MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ZOOTECNIA
CARACTERÍSTICAS QUALITATIVAS DA CARNE DE CORDEIROS ½ DORPER + ½ SANTA INÊS ABATIDOS COM DIFERENTES
ESPESSURAS DE GORDURA SUBCUTÂNEA
CAMILO AZEVEDO SANTOS
SÃO CRISTÓVÃO – SE 2018
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ZOOTECNIA
CAMILO AZEVEDO SANTOS
CARACTERÍSTICAS QUALITATIVAS DA CARNE DE CORDEIROS ½ DORPER + ½ SANTA INÊS ABATIDOS COM DIFERENTES
ESPESSURAS DE GORDURA SUBCUTÂNEA
Dissertação apresentada à Universidade
Federal de Sergipe como parte das
exigências para obtenção do título de
Mestre em Zootecnia.
Orientador:
Prof. Dr. Francisco de Assis Fonseca de Macedo
Coorientador
Prof. Dr. Gladston Rafael de Arruda Santos
SÃO CRISTÓVÃO – SE 2018
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA DE LAGARTO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
S237c
Santos, Camilo Azevedo. Características qualitativas da carne de cordeiros ½ Dorper +1/2
Santa Inês abatidos com diferentes espessuras de gordura subcutânea / Camilo Azevedo Santos; orientador Francisco de Assis Fonseca de Macedo. – São Cristóvão, 2018.
56 f.: il.
Dissertação (Mestrado em Zootecnia) – Universidade Federal de Sergipe, 2018.
1. Cordeiro. 2. Carne ovina. 3. Gordura. 4. Doppler,
ultrassonografia. I. Macedo, Francisco de Assis Fonseca de, orient. II. Título.
CDU 636.38
AGRADECIMENTOS
Agradeço,
A Deus por proporcionar uma oportunidade ímpar e de poder obter êxito ao final desta etapa.
Aos meus pais, Bolivar Xavier dos Santos e Vanda Maria Azevedo Santos, um sentimento de
gratidão eterno, não só pelo constante aprendizado, também por me apoiarem em momentos bons e
ruins.
A todos os familiares, em especial: João Motta dos Santos Neto, Walesca Azevedo Santos e Flávia
Azevedo Santos (irmãos), Daniel Vieira Santos (cunhado) e Brendha Teixeira Motta (sobrinha),
pelo companheirismo e por acreditarem em mim, mesmo em situações que eu mesmo duvidei.
Ao Professor Francisco de Assis Fonseca de Macedo e ao professor Gladston Rafael de Arruda
Santos, que não foram apenas orientadores exemplos de profissionais e de pessoas a serem
seguidos, também minha gratidão por tudo.
A todos os laços de amizade que foram criados e/ou fortalecidos durante o mestrado, em especial:
Urias Fagner Santos Nascimento, Victor Emanuel Meneses Feitosa, Arlene dos Santos Lima,
Grazielle Ferreira Rocha, Alan Silva Cerqueira, Pryanka Thuyra Nascimento Fontes, Maria do
Socorro Almeida Arnaldo Santos, Marcos Felipe, Luiz Paulo de Souza Santos, Lorena Emily de
Lemos Mota Bomfim, Fábio Luiz de Oliveira, Carlos Adriano Rocha Silva Morais e Telisson
Ribeiro Gonçalves, Stefane Seixas Santana de Andrade.
Ao Departamento de Zootecnia e Programa de Pós-Graduação em Zootecnia pela acolhida,
representados pelos professores Braulio Maia de Lana Sousa e Claudson Oliveira Brito e pelos
secretários Luiz Carlos Soares Santos e Igor Ferreira Nunes Barreto
Ao professor Jailson Lara Fagundes (Ratinho) pelos constantes ensinamentos desde à época de
graduação e pela amizade.
Às técnicas do LANA, Amanda Isabelly Leite Figueiredo Nascimento e Luciana Oliveira dos
Santos pelo apoio, paciência e ajuda durante a realização das análises.
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela bolsa concedida,
durante a realização de mestrado.
Ao Programa de Estímulo a Mobilidade e ao Aumento da Cooperação Acadêmica da Pós-
Graduação em Sergipe (PROMOB) – Edital CAPES/FAPITEC/SE Nº 08/2013 e Edital
CAPES/FAPITEC/SE Nº 10/2016, que possibilitaram a troca de conhecimento entre os Programas
de Pós-Graduação em Zootecnia das Universidades Federal de Sergipe (UFS) e a Universidade
Estadual de Maringá (UEM).
A todos que se sentiram esquecidos neste agradecimento, mas que certamente contribuíram com
algo ou em algo, para que fosse realizada mais uma etapa de realização profissional.
LISTA DE ABREVIAÇÕES
ºC – graus Celsius
EGS – Espessura de gordura subcutânea
cm – centímetro
D – Dorper
DSI – ½ Dorper + ½ Santa Inês
g – grama
kg – quilograma
mm – milímetro
pH – potencial hidrogeniônico
SI – Santa Inês
UTR – ultrassonografia em tempo real
LISTA DE QUADROS
Quadro 1. Representação bidimensional do sistema CIELAB .................................................. 6
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Médias e desvios-padrão de valores objetivos da cor ............................................... 6
ARTIGO I - CARACTERÍSTICAS FÍSICO-QUÍMICAS DA CARNE DE CORDEIROS ½ DORPER + ½ SANTA INÊS ABATIDOS COM DIFERENTES ESPESSURAS DE GORDURA SUBCUTÂNEA
Tabela 1. Médias e erros-padrão das espessuras de gordura subcutânea ao abate, mensuradas com ultrasson, paquímetro e software, para carcaças de cordeiros ½ Dorper + ½ Santa Inês abatidos com diferentes espessuras de gordura subcutânea ....................................................... 21
Tabela 2. Médias e erros-padrão das características físicas da carne de cordeiros ½ Dorper + ½ Santa Inês abatidos com diferentes espessuras de gordura subcutânea ................................. 22
Tabela 3. Médias e erros-padrão da cor da carne de cordeiros ½ Dorper + ½ Santa Inês, abatidos com diferentes espessuras de gordura subcutânea ....................................................... 25
Tabela 4. Médias e erros-padrão das características químicas da carne de cordeiros ½ Dorper + ½ Santa Inês abatidos com diferentes espessuras de gordura subcutânea .................. 27
ARTIGO II - CRESCIMENTO ALOMÉTRICO DE CORDEIROS ½ DORPER + ½ SANTA INÊS ABATIDOS COM DIFERENTES ESPESSURAS DE GORDURA SUBCUTÂNEA
Tabela 1. Alometria de cortes comerciais em relação à meia-carcaça de cordeiros ½ Dorper + ½ Santa Inês abatidos com diferentes espessuras de gordura subcutânea .............................. 35
Tabela 2. Correlação de Pearson dos cortes comerciais em relação a meia-carcaça ..................................................................................................................................................... 37
Tabela 3. Médias e erros-padrão para a composição tecidual da meia-carcaça em diferentes espessuras de gordura subcutânea .............................................................................................. 37
Tabela 4. Alometria dos constituintes teciduais em relação ao corte comercial pescoço de cordeiros ½ Dorper + ½ Santa Inês abatidos com diferentes espessuras de gordura subcutânea .................................................................................................................................. 38
Tabela 5. Alometria dos constituintes teciduais em relação ao corte comercial paleta de cordeiros ½ Dorper + ½ Santa Inês abatidos com diferentes espessuras de gordura subcutânea ................................................................................................................................. 39
Tabela 6. Alometria dos constituintes teciduais em relação ao corte comercial costela de cordeiros ½ Dorper + ½ Santa Inês abatidos com diferentes espessuras de gordura subcutânea ................................................................................................................................. 40
Tabela 7. Alometria dos constituintes teciduais em relação ao corte comercial lombo de cordeiros ½ Dorper + ½ Santa Inês abatidos com diferentes espessuras de gordura subcutânea ................................................................................................................................. 40
Tabela 8. Alometria dos constituintes teciduais em relação ao corte comercial perna de cordeiros ½ Dorper + ½ Santa Inês abatidos com diferentes espessuras de gordura subcutânea ................................................................................................................................. 41
SUMÁRIO
RESUMO ................................................................................................................................... i
ABSTRACT ............................................................................................................................... ii
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 1
2 REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................................... 3
2.1 Potencial Hidrogeniônico (pH) ............................................................................................ 3
2.2 Cor ........................................................................................................................................ 5
2.3 Umidade, Cinzas, Proteína e Lipídios .................................................................................. 8
2.4 Crescimento Alométrico....................................................................................................... 10
3 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................... 13
ARTIGO I- CARACTERÍSTICAS FÍSICO-QUÍMICAS DA CARNE DE CORDEIROS ½ DORPER + ½ SANTA INÊS ABATIDOS COM DIFERENTES ESPESSURAS DE GORDURA SUBCUTÂNEA ....................................................................................................
16
RESUMO ................................................................................................................................... 17
ABSTRACT ............................................................................................................................... 17
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 17
MATERIAL E MÉTODOS ....................................................................................................... 19
RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................................... 21
AGRADECIMENTOS ............................................................................................................... 28
REFERÊNCIAS ......................................................................................................................... 28
ARTIGO II- CRESCIMENTO ALOMÉTRICO DE CORDEIROS ½ DORPER + ½ SANTA INÊS ABATIDOS COM DIFERENTES ESPESSURAS DE GORDURA SUBCUTÂNEA ..................................................................................................................................................... 30
RESUMO ................................................................................................................................... 31
ABSTRACT ............................................................................................................................... 31
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 32
MATERIAL E MÉTODOS ....................................................................................................... 33
RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................................... 35
CONCLUSÃO .......................................................................................................................... 42
REFERÊNCIAS ......................................................................................................................... 42
i
RESUMO
SANTOS, C. A. Características qualitativas da carne de cordeiros ½ dorper + ½ santa inês abatidos com diferentes espessuras de gordura subcutânea. Sergipe, UFS, 2018, 56 p. (Dissertação – Mestrado em Zootecnia).
O estudo avaliou o crescimento alométrico dos cortes comerciais, composição tecidual, índice de musculosidade da perna e características físico-químicas da carne de cordeiros ½ Dorper + ½ Santa Inês abatidos com 2,0; 3,0 e 4,0 mm de espessura de gordura subcutânea (EGS). O experimento foi realizado em parceria com a Fazenda Canafístula, localizada no estado de Sergipe, município de Nossa Senhora das Dores. Desmamados na mesma estação de monta, 24 cordeiros machos, não castrados, ½ Dorper + ½ Santa Inês, foram distribuídos e confinados ao acaso em três baias coletivas. Em períodos de 15 dias, os animais eram pesados e mensurada sua EGS. Os cordeiros foram abatidos com EGS estipulada. As carcaças, após esfola e evisceração, foram armazenadas em câmara fria durante 24 horas, sob temperatura de 4 ºC. As carcaças foram seccionadas longitudinalmente às vértebras. A meia-carcaça esquerda foi pesada e separada em cinco cortes comerciais: pescoço, paleta, costela, lombo e perna. Após dissecação dos cortes, foram pesados músculo, gordura subcutânea, gordura intermuscular e osso, além de calculado o índice de musculosidade da perna. O crescimento alométrico foi determinado em função dos cortes comerciais em relação a meia-carcaça e, em seguida em função dos componentes teciduais em relação ao respectivo corte comercial. Para as características físico-químicas da carne foram colhidos os parâmetros de pHinicial e pHfinal, respectivamente. Além disso, as EGS foram mensuradas ultrassom, paquímetro e através de fotografias do músculo Longissimus dorsi entre a 12ª e 13ª vértebras. Ainda foram realizadas medidas da cor da carne e gordura subcutânea para os parâmetros de luminosidade, intensidade de vermelho, intensidade de amarelo, (L*, a* e b*), respectivamente e, posteriormente calculados tonalidade e croma. Realizaram-se análises por imagem, com auxílio do software ImageJ® no músculo Longissimus dorsi entre a 12ª e 13ª costelas obtendo-se dados como a área de olho de lombo (AOL), profundidade, comprimento e grau de marmoreio desse músculo. Para as características químicas, foram avaliados umidade, proteína, cinzas e lipídios totais e submetidos a análise de variância e submetidos ao teste Student com significância (P < 0,05). Para os cortes do pescoço, os cordeiros com 2,0 e 4,0 mm de EGS apresentaram crescimento precoce, diferente dos cordeiros abatidos com 3,0 mm de EGS. Para o corte paleta, os animais com 2,0 e 4,0 mm mostraram ter um crescimento precoce. No entanto, a paleta dos animais com 3,0 mm de EGS tiveram crescimento tardio. A costela apresentou crescimento isogônico para cordeiros com 2,0 e 3,0 mm de EGS. Diferentemente dos animais que foram abatidos com 4,0 mm de EGS, que tiveram um crescimento precoce. No corte lombo, os cordeiros com 2,0 e 3,0 mm tiveram crescimento heterogônico negativo. O que não ocorreu com os cordeiros com 4,0 mm que mostraram ter um crescimento proporcional a meia-carcaça. A perna foi o corte que apresentou crescimento precoce para os animais abatidos com diferentes EGS e foi o corte que melhor correlacionou-se com a meia-carcaça. Porém, as EGS ao abate, medidas com paquímetro, mostraram diferenças para 2,0 mm, 3,0 mm e 4,0 mm de EGS. Com relação à mensuração da EGS por fotografia, observou-se diferença apenas para o tratamento com 2,0 mm de EGS. As demais características não apresentaram diferenças entre cordeiros abatidos com diferentes EGS. Em função do crescimento alométrico, recomenda-se o abate de cordeiros ½ Dorper + ½ Santa Inês, com 4,0 mm de EGS, por apresentarem melhores rendimentos de cortes de paleta e perna, ao mesmo tempo que a qualidade da carne não apresentou alterações quanto a características físico-químicas. Palavras-chave: alometria, gordura intramuscular, Longissimus dorsi, ovinos, ultrassom
ii
ABSTRACT
SANTOS, C. A. Qualitative characteristics of the lamb meat ½ dorper + ½ santa inês slaughtered with different subcutaneous fat thickness. Sergipe, UFS, 2018, 56 p. (Dissertation - Master in Animal Science).
The study evaluated the allometric growth of commercial cuts, tissue composition, leg muscle index and physical-chemical characteristics of lambs ½ Dorper + ½ Santa Inês slaughtered at 2.0; 3.0 and 4.0 mm subcutaneous fat thickness (SFT). The experiment was carried out in partnership with Fazenda Canafístula, located in the state of Sergipe, county of Nossa Senhora das Dores. Weaned at the same breeding season, 24 male, uncastrated, ½ Dorper + ½ Santa Inês lambs were randomly assigned and confined to three collective bays. In periods of 15 days, the animals were weighed and their SFT measured. The lambs were slaughtered with stipulated SFT. The carcasses, after skinning and evisceration, were stored in a cold room for 24 hours at a temperature of 4 ° C. The carcasses were sectioned longitudinally to the vertebrae. The left half carcass was weighed and separated into five commercial cuts: neck, shoulder, rib, loin and leg. After dissection of the cuts, muscle, subcutaneous fat, intermuscular fat and bone were weighed, in addition to the muscle index of the leg. Allometric growth was determined as a function of the commercial cuts in relation to the half-carcass, and then according to the tissue components in relation to the respective commercial cut. For the physicochemical characteristics of the meat the parameters of pHinitial and pHfinal were collected, respectively. In addition, the SFT were measured by ultrasound, pachymeter and through photographs of the Longissimus dorsi muscle between the 12th and 13th vertebrae. Meat and subcutaneous fat measurements were also performed for the parameters of brightness, red intensity, yellow intensity (L *, a * and b *), respectively, and then calculated tonality and chroma. Images were analyzed using the ImageJ® software in the Longissimus dorsi muscle between the 12th and 13th ribs, obtaining data such as the loin eye area (AOL), depth, length and marbling degree of this muscle. For the chemical characteristics, moisture, protein, ashes and total lipids were submitted to analysis of variance and submitted to the Student test with significance (P <0.05). For neck cuts, lambs with 2.0 and 4.0 mm SFT showed early growth, different from lambs slaughtered with 3.0 mm SFT. For the shoulder cut, animals with 2.0 and 4.0 mm showed to have an early growth. However, the palette of animals with 3.0 mm SFT had late growth. The rib showed isogonic growth for lambs with 2.0 and 3.0 mm EGS. Differently from the animals that were slaughtered with 4.0 mm of SFT, which had an early growth. In the cut loin, lambs with 2.0 and 3.0 mm had negative heterogenic growth. This did not occur with lambs with 4.0 mm, which showed a growth proportional to half-carcass. The leg was the cut that presented early growth for the animals slaughtered with different SFT and was the cut that best correlated with the half-carcass. However, SFT at slaughter, measured with a caliper, showed differences for 2.0 mm, 3.0 mm and 4.0 mm SFT. Regarding the measurement of SFT by photograph, difference was observed only for the treatment with 2.0 mm of SFT. The other characteristics did not present differences between slaughtered lambs with different SFT. Due to the allometric growth, it is recommended the slaughter of ½ Dorper + ½ Santa Inês lambs, with 4.0 mm of EGS, for presenting better yields of cuts of palette and leg, at the same time that the quality of the meat did not present alterations physico-chemical characteristics.
Keywords: allometry, intramuscular fat, Longissimus dorsi, sheep, ultrasound
1
1 INTRODUÇÃO
Potencialmente promissora no Brasil, a ovinocultura tem se deparado com um crescimento
contínuo de seu rebanho, cujo mercado da carne tem exigido um aprimoramento técnico-
organizacional de sua cadeia produtiva. Isso se reflete na intensificação do estudo da qualidade da
carne, que a cada dia sofre mudanças no sentido de atender a um novo perfil do consumidor final,
ainda mais exigente.
Esse cenário traz consigo uma excepcional oportunidade de incremento para a produção da
carne ovina, que atualmente tem se destacado no cenário agropecuário nacional. Sobretudo na
Região nordeste brasileira, são viáveis práticas zootécnicas de cruzamento de rebanho do grupo
genético Santa Inês, adaptado a climas quentes e excelente habilidade materna, com reprodutores da
raça Dorper. Para Souza et al. (2013) os descendentes ½ Dorper + ½ Santa Inês demonstram
características desejáveis para desempenho produtivo e qualidade de carne.
Recentemente, sistemas de produção animal com aptidão para carne têm indicado o
momento ideal de abate dos animais ao utilizar como ferramenta a ultrassonografia em tempo real
(UTR). A análise por imagem da espessura da gordura subcutânea apresenta alta correlação com
outros tecidos, como muscular e diferentes sítios de tecido adiposo. Apesar de a UTR servir como
ferramenta preditora na indicação de padrões ótimos de maturidade fisiológica Andrade et al.
(2015), ressaltam a necessidade da predição tecidual em diferentes raças ovinas produtoras de
carne, já que estas demonstram diferentes padrões de maturidade fisiológica.
Nesse aspecto, com obtenção da padronização de carcaças ovinas mostra-se necessária a
avaliação da carne, respaldando-se menos em julgamentos pessoais e mais em testes químicos e
físicos, a importância do trabalho se justifica no envolvimento de ovinos de raças com aptidão para
produção de carne que imprimam em sua progênie bom desempenho e boas características de
2
carcaça e, consequentemente, carnes de qualidade, atendendo assim as exigências dos
consumidores.
Por isso, objetivo do trabalho foi indicar o melhor momento de abate em cordeiros ½
Dorper + ½ Santa Inês com diferentes espessuras de gordura subcutânea em função do crescimento
alométrico e sobre a influência na composição físico-química na qualidade da carne. Além da
avaliação de índices de desenvolvimento muscular e estimativa de níveis de gordura intramuscular
através de imagem por meio de software ImageJ®.
3
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Potencial Hidrogeniônico (pH)
A íntima relação do declínio do pH com a produção de ácido lático durante a fase post
mortem e rigor mortis, torna esse parâmetro um indicador do músculo na transformação em carne
(BRADEN, 2013). Ou seja, o processo de catabolismo da glicose, precursora do ácido lático, em
condições de metabolismo anaeróbio, quando consumido muito rapidamente logo após o animal ser
abatido, gera carnes de aparência pálida, mole e exudativa, mais conhecida como carnes PSE (pale,
soft and exudative). Já quando há deficiente reserva corporal de glicose, implicando em insuficiente
processo de glicólise, logo após o abate do animal, a carne torna-se de característica escura, firme
(dura) e seca, mais conhecida como carnes DFD (dark, firm and dry) (SHEN et al., 2009).
Nesses dois tipos de defeitos, além das propriedades sensoriais serem desagradáveis, o
aspecto é indesejável ao consumidor, uma vez que a variação do pH influencia tanto na proliferação
de microrganismos da carne, quanto em sua cor ou capacidade de retenção de água (BRESSAN et
al., 2001).
A verificação do pH da carne serve de parâmetro para a predição de um produto de
qualidade, e tem decisivo efeito sobre a característica da carne fresca, pois interfere nos demais
parâmetros. Isto se dá porque os valores de pH final (5,5 a 5,8) estão associados a outras
características, como capacidade de retenção de água e cor que, do mesmo modo definirão as
características dessa carne. (OSÓRIO et al., 2008; SILVA SOBRINHO et al., 2005).
A relação entre o pH e a qualidade da carne foi estudada por Costa et al. (2011), que
sugeriram como valores de pH a variação de 6,9 (logo após o abate) a 5,6 (24 horas post mortem).
Não obstante, evidenciaram que fatores como nutrição pré-parto, idade do desmame e sistema de
terminação em confinamento não afetaram valores desejáveis de pH 24 horas post mortem. Os
4
referidos autores sugeriram ainda que a temperatura com abaixamento do pH, durante o processo de
rigor mortis das carcaças, influenciam diretamente a qualidade da carne, confirmando que, em
ovinos, variações no pH estão diretamente mais relacionados à suscetibilidade ao estresse.
Logo, Magno (2014) recomenda a redução do estresse dos animais ao longo das fases de
criação e pré-abate, como ferramenta para garantir carnes com características mais favoráveis,
assim como maior aceitação pelo mercado consumidor.
Dentro desse contexto, Silveira et al. (2006) afirmaram, ao avaliarem genótipos de novilhos
com diferentes condições sobre a qualidade da carne, variáveis como o temperamento do animal
podem alterar valores aceitáveis de pH durante o abate. Esses autores constataram um pH inicial
(logo após o abate) mais baixo em animais classificados com temperamento reativo, enfatizando
que o temperamento desses animais pode afetar a qualidade da carne, devido à maior velocidade
inicial da glicólise anaeróbica.
Em relação ao fator alimentação Costa et al. (2011), não observaram diferenças relevantes
do pH final da carne de ovinos Santa Inês, Dorper x Santa Inês e sem raça definida, quando
alimentados com duas dietas formuladas com duas relações de volumoso:concentrado (50:50 e
20:80).
Em experimento realizado na Tunísia com a raça Babarine, Majdoub-Mathlouthi et al.,
(2013) não notaram alterações no pH da carne de cordeiros que foram alimentados com baixas (300
g/dia) e altas (600 g/dia) quantidades de concentrado e diferentes pesos ao abate (35 e 42 kg).
Outro fator abordado foi sexo e raça em ovinos. Avaliada por Almeida et al. (2013), a raça
Dorper apresentou alto valor de pH em relação às raças Damara e Merino. A diferença, explicada
pelo autor, pode ser atribuída à proporção de músculo, lipídio e até proteína, em relação ao fator
raça. Comportamento diferente foi observado por Silva Sobrinho et al. (2005) avaliando cordeiros
provenientes de três raças paternas (Romney, mestiços East Friesian x (Finn x Texel) e Finn x Poll
Dorset) não detectando influência de grupo racial sobre o pH final da carne, embora as carnes de
5
cordeiros abatidos mais precocemente tivessem apresentado melhores valores de pH (5,61). A
explicação de Hopkins e Mortimer (2014) para isso é que animais mais velhos, geralmente,
possuem maior peso vivo ao abate, podendo impactar no fator pH.
Além disso, Gonçalvez et al. (2004), não perceberam variação no pH para machos castrados
(5,61) em comparação com machos não castrados (5,5) e fêmeas (5,51) em animais SRD criados em
regime semi-intensivo.
Em relação à espessura de gordura subcutânea ao abate Andrade et al. (2015) avaliando
cordeiros Santa Inês com 2,0; 3,0 e 4,0 mm de (EGS), não observaram influência das EGS sobre o
pH logo após abate. Entretanto, detectaram diferenças de pH 24 horas após abate, para os cordeiros
com 4,0 mm (5,66) ao serem comparados com os de 2,0 mm (5,49) e 3,0 mm (5,50).
Diferentemente, de Mora et al. (2015), ao trabalharem com cordeiras Pantaneiras abatidas sob
mesmas espessuras de gordura subcutânea, não observaram diferenças tanto para pH inicial quanto
para pH final.
2.2 Cor
Como principal propriedade física facilmente perceptível e comumente empregada como
índice de frescor e qualidade da carne para o consumidor, a coloração na carne desempenha
relevante papel no caráter sensorial, sobretudo no momento da compra, e está relacionada à
concentração de pigmentos: mioglobina dos músculos e hemoglobina do sangue (OSÓRIO et al.,
2008).
A avaliação instrumental da cor na carne é realizada por meio do Sistema CIELAB, que se
baseia na capacidade de percepção do olho humano. Baseada em uma escala já existente (escala
Hunter Lab), esse sistema compreende um eixo vertical, expresso pelo índice de luminosidade (L*),
que varia do 0 (preto) a 100 (branco), relacionado ao nível de maior ou menor reflectância. Eixos
6
verticais que são representados pelo valor de a*, com variação de cor entre o verde e o vermelho e o
valor de b*, com variação de cor entre o azul e amarelo. Além disso, no eixo horizontal são
mensuradas o ton e o croma, associados a intensidade e variação das cores percebidas (Figura 1)
(ALBERTÍ et al., 2005).
Figura 1 Representação bidimensional do sistema CIELAB Fonte: <http://sensing.konicaminolta.com.br/2015/08/compreendendo-o-espaco-de-cor-cie-lch/>. Acesso em:
27/07/2018
Como a cor está relacionada ao pH, tonalidades mais escuras de carne são associadas a pH
alto, são atribuídas a maior absorção de luz. Já carnes com tonalidades mais claras, são em função
de uma maior reflectância e geralmente apresentam baixo pH (OSÓRIO et al., 2008). Cuja variação
da cor na carne pode sofrer interferência em função de características como idade e peso ao abate.
Hopkins e Mortimer (2014), ao estudarem ovinos da raça Merino, notaram que animais que
apresentavam pH mais elevado, mesmo em casos específicos, tiveram reduzida estabilidade da cor
da carne.
7
Avaliando seis grupos raciais de ovinos, considerados de grande importância econômica para
o Brasil, Monaco et al. (2015), registraram na Tabela 1, semelhanças para os parâmetros de cor da
carne para os grupos avaliados.
Quadro 1 - Médias e desvios-padrão de valores objetivos da cor
Tipo Racial Valor de L* Valor de a* Valor de b*
Dorper/Santa Inês 41,4 ± 1,0 13,4 ± 0,9 11,9 ± 0,2
Hampshire Down 40.8 ± 0.9 13,5 ± 0,6 12,2 ± 0,3
Suffolk 40,9 ± 0,1 13,2 ± 0,5 11,7 ± 0,5
Santa Inês 40,5 ± 1,3 14,6 ± 0,2 12,4 ± 0,4
Ilê de France 39,4 ± 0,1 13,8 ± 0,3 11,7 ± 0,4
Sem raça definida 40,3 ± 0,9 14,0 ± 0,4 11,8 ± 0,2
Fonte: Adaptado de Monaco et al. (2015, p. 1750).
Quanto ao fator alimentação influenciar na cor da carne de ovinos, foi estudada por Pinheiro
et al. (2009) e constataram, ao avaliar cordeiros que receberam diferentes proporções de
volumoso:concentrado em confinamento, observaram valores semelhantes na cor da carne, tanto
para cordeiros que receberam níveis maiores de concentrado, quanto níveis maiores de volumoso.
Costa et al. (2011) ao avaliarem três diferentes genótipos, alimentados com duas proporções
de volumoso:concentrado, obtiveram coloração menos intensa (menos vermelho e mais amarelo)
para os animais alimentados com maior proporção de volumoso.
Ao estudarem a cor da carne diante de animais abatidos com diferente EGS, Andrade et al.
(2015), constataram que carnes de animais avaliados com 3,0 e 4,0 mm de espessura de gordura
subcutânea e, consequentemente, com mais idade e peso ao abate, mostraram ter carnes com
maiores índices de luminosidade em relação aos animais abatidos com 2,0 mm de espessura de
gordura subcutânea. Porém, Mora et al. (2015), não conseguiram diferir a cor da carne de cordeiras
Pantaneiras abatidas com 2,0 e 3,0 mm de EGS, diferindo apenas a cor da carne de cordeiras
8
abatidas com 4,0 mm de EGS. Isso pôde ser explicado já que a diferença de idade ao abate de
animais abatidos com maior EGS mostraram ser proeminentes em relação aos animais abatidos com
2,0 e 3,0 mm de EGS.
Em relação ao peso ao abate, Bressan et al. (2001) notaram decréscimo no índice de
luminosidade em relação ao aumento do peso ao abate. E explicam que a ausência de luminosidade
é decorrente da diminuição de umidade contida no músculo, em função do aumento de peso,
fazendo com que ocorra menor luminosidade sobre a superfície dos cortes.
2.3 Umidade, Cinzas, Proteína e Lipídios
Apesar do processo de transformação da carne ovina, a partir do músculo, ser reflexo de um
complexo processo durante o período post mortem, fatores anteriores ao abate influenciam na
composição química dessa carne (LAWRIE, 2006).
Um desses fatores é o estudo do genótipo em ovinos sobre o efeito na composição química
da carne foi estudado por Jandasek et al. (2014), ao investigarem a carne de progênies de diferentes
reprodutores (Oxford Down, Texel, Charollais, Suffolk and Merinolandschaf) cruzados com
ovelhas da raça Merino, puderam constatar que as progênies de reprodutores da raça Charollais,
apresentaram maiores índices lipídios totais, além de constatada diferença no teor de proteína da
carne entre cordeiros de diferentes progênies. No entanto, Kuchtík et al. (2012), notaram diferenças
na proporção de umidade da carne, quando avaliaram ovinos cruzados Charollais e observaram que
ovinos deste genótipo mostraram índices mais altos de umidade em relação aos outros genótipos.
Entretanto, Maia et al. (2012) avaliando efeito de genótipo (mestiços) sobre a composição
química da carne de borregas, não obtiveram diferenças para características de umidade, proteína e
cinzas, atribuindo que a proximidade da idade de abate, pode ter contribuído para semelhança
nessas características.
9
A quantidade de lipídios totais é responsável por ser um componente de maior variação na
carne ovina. Isso ficou evidente quando Santos et al. (2009), observaram baixa quantidade de
lipídios totais de 0,62% no lombo de ovinos Santa Inês, criados à pasto sem nenhuma
suplementação. Até valores de 8,17% de lipídios totais, identificado por Klein Jr. (2006), em ovinos
da raça Ideal confinados sob dois fotoperíodos.
Em relação a cordeiros Morada Nova, apresentaram maior porcentagem de umidade, os
Santa Inês e mestiços Dorper x Santa Inês maiores teores de proteína na carne. Apesar disso, as
porcentagens de cinzas e gordura não sofreram influência do efeito do genótipo e dietas com 33,6%
e 41,7% de fibra em sua concentração (COSTA et al., 2009) e energia na dieta (BATISTA et al.,
2010).
Diferentes sistemas de produção foram estudados na tentativa de verificar a relação com a
composição química da carne. Este fator, verificado por Panea et al. (2011), detectaram maior
porcentagem de umidade na carne de ovinos, que estavam em sistema de pastejo confrontados com
ovinos em sistema de confinamento.
Para cordeiros confinados recebendo diferentes concentrações de determinado alimento
Madruga et al. (2008), não observaram diferenças da composição química da carne, em relação aos
níveis crescentes de caroço de algodão, na dieta de cordeiros Santa Inês. Igualmente, Pinheiro et al.
(2009), também não detectaram diferença, quanto aos teores de umidade, proteína e cinzas da carne,
nos animais avaliados com distintas razões de volumoso:concentrado na dieta.
Para cordeiros abatidos com diferentes espessuras de gordura subcutânea, Senegalhe et al.
(2014) e Andrade et al. (2015) não constataram diferença de umidade e proteína bruta na carne.
Apesar disso, perceberam menores valores de cinzas na carne de cordeiros Santa Inês abatidos com
menor EGS.
Porém, os estudos de Senegalhe et al. (2014) com ovinos Santa Inês e ½ Dorper + ½ Santa
Inês, Andrade et al. (2015) com cordeiros Santa Inês e Mora et al. (2015) com cordeiras
10
Pantaneiras, notaram diferenças na quantidade de lipídios totais, quando avaliaram mesmas
espessuras de gordura ao abate (2,0 mm, 3,0 mm e 4,0 mm). Estes autores constataram que quanto
maior a EGS dos animais abatidos, maiores foram os teores de lipídios totais.
2.4 Crescimento Alométrico
Surgem questionamentos na tentativa de solucionar problemas de relatividade no crescimento
de órgãos e tecidos em relação ao conjunto do corpo, já que, ao aumentar seu peso, diferentes
animais possuem diferentes quantidades de tecidos que o compõem (PRUD’HORN, 1976).
As variações no crescimento de partes constituintes do corpo podem ser mensuradas através
de um crescimento alométrico. Huxley (1932) desenvolveu uma equação alométrica exponencial
para identificação da taxa de crescimento das partes constituintes do animal em relação ao todo,
através da fórmula: , onde Y corresponde ao componente da parte que se deseja avaliar o
crescimento, X representa o peso do todo e b, o crescimento relativo. Dessa forma, Hashimoto et al.
(2012) justifica o entendimento do crescimento relativo dos cortes e de seus tecidos em relação à
carcaça para predizer com maior precisão o melhor momento de abate e, consequentemente,
promover a padronização em carcaças.
Através do estudo alométrico, as partes estudadas podem ser caracterizadas em três
velocidades de crescimento: heterogônio negativo (b < 1), ao apresentar crescimento precoce em
relação ao todo; em heterogônio positivo (b > 1), ao possuir crescimento tardio; e isogônio, quando
apresentar a mesma velocidade de crescimento em relação ao todo (FURUSHO-GARCIA, 2006).
Diante disso, ao avaliarem o crescimento alométrico em cordeiros Dorper x Rabo Largo
(DRL) e Dorper x Santa Inês (DSI), Souza Junior et al (2009), verificaram crescimento isogônico
de cortes comerciais do pescoço, costeleta, costela/fralda e lombo para ambos os genótipos, quando
submetidos em sistema semi-intensivo de criação e abatidos com diferentes idades (84, 126, 168,
11
220 e 272 dias), atribuindo que o crescimento relativo apresentado, proveniente dos genótipos Rabo
Largo e Santa Inês, apresenta pouco ou nenhum trabalho de seleção.
Com relação ao efeito sistema de terminação sobre o crescimento relativo em cordeiros
Texel x Corriedale mantidos com as mães e cordeiros desmamados e com suplementação (ambos
em pastagem) Hashimoto et al. (2012), relacionaram que cortes como paleta e perna, em relação à
carcaça em função de melhores aportes nutricionais do leite materno e da suplementação,
respectivamente.
Ao verificar o crescimento alométrico de cordeiros Texel x Ile de France em confinamento,
sob diferentes pesos ao abate, Galvani et al. (2008) notaram que apenas a paleta apresentou
crescimento precoce, enquanto o restante dos cortes demonstrou crescimento isogônico em relação
à carcaça. Para esses animais, o momento de velocidade de crescimento da gordura considerado
tardio ficou evidenciado no corte da costela. Furusho-Garcia et al (2006), por sua vez, observaram
crescimento tardio em relação ao peso de corpo vazio no corte paleta de machos Santa Inês, Texel x
Santa Inês, Ile de France x Santa Inês e Bergamácia x Santa Inês, mesmo confinados e recebendo
dieta para ganho médio diário de 300 g/dia.
Mora et al. (2014), entretanto, ao estudarem o crescimento alométrico de cordeiras
Pantaneiras abatidas com 2,0 mm, 3,0 mm e 4,0 mm de EGS, notaram que a paleta e a perna
apresentaram crescimento proporcional ao crescimento da meia-carcaça em cordeiras com maiores
espessuras de gordura subcutânea.
Furusho-Garcia et al. (2006) e Hashimoto et al. (2012) concordam que, a partir de diferentes
sistemas de criação e sob diferentes variáveis ao abate, percebe-se que cada grupo genético
apresenta diferentes respostas no crescimento relativo em iguais cortes comerciais. Entendê-los
diante da avaliação de componentes teciduais de cada corte pode indicar a maturidade de tecido que
o compõe.
12
Dessa maneira, Furusho-Garcia et al. (2009) notaram em cordeiros machos e fêmeas do
grupo genético Bergamácia, que o tecido muscular da paleta apresentou crescimento precoce. Essa
característica também foi percebida por Carvalho et al. (2016) que, além disso, notaram que o
tecido adiposo apresentou crescimento tardio para os cortes do pescoço, paleta, costela e perna em
animais com diferentes pesos ao abate. Mora et al. (2014), todavia, constataram através do
crescimento alométrico do tecido adiposo, que o crescimento precoce deste tecido, foi decisivo na
velocidade de crescimento do corte paleta, visto que apresentou crescimento heterogônio negativo
em cordeiras Pantaneiras abatidas com 2,0 mm de espessura de gordura subcutânea.
Do exposto, percebe-se que a eficiência da produção necessita de maiores informações sobre
o ritmo de crescimento e desenvolvimento dos tecidos e das regiões que compõem a carcaça,
melhor predizendo o momento de abate, afim de padronizar com qualidade o produto a ser
oferecido (HASHIMOTO et al., 2012).
13
3 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALBERTÍ, P. et al. Medición del color. In: CAÑEQUE, V.; SAÑUDO, C. Estandarización de las metodologías para evaluar la calidad del producto (animal vivo, canal, carne y grasa) em los ruminantes. Madrid, p. 216-225, 2005. ALMEIDA, A. M. et al. Assessing carcass and meat characteristics of Damara, Dorper and Australian Merino lambs under restricted feeding. Tropical Animal Health and Production, v. 45, n. 6, p. 1305-1311, 2013. ANDRADE, A. C. S. et al. Physicochemical and sensorial traits of meat from Santa Inês lambs slaughtered with different subcutaneous fat thicknesses. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 44, n. 8, p. 290-295, 2015. BATISTA, A.S.M. et al. Effect of energy concentration in diets on sensorial and chemical parameters of Morada Nova, Santa Inez and Santa Inez x Dorper lamb meat. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 39, n. 9, p. 2017-2023, 2010. BRADEN, K. W. Converting muscle to meat: The physiology of rigor. In KERTH, C. R. The Science of Meat Quality. 1 ed. Iowa: Wiley-Blackwell, p. 91-97, 2013. BRESSAN, M.C.et al. Efeito do peso ao abate de cordeiros Santa Inês e Bergamácia sobre as características físico-químicas da carne. Ciência e Tecnologia de Alimentos, v. 21, n. 3, p. 293-303, 2001. CARVALHO, S. et al. Tissue composition and allometric growth of tissues from comercial cuts and carcass of Texel labs slaughtered with different weights. Semina: Ciências Agrárias, v.37, n.4, p.2123-2132, 2016. COSTA, R. G. et al. Physical and chemical characterization of lamb meat from different genotypes submitted to diet with different fiber contents. Small Ruminant Research. v. 81, n.1, p. 29-34, 2009. COSTA, G. R. et al. Qualidade física e sensorial da carne de cordeiros de três genótipos alimentados com rações formuladas com duas relações volumoso:concentrado. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 40, n. 8, p. 1781-1787, 2011. COSTA, R. S. et al. Caracterização do processo de rigor mortis em músculos de cordeiros da raça Santa Inês e F1 Santa Inês x Dorper. Revista de Ciências Agrárias, v. 34, n. 1, p. 143-153, 2011. FURUSHO-GARCIA, I. F. et al. Estudo alométrico dos cortes de cordeiros Santa Inês puros e cruzas. Revista Brasileira de Zootecnia, v.35, n.4, p.1416-1422, 2006. FURUSHO-GARCIA, I. F. et al. Estudo alométrico dos tecidos de carcaça de cordeiros Santa Inês puros ou mestiços com Texel, Ile de France e Bergamácia. Revista Brasileira de Zootecnia, v.38, n.3, p.539-546, 2009. GALVANI, D. B. et al. Crescimento alométrico dos componentes da carcaça de cordeiros Texel x Ile de France confinados do desmame aos 35 kg de peso vivo, Ciência Rural, v.38, n.9, p.2574-2578, 2008.
14
GONÇALVES, L. A. G. et al. Efeitos do sexo e do tempo de maturação sobre a qualidade da carne ovina. Ciência e Tecnologia de Alimentos, v. 24, n. 3, p. 459-467, 2004. HASHIMOTO, J. H. et al. Qualidade de carcaça, desenvolvimento regional e tecidual de cordeiros terminados em três sistemas. Revista Brasileira de Zootecnia, v.41, n.2, p.438-448, 2012. HOPKINS, D. L.; MORTIMER, S. I. Effect of genotype, gender and age on sheep meat quality and a case study illustrating integration of knowledge. Meat Science, v. 98, n. 3, p. 544-555, 2014. HUXLEY, J. S. Problems of relative growth. Londres: Methuen, Cambridge University, 1932. JANDASEK, J. et al. Effect of sire breed on physico-chemical and sensory characteristics of lamb meat. Meat Science, v. 96, p. 88-93, 2014. JUÁREZ, M. et al. Estimation of factors influencing fatty acid profiles in light lambs. Meat Science, v. 79, p. 203-210, 2008. KLEIN JR., M. H. et al. Qualidade da carne de cordeiros castrados e não castrados confinados sob dois fotoperíodos. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 35, n.4, supl., p.1872-1879, 2006. KUCHTÍK, J. et al. Chemical and physical characteristics of lamb meat related crossbreeding of Romanov ewes with Suffolk and Charollais sires. Meat Science, v. 90, p. 426-430, 2012. LAWRIE, R.A. Ciência da carne. 6 ed. Porto Alegre: Artmed, 2006. MADRUGA, M.S. et al. Efeito do genótipo e do sexo sobre a composição química e o perfil de ácidos graxos da carne de cordeiros. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 35, n. 4, p. 1838-1844, 2006. MADRUGA, M. S. et al. Efeito de dietas com níveis crescentes de caroço de algodão integral sobre a composição química e o perfil de ácidos graxos da carne de cordeiros Santa Inês. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 37, n. 8, p. 1496-1502, 2008. MAGNO, L. L. Fatores de influência na qualidade de carne ovina. Goiânia, 2014. Disponível em:< https://evz.ufg.br/up/66/o/9_FATORES_DE_INFLU%C3%8ANCIA_NA_ QUALIDADE_DE_CARNE_OVINA.pdf>. Acesso em: 22 de out. de 2016. MAIA, M.O. et al. Efeito do genótipo sobre a composição química e o perfil de ácidos graxos da carne de borregas. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 41, n. 4, p. 986-992, 2012. MAJDOUB-MATHLOUTHI, L. et al. Effect of concentrate level and slaughter body weight on growth performances, carcass traits and meat quality of Barbarine lambs fed oat hay based diet. Meat Science, v. 93, n. 3, p. 557-563, 2013. MONACO, C.A. et al. Eating quality of meat from six lamb breed types raised Brazil. Journal of the Science of Food and Agriculture, v. 95, n. 8, p. 1747-1742, 2015.
15
MORA, N. H. A. P. et al. Allometry in cascasses of lambs of the Pantaneiro genetic group slaughtered with different subcutaneous fat thickness. Acta Scientiarum, v.36, n.4, p.427-432, 2014. MORA, N. H. A. P. et al. Physicochemical characteristics of meat from pantaneiro lambs slaughtered with different of subcutaneous fat thicknesses. Semina: Ciencias Agrarias, v.36, p.2819-2828, 2015. OSÓRIO, M. T. M., et al. Avaliação Instrumental da Carne Ovina. In: SILVA SOBRINHO, A. G. et al. Produção de Carne Ovina. São Paulo: Funep, p. 129-174, 2008. PANEA, B. et al. Diversification of feeding systems for light lambs: sensory characteristics and chemical composition meat. Spanish Journal of Agricultural Research, v. 9, n. 1, p. 74-85, 2011. PINHEIRO, R.S.B. et al. Qualidade da carne de cordeiros confinados recebendo diferentes relações de volumoso:concentrado na dieta. Ciência e Tecnologia de Alimentos, v. 29, n. 2, p. 407-411, 2009. PRUD’HORN, M. La croissance globale de l’agneau: ses caracteristiques et ses lois. Croissance, engraissement et qualité des carcasses d’ageneaux et chevreaux, INRA-ITOVIC, p.6-26, 1976. SENEGALHE, F.B.D. et al. Composição química da carne de cordeiros abatidos com diferentes espessuras de gordura subcutânea. Revista Brasileira Saúde e Produção Animal, v. 15, n. 3, p. 740-753, 2014. SHEN, Q. W. et al. Regulation of Postmortem Glycolysis and Meat Quality. In: MIN DU; McCORMICK, R. J. Applied Muscle Biology and Meat Science. p. 175-194, 2009. SANTOS, J. R. S. Composição tecidual e química dos cortes comerciais da carcaça de cordeiros Santa Inês terminados em pastagem nativa com suplementação. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 38, n. 12, p. 2499-2505, 2009. SILVA SOBRINHO, A. G. S. et al. Características de Qualidade da Carne de Ovinos de Diferentes Genótipos e Idades ao Abate. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 34, n. 3, p. 1770-1778, 2005. SILVEIRA, I. D. B. et al. Relação entre genótipo e o temperamento de novilhos em pastejo e seu efeito na qualidade da carne. Revista Brasileira de Zootecnia. v. 35, n. 2, p.519-526, 2006. SOUZA, D. A. et al. Growth performance, feed efficiency and carcass characteristics of lambs produced from Dorper sheep crossed with Santa Inês or Brazilian Somali sheep. Small Ruminant Research. v. 114, p. 51-55, 2013. SOUZA JÚNIOR, A. A. O. et al. Estudo alométrico dos cortes da carcaça de cordeiros cruzados Dorper com as raças Rabo Largo e Santa Inês. Revista Brasileira Saúde e Produção Animal, v.10, n.2, p.423-433, 2009.
16
ARTIGO 1
CARACTERÍSTICAS FÍSICO-QUÍMICAS DA CARNE DE CORDEIROS ½ DORPER + ½ SANTA INÊS ABATIDOS COM DIFERENTES ESPESSURAS DE GORDURA
SUBCUTÂNEA
O artigo foi elaborado de acordo com as normas da Revista Brasileira de Saúde e Produção Animal
17
Características físico-químicas da carne de cordeiros ½ Dorper + ½ Santa Inês abatidos com 1
diferentes espessuras de gordura subcutânea 2
Pshysical and chemical characteristics of lamb meat ½ Dorper + ½ Santa Inês slaughtered with 3
different thicknesses of subcutaneous fat 4
RESUMO 5
Avaliou-se física e quimicamente a carne de cordeiros ½ Dorper + ½ Santa Inês abatidos com 2,0 6
mm, 3,0 mm e 4,0 mm de espessura de gordura subcutânea (EGS). O experimento foi realizado na 7
Fazenda Canafístula, no estado de Sergipe. Os 24 cordeiros machos, não castrados, foram 8
distribuídos e confinados ao acaso em três baias coletivas. Em períodos de 15 dias, os animais eram 9
pesados e a EGS mensurada. Os cordeiros foram abatidos com EGS estipulada e avaliados pHinicial, 10
pHfinal, EGS, cor da carne e da gordura subcutânea, AOL, profundidade, comprimento, marmoreio, 11
umidade, proteína, cinzas e lipídios totais no músculo Longissimus dorsi. Os dados foram 12
submetidos a uma análise de variância e ao teste Student com significância (P<0,05). As EGS ao 13
abate, medidas com paquímetro mostraram diferenças para 2,0 mm, 3,0 mm e 4,0 mm de EGS. Já a 14
mensuração da EGS por fotografia, apresentou diferença apenas para o tratamento com 2,0 mm de 15
EGS. As demais características não apresentaram diferenças entre cordeiros abatidos com diferentes 16
EGS. Logo, recomenda-se a carne de cordeiros abatidos com 2,0; 3,0 e 4,0 mm de EGS por não 17
sofrerem alteração em sua qualidade quanto aos parâmetros físico-químicos avaliados. 18
19
Palavras-chave: cor, gordura intramuscular, Longissimus dorsi, qualidade de carne, ultrassom 20
21
ABSTRACT 22
Physically and chemically the meat of lambs ½ Dorper + ½ Santa Inês slaughtered with 2.0 mm, 3.0 23
mm and 4.0 mm of subcutaneous fat thickness (SFT) was evaluated. The experiment was carried 24
out with Fazenda Canafístula, in the state of Sergipe. The 24 uncastrated male lambs were 25
distributed and randomly confined to three collective bays. In periods of 15 days, the animals were 26
weighed and their SFT measured. The lambs were slaughtered with SFT stipulated and evaluated 27
pHinicial, pHfinal, SFT, flesh color and subcutaneous fat, AOL, depth, length, marbling, moisture, 28
protein, ashes and total lipids in the Longissimus dorsi muscle. Data were submitted to an analysis 29
of variance and Student's test with significance (P<0.05). The STF at slaughter, measured with 30
caliper showed differences for 2.0 mm, 3.0 mm and 4.0 mm STF. On the other hand, the 31
measurement of STF by photograph presented difference only for the treatment with 2.0 mm of 32
STF. The other characteristics did not present differences between slaughtered lambs with different 33
STF. Therefore, the meat of lambs slaughtered at 2,0 is recommended; 3.0 and 4.0 mm of STF 34
because they did not change their quality regarding the physical-chemical parameters evaluated. 35
36
Keywords: color, intramuscular fat, longissimus dorsi, meat quality, ultrasound 37
38
INTRODUÇÃO 39
A ovinocultura de corte tem exigido um aprimoramento técnico-organizacional de sua cadeia 40
produtiva, intensificando o estudo da qualidade da carne, que a cada dia sofre mudanças para 41
18
atender o perfil do consumidor. Esse cenário traz uma excepcional oportunidade, especialmente 42
quanto à necessidade do conhecimento dos parâmetros qualitativos. 43
Com um rebanho efetivo de pouco mais de 18,4 milhões de cabeças, (FAOSTAT, 2016) e consumo 44
de carne ovina no Brasil entre 0,4 kg por pessoa ao ano (OECD, 2017), a criação de ovinos 45
destinados à produção de carne ainda é insuficiente para atender o mercado nacional. 46
No Nordeste Brasileiro, práticas zootécnicas de cruzamento de matrizes Santa Inês, pela elevada 47
habilidade materna, com reprodutores Dorper e a terminação dos cordeiros em confinamento, vem 48
demonstrando resultados compatíveis para desempenho produtivo e para produção de carne com 49
qualidade. 50
Nesse aspecto, respaldando-se em testes físico-químicos, justifica a importância do trabalho no 51
envolvimento de ovinos de raças com aptidão para produção de carne que imprimam em sua 52
progênie bom desempenho e boas características de carcaça. 53
Recentemente, sistemas de produção animal têm usado a espessura de gordura subcutânea, avaliada 54
por imagem de ultrassom, para predizer a composição tecidual da carcaça de animais in vivo e 55
indicar o momento ideal de abate (ANDRADE et al. 2015). Estudos realizados na década de 90 56
afirmam que mensurações da espessura de gordura subcutânea, possuem boa correlação com o teor 57
de gordura total da carcaça, estimando assim a padronização da carcaça. Além disso, hipotetiza-se 58
que carcaças com EGS a partir de 2.0 mm mostram influência na prevenção do encurtamento de 59
fibras musculares e perdas líquidas durante as fases de refrigeração, congelamento, processamento, 60
transporte, armazenamento e descongelamento. E animais com espessura de gordura subcutânea 4.0 61
mm, visto por Mora et al. (2016), apresentam melhor característica de flavor e consequentemente na 62
aceitação geral pelo consumidor. 63
Dessa forma, animais produtores de carne, a partir da maturidade fisiológica da carcaça, passam a 64
depositar maior proporção de tecido adiposo que o muscular e ósseo. Sabe-se que o gasto energético 65
para deposição de gordura é superior ao dos demais tecidos. 66
19
Portanto, torna-se necessário a determinação da EGS nas carcaças de cordeiros dos diferentes 67
grupos raciais, para abatê-los com acabamento que proporcione maior retorno econômico, sem 68
comprometimento das características sensoriais. 69
Diante disso, o objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito das espessuras de gordura subcutânea 70
sobre as características físicas (pH, gordura subcutânea, gordura de marmoreio por imagem, área, 71
comprimento e profundidade do lombo e cor da gordura e da carne) e químicas (umidade, proteína, 72
cinzas e lipídios totais) e a precisão entre metodologias para determinação da espessura de gordura 73
subcutânea no Longissimus dorsi de cordeiros ½ Dorper + ½ Santa Inês. 74
75
MATERIAL E MÉTODOS 76
O experimento foi conduzido em parceria com a Fazenda Canafístula, no município sergipano de 77
Nossa Senhora das Dores. Os dados foram obtidos de 24 cordeiros ½ Dorper + ½ Santa Inês (DSI), 78
machos não castrados. Os cordeiros foram desmamados com 86 ± 24 dias de idade e peso vivo 79
médio de 16,94 kg. Os animais foram divididos em três grupos (n = 8) para terminação em 80
confinamento, em função da uniformidade de peso ao desmame, tendo como tratamentos as 81
espessuras de gordura subcutânea (EGS) 2,0; 3,0 e 4,0 mm. Durante o confinamento, os cordeiros 82
tiveram acesso ad libitum a água e silagem de milho, além da suplementação de 50 g kg-1 de peso 83
vivo com concentrado (750 g de milho moído, 190 g de farelo de soja, 10 g de ureia e 50 g de 84
núcleo comercial). As EGS foram avaliadas in vivo com auxílio de ultrassom (marca HONDA®, 85
modelo HS-1500 VET, com transdutor linear acoplado de 50 mm de largura, emitindo frequência 86
de 7,5 MHz. As EGS foram avaliadas quinzenalmente pelo mesmo operador, sempre do lado 87
esquerdo, entre a 12ª e 13ª costelas, a quatro centímetros da coluna vertebral, após tricotomia e 88
aplicação de gel nas regiões avaliadas, com pressão mínima do transdutor sobre a superfície 89
avaliada, para evitar a compressão da gordura (TEIXEIRA et al., 2006; TEIXEIRA et al., 2008). 90
20
Após a captura da imagem, a espessura da gordura subcutânea foi medida usando o cursor 91
eletrônico do ultrassom. 92
Ao atingir a espessura de gordura subcutânea predeterminada para abate, os cordeiros passaram por 93
jejum de sólidos por 16 horas. Foram pesados e abatidos no abatedouro Nutrial, município de 94
Propriá, Sergipe. Após a evisceração, utilizando-se um peagâmetro portátil para carne HI 99163, 95
com eletrodo de penetração, da marca HANNA® foram mensurados pH na meia-carcaça direita, no 96
músculo Longissimus dorsi. As carcaças foram resfriadas em câmara fria a 4 ºC por 24 horas. Após 97
resfriamento, foram aferidos os pH (24 horas) e as espessuras de gordura subcutânea com auxílio de 98
paquímetro digital. 99
Os músculos Longissimus dorsi foram retirados das meias carcaças do lado esquerdo, embalados a 100
vácuo, identificados e transportados para o laboratório de qualidade de carne do Departamento de 101
Zootecnia da Universidade Federal de Sergipe, onde foram congelados em freezer (-18 ºC). 102
Após descongelamento em geladeira por 24 horas, as superfícies planas deste músculo foram 103
contornadas em papel acetato e pincel permanente e obtidas imagens por câmera digital, a uma 104
distância de 20 cm do músculo, além da presença de objeto de distância conhecida, que serviu de 105
referência na avaliação das imagens. As imagens obtidas com papel acetato e as digitais foram 106
mensuradas na área da superfície plana do músculo (área de olho de lombo – AOL). As medidas de 107
espessura de gordura subcutânea, profundidade, comprimento maior e gordura intramuscular do 108
músculo Longissimus dorsi foram medidas em imagens digitais, com o auxílio do software 109
ImageJ®, disponibilizado gratuitamente pela internet (https://imagej.nih.gov/ij/download.html). 110
A cor da carne foi mensurada na superfície plana do músculo Longissimus dorsi, após retirada das 111
embalagens a vácuo e expostas em temperatura ambiente (30 minutos), utilizando-se um Medidor 112
de Contraste BC-10, da marca Konica Minolta®, operando no sistema CIE (L*, a*, b*), sendo L* a 113
luminosidade, a* a intensidade da cor vermelha e b* a intensidade da cor amarela. 114
21
As determinações de umidade, proteína e cinzas, foram realizadas de acordo com as metodologias 115
da AOAC (2000). Para a extração de lipídios totais foi utilizada a metodologia de Bligh & Dyer 116
(1959), usando proporções de soluções de clorofórmio e metanol (2:1). 117
Para a análise estatística foram realizadas ANOVA (Análise de Variância) para as características 118
físico-químicas da carne, usando pacote estatístico JMP® Pro 13.1 (2016). O modelo utilizado 119
adotou como efeito fixo a espessura de gordura subcutânea, e quando (P<0,05) as médias foram 120
comparadas pelo teste de t Student. 121
122
RESULTADOS E DISCUSSÃO 123
De acordo com os resultados apresentados (Tabela 1) a utilização da ultrassonografia como 124
ferramenta de mensuração in vivo, identificou diferença (P<0,05) de EGS em cordeiros abatidos 125
com 4,0 mm. Quando mensurada com paquímetro, após o abate, em carcaças resfriadas, as EGS 126
mostraram diferenças (P<0,05) para os três tratamentos avaliados. Já a espessura de gordura 127
subcutânea mensurada com auxílio do software ImageJ®, apresentou diferença (P<0,05), entre o 128
tratamento com menor espessura de gordura (2,0 mm) quando comparada com as EGS 3,0 mm e 129
4,0 mm. Isso indica que as leituras de espessura de gordura subcutânea, realizadas com paquímetro 130
apresentaram diferenças para as três espessuras de gordura subcutânea estudadas. 131
132
Tabela 1. Médias e erros-padrão das espessuras de gordura subcutânea ao abate, mensuradas com 133
ultrasson, paquímetro e software, para carcaças de cordeiros ½ Dorper + ½ Santa Inês 134
abatidos com diferentes espessuras de gordura subcutânea 135
Espessura de Gordura Subcutânea
Espessura de gordura subcutânea F Calculado 2.0 mm 3.0 mm 4.0 mm
Ultrassonografia (mm)
2,36 ± 0,15 B 2,74 ± 0,17 B 3,73 ± 0,27 A 11,.64
Paquímetro (mm)
2.02 ± 0,26 C 3.20 ± 0,24 B 4,24 ± 0,27 A 0,0001
ImageJ® (mm) 2,09 ± 0,20 B 2,80 ± 0.19 A 3,37 ± 0,22 A 0,0017 Médias seguidas na mesma linha por letras distintas diferem (P < 0,05) entre si pelo teste de Student. 136
22
As diferenças das EGS foram percebidas quando avaliadas ainda na carcaça com o paquímetro. O 137
que não pôde ser notado quando a EGS foi avaliada através de análise de imagem com o software 138
ImageJ® para os cordeiros abatidos com 3,0 e 4,0 mm de EGS. Apesar do software apresentar 139
precisão na leitura, o que pode ter acontecido foi a compressão desse sítio de tecido adiposo ao ser 140
embalada à vácuo, interferindo na leitura das EGS. 141
Em relação às características físicas da carne de cordeiros ½ Dorper + ½ Santa Inês (Tabela 2), 142
constatou-se que o pHinicial e pHfinal, não apresentaram diferenças (P > 0,05) para os cordeiros 143
abatidos com diferentes espessuras de gordura subcutânea. 144
145
Tabela 2. Médias e erros-padrão das características físicas da carne de cordeiros ½ Dorper + ½ 146
Santa Inês abatidos com diferentes espessuras de gordura subcutânea 147
Características Físicas do M. Longissimus dorsi
Espessura de gordura subcutânea F Calculado P-valor
2,0 mm 3,0 mm 4,0 mm
pHinicial 6,62 ± 0,10 6,59 ± 0,10 6,47 ± 0,11 0,48 0,62
pHfinal 5,64 ± 0,05 5,62 ± 0,04 5,65 ± 0,05 0,07 0,92
Profundidade (cm) 3,58 ± 0,15 3,52 ± 0,14 3,82 ± 0,16 0,99 0,38
Comprimento (cm) 6,42 ± 0,16 6,14 ± 0,15 6,29 ± 0,17 0,78 0,47
Área de olho de lombo (fotografia – cm2)
16,17 ± 0,93 15.83 ± 0,87 17,63 ± 0,99 0,99 0,38
Área de olho de lombo (transparência - cm2)
14,65 ± 0,54 15,59 ± 0,51 16,21 ± 0,58 1,93 0,16
Gordura intramuscular (área - %)
0,60 ± 0,42 1,26 ± 0,39 1,59 ± 0,45 1,35 0,27
Gordura intramuscular (área total em cm2)
0,10 ± 0,08 0,22 ± 0,07 0,28 ± 0,08 1,25 0,30
Gordura intramuscular (nº de partículas)
2,00 ± 0,70 3,11 ± 0,66 4,5 ± 0,75 3,06 0,06
148
Braden (2013) relata a íntima relação da produção de ácido lático e declínio do pH durante a fase 149
post mortem e estabelecimento do rigor mortis, como indicadores na transformação do músculo em 150
carne. Neste trabalho, o pHinicial, mensurado uma hora após o abate (Tabela 2), não diferiu entre os 151
23
cordeiros abatidos com diferentes EGS (6,56), resultado semelhante observado por Andrade et al. 152
(2015), em cordeiros da raça Santa Inês (6,25) e Mora et al (2015), em ovinos Pantaneiros (6,58) 153
também abatidos com 2,0; 3,0 e 4,0 mm de EGS. Isso demonstra que os animais deste estudo não 154
sofreram estresse durante o abate, ou inadequado processo de armazenamento da carcaça durante o 155
rigor mortis, obtendo resultados de pHinicial de acordo com pesquisas realizadas em animais abatidos 156
com mesma EGS. 157
Após 24 horas ao abate Hopkins & Mortmer (2014), ressaltam a importância em obter um pHfinal, 158
entre 5,5 e 5,8, pois um pHfinal dentro desse intervalo, é um indicativo que o animal não sofreu 159
estresse durante o transporte e abate. Madruga et al. (2008) e Miranda-de la Lama et al (2012), 160
relatam que pH elevado 24 horas após abate, são atribuídos ao consumo excessivo de glicogênio, ou 161
a falta de glicogênio como reserva corporal. 162
O pHfinal com média de (5,64) para as diferentes EGS, mostraram-se dentro dos parâmetros obtidos 163
por Costa et al. (2011), quando avaliaram a caracterização do processo de rigor mortis nos 164
músculos Triceps brachii (5,68) e Semitendinosus (5,64), em cordeiros da raça Santa Inês e F1 165
Dorper x Santa Inês. Com isso, os cordeiros ½ Dorper + ½ Santa Inês abatidos com diferenças em 166
sua espessura de gordura subcutânea neste trabalho, apresentaram pHfinal dentro dos parâmetros 167
normais para se ter uma carne sem alteração de qualidade. Isso comprova que cordeiros abatidos 168
com EGS entre 2,0 mm - 4,0 mm não comprometem o processo de rigor mortis, apresentando 169
carnes aptas para consumo. 170
Para as medidas de profundidade e comprimento da superfície plana do músculo Longissimus dorsi 171
além das áreas de olho de lombo e presença de adipócitos encontrados entremeados ao tecido 172
muscular (gordura de marmoreio) na Tabela 2, não foram percebidas diferenças entre as EGS 173
estudadas. Indicando assim, características físicas na carne equivalentes entre os cordeiros abatidos 174
com três diferentes espessuras de gordura subcutânea. 175
24
As medidas avaliadas no músculo Longissimus dorsi apresentadas na Tabela 2, mostram média 3,64 176
cm para profundidade e 6,28 cm para comprimento máximo, para os cordeiros Dorper x Santa Inês 177
abatidos com três diferentes EGS. As medidas de profundidade (3,18 cm) e comprimento máximo 178
(6,64 cm) observadas por Almeida et al. (2013), em mestiços Dorper sem restrição alimentar. 179
Porém, a maior profundidade do músculo obtida neste experimento para cordeiros ½ Dorper + ½ 180
Santa Inês foi ocasionada em função de uma melhor resposta (precocidade) desses cordeiros sob 181
sistema intensivo de confinamento. Quando essas medidas foram avaliadas por Queiroz et al. 182
(2015), em cordeiros da raça Santa Inês abatidos com iguais EGS a este trabalho, notou-se sensível 183
diminuição de rendimento para o músculo Longissimus dorsi. Isso evidencia que a raça Dorper 184
mostra melhorar o rendimento de tecido muscular ao mensurar profundidade e comprimento 185
máximo do olho de lombo quando cruzado com fêmeas da raça Santa Inês. Evidenciando que 186
cordeiros ½ Dorper + ½ Santa Inês, possuindo mesmos níveis de gordura subcutânea em relação 187
aos cordeiros Santa Inês, apresentam maior rendimento de tecido muscular. 188
Souza et al. (2016), ao utilizar o método algébrico, observaram média de área de olho de lombo 189
(16,6 cm) para cordeiros ½ Dorper + ½ Santa Inês abatidos com EGS (3,0 mm), mostrou-se similar 190
às áreas de olho de lombo pela metodologia do papel transparência (15,59 cm2) e imagem digital 191
(15,83 cm2). Mostrando uniformidade semelhante para desenvolvimento muscular e nível de 192
gordura na carcaça. 193
Em relação a quantidade de adipócitos (marmoreio) entremeado no músculo Longissimus dorsi, 194
pôde ser comprovado, através de avaliação por imagem com software ImageJ®, baixo grau de 195
marmoreio na carne de cordeiros ½ Dorper + ½ Santa Inês (Tabela 2). A mensuração objetiva da 196
gordura de marmoreio com software ImageJ® proporcionou avaliar a área total de gordura 197
intramuscular ocupada presente na área de olho de lombo com maior precisão e menor variação. 198
Tanto Alves et al. (2014), quanto Barros et al. (2015), também não conseguiram identificar, por 199
meio de avaliação subjetiva, variação no grau de marmoreio em cordeiros que apresentavam 200
25
diferentes espessuras de gordura subcutânea. Landim et al. (2011) atribuíram a ocorrência de um 201
maior nível de marmoreio em animais mais velhos, já que este tipo de gordura é depositada mais 202
tardiamente em relação a gordura subcutânea. 203
As coordenadas de cor (luminosidade, intensidade de vermelho, intensidade de amarelo, croma e 204
ton) para a carne apresentadas na Tabela 3, não mostraram diferenças (P>0,05) para os animais 205
abatidos em diferentes espessuras de gordura subcutânea. 206
Tabela 3. Médias e erros-padrão da cor da carne de cordeiros ½ Dorper + ½ Santa Inês, abatidos 207
com diferentes espessuras de gordura subcutânea 208
Cor Espessura de gordura subcutânea F Calculado
P-valor 2 mm 3 mm 4 mm
Gordura a* 5,31 ± 0,69 4,93 ± 0,65 6,44 ± 0,74 1,19 0,32 b* 9,30 ± 0.57 8,57 ± 0,54 10,03 ± 0,61 1,57 0,23 Croma 10,84 ± 0,69 9,99 ± 0,65 12,02 ± 0,74 2,10 0,14 Carne L* 42,86 ± 0,84 44,30 ± 0,79 43,64 + 0,90 0,76 0,47 a* 10,42 ± 0,52 11,72 ± 0,49 12,29 ± 0,56 3,15 0,06 b* 1,80 ± 0,50 2,11 ± 0,47 1,47 ± 0,54 0,39 0,68 Croma 10,69 ± 0,57 11,94 ± 0,54 12,42 ± 0,61 2,29 0,12 Tonalidade 0,16 ± 0,03 0,17 ± 0,03 0,01 ± 0,04 0,59 0,56 L* = índice de luminosidade, a* = intensidade de vermelho e b* = intensidade de amarelo. 209
210
Considerada como um dos mais importantes aspectos físicos a cor que está relacionada à qualidade 211
da carne, funcionando como fator decisivo na hora da sua compra. Cada vez mais, consumidores 212
relacionam a cor da carne com as características organolépticas. No presente estudo, não houve 213
diferença na cor da gordura subcutânea e da carne para os cordeiros abatidos com diferentes 214
espessuras de gordura subcutânea, apesar da diferença de peso e idade dos animais. Isso pode ser 215
justificado pelo fato de os cordeiros ainda se encontrarem em estágio de crescimento para os tecidos 216
ósseo, muscular e adiposo, apesar dos diferentes níveis de EGS da carcaça. 217
Os parâmetros da cor na carne (Tabela 3) de cordeiros deste estudo (L*, a* e b*) confirmam os 218
valores de pHfinal nos diferentes tratamentos. Ou seja, a ocorrência de produção de uma carne de 219
cordeiro de qualidade, isenta de um aspecto dark, firm and dry (DFD). Isso pode ser constatado 220
26
porque Miranda-de la Lama et al (2012), ao transportar animais para abate sob condições de 221
estresse. Andrade et al. (2015) ao trabalharem com a raça Santa Inês identificaram que o atributo 222
luminosidade foi diferente apenas para os cordeiros abatidos com menor EGS de 2,0 mm (33,40). 223
Porém, a proporção de gordura de marmoreio na carne não foi suficiente para alterar as coordenadas 224
de intensidade de vermelho (21,75) e amarelo (5,95) para as EGS (2,0; 3,0 e 4,0 mm) estudadas. 225
Diferentemente, Mora et al. (2015), ao trabalharem com cordeiras Pantaneiras, sob diferentes EGS 226
ao abate, notaram comportamento inverso, onde os animais abatido com maior EGS (4,0 mm) 227
apresentaram menor índice e luminosidade (37,12). Esse efeito pode ser explicado, já que animais 228
com menor EGS e, consequentemente, idade ao abate, apresentam alta porcentagem de água na 229
composição da carne, influenciando em maiores índices de luminosidade. Já para os atributos de 230
intensidade de vermelho (a*) e intensidade de amarelo (b*) a diferença encontrada para os animais 231
abatidos com EGS de 2,0 mm, em relação aos abatidos com 3,0 e 4,0 mm mostrou-se compatível 232
com a menor idade ao abate já que mostraram menores valores de intensidades de vermelho e 233
amarelo. 234
Para os parâmetros químicos da carne de cordeiros ½ Dorper + ½ Santa Inês, apresentados na 235
Tabela 4, não foram verificadas diferenças (P>0,05) para umidade, cinzas, proteína e lipídios totais 236
para nenhum das espessuras de gordura subcutânea avaliadas. 237
Os teores de proteína e lipídios totais obtidos no presente trabalho foram inferiores aos observados 238
Senegalhe et al. (2014), ao estudarem o mesmo genótipo, mesmo sistema de criação e mesmas EGS 239
ao abate, apresentando médias de 22,72 g 100-1 e 6,45 g 100-1 de proteína e lipídios totais, 240
respectivamente. A explicação da menor quantidade de lipídios totais neste trabalho pode ter 241
ocorrido em função da variação da eficiência na deposição de gordura intramuscular. 242
Dados equivalentes foram obtidos por Bezerra et al. (2016), ao abaterem mestiços Dorper-Santa 243
Inês, suplementados com diferentes níveis de torta de amendoim que apresentaram valores médios 244
de 73,74, 1,14, 22,38 e 2,15 g 100-1 de umidade, cinzas, proteína e cinzas, respectivamente. Isso 245
27
mostra que a composição química da carne não apresenta muita variação para os seus constituintes 246
químicos. Porém, a quantidade de lipídios totais, pode sofrer maior alteração em seu teor na carne 247
em função de efeitos como níveis de lipídios adicionados à dieta desses animais e peso ao bate. 248
Apesar disso, a composição química, dessas carnes mostraram-se dentro da normalidade em relação 249
ao presente estudo. 250
Tabela 4. Médias e erros-padrão das características químicas da carne de cordeiros ½ Dorper + ½ 251
Santa Inês abatidos com diferentes espessuras de gordura subcutânea 252
Características químicas (g 100-1)
Espessura de gordura subcutânea F Calculado P-
valor 2.0 mm 3.0 mm 4.0 mm
Umidade 73,58 ± 0,48 73,71 ± 0.45 72,92 ± 0,51 0,73 0,49
Cinzas 1,08 ± 0,02 1,14 ± 0.02 1,13 ± 0,02 1,19 0,32
Proteína 21,08 ± 0,52 21,77 ± 0,49 20,25 ± 0.56 2,02 0,15
Lipídios Totais 2,60 ± 0,18 3,12 ± 0,39 3,53 ± 0,62 1,14 0,67 253
Em relação à gordura intramuscular não foi evidenciado diferenças nos teores de lipídios totais 254
presente na carne de cordeiros abatidos com 2,0 mm, 3,0 mm e 4,0 mm, com média (3,14 g 100-1) 255
para as três EGS estudadas (Tabela 4). Porém, esses dados mostram-se inferiores aos citados por 256
Hopkins et al. (2006) ao preconizar a quantidade de 5 g 100-1 de gordura intramuscular. No entanto, 257
Pannier et al (2014), atribuem um valor de 3,9 g 100-1 ser suficiente para se obter carne com efeitos 258
organolépticos. A equivalência na quantidade de lipídios totais pôde ser embasada quando os dados 259
de quantidade de marmoreio na carne de cordeiros ½ Dorper + ½ Santa Inês foram avaliados 260
(Tabela 2), como citado anteriormente. 261
As espessuras de gordura subcutânea realizadas com o ultrassom para determinar o momento ideal 262
de abate, não proporcionaram alterações para as características físico-químicas da carne de 263
cordeiros ½ Dorper + ½ Santa Inês. Portanto, as características físico-químicas não indicam a 264
melhor espessura de gordura subcutânea de abate para cordeiros ½ Dorper + ½ Santa Inês avaliados 265
com 2,0 mm, 3,0 mm e 4,0 mm. 266
267
28
268
AGRADECIMENTOS 269
Ao Programa de Estímulo a Mobilidade e ao Aumento da Cooperação Acadêmica da Pós-270
Graduação em Sergipe (PROMOB) – Edital CAPES/FAPITEC/SE Nº 08/2013 e Edital 271
CAPES/FAPITEC/SE Nº 10/2016. E ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e 272
Tecnológico. 273
274
REFERÊNCIAS 275
ALMEIDA, A.M.; KILMINSTER, T.; SCANLON, T.; ARAÚJO, S.S.; MILTON, J.; OLDHAM, 276
C.; GREEFF, J.C. Assessing carcass and meat characteristics of Damara, Dorper, and Australian 277
Merino lambs under restricted feeding. Tropical Animal Health Production, v.45, n.6, p.1305-278
131, 2013. 279
ALVES, E.M.; PEDREIRA, M.S.; MOREIRA, B.S.; FREIRE, L.D.R.; LIMA, T.R.; SANTOS-280
CRUZ, C.L. Carcass characteristics of sheep fed diets with slow-release urea replacing 281
conventional urea. Acta Scientiarum. Animal Sciences, v.36, n.3, p.303-310, 2014. 282
ANDRADE, A.C.S.; SANTOS, G.R.A.; MACEDO, F.A.F.; MORA, N.H.A.P.; MACEDO, R. 283
M.G.; TORRES, M.G. Physicochemical and sensorial traits of meat from Santa Inês lambs 284
slaughtered with different subcutaneous fat thicknesses. Revista Brasileira de Zootecnia, v.44, 285
n.8, p.290-295, 2015. 286
AOAC. AOAC official methods of analysis, 17 ed, Arlington: Association of Official Analytical 287
Chemists, 2000. 288
BARROS, M.C.C.; MARQUES, J.A.; SILVA, F.F.; SILVA, R.R.; GUIMARÃES, G.S.; SILVA, 289
L.L.; ARAÚJO, F.L. Crude glycerin in diets in feedlot wethers. Centesimal composition and fatty 290
acids profile of longissimus dorsi. Semina: Ciências Agrárias, v.36, n.1, p.453-466, 2015. 291
BEZERRA, L.S.; BARBOSA, A.M.; CARVALHO, G.G.P.; SIMIONATO, J.I.; FREITAS JR, J.E.; 292
ARAÚJO, M.I.G.M.I.; PEREIRA, L.; SILVA, R.R.; LACERDA, E.C.Q.; CARVALHO, B.M.A. 293
Meat quality of lambs fed diets with peanut cake. Meat Science, v.121, p.88-95, 2016. 294
BLIGH, E.G.; DYER, W.J.A rapid method of total lipid extraction and purification. Canadian 295
Journal of Biochemistry and Physiology, v.37, n.8, p.911-917, 1959. 296
BRADEN, K.W. Converting muscle to meat: The physiology of rigor. In C. R. Kerth (Orgs.), The 297
Science of Meat Quality (p.91-97). Iowa: Wiley-Blackwell, 2013. 298
COSTA, R.S.; HENRY, F.C.; QUIRINO, C.R.; HENRIQUES, L.S.V.; CARVALHO, E.C.Q.; 299
ALMEIDA, S.B. Caracterização do processo de rigor mortis em músculos de cordeiros da raça 300
Santa Inês e F1 Santa Inês x Dorper. Revista de Ciências Agrárias, v.34, n.1, p.143-153, 2011. 301
FAOSTAT. Live animals – 2016. Disponível em: www.fao.org/faostat/en/#data/QA. Acesso em: 302
03 jun. 2018. 303
HOPKINS, D.L.; MORTIMER, S.I. Effect of genotype, gender and age on sheep meat quality and a 304
case study illustrating integration of knowledge. Meat Science, v.98, n.3, p.544-555, 2014. 305
29
HOPKINS, D.L.; HEGARTY, R.S.; WALKER, P.J.; PETHICK, D.W. Relationship between 306
animal age, intramuscular fat, cooking loss, pH, shear force and eating quality of aged meat from 307
sheep. Australian Journal of Experimental Agriculture, v.46, n.7, p.878–884, 2006. 308
LANDIM, A.V.; CASTANHEIRA, M.; FIORAVANTI, M.C.S.; PACHECO, A.; CARDOSO, 309
M.T.M.; LOUVANDINI, H.; MCMANUS, C. Physical, chemical and sensorial parameters for 310
lambs of different groups, slaughtered at different weights. Tropical Animal Health and 311
Production, v.43, n.6, p.1089-1096, 2011. 312
MADRUGA, M.S.; COSTA, R.G.; SILVA, A.M.A.; MARQUES, A.V.M.S.; CAVALCANTI, 313
R.N.; NARAIN, N.; ALBUQUERQUE, C.L.; LIRA FILHO, G.E. Effect of silk flower hay 314
(Calotropis procera Sw) feeding on the physical and chemical quality of Longissimus dorsi muscle 315
of Santa Inês lambs. Meat Science, v.78, n.4, p.469-474, 2008. 316
MIRANDA-DE LA LAMA, G.C.; SALAZAR-SOTELO, M.I.; PÉREZ-LINARES, C.; 317
FIGUEROA-SAAVEDRA, F.; VILLARROEL, M.; SAÑUDO, C.; MARIA, G.A. Effects of two 318
transport systems on lamb welfare and meat quality. Meat Science, v.92, n.4, p.554-561, 2012. 319
MORA, N.H.A.P., MACEDO, F.A.F., MEXIA, A.A.; ALMEIDA, F.L.A.; SENEGALHE, F.B.D.; 320
POSSAMAI, A.P.S.; MACEDO, R.M.G.; ARAÚJO, G.G.L. Physicochemical characteristics of 321
meat from pantaneiro lambs slaughtered with different of subcutaneous fat thicknesses. Semina: 322
Ciências Agrárias, v.36, n.4, p.2819-2828, 2015. 323
MORA, N.H.A.P., MACEDO, F.A.F., FEIHRMANN, A.C., POSSAMAI, A.P.S., TORRES, M.G., 324
MEXIA, A.A. Lipid composition and sensory traits of meat from Pantaneiro lambs slaughtered with 325
different subcutaneous fat thickness. Acta Scientiarum Technology, v. 38, n.2, p. 145-151, 2016. 326
OECD. Meat consumption (indicator) - 2017. Disponível em: 327
<https://data.oecd.org/agroutput/meat-consumption.htm> Acesso em: 03 jun. 2018. 328
PANNIER, L.; PETHICK, D.W.; GEESINK, G.H.; BALL, A.J.; JACOB, R.H.; GARDNER, G.E. 329
Intramuscular fat in the longissimus muscle is reduced in lambs from sires selected for leanness. 330
Meat Science, v.96, n.2, p.1068-1075, 2014. 331
QUEIROZ, L.O.; SANTOS, G.R.A.; MACEDO, F.A.F.; MORA, N.H.A.P.; TORRES, M.G.; 332
SANTANA, T.E.Z.; MACEDO, F.G. Características quantitativas da carcaça de cordeiros Santa 333
Inês, abatidos com diferentes espessuras de gordura subcutânea. Revista Brasileira de Saúde e 334
Produção Animal [online], v.16, n.3, 712-722, 2015. 335
SENEGALHE, F.B.D.; MACEDO, F.A.F.; MORA, N.H.A.P.; GUALDA, T.P.; RADIS, A.C.; 336
QUEIROZ, E.O.; MACEDO, F.G. Composição química da carne de cordeiros abatidos com 337
diferentes espessuras de gordura subcutânea. Revista Brasileira Saúde e Produção Animal 338
[online], v.15, n.3, p.740-753, 2014. 339
SOUZA, D.A.; SELAIVE-VILLARROEL, A.B.; PEREIRA, E.S.; SILVA, E.M.C.; OLIVEIRA, 340
R.L. Effect of the Dorper breed on the performance, carcass and meat traits of lambs bred from 341
Santa Inês sheep. Small Ruminant Research, v.145, p.76-80, 2016. 342
TEIXEIRA, A.; MATOS, S.; RODRIGUES, S.; DELFA, R.; CADAVEZ, V. In vivo estimation of 343
lamb carcass composition by real time ultrasonography. Meat Science, v.74, n.2, p.289-295, 2006. 344
TEIXEIRA, A.; JOY, M.; DELFA, R. In vivo estimation of goat carcass composition and body fat 345
partition by real-time ultrassonography. Journal of Animal Science, v.86, n.9, p.2369-2376, 2008. 346
STATISTICAL ANALYSIS SYSTEMS. JMP® Pro 13.1. Cary, NC, USA: Statistical Analysis 347
Systems, Institute Inc. 2016. 348
349
30
350
351
352
353
354
355
356
357
358
359
360
ARTIGO 2 361
362
363
CRESCIMENTO ALOMÉTRICO DE CORDEIROS ½ DORPER + ½ SANTA INÊS 364
ABATIDOS COM DIFERENTES ESPESSURAS DE GORDURA SUBCUTÂNEA 365
366
367
368
369
370
371
372
373
374
375
376
377
378
O artigo foi elaborado de acordo com as normas da Revista Semina: Ciências Agrárias379
31
CRESCIMENTO ALOMÉTRICO DE CORDEIROS ½ DORPER + ½ SANTA INÊS 380
ABATIDOS COM DIFERENTES ESPESSURAS DE GORDURA SUBCUTÂNEA 381
382
383
RESUMO 384
O presente estudo buscou avaliar o crescimento alométrico e a correlação dos cortes comerciais de 385
cordeiros ½ Dorper + ½ Santa Inês abatidos com 2,0 mm, 3,0 mm e 4,0 mm de espessura de gordura 386
subcutânea (EGS). O experimento foi realizado em parceria com a Fazenda Canafístula, no estado de 387
Sergipe, município de Nossa Senhora das Dores. Desmamados na mesma estação de monta, 24 cordeiros 388
machos, não castrados, ½ Dorper + ½ Santa Inês, foram distribuídos e confinados ao acaso em três baias 389
coletivas. Em períodos de 15 dias, os animais eram pesados e mensurada sua EGS. Os cordeiros foram 390
abatidos com EGS estipulada. As carcaças, após esfola e evisceração, foram armazenadas em câmara fria 391
durante 24 horas e sob temperatura de 4 ºC. As carcaças foram seccionadas longitudinalmente as vértebras. 392
A meia-carcaça esquerda foi pesada e dissecada, separando-a em cinco cortes comerciais: pescoço, paleta, 393
costela, lombo e perna. Após dissecados foram pesados o músculo, gordura subcutânea, gordura 394
intermuscular e osso, além de calculado o índice de musculosidade da perna. Realizou-se análise de variância 395
e quando (P < 0,05) foram submetidos ao teste de Tukey. Para a determinação do crescimento alométrico, 396
dos cortes comerciais em relação a meia-carcaça e depois dos componentes teciduais em relação ao corte 397
comercial. Para os cortes do pescoço, os cordeiros abatidos com 2,0 mm e 4,0 mm de EGS apresentaram 398
crescimento precoce, diferente dos cordeiros abatidos com 3,0 mm de EGS. Para o corte paleta, os animais 399
com 2,0 e 4,0 mm mostraram ter um crescimento precoce. Já a paleta dos animais com 3,0 mm de EGS 400
tiveram crescimento tardio. A costela apresentou crescimento isogônico para cordeiros com 2,0 e 3,0 mm de 401
EGS. Diferentemente dos animais que foram abatidos com 4,0 mm de EGS, que tiveram um crescimento 402
precoce. No corte lombo, os cordeiros com 2,0 e 3,0 mm tiveram crescimento heterogônico negativo. O que 403
não ocorreu com os cordeiros com 4,0 mm que mostraram ter um crescimento proporcional a carcaça. A 404
perna foi o corte que apresentou crescimento precoce para os animais abatidos com diferentes EGS e foi o 405
corte que melhor correlacionou-se com a meia-carcaça. Em relação aos componentes teciduais dos cortes da 406
paleta, lombo e perna, tiveram um crescimento precoce. Com isso, recomenda-se o abate de cordeiros com 407
2,0 mm e 4,0 mm de EGS, ao apresentar eficiência no desenvolvimento de cortes como pescoço, paleta e 408
perna. 409
PALAVRAS-CHAVE: alometria, cortes, musculosidade , ovinos, rendimento comercial 410
411
ABSTRACT (corrigir o inglês) 412
The present study aimed to evaluate the allometric growth and correlation of commercial cuts of lambs 413
½ Dorper + ½ Santa Inês slaughtered with 2.0 mm, 3.0 mm and 4.0 mm subcutaneous fat thickness (SFT). 414
The experiment was carried out in partnership with Fazenda Canafístula, in the state of Sergipe, municipality 415
32
of Nossa Senhora das Dores. Weaned at the same breeding season, 24 male, uncastrated, ½ Dorper + ½ 416
Santa Inês lambs were randomly assigned and confined to three collective pen. In periods of 15 days, the 417
animals were weighed and their SFT measured. The lambs were slaughtered with stipulated SFT. The 418
carcasses, after skinning and evisceration, were stored in a cold room for 24 hours and under a temperature 419
of 4 ° C. The carcasses were sectioned longitudinally the vertebrae. The left half carcass was weighed and 420
dissected, separating it into five commercial cuts: neck, palette, rib, loin, and leg. After dissecting, the 421
muscle, subcutaneous fat, intermuscular fat and bone were weighed, as well as the muscle index of the leg. 422
An analysis of variance was performed and when (P<0.05) were submitted to the Tukey test. For the 423
determination of the allometric growth, the commercial cuts in relation to the half-carcass and after the tissue 424
components in relation to the commercial cut. For neck cuts, lambs slaughtered with 2.0 mm and 4.0 mm 425
SFT showed early growth, different from lambs slaughtered with 3.0 mm SFT. For the palette cut, animals 426
with 2.0 and 4.0 mm showed to have an early growth. Already the shoulder of animals with 3.0 mm of SFT 427
had late growth. The rib showed isogonic growth for lambs with 2.0 and 3.0 mm EGS. Differently from the 428
animals that were slaughtered with 4.0 mm of SFT, which had an early growth. In the cut loin, lambs with 429
2.0 and 3.0 mm had negative heterogenic growth. This did not occur with lambs with 4.0 mm that showed a 430
proportional growth of carcass. The leg was the cut that presented early growth for the animals slaughtered 431
with different SFT and was the cut that best correlated with the half-carcass. In relation to the tissue 432
components of the sections of the palette, loin and leg, they had an early growth. Therefore, slaughter of 433
lambs with 2.0 mm and 4.0 mm of SFT is recommended, as it shows efficiency in the development of cuts 434
such as neck, shoulder and leg. 435
436
KEYWORDS: allometry, cuts, muscularity, sheep, commercial yield 437
438
439
INTRODUÇÃO 440
O rebanho ovino no Brasil é constituído por aproximadamente 18,400 milhões (FAOSTAT, 2016) e 441
consumo per capita de carne ovina corresponde a apenas 0,4 kg (OECD, 2017). Apesar do baixo consumo, 442
Viana et al. (2015) notaram um aumento no consumo de carne ovina no Brasil, que só é suprida através de 443
importação desse produto, principalmente do Uruguai, representando 80% de importações. Com isso, a 444
ovinocultura brasileira apresenta potencial para atender a demanda do mercado nacional. Para isso, faz-se 445
necessário que a atividade, utilize tecnologias que produzam cordeiros com precocidade no desenvolmento 446
muscular. 447
Uma das estratégias utilizadas para atender a produção de carne ovina, é produção de cordeiros com 448
elevada proporção de carne magra, adequada gordura de cobertura, gerando alta proporção de cortes de 449
primeira categoria (SOUZA et al., 2013). Uma das possibilidades em se obter esse produto, está no 450
acasalamento entre raças ovinas para obtenção de animais com alto desenvolvimento tecidual nos cortes, 451
33
refletindo em corte com maior precocidade. Um dos cruzamento mais utilizado no nordeste do Brasil está 452
entre as fêmeas Santa Inês, que segundo Macedo et al. (2014) apresentam rusticidade e possuem rápida 453
adaptação ao manejo, com reprodutores da raça Dorper, ao imprimir em sua progênie caracteríticas como 454
rápido ganho de peso. Características também comprovadas por Souza et al. (2013), ao avaliar ovinos Dorper 455
cruzados com Santa Inês e Somali brasileiro. 456
Porém, para Osório et al. (2012), não basta abater animais usando apenas o critério de peso corporal, 457
ou seja, animais abatidos apenas em função do peso, podem apresentar variação em sua composição tecidual, 458
não atendendo assim o padrão desejado pelo consumidor. Por isso, Nascimento et al. (2018), ressaltam a 459
mensuração da espessura de gordura subcutânea (EGS), com auxílio do ultrassom, para determinar o tempo 460
ótimo de abate, para determinação de carcaça padronizadas. 461
Entretanto, entender o crecimento relativo de cada corte comercial e seus componentes teciduais são 462
necessários para melhor predizer um ponto ideal de abate, já que cada grupo racial apresenta taxa diferente 463
de crescimento. Por isso, a avaliação do animal através de um crescimento alométrico, implica em não 464
apenas determinar o rendimento em cortes comerciais de sua carcaça, mas predizer quantidades desejáveis de 465
constituintes teciduais na carcaça, ou seja, com o entendimento da taxa de crescimento dos tecidos em 466
relação a carcaça, torna-se possível abater animais com diferentes pesos, porém com mesmas quantidades de 467
músculo, gordura e osso desejáveis. 468
Diante disso, o trabalho objetivou caracterizar o crescimento alométrico de cortes comerciais das 469
carcaças de cordeiros ½ Dorper + ½ Santa Inês abatidos com 2,0 mm, 3,0 mm e 4,0 mm de espessura de 470
gordura subcutânea, utilizando-se os componentes teciduais, verificar o corte comercial que melhor prediz a 471
meia-carcaça e determinar o índice de musculosidade da perna. 472
473
MATERIAL E MÉTODOS 474
O experimento foi conduzido em parceria com a Fazenda Canafístula, no município sergipano de 475
Nossa Senhora das Dores. Ao desmame foram utilizados 24 cordeiros ½ Dorper + ½ Santa Inês, machos não 476
castrados com aproximadamente 86 ± 24 dias de idade e peso corporal médio de 16,94 kg. Além disso, 477
foram mensuradas a espessura de gordura subcutânea (EGS) desses cordeiros, entre a 12ª e 13ª costelas. 478
Em função do peso, os cordeiros foram distribuídos em 3 baias coletivas, contendo 8 animais cada. 479
Durante todo o confinamento, os cordeiros receberam água e silagem de milho ad libitum, além de 480
suplementação de 50 g kg-1 em relação peso vivo de concentrado de composição de 750 g kg-1 de milho 481
moído, 190 g kg-1 de farelo de soja, 10 g kg-1 de ureia e 50 g kg-1 de núcleo comercial, apresentando teores de 482
211 g kg-1 de proteína bruta (AOAC, 2000) e estimado os nutrientes digestíveis totais de 786 g kg-1 de 483
acordo com Aldai et al. (2010), analisados no Laboratório de Análise de Alimentos do Departamento de 484
Zootecnia da Universidade Federal de Sergipe. 485
As mensurações de espessura de gordura subcutânea durante o período experimental, foram realizadas 486
entre períodos de 15 dias, através de ultrassom Honda, modelo HS-1500 VET, com transdutor de 487
34
multifrequência linear de 50 mm de comprimento e usando frequência de 7.5 MHz. As leituras foram 488
realizadas por um técnico que aplicava a mucilagem entre a 12ª e 13ª costelas e logo após o transdutor era 489
colocado com mínima pressão para não comprimir a gordura. 490
Ao atingir a espessura de gordura subcutânea desejada os animais foram transportados para um 491
abatedouro com Serviço de Inspeção Federal, em Propriá/SE, onde permaneceram 16 horas em jejum de 492
sólidos. Ao abate os cordeiros apresentaram médias de peso corporal ao abate e idade ao abate de 33,50 kg e 493
139 dias para cordeiros com 2,0 mm de EGS; 42,81 kg e 159 dias para cordeiros com 3,0 mm de EGS e 494
46,19 kg e 179 dias para cordeiros com 4,0 mm de EGS. Após os procedimentos de esfola e evisceração as 495
carcaças foram pesadas e resfriadas a 4 ºC em câmara fria, por um tempo de 24 horas. Após o resfriamento 496
da carcaça, esta foi seccionada longitudinalmente em duas meia-carcaças. 497
As meias-carcaças esquerdas foram divididas em cinco cortes comerciais e pesadas. 1- Pescoço, 498
separado entre a 5ª e 6ª vértebra cervical; 2- Paleta, compreendendo a escápula, foi desarticulada da carcaça; 499
3- Costela, entre a 1ª e 13ª vértebra torácica; 4- Lombo, entre a 1ª e 6ª vértebra lombar; 5- Perna, entre a 500
última vértebra lombar e 1ª sacral. Em seguida, os cortes foram embalados, identificados, transportados para 501
o Laboratório de Tecnologia de Carne da Universidade Federal de Sergipe e congelados. Onde cada corte 502
comercial foi dissecado em músculo, gordura subcutânea, gordura intermuscular e osso além de pesados 503
(NASCIMENTO et al. 2018). No momento da dissecação do corte da perna, os músculos Adductor femoris, 504
Biceps femoris, Quadriceps femoris, Semimembranosus, Semitendinosus foram retirados e pesados, 505
mensurado o comprimento do fêmur para determinação do índice de musculosidade da perna 506
Purchas et al. (1991), de acordo com a fórmula 507
508
onde IMP = índice de musculosidade da perna, PM5 = peso dos 5 músculos em gramas e CF = comprimento 509
do fêmur em centímetros. 510
A estatística para determinação do crescimento alométrico dos cortes comerciais foi relacionada com a 511
meia-carcaça e cada corte comercial em relação com seus componentes teciduais, utilizando como equação 512
Y = aXb, deixando-a linearizada através de um modelo logorítmico Y = ln α + b ln X, ambas descritas por 513
Huxley (1932). Onde Y = peso dos cortes comerciais ou componentes teciduais X = peso da meia-carcaça 514
corrigido ou peso dos cortes comerciais corrigido; α = intersecção da regressão linear logarítmica sobre Y e 515
β; β = coeficiente de crescimento alométrico. Utilizando-se do modo Reg procedure - Statistical Analysis 516
System (SAS, 2004), foram obtidos os coeficientes de alometria. 517
Utilizou-se o procedimento descrito por Furusho-Garcia et al. (2006), para a verificação da hipótese 518
(Ho) β = 1, ao adotar o t-teste. Onde o crescimento foi determinado como isogônico (β = 1), quando a parte 519
estudada cresceu com a mesma velocidade em relação ao todo. Ou assumir um crescimento heterogônico 520
(β ≠ 1), apresentando tanto uma maior velocidade de crescimento em relação ao todo (β < 1), quanto uma 521
menor velocidade de crescimento em relação ao todo (β > 1). 522
35
Para indicação do corte comercial que mais relacionou-se a meia-carcaça, realizou-se uma correlação 523
de Pearson. Para os componentes teciduais presentes da meia-carcaça e musculosidade da perna com 524
diferentes espessuras de gordura subcutânea foi realizada uma análise de variância e submetidos a um teste 525
de Tukey quando (P < 0,05). 526
527
RESULTADOS E DISCUSSÃO 528
De acordo com o coeficiente alométrico e o coeficiente de determinação dos cortes em relação a meia-529
carcaça de cordeiros ½ Dorper + ½ Santa Inês, abatidos com diferentes espessuras de gordura subcutânea, 530
observado na Tabela 1. Nota-se em cordeiros abatidos com 2,0 mm, 3,0 mm e 4,0 mm de EGS que o corte 531
pescoço, foi caracterizado em corte heterogônico, ou seja, houve um desenvolvimento precoce em relação ao 532
desenvolvimento da meia-carcaça. Resultado semelhante ao observado por Furusho-Garcia et al. (2006), para 533
cordeiros Bergamácia x Santa Inês em relação aos cordeiros cruzados Texel x Santa Inês e Ile de France x 534
Santa Inês. Comportamento divergente ao de Mora et al. (2014), em fêmeas de genótipo Pantaneiro abatidas 535
com mesmas EGS e Hashimoto et al. (2012) ao estudarem cordeiros sob o efeito de diferentes sistemas de 536
terminação. De acordo com o crescimento dos cordeiros, o pescoço desenvolveu-se rapidamente em relação 537
à meia-carcaça. 538
539
Tabela 1. Alometria de cortes comerciais em relação à meia-carcaça de cordeiros ½ Dorper + ½ Santa Inês 540
abatidos com diferentes espessuras de gordura subcutânea 541
Cortes EGS β Erro Padrão (β) Teste t Ho: β ≠ 1 R2 (%)
Pescoço
2,0 mm 0,114 0,285 * 41,90
3,0 mm -0,182 0,79 * 35,10
4,0 mm 0,474 0,419 * 8,10
Paleta
2,0 mm -0,619 0,484 * 86,00
3,0 mm 3,75 1,875 * -42,00
4,0 mm -1,03 1,389 * 68,20
Costela
2,0 mm -0,084 1,529 n.s. 51,50
3,0 mm 1,677 1,186 n.s. 34,00
4,0 mm -1,56 0,649 * 94,80
Lombo
2,0 mm 0,148 0,652 * 45,00
3,0 mm -1,015 1,612 * 48,00
4,0 mm 0,409 0,894 n.s. 35,90
Perna
2,0 mm -0,057 0,477 * 92,00
3,0 mm 0,148 1,403 n.s. 66,40
4,0 mm 0,416 1,317 n.s. 72,00
*5% de significância; n.s. não significativo. 542
36
O corte paleta, apresentou-se com velocidade de crescimento mais elevado em relação ao 543
desenvolvimento da meia-carcaça em animais com 2,0 mm e 4,0 mm de EGS. Porém, os cordeiros com 3,0 544
mm apresentaram crescimento tardio para esse corte. Apesar disso, cordeiros abatidos com maior EGS 545
(4,0 mm) mantiveram desenvolvimento precoce do corte paleta. Descrito como um crescimento heterogônico 546
negativo (β < 1), essa característica de crescimento da paleta foi igualmente notada por Galvani et al. (2008), 547
em cordeiros Texel x Corriedale em sistema de confinamento e por Hashimoto et al. (2012) para cordeiros 548
que receberam suplementação de grãos e ou leite materno. Onde estes autores atribuíram a qualidade destes 549
alimentos serem responsáveis pelo crescimento precoce de cortes. Porém, Pillar et al. (2008) notaram um 550
crescimento isogônico, no corte paleta, em relação ao peso de corpo vazio, em cordeiros confinados de 551
genótipo Merino Australiano e cruzados F1 Merino Australiano x Ile de France. 552
Diferentemente dos outros cortes da meia-carcaça, o corte costela apresentou um crescimento 553
isogônico para cordeiros abatidos com 2,0 mm e 3,0 mm de EGS. Resultado diferente para os cordeiros 554
abatidos com 4,0 mm de EGS, que foram caracterizados com uma costela precoce em relação ao crescimento 555
da meia-carcaça. Também, sob um sistema de confinamento, Galvani et al. (2008) observaram crescimento 556
isogônico no corte costela, em cordeiros Texel x Ile de France e por Mora et al. (2014), que também 557
caracterizaram o corte costela em isogônico para as três diferentes EGS de fêmeas Pantaneiras. 558
O lombo, mostrou ser um corte precoce (β < 1), para os cordeiros abatidos com menores EGS (2,0 mm 559
e 3,0 mm). Porém, em cordeiros com 4,0 mm de EGS, foi caracterizado ser um corte isogônico, ao ter a 560
mesma velocidade de crescimento em relação a meia-carcaça. Diferentemente às características observadas 561
nesse estudo, Furusho-Garcia et al. (2006) e Hashimoto et al. (2012) obtiveram resultados de crescimento do 562
lombo (β > 1) em cordeiros puros Santa Inês e Texel x Corriedale, respectivamente. 563
Na perna, os cordeiros abatidos com 2,0 mm de EGS apresentaram crescimento heterogônico negativo 564
(β < 1) na meia-carcaça. Contudo, cordeiros com 3,0 mm de EGS, já demonstram crescimento proporcional 565
em relação à meia-carcaça. Mora et al. (2014) obtiveram mesmo comportamento do crescimento da perna em 566
fêmeas Pantaneiras, abatidas sob mesmas espessuras de gordura subcutânea. 567
A característica de precocidade para os cortes em relação a meia-carcaça, para os cordeiros abatidos 568
com diferentes EGS desse experimento pode ser explicada segundo Nascimento et al (2018), ao afirmarem 569
que ovinos da raça Dorper além de apresentar desenvolvimento precoce e possuir corpo compacto, as 570
características são passadas para a sua progênie. 571
Ao correlacionar a meia-carcaça e seus respectivos cortes (Tabela 2), constatou-se que o corte da 572
perna foi o que mais simulou a composição da meia-carcaça. Mora et al. (2014), também verificaram que o 573
corte da perna foi o que melhor expressou a meia-carcaça. 574
575
576
577
37
Tabela 2. Correlação de Pearson dos cortes comerciais em relação a meia-carcaça de cordeiros ½ Dorper + 578
½ Santa Inês abatidos com diferentes espessuras de gordura subcutânea 579
Pescoço Paleta Costelas Lombo Perna
Meia-carcaça 0,58 0,82 0,92 0,68 0,94
580
Características da composição tecidual na meia-carcaça com diferentes EGS são observadas na 581
Tabela 3. Ainda que o tecido muscular esteja presente em maior proporção em carcaças de diferentes 582
espessuras de gordura subcutânea, não apresentou diferença (P > 0,05) entre tratamentos. A gordura 583
subcutânea também não apresentou distinção para cordeiros com 2,0; 3,0 e 4,0 mm de EGS. 584
Porém, a quantidade de gordura intermuscular na meia-carcaça de cordeiros com 2,0 mm de EGS 585
estiveram em menor quantidade (P < 0,05), em relação aos cordeiros com 3,0 e 4,0 mm de EGS. Entretanto, 586
a gordura subcutânea e intermuscular, quando somadas (gordura total), da meia-carcaça, não foram 587
suficientes para apresentar diferenças (P > 0,05) em cordeiros abatidos com diferentes EGS. No entanto, o 588
tecido ósseo apresentou diminuição quando abatidos cordeiros com 3,0 mm de espessura de gordura 589
subcutânea. 590
Os cordeiros abatidos com 3,0 mm de EGS, tiveram um menor índice de musculosidade da perna em 591
relação aos cordeiros com 2,0 e 4,0 mm. O menor índice de musculosidade da perna em cordeiros com 3,0 592
mm de EGS, pode ser explicado por um crescimento acelerado do tecido ósseo sobre o tecido muscular, 593
implicando na reduzida quantidade de músculo para cada centímetro de fêmur. Mesmo assim, o índice 594
musculosidade da perna em cordeiros ½ Dorper + ½ Santa Inês do presente estudo, mostraram uma maior 595
proporção de músculo em relação a cordeiros Santa Inês estudado por Urbano et al. (2015). 596
597
Tabela 3. Médias e erros-padrão para a composição tecidual da meia-carcaça em diferentes espessuras de 598
gordura subcutânea 599
Espessura de Gordura Subcutânea
F P-valor 2,0 mm 3,0 mm 4,0 mm
Músculo (%) 62,73 ± 1,18 60,41 ± 1,14 60,37 ± 1,26 1,27 0,301
Gordura subcutânea (%) 6,73 ± 1,03 6,76 ± 0,46 6,91 ± 0,90 0,014 0,985
Gordura intermuscular (%) 9,37 ± 0,56 B 12,89 ± 0,92 A 12,55 ± 0,79 A 6,344 < 0,006
Gordura Total (%) 16,1 ± 1,21 19,65 ± 1,26 19,47 ± 1,19 2,672 0,092
Osso (%) 21,17 ± 0,34 A 19,93 ± 0,39 B 20,16 ± 0,25 A 3,893 0,036
IMP* - g cm-1 0,46 ± <0,01 AB 0,45 ± 0,01 B 0,50 ± 0,01 A 4,42 0,024
Médias seguidas de diferentes letras na mesma linha, diferem entre si (P < 0,05) teste de Tukey. *IMP = Índice de 600
musculosidade da perna. 601
602
O crescimento relativo dos componentes teciduais do pescoço, apresentados na Tabela 4, indicam 603
crescimento heterogônico negativo em cordeiros com 2,0; 3,0 e 4,0 mm de EGS. O crescimento precoce dos 604
38
tecidos constituintes resultou em comportamento de crescimento precoce desse corte comercial. Pillar et al. 605
(2008), observaram no corte pescoço, comportamento isogônico em ovinos da raça Merino quando 606
relacionado ao peso de corpo vazio. O pescoço no presente trabalho apresentou crescimento acelerado ao ser 607
relacionado com a meia-carcaça, já que esta é desprovida de cabeça e patas. 608
609
Tabela 4. Alometria dos constituintes teciduais em relação ao corte comercial pescoço de cordeiros ½ 610
Dorper + ½ Santa Inês abatidos com diferentes espessuras de gordura subcutânea 611
Pescoço EGS β Erro Padrão (β) Teste t Ho: β ≠ 1 R2 (%)
Músculo
2,0 mm -0,037 0,024 * 97,20
3,0 mm 0,066 0,053 * 84,20
4,0 mm -0,014 0,065 * 88,10
Gordura Subcutânea
2,0 mm 0,009 0,012 * 6,90
3,0 mm -0,001 0,018 * 31,00
4,0 mm -0,046 0,011 * 91,30
Gordura Intermuscular
2,0 mm 0,015 0,028 * 25,10
3,0 mm -0,002 0,034 * 53,30
4,0 mm 0,017 0,026 * 42,70
Gordura Total
2,0 mm 0,025 0,038 * 21,30
3,0 mm -0,003 0,05 * 48,40
4,0 mm -0,028 0,025 * 83,70
Osso
2,0 mm 0,005 0,031 * 84,00
3,0 mm -0,026 0,037 * 89,00
4,0 mm 0,043 0,051 * 58,30
*5% de significância; n.s. não significativo. 612
613
Os componentes teciduais da paleta são mostrados na Tabela 5. O tecido muscular, os tecidos adiposos 614
(gordura subcutânea e gordura intermuscular) e tecido ósseo, apresentaram um comportamento hetegônico 615
negativo (β < 1), para cordeiros abatidos com 2,0 mm, 3,0 mm e 4,0 mm de EGS. Dessa forma, o 616
desenvolvimento precoce de todos os tecidos da paleta, acabaram por induzir um mesmo tipo de 617
desenvolvimento no corte paleta. A característica de precocidade no crescimento do músculo da paleta 618
também obtida por Furusho-Garcia et al. (2009), quando utilizaram cordeiros puros Santa Inês, e mestiço 619
com Texel, Ile de France e Bergamácia. Entretanto, essa característica no desenvolvimento muscular não 620
refletiu no mesmo ritmo de desenvolvimento do corte paleta, indicando que outros tecidos como a gordura, 621
apresentaram desenvolvimento tardio. 622
623
624
625
626
39
Tabela 5. Alometria dos constituintes teciduais em relação ao corte comercial paleta de cordeiros ½ Dorper 627
+ ½ Santa Inês abatidos com diferentes espessuras de gordura subcutânea (EGS). 628
Paleta EGS β Erro Padrão (β) Teste t Ho: β ≠ 1 R2 (%)
Músculo
2,0 mm -0,064 0,085 * 97,40
3,0 mm -0,167 0,246 * 89,40
4,0 mm -0,177 0,196 * 98,40
Gordura Subcutânea
2,0 mm -0,023 0,068 * 47,30
3,0 mm 0,029 0,064 * 35,00
4,0 mm 0,011 0,112 * 29,30
Gordura Intermuscular
2,0 mm -0,199 0,026 * 97,90
3,0 mm -0,063 0,237 * 36,70
4,0 mm -0,137 0,212 * 56,30
Gordura Total
2,0 mm -0,223 0,092 * 87,40
3,0 mm -0,002 0,239 * 39,60
4,0 mm -0,117 0,246 * 57,80
Osso
2,0 mm 0,262 0,022 * 54,50
3,0 mm 0,18 0,126 * 49,00
4,0 mm 0,245 0,162 * 34,70
*5% de significância; n.s. não significativo. 629
630
O crescimento muscular da costela (Tabela 6), mostrou ter crescimento isogônico em cordeiros com 631
2,0 mm e 3,0 mm de EGS. Porém, cordeiros que apresentaram 4,0 mm de EGS possuíram maior taxa de 632
crescimento, caracterizados dessa forma como precoce. Cordeiros com 2,0 mm de EGS apresentaram 633
crescimento da gordura subcutânea na mesma proporção do corte da costela. Entretanto, ovinos que foram 634
abatidos com 3,0 mm de EGS, mostraram crescimento heterogônico negativo. 635
A gordura intermuscular e tecido ósseo, tiveram crescimento precoce, independente do nível de 636
espessura de gordura subcutânea dos animais. Apesar disso, o tecido que mais influenciou nesse corte foi o 637
músculo, ao ditar o crescimento relativo do corte costela. Já que este tecido apresentou mesma taxa de 638
crescimento e estar em maior proporção nesse corte, em cordeiros ½ Dorper + ½ Santa Inês com diferentes 639
espessuras de gordura subcutânea. 640
Em cordeiros abatidos com 2,0 mm, 3,0 mm e 4,0 mm de espessura de gordura subcutânea, no corte 641
lombo, seus componentes teciduais de músculo, gordura subcutânea, gordura intermuscular e osso, indicados 642
na Tabela 7, também foram caracterizados em heterogônico negativo (β < 1). O desenvolvimento precoce do 643
músculo, também pôde ser observado tanto por Hashimoto et al. (2012) em cordeiros Santa Inês e Santa Inês 644
x Bergamácia e por Mora et al. (2014), que detectaram o crescimento mais acelerado do músculo do lombo, 645
em animais que possuíram maiores gordura subcutânea (3,0 e 4,0 mm). 646
Os cordeiros com diferentes EGS mostraram-se eficientes tanto na deposição de gordura de cobertura 647
da região lombar, como no acúmulo de gordura intermuscular. Verificando que cordeiros ½ Dorper + ½ 648
40
Santa Inês possuem eficiente deposição de tecido adiposo quando confinado. Assim como o músculo e a 649
gordura, o osso comportou-se de forma precoce. 650
Tabela 6. Alometria dos constituintes teciduais em relação ao corte comercial costela de cordeiros ½ Dorper 651
+ ½ Santa Inês abatidos com diferentes espessuras de gordura subcutânea 652
Costela EGS β Erro Padrão (β) Teste t Ho: β ≠ 1 R2 (%)
Músculo
2,0 mm 1,310 0,687 n.s. -14,00
3,0 mm 0,796 0,754 n.s. 26,90
4,0 mm 0,223 0,346 * 84,10
Gordura Subcutânea
2,0 mm 0,341 0,886 n.s. -6,80
3,0 mm -0,102 0,917 * 11,80
4,0 mm 0,487 0,561 * -19,50
Gordura Intermuscular
2,0 mm -0,275 0,209 * 74,30
3,0 mm -0,257 0,993 * 32,30
4,0 mm -0,624 0,214 * 91,90
Gordura Total
2,0 mm 0,066 0,841 * 20,00
3,0 mm -0,359 1,639 n.s. 26,40
4,0 mm -0,137 0,583 * 55,30
Osso
2,0 mm -0,128 0,223 * 72,00
3,0 mm 0,526 0,484 * -0,50
4,0 mm 0,235 0,189 * 69,30
*5% de significância; n.s. não significativo. 653
Tabela 7. Alometria dos constituintes teciduais em relação ao corte comercial lombo de cordeiros ½ Dorper 654
+ ½ Santa Inês abatidos com diferentes espessuras de gordura subcutânea 655
Lombo EGS β Erro Padrão (β) Teste t Ho: β ≠ 1 R2 (%)
Músculo
2,0 mm 0,080 0,081 * 88,00
3,0 mm 0,105 0,082 * 89,30
4,0 mm -0,047 0,059 * 97,10
Gordura Subcutânea
2,0 mm -0,011 0,069 * 34,00
3,0 mm -0,072 0,056 * 78,00
4,0 mm -0,029 0,064 * 64,20
Gordura Intermuscular
2,0 mm -0,044 0,054 * 61,20
3,0 mm 0,026 0,074 * 42,90
4,0 mm 0,055 0,047 * 54,00
Gordura Total
2,0 mm -0,056 0,11 * 51,80
3,0 mm -0,046 0,109 * 69,60
4,0 mm 0,025 0,092 * 67,50
Osso
2,0 mm -0,08 0,066 * 75,80
3,0 mm -0,006 0,029 * 85,70
4,0 mm 0,032 0,066 * 42,40
41
*5% de significância; n.s. não significativo. 656
657
Na Tabela 8, são apresentados o crescimento alométrico dos componentes teciduais da perna. Os 658
cordeiros abatidos com 2,0 mm, 3,0 mm e 4,0 mm de EGS desenvolveram crescimento heterogônico 659
negativo (precoce), em seus componentes teciduais do corte da perna. Hashimoto et al. (2012) e Carvalho et 660
al. (2016) verificaram crescimento heterogônico negativo, em cordeiros abatidos com diferentes pesos. 661
Diferentemente de Mora et al. (2014) que observaram um crescimento proporcional ao corte da perna para os 662
tecidos muscular, gorduras subcutânea, gordura intermuscular e ósseo, em cordeiros abatidos com maiores 663
EGS (3,0 mm e 4,0 mm). 664
Apesar do crescimento precoce nos cortes comerciais de pescoço, paleta e perna em cordeiros abatidos 665
com 2,0 mm de EGS, estes animais ainda apresentaram um crescimento isogônico para o corte da costela, 666
que apresenta ser um dos cortes mais representativos na meia-carcaça. Entretanto, apesar da diminuição do 667
crescimento de cortes como perna e paleta em cordeiros com 3,0 mm de EGS, crescimento acelerado para o 668
corte da costela em cordeiros com 4,0 mm de EGS podem apresentar um comportamento interessante, ao 669
proporcionar cortes com maiores quantidades de constituintes teciduais em relação a meia-carcaça. 670
671
Tabela 8. Alometria dos constituintes teciduais em relação ao corte comercial perna de cordeiros ½ Dorper + 672
½ Santa Inês abatidos com diferentes espessuras de gordura subcutânea 673
Perna EGS β Erro Padrão (β) Teste t Ho: β ≠ 1 R2 (%)
Músculo
2,0 mm 0,034 0,133 * 98,20
3,0 mm 0,062 0,353 * 91,60
4,0 mm 0,198 2,026 n.s. 38,50
Gordura Subcutânea
2,0 mm -0,032 0,11 * 56,40
3,0 mm 0,439 0,237 * -36,10
4,0 mm 0,344 0,046 * -66,50
Gordura Intermuscular
2,0 mm -0,132 0,106 * 73,20
3,0 mm -0,069 0,238 * 42,00
4,0 mm -0,239 0,158 * 77,80
Gordura Total
2,0 mm -0,073 0,198 * 69,00
3,0 mm 0,37 0,325 * 5,60
4,0 mm 0,104 0,181 * 64,80
Osso
2,0 mm 0,375 0,105 * 38,90
3,0 mm -0,255 0,14 * 92,10
4,0 mm -0,169 0,109 * 95,10
*5% de significância; n.s. não significativo. 674
675
Outro comportamento notado, está na opção de cruzamentos entre raças cortes comerciais com 676
desenvolvimento acelerado, independente de velocidades de crescimentos teciduais diante de características 677
42
sexuais, ou seja, quando observado que fêmeas apresentam desenvolvimento de tecidos adiposos mais 678
acelerado em relação aos animais não castrados. 679
680
681
CONCLUSÃO 682
O crescimento alométrico da carcaça e o índice de musculosidade da perna indicam o abate dos 683
cordeiros ½ Dorper + ½ Santa Inês com 4,0 mm de espessura de gordura subcutânea, por ter sido a EGS que 684
apresentou a eficiência máxima no desenvolvimento dos cortes pescoço, paleta e costela e o melhor índice de 685
musculosidade da perna. A perna foi o corte que apresentou melhor correlação com a carcaça. 686
687
688
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 689
690
ALDAI, N.; DUGAN, M. E. R.; KRAMER, J. K.G.; ROBERTSON, W. M.; JUÁREZ, M.; AALHUS, J. L. 691
trans-18:1 and conjugated linoleic acid profiles after the inclusion of buffer, sodium sesquicabonate, in the 692
concentrate of finishing steers. Meat Science, v.84, n.4, p.735-741, 2010. 693
694
AOAC-Association of Official Analytical Chemistis. Official methods of analysis. 13th ed. Arlington: 695
AOAC Internacional, 2000. 696
697
CARVALHO, S.; ZAGO, L. C.; PIRES, MARTINS, A. A.; VENTURINI, R. S.; LOPES, J. F.; PILLECO, 698
V. M.; SIMÕES, R. R.; BRUTI, D. D.; MORO, A. B. Tissue composition and allometric growth of tissues 699
from comercial cuts and carcass of Texel labs slaughtered with different weights. Semina: Ciências 700
Agrárias, v.37, n.4, p.2123-2132, 2016. 701
702
FAOSTAT. Live animals. (2016). www.fao.org/faostat/en/#data/QA (Acessado 03-06-18). 703
704
FURUSHO-GARCIA, I. F.; PEREZ, J. R. O.; BONAGURIO, S.; SANTOS, C. L. Estudo alométrico dos 705
cortes de cordeiros Santa Inês puros e cruzas. Revista Brasileira de Zootecnia, v.35, n.4, p.1416-1422, 706
2006. 707
708
FURUSHO-GARCIA, I. F.; PEREZ, J. R. O.; PEREIRA, I. G.; COSTA, T. I. R.; MARTINS, M. O. Estudo 709
alométrico dos tecidos de carcaça de cordeiros Santa Inês puros ou mestiços com Texel, Ile de France e 710
Bergamácia. Revista Brasileira de Zootecnia, v.38, n.3, p.539-546, 2009. 711
712
GALVANI, D. B.; PIRES, C. C.; OLIVEIRA, F.; WOMMER, T. P.; JOCHIMS, F. Crescimento alométrico 713
dos componentes da carcaça de cordeiros Texel x Ile de France confinados do desmame aos 35 Kg de peso 714
vivo, Ciência Rural, v.38, n.9, p.2574-2578, 2008 715
716
HASHIMOTO, J. H.; OSÓRIO, J. C. S.; OSÓRIO, M. T. M.; BONACINA, M. S.; LEHMEN, R. I.; 717
PEDROSO, C. E. S. Qualidade de carcaça, desenvolvimento regional e tecidual de cordeiros terminados em 718
três sistemas. Revista Brasileira de Zootecnia, v.41, n.2, p.438-448, 2012. 719
720
HUXLEY, J. S. Problems of relative growth. Londres: Methuen, Cambridge University, 1932. 721
MACEDO, F. A. F.; GUALDA, T. P.; MEXIA, A. A.; MACEDO, F. G.; DIAS, F. B.; MORA, N. H. A. P. 722
Performance and carcass characteristics of lamb with three subcutaneous fat thicknesses in the loin. 723
Archives of Veterinary Science. v.19, n.2, p.52-59, 2014. 724
43
725
MORA, N. H. A. P.; MACEDO, F. A. F.; OSÓRIO, J. C. S.; MARTINS, E. N.; MEXIA, A. A; MACEDO, 726
T. G. Allometry in cascasses of lambs of the Pantaneiro genetic group slaughtered with different 727
subcutaneous fat thickness. Acta Scientiarum, v.36, n.4, p.427-432, 2014. 728
729
NASCIMENTO, U. F. S.; SANTOS, G. R. A.; SANTOS, C. A.; MACEDO, F. A. F.; GONÇALVES, T. R.; 730
BOMFIM, L. E. L. M.; FARIAS, J. S.; SANTOS, A. D. F. Performance and carcass characteristics of lambs 731
½ Dorper + ½ Santa Inês, slaughtered with different thicknesses os subcutaneous fat. Revista Brasileira de 732
Produção e Saúde Animal, v.19, n.1, p.125-135, 2018. 733
734
OECD. Meat consumption - 2016. Disponível em: <https://data.oecd.org/agroutput/meat-consumption.htm> 735
Acesso em: 03 jun. 2018. 736
737
OSÓRIO, J. C. S.; OSÓRIO, M. T. M.; VARGAS JÚNIOR, F. M.; FERNANDES, A. R. M.; SENO, L. O.; 738
RICARDO, H. A.; ROSSINI, F. C.; ORRICO JÚNIOR, M. P. Critérios para abate do animal e a qualidade 739
da carne. Revista Agrarian, v.5, n.18, p.433-443, 2012. 740
741
PILLAR, R. C.; PÉREZ, J. R. O.; MUNIZ, J. A.; BRESSAN, M. C. Alometria dos cortes da carcaça, em 742
cordeiros Merino Australiano e cruza Ile de France x Merino Australiano. Revista Brasileira de 743
Agrociência, v.14, n.4, p.91-101, 2008. 744
745
PURCHAS, R. W.; DAVIES, A. S. ABDULLAH, A. Y. An objective measure of muscularity: changes with 746
animal growth and diferences between genetic lines of Suthdown sheep. Meat Science, v.30, p.81-94, 1991. 747
748
SAS-Statistical System. User’s guide: software version 9.0. Cary: SAS Institute, 2004. 749
750
SOUZA, D. A.; SELAIVE-VILLARROEL, A. B.; PEREIRA, E. S.; OSÓRIO, J. C. S.; TEIXEIRA, A. 751
Growth performance, feed efficiency and carcass characteristics of lambs produced from Dorper sheep 752
crossed with Santa Inês of Brazilian Somali sheep. Small Ruminat Research. v.114, p.51-55, 2013. 753
754
URBANO, S. A.; FERREIRA, M. A.; VÉRAS, R. M. L.; AZEVEDO, P. S.; SANTOS FILHO, H. B.; 755
VASCONCELOS, G. A.; OLIVEIRA, J. P. F. Características de carcaça e composição tecidual de ovinos 756
Santa Inês alimentados com manipuera. Agrária – Revista Brasileira de Ciências Agrárias, v.10, n.3, 757
p.466-472, 2015. 758
759
VIANA, J. G. A.; MORAES, M. R. E.; DORNELES, J. P. Dynamics of imports of sheep meat in Brazil: 760
analysis of temporal components. Semina: Ciências Agrárias, v.36, n.3, supl.1, p.2223-2234, 2015. 761