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R E S U M O OprojectodeinvestigaçãoPOILIXdecorredesde1999.Osseusobjectivosforamoapro-
fundamentodoconhecimentosobreasproduçõescerâmicasdeduasolarias,aníveltipoló-
gico, formal, tecnológico e arqueométrico, bem como a avaliação da sua importância nos
contextoscerâmicosdeLisboaeseuterritórioenvolvente.Nestetrabalho,apresentam-seos
conjuntoscerâmicosrecolhidosnoscontextoshabitacionaise/oudomésticos.
R É S U M É Leprojetd’investigationPOILIXs’estdéroulédepuis1999.Cesobjectifsétaientl’appro-
fondissementdesconnaissancessurlesproductionscéramiquesdedeuxateliers,danscequi
concerneleurcaractérisationtypologique,formelle,technologiqueetarchéométrique,aussi
bienquel’évaluationdeleurimportancedansplusieurscontextescéramiquesislamiquesde
Lisbonne et de son territoire d’influence. Dans cet article, nous présentons les ensembles
céramiquesexhumésdanslescontextesd’habitatet/oudomestiques.
1. POILIX – O projecto de investigação
Oprojecto“POILIX—ProduçãooleiraemLisboa,noperíodoislâmico”teveasuagéneseemduasintervençõespreventivasdearqueologiaurbana—NúcleoArqueológicodaRuadosCorreei-ros(NARC-BCP)eMandarimChinês(MC)—,naBaixadeLisboa,quedecorreramentre1991e1996(NARC-BCP:1991-95;MC:1992-96).OprojectofoifinanciadoeapoiadopeloIPA.
Consumo e utilização de recipientes cerâmicos no arrabalde ocidental da Lisboa islâmica (Núcleo Arqueológico da Rua dos Correeiros e Mandarim Chinês) JACINtABUgALhãO*
SOfIAgOMES**
MARIAJOãOSOUSA***
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 1. 2007, p. 317-343
Jacinta Bugalhão | Sofia Gomes | Maria João Sousa Consumo e utilização de recipientes cerâmicos no arrabalde ocidental da Lisboa islâmica (Núcleo Arqueológico da Rua dos Correeiros e Mandarim Chinês)
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Noperíodoislâmicoestazonaribeirinhaencontrava-seintensamenteurbanizada,integrandoo arrabalde ocidental da cidade. foram identificadas essencialmente estruturas habitacionais edomésticaseestruturasartesanaisdeproduçãooleira.
Aestratégiadeinvestigação,preconizadapeloPOILIX,consistiuemcaracterizarasprodu-ções cerâmicas, de modo a avaliar a sua relevância no universo das peças islâmicas recolhidas,recorrendo-se a três abordagensdistintas, mas complementares: atécnica — processos e técnicas defabrico; a formal — classificaçãotipológica—funcional;alaborato-rial — análise química de pastas.Estametodologiafoiaplicadaaosmateriaisprovenientesdoscontex-tos oleiros (Bugalhão, gomes eSousa, 2003; Bugalhão, Sousa egomes, 2004) e, num segundomomentodoqualeste trabalhoéresultado,aosrestantesconjuntoscerâmicosrecolhidosemambientede consumo e/ou utilização nosdoissítios.
2. Consumo e utilização de recipientes cerâmicos (contextos habitacionais e domésticos)
Relativamente aos conjuntos cerâmicos recolhidos em ambiente de consumo e utilização,foramestudados13contextoshabitacionaisedomésticos:fossasdetríticas,fossasestruturadas,conjuntos habitacionais pavimentados e conjuntos de fundações (Bugalhão e folgado, 2001),numtotalde49unidadesestratigráficase10687fragmentoscerâmicos.
Cadacontextoseráobjectodeenquadramentoestrutural(quandoesteexistir)esequênciaestratigráfica.Saliente-seque,nagrandemaioriadoscasos,oscontextosemestudoseencontramem condições de conservação e preservação muitíssimo precárias (atendendo às característicasurbanasdosítioeàsuadensidadedeocupação),registando-seumgraumuitoelevadodepertur-baçãoestratigráficaeestrutural.Aliás,umgrandeconjuntodecontextosestruturaiseestratigráfi-cosfoiexcluídodesteestudopornãooferecergarantiasdeintegridadearqueológicaapesarde,porvezes,terfornecidomateriaiscerâmicosdecronologiaislâmica,emalgunscasos,dequalidadeeembomestadodeconservação.
Osconjuntoscerâmicosforamobjectodecontabilizaçãointegralcombasenamorfologiadosfragmentosenascategoriastécnicasedecorativas.
Fig. 1 CartaarqueológicadeLisboaeseuterritórioenvolvente:1.NúcleoArqueológicodaRuadosCorreeiros(NARC-BCP);2.MandarimChinês(MC).
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Quadro 1. Consumo/utilização de recipientes cerâmicos no NARC e MC: contabilização geral de fragmentos cerâmicos
Sítio NúcleoArqueológicodaRuadosCorreeiros MandarimChinês
Contextos A B D E F H I J L N U R S Totais
Comum 1388 245 387 2510 1979 396 139 249 137 490 258 195 97 8470
PintadaaBranco 261 88 62 361 286 57 115 114 14 143 66 41 12 1620
Vidrada 105 30 18 74 13 13 6 44 2 16 17 4 7 349
PintadaaVermelho 13 1 1 37 13 4 9 1 79
Brunida 1 8 2 10 1 2 5 10 4 5 5 1 54
Decorada 2 2 1 8 21 2 4 1 7 4 1 53
CordaSecaparcial 4 18 22
VerdeeManganês 2 8 2 12
PintadaaNegro 1 1 1 4 1 1 9
Chacota 8 4 12
CordaSecaTotal 1 1 2 4
Manual 1 2 3
Totais 1784 380 473 3006 2316 474 304 420 160 657 348 247 118 10687
foiigualmentecalculadoonúmeromínimodeexemplaresportiposemcadacontexto,con-tabilizando-se um total de 950 exemplares. Esta abordagem metodológica contribui para umacaracterizaçãodanaturezadecadaunidadeestratigráficaemanálise.Contudo,comportaigual-mentealgumamargemdeerroseconsiderarmosqueaanálisetemporbaseofragmentocerâmico(enãopeçascompletasouquasecompletas).Porumlado,sabe-sequealgunstiposcerâmicosdife-rentesapresentamsemelhançasmorfológicasentresi;poroutrolado,umfragmentonãopermiteaintegraçãoinequívocanumacategoriatécnico-decorativa(porexemplo,umfragmentodebordoemcerâmicacomum,nãoexcluiapossibilidadedeorestodapeçaconterpinturaououtrotipodedecoração).Apesardestaslimitações,considera-sequeestaabordagemapresentaaspectosmuitopositivosnotipodeanálisegenéricadoscontextosquesepretendia,daíasuaimplementação.
Os conjuntos cerâmicos serão classificados pela sua dimensão, considerando-se contextosgrandes(n.ºmínimodeexemplares>de200),médios(n.ºmínimodeexemplaresentre100e200),pequeno(n.ºmínimodeexemplaresentre50e100)emuitopequeno(n.ºmínimodeexemplares<50).Refira-sequeestatipificaçãoserefereàsituaçãoemqueoscontextosforamescavados,ousejaapósseremsujeitosatodososfactorespós-deposicionaisquenecessariamenteosalteraram.
Nacomposiçãodoscontextoscerâmicosfoiponderadoonúmerodecategoriastipológico-fun-cionaisetécnico-decorativasempresença,comoformadeaferirassuascaracterísticas,funcionalidadeediacronia.Apresençademarcasdefogocomorigemnautilizaçãodosrecipientes(nemsempreéfácildistingui-lasdosvestígiosdeorigempós-deposicional)foiigualmenteobjectodecontabilização,deformaacontribuirparaacaracterizaçãofuncionaldaspeçasedospróprioscontextos.
2.1. Contexto A(NARC; Sector 3NE; N21/O21; Camadas 10A, 11,12, 13, 14, 15, 16, 18 e Desmontagem Muro 11)
Estecontextointegraumcompartimentointervencionadoparcialmente,numaáreaaproxi-madade2,5x3m,cujasdimensõestotaisnãofoipossíveldeterminar.Quantoàsparedesdedelimi-taçãodocompartimento,apenasfoiidentificadocomsegurançaumpequenotroçodeumaparede
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depedracalcária(comcercade50cmdecomprimentoedelarguraindeterminada),àqualconfluíaperpendicularmenteumaestruturaemtijolo(comcercade1mdecomprimentoedelargurainde-terminada), cuja funcionalidade não foi possível determinar. Este compartimento encontrava-sepavimentadocomtijoleiraquadrangular(26x26cm),emmuitomauestadodeconservação.
depedracalcária(comcercade50cmdecomprimentoedelarguraindeterminada),àqualconfluíaperpendicularmenteumaestruturaemtijolo(comcercade1mdecomprimentoedelargurainde-terminada), cuja funcionalidade não foi possível determinar. Este compartimento encontrava-sepavimentadocomtijoleiraquadrangular(26x26cm),emmuitomauestadodeconservação.
Fig. 2 ContextoA,comcandiln.º18.
Fig. 3 Consumo/utilizaçãoderecipientescerâmicosnoContextoA.
Consumo e utilização de recipientes cerâmicos no arrabalde ocidental da Lisboa islâmica (Núcleo Arqueológico da Rua dos Correeiros e Mandarim Chinês)
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OcontextoApossuíaumaestratigrafiaislâmica“longa”esucessivaqueincluíaestratossobre(1unidadeestratigráfica)esobopavimento(8unidadesestratigráficas)evaladaconstruçãodaparedeacimareferida(1unidadeestratigráfica).háaindaareferirque,aparentemente,estecom-partimentosesobrepunhaaumafossadetríticaestruturada(ContextoB).
Noquerespeitaaoespóliocerâmico,trata-sedeumconjuntodedimensãomédia(n.ºmínimodeexemplares:122)ebastantediversificado(presençade8categoriastécnico-decorativase14cate-goriastipológico-funcionais),noqual26%dosfragmentosapresentammarcasdefogo.
Salienta-seapresençadeumcandilidentificadosobreopavimento(fig.27,n.º18).Nosníveisinferioresaocompartimentofoiigualmenterecolhidoumnúmeroelevadodepequenosfogareiros(nomeadamente,osn.os4110e4119,fig.24),umapeçainterpretada,hipoteticamente,comolanterna(fig.27,n.º71),umataçavidradatrípode(fig.25,n.º4126)eumajarrinha(fig.25,n.º4123).
Concluindo, a este compartimento pode ser atribuída uma funcionalidade habitacional,devendoasuaconstruçãoremontaraoséculoXI(cfr.tigeladecoradaaverdeemanganésn.º4132,fig.25,recolhidanasuavaladefundação),sobrepondo-seaumasucessãodeestratos,ondeacerâ-micadecozinhaconstitui50%,ademesa40%eadearmazenamento8%.Verifica-seapresençadepeçasenquadráveisemfasesmaisrecuadasdaocupaçãoislâmica,podendoosestratosmaisanti-gosremontaraoséculoX(agradece-seasindicaçõestransmitidaspelaDra.IsabelCristinafernan-des),constituindoestesosvestígiosmaisantigosdeocupaçãoislâmicadoarrabaldeocidentaldeLisboa.Esteconjuntointegraalgunsexemplaresdepeçasfabricadasatornolento,peçasvidradascomumagrandediversidadedeóxidos(branco,amarelo,meladoclaro,meladoesverdeado,verde),peçascomvidradoparcialirregular(normalmentecastanho)epeçasdecerâmicacomumdefabricomuitocuidado,porvezescompinturavermelhaebranca.
2.2. Contexto B (NARC; Sector 3NE; N20; Camadas 17A, 17C, 18)
Comofoireferido,estecontextoéconstituídoporumafossaestruturada.Aestrutura foi “escavada”nasestruturasindustriaisromanas(Bugalhão,2001,p.85),tendosidocons-truído um pequeno muro em blocos calcários e basálticos(comcercade40cmdelargura)afimdedelimitarumpequenocompartimentodeformaoblonga,comcercade180x70cmdedimensão.Afossatomarialugarsobcompartimentoacimareferido(ContextoA).
Ocontextointegra3unidadesestratigráficas,sendoque2são interpretadascomovalasde fundaçãodapró-priaestruturae1comoníveldeocupação/utilização.Noquerespeitaaoespóliocerâmico,trata-sedeumconjuntodemuitopequenadimensão(n.ºmínimodeexemplares:43) e pouco diversificado (presença de 6 categorias téc-nico-decorativase8categoriastipológico-funcionais),noqual26%dosfragmentosapresentammarcasdefogo.
Nestecontexto,acerâmicadecozinhaconstitui47%,ademesa44%eadearmazenamento9%,sendoqueosmateriaisseenquadramcronologicamenteentreoséculoXIea1.ªmetadedoXII.Poderátratar-sedeumaestruturadedespejoligadaumalatrinaquenãosubsistiu.
Fig. 4 ContextoB.
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2.3. Contexto D (NARC; Sector 2 NE; L13-14/M13-14; Camadas 12, 13, 14. M14, Camada 7)
Estecontextoéconstituídoporumconjuntodequatrounidadesestratigráficas,dealgumaformaincaracterísticas,semrelaçãoinequívocacomestruturasarqueológicas,umavezqueasfunda-çõesidentificadasnestesectorseencontrammuitodestruídas,nãosendopossívelgarantirasuacro-nologia(poderãoserislâmicasoumedievais-cristãs)easuarelaçãocomosestratosaquianalisados.
No que respeita ao espólio cerâmico, trata-se de um conjunto de pequena dimensão (n.ºmínimodeexemplares:58)edediversidademédia(presençade7categoriastécnico-decorativase10categoriastipológico-funcionais),noqual39%dosfragmentosapresentammarcasdefogo.
Fig. 6 Consumo/utilizaçãoderecipientescerâmicosnoContextoD.
Fig. 5 Consumo/utilizaçãoderecipientescerâmicosnoContextoB.
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Nestecontexto,acerâmicadecozinhaconstitui38%,ademesa52%,adearmazenamento3%eadeiluminação5%.Salienta-seapresençade3candis(nomeadamente,on.º327,fig.27)edeumaplacaemcerâmicamanualinterpretadacomoformadepão(fig.24,n.º4128)1.
Ocontextoreveste-sedealgumasingularidadedevidaàproporçãoincomumentreacerâmicademesaecozinha.Osmateriaisenquadram-secronologicamenteentreoséculoXIea1.ªmetadedoXII.
2.4. Contexto E (NARC; Sector 2SO; Área 12; Planos 9-12, 10, 11 da Camada 7. Área 15, Plano 100-150 da Camada 135; Planos 150-200 e 200-250 da Camada 136; Plano 150-200 da Camada 138)
OcontextoEintegraumconjuntodefundações,queemboramuitodeterioradas,permitemvislumbrar uma construção com orientação NO-SE e três compartimentos contíguos, emboraapenasumdeplantaperceptível(210x170cm).Asfundaçõestêmumaespessuramédiade70cmeintegramblocoscalcáriosecerâmicadeconstrução.Nãofoiidentificadoqualquerníveldepavi-mento.ÀsemelhançadoreferidoparaoContextoA,esteconjuntosobrepõe-seaumafossadetrí-ticaestruturada(Contextof)epoderelacionar-secomoumoutroconjuntodeestruturas(Con-textoh).Estecontextointegra7unidadesestratigráficasrelacionadascomoconjuntoestrutural.
No que respeita ao espólio cerâmico, trata-se de um conjunto de grande dimensão (n.ºmínimodeexemplares:230)ediversificado(presençade8categoriastécnico-decorativase13cate-goriastipológico-funcionais),noqual38%dosfragmentosapresentammarcasdefogo.
Nestecontexto,acerâmicadecozinhaconstitui44%,ademesa41%eadearmazenamento14%.Adimensãodoconjuntosugereumaocupaçãohabitacionalintensae/oulonga,incidindosobreosséculosXIeXII(1.ªmetade).Contudo,refira-sequeocontextopoderáremontaraofinaldoséculoX,cronologiaatribuídaà jarrinhapintadaavermelhon.º3447(fig.25)(BugalhãoegómezMartínez,2005,p.252).Atendendoàdimensãodoconjunto,ascerâmicasdeconsumomaisseleccionado(porexemplo,acordasecaeoverdeemanganês)estãofracamenterepresenta-das,oquepoderáindiciarumnívelsócio-económicomodestodosseusocupantes.
Nestecontexto,acerâmicadecozinhaconstitui38%,ademesa52%,adearmazenamento3%eadeiluminação5%.Salienta-seapresençade3candis(nomeadamente,on.º327,fig.27)edeumaplacaemcerâmicamanualinterpretadacomoformadepão(fig.24,n.º4128)1.
Ocontextoreveste-sedealgumasingularidadedevidaàproporçãoincomumentreacerâmicademesaecozinha.Osmateriaisenquadram-secronologicamenteentreoséculoXIea1.ªmetadedoXII.
2.4. Contexto E (NARC; Sector 2SO; Área 12; Planos 9-12, 10, 11 da Camada 7. Área 15, Plano 100-150 da Camada 135; Planos 150-200 e 200-250 da Camada 136; Plano 150-200 da Camada 138)
OcontextoEintegraumconjuntodefundações,queemboramuitodeterioradas,permitemvislumbrar uma construção com orientação NO-SE e três compartimentos contíguos, emboraapenasumdeplantaperceptível(210x170cm).Asfundaçõestêmumaespessuramédiade70cmeintegramblocoscalcáriosecerâmicadeconstrução.Nãofoiidentificadoqualquerníveldepavi-mento.ÀsemelhançadoreferidoparaoContextoA,esteconjuntosobrepõe-seaumafossadetrí-ticaestruturada(Contextof)epoderelacionar-secomoumoutroconjuntodeestruturas(Con-textoh).Estecontextointegra7unidadesestratigráficasrelacionadascomoconjuntoestrutural.
No que respeita ao espólio cerâmico, trata-se de um conjunto de grande dimensão (n.ºmínimodeexemplares:230)ediversificado(presençade8categoriastécnico-decorativase13cate-goriastipológico-funcionais),noqual38%dosfragmentosapresentammarcasdefogo.
Nestecontexto,acerâmicadecozinhaconstitui44%,ademesa41%eadearmazenamento14%.Adimensãodoconjuntosugereumaocupaçãohabitacionalintensae/oulonga,incidindosobreosséculosXIeXII(1.ªmetade).Contudo,refira-sequeocontextopoderáremontaraofinaldoséculoX,cronologiaatribuídaà jarrinhapintadaavermelhon.º3447(fig.25)(BugalhãoegómezMartínez,2005,p.252).Atendendoàdimensãodoconjunto,ascerâmicasdeconsumomaisseleccionado(porexemplo,acordasecaeoverdeemanganês)estãofracamenterepresenta-das,oquepoderáindiciarumnívelsócio-económicomodestodosseusocupantes.
Fig. 7 PlantadeestruturasdosContextosE,feh.
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Salientam-seumatigelaemcordasecatotal(fig.25,n.º3449),datávelda1.ªmetadedoséculoXII,cincocandis(fig.27,n.os3270,3271,3275,3279e4160),umajarrinhapintadaavermelho,datáveldoséculoX(fig.25,n.º3147)eumatigelapintadaavermelho,datáveldoséculoXI(fig.25,n.º4164).
2.5. Contexto F (NARC, Sector 2SO; Área 12; Planos 12, 13, 14, 15, 16, 17 e 18 da Camada 78)
Comofoireferido,oContextofrefere-seaumafossaestruturadaimplantadasoboContextoE.Nestaestrutura(fig.7),foireaproveitadoumcantodeumacetáriaromana(sematingiroseufundo)econstruídoummurosemicircular(comcercade50cmdelargura),emblocoscalcários,criandoumespaçodeformasubquadrangular,com150x130cmdedimensão(Bugalhão,2001,
Fig. 8 Consumo/utilizaçãoderecipientescerâmicosnoContextoE.
Fig. 9 Consumo/utilizaçãoderecipientescerâmicosnoContextof.
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p.134).Estratigraficamente,ocontextointegra7unidadesquepreenchiamaestruturaeassuasvalasdeimplantação.
Noquerespeitaaoespóliocerâmico,trata-sedeumconjuntodemédiadimensão(n.ºmínimodeexemplares:163),razoavelmentediversificado(presençade8categoriastécnico-decorativase10categoriastipológico-funcionais)emuitofraccionado,noqual43%dosfragmentosapresentammarcasdefogo.Nestecontexto,acerâmicadecozinhaconstitui41%,ademesa48%eadearmaze-namento10%,revelandoumapreponderânciaincomumdalouçadeiràmesa.
NoâmbitodoprojectoPOILIX,estecontextofoiobjectodeestudoarquezoológico,tendosidoanalisadososrestosfaunísticosrecolhidos(Morenogarcíaegabriel,2001).foramidentificadosrestos(66)deovicaprídeos(62%),debovídeos(26%),decavalo(4,5%),deveado(3%),deporco(3%)edecoelho(1,5%).Obomestadodeconservaçãodosrestossugereumaacçãodedespejorápida,apósoconsumo.
As características do contexto sugerem uma funcionalidade habitacional traduzida numaactividadededespejocontinuada,tendosidoocupadoentreosséculosXIeXII.Relativamenteàscerâmicas,destaca-seapresença(nãoilustrada)dejarritaspintadasavermelho,tigelasdecoradasaverdeemanganés,garrafasemcerâmicavidradaeumajarritapintadaanegro.
2.6. Contexto H (NARC; Sector 2NO; Compartimento 2; H13/G13/I13; Camadas 10, 11A, 16, 17 e 18)
Ocontextohintegraumconjuntodefundaçõesque,emboramuitodeterioradaspermitemvislumbrar uma construção com orientação NO-SE, com dois compartimentos contíguos, dosquaisnãoépossívelrecuperaraplanta(fig.7).Asfundaçõestêmumaespessuramédiade70cmeintegramblocoscalcáriosecerâmicadeconstrução.Nãofoiidentificadoqualquerníveldepavi-mento.Comofoireferido,estecontextopoderáestarrelacionadacomoContextoE.Ocontextointegra5unidadesestratigráficasrelacionadascomoconjuntoestrutural.
Noquerespeitaaoespóliocerâmico,trata-sedeumconjuntodemuitopequenadimensão(n.ºmínimodeexemplares:46)epoucodiversificado(presençade7categoriastécnico-decorativase8categorias tipológico-funcionais),noqual36%dos fragmentosapresentammarcasde fogo.
Fig. 10Consumo/utilizaçãoderecipientescerâmicosnoContextoh.
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Nestecontexto,acerâmicadecozinhaconstitui61%,ademesa24%eadearmazenamento13%.Pelassuascaracterísticasestecontextoafasta-seclaramentedarealidadecaracterizadaparao
ContextoE.Eventualmente,asunidadesestratigráficasemanálisenãoreflectemacçõesdedespejocontinuado,podendorelacionar-seapenascomaacçãodeconstruçãodasestruturas.Emtermoscro-nológicos,estecontextodatar-se-ádoséculoXI(cfr.comajarrinhadecoradaacordasecaparcialdeproduçãoregionaln.º4159—fig.25—eocandildecoradoaverdeemanganésn.º3452,fig.26).
2.7. Contexto I (NARC; Sector 3SO; Compartimento 1; Camada 16)
trata-se de mais uma fossa estruturada “escavada”nasestruturasindustriaisromanas(Bugalhão,2001,p.156)ecompletadacomumpequenomurodeblocoscalcários(comcercade30cmdelargura),criandoumpequenocom-partimento de forma rectangular, com 70 x 100 cm dedimensão (fig. 17). Ao contrário do que sucede com osContextosBef,estecontextonãoseencontraassociadoaqualquer estrutura construída conservada. Esta fossaencontrava-se preenchida apenas por uma camada, queocupavaporcompletoaestrutura,emboraintegrealgumaspeçasde2outrascamadas(18e19)paraondeseverificouumaclaraescorrênciademateriaisarqueológicosdafossa.
Noquerespeitaaoespóliocerâmico,trata-sedeumconjunto de muito pequena dimensão (n.º mínimo deexemplares:32)ediversificado(presençade7categoriastécnico-decorativase8categoriastipológico-funcionais),noqual45%dosfragmentosapresentammarcasdefogo.Nestecontexto,acerâmicadecozinhaconstitui29%,ademesa53%eadearmazenamento9%.
Fig. 11ContextoI.
Fig. 12Consumo/utilizaçãoderecipientescerâmicosnoContextoI.
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NoâmbitodoprojectoPOILIX,estecontextofoiobjectodeestudoarqueozoológico,tendosidoanalisadososrestosfaunísticosrecolhidos(Morenogarcíaegabriel,2001).foramidentifi-cadosrestos(31)deovicaprídeos(74%),degalinha,(16%),decoelho(6%)edeperdiz(3%).
Noquerespeitaaoespóliocerâmico,estecontextoafasta-seclaramentedetodososrestantesabordadosnopresenteestudo.Porumlado,apresentaumaelevadaproporçãodecerâmicasdeconsumoseleccionado,comoascerâmicaspintadasavermelho(fig.25,n.os3248,3249),verdeemanganés(fig.25,n.os3250,4063,4062,4060,4051e3221)ecordasecaparcialregional(fig.25,n.os3246,4059e3247),emrelaçãoàcerâmicadeconsumoquotidiano.Poroutrolado,éclara-mentepredominantealouçademesa.Salienta-seaindaapresençade2candis(nomeadamente,on.º2985,fig.26).Aqualidadeeproporçãodestaspeçassugeremumnívelsócio-económicoele-vadodosutilizadoresdestaestrutura.
Relativamenteàcronologia,integra-seestecontextonoséculoXI,tomandoemconsideraçãoaspeçasemverdeemanganéseemcordasecaparcialregional(BugalhãoegómezMartínez,2005,p.241).
2.8. Contexto J (NARC; Sector 3 Oeste; Camada 7)
OContextoJ,localizadonumsectordaescavaçãoqueapresentavamuitaperturbaçãoaonívelestruturaleestratigráfico,éconstituídoporumafossadetríticaescavadanossedimentosquepreen-chiamumacetária,atingindoemprofundidadeacotadoestratoromanodeabandono(fig.17).Apróprianatureza“nãoconstruída”docontextodificultouaescavaçãoàsemelhançadoqueacon-tececomoContextoI (quealiássesituamuitopróximo),nãofoipossível identificarqualquerconstruçãoqueselhesobrepusesse.
Fig. 13ContextoJ.
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Estratigraficamente,ocontextocentra-senumasócamadamuitoperturbada,embora,pelasdificuldadesacimareferidas,lhetenhamsidointegradasalgumaspeçasde3outrasunidadesestra-tigráficasconfinantes(Camadas8,10e11).
No que respeita ao espólio cerâmico, trata-se de um conjunto de pequena dimensão (n.ºmínimodeexemplares:82),poucodiversificadoaoníveltécnicoedecorativo(presençade6cate-goriastécnico-decorativas)emuitodiversificadotipológicaefuncionalmente(12categoriastipo-lógico-funcionais), no qual 51% dos fragmentos apresentam marcas de fogo. Neste contexto, acerâmicadecozinhaconstitui43%,ademesa46%eadearmazenamento11%.
Apesardasreduzidasdimensõesdoconjuntocerâmico,esteapresentaumnúmeroconsideráveldepeçascompletasedeperfilcompleto,comoastigelasvidradasn.ºs163e521,ajarrinhan.º271(fig.25)eacaçoilan.º522(fig.24).Destacam-seastaçaspintadasavermelhon.os692e664(fig.25),estaúltimadatáveldoséculoXII(BugalhãoegomezMartínez,2005,p.252).Refira-seaindaapre-sençararadeumcantilvidrado(nãoilustrado)ede3formasdepão,n.os661(placaemcerâmicamanual),694(emcerâmicamanualcomrebordo)e699(profusamentedecorada),nafig.24.
tambémestecontextofoiobjectodeestudoarqueozoológico,tendosidoanalisadososres-tosfaunísticosrecolhidos(Morenogarcíaegabriel,2001).foirecolhidoumnúmeroreduzidoderestos(6)verificando-seapresençadeovicaprídeo,bovídeoeveado.
Ocontextoapresentacaracterísticasclarasdeumafossadetrítica,utilizadaeventualmentedurante um lapso de tempo curto. A sua cronologia situar-se-á entre o final do século XI e1.ªmetadedoXII.
2.9. Contexto L (NARC, Sector 3 Oeste; Escadas; Camadas 36 e 40)
OcontextoL(BugalhãoeQueiroz,2006)éconstituídoporumcompartimentoconstruídoaoníveldosubsolo,eventualmentenumaáreaexteriordacasa(nãosendopossívelrelacioná-lode
Fig. 14Consumo/utilizaçãoderecipientescerâmicosnoContextoJ.
Consumo e utilização de recipientes cerâmicos no arrabalde ocidental da Lisboa islâmica (Núcleo Arqueológico da Rua dos Correeiros e Mandarim Chinês)
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formainequívocacomosrestantesvestígiosurbanísticosdetectados),queseapresentavaparcial-mente preenchido por uma camada com elevada concentração de vestígios orgânicos vegetais(frutos).Umacetária romana (Bugalhão,2001,p.123-124) foicompartimentadaporumsólidomuroempedraaparelhada,tijoloeargamassa,diminuindoacapacidadeoriginaldotanque.Napartesuperiordaestrutura,quesesituariaemcotaaproximadadoníveldesuperfície/piso,foicons-truídaumaestrutura“defecho”deformasubcircular,quealteouligeiramenteasparedesdacetária(fig.17).Ocompartimentoassimcriadoapresentadimensõesde190x160x210cm.Autilizaçãocontinuada desta estrutura é comprovada pela forte coloração escura (provocada pelo contactocomosfrutos)quepermaneceuimpressanoopussigninumderevestimentodacetária.
Estratigraficamente,ocontextointegra2unidades,umaderestosdeutilizaçãoeoutraformadaposteriormenteaoabandono(daqualprovêemaquasetotalidadedosfragmentoscerâmicos).
Noquerespeitaaoespóliocerâmico,trata-sedeumconjuntodemuitopequenadimensão(n.ºmínimodeexemplares:26)epoucodiversificado(presençade4categoriastécnico-decorativase7categoriastipológico-funcionais),dasquaisapenas15%apresentammarcasdefogo.Nestecon-texto,acerâmicadecozinhaconstitui27%,ademesa19%eadearmazenamento54%.
Esteconjuntocerâmicoreveste-sedealgumasingularidade,umavezqueasuacomposiçãoseexplicacomafuncionalidadedestecontexto,relacionadocomumprocessodetransformaçãodefrutos,comvistaaoseuconsumo.Amaioriadascerâmicasintegraumacamadaformadaimedia-tamenteaseguiràinterrupçãodautilizaçãodestecompartimentoparaestefim,podendoaparen-
Fig. 15ContextoL.
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tementeoconjuntorelacionar-secomoprocessamentodefrutos(assimseexplicandoaproporçãoincomumde loiçadearmazenamento).Acronologiapropostaparaocontextositua-seentreofinaldoséculoXIea1.ªmetadedoXII.
2.10. Contexto N (NARC, Sector 3SO; Entre-Muros; Camada 7)
OContextoNéconstituídopormaisumafossadetrítica“escavada”nasestruturasromanasindustriais,nestecasonumaáreadepátio.Afossaassumiaumaformaoblongacomdimensõesmáximasde210x60cm.Aestratigrafiaconside-rada resumiu-se a 1 só unidade. Este contextolocaliza-semuitopróximodosContextosIeJ.
Noquerespeitaaoespóliocerâmico,trata--se de um conjunto de pequena dimensão (n.ºmínimodeexemplares:74),poucodiversificadoaoníveltécnicoedecorativo(presençade5cate-gorias)emuitodiversificadoaoníveltipológicoefuncional(12categorias),com46%demarcasdefogo.Nestecontexto,acerâmicadecozinhaconstitui51%,ademesa32%eadearmazena-mento15%.
Ascaracterísticasdocontextoconfirmamasuainterpretaçãofuncionalcomofossadetríticadecozinha,salientando-seapresençadeumcan-dil(fig.26,n.º3278)edeumfogareiro(fig.24,n.º 4105). A cronologia proposta é hipotética,podendosituar-seentreosséculosXeXI.
Fig. 16Consumo/utilizaçãoderecipientescerâmicosnoContextoL.
Fig. 17ContextosI,J,LeN,sobreplantadasestruturasromanas.
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2.11. Contexto R (MC; Área 6; Planos 10, 11, 12 e 13 da Camada 10)
Estecontextoreveste-sedecaracterísticasmuitoindefinidas,umavezqueéconstituídoporalgumasfundaçõesmuitodestruídaseumconjuntoestratigráficomuitoperturbado.Arelaçãoentreasrealidadesestruturaleestratigráficapermaneceuemgrandeparteindeterminada.Con-tudo,foipossívelisolarumestratocomsuficientehomogeneidadematerialparaserinterpretadocomoumcontextodeépocaislâmica.
Noquerespeitaaoespóliocerâmico,trata-sedeumconjuntodemuitopequenadimensão(n.ºmínimodeexemplares:32),poucodiversificado(presençade5categoriastécnico-decorativase8categoriastipológico-funcionais),com40%demarcasdefogo.Acerâmicadecozinhaconstitui47%,ademesa34%eadearmazenamento19%.
Fig. 18Consumo/utilizaçãoderecipientescerâmicosnoContextoN.
Fig. 19Consumo/utilizaçãoderecipientescerâmicosnoContextoR.
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PelassuascaracterísticasoContextoRpoderáserrelacionadocomomomentofundacionaldoconjuntoestrutural,podendoremontarà1.ªmetadedoséculoXII.
2.12. Contexto S (MC; Área 9; Planos 10 e 11 da Camada 19. Área 8; Plano 11 da Camada 8)
OcontextoSéemtudosemelhanteaocontextoanterior,nomeadamentenograudepertur-baçãodoscontextosestruturaiseestratigráficos.Maisumavez,foiidentificadoumconjuntodefundaçõescomestratigrafiaassociada,deentreaqualseseleccionaram2unidadesestratigráficasdeépocaislâmica.
Noquerespeitaaoespóliocerâmico,trata-sedeumconjuntodemuitopequenadimensão(n.ºmínimodeexemplares:19),poucodiversificado(presençade4categoriastécnico-decorativase9categoriastipológico-funcionais),com37%demarcasdefogo.Nestecontexto,acerâmicadecozinhaconstitui32%,ademesa52%eadearmazenamento11%.
Àsemelhançadocontextoanterior,oContextoSpoderáserrelacionadocomomomentofundacionaldoconjuntoestrutural,podendoremontarà1.ªmetadedoséculoXII.Salienta-seapresençadeumbrinquedo(nº296,fig.25).
2.13. Contexto U (NARC; Sector 3 Este; O/N18; Camadas 14 e 28)
Estecontextofoiseleccionadonumafasefinaldostrabalhosdoprojecto,sendoconstituídopor2unidadesestruturaisescavadasnosníveisdaIIIdadedoferro.EstecontextopoderáestarrelacionadocomaolariadoNARC(Bugalhão,gomeseSousa,2003),queselocalizamuitopró-xima. Como o contexto não foi integrado no estudo sobre os vestígios de olaria naquele sítio,optou-seporefectuaraquiasuapublicação.
Fig. 20Consumo/utilizaçãoderecipientescerâmicosnoContextoS.
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Noquerespeitaaoespóliocerâmico,trata-sedeumconjuntodemuitopequenadimensão(n.ºmínimodeexemplares:32)epoucodiversificado(presençade5categoriastécnico-decorativase8categoriastipológico-funcionais).Nestecontexto,acerâmicadecozinhaconstitui32%,ademesa52%eadearmazenamento11%.
Comofoireferido,estecontextoparecerelacionar-secomoambientedeproduçãooleira,tal-vezcorrespondendoaumaáreadedespejo.Umdosaspectosquecontribuiparaestainterpretação,paraalémdaproximidadefísica,éofactodeumagrandepartedosfragmentoscerâmicosqueinte-gramocontextoapresentarumaspectovitrificado (recozido), característica típicademateriaiscerâmicosrejeitadosduranteoprocessodeprodução (Bugalhão,gomeseSousa,2003,p.131;Bugalhão,Sousaegomes,2004,p.579).Salienta-seapresençadedoisfragmentosdecerâmicadecoradaaverdeemanganés(fig.25,n.os4048e4053),queremetemcronologicamenteparaoséculoXI(BugalhãoegómezMartínez,2005,p.241).
3. Conclusão
3.1. Contextos
Nestetrabalhoforamabordadososconjuntoscerâmicosde13contextos(11identificadosnoNARCe2noMC).todososcontextosseapresentamnumestadodeconservaçãomuitofraco,revelado pelo elevado grau de destruição das estruturas e de perturbação da estratigrafia. Estefactoexplica-sepordiversosfactores:altimetriadoscontextos,metodologiadasduasintervenções,aintensidadeediacroniadaocupaçãodestazonaurbanadesdeaIIIdadedoferro(Bugalhãoefolgado,2001,p.114).
Paraalémdoreferido,osdoiscontextosdoMC(ContextosReS)revelam-setendencialmentemaispobres,queremdimensão,queremdiversidade.Aparentemente,parecemigualmenteremon-taraumacronologiarelativamentemaistardia(2.ªmetadedoséculoXII).Estesaspectospoderãorelacionar-secoma localizaçãomaismarginaldosítio,noarrabalde, eventualmenteobjectodeumaurbanizaçãomaistardiaemenosintensa.
Fig. 21Consumo/utilizaçãoderecipientescerâmicosnoContextoU.
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Emsíntese,oscontextosforaminterpretadoscomodecorrendodefunçõesessencialmentehabitacionais,emboraapenasnumcaso(ContextoA)setenhaidentificadoumaestruturainega-velmentedehabitação.Namaiorpartedoscasos,referem-seaestruturasnegativas,porvezesestru-turadas,relacionadascomacçõesdedespejo(ContextosB,f,I,J,L,NeU),decaracterísticasporvezesbemdiferenciadas.Osrestantescontextosforamrelacionadoscomomomentodeconstru-çãodealgumasestruturasemqueosubsoloémobilizadoesedimentado,integrandorestosmate-riaisdeorigemocupacional(ContextosD,E,h,ReS).
3.2. Conjuntos cerâmicos
Anível técnico,ascerâmicasdestescontextoscaracterizavam-setendencialmenteporumahomogeneidade,umavezqueagrandemaioriadaspeçasrecolhidasseriammuitoprovavelmenteproduzidasnasolariaslocais.Poroutrolado,verifica-seapresençaconstante,emboraquasesem-preemproporçõesreduzidasdepeçasdefabricosdiversos,quernoqueserefereàloiçadeutiliza-çãoquotidiana,querprincipalmente,noqueserefereàloiçadeutilizaçãomaisesporádicaeselec-cionada.Porfim,devereferir-sequeoscontextosdeconsumo/utilizaçãoabrangemprovavelmente,um lapso cronológico relativamente alargado. Embora, a maioria dos contextos remontem aoséculoXIeprimeirametadedoséculoXII,verificou-seapresençadealgunsestratoscomcronolo-giamaisantiga(séculoX),relacionadoseventualmentecomafundaçãodoarrabalde.
Paralelamenteaumgrandenúmerodepeçasemcerâmicacomum,cerâmicapintadaabrancoe cerâmica vidrada, perfeitamente integrável nas produções cerâmicas de Lisboa, encontram-seproduções,provavelmentelocais/regionais,decerâmicapintadaavermelhoedecordasecaparcial,queaquelasolariasnãoproduziam.Encontram-seigualmenteproduçõesexógenasdediversasori-gens(importaçõesregionaisetransregionais)decerâmicacomum,pintadaabranco,vidrada,pin-
Fig. 22Consumo/utilizaçãoderecipientescerâmicosnoNARCenoMC.
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tadaavermelho,pintadaanegro,verdeemanganés,cordasecaparcialetotal(comcaracterísticastécnicasmuitodiversificadas).
Assim,78%dosexemplarescontabilizadosintegramascategoriasdecerâmicacomumecerâ-micapintadaabranco,confirmando-seautilizaçãomassivadestaloiçanavidadomésticaquoti-diana.Acerâmicavidradaconstitui12%doconjunto,salientando-sequeemtodososcontextosdeconsumoseidentificamtigelasvidradas,considerando-seporissooataiforvidrado,umdosele-mentoscaracterizadoresdestesconjuntoscerâmicos.Ascerâmicaspintadasavermelho,brunidaedecoradaapresentamresultadosnaordemdos3%defrequência.Overdeemanganésconstituem1%doconjunto;asrestantescategoriastécnico-decorativas(cordasecaparcial,cordasecatotal,pintadaanegroecerâmicamanual)apresentamvaloresinferioresaumpontopercentual.
Noqueserefereàfuncionalidade,verificou-sequetodososrecipientesidentificadossedesti-navamàutilizaçãodoméstica,àexcepçãodeumapeçaclassificadacomobrinquedo.Documenta-ram-se 16 tipos cerâmicos, distribuídos pela cerâmica de cozinha (panelas, tampas, alguidares,caçoilas,púcaroseformasdepão),demesa(tigelas,jarrinhas,jarros,taçasegarrafas),dearmaze-namento(cântaros,talhasecantis)edefogo/iluminação(fogareiros,lanternaecandis).Asloiçasdecozinhaemesaaparecememproporçõesmuitoidênticas(43e41%),seguindo-seemproporçãoalouçadearmazenamento(14%)edefogo/iluminação(2%).Estesvaloresrelativosvariavamcon-formeotipodecontextodeorigem.
Anívelmorfológicoedecorativo,esteconjunto,emboratendencialmentehomogéneo,apre-sentava-sesignificativamentediversificadosecomparadocomasproduçõescerâmicasconhecidasemLisboa, consequênciadaorigemdiversificadadealgumaspeças.Aspeçasdecoradasconsti-tuíam42%doconjunto,comlargapreponderânciaparaadecoraçãoapinturabranca(31%).Apre-sençadedecoraçãoémaiscomumnosrecipientesdestinadosaoserviçodemesaeàarmazenagem.Osmotivosdecorativossãomaisdiversificadosrelativamenteaoverificadonoscontextosdepro-dução,marcandopresençaostemasislâmicostípicoscomo:flordelótus,pinhas,palmetas,outrosmotivosfitomórficos,cartelasreticuladas,cordãodaeternidadeemotivospseudo-epigráficos.
Aspeçaspintadasavermelho(óxidodeferro)constituemumgruporelativamenteheterogé-neo,anívelcronológico,dolocaldeproduçãoetipológico.AmaioriadaspeçasseráintegrávelnasproduçõesdeLisboa(cidadeeregião)edatarãodoséculoXI.Emmenorquantidade,verificou-seapresençadeproduçõesdosséculosXeXII,deimportação(BugalhãoegómezMartínez,2005,p.252).
Ascerâmicaspintadasanegro(óxidodemanganés)constituemumconjuntomuitoresidual,situaçãocomumàmaioriadosoutroslocaisdoal-Ândaluz.Asanálisesarqueométricasrealizadassobreestaspeçasatribuem-lheumaorigemclaramenteimportada,podendotratar-sedeprodu-çõeslevantinasdoséculoXII(BugalhãoegómezMartínez,2005,p.258).
Relativamenteàspeçasdecoradasaverdeemanganés,oconjuntorevelaumaconsiderávelvariedadedefabricos(verificáveisatravésdaspastas,cordofundo,tratamentodosreversosemoti-vosdecorativos),indiciandoumaafluênciaaLisboadepeçasdeorigensdistintas(foramidentifi-cadas produções de Sevilha, Córdova, Dénia, paralelamente a peças de origem desconhecida).genericamente,esteconjuntopodeseratribuídoaoséculoXI(BugalhãoegómezMartínez,2005,p.241).
Noquerespeitaàspeçasdecoradasacordasecaparcial,osestudosarqueométricosjárealiza-dos(Dias,Prudêncio,Bugalhão,gomes,Sousaefolgado,noprelo),bemcomoasinvestigaçõesemcursodaresponsabilidadedeClaireDelery2(baseadasemanálisesarqueométricasdosrevesti-mentosvidradosdaspeças)indiciamparapartedesteconjuntoumaproduçãolocalouregional.Nosníveisestilísticoetécnico,verifica-seainfluênciadaregiãodetoledoePechina,podendopro-
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por-seovaledotejocomoviatransmissorapreferencial.Osegundosubgrupo(minoritário)édeorigemclaramenteimportada,semelhanteaosfabricosdecordasecaparcialrecolhidosemMér-tola.Poderátratar-sedeproduçõeslevantinas(BugalhãoegómezMartínez,2005,p.248).
Aspeçasdecoradasacordasecatotalapresentamigualmentesemelhançascomosexempla-resdeMértola,podendotratar-sede importaçõesdasregiõesdeAlmeriaeMálaga(BugalhãoegómezMartínez,2005,p.251).Aorigemexógenadesteconjuntofoicomprovadapelasanálisesarqueométricasdesenvolvidasnoâmbitodoprojecto(Dias,Prudêncio,Bugalhão,gomes,Sousaefolgado,noprelo),bemcomopelasanálisesderevestimentosrealizadasporClaireDelery.
3.3. Arqueometria
NoâmbitodoprojectoPOLIXforamobjectodeanálisegeoquímica125amostras,dasquais38sereferiamacerâmicasrecolhidasemcontextosdeutilizaçãoeconsumodosdoissítiosarqueo-lógicos.Nestegrupoprocurou-serepresentartodasascategoriastécnico-decorativasetipológico--funcionaisidentificadas,emborafacilmentesepercebaquecertosgruposestãoescassamenterepre-sentados.
Os resultados obtidos com o estudo arqueométrico (Dias, Prudêncio, Bugalhão, gomes,Sousaefolgado,noprelo)efectuadoparaosdoissítiosarqueológicosapontamparaaexistênciadeumaboaafinidadegeoquímicaentrecerâmicasdecadasítioeosmateriaisargilososdaregião.Oestudocomparativodosdoissítiosreflecteessasafinidades,associando-seentresi,queraoníveldasproduções,querdascerâmicasdecontextohabitacional.
Nos contextos habitacionais e domésticos, registou-se ainda a ocorrência de amostras decerâmicas“outliers”,relativamenteàsproduçõeslocais identificadas,emparteconstituídasporamostrasditas“deimportação”etambémporcerâmicasditas“deproduçãolocal”(emcerâmicacomum,pintadaabrancoevidrada).
Quantoàsamostrasditas“deimportação”,provenientesdoscontextosdeconsumo(habita-cionaisedomésticos),confirmam-sedeproduçãoexógenaascerâmicaspintadasanegrojáante-
Fig. 23Arqueometria:amostrasrealizadassobrecerâmicasdoscontextosdeconsumo/utilização.
Consumo e utilização de recipientes cerâmicos no arrabalde ocidental da Lisboa islâmica (Núcleo Arqueológico da Rua dos Correeiros e Mandarim Chinês)
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riormentedocumentadaparacerâmicasdoscontextosdaSédeLisboaedoCastelodeS. Jorge(Dias,Prudêncioegouveia,2001).
Asamostrasde“verdeemanganés”distinguem-seligeiramentedaproduçãolocal,indiciandopodermosestarperanteumaimitaçãoregional,paraoqueserianecessárioconfirmarcommaisamos-trassimilares.Esteindíciocontribuiparafortalecerahipóteselevantadapordiversosespecialistasquedefendemaexistênciadenúcleosregionaisoulocais,noGarb,deproduçãodeimitaçõesdestetipocerâmico(cujaproduçãoseencontraapenasdocumentadanoSE,SuleCentrodeEspanha).
Asamostrasde“pinturaavermelho”,àsemelhançadosestudosarqueométricosrealizadosanteriormente(Dias,Prudêncioegouveia,2001),revelaramaexistênciadeproduçãolocaldestetipocerâmico,quecoexistecomproduçõeseventualmenteregionaisequesurgeemlocaiscomoLisboaeAlcácerdoSal.
Asamostrasde“cordasecaparcial”revelaramresultadosalgosurpreendentes,umavezqueapresentaramumasituaçãoanálogaàsamostrasde“pinturaavermelho”.Ouseja,umadasamos-trasafasta-seclaramentedaproduçãolocal,confirmando-seoseuestatutodecerâmicaimportada(provavelmente,daRegiãoLevantinadePenínsula),asegundaamostraapresentaafinidadescomasproduções locais indiciandoapossível existênciadeproduções locaisde imitaçãodeste tipocerâmico.Estesdadoscarecemdeaprofundamentoeconfirmação,designadamente,atravésdoalargamentodonúmerodeamostrasanalisadas,actualmentemuitoreduzido.
3.4. Síntese
Relativamenteaoconsumoeutilizaçãoderecipientescerâmicosnoscontextoshabitacio-naisedomésticosdoNARCedoMC,foipossívelverificarapresençadeconjuntoscerâmicosdiversificados,aosníveistécnico,decorativo,tipológicoecronológico.Emboratenhasidoobser-vadaumaboaidentificaçãogeoquímicaentreoscontextosdeproduçãoanalisadoseagenerali-dadedascerâmicasprovenientesdecontextosdeconsumo/utilizaçãodosdoissítios(principal-mente ao nível da cerâmica comum, pintada a branco e vidrada), verificou-se igualmente apresençadecerâmicasclaramenteproduzidasnoutroslocais.Nomeadamente,foramrecolhidosexemplaresimportadosdecordasecatotal,cordasecaparcial,verdeemanganés,cerâmicapin-tadaavermelhoecerâmicapintadaanegro.Estarealidadeevidenciaumabastecimentooleirodeorigensdiversificadas,provenientedeoutrosoleirosdacidadeeregiãodeLisboa,bemcomoaaquisiçãodeprodutosimportados,transacionadosporcomerciantescomacessoacircuitosregionaisetrans-regionais.
Assim,noquese refereaoconsumodeolaria,verifica-seemLisboanesteperíodoousogeneralizadodeloiçadeutilizaçãoquotidiana(cerâmicacomum,pintadaabrancoevidrada).A loiçadeutilizaçãomaisrestritaeesporádica (porexemplo,cerâmicavidradaestampilhada,incisaecomaplicaçõesplásticas,cerâmicavidradapintada,cerâmicavidradaparcial,cerâmicapintada a vermelho e cerâmica pintada a negro) era consumida com alguma regularidade.Aloiçadeluxo(porexemplo,verdeemanganês,cordasecaparcialecordasecatotal)eraconsu-mida de forma pontual. Assim, verificava-se o recurso a produções de origens diferenciadas:cidade,regiãoeimportação.Ascaracterísticas(volumeediversidade)dosconjuntoscerâmicosislâmicosdeLisboa,variamemfunçãodasualocalizaçãonacidade(característicassociais,eco-nómicasepolíticadolocalintervencionado;distânciaemrelaçãoaocentrourbano;funcionali-dadedaáreaurbana,etc.)edotipodecontextosintervencionados(estatutoeconómicoesocialdoproprietáriodacasa).
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Quadro 2. Produção e consumo de recipientes cerâmicos, em Lisboa, no período islâmicoCategoriasdeConsumo Produções LocaisdeProdução
Loiçadeconsumogeneralizadoeutilizaçãoquotidiana Cerâmicacomum OlariasdeLisboa
CerâmicaPintadaaBranco OlariasdaregiãoenvolventedeLisboa
CerâmicaVidrada
Loiçademesadeconsumoregulareesporádico Cerâmicavidradaestampilhada, OlariasdeLisboa(vidradaestampilhada,incisa,comaplicações incisaecomaplicaçõesplásticas plásticasoupintada;vidradaparcial;pintadaavermelho)
Cerâmicavidradapintada Importaçõesregionais:outroscentrosoleirosdogarb(?)
Cerâmicavidradaparcial
Cerâmicapintadaavermelho
Cerâmicapintadaanegro
Loiçademesa,deluxoedeconsumopontual Verdeemanganês OlariasdeLisboa(cordasecaparcial)
Cordasecaparcial Importaçõesregionais:outroscentrosoleirosdogarb(?)
Cordasecatotal Importaçõesdosgrandescentrosoleirosdoal-Andaluz: Sevilha,Córdova,Dénia,Toledo,Pechina,Almeria,etc.
4. Anexo
Quadro 3. Consumo/utilização de recipientes cerâmicos no NARC e MC: catálogo/tabelaSítio Contexto N.º Tipo Função Conservação CategoriaTécnicaeDecorativa Fabrico Cronologia
NARC A 18 Candil Iluminação Peçaincompleta CerâmicaComum Local SéculosXI-XII
NARC A 71 Lanterna Iluminação Fundo CerâmicaComum Ver SéciloX
NARC A 4054 Tigela Mesa Fundo PinturaVermelha Regional? SéculoXI
NARC A 4109 Panela Cozinha Bordo,bojoeasas PinturaBranca Local SéculosX-XI
NARC A 4110 Fogareiro Cozinha Bordoesuporte CerâmicaComum Local SéculosX-XI
NARC A 4114 Caçoila Cozinha Bordoebojo CerâmicaComum Local SéculosX-XI
NARC A 4115 Tampa Cozinha Bordo,bojoefundo CerâmicaComum Local SéculoX
NARC A 4116 Tigela Mesa Bordoebojo Vidrada Local/regional? SéculoXI
NARC A 4119 Fogareiro Cozinha Bojoegrelha CerâmicaComum Local SéculosX-XI
NARC A 4122 Tigela Mesa Bordoebojo Vidrada SéculoX
NARC A 4123 Jarrinha Mesa Peçaincompleta PinturaBranca Local SéculosX-XI
NARC A 4126 Taça Mesa Fundoebojo Vidrada Local? SéculoX
NARC A 4130 Talha Armazenamento Bordoecolo CerâmicaComum Local SéculosX-XI
NARC A 4131 Panela Cozinha Bordo PinturaBranca Local SéculoX
NARC A 4132 Tigela Mesa Bojo VerdeeManganês Sevilha SéculoXI
NARC D 327 Candil Iluminação Peçaincompleta VidradoParcial Local SéculosXI-XII
NARC D 2984 Panela Cozinha Peçaincompleta PinturaBranca Local SéculosXI-XII
NARC D 4124 Jarra Mesa Gargalo,bojoeasa Pinturabranca Local SéculosXI-XII
NARC D 4125 Tigela Mesa Fundo Pinturaemmanganêssobvidrado Local/regional? SéculosXI-XII
NARC D 4128 Formade Cozinha Bordo CerâmicaManual Local SéculosXI-XII Pão/Placa
NARC D 4129 Jarrinha Mesa Bordo,coloebojo PinturaBranca Local SéculosXI-XII
NARC E 3270 Candil Iluminação Depósito CerâmicaComum Local SéculosXI-XII
NARC E 3271 Candil Iluminação Bico PinturaBranca Local SéculosXI-XII
NARC E 3275 Candil Iluminação Depósito Vidrada Local SéculoXII
NARC E 3279 Candil Iluminação Depósito CerâmicaComum Local SéculosXI-XII
NARC E 3447 Jarrinha Mesa Bordoecolo PinturaVermelha Regional? SéculoX
NARC E 4160 Candil Iluminação Depósito PinturaVermelha Regional? SéculoX
NARC E 4161 Cântaro Armazenamento Bordo,coloeasa PinturaBranca Local SéculosX-XI
NARC E 4163 Talha Armazenamento Bordoecolo CerâmicaDecorada Local SéculosXI-XII
NARC E 4164 Tigela Mesa Peçaincompleta PinturaVermelha Local SéculoXI
Consumo e utilização de recipientes cerâmicos no arrabalde ocidental da Lisboa islâmica (Núcleo Arqueológico da Rua dos Correeiros e Mandarim Chinês)
Jacinta Bugalhão | Sofia Gomes | Maria João Sousa
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 1. 2007, p. 317-343 339
Quadro 3. Consumo/utilização de recipientes cerâmicos no NARC e MC: catálogo/tabela [cont.]Sítio Contexto N.º Tipo Função Conservação CategoriaTécnicaeDecorativa Fabrico Cronologia
NARC E 4165 Jarrinha Mesa Bordo,coloasaebojo PinturaBranca Local SéculosXI-XII
NARC E 3449 Tigela Mesa Bordoebojo CordaSecaTotal Importação, SéculoXII Almeria/Málaga?
NARC H 3452 Candil Iluminação Depósito VerdeeManganês Sevilha SéculoXI
NARC H 4159 Jarrinha Mesa Bordoecolo CordaSecaParcial Local/regional SéculoXI
NARC I 2938 Cântaro Armazenamento Bordo,asasebojo PinturaBranca Local SéculoXI
NARC I 2971 Jarrinha Mesa Peçacompleta PinturaBranca Local SéculoXI
NARC I 2985 Candil Iluminação Peçaincompleta CerâmicaComum Local SéculoXI
NARC I 3221 Jarrinha Mesa Peçaincompleta VerdeeManganês Importação, SéculoXI Dénia?
NARC I 3240 Caçoila Cozinha Bordoebojo CerâmicaComum Local SéculoXI
NARC I 3241 Jarrinha Mesa Peçaincompleta PinturaBranca Local SéculoXI
NARC I 3242 Tigela Mesa Bojoefundo Vidrada Local SéculoXI
NARC I 3246 Garrafa Mesa Gargaloeasa CordaSecaParcial Local/regional SéculoXI
NARC I 3247 Jarro Mesa Bojo CordaSecaParcial Local/regional SéculoXI
NARC I 3248 Tigela Mesa Bordoebojo PinturaVermelha Local SéculoXI
NARC I 3249 Tigela Mesa Bordo,bojoefundo PinturaVermelha Local SéculoXI
NARC I 3250 Tigela Mesa Bordoebojo VerdeeManganês Importação, SéculoXI Sevilha
NARC I 3454 Panela Cozinha Peçacompleta PinturaBranca Local SéculoXI
NARC I 4051 Tigela Mesa Bojoefundo VerdeeManganês Importação, SéculoXI Sevilha
NARC I 4059 Jarrinha Mesa Coloebojo CordaSecaParcial Local/regional SéculoXI
NARC I 4060 Tigela Mesa Bordoebojo VerdeeManganês Importação, SéculoXI Sevilha
NARC I 4062 Tigela Mesa Bordoebojo VerdeeManganês Importação, SéculoXI Sevilha
NARC I 4063 Tigela Mesa Bordoebojo VerdeeManganês Importação, SéculoXI Serviço
NARC I 4107 Caçoila Cozinha Bordo,bojoefundo CerâmicaComum Local SéculoXI
NARC J 163 Tigela Mesa Peçacompleta Pinturaemmanganêssobvidrado Local/regional? SéculosXI-XII
NARC J 233 Panela Cozinha Peçacompleta PinturaBranca Local SéculosXI-XII
NARC J 271 Jarrinha Mesa Peçacompleta PinturaBranca Local SéculosXI-XII
NARC J 521 Tigela Mesa Peçacompleta Vidrada Local SéculosXI-XII
NARC J 522 Caçoila Cozinha Peçacompleta PinturaBranca,brunida Local SéculosXI-XII
NARC J 661 Formade Cozinha Bordo CerâmicaManual Local SéculosXI-XII Pão/Placa
NARC J 664 Taça Mesa Bojo,asaefundo PinturaVermelha Importação? SéculoXII
NARC J 669 Tigela Mesa Peçaincompleta Pinturaemmanganêssobvidrado Local/regional? SéculosXI-XII
NARC J 683 Tampa Cozinha Bordoebojo PinturaBranca Local SéculosXI-XII
NARC J 684 Tampa Cozinha Bordoebojo PinturaBranca Local SéculosXI-XII
NARC J 690 Caçoila Cozinha Bordoebojo CerâmicaComum Local SéculosXI-XII
NARC J 692 Taça Mesa Bojo PinturaVermelha Importação? SéculoXII
NARC J 694 Forma Cozinha Bordo CerâmicaManual Local SéculosXI-XII dePão
NARC J 696 Caçoila Cozinha Bordoebojo CerâmicaComum Local SéculosXI-XII
NARC J 698 Garrafa Mesa Gargalo,asaecolo PinturaBranca Local SéculosXI-XII
NARC J 699 Forma Cozinha Fundo DecoraçãoIncisa Local/Regional? SéculosXI-XII dePão
NARC J 700 Panela Cozinha Boca,asasebojo PinturaBranca Local SéculosXI-XII
NARC J 701 Jarrinha Mesa Peçaincompleta PinturaBranca Local SéculosXI-XII
NARC J 703 Jarro Mesa Bojo PinturaBranca Local SéculosXI-XII
NARC J 704 Panela Cozinha Bordo,asaebojo CerâmicaComum Local SéculosXI-XII
Jacinta Bugalhão | Sofia Gomes | Maria João Sousa Consumo e utilização de recipientes cerâmicos no arrabalde ocidental da Lisboa islâmica (Núcleo Arqueológico da Rua dos Correeiros e Mandarim Chinês)
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 1. 2007, p. 317-343340
Quadro 3. Consumo/utilização de recipientes cerâmicos no NARC e MC: catálogo/tabela [cont.]Sítio Contexto N.º Tipo Função Conservação CategoriaTécnicaeDecorativa Fabrico Cronologia
NARC J 4101 Talha Armazenamento Bordo CerâmicaComum Local SéculosXI-XII
NARC N 3278 Candil Iluminação Depósito Vidrada Local/regional? SéculosX-XI?
NARC N 4102 Caçoila Cozinha Peçaincompleta CerâmicaComum Local SéculosX-XI?
NARC N 4105 Fogareiro Cozinha Bojoegrelha CerâmicaComum Local SéculosX-XI?
NARC N 4106 Panela Cozinha Bordoecolo CerâmicaComum Local SéculosX-XI?
MC R 263 Tampa Cozinha Peçaincompleta CerâmicaComum Local SéculoXII
MC R 280 Jarrinha Mesa Peçaincompleta PinturaBranca Local SéculoXII
MC S 283 Taça Mesa Peçacompleta Chacota Local SéculoXII
MC S 296 Brinquedo Outros Peçaincompleta CerâmicaComum Local SéculoXII
NARC U 4048 Tigela Mesa Fundo VerdeeManganês Importação,? SéculoXI
NARC U 4053 Tigela Mesa Bordo,bojoefundo VerdeeManganês Importação, SéculoXI Córdova
NARC U 4108 Tampa Cozinha Bordo,bojoefundo CerâmicaComum Local SéculosXI-XII
Fig. 24Consumo/utilizaçãodecerâmicanoNARC-BCPeMC:cerâmicadecozinha.
Consumo e utilização de recipientes cerâmicos no arrabalde ocidental da Lisboa islâmica (Núcleo Arqueológico da Rua dos Correeiros e Mandarim Chinês)
Jacinta Bugalhão | Sofia Gomes | Maria João Sousa
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Fig. 25Consumo/utilizaçãodecerâmicanoNARC-BCPeMC:cerâmicademesa.
Jacinta Bugalhão | Sofia Gomes | Maria João Sousa Consumo e utilização de recipientes cerâmicos no arrabalde ocidental da Lisboa islâmica (Núcleo Arqueológico da Rua dos Correeiros e Mandarim Chinês)
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 1. 2007, p. 317-343342
Fig. 26Consumo/utilizaçãodecerâmicanoNARC-BCPeMC:cerâmicadeiluminação.
Consumo e utilização de recipientes cerâmicos no arrabalde ocidental da Lisboa islâmica (Núcleo Arqueológico da Rua dos Correeiros e Mandarim Chinês)
Jacinta Bugalhão | Sofia Gomes | Maria João Sousa
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 1. 2007, p. 317-343 343
NOTAS
* InstitutoPortuguê[email protected] 2 DELERY,C.(emelaboração)-Donnéessurlesdynamiqueséconomiques,** InstitutoPortuguê[email protected] socialesetculturellesd’al-Andalus(Xe-XIIIes.)àpartird’uneétudedes*** InstitutoPortuguê[email protected] techniquesetdeladiffusiondelacéramiquedecuerdaseca.1 Sobreainterpretaçãofuncionaldestasplacasremete-separaas tesededoutoramentoaapresentarnaUniversidadedetoulouse-
reflexõesdeLopeseRamalho(2001,p.68),quelheatribuemuma -LeMirail.
funçãodecozinhapolivalente(baseparacozerpão,tampadetalha
oubaseparaprepararalimentos).
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InstitutoPortuguêsdeArqueologia(documentopolicopiado).
Fig. 27Consumo/utilizaçãodecerâmicanoNARC-BCPeMC:cerâmicadearmazenamento.