INSTITUTO SUPERIOR DE CINCIAS DO TRABALHO E DA EMPRESA
CONTRIBUTO PARA A IMPLEMENTAO DA CLASSIFICAO
INTERNACIONAL DE FUNCIONALIDADE PARA A
IDENTIFICAO DE GANHOS EM SADE NAS DOENAS
CRNICAS
Carla Sandra Martins Pereira
Dissertao submetida como requisito parcial para obteno do grau de
Mestre em Gesto dos Servios de Sade
Orientadora:
Prof. Doutora Ana Escoval
Escola Nacional de Sade Pblica/Universidade Nova de Lisboa
Co-orientador:
Mestre Alexandre Diniz
Direco-Geral da Sade
Setembro, 2008
INSTITUTO SUPERIOR DE CINCIAS DO TRABALHO E DA EMPRESA
CONTRIBUTO PARA A IMPLEMENTAO DA CLASSIFICAO
INTERNACIONAL DE FUNCIONALIDADE PARA A
IDENTIFICAO DE GANHOS EM SADE NAS DOENAS
CRNICAS
Carla Sandra Martins Pereira
Dissertao submetida como requisito parcial para obteno do grau de
Mestre em Gesto dos Servios de Sade
Orientadora:
Prof. Doutora Ana Escoval
Escola Nacional de Sade Pblica/Universidade Nova de Lisboa
Co-orientador:
Mestre Alexandre Diniz
Direco-Geral da Sade
Setembro, 2008
i
AGRADECIMENTOS
A realizao deste estudo apenas foi possvel por existirem vrias pessoas que, desde a sua
apresentao em projecto, acreditaram, no s na sua viabilidade enquanto dissertao de
mestrado, como na minha capacidade para o realizar. A todos os que se cruzaram comigo
nesta caminhada um sincero agradecimento.
Prof. Doutora Ana Escoval ficarei sempre grata pelo seu voto de confiana e pelo seu
envolvimento e empenho em criar as condies para a realizao do estudo, tendo sempre
uma atitude compreensiva. Ao Dr. Alexandre Dinis por ter aceite o desafio de promover este
estudo, assegurando todas as formalidades e condies necessrias para a sua realizao. Sem
o seu envolvimento, este estudo no teria sido possvel.
Um especial agradecimento a todos os elementos da amostra, particularmente ao grupo focal e
painel de peritos, sem a sua disponibilidade e participao a recolha de informao deste
estudo estaria comprometida.
Alexandra Lopes por se disponibilizar para rever a redaco deste texto. Aos meus Pais que
nunca duvidaram da concluso desta dissertao e infatigavelmente me incentivaram e
providenciaram todas as condies para a realizar.
Ao Antnio, meu marido, e ao Jos Pedro, meu filho, por toda a compreenso e espera
incansvel, to necessrias para realizar esta dissertao. Por fim, no posso deixar de
referenciar a Mafalda, minha filha, que desde que existe, sempre lutou contra este estudo para
conseguir a ateno da me, e ganhou a batalha muitas vezes.
ii
RESUMO
Problema de investigao: Inexistncia do registo dos componentes de sade, de forma a
identificar ganhos em sade na populao portadora de doenas crnicas.
Questo orientadora: Classificao Internacional de funcionalidade e Sade (CIF) no Sistema
de Sade para identificar ganhos em sade na populao portadora de doenas crnicas.
Objectivo geral: Definir orientaes estratgicas para o desenho da estratgia de
implementao da CIF.
Objectivos especficos do estudo: 1. Identificar barreiras implementao desta
Classificao no Sistema de Sade; 2. Identificar critrios relevantes para o planeamento de
uma aco educacional que facilite a implementao da CIF e 3. Identificar as oportunidades
e ameaas, pontos fortes e os pontos fracos da implementao da CIF.
Tipo de estudo: Qualitativo com metodologia descritiva transversal, recorrendo a grupo focal,
questionrio e painel de Delphi.
Amostra: Profissionais de sade, com experincia profissional em doenas crnicas e
conhecimento das classificaes da Organizao Mundial de Sade.
Concluses: As barreiras ao processo de implementao so: ausncia de um modelo
educacional; incompatibilidade com os sistemas de registo existentes e desconhecimento do
modelo de aplicao da CIF. A aco educacional para a implementao da CIF contempla
formao presencial e em exerccio para grupos multiprofissionais, com o objectivo de
facilitar o processo de mudana e aumento da qualidade dos servios prestados, recorrendo ao
trabalho de equipa e s Tecnologias de Informao e Comunicao (TIC). As orientaes
estratgicas identificadas para a implementao da CIF no Sistema de Sade centram-se no
desenvolvimento de modelos de operacionalizao da CIF para o Servio Nacional de Sade.
Palavras-chave: Classificao Internacional de Funcionalidade; Ganhos em Sade; Doenas
Crnicas.
JEL Classification System: I10 General; I18 Government Policy; Regulation; Public
Health.
http://www.aeaweb.org/journal/elclasjn.html
iii
ABSTRACT
Research problem: No existence of health components registration in order to identify gains
in health in the population with chronic diseases.
Guiding question: International Classification of Functionality and Health (ICF) in the
National Health System to identify gains in health in people with physical or chronic diseases.
General objective: Define the strategic guidelines for the design of the strategy for ICFs
implementation.
Study specific objectives: 1st
Identify barriers when implementing this classification in the
National Health System; 2nd
Identify relevant criteria when planning an educational action
to facilitate ICFs implementation; 3rd
Identify opportunities, threats, strengths and
weaknesses of ICFs implementation.
Type of study: Qualitative methodology with descriptive transverse, using focus group,
questionnaire and Delphi panel.
Sample: Health professionals with experience in and knowledge of chronic diseases
classifications of the World Health Organization.
Conclusions: The barriers to the implementation process are: absence of an educational
model, incompatibility with the existing registration systems and lack of a model for
implementing the ICF. The educational action for ICFs implementation comprises presential
training for multidisciplinary groups to help with the process of change and increase the
quality of services provided, resorting to teamwork and Information and Communication
Technologies. The strategic guidelines identified for ICFs implementation in the Health
System are focused on ICF`s development for the operationalization of the National Health
Service.
Key words: International Classification for Functionality; Gains in Health, Chronic Diseases.
iv
NDICE
1. INTRODUO..1
2. ENQUADRAMENTO DA PROBLEMTICA.....6
2.1 Doena crnica....6
2.1.1 Prevalncia das doenas crnicas........7
2.1.2 Impacto econmico das doenas crnicas...8
2.1.3 Gesto da doena crnica......11
2.2 Ganhos em sade nas doenas crnicas....13
2.2.1 A funcionalidade como indicador de ganhos em sade.15
2.3 A CIF.....16
2.3.1 Aplicaes da CIF.....21
2.3.2 Implementao da CIF......24
2.3.3 Estratgia de implementao da CIF.....25
2.3.4 Estratgias educacionais para a implementao da CIF30
2.3.5 Barreiras implementao da CIF....36
2.3.5.1 Barreiras implementao da CIF identificadas em Portugal...37
2.4 Delimitao da problemtica.....37
2.4.1 Problema........38
2.4.2 Questo orientadora...........38
2.4.3 Objectivo geral......38
2.4.4 Objectivos especficos.......39
3. METODOLOGIA.....40
v
3.1 Tipo de estudo...41
3.2 Populao do estudo......42
3.3 Tcnica de amostragem.42
3.3.1 Amostra do 1. objectivo especfico..44
3.3.2 Amostra do 2. objectivo especfico..44
3.3.3 Amostra do 3. objectivo especfico..45
3.4 Mtodo de recolha de informao.....46
3.4.1 Grupo focal........46
3.4.1.1 Anlise de contedo.......48
3.4.2 Questionrio.......50
3.4.3 Painel de Delphi.....53
3.4.3.1 Anlise SWOT.......57
4. APRESENTAO E DISCUSSO DE RESULTADOS...........60
4.1 1. Objectivo especfico.....60
4.2 2. Objectivo especfico70
4.3 3. Objectivo especfico76
5. CONCLUSES.....94
6. LIMITAES DO ESTUDO...98
7. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS100
8. ANEXOS.........109
vi
NDICE DE GRFICOS
Grfico 1 Pensionistas com incapacidade permanente por grupo etrio.9
Grfico 2 Evoluo de pensionistas com incapacidade permanente..10
Grfico 3 Representao em percentagem da frequncia de critrios relevantes para o
planeamento de uma aco de formao assinalados pela amostra..72
NDICE DE QUADROS
Quadro 1 Mudana de conceito da ICIDH para a CIF...19
Quadro 2 Nveis de aplicao da CIF22
Quadro 3 reas de interveno da CIF.23
Quadro 4 Anlise SWOT do acesso e implementao da CIF..27
Quadro 5 Estratgias de implementao da CIF realizadas por diferentes pases membros da
OMS..28
Quadro 6 Contedos dos mdulos de formao34
Quadro 7 Objectivos especficos, metodologia e amostra de estudo.43
Quadro 8 Cronograma da preparao do grupo focal47
Quadro 9 Critrios e itens relevantes para o planeamento de uma aco de formao sobre a
CIF52
Quadro 10 Classificao da informao recolhida para as questes O que pensa da CIF?
no grupo focal realizado em 11 de Fevereiro de 2005...61
Quadro 11 Classificao da informao recolhida para a questo Quais as dificuldades que
reconhece para a implementao da CIF? no grupo focal realizado em 11 de Fevereiro de
2005..64
Quadro 12 Classificao da informao recolhida para a questo Como dever ser utilizada
esta classificao? no grupo focal realizado em 11 de Fevereiro de 200568
vii
Quadro 13 - Diagrama SWOT para a implementao da CIF no Sistema de Sade99
NDICE DE TABELAS
Tabela 1 Actividade profissional dos elementos da amostra que responderam ao
questionrio do 2. objectivo especfico71
Tabela 2 Representao em percentagem da frequncia dos itens constituintes dos critrios
relevantes para o planeamento de aces de formao.73
Tabela 3 Frequncia e percentagem de concordncia, do painel de peritos, com os pontos
fortes identificados em Agosto de 2006, para promover a implementao da CIF no SNS.78
Tabela 4 Frequncia e percentagem das oportunidades identificadas pelo painel de peritos
em Agosto de 2006, para promover a implementao da CIF no Sistema de Sade80
Tabela 5 Frequncia e percentagem das fraquezas identificadas pelo painel de peritos em
Agosto de 2006, para promover a implementao da CIF no Sistema de Sade.82
Tabela 6 Frequncia e percentagem das ameaas identificadas pelo painel de peritos em
Agosto de 2006, para promover a implementao da CIF no Sistema de Sade.84
Tabela 7 Frequncia e percentagem dos pontos fortes identificados pelo painel de peritos em
Setembro e Outubro de 2006, para promover a implementao da CIF no Sistema de Sade.85
Tabela 8 Frequncia e percentagem das oportunidades identificadas pelo painel de peritos
em Setembro e Outubro de 2006, para promover a implementao da CIF no Sistema de
Sade87
Tabela 9 Frequncia e percentagem das fraquezas identificadas pelo painel de peritos em
Setembro e Outubro de 2006, para promover a implementao da CIF no Sistema de Sade.89
Tabela 10 Frequncia e percentagem das ameaas identificadas pelo painel de peritos em
Setembro e Outubro de 2006, para promover a implementao da CIF no Sistema de Sade.91
Tabela 11 Frequncia e percentagem dos pontos fortes, oportunidades, fraquezas e ameaas
identificados pelo painel de peritos em Dezembro de 2006, para promover a implementao
da CIF no Sistema de Sade.....................92
viii
NDICE DE FIGURAS
Figura 1 Famlia das Classificaes Internacionais da OMS 200517
Figura 2 Modelo conceptual da CIF Interaco entre os seus componentes..20
Figura 3 Desenho de estudo...40
NDICE DE ANEXOS
Anexo 1 Checklist da CIF....110
Anexo 2 Avaliao dos planos de aco educacional para a implementao da CIF..124
Anexo 3 Grupo de reflexo sobre a operacionalizao da CIF127
Anexo 4 Seminrio Sensibilizao implementao da CIF129
Anexo 5 Guio do grupo focal ...130
Anexo 6 Dicionrio de subcategorias..131
Anexo 7 Questionrio de recolha de informao do 2. objectivo especfico.132
Anexo 8 1. Questionrio de recolha de informao do 3. objectivo especfico133
Anexo 9 Itens constituintes de cada uma das dimenses da anlise SWOT140
Anexo 10 2. Questionrio de recolha de informao do 3. objectivo especfico..142
Anexo 11 3. Questionrio de recolha de informao do 3. objectivo especfico..146
Anexo 12 Caracterizao dos peritos constituintes do painel Delphi modificado..148
Anexo 13 Aco de formao para a divulgao da CIF150
Anexo 14 Termos de referncia para o Comit Nacional para a Implementao da
Classificao Internacional da Funcionalidade, Incapacidade e Sade (CNI/CIF)152
ix
LISTA DE ABREVIATURAS
CID Classificao Internacional de Doenas
CI Classificao de Intervenes
CIF Classificao Internacional de Funcionalidade e Sade
DGS Direco-Geral da Sade
FIC Network Equipas de trabalho das Classificaes Internacionais
ICIDH International Classification of Impairments, Disabilities and Handicaps
MS Ministrio da Sade
OMS Organizao Mundial de Sade
SNS Servio Nacional de Sade
TIC Tecnologias de Informao e Comunicao
Contributo para a implementao da CIF para a identificao de ganhos em sade nas doenas crnicas
1
1. INTRODUO
Quando existe doena, esta interpretada de forma objectiva pelo indivduo que descreve
concretamente os seus sinais e sintomas, apesar de o significado que lhe atribui variar
consoante a sua cultura (McWhinney, 1994). O comportamento da doena est assim
relacionado com a origem tnica, classe social, idade, sexo, natureza da doena, personalidade
e factores ambientais (McWhinney, 1994). Sabendo-se que a doena, qualquer que ela seja,
no ser vivida da mesma forma por cada pessoa, estar doente na actualidade um conceito
que no implica apenas variveis biolgicas, mas, cada vez mais, deve abarcar variveis
sociais, psicolgicos e culturais que influenciam o risco de adoecer, (Pereira, 1987).
Quando tomamos conscincia de que a condio de doente pode ser crnica, que pode
abranger todas as faixas etrias, desde o nascimento at velhice, a dimenso da interveno
e dos resultados esperados em sade ultrapassa a manuteno de variveis biolgicas
compatveis com a vida.
As doenas crnicas so uma das reas da sade com aumento da prevalncia e incidncia,
que consome recursos humanos e financeiros, com fraca demonstrao da relao custo-
-benefcio e, consequentemente, da dificuldade em demonstrar ganhos em sade,
considerando que ganho em sade melhorar o nvel de todos os indicadores de sade.
A identificao de ganhos em sade permite acompanhar o estado de sade de uma
populao, sendo um dos objectivos estratgicos dos Programas Nacionais de Sade,
possibilitando a justificao dos custos e financiamento em sade.
No contexto das doenas crnicas sabemos partida que o resultado esperado no ser a
ausncia de doena, logo a demonstrao de ganhos em sade para as pessoas portadoras de
doenas crnicas dever incluir variveis ou componentes de sade que permitam classificar o
estado de sade desta populao, numa perspectiva positiva da sade, e no recorrer apenas
classificao dos componentes de doenas, aceitando-se que a utilizao de um sistema de
classificao de doenas redutor para a descrio do estado de sade do indivduo portador
de doena crnica.
Contributo para a implementao da CIF para a identificao de ganhos em sade nas doenas crnicas
2
Tal como a percepo de doena, a classificao dos componentes de sade das pessoas
portadoras de doena crnica no pode ser interpretada como algo de inato ou individual, mas
dever relacionar-se com diferentes condicionalismos (factores ambientais, condies de vida,
ambiente social, estado mental e social, factores familiares e psicolgicos).
Classificar sade permite assim obter uma imagem instantnea do estado de sade e bem-
-estar de um indivduo (McColl, 1997) e permite aos profissionais de sade obter um quadro
completo dos seus doentes ou s autoridades de sade a identificao de padres de
necessidades das populaes locais (Fitzpatrick, 1994). Possibilita tambm diagnosticar,
examinar e/ou detectar a presena de problemas de sade e identificar necessidades de
tratamento, prever a preferncia de/e por cuidados e melhorar a comunicao prestador/doente
(McColl, 1997).
Em Portugal, a nica classificao formalmente utilizada no Sistema de Sade a
Classificao Internacional de Doenas (CID10)1. Porm, Portugal, na sequncia da
Resoluo WHA54.21 de 22 de Maio de 2001, da 54. Assembleia Mundial da Sade da
Organizao Mundial de Sade (OMS), co-aprovou a utilizao da Classificao
Internacional da Funcionalidade, Incapacidade e Sade (CIF)2, como uma estrutura para
classificar a sade e a incapacidade, tanto a nvel individual como populacional, valorizando
no s o diagnstico clnico (classificao de doena), como o desempenho e a participao
do indivduo, assim como a interaco dos factores contextuais na sua sade. Esta
classificao, em conjunto com a CID, pretende definir de forma mais global o estado de
sade do indivduo, identificando diferentes componentes de sade.
Na actual nomenclatura da CIF, o estado de sade do indivduo abordado segundo um
conceito positivo, enfatizando os recursos sociais e pessoais, bem como as capacidades fsicas
dentro do contexto dos factores contextuais. Os factores contextuais representam o histrico
completo da vida e do estilo de vida de um indivduo. Eles incluem dois componentes:
factores ambientais e factores pessoais que podem ter efeito num indivduo com uma
determinada condio de sade e sobre a sade e os estados relacionados com a sade do
indivduo.
1 Esta classificao pertence famlia das classificaes internacionais desenvolvidas pela Organizao Mundial
de Sade, utilizada no Servio Nacional de Sade na sua 10. verso.
2 Tal como a CID, esta classificao tambm pertence famlia das classificaes internacionais desenvolvidas
pela OMS.
Contributo para a implementao da CIF para a identificao de ganhos em sade nas doenas crnicas
3
Reconhecendo que a informao sobre os componentes de sade um indicador de ganhos
em sade, nomeadamente no contexto das doenas crnicas, e sabendo ainda que qualquer
modelo de gesto integrada das doenas crnicas est dependente da recolha de informao
sobre o estado de sade do indivduo ou populao, considera-se que a implementao do
modelo de registo de sade padronizado, que permita a descrio do estado de sade, poder
ser um contributo para a identificao de ganhos em sade e um facilitador na implementao
de modelos de gesto das doenas crnicas.
Neste sentido, determinou-se o seguinte problema de investigao: Apesar de se efectuar o
registo das doenas crnicas, no se registam os componentes de sade dos indivduos
portadores de doenas crnicas, de forma a identificar os ganhos em sade desta populao.
Para facilitar a construo de um modelo de raciocnio que contribusse para a resoluo do
problema de investigao apontado, definiu-se uma questo orientadora: Sendo a CIF uma
classificao de componentes de sade, como introduzir esta classificao para identificar
ganhos em sade na populao portadora de doenas crnicas no Sistema de Sade?
Para dar resposta a esta questo foi identificado um objectivo geral de estudo que expressasse
de modo genrico o contributo desta pesquisa metodolgica: Definir orientaes
estratgicas/linhas orientadoras, para o desenho da estratgia para a implementao da CIF no
Sistema de Sade.
Reconhecendo que o sucesso de um processo de implementao est dependente de diversos
factores, nomeadamente: barreiras/obstculos implementao; processos de formao;
desenho da estratgia/poltica de implementao, foram identificados trs objectivos
especficos sequenciais, para os quais foram desenhados procedimentos metodolgicos de
investigao distintos, utilizando amostras diferentes, dentro do mesmo universo de estudo:
1. Objectivo especfico Identificar as barreiras de implementao da CIF no Sistema
de Sade;
2. Objectivo especfico Identificar critrios relevantes para o planeamento de uma
aco educacional que facilite a implementao do registo das dimenses da
funcionalidade para as doenas crnicas no Sistema de Sade;
3. Objectivo especfico Identificar as oportunidades e ameaas, assim como os
pontos fortes e os pontos fracos da implementao da CIF no Sistema de Sade.
Contributo para a implementao da CIF para a identificao de ganhos em sade nas doenas crnicas
4
O tipo de estudo realizado caracterizou-se por ser qualitativo e seguir uma metodologia
descritiva transversal, apesar de cada objectivo especfico ter um mtodo de recolha de
informao distinto. Para o 1. objectivo especfico utilizou-se um grupo focal, para o 2.
objectivo especfico optou-se pela aplicao de um questionrio de questes fechadas e, por
fim, para o 3. objectivo especfico recorreu-se a um painel de peritos.
A populao deste estudo foi constituda por profissionais que se relacionam com o sector da
sade, com experincia profissional com pessoas portadoras de doenas crnicas e com
formao nas classificaes das OMS, nomeadamente da CIF, havendo amostras distintas
para cada objectivo especfico do estudo.
A discusso dos resultados obtidos foi realizada luz da literatura existente, permitindo
afirmar como concluses do estudo que:
1. A CIF uma mais-valia na sua aplicao individual e em contextos sociais, mais
especificamente na rea da clnica de reabilitao.
2. As barreiras ao processo de implementao desta classificao no Sistema de Sade
foram: o no reconhecimento da sua utilidade na rea da deciso poltica e avaliao
de necessidades como rea de interveno; a ausncia de modelo educacional para a
divulgao da CIF; a incompatibilidade com os actuais sistemas e modelos de registo
existentes no Sistema de Sade e, por fim, o desconhecimento dos modelos de
operacionalidade e aplicao da CIF pelos utilizadores.
3. O planeamento de uma aco de formao que facilite a implementao do registo das
dimenses da funcionalidade e sade segundo a CIF, dever contemplar a formao
presencial e em exerccio para grupos multiprofissionais. O objectivo ser o de
facilitar o processo de mudana e aumento da qualidade dos servios prestados,
utilizando o trabalho de equipa e as Tecnologias de Informao e Comunicao (TIC)
como metodologia pedaggica e recorrendo ao mtodo do estudo de caso, sendo a
formao concordante com a estratgia institucional.
4. Foram identificados mais pontos fortes e oportunidades que ameaas e pontos fracos
no processo de implementao da CIF, possibilitando a definio de orientaes
estratgicas para o processo de implementao da CIF no Sistema de Sade. Estas
orientaes centram-se no desenvolvimento de um modelo de operacionalizao da
CIF no Servio Nacional de Sade (SNS); no desenho de modelos de identificao de
Contributo para a implementao da CIF para a identificao de ganhos em sade nas doenas crnicas
5
ganhos em sade na populao com doenas crnicas, utilizando os domnios da CIF;
na promoo da utilizao da CIF como instrumento de comunicao no SNS; na
uniformizao dos conceitos entre as reas da sade e social; na construo de
modelos de formao para apresentao e divulgao da CIF a profissionais de sade,
na aco social e educativa, valorizando a mais-valia da sua utilizao; na avaliao da
viabilidade de aplicao da CIF em diferentes contextos e na identificao de
eventuais benefcios para as organizaes com a implementao da CIF no Sistema de
Sade.
Contributo para a implementao da CIF para a identificao de ganhos em sade nas doenas crnicas
6
2. ENQUADRAMENTO DA PROBLEMTICA
2.1 Doena crnica
A diminuio da mortalidade, em vrios pases, devido a infeces agudas, juntamente com o
desenvolvimento dos cuidados de sade, contribuiu para o aumento da esperana de vida,
conduzindo a um acrscimo da importncia da doena crnica como parte da experincia de
sade da populao, incluindo os efeitos do trauma, deficincias especiais em rgos dos
sentidos, doena mental, doenas crnicas, no meio ou no fim da vida (ex.: doenas do
corao, acidentes vasculares cerebrais, bronquites, artrites) (Badley, 1993).
A OMS define doena crnica como um problema de sade que requer uma gesto contnua
por perodos de anos ou dcadas. Considerando esta perspectiva, as condies crnicas
cobrem inmeras categorias: doenas no transmissveis (ex.: doenas cardio-vasculares,
cancro, diabetes); doenas transmissveis (ex.: sida); distrbios mentais (ex.: depresso,
esquizofrenia) e deficincias mantidas nas estruturas (ex.: amputao, cegueira, distrbios
articulares.
Existem muitas mais condies crnicas, mas o nico elemento que tm em comum, que a
doena crnica afecta a vida do indivduo em todas as sua dimenses, sociais, econmicas e
psicolgicas.
De acordo com o Despacho Conjunto n. 861/99, alnea b), do Ministrio da Sade e do
Ministrio do Trabalho e da Solidariedade, a doena crnica uma doena de longa durao
com aspectos multidimensionais, com evoluo gradual dos sintomas e potencialmente
incapacitante, que implica gravidade pelas limitaes nas possibilidades de tratamento mdico
e aceitao pelo doente cuja situao clnica tem de ser considerada no contexto da vida
familiar, escolar e/ou laboral, que se manifeste particularmente afectado. A experincia de
uma doena crnica de prognstico pouco favorvel elevar o nvel de sofrimento e colocar
a pessoa que apresenta a doena crnica presa sua condio de doente. Esta situao
conduzindo ao isolamento e ao desnimo pode diminuir a capacidade do doente crescer e
viver o presente e investir, quer nos processos teraputicos e aproveitar os recursos psico-
-afectivos e sociais, quer no futuro.
Contributo para a implementao da CIF para a identificao de ganhos em sade nas doenas crnicas
7
Os condicionalismos das doenas crnicas so complexos, multifactoriais e multisectoriais.
Para a OMS um dos condicionantes do aumento de incidncia e prevalncia das doenas
crnicas so os comportamentos de risco, como por exemplo a nutrio pouco saudvel, a
inactividade fsica, a prtica de sexo sem proteco, m gesto do stress, etc.
Perante esta constatao, a sade dos indivduos com doenas crnicas no pode ser
interpretada como algo de inato ou individual, pois relaciona-se com diferentes
condicionalismos (factores ambientais, condies de vida, ambiente social, estado mental e
social, factores familiares e psicolgicos).
2.1.1 Prevalncia das doenas crnicas
Nos pases membros da OMS, em 2005, 35 milhes de pessoas morreram devido a doenas
crnicas, o que significa que 60% das mortes a nvel mundial foram provocadas por doenas
crnicas e estima-se que, no ano 2020, as doenas crnicas sero responsveis por 78% do
peso global das doenas nos pases desenvolvidos.
Segundo Sobel (1979) (citado por J. Ribeiro, 1994:182), nos EUA, 50% da populao sofre
de uma doena crnica, passando este valor para 86% nos indivduos de mais de 65 anos
(Rodin e Salovey, 1989). Em Portugal, e mesmo a nvel mundial, possvel conhecer com
alguma exactido a percentagem de populao que, em determinado perodo de tempo,
faleceu e qual a sua causa de morte, com que idade e o sexo. Contudo, difcil quantificar a
percentagem de populao que, nesse perodo, desenvolveu uma doena crnica. Deste modo,
difcil conhecer a percentagem da populao portuguesa que tem doenas crnicas.
No entanto, podem fazer-se estimativas. Em Portugal as doenas crnicas esto agrupadas
em: neurolgicas (ex.: epilepsia); metablicas (ex.: diabetes); respiratrias (ex.: asma,
mucoviscidose); renais (ex.: insuficincia renal crnica); cardacas (ex.: acidentes vasculares
cerebrais, hipertenso arterial, doena isqumica do corao); transmissveis (ex.: sida) e
oncolgicas. Segundo F. Ferreira (1990), as principais causas de morte no pas so as doenas
cardacas e as oncolgicas. Neste sentido, as doenas crnicas so a principal causa de morte
da populao portuguesa, ultrapassando as doenas agudas.
O Observatrio Nacional de Sade (2005) realizou um inqurito a nvel de Portugal
continental para estimar a prevalncia auto-declarada de algumas doenas crnicas na
Contributo para a implementao da CIF para a identificao de ganhos em sade nas doenas crnicas
8
populao3 com mais de 64 anos, verificando-se que, num universo de 2820 indivduos, 64%
(n=1812), refere ser portador de doena crnica, sendo as mais referenciadas as doenas
reumticas, seguidas da hipertenso arterial e asma.
Relativamente s doenas de declarao no obrigatria, a OMS indica que estas doenas
como as doenas cardiovasculares, a diabetes, a obesidade, o cancro e as doenas
respiratrias, representam cerca de 59 % do total de 57 milhes de mortes por ano e 46 % do
total de doenas, afectando pases desenvolvidos e pases em vias de desenvolvimento.
Embora a doena crnica seja muitas vezes associada a pessoas idosas, ser redutor afirmar
que s estas so afectadas pelas doenas crnicas. Muitas doenas crnicas como a diabetes,
os problemas cardiovasculares, crebro-vasculares, doena de Parkinson e Alzheimer podem
afectar qualquer indivduo independentemente da sua idade.
2.1.2 Impacto econmico das doenas crnicas
A OMS estima que para as doenas crnicas sejam canalizados cerca de 60-80% dos recursos
globais investidos na sade. O impacto das doenas crnicas muito mais que os gastos com
a teraputica medicamentosa. Numa perspectiva econmica, e conforme a OMS, os custos
identificados so sentidos por toda a sociedade:
1. Pacientes e famlia custos mensurveis incluindo os gastos com os cuidados
mdicos, reduo dos dias de trabalho, desemprego. Os pacientes e as suas famlias
contraem custos que vo para alm do valor monetrio calculado, e que esto
relacionados com a diminuio da esperana mdia de vida, as condies relacionadas
com a incapacidade, participao e diminuio da qualidade de vida.
2. Os sistemas de sade pagam grande parte dos cuidados mdicos, mas tambm
suportam muitos dos gastos que esto a jusante aos custos com o tratamento, ex.:
meios complementares de diagnstico.
3 O inqurito realizou-se no ltimo trimestre de 2004 atravs duma entrevista telefnica aleatria a um elemento
de 18 anos ou mais em 1211 unidades de alojamento (UA), com telefone fixo, existindo nestas UA 3434
indivduos. Obtiveram-se 975 questionrios vlidos que se referem a 2820 indivduos.
Contributo para a implementao da CIF para a identificao de ganhos em sade nas doenas crnicas
9
3. Os profissionais de sade podem sentir-se frustrados no tratamento de situaes
crnicas e os gestores da rea da sade ficam insatisfeitos com os resultados e o
desgaste de recursos.
4. Os governantes, os empregadores e a sociedade sofrem porque perdem trabalhadores
devido a morte, incapacidade, morbilidade relacionada com condies crnicas, sendo
que estas ltimas provocam a maior perda de potencial produtivo.
Como no existem registos estatsticos da populao portadora de doenas crnicas em
Portugal, e sabendo que a incapacidade permanente est muitas vezes associada s doenas
crnicas, podemos especular sobre o impacto econmico das doenas crnicas atravs das
estatsticas da incapacidade permanente.
Segundo o Observatrio Nacional de Sade, no ano 2000, Portugal tinha 19 411 pessoas
includas no programa de penses para incapacidades permanentes, o que representa 0,2% do
total da populao. Deste conjunto de populao, 79% tm incapacidade inferior a 50% e
21%; isto 4049 pessoas padecem de incapacidades superiores a 50%. No Grfico 1
apresenta-se a distribuio por grupos etrios; assim, observa-se que 35% deste colectivo de
pensionistas formado por pessoas maiores de 65 anos, o que indica que a grande
percentagem de pessoas com incapacidade permanente no idosa (65%, este valor significa
12 613 pessoas).
Grfico 1 Pensionistas com incapacidade permanente por grupo etrio
Fonte: Observatrio Nacional de Sade, 2005.
Contributo para a implementao da CIF para a identificao de ganhos em sade nas doenas crnicas
10
Da mesma forma que para o conjunto de penses de velhice, as penses por incapacidade
permanente tambm aumentaram de forma significativa: 22% entre 1990 e 2000 (Grfico 2).
Grfico 2 Evoluo de pensionistas com incapacidade permanente
Fonte: Observatrio Nacional de Sade, 2005.
O aumento do nmero de pensionistas com incapacidade permanente , sem dvida, um
indicador do acrscimo dos gastos em sade associados s doenas crnicas.
As doenas crnicas podem provocar uma espiral descendente de pobreza e condicionar o
desenvolvimento econmico de muitos pases. Segundo a OMS, na maioria dos pases, a
pessoas pobres esto mais expostas ao risco de desenvolver doenas crnicas e morrer
prematuramente por varias razes, incluindo grande exposio ao risco e acesso dificultado
aos servios de sade.
Apesar do peso econmico das doenas crnicas no s para o SNS como para os subsistemas
de sade, os utentes e as suas famlias, existe ainda a evidncia cientfica da coexistncia de
patologia crnica mltipla. Num doente crnico, coexistem, em mdia, cerca de cinco
condies crnicas, o que significa que cada doente crnico tem necessidades especiais e
requer ateno particularizada.
Sabe-se, tambm, que os doentes crnicos consultam com maior frequncia o seu mdico de
famlia, necessitam de um acompanhamento integrado e tm maior probabilidade de ser
internados e com demoras mdias superiores.
Contributo para a implementao da CIF para a identificao de ganhos em sade nas doenas crnicas
11
Dentro deste cenrio, a OMS estima que as condies crnicas, que lidam com algum tipo de
incapacidade, se no tiverem um programa de gesto eficiente, em 2020, sero o problema
mais dispendioso dos sistemas de sade.
O Ministrio da Sade consciente desta necessidade, tem tentado promover, na ltima dcada,
a implementao de programas de gesto de doenas crnicas e monitorizao dos seus
efeitos na melhoria da qualidade de vida dos doentes, trabalhando em parceria com os doentes
e associaes da sociedade civil. Segundo a OMS, o custo com cuidados de sade torna-se
excessivo quando as condies crnicas so mal geridas. Outro factor que torna os custos da
doena crnica muito evidentes uma fraca demonstrao da relao custo-benefcio,
nomeadamente devido falta de demonstrao de resultados ou identificao de ganhos em
sade no contexto das doenas crnicas.
2.1.3 Gesto da doena crnica
A gesto da doena uma abordagem integrada e compreensiva de sistemas para a gesto de
populaes de doentes, com condies de sade ou doenas bem definidas, ao longo do
contnuo de cuidados de sade, usando equipas de cuidados de assistncia para ajudar na
educao e cuidado aos seus membros ou associados (Juhn, 1998). Este modelo de gesto
apoia os servios de sade e a sua relao com o paciente e o planeamento dos cuidados
(promoo da sade, preveno da doena, diagnstico e reabilitao), enfatiza a preveno
de episdios agudos e de complicaes utilizando guidelines clnicas e estratgias de
empowerment do paciente, avalia os resultados clnicos, a humanizao da prestao dos
cuidados de sade e os aspectos econmicos numa base de progresso com o objectivo da
melhoria global da sade, aps as intervenes do programa (Teixeira, 2007).
Os modelos de gesto, que esto focados nos custos e na utilizao em cada unidade de
prestao, centram o seu modelo de aco no prestador, enquanto os modelos de gesto da
doena esto focados nos resultados atravs de unidades para populaes de doentes,
centrando o seu modelo de aco no doente.
A implementao de um modelo de gesto da doena requer mudanas nas infra-estruturas
operacionais existentes. Segundo Bellingham (2004), os componentes chave dessa mudana
so: os cuidados prestados por equipas multidisciplinares que optimizam as competncias
particulares dos diferentes profissionais de sade; a integrao de peritos generalistas e
Contributo para a implementao da CIF para a identificao de ganhos em sade nas doenas crnicas
12
especialistas; a utilizao dos sistemas de informao para ter acesso aos dados individuais e
populacionais, identificando os doentes com doenas crnicas e estratificando os doentes por
risco; o envolvimento dos doentes nos seus autocuidados; a coordenao dos cuidados,
atravs do papel de gestores de caso; a integrao de cuidados atravessando as barreiras
organizacionais; a implementao da medio de resultados e feedback; o desenvolvimento e
implementao de medidas de educao para a sade e programas de empowerment, baseados
em modelos de prtica baseados na evidncia cientfica disponvel.
Os benefcios resultantes da implementao de um modelo de gesto da doena so: melhor
sade; reduo dos custos atravs da preveno; evitar a progresso de processos
degenerativos; transformao dos doentes de participantes passivos para autogestores activos;
desenvolvimento de uma abordagem de prestao de cuidados baseada em equipas, onde se
enfatizam os papis nicos e complementares de mdicos e no mdicos.
A evidncia do sucesso dos modelos de gesto integrados da doena pode ser ilustrada pelo
estudo piloto de gesto activa por condio clnica, realizado em Castlefields Health Centre
em Inglaterra (Department of Health, 2004). Este estudo demonstrou uma reduo de 15% na
admisso de pessoas idosas, uma diminuio do tempo de internamento em 31% (passou de
6,2 dias para 4,3 dias). O uso dirio de cama hospitalar por dia, neste grupo, diminuiu 41%.
Verifica-se ainda um aumento das ligaes entre o hospital e outras agncias na comunidade,
referncia mais rpida de utentes para outros servios sociais, o que um indicador de
avaliao de desempenho positivo para este modelo de gesto de servios de sade.
Os doentes que mais beneficiam destes programas so os portadores de doenas crnicas, de
elevada prevalncia, e/ou doenas complexas associadas a uma variao da prtica clnica
significativa, e/ou para doenas compreendendo um grande volume ou custos elevados
(Teixeira, 2007).
No contexto das doenas crnicas, este modelo de gesto no s faz diferena na qualidade de
vida dos pacientes, como tambm faz sentido para os sistemas de sade porque diminui os
custos, diminui os episdios de casos agudos que requerem gesto intensiva ou por vezes
hospitalizaes, acreditando-se que aumenta o tempo de vida das pessoas portadoras de
doenas crnicas (Bellingham, 2004).
Apesar da necessidade de mudanas culturais ao nvel do doente e do prestador de cuidados, o
modelo de gesto de doenas crnicas est dependente dos sistemas de informao clnica,
Contributo para a implementao da CIF para a identificao de ganhos em sade nas doenas crnicas
13
nomeadamente do ficheiro electrnico das avaliaes de riscos de sade e da troca electrnica
de dados, de forma a mover informao/conhecimento e no pessoas, sendo necessrio que os
sistemas de informao possibilitem o interface com o doente, com o prestador e o consultor.
Outro condicionante da implementao dos modelos de gesto de doena o acesso
informao de sade do utente ou de uma populao.
O acesso informao do estado de sade permite obter uma imagem instantnea do estado
de sade e bem-estar de um indivduo (McColl, 1997), e possibilita aos profissionais de sade
obter um quadro completo dos seus doentes ou s autoridades de sade a identificao de
padres de necessidades das populaes locais (Fitzpatrick, 1994). Permite igualmente
diagnosticar, examinar e/ou detectar a presena de problemas de sade e constatar
necessidades de tratamento, prever a preferncia de/e por cuidados e melhorar a comunicao
prestador/doente (McColl, 1997).
No contexto das doenas crnicas, em Portugal, a informao do estado de sade do utente ou
das populaes, no est acessvel de forma uniformizada num s documento, encontrando-se
repartida pelos diversos processos clnicos das diferentes instituies que prestam cuidados
aos utentes com doenas crnicas.
2.2 Ganhos em sade nas doenas crnicas
A expresso ganhos em sade internacionalmente adoptada como enunciado positivo de
um desejo de melhorar o nvel de todos os indicadores de sade, sobretudo daqueles em que,
manifestamente, uma populao se distancia mais das que apresentam melhores resultados.
O conceito de ganhos em sade pode traduzir-se de diferentes modos: ganhos em anos de vida
que deixam de ser perdidos (acrescentar anos vida); reduo de episdios de doena ou
encurtamento da sua durao (acrescentar sade vida); diminuio das situaes de
incapacidade temporria ou permanente devido a doenas, traumatismos ou s suas sequelas e
aumento da funcionalidade fsica e psicossocial (acrescentar vida aos anos); reduo do
sofrimento evitvel e melhoria da qualidade de vida relacionada ou condicionada pela sade
(Ministrio da Sade, 1998).
Dado que a identificao de ganhos em sade permite acompanhar o estado de sade de uma
populao, obter ganhos em sade um dos objectivos estratgicos do Programa Operacional
Contributo para a implementao da CIF para a identificao de ganhos em sade nas doenas crnicas
14
Sade 2000-2006 e do Plano Nacional de Sade 2004-2010. Este programa e plano so
desenvolvidos pelo Ministrio da Sade, que sugere uma abordagem centrada na famlia e no
ciclo de vida, potenciando uma viso mais integrada do conjunto dos problemas de sade por
grupos etrios e papis sociais, recorrendo gesto integrada da doena, atravs do
reconhecimento de prioridades no desenvolvimento de planos e programas e na criao de
normas e de sistemas de monitorizao e vigilncia.
Apesar do esforo dos sistemas de informao nacionais sobre a sade, as necessidades so
ainda grandes, sobretudo no que respeita aos dados de morbilidade. Salienta-se que a maior
limitao para a identificao destes dados a indisponibilidade, em alguns domnios, de
indicadores suficientemente fidedignos, que permitam uma objectivao do que seria
desejvel medir.
Os ganhos em sade obtidos na rea da incapacidade e doenas crnicas no se encontram
quantificados. Estes ganhos resultantes da aco conjunta de polticas sectoriais que
atravessam todo o tecido social, traduzem-se, essencialmente, na maior consciencializao
pblica do direito integrao e participao destas pessoas na vida social, assim como do
direito ao acesso mxima autonomia possvel.
As doenas crnico-degenerativas tm sido fonte de aceso debate, sobretudo no que se refere
s respostas mais adequadas, no s para o seu tratamento, mas tambm para a sua preveno
e para as implicaes na organizao dos servios de sade. Para alm de serem as mais
prevalentes na populao adulta, so susceptveis de ser controladas, em parte, pelos prprios
doentes. Como tal, a sua abordagem de uma forma compreensiva cria oportunidades nicas
para se inovar na procura das respostas necessrias, em parceria com os doentes. De forma a
validar estas respostas, torna-se premente a existncia de um mecanismo de identificao de
ganhos em sade, que facilite a demonstrao de resultados, no s s instituies que
prestam cuidados, como aos diferentes profissionais que prestam cuidados e aos prprios
interessados utentes portadores de doenas crnicas.
Contributo para a implementao da CIF para a identificao de ganhos em sade nas doenas crnicas
15
2.2.1 A funcionalidade como indicador de ganhos em sade
A funcionalidade humana encontra-se definida de muitas maneiras. A definio de Jette e
Haley (2000), refere-se capacidade do indivduo para realizar as actividades da vida diria e
para participar em vrias situaes da vida e da sociedade, incluindo desta maneira as
dimenses, fsica, emocional e cognitiva. Logo, a avaliao funcional refere-se ao processo de
identificar e descrever num contnuo a funcionalidade do paciente. Autores com Berman et al.
(1999) e Fried et al. (2001) afirmam que o estado funcional, alm de ser um indicador do
estado de sade, um ptimo indicador de previso dos custos dos cuidados de sade.
Desde 2001 que o Relatrio do Comit de Qualidade dos Servios de Sade do Instituto de
Medicina do Canad refere que os cuidados de sade de qualidade devem estar centrados na
optimizao do estado funcional, que a principal preocupao dos pacientes e das suas
famlias (Clauser, 2003). No Canad, a avaliao da funcionalidade faz parte de alguns
programas com o objectivo de ser utilizada no s como indicador de ganhos em sade, mas
tambm como indicador do desempenho dos servios de sade.
A avaliao da funcionalidade humana como indicador de ganhos em sade no tem sido
prtica corrente, embora os mdicos frequentemente realizem a avaliao do estado funcional,
na sua prtica clnica, como guia para a tomada de decises clnicas e a avaliao da terapia
prescrita (ex.: dificuldade em andar na artrite e na dor do joelho, sensao de falta de ar,
dispneia na doena cardaca congestiva). Contudo, na prtica hospitalar de ambulatrio a
avaliao do estado funcional no uma prtica rotineira, consistente ou compreensvel
(Reuben, 2002).
A incluso da avaliao da funcionalidade humana como um indicador de ganhos em sade
de forma sistemtica tem tido algumas barreiras:
1. A informao recolhida ainda no est coordenada, por exemplo: os beneficirios do
sistema de sade podem obter servios em mltiplos contextos e de vrios prestadores,
cada um com os seus registos e sistemas de informao (Hawes et al., 1995);
2. Estes mecanismos so frequentemente independentes e no so integrados no processo
clnico, mesmo quando o estado funcional registado, no se encontra bem
documentado, o que pode originar cuidados subptimos;
Contributo para a implementao da CIF para a identificao de ganhos em sade nas doenas crnicas
16
3. Por fim, mesmo quando essa informao est registada, difcil avaliar os resultados
devido mobilidade dos utentes pelos diferentes prestadores de cuidados pblicos e
privados.
Apesar das possveis barreiras que condicionam a avaliao da funcionalidade, a incluso dos
componentes de funcionalidade nos sistemas de recolha de informao uma prioridade, no
s por ser um indicador de sade, mas tambm por contribuir para a identificao de ganhos
em sade, nomeadamente no contexto das doenas crnicas.
2.3 A CIF
Reconhecendo que a informao sobre a funcionalidade e o estado de sade um indicador de
ganhos em sade, nomeadamente, no contexto das doenas crnicas e sabendo ainda que
qualquer modelo de gesto integrada da doena crnica est dependente da recolha de
informao sobre o estado de sade do indivduo ou populao, considera-se que a
implementao de modelo de registo de sade padronizado, que permita a descrio do estado
de sade, poder ser um contributo para a identificao de ganhos em sade e um facilitador
na implementao de modelos de gesto das doenas crnicas.
A CIF pertence famlia das classificaes internacionais desenvolvida pela OMS4 e tem
aplicao em vrios aspectos da sade, nomeadamente na identificao de ganhos em sade.
O seu objectivo principal fornecer uma linguagem unificada padronizada e uma referncia
conceptual para a descrio de sade e dos estados relacionados com a sade.
Para descrever a sade individual e das populaes, a OMS desenvolveu a famlia de
classificaes internacionais. Esta famlia de classificaes composta por duas classificaes
principais: CID e CIF, s quais esto associados outros grupos de terminologia (Figura 1, pg.
17). Estas classificaes fornecem um sistema para a codificao de uma ampla gama de
informaes. Nestas classificaes utiliza-se uma linguagem comum e padronizada para
permitir a comunicao em todo o mundo, entre vrias disciplinas e cincias.
4 A famlia de classificaes internacionais da OMS constitui uma ferramenta valiosa para a descrio e a
comparao da sade das populaes num contexto internacional, proporciona ainda um sistema para a
codificao de uma ampla gama de informaes sobre sade (e.g. diagnstico, funcionalidade e incapacidade,
motivos de contacto com os servios de sade).
Contributo para a implementao da CIF para a identificao de ganhos em sade nas doenas crnicas
17
A necessidade de complementaridade da CID e da CIF surge do facto de uma ser centrada nas
causas da doena e a outra na sade da pessoa. Enquanto a CID uma classificao
internacional estatstica de doena e de problemas relacionados com a sade, que recorre a um
modelo etiolgico para a classificao por diagnstico de doena, distrbios de sade,
associada causa da doena, a CIF a classificao de funcionalidade e incapacidade
associadas s condies de sade, para medir a sade e a incapacidade tanto a nvel individual
como populacional. Se a CID classifica as doenas e as causas de morte, a CIF classifica a
sade. Em conjunto, a aplicao destas duas classificaes permite, de forma ampla e ao
mesmo tempo fivel, conhecer a sade de uma populao e a maneira como o ambiente
interage com o indivduo dificultando ou promovendo uma vida em todo o seu potencial.
De acordo com Bickenbach (2003), estudos demonstram que o diagnstico por si s no
prev as necessidades dos servios de sade do tempo de internamento, do nvel de cuidados
ou resultados funcionais. Nem a presena de doena um indicador fivel para a atribuio de
subsdios de incapacidade, definio de desempenho do trabalho, probabilidades de
integrao social. Sendo assim, a utilizao da CID e da CIF complementam-se na medida
que s a informao recolhida de ambas permite descrever a sade das populaes.
Figura 1 Famlia das Classificaes Internacionais da OMS 2005
Fonte: Classificao Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Sade. Direco-Geral da
Sade, Lisboa (2004).
PPrroocceeddiimmeennttooss ddee
iinntteerrvveennoo
RRaazzeess ddee
eennccoonnttrroo
CCIIDD--1100
CCllaassssiiffiiccaaoo
IInntteerrnnaacciioonnaall ddaass
DDooeennaass ee pprroobblleemmaass
rreellaacciioonnaaddooss ccoomm aa
ssaaddee
CCIIFF
CCllaassssiiffiiccaaoo
IInntteerrnnaacciioonnaall ddee
FFuunncciioonnaalliiddaaddee,,
IInnccaappaacciiddaaddee ee SSaaddee
IINNDD
NNoommeennccllaattuurraa ddee
ddooeennaass
AAddaappttaaeess
eessppeeccffiiccaass
AAddaappttaaoo
ccuuiiddaaddooss pprriimmrriiooss
PPrroodduuttooss aassssoocciiaaddooss CCllaassssiiffiiccaaeess pprriinncciippaaiiss AAddaappttaaeess
Contributo para a implementao da CIF para a identificao de ganhos em sade nas doenas crnicas
18
A OMS considera que a CIF deve ser utilizada em simultneo com a CID 10 (10. Reviso),
uma vez que se complementam, a CID fornece um modelo baseado na etiologia, anatomia e
causas externas das leses, e a CIF regista o impacto das condies de sade no indivduo
(Farias e Buchalla, 2005; OMS, 2004).
Os objectivos especficos da CIF podem resumir-se em:
1. Proporcionar uma base cientfica para a compreenso e estudo da sade e dos estados
com ela relacionados;
2. Estabelecer uma linguagem comum para descrever a sade e os estados relacionados
com ela, para melhorar a comunicao entre os distintos utilizadores, tais como
profissionais da sade, investigadores, gestores de polticas sanitrias e a populao
geral, incluindo as pessoas com incapacidades;
3. Permitir a comparao de dados entre pases, entre organizaes de sade, entre os
servios, e em diferentes momentos ao longo do tempo;
4. Proporcionar um esquema de codificao sistematizado para ser aplicado nos sistemas
de informao de sade.
Assim como o conceito de sade, a CIF evoluiu de uma classificao de consequncias de
doenas (verso de 1980 ICIDH International Classification of Impairments, Disabilities
and Handicaps) para uma classificao de componentes de sade5. Estes componentes de
sade identificam os constituintes da sade, enquanto as consequncias se referiam ao efeito
devido s doenas ou outras condies de sade.
O facto de se deixar de valorizar as consequncias da doena e passar a valorizar os
componentes de sade implicou mudanas de nomenclaturas e conceitos de interpretao
do estado de sade (Quadro 1, pg. 19).
5 A classificao define os componentes da sade e alguns componentes do bem-estar relacionados com a
sade, tais como educao e trabalho.
Contributo para a implementao da CIF para a identificao de ganhos em sade nas doenas crnicas
19
Quadro 1 Mudana de conceito da ICIDH para a CIF
ICIDH CIF
Consequncias da doena vs Componentes da sade
No s incapacidade vs Funcionamento humano
Deficincias vs Funes corporais
Estruturas corporais
Limitao de actividades/incapacidade vs Actividades
Handicap vs Participao
Fonte: Classificao Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Sade. Direco-Geral da
Sade, Lisboa (2004).
A CIF reflecte uma relao interactiva entre as condies de sade e factores contextuais.
Apresenta como principais alteraes, em relao ao modelo anterior, a substituio de termos
negativos como impairment, incapacidade e handicap, por termos neutros, estrutura e funo
corporal, actividade e participao, respectivamente. Neste modelo, o termo incapacidade
representa uma interaco dinmica entre a pessoa e o ambiente, contrastando com o modelo
anterior em que a incapacidade reside apenas no indivduo. Esta alterao considera a
incapacidade um produto da interaco da pessoa com a comunidade/sociedade em que est
inserida. A alterao na terminologia reflecte tambm a identificao da participao como
um resultado importante em sade (Rosenbaum e Stewart, 2004).
Segundo o modelo conceptual (Figura 2, pg. 20) que suporta esta classificao, o estado de
sade do indivduo abordado segundo um conceito positivo, enfatizando os recursos sociais
e pessoais, bem como as capacidades fsicas dentro do contexto dos factores contextuais. Os
factores contextuais representam o histrico completo da vida e do estilo de vida de um
indivduo. Eles incluem dois componentes: factores ambientais e factores pessoais, que
podem ter efeito num indivduo com uma determinada condio de sade e sobre a sade e os
estados relacionados com a sade do indivduo.
O construct bsico do componente dos factores ambientais o impacto facilitador ou
limitador das caractersticas do mundo fsico e social. Veja-se o seguinte exemplo: duas
pessoas com a mesma condio de sade podem ter nveis diferentes de funcionalidade, e
Contributo para a implementao da CIF para a identificao de ganhos em sade nas doenas crnicas
20
duas pessoas com o mesmo nvel de funcionalidade no tm necessariamente a mesma
condio de sade. Uma vez que a condio de sade est dependente dos diversos factores
contextuais (quer ambientais, quer pessoais).
Figura 2 Modelo conceptual da CIF Interaco entre os seus componentes
Fonte: Classificao Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Sade. Direco-Geral da
Sade, Lisboa (2004).
Com o objectivo de operacionalizar a utilizao desta classificao, de forma generalizada,
foram construdos dois instrumentos genricos baseados nesta classificao que inclussem
todas as dimenses da sade identificadas pela CIF a ICF Checklist (Anexo 1, pg. 110) e
WHO Disability Assessement Schedule II (WHO DAS II).
A ICF Checklist um instrumento construdo para que a aplicao desta classificao no
permita ao utilizador classificar pessoas, mas descrever a situao de cada pessoa dentro de
uma gama de domnios de sade ou relacionados com a sade. Afasta-se da abordagem
patognica e do modelo de interpretao biomdico, passando a registar perfis teis da
funcionalidade dos indivduos em vrios domnios, segundo Battistella (2002).
A WHO DAS II um instrumento de avaliao que determina um score de incapacidade
baseado nos domnios da participao e actividade presentes na CIF. De acordo com esta
classificao, o conceito de funcionalidade um termo que engloba todas as funes do
corpo, actividades e participao, enquanto o termo incapacidade inclui as deficincias,
limitao da actividade ou restrio na participao. A classificao relaciona tambm com
estes componentes os factores ambientais (Battaglia, 2004; CIF, 2004).
Contributo para a implementao da CIF para a identificao de ganhos em sade nas doenas crnicas
21
A CIF ao intitular-se uma classificao de abordagem universal, com aplicao no s em
domnios da sade, como em domnios sociais, educacionais, polticos, epidemiolgicos e
profissionais, poder dar um contributo para a compreenso do porqu certas pessoas certas
vezes, sofrem menos que outras e progridem para o plo da vitalidade (Antonovsky, 1967).
Apesar do interesse pela adopo desta classificao, existem ainda poucos estudos que
avaliem o seu impacto na rea da sade, talvez devido ao facto de ser ainda uma classificao
recente, complexa e que apresenta um certo grau de dificuldade na sua aplicao, segundo
Farias e Buchalla (2005). Do ponto de vista prtico, a sua aplicao requer alguma
disponibilidade, alm dos aspectos inerentes mudana de conduta por parte dos profissionais
da rea da sade.
2.3.1 Aplicaes da CIF
A CIF verstil e mais abrangente que os tradicionais sistemas da classificao de sade e
incapacidade, possuindo um elaborado sistema de codificao que, segundo a OMS, garante a
sua fidedignidade, pretendendo, assim, dar um contributo para a recolha de informao por
nveis de funcionalidade de forma consistente e comparvel internacionalmente e ser um
instrumento para descrever funcionalidade na sociedade, no interessando quais as razes das
suas deficincias.
Devido s suas caractersticas, a CIF tem vrios nveis de aplicao (Quadro 2, pg. 22),
podendo ser utilizada em diversos sectores (Quadro 3, pg. 23), sade, seguros, segurana
social, trabalho, educao, economia, poltica social, desenvolvimento de polticas e de
legislao. Permite ainda a descrio e comparao da sade das populaes num contexto
internacional (CIF, 2004; Cieza e colaboradores, 2004; Farias e Buchalla, 2005; WHO, 2002).
Referindo a experincia do Canad, como um dos pases que contribuiu para a formulao da
CIF, segundo Bickenbach (2003) a razo da introduo da CIF no sistema estatstico
canadiano foi a utilizao da informao do estado funcional das populaes, no apenas para
expandir a informao da sade das populaes, mas tambm para tratar a incapacidade como
uma varivel demogrfica. Esta varivel usada para analisar o grau de participao de
pessoas com incapacidade em vrios contextos de vida, includos nos inquritos sociais, como
Contributo para a implementao da CIF para a identificao de ganhos em sade nas doenas crnicas
22
Quadro 2 Nveis de aplicao da CIF
Fonte: Classificao Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Sade. Direco-Geral da
Sade, Lisboa (2004).
Nvel
individual
Avaliao dos indivduos: qual o nvel de funo da pessoa?
Para planeamento individual de tratamento: que tratamento ou intervenes podem
maximizar a funo?
Para avaliao do tratamento e outras intervenes: quais so os resultados de um
tratamento? Qual a utilidade de uma interveno?
Para a comunicao entre mdicos, enfermeiros e outros profissionais de sade, servios
sociais e comunitrios
Para a regulao dos consumidores: como que avalio ou classifico a minha capacidade na
mobilidade e comunicao?
Nvel
institucional
Para efeitos de educao e formao
Como um recurso para o planeamento e desenvolvimento: que cuidados de sade e aumento de servios vo ser necessrios?
Para o aumento da qualidade: como vai servir os clientes, quais os indicadores bsicos para
avaliao da qualidade e se so vlidos e fidedignos?
Para efeitos da gesto e avaliao dos resultados: qual a utilidade dos servios fornecidos?
Para modelos de gesto de cuidados de sade: qual a relao custo-eficcia, como que o
servio pode ser aperfeioado com melhores resultados e menos custos?
Nvel social
Criar critrios de seleco, para benefcios sociais subsdios de incapacidade ou
compensao e seguros
Desenvolvimento de polticas sociais, incluindo revises legislativas modelos legislativos,
regulao e linhas orientadoras, definio e legislao anti-discriminativa
Para efeitos de avaliao quais as necessidades das pessoas com vrios nveis de
incapacidades, deficincia ou limitaes da actividade restries participao nas
actividades?
Para a avaliao de ambientes Para o desenho ou construo universal, implementao de
acessibilidades, identificao de facilitadores e barreiras ambientais
Alteraes poltico-sociais como que podemos construir ambientes sociais mais
acessveis para todas as pessoas com ou sem incapacidade e se podemos medir os ganhos?
Contributo para a implementao da CIF para a identificao de ganhos em sade nas doenas crnicas
23
Quadro 3 reas de interveno da CIF
Fonte: Classificao Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Sade. Direco-Geral da Sade, Lisboa (2004).
Deciso poltica
Desenvolvimento de polticas com mais rigor e fidedignidade: nas reas da sade, segurana
social, emprego, educao e transportes
Definio de legislao e regulamentao de incapacidade segundo um modelo coerente.
Exemplo: sistema regulador para o acesso s tecnologias de apoio, definio de critrios de
seleco para penses de incapacidade
Impacto da incapacidade ao nvel econmico e social
Anlise
econmica
Determinao de recursos utilizados na sade e nos servios sociais, para serem custeados e
comparados internacionalmente
Informao do custo (peso) da deficincia em vrias doenas e condies de sade
Contabilizao do impacto econmico na limitao funcional, comparado com os custos de
alteraes ambientais.
Avaliao de
necessidades
Avaliao e comparao de resultados em populaes similares, por existirem padres de
utilizao e permitir comparao de diferentes intervenes:
reas de avaliao de necessidades satisfao do consumidor; desempenho de servios;
resultados; custo-eficincia; registos electrnicos e terminologia clnica
Investigao
Avaliaes comuns doena e funcionalidade
Capacidade explicativa e de comparao em diferentes reas: utilizao; necessidades;
custos; resultados; custo-eficincia das intervenes
Avaliaes comuns doena e funcionalidade
Clnica de
reabilitao
Distinguir a interveno e a codificao de ganhos em sade luz dos aspectos da
incapacidade
Ajuste no modelo de raciocnio clnico modelo biomdico/modelo bio-psico-social
Interveno focada no aumento da actividade, desempenho e modificao do ambiente
Factores
ambientais
Identificao de barreiras ambientais e facilitadores da capacidade e do desempenho do
indivduo
Construo de instrumentos que avaliem o ambiente presena de barreiras ou facilitadores para diferentes tipos de incapacidade
Desenho de linhas orientadoras universais de reguladores ambiental que ampliem o nvel de
funcionalidade das pessoas com incapacidade, em determinado tipo de actividade
Contributo para a implementao da CIF para a identificao de ganhos em sade nas doenas crnicas
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educao, emprego, transportes. Esta informao possibilita decises polticas alargadas, que
ligam os resultados e os gastos do sistema de sade com os custos e resultados dos servios
sociais.
Esta uma oportunidade para salientar o valor de recolher dados comparveis acerca do
estado funcional em vrios contextos clnicos. Os avanos cientficos na teraputica mdica,
juntamente com a inovao da medicina na rea da geriatria, esto a fornecer novos contextos
clnicos que melhoram a funcionalidade do paciente (Bierman e Spector, 2001).
2.3.2 Implementao da CIF
Com o objectivo de facilitar a gesto de recursos e de dar resposta s necessidades polticas, a
OMS e as equipas de trabalho das Classificaes Internacionais (FIC Network), definiram
critrios para a seleco de reas prioritrias que beneficiariam com a implementao da CIF,
valorizando as oportunidades internacionais que permitiram definir uma estratgia de
implementao.
Critrios para seleco das reas prioritrias para a implementao da CIF
1. reas de sade pblica mais importantes (actuais e no futuro)
2. Necessidades precisas e fraca capacidade de terminar com as falhas de informao sobre o estado de sade das populaes
3. rea onde a CIF pode produzir o mximo impacto
reas prioritrias que beneficiam com a implementao da CIF
1. Sade e estatsticas da incapacidade
2. Medio de resultados para uso clnico e epidemiolgico
3. Certificao da incapacidade
Oportunidades internacionais que facilitaram o processo de implementao da CIF
1. Exigncia dos governos/governantes em obterem informao e resultados
2. Direitos dos consumidores comeam a ser reconhecidos
3. Necessidade de um trabalho de equipa comum para uma melhor recolha de dados
4. Medio efectiva na maior parte das iniciativas de sade
Contributo para a implementao da CIF para a identificao de ganhos em sade nas doenas crnicas
25
5. Gesto de desafios eficientemente
6. Ultrapassar a resistncia mudana
2.3.3 Estratgia de implementao da CIF
Na tentativa de responder s seguintes questes:
1. Quais as vantagens de implementao da CIF?
2. O que que a OMS e as FIC Network fazem bem?
3. Quais os estudos a realizar?
4. O que que os utilizadores finais identificam como pontos fortes?
Caulfeild (2003) realizou uma anlise SWOT (Quadro 4, pg. 27) do acesso e implementao
da CIF, com o objectivo de identificar uma estratgica que facilitasse o processo de
implementao da CIF, nos pases membros da OMS. Isto permitiu OMS e s FIC Network
estabelecerem linhas orientadoras, assim como pontos de referncia para a implementao da
CIF. As direces estratgicas pretendem traar reas de interveno prioritrias, enquanto as
linhas de orientao e os pontos de referncia pretendem orientar e avaliar o progresso da
implementao da CIF nos diferentes sectores.
Direces estratgicas para a implementao da CIF, sugeridas pela OMS:
1. Estabelecer a CIF como um modelo conceptual oficial para a medio da sade e
incapacidade na populao em geral atravs dos Estados-membros, de forma a
promover a qualidade e comparabilidade das estatsticas da sade e incapacidade para
objectivos nacionais e internacionais;
2. Instituir a CIF como a principal medida de resultados a nvel administrativo e clnico
com o objectivo de quantificar ganhos em sade, resultantes de programas de
tratamento e compreender como esses ganhos se traduzem em ganhos de
produtividade a nvel individual e populacional;
3. Implementar a CIF na poltica social direccionada para a certificao da incapacidade
no modelo conceptual da CIF;
4. Utilizar os aspectos polticos da CIF, para identificar nveis de funcionalidade
baseados na evidncia, como a nova dimenso da participao e do ambiente na
anlise de dados, ao contrrio de definir incapacidade com categorias de deficincias.
Contributo para a implementao da CIF para a identificao de ganhos em sade nas doenas crnicas
26
Com o objectivo de facilitar o processo de demonstrao e construo de infra-estruturas de
suporte para a implementao da CIF, a OMS sugere a adopo de um conjunto de medidas,
tais como:
1. Implementao de mecanismos de partilha do conhecimento baseado na web, com
protocolos de registo comuns, assegurado por websites da OMS-CIF;
2. Desenvolvimento de material educacional e planos de formao genricos,
especficos por pas ou sector, suportados por websites da OMS-CIF;
3. Operacionalizao da aplicao de instrumentos de medida dos diferentes
componentes da sade: WHO DAS II, ICF Checklist, ICF Core Sets6, Manual de
Aplicao Clnica, Mapa de Instrumentos, etc.
Diferentes pases membros da OMS organizaram-se em grupos de trabalho internacionais,
que definiram prioridades para o trabalho de cooperao internacional e identificaram as
foras estratgicas e oportunidades a nvel nacional e internacional que conduzem
implementao da CIF (Quadro 5, pg. 28).
A OMS, em conjunto com o Departamento de Medicina Fsica e Reabilitao da
Universidade de Munique, programou conferncias internacionais com o objectivo de
estabelecer quais os domnios essenciais da CIF; domnios que permitam caracterizar os
diferentes estados de sade e as suas consequncias para o indivduo e a sociedade.
A primeira conferncia decorreu em Abril de 2002, especialmente direccionada para as
doenas crnicas, uma vez que se tratam de condies potencialmente incapacitantes e de alta
prevalncia (Battistella e Brito, 2002).
6 Lista de componentes de sade mais frequentes em determinadas condies, de sade, doenas msculo-
-esquelticas, doenas crnicas degenerativas, doenas cardiovasculares e doenas neurolgicas.
Contributo para a implementao da CIF para a identificao de ganhos em sade nas doenas crnicas
27
Quadro 4 Anlise SWOT do acesso e implementao da CIF
POTENCIAIS PONTOS FORTES INTERNOS POTENCIAIS OPORTUNIDADES EXTERNAS
Especialistas peritos neste produto
Grupos de peritos entusiastas que percorrem muitas
quilmetros para implementar a CIF
Marketing e experincia de implementao de
outras classificaes
A CIF pode ser aplicada em diferentes contextos
estudos, reas clnicas e programas polticos
A CIF pode ser usada com a CID e a Classificao
de Intervenes (CI)
Capitalizar nas iniciativas locais
Alguns governos olharem para a informao
resultante
Vantagens ou alianas estratgicas com a CIF e
outras classificaes
Interesse inesperado no estudo da comunidade
Aumento do interesse governamental na populao
com incapacidade
Universidades adoptarem a CIF
POTENCIAIS FRAQUEZAS INTERNAS POTENCIAIS AMEAAS EXTERNAS
Mudana de actores e alguns grupos de
stakeholders
Diminuio do entusiasmo com uma forte liderana
Fraca consolidao
Perda de promotores da CIF e peritos de
implementao
Os produtos e benefcios da CIF no so bem estabelecidos ou entendidos
Localizao do negcio geograficamente dispersa
Aprovao e cooperao ao nvel dos pases
Aplicao e uso inconsistente da CIF nos diferentes
governos dos pases membros da OMS
No haver vencedores na aplicao da CIF
Perdas de entusiasmo nos dirigentes internacionais
Custos de implementao da CIF
Fonte: (Caulfeild, 2003) Report of the Ninth Annual North American Collaborating Center
Conference on ICF, Meeting of WHO Collaborating Centres for the Family of International
Classifications, Cologne, Germany: 19-25 Octobber.
Contributo para a implementao da CIF para a identificao de ganhos em sade nas doenas crnicas
28
Quadro 5 Estratgias de implementao da CIF realizadas por diferentes pases
membros da OMS
Alemanha
(Schuntermann,
2003)
Adopo da CIF por diversos ministrios, ex.: segurana social
Criao de material de treino, definido segundo as necessidades da
populao alem
Aplicao da checklist em vrios projectos no contexto da reabilitao,
facilitando o diagnstico funcional, planeamentos, medicao e reabilitao
Definio de Core Sets
Austrlia
(Madden, 2003)
Estabelecer um acordo nacional na definio do termo incapacidade
Criao do guia de utilizao da CIF
Operacionalizao do conceito e utilizao da CIF em reas prioritrias;
compensao de acidente, reabilitao, cuidados continuados
Colaborao em projectos de investigao
Utilizao de um quadro de registo da informao recolhida segundo a
CIF
Criao de um dicionrio de informao nacional de acordo com a CIF
EUA
(Reed et al., 2003)
Aumento da conscincia da CIF
Definio de linhas orientadoras para a codificao, incluindo a
delimitao e e validao dos qualificadores
Treino incluindo garantia qualitativa
Medidas de organizao de instrumentos existentes para uso da CIF nos estudos estatsticos, registos clnicos e administrativos
Introduo da CIF nos currculos e projectos universitrios
Reviso dos cuidados financiados segundo a CIF
Frana
(Barral, 2003)
Criao de um centro de disseminao da CIF com um grupo de
interesse e um programa de formadores da CIF
Criao de uma ferramenta educacional composta por cinco mdulos
Hungria
(Kullmann, 2003)
Utilizao sistemtica da CIF nas reformas legislativas relacionadas com a pessoa com deficincia
Treino e aplicao em publicaes
Uso de qualificadores de acordo com a CIF (mdicos, engenheiros de
Contributo para a implementao da CIF para a identificao de ganhos em sade nas doenas crnicas
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reabilitao, educadores especiais)
Construo de um programa informtico para os cuidados crnicos e com o uso da CIF criaram um algoritmo para calcular os
reembolsos/subsdios
Itlia
(Leonardi, 2004)
Alterao legislativa
Iniciativas locais (sociedade cientfica, universidades, hospitais,
individuais)
Levantamento das necessidades
Levantamento da melhor metodologia para a Itlia
Os governos com diferentes parcerias construram uma plataforma web (instrumento de registo) para aplicao da CIF. Aplicado em vinte e
cinco Ministrios de Sade Pblica e com aplicao laboral em cinco
regies piloto, com equipas multidisciplinares
Finlndia
(Talo, 2003)
Identificao das diferentes reas de gesto de conhecimento que
beneficiariam da utilizao da CIF
Constituio de uma equipa multidisciplinar que definisse planos de
aco
Formao e material educacional comum para profissionais de diferentes
reas
Plano prtico dos centros de segurana social para comearem a
trabalhar na disseminao da CIF na Finlndia a curto prazo
Reino Unido
(UK WHO
Collaborating
Centre, 2003)
Constituio de um grupo de formadores com o objectivo de a utilizar nas diferentes reas e nveis de interveno da CIF
Conseguir que a funcionalidade seja uma componente avaliada em contexto clnico e simultaneamente registada
Identificar as linhas orientadoras de codificao
Formao de profissionais de sade
Contributo para a implementao da CIF para a identificao de ganhos em sade nas doenas crnicas
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Portugal
13/12/2001 Indicao do Conselho Superior de Estatstica para o grupo
de trabalho de estatsticas da deficincia e reabilitao para acompanhar
o desenvolvimento dos trabalhos de elaborao da Classificao
Internacional de Funcionalidades
13/11/2002 Aprovao nacional na 240. Deliberao do Conselho
Superior de Estatstica
07/01/2003 Publicao no D.R, II. Srie, da aprovao da CIF para uso
no sistema estatstico nacional
Maro de 2004 Publicao oficial no site da DGS da traduo da CIF
para portugus
19 e 20/10/2004 Seminrio Classificao Internacional da
Funcionalidade, Incapacidade e Sade. Sua implementao em
Portugal, promovido pelo o Secretariado Nacional de Reabilitao
08/11/2004 Formao de grupo interdisciplinar formal para promoo
de implementao da CIF DGS
05/07/2005 Seminrio de divulgao da CIF, promovido pela DGS
2005 Instituto Nacional para a Reabilitao traduziu o Guia do
Participante para uma Linguagem Comum de Funcionalidade,
Incapacidade e Sade, CIF
07/01/2008 Decreto-Lei n. 3/2008 refere que os resultados decorrentes
da avaliao constantes no relatrio tcnico-pedaggico devem ser
obtidos por referncia CIF
2.3.4 Estratgias educacionais para a implementao da CIF
As diferentes estratgias de implementao desenvolvidas pelos pases membros da OMS,
incluram os materiais educacionais e modelos de formao como uma estratgia de
implementao. Contudo, pases como a Austrlia, EUA, Frana e Itlia promoveram
diferentes modelos de formao agrupados e organizados em planos educacionais, com o
objectivo de divulgar e facilitar a implantao da CIF.
Plano educacional adoptado pela Austrlia para promover a implementao da CIF
A estratgia educacional desenvolvida para facilitar a implementao da CIF na Austrlia,
(Sykes, 2004) foi definida aps a identificao das necessidades nacionais e internacionais na
percepo dos diferentes conceitos e constructs da CIF. Os modelos de formao adoptados
Contributo para a implementao da CIF para a identificao de ganhos em sade nas doenas crnicas
31
por este pas foram a formao presencial e a formao outdoor seminrios, congressos,
workshops. Os destinatrios do plano de formao eram pessoas com incapacidade,
departamentos governamentais, grupos profissionais, servios prestadores e peritos de
aconselhamento. Com o propsito de apoiar estes modelos de formao e alargar os
destinatrios, elaboraram-se materiais educacionais (brochuras e panfletos) e criou-se a pgina
web.
O modelo de formao presencial adoptado foi vocacionado para os servios relacionados
com a sade, funcionalidade, doena e incapacidade e direccionado para as necessidades
especficas dos utilizadores da CIF. As aces de formao foram compostas por diferentes
ttulos: CIF, O Que e Porque Deves Us-la; CIF Aplicao a Nvel Nacional, CIF
para Profissionais de Sade; Classificao com a CIF; A Famlia das Classificaes
Internacionais.
O modelo de formao outdoor compreendia seminrios, congressos e workshops, onde se
realizaram apresentaes genricas, contemplando exemplos contextualizados nas reas das
doenas crnicas e reabilitao. Os ttulos dos seminrios foram: CIF Introduo,
Antecedentes e Aplicaes Actuais; Aplicaes Potenciais da CIF na Reabilitao; CIF e
Registo da Incapacidade; Relevncia da CIF nos Programas Especficos da Sade;
Modelos de Informao e Resultados Funcionais; CIF e Registo da Incapacidade
Funcional no Registo Electrnico da Sade.
Os workshops realizados tinham como tema central, CIF e Qualidade de Vida, onde foram
abordados os temas: Paralelismo entre Sade e Qualidade de Vida e Implicaes de Medir
Sade.
Os materiais educacionais desenvolvidos brochuras foram organizados segundo os
seguintes contedos Introduo, Informao sobre a CIF, Componentes e suas Funes,
Valor Acrescentado com o Uso da CIF, Aplicao Nacional, Interaco com o Sistema de
Registo de Informao.
Plano educacional adoptado pelos EUA para promover a implementao da CIF
A estratgia educacional desenvolvida pelos EUA seguiu uma sequncia pr-definida,
comeando pela implementao de programas de formao a distncia financiada e
promovida por organizaes no governamentais e pelos ministrios da sade e segurana
Contributo para a implementao da CIF para a identificao de ganhos em sade nas doenas crnicas
32
social. Posteriormente, desenvolveram-se materiais educativos generalistas, de apresentao
da CIF ex.: vdeos educativos da CIF, brochuras e expositores (Greenberg, 2004). Outra das
estratgias educacionais adoptada foi a integrao da CIF em currculos acadmicos de cursos
superiores ex.: Sade Pblica; Fisioterapia; Terapia Ocupacional; Educao Especial;
Sade; Cincias da Reabilitao; Sade Materno-Infantil; Sade Ambiental; Financiamento
de Servios de Sade; Leis e ticas da Sade; Promoo da Sade e Preveno da Doena;
Organizaes de Servios Sociais e Bio-estatstica (Greenberg, 2004).
A formao a distncia intitulada CODE CIF teve como destinatrios pessoas e instituies
que pertencem ou colaboram no sector pblico, e visava no geral: Promover a formao e
treino interactivo segundo a CIF e especificamente: Aprender a descrever o estado de sade
de um indivduo, usando os domnios de codificao e qualificadores da CIF; e Aprender a
manusear a CIF em registo informtico, para facilitar e promover a sua utilizao (Placek,
2003). Os contedos programticos eram os seguintes: Vocabulrio e Conceitos da CIF;
Princpios de Governao; Influncia dos Facilitadores e Barreiras Ambientais na Funo
e Incapacidade; Utilizao e Prtica da CIF em Diferentes Contextos: Clnica, Deciso
Poltica, Investigao; Discusso da Inter-relao de Instrumentos de Avaliao, como o
ndice de Bartel, FIM, SF36, com a CIF (Placek, 2003).
Dos materiais educativos generalistas de apresentao da CIF, os vdeos educativos tiveram
mais destaque, realizando-se diversos registos de vdeo que tinham como objectivo geral
apoiar a formao e como objectivo especfico introduzir tpicos e assuntos, facilitando a
operacionalidade da CIF no contacto directo como utente.
Plano educacional adoptado pela Frana para promover a implementao da CIF
Em Frana, a exigncia de formadores para a implementao da CIF foi uma necessidade
expressa. Consequentemente, foi construdo um programa de formao de formadores para a
divulgao da CIF, assim como um guia de utilizao com os contributos dos formadores e
um frum de discusso na web (Barral, 2003).
O programa de formao de formadores para divulgao da CIF, segundo Barral (2003) teve
como objectivos gerais:
1. Aumentar a capacidade de informao e disseminao da CIF a nvel local;
Contributo para a implementao da CIF para a identificao de ganhos em sade nas doenas crnicas
33
2. Desenvolver capacidades locais de apoio tcnico.
Quanto aos fins especficos, estes foram os seguintes:
1. Promoo do apoio tcnico para a construo de instrumentos especficos de avaliao
da populao em situaes de incapacidade idosos, doena mental, crianas com
alteraes do comportamento;
2. Promoo do apoio tcnico para a construo de instrumentos de avaliao de prticas
profissionais em domnios especficos terapia ocupacional, treino vocacional e
aconselhamento a pessoas desempregadas.
Os destinatrios da formao foram: instituies governamentais; organizaes nacionais de
pessoas com deficincia; escolas de sade pblica e aco social; autoridades nacionais
envolvidas na mudana de polticas sociais; organismos regionais para o estudo de
incapacidade e treino de utilizadores; organismos regionais para a integrao vocacional e
emprego; instituies especializadas e profissionais do sector da sade e segurana social.
A formao foi realizada em cinco mdulos compostos por 100 slides onde se abordaram
diversos contedos (Quadro 6, pg. 34).
Plano educacional adoptado pela Itlia para promover a implementao da CIF
Em Itlia, constituiu-se um grupo de trabalho nacional composto por elementos que j
tivessem elaborado trabalhos com a CIF ou ICIDH desde 1998 (Leonardi, 2004). A finalidade
deste grupo foi dar resposta s necessidades identificadas pelos departamentos
governamentais do trabalho, sade/aco social, reabilitao, estatstica e educao,
realizando-se um plano de formao, constitudo por um curso de formao bsico e um curso
avanado.
O curso de formao bsico pretendia fornecer uma chave de leitura da CIF, que habilitasse
os formandos a comunicar com uma linguagem comum para a recolha de informao da
funo humana. Os contedos apresentados foram: Breve Histria da CIF; Princpios
Bsicos da CIF; Estruturas da Classificao; Aplicao da CIF em Diferentes reas;
Ferramentas e Instrumentos Relacionados com a CIF; Aspectos ticos e Implicaes
Relacionadas com o Uso da CIF (Leonardi, 2004).
Contributo para a implementao da CIF para a identificao de ganhos em sade nas doenas crnicas
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Quadro 6 Contedos dos mdulos de formao
1. Mdulo Histria da CIF e CID na OMS
2. Mdulo 1. Tipologia da incapacidade
2. Modelos individuais (mdicos e de reabilitao)
3. Modelos sociais (meio ambiente e direitos humanos)
4. Modelo sistmico
3. Mdulo
1. Apresentao da CIF: Modelo conceptual; Definio das dimenses; Definio dos qualificadores e Exemplos de utilizao
2. Determinantes histricos, sociais e polticos da CIF
4. Mdulo
1. Movimentos sociais e grupos de pessoas
2. Abordagem terica de utentes com incapacidade
3. Objectivos da CIF
4. Abordagem sistemtica e universal da funo humana
5. Da Handicap (ICIDH) participao social
6. Nova abordagem de iniquidades sociais
7. Factores ambientais
5. Mdulo Legislao nacional em sade e aco social
O curso de formao avanado teve com destinatrios todos os que mostraram interesse aps
frequentarem a formao base. Foi planeado para decorrer em trs dias 8 horas/dia,
formao presencial, trs meses de formao a distncia e um dia de avaliao.
Os contedos da formao presencial enumeram-se de seguida: Estrutura da CIF, Captulo