Curso Online ‒ SEAD/UFRGS 2015
TRABALHO COM CORPORA EM TRADUÇÃO LITERÁRIA
Autora: Monica Stefani 23 de setembro de 2015
[email protected] Doutoranda do PPG Letras – UFRGS e bolsista SEAD do Edital UFRGS EaD 21(2015)
Neste módulo você aprenderá a:
• Utilizar algumas funções do CorTrad e do CopaTrad no trabalho com corpora em tradução literária.
• Observar as diferentes leituras dos profissionais envolvidos (entre tradutores, editores e revisores), bem como da tradução automática.
• Organizar melhor seu processo de trabalho de revisão de tradução.
Corpora (plural de corpus, palavra latina): coleções de textos em formato digital, criteriosamente reunidos, para fins de estudo ou de descrição de um dado estado de língua. Essas coleções têm um papel importante para estudos sobre a tradução, seja o processo ou o produto. Os dois projetos sobre corpora apresentados aqui são o CorTrad, da Universidade de São Paulo (USP), e o CopaTrad, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), e são direcionados aos tradutores que têm como idioma de trabalho o INGLÊS. O conteúdo é inspirado no livro digital Leitura: um guia sobre teoria(s) e prática(s), disponível em http://www.ufrgs.br/textecc/traducao/teorias/leiturasdirigidas.php.
1 PROJETO COMET E O CORTRAD O Projeto COMET (Corpus Multilíngue para Ensino e Tradução) é desenvolvido pela Universidade de São Paulo e coordenado pela professora Dr.ª Stella E. O.Tagnin, que contempla o CorTrad, o corpus paralelo de tradução português-inglês, formado por três subcorpora: de textos técnico-científicos (culinários, por enquanto), de textos jornalísticos e de textos literários.
• Clique no link http://www.fflch.usp.br/dlm/comet/consulta_cortrad.html (A página inicial é apresentada a seguir.)
• Na página inicial, no item CorTrad literário, clique em “contos”.
(A página que aparece é apresentada a seguir.)
Os contos, publicados em 2005 no livro Lá da Austrália1, foram traduzidos
pelos alunos do Curso de Especialização em Tradução da USP.
• Ainda na página, role para baixo e veja as diversas opções de pesquisa no corpus
(concordância, distribuição do tempo verbal e/ou do caso pronominal, etc.).
1 TAGNIN, S. E. O. (Org.). Lá da Austrália. São Paulo: Editora Fólio, 2005.
• Rolando para baixo mais uma vez, há dicas para refinar a sua busca.
• Vamos fazer uma pesquisa. Role para cima novamente até “Pesquisar no Corpus” e
digite a palavra “bush”. Em seguida, clique em “Pesquisar”.
Escolhemos “bush” porque é a vegetação marcante da Austrália e não possui um
equivalente automático em português do Brasil. O contexto definirá a opção tradutória a
utilizar (a variação semântica vai desde “mato” até “interior”, passando por “floresta” - que
seria a opção menos adequada).
• Foram encontradas 17 ocorrências, com “bush” aparecendo em negrito. Vamos
observar mais detidamente a terceira linha da tabela de resultados:
Original Primeira tradução Tradução revisada Tradução publicada
He knew gold well, but had no more idea of its value than any average bush blackfellow.
Ele conhecia bem o ouro mas não tinha mais idéia do seu valor, não mais que qualquer um dos negros australianos do sertão.
Ele conhecia bem o ouro, mas não tinha mais idéia do seu valor, não mais que qualquer outro aborígine.
Ele conhecia bem o ouro, mas não tinha idéia do seu valor, não mais que qualquer outro aborígine.
No exemplo2, “bush” como “sertão” não soa bem, pois aqui “sertão” estaria mais para
“outback”, ou deserto australiano, o que não é o caso; “aborígine” em vez de “negro
australiano” para “blackfellow” foi uma modificação razoável, mas “bush” desaparece, dando
a entender que “aborígine” é o ser que habita tal paisagem.
• Para realizar uma nova pesquisa, clique em “Nova Pesquisa”. A página inicial
reaparecerá. Vamos utilizar “bush” de novo, mas, em vez de pesquisar em concordância,
selecione “distribuição por obra” na parte Resultado, para ter uma ideia de quantas vezes a
palavra aparece nos contos. Clique em “Pesquisar”.
2 Do conto “Kaijek o cantador” (“Kaijek the songman”), de Alfred Francis Xavier Herbert (1941),
traduzido por Hatsuya Kimura e Lúcia Maria Jodelis Butrimavičius,
Na ferramenta, escolhemos a opção “distribuição de fonte” para saber em que pontos
essa palavra ocorre nos textos originais. O resultado mostra as 17 ocorrências apresentadas
anteriormente para concordância, mas distribuídas em 9 fontes (no caso, os contos).
• Clique em “Nova Pesquisa”. Na página inicial, marque a opção “Primeira tradução” e, no
espaço ao lado, digite “viu”. Mantenha a opção “Concordância” no resultado. Clique em
“Pesquisar”.
Com o CorTrad, observamos, por exemplo, como os 3 tipos de pretérito do português
‒ perfeito, mais que perfeito e imperfeito ‒, são usados e como cada um deles determina
temporalmente um evento que, no original em inglês, às vezes aparece somente com uma
forma de passado (neste caso, “saw”).
• Apareceram 43 ocorrências. Vamos nos concentrar na primeira delas, observando
como o português modificou algumas formas verbais do original.
Original Primeira tradução Tradução revisada Tradução publicada
Nature is vile, she was beginning to think, when she saw that Franco had stopped and was staggering with Marigold in his arms around a cairn of stones.
A natureza é perversa, Louise começava a pensar, quando viu que Franco havia parado e estava cambaleante com Marigold em seus braços em torno de um monte de pedras.
A natureza é vil, começou a pensar, quando viu que Franco havia parado e estava cambaleando com Marigold nos braços em volta de um monte de pedras (erigido como um marco).
A natureza é vil, começou a pensar, quando viu que Franco havia parado e estava cambaleando com Marigold nos braços em volta de um marco de pedras.
Vemos que “was beggining” foi transformado em pretérito simples, com a primeira
versão em pretérito imperfeito e, as demais, como pretérito perfeito; “was staggering”
apareceu com um adjetivo (cambaleante) na primeira versão, e foi modificada para “estava
cambaleando”, mais próxima do original. Observe a quantidade de informações em “monte de
pedras”: na segunda versão, os parênteses; na versão publicada, a substituição de “monte”
por “marco” de pedras, eliminando os parênteses.
VANTAGENS DO CORTRAD
• Possibilidade de acompanhamento de diferentes reformulações de um mesmo texto
(tanto o original quanto a versão revisada e a publicada).
• Mecanismos de busca que conferem uma maior especificidade para a pesquisa (por
exemplo, possibilitando a busca por determinadas seções nos textos).
EXERCÍCIOS
1. Em “Pesquisar no Corpus”, no campo “original”, digite a palavra “cattle” (gado em
inglês). Clique em “pesquisar”. Escolha uma das ocorrências e comente sobre as
modificações feitas: elas foram pertinentes? Elas melhoraram (ou não) o texto?
2. Novamente em “Pesquisar no Corpus”, fique à vontade para procurar alguma
palavra/expressão no original em inglês ou nas traduções em português. Em seguida,
faça uma breve análise de uma das ocorrências encontradas. Em que medida ter
acesso às várias versões anteriores à publicação foram úteis para melhorar seu
trabalho de leitura de revisão? Você faria mais modificações na versão final publicada
da ocorrência que escolheu?
2 COPA-TRAD
O COPA-TRAD (Corpus Paralelo de Tradução), desenvolvido pela Universidade Federal
de Santa Catarina (UFSC) e coordenado pelo professor Lincoln Fernandes, possui cinco
subcorpora que exploram tipos específicos de texto:
Subcorpus COPA-LIJ (textos clássicos de Literatura Infanto-Juvenil dos mais variados
subgêneros - e.g. fantasia, aventura, ficção científica, etc., incluindo a série Harry Potter).
Subcorpus COPA-TEL (textos clássicos da literatura que já se encontram no domínio
público - e.g. romances, contos, poemas, etc.).
Subcorpus COPA-RAC (resumos de trabalhos acadêmicos das mais variadas áreas do
conhecimento).
Subcorpus COPA-MDT (textos teóricos sobre tradução com o objetivo de investigar
questões relacionadas ao metadiscurso da tradução).
Subcorpus COPA-TEJ (textos jurídicos, como certidões de nascimento, casamento e
óbito; contratos; testamentos; entre outros).
Enfocamos os subcorpora COPA-LIJ e COPA-TEL, mas o COPA-TRAD terá suas
funcionalidades aproveitadas em outros módulos deste curso (como em Terminologia e
glossários: a terminologia no contexto de ferramentas e em Alinhamento).
• Vamos começar acessando http://copa-trad.ufsc.br/#home-screen
Desde já, fique à vontade para experimentar todas as possibilidades oferecidas pelo
COPA-TRAD.
• Na página inicial, no menu à esquerda, clique em “COPA-CONC”. Aparecerão 3 opções:
“Busca Simples”, “Busca Avançada” e “Sobre o COPA-CONC”. Clique em “Busca
Simples”.
Ao clicar em “Busca Simples”, aparecerá a seguinte página.
• Vamos buscar a tradução de “time-turner” no contexto da série Harry Potter, de J. K.
Rowling. No campo “Busca Simples”, digite “time-turner”. Em seguida, selecionamos o
subcorpus para fazer a pesquisa. Podemos escolher todos os subcorpora, mas, para
garantir melhores resultados, vamos delimitar a busca ao subcorpus COPA-LIJ, que
possui os três primeiros títulos da saga.
• Em Língua 1, escolhemos Inglês (pois a palavra que estamos procurando está neste
idioma) e, em Língua 2, escolhemos o português, pois queremos saber como ficou a
tradução. Note o campo “Obras”, à direita, no qual há os títulos que compõem o
subcorpus. Vamos selecionar a opção “Todas as Obras”, mas é possível escolher a
visualização apenas das ocorrências de “time-turner” em Harry Potter and the
Chamber of Secrets (e na tradução), por exemplo, e não em todas as obras.
Clique em “Busca Paralela”.
Apareceram 4 ocorrências da palavra ”time-turner” no original em inglês com sua
tradução em português, que é “vira-tempo” (referindo-se ao colar que Hermione possui que
permite que ela volte ao tempo e esteja em vários locais).
• Rolando para cima e voltando à Busca Simples, vamos digitar o nome da casa que o
chapéu seletor escolheu para Harry Potter quando da sua chegada em Hogwarts: “Grifinória”
(opção criada pela tradutora da série, Lia Wyler). Sabemos a tradução do nome em português,
mas como é mesmo o original em inglês?
O subcorpus permanece o mesmo, apenas trocamos a Língua 1 para Português, e a
Língua 2, para Inglês. Clique em “Busca Paralela”.
Como é um nome frequente na história, apareceram 301 ocorrências em 269 entradas
(pois o nome aparece mais de uma vez em uma única entrada, como a primeira). Como se vê,
o original em inglês que buscamos é “Gryffindor”.
• Outro nome de uma das casas de Hogwarts e que possui muitas ocorrências é
“Sonserina”. Repetimos o procedimento anterior.
E obtemos 183 ocorrências em 160 entradas, verificando que o original em inglês que
estávamos buscando é “Slytherin”.
• Há dois ícones em azul no lado esquerdo de cada entrada: um de engrenagens e um
círculo azul com um “X” branco dentro. Este último ícone, o do círculo, permite a
exclusão da entrada da sua lista de resultados. Por exemplo, se clicarmos no ícone,
veremos que a entrada número 1 não aparece mais, com a número 2 sendo agora a
primeira entrada.
Deletou por acidente? Não se preocupe! O recurso não exclui a entrada do corpus.
Para retomá-la, efetue a busca novamente, e ela reaparecerá.
• Vamos observar o que acontece ao clicar no ícone da engrenagem.
Ao deixar o cursor em cima do ícone, próximo ao número 2, aparece a etiqueta
“Tradução Automática”. Clique ali.
A página que aparece contém o trecho original, a tradução oficial e duas versões em
tradução por máquina: uma fornecida pelo Microsoft Translator e a outra pelo Google
Translate.
• Na entrada número 3, vamos ver se a máquina pode ou não concorrer com a nossa
capacidade de leitura?
Para isso, feche essa janela (logo abaixo ou logo acima, tanto faz) e clique no ícone de
engrenagens da entrada 3.
A tradução oficial é a melhor porque foi feita por um ser humano. O Microsoft
Translator e o Google Translate não conseguiram identificar as nuances semânticas do inglês
(“gift” como “dom” e não como “presente” e “as” como conjunção “como” e não “enquanto”),
e não traduziram o nome da casa (Slytherin).
VANTAGENS DO COPA-TRAD
• Concordanciador paralelo bilíngue: permite o alinhamento das ocorrências no original
em inglês e na tradução em português.
• Recurso do tradutor automático (Microsoft Translator e Google Translate), que
permite a observação do trabalho da MT (machine translation, ou tradução por
máquina).
• Listador de palavras: lista e conta as palavras, as frases ou os elementos mais
frequentes em um texto pertencente aos subcorpora do COPA-TRAD.
• Corpus-Builder – compilador de corpora descartáveis: é útil no alinhamento de
palavras e na criação de seu próprio corpus para a elaboração de um glossário.
EXERCÍCIOS
1. Em “Busca Simples”, digite a palavra “amor”. Depois, selecione o subcorpus COPA-TEL,
que possui 2 textos indexados: Jane Eyre (Joana Eyre), de Charlotte Brontë, e Speaker
for the Dead (Orador dos Mortos), de Orson Scott Card.
Em obras, deixe marcado “todas as obras”.
Escolha como Língua 1 o português e, como Língua 2, o inglês.
Clique em “Busca paralela”.
Escolha uma das entradas e clique no ícone de engrenagens da tradução automática.
Faça uma breve análise de aspectos que chamaram sua atenção (variedade linguística,
uso de vocabulário, sintaxe, etc.).
2. De novo em “Busca Simples”, digite a palavra “secreto”. Depois, selecione o subcorpus
COPA-LIJ.
Em obras, especifique O Jardim Secreto.
Escolha como Língua 1 o português e, como Língua 2, o inglês.
Clique em “Busca paralela”.
Escolha a primeira entrada de resultados e clique no ícone de engrenagens da
tradução automática.
Faça uma análise do que você encontrou.
3. Faça uma breve comparação entre o CorTrad e o COPA-TRAD: o que você preferiu em
cada uma das ferramentas? O que você mudaria nelas? Você as considera intuitivas e
amigáveis ao usuário?