Trabalho realizado com o incentivo e fomento da Anhanguera Educacional S.A.
INFLUÊNCIA DOS EXERCÍCIOS FÍSICOS E DA ALIMENTAÇÃO NA QUALIDADE DE VIDA DE PORTADORES DE HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA E DIABETES MELLITUS
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Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e
Desenvolvimento Educacional - IPADE Publicação: 09 de março de 2009
Angélica Porto de Oliveira Profª Drª Hedi C. Heckler de Siqueira Curso: Enfermagem FACULDADE ATLÂNTICO SUL/PELOTAS ANHANGUERA EDUCACIONAL S.A.
RESUMO
Os exercícios físicos, realizados com orientação e a ingesta de alimentação adequada, em clientes com doenças crônico-degenerativas de Hipertensão Arterial Sistêmica e Diabetes Mellitus são capazes de melhorar a sua qualidade de vida porque podem induzir modificações biológicas, sócio-culturais e espirituais. É nesta perspectiva que se entende a atividade física aliada a uma alimentação equilibrada como um dos tratamentos mais indicados para estas patologias. Para melhorar a qualidade de vida do cliente, portador dessas doenças, é necessário oferecer opções apropriadas às mudanças no seu estilo de vida. Objetiva-se com essa pesquisa avaliar a influência do exercício físico e da alimentação adequada no controle da Hipertensão Arterial Sistêmica e Diabetes Mellitus na melhoria da qualidade de vida do cliente. Trata-se de uma pesquisa de caráter descritivo, exploratório, de cunho intervencionista, com abordagem qualitativa. Foram selecionados 10 sujeitos, entre os participantes do grupo de hipertensos e/ou diabéticos da Estratégia de Saúde da Família de Piratini/RS. Inicialmente, através de palestras, oficinas e discussões em grupo, trabalhou-se a conscientização dos sujeitos a respeito da necessidade de sua participação nos exercícios físicos e na adequação de sua alimentação. Aos sujeitos foi oferecido um programa de exercícios físicos e orientações sobre a sua alimentação, com a duração de quatro meses. Os resultados demonstram que a prática de exercícios físicos e alimentação adequada foram elementos importantes para controlar a pressão arterial sistêmica, melhorar a taxa de glicose dos clientes diabéticos, diminuir o consumo medicamentoso e favorecer o bem-estar levando a uma melhor qualidade de vida.
Palavras–chave: Hipertensão; Diabete Mellitus; Atividade Física; Alimentação; Qualidade de Vida.
ANUÁRIO DA PRODUÇÃO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DISCENTE Vol. XI, Nº. 12, Ano 2008
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1. INTRODUÇÃO
O exercício físico é uma forma de atividade física planejada, estruturada, repetitiva que
objetiva o desenvolvimento da aptidão física, de habilidades motoras ou a reabilitação
orgânico-funcional (NAHAS, 2001, p. 30). O exercício representa um subgrupo de
atividade física com a finalidade de manter o condicionamento físico (PINTO;
MEIRELLES; FARINATTI, 2003; MARCAND, 2004).
Para Nahas (2001, p. 30),
A atividade física, entendida como uma característica inerente ao ser humano, com dimensões biológica e cultural, representa um tema interdisciplinar e complexo que tem atraído a atenção de pesquisadores, da mídia e da saúde pública em todo o mundo nas últimas décadas.
A atividade física pode, também, ser definida como qualquer atividade muscular
que gere força e interrompa a homeostase (BARROS, 1999; MARCHAND, 2004). Portanto,
pode-se dizer que durante um período de exercícios, o corpo humano sofre adaptações
cardiovasculares e respiratórias a fim de atender às demandas aumentadas dos músculos
ativos e, à medida que essas adaptações são repetidas, ocorrem modificações nesses
músculos, permitindo que o organismo melhore o seu desempenho porque entram em
ação processos fisiológicos e metabólicos, otimizando a distribuição de oxigênio pelos
tecidos em atividade (PINTO; MEIRELLES; FARINATTI, 2003). Essa otimização, quanto a
distribuição de oxigênio pelos tecidos em atividade, pode influenciar, positivamente, em
clientes com hipertensão arterial sistêmica (HAS) e/diabetes Mellitus (DM) porque os
mecanismos que norteiam a queda pressórica após exercício físico estão relacionados a
fatores hemodinâmicos, humorais e neurais (NEGRÃO, 2001).
A HAS representa uma das maiores causas de morbidade cardiovascular no
Brasil e acomete 15% a 20% da população adulta, possuindo também considerável
prevalência em crianças e adolescentes. Ela é considerada um dos principais fatores de
risco de morbidade e mortalidade cardiovasculares e representa alto custo social, uma vez
que é responsável por cerca de 40% dos casos de aposentadoria precoce e absenteísmo no
trabalho em nosso meio (I CNRC, 1997; III CBHA, 1998). Desta forma, a identificação e o
tratamento de pacientes com hipertensão arterial sistêmica constitui um problema de
saúde pública no Brasil, mas esse quadro pode ser modificado através da introdução de
programas de exercícios físicos disponíveis à população. A adesão a esses programas
necessita da conscientização dos benefícios que os mesmos são capazes de proporcionar
aos seus praticantes.
O DM pode ser definido como uma desordem metabólica complexa que ocorre
em virtude da deficiência total ou parcial da produção de insulina pelas células B das
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ilhotas de Langherans, localizadas no pâncreas. O grau de insuficiência do hormônio da
insulina determina a subdivisão do diabetes em 2 grupos: insulino-dependente ou tipo I e
não insulino-dependente ou tipo II (GOUVEA, 1999).
Escolheu-se essa temática porque, conforme literatura, estimulando a prática do
exercício físico, realizada com orientação e a adoção de uma alimentação adequada, com
clientes com doenças crônico-degenerativas HAS e DM, é possível melhorar o processo de
viver e obter um viver mais saudável dessas pessoas. A atividade física representa um dos
tratamentos mais significativos para essas patologias. Entretanto, a baixa adesão constitui-
se num dos maiores problemas enfrentados pelos profissionais de saúde, por isso, há
necessidade de conscientizar os clientes através de palestras, oficinas e vivenciar coletivo, e
assim, estimular a sua participação. Para conseguir introduzir modificações nos seus
hábitos, atitudes e comportamentos do seu estilo de vida, é indicado elencar os benefícios
advindos a partir da prática de exercícios físicos. Esses são capazes de proporcionar um
viver mais saudável e com maior qualidade.
A qualidade de vida, com base nas concepções individuais, contempla um
conceito subjetivo, variável de pessoa para pessoa. Portanto, abarca uma percepção
individual relativa às condições de saúde e os aspectos gerais da vida de cada um
(NAHAS, 2001). Olhando neste sentido é possível considerar o estilo de vida e, em
especial, o exercício físico aliado a uma alimentação equilibrada como fator capaz de
influenciar, positivamente, na qualidade de vida. Por outro lado, existem os fatores
negativos a influenciar na saúde e bem-estar, entre os quais é possível destacar: fumo,
álcool, drogas, stress, depressão, alimentação inadequada (quantidade e qualidade)
esforços repetitivos e outros que devem ser desestimulados.
Com base no exposto traçou-se a questão norteadora dessa pesquisa: O exercício
físico e a alimentação adequada influenciam no controle da Hipertensão Arterial
Sistêmica, Diabetes Mellitus e na melhoria da qualidade de vida do cliente?
Pressupõe-se que os exercícios físicos regulares aliados a uma ingesta alimentar
adequada em relação à quantidade e qualidade de ingredientes:
• ajudam a controlar a Hipertensão Arterial Sistêmica e Diabetes Mellitus;
• auxiliam a reduzir a necessidade de antihipertensivos, hipoglicemiantes orais;
• proporcionam uma melhor qualidade de vida e bem-estar ao ser humano.
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2. OBJETIVO
Com base no exposto e com o propósito de dar concretude à questão pesquisa elaborou-se
os seguintes objetivos:
Objetivo geral
• Avaliar a influência do exercício físico e da alimentação equilibrada no controle da Hipertensão Arterial Sistêmica, Diabetes Mellitus e na melhoria da qualidade de vida do cliente.
Objetivos específicos
• Estimular os integrantes do grupo de pesquisa de hipertensos e diabéticos a participarem dos exercícios físicos e a adequar seus hábitos alimentares conforme proposto;
• Prestar orientação sobre exercícios físicos e alimentação adequada aos sujeitos participantes da pesquisa;
• Instituir um programa de exercícios físicos e orientações sobre uma alimentação adequada;
• Desenvolver com os sujeitos selecionados, durante quatro meses, o programa instituído;
• Conhecer as mudanças que cada integrante obteve ao longo do período do programa estabelecido.
3. METODOLOGIA
Trata-se de um estudo de caráter descritivo e exploratório com uma abordagem qualitativa
com intervenção. É de abordagem qualitativa porque estuda a mudança de hábitos,
comportamentos e atitudes (MINAYO, 2007) em relação ao estilo de vida dos clientes com
HAS e DM, sujeitos dessa pesquisa. É intervencionista por oportunizar, por quatro meses,
um programa de exercícios físicos, e orientações sobre a alimentação adequada ao estado
de saúde desse grupo e assim, oportunizar uma melhor qualidade de vida e bem-estar. É
de caráter descritivo porque descreve a forma como as mudanças ocorreram, enquanto
exploratória a pesquisa aprofunda o conhecimento da realidade, explica a razão (GIL,
2007) onde o conhecimento cientifico está assentado nos resultados oferecidos pelos
recursos.
Como local de estudo foi escolhida a UBS/ESF do município de Piratini/RS que
faz parte da 3° Coordenadoria Regional de Saúde com sede no Município de Pelotas/RS,
porque já existe um grupo composto por hipertensos e diabéticos. Atualmente e UBS/ESF
possui cadastrado um total de 230 hipertensos e 39 diabéticos distribuídos em três grupos
que freqüentam essa unidade e participam de reuniões mensais.
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Inicialmente, foi realizada uma palestra nos três grupos de Hipertensos e
diabéticos da UBS/ESF, para explicar o objetivo e a metodologia da presente pesquisa.
Enfatizou-se o programa de exercícios físicos a ser realizado junto com uma dieta
equilibrada, a necessidade de mudanças de hábitos, atitudes e comportamentos em relação
ao estilo de vida e os possíveis resultados positivos em relação ao seu estado de saúde,
levando a uma melhor qualidade de vida.
Com a finalidade de despertar o interesse dos grupos e auxiliar na compreensão
da temática realizou-se uma oficina como fator de sensibilização. Ao finalizar a oficina da
dinâmica foram enfatizados os objetivos, a operacionalização, os critérios de seleção dos
participantes da pesquisa e a sua forma de inscrição. Todos foram estimulados a participar
da pesquisa, deixando claro que era necessário preencher os critérios estabelecidos e que
aos primeiros inscritos seria oportunizado a participação no programa.
Os 10 sujeitos foram selecionados entre os integrantes dos grupos de hipertensos
e diabéticos observando os seguintes critérios de inclusão:
• Ser cadastrado como hipertenso e/ou diabético na UBS/ESF;
• Constar entre os dez primeiros inscritos para realizar as atividades propostas;
• Ser portador da patologia crônico-degenerativas: hipertensão arterial sistêmica e/ou diabetes Mellitus, há mais de um ano;
• Residir no município de Piratini;
• Ter disponibilidade de tempo e o desejo em participar da pesquisa;
• Aceitar de participar da pesquisa;
• Assinar o Consentimento Livre e Esclarecido em duas vias;
• Autorizar a gravação da entrevista e permitir ser fotografado;
• Permitir a divulgação dos resultados obtidos em eventos científicos;
• Aceitar de realizar exame médico prévio para avaliação clínica do estado físico.
A opção por dez sujeitos justifica-se, não apenas pela possibilidade de desistência
que poderá ocorrer durante os quatro meses de atividades da coleta de dados, mas
principalmente, por tratar-se de trabalho em grupo. No grupo, temos a considerar um
conjunto de pessoas, que ao serem observadas poderão externar possíveis manifestações
produzidas pelas relações grupais que são passíveis de enriquecimento. Um grupo de dez
pessoas é considerado um grupo pequeno, mas muito indicado para trabalhos dessa
natureza porque permite maior interação social em grau significativo para todo o grupo
(SIQUEIRA, 1998). Conforme Bueno (1986 p. 546) “grupo é uma reunião de seres”,
definição que pode ser acrescida, conforme Siqueira (1998, p. 46), “que possuem um
objetivo em comum”, no presente caso, avaliar a influência do exercício físico e da
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alimentação equilibrada no controle da Hipertensão Arterial Sistêmica e Diabetes Mellitus
visando a melhoria da qualidade de vida do cliente.
A coleta de dados iniciou-se após aprovação do projeto de pesquisa pelo Comitê
de Ética em Pesquisa. Aos sujeitos sociais do estudo foi solicitado a assinatura do termo de
Consentimento Livre e Esclarecido, em duas vias ficando uma via com o sujeito e a outra
com o pesquisador.
Com a finalidade de avaliar a influência dos exercícios físicos e da alimentação
equilibrada no controle das doenças crônico-degenerativas, HAS e DM, antes de iniciar o
programa de exercícios físicos, cada sujeito foi entrevistado, utilizando-se um roteiro de
entrevista semi-estruturado, para verificar o seu estado biopsicossocial e espiritual. Esse
mesmo roteiro foi novamente aplicado no término do período de intervenção - período
compreendido entre os meses de julho e outubro do corrente ano. Além disso, foi
verificada a pressão arterial antes e logo após cada sessão de exercícios físicos.
Com o propósito de avaliar a aptidão física dos sujeitos para participar do
programa de exercícios físicos foi realizada uma avaliação clínica, conforme acordo
previamente estabelecido com médico generalista da UBS/ESF- Piratini. Todos foram
considerados aptos para realizar o programa de exercícios físicos proposto na presente
pesquisa. Além disso, um profissional de educação física e outro de Nutrição e Dietética
foram convidados e proferiram palestra sobre a temática. um abordou as vantagens do
exercício físico na saúde, e a outra falou acerca da importância da dietoterapia para os
portadores de HAS e DM.
Avaliou-se ainda, antes do início da primeira sessão de exercícios físicos, a
dosagem de glicemia. Esse procedimento foi realizado uma vez por mês e no final da
intervenção a todos os participantes da pesquisa, enquanto que aos portadores de diabetes
Mellitus, foi realizado a cada semana durante os quatro meses.
Os dados da avaliação do estado biopsicossocioespiritual, bem como os dos
exercícios físicos, a pressão arterial e a glicemia, dados antropométricos obtidos por cada
sujeito, foram lançados numa ficha construída para essa finalidade. A avaliação constante
durante os quatro meses de intervenção tiverem como propósito observar os progressos
alcançados nos exercícios físicos, as dificuldades apresentadas pelos sujeitos para realizá-
los, os resultados da verificação da pressão arterial, no peso e da dosagem de glicose, bem
como, as modificações observadas nas atitudes, comportamentos e hábitos em relação a
alimentação, estilo de vida e qualidade de vida de cada sujeito.
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Os dados coletados foram transcritos na íntegra e após leituras sucessivas foram
organizados destacando-se os registros de unidade para, posteriormente, agrupá-los em
temáticas. Após essa etapa os dados foram analisados e interpretados à luz do referencial
teórico.
4. DESENVOLVIMENTO
Com a finalidade de conhecer o estado da arte a respeito da temática foi realizado consulta
online na base de dados SciELO, com os descritores: Saúde; exercício físico; hipertensão
arterial e Diabetes.
Com esses descritores nenhum artigo foi encontrado. Ao lançar nova busca com
os descritores: Exercício físico; hipertensão foram encontrados 12 artigos relacionados a
essa temática entre os quais destaco 05 porque falam sobre a importância do exercício
físico para pacientes com hipertensão arterial sistêmica (FARINATTI; MEIRELES; PINTO,
2003; CIOLAC; GUIMARAES, 2004; MONTEIRO; SOBRAL FILHO, 2004; MONTEIRO,
2005; HADDAD, 2007). Ao continuar a busca online foram lançados os descritores:
Exercício físico; diabetes. Nesta busca encontrou-se 41 artigos dos quais 07 tiveram maior
destaque porque tratam a respeito dos efeitos fisiológicos do exercício físico em pacientes
portadores de diabetes (CERVATO, 1997; ASSUNÇÃO; SANTOS; COSTA, 2002;
GUIMARAES; TAKAYANAGUI, 2002; CIOLAC; GUIMARAES, 2004; VOLPATO, 2006;
ANGELIS, 2006; FURTADO; POLANCZYK, 2007). Esses artigos evidenciam uma relação
direta entre atividade física como prevenção e tratamento de diabetes Mellitus, por isso são
necessárias ações de prevenção e, principalmente, mudanças no estilo de vida e a
importância de uma equipe de multiprofissionais junto às famílias, criando e direcionando
estratégias para cada dificuldade abordada. Entre esses destaco o artigo de Ciolac;
Guimarães (2004) porque versa, sobre as práticas regulares de exercícios físicos e os efeitos
benéficos na prevenção e tratamento da HAS e DM.
Com base nesses dados buscou-se construir o referencial teórico envolvendo,
principalmente, os seguintes aspectos: HAS e DM, exercício físico, alimentação e qualidade
de vida. O estudo da temática permitiu um aprofundamento dos conhecimentos já
construídos e revelou as influências que o exercício físico exerce sobre as manifestações
clínicas dos portadores de doença crônica degenerativa de hipertensão arterial e diabetes
Mellitus.
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4.1. Hipertensão Arterial Sistêmica
A HAS é uma doença crônica que, como o próprio nome diz, por elevação da pressão do
sangue dentro das artérias de todo o corpo (I CNRC, 1997; III CBHA, 1998).
Quando a pressão está alta por períodos curtos de tempo, na imensa maioria das
vezes não há problemas. Isto ocorre com freqüência em momentos de estresse emocional
intenso, estresse físico (ex.: exercícios físicos, grandes esforços, cirurgias, etc.), uso de
drogas (ex.: o cigarro eleva transitoriamente a pressão) e resposta a dor (ex.: quando uma
pessoa está com dor de cabeça causada por problemas visuais é usual a pressão subir para
níveis mais elevados que os habituais). Esta elevação transitória tende a se normalizar com
o passar do tempo e a retirada da causa. Ex.: tentar relaxar ou usar um calmante em casos
de ansiedade, apenas o repouso em casos de esforço físico, evitar cigarros, usar analgésicos
em casos de dor são suficientes para reduzir a pressão.
A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) representa uma das maiores causas de
morbidade cardiovascular no Brasil e acomete 15% a 20% da população adulta, possuindo
também considerável prevalência em crianças e adolescentes. Considerada um dos
principais fatores de risco de morbidade e mortalidade cardiovasculares, representa alto
custo social, uma vez que é responsável por cerca de 40% dos casos de aposentadoria
precoce e absenteísmo no trabalho em nosso meio (I CNRC 1997; III CBHA 1998). Assim, a
identificação e o tratamento de pacientes com HAS constituem um problema de saúde
pública no Brasil. No seu tratamento são recomendadas incluir modificações no estilo de
vida, em relação ao exercício físico, alimentação adequada.
Segundo as Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial (2007), existem fatores
como idade, sexo e etnia, consumo de sódio, obesidade, álcool, sedentarismo e fatores
socioeconômicos, capazes de configurar risco potencial para o desenvolvimento da
hipertensão arterial. A seguir esses fatores são caracterizados.
Idade: A pressão arterial aumenta linearmente com a idade. Em indivíduos
jovens, a hipertensão decorre mais freqüentemente apenas da elevação na pressão
diastólica, enquanto a partir da sexta década o principal componente é a elevação da
pressão sistólica. O risco relativo de desenvolver doença cardiovascular associado ao
aumento da pressão arterial não diminui com o avanço da idade e o risco absoluto
aumenta marcadamente.
Sexo e etnia: A prevalência global de hipertensão entre homens (26,6%; IC 95%
26,0-27,2%) e mulheres (26,1%; IC 95% 25,5-26,6%) insinua que sexo não é um fator de risco
para hipertensão. Estimativas globais sugerem taxas de hipertensão mais elevadas para
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homens até os 50 anos e para mulheres a partir da sexta década. Hipertensão é mais
prevalente em mulheres afro-descendentes com excesso de risco de hipertensão de até
130% em relação às mulheres brancas.
Fatores socioeconômicos: Nível socioeconômico mais baixo está associado a maior
prevalência de hipertensão arterial e de fatores de risco para elevação da pressão arterial,
além de maior risco de lesão em órgãos-alvo e eventos cardiovasculares. Hábitos
dietéticos, incluindo consumo de sal e ingestão de álcool, índice de massa corpórea
aumentado, estresse psicossocial, menor acesso aos cuidados de saúde e nível educacional
são possíveis fatores associados.
Sódio: O excesso de consumo de sódio contribui para a ocorrência de hipertensão
arterial. A relação entre aumento da pressão arterial e avanço da idade é maior em
populações com alta ingestão de sal. Povos que consomem dieta com reduzido conteúdo
deste têm menor prevalência de hipertensão e a pressão arterial não se eleva com a idade.
Obesidade: O excesso de massa corporal é um fator predisponente para a
hipertensão, podendo ser responsável por 20% a 30% dos casos de hipertensão arterial;
75% dos homens e 65% das mulheres apresentam hipertensão diretamente atribuível a
sobrepeso e obesidade. Apesar do ganho de peso estar fortemente associado com o
aumento da pressão arterial, nem todos os indivíduos obesos tornam-se hipertensos.
Estudos observacionais mostraram que ganho de peso e aumento da circunferência da
cintura são índices prognósticos importantes de hipertensão arterial, sendo a obesidade
central um importante indicador de risco cardiovascular aumentado. Estudos sugerem que
obesidade central está mais fortemente associada com os níveis de pressão arterial do que
a adiposidade total19. Indivíduos com nível de pressão arterial ótimo, que ao correr do
tempo apresentam obesidade central, têm maior incidência de hipertensão. A perda de
peso acarreta redução da pressão arterial.
Álcool: O consumo elevado de bebidas alcoólicas como cerveja, vinho e destilados
aumenta a pressão arterial. O efeito varia com o gênero, e a magnitude está associada à
quantidade de etanol e à freqüência de ingestão.
Sedentarismo: O sedentarismo aumenta a incidência de hipertensão arterial.
Indivíduos sedentários apresentam risco aproximado 30% maior de desenvolver
hipertensão que os ativos. O exercício aeróbio apresenta efeito hipotensor maior em
indivíduos hipertensos que normotensos. Assim, o exercício físico de baixa intensidade
diminui a pressão arterial porque provoca redução no débito cardíaco, o que pode ser
explicado pela diminuição na freqüência cardíaca de repouso e diminuição do tônus
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simpático no coração, em decorrência de menor intensificação simpática e maior retirada
vagal” (NEGRÃO, 2001).
O exercício físico crônico de baixa a moderada intensidade provoca alterações
autonômicas importantes que acabam influenciando, sobremaneira, os níveis pressóricos.
Por essa razão, o exercício físico regular deve ser incluído como uma conduta não-
farmacológica no tratamento da hipertensão arterial (NEGÃO, 2001).
• Aumentar o conteúdo de fibras da dieta
• Substituir os carboidratos simples (açúcar, mel e doces) pelos complexos (massas, cereais, frutas, grãos, raízes e legumes);
• Restringir bebidas alcoólicas;
• Aumentar a atividade física;
• Abandonar o tabagismo;
• Reduzir a ingestão de gorduras saturadas, utilizando preferencialmente gorduras mono e poliinsaturadas na dieta (III CBHA, 1998).
4.2. Diabetes Mellitus
Segundo, Volpato (2006), o DM é uma doença crônica, grave, de evolução lenta e
progressiva, que acomete milhares de pessoas em todo mundo, necessitando de
tratamento intensivo e orientação médica adequada. Existem duas formas primarias de
DM: tipo 1 e tipo 2, assim caracterizadas:
O DM tipo 1, caracteriza-se pela deficiência absoluta de insulina, sendo esta,
muitas vezes, causada por um processo auto-imune desencadeado após uma interação
complexa entre fatores genéticos e ambientais (LYRA et al., 2006). Enquanto, o diabetes
Mellitus tipo 2 “caracteriza por resistências à insulina com graus variáveis de anomalias na
secreção da insulina” (AMBROSE et al., 2007, p. 205). Portando, diabetes Mellitus (DM) é
uma condição crítica, com elevado impacto individual e coletivo em termos de carga de
doença cardiovascular. Sendo, a educação é parte essencial no controle do DM tipo 1 e
consiste em um processo contínuo de alteração de hábitos de vida que requer tempo,
espaço, planejamento, material didático e profissionais capacitados.
4.3. Exercício Físico
A par das evidências de que o homem contemporâneo utiliza-se cada vez menos de suas
potencialidades corporais e de que o baixo nível de atividade física é fator decisivo no
desenvolvimento de doenças degenerativas sustenta-se a hipótese da necessidade de se
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promover mudanças no seu estilo de vida, levando-o a incorporar a prática de atividades
físicas ao seu cotidiano e uma alimentação adequada.
Nessa perspectiva, o interesse em conceitos como “atividade física”, “estilo de
vida” e “qualidade de vida” vem adquirindo relevância, ensejando a produção de
trabalhos científicos vários e constituindo um movimento no sentido de valorizar ações
voltadas para a determinação e operacionalização de variáveis que possam contribuir para
a melhoria do bem-estar do indivíduo por meio do incremento do nível de atividade física
habitual da população.
De acordo com Nahas (2001, p. 30), “atividade física é qualquer movimento
corporal produzido pela musculatura esquelética, portanto voluntário, que resulte num
gasto energético acima dos níveis de repouso”. O mesmo autor considera que o ser
humano possui estrutura para ser ativo, mas a vida hodierna proporciona meios que
conduzem ao sedentarismo, diminuindo, conseqüentemente, o lazer ativo necessário e
indicado para a saúde e bem-estar do ser humano. Neste cenário, entende-se que o
incremento do nível de atividade física constitui um fator fundamental de melhoria da
saúde pública.
Segundo Barros (1999), exercícios físicos são movimentos orientados realizados
com repetições ordenadas, existindo assim, um aumento no consumo de oxigênio, devido
à solicitação muscular, gera trabalho. O mesmo autor conceitua exercícios físicos “como
qualquer atividade muscular que gere força e interrompa a homeostase”. Nahas (2001, p.
24), por sua vez, diz que “todas as partes corporais, se usadas com moderação e
exercitadas em tarefas a que estão acostumadas, tornam-se saudáveis e envelhecem mais
lentamente; se pouco utilizadas, tornam-se mais sujeitas às doenças e envelhecem
rapidamente”. Portanto, a atividade física consiste em exercícios bem planejados e bem
estruturados, realizados repetitivamente. Eles conferem benefícios aos praticantes e têm
seus riscos minimizados através de orientação e controle adequados.
Olhando nesta perspectiva percebe-se que a prática de exercícios físicos habituais,
além de promover a saúde, influencia na reabilitação de determinadas patologias
associadas ao aumento dos índices de morbidade e da mortalidade. Assim, o exercício
físico deve ser incentivado e praticado com maior freqüência. Esse movimento de
incentivo ao exercício físico possui uma estrita relação com o mundo atual no qual se
observa um aumento da obesidade, que se relaciona, pelo menos em parte, à falta da
prática de atividades físicas. É o famoso estilo de vida moderno, no qual a maior parte do
tempo livre é passado assistindo televisão, usando computadores, jogando videogames,
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além de utilizar em grande escala o uso de automóvel e ou outro meio de transporte em
substituição as caminhadas.
A atividade física pode também exercer efeitos no convívio social do indivíduo,
tanto no ambiente de trabalho quanto na família. Algumas recomendações são
importantes:
• Uso de roupas e calçados adequados;
• Ingestão de grandes quantidades de líquidos, antes do exercício;
• Praticar atividades apenas quando estiver se sentindo bem;
• Iniciar as atividades lenta e gradualmente;
• Evitar o cigarro e medicamentos para dormir;
• Alimentar-se até duas horas antes do exercício;
• Respeitar seus limites pessoais;
• Informar qualquer sintoma.
Porém a prática de atividade física deve ser sempre orientada.
Nahas (2001 p. 3) recomenda “incorporar ao nosso dia-a-dia atividade físicas
agradáveis que tenham significado pessoal e que possam trazer benefícios a saúde”.
O que não deve ser esquecido é associar ao programa de exercícios físicos a
adoção de uma alimentação saudável.
4.4. Alimentação
Uma etapa difícil para prevenir a hipertensão e diabetes é convencer o doente de que ele
precisa mudar seu comportamento, seu estilo de vida. Essas orientações enfatizam,
principalmente, cuidados com uma alimentação saudável e a necessidade de praticar
exercícios físicos.
Segundo Nahas (2001, p. 158), “Uma dieta saudável deve observar os aspectos
quantitativos (número de calorias ingeridos) e qualitativo (composições das refeições)”,
pois, os alimentos de origem vegetal ou animal, fornecem ao ser humano os nutrientes
necessários para construir e manter as células do seu organismo.
Dieta é um termo que carrega a idéia de restrição alimentar por um período de
tempo, enquanto o conceito de plano alimentar engloba hábitos para uma alimentação
adequada durante toda a vida. Por isso, plano alimentar é o que todos nós devemos adotar
para nos manter saudáveis e prevenir as doenças.
Por outro lado, a obesidade é uma condição que aumenta o risco de morbidade
para as principais doenças crônicas: hipertensão, dislipidemia, diabetes, doença
Angélica Porto de Oliveira, Hedi Crecencia Heckler de Siqueira 25
Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente • Vol. XI, Nº. 12, Ano 2008 • p. 1-27
coronariana, alguns tipos de câncer e colecistite e, embora não se conheça uma estratégia
adequada de prevenção, sua prevenção e tratamento apresentam-se como um dos grandes
desafios deste século (SICHIERI et al., 2000).
Do ponto de vista da alimentação saudável, sugere-se que as recomendações
devem basear-se em alimentos mais do que em nutrientes. Assim, a Organização Mundial
de Saúde, sugere o estabelecimento de metas realísticas de consumo de alimentos
específicos, sendo estes alimentos identificados em função dos nutrientes que se
pretendam abranger.
No estabelecimento das recomendações para a população brasileira consideramos
como relevante as intervenções referentes à prevenção da obesidade, das doenças
cardiovasculares, câncer, diabetes tipo 2 e osteoporose e, quanto à definição dos
nutrientes, devem ser incluídos aqueles cujos achados são mais consistentes na literatura:
consumo de gorduras, trocar gorduras saturadas por insaturadas, de ácido fólico, vitamina
C e E, sódio, cálcio e no consumo de fibras (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE,
2003).
A proposta de uma dieta para a população brasileira tem, ainda, outros dois
pressupostos: o resgate dos hábitos alimentares saudáveis próprios da comida brasileira; e
a identificação de alimentos, ou grupo de alimentos, cujo consumo deva ser estimulado,
mais do que formular proibições.
Segundo a Organização Mundial de Saúde:
Os seguintes comportamentos trazem grande benefício à saúde:
• consumir mais frutas e verduras;
• ter atividade física diária;
• trocar gorduras saturadas de origem animal por insaturadas de óleo vegetal;
• diminuir a quantidade de alimentos gordurosos, salgados, e doces no regime alimentar;
• manter um peso corporal normal;
• não fumar.
Portanto, a dieta alimentar pode e deve ser utilizada no dia-a-dia de qualquer
pessoa, não precisando ficar restrita às pessoas que apresentam HAS ou DM, já que
atualmente, devido à velocidade com que o mundo evolui e com a falta de tempo de que
se dispõe, a alimentação está se tornando um problema de ordem social. As pessoas se
alimentam com pressa, comem lanches, comidas muito gordurosas e nada saudáveis.
Além disso, não se sentam, não mastigam, simplesmente engolem. Sendo assim, é
importante se procurar adequar à dieta alimentar. A alimentação saudável deve ser, rica
26 Influência dos exercícios físicos e da alimentação na qualidade de vida de portadores de hipertensão arterial sistêmica e diabetes mellitus
Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente • Vol. XI, Nº. 12, Ano 2008 • p. 1 - 27
em frutas, legumes, verduras e fibras, preferir o consumo de carnes grelhadas ou
preparadas com pouca gordura, realizar cinco a seis refeições por dia e mastigar bem os
alimentos.
Associar alimentação adequada, hábitos alimentares saudáveis à atividade física
no âmbito da saúde é talvez a mais importante tarefa de promoção da saúde, porque o seu
hábito pode levar a uma melhor qualidade de vida.
4.5. Qualidade de vida
Os exercícios físicos em relação à saúde vem sendo gradualmente discutidos com o
enfoque da qualidade de vida, cujo tema está obtendo uma grande relevância na
atualidade.
Nahas (2001, p. 5) considera qualidade de vida como sendo “a condição humana
resultante de um conjunto de parâmetros individuais e sócio-ambientais, modificáveis ou
não, que caracterizam as condições em que vive o ser humano”. Pode-se considerar que
estilo de vida é parte da forma como as pessoas vivem, as escolhas que fazem. Diz-se que é
parte porque algumas das nossas opções estão relacionadas com o contexto com o qual
vivemos. Esse contexto envolve a cultura da região, os hábitos que são adquiridos no
ambiente familiar e social e o conhecimento acumulado sobre saúde que se dispõe em
determinados momentos. Por conseguinte, o estilo de vida da pessoa é o mesmo que falar
como ela se relaciona consigo mesmo, com os outros e com a natureza.
Neste sentido o ser humano pode ser visto como um ser multidimensional capaz
de construir, destruir e reconstruir a sua história, a partir de sua vivência com
possibilidade de agir de forma singular frente às situações que se apresentam (CHANLAT,
1996; SIQUEIRA, 2001). Isto, entretanto, não significa que o seu agir, necessariamente, seja
semelhante ou idêntico em todos os seus atos, porque ele, ao mesmo tempo sujeito e ator
de sua historicidade, é capaz de adaptar-se e dar sentido ou significado, ou até mesmo,
modificar o meio em que se encontra inserido, conforme as situações que enfrenta em
dado momento. Por conseguinte, o seu agir lhe confere uma identidade própria e singular
que deve ser vista na sua totalidade.
Ver o ser humano na sua multidimensionalidade significa vê-lo como um ser
integral, que, de forma contínua, se inter-relaciona e enquanto cada uma das suas
dimensões, biológica, psicológica, social e espiritual, exerce influência sobre as demais,
pode modificá-las. As suas idéias são expressas através do seu discurso e da sua ação, que
vão imprimindo características próprias nas relações já existentes, tecendo uma verdadeira
Angélica Porto de Oliveira, Hedi Crecencia Heckler de Siqueira 27
Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente • Vol. XI, Nº. 12, Ano 2008 • p. 1-27
teia relacional. Estas, com a inserção de novos membros na teia, que é construída e
reconstruída, constantemente, por cada um que dela participa, formam, assim, a história
da humanidade (SIQUEIRA, 2001).
Os interesses de cada um representam os pontos que interligam e inter-
relacionam as pessoas entre si. Assim, o ser humano é capaz através do diálogo e de sua
ação, do inserir-se no contexto e relacionar-se com o outro, inserir-se na sociedade e no
mundo e é capaz de criar e inovar, realizar-se e ter boa qualidade de vida porque suas
necessidades como ser multidimensional estão sendo atendidas de forma satisfatória
(SIQUEIRA, 2001).
Portanto, um estilo de vida saudável ajuda a manter o corpo em forma e a mente
alerta. Ajuda a proteger o ser humano de doenças e a impedir que as doenças crônicas
piorem. Um estilo de vida saudável inclui a promoção e prevenção da saúde, abarca boa
nutrição e controle do peso, recreação, exercícios regulares, o bom relacionamento consigo
e com os outros, evitar o estresse, a agitação e nervosismo, bem como, evitar substâncias
nocivas ao organismo e sentir-se bem consigo mesmo e com os que o rodeiam.
Um bom estilo de vida deve ser desenvolvido o mais cedo possível. Estes hábitos
saudáveis devem ser mantidos durante a vida toda, porque auxiliam o ser humano a
equilibrar os seus aspectos biológicos, psíquicos, sociais e espirituais. É essa harmonia que
proporciona o bem estar, a vida saudável, ou seja, uma melhor qualidade de vida.
5. RESULTADOS
Os dados coletados através de entrevista semi-estruturada foram transcritos na íntegra e a
seguir organizados e mapeados para uma melhor visualização da sua totalidade.
Procedeu-se a leitura flutuante com a finalidade de impregnação do seu conteúdo e
encontrar as unidades de registro para formar os possíveis temas para responder a questão
de pesquisa, os objetivos e os pressupostos.
28 Influência dos exercícios físicos e da alimentação na qualidade de vida de portadores de hipertensão arterial sistêmica e diabetes mellitus
Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente • Vol. XI, Nº. 12, Ano 2008 • p. 1 - 27
Tabela 1. Dados de identificações.
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P1 ♂ 58
1ª serie do E.F1
casado R$190,00 3 própria alvenaria sim
não
P2
♀ 60
analfabeta casada R$252,00 2 própria alvenaria sim sim
P3 ♀ 50
E.F. completo casada R$280,00 1 própria alvenaria sim sim
P4
♀ 44
3ª do E.F. casada R$800,00 1 própria alvenaria sim sim
P5 ♀ 56
E.M. completo
casada R$190,00 0 própria alvenaria sim não
P6 ♀ 33
3ª série E.F casada R$400,00 0 mista (alvenaria e madeira)
alvenaria/madeira
sim sim
P7 ♀ 50
4ª serie E.F casada R$252,00 2 própria alvenaria sim sim
P8 ♀ 53
7ª série E.F casada R$190,00 0 própria alvenaria sim sim
P9
♀ 47
5ª série E.F casada R$127,00 1 própria alvenaria sim sim
P10
♀ 78
analfabeta casada R$190,00 1 própria alvenaria sim sim
A investigação realizada com os dez sujeitos portadores de doença crônica-
degenerativa de HAS e/ou DM revelou que: 1 é do sexo masculino e 9 do sexo feminino; ;
8 são casados (as), 1 solteiro (a) e 1 divorciado (a). No que se refere a idade, 6 tem entre 50
a 59 anos; 1 de 60 à 69 anos; 1 de 33 anos e 2 de 40 a 49 anos. Em relação ao grau de
instrução, 6 completaram o ensino fundamental, 2 nunca estudaram; 1 tem o ensino
fundamental completo e outro o ensino médio. Quanto ao número de filhos 7 possuem
filhos; 3 não possuem; Quanto a residência 9 tem casa própria e 1 aluga; 9 residências são
de alvenaria e 1 é mista; 9 dos entrevistados possuem água tratada e somente um possui
não água tratada, nenhum possui esgoto.
Cabe registrar que dos 10 sujeitos participantes da pesquisa 3 permaneceram até a
oitava semana do programa e tiveram de abandoná-lo em virtude de ter conseguido 1 Ensino Fundamental
Angélica Porto de Oliveira, Hedi Crecencia Heckler de Siqueira 29
Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente • Vol. XI, Nº. 12, Ano 2008 • p. 1-27
emprego. Desta forma os três não constituíram-se em sujeitos, propriamente ditos, porque
a sua avaliação final ficaria prejudicada em relação aos demais.
Os dados coletados e analisados conduziram ao agrupamento de três temáticas
significativas: Influência da alimentação adequada no controle da Hipertensão Arterial
Sistêmica, Diabetes Mellitus e na qualidade de vida; o exercício físico e sua relação com
hipertensão arterial sistêmica e Diabetes Mellitus e qualidade de vida; principais benefícios
resultantes do exercício físico e da alimentação na saúde do portador de HAS e Diabetes
Mellitus.
5.1. Influência da alimentação adequada no controle da Hipertensão Arterial Sistêmica, Diabetes Mellitus e na qualidade de vida
A análise dos dados da entrevista preliminar evidencia que nenhum dos sujeitos realizava
o número de refeições diárias preconizado para uma alimentação saudável. Na entrevista
final do programa os dados se modificaram porque enquanto três permaneceram com o
número inferior ao indicado, quatro modificaram esse hábito, três alcançaram o número
ideal de 5 a 6 e o outro passou de duas para três refeições diárias.
O Ministério da Saúde (2005), refere-se ao número indicado das porções diárias
para uma pessoa: seis porções do grupo do arroz, pães, massas, entre outros do grupo, e
pelo menos três porções de legumes e verduras como parte das refeições e três porções
ou mais de frutas nas sobremesas e lanches. Sendo que, o tamanho das porções será
calculado com base em uma dieta de 2.000kcal.
Em relação ao fator de gordura obteve-se como resultado dos 7 participantes, três
eram consumidores de grande quantidade de gordura, enquanto 4 não. Atualmente os três
que eram grandes consumidores, passaram a quantidades menores conforme falas a
seguir:
“ Hoje é bem menos gordura. Comida bem magra e a carne gorda eliminamos” (P 3) “ Estou procurando a me controlar mais”. (P 5)
O Ministério da Saúde (2005, p. 210) indica: “Diminua o consumo de frituras e
alimentos que contenham elevada quantidade de açúcares, gorduras e sal.” A CBHA
(1998) recomenda reduzir a ingestão de gorduras saturadas, utilizando preferencialmente
gorduras mono e poliinsaturadas na dieta porque essas são menos prejudiciais à saúde.
30 Influência dos exercícios físicos e da alimentação na qualidade de vida de portadores de hipertensão arterial sistêmica e diabetes mellitus
Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente • Vol. XI, Nº. 12, Ano 2008 • p. 1 - 27
Ao investigar a respeito da comida hipossódica, detectou-se que dos sete
investigados o único participante com grande consumo de sal não conseguiu diminuir a
sua ingesta conforme se expressou:
“ Sim sou safada no sal. Na hora do desespero vou no saleiro e como de colher” (P 5)
As recomendações do consumo de sal segundo Ministério da Saúde (2005) é de
apenas 5g/dia, sendo que essa quantidade garante o iodo para prevenir os distúrbios das
deficiências do iodo (DDI).
Ao fazer o questionamento em relação ao tipo de alimentos ingeridos a maioria
dos participantes se manifestaram que consumiram principalmente arroz, feijão e carne.
Após o programa dois dos participantes mudaram o hábito alimentar e introduziram
legumes e diminuíram o arroz, conforme falas:
“Como carne branca, salada crua, como por exemplo: alface e arroz muito pouco agora” (P 2) “Hoje mudou bastante, arroz bem pouco, aprendi a comer verdura crua, pepino, saladas cruas. Antes eu sempre fazia couve com ovo, agora aprendi a fazer crua” (P 3).
Essa modificação do hábito alimentar vem ao encontro do que a OMS (2003)
preceitua em relação ao consumo de verduras e alimentos e considera que esse
comportamento traz grande benefício à saúde.
Ao aferir o peso dos participantes contatou-se que todos diminuíram o seu peso
ficando esse dado mais expressivo no P 2 que diminuiu 4 kg e no P 10,5 kg. O P 2
conseguiu fazer uma analogia dessa perda de peso com a forma que se sente ao ser
perguntada a respeito se ela se acha de bem com a vida e por que? Ela assim falou:
“ Parece que agora melhorou, não sei se é porque perdi a barriga, posso usar calça apertadinha, nada disso podia antes. Passava usando bata, parecia uma mulher grávida” (P 2)
Essa fala, facilmente pode levar a perceber que esse participante, provavelmente
obteve uma grande melhora na sua auto-estima porque conforme se expressa consegue
usar roupas que anteriormente não lhe era possível.
A análise dos aspectos relativos à alimentação demonstra algumas dificuldades
que os participantes possuem para processar as mudanças. A literatura traz algumas
explicações neste sentido:
[..] A formação dos hábitos alimentares se processa de modo gradual, principalmente durante a primeira infância; é necessário que as mudanças de hábitos inadequados
Angélica Porto de Oliveira, Hedi Crecencia Heckler de Siqueira 31
Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente • Vol. XI, Nº. 12, Ano 2008 • p. 1-27
sejam alcançadas no tempo adequado, sob orientação correta. Não se deve esquecer que, nesse processo, também estão envolvidos valores culturais, sociais, afetivos/emocionais e comportamentais, que precisam ser cuidadosamente integrados às propostas de mudanças (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2005, p. 121)
Essas ponderações podem auxiliar a entender algumas das dificuldades
apresentadas pelos participantes na mudança dos hábitos alimentares. Mesmo orientados
e sabendo que alguns hábitos não eram favoráveis, não conseguiram superá-los.
5.2. O exercício físico e sua relação com hipertensão arterial sistêmica e diabetes Mellitus e qualidade de vida.
Dos sete participantes do programa de exercícios físicos dois relatam que, anteriormente,
nunca haviam realizado exercícios físicos, três em algum momento de suas vidas já
haviam realizado exercícios físicos, mas atualmente não praticavam mais, enquanto dois
são ativos.
Com o programa de exercício físico instituído os sete integrantes do grupo ao
participar expressam que:
“ Consegui alongamento dos ombros. Perdi a barriga, peso, sente o corpo, antes tinha o corpo duro. Terminou aquela “pia, pia” (dói aqui, dói ali) [...] (P 2) “Para respirar, mais disposição para caminhar e me sinto mais leve. Até para dormir me sinto melhor. Para a cabeça aquela agonia que tinha no peito passou. Não sinto mais nada” (P 3) “ [...] Esse exercício em primeiro lugar melhorou psicologicamente. Eu era muito só, por vezes amarga, no sentido de revoltada, muito triste, vazia. Isso aí melhorou psicologicamente 100% e também para eu caminhar, fazer a minha lida para sentar, para deitar melhorou, para me abaixar. Pela manhã antes não conseguia me vestir. Me sinto outra pessoa” (P 5) “ Para a cabeça, perdi peso, tudo melhorou” (P 9)
Os integrantes com seus relatos evidenciam que o exercício físico conseguiu
beneficiá-los não apenas sob o aspecto biológico, mas envolveu as demais dimensões:
psicológico, social e espiritual. A tristeza, o vazio, a revolta e a amargura e o sentir-se só,
relatado pela participante 5 confirma que o ser humano é um todo indivisível e que um
aspecto influencia nos demais. Essa relação específica a necessidade de olhar para o ser
humano na sua multidimensionalidade, ou seja, na sua integralidade e oferecer opções
para melhorar a sua qualidade de vida. Segundo Nahas, (2001, p. 25), “a inatividade física
representa uma causa importante de debilidade, de reduzida qualidade de vida e morte
prematura nas sociedades contemporâneas, particularmente nos países industrializados”.
Segundo MARCHAND (2004):
32 Influência dos exercícios físicos e da alimentação na qualidade de vida de portadores de hipertensão arterial sistêmica e diabetes mellitus
Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente • Vol. XI, Nº. 12, Ano 2008 • p. 1 - 27
“[...] o aumento das atividades físicas, por meio de um programa de exercícios físicos, é um fator importante para que ocorra a redução dos problemas de saúde, refletindo na redução da mortalidade e da morbidade. Para isso, é necessário que as atividades físicas sejam incluídas como parte fundamental de um estilo de vida saudável”.
Tabela 2. Avaliação inicial e final dos sujeitos da pesquisa. Antes de iniciar Ao término
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ção?
P1 HAS2
130/80
112 77.5 Hipertensivas e
Analgésico.
Sim 111/80
101 76.5 = Bem menos
Sim
P2 HAS e DM3
130/80
144 66 Hipertensivas, Hipoglicemiante e p/ circulação.
Sim 110/80
98 62 = Não Sim
P3 HAS
150/80
90 98 Hipertensivas e analgésico.
Sim 130/80
98 97 ↓ medicação Às vezes
Sim
P4 HAS
130/80
130 91.5 Hipertensivas. Sim
- - - - - -
P5 HAS
140/80
121 69 Hipertensivas e analgésico.
Sim 110/80
104 68 = Bem menos
Sim
P6 HAS e DM
150/80
213 58.5 Hipertensivas, Hipoglicemiante.
Sim
- - - - - -
P7 HAS e DM
170/80
217 59.5 Hipertensivas, Hipoglicemiante,
Circulação, analgésico e
tranqüilizante.
Sim 140/70
104 59 = Bem menos
Sim
P8 HAS
150/80
115 85.5 Hipertensivas, Hipoglicemiante.
Sim
- - - - - -
P9 HAS
140/80
101 53.5 Hipertensivas. Sim 100/60
80 51 ↓ medicação Não Sim
P10 HAS e DM
140/90
137 78 Hipertensivas Hipoglicemiante.
Sim 120/80
99 73 = Bem menos
Sim
Os resultados apontaram que antes do programa de exercícios físicos alguns
participantes apresentavam índices de HAS e das taxas de glicose alterados. Todos os
entrevistados sentiam desconfortos e/ou dores, consumiam muita medicação, e possuíam
esperança de melhorar a sua saúde se participassem do grupo de caminhada.
Ao analisar os resultados alcançados com os sete participantes do programa de
exercícios físicos eles evidenciam resultados positivos em todos os aspectos da saúde e que
com isso além de reduzir a morbidade também pode ser visto como fator interferente na
longevidade porque o estar melhor o sentir-se melhor pode levar a somar anos na vida. Os
sete participantes diminuíram de peso, a pressão arterial diminui consideravelmente e a
2 Hipertensão arterial sistêmica 3 Diabete Mellitus
Angélica Porto de Oliveira, Hedi Crecencia Heckler de Siqueira 33
Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente • Vol. XI, Nº. 12, Ano 2008 • p. 1-27
taxa de glicose apresentou diminuição. Em relação as dores e desconforto manifestados
por todos no início do programa demonstrou que desapareceu em dois participantes e nos
outros cinco a sua intensidade é bem menor do que anteriormente.
Esses resultados demonstram que a prática dos exercícios físicos e as
modificações nos hábitos alimentares é importante para melhorar pressão arterial, as taxas
de glicose, diminuir o peso, diminuir o consumo medicamentoso e favorecer o bem-estar
levando a uma melhor qualidade de vida. Além disso, é possível afirmar que ele
beneficiou a cada um, ainda que, de intensidade e maneira diversa e particular.
5.3. Principais benefícios resultantes do exercício físico realizado no grupo
Compreender a importância do estilo de vida para a saúde das pessoas amplia a
concepção de vida saudável. Quando o ser humano é capaz de compreender o valor de
um estilo de vida saudável é possível modificar a sua forma de viver. A conscientização,
provavelmente, terá assegurado a energia suficiente para avançar nesse caminho que leva
à construção de uma melhor qualidade de vida.
Uma tendência estabelece uma relação entre a prática da atividade física e a
conduta saudável. Nesta linha, Nahas (2001, p. 31) afirma “que atividade física tem sido
associada ao bem estar, à saúde e à qualidade de vida das pessoas em todas as faixas
etárias, principalmente na meia idade e na velhice, quando os riscos potenciais da
inatividade se materializam, levando a perda precoce de vidas [...]”. Por outro lado,
Wilmore (2003) refere que o exercício representa um subgrupo de atividade física
planejada com a finalidade de manter o condicionamento. No entender de Marchand e
Siqueira (2008) há necessidade de conscientizar o ser humano, mostrando claramente os
benefícios que pode obter através da prática dos exercícios físicos, com a finalidade de
promover a saúde, pois numa visão ampliada ela é um dos seus determinantes.
Olhando a saúde nesta perspectiva ela é muito mais do que apenas não ficar
doente, pois envolve aspectos biopsicossocioespirituais. O ser humano vive numa
sociedade e se encontra sujeito às regras e valores impostos por ela. Tudo isso influencia
diretamente na sua saúde e qualidade de vida (MARCHAND, 2004).
A análise dos dados em relação aos principais benefícios obtidos através do
programa de exercícios físicos realizados no grupo evidenciou que:
“ Grupo é bom. Fico bastante empolgado. Só penso coisa boa. Sinto uma coisa boa. Fazia as caminhadas (antes) mas não sentia proveito no corpo. A noite nos reunimos na cozinha de casa e fazemos alongamento que aprendi no grupo, toda família e alguns vizinhos. Até os vizinhos dizem para deixar alguma coisa, se tiver que fazer, que eles fazem, para eu ir ao grupo de caminhada” (P 2)
34 Influência dos exercícios físicos e da alimentação na qualidade de vida de portadores de hipertensão arterial sistêmica e diabetes mellitus
Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente • Vol. XI, Nº. 12, Ano 2008 • p. 1 - 27
“ Eu adoro. Me sinto super bem. Para mim é muito bom. Eu sou difícil de achar graça e quando estou aí é tudo engraçado. Aquelas nossas bobagens, tudo eu acho graça [...] (P 7) “ Muito boa porque motiva a gente para caminhar. Nem dá para sentir essa uma hora passar”(P. 10) “ O grupo “enterte” mais porque antes eu ia e vinha sozinha” (P 9) “ Acho muito bom, muito importante. A gente se motiva com aquilo ali. A gente tem aquela obrigação de fazer. Se tiver sozinha aí diz: hoje não vou fazer. Se tiver um grupo, um horário certo, já te levanta pensando que tu tens de ir para aquilo ali. É o mesmo que ir para um serviço. Chega aquela hora e já dá vontade de sair. Sozinho não tem tanta motivação, até porque a gente se descontrai”(P 3)
O trabalho em grupo torna-se mais enriquecedor porque cada membro do grupo
representa uma interdependência com o outro e possui a possibilidade de influenciar o
outro e ser influenciado pelos demais integrantes. Outro ponto importante a considerar no
trabalho em grupo é a dinâmica que o grupo é capaz de transmitir ao demonstrar o
interesse que possui em torno do objetivo comum. Assim, justifica-se que a opção por dez
integrantes se ateve, principalmente, com base nessa fundamentação objetiva e lógica da
interação dos participantes (SIQUEIRA, 1998). Entretanto, também foi levado em
consideração o benefício a usufruir pelo participante ao compartilhar dessa pesquisa, já
que a mesma buscou intervir, na medida do possível, modificando os hábitos de vida para
alcançar uma melhor qualidade de vida.
O apoio e reconhecimento manifestado pelos familiares e vizinhos pelo trabalho
de caminhada desenvolvido pelo grupo demonstra que os benefícios alcançados
ultrapassaram os integrantes e se dissiparam num espaço maior dentro da comunidade.
Essa irradiação poderá ser capaz de suscitar novos membros para, futuramente, se
candidatar para a formação de novos grupos em busca de uma melhor qualidade de vida.
Seguindo a análise, no que se refere em relação à importância do programa de
exercício físico, foi perguntado aos participantes da pesquisa: Se eles achavam que o grupo
de exercícios físicos deveria continuar? Por quê?
“[...] muito importante, porque isso traz benefício não só para mim, mas para outras pessoas, tu vê, que às vezes tem gente querendo caminhar com nós, estão vendo que a gente está melhorando. Tem gente que pensa: Ah! Vou andar caminhando por aí, mas como é um grupo, eles acham legal, minha filha faz caminhadas com outras pessoas, à tardinha, depois que chega do serviço, aí coloco todos para fazerem o alongamento e faço junto também.” (P.3) “ Sim, isso aí é uma coisa que só traz vantagens, só para melhorar.” (P.5) “ Para mim acho que deveria seguir, é maravilhoso esse grupo.” (P 7)
Angélica Porto de Oliveira, Hedi Crecencia Heckler de Siqueira 35
Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente • Vol. XI, Nº. 12, Ano 2008 • p. 1-27
“Sim, porque eu nem acho mais graça de caminhar sozinha, e isso é uma coisa que só traz benefício.” (P.9).
Dessa forma, observa-se a importância de incorporar ao dia-a-dia exercícios
físicos, nos quais, as pessoas se sintam bem, apresentam beneficio à saúde e que
contemplam um significado pessoal, que neste caso, a proposta de grupo foi positiva aos
participantes.
Muitos pesquisadores, entre eles, Assunção; Santos; Costa (2002); Guimarães;
Takayanagui (2002), Volpato (2006), Angelis (2006) e Furtado; Polanczyk (2007), apontam
que atitudes positivas, em relação a atividades físicas regulares podem influenciar em um
melhor conhecimento sobre os seus benefícios. Assim, os exercícios físicos afetam de
maneira positiva o desempenho intelectual, o raciocínio, a velocidade de reação, o
convívio social, ou seja, há uma melhora significativa da sua qualidade de vida. Todos
esses fatores positivos atribuídos aos exercícios físicos regulares aumentam a longevidade,
melhoram o nível de energia, a disposição e a saúde de um modo geral. Por outro lado, “a
inatividade física representa uma causa importante de debilidade, de reduzida qualidade
de vida e morte prematura nas sociedades contemporâneas, particularmente nos países
industrializados” (NAHAS, 2001, p. 25). Todas essas colocações levam a considerar o ser
humano como intrinsecamente ativo e por isso o exercício físico é indicado porque é capaz
de influenciar, positivamente, na função orgânica e funcional do organismo.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo realizado utilizando um programa de intervenção de exercícios físicos aliado a
uma alimentação adequada com um grupo de HAS e/ou DM permitiu alcançar os
objetivos propostos e contemplar os pressupostos e a questão de pesquisa.
A pesquisa foi relevante porque a temática envolveu um problema sócio-político
que abarca cerca de 40% dos casos de aposentadorias precoces e é causa de elevado grau
de absenteísmo no trabalho em nosso meio. Ao realizar a intervenção através de um
programa de exercícios físicos e alimentação adequada, com um grupo de HAS e/ou DM,
esse foi capaz de influenciar, positivamente, em todos os participantes. Diminuiu a pressão
arterial, a glicose e o consumo de medicamentos, melhorou ou eliminou os desconfortos
e/ou dores e assim, melhorou a sua saúde e favoreceu bem-estar dos seus integrantes e
conseqüentemente sua qualidade de vida.
A experiência investigativa serviu para um incentivo na formação acadêmica e
pessoal da pesquisadora porque a prática do trabalho em grupo despertou grande
36 Influência dos exercícios físicos e da alimentação na qualidade de vida de portadores de hipertensão arterial sistêmica e diabetes mellitus
Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente • Vol. XI, Nº. 12, Ano 2008 • p. 1 - 27
satisfação pessoal e motivou uma reflexão profunda sobre a importância que o profissional
de enfermagem pode exercer numa atividade grupal. A receptividade dos integrantes do
grupo, juntamente com as progressivas mudanças que se manifestaram ao longo dos
quatro meses de intervenção, serviram para evidenciar que se faz necessário incentivar
programas como esse, para melhorar a qualidade de vida das pessoas portadoras de
doenças crônico-degenerativas.
As mudanças já mencionadas anteriormente, ocorridas com os participantes dessa
pesquisa, nos diversos aspectos do ser humano, representam um reflexo positivo na
melhor qualidade de vida. Dessa forma, os exercícios físicos, que nesse caso foi realizado
através de caminhada e o controle na alimentação mostrou-se relevante, e trata-se de um
método relativamente barato e possível de ser estendido a outros grupos.
Ressalta-se que o programa de exercícios físicos e a alimentação adequada
mostraram-se como um método coadjuvante não medicamentoso no tratamento de
doenças crônico-degenerativas e que conseguiu resultados positivos em todos os
participantes.
PARECER DE APROVAÇÃO DE COMITÊ
Pesquisa autorizada pelo Comitê de Ética da Santa Casa de Misericórdia de Pelotas/RS em
28 de maior de 2008, conforme Ata 77/2008.
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38 Influência dos exercícios físicos e da alimentação na qualidade de vida de portadores de hipertensão arterial sistêmica e diabetes mellitus
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