J O S É L U C I A N O F E R R E I R A D E A L M E I D A
CONCEPÇÕES DE GESTÃO ESCOLAR E ELEIÇÃO DE DIRETORES DA
ESCOLA PÚBLICA DO PARANÁ
UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO -
MESTRADO EM EDUCAÇÃO
Slides elaborados para a disciplina “Estudos em Gestão Educacional”
Prof. Dr. Paulo Gomes Lima
Mestrando Ralf Hermes Siebiger
CONTEXTO
• Dissertação de mestrado defendida no Programa de Pós-graduação em Educação da UFPR – 2004
• Objetivo: analisar as eleições de diretores das escolas públicas do Paraná no período 1983-2001
• Entrevistas com diretores de escolas de Curitiba/PR e região metropolitana, e com o representante da RENAGESTE
• Constata, no período 1990-2001:
Concepção de gestão escolar de caráter gerencial
Adoção de princípios de
racionalidade empresarial
Gerência empresarial na
gestão e no processo eleitoral
ANOS 90 – REDEMOCRATIZAÇÃO DO PAÍS = ESTADO MÍNIMO NEOLIBERAL
Mesmo com limites, a eleição direta de diretores por meio do voto da comunidade escolar ainda é a forma imprescindível
para a administração escolar desenvolver uma concepção
democrática
Eleição: diretor como representante da escola perante o Estado, e não representante do Estado perante a escola
Participação: dentre uma concepção de democracia liberal (social democracia)
ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO
• Concepções de administração escolar das décadas de 70, 80 e 90
• Concepção crítica/materialista histórica da administração escolar
Capítulo 1
• Análise histórica dos mecanismos de escolha dos diretores no PR: indicação – lista tríplice – eleição direta
Capítulo 2
• Análise da reforma do Estado e políticas educacionais na década de 90
• Análise de 2 documentos: Guia de Gestão Escolar (2002) e Decreto 4313/01: normaliza a eleição de diretor de 2001
• Análise de entrevistas para averiguar: concepção de gestão escolar, processo de eleição de diretores e informações sobre o papel da APM e do Conselho Escolar no processo.
Capítulo 3
ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO
• Conclusões do autor Considerações
finais
• Entrevista com representante da RENAGESTE
• Entrevista com diretor do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do PR
• Análise de seminários e cursos de capacitação gerencial realizados e patrocinados pela SEED/PR
Capítulo 3
CAPÍTULO 1 – CONCEPÇÕES DE GESTÃO ESCOLAR – DÉCADA DE 70
• Crítica à transposição dos princípios de administração de empresas à administração escolar
ARROYO e GONÇALVES
Arroyo
Ditadura de 1964: lógica privada e empresarial no ajuste administrativo estatal; racionalidade técnica; burocracia
Pedagogia tecnicista; perspectiva acrítica e apolítica no sistema educacional
Administração pública suplente: cobrir áreas não atendidas pela iniciativa privada: saúde, educação, etc.
CAPÍTULO 1 – CONCEPÇÕES DE GESTÃO ESCOLAR – DÉCADAS DE 70
Arroyo
Educação deve ser compreendida na análise histórica da divisão social do trabalho
Porém, os problemas do sistema escolar eram vistos como técnicos, administrativos
A „solução‟ seria aplicar a Teoria Geral da Administração (TGA) na Escola: ausência de espaço para escolha de diretores; administração escolar apenas como conjunto de técnicas e ferramentas para eficácia e produtividade
CAPÍTULO 1 – CONCEPÇÕES DE GESTÃO ESCOLAR – DÉCADA DE 70
Gonçalves
Ideologia da administração escolar: dissimulação das contradições existentes nas relações sociais de produção
Propõe reflexão crítica sobre o quadro conceitual que orienta a práxis da administração escolar brasileira
Apresenta implicações desse quadro conceitual para a educação brasileira e apresenta alternativas concretas para a administração escolar: gestão democrática e eleição de diretores
Destaca a realização do IX Simpósio Brasileiro da Anpae: início
dos estudos sobre administração educacional, de forte
influência taylorista
CAPÍTULO 1 – CONCEPÇÕES DE GESTÃO ESCOLAR – DÉCADA DE 80
Félix
Planejamento e controle: modo capitalista > lucro
TGA: divisão social do trabalho, racionalidade, organização funcional, eficiência e produtividade
Problemas históricos da escola reduzidos à necessidade de aperfeiçoamento de sua estrutura
Função pública do Estado: unificar classe dominante no
poder desorganizando as classes dominadas
CAPÍTULO 1 – CONCEPÇÕES DE GESTÃO ESCOLAR – DÉCADA DE 80
Paro
Tendências antagônicas: princípios e métodos gerenciais < > crítica à concepção de administração empresarial
Ambas concepções desconsideram os determinantes sociais e econômicos da administração escolar
Reflexão crítica da administração escolar exige reflexão histórica sobre a natureza da educação: ausência de perspectiva de transformação social
Tomar a percepção marxista da práxis: grau de consciência da atividade administrativa > unidade indissolúvel entre
consciência (subjetivo) e atividade (objetivo) = práxis
emancipadora
CAPÍTULO 1 – CONCEPÇÕES DE GESTÃO ESCOLAR – DÉCADA DE 90
Oliveira
5 pontos da administração escolar em MG:
Autonomia da escola (financeira e pedagógica) e estabelecimento de parcerias público-privadas
Escolha do diretor escolar, por meio de prova de conhecimento (competência); concepção de diretor como líder acrítico
Capacitação de diretores em gerência da qualidade total,
por recomendação do BIRD
Estímulo à realização de parcerias entre estados e municípios
para atendimento da demanda de 1 a 4 séries
CAPÍTULO 1 – CONCEPÇÕES DE GESTÃO ESCOLAR – DÉCADA DE 90
Hachem
Gestão compartilhada = diminuição do papel do Estado como responsável pela administração pública
Publicações de cunho gerencial para a gestão escolar: jornais, revista “Gestão em Rede” - RENAGESTE
Influência de organismos internacionais na economia
Cabe à cada comunidade escolar (APM) buscar recursos
para promover a „qualidade‟ na educação = competitividade
entre escolas públicas
Estímulo ao trabalho voluntário, captação de doações
• Três condições históricas distintas:
• 1. “inchaço” do aparelho de Estado: grupos oligárquicos
locais representados pelos grandes fazendeiros detinham a hegemonia das relações políticas a partir do Estado.
• 2. desenvolvimento de um Estado centralizador;
• 3. análise do desenvolvimento do capitalismo no Brasil, tendo
como foco o sistema educacional: proporcionalidade entre o
processo de ampliação do capitalismo no país, sob a forma
de organização e exploração do trabalho, e a ampliação do sistema educacional brasileiro.
CAPÍTULO 2 – SELEÇÃO DOS DIRETORES DA ESCOLA PÚBLICA: DA INDICAÇÃO POLÍTICA À ELEIÇÃO DIRETA
• Anos 70: a ditadura militar, não havendo espaço institucionalizado para o exercício da democracia; escolha
do diretor de forma clientelista; sendo considerado cargo de
confiança, era indicado por alguém que detinha um
mandato público com influência sobre o comando e o poder político estadual.
• No Paraná se estabeleceram as primeiras eleições para
diretores das escolas públicas, em 1983, porém, ainda com a
composição de listas tríplices;
• Em 1991 houve retrocesso: o STF acatou ação impetrada pelo
governo do PR, e foi suspenso o inciso VII do Art. 178 da
Constituição Estadual que previa processo de escolha
democrática dos dirigentes escolares, retornando-se ao
sistema de consulta em lista tríplice.
CAPÍTULO 2 – SELEÇÃO DOS DIRETORES DA ESCOLA PÚBLICA: DA INDICAÇÃO POLÍTICA À ELEIÇÃO DIRETA
• Em 1995 retoma-se o processo de eleição direta de diretores.
Porém, em 2000 houve escolha de forma colegiada, por meio de
'apresentação de ideias'.
• Muda-se também a composição do perfil do colégio eleitoral:
pais e alunos (50%), professores e funcionários (30%) e
representantes dos Núcleos Regionais de Educação (20%),
extinguindo-se consequentemente a paridade, com 20% de
presença externa no processo ;
• Aplicam-se também mecanismos de avaliação periódica dos
diretores, com base na gestão por resultados (modo de
produção capitalista).
• Produzem-se documentos: “Desenvolvimento de competência
para Diretores de Escolas”, inclusive cursos de proficiência em
gestão, ministrados por empresas de assessoria em gestão
educacional. Não há menção a Conselhos Escolares, sendo o
diretor soberano em suas decisões.
CAPÍTULO 2 – SELEÇÃO DOS DIRETORES DA ESCOLA PÚBLICA: DA INDICAÇÃO POLÍTICA À ELEIÇÃO DIRETA
• Eleições de diretores como formalismo democrático (eleição direta e participação) pode significar apenas a reprodução
das relações burocráticas de poder.
• “Escola cidadã”: administração popular que desenvolve um
amplo processo participativo, criando uma relação entre o
Estado e o conjunto da população. “Trata-se de uma proposta
de participação que visa reverter o caráter autoritário e
privado do Estado brasileiro, no âmbito da esfera municipal.”
(AZEVEDO, 1998, p.310).
CAPÍTULO 2 – SELEÇÃO DOS DIRETORES DA ESCOLA PÚBLICA: DA INDICAÇÃO POLÍTICA À ELEIÇÃO DIRETA
• Aprofundamento da gerência empresarial na gestão escolar – Estado mínimo = políticas neoliberais dos anos 90
CAPÍTULO 3 – ANOS 90 A 2001
análise de documentos (Guia de Gestão Escolar) e das entrevistas (5 diretores
eleitos em 2001)
concepção de gestão escolar
processo eleitoral de 2001
= gestão escolar mediante gerência da qualidade total
• Estado Neoliberal (Laurell, 1995) – empobrecimento da América Latina
• “O fato de o Estado desempenhar um papel fundamental na
formulação e efetivação das políticas sociais não significa que estas
envolvam exclusiva ou mesmo principalmente, o âmbito público.”
(LAURELL, 1995, p.153) (p. 148)
• Antecedente histórico – Welfare State (Canadá, EUA e Inglaterra):
Estado garante direitos sociais apenas aos que se encontram em
situação de indigência = Submissão do Estado à lógica do mercado
CAPÍTULO 3 – ANOS 90 A 2001
luta de classes e exclusão
social
políticas sociais = critério histórico-
processual
• Paraná – anos 90 - CONTEXTO
CAPÍTULO 3 – ANOS 90 A 2001
-
• redução na capacidade de financiamento estatal de políticas públicas (recessão)
-
• busca de financiamento via Banco Mundial para a área educacional = quadro de análise neoliberal: novos parâmetros qualitativos; produtividade do sistema; gestão descentralizada; espaço de autonomia da escola e participação da comunidade no gerenciamento da escola e incorporação da capacitação da escola sob a ótica da qualidade total quanto aos recursos humanos
- • Documento “Dez anos de educação no Paraná (2001)
reforça essa análise neoliberal
• Paraná – anos 90 - AÇÕES
CAPÍTULO 3 – ANOS 90 A 2001
-
• Projeto Qualidade de Ensino Público do Paraná (PQE): aumentar eficiência – materiais pedagógicos, formação continuada dos recursos humanos da educação; rede física e estudos e avaliação - US$ 198 milhões (US$ 96 milhões do Banco Mundial (BIRD) e US$ 102 milhões do Estado)
-
• Programa de Expansão, Melhoria e Inovação no Ensino Médio do Paraná (1998 – 2002): melhoria da qualidade do Ensino Médio; modernização da educação técnica profissional e fortalecimento da gestão - US$ 222 milhões (US$ 100 milhões do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e US$ 122 milhões do Estado) = gerenciamento educacional
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Paraná as políticas públicas para a educação estiveram sob a lógica de um Estado
mínimo de concepção neoliberal
Quadro de aceitação e adesão a uma concepção
de gestão escolar que fundamenta-se na
transferência de uma cultura organizacional desenvolvida nas empresas para as escolas
Necessário, portanto, desvelar as relações de dominação social pelo trabalho constituirá a
democratização da gestão escolar.
BIBLIOGRAFIA
• ALMEIDA, José Luciano Ferreira de. Concepções de
gestão escolar e eleição de diretores da escola
pública do Paraná. Dissertação [Mestrado em
Educação]. Curitiba/PR: Universidade Federal do
Paraná, 2004.