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Informativo Comportare
NESSA EDIÇÃO
Deficiência Intelectual
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Quem Somos
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Aconteceu IACEP
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Cursos
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No dia a dia de trabalho os profissio-nais da área que atuam diretamente com Deficiências e Transtornos se deparam com a confusão que as pessoas fazem, inclusive outros profissionais, entre Deficiência Intelec-tual e Transtorno Mental. Isso não é para me-nos até porque por muitos e muitos séculos essas duas modalidades sempre andaram juntas e eram indissociáveis, porém agora com os avanços das pesquisas na área de neuroci-ências, já é possível ter-se uma compreensão melhor desses dois distintos processos
neuropsicológicos, muitas vezes inseparáveis.
Pouco se sabe sobre estas duas condições, mas conforme os avanços científicos nesta área forem surgindo, muitas descobertas favo-recerão a melhor compreensão dos processos envolvidos e, consequentemente, haverá o desenvolvimento de novas técnicas, diagnósti-cos e intervenções mais adequados para cada
caso.
O objetivo deste artigo é esclarecer um pouco as interfaces e as diferenças entre a Deficiência Intelectual e Transtorno Mental, pois um diagnóstico equivocado pode retardar intervenções adequadas que poderão fazer a grande diferença na vida da pessoa acometida e seus familiares. Primeiramente será caracte-rizada a Deficiência Intelectual, depois o Trans-torno Mental para posterior aproximação e
distinção entre os dois.
DEFICIÊNCIA INTELECTUAL: BREVE HISTÓRICO,
DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO
Na antiguidade e idade média os por-tadores de deficiência física, sensorial e inte-lectual eram vistos como possuidores de algu-ma força do bem ou do mal, significando que certas deficiências eram consideradas posses-sões demoníacas e outras como divinas. Es-ses indivíduos eram abandonados ou elimina-dos, pois tais atitudes eram coerentes com os ideais de perfeição desse período da história. A partir das modificações advindas com a dou-trina cristã, as atitudes de abandono foram substituídas por sentimentos de misericórdia e caridade. As pessoas com deficiência passa-ram a ter direitos de sobrevivência. Eram aco-lhidas em conventos, igrejas e interpretados como indivíduos que estavam sob a proteção
especial de DEUS.
Com o decorrer dos séculos o conceito de deficiência foi sendo gradualmente elabora-do, juntamente com a evolução das ciências médicas, o misticismo foi sendo deixado de lado e a concepção de alteração neurobiológi-
ca foi sendo adotada.
No século XXI, a Deficiência Intelectual ainda é assustadora para muitos e infelizmen-te, ainda presencia-se uma tendência à segre-gação e marginalização das pessoas com defi-ciência. Porém, nas últimas décadas, isso tem mudado a partir da elaboração de leis que as-seguram os direitos e deveres dessas pessoas e seu papel na sociedade. Muitas pessoas questionam, qual é o termo que devo usar?
Deficiência Mental ou Deficiência Intelectual?
Volume 01 Edição 01 Maio - 2013
Deficiência Intelectual X Transtorno Mental:
Interfaces e Diferenças
Luciana Helena da Silva
Patrícia Motta Cordeiro Gonçalves
Sócias
Nione Torres (CRP 08/02333)
Kellen M. E. Fernandes (CRP 08/09270)
Luciana Ap. Zanella Gusmão (CRP 08/06382)
Bruna Moraes Aguiar (CRP 08/12450)
Luciana Helena Silva (CRP 08/15219)
Priscila Araújo Taccola (CRP 08/09743)
Colaboradores (as)
Patricia Motta Cordeiro
Cintia Cristiane M B da Rocha
Renata Trovarelli
Sublocatários (as)
Cristhiane de Almeida Mitsi
Luciana F. Alvarez
Fabiane da Costa Moraes
Wagner Rogerio da Silva
Gisele Bueno de Farias
Mayara Petri Martins
Rafaela Conde de Souza
Géssica Denora Ribeiro
Estagiários (as)
Laís Rodrigues Paes
Giuliana Inocente
Ana Carolina Zuanazzi
Lucas Franco Carmona
Elisabete Altini
Secretária
Patricia Silva
Quem Somos?
O indivíduo com Deficiência Intelectual recebeu inúmeras terminologias durante o processo histórico: oligofrênico; cretino; tonto; imbecil; idiota; débil profunda; criança subnormal; criança mentalmente anormal; mongolóide; criança atrasa-da; criança eterna; criança excepcional; retardada mental em nível dependente/custodial, treinável/adestrável ou educável; deficiente mental em nível leve, moderado, severo ou profundo (nível estabelecido pela Organização Mundial da Saúde,
1968); criança com déficit intelectual; criança com necessidades especiais; criança especial, etc., (SASSAKI, 2005).
O termo Deficiência Intelectual vem sendo utilizado desde 1995 e sendo incorporado no mundo todo. Segundo Sassaki (2005), o termo intelectual é mais apropriado por referir-se ao funcionamento do intelecto especificamente e não ao funcio-namento da mente como um todo e também consiste em podermos melhor distinguir entre deficiência mental e transtorno
mental.
Para o DSM-V (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 4º Ed. texto revisado) o diagnóstico de Deficiência Intelectual é embaso em três importantes critérios: Critério A: QI- Quoeficiente de Inteligência abaixo de 70; Critério B: Limitações significativas no funcionamento adaptativo em pelo menos duas das seguintes áreas de habilidades: comuni-cação, autocuidados, vida doméstica, habilidades sociais/interpessoais, uso de recursos comunitários, autossuficiência,
habilidades acadêmicas, trabalho, lazer, saúde e segurança; Critério C: Ocorrer antes dos 18 anos.
A Deficiência Intelectual possui muitas etiologias diferentes e pode ser vista como uma via final comum de vários pro-cessos patológicos que afetam o funcionamento do sistema nervoso central: a) Hereditariedade (5%): Mutações gênicas, erros inatos metabólicos; b) Alterações precoces do desenvolvimento embrionário (aproximadamente 30%): alterações cro-mossômicas (ex: Síndrome de Down) ou dano pré-natal causado por toxinas (por ex., consumo materno de álcool, infec-ções como a Rubéola); c) Problemas da gravidez e perinatais (aproximadamente 10%): desnutrição fetal, prematuridade, hipóxia, infecções virais, trauma encefálico, entre outras; d) Condições médicas gerais adquiridas no início da infân-cia (aproximadamente 5%): infecções, traumas e envenenamento (por ex., devido ao chumbo); d) Influências ambientais e outros transtornos mentais (aproximadamente 15-20%): privação de afeto e cuidados (maus tratos) bem como a falta esti-
mulação social, linguística e outras; e) Transtorno Invasivo do Desenvolvimento Severo.
O diagnóstico de Deficiência Intelectual é feito pelo psicólogo, pois é o único profissional habilitado para utilizar os instrumentos psicológicos necessários para constatação do QI-Quoeficiente Intelectual do indivíduo através de vários ins-trumentos padronizados para este fim, entre eles estão: as Escalas Wechsler de Inteligência: WISC-III (6 a 16 anos) e WAIS – III (adulto), Stanford-Binet e Bateria Kaufman de Avaliação para Crianças que somados as informações da história de vida da pessoa e as condições atuais que vivencia. Será diagnosticado com Deficiência Intelectual os indivíduos que apresentarem QI abaixo de 70 com déficits significativos no comportamento adaptativo. Não deve ser diagnosticada em indivíduos com um QI inferior a 70, se não existirem déficits ou prejuízos significativos no funcionamento adaptativo (DSM-
IV), nesta situação é importante aprofundar a investigação a fim de verificar as variáveis que influenciaram no resultado.
Apesar de o nível intelectual ser diagnosticado pelo psicólogo, é muito importante que a avaliação seja multiprofissio-
nal na qual a pessoa passará por vários profissionais: neurologistas, psiquiatras, fonoaudiólogos, psicopedagogos,
entre outros, conforme a necessidade de cada caso, com uma comunicação clara e eficiente entre estes profissionais
para que o diagnóstico seja o mais completo possível, assim como o prognóstico e formas de tratamento.
No trabalho com os Deficientes Intelectuais, o objetivo principal é estimular as áreas em que há dificuldades/limitações. Os principais profissionais envolvidos são educadores especiais, psicólogos, fonoaudiólogos e terapeutas ocupacionais. Os medicamentos são prescritos e utilizados quando a Deficiência Intelectual está associada a outras
doenças como a epilepsia, transtornos, etc.
TRANSTORNO MENTAL: BREVE HISTÓRICO, DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO
Desde que as pessoas se reconhecem enquanto pessoas existe a percepção de comportamento normal, pa-drão e comportamento desviante. Em diferentes momentos da história, esses comportamentos desviantes receberam vários nomes e classificações. Para os antigos, alguns desses comportamentos eram vistos como sinais dos deuses, tanto positivos quanto negativos. Alguns casos de esquizofrenia, por exemplo, eram vistos como sinais de profecias. Com a influência do cristianismo na cultura ocidental, esses mesmos comportamentos passaram a ser vistos como sendo negativos e influenciados por demônios e essas pessoas eram severamente, e até mesmo, fatalmente punidas
por isso.
Após a Segunda Guerra Mundial, a Associação de Psiquiatria Americana criou o Manual Estatístico e Diag-nóstico de Doenças Mentais, o DSM (Diagnostic and Statistic Manual). Atualmente, estamos na quarta edição, lança-da em 1994, com revisão feita em 2000. A Organização Mundial da Saúde organizou a Classificação Estatística Inter-nacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde, atualmente em sua décima revisão, conhecido por sua sigla CID-10. Ela possui um capítulo exclusivo para distúrbios mentais e do comportamento que pretende estar concordante com o DSM, porém apresenta algumas diferenças significativas. Um estudo foi feito mostrando que o CID-10 é mais utilizado em diagnósticos clínicos enquanto o DSM-IV é mais utilizado em pesquisas. Estes instrumen-tos estão em constante atualização, o DSM-V está agendado para sair em 2013 e o CID-11 para 2015, dadas mudan-ças no contexto sociocultural e avanços científicos. Desde sempre as pessoas acometidas por transtornos psiquiátri-cos foram extremamente estigmatizadas. Elas eram chamadas de loucas, depois de doentes mentais ou retardadas mentais. Atualmente, chegou-se em um consenso de utilizar o termo “Transtorno Mental” ou “distúrbio mental”, numa tentativa de desestigmatizar essas condições neuropsicológicas, embora, ainda hoje, se deparam com atendimento
clínico inadequado, dificuldades de inserção social (preconceito) e de inclusão no mercado de trabalho.
Pelo DSM-IV-TR, 2003 [2000], os Transtornos Mentais são concebidos como síndromes ou padrões comporta-mentais ou psicológicos clinicamente importantes, que ocorrem num indivíduo e estão associados com sofrimento ou incapacitação ou com um risco significativamente aumentado de sofrimento, morte, dor, deficiência ou perda impor-tante da liberdade. Além disso, essa síndrome ou padrão não deve constituir meramente uma resposta previsível e culturalmente aceita diante de um determinado evento... Nem o comportamento desviante, nem conflitos entre o indi-víduo e a sociedade são transtornos mentais, a menos que o desvio ou o conflito sejam sintomas de uma disfunção no indivíduo. Um equívoco comum consiste em pensar que uma classificação de Transtornos Mentais classifica pes-soas, quando na verdade o que se classifica são transtornos que as pessoas apresentam. Por exemplo, deve-se evi-
tar expressão “um esquizofrênico” e em vez disso “um indivíduo com Esquizofrenia”.
O Transtorno Mental engloba uma série de condições que também afetam o desempenho da pessoa na socie-dade, além de causar alterações de humor, bom senso e concentração, por exemplo. Isso tudo causa uma alteração na percepção da realidade. Alguns exemplos são: transtorno de Ansiedade, fobias (medo excessivo), TOC (transtorno obsessivo-compulsivo), depressão, transtorno bipolar, esquizofrenia, transtornos alimentares, entre outros. As possí-veis causas permeiam os aspectos neurobiológicos, ambientais e psicológicos. Portanto, várias são as causas que fazem com que o indivíduo venha a desenvolver, em determinado momento de sua história um Transtorno Mental. Podemos perceber que há uma mescla de fatores físicos, ambientais e emocionais na história de um cliente com so-
frimento mental.
Interfaces entre
Deficiência
Intelectual e
Transtorno Mental
Ambos apresentam uma disfunção, ou seja, comprometimento do Sistema
Nervoso Central -SNC.
É necessária uma avaliação criteriosa por profissionais especializados pa-ra diferenciar os quadros e definir condutas a serem adotadas, que vão
caracterizar melhor a legislação e rede de recursos a ser acionada.
Segundo especialistas, o Transtorno Mental pode ocorrer em 20% ou até
30% dos casos de Deficiência Intelectual.
Diferenças entre
Deficiência
Intelectual e
Transtorno Mental
Idade do diagnóstico da Deficiência Intelectual vai até os 18 anos. No ge-
ral, no caso do Transtorno Mental não se tem uma idade estabelecida.
Outra diferença está no tipo de diagnóstico, o indivíduo com Transtorno Mental sem comorbidades não apresenta QI rebaixado quando adequada-mente tratado. Outra diferença é a caracterização neuropsicobiológica do tipo de comprometimento (tipo de disfunção, de alteração neurológica,de
padrão comportamental, etc.).
Comumente o Deficiente Intelectual apresenta quadro irreversível e exige terapias mais específicas para preservação, desenvolvimento das potencia-
lidades existente.
A principal diferença entre as duas classificações é que, na Deficiência Intelectual, há uma limitação no desen-volvimento das funções necessárias para compreender e interagir com o meio, enquanto no Transtorno Mental, essas
funções existem, mas ficam comprometidas pelos fenômenos psíquicos aumentados ou anormais.
Saber diferenciar a Deficiência Intelectual do Transtorno Mental é um passo crucial para evitar equívocos que possam prejudicar a pessoa e seus familiares em seu diagnóstico, prognósticos e tratamento como também as conse-
quências das mudanças psicológicas, financeiras e sociais advindas do falso diagnóstico.
Assim, a conduta profissional correta favorecerá o delineamento de intervenções que contribuam para comporta-
mentos adaptativos mais adequados, promovendo mais qualidade de vida para a pessoa e seus familiares.
Referências Bibliográficas:
SASSAKI, R. K.; Atualizações semânticas na inclusão de pessoas: Deficiência mental ou intelectual? Doença ou Transtorno Mental? Revista Nacional de Reabilitação, ano IX, n. 43, mar./abr. 2005, p.9-10. Disponível em:
http://www.ppd.caop.mp.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=343
BALLONE, G.J. O que são Transtornos Mentais. In. PsiqWeb, Internet, disponível em
www.psiqweb.med.br, 2008
DSM-IV-TR – Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (Trad. Cláudia
Dornelles; 4 e.d. rev. – Porto Alegre: Artmed, 2002
HOLMES, S. D. Psicologia dos transtornos mentais. 2 ed. Porto Alegre: ARTES MÉDI-
CAS, 1997
Nota: Embora os Analistas do Comportamento prefiram a terminologia “Transtorno Psiqui-átrico”, o presente texto usa o termo “Transtorno Mental” tendo como base o DSM-IV e também por se observar que boa parte da confusão para a comunidade em geral, está na
semelhança entre as expressões: Deficiência Mental x Transtorno Mental.
Luciana Helena Silva é Psicóloga Clínica no IACEP e Psicóloga Escolar na Escola Especial Caviú-
na- APAE de Rolândia - Pr. Especialista em Neuropsicopedagogia.
Patricia Motta Cordeiro Gonçalves é Psicóloga Clínica no IACEP e Psicóloga Social no
Serviço de Proteção Social Especial para Pessoas com Deficiência e suas Famílias de Londrina. Especialista em Neuropsicopedagogia.
Workshop Gerenciamento do Stress para Mulheres
Empreendedoras com Nione Torres e Priscilla Taccolla
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Silva
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Supervisão Pública com a Ms.
Joana Singer Vermes na PUC
As Psicólogas Kellen Escaraboto
Fernandes e Géssica Denora
Ribeiro com a equipe de
participantes do Workshop de
Estratégias Lúdicas em Terapia
Analítico– Comportamental
Infantil em Cascavel
Almoço de confraternização durante a Supervisão
Pública no restaurante Frutal do Campo
Editoria
Kellen M. E. Fernandes
Encaminhe suas dúvidas para o endereço [email protected]
Rua: Malba Tahan,
420, Jardim Nova Londrina
Londrina – Paraná
Fone (43) 3029-8001 Fax: (43) 3029-8003
E-mail: [email protected]