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CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO - FAVENI
APOSTILA HISTÓRIA DA FILOSOFIA
ESPÍRITO SANTO
HISTÓRIA DA FILOSOFIA
A História da Filosofia não é apenas
um relato histórico, mas as transformações
do pensamento humano ocidental, ou seja,
o percurso do pensamento ocidental; o
modo pelo qual essa forma de pensar in-
fluenciou a realidade e, ao mesmo tempo,
foi resultado dessa realidade histórica.
A História da Filosofia pode ser estudada a partir de seis períodos:
1. Filosofia Antiga
2. Filosofia Medieval
3. Filosofia do Renascimento
4. Filosofia Moderna
5. Filosofia do Século XIX
6. Filosofia do século XX
1.1 FILOSOFIA ANTIGA
A filosofia antiga teve início no século VI-VII A.C. e se estendeu até a deca-
dência do império romano no século V D.C.
Pode-se dividi-la em quatro períodos: (1) o período dos pré-socráticos; (2) um
período humanista, em que Sócrates e os sofistas trouxeram as questões morais
para o centro do debate filosófico; (3) o período áureo da filosofia em Atenas, em
que despontaram Platão e Aristóteles; (4) e o período helenístico. Às vezes se dis-
tingue um quinto período, que compreende os primeiros filósofos cristãos e os neo-
platonistas. Os dois autores mais importantes da filosofia antiga em termos de in-
fluência posterior foram Platão e Aristóteles.
Os primeiros filósofos gregos, geralmente chamados de pré-socráticos, de-
dicaram-se a especulações sobre a constituição e a origem do mundo. O principal
intuito desses filósofos era descobrir um elemento primordial, eterno e imutável que
fosse a matéria básica de todas as coisas. Essa substância imutável era chamada
de physis (palavra grega cuja tradução literal seria natureza, mas que na concepção
dos primeiros filósofos compreendia a totalidade dos seres, inclusive entidades divi-
nas) e, por essa razão, os primeiros filósofos também foram conhecidos como os
physiologoi (literalmente ―os filósofos que se dedicavam ao estudo da physis).
A teoria de Demócrito represen-
tou o ápice da filosofia da physis, mas
também o seu esgotamento. As trans-
formações sociopolíticas, especialmen-
te em Atenas, já impunham novas de-
mandas aos sábios da época. A demo-
cracia ateniense solicitava novas habi-
lidades intelectuais, sobretudo a capacidade de persuadir. É nesse momento que se
destacam os filósofos que se dedicam justamente a ensinar à retórica e as técnicas
de persuasão – os sofistas. O ofício dessa nova espécie de filósofos trazia como
pressuposto a ideia de que não há verdades absolutas. O importante seria dominar
as técnicas da boa argumentação, pois, dominando essas técnicas, o indivíduo po-
deria defender qualquer opinião, sem se preocupar com a questão de sua veracida-
de. De fato, para os sofistas, a busca da verdade era uma pretensão inútil. A verda-
de seria apenas uma questão de aceitação coletiva de uma crença, e, a princípio,
não haveria nada que impedisse que o que hoje é tomado como verdade, amanhã
fosse considerado uma tolice.
O contraponto a esse relativismo dos sofistas foi Sócrates. Embora parti-
lhasse com os sofistas certa indiferença em relação aos valores tradicionais, Sócra-
tes dedicou-se à busca de valores perenes. Sócrates não deixou nenhum registro
escrito de suas ideias. Tudo o que sabemos dele chegou-nos através do testemunho
de seus discípulos e contemporâneos. Segundo dizem, Sócrates teria defendido que
a virtude é conhecimento e as faltas morais provêm da ignorância. O indivíduo que
adquirisse o conhecimento perfeito seria inevitavelmente bom e feliz.
1.2 FILOSOFIA MEDIEVAL
A filosofia medieval é a filosofia da Europa ocidental e do Oriente Médio du-
rante a Idade Média. Começa, aproximadamente, com a cristianização do império
romano e encerra-se com a Renascença. A filosofia medieval pode ser considerada,
em parte, como prolongamento da filosofia greco-romana e, em parte, como uma
tentativa de conciliar o conhecimento secular e a doutrina sagrada.
A Idade Média carregou por muito tempo o epíteto depreciativo de "idade das
trevas", atribuído pelos humanistas renascentistas; e a filosofia desenvolvida nessa
época padeceu do mesmo desprezo. No entanto, essa era de aproximadamente mil
anos foi o mais longo período de desenvolvimento filosófico na Europa e um dos
mais ricos. Jorge Garcia defende que em intensidade, sofisticação e aquisições, po-
de-se corretamente dizer que o florescimento filosófico no século XIII rivaliza com a
época áurea da filosofia grega no século IV a. C.
Entre os principais problemas discutidos nessa época estão: a relação entre
fé e razão, a existência e unidade de Deus, o objeto da teologia e da metafísica, os
problemas do conhecimento, dos univer-
sais e da individualização.
Entre os filósofos medievais do oci-
dente, merecem destaque Agostinho de
Hipona, Boécio, Anselmo de Cantuária,
Pedro Abelardo, Roger Bacon, Boaventura
de Bagnoregio, Tomás de Aquino, João
Duns Escoto, Guilherme de Ockham e Jean Buridan; na civilização islâmica, Avicena
e Averrois; entre os judeus, Moisés Maimônides.
Tomás de Aquino (1225-1274), fundador do tomismo, exerceu influência ini-
gualável na filosofia e na teologia medievais. Em sua obra, ele deu grande importân-
cia à razão e à argumentação, e procurou elaborar uma síntese entre a doutrina cris-
tã e a filosofia aristotélica. A filosofia de Tomás de Aquino representou uma reorien-
tação significativa do pensamento filosófico medieval, até então muito influenciado
pelo neoplatonismo e sua reinterpretação agostiniana.
1.3 FILOSOFIA DO RENASCIMENTO
A transição da Idade Média para a Idade Moderna foi marcada pelo Renasci-
mento e pelo Humanismo. Nesse período de transição, a redescoberta de textos da
Antiguidade contribuiu para que o interesse filosófico saísse dos estudos técnicos de
lógica, metafísica e teologia e se voltasse para estudos ecléticos nas áreas da filolo-
gia, da moralidade e do misticismo.
O Homem vitruviano, de Leonardo Da Vinci,
resume vários dos ideais do pensamento renascentista.
Os estudos dos clássicos e das letras receberam uma ênfase inédita e de-
senvolveram-se de modo independente da escolástica tradicional. A produção e dis-
seminação do conhecimento e das artes deixam de ser uma exclusividade das uni-
versidades e dos acadêmicos profissionais, e isso contribui para que a filosofia vá
aos poucos se desvencilhando da teologia. Em lugar de Deus e da religião, o concei-
to de homem assume o centro das ocupações artísticas, literárias e filosóficas.
O renascimento revigorou a concepção da natureza como um todo orgânico,
sujeito à compreensão e influência humanas. De uma forma ou de outra, essa con-
cepção está presente nos trabalhos de Nicolau de Cusa, Giordano Bruno, Bernardi-
no Telesio e Galileu Galilei. Essa reinterpretação da natureza é acompanhada, em
muitos casos, de um intenso interesse por magia, hermetismo e astrologia – consi-
derados então como instrumentos de compreensão e manipulação da natureza.
À medida que a autoridade eclesial cedia lugar à autoridade secular e que o
foco dos interesses voltava-se para a política em detrimento da religião, as rivalida-
des entre os Estados nacionais e as crises internas demandavam não apenas solu-
ções práticas emergenciais, mas também uma profunda reflexão sobre questões
pertinentes à filosofia política. Desse modo, a filosofia política, que por vários sécu-
los esteve dormente, recebeu um novo impulso durante o Renascimento. Nessa
área, destacam-se as obras de Nicolau Maquiavel e Jean Bodin.
1.7 O NASCIMENTO DA FILOSOFIA E O DESENVOLVIMENTO DA
CONSCIÊNCIA HUMANA
1.7.1 A Ciência Antiga e a Ciên-
cia Moderna
Filosofia Medieval Cristã consti-
tuiu-se do pensamento cristão e da ciên-
cia antiga. A ciência antiga tinha como
base o dogmatismo: era especulativa e
partia de interpretações da Bíblia. A ciência antiga era baseada na lógica e na de-
monstração de verdade, sem considerar a observação e a experiência. É o caso da
teoria geocêntrica, ou seja, a teoria que postulava que a terra é o centro do uni-
verso vigorava há quase vinte séculos e constituía a maneira pela qual o homem
antigo e medieval via a si mesmo e ao mundo.
A concepção medieval cristã via o homem como é o ser supremo da criação
divina e a terra era o centro do universo. A teoria de que a terra era o centro do
mundo, geocentrismo, era uma explicação que justificava tal visão. A ciência antiga
era um corpo de verdades teóricas universais, de certezas definitivas, que não admi-
tiam erros, mudanças ou crítica.
O novo período – Idade Moderna - vai significar uma ruptura com essa con-
cepção de mundo dogmática, que não permitia a reflexão e a crítica, por isso, mais
uma vez vamos abordar sobre a filosofia moderna, enfatizando sobre a sua impor-
tância para o desenvolvimento do conhecimento humano.
1.7.2 FILOSOFIA MODERNA: SEC. XVII E
XVIII
Após a Idade Média, há um período
de transição entre o século XV e XVI para a
Idade Moderna, que significou ruptura com a
tradição anterior cristã, fundamentada em
Deus, e passou-se a valorizar o homem. É o
período chamado Humanismo Renascentista: artes plásticas, valorização do ho-
mem - liberdade e criatividade. É o momento em que se rompe com a visão sagrada
e teológica na arte, no pensamento, na política, na literatura. Os pensadores desse
período passam a valorizar o saber dos gregos antigos. Valoriza-se o homem e
rompe-se com o pensamento teocêntrico, que considera Deus como o centro de tu-
do, e a Ciência Antiga.
A Idade Moderna traz a proposta de uma nova ordem e visão de mundo, rejei-
tando a autoridade imposta pelos costumes e pela hierarquia da nobreza e Igreja,
em favor da recuperação do que há de virtuoso, intuitivo e espontâneo na natureza
humana. Surge um novo estilo com nova temática.
Valoriza-se o corpo humano, artes, pensamento, política, ciência. É o momen-
to de novos pensadores e artistas, tais como Leonardo da Vince, William Shakespe-
are, Rafael, Maquiavel, Michelangelo, Montaigne.
1.7.2.1 As condições históricas
Surge uma nova maneira de pensar e ver o mundo, resultado das transforma-
ções históricas que ocorreram na Europa. Entre os fatores históricos, pode-se des-
tacar:
O humanismo renascentista do sec. XV
A descoberta do Novo Mundo (sec. XV)
A Reforma Protestante do sec. XVI
A revolução científica do sec. XVII
Desenvolvimento do mercantilismo e ruptura da economia feudal
Grandes núcleos urbanos e a invenção da imprensa.
O humanismo renascentista do sec. XV
Nasceu na península itálica, sendo um pe-
ríodo de transição entre a Idade Média e a Mo-
derna. Rompeu com a filosofia cristã da escolásti-
ca medieval e, valoriza o saber dos gregos anti-
gos, retomando a concepção do humanismo. O
período medieval, anterior, foi marcado por uma
forte visão hierárquica e religiosa de mundo, em que a arte está voltada para o sa-
grado, filosofia está vinculada à teologia e à problemática religiosa.
O homem e seus atributos de liberdade e razão passam a ser importantes
novamente, e não apenas as o mundo divino. Nas artes predomina os temas pa-
gãos, afastados da temática religiosa. É a arte voltada para o homem comum, não
mais reis e santos. Valoriza-se o corpo e a dignidade humana.
Thomas Morus, em a Utopia, defende a tolerância religiosa, critica o autorita-
rismo dos reis e da Igreja, favorecendo a razão e a virtude natural. Maquiavel, autor
escreveu O Príncipe, inaugurou o pensamento moderno da política, em que faz uma
análise do poder como fato político, independente das questões morais.
A descoberta do Novo Mundo
Outro fator importante que levou a mudança do pensamento moderno foi à
descoberta do Novo Mundo, pois revelou a falsidade e fragilidade da geografia anti-
ga, o desconhecimento da flora e fauna encontradas. Revelou também a falta de
conhecimento de outros povos e culturas. Muita coisa precisava ser reformulada.
A ciência antiga perde a autoridade é questionada, pois nada explica sobre a
nova realidade e suas narrativas. Acreditava que a “terra era plana”, desconhecem
os novos habitantes dessas terras descobertas, sua natureza, sua origem, sua cultu-
ra, tão distintas da europeia.
A Reforma Protestante
Martin Lutero contesta a autorida-
de da Igreja marcada pela corrupção e passa a valorizar a consciência individual de
buscar a própria fé, sem ser pela imposição das verdades dogmáticas. Rompe com
Igreja Católica e funda a Igreja protestante.
Essa nova igreja propõe e representa, assim, a defesa da liberdade individual
e da consciência em lugar da certeza, valorizando a ideia de que o indivíduo é capaz
de encontrar sua própria verdade religiosa.
A revolução científica moderna
Outro fator essencial desse processo de
transformação é a revolução científica que sig-
nificou o ponto de partida para a ciência nos
moldes que conhecemos hoje. Nicolau Copér-
nico no século XVI vai defender matematica-
mente que a Terra gira em torno do Sol, rom-
pendo com o sistema geocêntrico de Ptolomeu (sec.II) e inspirado em Aristóteles.
A teoria do geocentrismo vigorava há quase vinte séculos e era maneira pela
qual o homem antigo e medieval via a si mesmo e ao mundo. A ciência moderna
surge quando se torna mais importante observar e experimentar, ao contrário da vi-
são antiga que partia de princípios estabelecidos e dogmáticos.
É um processo de transição e não uma ruptura radical. Ao longo desse pro-
cesso surgem Galileu e Isaac Newton, entre outros, que vão transformar a visão ci-
entífica do século XVII seguinte.
O rompimento com a ciência antiga revelou uma concepção de distinto do
universo antigo, que é fechado, finito e geocêntrico. A nova ciência propõe o modelo
heliocêntrico e o universo é infinito. A ciência é ativa valoriza a observação e o mé-
todo experimental, une ciência e técnica. A ciência antiga é contemplativa, separa
ciência e técnica.
No século XVII a Filosofia e a Ciência se separam. Galileu, usando um teles-
cópio, demonstra o modelo de desenvolvido por Copérnico. Vai ser interpelado pela
Igreja. Entre os principais pensadores daquele momento, destacam-se:
_ Copérnico, um sacerdote polonês, propôs a teoria heliocêntrica que atingia a con-
cepção medieval cristã de que o homem é ser supremo da criação divina e que por
isso a terra é o centro do universo.
_ Giordano Bruno leva adiante a ideia de Copérnico e desenvolve a concepção de
universo infinito. É condenado e morre queimado vivo na fogueira.
_ Galileu Galilei contribuiu com descobertas científicas, como o aperfeiçoamento do
telescópio, e com uma nova postura metodológica de investigação científica: obser-
vação, experimentação, uso da linguagem matemática. Por condenar os dogmas
tradicionais da Igreja, também foi condenado pela Inquisição, mas optou por viver e
seguiu fazendo suas pesquisas clandestinamente.
A revolução científica pode ser considerada uma grande realização do espírito
crítico humano, e acaba concentrando sua atenção na natureza do universo, na ci-
ência da natureza.
Desenvolvimento do mercantilismo e ruptura da economia feudal
O mercantilismo antecede ao desenvolvimento da indústria e trouxe novas
necessidades com o surgimento da burguesia, diferentes dos interesses da nobreza.
Grandes núcleos urbanos e a invenção da imprensa
Surgimento dos grandes centros urbanos leva a novos valores e necessida-
des. E a invenção da Imprensa permite que as ideias possam ser publicadas e di-
fundidas.
1.8 SOBRE A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO
A Idade Moderna é um período é marcado
por grandes transformações. Estas transformações
e o desenvolvimento da ciência moderna levaram o
homem a questionar os critérios e os métodos usa-
dos para aquisição do conhecimento verdadeiro da
realidade.
Como podemos conhecer? Quais os funda-
mentos do conhecimento? O que é
conhecer? Essas questões são essenciais pra a ciência, a ética e epistemologia. A
Filosofia Moderna vai enfrentar o prestígio que o pensamento de Aristóteles tinha e a
supremacia da doutrina da Igreja, na Idade Média, e inaugurou um modo novo de
conceber e compreender o conhecimento. O século XVII viu nascer o método expe-
rimental e a possibilidade de explicação mecânica e matemática do Universo, que
deu origem à ciência moderna.
A partir desses questionamentos, duas novas perspectivas para o saber, às
vezes complementares, às vezes antagônica. Surgem o racionalismo e o empirismo.
O racionalismo e o empirismo constituem novos paradigmas da filosofia
moderna para conhecer a realidade.
O que é a razão? Existem vários sentidos de razão no nosso dia a dia. A Fi-
losofia se define como conhecimento racional da realidade natural e cultural, das
coisas e dos seres humanos. A razão é a organização e ordenação de ideias, para
assim poder sistematizá-las.
A razão é atividade intelectual de conhecimento da realidade natural, social,
psicológica, histórica. Possui um ideal de clareza, de ordenação e de rigor e preci-
são dos pensamentos e de palavras.
A razão, em sua origem, é a capacidade intelectual de pensar e exprimir-se
correta e claramente, de modo a organizar e ordenar a realidade, os seres, os fatos
e as ideias.
Desde o começo da Filosofia, a origem da palavra razão fez com que ela fos-
se considerada oposta a quatro outras atitudes mentais:
Ao conhecimento ilusório
Às emoções, aos sentimentos, às paixões,
À crença religiosa, em que a verdade nos é dada pela fé numa revelação di-
vina
Ao êxtase místico
A Filosofia Moderna foi o período em que mais se confiou nos poderes da ra-
zão para conhecer e conquistar a realidade e o homem – por isso foi chamado de
Grande Racionalismo Clássico. O marco dessa forma de pensamento é René Des-
carte, matemático e filósofo, inventor da geometria analítica. O método escolhido é o
matemático, por ser o exemplo de conhecimento integral racional.
1.8.1 RACIONALISMO
O racionalismo sustenta que há um tipo de co-
nhecimento que surge diretamente da razão. É basea-
do nos princípios da busca da certeza e da demons-
tração, sustentados por um conhecimento que não vêm da experiência e são elabo-
rados somente pela razão.
O racionalismo considera que o homem tem ideias inatas, ou seja, que não
são derivadas da experiência, mas se encontram no indivíduo desde seu nascimento
e desconfia das percepções sensoriais. Enquanto a ciência cristã e antiga constituía
um corpo de verdades teóricas universais, de certezas definitivas, não admitindo
erros, mudanças ou crítica, a ciência moderna e racional vai propor formular leis e
princípios que expliquem o funcionamento da realidade.
O pensamento racional ao introduzir a dúvida no processo do pensamento, in-
troduz a crítica como parte do desenvolvimento do conhecimento científico. São es-
ses princípios da ciência moderna que encontramos hoje.
Principais pensadores: René Descartes (1596-1650), Pascal (1623-1662),
Spinoza (1632-1677) e Leibniz (1646-1716), Friedrich Hegel (1770-1831).
René Descartes
Nasceu na França, em 1596, em um momento de profunda crise da socieda-
de e cultura européia, passando por grandes transformações e ruptura com o mundo
anterior. Foi um dos principais pensadores do racionalismo. Expôs suas ideias com
cautela para evitar a condenação da igreja. É considerado um dos pais da filosofia
moderna.
O princípio básico de sua filosofia é a frase: “Penso, Logo existo”. A base de
seu método é a dúvida de todas as nossas crenças e opiniões. Para ele, tudo deve
ser rejeitado se houver qualquer possibilidade de dúvida. O pensamento é algo mais
certo que a matéria. Ele valorizava a atividade do sujeito pensante em relação ao
real a ser conhecido. Descarte acreditava que o método racional é caminho para
garantir o conhecimento de uma teoria científica.
1.8.2 EMPIRISMO
O Empirismo defende que o conhecimento
humano provém da nossa percepção do mundo
externo e da nossa capacidade mental, valori-
zando a experiência sensível e concreta como
fonte do conhecimento e da investigação. Segundo os empiristas, o conhecimento
da razão, da verdade e das ideias racionais é importante, mas desde que estejam
ligados à experiência, pois as ideias são adquiridas ao longo da vida e mediante o
exercício da experiência sensorial e da reflexão.
O método empirista baseia-se na formulação de hipóteses, na observação, na
verificação de hipóteses com base nos experimentos. O empirismo provoca uma
revolução para a ciência. A partir da valorização da experiência, o conhecimento ci-
entífico, que antes se contentava em contemplar a natureza, passa a querer dominá-
la, buscando resultados práticos.
Principais filósofos: Francis Bacon, John Locke, David Hume, Thomas
Hobbes e Hohn Stuart Mill.
Francis Bacon
Nasceu na Inglaterra criou o lema saber é poder, pois compreende que o de-
senvolvimento da pesquisa experimental aumenta o poder dos homens sobre a na-
tureza.
John Locke
Médico inglês, dizia que o mente humana é uma tábula rasa, um papel em
branco sem nenhuma ideia previamente escrita e que todas as ideias são adquiridas
ao longo da vida mediante o exercício da experiência sensorial e da reflexão. Defen-
deu que a experiência é a fonte das ideias. Desenvolveu uma corrente denominada
Tabula Rasa, onde afirmou que as pessoas desconhecem tudo, mas que através de
tentativas e erros aprendem e conquistam experiência.
PARA LEMBRAR: O racionalismo e o empirismo são pen-
samentos distintos, embora exista um elemento em co-
mum: a preocupação com o entendimento humano.
1.9 ALGUNS IMPORTANTES PENSADORES E CIENTISTAS MO-
DERNOS
Esses filósofos com seus pensamentos contribuíram para que a humanidade
construísse novos conhecimentos.
Galileu Galilei
Nasceu na Itália e é considerado o fundador da física moderna. Defendeu as
explicações do universo a partir da teoria heliocêntrica e rejeitava a física de Aristó-
teles, adotadas como verdade absoluta pelo cristianismo. Por contrariar essa visão
tradicional foi considerado herege. Questionava a Bíblia, sendo julgado pelo Tribunal
da Inquisição e condenado a fogueira ou a renegar suas concepções científicas. Op-
tou por se retratar, mas continuou fiel às ideias e publicou clandestinamente uma
obra que contrariava os dogmas cristãos.
Isaac Newton
Nasceu na Inglaterra, físico e matemático, continuou à revolução científica
que deu origem à física clássica. Fala de um universo ordenado, como uma grande
máquina. Além de física, matemática, filosofia e astronomia, estudou também alqui-
mia, astrologia, cabala, magia e teologia, e era um grande conhecedor da Bíblia.
Considerava que todos esses campos do saber poderiam contribuir para o estudo
dos fenômenos naturais.
Suas investigações experimentais, acompanhadas de rigorosa descrição ma-
temática, constituíram-se modelo de uma metodologia de investigação para as ciên-
cias nos séculos seguintes.
Leitura Recomendada:
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Hele-
na Pires. Filosofando. São Paulo, Moderna, 2003.
1.10 DO SENSO COMUM AO SENSO CRÍTICO
O objetivo principal da Fi-
losofia é despertar no aluno a
percepção que a análise, refle-
xão e crítica da realidade, fun-
damentadas pelo pensamento
filosófico e norteadas por princí-
pios e valores éticos, levam a
uma maior compreensão do
mundo, propiciam escolhas conscientes e um atuar justo tanto no cotidiano quanto
no exercício profissional, tornando-o consciente de sua importância como indivíduo e
cidadão.
O pensamento filosófico aproxima o homem do mundo, proporciona uma mai-
or compreensão da realidade e a descoberta de novos significados para a existên-
cia, tornando o ser humano capaz de ajustar suas escolhas e ações no convívio com
o outro, com o mundo e em sua experiência profissional. Conhecer os temas, as
ideias, os conceitos e a história da Filosofia amplia a nossa experiência de compre-
ensão do mundo e nos permite ser donos de nosso próprio pensar, falar e agir. A
Filosofia é um modo de pensar que acompanha o homem em sua tarefa de compre-
ender o mundo e agir sobre ele.
A todo o momento estamos diante de crenças, julgamentos e regras de com-
portamento. Muitas dessas crenças são silenciosas, muitos desses comportamentos
são aceitos como óbvios e naturais. Toda nossa conduta se baseia em valores mo-
rais, religiosos, políticos, artísticos e estéticos. Em nosso cotidiano, as opiniões e os
preconceitos orientam nossas conversas e ações, é o chamado senso comum. O
que caracteriza o senso comum não é sua verdade ou falsidade, mas a sua falta de
fundamentação coerente, precisa e sistemática.
A maioria das pessoas não questiona suas crenças, seu valores, seus propó-
sitos, seus sonhos e seu pensar. Essa
atitude leva o indivíduo a se distanciar
da realidade e a agir sem responsabili-
dade, pois ele já não é dono de seu pró-
prio pensar, portanto não é dono de sua
fala e suas ações.
É importante que o homem passe
a analisar, refletir e criticar, tornando-se capaz de compreender o mundo, o outro e a
si próprio. A Filosofia proporciona a aproximação entre o homem e a realidade. A
atividade filosófica é fundamentada na análise, reflexão e crítica da realidade e dos
seres humanos, de como se pensa, fala e age.
Filosofia é a decisão de não aceitar como naturais e evidentes as ideias, os
fatos, as situações e os valores do cotidiano. A primeira coisa que surge ao estu-
darmos Filosofia são perguntas:
- Para que serve a Filosofia?
- O que é Filosofia?
- Para que eu vou estudar isso?
- O que isso traz de bom e útil para minha vida?
- Como e onde praticar a Filosofia?
Não há respostas definitivas, mas as perguntas são fundamentais na Filoso-
fia. A Filosofia parte do desejo de conhecer a realidade, ir além das aparências. Filo-
sofia tem a ver com pensar melhor a realidade, conhecer a realidade. Compreender
a realidade para agir melhor. A Filosofia é importante para todas as áreas, não ape-
nas no nível profissional, mas no pessoal, afetivo, familiar, ético.
A Filosofia leva a ideia de PENSAR. Quando pensamos trabalhamos com a
palavra, usamos a linguagem. Produzimos conhecimento, produzimos conceitos.
Conceitos são ideias desenvolvidas ou elaboradas a respeito de um assunto. Antes
de chegarmos ao conceito partimos de uma ideia inicial: o pré-conceito. O pré-
conceito é uma ideia não elaborada, incompleta, parcial. O pré-conceito só se torna
negativo se nos restringirmos a ele, sem desenvolvê-lo. O conceito é amplo e com-
pleto.
São tarefas da Filosofia:
Desenvolver os pré-conceitos, torná-los conceitos elaborados e amplos.
Desenvolver a capacidade de pensar.
Desenvolver a capacidade de agir melhor, de formar valores e tornar assim o
homem mais livre.
ADOTAR A ATITUDE FILOSÓFICA
Adotamos uma atitude filosófica
quando nos distanciamos da vida cotidiana
por meio do pensar. Saímos da aparência e
buscamos a essência das coisas. A Filoso-
fia ou atitude filosófica inicia-se quando
abandonamos nossas certezas cotidianas e queremos ir além – nos momentos de
crise, que nos levam a transformação. A atitude filosófica pressupõe a atitude crí-
tica.
Sempre pensamos crítica como falar mal de algo ou alguém. Não é bem isso.
Crítica significa ter a capacidade de julgar, discernir e decidir corretamente, saber
examinar racionalmente as coisas sem preconceitos e julgamentos e, também, po-
der avaliar detalhadamente uma ideia, valor, costume, comportamento. Para sermos
críticos precisamos nos afastar do que queremos analisar e analisar o fato, a ideia,
como se nunca a tivéssemos visto.
A primeira atitude filosófica é dizer não ao senso comum, em uma atitude ne-
gativa. A segunda atitude filosófica é perguntar, em uma atitude positiva. Filosofia é
a decisão de não aceitar como naturais e evidentes as ideias, os fatos, as situações
e os valores do cotidiano. A filosofia surge quando queremos provas racionais para
nossas crenças.
A atitude filosófica envolve um conjunto de habilidades a serem exercitadas:
1º. Questionar : significa ser curioso, perguntar sobre tudo que existe, pensar
sobre as coisas, suspeitar do que é dito habitualmente, desconfiar dos pré-
conceitos, do senso comum.
2º. Investigar: procurar respostas para os problemas, buscar conclusões me-
lhores.
_ formular hipóteses, analisar, comparar e buscar princípios
_ examinar, formular e desenvolver razoes e argumentos
3º. Ampliar horizontes
_ considerar maneiras de novas de ver a realidade
_ Pesquisar o já conhecido e se ela pode ainda ser útil
_ Imaginar novas possibilidades e elaborar sínteses
O CONHECIMENTO FILOSÓFICO
O conhecimento filosófico vai ser resultado do exercício e do processo de filo-
sofar, buscando a verdade sem querer possuí-la. O ser humano busca um sentido
para sua existência e um sentido mais amplo da realidade. A questão central da filo-
sofia: quem é o ser humano e qual é o sentido da vida, da realidade. Preocupa-se
em conhecer a si próprio e com o destino da humanidade. As conclusões filosóficas
são sempre parciais e as respostas levam sempre a novas perguntas.
O pensar
Há diferença entre pensar e ter pensamentos. O pensar é uma atividade: “O
pensamento é o passeio da alma”, diz um filósofo grego desconhecido. Pensar é um
movimento, uma atividade, uma ação. É uma atividade pela qual a inteligência colo-
ca algo diante de si para atentamente considerar, avaliar, pesar, equilibrar, entender.
Por meio do pensamento manifestamos nossa capacidade de elaborar regras, nor-
mas, leis e princípios. Nós pensamos e sabemos que pensamos. Essa capacidade
de refletir sobre o nosso próprio pensamento nos permite encadear processos de
abstração. São esses processos de abstração que nos levam a conhecer a realidade
e atribuir significados a essa realidade.
Isso é possível por que o homem é dotado de razão, da capacidade de racio-
cinar. O pensamento conta com seu mais poderoso invento: a palavra. É a palavra
que confere ao homem essa capacidade de pensar. O pensamento nos familiariza
com o mundo e nos leva a compreender o significado dos objetos, das pessoas e
das relações entre uns e outros.
Nem todos os pensamentos levam à verdade, ou seja, resultam de uma forma
lógica correta. Para chegar ao conhecimento verdadeiro, o pensar deve ser movido
pelo raciocínio, com uma lógica e argumentos válidos. O processo de pensar pode
levar a uma realidade cada vez mais aprimorada. A abstração filosófica nos permite
sair da aparência para a essência.
Segundo diversas teorias, só é considerado livre o ser humano que é autô-
nomo, capaz de pensar por si mesmo e dar respostas originais a si próprio e ao
mundo. E acredita-se que isso é um aprendizado, ou seja, fruto de educação – é
possível por meio da educação oferecer as condições de aprimorar sua capacidade
de pensar.
O mundo é feito de ideias. As ideias são frutos do pensamento. Um pensar
pobre não produz ideias, gera um mundo pobre.
Perguntas que devemos fazer:
_ Minhas crenças correspondem a um saber verdadeiro a um conhecimento?
A minha fala é coerente? _ O que orienta minha atitude? Qual o sentido de minha
ação?
O pensamento, a linguagem e o conhecimento
O pensamento é a fala internalizada, en-
quanto a linguagem é a expressão do pensa-
mento. A linguagem permite a comunicação com
o mundo, com os outros. O fazer humano deve
ser resultado do conhecimento. E o conheci-
mento é resultado de um pensar correto. O fa-
zer humano deve modificar a realidade exterior, formar os homens, aproximá-los
entre si e enriquecer o mundo de valores.
Existem várias formas de conhecer e interpretar a realidade, com diferentes
enfoques e metodologias:
_ O mito – imagens, símbolos e significados. História e narrativa.
_ O senso comum – herança, tradição, experiências
_ A ciência – estrutura seu saber pelo método científico
_ A Filosofia – reflexão rigorosa, sistemática
_ A religião – fé, transcendência da vida humana
_ A arte - intuição e sensibilidade
1.13 PARA QUE SERVE A FILOSOFIA?
Filosofia é o conhecimento da nossa civiliza-
ção ocidental, durante 2.500 anos. Uma herança
valiosa que pertence a nós todos. A Filosofia gera
as ferramentas para pensar, pesquisar e gerar co-
nhecimento. O conhecimento não está inscrito no
mundo, ele foi produzido pelo homem, em alguma
época e lugar. O conhecimento é fruto do pensamento.
Filosofar é interrogar principalmente sobre fato, problemas e dilemas que cer-
cam o ser humano em seu contexto histórico.
Por isso devemos entender esses conceitos:
Senso comum
É o conhecimento recebido por tradição e que ajuda a nos situarmos no coti-
diano, para compreendê-lo e agir sobre ele. É um conjunto de crenças, baseadas no
conhecimento espontâneas e não-crítico, mas que revelam o esforço de buscar so-
luções para a nossa vida cotidiana. Essas noções podem esconder ideias falsas e
preconceituosas. No entanto, não podemos desprezar o senso-comum, pois essa
forma de conhecimento tão universal contém muita sabedoria essencial para o de-
senvolvimento e organização da humanidade (ex: a roda e o fogo).
O que caracteriza o senso comum não é sua verdade ou falsidade, é a au-
sência de crítica, fundamentação e coerência dessas concepções. O senso comum
é transmitido no cotidiano, por meio da cultura e hábitos, de pende de julgamento e
de valores. Muitas vezes essas concepções do senso comum se transformam em
ditados populares. O senso comum lida com opiniões e pré-conceitos, noções par-
ciais e com julgamentos da realidade.
Ciência
A ciência produz um conhecimento sistemático e empiricamente fundamenta-
do, a partir de um método racional. A partir da observação rigorosa, a ciência busca
conhecer explicar a realidade forma objetiva, sem interferência de valores e julga-
mentos. A ciência trabalha com conceitos, que são as noções elaboradas, testadas
rigorosamente, comprovadas. Busca descobrir leis gerais que sejam válidas para
várias situações particulares.
Dogmatismo
Dogmas são conhecimentos inquestionáveis, são noções estabelecidas sem
contestação e crítica. O dogmatismo é a nossa crença de que o mundo existe e é
exatamente igual ao que percebemos, por isso não é necessário criticar e refletir
sobre a realidade.
A atitude dogmática é a aceitação natural e espontânea diante das coisas do
mundo: acreditamos e percebemos o mundo pronto e conhecido. É uma atitude con-
servadora, ou seja, queremos conservar o mundo e as coisas como já são natural-
mente. Criamos ideias preconcebidas e rígidas em defesa desse mundo.
A Atitude filosófica é o oposto da atitude dogmática - A atitude filosófica
pressupõe a dúvida e a crítica, não aceitar como naturais as coisas, os fatos, as
ideias os comportamentos, os valores da nossa vida cotidiana. É preciso desconfiar
das opiniões e crenças estabelecidas pela sociedade e cultura, e, também, descon-
fiar das próprias opiniões e crenças. É a atitude que nos leva a analise, reflexão e
critica. Ir além da aparência e buscar a essência das coisas, dos fatos, dos valores,
opiniões.
Procurar saber o que é (significado), como é (estrutura) e por que é (causa)
de algo.
Agora é a sua vez...
BIBLIOGRAFIA BÁSICA
CHAUÍ, Marilena. Convite á Filosofia. São Paulo: Ática, 1999.
COTRIM, Gilberto. Fundamentos da Filosofia. São Paulo: Saraiva, 2000.
PRADO JUNIOR, C. O que é Filosofia. São Paulo: Brasiliense, 1983.
REALE, M. Introdução a Filosofia. São Paulo: Saraiva, 1988.
SANCHEZ VASQUEZ, Adolfo. Ética. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000.
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
ARANHA, M.L ; MARTINS, M.H.P. Filosofando: introdução a filosofia. São Paulo:
moderna, 1993.
BUARQUE, Cristovam. A desordem do progresso. São Paulo: paz e terra, 1993.
CIVITA, Victor. A história da filosofia. Coleção de pensadores. São Paulo: Nova
Cultural, 1999.