Karoline Barducco Brito
CONHECIMENTO POPULAR SOBRE Giardia lamblia sp
São Paulo
2009
2
Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas - FMU
Karoline Barducco Brito
CONHECIMENTO POPULAR SOBRE Giardia lamblia sp
Trabalho de conclusão de curso realizado durante
o 10o semestre do curso de Medicina Veterinária da
FMU, sob orientação do Prof Msc. Arnaldo Rocha.
São Paulo
2009
3
Karoline Barducco Brito
Conhecimento popular sobre Giardia lamblia sp
Trabalho de conclusão de curso realizado
durante o 10o semestre de Medicina
Veterinária da FMU, sob orientação do
Prof. Msc. Arnaldo Rocha.
Defendido e aprovado em 16 de
Dezembro de 2009, pela banca
examinadora, constituída pelos
professores:
Prof o. Msc Arnaldo Rocha
Prof a. Dra. Carolina Amália de Souza Dantas Muniz
Prof o. Dr. Carlos Augusto Donini
4
DEDICATÓRIA
Agradeço a Deus... meu pai, professor e amigo, sempre presente e leal, que
me deu forças para não desistir apesar das dificuldades. Agradeço também à minha
avó, que sempre foi meu chão, incentivo e exemplo... obrigada por todo amor e por
todas as orações em meu favor, acredite que essa vitória é sua também.
Agradeço aos meus pais e minha tia, que sempre apostaram em mim, me
deram carinho, apoio e compreensão. Agradeço à você Jorge, por toda paciência,
por ter estudado comigo sempre que precisei... obrigada pelo teu carinho, alegria,
atenção, tua vibração com as minhas conquistas e teu ombro em cada momento
difícil que você ajudou a atravessar. Sem você, essa conquista não teria o mesmo
gosto. Obrigada meu amor. Te amo.
Agradeço aos meus cachorros (Paco Thor e Lili), que muitas vezes tiveram
que me ouvir, enquanto eu confabulava minhas teorias e estudava durante a noite....
foram eles que despertaram em mim a vontade e a garra para chegar onde cheguei.
Agradeço aos meus amigos, em especial Laila e Nathalia... minhas amigas
pra vida toda, que sempre estiveram ao meu lado e me ajudaram em tudo, me
dando força e estímulo para continuar quando pensava em desistir... vocês fizeram a
diferença na minha vida nesses últimos 5 anos.
Agradeço finalmente e não menos importante, ao meu professor e orientador
Arnaldo Rocha, por ter transmitido todo seu conhecimento para que eu pudesse
realizar este trabalho, acreditando e me incentivando sempre.
Obrigada a todos vocês!
5
“Chegará um dia no qual os homens conhecerão
o intimo dos animais, e nesse dia, um crime contra
um animal será considerado crime contra a
humanidade”.
(Leonardo da Vinci)
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RESUMO
A giardíase é considerada uma doença entérica causada por protozoário,
sendo importante em cães e gatos, pois é uma enfermidade emergente. A Giardia
lamblia é um protozoário flagelado que acomete mais comumente animais jovens,
sem resistência imunológica e que convivem em grupos. Os cistos da Giardia
lamblia apresentam resistência ambiental. Apesar da alta prevalência, nem todos os
animais manifestam a doença. A giardíase é considerada uma zoonose e um
problema de saúde pública em todo mundo. É um exemplo clássico de doença de
veiculação hídrica, o que possibilita sua disseminação entre os animais e os
homens. Assim, medidas de controle e prevenção, juntamente com a educação dos
proprietários dos animais, tornam-se extremamente importante para o controle da
giardíase. O tratamento pode fornecer um controle eficaz, mas, em muitas situações,
as reinfecções são comuns, devido à dificuldade em se eliminar a fonte de infecção
do meio ambiente. Para avaliar o grau de conhecimento popular sobre o parasita
Giardia lamblia, foi aplicado um questionário à cento e dez pessoas, cujas respostas
foram analisadas e interpretadas. O resultado obtido diante das perguntas
realizadas, foi de que a maioria das pessoas (65%) não sabem o que é uma
zoonose; quase a mesma proporção foi dada para o conhecimento da Giardia
lamblia, que também teve a maior parte da amostra (62%) declarando não ter
conhecimento sobre o parasita. Quando questionados sobre as manifestações,
novamente a maioria das pessoas (58%) não sabem, porém, dentre os que têm
conhecimento, a diarréia é a mais citada.Devido a grande falta de informação, a
maioria das pessoas também demonstram falta de conhecimento sobre como ocorre
a transmissão (60%), profilaxia (55%) e se a giardíase pode levara morte (48%).
Palavras-Chave: Giardia lamblia; giardíase; conhecimento popular.
7
ABSTRACT
Giardiasis can be considered as the most important protozoa enteric disease
in dogs and cats because it is an emerging disease. The Giardia lamblia is a
protozoan that commonly infects young animals which live in groups. The cysts of
Giardia lamblia have enveronmental resistance. Despite its high prevalence many
animals don’t exhibit clinical signs. Giardiasis is considered a zoonotic disease and a
public health problem worldwide. It is a classical example of a water-borne
desease,which facilitates its dessimination among animals, including man. Thus,
measures of control and prevention, allied to orientationof the pet owners, are
extremely important for the control of giardiasis. The treatment can provide effective
control, but in many situations, re-infections are common due to the difficulty in
eliminating the source of infection of the environment. To assess the level of popular
knowlwdge of the parasite Giardia lamblia, a questionaire was adiministered to one
hundred and ten people. These responses were analized, interpreted and turn into
results. The result obtained on the questions asked was that most people (65%) did
not know what is a zoonosis, about the same proportion was given to the knowledge
of Giardia lamblia, which included the majority of the sample (62 %) stating it had no
knowledge about the parasite. When asked about the demonstrations, again most
people (58%) did not know, however, among those who have knowledge, diarrhea is
the most citada.Devido a severe lack of information, most people also experience a
lack of knowledge about as is the transmission (60%), prophylaxis (55%) and
giardiasis can be brought death (48%).
Keywords: Giardia lamblia, giardiasis,popular knoledge.
8
LISTA DE FIGURAS
Figura 1- Trofozoítos de Giardia lamblia através de microscopia eletrônica..............16
Figura 2- Identificação das partes dos trofozoítos......................................................16
Figura 3- Cistos de Giardia lamblia............................................................................17
Figura 4- Ciclo biológico da Giardia lamblia ..............................................................18
Figura 5- Trofozoítos de Giardia lamblia no intestino.................................................20
Figura 6- Percentagem de indivíduos que conhecem ou não conhecem o sentido da
palavra zoonose.........................................................................................................30
Figura 7- Porcentagem de indivíduos da amostra que conhecem o parasita Giardia
lamblia........................................................................................................................31
Figura 8- Porcentagem das respostas indicadas como sendo as principais
manifestações clínicas da giardíase...........................................................................32
Figura 9- Conhecimento popular sobre a transmissão da Giardia lamblia.................33
Figura 10- Porcentagem das respostas referentes às principais medidas de profilaxia
da giardíase................................................................................................................34
Figura 11- Porcentagem relacionada às respostas sobre letalidade do protozoário
Giardia lamblia............................................................................................................35
9
LISTA DE TABELAS
Tabela 1- Doses recomendadas e efeitos secundários de princípios ativos contra
Giardia lamblia............................................................................................................26
10
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................11
2 OBJETIVO .........................................................................................................12
3 MATERIAL E MÉTODOS ..................................................................................13
3.1 Revisão bibliográfica..................................................................................13
3.2 População e amostra em estudo...............................................................13
3.3 Período......................................................................................................13
3.4 Questionário...............................................................................................13
3.5 Análise das respostas................................................................................14
4 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA SOBRE Giardia lamblia .....................................15
4.1 Morfologia e Estruturas da Giardia lamblia................................................15
4.2 Ciclo de vida..............................................................................................17
4.3 Patogenia...................................................................................................19
4.4 Aspectos Imunológicos..............................................................................20
4.5 Manifestações Clinicas..............................................................................20
4.6 Diagnóstico................................................................................................21
4.6.1 Exame direto das fezes....................................................................22
4.6.2 Teste de Flutuação em sulfato de zinco 33% com centrifugação.....23
4.6.3 Aspiração Duodenal..........................................................................23
4.6.4 Teste ELISA......................................................................................24
4.6.5 Outros métodos.................................................................................24
4.7 Tratamento.................................................................................................24
4.8 Prognóstico................................................................................................27
4.9 Controle e Prevenção................................................................................27
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO DA PESQUISA SOBRE O CONHEC IMENTO
POPULAR DA Giardia / GIARDÍASE .......................................................................30
6 CONCLUSÕES.......................................................................................................36
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................37
11
1 INTRODUÇÃO
De acordo com OLSON, 2000, a Giardia lamblia foi observada pela primeira
vez por Leeuwenhoek, em 1681, em suas próprias fezes. Foi reconhecida como
zoonose pela Organização Mundial de Saúde em 1979, porém, tem sido uma grande
questão de debate o papel que os animais domésticos desempenham no ciclo
zoonótico da doença.
A Giardia lamblia é considerada atualmente um parasita intestinal
cosmopolita, sendo um protozoário flagelado, binucleado e com motilidade ativa. As
infecções resultam da ingestão acidental de cistos presentes nas fezes, águas ou
alimentos e, para humanos, o contato com os animais também é uma importante
fonte de infecção. Em algumas regiões do mundo é considerado o protozoário mais
prevalente e importante de humanos e animais domésticos (ZAJAC, 1992).
De acordo com VASCONCELOS (2003), a prevalência da infecção em cães,
encontra-se entre 12 e 50%, variação devido à susceptibilidade do hospedeiro e à
técnica de diagnostico empregada. No Brasil, foi observada prevalência de até 32%
em cães mantidos em canis. Em cães adultos, a infecção costuma ser
assintomática, e raramente é detectada. Já em animais jovens, com idade inferior a
um ano, os sinais clínicos podem estar presentes e a identificação do parasita é
mais facilmente obtida. Por outro lado, em gatos a prevalência é menor, variando
entre 1,4 a 11%.
12
2 OBJETIVO
O presente estudo teve como objetivo revisar a bibliografia, com o intuito de
reunir informações sobre Giardia lamblia a e giardíase, além de investigar sobre o
conhecimento das pessoas sobre este protozoário e a doença que causa.
13
3 MATERIAL E MÉTODOS
3.1 Revisão bibliográfica Para a revisão utilizou-se textos científicos de periódicos, livros e sítios na
internet, abrangendo o período de 1983 a 2006 e as bases de dados Scielo; Sibi
(Sistema integrado de bibliotecas – Universidade de São Paulo); acervo da
biblioteca da faculdade de medicina veterinária e zootecnia da Universidade de São
Paulo; acervo da biblioteca da Faculdade Metropolitanas Unidas - FMU e acervo da
biblioteca do instituto de ciências biomédicas da Universidade de São Paulo, e
buscando pelas palavras-chave: Giardia, giardíase e conhecimento popular.
3.2 População e amostra em estudo
No inquérito, a população em estudo, foi constituída por pessoas que habitam a
zona norte de São Paulo, nas regiões de Vila Maria alta e baixa, e as que habitam a
zona leste, na região do Aricanduva.
A amostra foi constituída por 110 pessoas que habitam as regiões mencionadas
acima, das quais 50 são da zona norte, sendo 30 da Vila Maria Baixa e 20 da Vila
Maria alta, e as outras 60, da zona Leste, no Aricanduva.
3.3 Período
O estudo foi realizado no período de Agosto a Setembro de 2009.
3.4 Questionário
Foi realizado uma pesquisa de natureza qualitativa e quantitativa.
Após a obtenção de autorização para utilização de respostas para uma
pesquisa científica, cento e dez pessoas responderam ao questionário com as
seguintes perguntas:
- O que é uma zoonose?
- O que é uma Giardia lamblia?
- Quais as principais manifestações clínicas da giardíase?
- Como ocorre a transmissão da Giardia lamblia?
14
- Quais as principais medidas de profilaxia da giardíase?
- A giardíase pode causar a morte?
3.5 Análise das respostas
As respostas foram analisadas quanto à freqüência e qualidade,
caracterizando uma pesquisa qualitativa e quantitativa.
15
4 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA SOBRE Giardia lamblia
A seguir, alguns aspectos sobre a Giardia lamblia serão desenvolvidos e logo
após, será abordada a pesquisa sobre o que as pessoas sabem a respeito deste
parasita.
4.1 Morfologia e Estruturas da Giardia lamblia
O protozoário apresenta duas formas simples de vida: o trofozoíto (Figura 1),
que parasita o intestino delgado, e o cisto, encontrado nas fezes e responsável pela
contaminação do ambiente e pela disseminação da doença.O trofozoíto tem formato
piriforme e mede de 10 a 15µm de comprimento por 6 a 10 µm de largura
(SLOSS,1999). O citoesqueleto, como mostrado na Figura 2, inclui dois axonemas, 4
pares de flagelos (anterior, posterior, caudal e ventral) e um disco suctorial na face
ventral, sendo esta estrutura a responsável pela fixação do parasita ao epitélio
intestinal (ADAM, 2001), impedindo assim a sua eliminação pelo peristaltismo
intestinal que, a ocorrer, se traduziria na morte do parasita. Os trofozoítos têm dois
núcleos ativos, com cariossoma central, sem nucléolos, posicionados anteriormente
e simétricos relativamente ao plano longitudinal (KABNICK & PEATTIE, 1990).
O estágio infectante é o cisto (Figura 3), que mede de 8 a 12 µm de
comprimento por 7 a 10 µm de largura. Possui quatro núcleos e é envolvido por uma
parede proteinácea fibrosa.O cisto é imóvel e resistente no meio ambiente,
constituindo a forma latente do parasita (OLIVEIRA, 2002). A forma cística pode
sobreviver por vários meses no meio ambiente úmido e frio. As temperaturas ótimas
para a sobrevivência dos cistos na água variam de 4 a 8ºC, podendo permanecer na
água por até dois meses. No entanto, ela é pouco resistente em locais com baixa
umidade e temperaturas elevadas. O congelamento prolongado e as temperaturas
superiores a 20ºC danificam os cistos, a ebulição os destrói instantaneamente e a
dessecação e a radiação ultravioleta os inativam em 24 horas.
16
Figura 1: Trofozoítos de Giardia lamblia através de microscopia eletrônica.
Fonte:http://www.manualmerck.net/?url=/artigos/%3Fid%3d210%26cn%3d
Figura 2: Identificação das partes dos trofozoítos de Giardia lamblia.
Fonte: www.sciencedirect.com
17
Figura 3: Cistos de Giardia lamblia.
Fonte:www.ufrgs.br/parasite/Imagensatlas/Protozoa/Imagens/giardiatrofo
4.2 Ciclo de Vida
A Giardia lamblia tem um ciclo de vida direto (Figura 4), ou seja, não
necessita de hospedeiros intermediários ou vetores. O animal se infecta ao ingerir o
cisto, que poderá estar presente em alimento ou água contaminada. O cisto sofre
desencistamento por ação do ácido clorídrico e enzimas pancreáticas, liberando
então 2 trofozoítos que constituem a forma ativa da giárdia. Tais trofozoítos se
instalam no duodeno e jejuno do hospedeiro, fixando-se à mucosa intestinal
(FARTHING, 1994).
Segundo ADAM (1991), essa fixação pode decorrer de três mecanismos: por
meio de uma força de sucção gerada abaixo do disco ventral do trofozoíto; pela
contração de elementos protéicos do disco ventral e do flagelo ventrolateral; pela
ligação entre proteínas do protozoário e receptores das células epiteliais do
hospedeiro.
Após a instalação dos trofozoítos de Giardia lamblia na mucosa do
hospedeiro, tem início a reprodução assexuada por fissão binária. Os mecanismos
que promovem o encistamento dos trofozoítos na porção final do intestino delgado
ainda são desconhecidos.
18
Figura 4: Ciclo de vida da Giardia lamblia.
Fonte : www.foyel.com/cartillas/imagenes/1115292796.jpg
A transmissão ocorre através da rota fecal-oral, ou por meio de água
contaminada. A ingestão de somente 10 cistos é capaz de causar a infecção (WOLF,
1992).
A coprofagia, comum em animais, é uma via significativa de auto-infecção e
amplifica a disseminação da enfermidade nas populações. A contaminação fecal em
lojas veterinárias, canis e abrigos de animais, ou num simples passeio, pelo contato
com fezes contaminadas, ou até por cistos que podem ficar aderidos ao pelo do cão
também são consideradas importantes fontes de transmissão, já que os cistos
podem permanecer infectantes no meio ambiente, principalmente em locais úmidos
e frios por meses ( BARR , BOWMAN, 1994).
A contaminação de efluentes com fezes de animais infectados pode favorecer
a disseminação em humanos e animais (reservatórios de água não tratada ou
filtrada). Animais que freqüentemente tem acesso a lagos e piscinas, incluindo
aquelas destinadas a tratamentos fisioterápico, tem seu risco de infecção
aumentado, pois os cistos de Giardia lamblia podem sobreviver em água durante
vários meses.
19
4.3 Patogenia
Apesar da alta prevalência, nem todos os animais apresentam a doença
clínica. Mesmo assim, a Giardia lamblia tem importância epidemiológica pela sua
prevalência, severidade dos sinais clínicos (quando presentes), além de possuir um
elevado potencial zoonótico ( BARR , BOWMAN, 1994).
O intestino delgado colonizado com Giardia lamblia, com freqüência está
cheio de muco e líquido, e mostra problemas na atividade das enzimas digestivas
(amilase, protease, lipase, dissacaridase). A má absorção clínica, em casos de
giardiase, está associada com a atrofia severa das vilosidades e hiperplasia das
criptas. (BURET, 1994)
Quando os trofozoítos do parasita colonizam o intestino delgado como
mostrado na Figura 5, causam uma redução difusa da altura das microvilosidades, e,
portanto, uma perda generalizada da superfície de absorção (BURET,1994). Esta
redução produz má absorção de glicose, eletrólitos e água, e afeta adversamente a
digestão ao reduzir a atividade da dissacaridase. É observado um aumento na
motilidade intestinal nos animais infectados experimentalmente. Em resumo, a
infecção por Giardia lamblia gera má absorção intestinal, má digestão e
hipermotilidade, responsáveis pelo menos em parte, pela diarréia observada. Por
último, recentemente foi demonstrado que a giardíase causa um aumento na
absorção de macromoléculas do intestino, associado com hiperplasia de células
adiposas neste órgão e no tecido cutâneo (DESELLIERS, 1997).
Estes achados sugerem que os sintomas alérgicos, observados durante e
depois das infecções com Giardia lamblia, podem ser o resultado da sensibilização
do hospedeiro às proteínas dos alimentos e/ou do parasita.
As espécies de Giardia lamblia isoladas de mamíferos apresentam aspectos
morfológicos e propriedades antigênicas, genéticas e bioquímicas similares (LEIB,
1999), porém, possuem graus variados de patogenicidade, assim a resposta imune
do hospedeiro exerce um papel sobre a forma clínica ou assintomática da infecção,
sendo que os quadros mais graves acometem os animais jovens imunossuprimidos.
20
Figura 5: Trofozoíto de Giardia lamblia no intestino.
Fonte: http:// cdfound.to.it/img/giardia-06-400x.jpg
4.4 Aspectos Imunológicos
Os níveis de imunoglobulinas circulantes nos animais que já se infectaram
com Giardia lamblia são similares aos medidos nos animais não infectados. A
incapacidade do animal de formar uma forte resposta imunológica pode ser devido à
natureza intraluminal e não invasiva do parasito.
As imunoglobulinas IgA e IgG do soro são responsáveis por uma resposta
imune protetora. As IgA(s) interferem na aderência do parasita à mucosa recobrindo
os trofozoítos, a IgM(s) e a IgG(s), a atividade macrofágica e a atividade de
monócitos e neutrófilos, são os principais elementos da resposta imune envolvidos
no combate à Giardia (THOMPSON, 1993).
4.5 Manifestações Clínicas
A duração média dos sintomas varia entre as 3 e as 10 semanas (BACKER,
2000). A percentagem de indivíduos infectados, que pode permanecer
assintomática, pode atingir os 60% (BICHARD , SHERDING, 1998). A duração
média da doença, em surtos epidêmicos, é de seis semanas. No que respeita à
sintomatologia, quando existe, é variada, encontrando-se associada a um amplo
espectro de quadros clínicos que se estendem desde uma enterite leve e
21
autolimitante, até diarréias crônicas e debilitantes, com esteatorréia e perda de peso
(WOLFE, 1992). O início dos sintomas pode ser abrupto: diarréia aquosa, dor
abdominal, febre, vômitos e mal estar geral, ou gradual, com sintomatologia crônica,
intermitente, por vezes debilitante, caracterizada por evacuações moles ou diarréicas
de odor fétido com muco, flatulência, distensão abdominal e anorexia (THOMPSON,
1993). As apresentações menos freqüentes incluem manifestações alérgicas, tais
como urticária, eritema multiforme e broncospasmo (SLOSS, 1999).
Os casos crônicos podem surgir associados ao comprometimento da
absorção de açúcares (glicose, lactose e D-xilose), gorduras e vitaminas
lipossolúveis, podendo originar, principalmente nos filhotes, perda acentuada de
peso e alterações no crescimento (WOLF, 1992 e HILL, 1993). A deficiência
secundária das vitaminas lipossolúveis resulta em uma pele ressecada.
4.6 Diagnóstico
O diagnóstico parasitológico da Giardíase poderá ser feito em fezes diarréicas
como em fezes normais, sendo que em fezes diarréicas encontramos mais
facilmente as formas trofozoítas e aconselha–se o exame direto das fezes logo após
sua emissão. Já em fezes normais encontramos mais freqüentemente cistos
isolados a partir dos métodos, de concentração, baseados na de flutuação dos cistos
(BRITO,2006).
Não se deve descartar a doença na ausência de trofozoítas e cistos com a
realização de apenas um exame, pois existem falsos negativos. Diminui – se esse
erro aumentando o número de amostras submetidas à análise. Deve -se levar em
consideração o período de pré patência, que geralmente é de 1 a 2 semanas, assim
para confirmar diagnóstico negativo devemos realizar 3 exames seqüenciais com
intervalo de uma semana cada um (CONBOY,1996).
A Giardia é um microorganismo muito sensível e têm a morfologia alterada
facilmente quando fora do organismo hospedeiro, por isso, conservantes com MIF
(Merthiolate-Iodo-Formol) ou SAF (Ácido acético, Acetato de sódio e formol), podem
ser oferecidos pelo laboratório clínico e ajudam a manter os microorganismos em
sua morfologia, mesmo fora de refrigeração (BRITO, 2006).
22
Flutuação fecal é o exame mais utilizado para diagnóstico de Giardia lamblia.
Utilizam-se soluções saturadas de sulfato de zinco a 33% ou de açúcar, que
permitem o diagnóstico na maioria dos casos, pois tem a vantagem de causar
menos distorção nos cistos de Giardia que as soluções saturadas de sal
(CONBOY,1996). O sulfato de zinco é a solução de escolha, apesar de ser um
pouco mais cara que os outros sais comumente usados (SLOSS, 1999).
Um teste alternativo é o imunoensaio enzimático (ELISA), método que
apresenta sensibilidade superior ao da microscopia (GARCIA e BRUCKNER,1993).
A Giardíase também pode ser diagnosticada através da amostra de líquido duodenal
colhido com um dispositivo constituído por fio de nylon que é ingerido pelo paciente
com uma extremidade livre, que é afixada na boca, e a outra com uma cápsula que
permite a coleta de conteúdo intestinal. O método imunoenzimático qualitativo
(Ensaio em microplaca Alexon ProSect Giardia) para a detecção do coproantígeno
específico para a Giardia (GSA65) foi recentemente avaliado. No Brasil este teste
foi utilizado pela primeira vez em amostras provenientes de pacientes de Belo
Horizonte, mostrando-se sensível e específico para o diagnóstico da Giardíase.
Podemos também diagnosticar através da técnica de Imunoseparação
Magnética, acoplada à Imunofluorescência (IMS-IFA) que é uma técnica no uso de
corpos magnéticos conjugados para específicos anticorpos monoclonais contra
marcadores de superfície do protozoário em questão, a utilização desta técnica
como procedimento de rotina permite o processamento de várias amostras
simultaneamente (SOUZA, 2003).
4.6.1 Exame direto das fezes
De acordo com SLOSS (1999), as fezes frescas devem ser diluídas em
solução fisiológica e então, observar se há presença de trofozoítos em microscópio
óptico com objetiva de 400 vezes. Alguns técnicos preferem adicionar uma gota de
corante tricromo na lâmina para evidenciar as estruturas. Os trofozoítos são
reconhecidos pela sua movimentação rápida e superfície ventral côncava, os cistos
são de difícil visualização através desse método. Segundo SOUZA (2003), para
realizar o esfregaço direto, deve-se pegar uma pequena quantidade de fezes e
coloca-la sobre uma lâmina e misturar cuidadosamente com uma gota de NaCl a
23
0,9%. Posteriormente coloca – se uma lamínula e se observa em microscópio óptico
com aumento de 100 vezes.
4.6.2 Teste de Flutuação em sulfato de zinco 33% co m centrifugação (Método
de Faust).
1. Misturar aproximadamente 2 gramas de fezes do animal com suspeita
de Giardiase com 15ml de solução a 33% de sulfato de zinco, 33
gramas de sulfato de zinco em 100ml de água destilada, gravidade
específica de 1018.
2. Filtrar a solução
3. Colocar o filtro num tubo de centrífuga de 15 mL
4. Colocar o tubo na centrífuga
5. Centrifugar a 1.500 rpm por 3 a 5 minutos.
6. Retirar 1 a 2 gotas da superfície e colocar em lâmina/ lamínula.
Visualizar em microscópio.
Observação: Nos casos de esteatorréia, é interessante realizar a
sedimentação com éter: Misturar a amostra com água, filtrar e colocar em um tubo
de centrífuga com 2 a 3 mL de éter. Após a centrifugação, retirar o sobrenadante.
Ressuspender o pellet, e analisar uma gota em lâmina/ lamínula. A existência de
cistos deve ser observada com a amostra concentrada, por isso esta etapa é de
fundamental importância (ZAJAC, 1992).
4.6.3 Aspiração Duodenal
Este método só é realizado quando não conseguimos diagnosticar a Giardia
através de outro método de diagnóstico, já descartando outras possíveis causas e a
infecção ainda continua presente, continuamos suspeitar da Giardia.De acordo com
DE CARLLI (2001), a aspiração duodenal é um método invasivo, pois o paciente
precisa estar anestesiado, colocando-o em relativo risco. Além disso, é muito caro
quando comparado à técnica anteriormente descrita. Ele consiste na introdução de
um endoscópio para que seja injetado uma solução salina com cerca de 10ml e em
seguida aspira-se essa mesma quantidade para que então seja centrifugada e
examinada ao microscópio para exame coproparasitológico (PITTS, 1983).
24
4.6.4 Teste de Elisa
Este método é muito simples de ser realizado. A conveniência é dada pela
rapidez e objetividade dada sua simplicidade, podendo ser diagnosticadas várias
amostras em um curto espaço de tempo. Sendo uma segunda opção uma vez que o
método de flutuação, primeira opção, é mais econômico.
São kits que têm a finalidade de detectar nas fezes os antígenos específicos
produzidos pela multiplicação intestinal da Giardia lamblia, ou seja, não depende da
presença de cistos ou trofozoítos na amostra, e esta, pode ser fresca, refrigerada ou
até mesmo congelada, onde neste último caso pode ser utilizada após seis meses
da sua obtenção (BRITO, 2006).
4.6.5 Outros Métodos
Há ainda métodos novos de diagnósticos que vem sendo estudados para
serem utilizados em larga escala, mas que ainda não estão disponibilizados para a
grande maioria das clínicas, são os casos do Exame de PCR (Polimerase Chain
Reaction) e de Imunofluorescência (THOMPSON, 1993). O diagnóstico também
pode ser dado através da avaliação citológica da mucosa duodenal com presença
de Giardia.
4.7 Tratamento
Várias drogas usadas no tratamento da giardíase apresentam bons resultados
no combate ao parasita, porém, algumas causam efeitos colaterais (Tabela 1). O
metronidazol tem sido o agente quimioterápico de eleição, apesar dos efeitos
secundários que estão associados e das resistências que começam a ser
conhecidas. Segundo GENNARI e SOUZA, (2002), os derivados mebendazol e
albendazol, que são muito utilizados como anti-helmínticos de largo espectro, têm
sido investigados no que diz respeito à possível atividade giardicida, com obtenção
de bons resultados.
De acordo com OLSON (2002), nos últimos anos, estudos moleculares tem
permitido observar a grande variabilidade genética do gênero Giardia lamblia,
25
variações estas que podem explicar as diferentes respostas aos tratamentos
convencionais, bem como suas diferenças de virulência e de especificidade para
hospedeiros.
A quinacrina é eficaz; essa droga mostrou destruir grande porcentagem de
trofozoítos, reduz a sua multiplicação e produz alterações morfológicas no
protozoário. Essas alterações ocorrem provavelmente por que a quinacrina se liga
ao DNA parasitário impedindo a síntese da ácidos nucléicos. Essa droga apresenta
100% de eficácia para a giardíase, mas pode provocar efeitos colaterais como,
anorexia, vômito, hipertermia, distúrbios intestinais (OLSON, 2002).
A furazolidona é um derivado nitrofurânico considerado importante no
combate às bactérias gram positivas e gram negativas e à alguns protozoários. O
seu mecanismo de ação não é bem esclarecido; sabe-se que a morte dos
protozoários ocorre por danos ao DNA causados direta ou indiretamente via radicais
livres. Segundo THOMPSON (1993), a furazolidona (15 dias de tratamento) é
semelhante na sua eficácia ao metronidazol, e se apresenta sob forma de
suspensão oral, facilitando o tratamento de filhotes.
O metronidazol é a droga mais utilizada na clínica médica devido a sua
eficácia de 67% no tratamento da giardíase e ao seu baixo índice de efeitos
colaterais, no entanto, alguns animais poderão apresentar vômitos e diarréias
(REDDY, 1992). Por possuir efeito teratogênico, esta droga não deve ser utilizada
em fêmeas prenhes (BARR , BOWMAN, 1994).
O tinidazol é bastante similar ao metronidazol e possui sua meia vida maior, o
que possibilita o seu emprego uma vez ao dia (THOMPSON, 1993).
O ipronidazol demonstra grande eficiência para tratamento e controle da
giardíase. Não apresenta efeitos tóxicos, porém com o uso prolongado, pode
provocar os mesmos efeitos colaterais que o metronidazol. O tratamento com este
medicamento é recomendado quando muitos animais devem ser tratados
simultaneamente, já que esse fármaco pode ser adicionado a água de bebida e tem
um baixo custo (THOMPSON, 1993).
O tratamento com o benzimidazóis tem aumentado em decorrência de sua
baixa toxicidade, baixo custo e amplo espectro da ação contra parasitoses intestinais
(ZAJAC, 1992). Seu mecanismo de ação consiste na sua ligação à tubulina,
impedindo assim a formação dos microtúbulos que constituem o citoesqueleto do
protozoário Giardia, o que compromete suas funções locomotoras e reprodutoras
26
(BARR e Bowman, 1994). A vantagem do tratamento com o benzimidazól é seu
baixo efeito colateral e amplo espectro de ação contra outros parasitas
(THOMPSON, 1993).
Tabela 1: Doses recomendadas e efeitos secundários de princípios ativos contra Giardia. Fonte: modificado de GARDNER & HILL, 2001.
Principio Ativo Nome Comercial Dose Efeitos Colaterais Contra indicação
Quinacrina
Atabriine
Winthrop
Cães: 6,6 mg/kg BID
durante 5 dias.
Gatos: 2,3 mg/kg. SID durante 12
dias.
Vômitos Letargia
Hipertermia Anorexia Diarréia
Gestantes
Furazolidona
Giarlam
Furoxoni
4 mg/kg. BID durante 15
dias
Vomito Náusea Cefaléia
Reação de hipersensibilidad
e Prurido Erupção vesicular
Pacientes com hipersensibilida
de a droga
Filhotes com menos de 1 mês de vida
Metronidazol
Flagyl
Metronidazol
Searle
Cães: 25-65 mg/kg. BID
durante 5 dias
Gatos: 10-25 mg/kg BID
durante 5 dias
Dor em membro Prurido
Convulsão Diarréia Náusea Vomito
Anorexia Ação
mutagenica
Eplepticos Cardiopatas Hepatopatas
Gestantes Animal com
discrasia sanguíneas
Tinidazol
Amplium
Facyl
Nidazol
Pletil
44 mg/kg SID durante 3 dias
Náusea Anorexia Cefaléia
Leucopenia Reação de
hipersensibilidade
Gestante
Lactante
Tabela 1: Doses recomendadas e efeitos secundários de princípios ativos contra Giardia. Fonte: modificado de GARDNER & HILL, 2001. (Continuação)
27
Ipronidazol
Ipropan
126 mg em 1 litro de água
durante 7 dias consecutivos, e na dose de 378 mg/L por mais 7 dias
Igual ao metronidazol
Gestantes
Mebendazol
Telmínc
Sirben
Mebendazol
Pantelmin
100 mg/kg SID durante 3 dias
Hipertermia Diarréia Náusea
Erupção cutânea Vonito
Leucopenia e neutropenia em casos de doses
altas
Gestantes
Eplepticos
Portador de sensibilidade
benzimidazolico
Fenbendazol
Panacur
50 mg/kg TID durante 3-5
dias
____ ____
Albendazol
Parasin
Zolben
Vermital
Zentel
25 mg/kg BID durante 10
dias
Cefaléia Dor epigástrica
Hipertermia Prurido Vomito Diarreia
Gestante Lactante
Portador de hipersensibilida
de benzimidazolic
o
4.8 Prognóstico
Segundo ROSEZ (2002), pode-se considerar o prognóstico bom, desde que
se consiga eliminar totalmente os microrganismos causadores da infecção do
paciente e também do ambiente, além de assegurar que a água e o alimento não se
contaminem com os protozoários, reduzindo a possibilidade de reinfecção do
paciente com alta médica.
4.9 Controle e Prevenção
A grande dificuldade na eliminação total do parasito, mesmo após a aplicação
de tratamentos, é a presença de animais portadores assintomáticos, o que torna as
medidas de profilaxia ainda mais importantes (BARR , BOWMANN, 1994).
28
Para que haja um ótimo controle, três pontos são essenciais: desinfecção do
meio ambiente, desinfecção dos animais e prevenção da reinfecção.
Antes de se iniciar a desinfecção do ambiente, as fezes e qualquer outra
matéria orgânica deve ser retirada do local para então a desinfecção ser realizada.
Na desinfecção do ambiente, pode-se usar água fervente ou solução de amônia
quaternária, deixando agir por 40 minutos no local. Antes de se introduzir os animais
no local, o ambiente deve estar totalmente seco, visto que a Giardia lamblia é pouco
resistente em locais seco.
Para desinfeccionar os animais, antes de retornar ao local, estes devem
tomar banhos com xampu, e visando sempre a eliminação dos cistos que se
encontram aderidos à pelagem, principalmente na região perianal. Após o enxágüe,
uma solução de amônia quaternária deve ser usada, agindo por 5 minutos e então
se enxágua o animal e o seca.
De acordo com LEVESQUE (2003), para se evitar novas infecções, deve-se
evitar a reintrodução do parasita. Para isso, todos os novos animais deverão ser
mantidos separados, tratados para a Giardia e limpos antes de serem introduzidos
na criação. Um pedilúvio com uma solução de amônia quaternária pode ser posto na
entrada do estabelecimento (BARR , BOWMANN, 1994). Deve-se realizar em canis
de forma sistemática, exames parasitológicos antes, durante e após qualquer
tratamento.
Segundo CAPUANO (2006), é necessário a implantação de programas
sanitários como o controle de cães errantes, a formulação de leis com a finalidade
de se evitar o acesso de cães em áreas públicas.
Atualmente, a prevenção da giardíase em cães pode ser realizada com o
emprego de uma vacina específica. A vacina reduz o número de cistos e previne os
sinais clínicos de giardíase em cães. Esta vacina foi licenciada no Canadá e consiste
de trofozoítos inativados quimicamente. A vacina é indicada para cães sadios a partir
de 8 semanas de idade, como auxiliar na prevenção da doença clínica causada por
Giardia lamblia.
Deve-se aplicar uma dose de 1 mL por via subcutânea, assepticamente. Uma
segunda dose deve ser aplicada de duas a quatro semanas após a primeira
vacinação. Recomenda-se a vacinação anual.
29
Após a exposição natural à Giardia , alguns cães vacinados podem
eliminar poucos cistos , portanto, deve-se adotar medidas de higiene e práticas de
sanidade adequadas.
De acordo com OLSON (2002), de maneira geral, a prevenção da giardíase
inclui:
- Evitar a ingestão de água e alimentos contaminados;
- Destruir ou remover os cistos infectantes da água e do alimento através da
filtração,
- Cloração ou fervura;
- Descontaminação do ambiente com a utilização dos desinfetantes a base
de amônia quaternária;
- Tratamento de esgoto;
- Efetiva vigilância sanitária,
- Treinamento dos manipuladores de alimentos;
- Educação sanitária da população;
- Mudanças nas condições ambientais em áreas carentes;
- Tratamento de pessoas e animais infectados, sintomáticos ou não;
- Uso de vacina.
30
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO DA PESQUISA SOBRE
CONHECIMENTO POPULAR DA Giardia / GIARDÍASE
Como pode ser verificado na Figura 6, das 110 pessoas que participaram da
pesquisa, setenta e duas delas, o que correspondem a 65%, não sabem o que
significa a palavra zoonose, e trinta e oito delas, correspondendo a 35%, relatam
saber. O critério adotado para a aceitação das respostas, foi que zoonoses são
doenças que podem ser transmitidas de animais para o homem, e vice-versa. Neste
caso, a maioria das pessoas não sabem do que se trata devido à falta de informação
e divulgação. Para essas pessoas, a palavra zoonose se refere à unidades de saúde
pública, que promovem a adoção de animais de estimação, que realizam a captura
de animais errantes, enfim, elas se referem ao Centro de Controle de Zoonoses
(CCZ). Já a minoria restante, apresenta conhecimento, pois talvez já tiveram
experiência familiar ou com animais, acometidos por uma zoonose.
SIM35%
NÃO65%
Figura 6: Percentagem de indivíduos que conhecem ou não conhecem o
sentido da palavra zoonose
Quando perguntado sobre o conhecimento que as pessoas têm sobre o
protozoário parasita Giardia lamblia, 68 delas, o que corresponde a 62%, relatam
não ter conhecimento sobre a Giardia lamblia, no entanto, 42 delas, o que
corresponde a 38%, relatam conhece-la, como pode ser verificado na figura 7. A
grande parte das pessoas relatam não saber, já que este assunto não é abordado
31
na mídia televisiva, jornais impressos ou outros meios de divulgação popular, motivo
pelo qual, as pessoas de forma geral não a conheçam.
SIM38%
NÃO62%
Figura 7: Porcentagem de indivíduos da amostra que conhecem o parasita
Giardia lamblia
Na figura 8, pode-se verificar quedo total de 110 pessoas, 70 delas, o que
corresponde a 58%, não apresentam conhecimento sobre as manifestações da
giardiase, entretanto, 40 delas relatam saber pelo menos algumas manifestações,
sendo que a resposta com mais freqüência, foi diarréia, dada por 25 pessoas,
correspondendo a 21%, seguida por dores abdominais, em que 10 pessoas
responderam, o que corresponde a 8%. Logo após, 7 pessoas indicaram emese
como uma das principais manifestações, correspondendo a 6% e perda de peso,
respondida por 5 pessoas indicando 4%. Desidratação foi uma das respostas dada
por somente 2 pessoas, equivalendo a 2% e febre respondida por 1 pessoa,
correspondendo a 1%. Curiosamente, como pode se perceber, mais pessoas
descreveram as manifestações da giardíase do que aqueles que disseram conhece-
la. Será que não entenderam a pergunta? Ou será que mesmo sem conhecer
exatamente a Giardia, sabem as alterações orgânicas que podem causar em seus
hospedeiros? Pelo menos ficou claro que a manifestação mais conhecida da
giardíase é a diarréia.
32
Dores Abdominais
8%
Diarreia21%
Emese6%
Perda de Peso4%
Febre1%
Desidratação2%
Não sabe58%
Figura 8: Porcentagem das respostas indicadas como sendo as principais
manifestações clínicas da giardíase
A respeito da transmissão de Giardia lamblia, 78 pessoas (60%) relataram
desconhecer a forma de transmissão, enquanto que 32 pessoas declararam
conhece-la, como pode ser percebido na figura 9. A resposta mais freqüente sobre a
possibilidade de transmissão, foi dada por 23 pessoas, que relatam ser através de
fezes de animais contaminados, correspondendo a 18%, seguido por 16 pessoas
equivalendo a 12% que responderam que a transmissão ocorre por alimentos mal
lavados. 8 pessoas (6%), mencionaram que a transmissão ocorre por água
contaminada, seguida por falta de higiene, que foi respondido por 5 pessoas,
equivalendo a 4%. Neste caso, também se percebe que mais pessoas responderam
saber sobre a transmissão do que aquelas que sabem o que é uma Giardia. Talvez
mesmo sem saber que a Giardia seja um protozoário parasita, saibam que ela é
transmitida via fecal-oral e isso pode ser justificado pelo fato de ser microscópico.
Outra consideração curiosa pode ser feita a respeito das respostas às perguntas
sobre zoonose e a forma de transmissão da Giardia: as pessoas podem não
conhecer o termo técnico zoonose, mas quase a metade das pessoas que
responderam sobre a transmissão, responderam que a Giardia é transmitida por
fezes de animais.
33
Fezes de Animais
18%Não sabe60%
Por Alimentos12%
Falta de higiene
4%
Agua contaminada
6%
Figura 9: Conhecimento popular sobre a transmissão da Giardia lamblia
Como demonstrado na Figura 10, percebe-se que 74 pessoas (55%) não
conhece a profilaxia para a Giardíase, porém, 36 pessoas relatam conhecer, sendo a
freqüência das respostas como se segue: 30 pessoas (22%) focariam a profilaxia na
higiene ambiental, 13 pessoas (10%) na higiene alimentar, 5 pessoas (4%)
mencionaram a profilaxia através da higiene do animal, 5 pessoas (4%) realizariam
vacinação, 4 pessoas (3%) voltariam a profilaxia para a vermifugação e 3 pessoas
(2%) evitariam o contato com animais contaminados, deste modo, percebe-se que a
maioria dos entrevistados, não sabem como proceder e isso pode ter ocorrido pelo
fato de uma parte das pessoas não saberem o que significa a palavra profilaxia,
fazendo com que elas então, respondam que não sabem a resposta. Porém, quem
sabe a profilaxia da giardíase, menciona com maior freqüência a higiene ambiental.
A higiene ambiental por si só, isoladamente, não é suficiente para o controle da
giardíase, sendo recomendado vários procedimentos como: evitar a ingestão de
água e alimentos contaminados, descontaminação do ambiente com a utilização de
desinfetantes a base de amônia quaternária, educação sanitária da população,
tratamento de pessoas e animais infectados, sintomáticos ou não e o uso de vacina.
34
Higiene com o animal
4%
Higiene ambiental
22%
Higiene alimentar
10%
Evitar contato2%
Vermifugação3%
Vacinação4%
Não sabe55%
Figura 10: Porcentagem das respostas referentes às principais medidas de
profilaxia da giardíase
De acordo com a Figura 11, quando perguntado sobre a mortalidade causada
por giardíase, 52 pessoas (48%) declararam não ter conhecimento; já 40 pessoas
(36%), acham que a giardíase pode matar, enquanto que 18 pessoas (16%) acham
que não é fatal. Neste caso, a maior parte da amostra relata não ter conhecimento
pelo fato de muitas pessoas não ter informações sobre o que é uma Giardia, sua
patogenia ou patogenicidade. Alguns entrevistados responderam de forma
equivocada que o parasita não causa morte, entretanto, o restante, respondeu que a
Giardia lamblia pode levar a morte. A Giardíase em si, não é comumente capaz de
aniquilar um animal, mas, outras infecções que se instalam em decorrência da baixa
resistência de um animal parasitado pode, com certeza, levar este animal ao óbito.
35
Não sabe48%
Não16%
Sim36%
Figura 11: Porcentagem relacionada às respostas sobre letalidade do
protozoário Giardia lamblia
Este trabalho aponta algumas falhas de conhecimento e também falhas na
divulgação do conhecimento sobre a doença parasitária em tela. Não se pode
esperar que a população conheça todas as doenças, mas doenças populares, de
veiculação hídrica e alimentar, com medidas simples de prevenção, devem ser
conhecidas de todos.
Num país onde “falta alimento de boa qualidade” para uma parcela da
população, é inadmissível dividir esses alimentos com parasitas que nos espoliam
sem trazer nada em troca.
36
6 CONCLUSÕES
- Percebe-se que a literatura científica é abundante e clara sobre os
aspectos questionados neste trabalho.
- A maioria das pessoas da amostra deste trabalho, não tem acesso as
informações sobre Giardia lamblia, ou tiveram e não assimilaram o
conhecimento.
- É um parasita de extrema importância na saúde pública devido a sua alta
freqüência e poder zoonótico, sendo imperativo que, tanto os animais
quanto as pessoas, se protejam desta parasitose.
- Percebe-se falta de conhecimento específico sobre os seguintes temas:
zoonose, Giardia lamblia, manifestações clínicas da giardíase, sua
transmissão, profilaxia e letalidade.
- O médico veterinário deve exercer um grande papel na divulgação da
doença, passando informações básicas aos proprietários, bem como
fazendo uso de cartazes em sua clínica, para que a mesma seja de
conhecimento de todos.
- A Giardíase, bem como o protozoário em si, podem ser divulgados
também através das faculdades com hospitais escolas e com programas
de extensão, que viabilizam a interação sistematizada desta com a
comunidade, contribuindo para o desenvolvimento da população,
buscando conhecimentos e experiências para a avaliação e vitalização do
ensino e da pesquisa, enfatizando sempre as questões sócio-econômicas,
educacionais, ambientais, histórico-culturais e políticas.
37
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