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C O N T O S M A R I S T A S
PARA RIR E REFLETIR
Pesquisa e elaboração
Ir. Sebastião Antonio Ferrarini
Prefácio
Ricardo Tescarolo
Revisão
Ir. Salvador Durante
Colaboração
Ir. Ivo Antonio Strobino
Ilustrações
Emerson da Silva Araújo
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Observação
Contos Maristas – Para Rir e Refletir, apresenta FATOS DE NOSSA HISTÓRIA DAS ORIGENS. Nele não se deve procurar
exatidões de datas, locais e personagens. São cenas do quotidiano marista das origens. Os quadros que apresentamos certamente ajudarão a compor uma imagem mais realista de Champagnat e das primeiras comunidades maristas. Propiciam momentos de risos e também de reflexão. Evitamos notas e explicações para não induzir reações dos leitores e leitoras. Se Champagnat é hoje dos
andores, é porque foi muito dos andares!
PREFÁCIO
“Contos Maristas – para rir e refletir”, elaborado com carinho
e competência pelo Ir. Sebastião Antonio Ferrarini, utiliza um
processo criativo de investigação das diversas fontes e
documentos maristas. Este trabalho reconstitui o cotidiano
profundamente humano do Instituto Marista em suas origens,
valendo-se do grande poder educativo e evangelizador das
narrativas protagonizadas por São Marcelino Champagnat.
Ficam evidentes também a devoção e carinho empregados
pelo Ir. Ferrarini na elaboração deste trabalho. Afinal, como
dizia Paulo Freire, a razão deve sempre estar encharcada de
emoção para que possamos compreender uma realidade
sempre mais complexa, por isso mesmo, mais desafiadora.
A memória resgatada e comentada por “Contos Maristas –
para rir e refletir”, é um verdadeiro presente do passado -
presente no duplo sentido de permanência e dádiva. Ela
demonstra grande fidelidade às nossas origens e nasce de
um sentimento sincero de gratidão por aqueles que antes de
nós abriram o caminho e deixaram como legado um
humanismo cheio de simplicidade e humildade, virtudes que
sustentam o projeto de vida marista e emergem
profeticamente, hoje, como resposta aos nossos anseios de
revitalização.
“Contos Maristas – para rir e refletir” narra a vida de gente
de seu tempo, seres humanos, como nós, impregnados de
um contexto cheio de contradições e incertezas, virtudes e
defeitos, heroísmos e hesitações, esperança e desalento,
levando-nos a reconhecer que uma autêntica espiritualidade
nasce nas circunstâncias próprias de cada pessoa e sofre as
influências, as tradições e os costumes de cada época e de
cada povo.
Convido todos os leitores e leitoras a saborearem “Contos
Maristas – para rir e refletir” em sua descrição das cenas
vividas por Champagnat, seus Irmãozinhos de Maria e
outras personagens que com eles conviveram e com eles
construíram a nossa história, contribuindo assim para
discernirmos ainda melhor os desafios enfrentados por
nossos pioneiros, vivência que se manifesta em um
cristianismo prático e encarnado que soube “ler os sinais
dos tempos”.
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E se as cenas descritas nos divertem, também nos fazem
refletir muito (afinal, “ridendo castigat mores”...),
principalmente sobre a espiritualidade de Marcelino
Champagnat, que viveu um processo de conversão baseado na
oração, no exercício permanente da presença de Deus, na
confiança na proteção de nossa Boa Mãe, na fraternidade da
vida comunitária, no exercício das pequenas virtudes e em um
apostolado em que o mais necessitado mereceu sempre muito
cuidado, atenção, misericórdia e solidariedade, enfim, amor.
Ficam bastante destacadas nas histórias que o Ir. Ferrarini nos
conta o bom senso, a prudência, a coragem, a firmeza, o
espírito de justiça, a generosidade, a simplicidade, a tolerância,
a gratidão e a profunda humildade de Marcelino que, não
tendo nascido santo, no entanto “empenhou toda sua vida
nesse sentido”, como observa o Ir. Séan Sammon em sua
Circular “Uma Revolução do Coração”.
“Contos Maristas – para rir e refletir” nos apresenta, enfim,
um Champagnat tão humano que, parafraseando uma
conhecida citação, só podia ser santo.
CHAMPAGNAT
João Batista Champagnat na corda bamba
Os chefes revolucionários nomearam João Batista
Champagnat Juiz de Paz em 1793 e o encarregaram de prender
os padres não juramentados, os religiosos e pessoas honestas.
Parece que o senhor Champagnat esforçou-se pouco, pois
foi acusado de favorecer os mesmos que devia perseguir.
Com efeito, sua irmã religiosa escondeu-se em sua casa e
tolerava que ela assistisse nas caladas da noite, assim como
a sua esposa, a missa de um padre escondido no vilarejo. E
mais, impediu os revolucionários de Saint-Etienne de
demolir a igreja de Saint-Genest embebedando-os com
vinho. Ele foi denunciado de ser negligente no seqüestro
dos bens dos celerados, de prender as beatas e fanáticas e os
padres refratários... (Avit, I, 10).
Quem bebeu, beberá
Certo de que sua paróquia abrigava muitos e excelentes
vinhateiros, o senhor Rebot tirava partido disso. Pessoas
sérias asseveram que ele quis forçar seu vigário a beber
como ele; que era bom para o clero ajudar decididamente os
vinhateiros a escoar seus produtos. O jovem vigário não deu
a mínima para essas idéias e resistiu às suas invectivas. Para
tirá-lo do mau caminho, Champagnat, lhe fez respeitosas
observações. Chegou mesmo a ponto de não beber senão
água durante um ano todo. Não conseguiu muito resultado e
se confirmou o provérbio: quem bebeu, beberá. (Avit, I, 29).
Primeira eleição no Instituto
Crescendo o número de candidatos em La Valla,
Champagnat propôs que a comunidade elegesse, por
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votação secreta, o seu superior. Fez-se a apuração e, na
presença da comunidade, Champagnat leu o resultado: eleito o
Ir. João Maria (Furet, 64)
Por cumes e vales
O Ir. Silvestre diz que percorreu algumas vezes com o Pe.
Champagnat a região montanhosa de La Valla. Diz então
compreender o quanto o Fundador deve ter sofrido visitando
as diversas aldeias. Essas idas e vindas não eram só para
visitar os doentes, mas também para reconciliar inimigos,
restabelecer a união nas famílias, consolar os aflitos, socorrer
os pobres, enfim, realizar uma pastoral completa (Sylvestre,
98).
O papagaio do Pe. Champagnat
O prezado Padre Goutorbe, vindo orientar um retiro para os
Irmãos do Segundo Noviciado, contou uma passagem da vida
do nosso Fundador, que merece ser conservada. O cenário foi
a casa natal do pregador do retiro, em Saint-Chamond, onde os
parentes lhe contaram mais de vinte vezes. Esta historinha
pode ser muito interessante seja aos noviços como aos Irmãos
do segundo Noviciado.
Ao se sair da Igreja de São Pedro de Saint-Chamond, pela
porta principal, depois de andar uns cinqüenta passos, chega-
se a uma casa antiga, situada do lado direito da rua e ocupada
atualmente pelo Bazar Miolan. Esta velha casa tinha uma
grande janela envidraçada no andar térreo que servia de
vitrine. Na parte de cima havia, como ornamento, um
escudo e duas janelinhas geminadas, que davam luz a um
dos quartos deste andar.
Nesta casa morava há dois séculos uma honrada família,
cujo chefe à época (por volta de 1835) era o senhor Mateus
Goutorbe, paroquiano exemplar, cujo nome ainda se
encontra gravado na sacristia entre os fabriqueiros; um
homem de grande caridade e grande amigo de nosso
Fundador.
O Pe. Champagnat tinha de se deslocar seguidamente de
Hermitage para Saint-Chamond. Encontrava nesta casa um
acolhimento amigo. Ele era ali estimado pelos bons
conselhos que sempre dava, seu humor, bom senso, espírito
de fé.
Havia nesta casa um lindo papagaio. Maria, a empregada
doméstica o levava muitas vezes para a cozinha, enchendo-
o de mimos. Depois as crianças o lavavam para o andar
superior e ali se divertiam com a linda ave. Daquelas
janelinhas o papagaio podia observar o mundo lá fora.
Quando Champagnat chegava ali, fazia aquilo que todo
mundo faz diante de um papagaio. Dava-lhe com freqüência
pedaços de açúcar.
O filho mais velho, Adriano, talvez de 13 a 14 anos, teve
logo a idéia de ensinar o papagaio a falar. O que lhe
ensinar? Pensou logo ensiná-lo a saudar o Pe. Champagnat.
Que surpresa seria! E logo encontrou a frase apropriada:
"He, bonjour, Monsieur Champagnat". Aprender o Hé não
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foi difícil, mas com as outras palavras o pobre do papagaio se
enrolava. O aprendizado foi longo.
Eis que certo dia Adriano observa Champagnat saindo da
Igreja. Correu logo para a janela com a ave e foi coisa de
instantes fazê-la repetir o refrão ensinado: "Hé Champagnat,
Hé Champagnat".
Champagnat ficou estupefato ouvindo uma voz desconhecida
que o chamava com um sotaque tão estranho; parou e deu uma
olhada ao seu redor, mas não viu ninguém. Continuou a andar.
Ao se aproximar da casa Goutorbe nova vibrante saudação: Hé
Champagnat, Hé Champagnat". Levantou então a cabeça e
pode ver o papagaio.
"Ah malandro, é você", apontando com o dedo, "e eu que te
dava pedaços de açúcar; é assim que você me agradece; não
ganhará mais nada".
E entrou. Adriano, ao mesmo tempo receoso e contente, muito
cioso de seu aluno de penas verdes, pensava o que iria
acontecer.
Mas Champagnat era de bom humor, e todos juntos riram à
vontade da brincadeira. Por certo a ave não deixou de
continuar ganhado o seu pedacinho de açúcar.
Quando a ave morreu, embalsamaram-na para agradar a
doméstica Maria e que ainda era guardado em 1929. (Bulletin,
1929, 77, p. 257-259)
Uma pedra a mais uma pedra
a menos não faz falta
Champagnat contou este sonho que teve: Eu estava no
terraço do noviciado de onde se tem uma visão geral da casa
de l’Hermnitage, quando percebi, vindo das bandas de
Saint-Chamond, um batalhão de homens de grande estatura,
vestidos metade como Irmãos e metade como soldados.
Cada uma dessas caricaturas de Irmãos, passando ao lado da
casa, tirava do edifício uma pedra e a levava consigo.
Inutilmente eu me opunha a essa destruição. Mas eles me
respondiam que uma pedra a mais, uma a menos, não
significava nada a uma tão grande construção. Logo os
muros, cada vez mais desfalcados, se racharam. O teto
desabou e a casa ficou em ruínas. Quando esses homens
chegaram ao meio do jardim que se encontra na frente da
casa, eles se desfizeram das pedras atirando-as na cabeça
dos jovens Irmãos que ali estavam trabalhando. Com isso
um grande número morreu atingido pela nuvem de pedras.
Os Irmãos-soldados continuaram a sua marcha ao longo do
rio e sumiram em um vale estreito tomado de cerração, no
fim do qual havia um abismo (Le Bon Supérieur, 11; Avit
AA I, 142)
Absolvendo sem podres
“Esta manhã, enquanto estava confessando, veio-me à
lembrança que meus poderes estavam por expiar. Logo saí
do confessionário e fui ver minha folha. Meus poderes
terminaram ontem, dia 4 de agosto. Rogo-lhe o favor de
prorrogá-los, se julgar bom. Já vai para 21 anos que peço
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prorrogação de meus podres; mas, faça como lhe parecer
melhor” (Cartas nº 127).
Nova moda: dançar agarradinhos
A sociedade francesa não estava afeita à valsa, dança
executada por par em contato físico. Com o regresso dos
campos de batalha no Império Austro-Húngaro, os soldados
franceses incrementaram essa dança na França. Não só a
Igreja, mas também intelectuais desaprovavam-na.
Champagnat fez a sua parte em sua paróquia, reprimindo-a.
Mas inovou pastoralmente, conseguindo assim um equilíbrio
entre o lúdico e o espiritual (Furet, 24).
A eterna tentação das riquezas
As viagens do Pe. Champagnat eram, normalmente, feitas
sempre a pé. Foi assim quase até a sua morte. Muitas vezes
teve de fazê-las guardando longos jejuns, para poder celebrar a
missa. Nessas vistas ele costumava inspecionar tudo para levar
as coisas bem em ordem, examinar se os Irmãos eram sérios
em sua vida religiosa e se educavam corretamente os alunos.
Chegando certa feita a Ampuis, às cinco horas da manhã, os
Irmãos ainda se encontravam dormindo. Visitou toda a casa e
encontrou uma provisão exagerada de pão. Este pão estava
seco e tão duro que só se podia quebrá-lo com martelo. Muito
embaraçado, o Diretor explicou que o preferia, pois não era
mais caro que o pão de farinha integral, que se comia menos e
que alimentava mais. Mas Marcelino asseverou aos Irmãos
que até os sacerdotes não se serviam senão do pão de
farinha integral. E insistiu para que os Irmãos não se se
servissem de outro pão também. Em outra parte descobriu
uma calça de seda que o Diretor tentou explicar que não
custou senão cinco francos; ele a jogou no fogo. Outra feita
soube que um Diretor guarneceu a cozinha com vasilhame
sofisticado. Mas o fundador certificou-se de que ele, na
verdade, era muito simples. As comunidades viviam com
um orçamento bem moderado. O Ir. Avit, dizia mais tarde,
que havia uma enorme diferença entre a vida simples dos
Irmãos no tempo de Champagnat e aquela dos seus dias. E
isso merecia uma profunda reflexão (Avit, I, 58).
Sensibilidade
Os Irmãos tardaram um pouco para perceber que era
necessário dar uma mãozinha ao Pe. Champagnat. Quem se
tocou foi o Ir. Estanislau. Sem reclamar, Marcelino
desempenhava suas lides pastorais, visitava as obras,
mantinha a correspondência, a contabilidade, mil e mil
coisas. Ai o Ir. Estanislau teve o bom senso de lhe pedir
licença para arrumar o seu quarto e fazer a limpeza
(Sylvestre, 112).
O marista não é um trapista
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Havia um Irmão que era piedoso, e muito devotado ao
Instituto, mas tinha um caráter duro o que dificultava muito a
relação com os Irmãos. O Pe. Champagnat estava atento em
corrigi-lo. Como o Irmão se admirasse da persistência do
Fundador este respondeu-lhe: “Meu Irmão, se você tivesse
sido chamado a se santificar como um trapista, dentro dos
muros de um convento, eu daria menos atenção a seus defeitos
de caráter, porque atrapalhariam pouco e não o impediriam de
ser um bom religioso. Mas você é um Irmão educador e vive
numa comunidade. O seu caráter perturba muito os Irmãos e
os alunos, a paz e a união estariam comprometidas”. (Le Bon
Supérieur, 189).
Novos druidos
Um vizinho de l’Hermitage escreveu aos país: “Ontem fui
participar das vésperas em Bois Coulaud (nome do lugar onde
se construía o Eremitério, margen direita) mais por curiosidade
do que por devoção. Realmente, são os druidas do tempo
antigo. Uns no mato, outros na relva… O povo de Layat
(aldeia acima do Eremitério, margen esquerda)sai das casas e
vem sentar-se na parte baixa de suas terras, com seus livros.
Enfim, isto merece ser publicado. Ao som do órgão, como os
cantores de Paris” (Furet, nota 6, 117).
Fazendo cobrança e promoção vocacional
Depois da chegada em La Valla do numeroso grupo de
vocacionados, Champagnat enviou um Irmão para a região
deles para informar-se que tipo de gente era e receber sua
módica pensão. Desse modo fez conhecer os Maristas fora
da diocese de Lião. Depois os jovens também escreveram a
seus país, tornando ainda mais curiosa e atraente a vida
marista (Sylvestre, 123).
O jejum dos jovens Irmãos
No tempo do Pe. Champagnat o fervor era grande no
noviciado. Todos os Irmãos, até mesmo os mais jovens
eram levados à prática da virtude por dever, por amor e por
um santo desejo de imitar Jesus Cristo. Nesse clima, em
uma quaresma, os jovens Irmãos resolveram pedir ao Pe.
Champagnat para acompanhar o rigoroso jejum dos Irmãos.
Uma comissão desses jovens foi fazer a petição ao Pe.
Champagnat. O boato logo se espalhou por toda a casa e
edificou a todos, sobretudo o cozinheiro, que teria menos
trabalho. A resposta aos jovens dada por Marcelino, veio no
dia seguinte através de uma palestra. Ele desafiou os jovens
a um outro tipo de jejum: jejuar os olhos pela modéstia;
jejuar a língua, pela prática do silêncio; jejuar as pequenas
paixões; não fazer jejuar a alma com o sadio alimento da
espiritualidade (ALSI, 45).
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Champagnat denunciado pela imprensa
Durante a Revolução de 1830, a insegurança imperava por
toda parte. Vieram comunicar ao Padre Champagnat que
l'Hermitage passaria por uma vistoria dos agentes da
revolução. Como se previa grosserias e insultos, um dos
capelães ofereceu-se para levar os formandos para um passeio.
O Fundador não o permitiu, e sendo domingo fizeram-se as
celebrações litúrgicas como de costume. O motivo de tal
vistoria se devia ao fato de se propalar que a casa estava cheia
de armas, e que um marquês ensinava os irmãos a manejá-las.
De fato tal diligência chegou e foi recebida na portaria pelo Ir.
João José. Argüido onde estava o marquês, o Irmão respondeu
não saber o que era um marquês e conduziu seu interlocutor ao
Padre Champagnat que o fez inspecionar todos os lugares da
casa. Como um dos capelães estava ausente e tinha levado a
chave do quarto, abriu a porta a golpes de machado. Resultado
da diligência: nada encontrado, nem armas nem marquês. O
Padre Champagnat ofereceu ao grupo um bom refresco. O
procurador ficou encantado da franqueza e assegurou a
Champagnat que esta visita redundaria em benefício para a
casa. De fato, o magistrado fez um desmentido de todas as
denuncias que foram propaladas pela imprensa (ALSI, 102;
Avit, I, 95).
O incômodo que causa o novo
Champagnat, atento ao que melhor podia oferecer aos
Irmãos e alunos, solicita usar certo tipo de meias, de botões
e mudar o método de alfabetização. Um bom número de
Irmãos criticou as novas medidas. Champagnat, levando em
consideração o adágio ‘vota non sunt numeranda sed
ponderanda’, explicou aos Irmãos: “Há circunstâncias em
que importa menos contar as opiniões do que pesá-las.
Vocês têm o encargo das turmas de alfabetização e estão de
prevenção contra o método, sem o terem examinado ou
experimentado seriamente. Os poucos Irmãos que o
adotaram estão satisfeitos com ele e não se queixam dos
inconvenientes que vocês assinalaram”. Champagnat tinha
razões bem fundadas para realizar as diversas mudanças
(Sylvestre, 156).
Modas e virtudes
Certo dia alguém contou ao Padre Champagnat que a
sociedade achava a batina dos Maristas mais bonita do que
aquela dos Irmãos das Escolas Cristãs. Ao que respondeu
Champagnat: "Sinto muito, mas não é pelo nosso traje, nem
por outras maneiras mundanas que devemos agradar as
pessoas. Mas unicamente por uma vida exemplar que os
possa mover à prática das virtudes" (Avit, I, 76).
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Outros saberes além do intelectual
Não se podia deixar de reconhecer que Champagnat era um
hábil operário, e mais do que isso: entendia de obras. Um
padre Marista lhe escreveu em 1836, pedindo-lhe sugestões
para a reforma de uma casa para os Padres, em Lião: “Se tudo
correr bem como esperamos, será desejável que o senhor tenha
a gentileza de vir o mais cedo possível, para ver e examinar
que plano podemos seguir em relação aos diversos consertos
que deveríamos fazer para a entrada dos alunos” (Extraits,
documento 150, 336).
Espírito do mundo
Apesar do cuidado do Fundador, cedo apareceu o abuso de
diretores de ‘freqüentar o mundo’. Paternalmente ele advertia
e orientava os Irmãos. Nas férias em l’Hermitage, ele deu
orientações seguras, mas alguns, desejando continuar esse tipo
de conduta, usaram de grosseria para com o Fundador
(Sylvestre, 154).
Recordando o Lava-pés
No dia de sua eleição, o Superior e seus assistentes servem à
mesa no refeitório, no jantar. Foi o Fundador, ele mesmo,
quem colocou este ato de humildade em prática em 1839,
quando da eleição do Ir. Francisco, seu sucessor. Por este
gesto, ele queria, sem dúvida, recordar ao Ir. Superior e a
seus assistentes, que eles tinham sido eleitos para servir aos
Irmãos, não para dominar; para ser seus pais e não seus
mestres; que o superiorado não é uma honra, mas
devotamento, solicitude e caridade (ALSI, 108).
Havendo batatas, tudo feito Um Irmão Diretor ficou incomodado por não ter nada a
oferecer ao Fundador quando este chegou à comunidade.
Champagnat não se atrapalha dizendo que comerá o que os
Irmãos têm. Iriam comer salada e queijo. O Fundador
perguntou: “Não há batatinhas. – Claro que há”. E ele
mesmo, ajudado pelos Irmãos, começa a preparar a refeição
(Furet, 362).
Versailles, monumentos e jardins
Champagnat, nos tempos vagos, durante sua estada em
Paris, começou a freqüentar a escola de surdos-mudos para
aprender o método de ensino, a fim de passar, mais tarde,
aos Irmãos (Sylvestre, 193).
De religioso, só a batina
Um Irmão foi surpreendido numa falta pelo Pe.
Champagnat. Ele se colocou de joelhos a seus pés dizendo:
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"Perdão, padre, eu não sabia que o senhor estava aqui". "E o
bom Deus, pensa você, que não está aqui? Você tem coragem
de fazer diante de Deus o que não tem coragem de fazer diante
de mim! Agindo desta forma, de religioso você tem somente a
batina. Sua vida será cheia de falta e vazia de virtudes" (Avit,
I, 111).
Estilo Champagnat
Champagnat não era orador. Não construía frases rebuscadas
nem parágrafos eruditos. Sua linguagem, como seu estilo era
simples, francês enxuto, sendo, entretanto, claro, firme a
atraente. Os Irmãos gostavam de sua coloquialidade verbal,
preferindo seu estilo simples e paternal aos discursos
grandiloqüentes (Avit, I, 202).
Vizinho incômodo
Champagnat tinha um vizinho incômodo, chamado Motiron.
Chegou a ponto de impedir aos Irmãos de pegar água no Gier
para regar a horta e de utilizar a picada que vai da casa do
Hermitage a Saint-Chamond, costeando o Gier. Champagnat
com a ajuda dos Irmãos abriu então o caminho que vai da casa
até a estrada que liga Saint-Chamond a La Valla. Depois da
morte de Motiron Champagnat dispensou todos os cuidados
necessários à sua viúva (Avit, I, 191).
Estar com os Irmãos: um prazer
As últimas viagens do Fundador eram-lhe um grande
sofrimento, por causa de sua gastrite. Seu estômago não
aceitava mais nada, por vezes apenas uma leve sopinha.
Apesar desse estado, ele se dirigia ao refeitório com os
Irmãos, pois, para ele, estar com os Irmãos era uma grande
alegria (Sylvestre, 199).
Visões sobre Champagnat
As pessoas muito ligadas a ele comentavam sobre sua vida e
sua obra. Uns diziam que fundava um colégio para competir
com o de Saint-Chamond. Que formava uma comunidade
de Irmãos lavradores, de frades eremitas. Outros
inventavam que ia instituir uma seita de beguinos.
Censuravam as normas que prescrevera à sua comunidade,
o estilo de vida, as vestes... (Furet, 107).
Massagear perna de defunto Na quarta feira de cinzas, o Fundador foi acometido de
fortes dores nos rins que não o deixaram mais até a morte.
Era-lhe mais dolorido quando estava deitado, sendo-lhe
então penoso permanecer na cama. Entretanto ficava sempre
calmo, alegre, resignado à vontade de Deus. Assim ele via
sem desanimar a dor e a dissolução de seu corpo trazendo a
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morte a seus membros. Um Irmão massageava suas pernas
para diminuir as dores. O bom pai lhe dizia rindo: "Não deve
ser coisa agradável esfregar os membros de um cadáver e,
sobretudo de um pecador. Eu lhe agradeço a caridade" (Avit, I,
297).
Pródigo, não pão duro
A comida dos Irmãos não tinha temperos excessivos e nem era
sofisticada. Nunca se soube realmente o de que Champagnat
gostava ou não gostava. Não era exigente. Servia-se daquilo
que todo mundo se servia. Não era mão-fechada. Não é
verdade e é muito equivocada certa mentalidade de que era
tacanho. Ele era, sim, muito hábil e prudente e nada o
penalizava tanto como o desperdício. Era muito razoável em
questões de compras, gastos e necessidades particulares, Com
anciãos e enfermos era muito pródigo (Sylvestre, 267-270).
Fundador em apuros
Viajando certa vez com alguns Irmãos, na mesma carruagem
havia um sacerdote que perguntou quem eram aqueles
religiosos, ao que Champagnat respondeu: “São Irmãos que
lecionam às crianças do meio rural”. E perguntado sobre quem
os fundou, disse: “Não se sabe ao certo. Alguns jovens se
agruparam, fizeram um projeto, um coadjutor os ajudou, Deus
abençoou a iniciativa e ela prosperou” (Furet, 373).
Correção dos regionalismos
Marcelino procurava corrigir o acento regionalista que os
noviços traziam. Sua argumentação era: esse defeito poderia
acarretar-lhes o ridículo e viciar os alunos. Comenta o Ir.
Silvestre: “Recordo que um bom Irmão tinha o hábito de
pronunciar ‘on’ em vez de ‘an’. Assim, por exemplo, dizia
os ‘onges’ em vez de ‘anges’. É impossível avaliar quanto
trabalho teve o venerável Padre para corrigi-lo de tão
viciosa pronunciação” (Sylvestre, 308).
Severidades com as falta públicas
Champagnat agia com rigor contra as faltas públicas, pois
continham os germens do contágio e destruíam a
comunidade nascente. Um jovem que cometera um abuso
sexual em La Valla, foi severamente punido. Disse-lhe que
tal falta contra um adolescente, era mais grave do que
pisotear a imagem do crucificado (Furet, 384).
Vida Feliz
Enquanto Marcelino conversava com certo Irmão, um dos
velhinhos que ele acolhia em l’Hermitage e dos quais os
Irmãos cuidavam, passou na frente deles e pôs-se a andar de
cá para lá, fazendo trejeitos, pois sendo débil mental, não
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podia se ocupar com nenhum trabalho. O Irmão achou graça e
disse: “Este sim é homem feliz, não tem nada a fazer”. Diante
desse elogio da ociosidade, o Padre passou um sermão no
Irmão (Furet, 394).
Arrombador de portas
Champagnat tinha o maior cuidado para com os Irmãos a fim
de que não enfermassem. Sabia o quanto custava formá-los e o
quanto eram necessários para a educação das crianças.
Chegando a l’Hermitage um grupo de Irmãos, em dia de
chuva, deu-lhes logo uma bebida quente e solicitou ao
ecônomo para lhes providenciar roupas enxutas. Como este se
ausentara levando as chaves, Champagnat, na pressa de aliviar
seus filhos, apanhou uma ferramenta e arrombou a porta do
vestiário (Furet, 402).
Castigos no noviciado
Nenhum Irmão tinha o cordão, que atava a batina, antes de
fazer os três votos temporários. O rabat não era permitido aos
noviços senão depois de saber bem direitinho as orações.
Tirava-se o rabat muitas vezes, assim como a batina, como
punição. De resto todos os Irmãos da casa não usavam o rabat
durante o dia (Avit, I, 314; II, 7).
Circulares breves e tecnologia
Durante muitos anos as circulares do Pe. Champagnat eram
escritas a mão; depois Irmãos mais hábeis o ajudavam a
transcrever. Quando as comunidades se tornaram mais
numerosas foram litografadas graças ao trabalho do Ir.
Marie-Jubin que Champagnat mandara aprender a arte em
Paris. Mas ele tinha de trabalhar com ferramentas muito
reduzidas e conseguia fazer somente textos curtos. Isso
explica as, infelizmente curtas, circulares do Fundador. A
partir de 1842 o Ir. Francisco começou a imprimir as
circulares. Imprimia somente o número equivalente ao de
comunidades. Com isso havia dificuldades em se arquivar,
pois muitas se perdiam ou eram destruídas. A partir de 1848
começou a imprimir diversos exemplares a mais a fim de
guardar encadernados nos arquivos (Avit, II, 176).
Projeto Pessoal de Vida exagerado
Um Irmão mostrou ao fundador as resoluções do retiro que
fizera. Ele leu e disse ao Irmão: “Que diria você de uma
criancinha que tivesse a pretensão de carregar um fardo que
um homem de vinte e cinco anos levaria com dificuldade? É
o que você pretende com estas resoluções. Suprima três
quartos e cumpra bem o restante. Isso será suficiente para
você ser um bom religioso” (Furet, 418).
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Consolo e colchão
Marcelino foi chamado para socorrer um doente. Encontrou-o
em tal estado de penúria que não achou suficiente dirigir-lhe
palavras de consolo e conforto. Movido de compaixão, manda
lhe enviem um colchão asseado. Como informassem que todos
já haviam sido doados, manda que retirem o de sua cama e, no
mesmo instante, o enviem ao doente (Furet, 476).
Outros possíveis projetos
Em face de tantas ocupações e preocupações, disse certa feita
o Fundador: “Eu poderia viver bem tranqüilo numa
paroquizinha, em vez de estar continuamente atarefado com o
governo desta Sociedade. Mas a glória de Deus e a salvação
das almas exigem de mim este trabalho. Eu poderia também
estar vivendo sossegado na minha família, trabalhando, em
vez de tantas canseiras, preocupações e viagens ocasionadas
pelo governo e a direção dos Irmãos, mas Deus quer assim, e
eu fico satisfeito (Furet, 510).
Champagnat: um santo mais ou menos
O Ir. Carlos, colocado pelo piedoso Fundador em Saint-
Sauveur, dirigiu esta escola por 43 anos. Ele tinha o hábito de
repetir muito a expressão "mais ou menos", o que tornava as
conversas engraçadas. Um dia, quando os Irmãos falavam
da santidade do Pe. Champagnat, ele disse: "Sim, o Pe.
Champagnat era um santo... mais ou menos". Ele morreu
em Saint-Genis, depois de ter tomado um banho
excessivamente quente (Avit, III, 248).
Firmeza e amor
O Ir. Silvestre afirma que a atitude de Champagnat para
com ele, quando de suas travessuras, fez com que adquirisse
grande amor pelo Fundador, que aliava à sua firmeza na
formação do Irmão, um acendrado amor. Pensava o
Irmãozinho que, depois de tantas que aprontara, o Fundador
o mandaria embora. Entretanto o enviou para uma
comunidade, apesar de ter somente quatorze anos
(Sylvestre, 247).
Liberdade para trabalhar
Champagnat recusou firmemente ser proprietário das
escolas. Estas eram ou do município ou da paróquia.
Explicava a um pároco: “Não fazemos nenhuma questão de
nos tornar proprietários nos municípios onde mandamos
trabalhar nossos Irmãos. Seria um encargo que nos
emperraria por demais a administração e nos atrairia muitos
invejosos” (Cartas, n° 215).
14
Insensibilidade fraterna
O Ir. Ligório foi recebido pelo Fundador, em L'Hermitage em
1832. Em 1839 ele era superior de seis Irmãos em Valbenoite.
Esses endereçaram ao Padre Champagnat uma carta dizendo:
"Nosso dever e a necessidade nos obrigam fazer o senhor
conhecer muitos abusos cometidos pelo Ir. Diretor: 1º ele não
tem horário para se levantar nem para se deitar; ora é um
horário ora é outro. O senhor imagina os contratempos que
isso traz; não se faz as orações ou são mal feitas. 2º não temos
as coisas mais elementares, sobretudo no que toca ao
vestuário; considere-se feliz aquele que consegue algo à força
de insistência; 3º quanto à comida não temos o necessário e
lamentamos ter de pegar dos alunos. Até agora não pudemos
beber nas refeições um pouco de vinho misturado com água..."
o Ir. Ligório não soube assimilar o espírito de Champagnat
apesar de o fundador ter recebido em l'Hermitage seus pais
que ali morreram e foram enterrados neste ano de 1839
(Letres/Repertoires - 2, 324).
Novo Cirineu
Certo dia Champagnat regressava de uma viagem com o Pe.
Terraillon. Pararam no Seminário Maior de Lião, que se
situava bem próximo do porto Saint-Clair. Certamente
estavam chegando de barco pelo Ródano, que fazia a linha
Lyon-Ais Les Bains. Terraillon desejava deixar sua pequena
bagagem ali, para não ter de atravessar a cidade com ele e
depois enviar um Irmão para vir buscá-la. Mas Champagnat
lhe disse: “Que é isso, me dê esse pacote que eu levo. Eu
sou um camponês, e isso não me importa”. Ele, que já tinha
um grande embrulho, tomou o de Terraillon e carregou os
dois (Extraits, 371).
Erudição ineficiente
Certo dia um Irmão dava uma aula de catecismo, mas usava
um palavreado tão sofisticado para o seu público que o Pe.
Champagnat lhe disse depois: “Irmão, por que ser tão
rebuscado nas palavras? Não é mais interessante, com as
crianças, empregar palavras mais simples? Em vez de dizer
Celeste Sião, porque você não disse Paraíso ou Céu”?
(ALSI, 385).
Escola Agrícola
Houve um momento em que o governo francês favoreceu,
através do político social-cristão Villeneuve-Bargemont, a
abertura desse tipo de escola. Inclusive um bispo chegou a
fazer uma oferta a Marcelino. Por isso, diz o Ir. Silvestre,
ele ficou penalizado por não ter fundado uma instituição
agrícola para os meninos órfãos e temia que Deus lhe
pedisse conta disso. O Ir. Francisco o dissuadiu desse
projeto dizendo que não era objetivo do Instituto (Sylvestre,
207, Extraits, 237).
15
Movimento Champagnat da
Família Marista
Como um jovem muito enfermo desejasse ardentemente ser
marista, para que ele não morresse triste por esse fato,
Marcelino deu-lhe o manto marista. Afirma o Ir. Silvestre que
poderíamos deduzir, desse gesto paternal de Champagnat, que
ele desejava criar uma espécie de Terceira Ordem de Pequenos
Irmãos de Maria (Sylvestre, 84).
Ambiente festivo nas férias dos Irmãos
Nas férias de 1838, antes de dar o assunto de meditação, o
Padre Besson repreendeu energicamente os Irmãos, pois
faziam muito barulho durante as recreações e andavam se
arrastando pelos corredores. O bom Fundador chamou-o
depois em seu quarto e lhe deu uma reprimenda: "Esses
Irmãos que o incomodam, ganham o seu pão e o nosso, não
esqueça" (Avit, II, 437).
Liturgia mais alegre e participativa
Champagnat era um grande amante do canto. Permitiu que em
l’Hermitage se cantasse durante a missa. Desejava mesmo que
toda a assembléia respondesse ao celebrante junto com o
coroinha (Sylvestre, 93).
Trabalho: sinal de vocação
Quando o Ir. Hipólito bateu às portas de l’Hermitage para
ser recebido tinha claro a vida encantada do mundo e
também a da vida religiosa. Pediu ao Fundador passar
alguns dias na casa para fazer uma prova. Foi acolhido com
bondade, mas Champagnat exigiu que desse a contribuição
exigida para o Noviciado. Ele era um homem de 26 anos e
tinha a profissão de alfaiate. Trouxe o dinheiro e foi
recebido. Champagnat ficou encantado com as boas
disposições deste senhor. Aliás, ele vinha responder uma
necessidade de l’Hermitage: estavam sem alfaiate.
Champagnat disse a um dos Irmãos de seu Conselho:
“Agradeça a Deus, pois ele nos enviou hoje uma pessoa
para a nossa alfaiataria. Estou certo de sua perseverança,
porque ele chegou com um sinal de vocação: entregou-me
300 francos”. Como o Irmão se espantasse, explicou: “Ele
tinha a vida garantida no mundo; sabia economizar e com
essa economia pagou o seu noviciado. Teve a coragem de se
desapegar de tudo” (ALSI, 147).
As três tentações das origens
Da espiritualidade: querer outro tipo de espiritualidade,
mais exigente, tipo anacoreta, como o Ir. João Batista
Granjon. Do apostolado: querer outro tipo de trabalho, mais
exigente, sem discernimento, como o Ir. Estevão Roumesy.
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Do sacerdócio: querer outro tipo de vida “mais acabada”,
como o Ir. Luis e o Ir. Silvestre. Os dois primeiros
sucumbiram à tentação e os dois últimos superaram-se (Furet,
140, 142, 143).
Perfis de Marcelino Champagnat
Pe. Maìtrepierre diz que Champagnat humanamente, tinha
todo o necessário para impedir o êxito de sua empresa. Sua
formação acadêmico-educativa era falha. Ele se declarou
pedra bruta colocada no fundamento do edifício (McMahon,
129. Extraits, 362).
O Pe. Colin afirma: “Rogo-lhe de me dar os Irmãos mais
capazes possível e mais seguros, a fim de que eu não tenha
necessidade de procurar alhures. Projeto grandes mudanças no
governo de vossos Irmãos, mas tenho necessidade de vossa
inteira obediência. Vossas idéias me parecem às vezes muito
fixas, vossas maneiras muito bruscas e vossas brincadeiras
muitas vezes deslocadas” (Avit, I, 93).
O Ir. Avit, falando do sucessor do Pe. Champagnat, Ir.
Francisco, comentava: “Apesar de ser muito estimado por
todos, ele não tinha o caráter, a iniciativa, a energia, a
vivacidade do Pe. Champagnat. Não cativava os corações e
não dominava as vontades, como fazia tão bem o Fundador.
Estimava-se pouco o seu gênio frio. Era lento e sentencioso
nas suas instruções. Era meticuloso, atribuindo demasiada
importância a pequenas faltas, recebendo com dificuldade as
desculpas e temendo muito as observações” (Avit, I, 309).
O Pe. Champagnat era de estatura alta, aprumada e
majestosa. Tinha fronte larga, traços fisionômicos bem-
definidos, tez morena, aparência grave, comedida e séria.
Inspirava respeito e, muitas vezes, ao primeiro encontro,
timidez e receio. Bastavam, porém, alguns instantes de
contato com ele para que tais sentimentos se esvaíssem,
substituídos pela confiança e pelo amor. Sob formas um
tanto rudes e um exterior que manifestava algo de severo,
ocultavam um caráter invejável. Tinha espírito de retidão,
discernimento seguro e profundo, coração bom e sensível,
sentimentos nobres e elevados. Caráter alegre, expansivo,
franco, firme, corajoso, ardoroso, constante e equânime
(Furet, 251).
O Ir. Silvestre assim descreve a primeira impressão que
Marcelino lhe causou: “Sua estatura elevada e majestosa, a
aparência bondosa e grave, o vulto que exigia respeito, as
bochechas magras, os lábios pouco salientes que pareciam
querer sorrir, o olhar penetrante e esquadrinhador, a voz
forte e sonora, a palavra nitidamente articulada, sem
laconismo nem prolixidade; todos os seus membros bem
proporcionados”. Outros traços de seu perfil físico: alto
(1,79), reto, fronte larga e descoberta, tez castanha, olhos
grisalhos, boca mediana, rosto alongado, tez pálida. Ele
mesmo, em 1812, achava seu corpo bastante mal moldado,
denotando que sua aparência física não o deixava
indiferente (Mémoires, 84; Cadernos, 19, 56).
O Pe. Chanut diz que o que atrapalhou Champagnat em
Paris, foi a sua grande simplicidade, e que as pessoas,
depois de o terem visto, diziam: “Com certeza é uma pessoa
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de bravura, mas com ares de homem do campo, sem muito
refinamento”. Esse padre achava que para essas coisas, se
necessitava de homens mais refinados (Extraits, 360).
O senhor Géry encontrou-se com Champagnat em Saint-
Etienne e descreve assim a impressão que teve dele: “Parece-
me modesto, bem intencionado e muito piedoso. Não sei por
que eu tinha melhor conceito de sua prudência e piedade que
de seu talento. Pode ser que ele não seja adequado para dirigir
a excelente obra que a Providência lhe confiou. O Espírito de
Deus sopra onde quer e, ademais, pode-se ter o recurso dos
bons conselhos de outros” (Cadernos, 14, 126).
Diversos padres comentavam que Champagnat não era fiel à
palavra dada, até mesmo seu amigo Pe. Mazellier. Mas este
último comentou, um dia, o que o próprio Champagnat lhe
dizia: “Censuram-me porque não cumpro sempre com a
palavra. Prometo e depois, se não posso...”. ”Por estas
palavras compreendi que não se tratava de malícia da parte
dele, mas apenas que não se importava demais” (Cadernos, 19,
57).
No Seminário Maior ele era tido como minus habens
(Testimonios, Bedoin, 182).
IRMÃOS
O tiro saiu pela culatra
A escolinha de Chavanay foi fundada pelo pároco Gaucher,
que para isso fez os primeiros investimentos. O Irmão
Estevão foi o primeiro diretor. Tratava-se de uma
construção muito pequena. As salas abarrotadas de alunos.
Gaucher era muito cioso de sua obra. Levava seguidamente
seus confrades para ver os Irmãos e os alunos. Certo dia
levou um pároco bastante gordo, que depois de tudo
examinar com um olhar matreiro, disse a Gaucher, em
latim, que tudo o que ele via lhe parecia muito desprezível.
O Irmão Estevão respondeu-lhe com uma frase latina muito
sarcástica. O gorducho, aturdido, percorreu o olhar da
cabeça aos pés do Irmão, tomou o chapéu e escafedeu-se. O
padre Gaucher o acompanhou rindo muito (Avit, I, 51).
Desconfiar quando a piedade é exagerada
João Maria Granjon deixou os dois Irmãos na escola de
Bourg-Argental com 200 alunos e refugiou-se na Trapa em
1824. O Padre Champagnat fez-lhe insistentes observações
que não o dissuadiram. Passado um mês retornou, pediu
perdão ao bom Padre e este o acolheu bem. Mas, pouco
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tempo depois lhe assaltou a idéia de ter vida solitária.
Construiu para si uma cabana com galharias, sob o rochedo
que domina o local onde se fez, mais tarde, o grande terraço. O
piedoso fundador o deixou fazer, mas durante as férias, proibiu
aos Irmãos de ir vê-lo. O pobre solitário aborreceu-se logo,
abandonou sua cabana e pediu perdão uma segunda vez.
Marcelino queria enviá-lo ou a Saint-Synphorien-le-Château
ou a Charlieu. O falso solitário recusou obstinadamente estes
dois lugares. Em face destas intransigências e não querendo
obedecer, o bom Padre, muito aflito, indicou-lhe a porta de
saída (Avit, I, 56).
Graves acusações contra Irmão
O Ir. Gabriel, recebido em Hermitage em 1833, trabalhou em
Thoissey. Ali ele foi acusado, com certo fundamento ao que
parece, de atos imorais com alguns alunos. Segundo o diretor
de Saint-Didier, muitas vítimas foram recusadas à primeira
Comunhão. As autoridades em geral permaneceram
silenciosas. Apesar das investigações o caso não teve tanta
repercussão. O Irmão Gabriel passou a ser visto como bom
profissional, mas com dificuldades quanto ao aspecto moral.
Faleceu em Hermitage na idade de 32 anos
(Lettres/Repertoires, 2, 237).
Santidade e profissionalismo
O pároco Gaucher, reclamou com o Pe. Champagnat dos
Irmãos da comunidade de Chavanay. "O pobre Irmão
Lourenço é um santo homem, bela alma diante de Deus,
mas, lamento dizer que não tem as qualidades requeridas
para ser diretor. Não tememos afirmar que o senhor nos
manda o refugo". O Ir. Lourenço que tinha um brevê
conseguido do pároco de Saint-Chamond, perdeu-o e não
fez nenhum esforço em adquirir uma duplicata quando
passou por Hermitage (Lettres/Repertoires, 2, 244).
Excesso de zelo
O Ir. João Pedro, depois do retiro de 1824, despediu-se de
Champagnat chorando, pois dizia pressentir seu fim
próximo. De fato, o elevado número de alunos que tinha em
Boulieu, levou-o à estafa, morrendo vítima de seu zelo e
dedicação (Furet, 105; Biographies, 38).
Dificuldade dos jovens Irmãos
O Ir. Gerásimo parece ter entrado em Hermitage em 1834.
Trabalhando em Boën, os Irmãos desta escola foram
responsabilizados pelo insucesso devido à contínua evasão
dos alunos. Uma das causas, diziam, era que o Superior
Geral enviava Irmãos muito jovens e sem experiência. Essas
observações eram compartilhadas tanto pelo inspetor como
pelo pároco. Eles pleiteavam um Irmão diplomado. Mas o
Irmão Gerásimo foi um excelente Irmão, daqueles formados
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pelo Pe. Champagnat e enviados ao Pe. Mazelier. Faleceu em
Hermitge em 1892 (Lettres/Repertoires 2, 254).
Próximos do naufrágio
Courveille acabou criando um clima tão ruim e sem esperança
que cada um pensou em prever seu futuro, abandonando a casa
de l’Hermitage. Ele dizia que não se encarregaria das dívidas
de Champagnat e que cada um se lascasse. Foi quando o Ir.
Estanislau entrou em ação, encorajando a cada um dos Irmãos
e fazendo duras observações a Courveille. Ao mesmo tempo
cuidou zelosamente do Fundador, quase moribundo. Foi a
pedra de salvação do Instituto (Sylvestre, 145).
Moderação & sofisticação
O Ir. Avit observa que havia comunidades que gastavam bem
mais do que a média do conjunto das comunidades. Escreve
que os três irmãos de Saint-Syphorien-le-Château gastaram
389 francos no ano de 1827; os de Mornant 400 francos; os de
Charlieu 350 francos. Eles não enriqueceram os mercados de
carne, confeitaria, nem os bares. Estes bons religiosos
acreditar-se-iam condenados se tivessem provado licores e
confeitos. Tinham comido pão de segunda, batatas, queijo e
legumes. Tinham bebido água limpa e sua saúde era excelente
(Avit, I, 75).
Muitos dependuraram a chuteira
A cada ano um numeroso grupo de postulantes tomava o
hábito. O Irmão Avit sempre assinalava que diversos desses
grupos acabavam abandonando o Instituto. Usava de
expressões bizarras como: o Irmão tal levantou âncora;
atirou a batia às urtigas...
Antonio Pascal era empregado em Ampuis, quando o ex-
Irmão Fotino abandonou o Instituto lançando impropérios
contra os Irmãos e sobre tudo o que se fazia na
Congregação. Antonio ficou indignado com a conduta deste
ex-Irmão e decidiu entrar no Noviciado de l'Hermitage
substituindo esse Irmão. Terminado o Noviciado
Champagnat o enviou a Sorbier, onde trabalhava o Ir.
Cassiano. Muitos haviam passado por aí, e nenhum havia
conseguido contentar o Ir. Cassiano. Foi fato notável o
jovem Irmão Antônio tê-lo conseguido. Depois substituiu o
Ir. Luis, como Mestre de Noviços, em cujo cargo ficou por
vinte anos.
Assinalava o Ir. Avit que muitos professos teriam morrido
no Instituto se jamais tivessem sido nomeados diretores
(Avit, I, 98; III, 98).
Pegando no pé do Ir. Policarpo.
Sendo diretor e cozinheiro em Ampuis, o vice-diretor
pregou-lhe uma peça. Escreveu-lhe uma carta recheada de
reprimendas, assinou como sendo o Ir. Assistente e colocou-
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a no correio de Vienne. Recebendo-a, o Ir Policarpo ficou
muito confuso. Fê-la ler pelo próprio Vice-diretor que fingiu
lhe consolar e o animou a dirigir-se junto ao Ir. Assistente
como a carta pedia. Tendo se encontrado com o Ir. Luis Maria,
pediu satisfação por este lhe ter ralhado tão rudemente.
Dizendo o assistente que não sabida do que se tratava,
replicou-lhe: "Miserável, olhe aqui a carta". O Ir. Luis Maria
acabou lhe mostrando como seu auxiliar o havia enganado.
"Ah, pequeno pretensioso. Você me pagará". Os alunos lhe
pediam seguidamente "Deo Gratias", durante a refeição, a fim
de poder rir esperando ouvi-lo dizer: "Becamus Domino"
(Avit, I, 102; Lettres/Repertoires 2, 430).
Não confundir Baco com Jesus Cristo
O Ir. Policarpo entrou no Instituto aos trinta anos, tendo já
experiência de professor. Era de uma simplicidade infantil.
Certo dia os Irmãos, para rir, gabavam na sua presença, os
professores leigos. O Irmão lhes respondeu com humor: "Eu
os conheço muito bem, porque fui professor como eles".
Desejando certa feita visitar uma marquesa - ele então era
diretor numa escola - dirigiu-se para lá acompanhado de um
Irmão e foi introduzido na sala de visitas. Quando a marquesa
chegou, ele a saudou polidamente e indicando um quadro lhe
disse: "Nossa, que bela tela de Nosso Senhor"! A marquesa
mordeu os lábios para não rir. O quadro em questão
representava Baco sentado sobre seu tonel de vinho! (Avit, I,
101).
Diabo atrasado
Um postulante, a quem se perguntava o quê faria se o diabo
viesse tentá-lo para abandonar a vocação, respondeu: “Dir-
lhe-ia que veio tarde demais” (Cadernos, 16, 178).
A grande jornada
O Pe. Champagnat enviou o Irmão Luis Maria para a
comunidade de La Côte-Saint-André. Fez o longo percurso
a pé. Pernoitaram em Anjou e no dia seguinte retomaram o
caminho. O Irmão se arrastava sob o fardo da pesada batina
e grossos sapatos ferrados aos quais ele não estava
acostumado. Acabou ficando extremamente fatigado. Mais
alguns quilômetros e ele não agüentava mais. O bom pai
Champagnat alugou uma carruagem que os conduziu a La
Côte. O Ir. Luis Maria assumiu a primeria classe do
pensionato. Seus alunos o achavam muito severo, mas
gostavam dele e diziam: Aqui a gente morre de fome, mas
se aprende". Eram rudes jovens sadios com grande apetite.
Cada um comia um quilo de pão por dia (Avit, I, 105).
Caminho errado, uai
Um jovem Irmão dirigia-se para a sua comunidade. Não se
sabe por que motivo, não desceu na estação devida.
Felizmente, alguém que conhecia a escola para onde o
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Irmão devia se dirigir, alertou-o que sua estação já tinha
passado. O Irmão ficou tão desorientado que se pôs a chorar.
Uma senhora compadeceu-se dele ainda mais quando soube
que o Irmão não tinha dinheiro para regressar. Uma estação
mais adiante desceram e ela o levou para sua casa para passar
a noite, pois só haveria trem no outro dia. No dia seguinte
levou-o à estação e relatou o ocorrido ao chefe da estação que
foi complacente, não cobrando nada para o Irmão regressar até
a estação onde devia descer (Cadernos, 16, 143).
Gesto de fraternidade
Um dos alunos do Ir. Pascal, trouxe-lhe um dia uma garrafa de
licor e alguns tabletes de chocolate. Como ele solicitava ao
aluno de entregar os presentes ao Ir. Diretor ou ao Irmão
provedor, um dos Irmãos lhe disse: “Guarde isso para você e
use na medida da necessidade”. Mas ele replicou: “Que
conselho estranho você me dá. Eu aceitar uma oferta pessoal!
Não quero infringir a Regra e os votos. Não desejo ser um
egoísta. Quero que os Irmãos partilhem isso comigo” (ALSI,
321).
Eterno noviciado
Certa vez um postulante pediu ao Pe. Champagnat para
permanecer a vida inteira no noviciado, para assim viver mais
na solidão e pensar menos nas coisas mundanas. Disse-lhe o
Padre: “Nada o impede de viver a solidão numa escola e no
meio das crianças...” (Furet, 298).
Pequenos embatinados
O pequeno Silvestre recebeu a batina com doze anos e
meio. Era muito agitado e aprontou muito, o que lhe valeu
numerosas reprimendas. Outro menino, Irmão Basílio,
mano do Ir. Gregório, tomou a batina na idade de nove
anos. O Ir. Silvestre ofereceu-se para cortar o cabelo do Ir.
Basílio, pois dizia que o Padre Champagnat se ausentaria
por quinze dias, tempo suficiente para os cabelos crescerem
novamente. O novel cabeleireiro fez no Ir. Basílio uma
linda tonsura. Mas no dia seguinte chegou o Pe.
Champagnat e presidiu à culpa. Apresentou-se o Ir. Basílio
com pequeno boné que não cobria senão o alto da cabeça. O
Fundador pediu-lhe que o tirasse. Perguntou quem lhe fizera
tamanha arte. O Ir. balbuciou o nome do Ir. Silvestre. Os
Irmãos de mais idade logo acrescentaram uma ladainha de
peraltices. Sugeriram como penitência privar-lhe do hábito
religioso durante algum tempo. E o Pe. Champagnat
acrescentou: "Olhe, seu caso é muito grave, devemos
submetê-lo ao arcebispado”. O jovenzinho tremeu da cabeça
aos pés. Por aqueles dias veio a l'Hermitage um Vigário
Geral e o Fundador pediu ao Ir. Silvestre fazer
humildemente sua culpa. O Vigário Geral lhe disse: "Você
fez isso por leviandade". Abraçou-o e pediu que lhe
restituíssem a batina.
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O Ir. João Batista, professor, já não agüentava mais o jovem
Irmão nas aulas. Certo dia deu-lhe para decorar 1200 linhas.
Chorando, o Irmãozinho foi ter com Marcelino. Ele prometeu
pela centésima vez não aprontar mais. Champagnat pediu ao
Ir. João Batista suprimir o castigo. Mas o Irmão insistia em dar
vasa às suas traquinagens. Champagnat o chamou e disse para
preparar-se para ir trabalhar na cozinha na comunidade de
Ampuis. Iria a pé levando sua bagagem às costas. Tinha então
14 anos. Disse o Irmão: "Eu não sei o caminho". O Padre lhe
explicou o roteiro, mas logo que partiu perdeu-se. Um
carroceiro o convidou para tomar lugar em sua carroça.
Transido de medo o Irmão desandou a correr. O Padre o
encontrou e fê-lo subir em sua cavalgadura, ajustou os
estribos, ensinou a conduzir o cavalo e indicou-lhe o caminho.
Trotou bom tempo sem encontrar o ponto de encontro com
Champagnat e acabou entrando em Pélussin onde acontecia
um enterro muito concorrido. Diminuiu a marcha, tirou
respeitosamente seu chapéu e fez continência. Todos os
olhares se dirigiram para ele. Tomando informação, conseguiu
chegar a Chavanay. Amarrou o animal entrou furtivamente na
escola e foi à sala de aula. As crianças prorromperam: "Nossa
que Irmãozinho"! O Ir. Dominique chegou para sua aula e
expulsou o Ir. Silvestre trancando-o num armário. À saída os
alunos insistiam com o Ir. Dominique: "Mostre-nos o
Irmãozinho e nós lhe daremos duas moedas".
Depois de todas esses peripécias chegou o Pe. Champagnat
que inutilmente o aguardara em lugar que combinaram. Mas o
Irmão se atrapalhou e acabou chegando sozinho. O Ir.
Dominique, que não gostava muito dos jovens Irmãos, indicou
o caminho ao Ir. Silvestre e o despachou sozinho para sua
comunidade. Em Condrieu uma galera o perseguiu e o
ameaçou jogar no rio Ródano. Mas ele deu no pé em
disparada. Acolá uma senhora quis retê-lo para seus
serviços. Diversas gatinhas formaram uma roda em seu
redor galanteando-o, mas ele deu uns beliscões e caiu fora.
Entrando na cidade de Ampuis, um senhor o saudou: "Bom
dia piriquitinho". O Irmãozinho fitou-o de soslaio e não o
saudou. Afinal ele chegou furioso ao seu destino
vociferando contra a grosseria do pessoal daquela região
(Avit. I, 107).
Omeletes e carrinhos
O Ir. Silvestre assumiu logo seu posto na cozinha. Os
Irmãos, querendo tirar partido, insinuaram que ele devia
fazer uma omelete. O Irmão muniu-se do necessário e na
hora de virá-la acabou atirando-a contra um quadro num dos
cantos da cozinha. Os dois Irmãos eram por demais sérios
para o gosto do Ir. Silvestre. Procurando diversões sozinho,
levou um carrinho para a sala de estudos. Na reunião anual
os Irmãos fizeram sérias reclamações junto ao Pe.
Champagnat, ao que lhes respondeu: "Vocês são sisudos
demais. Não percebem que o Irmão tem necessidade, de
tempos em tempos, de brincar? Lamento que ele não tenha
ido até o sótão com seu carrinho; eu lhe teria dado uma
recompensa".
Mais tarde o Ir. Silvestre se tornou um inveterado fumante.
Ele fedia a tabaco a dez metros de distância. Nas reuniões
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exalava um "perfume" que fazia sofrer os co-Irmãos. Foi
zeloso professor durante toda a sua vida, mas seu método
poderia ter sido mais prático, à altura dos alunos. Ele gostava,
sobretudo de dar o catecismo o que o fez até o fim da vida.
Por ocasião do jubileu de ouro de sua profissão os Irmãos
fizeram uma festinha em Saint- Genis. Foi a primeira do
gênero no Instituto (Avit, I, 108, III, 397, Furet, 256,
Répertoires, 478).
Os Irmãos nem sempre são os melhores
Em Fleurus, todas as crianças que tinham freqüentado a escola
de um velho professor recitavam perfeitamente o catecismo,
até os que não sabiam ler. É a razão por que os pais faziam
questão que os filhos fossem passar algumas horas com ele,
embora freqüentassem a escola dos Irmãos, recém-fundada
(Cadernos, 16, 168).
Prova para obter um certificado
Até 1833, o diploma para poder lecionar era facultativo. O Ir.
Francisco conseguiu um do diretor do Colégio de Saint-
Chamond. O Ir. Lourenço, diretor de Tarentaise, desejando
um, pediu-o ao pároco de Saint-Chamond. Ele então preparou
uma conta bastante grande, não necessitando ao Irmão senão
fazer a soma e remetê-la de volta a ele. Bem que o Irmão
podia ter pedido a outra pessoa para fazer a operação, mas
encontrou a solução por ele mesmo e o pároco lhe deu um
certificado. As leis posteriores foram mais duras e a
universidade era exigente para com os membros de
congregações. Posteriormente ele perdeu o seu diploma e
parece que não fez muito esforço para adquirir outro. Por
volta de 1842 insistia junto ao Ir. Francisco que nada mais o
atraia senão partir pelos vilarejos não tendo senão um
catecismo e uma sineta na mão para ensinar o catecismo ás
crianças (Lettres/Repertoires, 2, 319; Avit, I, 131).
Vocações por atacado
O primeiro diretor da comunidade de Saint-Genest foi o Ir.
Pedro Maria, que já havia cursado bom número de matérias
eclesiásticas. Era mais zeloso que prudente no recrutamento
de vocações. Levava postulantes às pencas para
l’Hermitage, mas a maior parte tomava o caminho de volta
para as montanhas. Passados seis anos já havia doze que
haviam dependurado a batina, não restando senão quatro
perseverantes, cuja qualidade, felizmente compensava a
quantidade. Mas os desertores causavam muito mal estar na
região (Avit, I, 144).
Fantasmas da meia noite
Ao tempo em que o Ir. Avit dirigia a escola de Saint-
Genest-Malifaux, ocorreram fatos misteriosos. A escola
ocupava uma casa alugada pela municipalidade cujo
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proprietário, um tal Courbon, morrera há seis anos. Ao que
tudo indica não se havia celebrado nenhuma missa em sua
intenção até então. Um de seus filhos tinha um quarto na casa,
não passando senão a noite ali. Os internos perceberam
durante a noite um barulho misterioso que os pusera em
polvorosa, mas os Irmãos não escutaram nada. Certificaram-se
de que as portas estavam bem fechadas e o tempo calmo. Na
noite seguinte escutaram o mesmo barulho que os meninos.
Vinha de dois cômodos contíguos, mas sem comunicação
entre eles. Era o barulho como de uma martelada que
acontecia a cada trinta segundos, num e depois no outro
cômodo. Os Irmãos acenderam uma luminária e desceram pé
ante pé, descalços, mesmo sendo inverno. Chegando ao local
se certificaram de que tudo estava bem fechado e que as portas
não faziam nenhum barulho. Ficaram ali por cerca de dez
minutos sem nada escutar. O filho de Courbon roncava num
quarto ao lado. O frio obrigou os Irmãos a se recolherem.
Pouco depois o barulho recomeçou e durou cerca de meia
hora. Os internos estavam apavorados e quase todos
acordados. Colocado a par do acontecido, o filho de Courbon
nada comentou. No dia seguinte as coisas se repetiram. Os
Irmãos imaginaram os internos apavorados pedindo a seus pais
de virem buscá-los. Os Irmãos pediram ao filho do
proprietário se ouvira a zoada. Este nada respondeu. Naqueles
dias, do púlpito, foram anunciadas missas pelo falecido
proprietário da casa, o que surpreendeu os Irmãos. O fato é
que após tais missas os ruídos cessaram completamente e
nenhum dos pensionistas se retirou (Avit, I, 145).
Procurando culpados
Ligório foi um postulante recebido em Hermitage em 1832
na idade de 22 anos. Visitando a comunidade de Valbenoîte,
o Irmão João Batista não ficou satisfeito com o andamento
da escola. O Inspetor também havia feito diversas
observações. Diretor, o Ir. Ligório jogou a culpa nos seus
auxiliares entre os quais estavam os Irmãos Crisógono,
futuro Visitador e Teofânio, futuro Superior Geral. Era
difícil contentar o Ir. Ligório. Ele não tinha horário para se
levantar e se encarregava de supervisionar os estudos dos
alunos mais adiantados (Letres/Repertoires 2, 328)
Vocação ladina
Apesar da sagacidade do Pe. Champagnat em perceber as
falsas vocações, apareceu certa feita no noviciado um jovem
bastante amaneirado e muito devoto. Ganhou logo a estima
e admiração da comunidade, que o tinha por santo. A essa
época grande parte do tempo dos noviços era empregada em
trabalhos manuais. O Pe. Champagnat percebeu de seu
quarto que o dito noviço enrolava muito para iniciar o
trabalho e media vagarosamente os instrumentos de trabalho
para achar o mais leve. Mandou logo chamá-lo e o
despachou. Não tardou muito apareceram guardas para
prendê-lo. Era um escroque (Avit, I, 149).
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É fogo guardar muito silêncio
Champagnat se aborrecia muito quando o grande silêncio não
era mantido. Um jovem Irmão, muito piedoso, estava doente.
Haviam colocado um tijolo aos pés da cama para esquentar.
Ocorre que estava de tal forma quente que pegou fogo. Era de
noite, tempo do grande silêncio. Para não perturbar o silêncio
da comunidade, o pequeno enfermo tentou a seu modo
resolver o perigo do incêndio. Mas teria sido assado se o Ir.
Jerônimo não prestasse sua ajuda, quando percebeu o perigo
enquanto fazia a sua habitual ronda noturna (Avit, I, 310).
Comunidade com dificuldades
O Fundador recebeu o jovem José Fayolle em Hermitage em
1832. Veio a ser o Ir. Luis Bernardino. Acabou indo trabalhar
em Beaucamps. Escrevendo ao Superior diz que receberam um
noviço belga e um alsaciano (alemão); nada mais restava que
receber também um espanhol e um italiano. Explica que não
estava se agradando do jardineiro e que o substituiu. E
perguntava: "O que o senhor acha de um jardineiro e
empregado, sendo Irmãos, dormir juntos, isto é, na mesma
cama. Nosso Irmão Antiaque é muito negligente na limpeza.
Tenho dificuldade de fazê-lo levantar-se pela manhã" (Lettres
/ Repertoires 2, 342).
Vocação gatuna
Na comunidade de Bougé-Chambalud apareceu, certo dia,
um jovem dizendo-se postulante e que alguns dias depois o
Ir. Luis Maia viria buscá-lo. Mostrou-se muito piedoso e
falava com naturalidade de muitos Irmãos importantes de
l'Hermitage. No terceiro dia ele se apropriou da carteira do
diretor e desapareceu. Apresentou-se em outra comunidade
e queria matricular-se como aluno; tinha 25 anos. Dirigiu-se
em seguida ao noviciado dos Irmãos de São Gabriel onde
foi recebido. Foi em seguida nomeado para uma
comunidade de onde se evadiu levando o diploma do diretor
e mais 400 francos. Continuou sua ladinagem em Saint-Paul
onde foi recebido no noviciado e disfarçou tudo tão bem
que o capelão o propôs à comunhão freqüente. Nos recreios
falava muito sobre espiritualidade. Foi nomeado para uma
comunidade, mas os noviços lançaram dúvidas sobre a
validade de seu brevê. Interpelado, recusou-se a dar
esclarecimentos. Reconhecido pelos Irmãos, foi detido e
confessou seus roubos (Avit, I, 150).
Caldo de sapatos
Um dos sapateiros de l'Hermitage acabou entrando no
noviciado e recebeu o nome de Irmão Pacômio. Não era
muito hábil e os sapatos dos Irmãos não saiam a contento.
Por vezes empregava couros mal curtidos em que se podiam
ver todos os pelos. O Ir. Ciro recebeu um par de sapatos
novos. Não se agradando perguntou aos Irmãos como fazer
desaparecer os pelos do sapato. Disseram-lhe que era
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simples. Toda a manhã cada interno coloca um pedaço de
toucinho na sua panela o que torna o caldo muito gorduroso.
Antes de temperar, coloque os sapatos dentro da panela
durante cinco minutos e você verá o que acontecerá. O jovem
Irmão seguiu a recomendação e imagina-se o resultado. Isto
poderia não ter acontecido se o couro estivesse bem curtido e o
Ir Ciro fosse menos leso (Avit, I, 165).
Boca de ouro
O Ir. Avit trabalhava em Mornant quando o Ir. Crisógono
expulsou da sala de aula um aluno muito rebelde, atou-lhe as
mãos com uma fita e o mandou para o jardim. O aluno
desvencilhou-se das amarras e foi para sua casa. Durante o
almoço seu pai chega furioso. O diretor saiu ao seu encontro,
mas não conseguiu descer a escada e não soube o que lhe dizer
e ficou tolhido como uma estátua. O Ir. Avit veio atrás e o
forçou da descer. O pai começou subir a escada e o Ir. Avit se
colocou entre os dois agarrou o pai pelo pescoço e servindo-se
também dos pés, o forçou a descer, enquanto o pai proferia
grosserias. O diretor conseguiu safar-se desta
(Lettres/Repertoires 2, 63).
Entre puxões e tapas Um jovem Irmão tinha o costume de agarrar e puxar os
colegas, contrariamente ao Regulamento, apesar das
mobservações do Ir. Diretor. A mania não terminou bem. Um
dia em que perturbava outro Irmão de mais idade, este o
repeliu com força. O pobre rapaz caiu no chão e quebrou o
perna. Ambos ficaram desolados (Cadernos, 16, 155).
Músico em apuros
O Ir. Marie Jubin, acolhido pelo Fundador em 1832, foi
com ele a Paris, para aprender litografia. Mais tarde, numa
escola, o seu Diretor reclamava que ele era muito
fleumático, dedicando-se apenas aos seus oito alunos e não
se importando com nada mais. "Ele não sonha senão com
sua música, a sai pela rua atrás de compositores. Ele não
gosta de levar os alunos passear. Se às vezes ele decide
conduzi-los, acaba largando-os para ir não sei aonde e
retorna muito mais tarde que os outros. De manhã quase
sempre permanece na cama. Não sei mesmo se reza o seu
ofício. Mesmo na questão do canto, ele não conseguirá
nada... Como está sempre atrasado, não se pode contar com
ele para a supervisão dos alunos. Ele é muito apático, lento
e, sobretudo egoísta". Sabemos que o autor de cartas desse
tipo (Ir. Apolinário) era muito ardente, ativo, por isso é
preciso nuançar suas críticas. Por sua vez o Ir. Jubin
escrevia ao Superior dizendo que tendo sido encarregado
por ele de organizar um livro de cantos, era difícil chegar a
cabo, pois tinha muitas ocupações como a de cozinheiro e
de todas as comissões da casa. Solicitava que, ou fosse
privado desse encargo, ou que lhe dessem melhores
condições de levá-lo até o fim (Letres/Repertoires 2, 362).
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Excentricidades
O Ir. Aleixo era de tal forma amante do jogo de bocha que se
dizia dele: Se no céu não houver esse jogo o Irmão não ficará
lá.
O Ir. Honório, sem ter muito dom musical, na capela fazia os
noviços rirem com sua boca de forno aberta.
O Ir. Anselmo, depois de uma fervorosa meditação no dia da
Ascensão, querendo voar para o céu, lançou-se do alto da
escadaria da capela e "voou" até o chão. Quebrou uma perna e
duas costelas tendo de ficar na cama por 40 dias, após o qual
foi despachado (Avit, I, 166).
Estar na fossa Havia um Irmão diretor que o Pe. Champagant estimava e que,
mais tarde, escreveu-lhe a biografia. Da parte do Fundador, o
Ir. Doroteu deu-lhe o seguinte recado: "O reverendo Padre
deseja que você retire o bezerro que foi jogado aí faz dois dias.
O Irmão diretor obedeceu sem replicar. Quando ia pegar a
carniça o Irmão Doroteu continuou: "Está bem. Isso é
suficiente”. O bom Irmão diretor saiu logo e foi lavar-se. Nas
férias Champagnat encarregou este diretor da cozinha, não
tanto por necessidade, mas para exercitá-lo na humildade e
obediência (Avit, I, 180, Répertoires, 185, Sester, Cartas, 135,
Furet, 418, Biographies, 40).
Obediência e vida mole
O Ir. Aarão foi enviado a Mornant como cozinheiro, onde
trabalhava o Ir. Lourenço. Ela queria uma permissão
particular para cada um de seus atos. Entre outras aprontou
esta: à hora do almoço, ele não havia acendido o fogão e
não se encontrava no seu posto. Descobriram-no
folgadamente num colchão de palha. Perguntado por que
não havia preparado o almoço respondeu sofregamente:
"Ah, caro Irmão, eu não tinha permissão". Advinha-se que
esse Irmão não foi feito para o Instituto (Avit, I, 214).
As três bestas
O Ir. Castulo, outrora empregado na comunidade dos
Irmãos de La Côte, era muito brincalhão indo às vezes à
excentricidades. Como a doméstica, dita irmã Marta, era
muito chata, tomou uma longa corda e amarrou uma ponta
no braço da infelizarda e outra no pescoço de uma vaca e
outra no outro braço ao pescoço de uma cabra. Depois
excitou das duas bestas, rindo dos gritos que soltava a irmã
Marta (Répertoires, 157, Avit, I, 258).
Trocando de penas
Um tipo pedante apareceu no noviciado de Hermitage.
Como vinha de uma paróquia muito pagã, permitiu-se-lhe
uma visita aos seus, mais para prová-lo e para trazer o
pagamento do noviciado. No caminho de volta muniu-se de
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um cinturão e de um rabat eclesiástico. Ele tinha uma irmã tão
pedante como ele. Regressando ao Heremitério contou como
havia se disfarçado pelo caminho e que toda a gente de sua
terra o tinha tomado por um pároco e o saudava
respeitosamente. Disse que na sua terra as pessoas não iam à
missa, mas que o respeito humano não o impediu de ir lá.
Como retornou sem o dinheiro, foi-lhe devolvido seu enxoval
e despedido. Que perda! (Avit, I, 258).
Tamanho é argumento
O Ir. Silvestre conta que o seu Diretor não gostava de Irmãos
de pequena estatura e, depois de dois meses, resolveu se
desfazer dele argumentando que não fazia bem a cozinha.
Alegando que precisava de um chapéu, o enviou para
l’Hermitage. Ele, sem o saber, levava a carta de sua
condenação. Champagnat o acolheu muito bem. Depois, à
medida que lia a carta, foi tomando um semblante sério e disse
a ele que seu diretor solicitava a sua transferência. Ele tentou
explicar cada ponto enumerado pelo Diretor e, no fim, disse
que o motivo principal não estava contido na carta, que era o
fato de ele ser de baixa estatura. Para reforçar esse real
argumento, citou o exemplo de o Diretor não querer que ele o
acompanhasse à Igreja, por medo de provocar gracejos por
parte do público (Sylvestre, 51).
Caserna e urtigas
O Ir. Chaumont era um antigo soldado. Tinha o costume de
se barbear todas as manhãs. Foi diretor de um pensionato.
Tendo encontrado inúmeras dificuldades, e sendo pouco
resistente, atirou sua batina às urtigas dizendo: "Eu dou
minha demissão de Irmão" (Avit, I, 258).
Questão de posição
O Ir. Eleazar era bastante lerdo, mas de bom espírito e
grande devotamento. Foi-lhe confiada uma sala de aula. O
Ir. Luis Maria fê-lo, certo dia, exercitar-se na matemática,
chamando-o ao quadro. Deu-lhe uma conta para fazer
(divisão de frações). O Irmão saiu-se muito mal. O
professor se impacientou e ameaçou descer do estrado. O
Ir. Eleazar lhe disse calmamente: "Ah, o senhor faria muito
bem". Vendo que não tinha inspiração para sair dessa, o Ir.
Luis Maria gritou: "Burro, inverta a fração divisora". O
aluno retornou compassadamente, tomou o quadro negro
colocado sobre um cavalete, o virou de cabeça para baixo.
Aí ninguém mais agüentou, nem o sisudo professor (Avit, I,
261).
22. Chefões
Já no seu tempo, o Pe. Champagnat, havia organizado as
numerosas comunidades em "distritos". Havia dois tipos de
diretores: o diretor local (da escola e da comunidade) e o
diretor do distrito, que era um diretor local, mas
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encarregado também de supervisionar as outras escolas do
distrito. Logo, espíritos não muito dados à nova organização e
com certa malícia, puseram estes chefes de distrito no ridículo
apelidando-os de chefões (Avit, I, 281).
Carnaval marista
Certa feita o Ir. Silvestre passeava com o Ir. Francisco pelo
jardim, quando perceberam um fogaréu na alameda dos
plátanos, onde os Irmãos faziam o recreio. Pararam e se
interrogaram o que seria aquilo. Aproximando-se viram os
Irmãos pulando por sobre o fogo e soltando gritos de alegria,
como fazem os foliões. É que alguns tinham tido a idéia de
realizar um carnaval, à moda da gente da região, e que nesta
época acendem fogueiras e ao redor delas dançam, saltam e
fazem alvoroço (Sylvestre, 302).
Salvo do fogo e da água
Luis Bouteille (Ir. Paulo) teve o pensamento de ser trapista e
certamente não aconteceu porque foi convocado para o serviço
militar.Lutou na Itália nos anos de 1813 e 1814. Contava, mais
tarde dos perigos que passou. Atribui sua vida á proteção de
Maria a quem recorria no fogo cruzado. Sabendo do revés da
armada napoleônica, desertou. Uma brigada foi no seu
encalço. Ele e seus companheiros deitaram-se numa depressão
e os guardas passaram sem vê-los. Conseguiu retornar à
França, depois de mil perigos, fome e toda espécie de
privações. Era uma pessoa de muitos talentos. Certo dia
teve de tratar de negócios pessoais na cidade. Para isso tinha
de passar um riacho que devido às chuvas transbordara.
Uma pessoa vindo em sua mula, ofereceu-lhe a garupa. Mal
a cavalgadura avançou afundou numa depressão e os dois
caíram. O que ofereceu “carona” ficou preso com um pé no
estribo e saiu arrastado pelo muar. A forte correnteza levou
Luis, que não sabia nadar. Em alta voz se recomendou à
Virgem Maria e fez voto de se tornar religioso se fosse
salvo. Quando se viu estava na margem. Cumpriu a
promessa e se dirigiu à trapa de Aiguebelle. Rezando o
terço pelo caminho, pensou ser a vida religiosa coisa muito
séria e resolveu ir a Valence aconselhar-se com o Bispo.
Este estando ausente, foi recebido pelo Pe. Fière que lhe
disse: “Não é a Trapa o seu lugar”. E fez-lhe conhecer o seu
projeto: os Irmãos da Instrução Cristã de Saint-Paul-Trois-
Châteaux. Ele foi pois a pedra fundamental desse Instituto
que mais tarde seu uniu aos Irmãos Maristas (Biographies,
129, Furet, 239).
Castelo assombrado
A última fundação de Champagnat foi o noviciado de
Vauban. Desde os primeiros dias que os Irmãos ali
estiveram, ouviram ruídos estranhos. Um dia, encontrado-se
no vestíbulo, o Ir. Teófilo escutou um barulho estridente à
moda da queda de um grande bloco de granito sobre
superfície dura, como se parte do castelo ruísse. Os outros
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Irmãos também ficaram apavorados. Percorreram o castelo
sem nada encontrar de anormal. Pode-se julgar o terrificante
que foi tal experiência pelos seus corolários: o Ir. Teófilo
teve, em seguida, diversos ataques de epilepsia e sua saúde
agravou-se. Foi necessário substituí-lo pelo Ir. Emilio (Avit, I,
296).
Enrolado em números
O Irmão Próspero era um tipo mais pretensioso que capaz. O
Irmão Avit assistiu a uma de suas aulas. Ele fazia
demonstrações matemáticas a perder de vista e enchia o
quadro de números. Os ouvintes ficavam de olhos arregalados
não compreendendo nada. Ele os tratava de estúpidos e
acabava algumas vezes, ele mesmo enrolado em seus números.
Fala-se que a sua pretensa sabedoria acabou esmagando sua
espiritualidade. Infligia aos alunos castigos terríveis, e usava
prodigamente a vara. Com essas atitudes a escola ficou quase
sem alunos. Abandonou o Instituto (Lettres/Repertoires 2, 436.
Avit, II, 21).
Perdizes e papa-figos
Explica o Ir. Avit que, por volta de 1830, a comida começa a
melhorar. Mas ainda não era tempo de comer perdizes e papa-
figos. O pão era mais bem preparado e cada um se servia
conforme o apetite. Comia-se um pouquinho de carne.
Misturava-se um pouco de vinho à água do Gier (Avit, I, 115).
Entre de alhos e queijos
O Ir. Bartolomeu, natural de La Valla, foi recebido pelo
Fundador em 1819. Na cidadezinha de Saint-Synphorien
teve de suportar os maiores insultos. Colocavam inscrições
pelas paredes contra ele; as crianças caçoavam-lhe. Sabiam
que ele detestava o alho e o queijo. Então esfregavam esses
produtos em seus livros e cadeiras. Quando ele ia
inspecionar uma sala de aula os alunos lhe ofereciam à porta
dentes de alho o que o fazia recuar logo não vendo o que se
passava nas salas. Em carta ao Ir. Francisco ele dizia que a
comunidade estava descontente com o Ir. João Batista por
causa das vistas mal feitas, sem resultados, que ele fazia à
comunidade (Lettres / Repertoires, 2, 74).
Decepção com a missão
O Ir. Cláudio Maria, recebido em Hermitage em 1835 foi
enviado para as missões da Oceania. De Kororareka ele
escreve lamentando a frustração com a missão. Não era o
que sonhava ao partir da França. Os padres o destinaram ao
trabalho manual e à cozinha. Teve inclusive que se despojar
do hábito marista para passar a usar traje comum. Diz que
lhe foram provações muito duras. Confessa que não estava
habituado a manejar os instrumentos de trabalho manual.
Seu sonho era catequizar os nativos ensinando-lhes o amor
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a Jesus e a Maria. Mas ele se resignava a essas provações
(Letrres/Repertoires 2, 137).
Destino das muitas cartas
Conta o Ir. Silvestre que, quando o Fundador morreu, ele
estava na escola de La Côte. Explica que escrevia
regularmente a Champagnat e que em todas as respostas o
Fundador dava provas de muita afeição e o encorajava. Ele
desejaria citar algumas delas, mas por infortúnio, elas lhe
foram tomadas e algumas ele as perdeu. Sobrou, entretanto,
uma nesse naufrágio (Sester, Cartas, 158; Répertoires, 476,
Sylvestre, 252).
Cabarés e pocilgas
O Ir. Didier ingressou no Noviciado de Hermitage em 1835,
com 17 anos e analfabeto. A escola onde ele trabalhou estava
cercada de casas noturnas perturbando o sono dos Irmãos. Na
casa os cômodos eram muito apertados. Em toda localidade
onde o Ir. Didier trabalhou sempre criava um porco. Ele ficava
num cercado junto à latrina...! Quando o animal estava bem
gordo ele o abatia. Isso se constituía numa festa ocasião em
que as comunidades vizinhas eram convidadas. Certa feita o
Visitador também compareceu a uma dessas festas o que
deixou o Irmão encabulado. Esperava uma reprimenda, o que
não ocorreu, pois a festa não passava de uma confraternização
bem simples. Como o Superior não lhe disse nada, ficou
perturbado achando que a reprimenda viria durante o retiro,
mas nada aconteceu (Lettres/Repertoires 2, 180).
Fugindo de ladrões
O Ir. Dominique fazia as suas viagens quase sempre a pé, e
eram viagens longas. Retornando certo dia à Saint-
Symphorien-Le Château encontrou dois indivíduos
confabulando e um disse ao outro referindo-se ao Irmão: "É
um pobre coitado, vamos deixá-lo passar". O Irmão chispou
transido de medo e desabalou pelo caminho. Percebendo
isso os dois indivíduos o perseguiram até a entrada da
cidade. Não se soube ao certo ser eram realmente ladrões ou
pessoas que desejaram rir às custas do Irmão.
O Ir. Dominique costumava pedir sempre o contrário do que
queria. Ele costumava reclamar sempre de seus co-irmãos.
Em Pélussin ele era diretor e lecionava na primeria série
sendo o Ir. João Maria Bonnet o titular perante a academia
sem jamais ter ali posto os pés (Lettres/Repertoires 2, 183-
184).
À força de água benta
O noviço Irineu era um simples condutor de carroça, muito
escrupuloso, mas que recebeu o hábito por conta de seu
devotamento. Durante as meditações ele se colocava ao lado
da pia de água benta na sacristia e se persignava
seguidamente. Encontrando-se um dia na horta, uma mulher
32
que havia errado o caminho, veio pedir-lhe informação. O Ir.
Irineu, que ainda não a tinha percebido, olhou-a, fez um
grande sinal da cruz e saiu em disparada. A pobre criatura
virou-se como pode. Este bom Irmão morreu acidentado na
Grange-Payre, sob um desbarrancamento, quando trabalhava
numa escavação a céu aberto (Avit, II, 66).
Piedosa criatividade infantil
Quando pequeno Jean Marie, (Ir. Pascal) foi com sua tia,
poucos anos mais velha que ele, levar um recado em uma
paróquia vizinha A mãe recomendou-lhe encarecidamente que
fossem rezando o terço. Os dois pequenos saíram conversando
e quando perceberam já estavam no destino, tendo esquecido o
terço. Na volta, a meio caminho, Jean Marie lembrou à
companheira o terço. Mas sua tia não tinha vontade de rezar e
retomou a conversa. Como ele insistisse, ela argumentou que o
terço que ele sabia era muito longo e lhe ensinou um mais
curto: “Eu digo benedicamus Domino e você responde Deo
Gratias enquanto vamos passando as contas do terço”. À
pergunta da mãe, se tinham rezado o terço, não foi fácil
explicar a forma como o rezaram. Nomeado para Valbenoîte,
com 18 anos, encarregou-se da primeira série que tinha uma
centena de alunos. Com medo, quis abandonar o trabalho, mas
animado pelo Diretor e por um Irmão que este escolheu para
acompanhá-lo, venceu as dificuldades (Biographies, 277).
Nos braços de uma jovem
O Ir. Francisco Regis era um fervoroso religioso, mas muito
escrupuloso. Sendo diretor em Séon-Saint-Henri,
trabalhando na cozinha, ele ia à missa das oito horas. Era a
hora em que as moças saiam para o trabalho. Para não vê-
las o bom Irmão fechava os olhos quando se aproximavam.
Uma delas percebeu isso e combinou com as colegas
darem-se os braços, ocupando toda a largura da rua;
envolveram o escrupuloso e uma delas abraçou-o sob
risadas das outras. O pobre Irmão não sabia onde se meter
(Avit, II, 98).
Habituado com os burros
O Ir. Damiano era um sujeito muito simples e de conduta
ilibada. Não era um religioso às meias. Sabia os quatro
evangelhos, as epístolas e o Ato dos Apóstolos de cor e
mesmo um pouco do Apocalipse. Entretanto, bastava ter um
tempo livre, e ei-lo lendo alguma passagem, passeando.
Podia-se ouvi-lo às vezes dizer a si mesmo: "É bem isso, eu
não tinha ainda compreendido". Ele era um pouco
encurvado e caminhava torto. Estando em Saint-Sauveur, o
prefeito animou-o a andar direito. Ele lhe disse: "Ah, senhor
prefeito, eu me habituei de tal maneira a caminhar deste
jeito conduzindo os burros de meu pai, que ser-me-ia muito
difícil andar de outra forma" (Avit, II, 105).
Fama de santidade
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O Ir. Simão faleceu em 1847, aos 29 anos de idade. Quando o
povo soube de sua morte acorreu ao seu funeral, desejando vê-
lo uma última vez, pois o tinha como um bem-aventurado.
Cada um queria levar uma lembrança, chegando mesmo a
cortar seus cabelos. Seus funerais foram celebrados com
grande solenidade. Ainda em 1862, cada um considerava uma
graça especial poder ir rezar sobre seu túmulo
(Lettres/Repertories 2, 473).
Meninos salvam Irmão do inferno
No inverno de 1835 o Ir. Damiano contraiu uma febre tifóide
que quase o levou ao túmulo. Num momento de delírio
pareceu-lhe estar ante o julgamento de Deus. Apresentou-se o
demônio e recordou todas as faltas de sua vida e queria
empurrá-lo num profundo abismo de fogo. Acreditou ver
também seu anjo da guarda apresentando a Deus uma longa
lista contendo o nome de todas as crianças que ele instruíra e
preparara para a primeira comunhão. O anjo ajoelhou-se diante
do trono de Jesus Cristo e lhe ofereceu a lista dizendo:
"Deixareis Senhor perecer este Irmão, servidor de vossa divina
Mãe que vos preparou e ganhou tantas crianças?". Nosso
Senhor acolheu a lista e lançou um olhar severo para o
demônio que se precipitou incontinenti no inferno com o livro
onde tinha escrito os pecados do Irmão.
Tendo o Irmão recuperado a saúde, dobrou de zelo pelo
catecismo e fez uma lista de todos os meninos que catequizara
e preparara para a primeira comunhão. Guardou-a
cuidadosamente, pois dizia: "Ela me servirá no dia do
julgamento". Morreu com fama de santidade (Avit, II, 106).
Vocação posta a preço
O Ir. Attale era filho único e desde o momento que
manifestou o desejo de ser Irmão, seus pais opuseram-se
firmemente. A família era bem de vida. Quando foram
visitá-lo em La Côte-Saint-André, ele estava de ajudante na
cozinha. Depois de bajulá-lo bastante, insistiram para que
deixasse a vida religiosa, pois esta não convinha a uma
pessoa que tinha fortuna. Seu pai prometeu passar para ele a
sua propriedade avaliada em trinta mil francos. O Irmão
ficou indignado ao ver sua vocação posta a preço. E reagiu
com respeito, mas com firmeza. Como estivesse de avental,
disse que não o trocaria por nada. Seu pai, tocado por uma
resposta tão firme, emudeceu e retirou-se admirado com a
virtude do filho (Biographies, 364).
Almoço sem sobremesa
Na cerimônia de transladação das relíquias de São
Prisciliano, os Irmãos ofereceram um almoço solene em que
estavam presentes muitas autoridades da região. O Ir.
Estanislau providenciou doces para a sobremesa e os
guardou num armário. Os postulantes e jovens Irmãos que
serviam descobriram as guloseimas e foram se servindo até
34
quase acabar. À hora da sobremesa o Irmão Estanislau foi
buscar o que comprara em Saint-Chamond para o solene
momento, mas não mais os encontrou em canto algum. Como
a cidade ficava longe não era mais possível ir àquele momento
comprar. Os comensais tiveram de se contentar com o que se
ofereceu. Os Irmãos Luis Maria e Estanislau ficaram muito
chateados, mas o mal já estava feito. Os culpados foram
advertidos da gafe que provocaram com sua imoderada
gulodice (Avit, II, 117).
Incrível: castor morrer afogado
Um noviço, ao receber a batina tomou o nome de Castor.
Chorando ele foi ter com o Ir. Superior Geral rogando trocar
de nome, pois Castor, na casa de seus familiares era o nome de
um cachorro de seu pai. Latinizaram então o seu nome que
passou a ser Castorius. Tendo sido nomeado para uma região
de clima mais quente que o de sua terra natal pediu para se
banhar. Os Irmãos insistiram para que não fizesse isso.
Aproveitando a ausência do diretor, Ir. Avit, ele entrou numa
reentrância do Ródano, lugar lamacento que o deixou muito
sujo. Foi lavar-se nas águas do Rio Ródano e aí ficou (Avit, II,
164).
Metodologia fracassada
O pensionato de Grange-Payre foi supresso para dar lugar a
uma escola preparatória ao brevê. Tanto Irmãos jovens quanto
idosos eram ali aguilhoados pelo Ir. Silvestre. Aos
domingos iam passear em Hermitage. Para estimular os
Irmãos o Ir. Silvestre organizou um lindo mural onde
afixava as composições de seus alunos todos os sábados. Os
Irmãos de mais idade eram mais lentos e ficavam
espicaçados. Confabularam entre si e uma bela noite
puseram o mural no chão e o reduziram a pedaços jogando-
os depois na latrina. O professor advertiu o Ir. Luis Maria.
À hora da comunhão o Irmão proibiu os "iconoclastas" de
participar da comunhão. Todos os de Grange-Payre
permaneceram em seus lugares. Mesmo com todas as
tentativas feitas não descobriram quem era o autor da
façanha. O Ir. Silvestre já não comia, não bebia e não
dormia de tão inquieto que estava. O Ir. João Batista foi
tentar solucionar a questão. Disse que os Irmãos idosos
eram os sustentáculos do Instituto. Os Irmãos de mais idade
pensaram que o Ir. João Batista os apoiava e regozijaram-se.
Mas todos eles foram transferidos da Grange Payre e
colocados em comunidades normais. O fato se tornou muito
comentado. Interrogado sobre isso, o Ir. Dominique
esbravejou: “Esse merdinha de Irmão queria caçoar de nós.
Irmãos de mais idade. Foi-lhe dada ma lição. Bem feito”!
Acontece que o Ir. Dominique não atinou para o ato do Ir.
João Batista, que não aprovara aquilo que os Irmãos idosos
fizeram. Ele os reclamara nas comunidades porque os
julgou muito idosos para se dedicarem aos estudos com
seriedade (Bulletin de l'Institut XXIII, 176, 667-669;
Lettres/Repertoires 2, 477, Rivat, 152).
35
Humildade e arrogâncias
O Ir. Malaquias entrou no Instituto já com certa idade. Não
tinha lá grande ciência, mas era dotado de raras virtudes, juízo
muito certo e grande devotamento. Essas qualidades fizeram
os superiores colocá-lo à frente do noviciado de La Bégude. Aí
foi mestre por cerca de trinta anos. O Ir. Antonio Régis, diretor
de uma escola, que acabou abandonando o Instituto, era muito
pretensioso e soberbo. Observou que o Ir. Malaquias cometia
muitos erros de ortografia. Acreditando prestar-lhe um grande
serviço enviou-lhe o seguinte bilhete: "Percebi que o senhor
está desprovido de esses (s), por isso eu lhe envio uma
provisão". E preencheu três páginas de papel só com a letra S.
O Ir. Malaquias recebeu este insulto como homem ajuizado e
não respondeu uma palavra (Avit, II, 203).
Neve, pinga e lareira
O Ir. Avit, sendo Visitador, empreendeu uma viagem, a pé, é
claro, para a localidade da La Louvesc. Informaram-lhe que
não havia muita neve. Mas mais ele ia subindo, mais neve
caia. Passando em La Louvesc, acreditou ser prudente arranjar
uma garrafinha de pinga. Eram já quatro horas da tarde. Era a
primeira vez que ele andava por aquelas bandas e a neve já
cobria tudo não se podendo distinguir os caminhos. Um gélido
vento do norte apareceu súbito trazendo uma grande névoa
que, à medida que a noite se aproximava, obscurecia tudo. O
Irmão acabou logo no meio de uma grande floresta de
pinheiros e de grande camada de neve. Perdido ia daqui e
dali e acabou caindo num buraco lamacento. Suava muito.
A noite caía. Pensou na pinga e tomou um gole. Isso foi
uma grave imprudência. Ela lhe retirou o calor do interior e
esfriou-lhe muito os membros, que não podia mais se
mexer. Por três vezes rezou o ato de contrição e se resignou
a morrer aí. Logo escutou os sinos tocarem o Ângelus e
pode se orientar. Rezou esta oração Angélica e tomou a
direção que lhe parecia correta. Dentro de quinze minutos
entrou na cidade de Saint-Bonet-le-Foid. Dirigiu-se logo
para um albergue em cuja sala havia um grande número de
jovens que se alegravam num espaço bem aquecido. A
drástica mudança de temperatura fez o Irmão sentir-se mal e
os jovens disseram: "Olhem só um padre bêbado". O Irmão
lhes fez um sinal e lhes explicou o que acontecera. Os
jovens o convidaram a se aproximar da lareira e logo sua
roupa secou. A hospedeira lhe preparou uma boa cama e o
Irmão dormiu por cerca de dez horas. No dia seguinte,
munido de um guia, seguiu para o destino que ainda ficava a
duas horas de marcha (Avit, II, 205).
Deserto & deserto
A um Irmão que pedia ao Ir. Francisco um tempo e um
lugar de silêncio, ele indica com humor, mas com seriedade:
"Você quer imitar Moisés. Que ótimo! Retire-se a um
deserto para ali escutar a voz de Deus, seus oráculos,
receber suas ordens e entreter-se coração a coração com ele
para poder em seguida executar suas vontades, vencer a
36
cabeça dura do Faraó e sua armada e conduzir à terra
prometida o pequeno povo que está a seus cuidados. O deserto
é sua casa, a montanha o seu oratório, o tabernáculo a Igreja.
Faraó o demônio; sua armada as armadilhas para perverter as
almas; Babilônia, o mundo, a praça pública; o povo, seus
Irmãos e alunos aos quais o Senhor o estabeleceu como chefe
e que você deve conduzir ao céu pelo deserto desta vida.
Lembre-se bem da conduta de Moisés, sua assiduidade em se
entreter com Deus; suas orações pelo seu povo, seu zelo para
opor-se ao mal, sua coragem nas dificuldades, seus vitórias
sobre os inimigos" (Rivat, 156).
Harmônio dissonante
O Ir. Aidant substituiu o Ir. João Maria como mestre de
noviços em l'Hermitage. O Ir. Estanislau era então o zeloso
sacristão. Convenceu o senhor Ginot a comprar para a capela
um harmônio de quatro registros. Fez tudo em segredo,
desejando proporcionar uma agradável surpresa a todos os
Irmãos. Quando o instrumento chegou foi preciso contratar um
pianista leigo de Saint-Etienne para tocar. Precisava dar-lhe
alimentação e pagar cinco francos cada vez que vinha. Este
artista não conhecia o gregoriano. Queria um Irmão ao seu
lado para lhe dizer a primeira nota do canto a cada vez. O
harmônio não dava senão sons muito fracos com este artista. O
Ir. Estanislau ficou maluco. Em vez de elogios dos Irmãos ele
recebeu somente críticas. O Ir. Luis Maria lhe fez severas
reprimendas. Dizia que se o Irmão tivesse sabido fazer o
negócio, o senhor Ginot lhe teria comprado um órgão. Durante
a semana o harmônio ficava na sacristia. O Ir. Avit
aproveitava o momento em que todos os Irmãos estavam no
terraço e não tendo jamais tocado em teclado, percebeu que
tinha bom ouvido e as coisas iam saindo. Um Irmão ouviu
os sons e correu dizer ao superior que não havia mais
necessidade de um professor de fora. Na casa havia alguém
que tocava bem. O novo organista foi chamado pelo
Superior que o mandou tocar. O Ir. Estanislau se opunha,
dizendo que ele ia estragar seu instrumento. Mas logo
percebeu que o Irmão tocava muito bem e não poupava
louvores e incenso a ele. Isso acarretou mais trabalho ao Ir.
Avit, que era visitador. A cada grande solenidade ele devia
vir a l'Hermitage para ser o harmonista. Havia também um
outro que tocava, era o Ir. Marie-Jubin. Mas os Irmãos não
gostavam porque seus sons os faziam dormir (Avit, II, 207).
Caçando alunos
Os Irmãos de Valbenoîte estavam humilhados com a forma
que os Irmãos Lassalistas empregavam para atrair os alunos
maristas. O Diretor da escola marista resolveu um dia dar-
lhes uma lição. Instruíram a lavadeira, que por si já era de
língua bastante ferina, a fazer um contato com o diretor das
Escolas Cristãs. O recado era o seguinte: Havia uma
senhora morando na rua tal que tinha dois filhos e lhes
procurava um internato. "Eu sou sua vizinha. Como ela não
conhece ninguém, pediu-me para lhe indicar a melhor
escola da redondeza. Eu lhe falei da dos Irmãos Maristas".
A este nome o Diretor Lassalista ironizou dizendo que esses
37
Irmãos não eram bons educadores, eram ignorantes, gente rude
do interior... "Não se preocupe, eu também contei vantagens
de sua escola. Com relação ao dinheiro também não se
preocupe, a senhora pagará tudo, contanto que seus filhos
fiquem contentes". Deu ao Irmão o nome da rua e o número da
casa da senhora e escafedeu-se. Como a mãe dos candidatos a
alunos não vinha, enviou dois de seus Irmãos no endereço
indicado. Mas não encontraram nem a rua nem o número.
Mesmo com esta lição eles continuaram a assediar os alunos
maristas (Avit, II, 210).
Trabalho sem continuidade O Ir. Avit na qualidade de Visitador, tinha elaborado um plano
para todas as comunidades no sentido de organizar a prestação
de contas e a redação dos anais de cada escola. Colocou tudo
num mural. Seu sucessor no cargo achou por bem ignorar o
trabalho iniciado e nada melhor do que atirar tudo ao fogo
(Avit, II, 213).
Curioso chamamento à vocação
Certa feita um grupo de jovens Irmãos, possuidores de grandes
talentos, abandonou a vocação. Chegando à sua terra natal, um
deles passou a falar muito mal da vida religiosa e comentava-
se: “Fulano de tal saiu do convento e da maneira como fala,
aquela vida não é própria para atrair jovens a se fazer Irmãos.
Ele não deixa de lastimar o tempo que passou no convento”.
Um jovem, ouvindo isso, disse: “Pois bem, eu vou substituí-lo.
Tudo o que ele diz não me assusta. Espero que Deus me dê
a graça de perseverar até a morte”. Esse jovem veio a ser o
Ir. Antonio Pascal (Biographies, 82).
Lamentando o pouco tempo de formação
O Ir. Marie-Lin entrou no noviciado de l’Hermitage em
1834. Na escola em que era diretor era acusado de que os
alunos ali não fazam progresso. Insinuava-se mesmo que
tudo decorria da ignorância de seu diretor, Ir. Marie-Lin.
Em carta ao Ir. Francisco ele dizia que ia envelhecendo com
sua ignorância e que esta ia aumentando com a idade. E
argumentava: "Como nesta situação, se pode dar um pouco
mais? Julgue o senhor mesmo, se pelos ensinamentos que
recebi no Instituto desde o dia em que tive a felicidade de
ser membro, até o presente: apenas quatro meses de
noviciado e nada mais. Penso que eu teria o direito de lhe
pedir de fazer os vinte meses de noviciado que me restam
por fazer. Falo sem malícia, com naturalidade, mesmo
porque todos os meus lamentos lhe são conhecidos. Sei que
o senhor não pode fazer tudo o que desejaria. Espero que o
futuro seja mais feliz. Estou com trinta anos. Penso que
precisaria iniciar por me enviar a estudar. Digo mesmo que
eu estaria mais disposta ao trabalho de minha instrução do
que na idade de quinze anos. Não me deixe neste estado de
ignorância. É tempo de começar. A glória de Deus e a
salvação das almas o reclamam". Esse mesmo Irmão era
muito ardoroso no envio de jovens vocacionados. Enviava
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aos magotes para o noviciado. Havia muitas observações a
esse tipo de ardor vocacional. Mas ele se defendia dizendo:
"Eu conduziria com muito gosto 50 postulantes ao noviciado,
mesmo sabendo que restaria apenas um, mas seria um bom
religioso" (Lettres/Repertoires 2, 365).
Sono profundo
A visita do Ir. Francisco à comunidade de Usson foi dramática
porque tendo ali chegado às onze horas da noite bateu,
inutilmente à porta durante duas horas. E era uma noite gélida.
O Ir. Camilo um dos que dormiam profundamente, viu em
sonhos uma mão que o tocava. O sonho lhe veio diversas
vezes. Como ele não se movia ouviu então uma voz: "Levante-
se, o Ir. Francisco está lá fora". No mesmo instante ouviu as
batidas na porta. Acordou os dois outros Irmãos que dormiam
no mesmo quarto. Com dificuldade abriu uma janela
emperrada pelo gelo e perguntou quem estava lá. Entendeu
logo que era a voz do Ir. Francisco e desceu às pressas para
abrir a porta. O Ir. Francisco explicou que batia há duas horas
e que antes de desistir e ir procurar um albergue, invocou o Pe.
Champagnat. E o Irmão logo abriu a porta (Rivat, 85; Avit, II,
221).
Receitas para curar os enfermos
O Pe. Champagnat incentivou o Ir. Francisco a estudar
medicina. Compôs enumeráveis páginas sobre o tratamento de
muitas doenças, compilando muitos manuais. Aos
portadores de cólera, por exemplo, recomenda-se o seguinte
tratamento cavalar: Aquecer o enfermo interior e
exteriormente; cobri-lo de tijolos aquecidos ao formo;
friccioná-lo com urtigas; deslizar sobre o seu corpo um
ferro de passar roupas o mais aquecido possível. Depois de
o enfermo ter vomitado, fazê-lo beber um copo de pinga
misturada com doze grãos de pimenta moídos. Quando um
Irmão caía enfermo, ele fazia um diagnóstico para ver se era
necessário chamar o médico. Mas, em geral ele mesmo
medicava o enfermo, e com sucesso (Rivat, 50, 52).
O uso de relógios em discussão Para a eleição dos capitulares em 1852 foi feita uma lista
dos 68 nomes possíveis de serem votados. Sobre essas
eleições havia sempre críticas, algumas bem intencionadas,
outras infundadas e outras, fruto de mau espírito. Assim,
dois capitulares, Irmãos Cassiano e Paulo-Mário, mais bem
intencionados e mais virtuosos do que esclarecidos,
acharam por bem declarar, um deles por escrito, que tinham
sido eleitos para escutar o Conselho Geral, sustentá-lo e
votar tudo o que desejassem. Essas declarações produziram
um resultado contrário àquele que pretendiam. O Ir.
Superior Geral fê-los notar que compreendiam mal o seu
mandato. Note-se que dois terços dos capitulares não eram
oradores. Eles escutavam as discussões, uns dormiam
seguidamente, votavam segundo sua lucidez e consciência,
mas não ousavam tomar a palavra, mesmo para encaminhar
as decisões que desejavam.
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Um dos temas, por exemplo, foi a questão dos objetos e
utensílios que os Irmãos podiam ter nas casas. O projeto do
Conselho Geral suprimia os relógios e um dos Assistentes
defendia com força este projeto. A maioria estava visivelmente
contrariada e tinham os olhos fixos sobre um dos secretários.
Enfim, este se levantou e disse: "Vocês se enganam
reclamando relógios. Pode-se dispensá-los mesmo nos
passeios. Basta que um dos recreantes siga na frente com o
relógio e sua caixa nos ombros, segura por suspensórios.
Assim todos poderão ver as horas a todo instante". Essa saída
original fez rir todos os capitulares, exceto três. Posta a
questão em votação, foi aprovada com folga. Mas com o
passar do tempo houve muito abuso. E diz o analista: “É
verdade que a pobre humanidade abusa, mesmo das melhores
coisas" (Rivat, 178; Avit, II, 268).
Movimento reivindicatório
Muitos Irmãos descontentes ou de mau espírito faziam chegar
por diversas vias suas lamúrias aos capitulares. Uma delas era
por intermédio do Pe. Colin. Algumas eram inclusive
anônimas. Uma das reclamações: "Estamos entristecidos de
ver a saúde dos jovens Irmãos enfraquecer e muitos morrem
antes do tempo”. Acrescentam que isso prejudica muito a
Congregação e que muitos párocos não entusiasmam jovens
por esse motivo. Acreditam que a débil saúde deles se deve
pelo fato de não terem muito tempo para o desjejum, para o
almoço e que o passadio não é muito substancial. Eles não têm
tempo suficiente para as recreações e por isso mesmo pouco
exercício, indispensável à sua idade. Por essas cartas
percebe-se não ser difícil excitar no interior do Instituto um
movimento de reivindicações e lamúrias... Recomendava
Colin que dando uma pequena satisfação sobre essas
reclamações, haveria bom resultado.
Essa carta aborreceu muito os membros do Conselho Geral,
já abalados pelas intrigas que existiam. Claro que não eram
os Irmãos devotados que faziam circular essas cartas. Além
do mais as críticas eram exageradas e partiam dos menos
cumpridores dos deveres religiosos (Rivat, 182; Avit, II,
269).
Muitas críticas e pouca caridade O diretor de La Valla, Ir. Atanásio, era dos principais
críticos, com cartas que iam de mentiras a calúnias. Em
nome do Conselho, após o Capítulo, o Ir. Francisco dirigiu-
lhe uma carta e anunciava as penalidades, frente aos
escândalos que ele tinha provocado a muitos: supressos
todos os direitos de Irmão professo; de toda voz ativa e
passiva; de todas as orações devidas aos Irmãos professos
defuntos; proibido de levar a cruz peitoral dos professos. O
Irmão retornava assim ao noviciado para adquirir as
virtudes que lhe faltavam ou que tinha perdido. A leitura da
carta que continha essa penalidade, foi lida num momento
de forte tensão no Capítulo e provocou ainda maior mal-
estar. Para esfriar os ânimos a sessão foi suspensa. Os três
Irmãos mais implicados nessas tramóias deixaram o
Instituto alguns anos depois. Entre eles estava o Diretor de
La Valla e o Ir. Malaquias, autor da carta dos esses (s). o Ir.
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Avit é muito rigoroso em seus comentários sobre o Ir.
Atanásio. Não comenta que ele pediu humildemente perdão ao
Ir. Francisco e o Irmão o acolheu com alegria. Mas dois anos
depois ele se retirou do Instituto ingressando em outra
congregação (Rivat, 190 192; Avit, II, 272).
Troca de favores
O Ir. Antonio Régis foi recebido em Hermitage em1835.
Quando trabalhava em Craponne ficou tão desgostoso que
disse que não mais ficava ali nem que fosse pregado. Dizem
que era um sujeito superficial e pretensioso. Adulou o inspetor
primário e lhe deu dinheiro. Este funcionário, por seu turno,
conseguiu para o Irmão uma medalha de bronze
(Lettres/Repertoires 2, 47).
Fabricante de camas
O Ir. Caste era geômetra, mecânico e apto a todo serviço. Foi
ele quem fabricou a maior parte das camas de ferro para os
Irmãos, durante muito tempo. E mesmo as inventou, porque
não existia em parte alguma desse tipo de camas. O ferro
vinha da usina do benfeitor Genissieux. O Ir. Caste acabou
falecendo jovem como conseqüência de uma fagulha que
atingiu seu olho (Furet, 31; Avit, I, 258).
Ousado bombeiro
O Ir. Apolinário foi recebido em Hermitage em 1832. Em
1840 trabalhava na escola de Saint-Didier-Sur-Rochefort.
Foi acusado de leviandades com jogos. Mas emendou-se.
Um incêndio que ocorreu numa casa do vilarejo fê-lo
praticar atos heróicos. Com um machado à mão, procura
salvar algo da casa, mas foi num instante cercado pelo fogo.
Na iminência de morrer queimado, saltou sobre o teto de
uma casa vizinha já com a batina em chamas. Essa atitude
do Irmão granjeou-lhe grande estima. Ele sabia lidar com as
pessoas e com as situações que se apresentavam. Era hábil
jogador de bochas. Foi nomeado visitador, e como tal não
cumpria adequadamente seu oficio, sendo pouco exigente.
Faleceu em Hermitage em 1880 (Lettres/ Repertoires 2, 49).
Entre tapas e chutes
O Ir. Avit trabalhava em Mornat quando o Ir. Crisógono
expulsou da sala de aula um aluno muito rebelde, atou-lhe
as mãos com uma fita e o mandou para o jardim. O aluno
desvencilhou-se das amarras e foi para sua casa. Durante o
almoço seu pai chega furioso. O diretor saiu ao seu
encontro, mas não conseguiu descer a escada e não soube o
que lhe dizer e ficou tolhido como uma estátua. O Ir. Avit
veio atrás e o forçou da descer. O pai começou subir a
escada e o Ir. Avit se colocou entre os dois agarrou o pai
pelo pescoço e servindo-se também dos pés, o forçou a
descer, enquanto o pai proferia grosserias. O diretor
conseguiu safar-se desta (Lettres/Repertoires 2, 63).
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Excesso de amor ao papa
A guerra pela unificação italiana 1859-1864, considerada
guerra contra o papa, fez o excelente Irmão Nicéforo perder a
cabeça. Foi com muito custo que se conseguiu fazê-lo desistir
de ir cortar a cabeça do imperador. Felizmente sua loucura não
foi furiosa, mas o tornou um elemento perigoso e que forçou o
Instituto a interná-lo num sanatório (Avit, II, 279).
Fonte de recursos
O Irmão Amábile descobriu uma bebida, sob o nome de
bifosfato, que cedo adquiriu grande vulgarização e acabou
sendo uma fonte de recursos para o Instituto (Avit, II, 279).
Primeira tentativa de mudança da casa de
l'Hermitage
A casa de l'Hermitage acabou ficando pequena para acolher
todos os Irmãos nos retiros. Além do mais os médicos
sustentavam que ela era malsã e que os ventos frios noturnos,
ocasionados pelo Gier, eram prejudiciais à saúde dos Irmãos,
sobretudo dos idosos. Preocupados com esta situação os
superiores e o conselho visitaram um local vizinho e já haviam
feito alguns planos para a futura construção. Estavam
dispostos a comprar aquela propriedade. O Ir. Avit não
estava presente no Conselho que fazia aqueles
encaminhamentos. Ao seu retorno pediram sua opinião. Ele
respondeu que não poderia dar opinião sem antes visitar o
local. Depois que o fez deu o seu parecer: "Caro Ir.
Superior, não sou favorável a essa obra". "Por que?",
elevaram-se quase em uníssono as vozes. "Porque a
propriedade é muito exposta a todos os ventos, porque se
situa muito longe da estação e, sobretudo porque está muito
próxima dos centros industriais. Prefiro ainda l'Hermitage".
Não responderam nada e o projeto foi abandonado (Avit, II,
286).
Oferta de Saint-Genis-Laval
O prefeito de Saint-Genis-Laval pediu três Irmãos. O
Pároco veio a l'Hermitage discutir as condições. Vendo a
situação da casa e sabendo que os Irmãos procuravam um
local mais favorável, o pároco, senhor Magat, descreveu-lhe
a linda situação geográfica de Saint-Genis. Os Irmãos
falaram que não tinham dinheiro suficiente para comprar o
local. Um belo dia o Ir. Luis Maria foi ver a propriedade
falada por Magat. Por prudência ele a examinou de soslaio,
por sobre um muro e enamorou-se logo dela. Como estava à
venda, o negócio foi fechado entre a Sociedade Civil do
Instituto representada pelos Irmãos Boaventura, Luis Maria
e Francisco e o representante da proprietária. Tendo sido
tudo preparado, o documento foi levado para a proprietária
assinar. Assim, os Irmãos apareceram somente para assinar.
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Firmado o ato, a senhora retirou-se para seus aposentos com
sua empregada e os Irmãos a escutaram dizer: "Oh
infelicidade. Se eu soubesse a quem eu estava vendendo eu
teria pedido 50 mil francos a mais. E esses senhores não
teriam recusado". Para pagar a propriedade os Irmãos
venderam a Grange-Payre, receberam algumas doações e
todos os Irmãos fizeram muitas economias.
Na Circular de 1855 o Ir. Luis Maria anunciava aos Irmãos
que as obras iriam começar logo. A maioria dos Irmãos
desejava conhecer esta bela aquisição e o Conselho favorecia
os que desejassem ir vê-la. O Ir. Avit não se apressou. Crendo
o Superior Geral que havia nisso certa malícia, fez-lhe uma
reprimenda. Mas o Visitador respondeu: "Estou persuadido,
como os demais, que a propriedade de Saint-Genis é
magnífica. Minha visita não a tornaria mais bela. Também não
faria com que o senhor se desfizesse dela. Essa visita só teria
o objetivo de satisfazer minha curiosidade. Não estou
apressado e espero ocasião favorável". Esta resposta pareceu
satisfazer ao Ir. Luis Maria (Avit, II, 300, 335).
Contando vantagens
Volta e meia os Irmãos Lassalistas se atracavam com os
Maristas. Desejando destruir a obra Marista em La Côte, eles
criaram um pensionato em Beaurepaire. Diziam que era fácil
conseguir seus objetivos. E fizeram muito barulho. O Ir.
Diretor de Viriville, ficou de saco cheio com essa situação
humilhante e, com autorização do diretor de La Côte, escreveu
uma carta ao diretor lassalista de Beaurepaire, dizendo-se um
pai de família que desejava matricular ali seus filhos.
Esperava que eles fossem bem alimentados, educados e
instruídos. E dizia: "Nós temos um pensionato em La Côte,
dirigido pelos Irmãos Maristas. Vai muito bem, mas me
fizeram tantos elogios do vosso que estou tentado de lhes
confiar meus filhos. Queira me dar alguns detalhes sobre
sua escola". O Diretor caiu na armadilha. Respondeu ao
presumido pai de família que os Irmãos Maristas eram
incapazes de educar os jovens e fez um brilhante elogio de
seu educandário e deu-lhe a informação necessária para
matricular os filhos. E alongou-se na explicação dos
conteúdos dados aos alunos, exagerando em tudo.
Infelizmente sua carta continha treze erros de ortografia e
de redação. Os diretores de Viriville e La Côte, riram muito
desta exibição do diretor lassalista que ficou esperando
inutilmente os novos alunos. Sua pouca habilidade o levou a
fechar a escola depois de seis anos, tendo ainda a desgraça
de brigar com o pároco por uma questão financeira, antes de
partirem (Avit, II, 338).
Irmão caluniado e condenado
O Ir. Cléofas foi nomeado diretor em Lorette. Ali foi
acintosamente caluniado, arrastado perante os tribunais e
condenado a quinze anos de trabalhos forçados. Seu
principal acusador, o prefeito, confessou a calúnia, mas o
condenado, mesmo assim recebeu imerecidamente a pena
(Avit, II, 329).
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Vitória de Pirro
Apesar das ponderações contrárias do Ir. Avit, Visitador, o
Instituto aceitou os pensionatos de Thizy e Beaujeu. Mas
precisou, em seguida, gastar 60 mil francos no primeiro e 80
mil no segundo, fazendo aos poucos as reformas necessárias e
não dando sossego aos Irmãos que ali trabalhavam. "Nós
julgamos que isso era a vitória de Pirro: quanto mais a gente
ganha, mais se tem a lastimar" (Avit, II, 330).
Inflexibilidade do Ir. João Batista
O Bispo Guibert escreveu aos Irmãos lamentando a situação
que se criava em sua diocese com a presença de Irmãos de
diversas congregações que acabavam fazendo concorrência
entre si. Ele recomendava aos párocos que preferissem os
Maristas, mas estes lhe respondiam que os Maristas acabaram
sendo, desde há alguns tempo, muito exigentes, que não mais
desejavam abrir comunidades com dois Irmãos, o que
convinha muito às pequenas comunidades de sua diocese. E
dizia: "Eu recebi em muitos lugares reclamações contra o Ir.
João Batista, que dizem ser rude, severo, inflexível e não se
acomoda às exigências que cada situação das paróquias exige"
(Avit, II, 340).
Viagens com desconto
Os Irmãos Maristas viajavam agraciados com um desconto
especial, assim como os Irmãos das Escolas Cristãs. Os
bilhetes tinham validade enquanto havia espaço para
colocar o carimbo, em cada viagem. Quando o seu se
esgotou, o Ir. Avit solicitou uma nova autorização. O
fornecedor pediu se o Irmão era dos Irmãos da Doutrina
Cristã. Ele respondeu: "O senhor pensa que eu ensino o
Corão?". Não sabendo o que replicar, expediu um bilhete de
meia tarifa (Avit, II, 350).
Propaganda exagerada O Ir. Gregório moveu céus e terra para dar suporte humano
ao pensionato de Digoin. Apesar de ser um Irmão
inteligente e capaz, tinha a cabeça um pouco leviana. Para
atrair alunos fez muito barulho. Para a distribuição dos
prêmios, no final do ano, estavam presentes nada mais nada
menos do que 30 padres. Pagou-se para eles, assim como
para uma quinzena de leigos, uma nababesca refeição.
Foram servidos 25 pratos, dentre eles quatro grandes pernis.
Para encerrar o festim prepararam um bolo dentro do qual
foi colocado um pouco de aguardente e na hora acendeu-se
o fogo ocasionando assim um efeito especial. Alguns
Irmãos ficaram escandalizados com esta festa e os padres à
saída comentaram: "Poderia você pagar uma festa
semelhante? E os Pequenos Irmãos de Maria fazem tal
extravagância. Enquanto seu pároco se priva do estrito
necessário para pagar a escola eles desperdiçam tolamente
suas economias" (Avit, II, 351).
44
Roubando a própria casa
Nomeado diretor, o Ir. Volusien teve uma idéia bem
tresloucada. Constituiu um caixa dois, rasgou diversas folhas
do livro de contas e foi dar parte ao prefeito de que o tinham
roubado. Este denunciou o roubo ao juiz-de-paz e este fez uma
sindicância. Demonstrou-se que o ladrão não era outro senão o
próprio Ir. Volusien. Teve de refugiar-se na Bélgica. Mas foi
condenado como contumaz a diversos anos de prisão. Mais
tarde pode regressar à França, mas acabou abandonando o
Instituto (Avit, II, 363).
Arrependimento de Deus
A região de Cours tinha fama de abrigar gente inconstante. Foi
assim que os sete filhos de uma senhora viúva entraram para a
vida religiosa: 5 nos Maristas e as filhas no convento. A
bondosa mãe, de pouco bom senso, disse: "O bom Deus mos
deu, ele os toma; que seu nome seja bendito". Quando todos
desertaram para retornar à casa materna ela disse: "O bom
Deus, os tinha tomado para si, ele mos devolve; que seu nome
seja bendito" (Avit, II, 373).
Irmão grã-fino
Esforçando-se por ter uma boa imagem, o Ir. Ismael acabou
sendo nomeado diretor. Logo comprou para si uma bengala,
luvas, meias tricotadas, óculos, perfume... Considerava-se
elegante. Os que o cercavam passavam logo a emitir juízos.
Foi, sem permissão, para Lião em trajes civis, envolveu-se
com um grupo de revoltosos e foi posto na prisão. Mandado
embora do Instituto, casou-se com uma corcunda filha única
de uma viúva endinheirada. Apossou-se dos seus bens,
escachou sua mulher e em seguida mandou-a embora com
sua mãe (Avit, II, 374).
Vaca apegada ao bezerro
Perante a grandiosidade da nova sede do Instituto, Saint-
Genis-Laval, o Ir. Francisco era tomado de escrúpulos. Para
tranqüilizá-lo, a planta da obra foi submetida ao Cardeal de
Bonald, que não viu nada que ferisse a pobreza. Diante
disso, o Ir. Francisco se acalmou. Mas, após a instalação da
casa ele continuou a não se sentir muito bem. Mais tarde ele
se retirou para l'Hermitage. Os Irmãos lhe perguntavam por
que o seu sucessor estava tão apegado a Saint-Genis. Ele
respondeu com simplicidade: "É muito natural que a vaca se
apegue ao seu bezerro" (Avit, II, 385).
Mudança santificada
O noviciado transferiu-se para Saint-Genis um pouco mais
tarde que a comunidade. Cada noviço e postulante teve de
carregar sua bagagem. Foi um cenário que provocou
hilaridade pelo caminho até a estação de Saint-Chamond.
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No trem foram colocados em duas composições especiais e
recitaram as horas menores em coro. Eles desembarcaram na
estação de Irigny e subiram com dificuldade a colina,
carregando a bagagem (Avit, II, 386).
Amor ao Fundador?
Em La Valla era diretor o Ir. Vicente. Ele era um hábil
dentista. Exercia esta arte com zelo em La Valla, Saint-
Chamond e até em Saint-Etienne, para onde ele ia nos feriados
e nas férias. Com esse trabalho ele conseguiu uma certa
quantia de dinheiro. Com mais algum dinheiro conseguido
pelo seu predecessor, ele tinha em vista recomprar o berço do
Instituto em La Vala. Os Superiores examinaram a questão e
foram de acordo, colocando o seguinte: "Considerando que
estes imóveis foram o berço do Instituto e trazem à memória
preciosas recordações aos Irmãos; considerando a
generosidade dos habitantes de La Valla que desejam que os
ditos imóveis retornem ao Instituto para respeitar a memória
de seu antigo vigário, o Padre Champagnat..." Apesar destas
colocações, o Ir. Vicente comprou a propriedade no seu
próprio nome. Com muito custo e diplomacia se conseguiu
que ele cedesse, o que possuía indevidamente, à Congregação,
o que aconteceu pouco antes de sua morte. Quando ele
morreu encontrou-se no colchão de palha de sua cama títulos
de renda fixa ao portador, representando um capital de sis mil
francos que um de seus irmãos logo reclamou. O Ir. Avit diz
citar o caso sem fazer julgamentos (Avit, II, 391, III, 12, 394).
Quis tudo, não teve nada
O Ir. Basle dirigiu diversas escolas e mostrou-se bom
administrador. Ele tinha um certo patrimônio. Tentado em
aumentá-lo, ele fazia algumas economias em detrimento do
estômago dos outros e se apropriava delas. Confiando em
seu talento administrativo, os superiores nomearam-no
ecônomo em l'Hermitage. Provavelmente continuou ali as
suas rapinas. Pelo mesmo motivo que satã assediou Judas, o
mesmo fez ao Ir. Balse. Reunindo seu patrimônio mais o
fruto das rapinagens foi a Marselha. Mancomunou-se com
uma senhora mal intencionada que o convenceu a adquirir a
casa onde ela mantinha um armazém por um aluguel anual.
O Irmão caiu na armadilha e passou todos os seus bens a
essa criatura. Dias depois um menino entrou no comércio
dizendo: "Bom dia mamãe" o que fez o ex-irmão abrir
grandes olhos. Depois apareceu um segundo e um terceiro
filho. O ex-irmão não agüentando mais manteve com a
megera uma viva altercação. Esta, com a ajuda da petizada,
meteu o azarado na rua dizendo: "E, além de tudo, eu estou
na minha casa". O pobre coitado acabou com uma mão na
frente e outra atrás. Caiu depois enfermo e teve de se
refugiar num hospital onde faleceu (Avit, II, 305).
Situações curiosas, hoje
Na eleição para Superior Geral que elegeu o Ir. Francisco,
havia um número de capitulares que não sabia nem ler nem
46
escrever. Os Irmãos Luis Maria e João Maria foram
encarregados de receber os votos deles que são escritos pelo Ir.
Luis Maria na presença do Ir. João Maria (Rivat, 68).
Ser do mundo e estar no mundo
O ex Platon era tipo galã, músico, bastante capaz para seu
tempo, mas muito vaidoso. Foi no início muito edificante.
Nomeado diretor, a sensualidade fez-lhe crer que estava
doente. Não mais queria dar aula, zelar pela disciplina, fazer a
cozinha... dizendo que estava muito fatigado. Como mantinha
ligações estranhas com a sociedade acabou saindo e aceitou
um trabalho qualquer numa escola sob o jugo de um titular
leigo. A um antigo co-Irmão que se admirava de sua atual
situação, um tanto humilhante respondeu: "Na casa de vocês a
gente pode fazer o que a gente quer, mas no mundo, é preciso
se virar para ganhar o pão". Posteriormente, em outra
localidade ele se envolveu com crianças e foi obrigado a
passar a fronteira para escapar da prisão (Avit, II, 306).
Dividir para governar?
A Província do Centro tinha 215 escolas ou pensionatos.
Julgaram que era demasiado para um só visitador. Resolveu-se
ter dois Visitadores, dois assistentes. Além do mais o Ir. Luis
Maria tinha outras pesadas ocupações, como a autorização
legal do Instituto e a construção de Saint-Genis. Procurou-se
então aliviá-lo da função de visitador. Ele não gostou da idéia.
Mandou trazer um mapa da França sobre o qual ele traçou
uma linha saindo de Genebra, passando por Rhône até
Irigny, dirigindo-se depois para Montbrison e Clermont. Em
seguida disse: "A sua parte está ao Norte desta linha e a do
Ir. Callinique ao Sul". Esta fantasiosa divisão fez rir muito
o Ir. João Batista e não durou senão um ano (Avit I, 412).
Burro de saia
Em Valbenoîte era cozinheiro dos Padres o Irmão
conhecido como Joselou, e dos Irmãos o Ir. Castulo. Este
surpreendeu um dia o seu colega furtando ovos. Correu
atrás dele até conseguir que devolvesse o que não lhe
pertencia. Nomeado mais tarde diretor, o Ir. Castulo
colocou sobre um asno uma grande saia, á moda baiana e
passeou pelas ruas seguido pelos alunos que marchavam em
duas colunas e ele mesmo seguia a besta munido de uma
grande vara. Os homens morriam de rir, mas as mulheres
esconderam-se e as grandes saias desapareceram da
paróquia (Avit, II, 434).
Jimmy, the Gardener
O Ir. Michel, que não perseverou, foi enviado para as
missões da Oceania em 1836. Instalado em Kororareka, aí
trabalhou em duras lides manuais. A um missionário
protestante ele confidenciou sua amargura em não poder ser
catequista, seu ideal. Este foi, certamente um dos motivos
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que o fez abandonar o Instituto. Ele se tornou muito conhecido
na região por cultivar uma espécie de melão não conhecido.
Permaneceu solteiro e tornou-se um jardineiro profissional
conhecido então pelo nome de "Jimmy, the Gardener"
(Lettres/Repertoires 2, 400).
Queijo até na cama
Houve um tempo em que era muito comum pregar peças nos
outros. Um dia os Irmãos da comunidade colocaram um
enorme queijo fresco na cama do diretor, que era muito chato,
e imagina-se o que deve ter acontecido quando ele foi deitar.
Esse mesmo diretor obrigou um dia o pequeno cozinheiro a
trabalhar na horta o dia inteiro. Em conluio com o seu vice
prepararam um almoço para os dois. Pegando, em seguida um
pão duro, disse a um aluno: "Pegue, leve isto ao Irmão que
trabalha na horta". O aluno ficou revoltado e abandonou a
idéia que tinha de entrar no noviciado (Avit, II, 436).
Aviso aos usuários
Às vezes, as pegadinhas entre os Irmãos tinham efeito
pedagógico. Em 1839 o Ir. Avit passou por Chavanay e teve
de ir à privada. Achou o local muito sujo. Tomando um papel
escreveu uma quadra:
Oh vous qui, dans ces lieux étroits
Venez décharger vos entrailles,
Vous feriez mieux de vous lécher des doigts
Que de les frotter aux murailles.
O Ir. Lourenço que era diretor fez de tudo para descobrir
quem foi o seu autor (Avit, II, 436).
Festa republicana
O Ir. Felipe ingressou em l’Hermitage no ano 1827 e
faleceu em Saint-Genis-Laval aos 79 anos. Era um Irmão
muito enérgico, com saúde de ferro. Nas aulas falava tão
alto que se podia ouvi-lo a um quilômetro de distância. Seu
saber era muito elementar e ensinava o que ele mesmo não
sabia. Não tinha diploma, e exercia a profissão de professor
com outro nome. Na escola em que trabalhava os
republicanos ameaçaram incendiar a escola. O Ir. Felipe
tinha uma fanfarra e resolveu fazer um passeio musical.
Ocorre que o mestre da fanfarra era um ardoroso
republicano. Nada mais acertada medida, pois o desfile foi
um sucesso e aproximou maristas e republicanos. O Ir.
Francisco, SG não gostou da iniciativa e transferiu o Irmão
que deixou na localidade grandes recordações. Sua morte
foi sofrida, pois seu estômago não aceitando nenhuma
alimento, pode-se dizer que morreu de fome (Lettres /
Repertoires, 2, 419).
Devolução de Irmão brincalhão
O Ir. Pio ingressou no Instituto aos 25 anos, no ano de 1831.
Escreveu diversas vezes ao Superior Geral solicitando um
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Irmão, mas que respondesse à suas exigências. Numa das
vezes argumentou: "Esse Irmão que o senhor me deu é por
demais engraçado, malandro; faz rir todo mundo. O senhor
sabe que em Terrenoire as pessoas são rudes e os Irmãos têm
necessidade de muita autoridade, reputação. Assim, eu estou
lhe devolvendo o Irmão para que seja substituído por outro
que nos possa servir". Diz o Ir. Avit que o Ir. Pio, que deixou o
Instituto, não era muito capaz e grande e muito papudo
(Lettre/Repertoires 2, 422).
Dar a vida pelo Irmão
Um pavoroso fogo destruiu, em Saint-Genis-Laval, as
dependências que guardavam provisões dos Irmãos e dos
animais. Pensou-se que foi o Ir. Porfírio que botou fogo, mas
não se tem certeza, porque ele era um tanto demente. Ele foi
mandado de volta para sua família e o Instituto continuou lhe
dando auxílio. Terminado o incêndio fez-se a chamada e
percebeu-se a falta de dois Irmãos: José e Maximino.
Entretanto viu-se o Ir. Maximino durante o incêndio. Os dois
dormiam acima da padaria. Ao que tudo indica ele fora ver se
o Ir. José tinha levantado e acabaram morrendo. Os seus
esqueletos foram encontrados abraçados e calcinados nos
escombros. Foi um terrível espetáculo para os espectadores
(Avit, III, 10).
Agindo sempre como pedreiro
O Ir. Pedro, recebido em La Valla aos 27 anos de idade, foi
logo iniciado na profissão de pedreiro. Certo dia fazendo a
culpa acusou-se de ter faltado ao silêncio em quase todo o
tempo. Era um tanto surdo. Um gaiato observou que ele
tinha o hábito de se cuspir nas mãos. O Fundador o animou
a se corrigir deste defeito. O Ir. Pedro agradeceu, cuspiu nas
mãos, beijou o assoalho levantou-se e se retirou. Ajudando
certo dia a descer um caixão na cova, ele disse um tanto
alto: "Te tigno" (Lettres/Repertoires 2, 423).
Morrendo sob o peso das dívidas
Sob o generalato do Ir. Luis Maria o Instituto ficou com
grandes dívidas. Em Aubenas gastou-se 320.000 francos e
teria sido mais se os Irmãos não tivessem trabalhado duro
para aterrar, remover e transportar cerca de 15 mil metros
cúbicos de material. Somando diversas aquisições o
Instituto gastou mais de cinco milhões de francos. É
verdade que essas aquisições e melhoramentos passaram,
em geral, a serem produtivos nos anos subseqüentes. Mas
um pouco antes de sua morte, o Superior Geral estava
horrorizado com as grandes dívidas que a Congregação
tinha. Para se ver livre de credores mais apressados fez um
empréstimo de 500 mil francos, o que fez somente postergar
as dívidas. Após a sua morte o Instituto devia pagar cerca da
metade desta dívida.
Certa feita, em conversa com o Superior dos Irmãos de
Ploërmel, o Ir. Luis Maria perguntou se a sua congregação
tinha muitas dívidas. "Eu sou muito prudente em não as
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contrair; eu não faço gastos antes de ter o dinheiro na mão".
Esta resposta fez o nosso Superior enrubescer. Ele não podia
ter uma linguagem semelhante (Avit, III, 28, 176).
Uma questão de inculturação
O Ir. Procópio, Assistente das Províncias das Ilhas Britânicas,
depois de um tempo na Escócia aprendeu tão bem o inglês que
falava melhor que o francês. Naturalizou-se. E não gostava
nem um pouco que as pessoas se referissem com chacotas ao
povo inglês em sua presença, tão persuadido estava que tudo ia
bem, seja na Inglaterra seja nas colônias inglesas (Avit, III,
37).
Trabalho de inculturação
O Ir. Marie Nizier foi enviado pelo Pe. Champagnat como
missionário na Oceania. Desembarcou em Futuna. Aí
chegados os missionários foram saudados à maneira nativa,
nariz a nariz, e conversação com intérpretes. Foi servida uma
refeição: carne assada de porco, inhames, cocos. Folhas
serviam de mesa, toalha, guardanapos, pratos... Dedos serviam
de garfos e facas. "Asseguro que a minha delicadeza foi
questionada com estes novos métodos, mas atualmente tem
menos impacto", comentava o Ir. Nizier (Avit, III, 44).
Vida provada a do missionário
A vida dos primeiros missionários na Oceania foi difícil,
pois dizia o Ir. Emery, que tinha de ser compositor,
impressor, alfaiate, hortelão, lavador e passador de roupa,
ecônomo, cozinheiro, marinheiro... Outro Irmão, que fora
colega do Ir. Avit, começou a ter relações imprudentes com
o público. O bispo Pompalier julgou prudente enviá-lo de
volta para a Europa, mas ele acabou deixando o Instituto e
embarcando para a América. O Ir. Avit disse que se
surpreendeu quando soube que ele fora escolhido para ser
missionário na Oceania, pois para essa missão "necessitava
então de uma virtude sólida para poder viver no meio dos
nativos inteiramente nus, vivendo muitas vezes isolado,
privado dos sacramentos, etc" (Avit, III, 51).
Novos tempos
Em 1845 o Ir. Francisco escrevia a um Irmão Diretor
explicando que não era possível receber uma criança de 13
anos no noviciado porque não tinha maturidade. Sendo ele
de uma família virtuosa, poderia crescer ali em seu ideal
com a ajuda dos pais e quando tivesse mais idade poderia
entrar no Noviciado (Rivat, 109).
Mutações nos objetivos da escola
Em 1852 já não se estava mais no modelo de escola
evangelizadora dos primórdios. Desde o início do Instituto,
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a escola era, antes de tudo, um meio de evangelização, uma
espécie de noviciado para todos, preparação à vida cristã. Mas,
pouco a pouco as exigências acadêmicas passaram a ser mais
importantes. Daí a tendência a reduzir o caráter religioso da
escola (Rivat, 193).
O peso da vocação missionária imposta
Da Oceania o Ir. Florentino dizia: "O que me faz sofrer e o
fará sempre, é de não mais poder vestir o hábito marista,
mesmo no domingo, de modo que, deixando a França, o deixei
para sempre. Foi inútil eu reclamar junto ao Bispo. Aqui eu
pensava dar o catecismo, ajudando os padres missionários.
Mas meu trabalho está reduzido ao de empregado doméstico.
Entretanto consigo fazer os exercícios que prescrevem as
Regras. Tal é a minha posição e a dos outros Irmãos. Eu não o
reclamaria se eu tivesse sabido perfeitamente a situação ao
deixar a França, de onde eu parti, vocês sabem, a contra gosto,
mais por obediência do que por livre escolha. Se fosse da
vontade de Deus que eu retornasse a l'Hermitage somente a
morte ou a obediência me prenderia aqui". O Ir. Teofânio o
encontrou em 1894, 45 anos depois, em Sidnei. O Ir.
Florentino fora enviado pelo Pe. Champagnat em 1839 a
serviço dos Padres Maristas (Avit, III, 52; Circulaires VIII,
406).
Da cozinha ao diretorado
O Ir. Francisco interessava-se muito pelos Irmãos
cozinheiros. Quase todos os Irmãos faziam um estágio de
cozinheiro antes de se encarregar de uma sala de aula. Em
geral eles acabavam de sair do noviciado ainda adolescentes
e podiam correr o risco de não ter sucesso; necessitando de
encorajamento quando eles se encarregam de um grupo de
alunos no período da tarde. Com freqüência eles também se
preparavam para conseguir um diploma. Os alunos se
acostumavam a considerar o emprego de cozinheiro como
uma parte do cursus honorum dos Irmãos. Havia mesmo
alunos que tinham prazer em varrer e arrumar as coisas
dizendo: "Eu quero aprender a ser Diretor" (Rivat, 220).
Irmão inventor
O Ir. Pémen, trabalhando no Norte, inventou um meio de
evitar os acidentes que acontecem nas estradas de ferro por
descarrilamento. Consistia num terceiro trilho, um pouco
mais elevado que os dois outros ao lado dos quais giravam
horizontalmente duas rodinhas fixadas sobre as
composições... Ele gastou certa quantia nesse invento, em
parte paga por benfeitores, e o apresentou a Napoleão II,
pelo senhor Brame, deputado do Norte. Ele enviou a Sua
Majestade o pedido: "Senhor, se o aparato que
respeitosamente submetemos à decisão de vossa Majestade,
por intermédio do senhor Brame, deputado, lhe parecer útil
a prevenir de maneira eficaz os descarrilamentos
ocasionados por velocidade excessiva nas curvas, ruptura
51
dos eixos etc... queira, Senhor, permitirmos homenagear vossa
Majestade, suplicando humildemente de acolher e ordenar seja
feito o experimento em algum lugar...". O pedido foi
endereçado ao ministro dos Trabalhos Públicos com ordem de
estudar a questão. O Ministro achou boa a invenção mas disse
que não poderia impor às Companhias. O Ir. Pémen tentou
então entender-se diretamente com os engenheiros das
Companhias. Estes lhe disseram que sua invenção era boa mas
acarretaria muitas despesas. Seu invento não teve
prosseguimento, e os trens continuaram descarrilando (Avit,
III, 70).
Vida austera e zelosa do Irmão
O Ir. Lourenço, de Saint-Paul, apesar de sua boa vontade, saiu-
se mal como enfermeiro e como mestre de noviços. Mas ele
era devotado e mortificado. Trabalhou sozinho em
Châteauneuf-d'Isère. O imóvel não tinha mobília e não recebia
quase nada de salário. Ele mesmo preparava seus alimentos.
Tudo o que possuía não valia mais do que 60 francos. Dormia
na sala de aula, que já era pequena. Para dar espaço aos alunos
ele amarrou sua cama em cordas suspendendo então a cama
até o teto. Engenhoca toda feita por ele. Depois das aulas da
tarde, pegava seu carrinho de mão e ia recolher esterco para
sua horta. Tinha então os seus méritos. Avit, III, 73.
Beato só no nome
O Ir. Beato foi o tipo do frade que o cargo de diretor o
arruinou. Enrolou tão bem seus quatro Irmãos ajudantes que
conseguiu fazer com que eles dependurassem a chuteira
com ele, e laicizar a escola de Unieux. O prefeito apoiava
esta traição. O pai de um dos Irmãos, fazendo-lhe uma
visita, percebeu a trama, ficou escandalizado e foi suplicar
ao Ir. Superior Geral de transferir seu filho daquele lugar
imediatamente. Com isso foi possível salvá-lo e ele foi um
excelente Irmão (Avit, III, 87).
Cenas domésticas
O Ir. Dominique, austero discípulo de Champagnat, era
diretor em Carlieu em 1840. Ali, junto com seus três
Irmãos, durante todo o ano, se contentaram com um galão
de suco de cerejas e alguns poucos litros de vinho. Em outra
ocasião, em Blanzy, depois de ter trabalhado na horta
durante toda a quinta feira, com seus coirmãos, ofereceu-
lhes uma boa refeição, fazendo batatas fritas. Ele dizia: “Se
o Ir. Luis Maria ralhar conosco, pior para ele”. Apesar de
pouco instruído, foi professor a vida inteira e morreu em
Blanzy, em plena atividade (Avit, III, 88).
Irmãos cientistas
O Ir. Emanuel dotou o Instituto de uma descoberta que o
ajudou muito na sustentação das casas de formação, então
com muitas vocações pobres, sem meios para pagar; com
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dificuldades para pagar as construções incessantes que o
crescimento do Instituto exigia; de seus orfanatos; e cobrir as
pesadas taxas impostas, pela franco-maçonaria. Trata-se do
arquebuse. Este Irmão, nomeado enfermeiro, meteu-se a
estudar os livros de medicina e os que tratavam das
propriedades medicinais das plantas. Ajudado pelo Ir. Eutímio,
versado em História Natural, e à força de experimentos,
encontrou pouco a pouco a receita perfeita para a fabricação
deste licor de múltiplas propriedades. O mesmo pode-se dizer
do bifosfato, descoberta do Irmão Amábile. Os dois produtos
deram um bom rendimento ao Instituto. Estes dois Irmãos,
simples, laboriosos e despretensiosos, prestaram ao Instituto
ótimos serviços, bem mais do que certos Irmãos pretensiosos e
naturalmente melhor dotados.
Com o tempo, os Irmãos não davam conta de fabricar esses
produtos, tamanha era a demanda. O bifosfato teve sucursais
para a sua fabricação na Itália, Argélia, Turquia e América.
Quanto ao arquebuse, só em Lião e nas redondezas, em três
anos o consumo foi de 80 mil litros. Os operários e os
freqüentadores dos cafés preferiam essa bebia à outra
qualquer. Esses dois produtos ajudaram as enormes despesas
com os elevados e ruinosos impostos, novas construções,
melhoramentos nas existentes, compras de terrenos, casas de
formação, comunidades, escolas pobres, etc (Avit, III, 89,
332).
Economia demais
Os Irmãos foram chamados a trabalhar em Rives por um
pároco original, que os alojou numa biboca. A Igreja estava
situada fora da cidade sobre a vertente de uma colina. Não
era um monumento. Numa das visitas que o Ir. Avit fez, o
padre lhe disse: "O seu Instituto poderia prestar-me um
grande serviço comprando minha Igreja e alojando ali os
Irmãos, isso me ajudaria a construir uma nova na cidade".
O Ir. Respondeu-lhe: "Olhe aí uma ótima idéia que o senhor
tem. Poderíamos ter duas belas salas de aula na sua Igreja.
Quanto aos três Irmãos seriam alojados no campanário. Eles
poderiam até mesmo tocar o sino e o ângelus sem prejudicar
suas economias com um sineiro". O cura matou a charada e
mudou de assunto (Avit, III, 90).
Irmão artista Trata-se do Ir. Daciano, muito versado na mecânica. Ele
inventou e fabricou um relógio, verdadeira obra de arte, que
foi depois de sete anos desmontado, guardado e pilhado
pelos soldados indisciplinados da República. O seu engenho
marcava o movimento diário da terra, as fases da lua, a rota
de muitos planetas, o nascer do sol e seu ocaso. Um soldado
colocado sobre uma estrada de ferro retilínea indicava os
minutos com a sua espada, e voltava-se a cada hora para
recomeçar a viagem. Duas vezes ao dia, uma procissão
punha-se em marcha. Via-se a guarda, os cantores, os
padres, os fiéis e até um idoso com sua bengala. Durante a
procissão, um carrilhão tocava hinos lioneses. Cada dia
podia-se ver uma cortina vermelha elevando-se lentamente
para deixar ver um modesto quarto no qual o anjo Gabriel
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saudava Maria e anunciava-lhe a encarnação do Verbo em seu
casto seio. No alto via-se o Menino Jesus, no centro de um
círculo em volta da circunferência do qual os antigos
patriarcas passavam em fila e se inclinavam diante do menino
que os abençoava, duas vezes ao dia. A destruição desta obra
de arte entristeceu muito o seu autor. E foi de fato muito
lamentável, porque esta sábia descoberta teria dado destaque
ao seu autor e ao Instituto e ter-lhe-ia trazido algum recurso
financeiro (Avit, III, 96).
Questão de estilo
O Ir. Avit diz que, quando estava em casa, passava quase
todos os recreios em conversação com o Ir. João Batista. Este
lhe disse um dia: "Rapaz, apresse-se em morrer a fim de que
eu escreva a sua biografia". - "Ela seria pouco edificante, e
diga-se, não estou assim tão apressado". "Nas biografias a
gente só coloca o que fica bem". - "Neste caso, a minha seria
muito curta e não valeria a pena o senhor escrevê-la". As
biografias seriam mais atraentes se colocassem também as
dificuldades e os defeitos de cada um. Mostraria o esforço que
a pessoa fez para se santificar, com a ajuda do alto (Avit, III,
109).
Autocracia do Ir. Luis Maria
Nas festas de fim de ano os Irmãos incrementavam o ambiente
com peças cômicas, teatros, fábulas, diálogos. O Irmão Avit,
animado pelo Ir. João Batista, escreveu muitas dessas peças.
Teve dificuldades em imprimir, porque o Ir. Luis Maria
queria a todo custo examiná-las. Aliás ele só permitia
imprimir o que ele havia visto e geralmente modificado,
retocado. O Ir. Avit lhe disse que enquanto as criações
permanecem manuscritos, pertencem a seus autores. E se
ele retocasse elas perderiam sua originalidade, que é o
mérito principal. "Nesse caso, disse o Irmão Superior, você
pode guardar seus escritos". Assim os Irmãos continuam
com pouco material para suas festas e material em geral
insosso, pouco atraente. E o Ir. João Batista continuava a
pressionar o autor...
Aliás a mania que tinha o Superior Geral de querer ler tudo,
e só assim enviar para imprimir, ocasionava prejuízos
financeiros para o Instituto, como a publicação da coleção
didática marista (clássicos). Ele mesmo queira escrever
tudo, e como o seu tempo era escasso, as obras eram
adiadas de ano para ano. Seus sucessores tiveram outra
metodologia (Avit, III, 111).
Como conservar castanhas
O Ir. Estevão era diretor, cozinheiro e encarregado da sala
de aula dos pequenos, em Bougé. Nos meses de verão
estava com um só aluno; mesmo assim, dedicava-se
inteiramente a ele na sala de aula, utilizando-se até do
signal para marcar a cadência da leitura, as pausas, o
saliêncio, etc. Certo dia foi presenteado com uma cesta de
castanhas. Queira conservá-las para oferecê-las aos
54
Superiores e não sabia como fazê-lo. Um gaiato ensinou-lhe o
método: colocar as castanhas num vaso, misturar com terra
seca e cada dia regar. Foi o que fez o Irmão. Como esqueceu
de por água durante alguns dias, quando foi regar percebeu
centenas de plantinhas o que o assustou e fez os Irmãos rirem.
Esta simplicidade o ajudou certamente a viver e a morrer
como bom religioso (Avit III, 114).
Irmão fundador
O Ir. Ponciano tinha uma sobrinha um tanto maluca, que
queria fundar uma nova congregação e um orfanato para
meninas. Consultava seguidamente o Ir. Ponciano e lhe
enviava as candidatas para fazerem direção espiritual com ele.
Elas ficavam na comunidade dos Irmãos. Ele rascunhava uma
regra para elas. Foi depois nomeado diretor em outra
localidade e proibido de se imiscuir nos projetos de sua
sobrinha. Acabou deixando o Instituto e abrigando-se na
mesma casa das novas religiosas de sua sobrinha. Passou a ter
maneiras bizarras e tomou o nome de Francisco de Jesus.
Continuou a rascunhar as regras e a fazer a direção espiritual
da moças. Tinha já um capelão. O cardeal Bonald foi colocado
a par da situação. Enviou um padre para examinar o problema.
Posteriormente reuniu as moças e fez com que elas elegessem
uma superiora, sem a voz ativa da sobrinha do Irmão. A
superiora eleita mandou embora a "fundadora" e seu tio. Mais
tarde o Irmão Ponciano pediu perdão ao Ir. Superior Geral, foi
recebido de volta e morreu no Instituto (Avti, III, 116).
Botânico envenenado
O Ir. Maximiliano era uma excelente pessoa. Gostava de
estudar botânica em l'Hermitage. Acabou colocando uma
flor de acônito na boca, distraidamente. Como a flor é
venenosa, poucas horas depois morria em meio a dores
atrozes (Avit III, 123).
Pecuária premiada
Os Irmãos Mario Amadeu e Mário Rodolfo participaram de
uma exposição agropecuária. As vacas do Ir. Amadeu foram
premiadas e o Irmão recebeu 160 francos. Também o Ir.
Rodolfo recebeu um premio com uma beterraba, que tinha
0,75m de diâmetro e um enorme melão (Avit, III, 132).
Passeios durante o sermão
O Ir. Mateus era muito amigo do bispo de Grenoble. Este
gostava de entreter-se com o Irmão. Entretanto o Irmão não
gostava dos sermões demasiadamente longos. O pároco de
Viriville, onde o Irmão era diretor, por vezes, fazia sermões
de mais de uma hora. Nessas ocasiões o Irmão atravessava
solenemente o coro, prosternava-se reverente diante do
Santíssimo, saía pela sacristia e ia passear no pátio,
esperando que o sermão terminasse. É o mesmo Irmão ao
qual o Fundador enviou um travesseiro na horta e o mesmo
55
que, em l'Hermitage, permitiu ao Ir. Adalberto cortar a vinha
do Padre Ruf, ocasionando um grande rebu (Avit, III, 137).
Noviço atento
Perguntaram a um noviço: “O que você faz durante a
refeição?” Respondeu: “Com os olhos, observo a comida que
tomo; com os ouvidos, escuto a leitura” (Cadernos, 16, 139)
Um grande bricoleur
O Ir. Teodósio, nascido em 1816, faleceu no Instituto em
1899. Na comunidade de Carvin correu boato de que os
Irmãos maltratavam as crianças. Depois se descobriu a causa:
eram alunos pagos para caluniar os Irmãos. O Ir. Tedósio diz
que, depois desses fatos, os alunos se tornaram arrogantes e
difíceis. O mau espírito tomou conta dos Irmãos Nizier e
Odilon: “Eles solapam a ação dele e do Ir. Anacleto, que eles
detestam. Quiseram aliciar o Ir. Martin, mas não conseguiram.
A tendência deles é de me dominar, mas eu fico esperto". Ele
continua contando a má conduta desses irmãos. Mais tarde o
Ir. Teodósio foi nomeado diretor de Viriville onde permaneceu
por 21 anos. Ele se ocupava, sobretudo na medição das terras
de proprietários particulares, a cantar a missa do convento, a
consertar os relógios da região, a fazer uma parte da secretaria
da prefeitura e exerceu até a função de prefeito por três meses.
Trabalhou ainda em muitas outras escolas antes de falecer em
Hermitage na idade de 83 anos (Lettres/Repertoires 2, p.486).
Dinheiro e distrações
O Ir. Denis foi trabalhar em Bougé-Chambalud, depois de
ter quebrado o cachimbo em Millery. O Ir. Estevão fazia a
cozinha e dirigia a primeira série. O Ir. Denis pediu que ele
se encarregasse também da venda dos livros, porque essa
atividade o distraia muito durante as orações. Deixou o
Instituto pelo final de 1843 (Répertoires, 172).
Tudo pela caridade
O Ir. Vitor foi recebido em Hermitage em 1830 e ali faleceu
em 1852. Trabalhou em La Valla onde o Irmão Pétrone
inventou brincadeiras aproveitando os fortes e freqüentes
ventos. Riam muito com esses objetos quase sempre em
movimento. O Ir. Vitor era pessoa muito alegre e seu
auxiliar, Ir. Anfião não gostava de vinho; assim sendo um
bebia água e o outro vinho. Admoestado pelo Ir. Francisco
SG, o Irmão Vitor respondeu, rindo: "Nossa necessidade é
segundo a Regra e a caridade; meu coirmão bebe água
porque não gosta de vinho e eu me privo dela para deixá-la
a ele" (Lettres/Repertoires 2, 514).
Livreiro excessivamente econômico
56
O Ir. Bento foi comerciante ambulante antes de ser recebido
pelo Pe. Champagnat. Ele soube permanecer firme no tempo
do Pe. Courveille que tentava desencorajar os Irmãos enquanto
o Fundador estava enfermo. Em l'Hermitage estava
encarregado da livraria. Para curar os reumatismos tomava um
copo de vinho misturado com pimenta. Tinha um caráter duro
e os Irmãos o consideravam avarento, pois não permitia o
mínimo desconto no material escolar que fornecia às escolas.
Indo a Firminy, uma carruagem o atropelou. Foi socorrido
pelos Irmãos do Sagrado Coração e pelos habitantes, mas
morreu três dias depois (Avit, III, 156).
Enfrentando amotinado, mas não como
Champagnat
No dia de Ramos o prefeito de Loire foi assassinado. Os
arruaceiros de Saint-Etienne e de Saint-Chamond
perambularam pela região e projetaram uma chegada a
l'Hermitage. O Ir. Modesto preparou longos estiletes e muniu
uma dezena de Irmãos para montar guarda. Cada janela do
dormitório foi municiada de pedras. Durante o jantar veio o
aviso de que os baderneiros estavam chegando. O Ir. Azarias
entrou na capela, fez parar a reza e comunicou o que todos
temiam. Pediu que cada um arrumasse sua trouxa, que fossem
à alfaiataria munir-se de trajes civis, que encerrassem a oração
e que fossem dormir. Todos seguiram essas instruções, não
sem um pouco de desordem. Pessoas indesejáveis passaram a
noite pelas cercanias, mas tropas enviadas de Lião
dispersaram os amotinados (Avit, III, 177).
Medindo forças
O Ir. Luis Maria chegando a l'Hermitage no dia 2 de
fevereiro, desejou que se solenizasse a festa cantando as
vésperas. O capelão, padre Chapuy, recusou dizendo-lhe:
"Isso é negócio meu". Ao se despedir, o padre reclamou de
que seu jardim estava mal cercado e queria uma proteção de
ferro. O Ir. Superior Geral recusou dizendo: "Esse é assunto
de minha competência" (Avit, III, 178).
Ativismo
O Irmão Maurício, que deixou o Instituto, foi recebido em
l’Hermitage em 1831. Depois de dirigir a escola de Lorette,
passou a dirigir a de Anse. Era um dos raros Irmãos muito
inteligentes da época. Mas, dizia-se que ele gostava mais da
cama do que da sala de aula. Esperto, abriu uma sala para
estudos mais elevados e ensinava História, Geografia,
Geometria e Desenho. Aliás, obteve sucesso, o que lhe
valeu o título de sábio. Em Digoin iniciou um pensionato
que foi interditado pelo Ministro Salvandy. Mas o Ir.
Maurício pediu auxílio ao deputado Marquês de Guichê,
que conseguiu reabri-lo. Isso exigiu a construção de novo
pavilhão e o Ir. Maurício acabou esgotado física e
espiritualmente (Répertoires, 2, 379).
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Estranha doença
Quando regressou de Lourdes, o Ir. Eubert foi nomeado
secretário geral no lugar do Ir. Justo. Este ficou de tal modo
contrariado que se acamou e permaneceu na cama por seis
anos. Conseguiu-se afinal que ele se levantasse pouco a pouco,
mas ainda permaneceu na enfermaria por muito tempo (Avit,
III, 185).
Liturgia lionesa milenar
Foi no primeiro domingo do advento de 1873 que a bela e
antiga liturgia lionesa foi substituída, em Saint-Genis-Laval,
pela liturgia romana. Sem querer difamar, o Ir. Avit recorda o
provérbio: "De gostos e de cores não se discute”. Observou
ainda que as festas e solenidades nada ganharam com esta
mudança. As liturgias lionesas eram mais variadas, menos
monótonas que as romanas, que pôs de escanteio magníficos
textos e belos hinos. Mesmo diante de um movimento da
hierarquia e de leigos visando a conservação de alguns
aspectos da liturgia, a vontade de Roma acabou se impondo
(Avit, III, 187; Répertoires, 98, 167).
O marquês de Galocha
O Ir. Eudóxio envolveu-se num caso escabroso e teve de
deixar o Instituto. Depois de perambular de cá pra lá entrou
na trapa. Era um sujeito capaz, inteligente, músico. Tinha a
mania de se fazer passar por nobre (era filho de uma
lavadeira) nos deferentes lugares onde trabalhou. O Ir.
Straton, muito irônico, que também não perseverou, o tinha
apelidado de Marquês da Galocha (Avit, III, 188).
Teatro, bandas e foguetório
O pároco de Neuville denunciava energicamente as
iniciativas dos Irmãos de Neuville, recriminando, sobretudo
a desobediência acerca de suas orientações quanto às
diversões proporcionadas aos alunos: teatro e fogos de
artifício. O amigo dos Irmãos, senhor Tripier, achava a
postura do pároco excessivamente dura. O superior ficou
indeciso entre as posições do padre e do benfeitor
(Répertoires, 132).
Querendo o ovo e a galinha
O Ir. Avit foi com o Superior Geral negociar a posição
geográfica da escola de Arfeuilles, que ficava longe da
estação, e explicar as dívidas que o Instituto tinha. Não
encontrando o bispo, dirigiram-se ao Vigário Geral, um tipo
impositivo, que lhes respondeu: "Os monges são
insaciáveis. Quando eles têm o ovo querem também a
galinha. Se Arfeuilles está longe da estação, comprem um
58
pequeno burro para levar os Irmãos e as provisões". Esta
resposta ofendeu o Irmão Superior e eles foram embora (Avit,
III, 219).
Irmãos vereadores
A numerosa comunidade de Saint-Genis-Laval deu uma
recepção à Imperatriz e ao Impedrador, quando de sua
passagem por Lião. Os republicanos, por esse fato, sempre
olharam com maus olhos os Irmãos. Eles conseguiram do
conselho municipal a divisão da comuna, alegando que os
numerosos eleitores da casa marista faziam pesar as eleições
municipais segundo seus desejos. A região foi então dividida
em duas secções. A que compreendia a casa dos Irmãos tinha
cerca de 150 eleitores, dos quais uma centena de Irmãos e não
teve senão direito a dois conselheiros sobre 21. Essa manobra
magoou muito o Ir. Superior Geral. Seus Assistentes
sugeriram que apresentasse dois Irmãos como candidatos ao
conselho municipal. Foram indicados os Irmãos Eutimio e
Crisógono que foram eleitos quase por maioria absoluta.
Tomaram posse e ficaram no cargo por longo período. O
Ministro do Interior ao ser comunicado do caso, apenas sorriu:
"Os Irmãos aproveitaram de suas más intenções, e o fizeram
muito bem". Entretanto, em 1843 o Ir. Francisco recusou
proposta dos prefeitos de Saint-Martin e do de Izieux de os
Irmãos se apresentarem como candidatos ao Conselho
Municipal argumentando que os Irmãos não deviam se
imiscuir nos negócios da administração civil e eclesiástica,
mesmo tendo aqueles senhores boas intenções (Rivat, 197;
Avit, III, 225).
Grande escritor O Ir. Hilarião, um dos oito recebidos pelo Pe. Champagnat
em 1822, foi diretor em diversas escolas. Seu quarto era
puro amontoado de papel recortado de jornais. Ele queria
escrever a História da França em vinte volumes. Ele mesmo
fez propaganda da futura obra nos jornais. Escreveu
também uma espécie de manual para diversas profissões,
que segundo o Ir. Avit, não passava de plágio. Um
impressor aceitou editar esta obra, pensando tirar muito
proveito, mas na realidade serviu quase somente a criar
poeira. Diz o Ir. Avit que descobriram porque, em sendo
cozinheiro, ele se dizia sempre cansado e porque lhe faltava
sempre dinheiro: sendo amigo dos livros e estando sempre a
escrever, acabou tendo uma biblioteca considerável. Uma
parte de seus livros acabou sendo enviada para l’Hermitage.
Mas ele conseguiu resgatar muitos dos livros quando
passava por ali. "É difícil submeter a métodos esses
endiabrados velhos" diz o Ir. Avit (Lettres/Repertoires, 2,
276; Avit III, 232).
Envenenamento com chumbo
Vários juvenistas, postulantes e jovens Irmãos, há dois anos
apresentavam sintomas de uma doença singular, que
causava preocupação. Provocava cólicas, tremedeiras,
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contrações de nervos, etc. Nesse estado, uns saltavam alto;
outros davam socos impressionantes contra as paredes,
móveis, camas; outros envergavam barras de ferro bastante
grossas, tudo isso sem se fazerem mal. Alguns ficavam tão
imóveis que pareciam estarem mortos. Muitas eram as
conjecturas sobre as causas da doença. O capelão pensava ser
possessão diabólica. Depois de minuciosas análises, feitas por
especialistas, descobriu-se que o estanho de diversos utensílios
da cozinha, continha 60% de chumbo. Segundo demonstraram
os especialistas, 4% deste metal já constituiria um lento
veneno. O fornecedor e encarregado da manutenção daqueles
utensílios foi chamado, denunciado e despedido. Submeteram
os enfermos a um regime alimentar bem sadio e leve. Todos se
recuperaram (Avit, III, 256).
Nariz comprido e fala grossa
O Ir. Anastácio tinha um nariz muito avantajado. Desde que
apareceu na sala de aula, os alunos riram. Mas o Irmão soube
controlá-los, dizendo que na sua terra natal todos os habitantes
tinham nariz maior que o dele. No tempo em que era diretor
em Marcigny a escola acabou sendo laicizada pelo prefeito,
antigo seminarista, educado sob o patrocínio da Igreja. No
clube local denunciava tudo o que era bom. Certo dia o Ir.
Anastácio foi até o local onde acontecia uma reunião. Escutou
calmamente todas as calúnias que ali se diziam. Em seguida
subiu à tribuna e confundiu os conselheiros e, sobretudo o
prefeito, que não sabia onde se esconder. Todos os ouvintes
calaram-se, convencidos de que o Irmão tinha razão (Avit,
III, 261).
Motivos de não perseverança
O Ir. Avit dá a causa da saída de numerosos Irmãos num
espaço de três anos: Gilduino fugiu da comunidade;
Antolnias fugiu depois de alguns encontros noturnos; Mario
Antelmo sem cabeça e sem talento; Leonice, viciado que
soube esconder-se durante o noviciado; Diviciano incapaz
de qualquer relacionamento; Gomer, escapou do massacre
dos inocentes; Marderniano por falta de higiene e
incapacidade; Syvien por dor de cotovelo; Emilio vencido
pela nostalgia; Auctus por escândalos, contumaz,
condenado a 20 anos de trabalhos forçados; Abias
comportamento equivocado, esperava ficar isento do
serviço militar; Panfilio levado por engano para o
noviciado; Constantino perdeu-se por excessivo orgulho;
Hilarien (não tem nada) muito bem batizado, não se viu
tanta ignorância, etc (Avit, III, 280).
Descobrindo denúncias na Cidade Eterna
O Ir. Nestor, estando em Roma, depois da audiência com o
papa, foi tomado de uma gripe que o indispôs e fê-lo
retornar. Descobriu nas secretarias da Congregação dos
Bispos e Religiosos acusações contra ele, que não o
estimulavam a continuar mais tempo em Roma. Um dos
60
secretários falou-lhe de uma denúncia enviada por Irmãos mal
inspirados, dizendo que o Instituto era mal governado e que
suas finanças eram imprudentemente desperdiçadas. Foi para
ele uma penosa descoberta, sobretudo porque ele tinha se
esforçado para pôr em ordem as finanças e diminuir as dívidas.
Chegando de volta a Saint-Paul, acamou-se e faleceu pouco
tempo depois. Dirigiu o Instituto durante 37 meses apenas.
Segundo o Ir. Avit, foi um Superior que promoveu muito os
estudos para os Irmãos; esforçou-se para liquidar as enormes
dívidas do Instituto o que não impediu que alguns Irmãos mal
intencionados o denunciassem a Roma como esbanjador. Ele
soube dessa denúncia durante sua permanência em Roma. Ela
o abalou muito e contribuiu para a sua morte prematura. No
Capítulo Geral, o Ir. Eutímio pôs a Assembléia a par deste
fato, o que ocasionou indignação em quase todos os
capitulares. Pediram a redação de um enérgico protesto para
enviar a Roma. Quatro capitulares não assinaram. Um deles
disse: "Se vocês tivessem nomeado tal assistente, há 10 anos,
vocês não estariam agora enrolados como estão, para eleger
um novo Superior Geral" (Avit, III, 307, 311, 315).
Pobres, economia e medo
O Ir. Agricole, que fez o noviciado em 1838, matriculou em
sua escola um número excessivo de pensionistas pobres.
Alugou um pedaço de terra, para colocar uma vaca que tinha
comprado, para fornecer-lhe o leite. Fazia economia em tudo.
Organizou uma fanfarra, que lhe deu mais problemas do que o
previsto. A guerra de 1870 e a República o assuntaram muito.
Crendo tudo estar perdido, enterrou o dinheiro que tinha no
seu jardim. Foi difícil fazê-lo entender que ele estava
enganado. Nomeado diretor em Ranchal, ao fazer uma visita
aos Irmãos de Saint-Vincent, vizinhos, faleceu a caminho
(Avit, III, 396).
Mau exemplo trabalhar nos domingos
O Ir. Fortunato, antigo cozinheiro em l'Hermitage, foi
depois diretor em diversas escolas do Sul da França.
Acreditando praticar a pobreza e fazer economia, iniciou
uma criação de coelhos. Todas as quintas-feiras e domingos
ia recolher capim pelos campos, com os outros Irmãos.
Voltavam carregando cada um, um saco de erva. Não era
coisa edificante fazer isso aos domingos (Avit, III, 398).
Entre batinas e ternos
O Ir. Hipólito foi recebido pelo Fundador em 1825 e
trabalhou na alfaiataria. Ele tinha contatos freqüentes com
os Irmãos que deixavam o Instituto, porque era ele que lhes
fornecia as roupas civis. Aliás, dizia ele, este era um dos
aspectos que mais lhe custavam: ver os jovens abandonar a
vocação. Era um Irmão que jamais foi visto enfezado. O
trabalho de alfaiate era uma das grandes responsabilidades
no Instituto. Ele confeccionou, consertou e manipulou todo
o vestiário dos Irmãos durante mais de 40 anos (Repertoires,
280).
61
Excesso de veneração
O Ir. João Maria foi recebido pelo Fundador em Hermitage em
1826. Foi um Irmão de destaque no Instituto. Faleceu em
Gonfaron, sua comunidade. Quando a notícia de sua morte se
espalhou uma multidão acorreu até a casa para ver e venerar o
Irmão que o tinham por santo. Mesclaram-se pobres e ricos,
conservadores e republicanos. Todos o queriam tocar e
conservar algo como lembrança. No caminho de ida ao
cemitério as pessoas iam cortando pedaços de sua batina, de
modo que se os Irmãos não intervissem, chegaria ao túmulo
sem seu hábito religioso. Os Irmãos tomaram o manto e o
retalharam para distribuir os pedaços às pessoas (R[epertoires,
297).
Recolhendo esqueletos ao luar
O Ir. Auspício era um rude trabalhador e religioso muito
mortificado. Os açougues não o atraiam pois, por mortificação,
não comia carne. Foi diretor em Joux. Ali cavoucava profundo
em seu jardim, muitas vezes ao clarão da lua. O local era um
antigo cemitério. Ele desenterrou vários metros cúbicos de
ossos humanos, que foram transferidos para o cemitério, em
outro local. Ele morreu de fome, já que seu estômago recusava
qualquer alimento (Avit, III, 398).
Gases letais
O Ir. Heralcide, antigo noviço de Vauban, foi diretor em
diversos locais. Teve morte inesperada. Para curar uma
doença de pele, tinha necessidade de banhos. Teve a
imprudência de esquentar o quarto de banho com brasas e
fechar-se ali, antes de entrar na banheira. Morreu asfixiado,
sem que ninguém o pudesse socorrer (Avit, III, 398).
Duelo
O Ir. Abel, recebido em l'Hermitage em 1824, deixou o
Instituto e abriu uma escola em Saint-Synphorien. Como as
autoridades julgassem desnecessárias duas escolas
propuseram um concurso entre um Irmão e o senhor Dumas
(ex Ir. Abel). Quem ganhasse ficaria com a escola na
localidade. O Ir. Ligório, cozinheiro representou os Irmãos
e venceu. Dumas teve de abandonar a cidade (Répertoires,
37).
Estratégia para usar óculos
Um jovem Irmão queria muito usar óculos. Foi ao médico
diversas vezes, fingindo estar mal, visando a uma receita
para comprá-los. Certo dia usou a estratégia de esfregar
tanto os olhos a ponto de inflamá-los. O novo médico achou
por bem receitá-los, e o Diretor os comprou. Depois de
certo tempo de uso, o jovem achou a coisa tão fastidiosa e
incômoda que os largou para sempre (Cadernos, 137).
62
Professor posto à prova
O Ir. Alexandre foi recebido em Hermitage em 1826 e
trabalhou em Semur-sur-Brionais. Ali as pessoas o julgaram
com pouca capacidade para as aulas, para disciplina, de modo
que a escola pouco progredia. Puseram-no à prova argüindo-o
sobre um cálculo geométrico. O Irmão não soube resolver a
questão. Tido como um ignorante e não sabendo se defender
foi substituído como titular na sala de aula (Répertoires, 39).
Condenado a trabalhos forçados
O Ir. Leotardo foi injustamente condenado a trabalhos
forçados pelo tribunal de Toulon. Pouco tempo depois
adoeceu e antes de morrer fez uma nova declaração da
inocência dos crimes que lhe imputavam, para honra de sua
família e do Instituto. No período em que esteve detido
edificou seus companheiros de infortúnio e não manifestou
ódio contra os que o condenaram (Cadernos, 119).
Travessia
O Ir. Amon foi recebido em Hermitage em 1837 e enviado
para as missões da Oceania em 1840. Mas não chegou ao
destino, tendo desertado do navio durante uma escala
(Répertoires, 41; Carta 318).
Porco salva vida de Irmão O Ir. Nizier, relata que a Providência se serviu um fato
insignificante na aparência, para lhe conservar a vida em
Futuna à época do assassinato do Pe. Chanel.
"Engordávamos um porco. O animal fora tomado na
pilhagem por um homem do partido dos Vencedores. Ele o
queira conservar e como sinal de posse ele o tinha atado
pelos pés. Mas o rei ordenou que o porco fosse morto e
servido para "a festa do enterro". Mas, o nosso companheiro
muito irritado, teve o pensamento de me salvar. Veio ao
meu encontro para me advertir do perigo que me esperava
se eu chegasse até o vale de Poi. Depois de me dar uma
pequena visão do que acabava de acontecer, ele me forçou a
voltar, oferecendo-se a me acompanhar até o vale dos
vencidos, onde eu estou" (Ronzon, 93).
Entre piolhos e pernilongos
O Ir. Nizier relata os revezes do quotidiano: "Não tendo
com o que me cobrir durante muitas noites, os mosquitos
me devoravam os pés, as mãos e o rosto. Isso não foi tudo;
os piolhos, companheiros indesejáveis dos autóctones,
vieram também, em incrível quantidade, fazendo-se
hóspedes em minhas vestimentas, na dobras. Uns se
distinguiam pela grossura, outros pelas cores, mas
sobretudo, pela quantidade. Era-me impossível de
63
exterminá-los porque meu enxoval era muito exíguo e eu não
podia trocar de roupa com freqüência" (Ronzon, 99).
Injustiça na distribuição de material
O Ir. Nizier escreve ao Ir. Francisco a dificuldade que tinha em
receber algum material: "É fato que em quase todas as
distribuições das coisas comuns à missão de Futuna como
papel, canetas, tinta etc, a minha porção foi sempre zero"
(Ronzon, 144).
BENFEITORES
Sensibilidade feminina
A condessa de Granville foi grande benfeitora marista. O
noviciado de Beaucamps, por exemplo, devia-lhe tudo. Ela
veio em peregrinação a l’Hermitage em 1854 e foi acolhida
numa sessão capitular. Interessou-se por todos os Irmãos,
perguntando pela situação de cada um. Ela faleceu em 1865. O
Ir. Luis Maria pediu aos Irmãos sufrágios para ela, o que bem
merecia. Estima-se que ela deu, em dinheiro, propriedade e
construções o equivalente a 500.000 francos cerca de 70
milhões ou mais em dinheiro atual (Rivat, 229).
Não se pode abusar dos benfeitores
A fundação da escola de Neuville se deve à generosidade do
senhor Tripier. Aliás, ele dava graças a Deus de poder bem
empregar seu dinheiro numa boa obra. Sempre que os
Irmãos precisavam recorriam a ele. O Ir. João Batista foi o
primeiro diretor. Tinha 18 anos e abusou da generosidade
do senhor Tripier. Pediu-lhe, certa feita, 50 francos. Depois
de ter contado e colocado sobre a mesa cinco maços de cem
francos cada um, o senhor Tripier elevou as mãos ao céu e
disse: "Meu Deus, eu vos agradeço a graça que o senhor me
faz de empregar em boas obras este dinheiro que me deu.
Compreendo que por mim mesmo não sou capaz de um
tamanho ato de virtude".
O Ir. João Batista recusou um tonel de bom vinho que o
benfeitor tinha mandado colocar na despensa dos Irmãos.
Mais tarde outro diretor foi pedir 200 francos e o recebeu
prontamente. E disse: "Eu recebo esses 200 francos para
mim e o senhor me dará mais 400 para a escola". E ele lhe
deu sem comentar nada. Assim ele distribuiu todos os seus
bens em boas obras a ponto de não ter com o que se pagar
seus funerais. Diante das severas repreensões do Pároco aos
Irmãos, ele teve uma atitude ponderada (Avit, I, 70;
Répertoires, 2, 113, 114, 500; Furet, 148; Cartas, 131,
Strobino, 9, 142).
Acidente bonito
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Em La Valla morava o senhor Cláudio Boiron, lavrador que
emprestou dinheiro ao Pe. Champagnat. Certo dia, ele estava
levando uma carroça carregada de madeira puxada por duas
vacas. O caminho era estreito e muito inclinado. Distraído, ele
deixou passar a carroça muito perto do precipício levando o
carro a virar e se precipitar com as vacas pelo profundo vale.
Vendo o acontecido o senhor Boiron ria muito e aos gritos
chamava a mulher, que não estava longe dizendo: "Venha ver
como é bonito"! Ele foi recebido pelo Pe. Champagnat em
l’Hermitage (Répertoires, 95; Avit, I, 179).
Bem antes da doutrina social da Igreja
O senhor Génissieux era um grande amigo e benfeitor de
Champagnat. Ele tinha um cuidado especial pelos
trabalhadores de suas usinas. Mais o trabalho era penoso e
perigoso, mais atenção ele lhes dava. Tinha à disposição deles
um médico, uma farmácia e um hospital especializado. Foi
graças a ele que os Irmãos se estabeleceram em Terrenoire e
depois solicitou mais três Irmãos para La Voulte. O Fundador
não teve como negar. O ferro que os Irmãos precisavam para
fazer as camas era doado pelo senhor Génissieux. Também o
ferro usado pelo Fundador em l'Hermitage vinha de suas
usinas. Explicava-lhe que não podia fornecer gratuitamente
todo o ferro. Daria metade de graça e a outra metade por um
preço o mais módico possível (Répertoires, 2, 247).
Vocações mas pouco dinheiro
Escrevendo ao marquês de Montdragon, o Ir. Superior
aproveitou par lhe pedir também dinheiro para cobrir as
despesas da formação com postulantes pobres. Da resposta
que ele deu ao Irmão destacamos: "Quanto ao seu pedido
em favor das vocações que vêm sem dinheiro, sem querer
ofendê-lo, o senhor esquece, prezado Irmão, que há dois
anos eu lhe dei ao menos quatro mil francos nesta intenção,
depois de lhe ter dado mil, pouco tempo antes. O apetite
chega, digamos, comendo. Eu compreendo a sua situação, e
no seu lugar eu teria os mesmos sentimentos, mas
infelizmente, devo lhe dizer que não posso atendê-lo. De
todo lado chegam-me pedidos deste teor, mas os recursos
diminuem" (Avit, II, 252).
Vida religiosa e pobreza
Uma viúva piedosa e endinheirada quis destinar a sua
fortuna em boas obras. Fundou um orfanato para meninos
em Bois-Sainte-Marie assumido pelos Irmãos. Abriu um
outro para meninas e uma casa para idosos, dirigidas pelas
Irmãs do Santíssimo Sacramento de Autun. Era humilde,
piedosa e mortificada. Suas obras de caridade iam bem. Ela
tinha mais coração que cabeça. Quis, em seguida, fazer-se
religiosa do Santíssimo Sacramento e seu confessor caiu no
erro de animá-la a isso. No momento de emitir os votos, foi-
lhe apresentada a renúncia que devia fazer dos bens. Pensou
então que tinha sido recebida no convento para ser roubada.
Decepcionada, abandonou seu véu, retornou a Bois-Sainte-
65
Marie, mandou embora os Irmãos e as Irmãs e confiou suas
três obras a leigos e doou-as, juntamente com todas as suas
rendas, ao governo (Avit, II, 308).
Ação de graças por uma cura
Enquanto os Irmãos construíam a capela de l'Hermitage, o
senhor Thiollière trouxe nove mil francos ao piedoso
Fundador e lhe pediu uma novena de orações e missas para seu
filho Eugênio, gravemente enfermo. Terminada a novena ele
veio anunciar que o menino estava em plena recuperação e deu
mais nove mil francos para uma novena de ação de graças
(Avit, III, 7).
POLÍTICOS
Progresso não precisa de reza
O prefeito de Arbresle, um médico voltairiano não encarava
com bons olhos a escola dos Irmãos e lhes dizia: "Se vocês
fazem os alunos rezar, vocês não terão nada, porque o povo do
município e muito inteligente, progressista". O Irmão visitador
lhe respondeu: "Senhor prefeito, os alunos rezarão por aqueles
que não o fazem". Algumas semanas depois o prefeito
matriculou seu filho na escola dos Irmãos que ia de vento
em popa (Avit, II, 215).
Para o bem da educação vale a astúcia
O Ir. Lourenço foi diretor da escola de Mornant. A
comunidade estava muito mal alojada, bem como a
disposição das salas. O Irmão fez inúteis reclamações junto
às autoridades. Vendo que tudo era inútil, convidou-as certo
dia para visitar o local. Poucos minutos antes de chegaram,
ele pegou um ancinho e revolveu o lixo em putrefação. As
autoridades ao entrar ficaram sufocadas. "Que ambiente
infestado", exclamaram. E o Irmão: "Nós o suportamos,
bem como os alunos, todos os dias, durante todo o ano!"
Logo a situação da comunidade e da escola foi melhorada
(Avit. I, 70).
A ignorância dos políticos
Os Irmãos Francisco e Luis Maria deram continuidade ao
trabalho de Champagnat em vista da autorização legal do
Instituto. O Ministro da Instrução Pública, senhor
Crouzeilles, também estava envolvido bem como o Bispo
de Langres, Parisis, assim como um grande número de
deputados e até o senhor Thiers, que como ministro de Luis
Felipe, tinha recusado a autorização. Em uma visita que lhe
fizeram os superiores ele disse ao Ir. Luis Maria: "Porque
vocês se chamam de Pequenos Irmãos de Maria; todos os
66
membros são pequenos como vocês?". Ele mesmo era de
pouca estatura. A pergunta deste influente senhor indicava o
quanto ele estava por fora da questão religiosa (Avit, II, 235).
Procurando votos
Em 1838 o Ministro da Instrução Pública pediu Irmãos para
Saint-Pol-sur-Ternoise. Era um político inconseqüente.
Recusava obstinadamente autorizar o Instituto e ele mesmo
pedia Irmãos. É que seus interesses pessoais estavam acima do
interesse educacional. Era necessário satisfazer seus eleitores
se quisesse ser reeleito por eles (Avit, I, 231).
Resistência ao novo
Em Pélussin, a matriz paroquial foi transferida para uma parte
nova da cidade. Os habitantes da parte antiga recusaram-se a
freqüentar a nova Igreja. O cardeal recusava-lhes um pároco.
Eles então chamaram ministros protestantes. Um notário
colocou-se à frente dos descontentes. Acabou sendo nomeado
prefeito. Desejava expulsar os Irmãos, mas a população
queria-lhes bem. Ocorre que a escola dos Irmãos estava ao
lado da nova Igreja. O prefeito proibiu que os alunos da outra
parte freqüentassem a Igreja nova. Exigiu que os Irmãos
fossem dar aulas na parte antiga e prometia maravilhas.
Tentando aclamar os ânimos, o Ir. Superior consentiu que um
Irmão fosse dar aulas ali, que ficava a 800 metros de distância.
Esse arranjo provisório durou muito tempo. A paróquia
acabou sendo dividida em duas, um pároco foi nomeado
para a parte antiga, dois Irmãos foram nomeados para esse
lugar e os protestantes tiveram que fazer suas malas (Avit,
II, 184).
Teatro é baixaria
Certo prefeito criticava duramente as representações teatrais
na escola dos Irmãos dizendo que conseguiam aplausos das
classes baixas, mas muitas críticas da alta e educada
sociedade. “Com o teatro vocês facilitam e apressam no
bom povo essa tendência à licenciosidade, presunção e
insubordinação... Inspiram sentimentos baixos, mundanos e
não religiosos” (Cadernos, 16, 164).
A tentação da facilidade
O presidente da República fez-se nomear imperador.
Desejando ser simpático e ter apoio sólido favoreceu o
clero, as Congregações ensinantes... Os professores
nomeados pelo ministro anterior, Carnot, foram despedidos
e de todos os lados vinham pedidos para os Irmãos Maristas
abrirem/assumirem escolas. O Pároco de Voiron queria
Irmãos para uma escola-fazenda; o bispo de Soissons para
os serviços da catedral... Essa conjuntura favorável às
Congregações, poderia ser fatal aos Irmãos. Os superiores
estavam sempre tentados a aceitar numerosas fundações.
Para atender a todos, começaram a empregar os noviços
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antes de completar uma formação conveniente e colocar como
diretores pessoas ainda não provadas na virtude; as comissões
facilitavam a expedição de diplomas. Mas isso não era
suficiente para lhes dar nem a virtude nem a arte de
administrar. Assim, nesse ano foram abertas 22 escolas (Avit,
II, 280).
Opinião nefasta
O senhor Scipion Mourgue, Prefeito do Departamento de
Loire, disse no Conselho Geral: “A instituição dos Irmãos
Maristas é muito pouco recomendável... Os que nela terminam
o curso são deploravelmente ignorantes. São bons para fazer
perder tempo às crianças não, porém, para transmitir-lhes
conhecimentos, mesmo os mais triviais... E desejam, a todo
custo, lançar-se ao ensino...” (Furet, 321, nota 30).
Tudo por dinheiro
Em 1854, visitando as escolas de La Côte, o Ir. Avit foi visitar
o senhor Camilo Rocher, conselheiro municipal, mais que
milionário e sem filhos. Ele disse, com ar severo ao Irmão:
"Os seus superiores são muito ávidos. 50 mil francos não são
nada para eles e essa soma colocaria a cidade de La Côte num
muito bom estado". O Irmão lhe respondeu: "Eu conheço um
outro para quem 100 mil francos não são mais do que uma
moeda para nós. Ela arrumaria bem melhor a cidade de La
Côte se lha dessem." O senhor Rocher olhou o Irmão e deu
outro rumo à conversa (Avit, II, 313).
Benfeitor perseguido
Colomb de Gast foi nomeado prefeito de Saint-Sauveur-en-
Rue e foi ele quem pediu Irmãos ao Padre Champagnat.
Mas durante a revolução ele passou maus bocados. Danton
expediu mandato de prisão contra ele. Nos anos de 1792-
1793 ele precisou se esconder para não ser assassinado.
Robespierre ordenou o seqüestro de seus bens. Colomb
escondeu-se primeiro no convento das Irmãs de São José de
Sint-Sauveur e depois na casa do pároco que acabou sendo
assassinado. Quando o celerado Javoques veio prendê-lo em
sua casa sua esposa teve sangue frio fingindo não encontrar
as chaves e dando vinho em abundancia aos guardas. Com
isso Colomb conseguiu fugir pelos bosques da vizinhança
onde abriu um abrigo subterrâneo e escondeu-se. Para sua
segurança, nem os filhos sabiam o local do abrigo, se bem
que não estivesse a mais de um quilômetro de distância da
casa. Depois da queda de Robespierre conseguiu ir
readquirindo a liberdade (Répertoires 2, 145).
Efeitos maléficos da política
A administração municipal de Courpières se indispôs contra
os Irmãos e acabou suprimindo o salário de um dos quatro
Irmãos. Os vereadores queiram a todo custo a troca do
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diretor, Ir. Rafael, que fora recebido pelo Pe. Champagnat, em
l'Hermitage, em 1833. Dos 16 edis, só quadro eram a favor dos
Irmãos. Um dos motivos era porque o diretor continuou a ter
boas relações com a administração anterior; outra porque o
diretor prometera trazer um irmão diplomado, o que ainda não
acontecera. O diretor acabou sendo transferido para outra
localidade, onde ali também os políticos lhe fizeram muita
oposição, mas o Irmão agia com garra e com muito
devotamento (Répertoires, 2, 440).
Problema antigo
O Prefeito de Lens, em Pas de Calais, rico proprietário, dizia
aos Irmãos: “Vocês fazem bem de não colocar tapetes em seus
apartamentos: os tapetes representam sujeira. Criam insetos
quando a cola se corrompe e cheiram mal. Não coloco nos
meus, apenas na sala de recepção” (Cadernos, 16, 141).
PADRES
Pedradas de todos os lados
Bochard fez duras reprimendas a Champagnat e ameaçou
evacuar a casa; o Pároco de Saint-Chamond também o
repreendeu duramente; o Pároco de La Valla o censurava
publicamente do púlpito e fofocava no arcebispado,
alimentando as antipatias de Bochard; até o confessor de
Marcelino o abandonou; e, com isso, o público o cobria de
injúrias (Sylvestre, 128).
Última cartada do bispo
Para a abertura da escola de Arbresle concorreram o Padre
Gervais e uma senhora viúva e, com menos recursos o
cardeal Bonald e um outro senhor influente. O Ir. Avit
conduziu os três Irmãos da nova comunidade, tendo à frente
o diretor Ir. Crisógono. Apresentou-os ao cardeal que lhes
disse: "O Ir. Diretor é muito jovem". "Eminência, respondeu
o Irmão, este é ainda o defeito de todos os Irmãos maristas,
mas eles trabalham para superá-lo. É verdade que esse
Irmão é jovem, mas é sério e já tem certa experiência". O
cardeal sorriu e acrescentou: "Tome cuidado, a fim de que a
escola progrida, é o meu derradeiro recurso. Se o
empreendimento fracassar, serei obrigado a retirar meu
clero, porque ali ele não fará mais nada" (Avit, II, 214).
As pombas tiveram de voar
O Pároco de Brandon, era homem rico, mas muito nervoso,
impositivo e de mau relacionamento com os paroquianos.
Pensou em ganhar as boas graças do povo convidando os
Irmãos para dirigir ali uma escola. Para tanto, sem dizer
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nada para ninguém, fez construir uma bela casa. Àqueles que
perguntavam o que desejava com tal edifício respondia: "Vou
colocar ali um pombal". Esta resposta irritou e ofendeu os
munícipes. Os Irmãos chegaram e se saíram muito bem, mas
os edis fizeram a cabeça do povo jogando-o contra o pároco.
Contrariado, esse corajoso pároco, pediu aos Irmãos de
abandonar a obra em 1856 (Avit, II, 216).
Trágica lembrança
A relação de Courveille com a Sociedade de Maria foi
dramática. Mas findou seus dias serena e santamente na
Abadia de Solesmes. Courveille havia fundado a comunidade
de Irmãs de Santo Antonio. Mas “no final (essas Irmãs) não
queriam ter nada com Courveille, pois estavam desgostosas.
Numa manhã deixou a chave por debaixo da porta da casa e
desapareceu”. Há o relato de uma das Irmãs que com uma
escova tratou de raspar a pintura de Courveille que se
encontrava em uma das paredes do convento. Quando uma
visita lhe perguntou: “É assim que trata você a seu fundador”?
Ela respondeu: “Não me fale você dele” e continuou apagando
a sua imagem (McMahon, Viajeros en la esperança, 48)
Clausura para o sexo frágil
Por vezes houve discussões calorosas entre Colin e Chavoin.
O Pe. Colin tinha idéias muito atrasadas sobre a vida religiosa
feminina. Os conventos femininos eram, segundo sua
mentalidade, portos de segurança para o sexo frágil, exposto
a todos os perigos, se permanecessem no mundo. Ele via o
ramo marista das Irmãs uma congregação enclausurada,
encarregada essencialmente de rezar para a obra ativa dos
Padres. Colin, que tinha enorme afeição pela Virgem
Santíssima, tinha dificuldade de ter um olhar sobre as
mulheres que não fosse a antiga visão marcada pela
civilização masculina. Essa visão se confrontava com a
mentalidade muito mais aberta de Jeanne Marie. Muito
tempo depois se chegou a conclusão: "Quem tinha razão era
Jeanne-Marie Chavoin" (Forissier, 24).
Champagnat, uma inutilidade
Pompallier, mesmo vendo o crescimento do Instituto,
começou a crer que ele estava descambando. Censurava o
modo de Champagnat dirigi-lo, que o levava à ruína.
Acusou o Fundador junto ao Arcebispo, dizendo que
Marcelino não tina nenhum talento para a administração e
nem como formador e que ele só se ocupava em trabalhos
manuais (Sylvestre, 171).
Bispo mais chefe que pastor
Bataillon foi bispo da Oceania. Recebido em Roma por Pio
IX esse lhe disse: "Bataillon que muito batalhou". De fato
ele realizou uma grande obra na Oceania, mas deixou
muitos maristas, Irmãos, Padres e Irmãs em muito
70
sofrimento. O Padre Poupinel dizia: "Ele se mostra sem
coração, sem a mínima consideração para com a pobre senhora
Perroton durante anos a fio, ao ponto de chocar os
Wallisianos". E Perroton, escrevendo ao padre: "Você têm
muita razão de dizer que o senhor bispo tem o talento
particular de despedaçar os corações. Penso mesmo que
ninguém escapou de seus golpes mortais" (Forissier, 197/198).
Maquiagem perfeita
O jovem Ir. Francisco sabia cantar muito bem. O pároco de
Vanosc quis dar grande solenidade à festa de Natal e pediu ao
Irmão para fazer o papel de sub-diácono. O Irmão argumentou
ser muito jovem."Não se importe com isso. A Irmã São Pedro
é especialista na preparação de ofícios. Ele far-lhe-á uma boa
maquiagem e lhe dará um aspecto de pessoa mais velha". Essa
Irmã ficou muito satisfeita com a sua obra de arte que abraçou
efusivamente o pequeno Irmão que ficou muito envergonhado,
mas não impediu de desempenhar muito bem sua função. No
dia seguinte os alunos tiraram sarro do Irmão, pois o
reconheceram.
O seu Diretor, compreendendo a necessidade do jovem Irmão
de brincar, permitia que o fizesse com o filho de um benfeitor.
Durante o jogo o jovem o Irmão aprontou alguma o que lhe
mereceu um safanão e um chute de seu companheiro que ficou
muito irritado com a malandragem. O Ir. Francisco refugiou-se
na cozinha para chorar as mágoas (Rivat, 38).
Demônio invade camarote
Na viagem para a Oceania o Ir. Marie Nizier tinha de zelar
pelas coisas dos padres. Diz ele numa carta a Colin: "O Pe.
Chanel tomou o seu breviário para rezar quando percebeu
que estava um pouco rasgado. O rasgão se situava quase no
meio da página, de alto a baixo. Tinha quatro centímetros de
comprimento. Eu estava ao seu lado nesse momento. Ele me
disse: “veja o que aconteceu com o meu breviário. Não
posso pensar quem fez tal coisa, pois somente eu o uso.
Estou certo que é obra do diabo”. Ele me pediu para que o
consertasse como eu pudesse. Para impedir que o estrago
aumentasse, eu colei à margem um pedaço de papel. Creio
que era a página de Laudes, não me recordo bem" (Ronzon,
39).
Traços de inculturação
O Pe. Chanel foi um missionário bastante estimado pelo Ir.
Marie Nizier, bem como dos habitantes das ilhas. Fazia
esforço para se inculturar, como nos conta o Ir. Nizier: "Os
habitantes da ilha lhe ofereceram peixinhos crus,
convidando-o a comer. Depois de um breve instante de
hesitação, “na guerra como na guerra”, disse ele e comeu
uma certa quantidade. Vi comer outros peixes que enquanto
mantinha a cabeça entre os dentes, o rabo batia contra seu
nariz e queixo. Mais tarde ele comia certos insetos que
viviam em paus, que considerava uma delícia. Eu ainda não
71
tenho a coragem de fazer - mesmo estando aqui há sete anos -
o que Chanel fazia depois de alguns meses" (Ronzon, 56).
Vida oprimida dos Irmãos missionários
O Ir. Cláudio Maria, escrevendo ao Pe. Colin dizia, referindo-
se ao Pe. Servant: "Acabo de experienciar algo que me causou
muita desolação. Eu tinha uns dez livros de piedade, diversos
pequenos cadernos que eu tinha trazido da França e outros que
eu tinha, em meus momentos livres, nos domingos, escrito
aqui em maori e que eu aproveitava para ler em alguns
momentos. Mas eu não sei se o Pe. Servant temia que eu
perdesse o meu tempo livre a ler e a escrever, ele seqüestrou
todos os meus livros e cadernos e não me permite usá-los
senão no domingo e ainda tenho a necessidade de lhe pedir
permissão". O Ir. Marie Nizier contribuiu muito para que se
compreendesse que os Irmãos fariam um bem muito maior nas
missões da Oceania com casas organizadas como na França,
do que permanecendo no serviço dos Padres (Ronzon, 196,
121).
Compartilhando idéias e sofrimentos
O Ir. Marie Nizier tinha diálogos com as jovens Sara e Silenia
da ilha de Futuna, que lhe confiaram diversas situações sobre a
morte de Chanel. Elas tinham o Irmão em grande estima.
Também comentam o caráter do bispo Bataillon: "O povo de
Futuna vai muito bem, mas todo mundo lamenta muito que o
bispo troque tão freqüentemente os missionários". O
dinamismo do bispo era acompanhado de grande
autoritarismo que fazia sofrer muito os missionários,
sofrimento bem conhecido do Ir. Nizier. O Pe. Colin tentava
remediar a situação e a propósito da missão em Fidji
reclamava: "O verdadeiro zelo não consiste em querer fazer
muita coisa ao mesmo tempo, mas em fazer bem aquilo que
se inicia. Eu lhe peço, Monsenhor, de se conformar com a
nossa visão; de não cair na tentação de empreender muita
coisa, sem antes de consolidado o que foi começado".
Através de visitadores Colin procurava conciliar a situação
(Ronzon, 180, 169).
A mulher forte
Chavoin escreve que quando os padres estavam
desanimados com as contrariedades, “eu permanecia cheia
de coragem e eu os animava. Por vezes quando eles estavam
calmos era eu quem caia na fossa. Certo dia chegou pelo
correio uma notícia que os prostrou. Então eu os convidei a
ir à igreja. Aí rezamos uma hora, uma hora e maia e saímos
em paz e contentes” (Forissier, 25).
Revolução areja os conventos
A primeira idéia de Colin sobre o ramo feminino da
Sociedade era caduca. Pensava nas grandes Ordens com
votos solenes, onde as religiosas, monjas enclausuradas,
72
dependiam do ramo masculino dos padres. Mas depois da
Revolução Francesa essa concepção tinha mudado. Só se
permita para as mulheres o status de congregação com votos
simples sob a dependência do bispo. Portanto as Irmãs teriam
de se ater a esta fórmula e ser uma congregação diocesana
(Forissier, 41).
Um pito do padre Colin
O Pe. Colin ficou furioso com algumas despesas elevadas
feitas pelos Irmãos sem a sua consulta. "Vocês não pensam,
como, sem me consultar, com 60.000 francos e mais dívidas,
vocês iniciam uma construção que vai aumentar de 12 a 15 mil
francos... E vocês dizem que eu sou vosso superior... Irmãos,
se eu sou vosso superior, eu não quero ser um superior de
fachada apenas”. Isso se devia a uma consulta feita pelo Ir.
Luis Maria a propósito de utilizar algumas velhas construções
do senhor Patouillard, para ampliar a fabricação de panos. O
Ir. Francisco tinha boas intenções ao querer reparar velhas
construções e transformá-las em oficinas para ocupar em
trabalhos manuais os Irmãos mais idosos cansados com o
trabalho escolar e desejosos de encontrar um trabalho para não
serem pesados à comunidade. Eram imóveis situados em
propriedades vizinhas a Hermitage. É possível que ele
estivesse preocupado com a idéia emitida pelo Pe.
Champagnat, antes de morrer, a propósitos de "colônias
agrícolas". Essa idéia de colônia agrícola é oriunda de um tal
de Villeneuve-Bargemont, marginalizado pela revolução de
1830, decidiu consagrar a sua vida aos problemas sociais. Ele
tinha em mira os terrenos incultos, abandonados em muitas
partes da França e que poderiam ser divididas e doados a
famílias ou comunidades religiosas que adotariam órfãos a
fim de ocupá-los em trabalhos em vez de estarem
abandonados e entregues à miséria nas cidades. A expressão
"colônia agrícola" encontramo-la na biografia de
Champagnat. Talvez o Ir. Francisco tivesse a idéia de
ocupar também órfãos naquelas projetadas oficinas (Rivat,
91 e 93; Avit, II, 26).
O tiro saiu pela culatra
Quando o Ir. Pacômio faleceu, procurou-se um substituto na
sapataria. Foi escolhido o Ir. Espiridião. Era um senhor
idoso, sem instrução e pouco hábil que Champagnat
recebera por caridade. Seu francês era tão castiço como o de
uma vaca espanhola. Entretanto esforçava-se em fazer bem
as coisas. Certo dia o Pe. Matricon recebeu visitas. Depois
do almoço levou-as passear no grande terraço, onde os
Irmãos se distraiam. Vendo o Ir. Espiridião e querendo fazer
rir seus amigos às expensas dele disse-lhe: "Ir. Espiridião,
eu disse a esses senhores que você é capaz de adivinhação".
"O que é que eu preciso adivinhar"? "Esses senhores
gostariam de saber por que as galinhas pretas, botam ovos
brancos". "Eu responderei, quando o senhor adivinhar
porque o burro que tem o molde redondo, caga quadrado".
O pessoal tirou muito sarro do Pe. Matricon.
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Aquecendo-se um dia, junto ao fogo, com o velho senhor
Boiron, disse-lhe o Ir. Espiridião: “Acho que o diabo virá
limpar o traseiro de nós dois neste inverno” (Avit, I, 280).
Irmão e pai da vaca
Em Hermitage o Ir. Doroteu estava encarregado de cuidar de
uma vaca que fornecia leite aos enfermos. Era muito simples e
piedoso. O pároco de Tarentaise veio certo dia visitar seu
amigo Champagnat. Depois do almoço foram passear pelo
jardim. Vendo o Irmão que cuidava da vaca no pasto, disse-
lhe: "Bom dia, Irmão da vaca". O Irmão julgando ser um padre
marista, respondeu-lhe com simplicidade infantil: "Bom dia,
meu pai". Champagnat riu muito, pois o trocadilho insinuava
que o pároco era o pai da vaca. O padre de Tarentaise se
propôs a não mais abusar da simplicidade dos outros (Avit, I,
179).
Eqüinocídio
O pároco de Monsols era um padre muito bom, simples e
cumpridor perfeito de seus deveres. Um comerciante de
cavalos da região comprou um cavalo muito magro,
definhando, tendo pagado 30 francos. Depois de alguns dias
soube que o pároco tinha necessidade de um cavalo e lhe
vendou por trezentos francos. O Ir. Dominique, diretor da
escola (que gostava muito de viajar) tendo de fazer uma
viagem, emprestou a cavalgadura e o conduziu de tal maneira
que ao regressar deixando a besta na estrebaria ela deitou-se
sobre a palha e não mais levantou. Felizmente o padre foi
amável para com o Irmão e não reclamou nada (Avit, II,
234).
Pão duro
A situação da escola de La Côte se arrastava desde o tempo
de Champagnat. O Ir. Visitador procurava arrumar as coisas
da melhor maneira possível. Nos debates que houve sobre
esse assunto ele se defendia com unhas e dentes. Até o
Padre Douillet, algumas vezes se pôs contra ele. Querendo
emendar-se ele propôs às pessoas uma subscrição a fim de
ajudar os Irmãos na mobília. O prefeito não era rico. O
pároco fez um grande esforço e ofereceu 50 francos. Seu
vigário prometeu algumas velhas camisas. O Padre Pion, o
mais rico de todos, num tom rude disse: "Eu, eu não dou
nada a pessoas mais ricas do que eu". "Obrigado, assim
mesmo”, responde a ele o Ir. Visitador (Avit, II, 250).
Daqui não saio, daqui ninguém, me tira
O Pe. Carle, pároco da grande cidade de Gard, decidiu ter
Irmãos. Viajou a l'Hermitage e desde a entrada deixou
entender que não sairia sem a firme promessa de que os
Irmãos abririam lá uma escola. Dizem-lhe que não era
possível. Continuam conversando e a noite chega. São
obrigados a lhe oferecer um quarto. Dono do quarto,
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continua determinado em suas exigências. Toma as refeições,
passa outra noite. O que fazer com uma pessoa assim tão
bizarra? Todos acreditam que no sábado ele viajará, pois deve
rezar a missa em sua paróquia. Entretanto, domingo de manhã,
ali continua ele e por polidez o convidam a celebrar a missa.
Ele aceita, mas na hora da missa diz: "Se não tenho Irmãos
também não haverá missa solene"! O jeito foi nomear uma
comunidade para aquela localidade que tinha reputação de
excelente clima. O Ir. João Batista acumulou a sua função de
Assistente à de catequista e cozinheiro. Falava-se que o Pe.
Carle vinha sorrateiramente ouvir suas aulas pois o Irmão
tinha fama de ser excelente catequista.
Batismo com vinho
Em Arfeuilles, os Irmãos moraram no local que foi outrora um
seminário menor e tiveram que fazer reparos por sua própria
conta. Enquanto funcionava esse seminário, o bispo diocesano
o freqüentava seguidamente e tomava lições dos seminaristas.
Um dia ele interpelou um que lhe pareceu muito mundano.
Querendo pegar-lhe numa armadilha, perguntou-lhe: "Pode-se
batizar com vinho"? O ladino respondeu: "Monsenhor, eu
distingo: se for vinho servido na mesa de vossa
Reverendíssima, certamente não se poderia, mas poder-se-ia
muito bem batizar com o vinho servido aos alunos" (Avit, II,
308).
Solicitam um Irmão não casado
Um pároco muito pouco informado, da diocese de Dijon,
pediu um Irmão não casado para a sua pequena paróquia.
Este Irmão devia executar os seguintes trabalhos: professor,
secretário da prefeitura, sacristão, cantor, sineiro e coveiro.
Bem, com todos esses trabalhos, dizia o pároco, ele poderia
ganhar 500 francos. É claro que nestas circunstâncias ele
não poderia ter uma mulher e filhos. A ingenuidade desta
petição fez a comunidade de l'Hermitage rir muito e deixou
entrever que o bispo de Dijon recrutava seu clero da
maneira como podia (Avit II, 250).
Astúcia para ganhar as simpatias
Carnot, ministro da Instrução Pública, forçou os professores
a entrar na linha revolucionária. Um numeroso grupo
distinguiu-se. Houve uma reação fatal. O de Marcigny foi
removido pelo prefeito que pediu em seu lugar Irmãos
Maristas. O pároco faria todas as despesas de instalação. O
Ir. Avit foi enviado para preparar o caminho. Apesar da
oposição do pároco, o Irmão realizou a compra do
mobiliário nas casas comerciais dos que mais haviam
difamado os Maristas. O pároco acabou acompanhando o
Irmão. Uma multidão acompanhava os dois pelas ruas
comentando: “Se todos os Irmãos são como esse aí, não são
estúpidos como nos têm dito”! Retornando, o pároco nos
disse: "O senhor é mesmo corajoso. Você acaba de fazer
cair todas as prevenções que se tinham acumulado contra os
Irmãos. Pena que eu não o tomei para comprar o meu
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mobiliário, você me teria economizado 1500 francos" (Avit,
II, 256).
Confessor em apuros
Os padres Maristas retiraram o capelão de Saint-Paul, pois
diziam que suas constituições não permitiam um padre ficar
sozinho. A capelania foi então confiada a um dos vigários da
paróquia. Os Irmãos não gostaram muito, porque um desses
vigários era muito escrupuloso, de memória curta e deixava
muitas vezes bruscamente os penitentes de joelhos para ir
consultar seus livros (Avit, II, 347).
Questão de poda
O pessoal de l'Hermitage não gostava de se confessar com o
Padre Ruf; ele era bom, mas rígido e original. Muitos Irmãos
preferiam ir a Saint-Chamond. Quando retornavam a ele, lhes
dizia: "Vão buscar absolvição em Saint-Chamond". Dizendo
ter necessidade de exercícios físicos, solicitou ao diretor um
pedaço de terreno para cultivar vinha. Outro Irmão, querendo
trabalhar, solicitou também um pedacinho de terra para plantar
parreiras, mas não entendia nada disso. Tempos depois suas
plantas só davam folhas, enquanto que as do Padre Ruf
estavam carregadas de cachos. Julgando que o Padre não sabia
cultivar vinha, achou que metade dos cachos deveria ser
cortada. Pediu permissão ao Diretor para fazer isso nas plantas
do padre e obteve permissão. Quando o padre percebeu a
estranha poda, saiu correndo e o levou à presença do Diretor
e fez duras reprimendas a um e a outro (Avit, II, 403).
Falta de liberdade
Os padres Maristas Devès e Carré eram cada vez mais
impositivos e tinham ares desprezíveis, mostrando-se
exigentes. Iam de cá e de lá pelos corredores e pelos
pátios, bengala na mão, ares afetados pouco preocupados
em ouvir os Irmãos que tinham necessidades de conversar
com eles e até desviavam alguns jovens de sua vocação à
hora da confissão. Isso se devia ao fato de os padres serem
exigentes quanto a abertura de consciência dos Irmãos aos
superiores; achavam que devia ser só com eles, fato que
havia acirrado os ânimos dos Superiores e dos Irmãos (Avit,
III, 54).
Bispo em formação permanente
O bispo de Grenoble, Genouilliac, do qual se dizia que
desejava morrer cardeal, substituiu o cardeal de Bonald,
mas não foi bem aceito. Desde que tomou posse foi
insultado. Ocupava-se em estudar, deixando a administração
a seus vigários gerais, tanto em Lião como em Grenoble. A
um camponês que desejava conversar com o prelado,
disseram-lhe: "Está estudando". "Diabos, respondeu o
matuto, eu pensava que nos tinham dado um bispo que já
houvesse terminado os estudos" (Avit, III, 143).
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Bispo & burro
Em Futuna prepararam uma festa para receber o bispo. Foi
preparada uma bebida (kava): seis jovens mastigavam uma
raiz e cuspiam depois num recipiente de 15 litros. Um outro
lavou as mãos e depois jogou a água no mesmo recipiente.
Coada a beberagem ofereceram primeiro ao rei, depois ao
bispo e aos outros. Embarcando para outra ilha, levaram
consigo um burro. Ao chegar, uma multidão se aproximou da
margem. Pensavam que era para recepcionar o bispo Dom
Bataillon, mas na verdade era para ver o burro, pois não
conheciam este animal na região.
Em Samoa o bispo benzeu a pedra fundamental da futura
Igreja. Muita gente afluiu e à hora do almoço, o Ir. Charise
contou 270 porcos assados o que levou o Pe. Servant a
exclamar: "Que porcaria"! (Avit, III, 167, 169).
Inesperada ressurreição
Para ter fontes alternativas de recursos, o Padre Champagnat
recebia alguns pensionistas. Organizou também um ateliê para
fazer fitas no local onde existia outrora a capela provisória.
Assim ele ocupava os Irmãos e os postulantes cansados ou que
não podiam fazer outra coisa. O diácono Bourdin, Marista,
residia ali desde há uns meses antes e depois de ordenado veio
ajudar Champagnat. Ali estava o Pe. Terraillon, que um belo
dia caiu em profunda letargia. Crendo que tinha morrido,
revestiram-no de sobrepeliz e de uma estola e o colocaram
sobre uma mesa mortuária, preparando-se para enterrá-lo no
dia seguinte. Durante a noite um rato mordeu-lhe a orelha o
que o fez acordar. O fato agitou toda a comunidade.
Terraillon tinha mania de importunar os penitentes que
vinham se confessar. A cada instante ele os interrompia para
perguntar onde moravam, se davam aulas, se eram diretores,
quantos alunos tinham, como se chamava o pároco, se o
Irmão Diretor era brabo etc (Avit, I, 71).
A uma violeta
Terminamos o texto com um lindo soneto do Ir. Francisco
SG intitulado: A uma violeta
Amável filha da primavera/ tímida amiga dos bosquezinhos
Lisonjeiro é teu perfume/ Fugir pareces das homenagens.
Tal como o benfeitor que, discreto/ com sua mão socorre o indigente,
Tu me apresentas o benefício/ E temes o reconhecimento.
Vem ocupar nossos jardins/ deixa esse teu lugar solitário
Que digo? Não, em nossos bosquetes
Fica, violeta sempre querida. Feliz quem benefícios espalha
E, como tu, sua vida oculta.
A une violette
Aimaible fille Du printemps
Timide amante dês bocages
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Ton doux parfin flatte nos sens
Et tu sembles fuir nos hommages.
Comme le bienfaiteur discret
Dont la main secourt l’indigence
Tu me presentes le bienfait
Et tu crains la reconnaissance.
Viens prendre place en nos jardins
Quitte ce séjour solitaire
Que dis-je? Non, dans nos bosquets
Reste, ô violette chérie.
Heureux qui répand des bienfaits
Et, comme toi, cachê as vie.
Complemento bibliográfico das citações
ALSI. Frère Jean B. Furet. Sentences, Leçons et Avir, par un
de se premiers disciples.
AVIT. Frere Henri Bilon (AVit) Annales de l’Institut. Vol I –
La Rude Montée; Vol II – L’Epanouissement;Vol III – Route
Entravée, Rome, 1993.
BIOGRAPHIES. Frère Jean B. Furet. Biographies de quelques
Frères.
BULLETIN. Bulletin de l’Institut, volumes 23 et 29.
CADERNOS. Cadernos Maristas, números 16 e 19.
CARTAS. Cartas Ativas. Edição Brasileira, São Paulo, 1997.
CIRCULAIRES. Circulaires dês Supérieurs Généraux, vols II
et VIII.
EXTRAITS. J. Coste et G. Lessard. Origines Maristes
(1786-1836). Extraits concernant les Frères Maristes, Rome,
1985.
FORISSIER. Antoine Forissier. Présences de Marie.
Fondateurs et Fondatrices Maristes, Paris, Nouvelle Cité,
1990.
FURET. Frères Jean B. Furet. Vida de São Marcelino José
Bento Champagnat, São Paulo, Loyola, 1999.
LE BOM SUPÉRIEUR. Frère Jean B. Furet. Le Bom
Supérieur.
MCMAHON. Hermano Frederick McMahon. Viajeros en la
esperanza, CEPAM, Guadalajara, 1998.
RÉPERTOIRES. R. Borne et P. Sester. Lettres de Marcellin
J. B. Champagnat, 2, Répertoires, Rome, 1987.
RIVAT. Frères Franções – Gabriel Rivat. 60 ans d’histoire
marieste (Fr. Gabriel Michel, Saint-Chamond, 1996.
RONZON. Joseph Ronzon. Jean-Marie Delorme. Frère
Marie-Nizier. Compangnon de Mission de Saint-Pierre
Chanel, prêtre mariste martyr. De Saint-Laurent d’Agny à
l’île de Futuna, Saint-Martin-em-Haut, 1996
STROBINO. Ivo Strobino. São Marcelino Champagnat.
Cartas Recebidas. Curitiba, Ed. Universitária Champagnat,
2002.
SILVEIRA. Ir. Luiz Silveira. II Capítulo Geral do Instituto
dos Pequenos Irmãos de Maria; 1852-1853-1854, Belo
Horizonte, 1994.
SYLVESTRE. Frère Sylvestre raconte Marcellin
Champagnat. Rome, 1992.
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TESTIMONIOS. Aureliano Brambila de la Mora. Testimonios
mayores, menores e indirectos sobre Marcelino Champagnat,
CEPAM., Guadalajara.