Download - Contos de Fadas
A Literatura fantasista foi a
forma privilegiada da
Literatura Infantil desde os
seus primórdios (séc. VII) até a
entrada do Romantismo;
A partir daí o maravilhoso
dos contos populares é
definitivamente incorporado ao
seu acervo;
É feito através dos trabalhos
dos Irmãos Grimm, na
Alemanha; de Hans Christian
Andersen, na Dinamarca;
Garret e Herculano em
Portugal e etc.
O Maravilhoso sempre foi e
continua sendo um dos
elementos mais importantes na
literatura destinada às crianças;
A Psicanálise afirma que os
significados simbólicos dos
contos maravilhosos estão
ligados aos eternos dilemas que o
homem enfrenta ao longo de seu
amadurecimento emocional;
E essa Literatura Infantil pode
ser decisiva para a formação da
criança em relação a si mesma e
ao mundo a sua volta.
Origens nas narrativas
mitológicas, na poesia e no
drama greco-romano;
Marco básico: Eros de Psique
de Apueleio, uma história
onde surge um protótipo da
vilã na figura de Vênus (a
sogra) e uma heroína
rebaixada, obrigada a prestar
algumas tarefas domésticas e
auxiliada por animais.
Fontes pagãs que são
apropriadas pela população
campesina, em geral iletrada.
Seus argumentos se
desenvolvem dentro da magia
feérica (reis, rainhas, bruxas,
anões, objetos mágicos);
O eixo gerador dos contos
de fada é uma problemática
existencial. É a realização
essencial do herói ou da
heroína, e que via de regra
está ligada a união Homem-
Mulher.
No final do séc. XVII sente-se
atraído pelos relatos maravilhoso
guardados pela memória do povo
e dispõe-se a redescobri-los
A preocupação dele no início da
recriação da literatura folclórica
estava longe de ser com a
infância;
Só após a sua terceira
adaptação, “A pele de Asno” é
que se manifesta sua intenção de
produzir uma literatura para
crianças;
Perrault deseja provar a
equivalência de valores entre os
Antigos greco-latinos e os Antigos
nacionais e com esse material
divertir as crianças;
Com a publicação dos oito
Contos da Mãe Gansa, nascia a
literatura infantil, que hoje
conhecemos como Clássica.
São publicados pela primeira
vez: A Bela Adormecida no
bosque, Chapezinho Vermelho, O
Barba Azul, O Gato de Botas, As
fadas, A Gata Borralheira,
Henrique do Topete e O Pequeno
Polegar.
Os Irmão Grimm recolheram
diretamente da memória popular
as antigas narrativas, lendas ou
sagas germânicas;
Tinham como objetivos básicos
o levantamento de dados
linguísticos e a fixação dos textos
do folclore literário germânico;
A primeira coletânea publicada
em 1812 com o nome de Kinder
und Hausmärchen e apresentava
51 narrativas;
A quinquagésima edição já
totalizava 181 narrativas.
Algumas são de fundo europeu,
tendo sido escritas também por
Charles Perrault no séc. XVII, o
que remete a existência de uma
fonte comum;
O Romantismo trouxe ao
mundo um sentido mais
humanitário.
Século XIX – início do Romantismo:
Histórias autenticamente
românticas – sensibilidade, fé cristã,
valores populares, ideais de
fraternidade, generosidade humana.
Padrões de comportamento. Vida
enquanto sofrimento para alcançar o
céu.
Nostalgia – período em que
Andersen viveu. Dinamarca sob
domínio napoleônico – grande
expansão econômica, progresso
industrial, contrastes.
Região Nórdica. Folclore.
Contos: realidade cotidiana –
injustiça social e egoísmo. Contos
tristes, fins trágicos.
Nascimento:
02/04 – Dia Internacional da
Criança (Andersen “imortal”)
18/04 – Dia da Criança
Brasileira (Monteiro Lobato)
Morte: 1875 – fortuna destinada
a crianças abandonadas ou
pobres.
Precursor da literatura infantil
mundial.
Valores ideológicos:
Defesa dos direitos;
Valorização do indivíduo por
suas qualidades próprias;
Expansão do Eu;
Consciência da precariedade da
vida;
Crença na superioridade das
coisas naturais;
Incentivo à caridade e à
fraternidade cristãs;
Sátira às mentiras usadas pelos
homens;
Condenação de sentimentos
inferiores;
Valorização de comportamentos
como virtudes básicas da mulher.
Conto sem autores ou forma
final e definitiva.
A primeira fonte é uma
história “real”, no sentido em
que seu registro não pretendia
ser uma fábula, mas sim
histórico. O historiador grego
cita a personagem Rópope:
“Contam uma história
fabulosa, quando ela estava se
banhando, uma águia roubou
uma de suas sandálias da guarda
de sua dama de
companhia e levou-a até Memfis;
e quando o rei administrava
justiça em uma área aberta, a
águia, quando vôo por sobre sua
cabeça, lançou a sandália no seu
colo; e o rei, impressionado pela
beleza da sandália e o inusitado
do acontecido, mandou seus
homens por todos os cantos da
nação para encontrar a mulher a
quem a sandália pertencia; e
quando ela foi localizada na
cidade de Naucratis, foi levada
até Memfís, tornando-se esposa
do rei, e quando morreu foi
homenageada com a tumba
acima mencionada.”
O próximo registro já incluiu
elementos fantásticos, que é
uma história chinesa,
registrada no século IX: Yeh-
Shen;
Diversos elementos são
adicionados, como a madrasta
má, uma outra irmã e o baile;
O auxílio exterior mágico é
apresentado pelo espírito de
um peixe, a quem Yeh-Shen
alimentara quando vivo;
Na Europa, o primeiro registro
foi feito pelo italiano
Giambattista Basile no
Pentamerone.
Nesta versão a heroína ganha
o nome Cinerentola, ao ser
obrigada tomar conta de uma
lareira. Ela é uma princesa
injustiçada que conta com o
auxílio de uma fada que vive na
Sardenha. Também freqüenta
um festival e nele perde sua
sandália.
É importante notar que é
destas versões, o único que não
apresenta certa mobilidade
social, pois Cinerentola é nobre.
As duas narrativas mais
conhecidas são as versões de
Charles Perrault e dos Irmãos
Grimm;
Perrault introduz a fada-
madrinha, o auxilio de animais
encantados e a proibição da
Meia-noite. O sapatinho torna-se
de cristal. São dois os bailes;
É um conto adocicado cuja
heroína é o modelo da boa moça
resignada, ingênua, cheia de
pudor que nunca impõe sua
vontade;
Estudos mostram que muitos
elementos foram negligenciados
na versão elaborada por
Perrault, que se despojou de
passagens que considerava
vulgar e refinou o restante para
que o conto pudesse ser exposto
na Corte de Versales, para a
qual prestava serviços.
Sendo ele um autor de bom
gosto e grande habilidade,
inventou novos detalhes e
modificou outros tantos para
que ficassem de acordo com as
concepções estéticas esperadas
pela realeza.
Os Grimms eram famosos
por criarem versões dos
contos que recolhiam,
utilizando-se de fontes
anteriores e não somente o
registro oral.
Nesse conto, Cinderela é
auxiliada pela mãe, não por
uma fada madrinha e faz seus
pedidos no túmulo materno.
Nos Grimms os papéis
femininos são radicais: ou
representam uma autoridade
benevolente, como as mães,
ou o descontrole maligno
como as bruxas e madrastas.
No caso do Grimm, o
conflito de classes, como a
ascensão social de Cinderela
ao disputar o príncipe com as
irmãs, é realçado.
“Enquanto não tinha ninguém
em casa, Cinderella foi ao
túmulo de sua mãe, sentou-se
sob a árvore e disse
"Balance e se agite, árvore
adorada,
Me cubra toda de ouro e
prata."
O passarinho entregou-lhe um
vestido de ouro e prata e
sapatos de seda com bordados
de prata. Ela vestiu-se com
pressa e foi ao baile.”
“Sua madrinha, que a viu em
prantos, perguntou-lhe por que
chorava.
[...]
Bastou que a madrinha a
tocasse com a varinha de
condão e no mesmo instante
seus vestidos se
transformaram em outros de
ouro e prata, semeados de
pedrarias. A seguir, a fada deu-
lhe um par de sapatinhos de
vidro, os bonitos do mundo.”
“Na cerimônia do casamento do
príncipe, as duas irmãs falsas
foram e queriam ficar de bem
com Cinderela e dividir com ela
a boa fortuna que teve.
Quando os noivos chegaram à
igreja, a mais velha estava à
direita e a mais nova à esquerda,
e as pombinhas arrancaram um
olho de cada uma das irmãs.
Depois quando voltavam, a mais
velha estava à esquerda e a mais
nova à direita, e as pombinhas
arrancaram o outro olho de cada
uma delas. E então, por sua
maldade e falsidade, elas foram
punidas com a cegueira até o fim
de suas vidas.”
“Foi então que as duas irmãs a
reconheceram no baile. Lançaram-
se a seus pés para pedir-lhe
perdão por todo os maus tratos
que lhe aviam proporcionado, mas
a Borralheira as ergueu, dizendo-
lhe entre beijos que as perdoava
de todo o coração e pedindo-lhes
que a estimassem. [..] A
Borralheira, que era de tão bom
coração, quanto era bela, levou as
duas irmãs ao palácio, dando-as
em casamento a dois grandes
fidalgos da corte.”
A versão atual começa com
uma rainha estéril que anseia
por uma criança;
Ao picar o dedo com uma
agulha e ver o sangue pingar na
neve, a Rainha deseja ter uma
filha: “Alva como a Neve, Rubra
como o Sangue e Negra como
Ébano”;
Seu desejo foi atendido, mas
após o nascimento de sua filha
a Rainha morre;
A morte da Rainha mãe foi uma
reviravolta na história
introduzida dos Grimm;
Em suas primeiras versões é a
mãe biológica que motivada por
ciúme tenta matar a menina;
Ela foi transformada em
madrasta malvada a partir de
1819;
Os irmãos Grimm trabalharam
muito no livro “Kinder-und
Hausmärchen” após sua primeira
edição em 1812;
Especialmente Wilhelm que
infundia as novas edições com
seu fervor cristão fortalecendo os
traços morais da trama;
Distribuía as penas para os
maus e recompensas para os
justo, em conformidade com os
valores sociais e cristãos
dominantes.
Outro ponto é que inicialmente
os contos de fadas não foram
publicados com as crianças em
mente e sim para os estudiosos
Mais tarde os contos se
popularizaram entre as famílias,
as crianças e os mais leigos;
Então os irmãos tomaram
cuidado para eliminar o material
que consideravam impróprio
chegando as vezes a reescrever
contos inteiros;
Existem várias versões desse
conto ao redor do mundo e as
interpretações são as mais
diversas;
Em alguns lugares a princesa é
envenenada com flores, bolo,
vinho, sapatos e até com tinta
de carta;
Os anões podem ser ladrões,
mineiros e até monges. O corpo
da princesa em algumas
histórias é lançado ao mar,
enviado para as fadas ou
roubados por ciganos;
A versão mais conhecida desse
conto ocorreu após o filme da
Disney em 1937
Foram feitas várias alterações
significativas como dar nome e
personalidade aos anões
A princesa já não é mais uma
criança e o papel do príncipe é
expandido, pois o seu amor é
demonstrado no início do filme
Foi um grande sucesso e amado
por gerações de crianças, mas é
um mundo a parte criado pela
Disney.
Na versão da Disney a Rainha
pede ao caçador que traga o
coração e não o fígado e os
pulmões;
O coração tem uma conotação de
pureza, está relacionado à
bondade;
No original ocorrem 3 tentativas
de envenenamento: Uma com uma
fita, outra com um pente e a
última e fatal com a maçã;
A princesa desperta após os
servos do príncipe tropeçarem e o
pedaço de maçã envenenada soltar
de sua garganta. Já no filme ela é
despertada pelo beijo mágico;
Na versão dos Grimm a Rainha
é convidada para o casamento da
nova princesa sem saber que ela
era Branca de Neve;
A Rainha foi obrigada a calçar
um par de sapatos de ferro
quentes em brasa e dançar até
cair morta;
Na versão cinematográfica a
Rainha é morta após uma
perseguição com os anões ao cair
de um penhasco;
“ ... Bem que eu poderia ter uma
criança tão alva como a neve,
tão corada como sangue e de
cabelos cor de ébano”
“ A coitadinha ficou só na
floresta, sem viva alma por
perto, e se sentiu tão
amedrontada que não soube o
que fazer”
“Branca de Neve estava muito
faminta e sedenta, por isso
comeu um pouco de pão e salada
de cada prato...”
“ ... Ah! Se eu pudesse ter um
filhinho, um filhinho branco
como a neve, corado feito o
sangue e com o cabelo preto
feito o ébano dessa janela!”
“ Na enorme floresta, a pobre
garota esta terrivelmente
sozinha e com tanto medo que se
fosse possível ia fazer questão de
ver o que havia atrás de cada
folha.”
“ Branca de Neve estava com
uma fome tão tremenda, uma
sede tão terrível, que não
aguentou e comeu um pouquinho
de comida de cada pratinho...”
“- Quem sentou na minha
cadeira?
- Quem comeu no meu prato?...”
“Ora aconteceu que eles
tropeçaram em um galho de
árvore seco, e o impacto deslocou
o pedaço de mação pela boca de
Branca de Neve”
“Então a malvada soltou uma
praga e ficou tão horrivelmente
assustada que não soube o que
fazer. Contudo não descansou:
sentiu-se obrigada a ir ver a
jovem rainha.”
“ – Quem sentou na minha
cadeirinha?
- Quem comeu no pratinho?...”
“ Mas aconteceu que os
empregados do príncipe
tropeçaram na raiz de uma árvore
e com o solavanco o pedaço de
mação que estava preso na
garganta de Branca de Neve pulou
fora de sua boca.”
“... A rainha soltou um palavrão e
se encheu de pavor. No começo
achou que não ia naquele
casamento de jeito nenhum, mas
depois não aguentou e resolveu ir,
comida de inveja, só para ver a
cara da jovem rainha.”
Publicado em 11 de Novembro de 1843.
Carta de 21 de Julho de 1869 a Georg Brandes: “O Patinho Feio é um reflexo de minha própria vida”. Tom autobiográfico.
“[...] Mas o que viu na água
transparente? Viu sob si a sua
própria imagem, porém já não
era um torpe pássaro cinzento,
escuro, feio e repugnante: era
um cisne.
Que importância ter nascido
com patos, quando se saiu de
um ovo de cisne!
Sentia-se compensado de sobra
por todas as dores e
contratempos que sofrera; só
pensava na sua felicidade, em
toda a beleza que o aguardava.
E os grandes cisnes nadavam à
sua volta e o acariciavam com o
bico.
No jardim, entraram algumas
crianças [...]
Foram correndo buscar os pais,
e lançaram pão e bolachas na
água, e todos disseram:
-O novo é o mais bonito! Tão
jovem e tão belo! – e os cisnes
mais velhos se inclinaram ante
ele.
Porém, ele sentiu muita
vergonha e pôs a cabeça
debaixo das asas, sem saber por
quê; estava demasiado feliz,
mas não sentia orgulho algum,
porque um bom coração nunca
se torna orgulhoso[...]
-Nunca sonhei com semelhante
felicidade quando era um
patinho feio.”
“[...] quando viu sua imagem
refletida na água.
Que surpresa! Ele já não era
mais um patinho feio, e sim
um belo cisne! [...] E
enquanto os patinhos velhos
aproximavam-se para saudá-
lo, o patinho feio levantou a
cabeça com orgulho e
elegância e começou a nadar,
muito feliz por saber que era
um formoso cisne.”
Perrault e Andersen – influências do folclore, base popular.
Perrault – registrador, enquanto Andersen viveu os
problemas que estão registrados. Por isso, ele acaba sendo
mais psicológico, sentido e interpretado que Perrault, que
transmite as tradições, mas não as vive. Foi um curioso
intelectual das tradições, dos contos clássicos, cheios de
fantasia e de riqueza folclórica e humana. Realismo.
Andersen – mostra mais as reações do que os fatos em si.
Abandona, em parte, as narrações, para penetrar nas
relações humanas, seus dramas e beleza interior. Sua
experiência é vivida e sentida. Romantismo.
Grimm – pesquisadores do folclore, embora com outras
implicações. Eram motivados pelo nacionalismo exaltado pelo
romantismo. Buscavam as tradições populares no culto de
seu povo e sua terra.
Os três tinham o mesmo objetivo: atingir a infância.