C Á L I C E D E S A N G U E
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CAPÍTULO 21 (NOVELA EM 30 CAPÍTULOS)
“Persona non grata”
ORIGINAL de: Carlos Lira e
João Sane Malagutti
Escrita Por: Carlos Lira E
João Sane Malagutti
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
1. LEOFÁ (José de Abreu)
2. SUMÉRIA (Elisa Lucinda)
3. SALVADOR (Antônio Fagundes)
4. ÚRSULA (Bianca Bin)
5. JÚLIO (Chay Suede)
6. EURICO (Alexandre Nero)
7. MANFRED (Matheus Nachtergaele)
8. GUTEMBERG (Humberto Carrão)
9. LEOPOLDINA (Regina Duarte)
10. PETRÔNIO (Sidney Sampaio)
11. QUITÉRIA (Nívea Maria)
12. DIONE (Sophie Charlotte)
13. FILIPA (Totia Meireles)
14. PILAR (Malú Galli)
15. JOSÉ (Irandhir Santos)
16. JOÃO (Gabriel Godoy)
17. JADE (Camila Queiroz)
18. KEILA (Nanda Costa)
19. PÂMELA (Adriana Birolli)
20. VALDIR (Paulo Rocha)
21. FIGURANTE RECEPÇÃO (jovem)
22. MOTORISTA (Júlio Rocha)
Direitos autorais pertencentes à CARLOS LIRA e JOÃO SANE MALAGUTTI ®
CENA 01. RECEPÇÃO DO HOTEL/ESCRITÓRIO. INTERNA. DIA
Recepção. Retomada. Close: Funcionário(a) acuado(a).
KEILA: (apertando) – E, então, vai chama-lo
ou precisarei tomar uma providência para que
as pessoas venham até mim?
FUNCIONÁRIO(A): (acuado(a)) – Eu não posso...
Se aguardar uns minutinhos... Garanto que a
reunião se encerra logo; prometo!
KEILA: (entredentes) - Nenhum minutinho! Não
sabe do que sou capaz! Pode vir segurança,
polícia, o que for! Só sossego depois que
Leofá cumprir o que me prometeu! Ou você
interrompe essa merda ou... (aumenta o tom)
Começo a falar tão alto que as pessoas vão
ficar assustadas.
Suspense. Pessoas olham de todos os lados.
Fusão com:
ESCRITÓRIO:
Eurico irado com Júlio.
EURICO: (rebate) – Besteira que está falando,
rapaz! (irritado) Controlo a política de
Tetembau como essa palma da mão (mostra).
JÚLIO: (revida) – Não parece! Tetembau está
se afundando.../
LEOFÁ: (cheio) - Chega, Júlio! Cala-te! Creio
termos um acordo sobre silêncio!
Júlio engole irritado.
(Cont’d)(à Eurico) Qual o real motivo de nos
trazer aqui, Eurico? Vamos direto ao assunto
e espero que seja relevante. Quero evitar me
expor às línguas dos miseráveis dessa cidade
depois do que aconteceu.
EURICO: - É sobre o que aconteceu. (senta-se)
O motivo é Briane! (abaixa a voz) Ela me viu
sair com o... Você sabe! E, está usando essa
informação contra mim. Temo que ela dê com a
língua nos dentes.
Leofá preocupado.
(Cont’d) Tenho que traçar um plano para calá-
la, mas, estou sem cabeça. Preciso de ajuda!
LEOFÁ: (hostil) – Burro de merda!
EURICO: (justifica) – Não tive tempo para me
preparar, Leofá! Você ligou do nada e pediu
reforços. Foi tudo muito rápido. Fiz o melhor
que pude!
LEOFÁ: (revolta) – Não, não fez! Tanto é que
foi visto pela ‘fácil’ de sua mulher! Júlio
tem razão! Não consegue controlar a própria
mulher, como ser prefeito? (T) Além de corno,
vai se tornar o fantoche daquela oxigenada
burra.
EURICO: (baqueado) – Do que está falando?
Clima pesado.
LEOFÁ: (sorri) - Oras Eurico, não se faça de
sonso! Vai dizer que não sentes o peso desses
galhos sobre tua cabeça?!
Júlio leva os dedos à cabeça como chifres e provoca Eurico.
(Cont’d) É muita areia pro seu caminhãozinho!
Achou que ia passar toda a sua vida, ileso?
(T) Idiota! Pisoteou na mulher o tempo todo e
agora ela encontrou uma forma de lhe devolver
todo o mal, é óbvio que vai usar.
JÚLIO: (pisa) – Além de burro, é brocha!
Leofá se levanta e caminha até ele.
LEOFÁ: (sádico) - Aproveito esta ocasião para
retirar meu apoio à você como o candidato de
nosso partido. (T) Sua imagem de fracasso só
nos faz afundar no cenário político! Fere a
nossa honra e integridade.
Eurico se levanta e o enfrenta.
EURICO: – Você não pode fazer isso!
LEOFÁ: – Posso e vou! Você não passa de um
mero joguete em nossas mãos!
EURICO: (tentando) - Não pode! Não depois de
tudo que fizemos juntos... (T) Se me deixar
nesse barco para afundar, afundamos junto!
(ameaça) Abro a minha boca para contar tudo o
que sei, Leofá! Cada vírgula, cada detalhe de
nossas ações. Cada centavo de propina que deu
pelos seus interesses particulares.
Leofá o pega pelo colarinho e aponta a arma em seu nariz.
LEOFÁ: (ameaça) – Um respingo do assassinato
sobre mim ou minha família e você será um
homem fora de circulação.
Eurico o enfrenta com o olhar. Batidas à porta.
EURICO: - Não seria inteligente de sua parte
atirar em mim aqui! Todos saberão.
LEOFÁ: (acuado) – Canalha!
EURICO: (sorri) – Achou que não ia aprender
nada contigo?
Batidas. Close: Júlio estupefato. Leofá o solta. Eurico
arruma o colarinho Funcionário(a) abre a porta.
FUNCIONÁRIO(A): - Perdão, Senhores. Tem uma
mulher se apresentando como alguém do. (T)
Quer falar urgente com o Senhor Leofá.
Júlio arregala os olhos e Leofá engole seco.
LEOFÁ: (desconfiado) - Isso é uma emboscada?
Foi para isso que me trouxe aqui?
EURICO: - Óbvio que não!
FUNCIONÁRIO(A): - Ela Iniciou um escândalo e
disse não sair até que o Senhor Leofá a ouça.
Eurico o olha esperando uma decisão.
LEOFÁ: (acuado) – Mande a puta entrar.
Clima de suspense.
Corta para:
CENA 02. GABINETE. INTERNA. DIA
Úrsula abraçada com o pai.
ÚRSULA: - Tem certeza? Não quer que eu fique?
SALVADOR: - Sim. Está tudo bem aqui. Achei
que a população seria mais hostil, mas,
parece que continuam confiando em mim.
ÚRSULA: (repreende) – Pai! As pessoas são vis
e traiçoeiras. (chateada) Perdi as esperanças
no seu Humano.
SALVADOR: (amigo) – Que isso, filha?! É nova
demais pra isso! O que aconteceu?
ÚRSULA: (chateada) - Gutemberg, pai. Acho que
ele tem outra!
SALVADOR: - Se refere à moça? Às vezes é só
amizade. Procure saber melhor a respeito. Ele
é novo aqui e às vezes se afeiçoou a ela, mas
isso não representa que ele não te ame.
ÚRSULA: - Tem razão. Estou sendo infantil.
Os dois apertam o abraço e carinhos.
(Cont’d) (sorri) Você é o melhor pai-amigo e
conselheiro, Seu Salvador. Vou conversar com
ele; mas, primeiro vou tomar café. Estou seca
de fome!
Dá um beijo no pai e sai.
Funde com:
CENA 03. PRAÇA. EXTERNA. DIA
Úrsula atravessa a praça e avista uma pessoa na banquinha a
comprar flores. Câmera mostra a mão sem revelar o dono. Ela
procura uma árvore para se esconder. A pessoa (corpo) passa
por perto e ela se esconde inteiramente atrás da árvore.
Após sua passagem ela sai cuidadosamente.
ÚRSULA: (chocada) – O que está fazendo aqui?
Segue a pessoa discretamente.
Corta para:
CENA 04. ESCRITORIO DE EURICO. INTERNA. DIA
Retomada da Cena 2. Keila entrando:
LEOFÁ: (levanta) – Minha querida! Que prazer
em revê-la.
KEILA: (ríspida) – Mentiras não me convencem!
Ninguém sente prazer em ver uma prostituta em
público e à luz do dia clamando por seu nome.
Leofá, Eurico e Júlio impactados.
Corta para:
CENA 05. FACHADA DO BOTECO. EXTERNA. DIA
Palmas. Desfoque. Úrsula espia do outro lado da rua perto
de um poste. Manfred com sono sai à janela e se assusta.
MANFRED: - Pois não, jovem? Quer entrar?
GUTEMBERG: - Não, não! Só queria falar com a
Pâmela! Ela está ou pode me atender?
MANFRED: - Verei pra você. (compadecido) Só
queria que soubesse que sentimos muito pela
tragédia. Estamos todos consternados!
Gutemberg sorri em simpatia. Manfred entra e grita o nome
de Pâmela. Close: Gutemberg lacrimejando limpa a lágrima.
Pâmela aparece na janela e surpresa ajeita os cabelos.
PÂMELA: - Guto! Não o esperava. Já saio aí.
GUTEMBERG: (sorri) – Eu aguardo!
Pâmela sai pelo portão.
PÂMELA: - Que bons ventos o traz! Gosto tanto
da sua presença. Fico tão feliz por vir!
Ele se aproxima e estende a mão com as flores.
GUTEMBERG: - Sei que está muito recente, mas,
não podia deixar de lhe trazer isso....
Pâmela flutuando de paixão.
(Cont’d) São pra você! Você é uma pessoa
muito especial pra mim. Aceite esse presente
de coração.
POV Úrsula: Pâmela avança pra cima dele com um abraço. Numa
bobeada ela lhe beija. Close: Úrsula lacrimejando.
ÚRSULA: (pra si) - Bem que desconfiei.
Sai correndo. Gutemberg afasta Pâmela.
GUTEMBERG: (sem jeito) - Nossa! Não esperava!
Desculpe-me.
PÂMELA: (sem graça) – O que quer dizer, Guto?
GUTEMBERG: (sem jeito) – Você é uma mulher
fantástica, especial, Pâmela, mas, confundiu
as coisas! As flores são em agradecimento
por estar do meu lado esse tempo todo e me
ajudar a tentar superar essa tristeza. Foi
muito importante o seu apoio, mas, eu tenho
uma namorada e a amo muito.
PÂMELA: (esconde a decepção) – Poxa! Entendi
tudo errado. Lógico! É só amizade.
Silêncio.
GUTEMBERG: - Está chateada comigo?
PÂMELA: (triste) – Isso passa! Eu... sempre
confundo as coisas, Guto! Isso é de mim. Em
matéria de amor, fui reprovada na faculdade.
(sorri) Sou uma pateta!
GUTEMBERG: (carinhoso) – Não é não! Quero
muito a tua amizade. Por favor, não se afaste
de mim por esse mal entendido. Não tive tempo
de conversar sobre isso antes.../
PÂMELA: (podando) – Está tudo bem, Guto! Não
se preocupe comigo. Qualquer coisa que falar
vai me fazer sentir mais culpada pelo erro. É
claro que continuaremos amigos. Isso passa!
GUTEMBERG: - Você é uma pessoa sem igual!
Guto abraça Pâmela. Close: Pâmela chateada.
Corta para:
CENA 06. ESCRITORIO DE EURICO. INTERNA. DIA
Retomada da Cena 4. Leofá alterado, anda de um lado para o
outro.
LEOFÁ: (acuado) – É muito dinheiro! É muito
mais que um homem ganha por meses de trabalho
duro!
KEILA: (ríspida) – Na hora de precisar de mim
para desligar a chave geral da caixa de força
fui necessária, agora, é muito o que peço?
Close: Júlio preocupado.
LEOFÁ: (prepotente) - Faz assim: dou-lhe um
terço do que pede e você sai por aquela porta
e finge nunca ter me visto na vida. (T) Acho
uma proposta razoável.
JÚLIO: - Veja moça! Um terço ainda é muita
grana. Dá para você fazer sua vida! Aceita!
KEILA: - Quero o valor total! Estou sendo até
razoável perto do que tenho aqui comigo! (T)
Algo que esteve presente na cena do crime e
que pode incriminar alguém.
Ela encara Júlio que fica atônito.
EURICO: (apreensivo) – Está blefando!
Keila abre a bolsa e coloca a faca enrolada sobre a mesa.
Abre o pano. Leofá fuzila Júlio com o olhar. Suspense.
(Cont’d) – Dê o que ela pede, Leofá! Para
você essa quantia não é nada!
Keila pega rapidamente a faca com o pano e põe na bolsa.
KEILA: (mente) - O pano que usei para limpar
essa faca está sob o cuidado de uma pessoa.
Ela sabe que estou aqui; e, qualquer coisa
que acontecer comigo ela pode incriminá-los
encaminhando o pano aos peritos. O sangue do
defunto será constatado. O valor que peço,
portanto, é para calar duas bocas. Creio que
não seja caro!
LEOFÁ: - Está blefando, moça!
KEILA: - Não. Não estou!
Pega o revólver e aponta para ela com ódio.
(Cont’d) Atire! Vamos! Logo estarão presos o
grande e poderoso Leofá Pimenta e a corja.(T)
o tecido contem material genético de sobra
para incriminá-los. Só limpei a lâmina, mas o
cabo está repleto de digitais de seu querido
filho. Vai ser um escândalo!
EURICO: (medroso) – Leofá! Deixe de miséria.
Pague essa moça! Termina com isso logo!
JÚLIO: (engole seco) – Faça isso, pai!
LEOFÁ: - Pra você é conveniente, Júlio! Como
foi fazer a merda de deixar essa faca cair
nas mãos dessa moça.
JÚLIO: (perdido) – Me desculpa, pai!
LEOFÁ: - Preencha o cheque, Eurico...
KEILA: (poda) – Cheque não! Dinheiro vivo!
Sou alguma trouxa para ter o cheque sustado?
LEOFÁ: - Não tenho esse dinheiro aqui.
EURICO: (vingando-se) – Tem. Tem sim, Leofá!
Aquelas malas que recolhemos da votação da
est.../
LEOFÁ: (poda) – Cale-se!
EURICO: - Dessa vez, não! Não vou me calar,
Leofá. Esse crime te beneficiou muito e por
isso estamos todos na mesma merda. Por mando
seu!
Eurico pega uma das malas no armário e entrega à moça.
LEOFÁ: - O que está fazendo?
EURICO: - Limpando a nossa barra!
Keila abre a mala e confere com os olhos encantados.
KEILA: - Isso deve dar! (fecha) Prometo ficar
calada se cumprirem a parte de vocês em não
me perseguir, ameaçar ou atentar contra mim.
(T) Lembrem-se... (tira a faca da bolsa e a
abana) Eu tenho isso!
Sai carregando a mala e bate a porta.
LEOFÁ: (à Eurico) – Desgraçado! Não podia ter
entregue o meu dinheiro!
Júlio se senta e respira aliviado.
(Cont’d) Meu dinheiro! Perdi uma fortuna! Por
culpa desse imbecil de meu filho.
JÚLIO: (grita) – Chega! Chega pai! (se
revolta) Eu não sou um imbecil! É melhor ela
levar o dinheiro e se calar.
LEOFÁ: - Melhor para quem?! As suas digitais
estão naquela faca!
Se levanta e bate de frente.
JÚLIO: - As minhas digitais estão! Mas, foi o
Senhor que esteve naquele bordel junto a mim.
Adentrou a casa e negociou com aquela mulher.
Entende? (acalma) Se não desse o dinheiro,
ela entregaria a todos nós!
EURICO: - Ele tem razão!
JÚLIO: - Pela primeira vez, engula o seu Ego,
pai. Não existe crime perfeito. Aliás,
ninguém é perfeito. (T) Nem o senhor...
Júlio sai e bate á porta.
EURICO: (sorri sádico) – O grande e poderoso
Leofá Pimenta derrubado por uma prostituta e
pelo próprio filho. A traição de um filho é
mais dolorosa e árdua de se carregar que um
par de chifre de mulher. Não é?!
LEOFÁ: (sem perder a pose) – Parasita!
EURICO: (joga) - Só existe uma poça de lama
nessa história; estamos todos dentro dela. Se
afogando até o pescoço. Se retirar o apoio
político de meus interesses, Leofá, todos nós
nos afogaremos de água suja.
LEOFÁ: (pose) - Tenho grana pra me levantar!
EURICO: (sorri) – O dinheiro não compra tudo.
(T) Mas, compra a mim! Então, me financie na
campanha que sei que breve teremos e, eu, lhe
ajudo a permanecer livre.
Suspense.
Corta para:
CENA 07. FACHADA DO HOTEL. EXTERNA. ANOITECER
Keila sai pela porta principal carregando a bolsa e a mala.
Para e encosta na parede. Está tremendo.
KEILA: (se acalma) – O Pior já passou! Agora
é só organizar pra sumir no mundo! (emociona)
Nunca mais terão notícias de mim!
Corta para:
CENA 08. CENÁRIO RURAL. EXTERNA. ANOITECER
Passeio pelas fazendas das famílias Bianchini e Pimenta. O
clipe remete do pôr-do-sol à noite plena. Som instrumental.
Fusão com:
CENA 08. QUARTO DE ÚRSULA. INTERNA. NOITE
Úrsula deitada. Salvador do seu lado a coloca para dormir.
ÚRSULA: (chorando) – Minha intuição estava
certa, pai. Eu vi quando ela se jogou nos
braços deles e o beijou por causa das flores
SALVADOR: (chateado) – Me parecia um bom
rapaz! É difícil essas coisas de amor, filha!
ÚRSULA: - Valoriza quem te ama, pai. Por isso
que eu te peço para cuidar bem da mamãe.
SALVADOR: (triste) – Gosto muito de tua mãe.
É amiga e companheira de grandes qualidades,
mas, não tem mais volta. A minha vida tá
presa lá atrás! (T) Preciso resolver algumas
das coisas que ficaram para ter paz!
ÚRSULA: (preocupada) – Cuidado, pai. Essa
gente dos ‘Pimenta’ não presta.
SALVADOR: - Eu sei, filha, eu sei! (T) Agora,
fique bem e durma. Amanhã é outro dia.
Beija a testa. Apaga a luz e sai. Penumbra. Úrsula chora.
ÚRSULA: - Eu ainda te amo, Gutemberg!
Corta para:
CENA 09. CORREDOR DOS QUARTO DOS PIMENTA. INTERNA. NOITE
Petrônio sai do quarto e fecha a porta. De outra porta Léo
sai e vai ao seu encontro.
LÉO: (extenuada) – Enfim, seu irmão dormiu. E
você, deveria aproveitar esta noite em casa e
descansar.
PETRÔNIO: - O sono não vem. (desabafa) Depois
do que passamos é impossível ficar em paz.
(T) Eu não gostava dele; mas, vê-lo em meio a
uma poça de sangue mudou algo em mim.
LÉO: - Um assassinato muda tudo!
PETRÔNIO: (desconfia) – Aquilo foi estranho.
As pessoas que estavam lá naquela noite não
são de visitas rotineiras. A sensação que
fica é de que isso foi armado para prejudicar
alguém. Eu sinto que algum inocente vai pagar
por isso! E o que mais me choca é que o meu
pai... digo, padrasto, morreu por nada. Muita
injustiça!
LÉO: (apreensiva) – Deixe de lado essa teoria
da conspiração para a justiça resolver. Por
favor, não se meta. Não quero perder o filho
também.
O abraça. Clima triste.
PETRÔNIO: (amargurado) – E, pensar que podia
ter feito algo para ajuda-lo e não fiz...
LÉO: (interrompe) – Não. Não tinha como saber
o que aconteceria.
PETRÔNIO: (chora) – Ele não era meu pai. Mas
foi alguém que me criou e eu neguei isso a
ele. Isso faz me sentir culpado. Um monstro!
O meu verdadeiro pai estava lá, diante o
crime do outro que foi meu pai postiço. Que
ironia do destino, não?!
LÉO:– Não se torture! Mas, já que tocou no
assunto, é a hora de se aproximar de seu pai.
Suspense.
Corta para:
CENA 10. BOTECO: QUARTO MENINAS. INTERNA. NOITE.
Tudo escuro. Keila acende o abajur e aproxima de Jade e a
vê dormindo. Abre o guarda-roupa em surdina, pega a mala em
cima e começa a colocar o dinheiro e as roupas. Quando está
fechando a mala Jade se levanta.
JADE: (surpresa) - Keila!...
Keila se assusta e encosta no guarda-roupa.
(Cont’d) Que mala é essa?
Suspense.
Corta para:
CENA 11. CORREDOR DOS QUARTO DOS PIMENTA. INTERNA. NOITE
Retoma da cena anterior. Petrônio encarando Léo.
PETRÔNIO: - Não posso chegar em Salvador do
nada e dizer: “oi, sou seu filho”!
LÉO: (reluta) – Pode. Você foi fruto do maior
amor de nossas vidas. Tenho plena convicção
que Salvador irá te amar assim que souber. Eu
sinto isso! Ao se aproximar dele vai ver que
será melhor ter um pai presente! Ele é
participativo. (T) Estaríamos juntos se não
fosse o assassinato; tudo seria diferente.
PETRÔNIO: – Nunca entendi o assassinato que
tanto falam...
LÉO: (triste) – O seu tio, irmão de Salvador,
se chamava Santiago. Um moço lindo, educado,
cavalheiro, que amava sua tia, Ludmila, a
nossa santinha, mas ele a assassinou do nada.
(peso) De forma brutal. (triste) Ninguém
nunca entendeu o motivo.
PETRÔNIO: (chocado) – Absurdo!
LÉO: – Eu sei. Essa mancha ficou sobre nossas
famílias. Seus avós me botaram para fora
daqui quando eu ainda estava grávida de ti, e
nem eu, nem eles sabiam. Foi aí que conheci o
Epitácio que nos acolheu e deu seu sobrenome.
PETRÔNIO: – Coisa louca! Sempre achei que
fosse folclore de tio Leofá por não gostar do
prefeito. Coisas políticas e tal.
LÉO: - Imagine a minha mente, filho?! Amar, e
ignorar esse amor, a vida inteira! (segreda)
mas esse amor é maior que eu. Mesmo ele sendo
irmão do suspeito assassino de minha irmã.
Que hoje, já tenho as minhas dúvidas se foi
ele mesmo! Por isso, de coração desejo que
se reaproxime de seu pai e tente ser feliz ao
seu lado.
Petrônio chateado. Léo segura o seu rosto entre as mãos.
(cont’d) Independente desse passado, verdade
ou mentira, Salvador é seu pai, meu amor! Se
há um passado sujo de sangue, isso não muda
quem você é! É um Bianchini também. Precisa
seguir as suas raízes com louros ou dores.
PETRÕNIO: (rejeição) – Ele... Esteve no
Boteco. (sorri confuso) Esteve presente no
meio daquele... daquele... crime! Isso é
demais para mim. Muitos assassinos por perto
que permeiam o meu sangue mãe. Eu não sou
assim!
Vai saindo.
LÉO: - Aonde vai?
PETRÔNIO: - Deitar a cabeça no travesseiro.
Preciso organizar as minhas ideias para saber
exatamente o que sinto e saber quem sou. (T)
Nesse momento não consigo sentir nada mais
que repulsa pelas minhas origens. (acabado)
Não sei como pode ser daqui para frente. Só
sei que há algo diferente em mim. Essa coisa
de matar é forte demais até mesmo para mim.
Boa noite!
Entra no quarto e bate a porta. Close: Léo aliviada.
LÉO: (lacrimeja/para si) – Mesmo dessa forma,
tentar reaproxima-los será melhor para ele!
Corta para:
CENA 12. BOTECO: QUARTO MENINAS. INTERNA. NOITE.
Retomada de onde parou. Keila acuada.
JADE: (curiosa) – Pretende viajar?
KEILA: (Gagueja) – Si-sim! Eu... vou... Ver a
minha família. Já não quero mais ficar aqui
por esses dias.
JADE: (desconfiada) – Família? Mas, quando
veio para cá, foi falta de opção. Você não
tinha mais ninguém nesse mundo!
KEILA: (irritada) – O que você sabe de minha
vida, sua sonsa? (T) Eu vou para onde bem
entender. Tenho direito de ir e vir sem dar
satisfações á ninguém, entendeu?
JADE: (acuada) – O nome disso é fuga!
KEILA: - Que seja! Aqui, não fico um segundo
sequer à mais que o sol nascer.
Clima de suspense.
(Cont’d) Não quero nenhuma palavra fora desse
quarto para Dona Quitéria, entendeu? (ameaça)
Ou não respondo por mim.
Suspense.
Corta para:
CENA 13. CENAS RURAIS/CASARÃO BIANCHINI. EXTERNA. AMANHECER
Música tema. Cavalos correm no campo. Panorâmica: pedreira
e riacho vistos do alto. Fachada do casarão Bianchini. A
janela se abre e Salvador aparece respirando fundo. Corta
para ele saindo pelas portas do fundo enrolado na coberta e
caminhando até o balanço onde se senta.
Corta para:
CENA 14. COZINHA DOS PIMENTA. INTERNA. DIA
Abre a cena no fogão de lenha com café sendo servido.
Suméria ajeita a mesa. Petrônio bebe o café. Se levanta
para sair.
SUMÉRIA: - Se sua mãe perguntar, digo que foi
onde?
PETRÔNIO: - Acertar umas coisas do passado.
Sai. Close: Suméria apreensiva torcendo os dedos com as
mãos.
SUMÉRIA: (para si) – Isso não é bom!
Fusão com:
CENA 15. PANORAMAS RURAIS. EXTERNA. DIA
Petrônio anda pelos cenários rurais, riacho e estradas.
Sentido de peregrinação.
Corta para:
CENA 16. PRAÇA CENTRAL/FACHADA BOTECO. EXTERNA.DIA
Nas ruas as pessoas varrem as calçadas do comércio. Dione,
Valdir, capelão, diácono e pessoas como figuração. Carro
conversível estaciona frente ao Boteco. Buzina.
KEILA: (sai á janela) – Já vou! Um minuto.
Keila entra e em seu lugar Jade espia. Close no motorista,
jovem de aspecto urbano e engajado na moda acende um
cigarro. Alguns segundos e aparece com malas. Carrega com
dificuldade.
(Cont’d) Não vai me ajudar, não?
MOTORISTA: - Pois não, senhorita.
Guardam as malas na traseira. Ele pega a mala de dinheiro.
KEILA: (toma dele) – Essa não! Vai comigo!
Coloca no banco de trás. Ela se vira e encara o Boteco.
(Cont’d) (ao motorista) Já ganhou uma grana
fácil? (lacrimeja) Aqui nunca foi fácil; mas,
não posso dizer que não fui feliz. Agora, que
tenho minha pequena fortuna, vou embora e não
vou ser mais explorada.
Quitéria sai pela porta correndo acompanhada de Pâmela,
Jade, Manfred e das outras meninas.
QUITÉRIA: (chateada) – Pretende ir embora sem
se despedir de nós, Keila? Como pode?! Aqui é
a sua casa, nós a queremos tão bem! Não pode
sair fugida. O que houve?
KEILA: (â Jade) – Futriqueira! (à Quitéria) A
despedida é dolorosa, D. Quitéria, prefiro
evitar isso. Estou na minha hora! Vou embora
agora, mas, fique com o coração em paz. Sou-
lhe grata por tudo!
QUITÉRIA: (maternal) – Fique conosco, Keila.
Perdoe-nos se fizemos algo que lhe chateou.
Prometo me redimir de qualquer coisa. Você,
assim como as outras, é como uma filha e lhe
tenho um carinho especial.
MANFRED: (á Pâmela) – Já vi essa cena antes!
KEILA: (desabafa) – Cansei de ser puta, Dona
Quitéria! Ser explorada por homens e sem ter
o merecido respeito. Não quero mais isso! Vou
é pra cidade grande, estudar, virar gente!
PÂMELA: - Eu vim de lá, Keila! A vida também
não é fácil!
KEILA: - Se tiver que fazer tudo de novo, eu
faço, só que dessa vez, por mim. Não leve à
mal D. Quitéria, mas, agora, vou caminhar com
as minhas próprias pernas. Não é ingratidão.
Apenas não quero mais essa vida medíocre que
a senhora nos impôs! Morar num casarão velho,
mofado, malcheiroso e nos deitar com homens
bêbados e pobres. Chega para mim!
Manfred se aproxima.
MANFRED: - Se é assim... Vá! Não é mais uma
de nós e nem de nossa família! (dá um tapa)
Acostume-se, pois a vida vai te dar muitos
desses.
QUITÉRIA: (chateada) - Manfred, não! Porque
fez isso? Não tem sentido1 Deixe-a.
Quitéria a acolhe.
(Cont’d) (maternal) Se quiser ir, vá! Ninguém
pode obrigar ninguém a nada. Peço somente que
se cuide e seja feliz!
KEILA: - Vou lhe ser grata por tudo. Um dia,
quem sabe, eu volto para retribuir tudo o que
fez.
MANFRED: (sussurra à Pâmela) – Volta é nada!
Eu conheço bem esse perfil de gentinha!
Keila sobe no carro conversível no banco de trás e senta no
apoio, o carro sai e ela sai acenando como um político.
KEILA: (emocionada) – Buzina, isso motorista.
Quero a minha partida triunfal. Agora, vou
viver a minha vida de verdade.
Conforme o carro vai saindo as pessoas aparecem às ruas
pelas buzinas. Cachorros e crianças saem atrás. Manfred se
aproxima de Quitéria.
MANFRED: (amigo) - Vamos entrar!
QUITÉRIA: (lacrimeja) – A despedida é triste!
Ainda mais quando é feita assim.
MANFRED: (com a mão no ombro dela) – Não
adianta! Aprenda, Quitéria! Cada geração do
Boteco terá a sua Suméria. (pro nada) Parece
carma!
Eles entram. Retoma ao carro desfilando com Keila acenando.
KEILA: (emocionada/eco) Adeus, fim de mundo!
Buzinas.
Corta para:
CENA 17. QUINTAL DO CASARÃO BIANCHINI. EXTERNA. DIA
Salvador balança de leve olhando o nada. Cena de extremos.
PETRÔNIO: (in off) – Prefeito!
Salvador se vira assustado.
(Cont’d) Não precisa temer! (ergue as mãos)
Vim em missão de paz.
SALVADOR: (apreensivo) – Em que posso ajudar?
PETRÔNIO: (lacrimeja) - Queria compartilhar
algo muito pessoal contigo.
Suspense. Conforme fala se aproxima do balanço. Salvador se
mantém apreensivo.
(Cont’d) Sou enteado do Epitácio, que foi
assassinado no Boteco. Mas,... Não sou filho
legítimo dele. Gutemberg, é, eu, não. Aliás,
é sobre isso que queria conversar contigo.
SALVADOR: (sem entender) – Tudo bem. Falamos
sobre, isso então.
Petrônio se abaixa no meio das pernas de Salvador ficando
mais baixo que ele. A cena deve remeter carinho.
PETRÔNIO: (chorando) – Não sabes o quanto têm
sido doloroso para mim esses dias procurar
por um pai e nunca encontrá-lo. Acho que o
mal da minha vida é a solidão e esse vazio
existencial dentro de mim que nunca deixou-me
enxergar quem sou.
SALVADOR: – Compreendo. Pobre rapaz! Essa é
uma situação, de verdade, muito dolorosa.
PETRÔNIO: - Ontem, foi a pior noite de minha
vida. Não pude pregar os olhos depois do que
a minha mãe me contou. O que sinto dentro de
mim, senhor, é algo inexplicável. Há anos não
sinto o carinho de um pai e uma proximidade.
Na realidade, nunca soube o que é isso. Minha
mãe sempre tentou suprir essa falha na minha
vida. Mas não foi o suficiente! (T) Agora;
depois que ela revelou tudo, em meu coração
acendeu uma chama. Eu não queria, mas, está
vivo aqui dentro de mim um desejo forte de
ter um pai de verdade. Compreende?
SALVADOR: (perdido) - Creio que não.
Música instrumental.
PETRÔNIO: - Dá-me sua mão, por favor.
Salvador lhe estende a mão com desconfiança. Petrônio a
beija e coloca em seu rosto com carinho e Salvador com a
outra acaricia os cabelos.
SALVADOR: (amigo) - O carinho é importante
para cessar a dor.
Petrônio ergue a cabeça e o olha com lágrimas escorrendo.
PETRÕNIO: - É disso que sempre senti falta...
pai!
Salvador emocionado.
(Cont’d) Mas, agora posso ter você por perto!
(T) Se me aceitar como seu filho, claro.
Salvador o abraça e começa a chorar.
SALVADOR: (emocionado) – Não pode ser! Depois
de tantos anos a vida me traz um bem tão
precioso. Fruto de um amor tão lindo!
O beija a testa e o rosto.
(Cont’d) Oh, que surpresa tão grata! É lógico
que te aceito como filho! Que honra ter um
filho formado e tão lindo! Bem vindo ao
coração de seu pai!
Música instrumental. Os dois choram abraçados no balanço.
Corta para:
CENA 18. ESCRITÓRIO DE LEOFÁ. INTERNA. DIA
Leofá de pijama ao telefone de costa para porta não percebe
a entrada de Léo.
LEOFÁ: (fala baixo) – Perfeito! Faça o quanto
antes. Dessa vez, a derrocada de Salvador
será certa! Aja com discrição (...) Certo!
Aguardo novidades!
Desliga.
(Cont’d) Mal posso esperar para ampliar s
horizontes dessas cercas, Salvador Bianchini.
LÉO: - Falava com quem?
LEOFÁ: – Léo, tão cedo! (desconversa) Está aí
há quanto tempo?
LÉO: (mente) – Agora. Ouvi o nome de Salv...
LEOFÁ: (poda) – Sim. Odeio esse tal! Nem ouse
pronunciar seu nome. Sempre tentando roubar
as nossas terras.
LÉO: - Ou seria o contrário?
Leofá a desafia com o olhar
(Cont’d) Eu ainda o amo, Leofá! Vou retomar
esse amor! Quer você queira, ou não!
LEOFÁ: - Como pode? (desdém) Amar o irmão de
um assassino! Talvez assassino de seu ex-
marido. (veneno) Tem mesmo capacidade para se
juntar com a gentinha e quem sabe, não é
cúmplice do que aconteceu com Epitácio! O
caminho fica mais fácil sem ele, não?!
LÉO: (irritada) – Escroto! Como pode me
culpar de algo? Sempre respeitei essa família
e coloquei os interesses de todos até mesmo
acima dos meus. (T) Agora não mais. É a minha
hora de amar. E eu vou viver isso! (ameaça)
Sei que está aprontando algo. Não sei o que
possa ser. Mas, tome cuidado! Dessa vez, eu
estou aqui e te vigiando de perto, Leofá!
LEOFÁ: (sorri) – Pretende o que, Leopoldina?
LÉO: (joga) - Separar as nossas propriedades
para começar.
Leofá desfaz o sorriso.
(Cont’d) E, vou recuperar cada centavo gasto
nessas campanhas malucas pela prefeitura. Não
posso ficar com o ônus de algo tão obsoleto e
sem nexo!
LEOFÁ: (joga) - Não pode fazer isso! Não tem
como fazer isso!
LÉO: - Posso! E farei! Saiba que Petrônio é
advogado e ele tem interesses particulares em
resgatar o que for deles!
Leofá se aproxima dela e ficam cara a cara.
LEOFÁ: (irado) - Isso, só se for por cima do
meu cadáver!
Sai da sala a encarando. Close: Léo preocupada.
Corta para:
CENA 19. SALA DO CASARÃO BIANCHINI. INTERNA. DIA
Abraço triplo. Úrsula, Salvador e Petrônio. Pilar distante.
ÚRSULA: (feliz) – Estou muito emocionada com
tudo isso. O senhor merece coisas boas em sua
vida pai. E, ter um irmão, será sensacional!
PETRÔNIO: (emocionado) – Fico feliz de ser
aceito por essa parte de minha família!
Agora, não me sentirei mais sozinho. (T)
Preciso contar isso pra minha mãe. Vou agora!
SALVADOR: - Eu te levo até a porta, filho!
Eles saem. Úrsula vai até Pilar.
ÚRSULA: - Que bom! A família está crescendo.
PILAR: (na dela) - Parece um bom rapaz. Além,
de irmão, agora será seu cunhado, tio de seu
bebê, se estiver mesmo grávida! Agora só
precisa resolver essa sua questão com o pai
da criança.
Close: Úrsula chateada. Pilar a abraça.
(Cont’d) Desculpa, filha. A presença dele me
traz o afastamento de seu pai, porque junto
dele vem a mãe. Embora tenha acabado tudo,
isso só apressa as coisas e eu não estava
preparada para isso agora.
ÚRSULA: - Não tinha pensado por esse lado.
Tudo vai dar certo!
SALVADOR: (entrando) – Estou tão feliz que
não sei se vou dar conta do serviço de hoje.
A prefeitura vai ser tortura!
ÚRSULA: - Não vá, pai! Curta o dia com ele!
SALVADOR: - Até queria, mas seria injusto com
vocês. Nunca deixei um dia de serviço por
vocês. Também não vou deixar por ele. Ele
entenderá! Cada coisa em seu lugar.
Corta para:
CENA 21. LOJA DE FILIPA/ PRAÇA CENTRAL. EXTERNA. DIA
Dione recolhendo o lixo. Filipa sai com a bolsa de mão.
FILIPA: - Que buzinas foram essas há pouco? O
que acontece nessa cidade? Mais uma ação do
aventureiro Salvador Bianchini?
DIONE: - Acredita que uma prostituta saiu do
Boteco em cortejo num carro conversível?
FILIPA: - Tetembau é mesmo uma piada! A gente
trabalha feito louca para se manter e uma
puta, vadia, sem eira e nem beira, desfila
pela cidade de conversível. Vai entender a
vida, não?! Mas isso vai mudar, ah, vai!
DIONE: - Aonde vai?
FILIPA: - Você pergunta demais! (desconversa)
Porque acha que vou sair?
DIONE: (desconfiada) - Essa bolsa, é aquela
que estava escondida no estoque, não é?
FILIPA: (alterada) – Andou mexendo nas minhas
coisas? Como pode fazer isso?
DIONE: - Você vai tentar tirar dinheiro do
meu pai com isso, não vai?
Filipa engole a resposta.
(Cont’d) Não é certo, mãe! Se for assim, não
quero. Prefiro que venha tudo de forma limpa.
Ou ele me dá por reconhecimento como filha ou
para mim não serve de nada!
FILIPA: (mente) – É de forma limpa. (joga)
Deixe de besteira que ele não lhe reconhecerá
como filha. (envenena) A outra sim, é filha
legítima, você não! Então será do meu jeito!
Agora, tudo o que vir ou souber, você engula.
Se tem amor por nós duas, aprenda se calar e
só falar quando for conveniente! Entendeu?
Ela faz que sim a contra gosto.
(Cont’d) Assim é melhor!
Filipa sai.
Fusão com:
PRAÇA:
Filipa passando. Capelão a para.
CAPELÃO: - Já está sabendo da nova de hoje,
Dona Filipa.
FILIPA: (sem paciência) – Sim, já soube. A
puta que saiu de carro de luxo!
CAPELÃO: - Pode isso, Dona Filipa?
FILIPA: - Não pode!
CAPELÃO: - Então!
FILIPA: (taxativa) – Olha; tenho mais o que
fazer capelão! Agora deixe as putas pra Dona
Quitéria! Até mais!
Sai andando. O capelão vai atrás imitando.
CAPELÃO: (ridiculariza) – Deixe as putas pra
Dona Coisa. Bruaca! Grossa! Por isso que o
Seu Salvador não aguentou essa jararaca! Eu,
heim?! Destemperada!
DIÁCONO: – Está louco, José, falando sozinho!
CAPELÃO: (irritado) – Não me enche, João!
Joga a vassoura no chão e sai. Close: João sem entender.
Corta para:
CENA 22. COZINHA DO CASARÃO PIMENTA. INTERNA. DIA
Léo emocionada e Petrônio. Os dois de mãos dadas.
LÉO: - Fico tão feliz que tenha o procurado!
Tinha medo que pudesse rejeitá-lo de alguma
forma. Meu coração estava dividido entre
vocês. Mas, se fosse para ficar ao lado de
alguém, seria com você, sempre, meu filho!
PETRÔNIO: (encantado) - Ele chorou bastante.
Eu senti uma energia tão boa quando ele me
abraçou. Parecia que era uma parte de mim
preenchendo um vazio, mãe! Não sei como pude
me privar dele por tanto tempo.
Léo sorri e enxuga as lágrimas.
LÉO: - Não se privou e nem eu. Foi a vida;
mas, as respostas começarão a serem dadas com
essa proximidade. (T) Saiba que amo muito o
seu pai, eu sempre o amei e que a nossa
separação foi apenas um desvio do destino.
Suméria ouve por trás da porta.
PETRÔNIO: - O passado não pode ser mudado,
mãe; vamos deixa-lo de lado e seguir de agora
em diante.
LÉO: - Isso , meu filho.
Léo beija as mãos do filho.
(Cont’d) De agora em diante, quero que se
dedique mais ao seu pai, e eu, enfim, posso
dar ao seu irmão todo o carinho que ele
sempre precisou. É pra frente que a gente vai
andar. Sem passado e sem mágoas.
Suméria respira aliviada sem perceber Leofá por trás dela.
Corta para:
CENA 23. COZINHA DO BOTECO. INTERNA. DIA
Pâmela coa café e entrega a Quitéria e Manfred.
PÂMELA: - Tome vocês primeiro, depois eu faço
outro para as meninas assim que acordarem.
QUITÉRIA: (triste) - Não dormem. São muitas
coisas acontecendo por aqui e estão mexendo
com os miolos de todos.
MANFRED: (complacente) - Quitéria! Desfaça
essa tristeza. São infortúnios da vida! Isso
tem que passar. Não podemos ficar a vida toda
presa em único acontecimento. Sobre a Keila,
ela só quis ir embora. Nada mais.
Quitéria se levanta pega o bule e xícaras.
QUITÉRIA: - Pode ser. Vou cuidar das minhas
meninas. As que restaram merecem carinho. Os
dias têm sido difíceis. Agora, preciso ser
mais amiga e mais presente.
Pâmela ameaça falar. Manfred gesticula para que não fale.
Quitéria sai.
MANFRED: (segreda) - Não quis falar na frente
dela. Mas, a partida de Keila me magoou, como
magoou à sua avó, quando Suméria saiu dessa
casa de forma ingrata. Essa ainda foi mais
elegante, mas mesmo assim, estamos revivendo
mais uma vez a rejeição e isso dói.
PÂMELA: (chateada) – Poxa, ela podia ter
esperado baixar a poeira do assassinato para
doer menos em vocês. Mas, ao mesmo tempo, não
podemos culpa-la de não dar conta também de
ter vivido isso.
MANFRED: (desconfiado) – Saiu mesmo muito
rápido, não? (pensativo) Keila, Keila! Não
dá ponto sem nó!
Corta para:
CENA 24. ESCRITÓRIO DE LEOFÁ/HALL DOS QUARTOS. INTERNA. DIA
Abre a cena com Suméria empurrada para dentro por Leofá.
LEOFÁ: (rude) - Não perde mesmo essa mania
horrorosa de espiar atrás da porta, não é
negra?
SUMÉRIA: (acuada) – Prometo não fazer mais
isso. Era assunto importante, por isso que...
LEOFÁ: (poda) - Esqueça! Você vai continuar
fazendo isso enquanto Léo e esse bastardo
estiverem nessa casa. Quero saber cada passo
que dão. Não quero ser pego de surpresa mais!
Está me entendendo?
Suméria faz que sim com a cabeça.
(Cont’d) Agora sai!
Ela obedece.
(Cont’d) Voltamos ao velho jogo de disputa de
poder, Leopoldina. Não bastasse Salvador em
meu caminho, agora você! O tempo parece se
repetir.
Ventania pela janela. Flash de Alvinho, Olímpia e Santinha
em pé ao lado da janela. Leofá se assusta e se joga por
cima da mesa derrubando tudo. Eles somem.
(Cont’d) Não pode ser! Estou ficando louco!
Fusão com:
HALL DOS QUARTOS:
Ventania abre as portas. Suméria se arrepia e faz sinal da
cruz.
SUMÉRIA: (medrosa) – Eles voltaram! Dessa
vez, trouxeram Dona Olímpia!
Suspense.
Corta para:
CENA 25. CASARÃO BIANCHINI: SALA/ESCRITÓRIO. INTERNA. DIA
Batidas impaciente à porta. Pilar se aproximando.
PILAR: – Já vai! Um pouco de paciência!
Abre a porta. Filipa entra disparada.
FILIPA: - Cadê Salvador?! Diga que quero
falar com ele urgente. É assunto sério e
definitivo sobre a herança!
PILAR: (para si) – Oh, Senhor! O passado veio
hoje para assombrar a minha vida! É uma
espécie de carma! Eu sei!
FILIPA: - Eu sei que a minha presença muito
lhe incomoda, mas pode fazer o que for que só
saio daqui depois de falar com Salvador.
PILAR: - Tem razão. Tua presença me incomoda!
Cansei de ser elegante e complacente. Agora
não serei mais assim. Saia de minha casa.
Filipa a desafia com o olhar.
FILIPA: - Sua casa? Tem certeza? Já morei
aqui. Bem antes de você!
PILAR: (grita) Sai! Sai agora!
Filipa se senta no sofá.
FILIPA: (irônica) – Muito me enganei sobre
você. Achei que tivesse sangue de barata.
(aplaude) Quase me enganou! Pelo visto, tem
uma mulher aí dentro. Sinal que fica ferida
com as investidas de Salvador contra as
outras.
PILAR: (cai na pilha) – Não mais! Estamos nos
separando. Não tenho mais porque esconder.
FILIPA: (sorri) – Repete! Isso é música para
meus ouvidos, Pilar! (provoca) Eu sempre lhe
disse que ele ia aprontar! Ele não sabe ser
de uma, é de todas!
PILAR: – Aí que você se engana. Ele não é de
todas como pensa. Não o conhece mesmo, não?!
Filipa se levanta incomodada.
FILIPA: - Não entendi.
PILAR: - Ele sempre foi de Leopoldina. A que
chegou antes de nós. (sorri) Não foi teu, nem
meu. (provoca) Se bem que, meu, foi por mais
tempo do que com você.
FILIPA: - A conversa até está filosófica, mas
preciso ir ao toillet. Onde fica?
PILAR: - No mesmo lugar da época em que foi
uma Sra. Bianchini. Pode ir; mas, seja breve.
Pois, quando sair, devo desinfetar a casa.
Filipa sai. Pilar assopra o ar com irritação e cai no sofá
mantendo a porta aberta.
Fusão com:
ESCRITÓRIO:
Entra sorrateira, procura gaveta aberta na escrivaninha.
Com o pano tira o punhal da bolsa e o coloca na gaveta.
Guarda o pano na bolsa. Fecha a gaveta e pega um porta-
retratos de Salvador e leva ao rosto.
FILIPA: - Achou que ia me chutar de sua vida
e ia ficar por isso mesmo, Salvador? (sádica)
Se enganou!
Suspense.
Corta para o:
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P R Ó X I M O C A P Í T U L O
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