Download - Cosmogolé - Edição 1
edição 1
Samba no péA história de Mosquito da Mangueira, um garoto que virou obra de arte
cosmogolé
Pode encostar!Uma exposição de arte diferente, em que quase tudo é feito para experimentar
Obras pra vestirDe onde Hélio Oiticica tirou a ins-piração para criar os parangolés?
AvatarComo seria seu parangolé? Crie ume mande para a revista
Cosmogolé fala de arte e fala de artista, fala de
obra e fala de cor. Tem texto escrito, tem história
desenhada, tem matéria em vídeo, tem música
cantada. Cosmogolé é uma revista, mas se prestar
atenção é um site, Cosmogolé é um jornal de
brincadeira, mas no fundo é de verdade.
É que Hélio Oiticica era um artista cada dia de um jeito. Se fazia uma pintura sobre a tela, já queria ver as cores livres dessa janela. Se pendurava duas cores num trapézio, balançando no ar, não se conformava o artista: as cores foram feitas, ele dizia, feitas pra sambar! E assim ia fazendo, experiência e muito trabalho, escrevia todo dia cartas pros amigos e um diário. Oiticica já morreu, mas sua obra nunca parou de se criar. É o que mostra uma exposição, que acaba de abrir, chamada Museu É o Mundo – não deixe de ir!
É simples, seu leitor, não tem obra de Hélio Oiticica que não dependa do seu olhar. Pra dizer bem a verdade, olhar não basta não, você precisa sentir, mexer, tocar, até tirar o sapato e pôr o pé no chão. Se você não pode visitar essa incrível exposição, acompanhe a nossa revista, que como uma obra de Hélio também conta com a sua participação. Mas f que aten-to que esta é só a primeira edição! Serão mais duas Cosmogolés, com muito mais sobre Hélio Oiticica, arte e exposição.
E agora chega de conversa que é virando a página que está o que interessa. Boa leitura e uma ótima navegação!
Seu editor, nao entendi. Explica direito: como assim uma revista que é tudo ao mesmo tempo?
“Mas que mistério, seu editor, como pode a criacao sem o artista continuar?”
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Cosmogolé é
Pesquisa, redação e ediçãoBeatriz Antunes
Produção editorialLara Alcadipani
Direção de arteJader Rosa e Liane Iwahashi
Projeto gráficoLiane Iwahashi
IlustraçõesPaulo Ito
RevisãoPolyana Lima
ColaboraçãoAndré SeitiEdison ForlenzaEstevan Pelli
Apresentação do Conexão Cosmogolé Taciane Glasberg
ApoioNúcleos de Artes Visuais, de Comunicação, Audiovisual e Educação Cultural do Instituto Itaú Cultural
ilustração: Liane Iwahashi
Ache aqui
Quem? Como? Quando? Onde? [Uma introdução rápida e bacana sobre a vida e a obra de Hélio Oiticica.] p. 6
Que nome é esse?
[A verdadeira história por trás
do nome parangolé.] p. 7
Zum-zum-zum e samba no pé[A história do sambista mirim que foi amigo de Hélio e ganhou um parangolé de presente.] p. 8
Pode tocar?[Mãos à obra! Por que na exposição Hélio Oiticica – Museu É o Mundo você não só pode como deve tocar nas obras.] p. 10 Linha do tempo [Da infância de Hélio Oiticica aos seus 27 anos.] p. 14
Entrevista exclusiva! [Exposição: confira a opinião do organizador.] p. 12
Conexao Cosmogolé [Assista ao nosso passeio pela exposição e saiba como participar do nosso canal.] p. 13
Hélio Oiticica era o filho mais velho de seu José, um cientista especiali-zado em insetos que também era pintor e fotógrafo, e de dona Ân-gela, um senhora muito culta que falava diversas línguas e estudava música. Ele nasceu em 1937, no Rio de Janeiro, e se estivesse vivo com-pletaria 73 anos no dia 26 de julho.
Aos 17 anos, Hélio começou a es-tudar pintura e, aos 21, fez sua pri-meira exposição. Mas foi com 27 anos que ele revolucionou as artes plásticas no Brasil. Tudo começou
Antes que a gente comece a falar sobre as obras, vamos descobrir quem foi o artista Hélio OiticicaDa redação
quando pintou um carro alegórico para a escola de samba Manguei-ra. Ficou tão fascinado por aque-le universo de cor, movimento e musicalidade que acabou levando isso para o seu trabalho. Criou os parangolés: capas coloridas e es-voaçantes com as quais qualquer um podia dançar e rodopiar. Foi uma grande invenção: agora, uma obra de arte além de poder devia ser vestida.
foto: Ivan Cardoso
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Os parangolés também significa-ram uma maneira genial de resol-ver um problema no qual Hélio vi-nha pensando havia muito tempo: como libertar as cores de dentro dos quadros e dar corpo a elas?
Nos anos seguintes, ele ainda in-ventou muitas outras obras, mas sobre elas vamos falar nas próxi-mas edições. Hoje, a nossa linha do tempo vai até 1964, ano em que criou os tais parangolés...
No dicionário, parangolé signi-fica malandragem, esperteza. Mas não foi por isso que Hélio escolheu a palavra para batizar suas criações. Ele disse numa
entrevista: “Na Praça da Bandeira havia um mendigo que fez as-sim uma espécie de coisa mais linda do mundo: uma espécie de construção [...] Eram quatro postes, estacas de madeira de uns dois metros de altura, que ele fez como se fossem vértices
de retângulo no chão [...] E havia um pedaço de aniagem pregado num desses barbantes, que dizia: ‘Aqui é...’, e a única coisa que eu
entendi do que estava escrito era a palavra ‘parangolé’. Aí eu disse:
‘É essa a palavra’ ”.
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Dizem que Hélio dançava bem que só, que fazia bonito na passarela do Carnaval. Mas tinha um garotinho, de uns 10 anos mais ou menos,
que sambava ainda melhor. E não sou eu quem está dizendo! O próprio Hélio é que falou: “O Mosquito é um verdadeiro gênio da
dança”. Uau, que elogio! Mosquito era um passista mirim da Mangueira, praticamente um profissional do samba no pé. Por isso, deve ter ficado muito orgulhoso quando Hélio fez um parangolé especialmente para ele escrito assim: “Sou o mascote do parangolé, o Mosquito do samba”.
Isso é que é homenagem!
e
Zum-zumzum-
sambano pé
O mascote do parangolé
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E você ainda pode usar a última página da revista na sua colagem!
Que tal usar a criatividade e criar o seu parangolé? Esse é você. Ou melhor, o seu avatar. Que parango-lé quer usar? Vale tudo: papel, tecido, colagem de jornal, grãozinho de feijão, frases escritas, plástico, o que você quiser para compor a capa do seu personagem. Imprima e recorte a figura, es-colha o material, vista o seu avatar, tire uma foto e nos envie. A foto do seu parangolé será publicada na revista! Participe! Envie sua foto para [email protected]. Importante: não se esqueça de enviar também o e-mail ou o telefone de seus pais ou responsáveis.
ilustração: Liane Iwahashi9
Se você costuma visitar museus e exposições de arte, está careca de saber que não está autorizado a encostar nas obras. Parece chato, mas é graças a regras assim que peças produzidas há centenas de anos estão inteiras e podem ser vistas até hoje. E você sabia que existem obras de arte que, para ser preservadas, precisam ser me-xidas, sentidas? É o caso de gran-de parte do que está exposto na retrospectiva Museu É o Mundo, de Hélio Oiticica.
Para esse artista, o papel da arte era modificar a maneira de ver-
Na exposicao Museu É o Mundo, o visitante pode encostar nas obras, vesti-las e até dancarcom elas
mos o mundo. Por isso seus tra-balhos procuravam sempre des-pertar sensações que o público não esperava encontrar em um museu. Assim, mais do que expor obras de arte, Hélio Oiticica pro-punha experiências, e o público precisava participar.
Agora tente imaginar como seria despertar no público essas sensa-ções se ele não pudesse interagir com as obras. Não daria certo. Manter a arte de Hélio Oiticica viva é manter o público em con-tato com ela.
Podetocar ?
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até 23 de maioterça a sexta 9h às 20h | sábado domingo feriado 11h às 20h | Entrada francaagendamentos e informações [11] 2168 1876Itaú Cultural | Avenida Paulista, 149, São Paulo – SP, próximo à estação Brigadeiro do Metrô
Gilberto Vieira, educador do Itaú Cultural, lembra: “Tocar significa muito mais que pôr a mão. É sentir, perceber o trabalho e, a partir disso, estabelecer uma conversa com ele. É importante ter cuidado com a manipulação das obras, para termos a certeza de que elas estarão disponíveis para outros visitantes”.
HÉLIOOITICICAmuseu e o mundo
visite a exposicao
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Curador da exposição, César Oiticica Filho diz que Hélio ia adorar ver crianças interagindo com suas obras
Todas as obras da exposicao podem ser tocadas?Hélio Oiticica foi um dos primeiros artistas a propor a participação do público na obra de arte, e hoje é reconhecido como um dos mais importantes e inovadores artistas do século XX. Mas nem sempre essa participação se dá pelo toque: nas obras chamadas Relevos Espaciais, por exemplo, o espectador participa andando ao redor delas e percebendo as mudanças de cor.
As obras expostas sao as originais?Algumas são reconstruções ou réplicas das originais. Mas isso não prejudica a compreensão da obra, pois Hélio questiona a noção do artista como autor. Em vários trabalhos, ele usa objetos do cotidiano, como uma bacia ou uma caixa d’água. A partir do momento em que esses objetos sofrem a participação do público, adquirem outro significado; então, a ideia de autor daquela obra não tem importância.
Como Hélio Oiticica via a participacao das criancas em suas obras?Ele tentava fazer o espectador se libertar de todos os seus condicionamentos para que pudesse se entregar à experiência da sua arte, por isso creio que ele ficava feliz ao ver uma criança participando de suas obras. As crianças têm essa liberdade de sobra, então conseguem se entregar completamente às experiências que ele propõe.
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Na primeira edição do jornal Conexão Cosmogolé, você acompanha uma diver-tida visita à exposição Museu É o Mundo.
Gostou do
vídeo? Ficou
com alguma
dúvida?
Quer que a gente responda sua pergunta no
próximo Conexão Cosmogolé? Então escreva
logo para [email protected]! =)
Confira aqui os bastidores da gravação!
ilustração: Liane Iwahashi13
1950 a 1959
Depois de voltar a morar
no Rio de Janeiro, Hélio,
que já tinha completado
17 anos, começou a
estudar pintura no Museu
de Arte Moderna do
Rio, o MAM. Foi mais
ou menos aí que ele
começou a escrever uns
diários diferentes, que
não descreviam só o que ele tinha feito durante o dia, mas também o que
pensava sobre a arte, sobre a pintura e sobre outros artistas. Esse hábito de
anotar pensamentos e ideias foi superimportante para ajudá-lo a decidir
que rumos a arte que fazia ia tomar. Será que ia continuar a pintar?
1937 a 1947 Até os 10 anos de idade, Hélio teve aulas em casa, com sua mãe, dona Ângela. Isso porque seu José, o pai, não achava as escolas daquele tempo nada boas. Em 1947, a família toda se mudou para os Estados Unidos, e foi lá que ele frequentou a escola pela primeira vez.
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1960 a 1964 continua na próxima edição... Em 1960, ele decidiu parar de pintar. Agora ia se dedicar a um novo tipo de arte, que poucos artistas faziam na época: a arte participativa. O que Hélio estava querendo era descobrir um jeito de fazer as pessoas parti-ciparem do que ele produzia. Quando conheceu o Morro da Mangueira, em 1964, e se tornou passista da escola de samba, teve a inspiração que faltava e construiu os quatro primeiros parangolés. Um deles foi feito para homenagear um menino chamado Mosquito, apelidado por Hélio de “O mascote do parangolé”. Mas 1964 não foi um ano só de alegrias e desco-bertas... Foi também um ano de muitas mudanças no Brasil; o governo passou a controlar o direito de as pessoas dizerem o que pensavam. A gente vai descobrir como essas mudanças políticas afetaram a arte que Hélio e outros artistas estavam começando a criar.
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