguém não paga o empréstimo, esse custo da inadimplência é
transferido para o tomador futuro. Que lógica é essa? Por esse procedimento em
que está formatada a taxa de juros hoje no Brasil, o banqueiro não tem risco
nenhum no seu negócio.
Essa é a reflexão que gostaria que V.Sa. fizesse de voz alta.
O SR. ANTÔNIO CARLOS DE LAURA CASTRUCCI - Está bem.
O SR. DEPUTADO CORIOLANO SALES - A segunda pergunta diz respeito
ao custo da tecnologia. Quanto é que está custando a tecnologia, essa parafernália
tecnológica que envolve hoje o sistema financeiro de maneira geral? Qual é o custo
da tecnologia na formatação da taxa de juros? O que isso representa?
Em terceiro lugar, gostaria de saber se esse custo, hoje, da taxa de juros,
permite que o sistema financeiro brasileiro possa ser agente de desenvolvimento
econômico e social, sobretudo para incorporar milhões de pessoas do País que não
têm acesso ao sistema bancário. Essa me parece ser a questão mais relevante que
se tem no Brasil.
Hoje, cerca de 80% a 85% da população brasileira não têm acesso ao
sistema bancário, não têm sequer conta em banco. Seguramente, 70% não têm
conta em banco. Cerca de 15% têm uma mera caderneta de poupança, que não é
uma conta corrente no sentido mais tradicional do movimento bancário. Temos um
percentual de cerca de 85% da população brasileira que não têm conta bancária.
Isso demonstra de forma inequívoca a inacessibilidade da grande maioria do povo
brasileiro ao sistema financeiro. Não sei se podemos fazer desenvolvimento
harmônico se a população não tem acesso ao crédito. E essa é, para mim, uma
questão relevante.
Estou colocando em terceiro lugar a questão do crédito como fator essencial
à política de desenvolvimento econômico e social. E como está organizado esse
sistema? Notadamente, pelo formato da sua taxa de juros, como é que o sistema
financeiro poderia cumprir o seu papel de agente impulsor do desenvolvimento
econômico e social do País?
O SR. ANTÔNIO CARLOS DE LAURA CASTRUCCI - Obrigado, Deputado.
Suas perguntas não são fáceis, mas vou tentar respondê-las e, por favor, se eu não
conseguir, voltamos depois.
Sobre a primeira pergunta, com relação à inadimplência — por que a
inadimplência é custo para o banqueiro e não o é para o comerciante —, diria que o
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custo é para os dois. A inadimplência passa a ser destacada na medida em que se
torna um componente importante. Se você pegar o custo da inadimplência na
indústria, por exemplo, eles tomam cuidado, mas não é uma coisa representativa
dentro do faturamento. Mas se você pegar o custo de inadimplência no varejo, ele
já faz parte do custo. Garanto que quando o varejista faz o preço da mercadoria ou
faz a taxa de juro que cobra, financiando o consumidor final, ele coloca a
inadimplência, porque ela é forte. Vimos há pouco tempo uma loja que teve
insucesso, que chegou a ter 25% de inadimplência. Acho que nos dois casos é
custo, Deputado. Só que, se ele é significativo, passa a ser considerado à parte; se
não o for, não é considerado à parte.
Outra coisa que também temos de considerar é a seguinte: um comerciante,
quando perde na venda, sua margem sobre o custo direto varia de 25% a 30%.
Então, se a cada dez vendas ele perder uma, basicamente em sete vendas ele
recupera. Já no banco a margem é muito pequena para a recuperação — para se
refazer o que se perdeu tem se que emprestar muito mais. Quer dizer, se penso
que tenho spread líquido de 1% no fundo, se eu perder uma vez, preciso fazer cem
operações para recuperar. Então, realmente, é o tamanho da importância.
Agora, o banqueiro assume risco. Tudo isso para ele é estimado. Ele está
assumindo o risco da inadimplência; só que ele está pondo custo para isso. É como
o caso da companhia de seguro que dei como exemplo: qual é o custo da
companhia de seguro? É um custo administrativo e um custo de semestralidade,
que se calcula com base em médias anteriores. E eles se aprimoraram tanto, e o
sistema bancário vai caminhar para isso, que começaram a classificar o crédito.
Hoje, se V.Exa. resolve fazer seu seguro, é submetido a uma série de perguntas,
tais como: quantos anos tem? É casado? O seu carro fica na garagem?
Dependendo das respostas, terá um desconto no prêmio. Por quê? Porque V.Exa.
representa um nível de risco menor. Se tivesse 23 anos, fosse solteiro, morasse em
apartamento etc. e tal, seria diferente. Acho que inadimplência é sempre custo para
todo mundo, só que, dependendo da importância, ela é considerada à parte.
A parafernália eletrônica, que V.Exa. apontou com muita propriedade, é uma
coisa com que se tem tomado muito cuidado, porque de repente se dá mais do que
o cliente quer ou precisa. Na verdade, todo excesso eletrônico tem permitido uma
redução do custo fixo do sistema bancário. Quer dizer, ele não só moderniza e dá
melhor qualidade ao serviço como reduz o custo.
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No início de minhas atividades, para se ter uma idéia, uma agência bancária
tinha entre 23 e 30 funcionários. Se se quisesse saber quantos funcionários tinha
um banco, perguntava-se: quantas agências você tem? Duas mil. Duas mil vezes
23, você tem no mínimo 46 mil funcionários. Hoje, o que acontece? Você tem, em
média, de oito a dez funcionários por agência, e as áreas das agências diminuíram.
Por quê? Graças à eletrônica.
Acho que o agente econômico é inteligente e toda vez tenta fazer essa
conta: vale a pena investir? Que retorno eu tenho? Penso que é uma coisa forte e
importante, mas o homem econômico é inteligente nesse sentido. Quer dizer, está
sempre fazendo uma decisão adequada. Quando decidimos se vale a pena trocar o
carro ou comprar um sapato, o nosso homem econômico, o inteligente econômico
faz a conta: esse sapato vale quantas latas de óleo ou de azeite? Vale a pena ou
não comprá-lo? Isso é inconsciente. E o empresário faz isso conscientemente; ele
faz conta.
Entendo que a terceira pergunta é a mais delicada e complicada, mas,
infelizmente, não acho que o sistema bancário tenha solução para isso. É o tal
negócio da quantidade de brasileiros com acesso ao sistema bancário. V.Exa. tem
razão total. Há um estudo relativamente recente da Mackenzie que cita que apenas
27 milhões de brasileiros têm acesso ao sistema bancário. E esses 27 milhões de
brasileiros representam 42 milhões de contas, ou seja, uma conta e meia por
brasileiro. É o cara que tem cheque especial e joga nos dois bancos: cobre lá, paga
aqui e cobre aqui e paga lá. É um pouco de brincadeira, mas, de certa forma, é uma
coisa bastante séria. V.Exa. tem razão.
Agora, acho o seguinte: o que vem primeiro, o ovo ou a galinha? O problema
é complicado. Por que só 27 milhões têm acesso? Porque a renda deles é muito
baixa. Não estamos falando de 27 milhões que têm acesso ao crédito, que podem
usar o sistema bancário, ou seja, que podem gastar quatorze, doze, nove reais por
mês com uma conta bancária. O problema é o que vem primeiro: a discussão de
renda ou o sistema bancário.
Essa é uma área em que V.Exa. milita bastante. Viemos juntos por causa
disso. Realmente, abaixo de um certo ponto é cooperativa e abaixo de um ponto eu
já não sei nem o que tem de ser feito — são quase comunidades de bairro. Como
sistema bancário, somos muito chamados pelo Governo nesse negócio do crédito à
pequena empresa, mas se chega abaixo de um ponto que não temos condições de
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atender é cooperativa. Abaixo de certo ponto, acho que nem cooperativa; é
comunidade, enfim, alguma coisa diferente. Como brasileiro, fico triste também,
mas não vejo como o sistema bancário possa resolver isso.
O SR. DEPUTADO CORIOLANO SALES - Muito bem. Agradeço, Sr.
Presidente, ao Sr. Castrucci as resposta e sugiro a V.Exa. que solicite esse estudo
ao Mackenzie, sobre a participação brasileira no sistema bancário nacional, porque
acho relevante para a compreensão das dificuldades que o nosso sistema bancário
hoje tem de atender à população brasileira.
Entendemos que há essa discussão sobre o custo do dinheiro. Acho que o
Governo tem de se preocupar em chegar lá embaixo com instrumentos adequados
para atender a população pobre e miserável do País, ou a população que está
afastada do sistema de crédito. Essa é uma responsabilidade política do Governo,
não do Sistema Financeiro Nacional.
Quero fazer esta ressalva: entendo que não é responsabilidade do sistema
financeiro, mas responsabilidade política do Governo e desta Comissão, do
Congresso Nacional, porque, na medida em que o Congresso Nacional não adota
providências para incorporar milhões de pessoas ao sistema de crédito, não está
cumprindo com a função política que tem da representação dos interesses do povo
brasileiro.
Sr. Presidente, estou sugerindo que solicite ao nosso palestrante esse
estudo, que me parece relevante, sobretudo para a compreensão do Relator e de
todos nós membros desta Comissão.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Danilo de Castro) - A sugestão de V.Exa.
será atendida. A Mesa já a registrou.
Com a palavra o Deputado Wellington Dias.
O SR. DEPUTADO WELLINGTON DIAS - Sr. Presidente, tenho três
questões. Uma delas me parece simples. Por que existe a Associação Brasileira
dos Bancos? É para se defender dos cartéis dos grandes bancos, ou qual é a razão
da sua existência?
Outra questão diz respeito ao compulsório. Temos um compulsório que,
apesar de todo equilíbrio que se canta em verso e prosa, ainda consideramos muito
elevado, especialmente para uma economia que não tem crescido. V.Sa. mesmo se
lembra como foram as nossas taxas de crescimento nessa década e, com certeza,
— como o senhor mesmo cita aqui —, de como é um componente da maior
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importância para a definição dos juros, talvez um dos mais importantes, e o
mecanismo mais ágil que tem o Governo na definição das taxas de juros.
Queria ouvi-lo sobre essa lentidão. Entendi o brilhante exemplo que citou dos
140 quilômetros por hora, mas creio que já estamos num percurso muito longo, e os
demais dados apontam que não há mais por que ter tanto risco assim numa
aceleração melhor na definição do compulsório para redução da taxa de juros.
A última questão é mais uma curiosidade, e diz respeito à taxa média dos
serviços bancários adotada hoje. A média por conta corrente ficaria situada em
quanto? Percebemos que houve um crescimento muito grande na quantidade de
taxa de serviços bancários e, de outro lado, uma aceleração no valor individual.
Claro que variável de banco a banco, mas há uma grita muito grande de clientes em
associações. Nos DECONs, uma das maiores reclamações que temos é em relação
às taxas dos serviços bancários. Muitas delas ainda hoje cobradas de maneira
unilateral, às vezes com quase nada de possibilidade de defesa.
Aliás, estive presente num lançamento do Sindicato dos Bancários — eu sou
bancário; sou da Caixa Econômica —, de uma cartilha de orientação ao consumidor
em relação aos serviços bancários, que achei fantástica. Creio que é interessante
até uma parceria com o sistema, porque é muito mais de orientação, e isso, com
certeza, vem ajudar na redução de custos, enfim, no funcionamento do sistema.
Eram essas três questões.
O SR. ANTÔNIO CARLOS DE LAURA CASTRUCCI - Primeiro, acho que
cometi um erro de marketing fundamental. Talvez até o meu diretor-executivo me
demita. Realmente, não creio que a Associação Brasileira de Bancos Comerciais —
ABBC congrega bancos de pequeno e médio porte e bancos de rede bancária
restrita.
A sua pergunta é se era para se defender dos bancos grandes. Diria até que,
historicamente, ela nasceu por causa disso, mas hoje em dia não é bem assim. Na
verdade, os interesses dos bancos grandes, dos pequenos, dos de rede, sem rede
e tal são os mesmos; a intensidade do interesse é que varia conforme o tamanho.
Na verdade, trabalhamos muito bem lado a lado com a FEBRABAN, que é a
federação dos bancos grandes. Inclusive, sou presidente da ABBC e diretor da
FEBRABAN. Quer dizer, funcionamos bem, numa boa. Acho que o começo
histórico é esse. A ABBC tem hoje 83 filiadas.
V.Exa, falou do compulsório, e que é uma coisa só...
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O SR. DEPUTADO WELLINGTON DIAS - V.Exa. me permite? Acho que
quem está lamentando mesmo são os bancários, com toda essa redução nos
quadros. Acho que tínhamos um milhão de bancários, um pouco mais, e hoje são
450 mil.
O SR. ANTÔNIO CARLOS DE LAURA CASTRUCCI - Mas vem desde o
plano do Ministro Funaro, lembra? Eu estava na ativa quando saiu o Plano Funaro.
Fiz um orçamento global do sistema bancário e achei que não ia fechar, não
pagaria as contas.
Voltando ao compulsório, acho que ele deveria ser um instrumento de
política monetária. Quer dizer, eu aumento um pouquinho, desço um pouquinho
para aumentar ou diminuir a alíquota de sistema, de maneira que o sistema cobre
juros um pouquinho mais altos; enfim, todo um negócio desse junto com a taxa de
redesconto.
E esse instrumento perdeu a força. À medida que o faço muito grande, não
tenho mais força nenhuma, ele não serviu mais para isso. São duas coisas —
V.Exa. pegou bem o negócio da pista molhada com óleo. Temos o compulsório
sobre o depósito a prazo, que era de 30% e era remunerado. Quer dizer, o banco
depositava, mas recebia alguma coisa por isso. Tinha compulsório sobre os
empréstimos — era de 15% —, mas também era remunerado, e sobre o depósito à
vista, de 100%, e não havia remuneração.
Acho que o Governo tirou do empréstimo, tirou totalmente do depósito a
prazo e vem reduzindo do compulsório, que hoje já está em 55% ou 65%, não
tenho mais certeza disso — acho que é em 65%. Penso também que é um
problema gradativo. Esse dinheiro é receita do Governo, é uma cunha fiscal, vamos
chamar assim. Por quê? Porque foi depositado de graça. Se o serviço dele é de
graça, eu preciso emitir menos título, está certo? Acho que há esse aspecto;
primeiro um aspecto fiscal.
Segundo aspecto: talvez por um pouco de receio de não dar liquidez ao
sistema bancário, ele esteja indo devagar, mas vem vindo, claramente mostrou que
vem descendo.
O último assunto são as tarifas. Lembre-se de quando falei em custo
administrativo, o custo total do banco menos a remuneração dos depósitos a vista.
Ou seja, aí entra o compulsório. Quanto mais compulsório, menos remuneração,
menos as tais (ininteligível).
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As tarifas, na verdade, nisso V.Exa. tem razão total, subiram de valor. Na
época inflacionária, deixava-se mil reais no banco e no fim do mês rendia para o
banco. Os compulsórios eram bem menores. Tirando tudo o que tinha de ser
compulsório, sobravam 70%, 60%, às vezes, até daquele depósito. O banco
aplicava como dinheiro dele, satisfazia-se com uma taxa de ganho e não precisava
cobrar muitas tarifas. Na medida em que a inflação voltou à base onde deveria ter
ficado, quer dizer, uma inflação baixa, o sistema bancário teve de reajustar os
custos. Então as tarifas apareceram, passaram a ser uma coisa importante e
cresceram.
Outra pergunta muito importante é conseguir dizer como o consumidor se
protege da tarifa. Em todo sistema econômico há aqueles que trabalham direitinho e
os que trabalham às vezes um pouco mais forte. Mas diria o seguinte: somos
obrigados a divulgar as tarifas bancárias, e elas são difíceis de serem comparadas.
O grande problema do sistema hoje é como comparar a tarifa do Banco Paulista
com a tarifa do Banco BRADESCO, porque se cobram motivos diferentes. Mas as
bases, que são o talão de cheques, a manutenção da conta e tudo mais, são mais
ou menos equilibradas, é a tarifa básica que o cliente paga.
Aquele cliente usual que vai lá com o dinheiro só para guardá-lo tem
basicamente o custo do talão de cheques e a manutenção da conta. Aquele cliente
que usa o cheque especial tem de olhar a tarifa de cadastro, a tarifa de contrato e a
taxa de juros. No fundo, temos cinco variáveis a serem observadas. Isso é tabela
obrigatória, está em todos os caixas dos bancos, o cliente quando abre a conta
pode solicitar e tudo mais.
Fiscalizar é realmente uma coisa que o brasileiro não apreendeu a fazer.
Acho que o sistema inflacionário tirou-nos dessa fiscalização. São cinco tarifas que
temos de olhar e são tarifas fáceis de serem comparadas.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Danilo de Castro) - Com a palavra o
Deputado Ricardo Berzoini.
O SR. DEPUTADO RICARDO BERZOINI - Sr. Presidente, Sr. Relator, Sr.
Castrucci, Presidente da ABBC, acompanho há bastante tempo a relação das
entidades representativas dos bancos e posso testemunhar que a ABBC é uma
entidade que, embora trabalhe dentro da FEBRABAN, seus bancos trabalham
dentro da FEBRABAN também, tem-se pautado em muitos momentos por ter
posições políticas ou análises diferenciadas. Acho, inclusive, que isso justifica, de
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maneira bastante significativa, o convite para que o Presidente da Associação faça
sua análise aqui.
Foi uma análise muito didática, calcada basicamente na questão dos juros.
Quero recordar que o nosso debate aqui não é só referente à questão de juros, é
referente à regulamentação do setor, e, na minha avaliação, é a questão talvez
mais importante, é como ter uma lei complementar que seja um elemento que dê
transparência, capacidade de controle social e, principalmente, que elimine uma
certa cultura de impunidade que existe no sistema em relação aos maus dirigentes
de instituições financeiras.
Essa é uma questão sobre a qual nos devemos debruçar para que a lei
complementar — se conseguirmos chegar, efetivamente, depois de doze anos, à
proeza de ir contra o interesse de grande parte do sistema financeiro e contra o
interesse do próprio Banco Central — cumpra o que está disposto no artigo 192.
Creio que este é um dos pontos centrais em que devemos focar essa legislação.
Quero dizer que, por mais que tenhamos uma análise bastante técnica e
lógica em relação à composição do custo do dinheiro no Brasil, infelizmente, essa
análise não resiste à comparação com a realidade. Não que estejam erradas as
bases técnicas e as de comparação nesse estudo. Até quero elogiá-las. Ao
contrário do Banco Central, que trabalha a questão do custo administrativo nos
seus estudos sobre a composição de spread de uma maneira bastante
complacente com os bancos, como é da cultura do Banco Central no Brasil, o
estudo da ABBC considera custo administrativo com a relação despesa fixa menos
tarifa sobre serviço e menos remuneração de depósito à vista.
Chamo atenção para o fato de que, quando o Dr. Roberto Setúbal esteve
nesta Comissão, questionei nessa direção em relação ao critério do Banco Central.
Ele justificou o critério do Banco Central, dizendo que era isso mesmo, que de fato
não poderíamos deduzir a tarifa sobre serviços das despesas fixas porque ela
estava vinculada a diversos tipos de serviços e não apenas à relação de operações
de crédito e de contas correntes, o que, para mim, sinceramente, é um escândalo.
Felizmente, parece que a TV Câmara transmitiu mais de uma vez aquele
debate, e recebi algumas dezenas de e-mails de clientes e bancos, pessoas físicas
e jurídicas, elogiando os questionamentos que fiz, porque, evidentemente, há um
sentimento na sociedade de que os bancos continuam agindo contra a maioria do
País e com o beneplácito, com a complacência do Governo Federal.
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Vou citar um exemplo. Hoje foi divulgado o lucro do Banco Itaú, 325 milhões
de reais em apenas três meses; uma rentabilidade sobre o patrimônio líquido de
26%, já deduzidos todos aqueles aprovisionamentos, lucro líquido, aquele que é
distribuído aos acionistas; crescimento de 60% sobre o primeiro trimestre do ano
passado, lucro operacional, tirando o lucro patrimonial, porque no primeiro trimestre
do ano passado houve variação cambial, o que, no caso do Banco Itaú, que tem
rede na Argentina, tem investimentos em Portugal e Luxemburgo, evidentemente,
teve um efeito patrimonial importante, não deve ser considerado.
Vejam bem: um país como o Brasil, com essas desigualdades sociais, com
essa pobreza e miséria que temos, uma empresa como o Banco Itaú, que já teve no
ano passado um lucro estupendo, tem um crescimento de 60% de sua rentabilidade
depois de o Governo baixar por duas vezes seguidas o compulsório, num esforço
para tentar reduzir a taxa de juros para a economia real, para a pessoa física e a
pessoa jurídica, e o Banco Central ficar olhando tudo isso. Desses 325 milhões de
reais grande parte é dinheiro que está sendo sugado da sociedade para remunerar
a família Setúbal, a família Vilela e os demais acionistas do Banco Itaú.
Na verdade, estamos num momento de reflexão, em que precisamos discutir
se temos um governo que governa para o País ou que governa para os bancos,
principalmente para os grandes bancos deste País. Entre eles, inclusive, há
diferenciação, alguns grandes bancos são muito mais especulativos que outros.
Mas, para abreviar e não tomar todo o tempo, quero fazer algumas perguntas
objetivas, primeiro, em relação à questão da eficiência da fiscalização do Banco
Central hoje. Uma parte desse custo do dinheiro que temos no Brasil é decorrente
da insegurança do sistema. Por mais que o PROER, que custa uma fortuna para o
País, possa ter dado uma certa saneada no sistema, ainda há uma insegurança que
se reflete no custo, inclusive, digamos, no piso que o risco internacional impõe ao
custo interno do dinheiro. Qual a sua avaliação em relação à eficiência do sistema
de fiscalização do Banco Central do ponto de vista quantitativo e qualitativo?
Segundo, tenho uma impressão muito ruim das mordomias que as cúpulas
dos bancos têm no Brasil, uma opulência, uma pompa, que no final incidem no
custo do cliente. Na sua avaliação — os Bancos da ABBC na sua maioria têm um
perfil bastante diferenciado —, como é essa comparação em relação a outros
países, como os da Europa, a questão da remuneração de executivos, das
mordomias que eles têm? Pediria inclusive para traçar quanto ganha hoje um
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNome: COMISSÃO ESPECIAL - SISTEMA FINANCEIRO NACIONALNúmero: 0437/00 Data: 09/05/00
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executivo de banco, para vermos aqui, quando se critica muito salário de
Parlamentar, e o pessoal aqui ficar com inveja da remuneração dos executivos de
banco.
Terceiro, a questão da privatização. Qual a sua opinião sobre a participação
do setor público no sistema financeiro? Há vontade do Governo de extirpar qualquer
participação do setor público? Na sua opinião, como banco privado, não seria
necessário sempre manter um percentual de operação de bancos públicos para dar
um equilíbrio ao sistema?
E, por fim, a questão do volume de operações de crédito. Na verdade, o
Brasil é um dos países onde temos o menor volume de operações de crédito,
volume do ponto de vista de valores comparativamente ao PIB. V.Sa. falou em 150
bilhões, excluindo o Banco do Brasil. Não seria o caso, para garantir que haja
estímulo à contratação de um maior número de operações, de uma ampliação das
operações, termos na lei ou nos normativos do Banco Central alguma forma de
induzir e de incentivar a operação de crédito ante a aplicação em títulos do
Governo?
E ainda, desculpe, uma outra questão que esqueci, até aproveitando a
presença dos colegas aqui das cooperativas de crédito, parece-me que eu fiz uma
referência do ponto de vista do papel necessário do cooperativismo de crédito como
forma complementar aos bancos. O Banco Central, desde o golpe militar de 64,
vem atuando contra as cooperativas, isto é, há uma má vontade, praticamente uma
campanha contra as cooperativas de crédito. Está na pauta da Comissão de
Finanças e Tributação de amanhã um requerimento que fiz convidando algumas
entidades do cooperativismo de crédito e o Sr. Arminio Fraga para debater essa
questão na Comissão de Finanças e Tributação, porque entendo que a perseguição
às cooperativas no Brasil, particularmente as cooperativas tipo Luzatti, é uma coisa
vergonhosa e praticamente uma reserva de mercado para os bancos. Esse
requerimento deve ser votado amanhã na Comissão de Finanças e Tributação.
Qual a sua avaliação em relação à forma que o Banco Central vem atuando
em relação ao cooperativismo de crédito?
O SR. DEPUTADO WELLINGTON DIAS - Sr. Presidente, peço a palavra
pela ordem.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Danilo de Castro) - Pois não.
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O SR. DEPUTADO WELLINGTON DIAS - Sr. Presidente, devido a uma
situação de emergência vou ter de me retirar. Mas antes quero ponderar algo a
V.Exa. Houve a conclusão dos trabalhos do COMIF, que, na verdade, não deixa de
ser uma das partes mais importantes da reforma do Sistema Financeiro, pelo
menos do ponto de vista do Governo.
Foi produzido um relatório. Parece que a Comissão de Economia, Indústria e
Comércio já o aprovou inclusive. E acho que esta Comissão teria a função de estar
ouvindo o COMIF. Quero propor aqui que convoquemos os membros do COMIF, os
auditores do Booz-Allen, enfim, quem esteja trabalhando nisso, para que esta
Comissão possa estar percebendo qual é o rumo que está sendo dado ao COMIF,
que deve estar apresentando suas propostas agora nos próximos dias.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Danilo de Castro) - Agradeço ao Deputado
Wellington Dias a participação, e vamos providenciar a convocação dos membros
do COMIF aqui para esta Comissão.
O SR. ANTÔNIO CARLOS DE LAURA CASTRUCCI - Vou começar de trás
para diante, porque assim as idéias estão mais frescas.
O assunto é cooperativa de crédito. Temos de inserir cooperativa de crédito
em sistema cooperativo. Uma cooperativa de crédito está subordinada ao Banco
Central; se é uma cooperativa, ao Ministério da Agricultura e do Abastecimento.
Diria o seguinte: particularmente senti muito esforço das autoridades
monetárias em regular esse sistema. Hoje, para V.Exa. ter uma idéia, existem mais
de 1.300 cooperativas de crédito, se não me falha a memória, o que mostra que
realmente não está assim. Desculpe-me, eu não estou aqui para julgar. Não me
parece que esteja havendo má vontade do Banco Central em relação às
cooperativas. Ele tem dificuldade em supervisionar.
O SR. DEPUTADO RICARDO BERZOINI - V.Sa. permite um aparte?
O SR. ANTÔNIO CARLOS DE LAURA CASTRUCCI - Pois não.
O SR. DEPUTADO RICARDO BERZOINI - Esse número, em relação aos
números da Europa, é irrisório.
O SR. ANTÔNIO CARLOS DE LAURA CASTRUCCI - É, mas, se V.Exa.
imaginar que em 1981 havia aproximadamente duzentas, veremos que o
crescimento foi muito rápido. Acho que o Banco Central tem a preocupação de que
esse sistema saia de controle e possa tornar-se um problema. Mas não vejo má
vontade. Vejo preocupação, sim, e sinto que a coisa está caminhando.
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O SR. DEPUTADO CORIOLANO SALES - V.Sa. me permite um aparte?
O SR. ANTÔNIO CARLOS DE LAURA CASTRUCCI - Pois não.
O SR. DEPUTADO CORIOLANO SALES - A questão é o modelo de
cooperativa de crédito que há no Brasil em relação ao modelo de cooperativa que
há nos Estados Unidos da América, na Europa, no Japão, em relação ao modelo de
cooperativa que há aí fora, notadamente nos países do lado de lá. A questão é o
modelo. A questão está na lei, na lei que o Congresso Nacional não soube fazer. É
só isso.
O SR. ANTÔNIO CARLOS DE LAURA CASTRUCCI - Eu não tenho, assim,
gabarito para analisar, mas não diria que exista má vontade em relação a isso.
Acho que existe a preocupação de que o sistema cooperativo, por não ter quase
supervisão, possa amanhã dar problema. Está certo?
Além disso, acho que cooperativa é uma coisa que vem no sangue das
pessoas, e o brasileiro não tem o hábito da cooperativa. Não se tinha esse hábito e
está-se criando esse hábito agora, havendo esse esforço todo. Além disso, temos
que lembrar que as cooperativas de consumo, de produtor, etc., muitas delas deram
problemas sérios. Daí essa preocupação com o passado.
V.Exa. falou de operações de crédito. Eu até já tinha mais ou menos dito
isso, que realmente o problema de operações de crédito é muito pequeno. Acho
que, a médio prazo, possamos ter até talvez três vezes esse volume sem problema
nenhum. O sistema bancário estaria apto a atender.
O nosso problema é o seguinte: taxa de juros. Se a taxa de juros é alta, não
há tomador, essa é a grande verdade. Falo de tomador dentro dos critérios normais
de crédito de um banco. O que acontece? Não se usa o crédito no Brasil para
investimento. Mesmo a TJLP, do BNDES, se analisarmos, é forte. V.Exa. está
dizendo assim: "O Itaú teve 26% de retorno sobre o patrimônio líqüido. A TJLP,
mais alguma coisa e mais alguma coisa custa para o consumidor final 20% ou
21%".
Portanto, é fácil algum negócio que dê 20% de retorno? Se os juros
estiverem compatíveis, os volumes de empréstimos vão estourar em termos de
crescimento, porque eles começam a ser usados para empréstimos de longo prazo.
Hoje, as carteiras são todas de curto prazo. Com exceção do crédito direto ao
consumidor para comprar veículo, o resto é tudo abaixo de seis meses. A carteira
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não cresce. O banco opera e, mês que vem, todo mundo pagou tudo e começa
tudo outra vez.
O sistema tem know-how para crescer? Tem tudo para crescer? O sistema
tem tudo. Desculpe. Eu sou assim, um adepto do sistema. Acho que tem tudo. Só
não há taxa. E a taxa tem toda essa implicação de que falamos.
Quanto ao problema da privatização, eu ponho em dúvida, não tenho um
ponto firmado, acho que há prós e contras. Por exemplo, de um Banco do Brasil ou
de um BNDES, não é possível. Mas, do resto, eu tenho um ponto de vista formado.
Acho que não há razão para haver tanta coisa. Por que haver uma Caixa
Econômica Federal e um Banco do Brasil? Essas coisas eu questiono. Não consigo
sustentar uma discussão a longo prazo, talvez porque não tenha tantos dados. Mas
acho que um banco federal talvez tenha que realmente haver. Não tenho os
argumentos tão favoráveis a ter ou não ter, mas que temos excesso temos. Não
vejo por que haver bancos estaduais e caixas estaduais. Realmente, não vejo. E
não acho que seja querer um cartório, querer oportunidade; acho que é alguma
coisa... As conseqüências foram muito ruins.
V.Exa. referiu-se aos executivos. Acho que nós bancários, banqueiros — não
sei — temos muita fama. Acho que ganhamos relativamente bem, não duvido, mas
também executivos de outras empresas, de um supermercado, ganham muito.
Vários executivos de empresas ganham bem. E V.Exa. sabe que o executivo da
iniciativa privada ganha melhor que o executivo público ou o legislador. Acho que é
um mal com que o Brasil vai conviver sempre. (Risos.) Não sei bem qual é o futuro
disso aí. Só diria o seguinte, e vou dizer de coração: a vida do bancário não é fácil.
Essa mordomia...
O SR. DEPUTADO RICARDO BERZOINI - Do bancário, com certeza não; do
banqueiro, já é bem melhor.
O SR. ANTÔNIO CARLOS DE LAURA CASTRUCCI - Não, eu digo que sou
um bancário travestido de banqueiro ou um banqueiro travestido de bancário. Na
verdade, é a mesma coisa. E nós que vivemos o dia-a-dia, na hora em que vamos
dormir, com aquela carteira de crédito daquele tamanho, pensamos: "Puxa, e
subiram a taxa de juro! E agora como é que fica?" Acho que toda profissão é dura.
Eu diria que a nossa mordomia é relativa. Não é tão grande, que eu saiba. Não vejo
assim uma coisa muito diferente da outra iniciativa.
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E, quanto à fiscalização, diria, realmente, o que disse há pouco tempo. Se
um bancário — ou um banqueiro — deitasse e dormisse durante sete anos, hoje ele
estaria em outro sistema bancário. A fiscalização era de acordo com a música. A
fiscalização eram normas, assinadas direitinho, preenchido o impresso bonitinho.
Tudo eram normas que não tinham significado de risco. Mas, hoje, o sistema
bancário provou que o problema dele é administrar risco.
Toda a fiscalização está se transformando para fiscalizar risco, e toda a
argumentação é focada em risco. Por que isso? Para manter o sistema sólido e
manter os depositantes sem susto. Houve uma mudança muito grande. Estamos
ainda num processo de adaptação. Mas diria o seguinte: como instituição particular,
sinto a fiscalização do Banco Central focada hoje mais no risco. Ele tem de saber
se eu emprestei bem ou mal meu dinheiro. Se eu deixo o câmbio aberto, amanhã,
havendo uma desvalorização cambial, eu quebro — português claro. Essas coisas
estão sendo feitas com apoio de norma.
Se é suficiente? Tenho a impressão de que talvez não seja. Acho que falta
uma boa fiscalização. É muita coisa. Mas acho que há aí uma outra coisa que está
mal explorada: é a auditoria externa, que tem sido feita sobre uma série de coisas,
tem-se coberto de certa forma o empresário. Ela é responsável por uma porção de
coisas, mas poderia trabalhar melhor com o Banco Central, diminuindo e suprindo
essa possível deficiência de fiscalização.
A auditoria interna está todo o dia lá, está lá periodicamente e poderia fazer
um trabalho conjunto melhor, aproveitar mais. Em outros lugares do mundo a
auditoria externa é mais bem aproveitada. Nunca ninguém isenta a inspeção do
Banco Central, mas ela é a mais bem utilizada.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Danilo de Castro) - Com a palavra o Relator,
Deputado Edinho Bez, para os seus questionamentos e conclusões finais.
O SR. DEPUTADO EDINHO BEZ - Inicialmente, Sr. Presidente, queremos
agradecer ao Dr. Antônio Carlos de Laura Castrucci, que atendeu ao nosso convite.
É uma honra enorme recebê-lo aqui.
Sabemos da importância disso. Já tive oportunidade de trocar idéias com o
convidado. Quero ainda agradecer a presença de todos.
Obviamente, Sr. Presidente, teríamos uma série de perguntas técnicas.
Poderíamos avançar aqui duas ou três horas. Mas falo apenas do básico para a
nossa reforma do Sistema Financeiro Nacional.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNome: COMISSÃO ESPECIAL - SISTEMA FINANCEIRO NACIONALNúmero: 0437/00 Data: 09/05/00
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A reforma tributária tinha como base fazer com que todos pagassem menos
encargos, menos tributos, mas que todos pagassem ou viessem a pagar. Esse era
o objetivo básico da reforma tributária. Depois, vieram desdobramentos, e sabemos
o que houve, foi amplamente divulgado. Ela está emperrada, parada, agora aqui,
aguardando ainda um entendimento final com o Governo.
Na reforma do Sistema Financeiro Nacional também há algumas coisas
básicas. Queremos estar atentos aqui, a fim de abaixar as taxas de juros. Foram
levantadas questões a esse respeito aqui. Como Parlamentares, como
representantes da sociedade, do povo, aqui no Congresso Nacional, sofremos
cobranças.
Quanto à redução das taxa de juros, poderíamos dizer que temos como meta
também fazer com que cada cidadão tenha a sua conta bancária. Vamos tentar
como meta. Se vamos conseguir não sei, mas queremos fazer com que as pessoas
humildes, aqueles que estão distantes, possam usufruir dos serviços bancários, em
especial os Municípios pequenos, aqueles que têm dificuldades. Tratamos, aí, da
maioria, se considerarmos o aspecto quantitativo, aqueles que querem ter a sua
microempresa, o pequeno agricultor, aquelas pessoas que estão iniciando suas
atividades.
Daí a importância do cooperativismo de crédito, já muito debatido. Tive até a
oportunidade de ver isso fora do País, em algumas viagens que fizemos juntos com
a Comissão. Sentimos a importância do cooperativismo de crédito, porque os
bancos privados, em especial — estou citando isso aqui, aproveitando a presença
do convidado —, não têm demonstrado interesse em fazer com que, lá na cidade
pequena, mantenha-se uma agência bancária de um determinado banco. Daí a
importância da Caixa Econômica Federal, do Banco do Brasil, isto é, da
manutenção deles.
Estamos atentos a tudo isso, porque, quando o Governo implanta ou cria um
determinado programa, entendemos que o Governo a princípio queira fazer com
que chegue a todos os cidadãos brasileiros, a cada um, de acordo com os seus
interesses, com os seus respectivos segmentos. E o Sistema Financeiro tem o
papel de se preocupar com isso, sim. Não concordo com a tese de que o Sistema
Financeiro não é culpado e, sim, o Governo. Acho que o Governo tem de simbolizar
o povo, o País, o Brasil, tem de simbolizar patriotismo. O Governo é eleito para
fazer com que cada cidadão tenha dias melhores, tenha perspectivas de ter dias
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melhores, pelo menos. E nós, juntamente com o Governo, embora a princípio
independentes, temos o papel de estarmos atentos e transformar em lei, com o
intuito de viabilizar, aquilo que é importante para o País.
Então, há algumas coisas básicas para serem tratadas por esta Comissão. E
sei que todos são importantes, o bancário, o banqueiro, o Governo, o Legislativo, o
Judiciário, enfim, todos os segmentos são importantes, no intuito de termos um
Brasil melhor. Vamos tentar conciliar os interesses, fazendo com que todos
ganhem, pelo menos como meta, como objetivo.
Fiz aqui algumas anotações, que não vou adentrar, terei outras
oportunidades. Gostaria que todos da Comissão e convidados soubessem que o
Presidente tem se colocado à disposição, mesmo após esta audiência pública, para
continuarmos trocando idéias, com o objetivo de aprimorar os nossos
conhecimentos.
Diria que tenho algumas dúvidas, por exemplo, sobre alocação de capital.
Quanto mais capital, com recurso, baseado no patrimônio, nos depósitos, os
bancos têm de ter um percentual. Gostaria que, depois, V.Sa. pudesse esclarecer
isso, pois não escondo que fiquei com alguma dúvida nesse sentido.
Ainda há pouco o nosso colega, Deputado Coriolano Sales, disse que o
banco não corre risco. Fala-se em risco, mas ele não corre risco. E citou o exemplo
da venda de uma saca de feijão. Se, de repente, alguém não pagar, terá de
transferir para os futuros compradores de feijão. O banco tem uma provisão de um
determinado índice de inadimplência. E V.Sa. disse, com muita propriedade, que
nem tudo que é provisionado é pago. Então, se não é pago, também reverte em
lucro. Se reverte em lucro, o banco também utiliza isso para baixar as taxas de
juros. E, dentro do raciocínio do Deputado Coriolano Sales — eu pelo menos penso
que entendi —, o banco não corre nenhum risco a princípio. Se há uma provisão e
esta provisão é alta, porque assim ficou claro com o Presidente da FEBRABAN —
eu, inclusive, questionei nesse sentido —, e, geralmente, pelas informações que
tenho, os bancos não conseguem gastar todo o valor provisionado para
inadimplência, na média o banco não corre risco. Se não corre risco, por que não
baixar as taxas de juros e passar a fazer parte do lucro do banco um percentual de
risco? É apenas uma observação. Eu disse que não vamos aprofundar hoje o
assunto.
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Outra observação que gostaria de fazer é dizer que muitas coisas aqui na
Comissão foram mudadas. Há pouco o Deputado Ricardo Berzoini disse que há dez
anos, doze anos, na última década — vamos dizer assim, e há muitos números
nesse sentido —, as Comissões Especiais constituídas nesta Casa não conseguiam
concluir os trabalhos. E é verdade. Mas o que constatei, nas discussões que tenho
tido fora daqui, no Governo, no Banco Central, na Caixa Econômica Federal, no
Banco do Brasil, na CVM, mesmo com as senhoras e os senhores, é que muita
coisa mudou devido a questões levantadas nesta Casa. Então, valeu a pena.
Embora os colegas anteriores não tenham conseguido concluir o trabalho em
termos de um relatório final, muitos dos itens e questões aqui levantadas foram
absorvidas pelo Governo. Todos que passaram, digamos, por esta Casa foram
absorvidos também por Parlamentares e por segmentos, mesmo
independentemente do Governo. Assim, graças a assuntos aqui levantados com a
participação das pessoas que aqui vieram, através de palestras e audiências
públicas, muita coisa foi mudada. Então, valeu a pena o trabalho aqui da Comissão.
Vou citar um caso ocorrido agora recentemente, quando descobri, há uns
cinco meses, numa discussão do Banco Central, que os cartões de crédito do Brasil
nunca foram fiscalizados. Fiquei estarrecido. Não podia acreditar nisso. E a própria
alegação do Banco Central, na interpretação de alguns, de que, a princípio, cartão
de crédito existe através de serviço, ou seja, através de conveniados com os
bancos, para prestar serviços aos clientes dos bancos, a princípio, não é circulante.
Eu disse que é circulante, porque as administradoras de cartões de crédito não têm
os recursos necessários para bancar todos os valores utilizados. Elas recorrem,
inclusive, a bancos de investimentos. Recorrem, inclusive, a bancos privados aqui
no Brasil. Então, se eu pago uma conta e se eu não tenho dinheiro suficiente, vira
forma de pagamento. Se é forma de pagamento, é circulante.
Baseado nisso, o Banco Central entendeu, outras pessoas entenderam, e eu
fiquei feliz, porque tomei conhecimento de que o Banco Central, há dois meses,
criou uma comissão interna para começar a fiscalizar ou estudar a forma de
fiscalizar os cartões de crédito. Foi uma questão levantada aqui nesta Comissão.
Foi levantada aqui recentemente, Presidente Danilo, neste nosso trabalho.
Embora muita coisa não seja concluída aqui — e tenho repetido isso —, o
fato de levantar a questão aqui, de ser uma Comissão oficialmente constituída, que
tem o dever de fazer com que tenhamos dias melhores ou um Sistema Financeiro
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adaptado à nossa realidade, o próprio Banco Central, a Caixa Econômica Federal, o
Banco do Brasil, a CVM, o sistema bancário como um todo, vocês próprios têm
aproveitado os dados e discussões e os aprimorado. Poderia citar ainda índices de
cheques sem fundos, critérios, garantias de cheques, etc.
Só quis fazer essa explanação para dizer que o nosso trabalho é árduo. Sei
da sua complexidade, mas, com a capacidade e a competência dos colegas
membros desta Comissão e também dos nossos convidados, que aqui vêm com o
intuito de colaborar e de nos ajudar, dando-nos informações, eu tenho certeza...
O SR. PRESIDENTE (Deputado Danilo de Castro) - Tendo em vista o início
da Ordem do Dia, solicito ao nosso Relator que seja mais objetivo, para que
possamos encerrar a reunião.
O SR. DEPUTADO EDINHO BEZ - Estou concluindo, Sr. Presidente.
Gostaria de dizer que com toda a colaboração que temos recebido haveremos, se
Deus quiser, de apresentar um relatório oficial final, no qual tentaremos satisfazer a
todos nesta Comissão, submetendo ao Plenário o que for melhor para o Brasil.
Agradeço ao Presidente e gostaria que, pelo menos, o Sr. Expositor falasse
um pouquinho da alocação do capital.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Danilo de Castro) - Peço ao nosso ilustre
convidado que seja breve, porque o Presidente já solicitou o encerramento dos
trabalhos das Comissões.
O SR. ANTÔNIO CARLOS DE LAURA CASTRUCCI - Primeiro quero dizer o
seguinte: realmente, fiz essa exposição sobre taxa de juros e tudo o mais e ampliei,
voltei ao sistema nacional, para servir um pouco como estímulo ao debate. Estou
completamente à disposição para voltar uma outra vez e discutir outros pontos.
Achei que era um bom começo. Contamos a história para depois discuti-la.
Segundo, faltou uma parte quando falamos de acesso, outras pessoas que
não têm acesso bancário. O Banco Central acabou de liberar os bancos para que
façam acordos operacionais com lojas, etc. Em um certo ponto, o que o banco
precisa é de outros empresários. Discutindo com outros colegas, hoje no almoço,
vimos como pode ser interessante para um banco fazer acordos com pontos de
menor.
Sobre o risco, precisamos esclarecer a diferença entre ter riscos e ter custo.
A inadimplência é uma parcela de custo. Ponto. E eu me cubro dela. Que corro o
risco de inadimplência, corro. É o risco de emprestar o dinheiro e não tê-lo de volta.
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Esse risco eu corro, porque não sei premeditadamente se a pessoa vai ou não
devolver o dinheiro. Então, o risco existe, só que eu o transformo em uma parcela
do meu custo. O risco eu tenho, mas tenho também como cobri-lo.
Quanto à produção externa, vou pular e vou direto à alocação de capital. Na
verdade, acontecem duas coisas distintas: provisão e utilização de capital. Provisão
é aquilo que abato da minha despesa. Faço uma provisão para crédito de
liqüidação, que é aquela resolução que manda classificar... Faço provisão para
desvalorização de títulos; títulos que comprei e podem estar desvalorizando e eu
provisiono a desvalorização antes do seu vencimento. Isso sai do meu lucro.
A alocação de capital é um pouco diferente. Preciso ter capital para fazer
volumes em determinado produto. Então, preciso ter um certo número de capital
para fazer um certo volume de empréstimos, para assumir um certo volume de risco
de taxa de juro e, também, para correr o risco de taxa cambial, valorização de taxa
cambial. Então, a alocação de capital não é contábil, é gerencial. Tenho de ter "x"
de capital para cada coisa que eu faça. Essa seria a alocação. Não sei se expliquei
a diferença entre alocação e provisão.
O SR. DEPUTADO EDINHO BEZ - É. Eu conheço, mas gostaria de saber se
o percentual dessa alocação, a busca desses recursos, é proporcional ao
patrimônio ou aos depósitos. É nessa linha a minha pergunta.
O SR. ANTÔNIO CARLOS DE LAURA CASTRUCCI - Ela é proporcional ao
risco que V.Exa. corre, ou seja, risco de crédito, operação de crédito. Se eu tenho
cem de risco de crédito, deveria ter onze de capital só para aquilo. É como se meu
capital fosse dividido em pedacinhos, é patrimônio líquido, o capital mais reservas.
Vamos supor que eu tenha 10 milhões, ou melhor, 20 milhões. Tenho cem de
empréstimos, dos quais uso onze, sobraram nove para eu operar. Daí, se eu
arrisquei uma posição de câmbio alta que me usa cinco, ainda tenho quatro. Se
descasei juro, uso quatro, não tenho mais nada. Não posso fazer mais nada. Certo?
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Danilo de Castro) - Agradeço ao nosso
ilustre palestrante, Dr. Antônio Carlos de Laura Castrucci, Presidente da ABBC, que
nos brindou com essa palestra maravilhosa; foi realmente muito boa.
Tendo em vista o início da Ordem do Dia, convoco a próxima reunião para o
dia 16 de maio, às 14h30min, quando esta Comissão fará uma avaliação dos seus
trabalhos e elaborará o roteiro para prosseguimento.
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