De 8 a 10 de maio de 2019
Campus Ministro Petrônio Portella- UFPI
Teresina -PI
ANAIS DO EVENTO
ANAIS DO EVENTO
Organização:
15º Turma de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em História do Brasil - UFPI
Copyright © dos autores
Todos os direitos garantidos. Qualquer parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida ou
arquivada, desde que levados em conta os direitos dos autores.
FICHA CATALOGRÁFICA
Universidade Federal do Piauí
Biblioteca Comunitária Jornalista Carlos Castello Branco
Serviço de Processamento Técnico
M915a Seminário do Programa de Pós-Graduação em História do Brasil (4. :
2019, Teresina, PI)
Anais... [recurso eletrônico] / 4º Seminário do Programa de Pós-
Graduação em História do Brasil, 8 a 10 maio, em Teresina, PI . –
Teresina, UFPI, CCHL, PPGHB, 2019.
300 p.
Evento realizado pela 15ª turma de mestrado do Programa de Pós-
Graduação em História do Brasil da Universidade Federal do Piauí.
ISBN: 978-65-80266-49-4
1. História – pesquisa. 2. Historiografia. 3. Pesquisa histórica. I. Titulo.
CDD: 907.2
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA DO BRASIL
INSTITUCIONAL
Prof. Dr. José Arimatéia Dantas Lopes
Reitor
Profa. Dra. Nadir do Nascimento
Nogueira
Vice-Reitora
Prof. Dr. Nelson Juliano Cardoso Matos
Pró-Reitoria de Graduação
Profa. Dra. Regina Lúcia Ferreira Gomes
Pró-Reitoria de Pós-Graduação
Prof. Dr. João Xavier Cruz Neto
Pró-Reitoria de Pesquisa e Invenção
Profa. Dra. Adriana de Azevedo Paiva
Pró – Reitoria de Assuntos Estudantis e
Comunitários
Prof. Dr. Lucas Lopes de Araújo
Pró-Reitoria de Administração
Prof. Dr. Lauro Oliveira Viana
Pró- Reitoria de Recursos Humanos
Prof. Dr. Cleânea de Sales Silva
Pró-Reitoria de Extensão e Cultura
Prof. Dr. Carlos Sait Pereira de Andrade
Diretor do Centro de Ciências
Humanas e Letras
Prof. Dr. Edwar de Alencar Castelo
Branco
Coordenador do Programa de Pós-
Graduação em História do Brasil
Prof. Dr. Francisco de Assis de Sousa
Nascimento
Vice- coordenador do Programa de Pós-
Graduação em História do Brasil
Thaise de Sousa Araújo
Representante discente
Jônatas Lincoln Rocha Franco
Vice-representante discente
ARTE DA CAPA:
Brisa dos Santos Silva
COMISSÃO ORGANIZADORA
Comitê Científico Prof. Dr. Alberto Pedrosa Dantas Filho
Prof. Dr. Francisco de Assis de Sousa
Nascimento
Prof. Dr. Marco Antonio Pereira
Profa. Dra. Sabrina Steinke
Prof. Dr. Túlio Henrique Pereira
Júlio Cesar Alves Pereira Nunes
Jônatas Lincoln Rocha Franco
Thaise de Sousa Araújo
Comitê de multimidía, inscrição e
certificados
Daniela Fontenele Rocha
Débora Jordana Rodrigues Silva
Jardiane Lucena Nascimento
Julio Eduardo Soares de Sá Alvarenga
Kelyel Fortes de Resende Melo
Kézia Zelinda Nery Almeida
Maryelle Fernanda Rodrigues dos Santos
Nascimento
Rafaela da Costa Sousa
Simoní Portela Leal
Thiago Rodrigues Frota
Víviam Cathaline de Sousa Ferreira
Comitê de logística e infraestrutura
Anderson Michel de Sousa Miura
Gizeli da Conceição Lima
Jackson Dantas de Macêdo
Joaquim Kayk Breno Conrado
Lanna Karen Lima Araújo
Yasminn Escórcio da Silva Meneses
Monitoria
Alexandre da Silva Melo
Antonio Jeferson de Sousa
Camila Santos Silva
David Gonçalves Santos
Endrews Willisses Ferreira Costa
Eveline Bezerra de Lima
Fábia Fabíola Barbosa Nunes
Francisca Maria Cardoso Fontenele
Hermesson Linhares da Silva
Igo Ferreira de Sousa
José Eduardo Oliveira Nascimento
Juliana Macêdo Silva
Larissa Bezerra e Gama
Larysse da Conceição Silva
Lenilson Rocha Portela
Luís Eduardo de Santana Florêncio
Lyra hyelle Rodrigues da Silva
Marciellen da Silva Sousa
Maria Clara Lima de Oliveira
Maria Eduarda Gomes da Silva
Maria Natielly Soares Campos
Mariana Soares Gomes
Mário de Sousa Oliveira
Melissa Lorena Alves Nascimento
Ramone Maria de Sousa Silva
Rita de Cássia Silva Sousa
Rut Iarah Gabrielly de Sousa
Sâmia Camila Alves de Oliveira Pinto
Tales Soares Nascimento
Thallyson Bnedito de Oliveira Araujo
Victor Pedrosa Carvalho
Wellington Rodrigo Costa Lima
SECRETARIA DO EVENTO
Universidade Federal do Piauí
Campus Ministro Petrônio Portella – Teresina
Site do Evento:
https://seminarioppghb.weebly.com/
Redes Sociais
@seminarioppghb
E-mail do evento
“A função do
historiador é lembrar
a sociedade daquilo
que ela quer
esquecer.”
Peter Burke
Sumário FICHA CATALOGRÁFICA ............................................................................................................. 3
APRESENTAÇÃO ...................................................................................................................... 11
PROGRAMAÇÃO ....................................................................................................................... 12
MINICURSOS ................................................................................................................................. 14
MC 01: HISTÓRIA E IMPRENSA: O MANUSEIO, CONSERVAÇÃO E UTILIZAÇÃO DE
JORNAIS DA DÉCADA DE 1970 .......................................................................................... 15
MC 2: HISTÓRIA E IDENTIDADES: POSSIBILIDADES DE INTERPRETAÇÃO POR
MEIO DE PRODUTOS CULTURAI ...................................................................................... 16
MC 03: MEMÓRIA, IDENTIDADE E A ESCRITA DA HISTÓRIA .................................... 17
MC 04: ENTRE IMAGENS E RE-PRESENTAÇÕES: OS MANUAIS DIDÁTICOS COMO
FONTES DE (DES) CONSTRUÇÃO HISTÓRICA ............................................................... 18
MC 05: O ENSINO DE HISTÓRIA LOCAL SOB A LUZ DA BNCC .................................. 19
MC 06: HISTÓRIA ORAL NA PESQUISA HISTÓRICA ..................................................... 20
MC 07: FUNDAMENTOS DE ARQUIVOLOGIA MUSICAL ............................................. 21
MC 08: HISTÓRIA, POLÍTICA E CULTURA POLÍTICA: OS ESTUDOS DE HISTÓRIA
POLÍTICA NO PIAUÍ E BRASIL. .......................................................................................... 22
SIMPÓSIOS TEMÁTICOS ............................................................................................................. 24
ST 01: MULTIFACES DE CLIO: PESQUISA, HISTORIOGRAFIA E ENSINO ..................... 25
“CAMINHOS DE UMA IDEIA”: O SURGIMENTO DA RELIGIÃO ESPÍRITA E OS
EMBATES EM TORNO DA DOUTRINA NO ESTADO DO PIAUÍ (1870 – 1930) ........... 26
CENAS (RE) VISITADAS: O SER NORDESTINO SOB A ÓTICA CINEMATOGRÁFICA
DE CÍCERO FILHO. ............................................................................................................... 30
CLIO E A MEMÓRIA (RE)CRIADA: ESTUDO DA CONSTRUÇÃO HISTÓRICA A
PARTIR DO LIVRO “O VENDEDOR DE PASSADOS”. ..................................................... 34
CONSTRUINDO ESTRATÉGIAS DE ENSINO E APRENDIZAGEM: EXPERIÊNCIAS
NO PIBID HISTÓRIA (CSHNB-UFPI) .................................................................................. 39
O (DES) ENCONTRO DE MUNDOS: HISTÓRIA, CINEMA E HISTORIOGRAFIA DA
SEGUNDA GUERRA NO FILME “CINEMA, ASPIRINAS e URUBUS”. .......................... 43
OUTRAS NOTAS DE CLIO: HISTÓRIA E NARRATIVAS DO ROCK EM TERESINA,
NAS DÉCADAS DE 1980 E 1990. ......................................................................................... 47
ST 02: O OFÍCIO DO HISTORIADOR E AS ARTES EM TEMPOS SOMBRIOS .................. 51
A INVENÇÃO DO HEAVY METAL COMO MÚSICA DO DIABO ................................... 52
A REPRESENTAÇÃO E A RUPTURA DOS PADRÕES TRADICIONAIS DA MULHER
PRETA EM PANTERA NEGRA: SUBVERTENDO RAÇA E GÊNERO? .......................... 56
HISTÓRIAS EM QUADRINHOS NO BRASIL: O INÍCIO DOS ESTUDOS
ACADÊMICOS. ...................................................................................................................... 60
MOVIMENTOS HOMOAFETIVOS EM THE STONEWALL CELEBRATION CONCERT:
REPRESENTAÇÕES DAS MINORIAS SEXUAIS EM CANÇÕES INTERPRETADAS
POR RENATO RUSSO. .......................................................................................................... 65
ST 03: HISTÓRIA, MEMÓRIA, POLÍTICA E CULTURA POLÍTICA: A PRODUÇÃO
HISTÓRICA EM DEBATE. ........................................................................................................ 69
A ESSÊNCIA DOS JORNAIS: MUDANÇAS E PERMANÊNCIAS DO JORNAL
IMPERIAL E O JORNAL “ATUAL” ..................................................................................... 70
A INFLUÊNCIA DA IMPRENSA: O JORNAL COMO FATOR CULTURAL E DE
MANIPULAÇÃO SOCIAL ..................................................................................................... 75
ANÁLISE BIBLIOGRÁGICA DO CONCEITO DE CULTURA POLÍTICA: UMA
QUESTÃO TEÓRICA NO CAMPO DA HISTÓRIA ............................................................. 79
A PORCA COMEU: OS PROCESSOS ELEITORAIS NO PIAUÌ ........................................ 83
ENTRE 1945 A 1964 ............................................................................................................... 83
AS TENSÕES SOCIAIS NO PERÍODO DO (RE) NASCIMENTO DO TEATRO EM
TERESINA .............................................................................................................................. 86
“BRASIL A CAMINHO DA PAZ”: A PRIMEIRA EDIÇÃO DO JORNAL PIAUIENSE “O
DIA” APÓS O GOLPE MILITAR DE 1964. .......................................................................... 91
CENAS DO VIVER: SECA E ASSISTENCIALISMO NO PIAUÍ (1877-1879) ................... 95
CONFLITOS E DISPUTAS POLÍTICAS NA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE
PARNAÍBA ............................................................................................................................. 99
DA LUTA À CONQUISTA: A IMPLANTAÇÃO DO CONSELHO MUNICIPAL EM
DEFESA DOS DIREITOS DAS MULHERES NA .............................................................. 104
CIDADE DE OEIRAS (2011-2013) ...................................................................................... 104
DA MARGEM À SUPERFÍCIE: A HISTÓRIA DE UM SUBLITERATO ......................... 108
DESLOCAMENTOS HUMANOS E CONFLITOS NO LITORAL DO PIAUÍ: A SECA DE
1888/1889 E SEUS EFEITOS SOBRE A VILA DE AMARRAÇÃO .................................. 112
ENTRE TRADIÇÕES POLÍTICAS E A “AUTÊNTICA REVOLUÇÃO”: OS DISCURSOS
POLÍTICOS DE DEMERVAL LOBÃO, ENTRE CONDIÇÕES DE EXISTÊNCIA E
TENSÕES ELEITORAIS (PIAUÍ, 1958) .............................................................................. 117
ESCREVO, LOGO EXISTO: NARRATIVAS DE UMA SOBREVIVENTE ...................... 121
O TRABALHO E O TRABALHISMO: ................................................................................ 125
AS DISPUTAS POLÍTICO PARTIDÁRIAS NA ERA VARGAS ....................................... 125
O FALSEAMENTO COMO MANOBRA ............................................................................ 128
REVISIONISMO E PÓS-VERDADE NAS ELEIÇÕES DE 2018 NO BRASIL ................. 128
“O QUE HÁ DE NOVO?” A ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA DE SAÚDE PÚBLICA
DURANTE O ESTADO NOVO NO PIAUÍ. ........................................................................ 133
“QUALQUER PALAVRA É UM GESTO”: A IMPRENSA POLÍTICA EM TERESINA
(1971-1974) ............................................................................................................................ 137
ST 04: HISTÓRIA, LITERATURA E LABOR INTELECTUAL: FONTES, METODOLOGIA
E PRÁTICAS DE PESQUISA. .................................................................................................. 142
A CONTRIBUIÇÃO DA HEMENÊUTICA PARA ANÁLISE DE UMA OBRA LITERÁRIA
COMO FONTE HISTÓRICA ................................................................................................ 143
A IMPRENSA FEMININA PIAUIENSE E AS REDES DE SOCIABILIDADES (1891-1909)
................................................................................................................................................ 147
DA MARGEM À SUPERFÍCIE: A HISTÓRIA DE UM SUBLITERATO. ........................ 152
DOIS LIVROS-ENGRENAGEM: OS “NORDESTES” DE JÚLIO DE MESQUITA FILHO E
GILBERTO FREYRE. ........................................................................................................... 155
INTELECTUAIS E IMORTAIS: O SER INTELECTUAL NO CONTEXTO DA
ACADEMIA PIAUIENSE DE LETRAS .............................................................................. 159
KOSELLEK E O SEU LEGADO PARA A CONSTRUÇÃO DA HISTÓRIA DOS
CONCEITOS ......................................................................................................................... 164
NOVAS TEMÁTICAS E METODOLOGIAS NA DINAMIZAÇÃO DO ENSINO DE
HISTÓRIA ............................................................................................................................. 170
ST 05: HISTÓRIA, RESISTÊNCIA E DEMOCRACIA: ESCRITA E ENSINO ..................... 173
A CIDADE DESEJADA: REPRESENTAÇÕES DA CIDADE DE CAMPO MAIOR NAS
PÁGINAS DO JORNAL A LUTA DURANTE A DÉCADA DE 1970 ............................... 174
A COBERTURA JORNALÍSTICA DO IMPEACHMENT E SEUS DESDOBRAMENTOS
HISTÓRICOS ........................................................................................................................ 178
A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DOS SURDOS: UM ESTUDO DE CASO EM UMA
ESCOLA PÚBLICA MUNICIPAL NO MUNICÍPIO DE TERESINA- PIAUÍ ................... 183
AS MANIFEAÇÕES DE RUA DE JUNHO DE 2013 NA SOCIEDADE BRASILEIRA E
SUAS REPERCUSSÕES NA CIDADE DE TERESINA ..................................................... 188
CONJUNTO DIRCEU ARCOVERDE: AS VÁRIAS FORMAS ENCONTRADAS PELA
JUVENTUDE PARA A DIVERSÃO ENTRE OS MORADORES (1980-1990) ................. 192
COMO RESISTIR A CULTURA DE VIOLÊNCIA, POR MEIO DO ENSINO DE
HISTÓRIA: TRABALHO COM A CULTURA DA PAZ POR MEIO DO PIBID. ............. 195
DE “CASA NOVA ”: HISTÓRIA E MEMÓRIA DE MIGRANTES NA FORMAÇÃO DO
BAIRRO PIÇARRA EM TERESINA (1950-1970) .............................................................. 200
NOVAS TEMÁTICAS E METOLOGIAS NA DINAMIZAÇÃO DO ENSINO DE
HISTÓRIA ............................................................................................................................. 205
NAS ENTRELINHAS DA INFORMAÇÃO: AS TRAJETÓRIAS DA GRANDE IMPRENSA
NA DITADURA CIVIL-MILITAR (1964-1968) .................................................................. 207
NO PORVIR DE UMA (RE)DEMOCRATIZAÇÃO: notas didáticas acerca da Assembleia
Nacional Constituinte (1987-1988) e alguns desdobramentos ............................................... 211
OS USOS DO PASSADO NA CONTEMPORANEIDADE: INQUIETAÇÕES E
RELAÇÕES ENTRE OS DISCURSOS DOS HISTORIADORES DO SÉCULO XIX SOBRE
A DEMOCRACIA ATENIENSE. ......................................................................................... 215
RESSONÂNCIAS DA ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE RURAL E URBANO: A
FORMAÇÃO DO POVOADO SOCOPO (1950) .................................................................. 219
SOCIABILIDADES, MODOS DE VIDA E PRÁTICAS DE CURA DO POVOADO
MORROS DA MARIANA (1970-2000) ............................................................................... 224
TIMON (MA): EXPANSÃO URBANA E AVANÇOS SOCIAIS ENTRE OS ANOS 2000 –
2015 ........................................................................................................................................ 228
TRANSPORTE COLETIVO, TRÁFEGO E “TRAMPO” EM TERESINA (DÉCADA DE
1970) ...................................................................................................................................... 233
UMA ESCRITURISTICA DA NEGAÇÃO: O JORNAL INOVAÇÃO E SUAS CRÍTICAS À
ECONOMIA, POLÍTICA E CULTURA PARNAIBANAS NOS ANOS 1970 .................... 237
ST 06: CIDADES E PATRIMÔNIO: USO DO PASSADO, CULTURA E SUJEITOS. ......... 240
ANÁLISE DOS AGENTES E PROCESSOS DA ELITIZAÇÃO DOS BAIRROS SÃO
CRISTÓVÃO, FÁTIMA E JÓQUEI CLUBE ENTRE 1970 A 2000 .................................... 241
ARTE URBANA CONTEMPORÂNEA NA CIDADE DE TERESINA: ............................ 245
A história contada através das escritas urbanas na Avenida Frei Serafim. ............................ 245
AS FESTIVIDADES JUNINAS NA CIDADE DE SUCUPIRA DO NORTE-MA:
TRADIÇÃO E DANÇAS DE QUADRILHAS, NOS ÚLTMOS 20 ANOS E SUAS
MUDANÇAS TEMPORAIS ................................................................................................. 250
CENTRO MATERNO-INFANTIL E LAVANDERIA E CENTRO SOCIAL URBANO: AS
AÇÕES ASSISTENCIALISTAS EM TERESINA-PI (1972-1975) ...................................... 254
INSTITUCIONALIZAÇÃO DOS TERREIROS DE UMBANDA DE FLORIANO:
ORIGEM, CONFLITOS E PERMANECIAS (1960 – 2000) ................................................ 259
LOJA MAÇÔNICA CARIDADE II: MEMÓRIA E PATRIMÔNIO ................................... 263
MEMÓRIA E PATRIMÔNIO CULTURAL: A INVENÇÃO DO CONJUNTO
PAISAGÍSTICO DA CIDADE DE FLORIANO-PI. ............................................................ 268
O ENGAJAMENTO DE GRUPOS SOCIAIS PELA SALVAGUARDA DO PATRIMÔNIO
HISTÓRICO EM CAMPINAS DO PIAUÍ (1990 A 2008). .................................................. 272
“O QUENTE É FILMAR”: O CORPO-CIBORGUE E A CAPTURA DA CIDADE. ......... 276
O SÍMBOLO E O SAGRADO NA ........................................................................................ 281
INDUMENTÁRIA CATÓLICA DO PIAUÍ ......................................................................... 281
UMA CIDADE LATINO-AMERICANA NO SERTÃO: DESENVOLVIMENTISMO E
INTEGRAÇÃO NACIONAL EM PAUTA (1968-1975) ...................................................... 286
UM ESTUDO SOBRE AS REFERÊNCIAS CULTURAIS NA ........................................... 292
COMUNIDADE QUILOMBOLA MANGA-PI .................................................................... 292
USO DO PATRIMÔNIO CULTURAL: ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DE TERESINA-PI . 295
11
APRESENTAÇÃO
O IV Seminário do Programa Pós-Graduação em História do Brasil é um
evento científico, cultural e de extensão, promovido por discentes da 15º Turma de Mestrado
com o apoio de Doutorandos, Pós-Doutorandos, docentes orientadores do Programa e
convidados. O evento reunirá importantes pesquisadores, conferencistas, ministrantes de
minicursos, debatedores e coordenadores de simpósios temáticos. A realização deste evento
ampliará as discussões teóricas, metodológicas, empíricas e fortalecerá a produção
acadêmica da UFPI, enfocando as linhas de pesquisa: História, Memória, Cidade e
Trabalho; História, Cultura e Arte; - com o intuito de divulgar as mais recentes pesquisas
acadêmicas desenvolvidas pelos membros do referido programa, bem como os projetos de
pesquisa dos mestrandos, doutorados e pós-doutorandos.
No ano de 2019 o Evento tem como tema central: HISTÓRIA E RESISTÊNCIAS:
práticas de pesquisa em tempos de crise, objetivando nortear as reflexões sobre as práticas
de ensino, as produções históricas, as pesquisas desenvolvidas no Estado do Piauí, a
produção da História Pública, e a socialização de saberes que fazem parte do ofício do
Historiadores.
O Seminário constitui-se como uma possibilidade para apresentação e
aprofundamento das pesquisas de diferentes turmas, tanto de mestrandos, doutorandos como
de pós-doutorandos, congregando coordenadores de simpósios temáticos, ministrantes de
minicursos, pesquisadores e suas experiências de pesquisa, socialização de conhecimento,
aprendizagem mútua e enriquecimento cultural.
São atividades que conferem ao evento uma ampla visibilidade e destaque científico:
Conferências, Mesas de Discussão, comunicações orais e, com resultados de pesquisas
concluídas e/ou em andamento, dentre outras atividades.
Comissão Organizadora do Evento
12 História e Resistência
PROGRAMAÇÃO 08 de maio de 2019
CREDENCIAMENTO
Manhã:
Horáio: 08h: 00 -12h:00
Local: II Hall do CCHL
Tarde:
Horário: 14h:00 - 17h:00
Local: II Hall do CCHL
CONFERÊNCIA DE ABERTURA
“História e Resistência: práticas de pesquisa em tempos de crise.” - Prof. Dr. Joana Maria
Pedro ( ANPUH Nacional) - Auditório Noé Mendes –CCHL (Horário: 18h:00- 20h:00)
09 de maio de 2019
MINICURSOS
Manhã:
Horáio: 08h: 00 -12h:00
Local: Salas de aula do CCHL
SIMPÓSIO TEMÁTICOS
Tarde:
Horário: 14h:00 - 17h:00
Local: Salas de aula do CCHL
CONFERÊNCIA II
“Sobre os visionários de um Brasil profundo: notas para uma história da cultura
brasileira” – Prof. Dr. Fábio Leonardo Castelo Branco Brito (UFPI-CSHNB) - Auditório
Noé Mendes –CCHL (Horário: 18h:00- 20h:00)
10 de maio de 2019
MINICURSOS
13 História e Resistência
Manhã:
Horáio: 08h: 00 -12h:00
Local: Salas de aula do CCHL
SIMPÓSIO TEMÁTICOS
Tarde:
Horário: 14h:00 - 17h:00
Local: Salas de aula do CCHL
OFICINAS DO PIBID
Educação e Democracia: os ensinamentos da História
As mulheres e as conquistas democráticas
Manhã:
Horáio: 08h: 00 -12h:00
Local: Salas de aula do CCHL
CONFERÊNCIA DE ENCERRAMENTO
“História e Compromisso Ético: ofício do historiador em tempo de crise” - Prof. Dr. Tito
Barros de Leal Medeiros (ANPUH-CE) – Auditório da Pós-Graduação CCHL (Horário:
18h:00- 20h:00)
14 História e Resistência
MINICURSOS
15 História e Resistência
MC 01: HISTÓRIA E IMPRENSA: O MANUSEIO, CONSERVAÇÃO E
UTILIZAÇÃO DE JORNAIS DA DÉCADA DE 1970
Coordenado(res):
Profª Mnd. Yasminn Escórcio Meneses da Silva (UFPI)
Prof. Mnd. Elisnauro Araújo Barros (UFPI)
Prof. Mnd. Jonatas Lincoln Rocha Franco(UFPI)
Descrição:
Durante muito tempo a relação entre história e imprensa foi mau vista no metier dos
historiadores. Julgavam que as fontes produzidas pela imprensa não eram confiáveis. Com
a renovação historiográfica no século XX, essa relação mudou e hoje os historiadores lidam
com a imprensa não apenas enquanto fonte, mas como próprio objeto de pesquisa. A presente
proposta visa contemplar as discussões em torno dessa relação entre História e Imprensa
como também refletir sobre as práticas de pesquisa a partir dos jornais impressos. Nisso, se
faz necessário refletir sobre manuseio, práticas de conservação e utilização de jornais da
década de 1970 como fontes para o pesquisador. No caso do Piauí, a maioria dos jornais
impressos estão disponíveis no Arquivo Público de Teresina (Casa Anísio Brito). Há também
a Hemeroteca Nacional, que se constitui enquanto um vital acervo digitalizado.
Compreendemos que as informações produzidas por esses periódicos auxiliam no processo
de construção de conhecimento no campo historiográfico referentes as transformações
ocorridas no cenário nacional, regional e principalmente local.
16 História e Resistência
MC 2: HISTÓRIA E IDENTIDADES: POSSIBILIDADES DE
INTERPRETAÇÃO POR MEIO DE PRODUTOS CULTURAI
Coordenador(es):
Prof. Mnd João de Deus Santos Ribeiro (UFPI)
Prof. Mnd Julio Eduardo Soares de Sá Alvarenga (UFPI)
Prof. Mnd Kelyel Fortes de Resende Melo (UFPI)
Profª Mnd. Kézia Zelinda Nery Almeida (UFPI)
Descrição:
O minicurso oportunizará reflexões sobre táticas através das quais os humanos inventam a
si mesmos e aos seus mundos culturais. O intuito é demonstrar a pluralidade das formas de
arte, a partir da visibilidade de pesquisas que utilizem diferentes formas de expressão das
subjetividades, tais como cinema, música, jornais alternativos e histórias em quadrinhos. O
foco estará em perceber que estas formas de expressões, ainda que distintas, são sintomáticas
das vicissitudes humanas, e estabelecem relações ambíguas entre os sujeitos. Entre os
principais interlocutores, estão Georges Vigarello, David Le Breton, Stuart Hall e Scott
McCloud.
17 História e Resistência
MC 03: MEMÓRIA, IDENTIDADE E A ESCRITA DA HISTÓRIA
Coordenador(es):
Prof. Mnd. Joaquim K. Breno Conrado (UFPI)
Profª Mnd. Lanna Karen Lima Araújo (UFPI)
Prof. Mnd. Anderson Michel de Sousa Miura (UFPI)
Descrição:
Memória e identidade são conceitos complementares e muito utilizados na historiografia. A
memória é um importante elemento para a compreensão da (re)construção das identidades
individuais e coletivas, no entanto, as novas dinâmicas do mundo globalizado fazem com
que tais conceitos sejam revistos sob a luz de novos teóricos e através de novas interpretações
dos clássicos. Este minicurso tem como proposta apresentar e discutir os conceitos de
memória(s) e identidade(s) demonstrando, através da bibliografia sugerida, as possibilidades
dos seus usos para a construção do conhecimento histórico.
18 História e Resistência
MC 04: ENTRE IMAGENS E RE-PRESENTAÇÕES: OS MANUAIS
DIDÁTICOS COMO FONTES DE (DES) CONSTRUÇÃO HISTÓRICA
Coordenador(es):
Profª Mnd. Gizeli da Conceição Lima (UFPI)
Profª Mnd. Simoní Portela Leal (UFPI)
Profª Mnd. Daniela Fontenele Rocha (UFPI)
Descrição:
O livro didático ainda constitui-se a ferramenta pedagógica por excelência do cotidiano
escolar de muitas salas de aula no Brasil, e este fato nos permite afirmar a importância deste
recurso no processo de ensino-aprendizagem da História. Consideramos que os manuais
didáticos são documentos que apresenta a maneira como determinada época pensa, o que e
como ensinar, além de retratar temas e sujeitos de maneira singular, o que fundamenta uma
versão oficial dos fatos históricos. Nesse sentido, objetivamos problematizar as narrativas e
re-presentações históricas presentes em manuais escolares no que se refere ao ensino de
História Antiga, Africana e Afro-brasileira e do meio ambiente. Assim, neste minicurso,
iremos discutir como melhor explorar estes seguimentos temáticos, questionando a
necessidade de um revisionismo de conceitos e generalizações que culminaram na História
única, além de propor um alargamento crítico das fronteiras disciplinares como formas de
analisar as relações entre cultura, educação e poder.
19 História e Resistência
MC 05: O ENSINO DE HISTÓRIA LOCAL SOB A LUZ DA BNCC
Coordenador(es):
Profª Mnd. Rafaela da Costa Sousa (UFPI)
Prof. Mnd. Thiago Rodrigues Frota (UFPI)
Profª Mnd. Víviam Cathaline de Sousa Ferreira (UFPI)
Descrição:
O presente minicurso se justifica pela necessidade em discutir no âmbito teórico e empírico
o Ensino de História local, voltado para as séries iniciais, período do primeiro contato dos
educandos com o saber histórico, por isso, tão necessário para que se inicie a construção de
uma consciência histórica, que seja capaz de orientar os educandos em situações reais da
vida presente de modo que ele compreenda que a realidade passada deve ser entendida para
que se compreenda a realidade presente. Nota-se também que durante a formação de
professores de História ainda é privilegiada apenas as discussões teóricas em torno do
Ensino, em detrimento da empiria. Portanto, é fundamental oportunizar que os discentes dos
cursos de Licenciatura tenham contato com profissionais em atuação, assim como, analisem
a articulação concreta entre teoria e produção de saber acadêmico com a prática de ensino e
a produção de saberes escolares.
20 História e Resistência
MC 06: HISTÓRIA ORAL NA PESQUISA HISTÓRICA
Coordenador(es):
Profª Mnd. Débora Jordana (UFPI)
Profª Mnd. Jardiane Lucena (UFPI)
Profª Mnd. Maryelle Nascimento (UFPI)
Descrição:
O minicurso “História Oral na Pesquisa Histórica” tem sua relevância pautada na percepção
da contribuição da História Oral como fonte na construção do fazer histórico, abrangendo
sua utilização na compreensão de fatos ocorridos no tempo presente e que envolvam agentes
sociais capazes de contribuir através de sua vivência para o entendimento de eventos,
elucidando questões que por vezes encontravam-se obscurecidas.
21 História e Resistência
MC 07: FUNDAMENTOS DE ARQUIVOLOGIA MUSICAL
Coordenador(es):
Prof. Dr. Alberto Dantas Filho (UFMA)
Descrição:
Com o intuito de fomentar a discussão acerca do intercâmbio entre a musicologia histórica
e a história, assunto corrente entre os estudiosos da música e cujas abordagens vem se
aproximando pela necessidade de trocas e procedimentos complementares entre estes dois
campos, propomos o curso de Fundamentos de Arquivologia Musical onde serão abordados
as bases desta disciplina partindo dos procedimentos arquivológicos e todo tratamento de
fontes musicais históricas, levando em conta a especialidade da matéria. Baseado em
aproximações necessárias e muito recentes, a arquivologia musical difere da arquivologia
tradicional pelo trato e natureza diferenciada das fontes que trabalha, o que a faz um campo
de conhecimento já bem tradicional na Europa e nos Estados Unidos. No Brasil o seu
desenvolvimento se deu a partir do surgimento da “musicologia acadêmica”, pelos idos dos
anos oitenta, levados pelo pioneirismo de Curt Lange, Jaime Diniz, Cleife Person de Matos,
Régis Duprat, entre outros, já no início do século vinte. A arquivologia musical se caracteriza
como uma técnica de tratamento da informação pelo reconhecimento da música enquanto
patrimônio histórico e cultural revelando as nuanças da Vida Musical que, na acepção
sociomusicológica, dá função e objetividade a essa peculiar atividade humana. A
organização documental é, per si, um campo interdisciplinar abrangendo História,
Arquivologia, Musicologia, Ciência da Informação. Envolvendo vasto e denso instrumental,
a arquivologia musical pode ser pensada como ramo de uma arquivologia geral fundada na
História, cujo alcance e função social abrange as Tecnologias de Informação e Comunicação
– TIC, redundando na criação do Conselho Nacional de Arquivos – CONARQ que tem a
função de definir políticas nacionais para a área. A presente proposta de minicurso no âmbito
do IV Seminário do Programa de Pós-graduação em História do Brasil – História e
resistência: Práticas de pesquisa em tempos de crise poderá contribuir para a análise e
discussão das fontes documentais musicais colaborando para a compreensão do papel da
música na construção de nossa história.
22 História e Resistência
MC 08: HISTÓRIA, POLÍTICA E CULTURA POLÍTICA: OS
ESTUDOS DE HISTÓRIA POLÍTICA NO PIAUÍ E BRASIL.
Coordenador(es):
Prof. Mnd.Jackson Dantas de Macêdo (UFPI)
Prof. Mnd. Júlio Cesar Alves Pereira Nunes (UFPI)
Profª Mnd. Thaise de Sousa Araújo (UFPI)
Descrição:
O curso tem como objetivo apresentar aos estudantes de História e das Ciências Humanas
de uma forma geral, as interfaces dos estudos históricos com a política, o poder, a “Nova
História Política” e a Cultura Política. Partido da compreensão de que os sujeitos estão
inseridos em um conjunto de relações constituídas sob teias e significados que eles mesmo
produzem, propomos uma discussão em torno da instituição de práticas, representações,
táticas, estratégias e relações de poder estabelecidas no campo social. Para tanto, serão
explorados os conceitos de política a partir de Aristóteles, Hanna Arendt e Gilles Deleuze;
o conceito de cultura política proposto por Serge Berstein e o estudo das instituições políticas
e suas ramificações, temáticas inseridas nas análises de René Remond e Raoul Girardet. A
proposta visa, sobretudo, lançar luz sobre o papel do político na produção histórica
contemporânea, apresentar análises desenvolvidas a partir da influência da “Nova História
Política” e novas possibilidades de pesquisa, dimensionando uma ampla discussão do tema
no âmbito do Piauí e Brasil. curso tem como objetivo apresentar aos estudantes do curso de
História e das Ciências Humanas de uma forma geral, as interfaces dos estudos históricos
com a política, o poder, a “Nova História Política” e a Cultura Política. Partindo da
compreensão de que os sujeitos estão inseridos em um conjunto de relações constituídas sob
teias e significados que eles mesmo produzem, propomos uma discussão em torno da
instituição de práticas, representações, táticas, estratégias e relações de poder estabelecidas
no campo social. Para tanto, serão explorados os conceitos de política a partir de Aristóteles,
Hanna Arendt e Gilles Deleuze; o conceito de cultura política proposto por Serge Berstein e
o estudo das instituições políticas e suas ramificações, temáticas inseridas nas análises de
René Remond e Raoul Girardet. A proposta visa, sobretudo, lançar luz sobre o papel do
político na produção histórica contemporânea, apresentar pesquisas desenvolvidas a partir
23 História e Resistência
da influência da “Nova História Política” e discutir novas possibilidades de pesquisa,
dimensionando uma ampla discussão do tema no âmbito do Piauí e Brasil.
24 História e Resistência
SIMPÓSIOS TEMÁTICOS
25 História e Resistência
ST 01: MULTIFACES DE CLIO: PESQUISA,
HISTORIOGRAFIA E ENSINO
Coordenador:
Prof. Dr. Pedro Pio Fontineles Filho (Uespi)
26 História e Resistência
“CAMINHOS DE UMA IDEIA”: O SURGIMENTO DA RELIGIÃO
ESPÍRITA E OS EMBATES EM TORNO DA DOUTRINA NO
ESTADO DO PIAUÍ (1870 – 1930)
Rônery Danilo Monte Soares – Graduado em História. UFPI.
RESUMO
A história do espiritismo é envolta em muitos mistérios e também desconhecida da grande
maioria do público. Desde os primeiros eventos que instigaram a pesquisa da área até o seu
estabelecimento enquanto religião, o espiritismo provocou muitos questionamentos, espanto
e admiração, bem como sentimentos inversos. Dessa forma, este trabalho se propõe a clarear
as dúvidas e questionamentos quanto à inserção desta doutrina no estado do Piauí, por meio
dos jornais católicos, espíritas e noticiosos, e arquivos de centros espíritas. Pretendemos
entender o caminho que a ideologia espírita percorreu, seus personagens e seus embates.
Tendo como recorte temporal as três últimas décadas do século XIX (1870-1899) no intuito
de situarmos o trabalho, mas focando a análise e bibliografia de apoio nas duas primeiras
décadas do século XX (1900-1930). Neste último período, temos o estabelecimento de
centros espíritas, a chegada desta ideia no interior do estado e a intensificação dos debates
com as ideologias estabelecidas.
PALAVRAS-CHAVE: História. Religião. Espiritismo. Ideias.
O espiritismo é uma doutrina de caráter filosófico, científico e religioso que nasceu
no século XIX, na França pós-revolucionaria, e que, hoje, é considerada uma religião no
Brasil. Tendo ganhado adeptos em todos os estados da federação, tal ascensão não vem dos
dias atuais, pois a respectiva doutrina chegou ao Brasil poucos anos após a publicação do
seu mais importante livro, O Livro dos Espíritos e rapidamente se espalhou pelos centros
mais importantes do período (Rio de Janeiro e Salvador). Como não poderia deixar de ser,
também chegou a outras cidades e províncias do Império, dentre eles o Piauí, e é intenção
deste trabalho mapear a chegada e propagação desse ideal no estado.
A delimitação deste trabalho se dá de duas formas distintas. A primeira, mais definida
e acertada, é a delimitação geográfica. Nosso objeto de estudo encontra-se no Piauí,
observando os caminhos que um conjunto de ideias percorreu neste Estado. A delimitação
temporal encontra-se nas décadas de 70 do século XIX aos anos 20 do século passado.
Dessa maneira encontraremos nas décadas de 10 e 20 do século XX organizações de
pessoas para o estudo e a prática da doutrina, os centros espíritas, em diversas cidades do
estado, com destaque para Parnaíba, Teresina, a capital do estado, e Amarante, localizada
mais ao sul. Em nosso trabalho, percorremos tais locais através do rio Parnaíba, importante
27 História e Resistência
rota de comunicação e translado de pessoas e mercadorias até a década de 50 do século XX.
Centrando-se nas fontes encontradas e na bibliografia pesquisada, permeou-se em
nossa mente diversos questionamentos que instigaram a continuação deste trabalho, entre
eles: Como tal doutrina adentrou ideologicamente os territórios piauienses? Quais são seus
principais personagens? Quais são os principais desafios enfrentados por essa nova doutrina
para se estabelecer? Tais questões se fizeram presentes para que, por meio da pesquisa
histórica, aplicada à teoria e à base metodológica escolhida, fosse possível preencher
algumas lacunas da história religiosa do nosso estado.
É justificada a importância deste trabalho na percepção de que, em nosso estado,
diversas pesquisas versam sobre as questões da religião católica, predominante aqui durante
todo o passado, sobre sua disputa de poder com a maçonaria ou com os intelectuais clericais
e anticlericais; há trabalhos, mesmo em menor número, sobre a chegada dos diversos tipos
de protestantismo. Contudo, não encontramos ainda pesquisa histórica de relevo que verse
sobre a chegada da Doutrina Espírita e como esse pensamento influenciou o
desenvolvimento da identidade religiosa no estado do Piauí.
Por meio da bibliografia e fontes consultadas para a pesquisa, pôde-se expor os
principais personagens da doutrina espírita dentro do estado, durante o recorte de tempo
escolhido, e traçar o caminho percorrido pela mesma até o estabelecimento social enquanto
entidade religiosa. Discorremos também sobre o choque ideológico entre doutrina espírita e
católica durante todo o recorte temporal, assim como definimos o contexto da época que nos
referimos.
A experiência brasileira no campo da história das religiões tem se expandido ano
após ano. No início deste século, destacavam-se autores como Ronaldo Vainfas e suas teses
Trópico dos Pecados e A heresia dos Índios que se utilizavam dos processos inquisitoriais
para entender como se processava o pensamento religioso na colônia portuguesa. Laura de
Mello e Souza, em O diabo e a Terra de Santa Cruz, aproveita-se das mesmas fontes e
escritos da época para entender a recepção que os portugueses tiveram ao se depararem com
a religiosidade dos índios. Os três escritos referidos versam sobre o embate de grupos
religiosos em tempos mais remotos.
O que provocou o crescimento do campo e dos interesses de pesquisa foi a expansão
do pensamento histórico, assim como a agremiação de novas metodologias de trabalhos.
Damos fundamental importância e credibilidade à Escola dos Annales, corrente
historiográfica que desde o início do século XX tem modificado e gerado novas
28 História e Resistência
metodologias de trabalhos históricos.
Se formos levar em conta a bibliografia local sobre a temática, pouco ou quase nada
foi escrito com o enfoque que interesse ao nosso trabalho. Contudo, temas paralelos e
transversais foram escritos e dissertados, entre eles estão principalmente os escritos de
Teresinha Queiroz em Os literatos e a República, que estuda a ação e as ideias anticlericais
que se tornaram comum no alvorecer no século XX, e também Áurea da Paz Pinheiro que
enfoca o olhar mais espaçado dado pela primeira autora, principalmente no que diz respeito
ao embate entre clericais e anticlericais.
Como esse trabalho é uma tentativa de enquadrar uma ideia, uma ideologia, o
primeiro capítulo, intitulado Caminhos de uma ideia: a Doutrina Espírita antes de ser
Doutrina, vai discorrer sobre os primeiros momentos dessa história, as primeiras fagulhas
desse pensamento. Nele, vamos percorrer o recém-independente Estados Unidos da
América, assim como iremos ao berço da cultura moderna, a França, que ainda enfrentava
as voltas e reviravoltas causadas pela Revolução Francesa. Por último, chegaremos ao
Brasil, país em que essa doutrina vai ganhar o maior número de adeptos e que, segundo o
IBGE no seu censo de 2010, é compartilhada por mais de 5,6% da população brasileira.
Em todo esse caminho nos utilizaremos da bibliografia vasta sobre o assunto fazendo
ligações com a documentação encontrada, jornais, relatos e documentos da época,
aproximando-se o máximo possível no tempo e no espaço com o estado do Piauí.
No segundo capítulo, Ideias que navegam, as cidades doutrinárias pelo Piauí,
discorremos os caminhos dessa ideia no estado. A sua chegada e inserção no Piauí, a fim de
responder quem foram os primeiros adeptos desse pensamento, onde esses grupos se
resguardavam, quais os seus discursos e onde esses grupos se reuniam. Enfocamos nossa
pesquisa e a organização do capítulo nas cidades em que o movimento espírita foi mais
notório.
No terceiro capítulo, Proibições e embates das ideias espiritas no Piauí, discutimos
as notícias espíritas com foco nos desafios enfrentados pela doutrina enquanto ideia e
doutrina religiosa. Ressaltamos os embates espíritas tanto com relação aos impedimentos
do estado e como também os embates com a religião estabelecida. Nessa terceira etapa, nos
utilizamos de bibliografia no intuito de entender o debate e compreender o contexto da época
e, dessa forma, poder desvendar os meandros das fontes colhidas.
O que podemos perceber nesta pesquisa é que o catolicismo se viu ameaçado não só
pelo espiritismo, como também pelas várias ciências que lhe destruíam as verdades, não
29 História e Resistência
deixando de ter seu local no mundo e na vida das pessoas. Contudo, o título de “dona da
verdade mundial” não era mais seu. Titulação essa que vinha escapando de si desde Galileu.
A narrativa histórica que permeia a religião espírita foi inscrita e escrita neste
trabalho. Muito se fala dos grandes feitos e da perseverança de Kardec, mas a expansão do
espiritismo não se deu por sua causa, mas por inúmeros anônimos da História. Dentre eles,
destacamos Alarico da Cunha e Sátiro de Castro, espíritas convictos que levavam a frente
seus trabalhos doutrinários, que propagavam a sua fé e que a defendiam em discursões
ideológicas através de periódicos, folhetos ou no dia a dia de suas vidas, levando a quem
interessasse informações e esclarecimentos sobre a nova ideologia.
Dessa forma, entendemos que a contribuição maior deste trabalho é constituir um
primeiro guia ao leitor mais atento, para que ele possa capturar aqui as primeiras indicações
para o aprofundamento da pesquisa histórica. O campo de história das religiões está
crescendo nos últimos anos, sendo uma das tendências nacionais, pois entender o que existe
de mais “irracional”, intrínseco e profundo no ser humano pode ser a chave para entendê-lo
de forma mais completa e contínua.
REFERÊNCIAS
BARROS, José D’ Assunção. O Projeto de Pesquisa em História: da escolha do tema ao
quadro teórico. Petrópolis: Vozes, 2015.
CERTEAU, Michel de. A escrita da história. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999.
COELHO, Abílio Costa. Allan Kardec: o pai do espiritismo. Rio de Janeiro: Otto Pierre
Editores, 1982.
DAMAZIO, Sylvia F. Da elite ao povo: advento e expansão do Espiritismo no Rio de
Janeiro. – Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1994.
DOYLE, Arthur Conan. A história do Espiritualismo. Brasília: FEB, 2013.
GANDARA, Gercinair Silvério. Rio Parnaíba: Cidades-Beira. 2008. 397 f. Tese
(Doutorado). Programa de Pós-Graduação em História da Universidade de Brasília, Brasília,
2008.
GIUMBELLI, Emerson. O “Baixo Espiritismo” e a história dos cultos mediúnicos.
Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 9, n.19, jul. 2003, p. 247-281.
QUEIROZ, Teresinha de Jesus Mesquita. Os literatos e a República: Clodoaldo Freitas,
Higino Cunha e as tiranias do tempo. Teresina: Fundação Cultural Monsenhor Chaves, 1994.
WEISBERG, Bárbara. Falando com os mortos: as irmãs americanas e o surgimento do
espiritismo. Rio de Janeiro: Agir, 2011.
30 História e Resistência
CENAS (RE) VISITADAS: O SER NORDESTINO SOB A ÓTICA
CINEMATOGRÁFICA DE CÍCERO FILHO.
David Gonçalves Santos; Graduando em Licenciatura Plena em História pela Universidade Estadual
do Piauí
Pedro Pio Fontineles Filho Professor Doutor do quadro efetivo de docentes do curso de História da
Universidade Estadual do Piauí – Campus Clovís Moura;
1. INTRODUÇÃO
O Cinema é uma das formas de expressão cultural da sociedade industrial e
tecnológica contemporânea. Constitui-se não somente como uma arte do entretenimento,
mas como ferramenta de instrução, educação, reflexões humanas e representação histórico-
social, além de apontar para indícios da produção, circulação e consumo por parte de
diferentes agentes sociais.
Por isso, dedica-se esse projeto de pesquisa na análise da obra cinematográfica de
Cícero Filho, que retrata a história, as identidades piauienses e nordestinas na sua produção
fílmica. O recorte temporal da pesquisa está imersa no interstício de 2006 a 2018,
contemplando a data da produção do primeiro filme (Entre o Amor e a Razão) e o último
filme (Onde moram os cavalos marinhos). As relações entre as narrativas históricas e
ficcionais remetem a várias possibilidades de pesquisa. Nesse aspecto, a narrativa fílmica é
tomada como importante instância, também, para o ensino de história.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Para o desenvolvimento satisfatório da presente pesquisa, compreendendo que não
se faz pesquisa sem a harmonia entre empiria, metodologia e teoria, serão feitas leituras
teórico-metodológicas que contemplam algumas linhas de discussão: A primeira está
relacionada às abordagens da História e Cinema, recorrendo a autores como Marc Ferro
(1992), Nilse Ostermann (2006), Anatol Rosenfeld (2002), Cristiane Nova (2000), Gilles
Deleuze (1990, 1985) e Robert Rosenstone (2010). Para contemplar as discussões sobre
História e Identidades, bem como representações, serão utilizados os trabalhos realizados
por Marc Bloch (2001), Peter Burke (2003), Roger Chartier (1988) e Zigmunt Bauman
(2001), Stuart Hall (2006) e Maurice Halbwachs (2012). Outra linha de discussão se refere
à dualidade entre rural e urbano, moderno e tradicional, campo e cidade. Para isso, serão
31 História e Resistência
utilizados autores como Raquel Rolnik (1995), Lobato Corrêa (2002), José D’Assunção
Barros (2007) e Raymond Williams (2011).
3. METODOLOGIA
Metodologicamente, o estudo centrou nas análises dos filmes de Cícero Filho, no
levantamento, catalogação e arquivamento das matérias nos jornais digitais, sites e blogs,
que versam sobre a produção fílmica do Cineasta, bem como de sua repercussão no público
e na crítica especializada.
Será feita, ainda, a pesquisa documental, com visitas em arquivos públicos, em especial ao
Arquivo Público do Piauí, fazendo uso de jornais mencionando a vida e obra do cineasta.
Serão buscados registros que abrangem o recorte temporal da pesquisa, de 2006 até 2018,
para se discutir a história e as identidades a partir de cada filme. Além de leituras teórico-
metodológicas que fundamentem a pesquisa.
4. DISCUSSÕES E RESULTADOS
Os resultados preliminares do estudo apontam para o olhar do cineasta, com traços
(auto) biográficos em cenas e enredos dos seus filmes, acerca da vida social e cotidiana do
“ser nordestino” e “ser piauiense”, como vestes, gestos e linguagem. Seus filmes dão indícios
de que, em larga medida, há imagens e costumes cristalizados no imaginário da sociedade
sobre a vida do homem nordestino, em especial, piauiense. Desde o primeiro filme lançado
“Entre o amor e razão” em 2016 até o ultimo e mais recente,“Onde moram os cavalos
marinhos”(2018) caracterizam-se por ter uma ambientação paisagística e cultural da
identidade do nordeste brasileiro. O filme “Entre o Amor e a Razão” (2006), que é o filme
de Drama que conta a história sofrida de uma família de poucos recursos financeiros, no
interior do Maranhão, com renda abaixo da linha de pobreza, que sobrevive do extrativismo
do babaçu. O chefe de família decide ir para a cidade grande, deixando a família, que sofre
com a separação, a humilhação, o êxodo rural, e a injustiça social; o filme de comédia
romântica “Ai que Vida !” (2007), que retrata a história ficcional de uma cidade do interior
chamada Poço Fundo, a qual tem sua história repleta de picardia. As histórias fazem o
32 História e Resistência
espectador rir, chorar, se emocionar e também refletir sobre os valores morais das
personagens. Muitos outros temas são abordados nessa proposta inovadora de fazer arte no
Maranhão e Piauí. A filantropia, o caráter e a ética do ser humano, o amor, questões de
gênero, respeito ao próximo e os valores familiares são aspectos trabalhados no filme,
porém, a mais importante vertente é a “politicagem”, falcatruas e desmandos políticos no
interior do Nordeste Brasileiro, contribuindo, de maneira crítica, embora não panfletária e
partidária, para a valorização da cidadania.
O filme “Flor de Abril” (2011), que retrata a trajetória de Teresa, moça ingênua e
romântica, que é vítima de uma série de circunstâncias extremas. O tema central é a busca
pelo amor, mas o filme aborda também as perdas que acabam afetando a vida de todos os
personagens, cuja sina trágica encaixa-se na realidade de muitos nordestinos. Da menina do
campo à prostituta repleta de culpa, Teresa busca sua redenção ao entregar-se a um novo
amor, mas, como é da natureza humana, comete mais erros.
Por fim, o filme “Onde moram os cavalos marinhos” (2018) aborda a temática
introspectiva, a busca da felicidade e onde se encontrar as respostas. O média-metragem trata
de forma sensível, a trajetória de quatro jovens que, juntos, vão ao litoral do Piauí e como
cada um deles compartilha suas experiências de vida, suas parcelas de sucesso, amor,
conflitos. A narrativa se desenvolve a partir do relato dos personagens, construindo assim,
uma relação de amizade e amor. O filme ainda traz à tona a complexidade do “eu” de cada
adolescente mencionado na trama, que seguem uma trajetória buscando a construção de suas
identidades que na verdade faz parte de um sujeito pós-moderno que tem sua identidade
fragmentada e em constante contato com o mundo através da globalização denotando o que
diz Stuart Hall (2006). O título do filme aponta para as riquezas naturais do litoral piauiense
como o Delta da Parnaíba e a Rota do Cavalo Marinho em Barra Grande. Ademais, os filmes
de Cícero Filho é que eles não tentam discutir sobre questões de raça, seu principal repertório
de discussão é a vida social nordestina, com isso, em determinado momento acaba abordando
sobre a realidade cultural.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo considerou, que a importância e relevância da presente pesquisa se dá tanto
na esfera acadêmico-científica, quanto no âmbito social. Para o meio acadêmico, as
discussões sobre a relação entre História e Cinema ainda merecem maior aprimoramento e
33 História e Resistência
destaque, bem como a obra de Cícero Filho, que não foi devidamente analisada em seus
aspectos histórico-culturais. No sentido da relevância social, a pesquisa é fulcral para a
disseminação de reflexões sobre as identidades do “ser” piauiense, nordestino e brasileiro.
Isso, inclusive, é de suma importância para os debates não somente na esfera das
universidades, mas, também, nos espaços das escolas, visto que os professores, notadamente
de História, podem utilizar a obra como recursos didático-pedagógicos.
Palavras-chave: História. Identidades. Cinema. Historiografia.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARROS, José D’Assunção. O projeto de pesquisa em História: da escolha do tema ao quadro
teórico. 6. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.
_______. Cinema e História: entre expressões e representações. In: BARROS, José D’Assunção;
NÓVOA, Jorge (Orgs.). Cinema e História: teorias e representações sociais no cinema. Rio de
Janeiro: Apicuri, 2008.
_______. Cidade e História. Petrópolis: Vozes, 2007.
BAUMAN, Zygmunt. Identidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2005.
CHARTIER, Roger. História Cultural: entre práticas e representações. Lisboa: Difusão, 1988.
CORRÊA, Roberto Lobato. O espaço urbano. São Paulo: Ática, 2002.
DELEUZE, Gilles. A imagem-movimento. São Paulo: Brasiliense, 1985.
______. A imagem-tempo. São Paulo: Brasiliense, 1990.
FERREIRA, Jairo. Cinema de invenção. 2. ed. São Paulo: Limiar, 2000.
FERRO, Marc. Cinema e História. Tradução Flavia Nascimento. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.
HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. 2. ed. 6. Reimpressão. São Paulo: Centauro, 2012.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 9. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2006.
MONTEIRO, Jaislan Honório. Arte como experiência: cinema, intertextualidade e produção de
sentidos. 2. ed. Teresina: EDUFPI, 2007.
NOVA, Cristiane. A história diante dos desafios imagéticos. Projeto História. São Paulo, n. 21, nov.
2000.
OSTERMANN, Nilse W. Filmes contam história. 3. ed. Porto Alegre: Movimento, 2006.
ROLNIK, Raquel. O que é a cidade. São Paulo: Brasiliense, 1995.
ROSENFELD, Anatol. Cinema: arte e indústria. São Paulo: Perspectiva, 2002.
ROSENSTONE, Robert A. A história nos filmes, os filmes na história. São Paulo: Paz e Terra, 2010.
WILLIAMS, Raymond. O campo e a cidade: na história e na literatura. São Paulo: Companhia das
Letras, 2011.
34 História e Resistência
CLIO E A MEMÓRIA (RE)CRIADA: ESTUDO DA CONSTRUÇÃO
HISTÓRICA A PARTIR DO LIVRO “O VENDEDOR DE
PASSADOS”.
Mário de Sousa Oliveira. UESPI-CCM
Dr. Pedro Pio Fontineles Filho. UESPI-CCM
INTRODUÇÃO
O presente estudo apresenta uma análise da obra literária "O vendedor de passados",
um romance publicado originalmente em 2004 pela editora Dom Quixote e publicado no
Brasil em 2009 pela editora Gryphus. O autor é o jornalista, escritor e editor angolano José
Eduardo Agualusa (Huambo, 1960). Essa obra da Literatura Portuguesa nos apresenta como
protagonista Félix Ventura, um angolano, albino, que tem o peculiar trabalho de criar
passados. Tendo como clientes a sociedade angolana que o procuram em busca de um
passado glorioso e uma linhagem honrosa, adquirida pela reprodução de falsas genealogias
e eventos, mostrando a possibilidade de uma manipulação de fatos e de relatos, convertendo-
os em “verdades históricas”. O estudo permite a possibilidade de lermos uma obra como
uma ficção historiográfica, observando claramente a necessidade do autor em questão de
(re)tomar e (re)visitar a história nacional de Angola para compor a sua narrativa ficcional.
O estudo tem o objetivo principal de compreender o uso da Literatura como recurso
para análise histórica e a utilização da mesma na compreensão da construção de memórias.
Sabendo que por muitas vezes a Literatura não é aceita pelos “amantes” da Historiografia
como um objeto para estudo da memória, levando em consideração o “esquecimento” por
parte deles que as bases historiográficas modernas estão alicerçadas na Literatura Clássica,
imortalizada por Heródoto e Tucídides.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Para Biasi (2006), o historiador deve procurar as pistas deixadas pelas próprias obras
literárias, para então dar início à formação de suas pesquisas, cabendo ao, mesmo “decifrar”
as escritas literárias para poder compreender e extrair o que de melhor possa ser aproveitado
em um contexto histórico tido como “real”, e partindo deste ponto deciframos o livro “O
vendedor de passados” e observamos na sua narrativa traços historiográficos e históricos.
Na obra de Agualusa podemos encontrar características de uma narrativa bem fiel
35 História e Resistência
aos contextos históricos, e características bem mais ficcionais, que permitem de igual modo,
extrair rastros da Identidade Nacional de Angola. Segundo Chartier (1999), as relações entre
a História e a Literatura podem ser entendidas de duas maneiras, sendo a primeira como uma
forma de exigência de que os textos literários devam se aproximar o máximo possível dos
contextos históricos. E a segunda o inverso disto, descobrindo em alguns textos literários
uma “representação aguda e original dos próprios mecanismos que regem a produção e
transmissão do mistério estético” (CHARTIER, 2000, p.197).
As conexões que se fazem entre História e Literatura são importantes para que
possamos perceber a proximidade entre o campo histórico e o literário, principalmente no
que diz respeito à memória. Segundo Le Goff (1992), o passado é uma construção e uma
reinterpretação constante, e o futuro é parte integrante e significativa da história. Entendendo
isso, podemos perceber que a obra “O vendedor de passados” expressa bem este pensamento,
através da nítida tentativa de melhorar as condições futuras dos clientes de Ventura alterando
as suas histórias.
METODOLOGIA
Como arcabouço teórico metodológico, realizou-se uma leitura analítico-
interpretativa do livro “O vendedor de passados” (2009), observando os aspectos de ligação
entre uma narrativa histórico-científica e uma narrativa literária ficcional, recorrendo à
discussões de Daniel Bergez (2006), Pierre Biasi (2006) e Pierre Barbéris (2006) para crítica
de análise literária; Bosi (1994), Halbwachs (2006), Bresciani (2001), Nexara (2001) e Le
Goff (1992) como base para estudo de história e memória; Foucault (1994) nas questões de
discurso, e Hampâté Bá (1970), para discursões sobre tradição africana.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Como principal resultado percebemos que a leitura apresentada no livro pretende
transmitir lastros da tradição africana do autor, principalmente nos traços orais como técnicas
metodológicas na construção do universo criado por um vendedor de passados, construindo
histórias a partir de um jogo de memórias criando identidades. Os resultados levantam
questionamento acerca da “criação do passado” e a “verdade” das fontes históricas,
apresentando a possibilidade de uma manipulação de provas que evidenciam a constituição
36 História e Resistência
dos fatos.
Para Bresciani (2001) e Naxara (2001), as noções de memória e história são
articuladas para dar conta dos processos sociais relativos à interpretação do que se tem como
passado, principal fonte na construção de biografias. O passado não é um elemento que é
resgatado de forma íntegra e plena, mas é essencial para o entendimento dos indivíduos e
dos eventos. Bosi (1994), entende que a lembrança é uma forma de sobrevivência do
passado, mas que temos que ter em mente que as lembranças são muitas vezes coletivas, e
há entre estas lembranças uma certa necessidade de divergências, o que impossibilita a
veracidade concreta dos eventos. Muitas dessas divergências se dão pelo próprio fato do
esquecimento, considerando que lembrar pressupõe o próprio ato de esquecer.
Tendo estes conceitos em mente, percebemos que livro “O vendedor de passados”
nos evidencia uma característica marcante da sociedade pós-moderna, que é a necessidade
de se enquadrar nos ditos padrões sociais e econômicos, que não são usufruídos pela maioria.
Onde o Sujeito, em busca de um padrão que o ajudasse a viver uma realidade “melhorada”,
abdicava de todo o seu passado, incluindo tradições, para criar para si um histórico
plenamente ficcional com títulos e experiências não vividas nas vias de fato.
Um exemplo marcante se dá quando um ministro procura Ventura em busca da
criação de um livro, intitulado de “A vida verdadeira de um Combatente”. Um livro que de
certa forma sirva como comprovação de suas memórias. Obrigando Ventura unificar a
história do Sujeito com História nacional de Angola, atribuindo ao ministro uma vida repleta
de honrarias e vitórias como bem desejava, perpetuando esta memória até torná-la coletiva,
fazendo assim com que a sua história, relatada no livro, seja a história reproduzida pela
sociedade.
“Assim que A Vida Verdadeira de Um Combatente for publicada, a história de
Angola ganhará outra consistência, será mais História. O livro servirá de
referência a futuras obras que tratem da luta de libertação nacional, dos anos
conturbados que se seguiram à independência, do amplo movimento de
democratização do país.” (AGUALUSA, 2009, p.140).
Essa reprodução histórica se dá por conta de toda esta busca por uma identidade, que
é adquirida através da identificação dos sistemas de representações e dos sentidos que serão
construídos pelos discursos criados por Ventura, discursos os quais despertarão nos sujeitos
(sociedade) um sentimento de pertencimento daquelas memórias, por mais que criadas.
Nesse sentido, segundo Foucault (1994), o discurso é uma forma de legitimação de poder e
o discurso remetendo ao passado nacional de Angola, possui um caráter performático,
37 História e Resistência
devido justamente ao fato da própria construção histórica ser uma constante com o poder
que é adquirido. E tomando para si este poder, o discurso se dá nesta narrativa como uma
espécie de confirmação dos fatos históricos.
A pertinência de se estudar a obra de Agualusa está no fato de que, além de se
revisitar as memórias de Angola, os estudos sobre a relação entre História e Literatura
ganham novos rumos, em decorrência de que a narrativa ficcional pode ser tomada como
parceira na visualização de outras vivências e experiências dos espaços.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo levou em consideração, de modo geral, que o Livro “O vendedor de
passados” é uma importante fonte de pesquisa para compreensão dos estudos no campo da
História, Memória e Identidade, uma vez que nos levou a reflexão e a problematização de
como a memória é constituída na Sociedade e no campo da História. A memória, que muitas
vezes é confundida com a própria história, é uma inspiração do pensar, inspiração do
escrever, motivadora da criação do fato e engrenagem para os registros. O livro de Agualusa
mostra-se imensamente rico no que diz respeito a traços da cultura angolana, unificando de
forma coesa a realidade com o ficcional.
Por fim podemos entender “O vendedor de passados” como uma ficção
historiográfica, com discursos acerca de identidade e memória, e a necessidade de
estabelecê-las com a escrita da História.
Palavras-chave: História; Literatura; Memória; Identidade.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AGUALUSA, José Eduardo. O vendedor de passados. Rio de Janeiro: Gryphus, 2009
BERGEZ, Daniel; BARBÉRIS, Pierre; BIASI, Pierre-Marc de & al. Métodos Críticos para
a análise literária. 2ª edição. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
BOSI, Ecléa. Memória e Sociedade: lembrança de velhos. 3. ed. São Paulo: Companhia das
Letras, 1994.
BRESCIANI, Stella; NAXARA, Márcia. Memória e (res)sentimento: indagações sobre uma
questão sensível. Campinas. Editora da UNICAMP, 2001.
CHARTIER, Roger. Literatura e História. In: Revista Topoi Nº1, Rio de Janeiro, 2000,
p.197-216.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir. 11. ed. – Petrópolis: Vozes, 1994.
HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. Trad. Beatriz Sidou. São Paulo: Centauro,
2006.
38 História e Resistência
HAMPÂTÉ BÁ, Amadou. A tradição viva. In. Introdução à cultura Africana. Edições 70.
Lisboa, 1970.
LE GOFF, Jacques. História e Memória. 4. ed. Campinas: Editora da UNICAMP, 1996.
39 História e Resistência
CONSTRUINDO ESTRATÉGIAS DE ENSINO E APRENDIZAGEM:
EXPERIÊNCIAS NO PIBID HISTÓRIA (CSHNB-UFPI)
Déborah de Carvalho Coelho (Graduanda UFPI – CSHNB)
Ramonn Gonçalves de Moura (Graduando UFPI - CSHNB)
Resumo: O Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) propõe a
atuação entre a prática e a teoria, tendo em vista, que esse processo possibilita ao futuro
docente a construção de um conhecimento pautado no cotidiano das escolas públicas da rede
de ensino básico. A exemplo disso, construímos neste ano, um projeto sobre o debate
historiográfico acerca do Piauí colonial e a importância da figura do vaqueiro nas fazendas
de gado no Piauí, bem como a discussão historiográfica das percepções da função do
vaqueiro nas fazendas de gado dentro do contexto dos século XVIII e XIX. O PIBID nos
propiciou unir o conhecimento teórico adquirido na universidade com a prática, por essa
razão aplicamos este projeto no âmbito da sala de aula. O presente trabalho tem como
objetivo relatar as experiências proporcionadas a partir das atividades desenvolvidas no
PIBID na cidade de Picos (PI). A metodologia que utilizamos na aplicação do projeto sobre
o Piauí colonial dialoga em grande medida com a história cultural, logo, trabalhamos o papel
do vaqueiro na historiografia clássica e problematizamos as relações estabelecidas entre
vaqueiros e fazendeiros. As aulas foram expositivas e dialogadas, pois, levamos em
consideração as contribuições dos alunos, quando os incitamos a participar da discussão.
Percebemos que o conhecimento prévio dos alunos sobre a história do Piauí era bastante
incipiente e que eles não se interessavam pela temática, entretanto, este empecilho nos fez
criar métodos para desenvolver o interesse do alunato. A aplicação desse conhecimento na
realidade escolar nos forneceu uma visão mais aguçada sobre o contato do professor com o
aluno no contexto da sala de aula, ou seja, nos ajudou a formar mecanismos pedagógicos
para uma melhor aplicação dos conhecimentos teóricos na prática. Contudo, é importante
mencionar que esse vínculo estabelecido entre futuros docentes, alunos e professores da
educação básica no PIBID, viabilizou o desenvolvimento de uma experiência entre a teoria
e a prática que ao final será levada para discussão em âmbito acadêmico, logo, contribuirá
para o aperfeiçoamento da formação dos discentes universitários.
Palavras- Chave: História. Historiografia. Ensino. Identidade.
1. INTRODUÇÃO
Temos sabido que é de suma importância as experiências na prática do ensino de
história durante a formação do professor. Muitas vezes, quando os alunos universitários
saem da graduação e adentram o universo da sala de aula, ocorre o desânimo, pois constatam
que existe um distanciamento entre a teoria e a prática. A iniciação à docência propiciada
pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) fornece o suporte
necessário para o desenvolvimento de uma formação pautada na relação entre teoria e prática
no ensino. Conforme a autora Linda Darling-Hammond (2014), é de extrema relevância que
40 História e Resistência
o futuro docente, em processo formativo, esteja capacitado com um amplo conhecimento e
que ele saiba usar essa instrução a seu favor, por meio de ferramentas pedagógicas, no
sentido de repassar e ajudar a formular o conhecimento dentro da sala de aula. Linda Darling-
Hammond levanta um questionamento a respeito da reflexão em torno da própria prática dos
professores nas escolas, ou seja, o formando inserido no contexto da realidade escolar obterá
melhores resultados em seu aprendizado. Mediante as pesquisas, a autora chega a uma
conclusão que mesmo estando em um sistema de formação defasado, mesmo assim, é
inegável dizer que os professores que passam por uma preparação adequada, obtêm maiores
êxitos do que aqueles que não passam por um processo mais intenso e criterioso em sua
formação.
Na prática do PIBID os alunos elaboram, conforme o cronograma, diversas
atividades de intervenção na escola. Uma delas é a construção de projetos teóricos, voltados
para aplicação em sala de aula. A exemplo disso, podemos ressaltar o planejamento e a
execução do Projeto: a importância da figura do vaqueiro nas fazendas de gado no Piauí,
buscando dialogar com a discussão historiográfica das percepções da função do vaqueiro nas
fazendas de gado dentro do contexto dos séculos XVIII e XIX. A nosso ver, um assunto
relevante, pois o vaqueiro foi uma figura importante na criação de gado do Piauí no período
em questão.
O projeto foi aplicado na Escola Estadual de Educação Profissional Petrônio Portela
(mais conhecida na cidade de Picos como PREMEM) nos dias 25 e 30 de abril de 2019.
Procuramos, a partir de questionamentos/problematizações, instigar os alunos da escola a
respeito do vaqueiro nas fazendas de gado nesta região chamada hoje de Piauí.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Para construirmos o projeto de pesquisa sobre o Piauí colonial usamos os autores:
Solimar Oliveira Lima e Soares Débora (1997); Solimar Lima (2005); Claudete Maria Dias
(2009) e Roberta Lobão Carvalho (2016). No que tange ao suporte teórico de como tratar a
respeito da problematização da figura do vaqueiro no Piauí utilizamos Michel Foucault
(1979). Na parte pedagógica sobre a relação entre prática e teoria nos apropriamos de Linda
Darling-Hammond (2014) e Paulo Freire (2011).
41 História e Resistência
3. METODOLOGIA
Nossa metodologia encontra-se no campo da história cultural, portanto,
trabalhamos o papel do vaqueiro na historiografia clássica e problematizamos as relações
estabelecidas entre vaqueiros e fazendeiros. As aulas foram expositivas e dialogadas,
levamos em consideração o conhecimento que os alunos possuíam de antemão, quando os
incitamos a participar das discussões.
4. DISCUSSÃO E RESULTADOS
Observamos, com a aplicação do projeto na escola, que é imprescindível ao
professor a experiência na realidade a qual os alunos encontram-se inseridos, com a
finalidade de despertar o interesse dos alunos acerca do conteúdo trabalhado. Portanto,
desenvolvemos por meio do ensino, na realidade escolar a experiência da aplicação da teoria
na prática, uma visão mais aguçada sobre o contato do professor com o aluno. O contexto
da sala de aula nos ajudou a formar mecanismos pedagógicos para uma melhor aplicação
dos conhecimentos teóricos na prática. Refletimos e chegamos à conclusão no planejamento
da segunda aula de aplicação do projeto, que seria melhor questionar os alunos sobre a
identidade do vaqueiro. Em um primeiro momento da aula, mostramos uma imagem do
vaqueiro andando de cavalo, com seu gibão de couro e todos os seus apetrechos. Em seguida,
mostramos uma imagem de um vaqueiro em um carro de luxo, dessa maneira, geramos um
conflito sobre a identidade do vaqueiro nos alunos, para que assim pudéssemos despertar
nos alunos a vontade de estudar o conteúdo, por meio desse instrumento pedagógico.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tendo em vista o relato de experiência supracitada, é notório que para ocorrer uma
formação docente profícua é essencial para os futuros docentes o contato com o ambiente
escolar. O PIBID contribui nesse sentido, através da iniciação docente. Além do mais,
colabora para melhorar a qualidade da educação na escola pública. Contudo, é importante
mencionar que esse vínculo estabelecido entre futuros docentes, alunos e professores da
educação básica no PIBID, viabilizou o desenvolvimento de uma experiência entre a teoria
e a prática que ao final será levada para discussão em âmbito acadêmico, logo, contribuirá
42 História e Resistência
para o aperfeiçoamento da formação dos discentes universitários.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CARVALHO, Roberta Lobão. O Maranhão no contexto da Monarquia Católica: Uma
Historia conectada. Revista Fronteiras e Debates. v. 3, n. 1, 2016, p. 167-187. Disponível
em: https://periodicos.unifap.br/index.php/fronteiras/article/view/3407/robertav3n1.pdf.
Acesso em: 08 de maio de 2019.
Darling-HAMMOND, L. A importância da formação docente. Cadernos Cenpec, São Paulo
v.4, n.2, p. 230-247, dez. 2014. Disponível em:
http://cadernos.cenpec.org.br/cadernos/index.php/cadernos/article/view/303/299. Acesso
em: 08 de maio de 2019.
DIAS, Maria Claudete. Povoamento e despovoamento: da Pré-história à sociedade escravista
colonial. FUMDHAMentos VII. 2009, p. 417-429. Disponível em:
http://docslide.com.br/documents/20-claudete-dias.html. Acesso em: 08 de maio de 2019.
FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1979.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São
Paulo, Paz e Terra, 2011.
LIMA, Solimar Oliveira. Processo produtivo e ocupação da mão-de-obra. In:_______ .
Braço forte: trabalho escravo nas fazendas da nação no Piauí - (1822-1871). 1. ed. Passo
Fundo: Editora Universidade de Passo Fundo, 2005, p. 67-111.
LIMA, Solimar; SOARES, Débora. Escravidão e violência: debates e tendências na
historiografia piauienses. Revista Informe Econômico. Teresina: EDUFPI, 1997.
43 História e Resistência
O (DES) ENCONTRO DE MUNDOS: HISTÓRIA, CINEMA E
HISTORIOGRAFIA DA SEGUNDA GUERRA NO FILME “CINEMA,
ASPIRINAS e URUBUS”.
Ítalo de Amorim Oliveira. UESPI-CCM
Dr. Pedro Pio Fontineles Filho. UESPI-CCM
1. INTRODUÇÃO
Em 1985 na França (precisamente no salão Grand Café), os irmãos Lumière
apresentaram para a plateia ali presente um filme curto em um aparelho que estes
patentearam de cinematógrafo. Anos depois esse tipo de recurso visual se fundiria ao recurso
de áudio e revolucionaria o mundo com suas obras audiovisuais, que se tornaram
importantíssimas em todos os aspectos, inclusive no aspecto de instrumento para análise
cinematográfica para o estudo da História.
O presente trabalho tem como base, a análise cinematográfica do filme (Cinema,
Aspirinas e Urubus) produzido pelo cineasta Marcelo Gomes em 2005. O filme dirigido por
este cineasta, lançado em 2005 conta a “história” de um alemão Johann (Peter Ketnath), que
em 1942 fugia da guerra da Alemanha e veio para o Brasil para tentar a vida vendendo
Aspirina (ácido acetilsalicílico) no interior do Nordeste, quando por acaso se encontrou com
um nordestino Ranulpho Gomes (João Miguel), que estava tentando fugir da seca do
semiárido brasileiro e vê em Johann uma fonte de sobrevivência, os dois criam um forte laço
de amizade importantíssimo para o desenvolvimento da trama.
O recorte temporal de 1941 a 1945 (retrocedendo em alguns anos para explicar certas
cadeias de acontecimentos), portanto a análise seguirá fidedigna a estes anos já que a análise
será dos fatos exibidos do filme (História no cinema), e não no seu ano de produção, haja
vista que não iremos analisar os aspectos “Cinema na História” ou “História do Cinema”,
mas sim “História no cinema” supracitado neste resumo.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Para a análise do filme, iremos abordar alguns aspectos historiográficos que estão
presentes neste, tais como História e Cinema; História e Identidades; História e Cidades, e
História Comparada de Maria Helena Rolim Capelato.
44 História e Resistência
Na obra cinematográfica de Marcelo Gomes, usaram-se os autores Marc Ferro
(1992), Nilse Ostermann (2006) e Jean-Claude Bernadet (1981) para a dimensão de História
e cinema, no qual se abordou as questões da História no Cinema e as concepções de espaço,
produção fílmica, etc... No que se refere à História e Identidades me ative aos autores Peter
Burke (1992) e Stuart Hall (2006), para tratar dos aspectos de identidade de cada
personagem, bem como o aspecto cultural que os envolve no longa-metragem. No que
Concerne ao aspecto de História e Cidades me embasei nas leituras de Raquel Rolnik (1995)
e Raymond Williams (2011), A primeira para nortearmo-nos no espectro da cidade com a
escrita e o segundo nas abordagens de “O campo e a Cidade”. Para a abordagem da História
Comparada me fundamentei na leitura de Capelato, pois a história do filme tem ligação direta
com o populismo de Vargas durante o Estado Novo (1937-1946), tendo em conta que tanto
o recorte temporal, quanto aspectos sociais convergem com os procedentes acontecimentos
desse período.
3. METODOLOGIA
Como Metodologia inicial, recorri-me a análise do filme, elencando seus aspectos
histórico-sociais, culturais e geográficos para servir de ferramenta para uma junção de
leituras teóricas que chamarei de “arcabouço teórico metodológico”.
Como arcabouço teórico metodológico, recorri às leituras dos teóricos susoditos na
fundamentação teórica (História e Cinema: Marc Ferro (1992), Nilse Ostermann (2006) e
Bernadet (1981); História e identidades: Peter Burke (1992) e Stuart Hall (2006); História e
Cidade: Raquel Rolnik (1995) e Raymond Williams (2011); História Comparada: Maria
Helena Capelato (1998), no contexto do Varguismo e Peronismo, que serviram de base para
esta análise, e para finalizar o tripé metodológico, foram feitas leituras de artigos acadêmicos
que serviram de embasamento oral na apresentação deste projeto.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Como resultados, vimos às discussões no filme sobre identidade proposta por Stuart
Hall e Peter Burke, no qual o Alemão Johann (Peter Ketnath), vindo de um lugar diferente
de Ranulpho Gomes (João Miguel), se encontram no sertão do Nordeste. Tomando como
45 História e Resistência
linha de raciocínio o quesito História e Identidades, abrir um parêntese para discutir a
perspectiva da história e memória, tendo em vista que Ranulpho Gomes é tio-avô do
roteirista Marcelo Gomes. Interessante saber que o parêntese será aberto para discutir
História e memória e não História do tempo presente, já que esta última se trata do fato da
pesquisa manter uma relação física com o historiador, seu tema e seu tempo. Para alguns
historiadores o fato do interlocutor está em contato direto com o tempo estudado já entra em
consonância com a história do tempo presente, mas para evitar tangenciar o objetivo
proposto, me embasarei apenas no aspecto de História e memória.
A perspectiva do êxodo rural de Ranulpho no longa-metragem é visto como resultado
nas politicas das massas instaurado em 1938 pelo governo populista de Getúlio Vargas.
Termo este criado pela historiadora Maria Helena Capelato, no qual irá abordar entre outras
coisas o fato da brasilidade exacerbada e do enaltecimento das grandes metrópoles, que é
mostrado no filme pelas falas de Ranulpho e pela sua característica denegridora do Nordeste
para com o Sudeste do País. Nesta perspectiva o uso do rádio no filme foi de suma
importância, haja vista que mostra a fidelidade dos fatos históricos ocorridos na época, como
por exemplo, a criação do programa radiofônico “A hora do Brasil”.
Houve nessa época (1941-1942) perseguições aos estrangeiros que foram nascidos
nos países que compunham o eixo (Itália, Alemanha e Japão), tendo em vista os navios
afundados nas costas brasileiras pelos submarinos nazistas, o que desencadeou essas
perseguições, e que é mostrado no filme com a cassação dos direitos de venda das aspirinas
por Johann.
Para ser ainda mais fiel aos fatos históricos, fora observado no filme Cinema,
Aspirinas e Urubus, que os estrangeiros nascidos nos países do eixo, como é o caso do
Johann e os brasileiros pobres nessa época, como é o caso de Ranulpho, tiveram que tentar
a vida nas seringueiras da Amazônia, retratando outro fato histórico ocorrido no Brasil nesta
época: Os soldados da borracha.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como considerações finais, podemos inferir que filme possibilitou a aproximação de
fatos inseridos no filme com o conteúdos das obras historiográficas, bem como das escritas
dos teóricos, como por exemplo, os temas propostos por Stuart Hall e os contextos
46 História e Resistência
identitários estarem em confluência.
O ato contínuo dessa forma de pesquisa histórica poderá abrir um leque de
possibilidade para a “reescrita” da História, pois há uma riqueza muito grande nas
abordagens cinematográficas em geral, que se analisada de forma metodológica encontrará
diversas perspectivas de discussões na mais variadas formas de se “fazer” a História.
Palavras-chave: História; Cinema; Memória; Identidade.
6. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BERNADET, Jean-Claude. Cinema Brasileiro: Propostas para uma História. Rio de Janeiro,
Paz e Terra, 1981.
BURKE, Peter. A Escrita da História: novas perspectivas. São Paulo: Editora UNESP, 1992.
BURKE, Peter. Testemunha ocular: o uso de imagens como evidência histórica. São Paulo:
Editora Unesp, 2017.
CAPELATO, Maria Helena R. Multidões em cena: propaganda política no varguismo e no
peronismo. Campinas: Papirus, 1998.
FERRO, Marc. Cinema e História. Tradução Flavia Nascimento. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1992.
FERRO, Marc. O Filme: uma contra-análise da Sociedade? In: LE GOFF, LENHARO,
Alcir. Sacralização da Política. São Paulo: Papirus, 1986.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós modernidade. 9 ed. Rio de Janeiro: DP&A,
2006.
OSTERMANN, Nilse W. Filmes contam história. 3. ed. Porto Alegre: Movimento, 2006.
ROLNIK , Raquel. O que é a cidade. São Paulo: Brasiliense, 1995.
WILLIAMS, Raymond. O campo e a cidade: na história e na literatura. São Paulo:
Companhia das Letras, 2011.
47 História e Resistência
OUTRAS NOTAS DE CLIO: HISTÓRIA E NARRATIVAS DO ROCK
EM TERESINA, NAS DÉCADAS DE 1980 E 1990.
Autora: Ligia dos Santos Lima de Macêdo (UESPI)1
Orientador: Prof. Dr. Pedro Pio Fontineles Filho (UESPI)2
Resumo: O presente trabalho tem como objetivo discutir a cena rock e heavy metal em
Teresina. O recorte temporal inicia-se em 1980, até o final da década de 1990. Abordando,
também, os festivais e a participação feminina neste cenário, com a intenção de dar
visibilidade à história das mulheres no rock. A pesquisa é desenvolvida metodologicamente
por meio da História Oral, obtidas principalmente em entrevistas, questionários, pesquisa
hemerográfica e itens do acervo pessoal dos entrevistados. Como referencial teórico utiliza-
se principalmente Marcos Napolitano para nortear a discussão de História e Música, Ricardo
Alexandre sobre o rock nacional e o contexto histórico do Brasil na década de 1980, e
trabalhos monográficos dos autores Hermano Medeiros, Viviane Andrade e Luiz Mendonça.
Dessa forma foi possível concluir sobre os fatores responsáveis para o surgimento das
primeiras bandas de rock e metal na cidade de Teresina, bem como a participação feminina
e os problemas que geralmente são enfrenados para a acessão de uma banda.
Palavras-chave: História. Música. Rock. Gênero.
1. INTRODUÇÃO
No Brasil, desde o fim da década de 1960, há certa proliferação de pesquisas com a
música como objeto de estudo. No entanto, ainda há uma carência de produção de
conhecimento da área musical, para traçar os caminhos da música em suas dimensões
históricas, sociais, culturais, econômicas e políticas. Assim, esta pesquisa busca contribuir
para a discursão de História e Música, traçando os principais aspectos desse movimento
underground em Teresina no período de 1980, até o final 1990, podendo regressar ou
avançar para um melhor entendimento do recorte apresentado. Com relação ao título, o termo
“outras notas” refere-se às notas musicais (dó, ré, mi e etc.). Já “Clio” refere-se a uma das
nove musas gregas filhas de Zeus. Seu nome significa “proclamadora”, e é considerada deusa
da História.
A pesquisa mostra os gêneros rock n’ roll e o heavy metal que, aparentemente não
caberia na cultura nordestina, onde predominava gêneros musicais como o forró e sertanejo,
conquistou um lugar permanente na cena musical de Teresina, e alcançou interesse nacional
1 Graduada em Licenciatura Plena em História pela Universidade Estadual do Piauí (UESPI/CCM). Professora
da Rede Particular de Ensino de Teresina-PI. 2 Doutor em História Social pela UFC. Mestre e Especialista pela UFPI. Professor do Programa de Pós-
Graduação em História do Brasil (PPGHB/UFPI). Professor do ProfHistória (UESPI). Professor do Curso de
História - UESPI/CCM. Membro do Núcleo de Pesquisa em História e Educação (NUPEHED).
48 História e Resistência
e internacional.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEORICA
O trabalho está organizado em três partes, a primeira examina questões teóricas da
relação de História e Música, norteado pelo livro “História & Música”, de autoria de Marcos
Napolitano. Na segunda parte realizam-se discussões sobre a trajetória das bandas Vênus e
Megahertz, e os principais festivais que ocorreram na época em Teresina, utilizando a
produção de Viviane Andrade e Hermano Medeiros. Em seguida, fala-se sobre a participação
feminina no movimento underground onde se utiliza os autores Luiz Fellype Gois de
Mendonça e Fabiana de Paula.
3. METODOLOGIA
O presente estudo discute relações entre história e música, onde, foram analisadas
diversas fontes físicas, digitais, pesquisa bibliográficas, mas teve como principal base
entrevistas realizadas com os principais personagens da história do rock em Teresina.
Dentre os entrevistados, temos Thyrson Marechal, da Vênus; Kasbafy da banda
Megahertz e Éldima Barros das bandas Valkirias e Evil Woman e aplicação de questionários
com Florisa Gessle, Ana Maria e Helen Queiroz da banda Valkirias.
4. DISCUSSÃO E RESULTADOS
Em 1980 o estilo musical Rock n’ Roll, já havia se popularizado por todo o mundo e
diversas bandas já estavam consagradas. No Brasil, em 1985, temos um grande marco na
história do rock brasileiro e mundial, o festival Rock in Rio, que reuniu bandas nacionais e
internacionais, feito importante, porque até então grandes nomes do rock internacional não
tinham costume de realizar apresentações em países da América do Sul.
Em Teresina, jovens já se aventuravam em bandas covers, e em 1982, surge a banda
Vênus, composta por Pincel, Ico, Quinha e Thyrso Marechal. Em 1984, surge a banda
Wagark, formada por Willian Rodsam, Kasbafy, Aldaberto, André Luís e posteriormente
Ico Almendra. A Wagark teve duração de um ano, e desta formação, em 1985, Willian e
49 História e Resistência
Kasbafy formam a Megahertz, banda que até atualmente representa grande nome no rock
piauiense.
Toma-se como base Vênus e Megahertz pois ambas são de suma importância na
pesquisa por conta de suas projeções em Teresina e no âmbito nacional e internacional, que
se deu principalmente através de notícias circuladas em jornais locais, programas de rádio
da época, fazines e discos que circularam internacionalmente. A Vênus se apresenta como a
primeira banda de rock de Teresina a ter organização profissional, e a Megahertz como a
banda de rock com maior tempo de duração, sendo de ativa de 1985 até atualmente.
Os festivais foram de grande importância para as primeiras bandas da cidade, onde
conseguiam projeção. O Setembro Rock reunia bandas nacionais e regionais no palco da
Central de Artesanato. O Rock Velho Monge possuiu várias edições, ocorria na época de
seca, nas coroas do rio Parnaíba no Vôlei Bar, reunia o público Teresinense e Timonense. O
Independência ou Rock com sua primeira edição em 1989 (outra edição foi realizado em
2012), onde foi produzido e lançado um álbum com as bandas que participaram do festival.
Podemos analisar a participação feminina, que primeiramente consistia meramente
como público. Somente na década de 1990, mulheres começam a aparecer como musicistas,
muitos pais não queriam as filhas envolvidas com bandas, por se tratar de um movimento
masculinizado e marginalizado. Em 1994 surge a primeira banda profissional formada
inteiramente por mulheres, a banda Valkírias. Vale destacar também a banda cover Evil
Woman (1999-2008).
Todas essas bandas apresentam em comum as dificuldades em ser pioneiros desse
gênero musical na cidade de Teresina. O que começou com equipamentos precários, poucos
locais para apresentação e o preconceito da sociedade, facilitou o caminho para outras
bandas atuais da cidade.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho buscou analisar e traçar uma trajetória de bandas pioneiras que compõem
o quadro de bandas de rock da cidade de Teresina. Através das bandas escolhidas, podemos
observar diversos aspectos, como a relação da música com os espaços da cidade, festivais e
formas de divulgação que eram responsáveis pela projeção dessas bandas e a participação
feminina que busca dar visibilidade à história das mulheres no rock, que se apresenta um
50 História e Resistência
meio dominado em sua maioria por homens.
6. REFERÊNCIAS
ALEXANDRE, Ricardo. Dias de luta: o rock e o Brasil dos Anos 80. Porto Alegre.2013
ANDRADE, Viviane Bandeira de. 3x4 Retrato do rock teresinense na década de 80.
Teresina, 2007.
MEDEIROS, Hermano Carvalho. Acordes na cidade: Música Popular em Teresina nos anos
1980. Dissertação de Pós-Graduação UFPI. Teresina.2013.
MENDONÇA, Luiz Fellype Gois de. Realidade das guitarristas de rock: uma entrevista
com quatro mulheres guitarristas do Distrito Federal. Brasília. 2016
NAPOLITANO, Marcos. História & música – história cultural da música popular. Belo
Horizonte.2005
51 História e Resistência
ST 02: O OFÍCIO DO HISTORIADOR E AS ARTES EM
TEMPOS SOMBRIOS
Coordenador:
Prof. Dr. Frederico Osanam Amorim Lima (Ufpi)
52 História e Resistência
A INVENÇÃO DO HEAVY METAL COMO MÚSICA DO DIABO
José Eduardo Oliveira Nascimento
Mestrando em História do Brasil (UFPI)
1. INTRODUÇÃO
O objetivo com este trabalho foi analisar historicamente as representações sobre o diabo
do nascente cenário rock heavy metal das décadas de 1960 e 1970. Para tal, primeiramente,
pensamos em problematizar a afirmação: “rock heavy metal é a música do diabo”. Tal discurso
encontra-se cristalizado nas subjetividades dos sujeitos do mundo contemporâneo e se tornou
um dos principais estereótipos dentro da cultura headbanger. Assim, revisando o acervo
bibliográfico estudado, apontamos três eventos históricos do século XX que foram fundamentais
para a construção desse discurso dominante. São eles: O racismo atrelado ao blues, juventude
como categoria social e a banda inglesa Black Sabbath.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Para fundamentar teoricamente o nosso trabalho realizamos diálogos com os seguintes
autores: Guattari e o seu conceito de produção de subjetividade, entendido como:
O conjunto das condições que torna possível que instâncias individuais e/ou
coletivas estejam em posição de emergir como território existencial auto-
referencial, em adjacência ou em relação de delimitação com uma alteridade
ela mesma subjetiva. (GUTTARRI, 2006, p.19).
Spink e Medrado com o conceito de sentido. Afirmando que:
(...) sentido é uma construção social, um empreendimento coletivo, mais
precisamente interativo, por meio do qual as pessoas – na dinâmica das relações
sociais historicamente datadas e culturalmente localizadas – constroem os
termos a partir dos quais compreendem e lidam com as situações e fenômenos
a sua volta. (SPINK e MEDRADO, 2013, p.22).
Além disso, deslocamos e nos apropriamos na noção de “máquina diabólica” que
encontramos no trabalho de Jean Delemeau (2009) e, assim, analisamos nossos objetos.
53 História e Resistência
3. METODOLOGIA
Funcionando como introdução sobre a temática, escolhemos, assim, realizar como
metodologia, uma ampla revisão bibliográfica nos trabalhos voltados para temáticas
semelhantes, como, por exemplo: rock, heavy metal, juventude, blues, etc. Assim, não nos
limitamos apenas nos estudos exclusivamente historiográficos, pois, nosso objetivo com essa
revisão bibliográfica era identificar como esses temas são trabalhados no ambiente acadêmico.
Além disso, com a revisão bibliográfica realizamos um mapeamento das principais tendências
que são abarcadas por esses estudos e como o heavy metal é entendido.
4. DISCUSSÃO E RESULTADOS
Através do método de revisão bibliográfica, mapeamos as principais tendências que os
estudos acadêmicos das chamadas ciências humanas abordam tais questões e, através desse
método, chegamos a alguns resultados. Primeiro, a questão negra como raiz principal do rock,
nesse caso destacaremos o artigo desenvolvido por Abal e Trombeta que aborda características
relevantes sobre o blues, para compreensão do nosso tema. Segundo os autores:
(...) o blues não necessitava de grandes bandas com vários instrumentos e
composições intrincadas. Bastava um cantor razoável, um violão e uma tristeza
a ser compartilhada. O blues era oriundo da África, feito por negros e para
negros. Por este motivo, mais do que o que ocorrera com o jazz, o blues se
tornaria um ritmo associado com o diabo e o demônio, um reflexo do
preconceito racial, social e de ruptura cultural. Os músicos de blues não
tentaram se separar deste conceito e, em determinados momentos, até mesmo o
abraçaram. (ABAL e TROMBETA, 2012, p.03).
Nesse sentido, o blues como música negra, foi demonizado pela população branca norte-
americana. O segundo resultado é a invenção da juventude como nova categoria social, nesse
sentido, a juventude depende fundamental do contexto social. Assim, Abramo comenta que:
(...) a noção de juventude é socialmente variável. A definição do tempo
de duração, dos conteúdos e significados sociais desses processos modificam-
se de sociedade para sociedade e, na mesma sociedade, ao longo do tempo e
através das suas divisões internas. Além disso, é somente em algumas
formações sociais que a juventude se configura como um período destacado,
54 História e Resistência
ou seja, aparece como uma categoria com visibilidade social. (ABRAMO,
1994, p.01).
Rochedo, autora que trabalhamos na pesquisa, diz que:
(...) o rock surge no inicio dos anos 50, no contexto da guerra-fria, (...) Em
termos históricos, o rock n roll significa uma ruptura geracional, (...) a música
que os pais não gostavam era a preferida dos filhos (...) O rock foi adotado por
uma geração de adolescentes, que começava questionar alguns dogmas da
cultura dominante.(ROCHEDO, 2011, p.15-16).
Ela reforça essa ideia quando diz que o rock “transmitia uma tendência rebelde e liberal,
entendida pelas autoridades como heresia e provocação” (ROCHEDO, 2011, p.17). E em
terceiro, a banda inglesa Black Sabbath como inventores do heavy metal, pois, foi assim que
identificamos o grupo em questão. Sobre isso, Weber comenta que:
Na virada da década de 70, muitas dessas bandas intensificaram ainda mais esse
peso e a velocidade, mas cabe uma delas em especial, e isso é consenso entre
autores, o titulo de “pai” do gênero em formação, aquele que serviria de
exemplo a ser seguido e apontou uma possibilidade infinita de caminhos serem
explorados dentro do rock n roll: o Black Sabbath, banda inglesa da cidade de
Birmimgham. (...) conteúdo letrístico e imagético há uma inovação: falava-se
em demônios, bruxaria, morte, trevas, podridão, fim do mundo. (...) O Black
Sabbath enterra de vez a ideologia da paz e amor presente na década de 1960:
enquanto a década anterior buscava subir ao céu, o Black Sabbath propõe uma
descida ao inferno (...) (WEBER, 2012, p.19).
Desse modo, entendemos a banda como ‘máquina diabólica’ que, ao seu modo, realizou
através da música a sua própria “pedagogia do medo” na década de 1970.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Portanto, realizamos um apanhado histórico sobre as “raízes satânicas” do heavy metal
através da nossa revisão bibliográfica. Nesse sentido, focamos em dois elementos, Blues e
juventude, assuntos já trabalhados em inúmeros artigos, dissertações e teses no meio acadêmico
sobre rock heavy metal, com o objetivo de contextualizar o período das décadas de 1960 e 1970.
Além disso, acreditamos que o grande diferencial da pesquisa foi trabalhar de forma mais
específica a contribuição do grupo Black Sabbath, pois, trabalhamos a banda como peça de uma
55 História e Resistência
‘maquina diabólica’ construída entre o fim da década de 1960 e o inicio da década de 1970 que
‘catalisou as subjetividades’ do período em forma de música pesada.
Palavras – chave: História. Representações. Rock heavy metal. Diabo.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABAL, Felipe Cittolin. TROMBETA, Gerson Luís. O Blues e o Diabo: um encontro na
encruzilhada. In: SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA –, XXVI, 2011, São Paulo, Anais do
XXVI Simpósio Nacional de História. São Paulo, ANPUH, 2011. p.03.
ABRAMO, Helena Wendel. Cenas juvenis: punks e darks no espetáculo urbano. São Paulo, SP:
Editora Página aberta, 1994.
DELUMEAU, Jean. História do medo no Ocidente, 1300-1800: uma cidade sitiada. São Paulo,
SP: Companhia de Bolso, 2009.
GUATTARRI, Felix. Caosmose: um novo paradigma estético. São Paulo: Editora 34, 4º
reimpressão, 2006.
ROCHEDO, Aline do Carmo. “Os filhos da revolução”: a juventude urbana e o rock brasileiro
dos anos 80. 2011. 153 f. Dissertação (Mestrado em História) – Instituto de Ciências Humanas
e Filosofia, Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ, 2011.
SPINK, Mary Jane (Org.). Práticas discursivas e produção de sentidos no cotidiano:
aproximações teóricas e metodológicas. Centro Edelstein de Pesquisas Sociais: Edição
eletrônica, Rio de Janeiro, RJ, 2013.
WEBER, Mateus Felipe. O metal em porto alegre na década de 1980: identidade, tribo e atuação
espetacular. 2012. 56 f. Monografia (Bacharel em História) – Instituto de Filosofia e Ciências
Humanas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RG, 2012.
56 História e Resistência
A REPRESENTAÇÃO E A RUPTURA DOS PADRÕES TRADICIONAIS
DA MULHER PRETA EM PANTERA NEGRA: SUBVERTENDO RAÇA
E GÊNERO?
Vanessa Maria Carvalho Ribeiro Pereira3
Luiz Sérgio Silveira Marinho4
Marylu Alves de Oliveira5
1. INTRODUÇÃO
O presente estudo tem como objetivo analisar e compreender como o cinema comercial,
uma forma de experiência cultural contemporânea, está associado com as formas de
representação da figura da mulher negra. As reproduções exibidas no filme Pantera Negra
(2018) vão salientar, sobretudo, a ruptura de estereótipos construídos em torno dessa figura, mas
também a sua continuidade. Mapeamos, primeiramente, a presença da mulher negra em modo
combativo, que foge ao padrão submisso e desafortunado de filmes como A Cor Púrpura (1986)
e Estrelas Além do Tempo (2017) e a mulher em forma independente e decisiva, o oposto de
representações extravagantes e subalternas como Todo Mundo em Pânico (2000) e As
Patricinhas de Beverlly Hills (1995). Assim, através de uma análise sobre como as imagens
acerca da raça e gênero vão permear o imaginário do pós-colonização, entendendo-se, portanto,
que a produção desses padrões tende a ter consequências na vida dos sujeitos representados, em
especial, na tentativa de inculcar o papel ou as formas de existência da mulher negra em um
contexto onde “A civilização branca, a cultura europeia, impuseram ao negro um desvio
existencial” (FANON, 2008).
2. METODOLOGIA
A metodologia utilizada é a análise estética dos filmes indicados, baseada na observação
frame a frame de cenas específicas, da fotografia e da intencionalidade estética dos filmes, além
da pesquisa bibliográfica ambientada nos estudos de África, Identidades, Cinema e Gênero. Os
filmes utilizados para análise são Pantera Negra(2018), A Cor Púrpura (1986), Estrelas Além
3 Aluna do 3º período do curso de História da Universidade Federal do Piauí. Pesquisadora do grupo do CNPq
HISTÓRIA POLÍTICA, TEATRO E MÚSICA. 4Aluno do 3º período do curso de História da Universidade Federal do Piauí. Pesquisador do grupo do CNPq
HISTÓRIA POLÍTICA, TEATRO E MÚSICA. 5Orientadora do projeto apresentado.Doutora em História Social pela Universidade Federal do Ceará.
Professora do Curso de História da Universidade Federal do Piauí. Líder do grupo de pesquisa no CNPq
HISTÓRIA POLÍTICA, TEATRO E MÚSICA.
57 História e Resistência
do Tempo (2017), Todo Mundo em Pânico (2000) e As Patricinhas de Beverlly Hills (1995).
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Para entender o processo da construção da cultura e da identidade da mulher negra, em
um aspecto pós-colonização, iniciamos com o pensamento de Stuart Hall, em A Questão
Multicultural, onde o autor faz a distinção entre multicultural e multiculturalismo:
Pode ser útil fazer aqui uma distinção entre o “multicultural” e o
“multiculturalismo”². Multicultural é um termo qualificativo. Descreve as
características sociais e os problemas de governabilidade apresentados por
qualquer sociedade na qual diferentes comunidades culturais convivem e
tentam construir uma vida em comum, ao mesmo tempo em que retêm algo de
sua identidade “original”. Em contrapartida, o termo “multiculturalismo” é
substantivo. Refere-se às estratégias e políticas adotadas para governar ou
administrar problemas de diversidade e multiplicidade gerados pelas
sociedades multiculturais. “Multicultural”, entretanto, é, por definição, plural.
(HALL, 2003)
Tomando como exemplo o multiculturalismo liberal, que “busca integrar os diferentes
grupos culturais o mais rápido possível ao mainstream, ou sociedade majoritária, baseado em
uma cidadania individual universal, tolerando certas práticas culturais particularistas apenas no
domínio privado” (HALL, 2003), a ascensão de filmes comerciais como As patricinhas de
Beverlly Hills (1995) vão ser um reflexo da tentativa de impor uma cultura de branqueamento
da população afrodescendente, enquadrando a mulher negra em uma cultura “global”,
adaptando-a a espaços onde não existe representatividade e tornando-a idêntica à protagonista
branca. Já em Pantera Negra, a estética visual permite que o processo multicultural permaneça
no espectro afrofuturístico6, que une ancestralidade e tecnologia, movimentação e
reconhecimento da mulher negra como atuante.
Angela Davis, em Mulheres, Raça e Classe (1981), situa a mulher negra em um aspecto
de existência baseado na força do trabalho:
Proporcionalmente, as mulheres negras sempre trabalharam mais fora de casa
do que suas irmãs brancas. O enorme espaço que o trabalho ocupa hoje na vida
das mulheres negras reproduz um padrão estabelecido durante os primeiros
6 O afrofuturismo é um movimento artístico e uma estética cultural que combina elementos de ficção científica,
realismo mágico e história africana. Exibe, também, um resgate à mitologia africana, unido a elementos da
ciência tendo como objetivo a liberdade de expressão, autoconfiança e empoderamento negro. Tal conceito foi
concebido ao mainstream com personalidades como a dupla Ibeyi e Janelle Monáe (FRANK, 2016).
58 História e Resistência
anos da escravidão. Como escravas, essas mulheres tinham todos os outros
aspectos de sua existência ofuscados pelo trabalho compulsório.
Aparentemente, portanto, o ponto de partida de qualquer exploração da vida
das mulheres negras na escravidão seria uma avaliação de seu papel como
trabalhadoras. (DAVIS, 1981)
Podemos inserir o pensamento da feminista no processo tradicional de representação da
mulher negra em filmes comerciais como Estrelas Além do Tempo (2017), onde um grupo de
mulheres negras é contratado para trabalhar para a NASA, lidando com a dupla jornada de
trabalho e com o contexto vigente de segregação racial. O empecilho, aqui, é que em boa parte
do filme o trabalho intelectual não é valorizado, sendo essas mulheres menosprezadas pelos
homens e mulheres brancos do local. O filme apresenta um enredo onde o papel do homem
branco se torna imprescindível para o desenvolvimento da mulher, um padrão tradicional que
não se repete em Pantera Negra. Esse, por sua vez, conta com um exército inteiramente feminino
que faz a segurança do rei – as Dora Milaje. Não é, no entanto, um processo de protagonismo,
mas perpassa uma imagem de coadjuvante ativa e combatente que filmes como A Cor Púrpura
(1985) e Estrelas Além do Tempo (2017) não vão realizar.
Por fim, com o auxílio de M’Bokolo, podemos analisar a perspectiva no olhar do Outro.
A presença europeia em África vai, em longo prazo, desclassificar qualquer tipo de representação
que não seja a que o Outro queira assistir. As práticas culturais que diferem dos padrões
eurocêntricos vão ser moldadas e culminar em um processo imagético que transforma a mulher
negra em exótica, quase que não humana, alívio cômico para a população branca, como em Todo
Mundo Em Pânico (2000), filme com teor humorístico que conta com uma personagem negra
que, para além do senso de humor extravagante, não tem nada a oferecer. A perspectiva
humorística vai, por muito tempo, na indústria, se tornar uma chave para a perpetuação de
estereótipos degradantes da população negra, tida como animalizada e sem educação. Padrão
esse que, no reino de Wakanda, onde é ambientado Pantera Negra (2018), também sofre
rupturas, com a personagem Shuri. Uma espécie de prodígio que, além da inteligência
extraordinária, possui um senso de humor que, diferentemente de um padrão baseado no Outro,
vai ser um alívio não só para o público branco, mas para o seu públicoalvo, as mulheres negras
carentes de representatividade.
4. DISCUSSÃO E RESULTADOS
A partir das análises dos filmes citados, como também das referentes bibliografias,
59 História e Resistência
percebeu-se a existência precedente de um padrão estereotípico de representação da mulher
negra na indústria cinematográfica, sendo este derivativo das experiências sociais e históricas da
escravidão e do processo imagético do pós-colonização. A compreensão desse estereótipo
tradicional levou à percepção de uma estética de ruptura em produções da história recente, como
A Cor Púrpura (1985) e Estrelas Além do Tempo (2017), sendo essa ruptura aprofundada em
Pantera Negra (2018). Compreendeu-se essa dinâmica de ruptura devido a um avanço dos
movimentos sociais no século XXI como o Movimento Negro e o Feminismo Negro, que passam
a contar com mais influência dentro do público consumidor das mídias de entretenimento, como
o cinema comercial hollywoodiano. Esse recente movimento histórico impacta principalmente
sobre as populações representadas nessas produções culturais, especialmente os grupos
integrados por mulheres negras, tendo, como efeito direto da subversão dos padrões tradicionais
e a criação de um imaginário para além da pós escravidão, sendo, agora, vista sob dimensões que
antes eram monopólio representativo das masculinidades, como as de força, habilidade técnica,
inteligência e liderança, para além das antigas representações associadas aos mundos do trabalho,
à hiperssexualização dos corpos, à fragilidade ou histeria feminina, etc..., garantindo, desta
forma, a construção imagética de um novo padrão de Mulher e de Negra impulsionando atitudes
de empoderamento feminino.
5. REFERÊNCIAS.
DAVIS, Angela. Mulheres, raça e classe. 3° ed. São Paulo: Boitempo, 2013.
FANON, Frantz. Pele negra máscaras brancas. Salvador: EDUFBA, 2008.
FRANK, Priscilla. Realismo mágico, história da África e ficção cientifica: conheça o
Afrofuturismo. Geledés, 2016.
HALL, Stuart. Da diáspora: Identidade e mediações culturais. Belo Horizonte: Editora
UFMG; Brasília: Representação da UNESCO no Brasil, 2003.
M’BOKOLO, Elikia. África Negra: História e Civilizações. Lisboa, Vulgata, 2003.
PIERUCCI, Antônio Flávio. Ciladas da diferença. 3ª Ed. SãoPaulo: Editora 34, 2013.
XAVIER, Ismail. A Ordem do Olhar: a codificação do cinema clássico, as dimensões da nova
imagem. In.: XAVIER, Ismail. A Experiência do Cinema: antologia. Rio de Janeiro. Edições
Graal: Embrafilme, 1983.
60 História e Resistência
HISTÓRIAS EM QUADRINHOS NO BRASIL: O INÍCIO DOS
ESTUDOS ACADÊMICOS.
Kézia Zelinda Nery Almeida7
1. INTRODUÇÃO
O artigo em questão se propõe a mostrar, de forma rápida, o crescimento do estudo da
história em quadrinhos no Brasil. Objeto de estudo para os mais variados campos do
conhecimento, as histórias em quadrinhos têm estado em foco por muito tempo. Existiram
diversas tendências nesses estudos, alguns especialistas priorizando singularidades da
linguagem dos quadrinhos, outros em busca de denunciar o conteúdo nocivo e aqueles que
buscam analisar a sociedade a partir desse material.
Nas últimas décadas do século XX o interesse por esta forma de arte foi despertado no
ambiente cultural europeu e, posteriormente, em todas as regiões do mundo. As críticas feitas
às HQs foram sendo combatidas, o que favoreceu a sua aproximação das práticas
pedagógicas.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
As histórias em quadrinhos – ou HQs – se enquadram no conceito de cultura pop que,
segundo Sônia Luyten: “é um poderoso reflexo da sociedade na qual vivemos e não se
restringe somente ao estético, mas desempenha um papel importante atingindo da mesma
maneira todas as pessoas em um sentido cultural mais amplo” (LUYTEN, 2005, p. 7). A
maneira mais fácil de notar a cultura pop presente no nosso dia a dia é a partir da presença
dos super-heróis em objetos de marketing como camisas, canecas e materiais escolares.
Como Maria Celeste Mira explica em seu artigo O masculino e o feminino nas narrativas
da cultura de massas ou o deslocamento do olhar a cultura de massa que “A cultura de
massa está presente no dia a dia das pessoas, na rua, mas principalmente em casa, tendo os
seus aparelhos transmissores confundidos com os outros eletrodomésticos da casa” (MIRA,
2003, p.22).
A rede de formação, criação e consumo das histórias em quadrinho se mantém por conta
7 Graduada em Licenciatura em História pela Universidade Federal do Piauí. Bolsista CAPES/FAPEPI pelo
Programa de Pós Graduação em História do Brasil da Universidade Federal do Piauí (UFPI).
61 História e Resistência
das mais variáveis formas de expansão de produtos que movimenta o mercado, gerando
lucros e criando marcas. Além disso, na sua grande maioria, as histórias em quadrinho
ocidentais estão relacionadas com “as necessidades de diversão e entretenimento de seus
leitores” (VERGUEIRO, 2009, P.83). Os quadrinhos americanos, principais meios de
polarização dessa arte, transformam cada um de seus personagens nos mais diversos objetos,
desde bonecos de plástico, pelúcias, roupas, calças, entre outros. (BARELLA, 2013)
É importante mencionar que, para os teóricos, dois termos são cruciais para o estudo de
quadrinhos. O primeiro é Grafic Novel – ou Novela Gráfica – que se refere a publicações de
histórias em quadrinhos fechadas como romances e foi um termo popularizado no livro A
contract with God de Will Eisner, em 1978. (GARCÍA, 2012). O segundo termo é
Sequencial Art – ou arte sequencial – termo popularizado em 1985 no livro Quadrinhos e a
arte sequencial de Eisner que explica a arte dos quadrinhos e não soa de modo infantil. É
um tipo de linguagem que utiliza a sobreposição de palavras – em balões ou não – e imagem
em sequência, sendo totalmente diferente da linguagem literária ou da visual.
3. METODOLOGIA
Por ter como objetivo mostrar o crescimento dos estudos da arte sequencial no Brasil, o
artigo fará uso de trechos de livros e artigos de autores – em sua maioria formados em
educação ou comunicação – que mostram como a história em quadrinhos passou de apenas
uma forma de diversão para crianças e adolescentes para um instrumento educativo tanto
para a sala de aula, quanto para a vida. Com este intuito, além do que será apresentado neste
resumo, o artigo tem como método o uso de entrevistas presentes no livro Os pioneiros no
Estudo de quadrinhos no Brasil.
4. DISCUSSÃO E RESULTADOS
Este artigo pretende mostrar alguns dos nomes mais importantes para a pesquisa das
histórias em quadrinhos no Brasil. Nomes como Zilda Augusta Anselmo, que lançou em
1975 o livro “História em Quadrinhos” que trata sobre como a leitura de HQs pode ter efeitos
surpreendentes na vida de crianças e jovens (PESSOA, 2006, p. 93), sendo a primeira
dissertação sobre o tema no país. Menciona também Antônio Luiz Cagnin autor do livro Os
62 História e Resistência
quadrinhos – Linguagem e semiótica.
Angelo Agostini, um dos fundadores do Núcleo de Pesquisa em Histórias em
Quadrinhos em São Paulo em 1990. Com este projeto foi criado o primeiro curso de
especialização em histórias em quadrinhos para profissionais de diversas áreas que
quisessem utilizar os quadrinhos no ambiente de trabalho (RAMOS, 2008, p.2). Não
podemos fazer uma historiografia das histórias em quadrinhos no Brasil, sem mencionar
aquele que é considerado o maior especialista no assunto (MARTINS, 2017): Álvaro de
Moya escritor do livro Shazam! (GUIMARÃES, 2013), ainda nos anos 1970.
Outra pesquisadora de extrema importância é Sônia Maria Bibe Luyten que, no ano
de 1972, iniciou o curso de história em quadrinhos na ECA, organizou, também, a primeira
gibiteca e mangateca brasileira na mesma instituição. Autora de livros como O poder dos
quadrinhos japoneses e organizadora de O que é histórias em quadrinhos e Cultura pop
japonesa: mangá e animê. Sendo considerado um dos nomes mais expressivos para o estudo
da cultura pop japonesa.
Waldomiro de Castro Santos Vergueiro é professor de biblioteconomia e
comunicação aposentado na ECA/USP Editor da revista 9ª Arte, do Observatório de
Histórias em Quadrinhos que tornou-se referencial para o Brasil e o mundo. Atualmente é
membro do corpo editorial de diversas revistas científicas no Brasil e no exterior. Em 1990,
juntou-se à linha de Pesquisa Informação, Comunicação e Educação no Programa de Pós-
graduação em Ciências da Comunicação da ECA em que ministrou a disciplina História em
quadrinhos, informação e educação. (VERGUEIRO; RAMOS; CHINEN, 2013, p.74). Foi
o organizador de livros como A linguagem dos quadrinhos. Estudos de estética, linguística
e semiótica, Muito além dos quadrinhos – análises e reflexões sobre a 9ª arte e Quadrinhos
e literatura. Diálogos possíveis.
O próximo da lista de estudiosos dos quadrinhos é Moacy Cirne (1943-2014),
conhecido por ser um dos fundadores do poema/processo (CALDEIRA, 2015) e por ser um
dos primeiros especialistas em histórias em quadrinhos. Entre suas obras tem-se Para ler os
quadrinhos de 1975 e a escrita dos quadrinhos de 2006.
No Piauí, é possível pensar em Bernardo Aurélio como um dos pioneiros do estudo
dos quadrinhos que, além de ser o artista por trás de Foices e Facões – A batalha do
Jenipapo, é, também, mestre em História pela Universidade Federal do Piauí- UFPI com a
tese defendida em 2015 e intitulada Políticas públicas culturais e salão de humor no Piauí.
Foi um dos principais idealizadores das Feiras HQs em Teresina que tinham como principal
63 História e Resistência
intuito ajudar os quadrinistas piauienses a conseguir mais destaque no estado. Atualmente,
é dono de uma loja de quadrinhos que tem como projeto divulgar o cenário dos quadrinhos
do Piauí.
O último estudioso que pode ser citado é Cícero de Brito Nogueira. Graduado em
arte e mestre em história, defendeu em 2010 a dissertação Humor e Cotidiano nas histórias
em quadrinhos de Arnaldo Alburquerque na Universidade Federal do Piauí.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como é possível identificar no decorrer deste artigo, o estudo – em ambiente acadêmico
– dos quadrinhos no Brasil é novo, com cerca de 40 anos. Ainda muito presente nas áreas da
comunicação e do jornalismo, o estudo das histórias em quadrinhos vem aos poucos
ganhando espaço na História. A intenção deste trabalho é mostrar para aqueles pesquisadores
que pretendem estudar a nona arte que não estão sozinhos.
Palavras-chave: Histórias em Quadrinhos. Historiografia. História dos quadrinhos.
6. REFERENCIAS
BARELLA, Luciana Giudice. O Mercado das Histórias em Quadrinhos no Brasil. 2013.
CALDEIRA, João Paulo. Moacy Cirne, o poeta que levou as HQs para a universidade. 2015.
Disponível em: <https://jornalggn.com.br/noticia/moacy-cirne-o-poeta-que-levou-as-hqs-
para-a-universidade> Acesso em: 16/06/2018.
CAGNIN, Antonio Luiz. A luta pelo reconhecimento do primeiro quadrinista do Brasil. In:
VERGUEIRO, Waldomiro; RAMOS, Paulo; CHINEN, Nobu. (org) Os pioneiros no Estudo
de quadrinhos no Brasil. – 1ª ed. São Paulo: Criativo. 2013 p. 56 – 65
CASTELO BRANCO, Edwar de Alencar; BRITO, Fábio Leonardo Castelo Branco. Entre a
beira da falésia e a terceira margem do rio: o historiador e as palavras, essa relação em
conflito. In: NERY, Emília Saraiva (Org.). Teoria da História: articulações entre tempo,
sociedade e cultura. Teresina: EDUFPI, 2018. p. 67-86. [no prelo]
CUPERSCHMID. Ethel Mizrahy. Narrativa do Holocausto em quadrinhos: desafios e
conquistas. In: NICOLAZZI, Fernando. MOLLO, Helena Miranda. ARAÚJO, Valdeci
Lopes de. (org.) Aprender com a história?: O passado e o futuro de uma questão. – Rio de
janeiro: Editora FGV, 2011. (p.77 – 90)
EISNER, Will. Quadrinhos e arte sequencial: princípios e práticas do lendário cartunista. -
4ª ed. - São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2010.
GARCÍA, Santiago. A novela gráfica. Tradução Magda Lopes – São Paulo : Martins Fontes
– selo Martins, 2012.
Gibisfera. Gibi: você sabe a origem dessa palavra? Disponivel em:
<http://www.gibiosfera.com.br/blog/2010/02/gibi-origem-palavra/> Acesso em:
16/06/2018
64 História e Resistência
GUIMARÃES. Célio Heitor. Estudiosos dos quadrinhos. Está faltando gente aí! 2013.
Disponível em: < http://www.zebeto.com.br/estudiosos-dos-quadrinhos-esta-faltando-
gente-ai/#.WvQ1KogvxPY> Acesso em: 10/05/2018
LUYTEN, Sonia Maria Bibe. Mangá: O poder dos quadrinhos japoneses. São Paulo: estação
da Liberdade: Fundação Japao,1991.
_______, Sonia M.Bibe. (org) Cultura pop japonesa. São Paulo: Hedra. 2005.
_______, Sonia. Curriculum vitae. Disponível em:
http://sonialuyten.blogspot.com/p/curriculum-vitae.html Acesso em: 19/06/2018.
MARTINS, Victória Rodrigues. Álvaro de Moya: uma vida de quadrinhos. Site: escola de
comunicações e artes, universidade de são Paulo – ECA – USP. 2017. Disponível em:
<http://www3.eca.usp.br/noticias/lvaro-de-moya-uma-vida-em-quadrinhos>. Acesso em:
10/05/2018
MELO, José Marques de. Quem tem medo de quadrinhos? In: LUYTEN, Sonia M.Bibe.
(org) Cultura pop japonesa. São Paulo: Hedra. 2005.
MIRA, Maria Celeste. O masculino e o feminino nas narrativas da cultura de massas ou o
deslocamento do olhar. In: Cadernos Pagu (21) 2003: pp. 13-38.
MOYA, Álvaro de. Pioneiro dos quadrinhos brasileiros, como desenhista e pesquisador. In:
VERGUEIRO, Waldomiro; RAMOS, Paulo; CHINEN, Nobu. (org) Os pioneiros no Estudo
de quadrinhos no Brasil. – 1ª ed. São Paulo: Criativo. 2013 p.28 - 35
NOGUEIRA, Cícero de Brito. Escavador. Disponível em:
<https://www.escavador.com/sobre/5037098/cicero-de-brito-nogueira> acesso em:
19/06/2018
PESSOA, Alberto Ricardo. Quadrinhos na educação: uma proposta didática na educação
básica. 2006. São Paulo. Dissertação de mestrado.
RAMOS, Paulo. Histórias em quadrinhos: um novo objeto de estudo. 2008. Disponível em:
<http://www.gel.org.br/estudoslinguisticos/edicoesanteriores/4publica-estudos-
2006/sistema06/563.pdf> acesso em: 30/05/2018.
Revista Modo de Usar. Moacy Cirne (1943 – 2014) Disponível em:
<https://www.escritas.org/pt/bio/moacy-cirne> Acesso em: 19/06/2018.
SPACA, Rafael. O mestre da HQ. 2017. Disponível em: < https://medium.com/revista-bravo/o-
mestre-da-hq-98d4220b0451> Acesso em: 16/06/2018.
VERGUEIRO, Waldomiro. Quadrinhos e educação popular no Brasil: considerações à luz de
algumas produções nacionais. In: VERGUEIRO, Waldomiro, RAMOS, Paulo (org.) Muito além dos
quadrinhos: análises e reflexões sobre a 9ª arte. São Paulo: Devir. 2009.
___________, Waldomiro. De leitor a pesquisador de quadrinhos: Percalços e vitóriias de uma
viagem fascinante. In: VERGUEIRO, Waldomiro; RAMOS, Paulo; CHINEN, Nobu. (org) Os
pioneiros no Estudo de quadrinhos no Brasil. – 1ª ed. São Paulo: Criativo. 2013 p. 66 – 79
65 História e Resistência
MOVIMENTOS HOMOAFETIVOS EM THE STONEWALL
CELEBRATION CONCERT: REPRESENTAÇÕES DAS MINORIAS
SEXUAIS EM CANÇÕES INTERPRETADAS POR RENATO RUSSO.
Profª Mnd. Ramone Maria de Sousa Silva- UFPI
Profº Dr. Edwar de Alencar Castelo Branco-UFPI
RESUMO: Durante séculos, a História tem ressaltado as faces de lugares, indivíduos e grupos
estigmatizados, seja pela cor, raça, classe social, religião ou orientação sexual a qual pertencem. Ao
refletirmos sobre a relação sujeito e sociedade, evidenciamos que as marcas dos estigmas atingem
inúmeras camadas em um universo sociocultural composto pela heterogeneidade de modelos e
comportamentos. Esses aspectos abrem espaço para pontos reflexivos ao nos indagarmos acerca
destas questões e discutirmos que a não aceitação da diferença contribui para a marginalização de
tais categorias históricas. Nesse sentido, o presente estudo analisa a representação das minorias
sexuais, especialmente os homossexuais, captadas em canções do álbum The Stonewall Celebration
Concert álbum solo e em Inglês lançado pelo cantor e compositor Renato Russo em 1994, que àquela
altura era o líder da banda de Rock brasiliense Legião Urbana. Por intermédio da análise das letras,
da capa, do encarte do disco e das entrevistas concedidas pelo cantor, observou-se que, no citado
trabalho musical, Renato Russo realizou uma ressignificação estética em versões de músicas de
artistas como Bob Dylan, Billy Joel e Madonna, transitando entre o pessoal, emitido através da
homossexualidade do intérprete, e uma mensagem ideológica direcionada ao público Gay.
Palavras-Chave: Minorias sexuais. Representação. Marginalização. The Stonewall Celebration
Concert.
1. INTRODUÇÃO
Conhecer outros territórios, transitar em outras fronteiras é preciso. O ser humano,
em sua busca pela essência individual, está rodeado de caminhos que o levam a desvelar os
mais íntimos sentimentos internalizados em si ao se render a novas maneiras de exalar
sensibilidades. Essa máxima de ser guiado pelos encontros e desencontros fez de Renato
Russo, líder da Legião Urbana, muito mais do que o vocalista de uma banda de Rock, fez
dele um indivíduo desejoso de afirmar os sentidos da sua arte e do seu viver através das
emoções que atravessavam a sua existência “sem territórios definidos, com exércitos se
cruzando, uma zona indefinida, nublada”8.
Seus escritos, um solo fértil para a difusão do seu pensamento, foram atravessados
por sentimentalidades que não se traduzem em uma temática ou outra, diante das infinitas
possibilidades interpretativas que é possível percorrer. Historicamente, ele firmou-se como
um indivíduo subjetivo que transcendeu a noção de fronteiras do seu próprio tempo e
8 BHABBA, Homi K. O local da cultura. Belo Horizonte: UFMG, 1998, p.51.
66 História e Resistência
irradiador de dimensões identitárias híbridas, guiado por uma interconexão que estabeleceu
diálogos com os múltiplos perfis que coexistiram em seu interior. Nesse sentido, o presente
estudo analisa a representação das minorias sexuais, especialmente os homossexuais,
captadas em canções do álbum The Stonewall Celebration Concert, álbum solo e em Inglês
lançado pelo citado cantor e compositor no ano de 1994.
As minorias sexuais já haviam sido representadas de maneira implícita ao longo da
obra da Legião Urbana em músicas com Daniel na cova dos leões (1986), Metal contra as
nuvens (1991), Eu era um lobisomem juvenil (1989) e Meninos e meninas (1989). Ao nos
inclinarmos por essa ótica, somos capazes de vislumbrar que a essência das letras
denunciavam a sexualidade de Russo e seus sentimentos mais particulares.
Entretanto, ao tratar acerca das políticas de sexualidade buscando atingir outros
indivíduos, o ponto onde queremos chegar ainda possui uma intencionalidade micropolítica,
pois Renato falava ao seu público a partir dos seus devires existenciais. Assim, seus versos
musicados nas letras da Legião Urbana podem ser tomados como ponto de partida na análise
da compreensão de um contexto micro, onde ele buscou no interior do seu “eu” a mola
propulsora para atingir indivíduos que, assim como ele, se lançavam à procura de um
entendimento acerca de sua identidade sexual.
Entretanto, essa busca por aceitação e reafirmação perante a sociedade, em plena
década de 1980 e 1990, esteve recoberta por dificuldades e preconceitos próprios de um
contexto fechado, naturalizado pelo patriarcalismo. Os problemas sociais somavam-se a
esses dispositivos heteronormativos, em que a normalidade consistia em impor “um corpo
social constituído pela universalidade das vontades”9.
O disco analisado nesse estudo foi lançado na época, como um tributo ao aniversário de 25
anos do acontecimento ocorrido no bar Stonewall. O disco possui uma temática ideológica
direcionada às minorias sexuais. Contudo, para compreendermos a mensagem propagada
por Renato Russo em seu primeiro trabalho solo, em meados da década de 1990, faremos
um mergulho retroativo à 27 de Junho de 1969, data do acontecimento no bar Stonewall, na
cidade americana de Nova York. Stonewall era um bar diferente dos outros, pois além de ser
um local onde se podiam estabelecer práticas de sociabilidades, era um ambiente onde
sujeitos movidos pelo desejo de liberdade encontravam uma auto-identificação consigo
mesmo.
9 FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. 25.ed. São Paulo: Graal, 2012. p. 235.
67 História e Resistência
Nos Estados Unidos da década de 1960, a noite do dia 27 de Junho foi o cenário de
mais um embate policial. No epicentro desse embate de forças estavam gays, lésbicas e
travestis envolvidos em um confronto tenso com as autoridades. Sob a alegação de que o
local não provia de uma licença que permitisse a livre venda de bebidas, os policiais levaram
presos os travestis, que na ocasião, se encontravam no bar.
No entanto, o que diferenciou a rebelião de Stonewall das outras rusgas policiais que
aconteciam na época em outros cantos de Nova York e outras cidades foi o fato de que,
naquela noite, o público daquele bar não se sujeitou passivamente perante o confronto
travado. Dessa vez, presenciou-se a luta e a resistência de uma minoria em meio às medidas
arbitrárias tomadas por aqueles policiais. Após o ocorrido, as políticas públicas começaram
a se intensificar na luta contra, procurando garantir aos gays direitos que lhes eram
cerceados.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O autor Michel Foucault10desmitifica a concepção tão difundida de repressão sexual
existente nos séculos passados e retrata questões relacionadas aos discursos proferidos em
torno do sexo. o conceito aqui desenvolvido por Michel Foucault auxiliou na percepção das
tensões que perpassaram a sexualidade de Renato Russo e dos paradigmas que ele precisou
romper ao dizer o que pensava e ser o que era. Como um “filho da Revolução”, o músico
configurou-se enquanto um sujeito transgressor que praticava sua sexualidade para fora das
normatizações socioculturais do seu espaço-tempo.
Na escrita de Locais da cultura, Homi Bhabba11 nos traz um emaranhado de reflexões
a respeito do “vocabulário das diferenças”, um conceito usado por ele para que analisemos
os limites e relações fronteiriças entre o eu e o outro para não cometermos o erro de negar
assim o grau de complexidade que o estudo dessas “diferenças” de identidade, que não é
apenas física e que vão além da estética, exige de nossa parte.
3. METODOLOGIA
10 FOUCAULT, Michel. História da sexualidade I: A vontade de saber. 15. ed. Rio de Janeiro: Edições Graal,
1988. 11 BHABBA, Homi. O local da cultura. Belo Horizonte: UFMG, 1998.
68 História e Resistência
O referido estudo construiu-se por intermédio de diferentes linguagens de fontes
como a análise das letras, de capas e encartes do disco The Stonewall Celebrations Concert
e das entrevistas concedidas pelo cantor Renato Russo contidas no livro Renato Russo de A
a Z: As ideias do líder da Legião Urbana
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Durante séculos, a História tem ressaltado as faces de lugares, indivíduos e grupos
estigmatizados, seja pela cor, raça, classe social, religião ou orientação sexual a qual
pertencem. Ao refletirmos sobre a relação sujeito e sociedade, evidenciamos que as marcas
dos estigmas atingem inúmeras camadas em um universo sociocultural composto pela
heterogeneidade de modelos e comportamentos. Esses aspectos abrem espaço para pontos
reflexivos ao nos indagarmos acerca destas questões e discutirmos que a não aceitação da
diferença contribui para a marginalização de tais categorias históricas.
Por intermédio da análise de diferentes linguagens de fontes, observou-se que, no
citado trabalho musical, foco principal dessa discussão, Renato Russo realizou uma
ressignificação estética em versões de músicas de artistas como Bob Dylan, Billy Joel e
Madonna, transitando entre o pessoal, emitido através da homossexualidade do intérprete, e
uma mensagem ideológica direcionada às minorias sexuais.
5. REFERÊNCIAS E FONTES
ASSAD, Simone. Renato Russo de A a Z: As ideias do líder da Legião Urbana. Campo
Grande: Letra Livre, 2000.
BHABBA, Homi. O local da cultura. Belo Horizonte: UFMG, 1998.
CHARTIER, Roger. A História cultural: entre práticas e representações. Rio de Janeiro;
Bertrand Brasil, 1990.
FOUCAULT, Michel. História da sexualidade I: A vontade de saber. 15. ed. Rio de Janeiro:
Edições Graal, 1988.
FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. 25.ed. São Paulo: Graal, 2012. p. 235
GOFFMAN, Erving. Estigma: Notas sobre a manipulação de uma identidade deteriorada. 4.
Ed. Rio de Janeiro: LTC, 1988.
PRADO, Gustavo dos Santos. “A verdadeira Legião Urbana são vocês” (1985-1997).
Dissertação (Mestrado em História Social), Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,
São Paulo, 2012.
RUSSO, Renato. The Stonewall Celebration Concert. EMI-Odeon, 1994.
69 História e Resistência
ST 03: HISTÓRIA, MEMÓRIA, POLÍTICA E CULTURA
POLÍTICA: A PRODUÇÃO HISTÓRICA EM DEBATE.
Coordenadora:
Profª. Dra. Marylu Alves De Oliveira (Ufpi)
70 História e Resistência
A ESSÊNCIA DOS JORNAIS: MUDANÇAS E PERMANÊNCIAS DO
JORNAL IMPERIAL E O JORNAL “ATUAL”
Flávio Fernandes Carvalho12
Maria Clara Lima de Oliveira13
1. INTRODUÇÃO
A palavra Imprensa vem do termo “prensa”, processo desenvolvido por Johannes
Guttenberg no século XV, e que no início do século XVIII foi adaptado para a fabricação de
jornais. Aproximadamente após trezentos anos, os jornais, com características bem
marcantes da contemporaneidade, ainda possuem bastante relevância social, pois atuam
como um dos mediadores e construtores da opinião pública – muito embora o jornal que
nesse momento fazemos referência seja um jornal mais televisionado. Nesse sentido, a
imprensa, aparece na atualidade como uma instituição formada por ferramentas e veículos
de comunicação que dão bases ao trabalho dos jornalistas. O duradouro protagonismo dos
jornais impressos já não fazem parte do campo da comunicação. Agora, ao lado destes, há
os jornais virtuais e os meios de comunicação como a televisão, rádios, revistas, redes sociais
e todos os meios de interação que a internet pode proporcionar.
Portanto, a função da notícia, trata-se de um assunto muito importante e atual. A atual
conjuntura econômica, social e política, proporciona o interesse necessário em pesquisar o
papel que os meios de comunicação, em que pese o jornal, que é objeto de estudo em questão,
estão exercendo ao longo do tempo na sociedade. Partindo disso, estudaremos a imprensa
imperial do século XIX no Brasil, assim como a imprensa contemporânea. Como fio
condutor deste simples trabalho, mostraremos como a imprensa do século XIX não mudou
tão radicalmente se comparada a do século XXI, apesar dos avanços tecnológicos que não
entrarão em discussão. Esperamos que fique claro que nossos objetivos não estão voltados
para uma profunda análise da imprensa oitocentista, ou as complexas críticas ao jornalismo
contemporâneo recheado por questões que não será abordado.
12 (Discente, do 7º período de História – UFPI. Email: [email protected])
13(Discente, do 7º período de História – UFPI. Email: [email protected])
71 História e Resistência
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Será usado nesta pesquisa como forma de dá um embasamento teórico e
metodológico ao objeto de pesquisa as ideias de representação, prática e apropriação,
apreendidas na obra de Roger Chartier. Seus estudos são inovadores no que tange a uma
nova interpretação em resposta a sua insatisfação diante a história cultural francesa dos anos
60 e 70. A história passou por um logo processo de renovação da produção historiográfica
dando maiores condições a novos espaços de investigação. Seguindo a sua perspectiva de
"Identificar o modo como em diferentes lugares e momentos uma determinada realidade
social é construída, pensada, dada a ler.” (CHARTIER, 1988. p.16-17)
Nesse sentido analisamos a imprensa contemporânea, apontando apenas a
perspectiva da construção da informação e por conseguinte uma possível construção da
imagem. Com as transformações urbanas, econômicas, políticas e sociais que de certa
medida influenciam as formas pelas quais as pessoas consomem as informações e se
apropriam das notícias criando suas opiniões, há cada vez mais uma circulação em
velocidade assombrosa de notícias. E com elas as várias representações possíveis que
podem ser criadas a partir de informações comuns.
3. METODOLOGIA
Para fundamentar esta pesquisa, foi utilizado uma bibliografia base contendo autores
como Nelson Werneck Sodré (1999), Ana Regina Barros Rêgo Leal (2001), Jacques Aumont
(2004), entre outros e jornais que circularam tanto no século XIX quanto no século XXI. Os
periódicos analisados serão apenas para exemplificar os modelos de jornais da época, não
interessa fazer uma análise profunda. A partir de um estudo muito bem articulado queremos
entender como era organizada a imprensa imperial brasileira, dando ênfase a imprensa
piauiense. Posteriormente, caracterizando a imprensa contemporânea.
4. DISCUSSÃO E RESULTADOS.
A imprensa é o veículo mais importante de divulgação tanto para o bem quanto para
o mal do século XIX, cujo sentido é a louvação do povo, do território, dos sujeitos, das ações,
dos resultados. Mas, ela é também ao mesmo tempo o lugar que vergasta, que crítica, que
72 História e Resistência
comprime, que mancha, que ridiculariza. Ou seja, a imprensa tem sempre a função de
louvação e a função de acachapar os sujeitos que são contrários a proposta, que é a proposta
do jornal. Isso acontece porque a imprensa do século XIX é basicamente um instrumento da
política, de uma política partidária, não só de política no sentido global de transformação das
coisas, de transformação do mundo, há um sentido de fato. A primeira coisa que um partido
político fazia no século XIX, era a criação de um jornal, e este jornal se tornava a defesa do
partido, conjuntamente o ataque ao outro partido. (LEAL, 2004)
É preciso ter bastante atenção, pois os veículos de comunicação não têm a mesma
configuração nos diferentes tempos, por isso essa pesquisa se ateve em pesquisar também
sobre a política da época para se estudar a imprensa deste período, para que não se entenda
tudo errado, inclusive entender também que o fato de um jornal ter tido um partido não
queira dizer que ele não tinha matéria paga de pessoas que não são de partidos, ou que são
dissidentes do outro partido, ou que querem criar uma dissidência. Nesse ponto nada é direto,
nada é possível de se entender sem ter uma crítica, sem ter um conhecimento que está fora
do texto.
A imprensa do século XXI, e imbricada consigo, a criação da notícia, muito embora
com suas especificidades, traz marcas de uma grande transformação que ocorreu ainda no
século XIX, como a invenção da fotografia. A partir do século XX a imprensa ganhou maior
espaço com o rádio e a televisão. Mas, é no século XXI que percebemos o suprassumo do
poder da notícia, sobretudo as notícias produzidas pelos jornais.
Diferentemente do século XIX, as notícias e informações produzidas nos jornais do
século XXI, sobretudo a partir de uma liberdade proporcionada pelo regime democrático,
gozam de uma independência política. Nesse sentido, o jornalismo passou a figurar como
um aliado da democracia e a ser considerado como o Quarto Poder (SODRÉ,1999).
Então, torna-se bem interessante perceber, que a imprensa do século XIX até o
começo do século XX, “não tinha nenhuma semelhança com a imprensa atual”. Na imprensa
atual, suas ideologias existem, mas “não é o partido político que banca a imprensa”. Quem
banca a imprensa são as pessoas em geral que as consomem. O maior sentido da imprensa
hoje é o fato como ele aconteceu, é o fato como ele é. Não interessa se aquele fato agrada ou
desagrada, a imprensa do século XX e XXI, tem teoricamente autonomia em relação ao
mundo partidário, mas sabemos que na prática não é desta forma.
73 História e Resistência
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Não podemos negar que a “evolução” da imprensa, no sentido da modernização, foi
algo que propiciou em parte a grande diferença entre essas duas formas de jornais. Com o
desenvolvimento de novas tecnologias, o surgimento da fotografia, e o desabrochar dos
séculos XIX e XX, recheado de avanços no campo industrial, social e científico, fez com
que essa modernização do fazer jornalístico fosse se modificando.
Pensar o jornal de hoje, sobretudo aquele que nem sequer precise do papel, ou sair
de casa para acessá-lo, é uma reflexão que nos possibilita de certo modo fazer um
comparativo, mesmo que sem intenção, de como a sociedade vai mudando ao longo do
tempo e com ela os vários agentes sociais e os produtos do seu tempo. O jornal de hoje, ou
como mais se utilizam, os meios de comunicação, sendo estes, tanto jornais impressos ou
televisionado, ou notícias dadas em celulares, computadores e rádios, ganharam um forte
caráter de imparcialidade. Nesse sentido, acreditamos na ideia de que os jornais a partir da
produção das notícias, voltadas ao campo político/social, continuam hoje abarracadas de
interesses partidários, e que dessa forma a imprensa passa a ser um agente ativo na formação
de representações sociais e construção de imagens, validando ou desvalidando discursos,
apoiando ou desapoiando ideologias, e promovendo ou silenciando ações.
6. REFERÊNCIAS
AUMONT, Jacques. Cinema e encenação. Lisboa: Texto e Grafia, 2004. P-7-72.
CERTEAU, Michel: A invenção do cotidiano: 1. Artes de fazer. Petrópolis: Vozes, 2008.
CHARTIER, Roger. A história cultural entre práticas e representações. Trad. de Maria
Manuela Galhardo. Lisboa: Difusão Editora, 1988, p.244.
CRARY, Jonatha. Técnicas do observador: visão e modernidade no século XIX. Rio de
janeiro: contraponto. 2012. p.168
GONÇALVES, M. C. O jornalismo literário no século XIX: A imprensa entre folhetins,
crônicas e leitores. XXVII Simpósio Nacional de Historia. Natal, 22 a 26 de julho de 2013.
LEAL, A. R. B. R. Imprensa Piauiense- atuação política no século XIX. Teresina: Fundação
Cultural Monsenhor Chaves, 2001.
KELLNER, Douglas. A cultura da mídia - estudos culturais: identidade e política entre o
moderno e o pós-moderno. tradução de Ivone Castilho Benedetti. Bauru, SP: EDUSC, 2001.
p.447.
SILVA, A. in: https://www.infoescola.com/comunicacao/surgimento-da-imprensa/.
Acessado em 28/04/2019.
74 História e Resistência
SILVA, R. C. Historia do jornalismo: evolução e transformação. Revista Temática. ANO
VIII, n. 07 – Julho/2012.
SODRÉ, N. W. História da imprensa no Brasil. A imprensa do Império. São Paulo:
INTERCOM; Porto Alegre; EDIPUCRS, 2011, p. 273-371.
TRAQUINA, Nelson. O estudo do jornalismo no século XX. São Leopoldo: Editora
Unisinos, 2001.
75 História e Resistência
A INFLUÊNCIA DA IMPRENSA: O JORNAL COMO FATOR
CULTURAL E DE MANIPULAÇÃO SOCIAL
Antonia Erineide Ferreira Costa
Universidade Federal do Piauí- UFPI
INTRODUÇÃO
O presente trabalho procura fazer uma discussão sobre o surgimento da empresa no
Piauí dando enfoque a percepção do protagonismo feminino evidenciando a partir de jornais
produzidos por mulheres especialmente o impresso “Borboleta” de cunho literário de publicação
mensal que se utiliza de argumentação para defender seus pontos de vista e como isso repercutiu
nessa mesma sociedade. Dessa forma, o presente estudo foi proposto para introduzir
apontamentos sobre o surgimento da Imprensa, fazendo um balanço de como o jornal
repercuti no meio social de forma influenciadora e quais as casualidades decorridas a partir
disso e apesar de a imprensa ter trazido uma melhor difusão da informação trouxe também
uma forma de manipulação social as camas populares por meio dessas informações que eram
repassadas de acordo com seus interesses.
Essa pesquisa aborda uma investigação de natureza bibliográfica, no qual se poderá
ter um aprofundamento sobre a temática, assim como o posicionamento empírico, se
utilizando de procedimentos metodológicos qualitativo para descrever e pesquisar o objeto
de pesquisa. Tendo como, o universo de pesquisa O discurso feminino por meio do jornal
“Borboleta” na sociedade teresinense entre (1904-1906). Ainda se discute a inter-relação
entre a sociedade da época e a forma como a mulher é vista por essa sociedade.
1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
No Brasil ainda nos deparamos com dificuldade em encontrar autores que discuta
essa relação de gênero como Michele Perrot, Mary Del Priori, Joan Scott, etc., que discuti
os trabalhos relacionados a história das mulheres, e só a partir dos anos 1970 é que surgem
esses trabalhos, mas na maioria das vezes essa história estará introduzida na história da
família, mostrando distintos aspectos da vida familiar.
A participação da mulher no jornalismo ganhou força na metade do século XIX com
a industrialização que vai favorecer urbanização. Segundo Castelo Branco (2013) com o
incremento da vida urbana, as mulheres de elite precisavam ter algum polimento, mostrar
76 História e Resistência
bons comportamentos e uma certa cultura nos salões sociais. Com isso passou a ser instruída
com a leitura como mais um pré-requisito se torna uma boa esposa. Esse letramento deu a
mulher oportunidade de adquirir conhecimento e se expressar no meio jornalístico.
Os primeiros jornais que se tem conhecimento no Brasil, surgem em 1808 com a
chegada da família real autores como Orlando da Costa Ferreira, Luciano Magno Nelson
Werneck Sodré que necessitava de um jornal para divulgar os atos normativos e
administrativo oficias da coroa portuguesa no Piauí, que vai se iniciar no ano de 1832, tendo
uma grande influência na formação da sociedade intelectual que utilizava o jornal para
divulgar suas ideias e como forma de disseminação da literatura. Segundo Rêgo (2008),
surge as folhas literárias e jornais de atuação política acendendo com isso as letras. Os
folhetos eram publicados em capítulos seriais. Dando destaque a poesia e os romances
relação entre os autores e os jornalistas se intensificou, tendo em vista, que a maioria dos
escritores eram profissionais influentes nos impressos. Isso pode ser constatado na fala de
Oliveira (2012):
Em 1808, D. João VI autorizou a criação da Imprensa Régia, que tinha
como finalidade a impressão dos atos normativos e administrativos oficiais
e permitia também a publicação de obras diversas que se adequavam aos
ideais do governo. Até então, as publicações fabricadas no Brasil eram
manuscritas ou eram enviadas para a Europa para serem publicadas. Tal
postura foi modificada com a chegada das prensas através da Coroa e
facilitou a criação da imprensa no país (OLIVEIRA, 2012, p. 6)
Foi constatado em Rego (2008) que surgiram outros jornais que também estavam
preocupados em difundir a cultura para a sociedade, esse desejo era mais evidente nos
estudantes formados em Direito pela faculdade de Recife que chegavam a capital
Teresinense isso propiciou o surgimento de vários jornais. Por expressar a opinião de uma
minoria elitizada que tinha interesse em se favorecer politicamente utilizando a imprensa
para propagar e concretizar suas ideias e incutindo na sociedade esse pensamento formulado,
o jornal serve como um fator influenciador das camadas minoritária por manipular as
informações de acordo seus interesse deixando apenas a informação que lhes convém isso
mantem a subjugação das classes menos favorecidas que não tem um conhecimento geral
dos fatos só tendo acesso ao que é lhe fornecido pela impressa. Isso deixa a população de
77 História e Resistência
certa forma maleável a classe dominante que fragmenta a informação de forma a favorecer
seus interesses. De acordo com Rocha, (2012).
O jornal Borboleta (1904-1906) foi o primeiro jornal piauiense de redação
exclusivamente feminina, tendo como redatoras: Helena M. Burlamaqui,
Alaide M. Burlamaqui, e a também gerente, Maria Amélia Rubim. O jornal
Borboleta circulou entre 1904 e 1906. As assinaturas poderiam ser mensais
ou trimestrais, iniciando em qualquer dia, mas deveriam terminar nos
meses de março, junho, setembro e dezembro, sua edição era mensal e
contava com colaborações femininas e masculinas. Publicava poesias,
prosas, notícias de coluna social, casamento, aniversários, votos de
pêsames etc. (ROCHA, 2012, p. 5).
Podemos perceber que o Jornal “Borboleta” se constituía com assuntos variados,
circulando uma vez por mês, se destacando por ser de autoria feminina, em uma sociedade
patriarcalista que atribuía a mulher ao trabalho do lar. Daí sua relevância social sem que a
mulher sempre estava associada um ser constituído de fragilidade e que merecia ser
protegida. E podemos ver que essas escritoras eram capazes de fazer publicações variadas
com proposito educativo, mas, apesar disso o jornal “Borboleta” se manteve em circulação
apenas por um pequeno período tempo que perdurou entre 1904 a 1906.
2. METODOLOGIA
A metodológicos que serão adotadas para o desenvolvimento deste estudo constará
inicialmente de um de coleta dos dados que serão empregadas as seguintes técnicas de
pesquisas primeiramente leituras bibliográficas e análises comparativas, análise, análise do
jornal Borboleta, leitura de documentos em arquivos públicos, análise documental. seguido
de sistematização de estudos já realizados. Nesta etapa será analisado os documentos
empregados o método analítico.
3. DISCUSSÃO E RESULTADOS
Pode se observar que entre todos os jornais que surgiu no Piauí desde o ano 1832,
a mulher não vai ter papel ativo na concepção jornalística. A sociedade era constituída e
ainda hoje é de forma patriarcal e a mulher era associada ao lar, tendo como principal função
administra o lar e criar os filhos, não era vista como um ser capaz de debater temas de
78 História e Resistência
relevância social ou político. Apenas no ano de 1904 é que vai surgir um jornal escrito por
mulheres denominado Borboletas. Isso mostra o quanto a participação feminina está
conquistando sue espaço e podemos agradecer a essas mulheres por serem algumas das
precursoras na lutar por uma maior visibilidade feminina que tiveram coragem de brigar por
seus direitos, mas também a conscientizando a sociedade que a mulher direita sociais que
homem.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A mulher sempre lutou por seu espaço e não foi diferente no meio jornalístico de uma
sociedade machista, onde ela era vista como incapaz de debater temas relacionado a política
ou a sociedade, mas apesar disso ela lutou por seu espaço de início na divulgação de um
jornal que era escrito apenas por mulheres, depois foi conquistando o seu espaço em um
mundo liderado por homens. Aos poucos a participação feminina está conquistando nosso
espaço e podemos agradecer a essas mulheres que tiveram coragem de brigar por seus
direitos, mas também a conscientizando a sociedade que a mulher direita sociais que homem.
Palavras-Chave: Imprensa; Cultura; Sociedade.
5. REFERÊNCIAS
CARDOSO, Elizangela Barbosa. Múltiplas e Singulares: história e memória de estudantes
universitárias em Teresina (1930-1970). Teresina: Fundação Cultural Monsenhor Chaves,
2003.
CASTELO BRANCO, Pedro Vilarinho. Mulheres plurais: a condição feminina na Primeira
República. 3º ed. Teresina: Edufip, 2013.
FERREIRA, Vinicius Ferreira Ribeiro. A formação do jornalismo cultural piauiense no
século XIX1. 10° Encontro Nacional de História da Mídia. Porto Alegre, 2005.
OLIVEIRA, Thamyres Sousa de. História e Memória nos Jornais Piauienses de 1800 a
1840. II Encontro Nordeste de História da mídia. Teresina, 2012.
QUEIROZ, Teresinha de Jesus Mesquita. Os literatos da República: Clodoaldo Freitas,
Higino Cunha e as tiranias do Tempo. São Paulo: UPS, 1992. (Tese de Doutorado).
QUEIROZ, Teresinha de Jesus Mesquita. As diversões civilizadas em Teresina: 1888-1930.
Teresina: FUNDAPI, 2008.
REGO, Ana Regina. Imprensa Piauiense: entre a literatura e a política. Disponível em:
<www.ufrgs.br/alcar/encontrosnacionais1/encontros.../Imprensa%20Piauiense.pdf>.
Acesso em: 17 de maio de 2018.
ROCHA, Olívia Candeia Lima. Mulheres e Imprensa no Piauí no Final do Século XIX e
Início do Século XX. II Encontro Nordeste DE História da Mídia: Identidade, Memória e
Convergência Midiática. Teresina, 2012.
79 História e Resistência
ANÁLISE BIBLIOGRÁGICA DO CONCEITO DE CULTURA
POLÍTICA: UMA QUESTÃO TEÓRICA NO CAMPO DA HISTÓRIA
Karoline Vitória Gonçalves Fernandes
Graduanda do Curso de Ciências Sociais – UFPI
1. INTRODUÇÃO
Para entender os desdobramentos das disputas políticas, tanto no âmbito da política
partidária, quanto nos movimentos sociais, há a necessidade de um aprofundamento do
campo teórico. (RÉMOND,1996). Assim, tendo em mente que com o surgimento da “Nova
História Política” houve uma ampliação de relações interdisciplinares, no qual a história
tomou emprestada de outras disciplinas, conceitos e técnicas de pesquisa para uma melhor
compreensão desses e de outros fenômenos políticos, muitos historiadores vêm utilizando a
noção de Cultura Política. Partindo dessa noção, o presente trabalho tem como objetivo
analisar como a bibliografia local e nacional histórica compreende e utiliza o conceito de
cultura política, e se essa diverge ou converge com a utilização do termo na ciência política
e na sociologia.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A construção deste trabalho fundamenta-se na obra organizada por Rodrigo Patto Sá
Motta (2009) intitulada “Cultura Política na história: novos estudos”, no qual norteia-nos
para a tentativa de entender como a história compreende o conceito de cultura política, visto
que tal estudo abre novas perspectivas de interpretação dos fenômenos políticos, a partir de
viés pouco contemplado pelas abordagens clássicas. Pois, essa perspectiva de análise é capaz
de compreender aspectos importantes das configurações históricas do político, propiciando
a compreensão acerca da persistência de algumas atitudes e fidelidades políticas. Em que, a
definição do termo é pautada nas reflexões de Serge Berstein dialogando com Jean-François
Sirinelli que diz que “a cultura política seria um conjunto de normas, valores, tradições,
práticas e representações difundidas e compartilhadas pelos indivíduos na sua experiência
num dado ambiente histórico e cultural.” (BAPTISTA, 2015, p.672)
3. METODOLOGIA
80 História e Resistência
O presente trabalho trata-se de uma revisão bibliográfica. Com isso, buscamos catalogar
as teses e dissertações publicadas pela Universidade Federal do Piauí – UFPI que
abordassem a noção de cultura política na área de história, sociologia ou ciência política, no
qual a pesquisa se deu por meio do sistema online da UFPI em consultar acervos, tendo como
filtro: assunto: cultura política e tipo de material: tese e dissertação. Com isso, os trabalhos
foram separados por áreas, selecionando aqueles com base nas leituras dos seus resumos e
que estivessem relacionados com objetivo da pesquisa. Partindo para o catálogo nacional,
delimitamos a pesquisa em localizar livros nos últimos 10 anos que abordassem o termo
cultura política, especialmente no campo da história política; assim, buscamos no portal
periódicos da capes com o seguinte filtro: palavras-chaves: cultura política e história política;
data de publicação: últimos 10 anos; tipo de material: livros; idioma: qualquer idioma.
4. DISCUSSÃO E RESULTADOS
Começando pelos componentes quantitativos, na esfera local, por meio do acervo da
UFPI, apenas três trabalhos foram encontrados, sendo duas teses, uma na área de sociologia
e a outra na área de história, e uma dissertação, também na área de história. Já na esfera
nacional, os resultados obtidos por meio do portal periódicos da capes, foram de dez livros.
Contudo, é preciso ressaltar que como o presente trabalho é fruto de uma Iniciação Científica
em andamento, até o momento só foram analisadas apenas as bibliografias locais.
Partindo para as análises, iniciamos com a tese da área de sociologia, intitulada “Ações
Coletivas, Cultura Política e Movimentos Sociais: Disputas de significado e antagonismo no
âmbito da Reforma Urbana” (OLIVEIRA, 2010), percebe-se que o autor se sustenta em
grandes teóricos da ciência política como ALMOND E VERBA (1962); DAGNINO (2000);
HALL (2003), no qual o conceito de cultura política é pensado tradicionalmente como um
padrão particular de orientações para a ação política, um conjunto de significados e
propósitos dentro do qual cada sistema político está embutido, consolidando assim que a
cultura política deve fazer parte de uma explicação do desempenho dos sistemas políticos.
Para além disso, OLIVEIRA (2010) pensa que a cultura política está imersa nas práticas
sociais e políticas dos indivíduos e grupos atuantes nos diversos espaços da sociedade, nos
âmbitos político, econômico e social, não apenas relacionada ao sistema e às instituições
políticas, como supõem as abordagens centradas nas atitudes e crenças acima demonstrada.
81 História e Resistência
Com relação à segunda tese, de título “Da Terra ao Céu: culturas políticas e disputas
entre o trabalhismo oficial e o trabalhismo cristão no Piauí (1945-1964)”, (OLIVEIRA
2016), a autora aborda o conceito de cultura política conforme aponta Serge Berstein, como
um conjunto coeso no qual todos os aspectos que o compõem estão conectados entre si,
possibilitando a constituição de uma identidade. A Cultura Política, compreendida dessa
forma, revela as ações dos homens em um momento da história, levando em consideração
seus valores, crenças, memórias específicas e normas, em função de leituras partilhadas no
passado, assim como das aspirações alimentadas para o futuro. Esse conjunto de referentes
pode ser compartilhado em um partido, difundido socialmente no seio de uma família ou em
uma tradição que pode lhe conferir identidade própria. Nesse sentido, as Culturas Políticas,
no plural, vão coexistindo e se modificando em cada sociedade. Em vista disso, a autora
sustenta que é de fundamental importância dividir a cultura política piauiense entre uma
cultura política partidária e uma cultura política popular devido ao apelo do aparato
institucional e ao mesmo tempo simbólico do exercício das práticas culturais relativas ao
universo político-partidário e o mundo das representações sociais partilhadas sobre a
participação popular na política. Concordando assim com Serge Berstein de que no interior
de uma nação existe pluralidade de culturas políticas, mas com zonas de aproximação entre
as mesmas, pois em um dado momento elas tendem a se encontrar.
Por último, a dissertação intitulada “História e Imprensa: a cultura política em jornais
piauienses de 1868 a 1875” (ARAÚJO, 2013), cuja objetiva analisar as crenças, valores e
normas políticas veiculadas pelos jornais piauienses que circularam entre 1868 e 1875,
utiliza a noção de cultura política segundo o historiador Serge Berstein que a considera como
aquela que confere visibilidade aos desejos e repúdios políticos que identificam
determinados grupos sociais. Acrescenta-se também, que a cultura política é compreendida,
no sentido dado por Rodrigo Patto Sá Motta, como um conjunto de valores, tradições,
práticas e representações políticas partilhados por determinado grupo humano, que expressa
uma identidade coletiva e fornece leituras comuns do passado, assim como fornece
inspiração para projetos políticos direcionados ao futuro.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após a análise das referidas bibliografias, podemos perceber que todas partem de um
ponto comum do conceito, possuindo variações apenas onde essa categoria analítica pode
ser utilizada para compreender um determinado fato. Assim, com a utilização do termo, cada
82 História e Resistência
obra revela valores e práticas que se perpetuam ao longo do tempo que explicam uma parte
dos comportamentos e práticas políticas, tanto em relação aos próprios políticos quanto a
sociedade civil. Contudo é preciso ressaltar que há uma grande diferença quanto ao uso do
termo, principalmente entre a História e a Ciência Política, já que a Sociologia utiliza a noção
de cultura política navegando entre essas duas áreas. Pois, segundo a bibliografia base da
Ciência Política o conceito é sempre utilizado para entender a crença da sociedade civil em
relação às instituições enquanto que a História utiliza como um conjunto de práticas e valores
que revelam qualquer aspecto do campo político. Embora o trabalho se encontre limitado
por não abranger a bibliografia nacional, o estudo se mostra relevante por esclarecer as
formas como a noção de cultura política está sendo trabalhada dentro da história.
6. REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Dinoráh Lopes Rubim. A narrativa da nova história política: representações dos
subterrâneos da historiografia. In: Anais do V Encontro Internacional UFES/PARIS-EST,
2015.
ARAÚJO, Vinícius Leão. História e imprensa: a cultura política em jornais piauienses de
1868 a 1875. Dissertação (Mestrado em História do Brasil) – Universidade Federal do Piauí,
Teresina, 2013.
BAPTISTA, Leonardo. O conceito de cultura política: das origens da ciência política norte-
americana à historiografia contemporânea. In: Anais do V Encontro Internacional
UFES/PARIS-EST, 2015.
MOTTA, Rodrigo Patto Sá. (Org.). Culturas Políticas na história: novos estudos. Belo
Horizonte: Argvmentvm,2009.
OLIVEIRA, Francisco Mesquita de. Ações coletivas, cultura política e movimentos sociais:
Disputas de significado e antagonismo no âmbito da Reforma Urbana. Tese (doutorado) –
Universidade Federal de Pernambuco, Programa de Pós-graduação em Sociologia, Recife,
2010.
OLIVEIRA, Marylu Alves de. Da Terra ao céu: Culturas políticas e disputas entre o
trabalhismo oficial e o trabalhismo cristão no Piauí (1945-1964). Tese (doutorado) –
Universidade Federal do Ceará, Programa de Pós-graduação em História, Fortaleza, 2016.
RÉMOND, René (org.). Por uma História Política, Rio de Janeiro: FGV, 1996.
RENNÓ, Lúcio. Teoria da Cultura Política: vícios e virtudes. In: Revista Brasileira de
Informação Bibliográfica em Ciências Sociais - BIB, Rio de Janeiro, n. 45, 1998.
Palavras-chaves: Noções. Cultura Política. Nova História Política. Bibliografia.
83 História e Resistência
A PORCA COMEU: OS PROCESSOS ELEITORAIS NO PIAUÌ
ENTRE 1945 A 1964
Fábia Fabíola Barbosa Nunes (UFPI)14
Marylu Alves de Oliveira15
Resumo: Com o fim da ditadura do Estado Novo e com a redemocratização da política, faz-
se necessário compreender a dinâmica dos novos partidos, em concomitância com a
reestruturação da política nacional e local. Desse modo, a pesquisa busca refletir sobre como
se davam os cooptações dos candidatos que concorriam ao governo do estado do Piauí,
analisando suas estratégias eleitorais e discursos. Ressalta-se que a pesquisa ainda está em
andamento, nesse sentido, o artigo examina um caso específico, a eleição do primeiro
governador do PTB no Piauí, Chagas Rodrigues. Essa eleição se difere das outras, pois,
devido a um grave acidente automobilístico que ficou conhecido como desastre da ''cruz do
cassaco'' , que matou o candidato ao senado Marcos Parente filiado à União Democrata
Nacional (UDN) e o candidato Demerval Lobão do Partido dos Trabalhos Brasileiros (PTB),
a coligação PTB-UDN rapidamente escolheu novos nomes, e para o governo do Estado e
Senado, utilizando a morte como estratégia política.
Palavras-Chave: Piauí. Processo eleitoral. PSD. PTB. UDN.
Em 1958, no Piauí, ocorreu um grave acidente automobilístico que ficou conhecido
como desastre da cruz do cassaco. O candidato Marcos Parente da União Democrata
Nacional (UDN) que concorria ao senado e o candidato Demerval Lobão do Partido
Trabalhista Brasileiro (PTB), que concorria a eleição de Governador do Piauí, morreram na
tragédia. Pela fatalidade e proximidade das eleições, os partidos coligados, UDN e PTB,
laçaram rapidamente como candidato a vaga de governador Chagas Rodrigues se opondo ao
candidato do Partido Social Democrata (PSD), José Gayoso Freitas. Por conseguinte, a
imprensa ligada aos três grandes partidos não escreveu sobre outro fato naqueles dias. Até
mesmo os noticiosos apoiadores dos pessedistas, como foi o caso do Jornal do Piauí e do O
Dia, empenharam-se em apresentar a tragédia, narrando minuciosamente o acidente, o
enterro e os ritos fúnebres, assim como teceram considerações relativas à situação política
que se aproximava: as eleições do dia 3 de outubro de 1958.’’ (OLIVEIRA, 2016)
14 Aluna do 5º período do curso de História da Universidade Federal do Piauí. Pesquisadora de iniciação
científica do projeto: “Na Furna da Onça: as disputas político-sociais no Piauí (1945-1964). Participante, como
pesquisadora do grupo de pesquisa do CNPq: História Política, Teatro e música. 15 Orientadora. Professora do departamento de História da Universidade Federal do Piauí. Coordenadora do
projeto “Na Furna da Onça: as disputas político-sociais no Piauí (1945-1964). Líder do grupo de pesquisa do
CNPq: História Política, Teatro e música.
84 História e Resistência
Todavia, pelo caráter peculiar que o processo eleitoral tomou, a campanha não
poderia seguir seu curso “normal”, as críticas, ditas de forma direta e de forma “grosseira”
antes do acidente, passavam por um momento de amenização, pois era preciso construir
apreciações veladas aos adversário em momento tão delicado. Foi assim que os pessedistas
criticaram, por exemplo, os coligados udenotrabalhistas, pela forma como os despojos de
Marcos Parente foram abandonados pelos partidos coligados, PTB-UDN, na viagem de volta
ao Rio de Janeiro. Segundo a reportagem do jornal O Dia, o corpo teria sido acompanhado
apenas por dois parentes da vítima, não se fazendo presente no avião da FAB nenhum
político das oposições’.
Às vésperas do pleito eleitoral, o jornal que estava apoiando o PTB, jornal do
Comércio, ainda mantem a tática de tentativa de controle daquilo que era noticiado sobre a
morte dos candidatos. Após algumas análises de estratégias e tentativas de cooptação,
observa-se a manipulação através da morte dos candidatos do PTB e UDN, para angariar
votos para a coligação, além da tentativa de associação das imagens dos candidatos que
realmente estavam concorrendo, já era sem surpresa imaginar que Joaquim Parente angariou
o cargo de senador e Francisco das Chagas Caldas Rodrigues o de governador do Piauí.
Os resultados obtidos ainda são parciais, pois ainda não se conseguiu-se compreender
e responder todas as perguntas propostas na pesquisa. No entanto, as discussões
bibliográficas que efetuei com a leitura de autores, como, Rodrigo Patto Sá Motta, Ângela
de Castro Gomes, Lucília de Almeida Neves Delgado e, por fim, Marylu Alves de Oliveira,
possibilitaram compreender as táticas políticas dos partidos PTB, UDN, PSD, e ainda
entender suas bases ideologias, diferenças e semelhanças além das estratégias de cooptação,
que no caso especifico da eleição de Chagas Rodrigues, foi possível explorar o seu aspecto
de cooptação eleitoral através das questões culturais ligadas à fé católica e a relação dessa
religião com a morte. Investigou-se os discursos dos principais partidos nas vésperas do
pleito (PTB, UDN e PSD) para a compreender a dimensão daquela morte na condução
daquela eleição. Por fim, visitou-se o arquivo público de Teresina, em busca de jornais
associados aos partidos vigentes. A ida ao arquivo proporcionou uma ampliação de análise
sobre o método de cooptação e de discursos dos partidos, pois, pôde-se perceber que cada
um dos jornais locais adotava uma sigla para apoiar nos processos eleitorais, como, por
exemplo, o jornal ‘’O Piauí’’, apoiou a coligação udenotrabalhista, dando ênfase aos
partidários da UDN. Logo na capa daquele jornal, por exemplo, exibia-se o slogan, órgão da
união democrática nacional para destacar o lugar de apoio e fala daquele periódico, nesse
85 História e Resistência
sentido, faz-se necessário a catalogação dos jornais mais variados para conseguir fazer novas
discussões e assim aprofundar a compreensão sobre as práticas desenvolvidas nos processos
eleitorais no período da redemocratização de 1945-1964. Nessa perspectiva, a pesquisa está
no processo de catalogação dos jornais ‘’O Piauí’’ e em uma nova gestão vira o ‘’Estado do
Piauí’’, os jornais são dos anos de 1945-1964, doados pela filha do diretor-chefe Josípio
Lustosa, após a fase de catalogação desse jornal, a próxima fase será de investigar outros
jornais e os processos de eleição para governador no Piauí de 1945-1964.
Em conclusão, apreendeu-se que após a visita ao arquivo público e a realização das
leituras bibliográficas, de fato conduziram a uma reflexão sobre o período eleitoral de 1945
– 1964, porém, o trabalho ainda é incipiente, pelo fato de ainda não conseguir responder
completamente a todos os questionamentos, além de ainda investigar outras eleições para
governador.
Consequentemente a pesquisa busca discutir sobre a mentalidade que atravessa os
processos eleitorais, buscando formar um panorama sobre como funcionavam as disputas
partidárias, traçando uma avaliação sobre as diversas estratégias, reações populares e
intenção de voto, nessa perspectiva, buscarei adiante as respostas para análise utilizando
jornais e livros de memória sobre o período pesquisado.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DELGADO, Lucília de Almeida Neves. Nacionalismo como projeto de nação: a Frente
Parlamentar Nacionalista (1956-1964). In: Nacionalismo e reformismo radical (1945-1964).
FERREIRA, Jorge; REIS, Daniel Aarão (orgs.). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
2007, p. 357- 376.
GOMES, Ângela de Castro, A invenção do trabalhismo. Vértice; RJ; JUPERJ, 1988, pag.
211-319.
_______. Partido Trabalhista Brasileiro (1945-1965): getulismo, trabalhismo, nacionalismo
e reformas de base. In: FERREIRA, Jorge: REIS, Daniel Aarão (Orgs.). Nacionalismo e
reformismo radical (1945-1964). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007, v. 2. (Coleção
As Esquerdas no Brasil).
MOTTA, Rodrigo Patto Sá. Introdução à história dos partidos políticos brasileiros. Belo
Horizonte: Editora UFMG, 1999.
OLIVEIRA, Marylu Alves de. Da terra ao céu: culturas políticas e disputas entre o
trabalhismo oficial e o trabalhismo cristão no Piauí (1945-1964). 2016. 534f. – Tese
(Doutorado) – Universidade Federal do Ceará, Programa de Pós-Graduação em História,
Fortaleza (CE), 2016.
86 História e Resistência
AS TENSÕES SOCIAIS NO PERÍODO DO (RE) NASCIMENTO DO
TEATRO EM TERESINA
Msc. Vanessa Soares Negreiros Farias (UFPI)
Teresina na década de 1950 era uma cidade pequena, uma capital sem expressão
econômica, carente de serviços básicos tais como água potável, energia elétrica, esgoto
sanitário, ruas calçadas, dentre outros problemas denunciados pela imprensa escrita da
época16. No plano cultural, por um lado, homens de letras manifestavam em seus escritos a
movimentação social17, os seus amores e seus lugares de memórias, por outro, dramaturgos
planejavam as manifestações artísticas e enfrentavam dificuldades de ordem econômica
(escassez de recursos) e social (os conflitos com a Igreja).
A sociedade teresinense dos anos cinquenta era, em sua maioria, católica e via como
atentado moral manifestações artísticas que ameaçassem os bons costumes. A Igreja
utilizava a imprensa escrita e o confessionário para manter a ordem social. Nesse cenário,
privilegia-se as experiências de diferentes sujeitos que tiveram iniciativas para ultrapassar
os limites impostos pela ordem social provinciana e eclesiástica, que viam na arte a
oportunidade de estabelecer novos diálogos, novas formas de transmissão de conhecimento,
novos horizontes. E a manifestação artística a ser vislumbrada aqui é a teatral.
O presente texto analisa o teatro como produto social. O teatro desde suas origens,
mantem uma relação muito próxima com a história, e pode ser tomado como espaço de
análise para as diferentes formas de representação da sociedade, dos grupos sociais que a
constituem18. A partir de estudos acerca da história de algumas cidades brasileiras é possível
pensar o teatro como reflexo dos fatos sociais. No caso da cidade de Teresina, o teatro
representava tais fatos, “ele chega aos anos cinquenta literalmente na lona”19. Conforme é
possível identificar, a partir da entrevista de Paschoal Carlos Magno concedia ao diretor do
16 NASCIMENTO, Francisco Alcides do. A Imprensa escrita de Teresina nas comemorações do centenário de
Teresina. In: NASCIMENTO, Francisco Alcides do (Org.). Cidade e Memória. Teresina-PI: EDUFPI /
Imperatriz-MA: Ética, 2009. p, 90 17 FARIAS, Vanessa Soares Negreiros. Em busca da Geração Perdida: Formação escolar e intelectual de
Homens de Letras em Teresina. Teresina: EDUFPI, 2015. 18 NASCIMENTO, Francisco de Assis de Sousa. Teatro e Modernidades: Benjamin Santos em incursão pela
História e memória do Tetro Brasileiro. Teresina: EDUFPI, 2015. p, 40-41. 19 CAMPELO, Ací. História do teatro piauiense. Teresina: A & C Assessoria e Promoções Culturais, 2010. p.
83
87 História e Resistência
Jornal do Comércio à época, Bento Clarindo Bastos, disponível na pesquisa do cronista A.
Tito Filho:
Perguntado a respeito da sua impressão sobre o Teatro 4 de setembro,
respondeu:
- a pior possível. Não conheço outro, pertencente ao Estado, tão lapidado.
A respeito do assunto, na presença do governador, do vice, do prefeito e de
todos os vereadores, na recepção que ofereceram ao Teatro do Estudante,
tive oportunidade de falar, lamentando o descaso, por parte das
autoridades, em que se encontra esse Teatro. Não seria possível quebrar o
contrato e mandar limpá-lo, dar-lhe camarins e gabinetes sanitários? Não
seria possível substituir as cadeiras ou deixar as que estão lá mais limpas,
lavadas, com fundos novos de palha ou madeira? Esse teatro não tem pano
de boca, nem gambiarras, nem refletores. É nuzinho de tudo quanto se faz
necessário a um espetáculo. 20
Segundo Ací Campelo, as críticas de Paschoal Carlos Magno repercutiram
estrondosamente nos meios político e intelectual do Piauí, não por ele ser fundador do Teatro
do Estudante do Brasil (TEB), mas por ser embaixador e porque todos os segmentos sociais
do estado reconheciam a situação de penúria do Cine-Theatro 4 de setembro. “Do alerta de
Paschoal e das discussões posteriores que suas críticas geraram, o Theatro 4 de setembro
teve a sua mais substanciosa reforma desde a sua inauguração”21. A partir de então, foi acesa
a chama que incentivou e fortaleceu a participação de amadores e estudantes na promoção
do teatro teresinense, abrindo as portas para novos artistas construírem o teatro em nosso
meio, dentre os quais destacam-se Leão Sombra do Norte Fontes22, José Gomes Campos23 e
Antonio Santana e Silva24.
As décadas seguintes foram marcadas por qualitativas mudanças estruturais e
culturais, vistas tanto nos aspectos urbanos, com os quais a cidade passou a contar, quanto
na expansão da produção cultural. Na década de sessenta O prefeito de Teresina Petrônio
20 TITO FILHO, Arimathéa. Praça Aquidabã, sem número. Teresina: Artenova, 1975.p. 108-109. 21 CAMPELO, Ací. 2010, p. 85 22 Leão Sombra do Norte Fontes nasceu no ano de 1928 na cidade de Picos-PI. Teve papel relevante no
desenvolvimento de atividades culturais, entre as quais se destaca a manutenção durante os anos de 1946 a
1949 do Grupo Reisado Leão do Norte, que encenou na cidade “O Auto do Reisado”. CAMPELO, 2010, p.
86. 23 José Gomes Campos (1925-2007) estudou no Colégio Diocesano em Teresina e formou-se na antiga
Faculdade de Direito do Piauí. Após a fundação da União dos Moços Católicos (UMC) nos anos 1950 passou
a trabalhar intensamente pelo teatro piauiense, como diretor, autor e ator. CAMPELO, 2010, p. 86,87. 24 Antonio Santana e Silva (1935-1993) teve presença marcante no movimento estudantil nos anos 1950 e após
a composição do Centro Estudantil Piauiense (CEP) em 1952, passou a ministrar curso básico de teatro.
CAMPELO, 2010, p. 87,88.
88 História e Resistência
Portela criou o Serviço Municipal de Teatro – SMT, que funcionava na sede da Prefeitura
de Teresina, de onde começou a desenvolver sua política de apoio ao Teatro da capital,
estimulando o surgimento de novos grupos, o auxílio à produção de espetáculos e o
intercâmbio cultural com alguns municípios do Estado.
Para compor o fundamento teórico, a priori foram selecionados autores cujos
conceitos e categorias analíticas permitiram percorrer o mundo da escrita e da cultura, entre
eles, até o momento, destaca-se Michel de Certeau, Roger Chartier e Robert Darnton. Em A
escrita da história, Michel de Certeau observa que a combinação de um lugar social, de
práticas científicas e de uma escrita resulta em uma operação historiográfica. Partindo desse
pressuposto, pretende-se nesta pesquisa pensar a história como uma operação que se tornará
possível através da tentativa de compreendê-la entre um lugar, os procedimentos de análise
e a construção de um texto, como também de admitir que a história faz parte da “realidade”
da qual trata e que essa realidade pode ser apropriada “enquanto atividade humana”,
“enquanto prática”25.
Para Roger Chartier na obra Do palco a página: publicar teatro e ler romances na
época moderna (séculos XVI – XVIII) é possível estabelecer relações entre as modalidades
de execução de textos e as diferentes recepções que lhe deram o público leitor, na obra de
Chartier torna-se possível identificar os modos como as obras e gêneros literários circularam
e foram apropriadas, ou melhor, recebidas, durante os séculos XVI e XVII.
Em Censores em ação: como os Estados influenciaram a literatura, Robert Darnton
nos auxilia na medida em que temos a partir da leitura da obra, contemplar um dos objetivos
propostos, qual seria investigar as ações do Estado em prol do desenvolvimento cultural de
Teresina. Darnton nos possibilita pensar o jogo opressão x liberdade de expressão, além de
nos atentar para a complexidade que envolve o próprio ato de censurar.
Não obstante, viu-se que, entre a partir da década de 1950, o teatro teresinense passou
por um processo de desenvolvimento cultural, comportando desde então novas experiências
em torno do teatro, que tornou possível Teresina voltar a entrar na rota de companhias
profissionais, pelo surgimento de grupos locais duráveis e atuações individuais expressivas
e inéditas, como de musicistas, atores e dramaturgos.
25 CERTEAU, Michel de. A escrita da história. Trad. Maria de Lourdes Menezes. Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 2008. p. 66.
89 História e Resistência
Contudo, para a historiadora Stella Bresciani, “é na cidade que a história se exibe”26,
é nos seus espaços que ela se constitui como lugar de tensão. Nesses espaços, instauram-se
possibilidades de ação pela presença coletiva dos atores sociais e pelo registro dessa presença
dramatizada em espetáculo que os sujeitos sociais procuram apreender através das diversas
vias de acesso27. A cidade exibida é Teresina, cujas vias de acesso são experimentadas e
ritualizadas pelos sujeitos que engendraram ações em prol da dramaturgia a partir da década
estudada.
Palavras-chave: História. Teresina. Teatro. Cultura.
REFERENCIAS
BRESCIANI, Maria Stella. As sete portas da cidade. Espaço & Debates. São Paulo, Neru,
n. 34, 1992.
BRESCIANI, Maria Stella. Cidade e História. In: OLIVEIRA, lúcia Lippi. Cidade: história
e desafios. Rio de janeiro: FGV, 2002.
BRETAS, Marcos Luiz. Teatro e cidade no Rio de Janeiro dos anos 1920. In: CARVALHO,
José Murilo de; NEVES, Lúcia Maria Bastos Pereira das (org.). Repensando o Brasil do
oitocentos: cidadania, política e liberdade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009. p.
101-120.
CAMPELO, Ací. História do teatro piauiense. Teresina: A & C Assessoria e Promoções
Culturais, 2010.
CERTEAU, Michel de. A escrita da história. Trad. Maria de Lourdes Menezes. Rio de
Janeiro: Forense Universitária, 2008.
CHARTIER, Roger. Do palco a página: publicar teatro e ler romances na época moderna
(séculos XVI-XVIII). Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2002.
DARNTON, Robert. Censores em ação: como os estados influenciaram a literatura. São
Paulo: Companhia das Letras, 2016.
FARIAS, Vanessa Soares Negreiros. Em busca da Geração Perdida: Formação escolar e
intelectual de Homens de Letras em Teresina. Teresina: EDUFPI, 2015.
NAPOLITANO, Marcos. Cultura Brasileira: utopia e massificação (1950-1980). São Paulo:
Contexto, 2001.
NASCIMENTO, Francisco Alcides do. A imprensa escrita de Teresina nas comemorações
do centenário de Teresina. In: NASCIMENTO, Francisco Alcides do (Org.). Cidade e
Memória. Teresina-PI: EDUFPI/Imperatriz-MA: Ética, 2009.
NASCIMENTO, Francisco de Assis de Sousa. Teatro e modernidades: Benjamim Santos
em incursão pela História e Memória do teatro brasileiro. Teresina: EDUFPI, 2015.
QUEIROZ, Teresinha. O teatro novecentista e a educação dos costumes. In:______. Do
singular ao plural. 2. ed. Teresina: EDUFPI, 2015. p. 65-80.
26 BRESCIANI, Maria Stella. Cidade e História. In: OLIVEIRA, lúcia Lippi. Cidade: história e desafios. Rio
de janeiro: FGV, 2002, p. 30. 27 BRESCIANI, Maria Stella. As sete portas da cidade. Espaço & Debates. São Paulo, Neru, n. 34, 1992.
90 História e Resistência
SILVA, Ronyere Ferreira da. O teatro em Teresina: produções artísticas e tensões culturais
(1890-1925). Dissertação (Mestrado em História do Brasil) – Universidade Federal do Piauí,
Teresina, 2017.
SILVA FILHO, Francisco Lopes da. Teresina (em)cena: apropriações históricas no
espetáculo teatral Itararé – A República dos desvalidos de Afonso Lima. Dissertação
(Mestrado em História do Brasil) – Universidade Federal do Piauí, Teresina, 2012.
TITO FILHO, A. Praça Aquidabã, sem número. Rio de Janeiro: Artenova, 1975.
91 História e Resistência
“BRASIL A CAMINHO DA PAZ”: A PRIMEIRA EDIÇÃO DO
JORNAL PIAUIENSE “O DIA” APÓS O GOLPE MILITAR DE 1964.
Rafael Dantas Nery (UFPI)
Prof. Dr. Gabriel Eidelwein Silveira (UFPI)
Em que pese as importantes ressalvas consignadas por Tânia Regina de Luca, no texto
História dos, nos e por meio dos periódicos, em seção denominada A imprensa sob
suspeição, em que analisa a trajetória de construção da aceitabilidade dos impressos como
fonte de pesquisa histórica, na atualidade, os jornais impressos representam importantes
lugares de memória e constituem um amplo campo de estudo aos pesquisadores,
especialmente na seara das Ciências Humanas. Para tanto, a adoção de determinadas
cautelas torna-se medida imperativa. AndreasHuyssen (2000, p. 16) destaca que nem sempre
é fácil traçar uma linha de separação entre passado mítico e passado real, um dos nós de
qualquer política de memória em qualquer lugar. O real pode ser mitologizado tanto quanto
o mítico pode engendrar fortes efeitos de realidade. Por conseguinte, segundo Tania Regina
de Luca (2008, p. 132;141), éimportante estar alerta para os aspectos que envolvem a
materialidade dos impressos e seus suportes, que nada têm de natural, entãoo primeiro
passo é localizar a fonte numa das instituições de pesquisa e averiguar as condições
oferecidas para consulta. Assim, esse necessário processo de historicização da fonte requer
ter em conta, portanto, as condições técnicas de produção vigentes e a averiguação, dentre
tudo que se dispunha, do que foi escolhido e por quê. Nesse contexto, para o
desenvolvimento deste trabalho buscou-se inicialmente o Arquivo Público do Piauí, em
busca de registros documentais e hemerográficos relativos às primeiras semanas do mês de
abril de 1964, em busca de fatos que permitissem a construção das primeiras representações
sobre a implementação do governo civil-militar, de 1964, no Piauí. Após a constatação de
uma grande carência substancial e da presença de grandes hiatos temporais entre os materiais
localizados, buscou-se amparo na produção acadêmica do Programa de Pós-Graduação em
História do Brasil, da Universidade Federal do Piauí, tendo sido localizadas as dissertações
“A Cruzada Antivermelha – Democracia, Deus e Terra contra a força comunista:
representações, apropriações e práticas anticomunistas no Piauí da década de 1960, de
autoria da Prof. Dra. Marylu Alves de Oliveira, bem como “História e Repressão: fragmentos
de uma memória oculta em meios às tensões entre Igreja católica e o regime militar em
Teresina”, da Prof. Dra. Maria do Amparo Alves de Carvalho, que proporcionaram um
amplo panorama sobre o contexto a ser estudado, sendo de fundamental importância para a
92 História e Resistência
escolha do recorte campo-espaço-tempo, qual seja, a edição do jornal piauiense “O Dia”, de
02 de abril de 1964.Nessa senda, de posse da edição nº 1206, obtida junto aos arquivos do
Projeto Memória do Jornalismo Piauiense, coordenado pela Profª. Dra. Ana Maria Rego
(UFPI), buscou-se localizar o jornal no espaço-tempo, reconstruindo a sua trajetória até
aquele ano. Por conseguinte, verificou-se que o jornal “O Dia” fora (re)fundado no início da
década de 50, por iniciativa de Raimundo Leão Monteiro, circulando inicialmente às quintas
e domingos pela manhã, após sua produção, realizada no quintal da residência de seu
proprietário, na Rua Lisando Nogueira. (Re)Nascido em meio à ferrenhas disputas travadas
entre UDN e PSD, suas primeiras publicações apresentam-se como diretamente tendenciosas
à causa pessedista. Tinha como lema “Jornal ‘o Dia’: órgão independente, noticioso e
político”. Nos anos 60 fora vendido ao ex-deputado estadual pessedista (1947-1950/1951-
1954), Coronel Otávio Miranda, tendo adotado uma ‘suposta defesa da imparcialidade e na
apuração dos fatos’, buscando assim, identificar osaspectos nem sempre imediatos e
necessariamente patentes nas páginas do impresso (LUCA, 2008, p. 140). Por conseguinte,
os dados foram organizados tomando por base as práticas metodológicas delineadas por
Laurence Bardin (1979), por meio da análise de conteúdo, atentando-se aos três polos
cronológicos por ela firmados. Concluída a pré-análise, passou-se à exploração do material,
com a separação das páginas, seções e textos para a análise propriamente dita, em seguida,
aplicando-se o devido tratamento dos resultados obtidose interpretação. A capa da edição
em apreço anuncia em letras destacadas “Balanço da crise: Renúncias, deposições, vitórias
e alegrias”, na parte superior, e em letras garrafais, o destaque “Brasil a caminho da paz”.A
página inicial é composta da reprodução de textos de outros jornais, que noticiavam a
renúncia do Presidente João Goulart, com destaque ao apoio dos Governadores Ademar de
Barros (SP) e Carlos Lacerda (RJ), que teria adotado como argumento de convencimento a
fuzileiros navais, leais ao Presidente da República, que cercavam o Palácio da Guanabara
“não estamos lutando contra vocês, estamos combatendo o comunismo”. Consta uma Nota
à Imprensa emitida pelo Comandante da 10ª Região Militar (Ceará, Maranhão e Piauí),
afirmando solidariedade com as tropas da 3ª 4ª Região Militar, que se levantaramem defesa
das instituições democráticas e contra o solapamento do princípio da autoridade, da
hierarquia, da disciplina, da Lei e da Ordem, consignando apelo a todos que confiassem nas
Forças Armadas, que, uma vez mais, saberiam ser dignas de sua destinação histórica e
cumpririam, sem vacilações, o dever que lhes caberia naquela conjuntura. Noticiava-se a
prisão de Miguel Arraes, Governador de Pernambuco, que se opunha ao movimento
93 História e Resistência
levantado e enfatizava comemorações “Rio de Janeiro – Dezenas de automóveis estão
circulando pela cidade, tocando suas buzinas em sinal de alegria, pela vitória da democracia
no país. As estações de rádio e televisão que eram mantidas sob censura, reiniciaram suas
transmissões normais pouco depois das 17 horas. Os contingentes de Fuzileiros Navais que
ocupavam as redações de jornais e transmissões de estações de rádio, foram recolhidos aos
Quartéis, sob novos comandos.” e “Carnaval em Copacabana – A população de
Copacabana está saindo às ruas, em verdadeiro carnaval, aplaudindo as tropas do Exército.
Chuvas de papéis picados caem das janelas dos edifícios, enquanto o povo dá vasão nas
ruas ao seu contentamento pela vitória das forças democráticas”. Várias páginas foram
dedicadas a um discurso proferido pelo Deputado Federal pelo Espírito Santo, João de
Medeiros Calmon (PSD), em 20 de março de 1964, no Clube dos Diários, em agradecimento
à homenagem recebida pelas Classes Produtoras do Piauí. O Deputado foi um dos grandes
articuladores da queda do governo de Goulart, quando da articulação da Rede da Democracia
(1963), uma cadeia formada por mais de 100 emissoras que passaram a produzir diariamente
programas políticos em ataque à administração de João Goulart, tendo sido, em fevereiro de
1964 cotado a compor a chapa presidencial, como vice de Ademar de Barros, em eventual
eleição que deveria ocorrer em outubro de 1965. Seu discurso pode, hoje, ser observado
como um prenúncio à eclosão do movimento de tomada do poder, a ser implementado dias
depois. A análise de seu discurso carece de profundo estudo, que será objeto de análise
posterior, uma vez que se apresenta como importante fonte de pesquisa para conhecimento
e exploração dos movimentos conspiratórios implementadas em nível nacional,
especialmente com o apoio da grande mídia, o que já vem sendo trabalhado com bastante
afinco pela Profª Dra. Beatriz Kushnir. Nesse diapasão, verifica-se a presenta de um texto
intitulado Comunismo e a Revolução, escrito por Simplício de Sousa Mendes, figura notável
nos meios jurídicos e acadêmicos, que veio a ser chamado de “soldado da democracia”, pela
sua postura anticomunista sempre manifestada, a ser objeto de estudo próprio de igual forma.
Diversas notas consignavam que “A cidade ontem amanheceu tumultuada com as notícias
veiculadas através do rádio, de toda a parte. Nota-se geral expectativa e preocupação
mesmo à respeito dos acontecimentos futuros.[...]Tudo é expectativa, o povo se aglomera
nas esquinas e o assunto não é outro. Ninguém está tranquilo [...] Com Deus, pela liberdade,
haveremos de vencer.”Consigne-se ainda o destaque aposto na última página da edição,
“Teresina: Situação Calma e de Ordem”, em que registrou-se contraditoriamente ao tumulto
e expectativa registrada páginas antes, “[...]o teresinense amanheceu ontem, calmo e
94 História e Resistência
tranquilo, continuando seu ritmo de vida já tradicional e dado à quietude e serenidade[...]”,
assim como a fomentação de uma ideia de vigilância e prontidão, [...]desde ontem
encontram-se em rigorosa prontidão as tropas do Exército Brasileiro sediadas nesta capital,
bem como as tropas da Polícia Militar as quais juntamente com o Exército tomaram todas as
providências para assegurarem a ordem e a tranquilidade em todo estado.” Diante desses
pontos, constata-se que o jornalismo escrito enquadra-se comolugar de memória, sob a
perspectiva de Pierre Nora, uma vez que, nestes registros, é possível, sob as balizas tecidas
por Roger Chartier, apreender os germens das representações construídas na sociedade
piauiense, sobre a ditadura militar, especialmente no que tange à sua implementação,
fornecendo importantes subsídios para a compreensão das relações entre esquecimento e
permanência sobre esse período, no Piauí.
Palavras-chave: Ditadura Militar. Jornal O Dia. Memória. Representações.
REFERÊNCIAS:
BARDIN, Lawrence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1979.
CARVALHO, Maria do Amparo Alves de. História e Repressão: fragmentos de uma
memória oculta em meios às tensões entre Igreja católica e o regime militar em Teresina:
UFPI. Teresina, 2006. 229p. Dissertação de Mestrado.
CHARTIER, Roger.A História Cultural: entre práticas e representações. 7.ed. Rio de
Janeiro/ Lisboa: Bertrand Brasil / Difel, 1990.
HUYSSEN, Andreas. Seduzidos pela memória: arquitetura, monumentos, mídia. Rio:
Aeroplano, 2000.
LUCA, Tânia Regina.História dos nos e por meio dos periódicos in: PINSKY, Carla
Bassanezi (organizadora). Fontes Históricas. São Paulo: Contexto, 2005.
NORRA, Pierre. Entre memória e história: a problemática dos lugares. Tradução: Yara
AunKhoury. Proj. História. São Paulo, 10 dez 1993.
OLIVEIRA, Marylu Alves de. A Cruzada Antivermelha – Democracia, Deus e Terra contra
a força comunista: representações, apropriações e práticas anticomunistas no Piauí da
década de 1960. UFPI. Teresina, 2008. 258p. Dissertação de Mestrado.
95 História e Resistência
CENAS DO VIVER: SECA E ASSISTENCIALISMO NO PIAUÍ (1877-
1879)28
Kércia Andressa Vitoriano Gonçalves (Discente do Programa ICV/UFPI/CSHNB)
Maria Gabriela Caroline Leal (Discente do Programa PIBIC/UFPI/CSHNB)
Victória Régia dos Santos Lima (Discente do Programa ICV/UFPI/CSHNB)
1. INTRODUÇÃO
O presente trabalho está fundamentado no assistencialismo prestado pelo governo
provincial durante a seca de 1877-79 no Piauí, período que em muitos aspectos alterou a
relação campo-cidade. O papel dos setores políticos nesse período foi essencial, pois foi a
partir deles que se deram, inicialmente, os atos que buscavam amenizar os flagelos sociais
trazidos pela seca, retirando a discussão do âmbito regional para transformá-la em uma
problemática nacional, essencialmente por conta da grande repercussão que o fenômeno
tomou através da publicidade na imprensa. Nesse contexto, chamamos a atenção para os
sujeitos resultantes desse processo, os retirantes, personagem central na nossa discussão.
Dessa forma, o foco da nossa pesquisa está sendo a presença de migrantes no Piauí durante
a seca nas décadas supracitadas, problematizando as ações das Comissões de Socorros com
foco nas relações arbitrárias que aconteciam entre os migrantes e contratantes.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Os indivíduos que mais sofriam e eram afetados pelas estiagens nos períodos de seca,
durante o século XIX, foram os menos favorecidos economicamente, que levados por
processos migratórios se deparavam com conflitos de realidades diferentes. Dada a realidade
climática e econômica dos campos, os retirantes dentro da perspectiva e do imaginário dos
centros administrativos e de poder, passaram a identificar a cidade como local de assistência
aos pobres flagelados.
28 Este resumo faz parte das atividades que estamos realizando, enquanto partícipes na categoria de bolsista e
ICV, no projeto de pesquisa intitulado: “Trabalho, pobreza e caridade: as ações das comissões de socorros aos
desvalidos da seca no Piauí (1877-1879) ”. O referido projeto está cadastrado no Programa Institucional de
Bolsas de Iniciação Científica – PIBIC/ICV/PROPESQi e é Coordenado e Orientado pelo Francisco Gleison
da Costa Monteiro, Doutor em História pela UFPE e Professor Adjunto da Universidade Federal do
Piauí/Campus Senador Helvídio Nunes Nunes de Barro.
96 História e Resistência
Posto isso, Marta Emisia Jacinto Barbosa (2002) foi utilizada visando compreender
como as narrativas sobre a seca foram sendo construídas, e como é de fundamental
importância problematizar as narrativas criadas em torno ela. Todas essas narrativas
contribuíram para se desenhar uma imagem da região Nordeste pobre, dando a ele um local
de inferioridade. A ideia defendida por Barbosa, é que a ideia de inferioridade da população
do Nordeste se dá tanto pela ausência de problematizações, bem como pelo uso habitual das
informações para justificar os estudos sobre a seca.
“Enxadas e compassos: seca, ciência e trabalho no sertão cearense (1915- 1919) ”, é
um estudo sobre as questões de política e atuação de uma comissão criada para combater a
calamidade da seca no Ceará, além de apresentar a proporção que a seca de 1877 tomou e o
porquê de ela ter atraído a preocupação dos homens letrados e dos poderes públicos. Foi só
a partir da metade do século XIX que a seca passou a ser encarrada como uma problemática
do império, tornando-se uma das principais pautas a respeito do Norte, ocasionando uma
efetiva ação governamental, dado o contexto de mudanças nas relações existentes no campo,
onde a população atingida pela seca saia dos seus locais de origem em busca de melhores
condições nos centros urbanos. A seca passou a ser vista e tratada não apenas como um
problema climático que assolava uma determinada região do país, mas como um fenômeno
social, os olhares preocupados, principalmente da elite, saíram do campo da natureza, dos
efeitos negativos da estiagem sobre os campos, para uma visão preocupada sobre os
problemas sociais que a seca causava.
“Proletários das secas: arranjos e desarranjos nas fronteiras do trabalho (1877-
1919) ”, foi a base para o entendimento da nova relação que a seca trouxe entre os sertanejos
e a estiagem. A seca de 1877 trouxe uma nova maneira de se relacionar com a estiagem, esse
período passou a ser marcado pela migração, onde milhares de pessoas saiam do campo para
as cidades em busca de socorro. Dessa forma, prestar assistência aos migrantes tornou-se
não tanto um gesto de caridade, mas principalmente uma medida de controle. Essa medida
também servia como solução para um problema que preocupava a elite, a “fuga dos braços”,
onde milhares de retirantes migravam para regiões mais distantes o que causava uma
preocupação na elite por conta da possível falta de mão de obra quando a chuva voltasse.
“Cortejo de miséria: seca, assistência e mortalidade infantil na segunda metade do
século XIX no Ceará”, foi necessário para o entendimento de como o governo compreendeu
a pobreza, a caridade, a assistências dirigidas aos migrantes, demonstrando também a alta
taxa de mortalidade humana, dando destaque a mortalidade infantil causada pelos infortúnios
97 História e Resistência
da seca. A seca nesse momento passa a ser uma questão social atingindo campo e cidade, de
forma que as classes menos favorecidas eram as que mais sofriam.
Maria Mafalda Baldoino de Araújo traz um olhar sobre a seca, a partir de fatores
sócio- econômicos e políticos, analisando a relação do poder político com a seca de 1877-
1879 no Piauí. Trabalha uma abordagem pautada na estrutura econômica do Piauí no intuito
de localizar o Piauí no contexto nacional.
3. METODOLOGIA
Para analisar o período da seca durante o século XIX no Piauí, foram utilizadas fontes
que retratavam o assunto, como as cartas das Comissões de Socorros Públicos, jornais da
época, teses e livros de outros pesquisadores referentes a temática. Para atingir o objetivo
proposto, fez-se necessário a digitalização, transcrição, revisão e problematização desses
manuscritos, mapeando os sujeitos que as escreveram e os seus principais escritos a rogos.
4. DISCUSSÃO E RESULTADOS
A partir das discussões traçadas podemos perceber a problemática da seca para além
de um fenômeno climático, mas principalmente social. Os manuscritos e jornais utilizados
nos deram uma visão de como eram vistos os migrantes, as ações assistencialistas, bem como
a dualidade presente nesses atos de caridade. De posse dessa documentação também está
sendo possível questionar: como esses eram percebidos pelas elites? Quais ajudas foram
direcionadas a essa população? Quais assistências foram prestadas pelos governos? Quais
assistências foram reivindicadas pelos migrantes? Quais foram os meios de controle e
disciplina arquitetado pelos presidentes provinciais? Desse modo, tem-se a inquietação de
entender, com base em fontes, as ações estratégicas que foram travadas pelas autoridades
para coibir a presença dos migrantes na província.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com o manuseio das fontes, podemos apontar que os retirantes, personagens de
grande destaque durante esse período, foram os responsáveis por alterar significativamente
as relações estabelecidas nas cidades. As obras públicas surgiram como medida de impedir
a saída destes retirantes que fugiam dos flagelos da seca para os centros urbanos. Os meios
98 História e Resistência
criados pelo governo central, implantado pelo governo provincial, colaborou no aumento do
poderio local, sobretudo decorrente da política que se tinha no Piauí. Uma política baseada
na barganha de poderosos, legitimando o poder dos grandes proprietários de terras, e
principalmente ampliando o coronelismo.
Palavras-chaves: Assistencialismo. Seca. Retirantes. Comissão de Socorros.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
ARAÚJO, Maria Mafalda Baldoino de. Cotidiano e pobreza: a magia da sobrevivência em
Teresina: (1877-1914). Editor: Fundação Cultural Monsenhor Chaves. Teresina. 1995
BARBOSA, Marta Emisia Jacinto. Imprensa e Fotografia: imagens de pobreza no Ceará
entre o final do século XIX e início do século XX. Proj. História, São Paulo. 2002.
CÂNDIDO, Tyrone Apollo Pontes, Proletários das secas: Arranjos e desarranjos nas
fronteiras do trabalho (1877-1919), Tese (doutorado) – Universidade Federal do Ceará,
Centro de Humanidades, Departamento de História, Programa de Pós-Graduação em
História Social, Fortaleza, 2014. Área de Concentração: História social.
FERREIRA, Lara Vanessa de Castro. Enxadas e Compassos: seca, ciência e trabalho no
sertão cearense (1915- 1919), Salvador, 2009.
GADELHA, Georgina da Silva, LIMA, Zilda Maria Menezes, Cortejo de Miséria: seca,
assistência e mortalidade infantil na segunda metade do século XIX no Ceará. História e
Cultura, Franca, v. 6, n. 2, p.101-118, ago-nov. 2017.
99 História e Resistência
CONFLITOS E DISPUTAS POLÍTICAS NA SANTA CASA DE
MISERICÓRDIA DE PARNAÍBA
Aleisa de Sousa Carvalho Rocha (UFPI)
Francisco Gleison da Costa Monteiro (ORIENTADOR, UFPI)
Resumo: A Santa Casa de Misericórdia de Parnaíba, no estado do Piauí, foi fundada e
administrada nos primeiros anos de sua fundação por um conjunto de sujeitos que pertenciam
a elite da época, eram comerciantes, fazendeiros, políticos e coronéis da cidade. Nesse
aspecto a Santa Casa de Misericórdia de Parnaíba diferenciou-se de várias outras
Misericórdias, que tinham como característica a presença de religiosos dentro do seu quadro
administrativo. Busca-se com esse trabalho analisar as relações conflituosas entre os
“irmãos” que compunham a mesa administrativa e regiam a Instituição e as disputas para
admissão de novos sócios, já que o Estatuto, apesar de ser elaborado para funcionar como
um regulamento de práticas e consolidar um regime de verdade – estabelecendo que qualquer
pessoa poderia fazer parte do quadro de irmãos –, mas no cotidiano estavam presentes na
Instituição apenas pessoas da sociedade que possuíam poder aquisitivo elevado e que
objetivavam elevar mais ainda seus status por meio de títulos e do prestígio que era
concedido por fazer parte da Santa Casa, além de buscarem barganhar cargos políticos de
projeção na cidade. Na esteira dos postulados de Michel Foucault, as Instituições são lugares
de poder que autorizam ou interditam falas e ações, funcionando como um dispositivo de
controle social. Essa chave de leitura nos guia para a reflexão em torno da Santa Casa para
além dos seus fins estatutários, através da leitura crítica da empiria: sobretudo o Estatuto e
as Atas de Sessões da Mesa Administrativa. Os referenciais teóricos-metodológicos centrais
são: Michel Foucault e a noção de dispositivo de Giorgio Agamben.
Palavras-chave: Santa Casa de Misericórdia. Política. Poder. Instituições.
1. INTRODUÇÃO
O trabalho aqui apresentado é resultado das pesquisas desenvolvidas ainda na
graduação para o desenvolvimento do Trabalho de conclusão de Curso (TCC), quando ainda
era integrante da Iniciação Científica Voluntária (ICV). Foi frente a esse contexto que os
primeiros contatos com as leituras referentes às Santas Casas foram sendo realizadas, assim
como a análise documental.
A partir de um objetivo geral, que foi analisar por meio do cotidiano da Santa Casa
de Misericórdia de Parnaíba, qual o seu papel no inicio do século XX e como os sujeitos
desta instituição prestavam assistência aos moradores de Parnaíba e demais regiões, através
do Hospital que a irmandade administrava, percebemos o poder discursivo e político da
Instituição, no que tange ao atendimento médico-hospitalar, na seleção daqueles sujeitos que
poderiam ser atendidos e também na própria administração da Santa Casa.
100 História e Resistência
É nesse último ponto que esse trabalho está centrado, entender as relações
conflituosas dentro da Santa Casa de Misericórdia, os jogos políticos e interesses em fazer
parte da Instituição e manter uma posição de destaque na mesa administrativa, estando
sempre á frente da organização da Santa Casa.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Partindo do pressuposto que a Santa Casa de Misericórdia é uma instituição de poder,
cercada por um discurso de verdade, buscamos dialogar com teóricos que nos deu arcabouço
para pensar tais questões, como Michel Foucault. Para além de todas essas questões já
abordadas, Foucault nos permite pensar o hospital da Santa Casa como lugar de cura e não
apenas como lugar para esperar a morte, o nascimento do hospital, é compreendido, como
um meio de disciplinar a doença e de intervenção médica, de medicalização, para isso, o
hospital deve estar localizado no meio urbano e adequado nas questões sanitárias.
Busca-se perceber como o discurso de verdade e cientificidade transforma a Santa
Casa numa instituição de poder, capaz de fazer até mesmo seleções dos pacientes, aceitando
apenas aqueles que achavam que necessitavam, ou usando do poder que instituição detinha,
de conceder serviços para outros sujeitos que não necessariamente se enquadravam dentro
dos conceitos de pobreza.
Cada sociedade tem seu regime de verdade, sua “política geral” de verdade:
isto é, os tipos de discurso que ela acolhe e faz funcionar como verdadeiros;
os mecanismos e as instâncias que permitem distinguir os enunciados eu
verdadeiros dos falsos, a maneira como se sanciona uns e outros; as
técnicas e os procedimentos que são valorizados para obtenção da verdade;
o estatuto daqueles que têm o encargo de dizer o que funciona como
verdadeiro. (FOUCAULT, 2015.p.52)
As Instituições são lugares de poder que autorizam ou interditam falas e ações,
funcionando como um dispositivo de controle social. A noção de dispositivo é fundamentada
nos postulados de Girgio Agambem, compreendendo que este a Santa casa é um dispositivo
de controle, bem como os sujeitos no qual estão inseridos na instituição, onde interceptam
quando acham necessário, estabelecem normas, regras, discursos legitimadores.
3. METODOLOGIA
101 História e Resistência
Como aporte metodológico, a pesquisa tem como fontes principais as Atas da Santa
Casa de Misericórdia e os relatórios dos governadores do estado, bem como a análise do
Estatuto Santa Casa de Parnaíba.
Esses documentos nos proporcionaram entender a dinâmica da instituição para a
realização da prática assistencialista, por meio do Hospital que a “irmandade” administrava.
Além disso, como nos mostra Isabel dos Guimarães Sá, essas fontes nos possibilitam
perceber o caráter singular das Misericórdias, “uma vez que nem todas as fontes são as
mesmas, nem as Misericórdias são iguais em toda a parte, nem os seus autores obedecem a
objetivos semelhantes. (SÁ, 2001,p.14). Assim, cada trabalho adota um modelo, um jeito
específico, diversificando a historiografia das Santas Casas.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Em 1896, surge em Parnaíba a Santa Casa de Misericórdia, resultado de
idealizações de vários políticos, coronéis e de outros sujeitos que pertenciam ao grupo
elitizado da época, mas por iniciativa de Manoel Fernandes de Sá Antunes, Juiz Federal
daquele período. Respaldaram-se na ideia que poderiam com a Santa Casa minimizar as
mazelas que impediam a manutenção de um espaço limpo e higienizado, bem como dar
assistência aos pobres doentes, por meio do hospital que o grupo de “irmãos” administrava.
Apesar do Estatuto firmar que qualquer pessoa pudesse fazer parte do quadro de
irmãos, na prática, uma gama de comerciantes, fazendeiros, políticos, juristas, coronéis,
entre outros representantes da elite local eram quem assumiam o quadro de irmãos da Santa
Casa de Parnaíba. Leila Alves Rocha (2005), nos mostra que esse fenômeno não era
exclusivo de Parnaíba, pois também aconteceu na Santa Casa de Campinas, já que ali
participavam também grandes nomes do período colonial.
Entre os irmãos estavam os mais eloquentes cidadãos da sociedade
colonial, assegurando à misericórdia uma posição social proeminente.
Consequentemente, a participação na Mesa administrativa era
intensamente disputada. Exigências ainda mais severas eram feitas para a
ocupação do cargo mais importante da Mesa Administrativa da irmandade:
a Provedoria. (ROCHA, 2005, p.29).
Além de tudo isso, para ser sócio da Santa Casa de Parnaíba seria necessário,
conforme o Estatuto “gozar do conceito público”, ou seja, ser uma pessoa bem influente na
102 História e Resistência
sociedade e que segue os padrões estabelecidos pela mesma. Mais uma vez, notamos o
caráter elitista da instituição, pois os sócios deveriam ter condições de pagar as taxas de sócio
e ainda realizar doações para a instituição, esses critérios não eram atendidos pela maioria
da população.
Na Santa Casa de Misericórdia de Parnaíba, cabia ao provedor, conforme designado
no artigo 33 do Estatuto ser o principal representante da instituição perante a sociedade, por
isso a grande disputa pelo cargo, pois ser reconhecido como representante de uma instituição
como a Santa Casa de Misericórdia era fator preponderante para obter prestígio da sociedade.
Participar como membro da Santa Casa, era abrir portas para vários outros interesses,
principalmente econômicos e políticos.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Santa Casa de Misericórdia de Parnaíba foi uma das primeiras Instituições de
assistência da Cidade e nesse período adquiriu notoriedade e respeito frente ao contexto
parnaibano da virada do século XIX para o século XX.
A elite ocupava os cargos principais da Instituição, e eram oriundas principalmente
das esferas políticas e econômicas. Esse fator foi preponderante para escolha dos membros
da Santa Casa e para escolha dos cargos. Percebe-se que almejavam prestígio social, e que
para isso faziam uso da notoriedade adquirida pela Santa Casa para barganhar melhores
participações políticas e econômicas no Piauí.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AGAMBEN, Giogio. O que é dispositivo? In: O que é Contemporâneo? e outros ensaios.
Chapecó, SC: Argos,2009
FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder – Organização, Introdução e Revisão de
Roberto Machado. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2015.
FOUCAULT, Michel. O nascimento da Clínica- 7 ed. Rio de Janeiro, Forense Universitária,
2014.
MELO, Mariana Ferreira. Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro: assistencialismo,
sociabilidade e poder (1780-1822). [Dissertação de Mestrado]. Rio de Janeiro: Pontifícia
Universidade Católica, 1997.
ROCHA, Leila Alves. Caridade e poder: a irmandade da Santa Casa de Misericórdia de
Campinas (1871- 1889). Campinas: [Dissertação de Mestrado], 2005.
SÁ, Isabel dos Guimarães. As Misericórdias Portuguesas de D. Manuel I a Pombal. Lisboa
:Livros Horizonte, 2001.
103 História e Resistência
TOMASCHEWSKI, Cláudia. Caridade e filantropia na distribuição da assistência: a
Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Pelotas - RS (1847-1922). – Porto Alegre:
Dissertação.
104 História e Resistência
DA LUTA À CONQUISTA: A IMPLANTAÇÃO DO CONSELHO
MUNICIPAL EM DEFESA DOS DIREITOS DAS MULHERES NA
CIDADE DE OEIRAS (2011-2013)
Prof. Mnd. Valderlany Mendes Dantas – UFPI
Prof. Dr. Francisco, de Assis de Sousa Nascimento - UFPI
Resumo: O presente trabalho buscou analisar o processo de implantação do Conselho
Municipal em Defesa dos Direitos das Mulheres (CMDDM) na cidade de Oeiras, no período
de 2011 a 2013. O objetivo central desse estudo foi compreender a trajetória de lutas
feministas pela conquista de políticas públicas voltadas para as mulheres, especialmente a
luta em prol da criação do CMDDM, com o intuito de perceber a importância e os desafios
para a criação de políticas públicas destinadas ao empoderamento feminino, a liberdade e a
vida das mulheres. Os pressupostos metodológicos adotados na pesquisa foram as seguintes
etapas: a primeira foi a análise de documentos oficiais, tais como o II Plano de Políticas
Pública para as Mulheres lançado no ano de 2013, e a Lei 1.729/11. A segunda etapa
consistiu na análise da entrevista com a Presidenta do CMDDM, a Assistente Social Maria
Reijane Barbosa, esta etapa, utilizou-se do método da História Oral.
Palavras-Chave: Relações de gênero. Empoderamento feminino. Oeiras.
1. INTRODUÇÃO
O presente trabalho buscou analisar o processo de implantação do Conselho
Municipal em Defesa dos Direitos das Mulheres (CMDDM) na cidade de Oeiras, no período
de 2011 a 2013. O recorde temporal da pesquisa parte do ano 2011, sendo esta, a data de
aprovação da Lei 1.729/11, que estabelece a criação do Conselho Municipal em Defesa dos
Direitos das Mulheres na cidade de Oeiras. O corte cronológico se estende até o ano de 2013,
momento em que de fato, o CMDDM passa a funcionar efetivamente no município. O
recorte espacial deste trabalho é Oeiras, uma pequena cidade do Sertão piauiense, localizada
mais precisamente no centro/sul do Estado.
O CMDDM é popularmente conhecido na cidade de Oeiras como Conselho da
Mulher, sendo um órgão público municipal responsável por auxiliar no desenvolvimento de
políticas públicas voltadas para a promoção da igualdade de direitos entre os gêneros, bem
como o combate a violência contra as mulheres, empoderamento feminino, dentre outros
aspectos que serão abordados mais adiante. Assim como inúmeras políticas públicas
destinadas as mulheres, a implantação do CMDDM, também é fruto da luta de grupos
feministas e órgãos governamentais, que se organizaram em prol de sua criação.
105 História e Resistência
Para além de sua significativa importância na vida das mulheres oeirenses, o
processo de implantação do CMDDM mostra o quão desafiadoras são as lutas enfrentadas
pelas feministas para a criação de políticas públicas destinadas as mulheres. É importante
salientar que a criação de políticas públicas focadas para igualdade entre homens e mulheres
é algo recente, até pouco tempo atrás, era negado às mulheres direitos sociais como
educação, trabalho remunerado, sufrágio, direito ao corpo e a vida. As brasileiras apenas
começaram adquirir os direitos citados, quando diferentes grupos de mulheres passaram a
reivindicar por eles, e não foi uma luta fácil, e muito menos do dia para a noite, os direitos
femininos foram sendo conquistados paulatinamente, especificamente a partir do início do
século XX. Segundo a Lynn Hunt “As mulheres não obtiveram direitos políticos iguais em
nenhum lugar antes do século XX.” (HUNT, 2012, p. 67)
2. REFERENCIAL TEÓRICO
O objetivo central desse estudo foi compreender a trajetória de lutas pela
conquista de políticas públicas para as mulheres, especialmente a luta em prol da criação do
Conselho Municipal em Defesa dos Direitos das Mulheres, com o intuito de perceber a
importância e os desafios para a implantação de políticas públicas para as mulheres. E, para
tanto, alguns autores e autoras foram fundamentais para a escrita deste Trabalho, a grande
maioria deles são historiadores(as), tais como Lana Lage(2012); Raquel Soihet (2012);
Regina Pinto(2003); Ana Alice Costa (2017); Solange Bentes Jurema (2017); Márcia Tiburi
(2018); Naiara Andreoli Bittencourt (2015). Vera Soares (1994); Lynn Hunt (2012)
3. METODOLOGIA
Os pressupostos metodológicos adotados na pesquisa foram as seguintes etapas:
a primeira foi a análise de documentos oficiais, tais como o II Plano de Políticas Pública
para as Mulheres lançado no ano de 2013, bem como a Lei 1.729/11. E a segunda etapa
consiste na análise da entrevista com a Presidenta do CMDDM, a Assistente Social Maria
Reijane Barbosa, esta etapa, utilizou-se do método da História Oral.
Para Verena Alberti a História Oral é uma metodologia de pesquisa, responsável
pela constituição de fontes que colabora para o estudo da história do tempo presente ou
contemporânea, principalmente para o estudo da história das “minorias”, que não dispõe de
106 História e Resistência
um número significativo de fontes escritas, visto que os historiadores tradicionais não se
preocuparam em escrever sobre as histórias dos sujeitos subalternos. O emprego da história
oral é realizado, por intermédio da utilização de um gravador portátil, usado nas entrevistas
com os sujeitos que participaram ou testemunharam acontecimentos, relacionados com o
objeto de pesquisa, do qual o pesquisador estuda. O gravador de voz foi uma ferramenta
bastante utilizada ao longo da pesquisa, através de aplicativo presente nos celulares.
(ALBERTI, 2005)
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Cabe, enfim, considerar que a luta feminina tornou possível o espaço público
para as mulheres, assim como tantos direitos sociais, políticos e individuais negado as
mulheres por séculos, em detrimento do exercício do poder pelas classes dominantes,
poderes mantidos graças a um aparato de valores sociais, que condiciona as mulheres ao
espaço doméstico e os homens o espaço público, que priva as mulheres de sua própria
liberdade. É importante pensar nas feministas enquanto sujeitos diversos no espaço e no
tempo em que estão inseridos, isso porque os movimentos feministas são múltiplos. Ademais
as feministas conquistaram direitos por meio de lutas que desafiaram toda uma ordem
vigente, em nome da liberdade, da vida feminina, mas existe ainda muito o que fazer, o que
lutar para que nós mulheres tenhamos o direito a uma liberdade plena, sem restrições.
Como podemos perceber o Conselho Municipal em Defesa dos Direitos das
Mulheres na cidade de Oeiras, emergiu em meio a luta, não foi uma criação espontânea,
natural, mas fruto de lutas feministas e de órgãos governamentais. A luta em prol da criação
do CMDDM, demonstra a importância dos movimentos feministas para a vida das mulheres,
estando presente em todos os espaços, até mesmo em pequenas cidades do Sertão
Nordestino, como Oeiras.
5. RERERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALBERTI, Verena. Fontes Orais. História dentro da História. IN: PINSKY, Carla Bassanezi,
(org.). Fontes Orais. São Paulo: Contextos, 2005, p. 155-202.
LAGE, Lana; NADER, Maria Beatriz. Da legitimação à condenação social. In: PEDRO,
Juana Maria (Org.). Nova História das mulheres. São Paulo: Ed. Contexto, 2012.
BITTENCOURT, Naiara Andreoli. Movimentos feministas. Revista InSURgência.
Brasília, ano 1, v.1, n.1, p. 198-210, jan./jun. 2015. Disponível em:
107 História e Resistência
hhttp://periodicos.unb.br/index.php/insurgencia/article/viewFile/16758/11894> Acesso em:
07 set. 2018.
COSTA, Ana Alice. Gênero, poder e empoderamento das mulheres. Disponível em:
> <https://pactoglobalcreapr.files.wordpress.com/2012/02/5-empoderamento-ana-alice.pdf
>> Acesso em 24 de abril de 2017.
HUNT, Lynn. A invenção dos direitos humanos: uma história. Curitiba, PR: A Página, 2012.
JUREMA, Solange Bentes. Ações e estratégias do CNDM para o “empoderamento”
das mulheres. Disponível em:<https://periodicos.ufsc.br/index.php/ref/article/view/S0104-
026X2001000100011/8903>. Acesso em: 25 abr. 2017.
PINTO, Céli Regina Jardim. Uma história do feminismo no Brasil. São Paulo: Fundação
Perseu Abramo, 2003.
1. SOIBET, Raquel. Mulheres pobres violência no Brasil urbano. IN: DEL PRIORE, Mary;
BASSANESI, Carlos. História das mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto, 2007. p.
362- 400.
2. TIBUTI, Márcia. Feminismo em comum: para todas, todes e todos. -7. ed.- Rio de
Janeiro: Rosa dos Tempos, 2018.
108 História e Resistência
DA MARGEM À SUPERFÍCIE: A HISTÓRIA DE UM SUBLITERATO
Jardiane Lucena Nascimento (mestranda/UFPI)
3. INTRODUÇÃO:
A relação entre História e Literatura é um dos objetivos deste artigo. Mostramos aqui
nuances, aproximações e distanciamentos entre essas duas e a receptividade da Literatura
dentro do campo historiográfico, bem como aproximação das duas na visão dos
historiadores. Essa relação será praticada com a história de um subliterato – Cineas Santos29
- que queria adentrar espaços institucionalizados em Teresina, na década de 1970, onde há
uma grande manifestação e produção cultural por parte dos jovens que desejavam romper
com a cultura dominante. Essas manifestações em torno do teatro, da música, dos
comportamentos e através da produção de jornais alternativos, filmes experimentais e
literatura. Os jovens autores dessas manifestações e produções, mesmo localizados em um
mesmo segmento da juventude teresinense, por desejarem “fazer cultura” na cidade,
apresentavam pensamentos divergentes e por isso sua maneira de entender e fazer cultura se
contrapunha.
4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA:
O presente trabalho fundamenta-se em teóricos como Certeau (1998), White (2001),
Chartier (2002), Ginzburg (2007) e Albuquerque Júnior (2007) para falar da relação entre
História e Literatura, destacando o pensamento desses autores nessa relação. Para falar de
juventude e de geração utilizamos Castelo Branco (2004) e Sirinelli (2005). Fizemos uso da
história oral com a entrevista temática, na perspectiva de Thompson (1992) para perceber
como um subliterato ganha espaço no meio cultural institucionalizado teresinense,
29 Cineas das Chagas Santos nasceu em Campo Formoso, município de Caracol, sertão do Piauí, em 20 de
setembro de 1948, filho de Liberato Francisco dos Santos e Porcina Maria das Chagas Santos. Poeta, cronista,
intelectual, professor, agente cultural, advogado, editor e livreiro brasileiro. Proprietário da Livraria e Editora
Corisco e da Oficina da Palavra. Cineas Santos integra o Conselho Estadual de Cultura. Sócio da UBE/PI.
Colaborador dos principais jornais e revistas de Teresina. Possui algumas obras publicadas. Ver:
GONÇALVES, Wilson Carvalho. Dicionário Enciclopédico Piauiense Ilustrado. p. 356. Na época era
produtor de jornal alternativo, participante e criador de grupo teatral e de banda de música, mas que também
escreveu para jornais oficiais e que acabou ocupando mais tarde cargos em lugares institucionalizados.
109 História e Resistência
percorremos o caminho do entrevistado na vida literária, começando de sua chegada à
capital.
5. METODOLOGIA:
Utilizamos teóricos que versam sobre a relação entre História e Literatura. Através
do relato de Cineas Santos mostramos a vontade de “fazer de cultura” desse, que as vezes,
aparecia patrocinado pelo governo, sendo por isso criticado pelos demais jovens que faziam
arte na capital, bem como sua participação em jornais oficiais, lugares institucionalizados.
Foram utilizados os suplementos O Estado Interessante (1972) e A Hora Fa-tal (1972)
DISCUSSÃO E RESULTADOS:
A trajetória desse subliterato como escritor de jornais ganha força dentro da
Faculdade de Direito do Piauí, em 1970, com a edição do jornal alternativo “Cartucho”,
ele o situa como marco importante para sua carreira de jornalista, pois a partir daí é
chamado para escrever para jornais oficiais:
Esse jornal deve ter durado 5 números ou mais, dentro da Faculdade de
Direito do Piauí, não era um jornal oficial, não era um jornal do diretório,
era um jornal alternativo. Então, a partir daí, dessa experiência nesse
jornal - jornal era todo editado por nós, no começo era mimeografado
depois ele passou a ser impresso mesmo numa oficina tipográfica, durou
pouco tempo, [...] bom, a partir daí, comecei a escrever para o Jornal “O
Estado” publicando crônicas [...]30
Podemos perceber também que a cidade era habitada por diferentes segmentos da
juventude, apesar de no sentido biológico eles pertencerem a uma mesma geração,
culturalmente não é o que se vivenciava. Enquanto os jovens que produziam jornais
alternativos como Gramma, O Estado Interessante e A Hora Fa-tal identificavam-se mais
com os movimentos underground e espelhavam-se em jornais como O Pasquim, Cineas
Santos, por sua vez, identificava-se com os espaços institucionalizados, como jornais oficiais
30 SANTOS, Cineas. Entrevista concedida à Jardiane Lucena Nascimento. Teresina: 21/11/2018.
110 História e Resistência
e projetos desenvolvidos ou financiados pelo governo. O conflito entre esses dois segmentos
da juventude teresinense é evidenciado no suplemento A Hora Fa-tal, quando se dirige ao
projeto cultural de Cineas Santos, de forma pejorativa, além de criticar a forma de ver e fazer
cultura desse:
ALÔ Cinéias com seu projeto cultural tudo vai bem na frente ocidental? Eu
é quem não tá muito aí não. Esse negócio de cultura, pra mim, fede a
esgoto. Eu gosto é de fazer coreto. Eu boto é pra jambrar. Você disse que
eu sou poeta chicletes com banana. Disseste-o bem. Falou. (OLIVEIRA,
Edmar. in: A Hora Fa-tal, 1972)
Os modos de fazer cultura de Cineas é criticado por não se dissociar das formas já
existentes, não havendo uma ruptura com a cultura e pensamentos dominantes que era o
objetivo dos demais jovens que ingressaram na arte alternativa, seu modo de enxergar
cultura, nesse sentido era visto pelos demais jovens que participavam da feitura dessas artes
como uma permanência e continuidade ao que já estava estabelecido pelas instituições.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Devemos entender que os eventos históricos são parecidos com os literários, como
afirmou White, divergindo-se apenas porque os históricos realmente aconteceram e os
literários podem ter acontecido ou não. A parte que compete o historiador assim como o
literato é tornar a sua narrativa crível, inteligível para que seus leitores o compreendam e
seja convencido. Os fatos nunca falaram por si só, o historiador é seu mediador, e aí entra
a subjetividade e o sentido desse, a linguagem não é apenas um meio que refletirá tal qual
aconteceram os fatos, desde as palavras escolhidas até o sentido mudam e interferem
bastante na construção do acontecimento na hora da narração, bem como no trabalho de
inventar do literato. Assim seus ofícios assemelham- se nesse sentido. No que diz respeito
a segunda parte do trabalho, percebemos que diferentes segmentos da juventude habitavam
Teresina, e entendiam cultura de forma diferente, bem como seus objetivos eram outros.
Enquanto jovens como Edmar Oliveira, Durvalino Couto não se importam muito com lucrar
com as suas produções, mas de chamar a atenção de mais jovens para a quebra da cultura
dominante, Cineas por outro lado, esperava pelo menos com a produção do jornal “Chapada
do Corisco”, a edição de livros alternativos, ganhar algum dinheiro, e não se importava de
rotular sua cultura.
111 História e Resistência
Palavras-Chave: Literatura. Cineas Santos. Cultura. História Oral.
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz de. História: a arte de inventar o passado.
Ensaios de Teoria da História. Bauru, Edusc, 2007.
BRANCO, Edwar Alencar Castelo. Todos os dias e Paupéria: Torquato Neto e uma
contra-história da Tropicália. Recife: UFPE, 2004.
CERTEAU, Michel de. A Escrita da História. Rio de Janeiro: Forense-Universitária,
1982.
CERTEAU, Michel. A invenção do Cotidiano: Artes de fazer. 13ª ed. Petrópolis, RJ:
Vozes,1990.
CHARTIER, Roger. À Beira da Falésia: A história entre incertezas e inquietude. Porto
Alegre: Ed. Universidade/UFRGS, 2002.
DARNTON, Robert. Boêmia Literária e Revolução: o submundo das letras no Antigo
Regime. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.
GINZBURG, Carlo. O fio e os rastros: verdadeiro, falso, fictício. Companhia das
Letras: São Paulo, 2007.
STUART, Hall. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução: SILVA,
Tomaz Tadeu; LOURO, Guacira Lopes. 11 ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2006.
SIRINELLI, Jean- François. A geração. In: AMADO, Janaina; FERREIRA, Marieta de
Moraes (Coord.). Usos & abusos da história oral. 6. Ed. São Paulo: FGV, 2005, 131- 137.
THOMPSON, Paul. A voz do passado: história oral. Tradução: Lólio Lourenço de
Oliveira. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.
WHITE, Hayden. Trópicos do Discurso: Ensaios sobre a crítica da cultura. 2ª. ed. São
Paulo: EDUSP, 2001.
JORNAIS:
OLIVEIRA, Edmar. O verbo engravatado. O Estado Interessante: Teresina, 16 de
abril de 1972.
O Estado Interessante: O verbo engravatado. Teresina, 16 de abril de 1972.
ENTREVISTA:
SANTOS, Cineas. Entrevista concedida a Jardiane Lucena Nascimento. Teresina:
21/11/201
112 História e Resistência
DESLOCAMENTOS HUMANOS E CONFLITOS NO LITORAL DO
PIAUÍ: A SECA DE 1888/1889 E SEUS EFEITOS SOBRE A VILA DE
AMARRAÇÃO
Marcus Pierre de Carvalho Baptista
Mestre em História do Brasil pela Universidade Federal do Piauí (UFPI).
E-mail: <[email protected]>.
Francisco de Assis de Sousa Nascimento
Doutor em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e docente do Curso de
Licenciatura Plena em História da Universidade Federal do Piauí (UFPI).
E-mail: <[email protected]>.
Elisabeth Mary de Carvalho Baptista
Doutora em Geografia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e docente do
curso de Licenciatura Plena em Geografia da Universidade Estadual do Piauí (UESPI).
E-mail: <[email protected]>.
1. INTRODUÇÃO
No litoral do Piauí, Amarração, se constitui em uma, dentre as muitas localidades
piauienses afetadas pelo flagelo da seca que nesta vila teve lugar nos anos de 1888 e 1889,
conformando mudanças gradativas em sua paisagem a medida em o que o fenômeno ia se
introduzindo e se desenvolvendo nesta.
Esta condição nas províncias do norte do Brasil, particularmente no Piauí, no final
do século XIX e, nos anos de 1888/1889 apontou outro problema vivenciado também por
Amarração: a migração de populações de outras províncias vizinhas, principalmente
cearenses, que fugiam das adversidades provocadas pela seca, ampliando a atuação do
flagelo nos locais em que se instalavam pela demanda de produtos básicos para abastecer
essas populações.
Desta maneira, o objetivo deste artigo foi discutir sobre as implicações da seca de
1888/1889 na vila de Amarração no litoral do Piauí, sobretudo as em função dos
deslocamentos humanos, ocorridos para a referida vila com a finalidade de escapar do
flagelo que também atingia as províncias vizinhas.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
113 História e Resistência
A partir do final do século XIX, principalmente, após a seca de 1877, um discurso
imagético vinculando esta condição a região Norte ocidental começa a ser elaborado
enquanto uma nova região por esses períodos de estiagens, recebendo a denominação de
Nordeste. A seca configurou-se então, em meio a outros aspectos, como um dos principais
elementos de diferenciação desta região.
De acordo com Andrade (1998) a região Nordeste é uma das regiões geográficas
brasileiras sobre a qual mais se discute, mas menos se conhece, e a visão sobre esta está
relacionada ao aspecto que se aborda e a perspectiva do estudioso que sobre ela se debruça,
sendo então para o autor “[...] apontado ora como a área das secas que desde a época colonial
faz convergir para a região, no momento de crise, as atenções e as verbas dos governos; ora
como área dos grandes canaviais que enriquecem meia dúzia em detrimento da maioria da
população [...]” (ANDRADE, 1998, p. 23)
Albuquerque Júnior (2001) assinala também que a seca foi utilizada pelas bancadas
políticas do Norte no final de século XIX e início de século XX como um mecanismo
eficiente para reivindicar que as províncias desta região recebessem o mesmo tratamento ou
pelo menos similar àquele despendido às regiões do Sul. Indica ainda que a partir da
República e a nova Constituição de 1891 inclui-se em um de seus artigos a destinação de
verbas especiais por parte da União para o auxílio às vítimas de desastres ou flagelos
naturais, a seca, neste caso, estando incluída dentre estes.
No caso do Piauí, Domingos Neto e Borges (1987) apontam ainda que os problemas
gerados neste a partir do final do século XIX e no decorrer do século XX explicam-se muito
mais pela influência da seca nas circunvizinhanças do que pela manifestação desta no próprio
território piauiense.
3. METODOLOGIA
A metodologia empregada para a construção deste artigo foi pesquisa bibliográfica,
a partir de Domingos Neto e Borges (1987), Andrade (1998) e Albuquerque Júnior (2001).
A pesquisa documental, especialmente hemerográfica, foi também utilizada através da
análise de registros dos periódicos A Imprensa publicado entre 1888 e 1889, e A Phalange
publicado em 1889, referentes aos efeitos da seca em Amarração.
4. DISCUSSÃO E RESULTADOS
114 História e Resistência
A seca de 1888/1889 em Amarração tem seu drama decorrente não apenas de fora,
com a chegada de pessoas oriundas de outras províncias na localidade, mas também do
interior da própria vila tendo em vista a morte das plantações, do gado e o esgotamento das
águas.
Na edição de 6 de abril de 1889 no periódico A Imprensa em uma nota sobre
Amarração tem-se uma representação feita pela Câmara Municipal da vila para o então
presidente da província com o intuito de indicar a situação de adversidade que Amarração
se encontrava. Segundo esta, a vila encontrava-se com recursos esgotados, fontes de água
secas, o gado morrendo e a presença de emigrantes, principalmente cearenses, que
transitavam por aquela localidade buscando alcançar a região amazônica e que muitos ao
não conseguirem completar a viagem, terminavam em Amarração. A representação, desta
forma, ao apontar os problemas vivenciados pela vila solicitava o auxílio do governo
provincial para que fosse possível amenizar os problemas gerados pela seca de 1888/1889.
Assim, o governo provincial não assistiu inerte enquanto a seca se alastrava pela
província do Piauí, mas buscou mecanismos para auxiliar as localidades, através das
Comissões de Socorros criadas na época em vários pontos da província, incluindo o litoral
visando atender Parnaíba e Amarração.
Nesta última, a situação calamitosa que a vila enfrentou a partir do ano de 1888 e
no decorrer de 1889 se agravou, então, em função dos deslocamentos humanos e em
setembro, outro problema se associou às adversidades já causadas pela seca e carência de
recursos, o assalto a Comissão de Socorros instalada em Parnaíba por essas pessoas que
vinham das circunvizinhanças. Sobre esta questão tem-se na edição do dia 29 de setembro
de 1889 do periódico A Phalange o seguinte:
Assalto de emigrantes. – os da Parnahyba e Amarração estão no seu direito
assaltando os viveres da commissão. <<Necessitas caret legis.>> Os
viveres ali têm sido divididos pelos da grey em quanto que os famintos
mendigam e esgotam a caridade particular.
O dr. Firmino, quando na presidência, nomeou substituto a – si mesmo –
para servir na commissão durante sua ausência, isto com o fim do juiz
municipal, então na vara de direito, não fazer parte da tal commissão de
socorros e observar o que – por alli se passava!
E assim correm os negocios publicos nessa terra!
Portanto, os emigrantes estão no seu direito tirando á força algumas
migalhas dos socorros que têm tido criminoso destino (A PHALANGE,
1889, p. 3).
115 História e Resistência
Considerando que a primeira informação sobre a presença de emigrantes em
Amarração data de março de 1889 indicando que estes possivelmente já estavam há mais
tempo na localidade e que apenas em setembro de 1889 tem-se uma denúncia referente aos
furtos praticados por estes contra a Comissão de Socorros, não seria improvável sugerir que
estes também possam ter cometidos outros crimes em Amarração a medida que a caridade
particular e os recursos começavam a se esgotar.
É evidente, então, que os efeitos da seca de 1888/1889 sobre Amarração foram além
de provocar transformações na paisagem, redução dos recursos hídricos, morte do gado e
das plantações, mas que também gerou conflitos em função do fluxo migratório das
circunvizinhanças, principalmente do Ceará, que ali se instalaram e que terminaram
cometendo furtos por conta da miséria na qual se encontravam.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A seca de 1888/1889 afligiu boa parte da província do Piauí no fim do século XIX,
afetando localidades do extremo Norte até o sudeste e sudoeste da província, em uma
situação de miséria e fome. Em Amarração seus efeitos foram sentidos de duas maneiras:
problemas internos gerados na localidade, como esgotamento de água para o consumo e
morte das plantações e do gado, e problemas externos, pelos deslocamentos humanos vindos
das províncias vizinhas responsáveis por conflitos na vila, como por exemplo, furtos da
Comissão de Socorros e dos recursos que deveriam ser destinados aos flagelados naquela
região.
No Piauí a seca não se encerrou no final do período oitocentista, mas se estendeu
no decorrer do século XX, até a contemporaneidade, especialmente no semiárido. Deste
modo, é necessário que a sociedade desenvolva formas de aprender a conviver com a seca,
aproveitando os recursos naturais disponíveis visando evitar a situação de calamidade que
as pessoas em Amarração vivenciaram no final do século XIX com a seca de 1888/1889.
Desta forma, refletir sobre a seca consiste em percebê-la não apenas enquanto uma condição
climática, mas também histórica e social.
6. REFERÊNCIAS
116 História e Resistência
ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz de. A invenção do Nordeste e outras artes. 2.
ed. São Paulo: Cortez, 2001. 340 p.
ANDRADE, Manuel Correia de. A Terra e o Homem no Nordeste: Contribuição ao estudo
da Questão agrária no Nordeste. 6. ed. Recife: UFPE, 1998. 305 p.
DOMINGOS NETO, Manuel; BORGES, Geraldo Almeida. Seca seculorum, flagelo e mito
na economia rural piauiense. 2. ed. Teresina: Fundação CEPRO, 1987. 105 p.
Fontes
A IMPRENSA, Teresina, ano 24, n. 1067, p. 3, 6 abr. 1889.
A IMPRENSA, Teresina, ano 24, n. 1069, p. 1-4, 23 abr. 1889.
A IMPRENSA, Teresina, ano 24, n. 1071, p. 4, 4 maio. 1889.
A PHALANGE, Teresina, ano 1, n. 35, p. 3, 29 set. 1889.
Palavras-chave: Seca. Deslocamentos Humanos. Conflitos Sociais. Amarração. Litoral do
Piauí.
117 História e Resistência
ENTRE TRADIÇÕES POLÍTICAS E A “AUTÊNTICA
REVOLUÇÃO”: OS DISCURSOS POLÍTICOS DE DEMERVAL
LOBÃO, ENTRE CONDIÇÕES DE EXISTÊNCIA E TENSÕES
ELEITORAIS (PIAUÍ, 1958)
Prof. Mnd. Eugênio Brito Rocha – UFPI
Prof. Drº Fábio Leonardo Castelo Branco Brito – UFPI
Este trabalho tem como objetivo compreender as condições de existência e tensões políticas
em que o estado do Piauí se encontrava a partir da campanha eleitoral ao governo do estado
no ano de 1958, tomando como principais recursos empíricos os discursos proferidos por
Demerval Lobão, deputado federal e candidato ao governo do Estado naquela ocasião.
Partindo dessa perspectiva, sua retórica torna-se essencial para compreender os conflitos e
tensões entres os grupos políticos que disputavam o pleito eleitoral, bem como é perceptível,
nesse sentindo, entender como as alianças partidárias se consolidam em busca de um ideal
comum entre a coletividade e seus membros. O teor crítico de Lobão também sustenta uma
ideia que se consolida dentro de um contexto de predileção em relação ao trabalhador do
campo, uma vez que, para ele, habitar a Teresina de 1958 não era tarefa fácil, tendo em vista
que segundo os discursos proferidos, o Piauí passava por um momento de fragilidade nos
setores essenciais como saúde pública, educação, transporte, serviços sociais, segurança
pessoal. Partindo desse entendimento, as questões referentes ao suporte teórico que embasam
este estudo, ficaram a cargo do conceito de sociedade do espetáculo (Guy Debord) e a ordem
do discurso (Michel Foucault), facilitando assim a compreensão das questões proposta, em
relação a metodologia aplicada a este estudo, apropriação ocorrerá a partir da prática
discursiva proposta por Mary Jane Spink.
Palavras-chaves: História. Política. Demerval Lobão. Discurso.
1. INTRODUÇÃO
No ano de 1958, o Piauí passava por uma disputa política em relação a sucessão do
governo do Estado, nesse sentindo uma série de fatores contribuíram para justificar o
momento de tensão entre os grupos políticos que disputavam o pleito eleitoral do corrente
ano, Demerval Veras Lobão era um dos candidatos que estava nessa disputa, em seus
discursos proferido durante a campanha eleitoral, era nítido a tonalidade crítica em seus
discursos durante a campanha.
As coligações políticas que foram firmadas durante esse período, são de extrema
importância para que seja possível compreender as articulações se realizavam para a eleição,
em 18 de julho de 1958, na capital piauiense, são realizadas a convenções regionais da União
Democrática Nacional – U.D.N e Partido Trabalhista Brasileiro – P.T.B, nessa ocasião foi
homologado a candidatura de Lobão ao Governo do Estado, segundo Lobão( 1958) objetivo
118 História e Resistência
principal era que as duas forças somassem juntas para um mudança significativa no cenário
político do piauiense.
Na manhã de 4 de setembro de 1958, Lobão se envolve em um grave acidente
automobilístico que ficou conhecido como “acidente da cruz do cassaco”, causando assim
sua morte, consequentemente esse fato causa uma série de especulações sobre os rumos da
política piauiense, tendo em vista que os jornais davam conta de que a eleição seria bastante
disputada.
Em relação as fontes as discussões giram em torno de um livro intitulado
“Discursos”, que são registros de seus últimos pronunciamentos atende de sua morte em
1958, recorreremos a fontes hemerográficas de circulação local, dentre eles, jornais revistas
e periódicos referente especificamente ao ano da eleição. Nessa perspectiva o estudo terá
como principal discussão a campanha eleitoral ao governo do estado do Piauí em 1958, os
discursos proferidos por Demerval Lobão e as críticas que feitas por ele a situação do estado
durante toda campanha e a comoção causada em torno de sua morte.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Partindo de uma perspectiva teórica, utilizarei nesse trabalho alguns conceitos que
fundamentarão de uma forma efetiva esse estudo, incialmente a partir de discussões acerca
dos caminhos teóricos a seguir foram feitas algumas análises, nesse entendimento chegamos
ao conceito de sociedade do espetáculo proposto por Guy Debord, que segundo ao autor:
Para descrever o espetáculo, sua formação, suas funções e as forças que
tendem a dissolvê-lo, é preciso fazer uma distinção artificial de elementos
inseparáveis. Ao analisar o espetáculo, fala-se de certa forma a própria
linguagem do espetacular, ou seja, passa-se para o terreno metodológico
dessa sociedade que se expressa pelo espetáculo. Mas o espetáculo nada
mais é que o sentido da prática total de uma formação econômico-social, o
seu emprego do tempo. É o momento histórico que nos contém.
(DEBORD, p.16.1997).
O autor nos redimensiona as questões ligadas ao próprio sentido que a sociedade cria
em torno dos acontecimentos, assim, a prática da sociedade e do espetacular devem ser
entendidas para além das questões socioeconômicas, uma vez que a sociedade idealizada por
Debord é que gera o próprio sentido.
Michel Foucault a partir da concepção da ordem do discurso, nos possibilita pensar
as questões ligadas ao discurso a partir de uma prática social, levando em consideração que
119 História e Resistência
esse discurso não é algo produzido de forma aleatória, mais sim de modo a atingir uma
intencionalidade. Para Foucault O discurso, portanto, não é um encadeamento lógico de
frases e palavras que pretendem um significado em si, mas, antes, ele se colocará como um
importante instrumento de organização funcional que pretende estruturar determinado
imaginário social.
3. METODOLOGIA
No campo metodológico, buscaremos operacionalizar as fontes que são os discursos
de Demerval Lobão a partir das Práticas Discursivas proposta por Mary Jane Spink, segundo
essa concepção metodológica os discursos e suas práticas, nos permite entender de que modo
a retórica produzida de forma organizada, assim, O debate desloca-se, dessa forma, da
validade ou capacidade para traduzir os fenômenos – do plano conceitual, portanto – para
sua função no âmbito das práticas sociais.
DISCUSSÃO E RESULTADO
Algumas considerações podem ser evidenciadas a partir deste trabalho, tendo em
vista, que a pesquisa ainda está em fase de desenvolvimento. Nesse sentindo podemos
perceber que a campanha eleitoral de 1958 parte de uma disputa entre os grupos políticos
piauienses e que de certo modo acabam por criar alianças que até então eram improváveis,
o objetivo por tanto, era de tentar chegar ao governo do estado. Críticas durante a campanha
compões boa parte dos pronunciamentos de Demerval Lobão, se encarregar de evidenciar a
situação do estado do Piauí.
Nessa perspectiva que buscaremos elucidar algumas questões que se encontram em
desenvolvimento para assim chegarmos aos resultados finais deste trabalho, que irá compor
parte de uma dissertação aonde aprofundaremos mais as questões políticas no estado do
Piauí.
4. REFERÊNCIAS
DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo: comentários sobre a sociedade do espetáculo.
São Paulo: Contraponto, 1997.
FOUCALT, Michel. A ordem do discurso: aula inaugural no Colège de France pronunciada
em 2 de dezembro de 1970. São Paulo: Loyola, 1996.
LOBÃO, Demerval. Discursos. Teresina: Serviço Gráfico, 1959
SPINK, Mary Jane P.; MEDRADO, Benedito. Produção de sentido no cotidiano: uma
abordagem teórico-metodológica para análise das práticas discursivas. In: SPINK, Mary
120 História e Resistência
Jane P. (Org.). Práticas discursivas e produção de sentido no cotidiano: aproximações
teóricas e metodológicas. São Paulo: Cortez, 2013.
121 História e Resistência
ESCREVO, LOGO EXISTO: NARRATIVAS DE UMA
SOBREVIVENTE
Ângela Maria Macedo de Oliveira
(UESPI/UFPI)31
Fábio Leonardo Castelo Branco Brito32 (UFPI)
1. INTRODUÇÃO
A violência contra as mulheres é um problema social, que até bem pouco tempo na
História do Brasil, era considerado como um assunto privado, foi a partir da segunda metade
do século XX que essa história começou a mudar efetivamente, a partir de movimentos de
mulheres e feministas que começaram a pautar o tema violência doméstica como uma
demanda social importante para ser enfrentada (NADER; LAGE, 2012). O presente estudo
tem como objetivo refletir sobre o enquadramento de vidas femininas, reconhecidas como
vidas precárias (BUTLER, 2015), a partir das agressões narradas na autobiográfica de Maria
da Penha Maia Fernandes, Sobrevivi: posso contar, publicado em sua primeira edição no
ano de 1994.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Utilizamos as obras do filósofo-historiador Michel Foucault (2018) para pensar as
relações de direito de morte e poder sobre a vida, a partir do conceito de biopolítica. Outra
categoria importante é precariedade, proposto pela filósofa norte-americana Judith Butler
(2015), para pensar as relações dos mecanismos de poder que reconhecem, ou não, uma vida
que importa. Para analisar a função do enquadramento social da memória recorremos as
contribuições de Michael Pollak (1992).
3. METODOLOGIA
31 Doutoranda em História do Brasil (UFPI). Professora Assistente II da Universidade Estadual do Piauí –
UESPI, Campus Poeta Torquato Neto. E-mail: [email protected] 32 Orientador. Doutor em História Social pela Universidade Federal do Ceará e Mestre em História do Brasil
pela Universidade Federal do Piauí. Professor do Programa de Pós-graduação UFPI da Universidade Federal
do Piauí. E-mail: [email protected]
122 História e Resistência
O presente estudo faz leituras analíticas das narrativas autobiográficas de Maria da
Penha Maia Fernandes, destacando chaves de leitura como biopolítica, relações de poder,
gênero e enquadramento social da memória dos relatos abusivos e violentos, ocorridos no
casamento. Pollak nos ensina que é necessário ao analisar as memórias, enquadrá-las ao seu
contexto de fabricação, pois, as memórias são acionadas por alguns acontecimentos, filtros,
gestos, objetos.
4. DISCUSSÃO E RESULTADOS
No livro Sobrevivi: posso contar a farmacêutica cearense narra as agressões
sofridas no espaço privado, sobrevivente de duas tentativas de homicidio. O agressor, era o
seu marido, que no ano de 1983, tentou matá-la com tiros enquanto ela dormia, e,
posteriormente, quando ela já estava na cadeira de rodas, ele tentou eletrocutá-la no banho,
o cenário desse crime foi o lar, espaço que deveria ser de respeito e afetos. Maria Fernandes
foi a delegacia de polícia e registrou a queixa. No entanto, seu ex-marido demorou quase 20
anos para ser preso. Por ocasião da impunidade e ineficiência do Judiciário Brasileiro, em
1998, Maria da Penha, o Centro pela Justiça e Direito Internacional - CEJIL e o Comitê
Latino Americano e do Caribe para Defesa dos Direitos da Mulher- CLADEM fizeram uma
denúncia na Comissão Interamericana de Direitos Humanos – CIDH da Organização dos
Estados Americanos - OEA. Em 2001, o Estado Brasileiro foi considerado omisso e o
Relatório N.º 54 propôs inúmeras recomendações, dentre elas, implementações de políticas
públicas específicas para o combater a violência contra as mulheres no Brasil. A mobilização
individual e coletiva possibilitou a atuação de maneira estratégica, o que tornou possível ser
construido um ante-projeto, que foi apresentado na Secretaria Especial de Políticas para as
Mulheres (SPM), esta então, através do Executivo, apresentou o Projeto de Lei 4.559/2004
para o Congresso, o que resultou na Lei 11.340/2006.
Importante destacar que a ação do Estado para proteger vidas, ou o exercício do seu
poder político sobre as vidas, é constatado a partir das ações das políticas públicas. A grande
questão ética levantada é: só serão protegidas pelas políticas públicas as vidas que são
reconhecidas como sem direitos? Portanto, para uma vida ser protegida, inicialmente é
necessário que haja, o reconhecimento da precariedade dessa vida. A autora destaca que é
preciso “[…] reconhecer […], proteger contra a violação e a violência […] (BUTLER, 2015,
123 História e Resistência
p.16). A autora continua a fazer mais perguntas pertinentes: “Como, então, a condição de ser
reconhecido dever ser entendida? (BUTLER, 2015, p.19). Ao analisar as memórias da Maria
da Penha M. Fernandes e colocá-la no contexto histórico de descaso do Estado brasileiro,
perceber-se que o reconhecimento deverá ser público, ocorre também no âmbito juridico,
depois de institucionalizada uma legislação de proteção. A filósofa continua
problematizando, é preciso: “definir em quais condições a vida precária passa a ter direito a
proteção?” (BUTLER, 2015, p.30). “[…] aquele que decide ou assegura direitos a proteção,
o faz no contexto de normas sociais e políticas que enquadram o processo de tomada de
decisão, […]”. (BUTLER, 2015, p.40, grifo nosso). Portanto, o caso Maria da Penha torná-
se emblemático, pois teve proporções de litigio internacional, o Estado brasileiro reconhece
que é preciso agir, e no de ano de 2006, surgiu a lei 11.340, considerada marco legislativo
e social no enfrentamento contra todas as formas de violências cometidas contra as mulheres
no Brasil.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa encontra-se em andamento33, mas, podemos afirmar que a violência
doméstica e familiar reflete um processo de desigualdade social que as mulheres sofrem, é
fruto da construção das sociedades patriarcais, que conferia aos homens um grande poder
sobre as mulheres, proporcionava um sentimento de poder sobre o corpo e vida das mulheres.
Sobrevivi: posso contar constitui uma narrativa de testemunho de uma mulher vítima de
violência doméstica, escrita há mais de vinte anos, momento que a violência contra as
mulheres era vista não como crime, mas, como delito de menor potencial ofensivo. As
experiências dolorosas de violências, relatadas nas memórias de Maria da Penha Maria
Fernandes é um fenômeno histórico, cultural, contemporâneo e recorrente infelizmente.
As memórias individuais de Maria da Penha foram enquadradas socialmente como
memórias coletivas, pois, ela tornou-se uma memória referência quando tratamos de relatos
abusivos e violentos, para que tais atos sejam evitados. Um caso de violência, dentre
inúmeros que ocorreram no passado, e continuam a ocorrer no presente, a temática violência
contra as mulheres precisa ser problematizada pelos/as historiadores/as. As memórias
33 Contitui parte das questões de pesquisa do Projeto de Doutorado, iniciado recentemente e tem como
pretensões fazer uma análise da formação discursiva jurídica sobre os papeis e identidades de gênero nos
processos de homicídios entre casais, ocorridos no Vale do Canindé, no período de 1975 a 2015.
124 História e Resistência
traumáticas de Maria da Penha, tornaram-se referência, o relato dela tornou-se
imprescindível para o processo de enquadramento político e social de reconhecimento do
fenômeno violência contra as mulheres como violação de direitos humanos no Brasil.
6. REFERÊNCIAS
BUTLER, Judith. Quadros de guerra: quando a vida é passsível de luto? Tradução de
Marina Vargas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2015.
FERNANDES, Maria da Penha Maia. Sobrevi: posso contar. 2ª ed. Fortaleza: Armazém da
Cultura, 2012. (e-book)
FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 2003.
_____________. O nascimento da biopolítica. Lisboa, Poturgal: Edições 70, 2018
LAGE, Lana; NADER, Maria Beatriz. Da legitimação à condenação social. In: PINSKY,
Carla Bassanezi. Nova História das Mulheres no Brasil. São Paulo, Contexto, 2012. p.286-
312
POLLAK, Michael. Memória, esquecimento e silêncio. Estudos Históricos. Rio de Janeiro,
vol, 2, n.º 3, 1989, p.3-15
125 História e Resistência
O TRABALHO E O TRABALHISMO:
AS DISPUTAS POLÍTICO PARTIDÁRIAS NA ERA VARGAS
Valéria Dias Borges34
Marylu Alves de Oliveira35
O governo do Getúlio Vargas tangencia todos esses momentos. Personagem central
na criação e desenvolvimento tanto de partidos políticos quanto de sindicatos, a sua figura
permeia um dos momentos mais importantes da história do Brasil. Tomando como ponto de
partida o final do seu governo durante o Estado novo (1940-1945) e finalizando pouco tempo
depois da sua morte (1951-1960) toda a sua trajetória transpassa por intensas disputas
políticas, criação de partidos e leis e forte atuação nos sindicatos. Getúlio era populista? Era
realmente o “pai dos pobres” ou “mãe dos ricos” como comumente é retratado? Era um
Fascista, comunista ou “à moda da casa” como preferiu descrever um importante jornal da
época, A democracia, exposto no livro da historiadora Ângela de Castro Gomes? Fascista,
comunista, “pai dos pobres” ou não, a mística do Getúlio e a importância das
implementações feitas no seu governo geram debates cruciais presentes até os dias hoje seja
no âmbito historiográfico seja pelos cientistas políticos/sociais. E é visando tudo isso, que
neste trabalho discutiremos as disputas pelo poder, a criação e atuação dos principais
partidos da época (PTB, UDN, PSD) todos pautados na figura do Getúlio assim como
abordaremos como se deu a sua atuação dentro dos sindicatos.
Estudar Getúlio, o getulismo, os demais partidos e sindicados não é tarefa fácil.
Ainda assim importantes nomes da historiografia nacional se enveredaram por essa tarefa,
desenvolvendo trabalhos substanciais e necessários ao entendimento desse período. Ângela
de Castro Gomes, Maria Celina D’Araújo, Maria Victoria Benevides, Jorge Ferreira, dentre
outros nomes, realizaram (e continuam realizando) pesquisas fundamentais para este campo.
É baseado nestes autores que fundamentarei as análises sobre o meu objeto de estudo que
corresponde ao trabalho e o trabalhismo na Era Vargas.
34 Aluna do 5º período do curso de História da Universidade Federal do Piauí. Pesquisadora de iniciação
científica do projeto: “Na Furna da Onça: as disputas político-sociais no Piauí (1945-1964). Participante, como
pesquisadora do grupo de pesquisa do CNPq: História Política, Teatro e música. Membra do Programa de
Educação Tutorial (PET) História. 35 Orientadora. Professora do departamento de História da Universidade Federal do Piauí. Coordenadora do
projeto “Na Furna da Onça: as disputas político-sociais no Piauí (1945-1964). Líder do grupo de pesquisa do
CNPq: História Política, Teatro e música.
126 História e Resistência
Ângela de Castro Gomes foi a pioneira neste campo, visto que desenvolveu várias
pesquisas sobre o conceito de trabalhismo e a partir disso põe em questão o tão conhecido e
propagado conceito do populismo, fazendo-nos retornar a este período sob novos olhares.
Aliado a esta pesquisadora, o Jorge Ferreira também coleciona trabalhos significativos sobre
o populismo e a época em questão. Ambos são teóricos indispensáveis para pensar esse
assunto pois são autores que nos fornecem as bases para expandirmos a pesquisa a outras
possibilidades de compreensão do campo político. Dito isso, partiremos da obra da
historiadora Ângela de Castro Gomes para fundamentar nossa análise.
No “Getulismo e Trabalhismo” resultado da sua dissertação de mestrado publicado
em 1989, a pesquisadora realizou um estudo introdutório sobre o trabalhismo, o getulismo e
a importância do movimento “queremista” na criação do partido PTB e na fundamentação
do getulismo. A intelectual destacou a relevância que o Ministério do Trabalho teve para o
PTB e o getulismo, assim como um estudo sobre os outros partidos políticos (UDN e PSD)
e organizações sindicais. A obra nos possibilita um amplo entendimento do governo do
Getúlio, das organizações políticas, das dinâmicas organizacionais dos partidos e dos
sindicatos de uma forma leve, porém não menos séria.
O trabalhismo pensado por Ângela de Castro Gomes e por Maria Victoria Benevides,
apontam para a criação das leis trabalhista e o que foi feito durante e após o Estado Novo
para os trabalhadores. Nesse sentido, compreende-se que o trabalhismo, “expressava-se em
três grandes linhas: o nacionalismo, a “justiça social”, com a exaltação da legislação
trabalhista, e o sindicalismo populista”. (BENEVIDES, 1989). Para melhor definir o
trabalhismo é necessário mencionar o que se entende por getulismo que é a “mística” que
gira em torno da figura do Getúlio Vargas:
Como todo movimento que se forma em torno de uma pessoa, não pode
ser definido por um conjunto de ideias precisas. Representou e ainda
representa correntes de opinião favoráveis à política e ao estilo do ex-
ditador Getúlio Vargas. [...] finalmente, getulismo não pode ser pensado
sem uma referência à liderança pessoal de Vargas, e esse é um atributo
intransferível. (BENEVIDES,1989, p.15)
As pessoas adeptas a essa vertente apoiavam acima de tudo Getúlio todas as
conquistas atribuídas àquele governante. Para Ângela de Castro Gomes. “trabalhismo e
getulismo são termos que se complementam durante a ditadura, à medida que a defesa e as
conquistas do trabalho são diretamente associadas à imagem do chefe de governo”.
Evidencia-se, portanto, o caráter personalista do governo.
127 História e Resistência
O PTB nasceu em 15 de maio de 1945 como uma extensão do que representava
Getúlio Vargas e tudo o que a sua obra significou, além disso, surgiu como uma escolha
contrária ao Partido Comunista, pois à época o medo da “onda vermelha” permeava o
imaginário de muitos segmentos sociais e adentrava nas questões políticas de maneira tão
forte que mesmo pessoas consideradas de esquerda e que atuavam dentro do PTB,
discursavam contra o comunismo.
Retornando a obra “Getulismo e Trabalhismo”, observa-se que a autora ainda se
utiliza do termo “populista” ao descrever Vargas como um político que se colocava acima
de todos os partidos apelando muito mais para o seu carisma pessoal. Posteriormente, em a
“Invenção do Trabalhismo” Castro não se utiliza mais desse termo, optando somente por
“trabalhismo”. Pois, assim como ficou exposto nas suas obras subsequentes e estudos
desenvolvidos conjuntamente com o historiador Jorge Ferreira, populismo é um conceito
reducionista que gerava a impressão de que os trabalhadores eram uma massa alienada.
Somado a isso fica evidente que as abordagens sobre o trabalhismo, getulismo, populismo,
PTB, PSD, UDN, sindicatos e tudo o que envolve o governo de Getúlio Vargas não são
simples. Apesar dos vários trabalhados existentes e aqui citados ainda há muitas questões a
serem abordadas e respondidas em torno de questões conceituais a exemplo do populismo e
uma preocupação em definir quem realmente foi o Getúlio.
7. REFERÊNCIAS:
BENEVIDES, Maria Victória. PTB e trabalhismo: partido e sindicato em São Paulo
(1945-1964). São Paulo: editora Brasiliense, 1989.
CASTRO GOMES, Ângela de. Partido trabalhista Brasileiro (1945-1965): getulismo,
trabalhismo, nacionalismo e reformas de base. In: FERREIRA, Jorge; AARÃO
REIS, Daniel. (orgs.) As esquerdas no Brasil, volume 2. Nacionalismo e reformismo
radical (1945-1964). Rio de Janeiro: civilização brasileira, 2007.
CASTRO GOMES, Ângela de e D’ ARAÚJO, Maria Celina. Getulismo e trabalhismo. São
Paulo: Ática, 1989.
FERREIRA, Jorge. (org.). O populismo e a sua história. Debate e crítica. Rio de Janeiro:
civilização brasileira, 2001.
128 História e Resistência
O FALSEAMENTO COMO MANOBRA
REVISIONISMO E PÓS-VERDADE NAS ELEIÇÕES DE 2018 NO
BRASIL
Thallyson Benedito de Oliveira Araujo36
Marylu Alves de Oliveira37
1. INTRODUÇÃO
O processo de escrita da História segue um caminho que é definido por cada
historiador no momento da escolha de seu modelo de produção literária, para que os fatos
sejam apresentados de forma clara e coesa e para que aquele que lê possa perceber o seu
encadeamento no curso da trama da narrativa histórica. Assim sendo, a população que recebe
essa produção, esse discurso, tem acesso ao que chamam de verdade, em que o caráter ético
impede que o falseamento do real penetre nos campos de saber, portanto, a produção
histórica, enquanto produção científica tem uma potência de verdade e é/era aceita como tal.
Nos últimos anos observamos um fenômeno importante sobre a produção do
conhecimento histórico. Vem crescido uma espécie de revisionismo nascido fora da
academia, esse movimento, se assim podemos defini-lo, ataca, movido por uma
intransigência que não conhece fim prático, fatos já solidificados da História, com base numa
suposta nova percepção dos locais de observação daquele que o vê e analisa.
Podemos dizer, com certa liberdade, que essa possibilidade de negação dos fatos que
eram até então considerados como verdade contribuíram para o que denomina-se como: pós-
verdade (D’ANCONA, 2018). A pós-verdade surge num conceito de acesso à informação e
individualismo muito particular, onde as redes virtuais possibilitam um transitar com vias de
absurdo no tocante ao acesso às pessoas, no qual estes mesmos sujeitos recusam-se a assumir
um papel de autocrítica moral e de suas concepções ideológicas e tomam como verdade
aquilo que para eles o é - pelo simples fato de eles julgarem que o seja.
36 Aluno do 3º período do curso de História da Universidade Federal do Piauí. Pesquisador do grupo do CNPq
HISTÓRIA POLÍTICA, TEATRO E MÚSICA. 37 Orientadora do projeto apresentado. Doutora em História Social pela Universidade Federal do Ceará.
Professora do Curso de História da Universidade Federal do Piauí. Líder do grupo de pesquisa no CNPq
HISTÓRIA POLÍTICA, TEATRO E MÚSICA.
129 História e Resistência
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Vários são os autores que nos servem de referência para a análise e construção dessa
pesquisa. Michel de Certeau contribuiu de forma substancial para o entendimento da
produção historiográfica, L’écriture de l’historie, como aponta Ginzburg (2006, p.216), é
obra fundamental para Vidal-Naquet:
(...) foi (escrevia Vidal-Naquet) um livro importante, que contribuiu para
arranhar a orgulhosa inocência dos historiadores: “A partir de então nos
tornamos conscientes de que o historiador escreve, que produz um espaço
e um tempo, sendo ele próprio inserido em um espaço e um tempo” (grifo
do autor).
O que se faz presente é compreender que este tempo e este espaço estão carregados de
significações de verdade, e como isso foi e é utilizado como meio de manipulação do
discurso de verdade produzido, uma vez que controlar o passado garante direcionamentos
para o futuro. O distanciamento dos discursos de verdade é impossível quando se está
escrevendo História. Entretanto, a questão do narrar não é tão primária quanto a do como
narrar. A proposição de Leopold von Ranke de que devemos narrar os fatos tal qual
aconteceram e que assim chegaríamos à verdade concreta, é contraposta por Hayden White
ao sugerir que ficarmos unicamente sobre os fatos, limitaria nossa capacidade de análise
geral, visto que “esse é especialmente o caso no discurso histórico tradicional, em que 'aos
fatos' é sempre fornecida precedência sobre qualquer 'interpretação'” (WHITE, p. 194).
Assim sendo, estes autores mencionados nos ajudaram a pensar a importância do
narrar enquanto um discurso detentor de potência de verdade, portanto, esses autores
permeiam toda a pesquisa e análise do material que serve de fomento, além de se fazer
presente a perspectiva de se entender a mudança da visão que o historiador constrói de seu
fabrico.
3. METODOLOGIA
Através da leitura e reflexão da bibliografia, de autores como Vidal-Naquet,
D’Ancona, White, Ginzburg, entre outros, chegamos à conclusão da necessidade de se
avaliar e pesar as consequências da pós-verdade nas eleições de 2018 no Brasil e como a
mesma foi substanciada pelo uso do revisionismo outsider, este enquanto alteração danosa
130 História e Resistência
desse instrumento necessário na construção historiográfica. Embasados na teoria proposta
por esses autores, analisamos os discursos do presidenciável vencedor das eleições de 2018,
através de entrevistas cedidas à televisão ou por meio de vídeos disponíveis nas redes sociais,
e pormenorizamos suas colocações e discursos com o âmbito da análise que propomos e os
resultados são esses postos na discussão do trabalho.
Na análise da Pós-verdade, utilizamos a concepção inicial de Tesich e partimos para o
seu uso enquanto prática de manobra, segundo as perspectivas de apropriação da mesma pela
mídia de massa, no processo de manipulação e direcionamento de uma sensibilidade
coletiva. Mais que manipulação midiática, a pós-verdade se mostra como disseminadora do
flagelo do descrédito do valor da verdade, de sua busca, transformando a verdade num buffet,
onde cada um consome o que lhe aprouver. Assim sendo, das análises gerais do uso da pós-
verdade no processo eleitoral de 2018, temos as discussões aqui postas.
4. DISCUSSÃO E RESULTADOS
Ainda que os fatos concretos não possam mudar, o produto que se faz deles muda, pois
a historiografia é manufaturada constantemente a partir do olhar do presente sobre o passado
(RODRIGUES, 2014, p.184). Isto posto, o revisionismo é peça constante na construção do
fazer histórico, mas quando esse revisionismo surge longe da esfera acadêmica, o que
podemos esperar? Em grande medida, esse revisionismo outsider surge como consequência
natural dos jogos de poder; temos como exemplo mais recente o revisionismo professado
pelo atual presidente da República sobre a Ditadura Militar brasileira. Negar que houve
torturas, assassinatos, quebra da economia, forte censura e tantos outros fatos relativos
àquele contexto, é negar a sólida produção histórica embasada em documentos e pesquisas
sérias, firmadas na ética da produção científica. Este revisionismo não contido no âmbito
acadêmico propõe supostos novos olhares sobre os acontecimentos, negando-os em
totalidade ou em seus aspectos mais fundamentais, decretando “imaginária toda uma série
de acontecimentos bem reais” (VIDAL-NAQUET, 1988, p. 20). Estes revisionistas têm em
mente solidificar o poder do grupo social que os beneficiam, relativizando ações cometidas
por esse mesmo grupo no passado, visto que os revisionistas não têm outro móvel se não a
desestruturação da imagem preteritamente criada na memória da população.
131 História e Resistência
A negação dos discursos históricos, tem suas implicações políticas e sociais, tornando-
se imprescindível sua análise àqueles que se debruçam sobre a produção do conhecimento
Histórico. O objetivo desse estudo, ainda bastante inicial, portanto, foi o de compreender
como uma espécie de revisionismo histórico que surgiu fora da academia atuou na eleição
presidencial de 2018. Observamos que o revisionismo enquanto negação do que há ou houve,
contribuiu de lastro para o surgimento de algo que Steve Tesich chamou de “Pós-verdade”
(TESICH, 1992). Matthew D’Ancona se refere a esse movimento como um
“desmoronamento do valor da verdade” (2018, p.20). Nas convulsões do Brasil pós-golpe
de 2016, temos o alastramento de uma instabilidade social e política que favorece o
surgimento de “Messias” e de um número considerável de seguidores que clamavam o
retorno de uma política de generais salvadores. Para além dessa releitura saudosista do
passado ditatorial, os seguidores “messiânicos” trazem consigo planeamento de “novos”
termos para uma releitura dos contextos históricos, como a substituição da palavra “golpe
de 1964” por “movimento de 1964”. Fazendo largo uso da pós-verdade, esse grupo chegou
ao poder presidencial, usando a revisão a-histórica, distorcendo compreensões balizadas e
tentando amordaçar professoras e professores.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este movimento de revisar a história com o intuito de apenas controlar visões sobre os
fatos e fazer largo uso da pós-verdade disseminadas pelos mais diversos meios de
comunicação, toca e corrompe todos os aspectos do ser social do indivíduo, mesmo em
questões muito cruciais como a saúde de si ou dos seus, ou em questões quase divertidas se
não tolas como crer em formatos alternativos da Terra.
Então, a constituição da História - por si repleta de tantas histórias celulares narrativas
- sob a suposta ótica de análise alternativa de um novo fato, ou mesmo a sua negação basilar
ou ainda a criação de um fato não existente, que por definição se chama mentira, permeia a
narrativa e a construção de uma História concreta, ainda que não imutável. Aqueles que
soçobram na pós-verdade rasgam todo o método de análise histórica, ignorando a sua
permeabilidade e a construção de algo enquanto discurso de verdade e sua ética relacionada.
Crendo em algo pelo fato de só “ser”, relegando às traças os picos da historiografia,
poderíamos chamá-los de “discípulos de Chicó” (SUASSUNA, 2014) - pois que para a razão
132 História e Resistência
e para a necessidade de fundamentos dos fatos nos dizem apenas: “Não sei, só sei que foi
assim” - ainda que em Chicó as fabulações têm o propósito de fazer rir e entreter, já nos
hodiernos “sábios de cartola” têm somente a capacidade de abismar.
Palavras-chave: Revisionismo. Pós-verdade. Historiografia. Discursos.
6. REFERÊNCIAS
D’ANCONA, Matthew. Pós-verdade. Barueri: Faro Editorial, 2018, p.20.
FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Organização e tradução de Roberto Machado.
Rio de Janeiro: Edições Graal, 1979.
GINZBURG, Carlo. O extermínio dos judeus e o princípio da realidade. In:A história
escrita: teoria e história da historiografia. (org.) Jurandir Malerba. São Paulo: Contexto,
2016. p. 221.
RODRIGUES, Lidiane Soares. A miséria da historiografia: uma crítica ao revisionismo
contemporâneo. Demian Bezerra de Melo (org.). Rio de Janeiro: Consequência, 2014. p.
184.
SUASSUNA, Ariano. Auto da Compadecida. São Paulo, Nova Fronteira, 2014. 254 p.
TESICH, Steve. The Watergate Syndrome: the government of lies. The Nation, Nova York,
6 jan. 1992, p. 12-13.
VIDAL-NAQUET, Pierre. Os Assassinos da memória: um Eichmann de papel e outros
ensaios sobre o revisionismo. Campinas, SP: Papirus, 1988. p. 20
WHITE, Hyden. Enredo e verdade na escrita da história. In: A história escrita: teoria e
história da historiografia. (org.) Jurandir Malerba. São Paulo: Contexto, 2016. p. 198.
133 História e Resistência
“O QUE HÁ DE NOVO?” A ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA DE
SAÚDE PÚBLICA DURANTE O ESTADO NOVO NO PIAUÍ.
Ana Karoline de Freitas Nery (UFPI)38
Elizangela Barbosa Cardoso (UFPI)39
O presente trabalho tem por objetivo analisar a organização do sistema de saúde Pública durante o
Estado Novo no Piauí. Os anos de 1937 a 1945 são marcados pela ocorrência de ideias que estavam
voltadas para a construção do Estado com investimento em políticas públicas. A atenção à saúde da
população adquiriu destaque no contexto de criação de um novo país, pois era preciso que o Estado
investisse na criação de trabalhadores saudáveis e fortes, capazes de contribuírem para o
desenvolvimento do país. Na figura do interventor Leônidas Melo, foram postos em prática projetos
dando relevância aos serviços de saúde do Estado e enquadrando-os nas exigências técnicas
nacionais. Para a realização de organização no sistema de saúde pública do Piauí foram construídos
edifícios públicos que promoveram ruptura com a arquitetura dos períodos anteriores. O processo de
modernização da rede hospitalar ocorrido em vários Estados refletiu-se também no Piauí, com a
construção do Instituto Alvarenga, Hospital Getúlio Vargas, Instituto de Assistência Hospitalar, a
reorganização sanitária com o surgimento do Departamento de Saúde Pública do Piauí, a criação dos
Centros de Saúde e Postos de Higiene e o surgimento do Curso de Enfermeiras Visitadoras de Saúde
Pública.
Palavras- Chaves: História. Política Pública. Saúde. Estado Novo.
1. INTRODUÇÃO
A organização do sistema de saúde pública do Piauí durante o Estado Novo, a partir
de um projeto de modernização e de centralização, tão priorizadas no governo Varguista,
também foram refletidas e postas em prática no Piauí pó meio de projetos que davam
relevância aos serviços de saúde do Estado e enquadrando-os nas exigências técnicas
nacionais
O discurso de modernidade e de reformas urbanas nas principais cidades do estado
tornou-se tarefa principal do interventor do estado Leônidas de Castro Melo. Tão logo tomou
posse em 1935, o governo de Leônidas de Melo foi caracterizado pelo crescimento das
finanças do Estado e pela execução de grandes obras.
Diante disso, deu-se início a obras que se destacaram durante o período e dentre elas
foi criado o Departamento de Saúde Pública do Piauí, que se tratava de um órgão principal
38 Graduada em História pela Universidade Estadual do Piauí. Campus Poeta Torquato Neto e Mestranda em
História do Brasil pela Universidade Federal do Piauí, Campus Ministro Petrônio Portela.
39 Doutora em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Professora do Departamento de História
e do Programa de Pós-Graduação em História do Brasil, da Universidade Federal Do Piauí (UFPI).
134 História e Resistência
que fazia a orientação e direcionava o atendimento hospitalar do Estado. A partir de então,
obras de assistência médica foram criadas e implantadas.
Ademais do Departamento de Saúde Pública, houve a implantação do sistema
distrital que era composto por Centros de Saúde e Postos de Higiene. O regulamento do
DSP-PI define da seguinte forma a estrutura desse sistema:
Os órgãos distritais de saúde pública serão os centros de saúde e postos de
higiene, que variarão na sua composição de acordo com as possibilidades
financeiras, sendo que a denominação de centro de saúde ficará limitada à
unidade sanitária que tiver, no máximo os seguintes serviços dirigidos por
especialistas: tuberculose, sífilis e outras doenças agudas; saneamento e
polícia sanitária; higiene da criança, da alimentação e do trabalho. As
unidades em que essas funções forem exercidas cumulativamente
conservarão a denominação de posto de higiene. (DIÁRIO OFICIAL,
1939, p. 8).
Portanto, os serviços de saúde pública foram estabelecidos nos centros de saúde
sendo estes as sedes dos distritos sanitários. O centro de saúde, dentro da hierarquia do
sistema de saúde pública, era a instância que mantinha relações diretas com a comunidade,
por isso ser considerado a base de funcionamento de todo o sistema de saúde.
A obra que mais se destacou durante o governo de Leônidas de Melo: o Hospital
Getúlio Vargas, considerado um dos melhores do norte e de grande proporção para a época.
O hospital contava com 200 leitos, abrangendo clínicas, enfermarias, ambulatórios e serviço
de Pronto Socorro, além de um laboratório de pesquisas clínicas e serviço de cirurgia.
Outra medida importante do governo Leônidas Melo em relação à saúde pública foi
a criação do Curso de Enfermeiras Visitadoras de Saúde Pública. Essas profissionais
tornaram-se um elo importante entre a população e os serviços de assistência, uma peça
chave no estreitamento das relações entre Estado e sociedade. As mesmas visitavam lares,
tomando, a partir de então, conhecimento dos modos de vida de diferentes segmentos sociais,
passando a exercer e contribuir para que outros profissionais da área desenvolvessem grande
influência sobre a população.
A partir do exposto, observa-se que dentro de uma estrutura centralizada,
hierarquizada e burocratizada, o governo federal promovia a orientação e implantação de
serviços de saúde para todo o território nacional. Entender como esse discurso foi
configurado no Piauí, quais foram seus agentes e instituições, tendo em vista o forte
centralismo hierarquizante e burocratizante do período político que o Brasil vivia, é o passo
135 História e Resistência
fundamental na busca do entendimento do que foi a saúde pública no Piauí durante o Estado
Novo.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Ao partir para uma perspectiva teórica, foram utilizados nesse trabalho a ideia de
política de assistencialista pública de saúde, fazendo discussão a partir de pontos empregados
por Fonseca (2007). Essas medidas eram adotadas pelo estado para consagrar a definição do
modelo de prestação de serviços públicos de saúde voltadas a população. Utilizou-se,
também, o conceito de estratégias segundo Michel de Certeau. De acordo com o autor,
estratégia “Seria o cálculo das relações de forças, que se torna possível a partir do momento
em que o sujeito pode atingir alvos”. (CERTEAU, 1994, p. 99). Dessa forma, nota-se neste
trabalho que os planejamentos que eram feitos pelo governo foram apresentados para a
população como uma forma de conseguir alcançar o progresso a partir da utilização dos
serviços de higiene, ou seja, forças dominantes iriam se sobrepor ao público alvo para que o
mesmo se mobilizasse em prol do bem comum.
3. METODOLOGIA
Para a realização deste trabalho, as leituras bibliográficas de Pandolfi (1999),
Fonseca (2007) e Capelato (2003) auxiliaram na fundamentação teórico-metodológica, além
de jornais como o “Diário Oficial” e relatórios do governo estadual do Piauí que foram
utilizados no que diz respeito às medidas protéticas estatais nas áreas da saúde, da educação
e da assistência.
4. DISCUSSÃO E RESULTADOS
Percebemos que a institucionalização de políticas públicas de saúde no Piauí,
ocorreram em paralelo à tentativa de expansão do poder governamental bem como de
fortalecimento de interdependência entre a União e os demais estados brasileiros. Esse
aperfeiçoamento se deu por meio da normatização, centralização, formação e especialização
profissional. As políticas públicas de saúde fortaleciam, portanto, o poder do Estado no
interior do país, na medida em que eram concretizadas por meio tanto de ações do executivo,
como de grupos sociais e grupos de interesse. Desta forma, foi grande o volume de
investimentos realizados pelo governo e da construção de um conjunto técnico e burocrático
136 História e Resistência
(composto por médicos, sanitaristas, enfermeiras), que forneceria a estrutura necessária para
que o governo realizasse a assistência social que almejava.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo realizado nesse trabalho permitiu perceber que os poderes públicos na
época do Estado Novo (1937-1945), pretendiam promover a ideia de práticas de assistência
social de caráter comunitário, contribuindo para gerar uma diversificação de ações dos
sujeitos envolvidos na execução do referido planejamento governamental. Promoveu-se
então, um desenvolvimento econômico do país e uma busca pelo bem-estar social, a partir
da coletivização de serviços e através das políticas públicas de saúde, transferindo para o
Estado responsabilidades que antes não tinha. Esse artifício foi uma das várias formas
encontradas de legitimação do poder, durante o Estado Novo e o estado Piauí participou
desse planejamento a partir da atuação do interventor Leônidas Melo.
6. REFERÊNCIAS
CAPELATO, Maria Helena Rolim. O Estado Novo: o que houve de novo? In: O Brasil
Republicano: o tempo do nacional-estadismo. v. 2. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
2003.
CERTEAU, Michel. A Invenção do cotidiano. Artes de fazer. Petrópolis, Vozes, 1994,
[Tradução: Ephraim Ferreira Alves].
FONSECA, Cristina M. Oliveira. Saúde no Governo Vargas (1930-1945): dualidade
institucional de um bem público. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2007.
HOCHMAN, Gilberto; ARMUS, Diego (orgs.). Cuidar, controlar, curar: Ensaios históricos
sobre saúde e doença na América Latina e Caribe. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2004.
HOCHMAN, Gilberto; FONSECA, Cristina M. O. Políticas de saúde e previdência, 1937-
45. In: PANDOLFI, Dulce (org.). Repensando o Estado Novo. Rio de Janeiro: FGV, 1999.
PANDOLF, Dulce (Organizadora). Repensando o Estado Novo. Rio de Janeiro: Ed.
Fundação Getúlio Vargas, 1999.
PANDOLFI, Dulce Chaves. Os anos 1930: as incertezas do regime, Da Aliança Liberal ao
Governo Provisório: os primeiros embates. In: FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucília A.
N. O Brasil Republicano. v. 2, Rio de Janeiro: Ed. Civilização Brasileira, 2003.
REFERÊNCIAS DOCUMENTAIS:
DIÁRIO OFICIAL, Piauí. Regulamento do Departamento de Saúde Pública. Teresina:
Imprensa Oficial, 25 de novembro de 1939.
137 História e Resistência
“QUALQUER PALAVRA É UM GESTO”: A IMPRENSA POLÍTICA
EM TERESINA (1971-1974)
Professor Mnd. Carlos Alberto de Melo Silva Mota (UFPI)
Professora Drª. Cláudia Cristina da Silva Fontineles (UFPI)
1. INTRODUÇÃO
A semente desse trabalho deriva do projeto de Iniciação Científica Voluntária
Política e Imprensa: Discursos e Práticas (década de 1970), realizado entre 2016/2017. A
partir do plano inicial o trabalho ganha novas ramificações, como essa, onde buscamos
analisar a imprensa teresinense durante a primeira metade da década de 1970,
correspondente ao primeiro mandato de Alberto Tavares Silva como governador do Piauí.
Dentre os periódicos em circulação na cidade priorizamos os diários O Estado e O Dia, e o
semanário Estado Do Piauí, pelo seu estado de conservação e disponibilidade de acesso no
Arquivo Público do Estado – Casa Anísio Britto. Nesses arquivos buscamos dar foco à
problemática política, dessa forma enfatizamos às matérias que destacavam a fala de
representantes políticos, projetos de infraestrutura, críticas ao governo, anedotas em relação
ao Regime e demais escritos que transitassem pelo viés político.
Compreendemos a imprensa como um lugar estratégico, campo de disputa entre
opositores a apoiadores do Regime Militar, nesse sentido encaramos cada palavra escrita nos
periódicos como um gesto, com uma carga de significados a ser problematizada, até mesmo
o silêncio é encarado como simbólico, pois representava a escolha por uma narrativa em
detrimento de outra.
Ao observamos essas matérias, consideramos o alcance do dito e do não dito, pois
como aponta Tania de Luca (2008, p. 139), em vários momentos a imprensa foi silenciada,
ainda que por vezes sua própria voz tenha colaborado para criar as condições que a levaram
ao amordaçamento.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
138 História e Resistência
Buscamos compreender a imprensa em sua dimensão cultural, conforme a noção de
Jean-Noël Jeanneney, os jornais carregam em si especificidades, que dizem respeito a sua
tiragem, sua linha editorial, seu público e variados elementos que os tornam meios
complexos e fecundos para a investigação histórica. Sendo assim, assimilamos desde cedo
que o seu manuseio não é tarefa simples e sua análise não deve levar em contas apenas os
textos escritos, o compreendemos então, em toda parte: o patrão e sua equipe, o contrapoder
dos sindicatos, a influência dos técnicos, o ritmo da ação e seus limites, o peso dos ritos e da
memória coletiva das diversas famílias, o calendário da eficácia e do fracasso.
3. METODOLOGIA
Tomamos como parâmetro as pesquisas de Beatriz Kunshir (2012, p. 19), para
compreender a participação da imprensa durante o Regime Ditatorial implantado no Brasil
após 1964, que ao tratar da relação entre jornalistas e censores, durante o percurso do regime,
classifica-os como colaboracionistas, à medida que não se manifestava uma oposição às
medidas restritivas.
Todavia não nos limitamos a uma única visão, abordando a história como construção.
Quando falamos que a história-conhecimento é construção, queremos dizer que é uma
representação do real e, como tal, parte do real e não o real em si mesmo. Dessa forma, já
que o passado nunca é um objeto que já está ali; “operações” designa as práticas do
historiador; “regras” e “controles” inscrevem a história em um regime de saber
compartilhado, definido por critérios e dotados de uma validade universal (CHARTIER,
2010, p. 16).
4. DISCUSSÃO E RESULTADOS
A análise dos periódicos nos permitiu observá-los como um espaço heterogêneo,
onde circulam diferentes ideias e posições, isto é, dentro do mesmo período constatamos
matérias que enalteciam o desenvolvimento proporcionado pelo Regime Militar ao Piauí,
assim como críticas ao encaminhamento político que o estado tomava.
Depois de informar que o Piauí é todo um canteiro de obras e há, ali, um
clima de otimismo que leva a crer que dentro em pouco a imagem negativa
do Estado desaparecerá. O deputado abordou o tema político para dizer,
enfaticamente: - A ARENA está perfeitamente unida e coesa em torno dos
139 História e Resistência
seus dois chefes: O Eminente senador Petrônio Portela, presidente do
Diretório Regional e o dinâmico governador Alberto Silva. 40
Não é preciso ser “expert” em política econômica para se chegar à dolorosa
conclusão de que o Piauí não está se desenvolvendo, mas sim crescendo
desordenadamente alguns dos seus centros urbanos, com o esvaziamento
cada vez maior da zona rural. Aumenta o desemprego e o desespero,
corrida da zona rural para as cidades. No Piauí, já se perderam muitas
oportunidades de arrancar para o progresso porque os nossos Governadores
foram incapazes de pensar e agir realisticamente. 41
A partir da análise desses dois recortes podemos destacar diferentes aspectos, como:
a linha editorial dos jornais, com ênfases distintas; a posição política dos deputados; e a
diferente leitura das transformações no estado.
O uso dos jornais como dispositivo político foi feito de maneira planejada, visto que
política envolve aspectos de força e convencimento. A relação entre dominantes e
dominados, mesmo em regimes autoritários, deve ser compreendida não só com base no
confronto (RIDENTI 2014, p. 4). Dessa forma visamos compreender os periódicos não
apenas a partir da visão censurada, mas também pela perspectiva colaboracionista, onde cada
palavra é tida como um gesto.
Nesse sentido podemos observar já no início do governo de Alberto Tavares Silva a
preocupação com os veículos de comunicação, ao destacar a necessidade do seu amplio:
“[...] A imprensa a televisão e rádio terão em meu governo todas as facilidades para que
possam cumprir a sua alta missão de informar com rapidez e seriedade”. 42
De fato, ao folhear pelos periódicos podemos observar que os jornais tiveram
significativa facilidade para comunicar, todavia devemos abrir ressalva para o conteúdo
veiculado, recheado, sobretudo, de notícias que destacavam a modernização do estado e as
conquistas do governador. Destacamos então o diálogo do nosso projeto com o trabalho da
nossa orientadora, ao observar Alberto Silva como um agente nesse processo, ao traçar
maneiras de durar na memória da sociedade piauiense (FONTINELES, 2015, p. 78).
Outro aspecto notável entre os jornais analisados foi o simbolismo em torno da figura
de Garrastazu Médici, presidente do Brasil entre 30 de outubro de 1969 e 15 de março de
1974. A recorrente referência ao seu nome dava-se tanto por jornalistas como por políticos
que faziam uso da imprensa, podemos observar até mesmo a reprodução na íntegra de
pronunciamentos que o presidente proferiu na região sudeste do país, revelando o caráter
40DEPUTADO diz que ninguém mais vai segurar o Piauí. Teresina: O Estado, 18 fev. 1972, p. 3 41 DEPUTADO Nogueira: Piauí vai muito mal. Teresina: O Estado do Piauí, 13 jan. 1973, p. 1. 42 NOVO Governo. Teresina: Estado do Piauí, 18 mar. 1971, p.4.
140 História e Resistência
uniforme e integrado do projeto militar para a nação, pautado na construção de uma
grandeza:
Voltamos o pensamento para os que, nas manifestações nativistas, nas lutas
externas e fronteiriças nos movimentos precursores e nas guerras da
Independência, ensinaram às sucessivas gerações que a soberania de uma
nação não se outorga, não se recebe de presente, antes se conquista, se
preserva e se amplia, com o trabalho, a inteligência, o idealismo, a renúncia
e se preciso, o sangue de homens como todos nós. 43
Nesse ponto, esses discursos denotam que a imprensa colaborava naquilo que Maria
José Rezende classifica como a pretensão de legitimidade do governo militar, que foi uma
das principais pautas do governo Médici. O convencimento de que só havia um caminho a
trilhar, o de aceitar as regras do jogo.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A história da imprensa no decorrer do Regime Militar Brasileiro não pode ser
compreendida de forma determinista ou parcial, nesse sentido ao utilizarmos o enfoque
político não podemos esquecer que as relações evidenciadas nesse enredo são atravessadas
por aspectos culturais, políticos e econômicos. Conforme pontuamos, os grupos jornalísticos
que produziam matérias ao longo desse período não existiam como um organismo isolado
da sociedade, sendo assim estavam imbricados na trama histórica que os circundava, sujeitos
as consequências comuns a todos os civis.
No processo de busca de identidade e valorização do Estado a imprensa ocupou papel
primordial, ao veicular os avanços que o Piauí conquistava a partir da interferência direta do
seu obstinado chefe executivo. Classificamos essa atuação como colaboracionista, conforme
o termo de Beatriz Kunshir, que ao analisar a relação entre censores e jornalistas durante o
Regime Militar observa uma autocensura nos discursos, que se aproximava do elogio às
práticas governamentais.
Palavras-Chave: História. Imprensa. Política.
6. REFERÊNCIAS
43 A SOBERANIA de uma nação não se outorga, conquista. Teresina: O Estado, terça, 25 abr. 1972, p. 1.
141 História e Resistência
FONTINELES, Cláudia Cristina da. O Recinto do Elogio e da Crítica: maneiras de durar de
Alberto Silva na memória e na história do Piauí. Teresina: EDUFPI, 2015.
KUSHNIR, Beatriz. Cães de Guarda: jornalistas e censores, do AI-5 à constituição de 1988.
São Paulo: Boitempo, 2012.
PINSKY, Carla Bassanezi, (org). Fontes históricas. São Paulo: Contexto, 2008.
MOTTA, Rodrigo Patto Sá; Reis, Daniel Aarão; Ridenti, Marcelo; (org.). A ditadura que
mudou o Brasil: 50 anos do golpe de 1964. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2014.
REMOND, René. (Org.). Por uma história política. Rio de Janeiro: Editora UFRJ/FGV,
1996.
REZENDE, Maria José de. A Ditadura Militar no Brasil: repressão e pretensão de
legitimidade (1964- 1984). Londrina: Ed. UEL, 2001.
142 História e Resistência
ST 04: HISTÓRIA, LITERATURA E LABOR
INTELECTUAL: FONTES, METODOLOGIA E PRÁTICAS
DE PESQUISA.
Coordenadoras:
Profª. Me. / Doutoranda Em História (Ufpe) Mara Lígia Fernades Costa (Ufpi)
Profª. Me. Gislane Cristiane Machado Tôrres (Ufpi) / Doutoranda Em História
143 História e Resistência
A CONTRIBUIÇÃO DA HEMENÊUTICA PARA ANÁLISE DE UMA
OBRA LITERÁRIA COMO FONTE HISTÓRICA
Daniela Fontenele Rocha (mestranda/UFPI)
Francisco Gleison da Costa Monteiro (Doutor/UFPI)
7. INTRODUÇÃO:
Apresentar a hermenêutica como auxiliadora para compreensão do historiador sobre
os vestígios históricos é o principal objetivo desse texto. É especificamente evidenciar como
a hermenêutica através do pensamento de Martin Heidegger (1889-1976) e Hans-Georg
Gadamer (1900-2002) contribui para pensar o trabalho do historiador que manuseia uma
obra literária como fonte histórica e, sobretudo de análise. Para o desenvolvimento desse
objetivo foram relacionadas referências que refletiram quanto ao ofício do historiador e suas
fontes, isto é, o pensamento de historiadores sobre esse ofício, como o de Marc Bloch e Peter
Burke. Além disso, de como a história e a literatura penetrou nesse processo de
relacionamento e do pensamento hermenêutico para o estudo do historiador que busca
compreender uma obra literária enquanto fonte histórica, exemplificada através do trabalho
do historiador Nicolau Sevcenko na sua obra Literatura como Missão.
8. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA:
Esse texto baseou-se nas categorias que pensa sobre o ofício do historiador e suas
fontes, amparados pelos conceitos desse ofício por Marc Bloch em Apologia da história que
foi um historiador no qual percebemos a filosofia dos hermenêuticos por trás da teoria da
história. Além disso, o entendimento de uma obra literária como fonte histórica partiu da
análise sobre quando a literatura e a história passaram a serem campos de saberes interligado
a partir da ótica trazida por Roger Chartier e Nicolau Sevcenko que foi um historiador que
utilizou da literatura para compreender a realidade no período da Belle Époque em Liretatura
como Missão.
Roger Chartier ao expor sua investigação sobre textos, impressos e leitura acentua
essa questão do sentido como uma reconstituição que exige considerar relações estabelecidas
144 História e Resistência
entre o texto, o objeto que lhe serve de suporte e a prática que dele se apodera44. Esse meio
enquanto prática é onde Chartier situa o leitor, no qual faz refletir que o leitor na sua prática
de leitura não garante integralmente as intenções que o autor de um texto queira provocar.
Isso porque esse leitor pertence a uma identidade social e possíveis influencias institucionais
que marcam de forma visível e perpetua a existência de uma comunidade, por exemplo,
fazendo surgir formas diferentes para um leitor interpretar.
9. METODOGOLIA:
A busca por essa reflexão parte de um pressuposto da necessidade de compreender
como os historiadores pensam sobre seu ofício e de qual momento de seus trabalhos uma
obra literária começou a ser pensada como fonte histórica. Por conseguinte, é apresentada
discussões sobre a obra literária como fonte. E finaliza com a apresentação dos argumentos
dos hermeneutas Martin Heidegger e Hans-Georg Gadamer analisado por Richard Palmer.
O texto foi construído por três tópicos intitulados respectivamente: Concepções sobre fontes
históricas e o ofício do historiador; Obra literária como fonte; e A hermenêutica de Martin
Heidegger e Hans-Georg Gadamer.
10. DISCUSSÕES E RESULTADOS.
As contribuições da hermenêutica para um historiador que toma uma obra literária
como fonte de análise são apresentadas por Richard Palmer através dos Hermenêuticos
Heidegger com sua obra Ser e tempo e Gadamer em Verdade e método. Em Heidegger
percebemos a ideia de pressupostos para análise de uma obra literária, assim como a ideia
dos silenciamentos, isto é, o não dito. Assim Palmer destacou:
“A interpretação nunca é a captação sem pressupostos de algo previamente
dado”. [...] A esperança de uma interpretação “sem preconceitos e sem
pressupostos” desapareceu ultimamente, face ao modo como a
compreensão opera. O que aparece do “objeto” é o que deixamos que
apareça, é aquilo que a tematização do mundo actuante na compreensão,
traz à luz. Seria ingénuo pretender que “o que ali está realmente” é “auto-
evidente”45.
44 CHARTIER, Roger. Textos, impressos e leitura. In:_______. História cultural: entre práticas e
representações. São Paulo: Difel, 2002. 45 PALMER apud Heidegger, 1996, p.140.
145 História e Resistência
Quanto a Gadamer percebemos uma continuação das ideias de Heidegger para a
interpretação de uma obra literária, mas que enfatiza sua crítica ao método como um
processo que dificulta para aproximação da verdade. Isto é, o método prova uma ilusão na
investigação pela verdade. Contudo, Richard Palmer ao apontar sobre os pensamentos de
Gadamer em verdade e método destaca uma passagem muito importante sobre a
interpretação de uma obra de arte que pode ser feita uma analogia com o uso de uma obra
literária como fonte46. Assim destaca que “falar de uma obra de arte isolada, separada da sua
realidade, incessantemente renovada, tal como aparece na experiência, é adotar um ponto de
vista muito abstrato”47. E isso também não seria diferente com uma obra literária, pois isso
mostra que é necessário fazer uma análise da circunstância em que uma determinada obra
foi produzida, levando em conta que uma obra de arte é recebida por diferentes pessoas que
fazem diferentes leituras, que tornam os interpretes constituídos de compreensão histórica.
11. CONSIDARAÇÕES FINAIS:
Por tanto, é evidente que o uso da fonte como obra literária é consequência da série
de debates sobre a escrita da história que espertou para a prática na variedade de fontes na
produção de um tema. Além disso, o uso destas geraram discussões entre os historiadores no
embate fronteiriço entre História e Literatura. E foi por intermédio do historiador Nicolau
Sevcenko na sua obra Literatura como Missão, que compreendemos como é possível
investigar a obra literária, pois os literatos trazem muito de suas realidades políticas, sociais
e culturais em suas escritas.
Uma das contribuições desses estudiosos da hermenêutica elenca que para tratar uma
obra literária como fonte devemos sempre pensar os leitores, apesar disso não parecer uma
novidade para os estudos históricos. No entanto, essa investigação quando chegou aos
profissionais da história já havia sido contemplada por aqueles filósofos hermeneutas, tendo
influenciado, talvez, historiadores como Roger Chartier a tomar nota numa pesquisa o
leitor/receptor do texto, além de pensar nas intenções do autor.
Se pensarmos no assunto que Heidegger e Gadamer apontam quanto aos
pressupostos ou juízos prévios, podemos refletir que a literatura não seja tão ficcional porque
46 PALMER, Richard E. Hermenêutica. Trad. Maria L. R. Ferreira. Lisboa: Edições 70, 1996. 47 PALMER, 1996, p. 169.
146 História e Resistência
nenhum discurso vem do vazio. Tanto o historiador quanto os literatos constroem uma
linguagem que caminha sempre acompanhando de formulações anteriores que dependem de
subjetividades. É como, por exemplo, na compreensão da imagem cujo quadro possui dois
rostos um olhando para o outro, que faz um sujeito interpretar para o formato de taça ou de
alguém que pode achar que seja uma fechadura.
Palavras-chaves: Hermenêutica. Fonte histórica. Historiador. Obra literária.
REFERÊNCIAS:
BLOCH, Marc. A história, os homens e o tempo. In: Apologia da história. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar, 2001. p. 51-68.
BURKE, Peter.(org). A escrita da história: novas perspectivas. São Paulo: Unesp, 1992.
CASTELO BRANCO, E. A.; CASTELO BRANCO, F. L. Entre a Beira da Falésia e a
terceira margem do rio: O Historiador e as palavras, essa relação em conflito. In: NERY,
E. S. (Org). Teoria da História: articulações, sociedade e cultura. Teresina: Edufpi, 2018.
p. 67- 86.
CERTEAU, Michel de. A operação historiográfica. In: _______. A escrita da História. Rio
de Janeiro: Forense-Universitária, 1982.
CHARTIER, Roger. Textos, impressos e leitura. In:_______. História cultural: entre
práticas e representações. São Paulo: Difel, 2002.
PALMER, Richard E. Hermenêutica. Trad. Maria L. R. Ferreira. Lisboa: Edições 70,
1996.
PINSKY, Carla Bassanezi. (org). Fontes históricas. São Paulo: Contexto, 2008.
SEVCENKO, Nicolau. Literatura como missão: Tensões sociais e criação cultural na
Primeira República. São Paulo: brasiliense, 1983.
147 História e Resistência
A IMPRENSA FEMININA PIAUIENSE E AS REDES DE
SOCIABILIDADES (1891-1909)
Nino Cesar Dourado Barros
Mestrando em História vinculado ao Programa de Pós-Graduação em História do Brasil –
UFPI.
1. INTRODUÇÃO
A mulher piauiense aos poucos foi conquistando o seu espaço na sociedade, se
intercalando entre os âmbitos privado e público. No Piauí esse processo ocorreu de forma
moderada e um dos principais meios que possibilitaram essa integração foi a imprensa.
Geralmente essas mulheres pertenciam a uma classe abastada e tiveram a oportunidade de
receber uma instrução quando criança, facilitando a afinidade com a leitura e a escrita. A
instrução não tinha como objetivo principal a formação de profissionais, mas sim ensinar à
mulher os bons costumes, que eram considerados importantes para os espaços sociais,
ambientes onde a mulher era acompanhada pelo provedor da família. Este estudo identifica
a inserção da mulher na imprensa piauiense, as práticas de sociabilidades e resistência em
um recorte temporal delimitado entre os anos de 1891 a 1909.
Quem foram elas? Quais foram as suas contribuições? Conseguimos romper um
pouco desse silêncio.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A imprensa propiciou visibilidade à mulher. As mudanças que ocorriam no mundo
eram adaptadas a sociedade local. As mademoiselles piauienses acompanhavam os avanços
que eclodiam nas metrópoles. Essa consideração é argumentada com base na leitura de um
conjunto de textos produzidos por essas mulheres que permitem identificar as múltiplas
marcas de leituras, especialmente os títulos europeus, os volumes franceses.
São centenas de documentos históricos preservados e milhares destruídos. A
destruição é adotada principalmente no espaço privado, considerando que poucas famílias
conservam seus álbuns, recortes de jornais e manuscritos. A autodestruição da memória
feminina foi uma prática cometida não apenas por piauienses ou brasileiras, mas em nível
global. A historiadora francesa Michelle Perrot identificou que essa forma de apagar o
passado ocorre geralmente na velhice, a mulher se recolhe ao espaço solitário e inicia a
148 História e Resistência
incineração dos vestígios: jornais, papéis, fotografias, aquilo que consubstancia as marcas
da vida privada, muitas vezes ligada diretamente a vida pública. 48 Assim, foram e continuam
sendo destruídos os diários, cartas e agendas, seja por seus próprios autores ou por quem faz
seus julgamentos. Em alguns casos esses autojulgamentos impendem o prosseguimento das
investigações e organizações de dados para a realização dos trabalhos historiográficos.
Outra característica importante para compreender a escassez de periódicos dedicados
ou redigido por mulheres no Piauí é justificado pelas dificuldades da implantação de uma
imprensa fermina no Brasil. Dulcília Buitoni ressalta que no século XVIII na Europa a
imprensa feminina já desempenhava um importante papel social. No Brasil a permissão para
funcionamento da imprensa é do início do século XIX.49 Além dos problemas apresentados,
a instrução também tinha seus déficits, sobretudo a instrução feminina. June Hahner destaca
que os membros da elite tinham por hábito educar suas crianças no lar, empregando tutores
para as meninas.50 Essa educação era voltada basicamente para o espaço doméstico, com o
ensino do português, francês, leituras de gramática e trabalhos de agulha. Mesmo com uma
educação rudimentar, o desejo de algumas meninas foi além dos planos projetados pelas
famílias, elas empreenderam esforços e se tornaram escritoras, redatoras e colaboradoras de
jornais e revistas, visavam mudanças, como transformar as elites e atingir as outras camadas
sociais. No momento a imprensa era o instrumento mais conveniente e de fácil acesso.
Os primeiros movimentos em prol da imprensa feminina começaram a ocorrer no
Piauí em 1864 com a publicação do jornal parnaibano A Violeta, dedicado às senhoras
piauienses,51 assim como o jornal A Borboleta, editado em 1888, que trazia a inscrição
‘Mimo ao belo sexo.’52
A continuidade desses empreendimentos foi desatacada com o surgimento de O Cisne
(1891), A Pena (1899-1900), Borboleta (1904-1907) e O Escrínio (1908-1909), sendo os
dois primeiros de Campo Maior e os demais de Teresina. Sobre o Borboleta, Teresinha
Queiroz considera que estava vinculado a demandas que visavam as reivindicações de
ocupação da mulher no espaço social.53 Constatamos que o conjunto de periódicos citados
buscavam por meio de suas reivindicações evidenciar a escrita feminina, alcançando em boa
48 PERROT, Michelle. Minha história das mulheres. 2.ed. São Paulo: Contexto, 2016, 13-39. 49 BUITONI, Dulcília Schroeder. Imprensa feminina, São Paulo: Editora Ática, 1986, p. 36. 50 HAHNER, June E. Honra e distinção das famílias. In: PINSKY, Carla Bassanezi; PEDRO, Joana Maria
(Orgs.). Nova História das mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto, 2018, p. 58. 51 FILHO, Celso Pinheiro. História da imprensa no Piauí. 3.ed. Teresina: Halley, 1997. 52 DUARTE, Constância Lima. Imprensa feminina e feministas no Brasil: século XIX: dicionário ilustrado.
Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2016, p. 322-323. 53 QUEIROZ, Teresinha de Jesus Mesquita. Educação no Piauí (1880-1930). Imperatriz: Ética, 2008, p. 94.
149 História e Resistência
medida os objetivos propostos, cumpridos continuamente no Piauí durante as décadas de
1900 a 1930.
3. METODOLOGIA
Para a elaboração desse estudo foram utilizadas fontes hemerográficas dedicadas e
produzidas por mulheres piauienses. Selecionamos periódicos que auxiliaram na
identificação da produção da escrita feminina: O Cisne (1891), A Pena (1899-1900),
Borboleta (1904-1907) e O Escrínio (1908-1909). Ao analisar esses periódicos de forma
comparativa foi possível observar uma continuidade dos objetivos da imprensa feminina no
Piauí, como a formação de um espaço de fala e a busca por direitos.
A realização da pesquisa foi desenvolvida após consultas no Arquivo Público do
Piauí, Núcleo de Pesquisa em Jornalismo e Comunicação/UFPI, Hemeroteca da Biblioteca
Nacional e Acervos Particulares das famílias Ney Facó, Oliveira, Rubim Couto e Rosa.
4. DISCUSSÃO E RESULTADOS
No Piauí tivemos alguns periódicos que promoveram a inserção da mulher na escrita.
A análise será iniciada pelo O Cisne, um jornal de pequeno formato e manuscrito. Seu
primeiro número saiu em outubro de 1891, informando que era redigido por diversos
colaboradores. Era crítico, literário e dedicado ao belo sexo. Com assinatura mensal,
prometia sair semanalmente.54 Nos números consultados foram encontrados textos assinados
com abreviações e pseudônimos. As homenagens seguem como uma prática comum na
impressa. Entre os textos dedicados, Chiquinha Oliveira teve seu nome montando em forma
de acróstico e assinado por “Uma amiga”.55 A Penna, manuscrito e redigido por diversos
colaboradores em seu número de estreia registrou: “Campomaiorenses e bons leitores,
quando no silêncio religioso da vossa alcova, ouvirdes o doce farfalhar de roupas femininas,
não estranheis a pobre confiante será A Pena que vos pede abrigo”.56
As transformações na imprensa feminina foram persistentes. Em 1904 apareceu em
Teresina o primeiro número de o Borboleta. Assim como O Cisne e A Pena, nasceu
54 O CISNE, Campo Maior, ano 1, n. 1, 8 out. 1891. 55 AMIGA, Uma. Acróstico. O Cisne, Campo Maior, ano 1, n. 1, 8 out. 1891, p. 3. 56 A PENA. A Pena, Campo Maior, ano 1, n. 1, 10 dez. 1899, p. 2.
150 História e Resistência
manuscrito, tomando dimensões diferentes, redigido por três jovens da sociedade
teresinense, Alayde Mendes Burlamaqui, Helena Mendes Burlamaqui e Maria Amélia
Rubim. Após o êxito de circulação começou a ser impresso a partir do dia 29 de outubro de
1905. É considerado o primeiro jornal piauiense redigido exclusivamente por mulheres. O
periódico atingiu um público variado, com colaboradores de diversas partes do Piauí,
chegando a circular no Ceará, Maranhão e em outros estados. Em suas páginas é possível
identificar um quadro significativo de mulheres que mantinham correspondência: Cecília
Ney, Dedita Rosa, Leonelina Ney da Silva, Totonha Silva e outras.57
A circulação de o Borboleta proporcionou a criação de outros periódicos. Entre 1908
a 1909 circulou em Teresina O Escrínio (jornal dedicado ao belo sexo) redigido por Jônatas
Batista, apresentando nomes de algumas mulheres conhecidas na sociedade teresinense:
Neném Rubim, Ressú Leal e Urbana Leite.58 A imprensa feminina no Piauí foi se
modificando e a sociedade passou por uma remodelação de costumes, processo que remonta
à Belle Époque. As transformações no espaço social permitiram que a escrita feminina fosse
ganhando novas interpretações e significados.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A imprensa feminina no Piauí se manteve ligada a mecanismos de resistência que
viabilizaram a inclusão das mulheres em espaços que anteriormente não eram possíveis ou
que eram de difícil acesso. Essas ligações ocorreram não apenas no Piauí, mas no mundo. A
imprensa feminina e a literatura se tornaram uma das principais formas da difusão de ideias
que foram adaptadas e incorporadas pelas sociedades.
6. REFERÊNCIAS
BUITONI, Dulcília Schroeder. Imprensa feminina, São Paulo: Editora Ática, 1986, p. 36,
(Série Princípios).
DUARTE, Constância Lima. Imprensa feminina e feministas no Brasil: Século XIX:
dicionário ilustrado. 1 ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2016, p.322-323.
FILHO, Celso Pinheiro. História da imprensa no Piauí. 3.ed. Teresina: Halley/Zodíaco,
1997
HAHNER, June E. Honra e distinção das famílias. In: PINSKY, Carla Bassanezi; PEDRO,
Joana Maria (Orgs.). Nova História das mulheres no Brasil. 1.ed. São Paulo: Contexto, 2018,
p.43-64.
57 Foi consultada a coleção de 1905 a 1906, dos números 14 ao 23, com exceção dos números 19, 21 e 22. 58 O ESCRÍNIO. Teresina, ano 1, n. 9, 21 fev. 1909.
151 História e Resistência
PERROT, Michelle. Minha história das mulheres, 2.ed. São Paulo: Contexto, 2016.
QUEIROZ, Teresinha de Jesus Mesquita. Educação no Piauí (1880-1930). Imperatriz-MA:
Ética, 2008
152 História e Resistência
DA MARGEM À SUPERFÍCIE: A HISTÓRIA DE UM
SUBLITERATO.
Jardiane Lucena Nascimento(mestranda/UFPI)
7. INTRODUÇÃO:
A relação entre História e Literatura é um dos objetivos desse artigo, mostramos
aqui nuances, aproximações e distanciamentos entre essas duas disciplinas e a
receptividade da Literatura dentro do campo historiográfico, bem como a aproximação das
duas, na visão dos historiadores. Essa relação será praticada com a história de um
subliterato – Cineas Santos 59- que queria adentrar espaços institucionalizados em
Teresina, na década de 1970, onde há uma grande manifestação e produção cultural por
parte dos jovens que desejavam romper com a cultura dominante. Essas manifestações
davam-se em torno do teatro, da música, dos comportamentos e através da produção de
jornais alternativos, filmes experimentais e literatura. Os jovens autores dessas
manifestações e produções, mesmo estando localizados em um mesmo segmento da
juventude teresinense, por desejarem “fazer cultura” na cidade, apresentavam
pensamentos divergentes e por isso sua maneira de entender e fazer cultura se contrapunha
de várias formas.
8. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA:
O presente trabalho fundamenta-se em teóricos como Certeau (1998), Hayden
(2001), Chartier (2002), Ginzburg (2007) e Albuquerque Júnior (2007) para falar da relação
entre História e Literatura, destacando o pensamento desses autores nessa relação. Para falar
de juventude e de geração utilizamos Castelo Branco (2004) Sirinelli (2005). Fizemos uso
da história oral, através da entrevista temática e história de vida, na perspectiva de
Thompson (1992) para perceber como um subliterato ganha espaço no meio cultural
institucionalizado teresinense, percorremos o caminho iniciando de sua chegada a Teresina,
59 Cineas das Chagas Santos nasceu em Campo Formoso, município de Caracol, sertão do Piauí, em 20 de
setembro de 1948, filho de Liberato Francisco dos Santos e Porcina Maria das Chagas Santos. Poeta,
cronista, intelectual, professor, agente cultural, advogado, editor e livreiro brasileiro. Proprietário da Livraria
e Editora Corisco e da Oficina da Palavra. Cineas Santos integra o Conselho Estadual de Cultura. Sócio da
UBE/PI. Colaborador dos principais jornais e revistas de Teresina. Possui algumas obras publicadas. Ver:
GONÇALVES, Wilson Carvalho. Dicionário Enciclopédico Piauiense Ilustrado. p. 356
153 História e Resistência
até a década de 1970.
9. METODOLOGIA:
Utilizamos teóricos que versão sobre a relação História e Literatura. Através do
relato de Cineas Santos - que era produtor de jornal alternativo, participante e criador de
grupo teatral e de banda de música, mas que também escreveu para jornais
oficiais, ocupou cargos em lugares institucionalizados - mostramos a vontade de “fazer
cultura” desse representante de uma parcela da juventude que, às vezes, estava aliada ao
governo, percebendo as divergências entre ele e o grupo que se propunha a criar novas
formas de “fazer arte” na capital. Bem como a tentativa de ocupar espaços
institucionalizados como os jornais oficiais e ser apoiado financeiramente por órgãos do
Estado. Também utilizamos jornais como O Estado Interessante e A Hora Fa-tal.
10. DISCUSSÃO E RESULTADOS:
A trajetória desse subliterato como escritor de jornais ganha força dentro da Faculdade de
Direito do Piauí, em 1970, com a edição do jornal alternativo “Cartucho”, ele o situa como
marco importante para sua carreira de jornalista, pois a partir daí é chamado para escrever
para jornais oficiais:
Esse jornal deve ter durado 5 números ou mais, dentro da Faculdade de
Direito do Piauí, não era um jornal oficial, não era um jornal do diretório,
era um jornal alternativo. Então, a partir daí, dessa experiência nesse
jornal - jornal era todo editado por nós, no começo era mimeografado
depois ele passou a ser impresso mesmo numa oficina tipográfica, durou
pouco tempo, [...] bom, a partir daí, comecei a escrever para o Jornal “O
Estado” publicando crônicas [...]60
Podemos perceber também que a cidade era habitada por diferentes segmentos da
juventude, apesar de no sentido biológico eles pertencerem a uma mesma geração,
culturalmente não é o que se vivenciava. Enquanto os jovens que produziam jornais
alternativos como Gramma, O Estado Interessante e A Hora Fa-tal identificavam-se mais
com os movimentos underground e espelhavam-se em jornais como O Pasquim, Cineas
60 SANTOS, Cineas. Entrevista concedida à Jardiane Lucena Nascimento. Teresina: 21/11/2018.
154 História e Resistência
Santos, por sua vez, identificava-se com os espaços institucionalizados, como jornais
oficiais e projetos desenvolvidos ou financiados pelo governo. O conflito entre esses dois
segmentos da juventude teresinense é evidenciado no suplemento A Hora Fa-tal, quando
se dirige ao projeto cultural de Cineas Santos, de forma pejorativa, além de criticar a forma
de ver e fazer cultura desse:
ALÔ Cinéias com seu projeto cultural tudo vai bem na frente
ocidental? Eu é quem não tá muito aí não. Esse negócio de cultura,
pra mim, fede a esgoto. Eu gosto é de fazer coreto. Eu boto é pra
jambrar. Você disse que eu sou poeta chicletes com banana.
Disseste-o bem. Falou. (OLIVEIRA, Edmar. in: A Hora Fa-tal,
1972)
Os modos de fazer cultura de Cineas é criticado por não se dissociar das formas já
existentes, não havendo uma ruptura com ura e pensamentos dominante
155 História e Resistência
DOIS LIVROS-ENGRENAGEM: OS “NORDESTES” DE JÚLIO DE
MESQUITA FILHO E GILBERTO FREYRE.
Francisco Adriano Leal Macêdo (UFPI).
Resumo: Este texto tem como mote estudar as intermitências do pensamento social brasileiro a partir
de escritos de Gilberto Freyre e Júlio de Mesquita Filho, dois indivíduos que ocuparam posições
diferentes no debate intelectual do país entre a terceira e a sétima década do século XX. Buscar-se-á
a partir da análise empírica de dois livros homônimos – ambos intitulados Nordeste, cada qual de um
dos pensadores supracitados – perceber as rupturas e permanências epistemológicas na
criação/invenção e interpretação de espaços e lugares sociais do Brasil pela intelectualidade. Nas
trilhas deixadas pelas ideias destes dois interpretes/ideólogos da cultura e da sociedade brasileira, é
possível perceber certos engajamentos e visões de mundo particulares, bem como pinceladas de
paradigmas que dão tons aos devires científicos de época. O interesse especial pelo signo “Nordeste”
indica elementos em disputa para definição, circunscrição e simbolização. Para compor os
referenciais teórico-metodológicos, autores tais como Fernand Braudel e Claude-Lévi Strauss, para
pensarmos noções de duração e evolução histórica. Os elementos e componentes em análise se
mostraram não ser monocromáticos, tampouco unânimes; Freyre e Mesquita Filho, ainda que
habitem atmosferas históricas semelhantes, se afastam em diversos segmentos.
Palavras-chave: Intelectuais. Nordeste. Júlio de Mesquita Filho. Gilberto Freyre.
Cada atualidade reúne movimentos de
origem e de ritmo diferente: o tempo de hoje
data simultaneamente de ontem, de
anteontem, de antanho.
(Fernand Braudel)
1. INTRODUÇÃO:
Os escritos a serem utilizados como âncora dessa reflexão possuem o mesmo título
– Nordeste –, um de autoria do proprietário do Jornal O Estado de São Paulo – Júlio de
Mesquita Filho – no início da década de 196061 e o outro do sociólogo pernambucano
Gilberto Freyre, publicado a primeira vez em 193762. A edição aqui trabalhada é, todavia, do
ano de 1967 – que traz consigo um prefácio lavrado em 1961. A análise comparada desses
textos indicam os percursos das ideias que germinaram de um significante comum,
possibilitando escrutinar em que medida as noções de evolução e progresso no terreno do
pensamento social se aplicam.
No caso de Gilberto Freyre, o seu Nordeste é caracterizado por um intenso e
contraditório processo de rupturas epistemológicas, com algumas permanências que faz o
61 MESQUITA FILHO, Júlio de. Nordeste. São Paulo: Anhambi, 1963. 62 FREYRE, Gilberto. Nordeste: aspectos da influência da cana sobre a vida e a paisagem do Nordeste do
Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1967.
156 História e Resistência
enunciado do livro ser quase paradoxal. A confluência de paradigmas das ciências sociais e
mesmo da ecologia produzem uma forte verossimilhança, demonstrando a força da narrativa
das obras dos chamados “intérpretes do Brasil” – título atribuído aos intelectuais que se
aventuraram em nomear o que era o Brasil. Júlio de Mesquita Filho escreveu os textos
reunidos sob o título de “Nordeste” originalmente como editorial do próprio jornal, mais de
duas décadas depois do lançamento da primeira edição do livro de Freyre.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A chave da leitura panorâmica aqui proposta é guiada pela ideia fornecida por Gilles
Deleuze que não nos perguntaremos o que os livros “querem dizer”, mas observaremos em
conexão com o que ele funciona: “Não há nada a explicar, nada a compreender, nada a
interpretar. É do tipo ligação elétrica”. Esses livros são como engrenagens que tornam
possível a apreensão de pedaços de mundo e das ideias que o povoam. Eles podem
envelhecer ou ganhar novas vidas. Esse crivo torna possível perceber esses dois livros como
documentos históricos, bem como estudos interessantes para compreensão da região que foi
inventada durante o século XX.
Claude Lévi Strauss, antropólogo que curiosamente esteve no Brasil nos anos 1930
a convite do grupo de Júlio de Mesquita Filho na USP, escreveu em Raça e história que o
chamado “progresso” humano e cultural não é linear ou cumulativo. Essa acepção teórica dá
a ver que as temporalidades não teleológicas que norteiam a produção e circulação de
ideias63.
3. METODOLOGIA:
Nos interciclos das durações históricas é possível notar a curvatura e profundidade
de metamorfoses no pensamento e na circulação de ideias. Os sulcos cavados pelo rio das
novas ou velhas ideias nas margens das ciências sociais também são elementos passíveis de
análise histórica. Para empreender um estudo desse tipo, é importante manter os olhos na
advertência braudeliana sobre pontos de inflexão abruptos serem, em grande medida,
63 LÉVI-STRAUSS, Claude. Raça e História. Lisboa: Presença, 1980.
157 História e Resistência
elementos enganadores64. Partindo dessa formulação do historiador francês, encontramos um
caminho possível para conhecer as transformações no pensamento de estudiosos brasileiros
do século XX, que inseridos em perspectivas diferentes, chegam a conclusões algumas vezes
opostas.
4. DISCUSSÕES E RESULTADOS:
Mesquita Filho fala de uma “incontestável inferioridade do trabalhador rural baiano
[...] trata-se de uma questão de mentalidade, que faz com que o camponês da Bahia
permaneça de mais próximo das suas origens sociais africanas” [sic]. Segue ele
argumentando que esse fenômeno torna “o elemento humano dessa região num ser híbrido
que ainda está longe de se integrar definitivamente na estrutura essencialmente econômica
da civilização contemporânea”65.
Nordeste de Freyre é confessadamente impressionista, buscando retratar uma
presença sobre o assim chamado Nordeste, em suas essências sensoriais e subjetivas. O
movimento de vanguarda impressionista pretendia apelar para a dimensão subjetiva em
busca de “criar” uma realidade, sempre aliado com traços científicos que forneceram ao texto
um “charme de ciência”. Freyre alia isso a elementos empíricos e de pesquisa, resultando
num texto fortemente sedutor. Os elementos centrais abordados: a monocultura da Cana-de-
açúcar e sua relação com a terra, água, mata, animais e homens, tendo sempre em vista como
as suas análises irão romper ou dar continuidade com elementos epistemológicos da época.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Ocupando locus privilegiados durante regimes políticos como a ditadura civil-militar
brasileira, Freyre se inseriu na ordem do discurso para a invenção e cimentação desse Brasil,
com o seu esforço interpretativo que, ao mesmo tempo que valorizava o elemento negro em
certos aspectos, também narrava o “Brasil profundo” a partir da ideia do “mundo que o
português criou”. Apesar disso, e deixando escapar em diversos pontos que a escravidão foi
um meio que terminou justificando seu fim – insistindo na suposta inabilidade do africano
em se rebelar, silenciando as resistências miúdas e o escravizado como sujeito político –
64 BRAUDEL, Fernand. História e Ciências sociais. Lisboa: Editorial Presença, 1976. p. 14. 65 MESQUITA FILHO, Júlio de. Nordeste. São Paulo: Anhambi, 1963. p. 16.
158 História e Resistência
Gilberto Freyre trouxe pontos de um argumento inovador que trinta anos depois Mesquita
Filho pareceu ignorar.
A saber, Freyre escreve que a atribuição recorrente de preguiça e incompetência do
negro para atividade ditas civilizadas “seria torcer um fenômeno de causas nitidamente
sociais para acomodá-lo a um ‘racismo’ muito suspeito”, acrescentando ainda que isso se
manifesta “quase sem nenhum cheiro de ciência e com um odor cada dia mais carregado de
intenção política”. Reforço: o texto de Gilberto Freyre foi editado a primeira vez em 1937;
o de Júlio de Mesquita Filho, em 1963.
Isso significa duas coisas: em primeiro lugar, que o "progresso" (se este
termo ainda é adequado para designar uma realidade muito diferente
daquela a que se tinha primeiramente aplicado) não é nem necessário nem
contínuo; procede por saltos, ou, tal como diriam os biólogos, por
mutações. Estes saltos não consistem em ir sempre mais longe na mesma
direção; são acompanhados por mudanças de orientação, um pouco à
maneira dos cavalos do xadrez que têm sempre à sua disposição várias
progressões mas nunca no mesmo sentido. A humanidade em progresso
nunca se assemelha a uma pessoa que sobe uma escada, acrescentando para
cada um dos seus movimentos um novo degrau a todos aqueles já
anteriormente conquistados, evoca antes o jogador cuja sorte é repartida
por vários dados e que, de cada vez que os lança, os vê espalharem-se no
tabuleiro, formando outras tantas somas diferentes. O que ganhamos num,
arriscamo-nos a perdê-lo noutro e é só de tempos a tempos que a história é
cumulativa, isto é, que as somas se adicionam para formar uma
combinação favorável (LÉVI-STRAUSS, p. 9).
Compreendendo suas motivações intelectuais, podemos vislumbrar
esquematicamente os “cheiros de ciência” ao lado das “intenções políticas”. Segundo a
assertiva de Lévi-Strauss acima transcrita, os tempos das ideias não seguem um progresso
linear. Questões que parecem superadas e obvias, retornam de maneira “tardia” e
anacronicamente. Ao retomarmos a epígrafe de Fernand Braudel, essa questão fica bastante
clara.
6. Referências:
LÉVI-STRAUSS, Claude. Raça e História. Lisboa: Presença, 1980.BRAUDEL, Fernand.
História e Ciências sociais. Lisboa: Editorial Presença, 1976.
Fontes:
FREYRE, Gilberto. Nordeste: aspectos da influência da cana sobre a vida e a paisagem do
Nordeste do Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1967.
MESQUITA FILHO, Júlio de. Nordeste. São Paulo: Anhambi, 1963.
159 História e Resistência
INTELECTUAIS E IMORTAIS: O SER INTELECTUAL NO
CONTEXTO DA ACADEMIA PIAUIENSE DE LETRAS
Gislane Cristiane Machado Tôrres
Doutoranda em História - UFG
Resumo: O texto tem como objetivo refletir sobre o perfil intelectual dos sócios efetivos,
considerados escritores imortais, da Academia Piauiense de Letras. Para os objetivos desse
texto consideramos como intelectuais aqueles indivíduos dotados de poder simbólico
adquirido seja pela formação bacharelesca / acadêmica seja pela inserção prática no mundo
das letras tornando-se sujeitos capazes de influenciar as discussões em torno de temas
políticos, sociais e culturais. Fundada em 1917 e reconhecida como instituição de utilidade
pública, a Academia Piauiense de Letras define no artigo primeiro de seus estatutos a sua
função social, a saber: a valorização da língua nacional e o desenvolvimento da literatura
piauiense. Composta atualmente por 40 sócios efetivos, recrutados via eleição entre
piauienses natos, de reputação ilibada e que sejam autores de obras de manifesto valor, a
Academia Piauiense de Letras acaba por delinear e legitimar um perfil para os homens de
letras e/ou intelectuais atuantes do Estado. Nesse sentido, propomos uma classificação que
nos permita refletir sobre a formação acadêmica/profissional e a atuação social dos
intelectuais imortais: a primeira compreendendo a geração dos fundadores até meados dos
anos 1950, a segunda considerando os acadêmicos eleitos entre os anos 1960 e 1990 e uma
terceira abrangendo os ingressantes a partir da década de 1990. As reflexões teórico-
metodológicas de Pierre Bourdieu, Jean-François Sirinelli e Thomas Sowell nos ajudam a
compreender os variados sentidos em torno da intelectualidade e como estes são vivenciados
no interior desta instituição.
Palavras-chave: Intelectuais. Imortalidade Acadêmica. Academia Piauiense de Letras.
Estatutos.
O texto tem como objetivo refletir sobre o perfil intelectual dos sócios efetivos,
considerados escritores imortais, da Academia Piauiense de Letras. Para os objetivos desse
texto consideramos como intelectuais aqueles indivíduos dotados de poder simbólico
adquirido seja pela formação bacharelesca / acadêmica seja pela inserção prática no mundo
das letras tornando-se sujeitos capazes de influenciar as discussões em torno de temas
políticos, sociais e culturais. Fundada em 1917, a Academia Piauiense de Letras define no
artigo primeiro de seus estatutos a sua função social, a saber, a valorização da língua nacional
e o desenvolvimento da literatura piauiense66. A fim de cumprir seu objetivo a agremiação
definiu em seu primeiro estatuto a admissão de “piauienses natos ou filhos de outros Estados
aqui residentes que tenham, em qualquer dos gêneros de literatura, publicado ou escrito obras
66 SOARES, Nildomar da Silveira (org.). APL: estatutos, regimento interno, acadêmicos e breve histórico da
APL. Teresina: Academia Piauiense de Letras, 2015, p. 34.
160 História e Resistência
de reconhecido mérito67. As readequações nos estatutos e regimentos internos, ocorridos em
virtude da historicidade do sodalício, ampliaram o perfil daqueles que poderiam ser
escolhidos para a vivência da imortalidade acadêmica sendo deles exigidos “reputação
ilibada e que sejam autores de obra de obra, aqui entendida como a produção literária,
científica e artística de manifesto valor em qualquer área do saber”68.
Como exposto em seus estatutos e regimentos, a produção de textos escritos
configura-se como principal requisito para admissão de seus membros efetivos eleitos por
seus pares e que reconhecem nos potenciais candidatos a imortais as qualidades
escriturísticas que os legitimem como intelectuais cuja atuação social demonstre sua atuação
cultural em prol da valorização das letras piauienses. Tendo como referência a formação
profissional e a atuação social dos escritores que alcançaram a imortalidade via eleição para
Academia Piauiense de Letras, propomos a seguinte classificação: a) Entre os anos 1918 a
1950 observa-se a atuação dos sócios fundadores e daqueles que, imediatamente a fundação,
foram por eles escolhidos para ocupar cadeiras no sodalício. Nesse grupo há predomínio da
atuação de bacharéis em direito cuja formação acadêmica extrapolava os saberes jurídicos e
possibilitava a emergência de uma escrita erudita sobre temas variados como filosofia,
sociologia, política e literatura, com predomínio da produção poética. Seus primeiros
sucessores foram, em sua maioria, bacharéis que atuavam na magistratura local; b) Um
segundo grupo de escritores imortais evidencia o reconhecimento institucional da
diversificação do que é considerado um homem de letras. A partir dos anos 1960 ingressam
nesta agremiação indivíduos dotados ou não de formação acadêmica e que além da
publicação de obras literárias tinham os jornais ou a gestão pública do setor cultural como
espaço privilegiado de sua atuação. Suas atuações nos periódicos locais angariavam
considerável público leitor tornando-os capazes de influenciar discussões sobre temas
cotidianos; c) A partir dos anos 1990 a Academia Piauiense de Letras admite o ingresso de
jovens profissionais formados pelas universidades e que atuam em áreas como o magistério,
medicina, funcionalismo público, além da magistratura e jornalismo. Suas produções não
compreendem, necessariamente, a escrita literária estando voltadas para temas específicos
de sua área de atuação profissional.
67 Estatutos da Academia Piauiense de Letras. Revista da Academia Piauiense de Letras, Teresina, nº 14,
novembro 1928. 68 SOARES, Nildomar da Silveira (org.). Livro do Centenário da Academia Piauiense de Letras: 1917-2017.
Teresina: Academia Piauiense de Letras, 2017, p. 63.
161 História e Resistência
Com essa breve classificação tencionamos evidenciar como a Academia Piauiense
de Letras constitui-se como lugar privilegiado para reunir letrados e agentes culturais.
Salientamos as mudanças educacionais vividas pela sociedade brasileira e como estas
impactaram na ampliação do que se considera como intelectual ou homem de letras. Importa-
nos também discutir como estas transformações são experimentadas no interior das
instituições culturais. Convém destacar que o privilégio da formação acadêmica e a atuação
jornalística não são monopólios de nenhuma das classificações aqui propostas. Em um
cenário cultural que até meados da década de 1980 caracterizava-se por alto índice de
analfabetismo e pela pequena oferta de vagas no ensino superior, a ausência de público leitor
efetivo refletia na irregularidade de projetos editorias sejam eles financiados pelo poder
público ou não. Nesse contexto, os jornais e revistas institucionais configuram-se como
espaços importantes onde os intelectuais piauienses podem divulgar suas ideias e textos
literários. para divulgação de suas ideias e textos literários.
Considerando esse cenário pouco propício para ao desenvolvimento da cultura
escrita, percebe-se que os acadêmicos em determinados momentos flexibilizam os critérios
que possibilitam o acesso a imortalidade acadêmica. Aspectos ligados ao exercício de
funções profissionais similares, a conterraneidade, o exercício de cargos no governo estadual
e federal, a origem familiar e o pertencimento a gerações literárias passaram a contar mais
do que o disposto nos regimentos da institucionais. O pertencimento a gerações e grupos
literários é um aspecto importante para se destacar haja vista, a vitaliciedade da experiência
acadêmica ao mesmo tempo que direciona os processos de escolha dos novos membros,
permite que indivíduos de grupos e gerações diferentes convivam no mesmo espaço
institucional. Jean-François Sirinelli ao discutir a noção de geração destaca que embora o
conceito remeta à idéia de regularidade não se pode a plasticidade das relações humanas e
que o pertencimento a uma geração extrapola a identificação por meio da faixa etária69. À
medida que membros de grupos culturais inicialmente alternativos a vida acadêmica
ingressam no sodalício seus membros são convidados a refletir, sobretudo nos processos de
escolha de novos sócios efetivos sobre as noções de pertencimento, autonomia e identidade
institucional identificando nos potenciais membros elementos que lhes garantam a
convivência em comum.
69 Sirinelii, Jean-François. A Geração. In: AMADO, Janaína, FERREIRA, Marieta de Moraes (org). Usos &
Abusos da História Oral. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2000, p. 131-137.
162 História e Resistência
Percebe-se aí a formação de um campo distinto em que os sujeitos compartilham um
habitus que os identificam como semelhantes. A aceitação das normas institucionais
(publicação de obra impressa, reconhecida atuação cultural e reputação ilibada) os insere
num conjunto de práticas e comportamentos capazes de forjar a noção de pertencimento ao
instituir um poder simbólico, habilidade definida por Pierre Bourdieu como “poder de
constituir o dado pela enunciação, de fazer ver e fazer crer, de confirmar ou de transformar
a visão de mundo e, deste modo, a ação sobre o mundo, portanto o mundo”70. Como o
conceito de intelectual assume dimensões subjetivas ao longo dos anos, cabe aos membros
da Academia Piauiense de Letras, definir critérios e escolher aqueles que poderão
compartilhar o espaço acadêmico. Como exposto anteriormente, atender aos requisitos
institucionais não é condição suficiente sendo necessário o reconhecimento por parte dos já
acadêmicos de suas qualidades escriturísticas, profissionais e pessoais.
Dotada de um jogo político próprio com práticas e narrativas que legitimam a atuação
de social de seus membros a Academia Piauiense de Letras forja, segundo as definições de
Pierre Bourdieu71 um campo cultural que, atrelado ao habitus compartilhado, evidencia uma
economia de trocas simbólicas através das quais se exibe a legitimidade das práticas e sua
distinção social por meio do pertencimento a uma instituição reconhecida. Sendo uma
instituição legitimada, considerada de utilidade pública via lei estadual 1002 (de 04 de julho
de 1921), os critérios acadêmicos acabam por nortear o reconhecimento desses indivíduos
como intelectuais e/ou homens de letras, bem como o impacto social de suas produções.
Referências
BOURDIEU, Pierre. A Economia das Trocas Simbólicas. São Paulo: Perspectiva, 2001.
BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002.
Estatutos da Academia Piauiense de Letras. Revista da Academia Piauiense de Letras,
Teresina, nº 14, novembro 1928.
Sirinelii, Jean-François. A Geração. In: AMADO, Janaína, FERREIRA, Marieta de
Moraes (org). Usos & Abusos da História Oral. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2000.
SOARES, Nildomar da Silveira (org.). APL: estatutos, regimento interno, acadêmicos e
breve histórico da APL. Teresina: Academia Piauiense de Letras, 2015.
70 BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002, p. 14. 71 BOURDIEU, Pierre. A Economia das Trocas Simbólicas. São Paulo: Perspectiva, 2001.
163 História e Resistência
SOARES, Nildomar da Silveira (org.). Livro do Centenário da Academia Piauiense de
Letras: 1917-2017. Teresina: Academia Piauiense de Letras, 2017.
164 História e Resistência
KOSELLEK E O SEU LEGADO PARA A CONSTRUÇÃO DA
HISTÓRIA DOS CONCEITOS
Thaise de Sousa Araújo72
1. INTRODUÇÃO:
A obra de Reinhart Koselleck é de extrema importância para a área de ciências humanas,
em especial, as disciplinas de História e ciências sociais. A História dos Conceitos
desenvolvida pelo autor, traz ao pesquisador metodologias e anáilses diferenciadas a luz da
hermenêutica. Entendendo a importância deste intelectual para a área da História, o presente
trabalho tem por pretensão apresentar a vida e a obra do referido historiador, enquanto um
dos principais nomes do campo da História Conceitual na atualidade, mostrando sua
produção, expondo suas principais reflexões e influências na área acadêmica. Buscamos
compreender sua experiencia de vida enquanto sujeito atuante na Segunda Guerra Mundial,
na qualidade de historiador dos conceitos e o contexto intelectual no qual estava inserido.
2. METODOLOGIA:
Para o desenvolvimento do trabalho, contaremos com as produções de Danieli Machado
Bezerra, José D’ Assunção Barros, Júlio Bentivoglio, Reinhar Koselleck, Eugênia Gay e dos
autores espanhóis José Luis Villacañas e Faustino Oncina. Por meio das produções
historiograficas a respeito do pesquisador, trataremos de aspectos gerais de sua vida pessoal
e profíssional, expondo suas principais reflexões e influências na área acadêmica.
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA:
Segundo a historiadora brasileira Danieli Machado Bezerra, a experiência vivida por
Kosellek na Segunda Grande Guerra teria o motivado a ingressar no curso de História da
Universidade de Heidelnberg em 1947.( BEZERRA, 2017, p.2) As experiências com o
conflito, fez com que o mesmo, justificado pela preocupação com o destino do povo alemão
após a guerra, tivesse na Teoria da História um ponto chave em sua pesquisa, e
desenvolvesse estudos sobre temas como: críses, conflitos, nação, pátria, heroísmo e morte.
(BEZERRA,2016. p. 33)
72 Aluna do Programa de Pós-Graduação em História do Brasil da UFPI; Bolsista CAPES/Demanda Social. E-
mail: [email protected]
165 História e Resistência
Ainda conforme a autora, Koselleck quando professor da Universidade de Heindeberg
participou do Grupo de Trabalho da História Moderna. Junto a este grupo, fez contribuições
importantes nas reflexões sobre a segunda Guerra Mundial. A partir de então, surgiu o
projeto “GG”, que culminou com o dicionário. Na instituição, tornou-se um professor
engajado tanto nas ideias políticas, como educacionais, sendo pensador de “(...) uma escrita
historiográfica através da linguagem político-social do mundo moderno e contemporâneo e
que o transforma em um nome de grande projeção dentro do meio acadêmico.”(BEZERRA,
2016, p. 6) Neste novo espaço, Kosellek se relacionou com nomes como: Carl Schmitt, de
quem foi uma espécie de protegido; Johannnes Kuhn, Martin Heiddeger, Hans - George
Gadamer, Werner Conze e Otto Brunnes. Em 1968, Kosellek, como professor, participou
do grupo de História Social Moderna, que se empregou em reformular o que o Nacional
Socialismo havia batizado de conto popular, e foi onde desenvolveu a primeira parte de seu
trabalho, o que o colocou em um prestigiado grupo de pesquisas de Wernwe Conze e Otto
Brunnes( GAY, 2014, p.304). Assim, a História Conceitual apareceu no fim da década de
1960.“
Foi quando Reinhart Kosellek foi transferido para Belfield, e assumuiu o comando de
um grupo de estudos, que o historiador publicou duas grandes obras consideradas
fundamentais: Conceitos Básicos de História: um dicionário sobre os princípios da
linguagem político-social na Alemanha, sendo publicado em nove volumes, em Stuttgart,
entre os anos de 1972 à 1997; e o Manoal de Conceitos Políticos Sociais na França(1680-
1820)( BENTIVOGLIO2010, p. 118-119.), produzidos ao lado do filósofo Joachim Ritter e
do sociólogo Erich Rothacker, que foram importantíssimos para a História Conceitual. O
primeiro, em especial, defendia “(...) a necessidade de uma filosofia prática que realizasse
uma hermenêutica do mundo histórico e não se apartasse da subjetividade interior presente
nas relações interpessoais.” (BENTIVOGLIO, 2010, p. 119) Assim, o alemão se estabeleceu
como um historiador da História das Ideias e História da Modernidade.
Em uma conferência traduzida por Manoel Luíz Salgado e publicada na Revista Estudos
Históricos da Fundação Getúlio Vargas em 1992, com o título: História dos Conceitos:
problemas teóricos e práticos, Koselleck trouxe ao público os caminhos que lhe permitiram
a construção do seu monumental dicionário de conceitos históricos. O historiador relatou
que as escolhas das palavras constituidoras de seu trabalho girariam em torno da
possibilidade que as mesmas tinham de teorização e cujo entendimento seria também
reflexivo. Metodologicamente, na seleção dos termos levava-se em consideração o que
166 História e Resistência
poderia vir a ser e o que estava ápto a não ser. Para isto, seria feito uma análise da própria
língua. Também, em um primeiro momento, o pesquisador aponta o que História dos
Conceitos tem como pretensão saber quando as palavras passaram a ser teorizáveis e em
quanto tempo isso começou a acontecer.( KOSELLECK, 1992, 134·146)
Conforme José d’Assunção, ao tratar sobre os conceitos na história e no discurso,
koselleck trouxe pontos importantes para a historiografia. O historiador brasileiro delimitou
dois pontos relevantes com que a História atualmente trabalha: O primeiro é o plano das
reflexões e construções historiográficas, já o segundo, é o plano histórico que está sendo
examinando. Ou seja, o primeiro refere-se ao labor do historiador no sentido de entender e
desenvolver uma produção histórica, quanto ao último, tem a ver com o período e as fontes
que estão sendo analisados. (D’ASSUNÇAO, 2016, p. 43)
Reinhart Koselleck entende que a História dos Conceitos pode surgir tanto na
sincronia, como na diacronia, ou mesmo que a primeira pode estar inserida na segunda. Isto
é, considera que os conceitos podem aparecer por meio de fenômenos que potencialmente
ocorrerem ao mesmo tempo em lugares distintos, possuindo uma arquitetura que possam
construir uma chave de interpretação mais ampla, com capacidade de explicar as ocorrências
de uma forma mais abrangente. Pondera também que elas podem ser constituídas ao longo
do tempo de modo recorrente. Neste caso, é preciso considerar que os fenômenos possuem
características particulares de cada tempo. Além disso, também é necessário chamar a
atenção que os conceitos são passíveis de mutabilidade quando submetidas a temporalidade
e aplicação da língua, ou seja: “As palavras e as traduções podem permanecer as mesmas,
mas o contexto histórico por ela designado altera-se substancialmente”. KOSELLECK,
1992, p.137)
D’Assunção aponta que Koselleck teve um papel importante ao para o campo da
História ao analisar o tempo histórico. Segundo ele, o historiador alemão desenvolveu dois
conceitos para possibilitar a compreensão das temporalidades, são eles: “espaço de
experiências” e “horizontes de expectativas”. O pesquisador explica que o campo de
experiências está ligado ao passado-presente e corresponde àquilo que pode ser conhecido
pelo homem. Porém, há no passado uma infinidade de fatos desconhecidos e que jamais
serão recuperáveis, por não haver rastros que permitam isso. No campo da experiencias, tudo
o que foi vivido é projetado de alguma maneira para o presente, ficando assim, saturada de
realidade. ( D’ASSUNÇAO, 2016, p.48)
Além do mais, o historiador ressalta que aquilo que um dia pertenceu ao campo da
167 História e Resistência
experiência pode deixar de existir, como é o caso da memória, por exemplo. Da mesma
forma, algo que se achava perdido pode ser encontrado, podendo adentrar o campo ou até
mesmo algo que parecia perecível pode ser preservado por meio de instrumentos e
metodologias no campo histórico, a exemplo, o uso da história oral. O mesmo explica
também que a experiência é mutável, conforme as ocorrências do vivido. ( D’ASSUNÇAO,
2016, p.49) Já o futuro-presente ou “horizontes de expectativas” corresponde a algo que é
desconhecido de nós, ou seja, sabemos que há algo na linha do horizonte, todavia nós não
sabemos do que se trata. Além disso, o futuro é móvel, pois o mesma pode se tornar presente.
( D’ASSUNÇAO, 2016, p.50)
Para Koselleck o conceito atua ao mesmo tempo como resultado de um fenômeno
linguístico e também é indicativo de que algo aconteceu para além da língua, desta maneira,
atua sobre a realidade concreta. O historiador também aponta que o conceito tem por função
tornar algo compreensível, dai a preocupação do mesmo ao escolher as palavras que
assumiriam o status de conceito. As palavras, segundo o historiador “(...) sugerem
imediatamente associações, e essas associações pressupõem um mínimo de sentido comum,
uma pré-aceitação que se trata de palavras importantes e significativas (KOSELLECK, 1992,
P.135.).
Ao produzir seu dicionário, Koselleck inseriu-se em um contexto em que o principal
objetivo era transcender as limitações do Historicísmo de Wilhelm Dilthey, e ainda, por não
haver a preocupação com o anacronismo por parte dos intelectuais da época. Em sua
produção, o rerefeirdo historiador procurou evitar o citado anacronismo, bem como evitar a
concepção de História Social segundo Friedrich Meinecke. A História dos Conceitos se
concebia a parte dos relacionamentos com o poder, reforçando a divisão entre cultura e
política. Meinecke, apesar de defensor desta abordagem, assim como Dilthey o influenciou
com sua “consciência”. Koselleck também teve o giro linguístico de Hans-George Gadamer
e a historicidade de Heindegger. Gadamer foi discípulador de Koseleck, entretanto quando
trata-se da relação entre hermenutica e conceito, os dois traçaram caminhos diferentes.
De acordo com José Luis Villacañas e Faustino Oncina, Gadamer apontou seu olhar
para a História Conceitual posicionando-a para a História Antiga, ao passo que Koselleck
voltou-se para a modernidade. Gadamer acredita na História Conceitual como elemento
importante para revalorizar o elemento da própria filosofia, já Koselleck, que usou a História
Social como disciplina auxiliadora de seu trabalho, auxiiou-se da história comparada, ( que
não é a mesma desenvolvida por MaxWeber para a Sociologia) “(...)para finalmente mostrar
168 História e Resistência
a impossibilidade de uma pretensa objetividade categorial nas ciências sociais. Portanto, o
que finalmente resulta é uma apreciação nietzschiana: as categorias são entendidas quando
perguntadas a quem as usa.”( “(...) para mostrar finalmente la imposibilidad de una
pretendida objetividad categorial en las ciencias sociales. Lo que a la postre resulta es una
apreciación nietzscheana: las categorías se comprenden cuando se pregunta quién las
emplea.” ONCINA; VILLACAÑAS, 1992., p. 14. )
Villacañas e Oncina, comentam que as referências que constituem a História dos
Conceitos de Koselleck, na medida em que contribuíram de maneira filosófica para a
pesquisa histórica em sua pluralidade são mais numerosas e mais variáveis. Os cidados
cientistas estão certos sobre a possibilidade do historiador alemão conhecer todos os seus
antecessores dos aos 20 e 30, e com as investigações de E. Rothacker na história da filosofia,
de W. Jäger em filologia clássica, de J. Kühn no Geistesgeschichte, de C. Schmitt na história
do direito e dos medievalistas W. Schlesinger e O. Brunner. Segundo os espanhós, esta
bagagem pode ser notada quando Koselleck afronta o “desafio do histórico” as “"doutrina
das condições de possibilidade de histórias" em que tentaria levar em bom os trabalhos de
Johan Gustav Droysen; Essas condições de uma espécie de categoria de possíveis histórias.”
( ONCINA; VILLACAÑAS, 1992., p. 14.)
Os pesquisadores ainda apontam que há uma incontestável falta de fundamento a
respeito do significado historiográfico da História Conceitual, entretanto a mesma possui
dois pilares de sustentação: primeiro, a História tem os conceitos como um meio de elaborar
a experiência humana, segundo, “(...) os conceitos possuem história que pode ser rastreada
através dos tempos.” Completam ainda que, ao mesmo tempo em que possui uma dívida
com Gadamer, Koselleck também se apoiou em Hegel para pensar a historicidade do ser
humano como algo que vai além do significado, ele queria demarcar distancias entre a
História e a Hemenêutica, além de acertar contas com o ser e o tempo, a verdade e o método.
4. CONCLUSÃO:
Portanto, concluímos que Rainhart Koselleck por ter sofrido com uma experiência
traumática em meio a Segunda Guerra Mundial, motivou-se a estudar o poder político por
meio da linguagem. Sua produção complexa pela influências academicistas, fez com que o
alemão fosse muito importante para o campo historiográfico, principalmente para a Teoria
da História, e isso se deu pelo citado historiador ter trazido a História das Ideias/História dos
Conceitos em uma nova perspectiva embasada pela hermenêutica, de modo a perceber as
experiências humanas por meio da linguagem, diferente de outras disciplinas, e das
169 História e Resistência
percepções humanas em meio a um tempo heterogêneo.
REFERÊNCIAS:
BEZERRA, Danieli Machado. Esboços sobre a vida e as influências no pensamento de
Koselleck para uma compreensão sobre o surgimento da História dos Conceitos. In:
SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, 29.,2017, Brasília. Anais do XXIX Simpósio
Nacional de História - contra os preconceitos: história e democracia. UNB: 2017., p. 1-15.
Disponível em:
https://www.snh2017.anpuh.org/resources/anais/54/1502402015_ARQUIVO_ArtigoANP
UH2017.pdf
BEZERRA, Danieli Machado, Esboços sobre a vida e as influências no pensamento de
Koselleck para uma compreensão sobre o surgimento da História dos Conceitos. In: ______.
Um contraponto lacaniano e A História Dos Conceitos de Reinhart Koselleck: uma análise
comparativa. 2016. Tese (Pós-Graduação em História Comparada). - Instituto de História.
Universidade Federal do Rio de Janeiro., p. 27-119. Disponível em:
http://www.ppghc.historia.ufrj.br/index.php/teses-e-dissertacoes/teses-e-
dissertacoes/teses/226-um-contraponto-lacaniano-e-a-historia-dos-conceitos-de-reinhart-
koselleck-uma-analise-comparativa/file
BENTIVOGLIO, Júlio. A História Conceitual de Reinhart Koselleck.Dimenões., vol. 24,
2010, p.114-134. Disponíve BENTIVOGLIO, l em:
http://www.periodicos.ufes.br/dimensoes/article/viewFile/2526/2022
D’ASSUNÇAO, Jose. Koselleck, a história dos conceitos e as temporalidades. Araucaria.
Revista Iberoamericana de Filosofía, Política y Humanidades, año 18, nº 35. 2016, p. 44.
Disponível em: .
https://www.researchgate.net/publication/320977191_Koselleck_a_historia_dos_conceitos
_e_as_temporalidades
GAY, Eugênia. Kosellek/Kosellek: notas sobre esperiência e biografia. Hist. Historiografia,
Ouro Petro, n. 16, p.,301-305. 2014 Disponível
em: https://www.historiadahistoriografia.com.br/revista/article/download/735/512.
KOSELLECK, Reinhart. História dos Conceitos: problemas teóricos e práticos. Estudos
Históricos, Rio de Janeiro vot. S, n. 10, 1992, p. 134·146.Disponível em:
http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/reh/article/view/1945/1084
ONCINA,Faustino; VILLACAÑAS,José Luis. Begriffsgeschichte Historiográfica: Más
Allá De La Hermenéutica Y De La Historia De Las Idead.In:______. Reinhart Koselleck,
Hans-Georg Gadamer Historia y hermenéutica, Barcelona, Ediciones Paidós Ibérica, S.A., 1992., p.
10-16. Disponível em: http://www.heortiz.net/ampag/hermeneutica/koselleck-
gadamer_historiayhermeneutica.pdf
170 História e Resistência
NOVAS TEMÁTICAS E METODOLOGIAS NA DINAMIZAÇÃO DO
ENSINO DE HISTÓRIA
Edilene Camêlo dos Santos Silva
Graduanda em História pela Universidade do Piauí
O ensino de História em sala de aula é considerado por alguns estudantes e
populares como uma disciplina decorativa e desinteressante. Por essa razão, este trabalho
tem o objetivo de contribuir para a desconstrução dessa ótica. Assim, o presente trabalho
busca analisar a relevância da utilização de novas metodologias e abordagens no ensino de
História. Analisar as metodologias e abordagens escolhidas pelos professores da escola
pública Djalma Nunes em Floriano-Pi no primeiro ano do ensino médio. Além, de propor
a aplicação da metodologia, jogo do tabuleiro, com conteúdos históricos relacionados a
Roma Antiga. Para isso, nossa análise foi essencialmente baseada na pesquisa de campo.
Na qual, utilizamos os recursos metodológicos da história oral, com entrevistas
semiestruturadas com professor e estudantes.
No ambiente escolar é frequente sermos questionados sobre a razão de estudamos
História. Essa indagação reflete que os estudantes e populares não compreendem o sentido
dos conteúdos para seu cotidiano. Porque consideram que a disciplina se trata de questões
do passado que precisam ser decoradas, entre os resultados estão o desinteresse por parte
do alunato. As abordagens e metodologias do conhecimento se transformaram ao longo das
décadas, nos nossos dias a desconstrução dessa ótica tem persistido. Todavia paradigmas e
conceitos levam muito tempo para serem substituídos ou caírem em desuso. Um dos
mecanismos que auxiliaram que o conhecimento histórico fosse considerado decorativo foi
à forma como ele foi repassado em sala de aula. No entanto, o principal objetivo do
conhecimento histórico é fazer uma ligação entre passado, presente e futuro, para despertar
a criticidade dos estudantes.
Para isso, a análise foi essencialmente baseada na pesquisa de campo. Na qual,
utilizei os recursos metodológicos da história oral, com entrevistas semiestruturadas com
professor e estudantes e a aplicação de uma atividade dinâmica. Um jogo de tabuleiro que
consiste em perguntas e respostas sobre um conhecimento histórico previamente escolhido.
A temática desenvolvida foi a que estava sendo ministrada pelo professor da
comunidade escolar visitada, no qual o assunto foi Roma Antiga. Posteriormente, com a
171 História e Resistência
conclusão das atividades foi aplicado um questionário para ser respondido por professor e
estudantes. A coleta dos dados auxiliou na efetivação dos objetivos propostos. A pesquisa
foi executada no período de 15 de outubro a 06 de novembro, foram realizados encontros
para a análise da escola, elaboração do tabuleiro e questionário. Posteriormente, seguir com
a aplicação das atividades em sala de aula no período vespertino. O questionário destinado
à professora continha 10 perguntas, sendo 9 subjetivas e 1 objetiva, acerca da relevância do
conhecimento histórico H e o seu olhar sobre esses novos métodos para aprender História.
As questões foram compostas inicialmente, pela coleta de dados sobre sua atuação como
docente em história, e sua ótica sobre a utilização de abordagens e metodológicas na
disciplina.
A visita à escola e a análise da dinâmica em sala de aula auxiliaram na composição
da metodologia que propôs a confecção do jogo do tabuleiro com conhecimentos
históricos. O diálogo com a docente de história foi relevante para entendermos qual era a
realidade e os desafios dos estudantes naquela comunidade escolar. Na execução do jogo
do tabuleiro de conhecimento histórico, os alunos foram distribuídos em três equipes, com
as seguintes equipes: laranja, rosa e amarela. Posteriormente foi entregue 10 bombons de
chocolate para cada grupo, como o objetivo de despertar o interesse da participação dos
mesmos.
As perguntas das cartas continham questões em diversos níveis: fácil, intermediário e
difícil. Em algumas tinham desafios positivos e negativos, como por exemplo: você
acertou, avance duas casas; acertou, ganhou três bombons ou você foi eliminado e, ainda,
você caiu no cativeiro.
O jogo do tabuleiro foi iniciado com um representante de cada equipe, que lançou os dados
e seguiam as atividades de acordo com a organização. Assim, a cada partida os jogadores
eram substituídos para que todos pudessem participar e fossem nomeados os vencedores da
atividade.
A História é uma disciplina inserida desde as séries iniciais no currículo escolar,
relevante para o desenvolvimento social e na formação de cidadãos críticos, que conhecem
sua trajetória. Mas, ainda é visto por estudantes e, populares como um saber meramente
decorativo e sem sentido para seu cotidiano.
Dessa forma, deve-se apresentar s aos alunos a correlação do conteúdo histórico
com sua realidade, com o objetivo de despertar o interesse deles, para questões relevantes
não só no ambiente escolar, mas, em todos os âmbitos da sociedade. O resultado da
172 História e Resistência
perspectiva decorativa do saber histórico é compreendido no estuda da história da
historiografia. Os resultados da pesquisa foram validos para propor reflexão sobre a prática
docente no ensino de História. Proporcionou a ampliação do nosso conhecimento sobre as
abordagens e metodologia empregadas no ensino de História. Através do estudo de campo
com a educadora da disciplina foi possível perceber que o positivismo ainda exerce
influência sobre o sistema educacional brasileiro. As abordagens metodológicas são
ferramentas válidas para que nossos alunos se interessem pelo conhecimento histórico.
Constamos que a maioria dos estudantes que participaram da nossa pesquisa, não tem uma
perspectiva clara sobre a função do saber história e muito mesmo sua relevância para a vida
cotidiana.
Portanto, os resultados foram positivos quanto à aplicação da dinâmica proposta,
ela surtiu o efeito que pretendíamos. Todavia, constatei que a problemática tem diversas
ramificações, no qual o sistema educacional brasileiro tem sido um dos maiores empecilhos
para aa ruptura dos estereótipos desenvolvidos sobre o conhecimento histórico.
REFERÊNCIAS
ALVES, Carlos Jordan Lapa; ROSA, Geder da Rocha. Uma reflexão sobre o ensino de
História: um estudo de caso do processo de ensino- aprendizagem. Revista Eletrônica do
Curso de Pedagogia das Faculdades OPET, junho de 2016.
ALVES, Luciana, (2010). O jogo como recurso de aprendizagem. Revista Psicopedagogia,
vol. 27, n°83, São Paulo.
CARRETEIRO, Mário. Construir e Ensinar: as ciências sociais e a História. Porto Alegre:
Artes Médicas, 1997.
CIAMPI, H. O processo do conhecimento/ pesquisa no ensino de História. In: História e
ensino: Revista do laboratório de Ensino de História. Londrina. Eduel. 2003.
173 História e Resistência
ST 05: HISTÓRIA, RESISTÊNCIA E DEMOCRACIA:
ESCRITA E ENSINO
coordenadores:
Profª. Dra. Cláudia Cristina da Silva Fonteneles (UFPI)
Prof°. Dr. Marcelo De Sousa Neto (UESPI)
174 História e Resistência
A CIDADE DESEJADA: REPRESENTAÇÕES DA CIDADE DE
CAMPO MAIOR NAS PÁGINAS DO JORNAL A LUTA DURANTE A
DÉCADA DE 1970
Antonio Jeferson de Sousa (UFPI)
Cláudia Cristina da Silva Fontineles (UFPI)
1. INTRODUÇÃO
O objetivo da presente pesquisa é analisar as representações da cidade a partir da
ótica do jornal, tendo como recorte temporal a década de 1970, onde a cidade passa por
inúmeras transformações, dentre elas, a construção do mercado municipal, terminal
rodoviário, palácio dos carnaubais (sede da prefeitura). A pesquisa foi iniciada a partir do
Programa de Iniciação Científica Voluntária - ICV. Por meio desse projeto, fizemos o
levantamento e análises de fontes oficias, hemerográficas e bibliográficas. O presente estudo
está sendo desenvolvido no programa de pós-graduação em História do Brasil na
Universidade Federal do Piauí.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Buscamos fundamentação nos estudos de Sandra Pesavento (1995), Roger Chartier
(1998), Cláudia Cristina da Silva Fontineles (2015), Francisco Alcides do Nascimento
(2010), Luís Carlos dos Passos Martins (2016), Tânia Regina de Luca (2005), Antonio Paulo
Rezende (2016). Os autores citados nos possibilita estudar a relação: História,
Representação, Cidade e Imprensa. Assim, a partir do referencial teórico, buscamos analisar
as representações da cidade de Campo Maior no jornal A Luta.
3. METODOLOGIA
A partir dos anos 1970, a história passa por mudanças nos seus paradigmas e a
ampliar os seus estudos. A História que deslocou seus estudos para o cultural toma os
periódicos como fontes capazes de mostrar as representações sociais de uma época. Segundo
Tânia Regina de Lucca, “O estatuto da imprensa sofreu deslocamento fundamental ainda na
década de 1970: ao lado da História da imprensa e por meio da imprensa, o próprio jornal
tornou-se objeto de pesquisa histórica.” (LUCA, 2005, p.118)
175 História e Resistência
Assim, o jornal A Luta possibilita visualizar os diversos discursos sobre a cidade,
pois, reportagens, artigos e colunas fazem menção aos problemas urbanos durante os anos
finais da década de 1960 e a primeira metade da década de 1970, mostrando assim como a
cidade foi pensada, desejada e transformada. Segundo o historiador Luís Carlos dos Passos
Martins, “Dessa maneira, os meios de comunicação são espaços privilegiado quando
desejamos identificar as ideias, os projetos e as representações que efetivamente circularam
por determinada coletividade, para além do círculo restrito dos produtores de bens
simbólicos.” (MARTINS, 2016, p.398).
4. DISCUSSÃO E RESULTADOS
O jornal A Luta foi fundado por Raimundo Antunes Ribeiro e circulou de 1967 a
1979. O jornal dependia dos colaboradores, sendo estes responsáveis por escrever as
reportagens, notas sociais e artigos. O jornal é classificado em 1968 como “independente,
crítico e noticioso”. A partir de 1970, o jornal é classificado como “literário, crítico,
noticioso e publicitário”.
Abrindo o jornal A Luta em 1969, os leitores se deparavam com o texto “Cidade
Pobre” escrito pelo poeta e colaborador José Cunha Neto. O autor mostra o cotidiano da
cidade, onde existiam pessoas nas ruas desempregadas, cenário causado pela falta de
indústrias na cidade. “Vamos criar indústrias, vamos ajudar êsse povo. Nossa vida é tão
curta, para que nos preocupamos tanto com a vida material? Vamos ajudar nosso irmão,
criando Indústrias, pois assim nós teremos uma cidade realmente bonita, progressista e
feliz”. (CIDADE, 1969, p.6). Assim, concordamos com a historiadora Sandra Jatahy
Pesavento quando afirma que “O que importa resgatar do ponto de vista da história cultural
do urbano, é que a ‘cidade do desejo’, realizada ou não, existiu com a elaboração simbólica
na concepção de que projetou e a quis concretizar” (PESAVENTO, 1995, p.283)
Em Teresina, a década de 1970 é marcada por construções que visavam embelezar a
cidade, devendo assim, ser seguido por outras cidades. Refletindo sobre esse contexto, a
historiadora Cláudia Cristina da Silva Fontineles ressalta que “Alberto Silva fornece muitas
peças desse sonho modernizador do Piauí, priorizando principalmente investimentos em sua
capital, tanto no primeiro quanto no segundo mandato, tratando-a como a locomotiva que
conduziria os demais municípios em direção ao desenvolvimento”. (FONTINELES, 2015,
p.218)
176 História e Resistência
O cenário de progresso também era visto na cidade de Campo Maior. Durante a
administração do prefeito Jaime da Paz, o jornal mostrava as principais obras construídas
durante a década de 1970. Na reportagem do dia 29 de novembro de 1971 foram enfatizadas
as principais construções do prefeito, dentre elas: “praças, calçamento, chafarizes; no
interior, escolas primárias, minipostos de saúde, chafarizes, pontes, barragens, energia
elétrica, estradas.” (JAIME, 1971, p.1)
Essas transformações anunciadas no jornal A Luta nos mostra as mudanças no
cotidiano da cidade. O jornal mostrava os principais problemas referentes à distribuição de
energia elétrica e abastecimento de água. No dia 27 de fevereiro de 1971 foi publicada no
jornal uma reclamação referente o carnaval. Segundo a reclamação, a CEPISA negou o
fornecimento de energia elétrica durante a noite, causando o descontentamento da
população: “Mas não foi somente durante o carnaval; a caligem é total nas vias públicas, e
agora com o inverno a gravidade duplicou.” (VAMOS, 1971, p.2) Assim, concordamos com
Antonio Paulo Rezende quando afirma que “Por ser obra dos sonhos, medos e desejos, as
cidades não podem ser entendidas como imagens petrificadas. Suas respostas podem parecer
com os sonhos, com um universo que desafia temporalidades.” (REZENDE, 2016, p.30)
Nota-se a partir das reclamações vinculadas no jornal A Luta que a energia elétrica
representava os sonhos de progresso dos campo-maiorenses. Quando a reportagem faz
comparações com outras cidades “E enquanto cidades irmãs super iluminaram as avenidas”
(VAMOS, 1971, p.2), mostra um modelo que deveria ser seguido na cidade. A construção
da sede da CEPISA na década de 1970 corrobora com esse contexto, pois segundo Cláudia
Cristina da Silva Fontineles, “A energia elétrica era tratada como sinônimo de progresso e
de integração nacional, e isso era saudado como fruto da ação do governador, que era
homenageado tanto na construção da sede inaugurada.” (FONTINELES, 2015, p.278)
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Assim, no presente estudo buscamos mostrar como a cidade de Campo Maior,
durante os anos finais da década de 1960 e durante a década de 1970 trilhou os seus caminhos
de modernização e como essas transformações foram representadas na imprensa local, tendo
como ponto de partida a cidade imaginária de José Cunha Neto, onde “bonita, progressista
e feliz” representava os sonhos e desejos dos seus citadinos.
177 História e Resistência
Palavras-Chave: História. Cidade. Imprensa. Representação
6. REFERÊNCIAS
CHARTIER, Roger. A história Cultural: entre práticas e representações. Lisboa: Difusão
editora. 1998.
FONTINELES, Cláudia Cristina da Silva. O recinto do elogio e da crítica: maneiras de durar
de Alberto Silva na memória e na história do Piauí. Teresina: EDUFPI, 2015.
LUCA, Tania Regina de. História dos, nos e por meio dos periódicos. In: PINSKY, Carla
Bassanezi (org.). Fontes históricas. São Paulo: Contexto, 2005.
MARTINS, Luis Carlos dos Passos. Cidades representadas: uma reflexão acerca dos estudos
sobre a imprensa e cidade no Brasil do pós-guerra. História: Debates e Tendências. v.16,
n.2, jul. /dez., p.393-407, 2016.
NASCIMENTO, Francisco Alcides do. Imprensa e imagens: a construção de representações
do Piauí e Teresina através de jornais diários na década de 1970. CLIO. Sério História do
Nordeste (UFPE), v. 281, p.1-26, 2010
PESAVENTO, Sandra J. Muito Além do Espaço: por uma História cultural do urbano.
Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v.8, n. 16, p.279-290,1995.
REZENDE, Antonio Paulo. (Des) encantos Modernos: Histórias da Cidade do Recife na
Década de Vinte. Recife: FUNDARPE, 2016
VAMOS ver o que há de quente. Campo Maior, A Luta, 27 de fev. 1971, p.2
CIDADE Pobre. Campo Maio, A Luta, 12 de jan. 1969, p. 6
JAIME quer inaugurar obras em 71. Campo Maior, A Luta, 29 nov. 1971, p.1
178 História e Resistência
A COBERTURA JORNALÍSTICA DO IMPEACHMENT E SEUS
DESDOBRAMENTOS HISTÓRICOS
Mateus Bevilaqua Barros (UFPI)
Cláudia Cristina da Silva Fontineles
O presente artigo trata da abordagem jornalística do impeachment da ex-presidente
Dilma Rousseff e é fruto de uma pesquisa de Iniciação Científica Voluntária (ICV) realizada
no ano de 2018, de mesmo título.
Esta pesquisa teve como objetivo principal pesquisar sobre a cobertura jornalística
feita sobre o processo de impedimento da presidente, pelos órgãos da imprensa tradicional e
alternativa, em suas plataformas digitais, procurando entender quais os interesses e
argumentos apresentados por eles e a repercussão social de suas abordagens, entre os anos
de 2015 e 2017. No entanto, foram encontradas notícias sobre um pedido de impeachment
em 2014 que partiu do então senador Mário Couto do Partido da Social Democracia
Brasileira (PSDB)73. Considerando que o partido em questão atuou no processo de
impeachment, esse caso ganha ainda maior importância.
Com relação ao procedimento teórico-metodológico, a presente pesquisa se apoiou
principalmente nas contribuições de Roger Chartier (1982), com a utilização de conceitos
como o de “representação” para compreender não somente a criação das narrativas, mas as
intencionalidades por trás da construção de cada uma delas. Além disso, as narrativas
construídas em jornais possuem uma particularidade: como nos ensina Marc Bloch (2002),
diferentemente das narrativas construídas por documentos oficiais (atas de governo,
relatórios etc.), as narrativas de jornais são feitas com a intenção de prevalecer na
posteridade. A forma de analisar esse tipo de fonte, portanto, exige atenção com relação as
entrelinhas, as formas como cada veículo busca induzir a leitura de seu público alvo.
Nesta pesquisa foram selecionados 3 jornais para análise mais aprofundada, sendo
eles o jornal G1, que pertence a um grupo de mídia que alcança grande audiência também
por meio da televisão, o jornal Pragmatismo Político, que se posicionou contrário ao
processo desde o início e pode ser caracterizado como uma mídia alternativa, e o Blog da
Cidadania, que foi escolhido por um motivo de maior relevância. Em março de 2017, o
jornalista Eduardo Guimarães, responsável pelo blog, sofreu uma condução coercitiva como
73 G1. Senador do PSDB protocola pedido de impeachment de Dilma, 1 de abril de 2014. Disponível em:
<http://g1.globo.com/politica/noticia/2014/04/senador-do-psdb-protocola-pedido-de-impeachment-dedilma.
Html.> Acesso em 17/8/2018.
179 História e Resistência
parte da Operação Lava-Jato74 com o intuito de que revelasse a fonte de uma notícia
publicada nesse blog em 26 de fevereiro de 201675.
Primeiramente, o jornal G1 não demonstrou claro apoio ao processo, mas manteve
uma defesa dele utilizando-se de argumentos “técnicos” principalmente a partir de outubro
de 2015. Vejamos a seguinte tabela apresentada ao final de várias notícias referentes ao
impeachment e que começou aparecer nelas em outubro de 2015:
74 G1. Blogueiro é conduzido coercitivamente à PF em SP para prestar depoimento, 21 de março de 2017.
Disponível em: https://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/blogueiro-e-conduzido-coercitivamente-a-pf-em-sp-
para-prestar-depoimento.ghtml. Acesso em 23/5/2019. 75 BLOG DA CIDADANIA. Confira prova de que Lava Jato e mídia formam uma polícia política, 26 de
fevereiro de 2016. Disponível em: https://blogdacidadania.com.br/2016/02/confira-prova-de-que-lava-jato-e-
midia-formam-uma-policia-politica/. Acesso em 13/8/2018.
180 História e Resistência
Fonte: G1, 14 de outubro de 201576.
A imagem acima faz parte de um longo quadro que passou a figurar no referido jornal
explicando o passo-a-passo da tramitação do processo como se este se resumisse a um
processo técnico. Um processo jurídico que engloba uma grande quantidade de políticos e
empresas importantes de um país e que tem um acompanhamento diário da mídia nunca será
somente técnico, e o discurso que sustenta essa posição apenas tenta mascarar suas reais
intenções, o que em nada aumenta sua credibilidade.
Prosseguindo, o jornal Pragmatismo Político desde o início defendeu uma narrativa
em que o processo seria um “golpe”, tecendo críticas a ele em vários aspectos, desde o
aspecto jurídico até a repercussão dele nas redes sociais. Não podemos afirmar nesta
pesquisa se o que ocorreu foi um golpe porque não foram analisados os processos, por conta
disso, focamos apenas nas representações.
Mediante análise, foi possível notar nos jornais alternativos uma relação diferente
com as redes sociais. Foram encontradas muitas notícias que interagiam diretamente com
pessoas “anônimas”, na maioria das vezes relacionando-as a manifestações políticas nas
ruas. Esse tipo de notícia figurava principalmente em jornais que publicavam notícias curtas
e em grande quantidade. Entre os 3 analisados, o Pragmatismo Político pode ser visto dessa
forma. Vejamos o seguinte exemplo:
Fonte: Pragmatismo Político, 6/5/201577.
O conteúdo da notícia em questão não é de grande relevância para esta pesquisa, mas
76 G1. Deputados divergem: maioria simples basta para iniciar impeachment?, 14 de outubro de 2015.
Disponível em: http://g1.globo.com/politica/noticia/2015/10/deputados-divergem-maioria-simples-basta-
para-se-iniciar-impeachment.html. Acesso em 2/8/2018. 77 PRAGMATISMO POLÍTICO. 'Musa dos protestos' lança linha 'pró-impeachment' para ganhar dinheiro, 06
de maio de 2015. Disponível em: <https://www.pragmatismopolitico.com.br/2015/05/musa-dos-protestos-
lanca-linha-pro-impeachment-para-ganhar-dinheiro.html.> Acesso em: 27 fev. 2018.
181 História e Resistência
sim sua abordagem. A referida notícia fala sobre uma mulher “anônima” e, por meio das
redes sociais, toma ciência de suas ações e as repercute como se estas fossem de relevância
para seu público. Não somente isso, o público passa a ter contato direto e interage com esses
jornais.
O Blog da Cidadania, diferentemente do Pragmatismo Político, não publica uma
grande quantidade de notícias (com relação ao impeachment, esse blog normalmente
publicava duas notícias por mês) e estas são maiores. Durante todo o processo de
impeachment, se posicionou de forma contrária, fazendo duras críticas também à Operação
Lava-Jato, de tal forma que houve uma retaliação da própria Operação contra ele, como dito
anteriormente.
O caso ocorrido com Eduardo Guimarães leva à reflexão sobre o que seria de fato a
liberdade de imprensa e a “democracia”. No presente trabalho, uma das grandes referências
foi a obra de Beatriz Kushnir (2001), que, numa interessante abordagem, mostrou como a
censura na ditadura militar logrou resultados para muito além da própria censura oficial. O
impacto da censura no jornalismo não atinge somente aqueles censurados diretamente, mas
toda a classe jornalística que passa a precisar praticar a autocensura para manter o próprio
trabalho.
Por fim, vale ressaltar a importância da análise das disputas de narrativas construídas
pela imprensa digital, que hoje assume grande importância (tal como a TV) e, como não
poderia deixar de ser, o envolvimento político e empresarial nesses meios de comunicação
visa interferir nas relações de força no campo político, tal como já ocorre há bastante tempo
no rádio e na TV. Para melhor compreensão sobre isso o trabalho de Janaine Aires e Suzy
dos Santos (2017) também foi bastante esclarecedor sobre as disputas e intencionalidades
por trás das representações.
Com maior enfoque nos meios de radiodifusão e televisão, as pesquisadoras
mostraram como a relação entre a política (em especial o poder legislativo) e os grandes
meios de comunicação é muito marcada até mesmo por laços familiares. No entanto, cabem
algumas ressalvas com relação a idealização republicana de uma imprensa que não recebe
verbas públicas e nem é licenciada pelo Estado.
Palavras-chave: História; Representações; Brasil; Impeachment; Mídia.
REFERÊNCIAS:
182 História e Resistência
AIRES, Janaine; SANTOS, Suzy dos. Sempre foi pela família: mídias e políticas no Brasil.
1. ed. Rio de Janeiro: Mauad X, 2017.
BLOCH, Marc. Apologia da História ou o Ofício de Historiador. Tradução de André Telles.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor Ltda., 2002.
BLOG DA CIDADANIA. Confira prova de que Lava Jato e mídia formam uma polícia
política, 26 de fevereiro de 2016. Disponível em:
<https://blogdacidadania.com.br/2016/02/confira-prova-de-que-lava-jato-e-midia-formam-
uma-policia-politica/>. Acesso em 13/8/2018.
CHARTIER, Roger. A História Cultural: entre práticas e representações. Lisboa: DIFEL,
1982.
G1. Blogueiro é conduzido coercitivamente à PF em SP para prestar depoimento, 21 de
março de 2017. Disponível em: https://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/blogueiro-e-
conduzido-coercitivamente-a-pf-em-sp-para-prestar-depoimento.ghtml. Acesso em
23/5/2019.
___. Deputados divergem: maioria simples basta para iniciar impeachment?, 14 de outubro
de 2015. Disponível em: http://g1.globo.com/politica/noticia/2015/10/deputados-divergem-
maioria-simples-basta-para-se-iniciar-impeachment.html. Acesso em 2/8/2018.
___. Senador do PSDB protocola pedido de impeachment de Dilma, 1 de abril de 2014.
Disponível em: http://g1.globo.com/politica/noticia/2014/04/senador-do-psdb-protocola-
pedido-de-impeachment-dedilma.Html. Acesso em 17/8/2018.
KUSHNIR, Beatriz. Cães de guarda: jornalistas e censores, do AI-5 à constituição de 1988.
Campinas, SP: [s.n], 2001.
PRAGMATISMO POLÍTICO. 'Musa dos protestos' lança linha 'pró-impeachment' para
ganhar dinheiro, 06 de maio de 2015. Disponível em:
<https://www.pragmatismopolitico.com.br/2015/05/musa-dos-protestos-lanca-linha-pro-
impeachment-para-ganhar-dinheiro.html.> Acesso em: 27 fev. 2018.
183 História e Resistência
A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DOS SURDOS: UM ESTUDO DE
CASO EM UMA ESCOLA PÚBLICA MUNICIPAL NO MUNICÍPIO
DE TERESINA- PIAUÍ
Elayne Cristina Rocha Dias (Mestranda em Educação e Docência-UFMG)
Maria Rosilene de Sena (Especialista em Libras-UESPI)
Resumo
O processo histórico da educação dos Surdos é marcado por embates e diversas filosofias
educacionais na luta pelo direito de viverem como cidadãos e ter o uso de sua língua na
sociedade. O objetivo da pesquisa consiste em analisar as filosofias educacionais ao longo
da história da educação dos Surdos relacionando com a prática dos docentes do 5º ano em
uma escola municipal de Teresina- Piauí. Os específicos correspondem a identificar a
formação desses docentes do 5º ano; as metodologias e recursos utilizados durante as aulas
e verificar as Políticas Públicas de Inclusão do educando Surdo. Para embasamento teórico
sobre o processo histórico da educação Surdos de âmbito geral e Nacional contemplamos os
seguintes autores: Campbell (2009); Cardoso (2003); Dias (2013) assim como documentos
pertinentes, Declarações e Leis que retratam sobre a perspectiva inclusiva. É uma pesquisa
qualitativa e bibliográfica permitindo a apresentação dos principais fatos ocorridos e as
contribuições dos teóricos sobre o processo histórico educacional desse grupo. Realizou-se
observações diretas e entrevistas com três professoras da sala regular; com um professor de
Atendimento Educacional Especializado- AEE; uma tradutora/ intérprete de Libras; um
aluno Surdo e um responsável por esse discente. Percebe-se que os docentes da sala regular
fazem o uso dos recursos: o livro didático; quadro e explanação oral dos conteúdos em suas
aulas desta forma não contempla a Filosofia do Bilinguismo a qual seria a mais adequada
para o educando. Enquanto na sala de AEE, existe uma preocupação do ensino da Língua
Brasileira de Sinais- Libras e da Língua Portuguesa, utilizando-se para isso diversos recursos
visuais. Conclui-se que por mais que se tenha dentro da sala de aula uma tradutora/ intérprete
de Libras a Filosofia da Comunicação Total permanece ativamente na prática desses
educadores acarretando um empasse no processo de ensino e aprendizagem do Surdo.
Palavras-chave: Surdos. História. Educação. Inclusão
1. INTRODUÇÃO
A pesquisa teve como objetivo geral analisar as Filosofias Educacionais ao longo da
história da educação dos Surdos relacionando com a prática dos docentes do 5º ano em uma
escola municipal de Teresina- Piauí.
Aproximação com o objeto da pesquisa parte-se de questões surgidas ao longo de um
percurso profissional e acadêmico e de relatos de docentes que nem sequer perceberam a
presença de alunos Surdos em classes comuns regulares. Desta forma, o problema de
pesquisa: Quais as Filosofias Educacionais ao longo da história da educação dos Surdos
utilizados na prática dos docentes do 5º ano em uma escola municipal de Teresina- Piauí?
184 História e Resistência
Para tal, foi realizado um trabalho de campo em uma escola que apresentava crianças
Surdas no 5º ano do Ensino Fundamental na rede municipal de Teresina. A partir de uma
metodologia envolvendo observação e entrevistas, foi possível colher resultados que
apontam conclusões parciais sobre essa problemática.
2. PROCESSO HISTÓRICO DE EDUCAÇÃO DOS SURDOS
Em nosso país, a partir do século XIX e nas três primeiras décadas do século XX,
surgem ações focadas na ideia da necessidade de atendimento especializado e inclusivo das
pessoas com deficiência nos sistemas sociais, sobretudo na esfera escolar.
A interlocução entre as esferas do Governo e o fortalecimento dos movimentos
sociais, deram início à criação de programas escolares para deficientes mentais e,
posteriormente, para as demais deficiências, incluindo os Surdos.
Cardoso (2003, p.18) enfatiza que “[...] no Brasil, as classes especiais foram criadas
entre 1960 e 1965, em todo território brasileiro, para as pessoas excepcionais”, como
maneira de organizar e manter a homogeneidade das turmas comuns. Ressalta-se que esta
terminologia era utilizada para os indivíduos com deficiência intelectual que frequentam as
classes especiais.
Os Surdos, apesar de não possuírem deficiência na área cognitiva, à época,
frequentam tais classes. No ano de 1961, com a promulgação da primeira Lei de Diretrizes
e Bases da Educação Nacional, o atendimento educacional às pessoas com deficiências passa
por uma fundamentação legal, que assinala seu direito à educação, com preferência no ensino
comum. Aborda-se o tema Educação Especial vinculado ao sistema geral.
Corroborando com a proposta, a Constituição Brasileira de 1988 traz em seu Capítulo
III – da Educação, da Cultura e do Desporto – Art. n. 205, a premissa de que “a educação é
direito de todos e dever do Estado e da família”. O Art. n. 208, prevê, de modo específico,
que o “[...] dever do Estado com a educação será efetivado mediante [...] Atendimento
Educacional Especializado [...], preferencialmente na rede regular de ensino” (BRASIL,
1988).
A mais recente, Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação
Inclusiva (2008) – PNEEEI, que procura acompanhar as transformações do conhecimento e
da sociedade, o intuito é que todos sejam atendidos de acordo com suas especificidades.
185 História e Resistência
Dias (2013) refere-se que um dos primeiros educadores conhecidos por se dedicarem
à educação dos Surdos foi o espanhol Pedro Ponce de León (1520-1584), cujo trabalho
consegue, na ocasião, derrubar argumentos falsos de crenças religiosas, filosóficas e médicas
daquela época. Inicia uma abordagem Oralista como método de aprendizagem.
A Comunicação Total surge como outra filosofia educacional, onde o princípio
básico é o de se comunicar. Nesta perspectiva, os Surdos voltam a empregar a língua de
sinais, haja vista que a abordagem considera qualquer recurso de comunicação aceitável,
levando-se em conta todos os aspectos do alunado, desde o cognitivo até o social.
É a partir desse reconhecimento da sinalização na comunicação que os Surdos se
mobilizam para exigir o uso da língua de sinais na educação escolar, configurando, dentro
da Comunicação Total, o modelo do Bilinguismo. Modelo este que requer o reconhecimento
da identidade e cultura Surdas e incentiva habilitar os Surdos para o uso de duas línguas no
cotidiano escolar e em sua vida social – a primeira (L1) a língua de sinais e a segunda e a
segunda (L2) a modalidade escrita da língua majoritária.
3. METODOLOGIA
Para o desenvolvimento do trabalho, optou-se por uma pesquisa qualitativa e
bibliográfica, visando descrever as práticas e os desafios enfrentados pelos professores do
5º ano de Língua Portuguesa que permeiam uma escola pública municipal, com modelo
inclusivo, de Teresina.
Elegeu-se a metodologia do estudo de caso, por ser definido como um fenômeno de
certa natureza ocorrendo num dado contexto. Para maior recolhimento de dados, foram
utilizadas entrevistas do tipo semiestruturada, permitindo uma maior sistematização nos
resultados como também a opinião livre dos sujeitos pesquisados.
4. DISCUSSÃO E RESULTADOS
A escola situa-se na zona norte de Teresina, com ampla estrutura física e
organizacional acessível para os alunos com deficiência. Percebe-se o seguinte resultado: o
Ideb 2017 nos anos iniciais alcançou 7,7, atingindo a meta estabelecida pela Secretaria de
Educação especificamente para esta instituição. A figura a seguir demonstra a estrutura física
186 História e Resistência
da instituição:
Sobre a formação dos docentes, temos como relato durante as entrevistas que ambos
os três professores possuem formação em Licenciatura em Pedagogia e especialização na
área de educação. Apenas um professor tem conhecimento de Língua Brasileira de Sinais-
Libras adquirido em uma capacitação ofertada pela Secretaria de Educação de Teresina.
Durante as observações em sala de aula os recursos utilizados pelos docentes
correspondem ao livro didático e a lousa com explanação oral dos conteúdos. Tem-se a
presença de uma intérprete, porém ela privilegia a alfabetização desse aluno Surdo, não
realizando sua devida função como consta na legislação. Existe um planejamento utilizados
pelos professores determinados pela Secretaria, com ênfase aos discentes ouvintes.
Outro ponto refere-se ao professor de Atendimento Educacional Especializado- AEE,
que elabora um Plano individual para o aluno Surdo e usa vários recursos visuais no processo
de ensino e aprendizagem desse educando. Diante dessas situações mencionadas e outras
percebidas no decorrer das observações e entrevistas, constata-se o uso da Filosofia da
Comunicação Total em vez de uma perspectiva do Bilinguismo.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por mais que se tenha dentro da sala de aula uma tradutora/ intérprete de Libras a
Filosofia de ensino denominada de Comunicação Total permanece ativamente na prática
desses educadores. Temos como sugestões: a efetivação do seletivo para intérprete de Libras;
a ampliação das salas de AEE nas escolas regulares e a elaboração de um instrumento
avaliativo e de um planejamento específico (PDI).
6. REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília DF:
Senado; 1998.
_________. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da
educação nacional. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 20 dez. 1996. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/seed/arquivos/pdf/tvescola/ leis/lein9394.pdf . Acesso em: 25
jul. 2017.
_________. Ministério da Educação. Política Nacional de Educação Especial na
Perspectiva da Educação Inclusiva. MEC; SEEP; 2008.
CAMPBELL, S. I. Múltiplas faces da Inclusão. Rio de Janeiro: Wak Ed, 2009.
CARDOSO, M. Aspectos históricos da educação especial: da exclusão à inclusão: uma longa
187 História e Resistência
caminhada. In: MOSQUERA, J. M.; STOBAÜS, C. (Org.). Educação especial: em direção
à educação inclusiva. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2003.
DECLARAÇÃO DE SALAMANCA. Necessidades educativas especiais (NEE) In:
CONFERÊNCIA MUNDIAL SOBRE NEE, 1994, Salamanca – Espanha. Qualidade
UNESCO. Salamanca: UNESCO, 1994.
188 História e Resistência
AS MANIFEAÇÕES DE RUA DE JUNHO DE 2013 NA SOCIEDADE
BRASILEIRA E SUAS REPERCUSSÕES NA CIDADE DE TERESINA
Fabricio Brito de Oliveira (Graduando em História UFPI)
Claudia Cristina da Silva Fontineles (Doutora em História UFPI)
1. INTRODUÇÃO
O trabalho discute a recente história do Brasil, com foco nas mobilizações de rua que
ocorreram em junho de 2013. Com ênfase nas duas manifestações de São Paulo (6 e 13 de
junho), a de Brasília e a de Teresina, ocorrida dia 20 de junho, analisamos os acontecimentos
de cada manifestação de forma crítica, estudando os seus participantes, bem como
analisando as diferenças do público em cada cidade, a multiplicação dos eventos, o
crescimento do número de manifestantes e a mudança das reinvindicações. O foco do estudo
é produzir um conhecimento histórico de forma crítica, a fim de analisar a conjuntura política
das manifestações que necessita de esclarecimentos, permeando por assuntos que
influenciaram diretamente na multiplicação dos eventos por todo o país. No panorama local
buscamos entender se as reivindicações seguiam uma linha, objetivando contextualizar a
capital piauiense no ciclo das manifestações nacionais.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Neste trabalho, dialogamos com os autores Agnes Chavenue (1999), Phelippe Tertart (1999),
Maria da Glória Gonh (2015), Hobsbawn (2012), dentre outros. A história recente não pode
ser esquecida e nem posta nas mãos de quem não é responsável para discutir com a sociedade
os fatos históricos, o historiador tem a responsabilidade e, a obrigação social de ser o
interlocutor dos fatos passados com a sociedade. É necessário confirmar o papel social do
historiador, estabelecer métodos justos e sobretudo técnica para conseguir compreender a
história do tempo presente, caso contrário, outros domínios do conhecimento tomarão esse
papel na sociedade, apresentando relatos superficiais que não podem ser avaliados como
científicos.
3. METODOLOGIA
189 História e Resistência
A presente pesquisa foi elaborada através de fontes teóricas, fundamentais nas interlocuções
com as fontes jornalísticas presentes: jornais digitais, sites da mídia tradicional (Folha
Online, Uol, Estadão, G1, G1PIAUÍ, R7, Cidadeverde.com, dentre outros; A análise da fonte
teórica teve como finalidade selecionar conceitos e ideias para fundamentar cientificamente
estre trabalho, principalmente do ponto de vista historiográfico. O uso das fontes digitais
tem o objetivo mostrar o desenvolvimento das fontes históricas. Atualmente, o passado está
no meio digital, os fatos históricos não se encontram somente em jornais de papel e, por
conta disso, nós historiadores também podemos e, devemos, adentrar nesse mundo,
adequando as fontes tecnológicas aos trabalhos científicos.
4. AS MANIFESTAÇÕES
O país se preparava para sediar o maior evento futebolista do planeta, a Copa do Mundo
FIFA, em 2014. Em julho de 2013 já aconteceria o evento teste, a Copa das Confederações.
No sorteio dos jogos para esse evento, um grupo manifestou-se contra os gastos e contra as
mortes violentas na cidade do Rio de Janeiro. O Site da BBC e do Estadão mostram que
eram em torno de quinhentas pessoas e pediam “maior transparência na organização da Copa
e da Olimpíada e o fim das remoções de moradores de comunidades carentes que estão sendo
deslocados pelas obras de infraestrutura ligadas aos dois grandes eventos”. O site Terra e o
portal de notícias G1 mostram que “para protestar contra a violência no Brasil” a ONG Rio
de Paz esteve presente no evento com cerca de 15 pessoas, pedindo providências para a
redução de homicídios no Brasil. Nesse contexto, o prefeito de São Paulo, Fernando Hadadd,
através do Decreto nº 53.935, de 24 de maio de 2013, resolveu aumentar o valor da passagem
de ônibus e trens metropolitanos, o que indignou profundamente população, provocando
enorme descontentamento. O acréscimo de 0,20 (vinte) centavos na passagem de ônibus em
São Paulo motivou o Movimento Passe Livre – MPL a encabeçar as primeiras manifestações
e fez o país fosse manchete nos mais variados jornais do mundo. As ideias das manifestações
foram ganhando força e, como em uma reação em cadeia, as manifestações saíram do cunho
somente dos transportes públicos e se enveredaram para direitos sociais como, educação,
saúde, transporte, moradia, e inclusive honestidade. Em Teresina, no dia 20 de junho houve
uma enorme manifestação nesse sentido, entidades de classe, instituições públicas
190 História e Resistência
organizaram uma manifestação em que milhares de pessoas marcharam pela cidade
reivindicando os mais variados temas. De acordo com o site G1 a manifestação na capital do
Piauí reuniu cerca de 15 mil pessoas, segundo a polícia militar. Na matéria, publicada na
noite de 20 de junho, mostra que os manifestantes reivindicaram contra os gastos com a
Copa, contra a Corrupção, a retirada da PEC que limitava o poder do Ministério Público
dentre outras. A matéria ainda ressalta que houve participação de organizações sociais, do
Ministério Público, da OAB, do Sindicato dos Bancários e de outras instituições de classe.
5. RESULTADOS
Durante o processo de construção deste trabalho, observou-se que os movimentos
convergiram muitas vezes pelo menos sentido, a busca por mobilidade urbana, a busca por
melhorias em serviços de saúde e de educação, como em São Paulo. Em Teresina,
observamos que a maior manifestação foi composta por membros de instituições de classe
como Ministério Público, Sindicato dos Médicos e OAB e as pautas foram mais
centralizadas e requisições subjetivas como a extinção da PEC 33 e PEC 37, a contratação o
de mais médicos para saúde e o fim da corrupção. A pauta do transporte público foi sendo
esquecida, a cara da manifestação não era a mesma dos outros movimentos, ao contrário das
outras cidades onde o front da manifestação era ocupado por jovens, em Teresina vemos
famílias, instituições e pessoas de meia idade.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por fim, percebemos que o movimento local teve suas diferenças com o movimento nacional,
percebemos inclusive semelhanças com os movimentos de 2015/2016, atos que culminaram
no processo de impeachment da presidente Dilma e estabeleceu um fim de uma era de
governos populistas. Dessa forma, apesar de ter havido outras manifestações no período de
junho de 2013 em Teresina, inclusive lideradas por estudantes, a manifestação que teve
maior público e maior repercussão, inclusive nacional, foi esta do dia 20 de junho.
Palavras-chave: História. Movimentos Sociais. Teresina. 2013.
7. REFERÊCIAS
191 História e Resistência
CASTELLS, Manuel. Redes de indignação e esperança: movimentos sociais na era da
internet. Tradução Carlos Alberto Medeiros. 1 ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.
EVERTON, Sthênio de Sousa. Ressonâncias de um passado próximo: Teresina, a cidade do
#Contraoaumento e os movimentos sociais em rede / Sthênio de Sousa Everton. – 2018. 159
f. : il. Dissertação (Mestrado em História do Brasil) – Universidade Federal do Piauí, 2018.
FERREIRA, Marieta de Moraes (Orgs.). Usos e abusos da história oral. Rio de janeiro:
Editora FGV, 2006.
FONTINELES, Cláudia Cristina. Everton, Sthênio de Sousa. A experiência das ruas:
Os protestos do #contraoaumento em Teresina (2011-2012). Cadernos do Tempo Presente,
Disponível em: <https://seer.ufs.br/index.php/tempo/article/viewFile/9889/7598>, Acesso
em 01/02/2019.
HOBSBAWM, Eric J., 1917-2012. Sobre história / Eric Hobsbawm ; tradução Cid Knipel
Moreira. — São Paulo : Companhia das Letras, 2013.
GOHN, Maria da Glória. Manifestações de junho de 2013 no Brasil e praças dos indignados
no mundo. Petrópolis, Rj: Vozes, 2015.
MOTTA, Márcia Maria Menendes. História, memória e tempo presente In:CARDOSO, Ciro
Flamarion; VAINFAS, Ronaldo (Orgs.). Novos Domínios da história. Rio de janeiro:
Elsevier, 2012.
RIOUX, Jean-Pierre. Pode-se fazer uma história do presente? In: CHAUVEAU, Agnès;
Tétard, Philippe. (Orgs.). Questões para a História do presente. Bauru, SP: EDUSC, 1999.
FONTES DA INTERNET
VIANA, Julia Basso. 'Valor será mantido', diz Haddad sobre aumento na tarifa.
<g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2013/06/valor-sera-mantido-diz-haddad-sobre-aumento-
na-tarifa.html>, acesso em 23/11/2018
G1 - Manifestantes protestam contra violência em sorteio da Copa das Confederações -
notícias em Política. <https://g1.globo.com/politica/noticia/2012/12/manifestantes-
protestam-contra-violencia-em-sorteio-da-copa-das-confederacoes-3.html>, acesso em
23/11/2018.
Manifestação reúne cerca 15 mil pessoas pelas ruas de Teresina.
<http://g1.globo.com/pi/piaui/noticia/2013/06/manifestacao-reune-cerca-15-mil-pessoas-
pelas-ruas-de-teresina.html>, acesso em 23/11/2018.
192 História e Resistência
CONJUNTO DIRCEU ARCOVERDE: AS VÁRIAS FORMAS
ENCONTRADAS PELA JUVENTUDE PARA A DIVERSÃO ENTRE
OS MORADORES (1980-1990) Elisnauro Araújo Barros78
Marcelo de Sousa Neto79
Sendo um conjunto habitacional construído para abrigar principalmente pessoas de baixa
renda que vivessem em condições inadequadas de moradia, e também como uma maneira encontrada
de retirar uma população pobre de regiões que aos poucos foram se notabilizando como áreas nobres
e de grande investimento imobiliário, o Dirceu Arcoverde foi construído durante o processo de
ampliação urbanística de Teresina, pertencente ao “Projeto Itararé” acontecido durante a segunda
metade da década de 1970, onde o desejo de ter uma capital que respirasse ares de modernidade foi
compartilhado pelos Governos Federal, Estadual e Municipal.
Mas, a cidade sofria pela desordem urbana em varias regiões, fazendo com que muitas
famílias fossem deslocadas para este projeto, e sem que ainda houvesse um mínimo de condições de
sobrevivência, mesmo sob a alegação das autoridades responsáveis de que não eram obrigadas a
fazer isso em teoria, pois a prática se mostrou bastante diferente com o passar dos primeiros meses
com a entrega das primeiras casas a essas pessoas. É importante esclarecermos que existiram famílias
que vieram para ocupar essas casas por vontade própria, assim como aquelas como foi dito
anteriormente, que não tiveram outra opção.
Assim, neste ambiente inóspito em que foram colocados, aconteceram diversas formas de
lidar com esta situação, e dentre estas, podemos destacar o desejo de muitos jovens de agir através
do palco com a dança, e dos concursos de beleza que agitaram a história dessa juventude. E dentro
destas manifestações, recorremos à metodologia de história oral para que pudéssemos conhecer
alguns fatos retratados pelo morador Marcos Venicio Gomes de Sousa, que através de sua memória
nos instigou a contar como isso ocorreu neste cotidiano entre os anos de 1980 a 1990, nesta região
que ficava afastada do Centro Administrativo de Teresina.
Por isso foi necessário à utilização de autores que trabalhassem dentro da perspectiva da
metodologia oral, memória e cotidiano, para compreender este processo ocorrido com alguns jovens
da comunidade. Portanto, empregamos na construção desse trabalho autores que nos trazem
esclarecimento do que seja a técnica de história oral, como Verena Alberti (2007, 2010), Alessandro
Portelli (2016), e Janaina Amado (1995,1997). No campo da memória, utilizamos Michel Pollak
78 Mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em História do Brasil da Universidade Federal do Piauí-UFPI.
Professor da Rede Municipal de São Luis-MA. 79 Dr. em História (UFPE). Atualmente é Professor Associado ao Curso de História da Universidade Estadual
do Piauí (UESPI). Coordenador do PIBID/HISTÓRIA/UESPI e Professor da Pós-Graduação em História do
Brasil da UFPI.
193 História e Resistência
(1992), Maurice Halbwachs (2003), e Paul Thompson (2002), autores que trabalham com sutileza ao
abordarem um assunto do qual somos sujeitos ativos, numa condição que a nossa sensibilidade nos
tornou por vezes reféns das lembranças.
Na questão do cotidiano, recorremos a Michel de Certeau (2013), e sua maneira de tratar esta
questão do dia a dia na vida das pessoas, e sua identificação com o espaço a que pertence, ou seja,
seu reconhecimento enquanto morador de uma determinada região. Além disso, devemos destacar o
uso de outros autores que forneceram leituras e demais elementos que foram essências para o
desenvolvimento deste trabalho, como Fontineles; Sousa Neto (2017), e Sheila Villanova Borba
(1991).
Realçamos que nosso procedimento de entrevista foi à temática, na tentativa de fazermos
diretamente questionamentos a respeito dessas práticas de diversão presenciadas pelos moradores do
Dirceu Arcoverde, e buscando na oralidade traçar esses caminhos com a máxima atenção, para que
não saíssemos de nosso propósito de descrever esses desbravadores culturais. Assim, o entrevistado
nos lançou uma importante visão a respeito de que vivenciou de fato essa questão do entretenimento
no seu período de mocidade, uma vez que sua narrativa demonstra um profundo conhecimento deste
ambiente vivido intensamente, até mesmo quando mencionar o papel de sua mãe em confeccionar
suas roupas para apresentação.
A questão de propormos a realização desse trabalho foi exatamente discutir como um
conjunto habitacional que padecia de um aparelho público eficaz, constituído de famílias carentes de
algumas regiões de Teresina, fez com que aos poucos fossem surgindo algumas formas de
divertimento principalmente entre os jovens, onde o improviso também deixou sua marca quando se
abordava a forma que foi usada para que fossem realizados ensaios do grupo de dança conhecido
como: dance jazz, onde o entrevistado Marcos Venicio fazia as coreografias e atuava junto como um
dos dançarinos ao lado dos outros jovens.
A consequência desse pioneirismo no Dirceu Arcoverde teve ajuda essencial de uma figura
marcante da história educacional da região. Estamos falando da diretora dona Inês Pereira dos Santos,
pois a mesma liberou uma sala da Unidade Escolar Odylo de Brito Ramos, no intervalo entre o turno
matutino e vespertino para que houvesse os ensaios do dance jazz, e esse fato ficou registrado na
memória do entrevistado. Tais posições de buscar a arte como forma de entretenimento, ainda teve
como resultado, o surgimento de desfile de beleza, onde eram escolhidos a mais bela, e o mais belo
estudante do Dirceu, que eram coroados como miss e mister Dirceu, e sem que esqueçamos a mesma
formula para a escolha do mais belo gay entre os homossexuais do Conjunto, ou seja, miss gay
Dirceu.
Enfim, essa sociabilidade presenciada entre a juventude do Dirceu Arcoverde, deixou marcas
na história de vida de quem tenha participado, ou mesmo tenha sido apenas um observador, vendo
de perto que esse empreendimento social voltado ao interesse único, e exclusivo para o divertimento,
194 História e Resistência
chegou mesmo a romper barreiras da distância, e se tornando conhecido por outras regiões da cidade
de Teresina. Demonstrando assim literalmente que a arte não tem limite, pois onde quer que ela
apareça consegue se sobressair perante as dificuldades, e assim, sem perceber esses jovens foram
agentes culturais através da expressão corporal da dança, e da beleza física.
Palavras-chave: História. Memória. Juventude. Dirceu Arcoverde.
Referências
ALBERTI. Verena. Manual de História Oral. 3ª ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2007.
ALBERTI. Verena. Ouvir contar: textos em História Oral. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2010.
AMADO, Janaina. O grande mentiroso: tradição, veracidade e imaginação em História Oral. Revista
História: São Paulo, v. 14, p. 125-136, 1995.
AMADO, Janaína. A culpa nossa de cada dia: ética e história oral. Projeto História: Revista
do Programa de Estudos Pós-Graduados em História e do Departamento de História da
PUC-SP. São Paulo, n. 15, abr/1997. BORBA, Sheila Villanova. A produção de equipamentos urbanos como alternativa de política social
- o programa nacional de centros sociais urbanos. Porto Alegre: Ensaios, 1991.
CERTEAU, Michel. A invenção do cotidiano: 2. Morar, cozinhar/Michel de Certeau; Luce Giard;
Pierre Mayol. (tradução de Ephraim F. Alves e Lúcia Mathilde Endlich Orth). 12. ed. – Petrópolis,
RJ: Vozes, 2013.
FONTINELES, Cláudia Cristina da Silva; SOUSA NETO, Marcelo de. Nasce um bairro, renasce a
esperança: história e memória de moradores do Conjunto Dirceu Arcoverde. Teresina: EDUFPI,
2017.
HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. /Maurice Halbwachs; Tradução de Beatriz
Sidou. São Paulo: Centauro, 2003. NORA, Pierre. Entre Memória e História: a problemática dos lugares. In: Projeto História: Revista
do programa de Estudos Pós-Graduados em História do Departamento de História da PUC-SP. São
Paulo, 1981.
POLLAK, Michael. Memória e Identidade Social. Estudos históricos. Vol. 5, n.10, Rio de
Janeiro. 1992. PORTELLI, Alessandro. História oral como arte da escuta. / [tradução Ricardo Santiago]. São
Paulo: Letra e Voz, 2016.
SOUSA, Marcos Venício Gomes de. Entrevista concedida a Elisnauro Araújo Barros, na
residência do entrevistado em 01/08/2018. THOMPSON, Paul. A voz do passado: história oral; 3ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 2002.
195 História e Resistência
COMO RESISTIR A CULTURA DE VIOLÊNCIA, POR MEIO DO
ENSINO DE HISTÓRIA: TRABALHO COM A CULTURA DA PAZ
POR MEIO DO PIBID.
Jomarley Moreira de Sousa
Graduando de licenciatura em História
Prof.ª Maria Virginia Sales dos Santos;
Professora de História na rede pública estadual
Prof.ª Dra. Cláudia Cristina da Silva Fontineles
Professora na Universidade Federal do Piaui.
1. INTRODUÇÃO
O presente trabalho é fruto do projeto “Cultura da Paz”, que foi desenvolvido em uma escola
púbica da rede estadual de ensino de Teresina-PI situada na zona sudeste no grande Dirceu
mas especificamente no bairro itararé em abril de 2019, escola essa que funciona em regime
integral com atividades das 7:20 da manhã as 16:20 da tarde de segunda a sexta com
atividades aos sábado de forma esporádica e possui apenas séries de ensino médio contando
com aproximadamente 160 alunos distribuídos em três salas de primeira série, duas de
segunda série e duas de terceira série.
O projeto teve como objetivo possibilitar a reflexão sobre alguns problemas sociais
enfrentados pelos discentes, que são evidenciados por relatos dos próprios alunos assim
como validados por índices relatados na mídia como o jornal G1 que em sete do julho de
dois mil e dezessete notícias que o bairro Dirceu acumula 31% dos casos de violência contra
a mulher em Teresina80 dado divulgado pelo ministério público, ou seja quase metade dos
casos da cidade acontecem num único bairro, no mesmo site no dia oito de julho de dois mil
e dezenove é publicado que o Bairro Dirceu figura juntamente com os bairros Santa Maria,
Angelim e Centro como os bairros com maior índice de roubos no ano anterior a publicação81
notícias que corroboram com a imagem de um bairro violento assim como alertam para a
urgência em mobilizações sociais que visam alertar, educar e intervir nessa situação.
Partindo dessa necessidade o projeto paz na escola proposto pela coordenação da
escola teve como facilitadores a professora de História Maria Virginia Sales dos Santos e
80 Bairro Dirceu acumula 31% dos casos de violência contra a mulher em Teresina. G1, Teresina, 7 de jun. de 2017.
Disponível em: < https://g1.globo.com/pi/piaui/noticia/bairro-dirceu-apresenta-31-dos-casos-de-violencia-
contra-a-mulher-em-teresina.ghtml>. Acesso em: 10 de abr. de 2019. 81 ROMERO, Maria e BARBOSA, Lucas. Santa Maria, Angelim, Centro e Dirceu tiveram maior número de
roubos em 2018. G1, Teresina, 08 de jan. de 2019. Disponível em:
<https://g1.globo.com/pi/piaui/noticia/2019/01/08/santa-maria-angelim-centro-e-dirceu-tiveram-maior-
quantidade-de-roubos-em-2018.ghtml>. Acesso em: 10 de abr. de 2019.
196 História e Resistência
os professores das demais disciplinas, bem como os acadêmicos com bolsas de iniciação à
docência (PIBID) do curso de licenciatura em História da Universidade Federal do Piauí-
UFPI que foram destacados para essa escola, um equipe que conta com dez participantes
sendo oito bolsistas e dois voluntários, todos esses atuaram em conjunto no sentido de
aproximar o conteúdo dos alunos, gerando uma aprendizagem significativa82 através do
debate em sala de aula, propondo a reflexão sobre a violência e como essa se manifesta em
diversos aspectos da realidade social.
Dessa forma o projeto geral foi subdividido em sete eixos temáticos que são paz na
família, paz na escola, paz no trânsito, paz na terceira idade, paz no esporte, paz na infância
e paz no mundo, essas temáticas foram escolhidos por serem demandas que necessitam com
urgência de reflexão e da tomada de consciências sobre práticas que evitam a perpetuação
da cultura de violência, tornando os alunos propagadores de boas ações e de conhecimento
sobre o tema fomentando assim o debate nas famílias dos alunos bem como na comunidade.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Os norteadores desse trabalho são autores de diferentes saberes que se debruçam
sobre a educação em seu aspecto transformado e formado, bem como sobre o espaço físico
em que a escola está situada mas não apenas na região de forma geográfica e sim na
imagética da formação social que envolve esse pedaço de chão que se consolida como bairro
e comunidade que agregam pessoas que tem carga cultural similar e partilham em geral da
mesma formação histórica.
Entre eles temos o psicólogo David Ausubel que “publicou seus primeiros estudos
sobre a teoria da aprendizagem significativa em 1963 (The Psychology of Meaningful
Verbal Learning) e desenvolveu-a durante as décadas de 1960 e 1970.”83 Em seu livro The
acquisition and retention of knowledge: a cognitive view (2000) Ausubel refina seu conceito
porem não o modifica.
O professor emérito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul-UFRGS Marco
Antônio Moreira, nos esclarece sobre os conceitos de Ausubel:
82 AUSUBEL, David 83 TEIXEIRA, Hélio. Teoria da Aprendizagem Significativa de David Ausubel. Hélio Teixeira, 18 de novembro
de 2015. Disponível em:<http://www.helioteixeira.org/ciencias-da-aprendizagem/teoria-da-aprendizagem-
significativa-de-david-ausubel/>. Acesso em: 12 de abr. de 2019.
197 História e Resistência
Aprendizagem significativa é aquela em que ideias expressas
simbolicamente interagem de maneira substantiva e não-arbitrária com
aquilo que o aprendiz já sabe. Substantiva quer dizer não-literal, não ao pé-
da-letra, e não-arbitrária significa que a interação não é com qualquer ideia
prévia, mas sim com algum conhecimento especificamente relevante já
existente na estrutura cognitiva do sujeito que aprende. (MOREIRA, 2010,
p. 2)
Do gancho do aprendizado significativo temos o icônico Paulo freire o patrono da
educação Brasileira que desdobra o conceito e o utiliza de forma brilhante, Freire afirma que
“não basta saber ler mecanicamente que ‘Eva viu a uva’. É necessário compreender qual a
posição que Eva ocupa no seu contexto social, quem trabalha para produzir uvas e quem
lucra com esse trabalho”84 ou seja o sujeito precisa entender além dos conceitos vazios e
distantes de si, o educando precisa enxergar os conceitos dentro da realidade que ele vive, e
não apenas absorvendo mas sobretudo construindo seu saber através de questionamentos,
tomando para si o protagonismo social de sua fala, tomando consciência do seu papel social
enquanto cidadão, como já nos diz Freire “Nas condições de verdadeira aprendizagem, os
educandos vão se transformando em reais sujeitos da construção e da reconstrução do saber
ensinado, ao lado do educador igualmente sujeito do processo”85 quando de fato um
conhecimento é adquirido ele é capaz de transformar vidas.
No que diz respeito a escola no papel de formadora e de local de combate as
fragilidades sociais temos a Prof.ª Dra. Cláudia Cristina da Silva Fontineles que em um
artigo intitulado “AS CENTELHAS DA ESPERANÇA: o papel da literatura e da música no
despertar da consciência histórica” postula que:
Mas defendemos que o ambiente escolar tem muito poder no combate às
fragilidades nas garantias dos direitos civis, sociais e políticos, seja ao
atuar no ocaso gerado pela imaturidade/ incapacidade das famílias em
educar seus filhos, seja no combate a uma tradição histórica de um sistema
de ensino brasileiro fragilizado/inoperante na elaboração e implantação de
um currículo que considere as potencialidades e necessidades de seus
84 FREIRE, Paulo. Simpósio Internacional para a Alfabetização. Irã, 1975. 85 FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra,
1996. p. 26.
198 História e Resistência
estudantes, seja na capacidade de despertar nesse público o interesse em se
conectar àquilo que a escola oferece.” (Fontineles, 2017)
Outro conceito balizar para a concepção desse trabalho é o livro de Fontineles e
Neto intitulado “nasce um bairro renasce a esperança” livro de 2017 que foi lançado pela
Edufpi, nessa obra os autores perfilam o nascimento do bairro e sua passagem de indesejado
a cobiçado devido seu grande numero de eleitores, mostrando a trajetória do bairro e sua
construção estrutural e social.
3. METODOLOGIA
As etapas para a concepção desse projeto se dão pela intervenção dos facilitadores
que explanaram e levaram o debate sobre os temas para as salas, após isso veio a pesquisa
bibliográfica realizada pelos alunos que culminou na confecção de banners, cartazes e faixas
(que foram custeados pelos alunos através de vaquinha) esses matérias forma levados ate
espaço publico (mercando publico do bairro) onde ocorreu uma exposição com abordagem
de populares, num segundo momento ocorreu a apresentação dos trabalhos dentro da escolha
para todos os docentes e discentes.
4. Discussão e Resultados
Esse trabalho mostra como a escola pode ser, e deve ser, uma ferramenta de
transformação social ao passo que agrega esforços em conjunto e envolve todo o corpo
escolar, o principal ganho desse projeto certamente foi a conscientização dos alunos sobre a
violência e suas macelas, como elas se propagam e assolam o corpo social
5. Considerações Finais
Se a pesquisa é um ato de coragem em tempos de crise, o ensino (e nesse caso) o
ensino que visa o despertar sobre a cultura de violência que estamos todos imersos é mais
que um ato fixo de resistência, é uma ação (movimento) com cunho preventivo de máxima
relevância.
O tripé que sustenta a universidade (ensino, pesquisa e extensão) tem atuação
harmônica dentro do PIBID pois o programa contempla as três esferas, atuação na escola
com os 140 alunos, o convite a pesquisa e reflexão sobre o tema, os tornam cidadãos
conscientes sobre a cultura de paz e sua propagação.
Os 140 alunos são impactados diretamente mas esses mesmo alunos se tornam
vetores de atuação em sua família que são impactados de forma indireta, dessa forma o
199 História e Resistência
alcance da atuação do projeto é quadriplicada (levando em consideração a estrutura família
padrão no Brasil, e ignorando os populares que foram abordados), na realidade não temos
como mensurar o alcance da atuação feita numa escola, uma mensagem que ressoa e ecoa,
entre alunos e através da comunidade, e não seria esse o intuito de todo historiador-professor.
4. Referencias
1. Bairro Dirceu acumula 31% dos casos de violência contra a mulher em Teresina. G1,
Teresina, 7 de jun. de 2017. Disponível em: <
https://g1.globo.com/pi/piaui/noticia/bairro-dirceu-apresenta-31-dos-casos-de-
violencia-contra-a-mulher-em-teresina.ghtml>. Acesso em: 10 de abr. de 2019.
2. ROMERO, Maria e BARBOSA, Lucas. Santa Maria, Angelim, Centro e Dirceu
tiveram maior número de roubos em 2018. G1, Teresina, 08 de jan. de 2019.
Disponível em: <https://g1.globo.com/pi/piaui/noticia/2019/01/08/santa-maria-
angelim-centro-e-dirceu-tiveram-maior-quantidade-de-roubos-em-2018.ghtml>.
Acesso em: 10 de abr. de 2019.
3. TEIXEIRA, Hélio. Teoria da Aprendizagem Significativa de David Ausubel. Hélio
Teixeira, 18 de novembro de 2015. Disponível
em:<http://www.helioteixeira.org/ciencias-da-aprendizagem/teoria-da-
aprendizagem-significativa-de-david-ausubel/>. Acesso em: 12 de abr. de 2019.
4. FREIRE, Paulo. Simpósio Internacional para a Alfabetização. Irã, 1975.
5. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa.
São Paulo: Paz e Terra, 1996. p. 26.
200 História e Resistência
DE “CASA NOVA ”: HISTÓRIA E MEMÓRIA DE MIGRANTES NA
FORMAÇÃO DO BAIRRO PIÇARRA EM TERESINA (1950-1970)
Ismael Sousa de Jesus
PPGHB-UFPI
Marcelo de Sousa Neto
UESPI/UFPI
RESUMO O presente trabalho analisa histórias de migrantes rurais e a suas ocupações nos espaços
urbanos, a partir de seus espaços de sociabilidade no novo lugar, a cidade de Teresina. Nesse
sentido fez-se necessário focalizar em um espaço específico, o bairro Piçarra que, mesmo
formado décadas anteriores, constituiu-se no recorte do estudo, região marcada por
significativas transformações na configuração urbana da cidade e com expressivo número
de migrantes. Nesse recorte espacial, analisa-se os conflitos sociais inseridos em áreas tidas
como “marginalizadas”, no caso, os arredores do bairro Piçarra, em especial no “Morro do
Querosene”, evidenciadas por meio das memórias desses migrantes, acessadas com o uso da
Metodologia da História Oral. Entre as fontes utilizadas nesse trabalho, destacaram-se ainda
os periódicos da época, disponíveis no Arquivo Público do Estado do Piauí. A adoção da
Metodologia da História Oral justificou-se como forma possível de acesso a vozes
“emudecidas”, até então, das famílias de migrantes nesses “novos” espaços ocupados.
Destacaram-se, ainda, a discussão com literatura dedicada aos estudos sobre cidade e sobre
Teresina, dentre as quais podem ser citadas as obras de Nascimento (2015), onde destaca os
espaços urbanos ocupados e modernização da cidade na década de 1940, Bresciani (2004)
Pesavento (2002), Rolnik (1995), Matos (2002), Mayol (1996) Fontineles e Sousa Neto
(2017). Sobre o estudo da memória, destacaram-se os estudos de Nora (1993), Le Goff
(2003), Halbwachs (1990) e Pollak (1989). Pôde-se verificar que, a partir da vivência de
cada indivíduo, ficou-se registrado nesse espaço de memória as marcas que relampejam no
instante em que se procura entender, no recorte temporal, as reminiscências emudecidas com
o tempo, perscrutando na captura de fragmentos da história da cidade de Teresina. A
pesquisa aponta que as ocupações irregulares coincidiam com as áreas de promiscuidades,
como classificadas à época, e o bairro Piçarra, alvos de intensa discriminação. Todavia
observamos que suas vidas mesmo com suas divergências nesses espaços periféricos,
mantiveram-se presentes na “memória coletiva” da cidade. Mesmo com suas origens
diversas, esses personagens da cidade constituíram, por suas práticas cotidianas, um
sentimento de pertencimento, de identidade, que se mesclava com a “memória coletiva” da
cidade.
Palavras Chaves: História. Cidade. Migração. Teresina-PI.
1. NTRODUÇÃO
Ao perscrutarmos no estudo da cidade de Teresina nas décadas 1950 e 1960
reverberam multiplicidades de olhares sobre o espaço urbano e suas sociabilidades ao
fazermos releituras de “cidades” que são recriadas constantemente por seus citadinos.
Segundo Ronilk (1995) “cidade é antes de mais nada um imã ” precedendo suas implicações
201 História e Resistência
atrativas nos labirintos e suas tramas urbanas que permeiam enlaces dos desejos e seduções
intrinsicamente expelidas pelas “cidades” de seu tempo. Objetivando analisar a história e
memória de migrantes rurais no processo de ocupações do bairro Piçarra. Este bairro era
“um povoado de palhoças ao longo do caminho de montarias ponto para quem vinha do
interior do Piauí”.(PMT, 1994, p. 124 ) .Segundo Nascimento (2007) “Entre 1940 e 1950
Teresina ganha novas áreas (...) enquanto na zonal sul, a expansão acontecia em direção aos
bairros Piçarra, Vermelha, São Pedro e Tabuleta. (NASCIMENTO, 2007, p. 201) .O
referido Trabalho tem a proposta de analisar as ocupações dos migrantes no bairro Piçarra
, a cidade de Teresina seria a “Casa Nova” desses migrantes procurando entendermos os
“por quês” das populações de migrantes rurais ( na sua maioria) escolheram ocuparem esse
espaço urbano ( Piçarra) e não as outras regiões da cidade ? E como estas “escolhas”
contribuíram para forjar um espaço de sociabilidade onde as práticas cotidianas, um
sentimento de pertencimento, de identidade se mesclava com a “memória coletiva” da
cidade? Como o bairro Piçarra era visto a partir dos jornais da época e como estas ‘leituras”
de cidade reverberavam para uma cosmovisão “marginalizada” das áreas suburbanas? Nesse
contexto histórico, torna-se pertinente buscar respostas “emudecidas” desses migrantes
nessa “nova casa” que resistem a erosão tempo nos “lugares de memória” .
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Objetivando entender a história e memória de migrantes rurais no processo de
ocupações de espaços e suas trajetórias nos caminhos e descaminhos desse lugar de conflitos
que é “a cidade, produto do homem por excelência, fugindo ao seu controle, espaço
agigantado cujas dimensões escapam à compreensão humana”.(BRESCIANI,2004.p.9)..A
visualidade da cidade contribui para a construção de um discurso imaginário que se forma
sobre a imagem urbana. Podemos percebemos que os “textos literários e de arquivo não são
da mesma natureza, mas fazem parte, ambos, do que chamamos de referencial de
contingência, que é socialmente construído e, como tal, histórico” (PESAVENTO, 2002,
p.391). Discursos nos Jornais são reproduções e leituras a partir do lugar de fala sobre a áreas
suburbanas. O “bairro” na perspectiva de Mayol (1994) se “inscreve na história do sujeito
como marca de uma pertença indelével na medida em que é a configuração primeira ,o
arquétipo de todo processo de apropriação do espaço como lugar da vida
cotidiana”.(MAYOL,1994.p44). Todavia é nesse espaço público “particularizado” que
202 História e Resistência
“promove a articulação entre o morador e o mundo citadino ,com ele coexistindo,
reconhecendo-se em suas semelhanças e diferenças”.(FONTINELES & SOUSA
NETO,2017.p.18). E nesse convívio social onde emergem a noção de “territorialidade
identificando o espaço enquanto experiência individual e coletiva, onde a rua, a praça, o
bairro, os percursos estão plenos de lembranças e memórias”(MATOS,2002.p.35).Le Goff
(2003) endossa a discussão que “ o estudo da memória social é um dos meios fundamentais
de abordar os problemas do tempo e da história ,relativamente aos quais a memória está ora
em retraimento ,ora em transbordamento”.(LE GOFF,2003.p.422).Os “lugares de memória”
na visão de Michael de Pollak (1989) apresenta memória de um grupo ou sujeitos históricos
com fronteiras sociais definidas nas referências em que sociedade estava inserida. “A
referência ao passado serve para manter a coesão dos grupos e das instituições que compõem
uma sociedade, para definir seu lugar respectivo, sua complementaridade, mas também as
oposições irredutíveis”.( POLLAK,1989,p.9).
3. METODOLOGIA
As Fontes utilizadas nesse trabalho destacam-se os periódicos da época que tratam
sobre o tema de investigação podendo ser encontradas nas fontes hemerográficas, como os
principais jornais da época, os jornais O DIA e O PIAUÍ estes com livre acesso no “Arquivo
público Anísio Brito” em Teresina no Piauí.. Por meio da fonte Oral podemos ouvir vozes
que foram ‘emudecidas” na memória das famílias de migrantes ,na perspectiva de seu
deslocamento do campo para a cidade, assim como a possibilidade de suas reconstruções de
reminiscências a partir de foco de resistências aos desgastes do tempo na memória dessas
trajetórias múltiplas. Precisa –se de “uma elucidação da relação entre nossas maneiras de
pensar e aqueles das quais ouvimos falar”.(CERTEAU, 2011, p. 143).
4. DISCUSSÃO E RESULTADOS
Segundo Nascimento (2015) o bairro Piçarra surgiu “porque, com que eu já lhe disse,
perto da ponte [ponte de madeira] que passavam os carros, os carros vinham desse mundo
de meu Deus, Fortaleza, carregados passavam lá” (...) A locomoção de pessoas através do
transporte rodoviário também ganhou corpo”. (NASCIMENTO, 2015, p. 187).
203 História e Resistência
A cidade de Teresina experimenta um aumento populacional vertiginoso a partir da
década de 1950. Mendes (2003) reverbera que “em 1950 a população do Piauí havia
ultrapassado um milhão de pessoas contando com 1.046.696 habitantes. Teresina chega a
90.723 habitantes”.(MENDES,2003,p.175). “Em 1940 a cidade possuía 34.695 habitantes
e área do centro era integralmente ocupada” (NASCIMENTO,2015,p.130.) Nascimento
(2015) esclarece “o anel circular da estrada de ferro altera tendência do crescimento original,
“forçando a formação de umas radiais que cresceram seguindo as vias de penetração ,mais
fáceis, sem nenhum planejamento lógico, nascendo em torno delas umas série de habitações
desordenadas, da qual a Piçarra é exemplo marcante”(NASCIMENTO,2015,p.126-127) .
As ocupações irregulares coincidiam com as áreas de promiscuidades como aponta
documento sobre época que “a Piçarra era alvo de discriminação, seja pelo morro do
Querosene-zona de prostituição ,seja pelas inúmeras casas de palhas”.(PMT,1994,p.124)
Trechos de jornais da época conota essa imagem : “esta história de amor com gente da
Piçarra acaba em pancada, lá a cousa é diferente ,se o cabra não andar direitinho o pau tora”.(
O PIAUY,1956).
Com base em entrevista temática com migrantes rurais realizada com a metodologia
de História oral percebemos os diversos fatores que provocaram um fluxo migratório
acentuado na década de 1950 como afirma um migrante Francisco Alves do Nascimento: “o
motivo que levou meu pai e minha família a sair do interior (Alegria) foi a fome e a pobreza
(...) nós vivia da roça e ainda quebrava coco babaçu”.(NASCIMENTO,2005). A crise do
extrativismo no Piauí nos anos 1951,1953 e 1954 e o “declínio da produção extrativa do
Piauí” segundo Mendes (2003) podem ser apontada como um dos catalisadores dessa
impulsão demográfica na cidade de Teresina. Pierre Nora (1993) ratifica na relação entre
“memória e lugares”, em que as “memórias individual e coletiva” têm nos lugares uma
referência importante para construção.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesse sentido fez-se necessário focalizar em um espaço específico-bairro Piçarra-
mesmo sendo um bairro formado em outras décadas constituía um bairro de migrantes rurais.
Diversas famílias tiveram suas vidas alteradas pela fixação de novos espaços. “As imagens
espaciais desempenham papel na memória coletiva”(HALBWACHS,1990 p. 92). Todavia
observamos que suas vidas mesmo com suas divergências representavam a memória coletiva
204 História e Resistência
das pessoas desse espaço urbano, mesmo vindo de lugares diferentes do interior do Piauí
estes passaram a formar um espaço de “memória coletiva”.
A pesquisa aponta que as ocupações irregulares coincidiam com as áreas de
promiscuidades como era classificado à época e o bairro Piçarra alvo de intensa
discriminação. Todavia observamos que suas vidas mesmo com suas divergências nesses
espaços periféricos, mantiveram-se presentes na “memória coletiva” da cidade. Mesmo
provenientes de lugares diversos, esses personagens da cidade constituíram por suas práticas
cotidianas, um sentimento de pertencimento, de identidade, que se mesclava com a
“memória coletiva” da cidade.
6. REFERÊNCIAS
BRESCIANI, Maria Stella. A Cidade :objeto de estudo e experiência vivenciada. R. B.
Estudos Urbanos e Regionais v.6, n.2 / novembro 2004.
CERTEAU, Michael de. A Escrita da História. 3.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2011.
FONTINELES, Cláudia Cristina da Silva; SOUSA NETO, Marcelo de. Nasce um bairro,
Renasce a Esperança: história e memória de moradores do conjunto Habitacional Dirceu
Arcoverde.Teresina:EDUFPI,2017.
HALBWACHS, Maurice .A memória Coletiva. São Paulo: Vértice,1990.
LE GOFF, Jacques. História e Memória. Tradução: Bernardo Leitão et
al.Campinas,SP:Unicamp,2003.
MENDES, Felipe. Economia e desenvolvimento do Piauí. Teresina: FCMC, 2003.
MATOS, Maria Izilda Santos de. Cotidiano e Cultura: história, cidade e trabalho. Bauru,
SP:EDUSC,2002.
MAYOL, Pierre .Morar. In: CERTEAU, Michel de ;GIARD, Luce ;MAYOL, Pierre .A
invenção do cotidiano :2 morar,cozinhar.6 ed.Petrópolis,RJ:Vozes,2005.
NASCIMENTO, Francisco Alcides do. A cidade sob fogo: modernização e violência policial
em Teresina ( 1937-1945). 2 ed.- Teresina: EDUFPI, 2015.
___________,Francisco Alcides do .Cajuína e Cristalina: as transformações espaciais vistas
pelos cronistas que atuaram nos jornais entre 1950 e 1970, Revista Brasileira
,v.27,n53,p.195-214, 2007.
NORA, Pierre. Entre memória e história: a problemática dos lugares. Projeto História, n.10,
São Paulo: Educ,Dez,1993,p.7-28. PMT, Teresina em Bairros. Teresina,1994.
POLLAK, Michael. Memória, esquecimento e silêncio. Estudos Históricos, Rio de Janeiro,2
(3),1989,p.3-15.
PESENTO, Sandra J. O imaginário da cidade: Visões literárias do urbano. Porto Alegre: Editora da
UFRGS, 2002. p.400. RONILK, Raquel. O que é Cidade. São Paulo: Brasiliense,1995.
FONTE HEMOROGRÁFICA
O PIAUÍ, jornal. O pau torou na Piçarra. 02 de jun. de 1956.
ENTREVISTA
NASCIMENTO, Francisco Alves do. Entrevista concedida à Ismael Sousa de
Jesus.(03/12/2005)
205 História e Resistência
NOVAS TEMÁTICAS E METOLOGIAS NA DINAMIZAÇÃO DO
ENSINO DE HISTÓRIA
Edilene Camêlo dos Santos Silva (UESPI)
No ambiente escolar é frequente sermos questionados sobre a razão de estudamos
História. Essa indagação reflete que os estudantes e populares não compreendem o sentido
dos conteúdos para seu cotidiano. Porque consideram que a disciplina se trata de questões
do passado que precisam ser decoradas, entre os resultados estão o desinteresse por parte
do alunato. As abordagens e metodologias do conhecimento se transformaram ao longo das
décadas, nos nossos dias a desconstrução dessa ótica tem persistido. Por essa razão, este
trabalho tem o objetivo de contribuir para a desconstrução dessa ótica; busca apresentar a
relevância da utilização de novas metodologias e abordagens no ensino de História e
analisar as metodologias e abordagens escolhidas pelos professores da escola pública
Djalma Nunes em Floriano-Pi no primeiro ano do ensino médio. Além, de propor a
aplicação da metodologia, jogo do tabuleiro, com conteúdos históricos relacionados a
Roma Antiga.
Para isso, a análise foi essencialmente baseada na pesquisa de campo. Na qual,
utilizei os recursos metodológicos da história oral, com entrevistas semiestruturadas com
professor e estudantes e a aplicação de uma atividade dinâmica. Um jogo de tabuleiro que
consiste em perguntas e respostas sobre um conhecimento histórico previamente escolhido.
A temática desenvolvida foi a que estava sendo ministrada pelo professor da
comunidade escolar visitada, no qual o assunto foi Roma Antiga.
Os resultados da pesquisa foram validos para propor reflexão sobre a prática docente
no ensino de História. Proporcionou a ampliação do nosso conhecimento sobre as
abordagens e metodologia empregadas no ensino de História. Através do estudo de campo
com a educadora da disciplina foi possível perceber que o positivismo ainda exerce
influência sobre o sistema educacional brasileiro. As abordagens metodológicas são
ferramentas válidas para que nossos alunos se interessem pelo conhecimento histórico.
Constamos que a maioria dos estudantes que participaram da nossa pesquisa, não tem uma
perspectiva clara sobre a função do saber história e muito mesmo sua relevância para a vida
cotidiana.
Portanto, os resultados foram positivos quanto à aplicação da dinâmica proposta,
ela surtiu o efeito que pretendíamos. Todavia, constatei que a problemática tem diversas
206 História e Resistência
ramificações, no qual o sistema educacional brasileiro tem sido um dos maiores empecilhos
para a ruptura dos estereótipos desenvolvidos sobre o conhecimento histórico.
Palavras-Chave: História. Ensino. Aprendizagem. Metodologia
207 História e Resistência
NAS ENTRELINHAS DA INFORMAÇÃO: AS TRAJETÓRIAS DA
GRANDE IMPRENSA NA DITADURA CIVIL-MILITAR (1964-1968)
Isabela Sousa Moura (UFPI)
Cláudia Cristina da Silva Fontineles (UFPI)
1. INTRODUÇÃO
O presente texto está vinculado às pesquisas e descobertas através do Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação Científica correspondente ao plano de trabalho
intitulado: “Democracia x autoritarismo: história e imprensa (décadas de 1960 e 1970)”,
sendo este ligado ao projeto: “Jeitos de contar: narrativas governamentais, jornalísticas e
literárias sobre o Brasil Republicano (a partir da década de 60)”, respectivamente orientado
e coordenado pela Professora Dr.ª Cláudia Cristina da Silva Fontineles. Os periódicos
utilizados foram o Correio da Manhã (RJ), Jornal do Brasil (RJ), O Dia (PI) e Jornal O Estado
do Piauí (PI) durante a instauração, consolidação e recrudescimento do Regime Civil-
Militar, através do entendimento do teor dos discursos, seus propósitos e ambiguidades. A
análise dos editoriais citados acima apresenta itinerários ambíguos e contraditórios
percebidos durante as diferentes etapas da pesquisa que esclarecem aspectos importantes da
história social e política do período. Os jornais escolhidos para a análise são divididos nas
seguintes etapas: o Golpe Civil-Militar e o início da Ditadura em 1964; a consolidação da
ordem autoritária com o AI-2 e a eleição indireta do General Costa e Silva e o
recrudescimento do Regime com a Lei da Imprensa (5.250/67) e o AI-5.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Os aportes bibliográficos fundamentaram e direcionaram o trabalho à luz de diferentes
reflexões, para uma melhor analise e abordagem sobre os discursos e como os mesmos eram
representados nos jornais através de notícias, foram utilizados os teóricos Roger Chartier e
Michel de Certeau. As reflexões sobre a historiografia do Regime foram feitas através de
textos dos historiadores Jorge Ferreira, Daniel Aarão Reis e Carlos Fico, leituras
enriquecedoras para delinear aspectos importantes sobre o golpe à deposição do governo
constitucional respaldada por setores sociais significativos, a busca de legitimidade através
dos discursos em defesa da democracia, que se desemborcava nas duras contradições das
leis da Justiça Militar, através da imposição do bipartidarismo, fechamento do congresso de
tempos em tempos e da perseguição aos oposicionistas, tais ambiguidades são desenhadas
208 História e Resistência
de maneira explicita nas páginas dos jornais. Onde uma das primeiras manifestações públicas
de oposição no meio intelectualizado surgiu de um dos jornais utilizado como fonte: Correio
da Manhã (RJ) (que de início apoiara o golpe).
3. METODOLOGIA
As fontes utilizadas foram notícias dos jornais escolhidos a partir da historiografia sobre
Regime, e também a pesquisa com documentos oficiais que estão disponíveis no Sistema de
Informações do Arquivo Nacional. A metodologia utilizada para a problematização das
fontes se consolidou através da analise do projeto gráfico dos editoriais, voltada para
articulação e organização de conteúdos nas diversas seções no corpo dos periódicos como,
por exemplo: as capas (manchetes, slogans, fotos) e partes do caderno foram analisadas
tendo em vista a constituição de uma hierarquização e ângulos de abordagem dos conteúdos;
observação das colunas fixas e assinadas por cronistas o que é perceptível o favorecimento
de alguns temas abordados, iconografia que por vezes reforçam o conteúdo textual ou entra
em conflito com o mesmo.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Os jornais delineiam uma função informativa emaranhada de aspectos ideológicos, nesse
meio termo, os mesmos desempenham princípios objetivos que fazem pensar a
representação do real, mas se utilizam de mecanismos que lhes garantem confiabilidade e
legitimidade como porta-vozes da sociedade para representar o real à luz dos seus interesses.
Essa ideia astuta de imparcialidade se torna um mecanismo intensivo que o opera na
construção ideológica por meio dos jornais desenhando “maneiras de crer” bem definidas,
evidenciado por Certeau: “Avançam camuflados em fatos, em dados e acontecimentos.
Apresentam-se como mensageiros do real [...] criam assim a cena da sua lei. O real contado,
dita interminavelmente aquilo que se deve fazer.”86 Assim, a imprensa se configura como
uma força ativa da sociedade, não apenas como um registro de acontecimentos.
Nas notícias vinculadas nos jornais é perceptível o papel de personagem político central
no desenrolar da deposição do Presidente João Goulart, o que se configura através da
tentativa de criar um clima de unanimidade nacional no teor dos seus discursos. Esta atitude
86 CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano. 22.ed. rio de Janeiro: Vozes, 2014.
209 História e Resistência
se transfigura no papel da imprensa como um personagem político, que diante de termos de
unificação como: “a nação”, “o país”, “o povo” e frases que impõe o sentido de coletividade:
“Não admitimos que para restaurar a disciplina se restabeleça o arbítrio de quem quer que
seja [...]”87 desenha uma trama discursiva que amplifica sua necessidade de afirmação,
edificando um papel hegemônico no qual, seu ponto de vista, legitima uma identidade
construída e ilustra sua imagem de formadora de opinião. Da mesma maneira o Jornal O Dia
destaca, em matéria na primeira página, uma traçado linear de informações na busca pela
reafirmação de que o “comando revolucionário” traria a paz para o país: “Balanço da crise:
renúncias, deposições, vitórias e alegrias”, “Brasil a caminho da paz”88, o conteúdo realça a
declaração dada pelo Congresso, onde declarava vaga à cadeira presidencial, sob o
argumento de que o Presidente João Goulart havia abandonado o governo, oficializando
assim o golpe. O Jornal O Dia, de maneira linear, afirma que a “renúncia” do mesmo
resultou em vitórias e alegrias. Apesar do intensivo apoio a derrubada do governo
constitucional, algumas ambiguidades são reveladas um dia após a instauração do golpe, a
invasão ao periódico vespertino “A Última Hora” por parte do DOPS, o jornal Correio da
Manhã descreve o ataque ao mesmo como um crime contra a liberdade de expressão e
complementa fazendo a advertência de que tal fato não fosse punido “a liberdade de
imprensa no Brasil acabou”.89 o fato das criticas sobre a truculência da polícia do exército já
estarem sendo vinculadas dois dias após a deflagração do golpe civil-militar, isso mostra as
contradições nas notícias vinculadas a favor do Regime em defesa da democracia, além de
um contraponto ao que é presente na historiografia sobre os discursos jornalísticos quanto à
oposição às ações militares, onde geralmente é discutido que as criticas ao excessos do
Governo Autoritário se fez depois do AI-5, como forma de resistência.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por fim, diante do que foi pesquisa é importante destacar que a Imprensa não se
configurou como um bloco monolítico quando aos seus posicionamentos diante do Regime
onde os posicionamentos ambíguos e instáveis desnaturaliza algumas narrativas que
apresenta a trajetória da imprensa na época como linear, entre o apoio a ditadura e a
87 VITÓRIA, Correio da Manhã, Rio de Janeiro, p.1, 1 abr. 1964. 88 BRASIL, Jornal O DIA, Teresina, p.1, 2 abr. 1964. 89 A DOPS NÃO CONFESSA, Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 2 abr.1964.
210 História e Resistência
resistência à censura. Pois, assim como jornais como O Correio da Manhã que chegou ao
fim após duras repressões devido ao seu caráter oposicionista, o Jornal O Dia aumentou a
venda de seus exemplares, um sucesso empresarial aliado a uma dependência política do
regime vigente. Além disso, foi possível perceber que a censura foi aliada do Regime antes
mesmo da Lei da Imprensa (5.250/67) e do AI-5 (1968), através de mecanismo de
informações para controlar as notícias vinculadas, como o Sistema Nacional de Informações
(SNI), criado em 1964, estruturado a partir da preocupação com as informações que a
imprensa poderia divulgar para ao público leitor.
REFERÊNCIAS
FONTES HEMEROGRÁFICAS:
A DOPS NÃO CONFESSA, Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 2 abr.1964.
BRASIL, Jornal O DIA, Teresina, p.1, 2 abr. 1964.
VITÓRIA, Correio da Manhã, Rio de Janeiro, p.1, 1 abr. 1964.
BIBLIOGRAFIA:
BARBOSA, Marinalva. História cultural da Imprensa: Brasil 1900-2000. Rio de Janeiro:
Mawad X, 2007.
CHARTIER, Roger. História Cultural: entre práticas e representações. Lisboa. Rio de
Janeiro: Bertrand/DIFEL, 1988.
CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano. 22.ed. rio de Janeiro: Vozes, 2014.
CRUZ, Heloisa de Faria; PEIXOTO, Maria do Rosário da Cunha. Na oficina do historiador:
conversas sobre história e imprensa. Projeto História. São Paulo, n. 35, p.257-271, dez.,
2007.
FERREIRA, Jorge; GOMES, Ângela de Castro. 1964: o golpe que derrubou um presidente
pôs fim ao regime democrático e instituiu a ditadura no Brasil. 1.ed. Rio de Janeiro:
Civilização brasileira, 2014.
OLIVEIRA, Marylu. Contra a foice e o martelo. Considerações sobre o discurso
anticomunista piauiense no período de 1959-1969: uma análise a partir do Jornal O Dia.
Teresina: Fundação Monsenhor Chaves, 2007.
REIS, Daniel Aarão; RIDENTI, Marcelo; SÁ MOTTA, Rodrigo Patto. A ditadura que
mudou o Brasil: 50 anos do golpe de 1964. 1.ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2014.
211 História e Resistência
NO PORVIR DE UMA (RE)DEMOCRATIZAÇÃO: notas didáticas
acerca da Assembleia Nacional Constituinte (1987-1988) e alguns
desdobramentos
Rômulo Rossy Leal Carvalho (UFPI/CSHNB)
RESUMO: Em 1988, foi promulgada uma nova Constituição da República Federativa do
Brasil, sob a liderança de partidos, parlamentares e a sociedade civil, a partir de uma
Assembleia Nacional Constituinte (1987-1988), que procurou dar voz a diferentes grupos
sociais. Passados trinta anos deste acontecimento singular para a história do país, pela
acentuação de direitos e deveres, apresenta-se, por intermédio desse artigo, a produção de
um capítulo didático, intitulado: 30 anos da Constituição da República Federativa do Brasil:
já somos cidadãos e cidadãs?, desenvolvido no quadro da disciplina Metodologia do Ensino
de História (2018.1), cuja problemática central decorreu do exame em torno das palavras de
Ulysses Guimarães, segundo as quais cidadão seria quem tivesse saúde, educação, moradia
e lazer quando descansasse. Para a realização desse trabalho, contamos, precipuamente, com
aportes fornecidos pelo site oficial do Senado Federal, além de matérias, depoimentos,
fotografias, cujo intuito era o de fornecer um panorama sobre a participação popular no
processo da Constituinte. Em termos de suporte teórico, respaldamo-nos, precipuamente, em
Maria Helena Vesiani (2010) e Cláudio Vicentino (2010). Procedemos à metodologia de
didatizar tais eventos utilizando de recursos amparados em um ensino de história crítico,
baseado em Luis Fernando Cerri (2011). Com isso, obtivemos resultados que corroboraram
com a perspectiva de que o processo democrático, em uma República, integra um itinerário
ainda não sólido e que necessita, constantemente, da ação e participação popular para sua
consolidação.
PALAVRAS-CHAVE: História. Democracia. Ensino. Assembleia Nacional Constituinte.
1 INTRODUÇÃO
Começo a minuta desse artigo lendo a matéria de Cecília Garcia, do portal UOL,
em que, por meio do decreto 9.759, o governo atual, do presidente Jair Bolsonaro, propõe
a extinção de dezenas de colegiados federais cujo intuito seria o de evidenciar e amparar a
participação popular, da sociedade civil no governo.
Ressumbram indagações diante de decretos dessa natureza. O trabalho que ora
apresentamos trata da escrita de um capítulo didático, proposto no quadro da disciplina
Metodologia do Ensino de História, especificamente no semestre 2018.1, no Campus
Senador Helvídio Nunes de Barros, Universidade Federal do Piauí, em Picos(PI), ministrada
pela Prof. Ms. Ana Paula Cantelli Castro. Com um grupo de quatro graduandos, pensamos
a minuta do trabalho na esfera da didatização, ao menos na tentativa, acerca do processo de
212 História e Resistência
Assembleia Nacional Constituinte (1987-1988), após uma série de movimentos, entre os
quais se destaca o Diretas Já, em que vários partidos e agentes da sociedade civil bradaram
que sem a presença do povo já não seria possível escrever uma nova Carta Magna. A
problemática central girava em torno da questão: passados trinta anos da promulgação da
Carta de 1988, já somos cidadãos e cidadãs?
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Justificamos a escrita e apresentação do capítulo em virtude da atualidade que o tema
evoca. Discutir República, Cidadania, Democracia, Constituição faz-se uma tarefa que
arremata proposições sempre necessárias e que valorizam, sobretudo, o diálogo, mesmo com
os entraves arcabouçados por regimes que versam o oposto do regime democrático. Para
tanto, dialogamos, precipuamente, com a autora Maria Helena Vesiani (2010) que elabora
um trabalho salutar no sentido de demarcar que república se reconstruía no decurso da
Assembleia Nacional Constituinte (1987-1988) a partir do indicativo a materiais contidos na
Memória da Constituinte, no site oficial do Senado e da Câmara Federal, onde também é
possível constatar a existência de informações importantes a serem problematizadas.
3 METODOLOGIA
Para a feitura do capítulo didático, dialogamos com o autor Luis Fernando Cerri
(2011) em pensar um ensino de história crítico, que, sobretudo, tenha a pretensão de
desenvolver uma consciência histórica sobre passado e presente, tendo em vista as projeções
que se elaboram acerca do futuro. Assim, compomos um capítulo que contivesse imagens,
charges, textos curtos, porém com informações consistentes mediante pesquisa realizada
com informações coletadas do Site Oficial do Senado Federal, o que, porém, não pressupõe
que estas sejam reflexos de uma verdade histórica, mas sim um panorama sobre o evento
que ora analisamos e propomos trabalhar didaticamente. Também utilizamos oficinas de
história (exercícios), pequenas tabelas comparativas entre a época (1987) e hoje (2018-
2019), curiosidades, quis e uma página com indicações de leitura e música.
4 DISCUSSÃO E RESULTADOS
213 História e Resistência
Objetivamos, com o capítulo didático, promover reflexões que suplantassem o
fatalismo de entender crises por elas mesmas, sem antes realizar uma ponderação sobre as
motivações por meio das quais elas foram geradas, entre as quais o processo de sucateamento
da educação ou simplesmente o vilipêndio em investimentos na educação pública sejam
fruto do acaso ou viradas mirabolantes do fim do século (XX), como sonda o filósofo e
educador Paulo Freire (1990).
Por meio de uma análise acerca da Assembleia Nacional Constituinte (1987-1988),
vislumbramos direcionamentos que foram tomados tendo em vista a chamada à população e
a setores diversos da sociedade (nativos, idosos, crianças, adolescentes, deficientes físicos,
etc) e como o Senado Federal resguarda esse material em seu site oficial. Além disso é
possível notar um panorama em que objetiva-se, no próprio site, comparando a atual
Constituição com as anteriores, apontar esta última como aquela em que a democracia foi,
de fato, valorizada, por meio da qual uma participação popular foi evidenciada
enfaticamente, tanto na exposição de imagens, cartas, áudios, bem como na tentativa de
demarcar e pontuar a amplitude dos movimentos empreendidos pela (re)democratização do
e no período, por parte de civis e parlamentares.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Entendamos que a democracia é um processo. O voto, por meio do qual elegemos
nossos representantes, é apenas um meio e não um fim. Por isso, precisamos estar atentos
àqueles e àquelas que dispõem seus nomes na política, no intuito de que, compreendendo o
que rege a Constituição brasileira (1988), os docentes e discentes que possam fazer uso do
material, quando publicado, possam refletir sobre seus direitos e deveres, que, sinalizamos,
foram conquistados a partir de lutas e manifestações, responsáveis pelo que se convencionou
chamar de (re)democratização brasileira, no cume da promulgação de uma nova Carta
Magna em 1988. A essa compreensão, devemos entender que o processo que constrói uma
democracia está em constante movimentação, à medida que surgem novas demandas, novas
configurações sociais e formas de ler, ver e entender o mundo.
Termino a minuta desse artigo sendo chamado de idiota pelo mandatário da Nação,
depois de me manifestar a favor da educação pública, gratuita e de qualidade, após uma
série de cortes, entre os quais a Instituição (UFPI), que financia a possibilidade de esse
trabalho ser escrito, ter 30% do seu orçamento de custeio sendo bloqueado pelo Ministério
214 História e Resistência
da Educação. Creio que isso se acrescente à justificativa desse trabalho.
6 REFERÊNCIAS
Bibliografia
BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto. Parâmetros curriculares nacionais:
história e geografia. Brasília, Secretaria de Educação Fundamental, 1997. v. 5. 168pp. (Col.
PCN’s). Disponível em: portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/pcn_5a8_historia.pdf Acesso
em: 12/03/2018.
CERRI, Luís Fernando. Ensino de História e consciência histórica. Rio de Janeiro: Editora
FGV, 2011.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 43. ed.
São Paulo: Paz e Terra, 2011.
MARX, Karl. O dezoito de Brumário de Luis Bonaparte. Rio de Janeiro: Vitória, 1961.
p.199.
VESIANI, Maria Helena. Uma República na Constituinte 1985-1988. Revista Brasileira de
História, São Paulo, v.30, n.60, p.233-252, 2010.
VICENTINO, Cláudio. História Geral e do Brasil, volume 1. São Paulo: Scipione, 2010.
Sites
30 anos da Constituição da Cidadania. Disponível em: <
http://www.camara.gov.br/internet/agencia/infograficos-html5/constituinte/index.html >
Acesso em: 20/05/2013.
Constituião da República Federativa do Brasil. Disponível em: <
http://www.senado.leg.br/atividade/const/constituicao-federal.asp > Acesso em:
15/05/2018.
Nota ao público sobre o bloqueio de recursos do MEC. Disponível em: http://ufpi.br/ultimas-
noticias-ufpi/31129-nota-ao-publico Acesso em: 07/05/2019.
O que está em jogo com a extinção dos conselhos federais? Disponível em: >
https://portal.aprendiz.uol.com.br/2019/04/16/o-que-esta-em-jogo-com-a-extincao-
dosconselhosfederais/?fbclid=IwAR33hP0ZaN1sYitu_Dye9q88NTLu2wv_EVCKYL1Sh
YosjetWzdoyRC6oe4 Acesso em: 26/04/2019.
215 História e Resistência
OS USOS DO PASSADO NA CONTEMPORANEIDADE:
INQUIETAÇÕES E RELAÇÕES ENTRE OS DISCURSOS DOS
HISTORIADORES DO SÉCULO XIX SOBRE A DEMOCRACIA
ATENIENSE. Gizeli da Conceição Lima90
1. INTRODUÇÃO
O estudo aqui apresentado se insere no âmbito de investigações sobre os usos do
passado clássico, na condição de dispositivo discursivo útil à reflexão de questões
contemporâneas. No caso em apreço, preocupamo-nos em compreender em que medida as
escolhas feitas por pensadores contemporâneos, contribui para forjar projetos de nação e de
sociedade ao longo da História. Pretendemos, em sentido geral, averiguar as apropriações da
antiguidade por pensadores contemporâneos trabalhando no âmbito dos usos do passado
como aporte teórico para pensar o presente.
Em nossa investigação, buscaremos entender porque a Grécia Antiga instiga
pensadores contemporâneos a fazerem uma releitura dos grandes clássicos com a intenção
de adequá-los aos interesses do projeto de nação que estava sendo planejado para o Brasil
no período Imperial brasileiro. Nesse sentido, buscaremos trazer à tona reflexões sobre o
relacionamento entre o investigador e as fontes antigas com a intensão de promover uma
maior compreensão sob o papel dessa temática no âmbito historiográfico e,
consequentemente, para a construção de nossa narrativa. Sendo assim, a pesquisa justifica-
se pela necessidade de aprofundarmos a discussão sobre os usos do passado clássico pela
historiografia contemporânea. A partir dessa perspectiva, faz-se necessário, ao longo de
nossas reflexões, pontuar a relevância de nossa pesquisa no que diz respeito à construção de
um olhar sobre a concepção de democracia entre os atenienses, que permita indagar o cenário
político na qual estavam inseridos os autores dos compêndios de História Universal que estão
sendo trabalhados no desenvolvimento da nossa pesquisa do mestrado.
Em nosso artigo, usaremos como referencial teórico as obras de Glaydson Jose da
Silva (2005) e Anastasia Bakogianni (2015) no que se refere aos usos do passado e as
relações das fontes antigas com autores contemporâneos. Além disso, usaremos em caráter
complementar, das contribuições de outros autores de igual importância, que se fizeram
presentes em nossa tentativa de construção do saber histórico brasileiro. No que se refere ao
90 Mestranda em História do Brasil pela Universidade Federal do Piauí. Bolsista CAPES. Desenvolvendo
estudos na linha de pesquisa História, Cidade, Memória e Trabalho. Tendo como orientador o Professor Dr
José Petrúcio de Farias Junior. E-mail: [email protected]
216 História e Resistência
recorte temporal datado de 1854 a 1878 a escolha se deu por se tratar de um período de duas
importantes reformas no ensino brasileiro sendo elas a reforma de Couto Ferraz (1854) e a
Reforma de Leôncio de Carvalho (1878) que serão trabalhadas de forma mais aprofundada
no decorrer da pesquisa. Esse recorte tem como justificativa a necessidade de
compreendermos as implicações político-culturais que afetam a escrita da história escolar
no século XIX durante o período dessas duas reformas, bem como o papel dos estudos
clássicos na formação de jovens durante o Segundo Reinado.
Destacaremos, em particular, a forma como a civilização grega, sua geografia,
guerras, experiência democrática e demais particularidades é caracterizada em tais
compêndios de História Universal, tendo em vista a orientação política do país no período.
Isso posto, nosso itinerário de análise documental considera dois aspectos fundamentais: de
um lado, o exame crítico dos conteúdos dos discursos, os quais se apoiam em uma versão
instrumentalizada da História Antiga que atende, a nosso ver, a objetivos e interesses
particulares do momento da escrita e, de outro, os artifícios retóricos a partir dos quais
elucidaremos de que maneira os conteúdos de História Antiga se relacionam com os projetos
políticos de nação que se forjavam no início do século XIX.
A problemática de nossa pesquisa gira em torno de entender por meio da
interpretação das fontes analisadas ao longo de nosso estudo que são: O compendio de
História Universal de Justiniano Jose da Rocha (1860), O compendio de História Universal
de Vistor Duruy (1865) e O compendio de História Universal Resumida de Pedro Parley
(1869) de que maneira os autores desses manuais didáticos utilizados no Brasil, reproduziam
como verdade histórica, isto é, como restituição do passado clássico aquilo que é, a nosso
ver, retórico, ou seja, produto da manipulação de acontecimentos históricos com a finalidade
de referendar determinados posicionamentos político-culturais do presente.
A metodologia para a realização desta proposta de investigação, será a análise
documental e a análise do discurso presentes nessas fontes. Além disso, far-se-á necessário
observar em caráter complementar as implicações políticas presentes nestas narrativas
escolares, onde analisaremos em que medida os conteúdos escolares contribuem para a
construção da ideia de ‘nação’; quem eram estes professores de história, como eram
escolhidos aos cargos e como se dava o processo de escolha, confecção e distribuição dos
compêndios escolares. Sob esse aspecto, o trabalho contribui para indagar sobre a presença
da História Antiga nos manuais didáticos das escolas secundárias, a qual se faz presente até
hoje nas propostas curriculares federais, estaduais e municipais.
217 História e Resistência
Partimos do pressuposto de que a narrativa histórica, presente nos compêndios de
História Universal do século XIX, utilizados nas escolas secundárias brasileiras, deve ser
concebida como construto literário entremeado de artifícios retóricos, estes inerentes à
organização da narrativa. Assim, concebemos a retórica como importante mecanismo de
análise documental, já que pode estar a serviço da interpretação da escrita das fontes
históricas. Buscaremos atentar para os artifícios retóricos a partir dos quais elucidaremos de
que maneira os conteúdos de História Antiga se relacionam com os projetos políticos de
nação que se forjavam no início do século XIX, a despeito das dissensões políticas
provinciais brasileiras e suas implicações na condução de políticas públicas educacionais.
A historiografia europeia do século XIX esforçou-se para produzir uma memória do
‘Ocidente’ que explicava e justificava, por exemplo, o domínio dos países capitalistas, mais
desenvolvidos tecnologicamente, sobre o restante do globo, haja vista o processo de
colonização europeia por sobre países do continente africano, asiático e estratégias de
influência econômica e cultural em países do continente americano. Assim, inferimos que,
no pós-independência, o principal objetivo da proposta de ensino brasileiro continuava a ser
a formação das elites dirigentes e a questão predominante da narrativa histórica em
compêndios de História versava sobre a identidade nacional bem como reflexões sobre a
construção da nação brasileira. Ainda que o caráter da instrução pública nos oitocentos tenha
sido profundamente elitista ou ainda que os objetivos educacionais carregassem consigo o
pendor de um Estado ‘para poucos’, convém salientar que tal perspectiva produz uma
imagem sobre os setores sociais subalternizados que pode ser mais bem explorada, tendo em
vista as circunstâncias históricas e as condições de produção da narrativa histórica escolar.
No que se refere aos resultados conclusivos convém pontuar que a pesquisa e a escrita da
dissertação estão em fase de desenvolvimento, nesse caso apresentaremos para esse trabalho
os resultados parciais encontrados em nosso objeto de investigação.
Palavras-chave: Usos do passado, Compêndios escolares, Democracia ateniense.
2. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAKOGIANNI, Anastasia. O que há de tão “clássico” na recepção dos clássicos? Teorias,
Metodologias e Perspectivas Futuras. Codex—Revistas de Estudos Clássicos, Rio de
Janeiro, v.4, n.1, 2016, p. 114-131.
BASTOS, M. H. C.; FARIA FILHO, L. M. (Org.). A escola elementar no século XlX. O
método monitorial/mútuo. RS: Universidade de Passo Fundo/EDIUPF, 1999.
BITTENCOURT, Circe. Livro didático saber escolar (1810-1910). Belo Horizonte:
Autêntica, 2008. (Coleção história da educação)
218 História e Resistência
CHEVITARESE, André L.; CORNELLI, Gabrielle; SILVA, Maria Aparecida Oliveira.
(Org.). A tradição clássica e o Brasil. Brasília: Fortium, 2008.
CHOPIN, Allain. A História dos livros e das edições didáticas: sobre o estado da arte.
Educação e Pesquisa, São Paulo, v.30, N. 03, p. 549-566, Set/Dez. 2004.
GONDRA, José Gonçalves; SCHNEIDER, Omar (Org.). Educação e instrução nas
províncias e na corte imperial. (Brasil, 1822-1889). Vitória: EDUFES, 2011. (Coleção
Horizontes da pesquisa em história da educação no Brasil).
HAIDAR, M. L. M. O ensino secundário no Império brasileiro. São Paulo: Grijalbo, Editora
da Universidade de São Paulo, 1972.
HARTOG, F. Os antigos, o passado e o presente. Brasília: UnB, 2003.
SILVA, Glaydson José. Os avanços da História Antiga no Brasil. Anais do XXVI Simpósio
de História. ANPUH, São Paulo, julho de 2011.
SILVA, Glaydson José. História Antiga e usos do passado: um estudo de apropriações da
Antiguidade sob o Regime de Vichy (1940-1944). 1ª. edição. São Paulo: Annablume, 2007.
SILVA, Glaydson José da. Antiguidade, Arqueologia e a França de Vichi: Usos do passado–
Campinas, SP:[s.n], 2005.
SILVA, Glaydson José da. O mundo antigo visto por lentes contemporâneas: As extremas
direitas na França nas décadas de 1980 e 90, ou da instrumentalidade da Antiguidade.
Revista História, V. 26, N.1, 2007, p. 98 -118).
SCHMIDT, M. A. M. S. História do ensino de História no Brasil: uma proposta de
periodização. História da Educação, v. 16, n. 37, p. 73-91, 2012.
TAVARES, André Luiz Cruz. A presença da História Antiga nos compêndios didáticos de
História da Primeira República e a construção identitária nacional. Tese (Doutorado em
História). Universidade Estadual Paulista – Faculdade de Ciências Humanas e Sociais,
campus de Franca, 2012.
TOLEDO, M. A. L. T. A disciplina de História no Império Brasileiro. Revista Histedbr On-
line, n. 17, p. 1-10, 2005.
219 História e Resistência
RESSONÂNCIAS DA ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE RURAL E
URBANO: A FORMAÇÃO DO POVOADO SOCOPO (1950)
Víviam Cathaline de Sousa Ferreira (Mestranda/ UFPI)
Cláudia Cristina da Silva Fontineles (Doutora/ UFPI)
1. INTRODUÇÃO:
O presente artigo reflete sobre a estrutura dos espaços rural e urbano da cidade de Teresina
durante a década de 1950, na qual destacamos as configurações históricas de formação do povoado
Socopo (área rural de Teresina) e como estas estiveram associadas com o crescimento do espaço
urbano da cidade e do movimento imobiliário que se expandia em Teresina nesse período. Esta
pesquisa aponta que os mais antigos documentos registrados sobre esse espaço em jornal da capital
aludem que essa região pertencia ao perímetro rural da cidade e a sua geografia inicial foi projetada
e destinada para servir como área de lazer às famílias teresinenses que pudessem arcar com os
gastos de adquirir lotes de terra naquela área rural.
2. METODOLOGIA:
Nesta pesquisa adotaremos a metodologia de análise de matérias jornalísticas publicadas
no Jornal O Dia, em 1951 e 1952 na cidade de Teresina. Estas por sua vez, anunciavam a venda
de lotes na região denominada Socopo. Tais fontes nos permitiram inferir como a construção do
povoado esteve atrelada à iniciativa de uma construtora imobiliária. Simultaneamente a análise
dos registros documentais, foi feita a leitura e interpretação das obras teóricas que sustentam o
argumento defendido nesta pesquisa.
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA:
Esta pesquisa se utiliza das categorias Rural e Urbano (ou Campo e Cidade) abordadas por
Sergio Buarque de Holanda (2014) e Raymond Willians (1989).
Primeiro, é necessário que se diga, a obra mais famosa e comentada entre as produzidas
pelo historiador Sérgio Buarque de Holanda, Raízes do Brasil, se constituiu através de um estudo
orientado pela metodologia dos contrários91, na qual foram feitas diferenciações e aproximações
91 No livro Ritmo Espontâneo: organicismo em Raízes do Brasil de Sérgio Buarque de Holanda, o historiador João
Kennedy Eugênio, confirma, assim como Antônio Cândido em célebre prefácio de Raízes do Brasil, que Holanda
estrutura sua obra através da polaridade de conceitos, entretanto, diferente do que argumentou Cândido, para Eugênio,
essa escolha pela metodologia dos opostos teria laços com o ensaísmo latino-americano e não se referia a uma
influência weberiana, tal como sugeriu Cândido. Holanda teria então, a partir dessa escolha, escapado do espírito de
negação e se entrançado com a análise dos opostos e aos esclarecimentos que estes lhes proporcionariam. Ver em:
220 História e Resistência
entre conceitos polares, que ajudariam a interpretar a sociedade brasileira a partir da colonização
que esta foi submetida. É importante que expliquemos que nesta pesquisa se percebeu que os dois
conceitos não podem ser lidos como opostos e inseparáveis, mas complementares e associados, de
outra forma, não seria possível estabelecermos conexões com estas categorias na pesquisa. Dessa
maneira, na obra “os opostos se confrontam e o esclarecimento se dá na contraposição dialética:
no que não é, descansa o segredo daquilo que é” (Monteiro, 2018). Neste artigo serão destacadas
as análises feitas sobre as categorias contrárias rural e urbano.
A leitura do texto Raízes do Brasil, suscitou em nós os seguintes questionamento: não
seriam ainda as raízes portuguesas entraves para o processo de modernização do Brasil? Ainda
existem no Brasil cidades em que as tradições advindas do período colonial têm a ocupação do seu
território marcada pela presença de estruturas sociais fundadas no período colonial?
Na obra, Holanda nos ajudará a responder esses questionamentos, ao tratar da maneira
como ocorreu no Brasil a implantação de uma cultura do rural durante a colonização portuguesa,
sistema de uso do território na qual grande parte das famílias tradicionais se formaram e se
mantiveram no país por longos anos. Para ele, isso só começaria a mudar quando o Brasil passasse
a ter relações com o mercado internacional industrializado. Para o autor foi por volta de meados
do século XIX que os filhos dos mais ricos senhores de terra começaram a se enveredar pelo espaço
urbano, sobretudo na corte, e a partir de então, iniciaram uma insipiente especulação dos espaços
urbanos.
Ao abordar as heranças do mundo rural sobre o citadino, Holanda estava a escrever sobre
o Brasil que ele vivenciava, onde no início da década de 1930, o Brasil, mesmo que em pleno
processo de expansão dos espaços urbanos, ainda estava profundamente enraizado no rural, e
necessitando desvencilhar-se dessas heranças para construir um futuro diferente. Ou seja, a obra
de Buarque exprime muito do lugar de fala que ele estava inserido e denota mais que uma análise
das conjunturas, mas um desejo de mudança nas estruturas sociais da nação.
Mas o contraponto entre rural e urbano é também apresentado por Raymond Williams, em
O campo e a cidade: na história e na literatura, o autor apresenta essas categorias não apenas como
um conceito, mas como a moradia vivenciada pelos homens ao longo da história da humanidade.
O historiador analisa também que essas categorias são apresentadas em suas contradições ao longo
da produção literária inglesa e que precisam ser lidas sob a contribuição da história das ideias, esta
explicaria melhor porque esses dois conceitos são ao longo da história antagonizados, ao invés de
EUGÊNIO. João Kennedy. Ritmo espontâneo: organicismo em Raízes do Brasil de Sérgio Buarque de Holanda.
Teresina: EDUFPI. 2011.
221 História e Resistência
serem analisados diante do desenvolvimento social ocorrido nas sociedades capitalistas ao longo
da história.
4. DISCUSSÃO E RESULTADOS:
Verificamos que o Jornal O Dia, em 2 de março de1952 anunciava em suas páginas a venda
de lotes de terras localizadas no “campo” teresinense:
Figura 1 Material publicitário do primeiro empreendimento imobiliário da zona Leste de Teresina, publicado no jornal O DIA
de 02 de março de 1952.
Esse documento evidencia que o espaço denominado SOCOPO, que viria se tornar bairro
na década de 1980, com a implantação do PET II, fora inicialmente um investimento privado, da
empresa de mesmo nome, portanto, aquelas terras tinham um proprietário, senhor de terras, que
começou a especulá-las.
Esse proprietário não poupou esforços para que as páginas de jornais da cidade
anunciassem os vários benefícios, próprios da vida rural, que pudessem servir para convencer os
teresinenses a comprarem lotes na região. O seguinte anúncio confirma essa afirmação:
Teresina, que é uma cidade onde a vida já se apresenta trepidante, não tinha até
pouco tempo, lugares de refúgio para obreiros das riquezas públicas ou privadas.
Algum ou outro ricaço possui a sua granja, a sua casa de campo para o descanso
222 História e Resistência
semanal, fora dos barulhos da cidade, embora que em estado empírico, sem o
conforto completo para gozar “remansosa paz”.[...] Queremos ressaltar aqui o
notável empreendimento que vêem de tomar alguns homens ricos do nosso meio
social e comercial, os quais em sociedade, adquiriram a gleba “Centro”, no vale
do Poty, para estabelecer ali verdadeira zona balneária. O poço artesiano que tem,
com mais de 600 metros, jorrado água salubre e medicinal; as matas que
circundam o local; boas casas já existentes e uma magnífica rodovia que nos leva
de Teresina para lá, tudo isto leva a crer a transformação que teremos de uma vida
insípida e cruenta de cidade tropical como a nossa, para termos dias, semanas e
meses do mais puro ar atmosférico e erguesse uma verdadeira e suave vida rural,
para as épocas quentes de nossa Capital (O Dia, 1951).
O intento do proprietário da Sociedade Construtora do Poti (SOCOPO) era empreender
numa região afastada da cidade, mais especificamente na gleba denominada Centro, de maneira
que os usos daquele espaço rural fossem ressignificados. Ao olharmos para esse empreendimento
proposto em meados do século passado, é válido ressaltarmos o quão arrojado e inovador ele se
configurava, tendo em vista que não era apenas uma venda de lotes de terras, mas junto a esses
existiria um verdadeiro complexo de benfeitorias que viriam junto da compra das terras.
Todavia, dez anos após o lançamento deste projeto e a venda desses terrenos que seriam
destinados ao conforto e lazer de famílias abastadas, a região passou a receber e a abrigar também
sujeitos despossuídos financeiramente, em sua maioria oriundos de municípios próximos da
capital, e trabalhadores do campo. A vinda e a permanência dessas pessoas estava relacionada com
a presença da escola jesuíta Santo Afonso Rodriguez, instalada na região desde o ano de 1963,
assim como com a existência da “zona balneária” que se construiu no lugar anterior a sua chegada.
Estas circunstâncias de formação do bairro Socopo92 nos possibilitam discutir a relação
campo-cidade, imprescindível para o entendimento sobre a dinâmica social do bairro em seus
primeiros anos. Pois, neste estudo foi possível compreender que ao falarmos da formação do
povoado Socopo em Teresina é possível exemplificar como os grandes proprietários de terra no
Brasil - nesse contexto, representados pelos empresários da construtora Socopo-, em meados do
século XX, ainda se constituíam como os detentores de poder e do controle econômico, e que
assim, dominavam as relações sociais e econômicas estabelecidas em torno das suas propriedades
e como isso, inclusive, ajudou a forjar, na cidade de Teresina, um espaço que se tornou urbano
anos depois da ação especulativa de suas terras rurais.
92 Toda região que faremos menção no decorrer desta pesquisa como Socopo, não representa necessariamente os
limites que o bairro possui atualmente, e sim dizem respeito a um trecho das terras de propriedade da empresa
SOCOPO, que nos interessa e foi possível reconhecer. Sendo que a inclusão dessa área a parte de expansão urbana da
cidade só foi feita no ano de 1988, com a execução do II Plano Estadual de Teresina- PET, que acrescentou algumas
regiões consideradas até então do perímetro rural ao perímetro urbano do município.
223 História e Resistência
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Consideramos que esse estudo de caso, sobre a formação do bairro Socopo, exemplifique
em grande parte, como os grandes proprietários de terra ainda dominam as relações sociais
estabelecidas em torno das suas propriedades e como isso, inclusive, ajudou a forjar, em diversas
localidades desse Brasil afora, os novos espaços urbanos das cidades. Reforçando as conclusões
levantadas por Sérgio Buarque de Holanda, de que grande parte das cidades no Brasil cresceram
sobre a égide da desigualdade social e do favorecimento de alguns em detrimento da dependência
econômica e política de outros.
Palavra- chaves: Rural. Urbano. Raízes do Brasil. Socopo.
REFERÊNCIAS:
ADQUIRA HOJE MESMO SEU LOTE NO SOCOPO- CIDADE JARDIM. O Dia, Teresina, 02
de Março de 1952. s/p.
EUGÊNIO. João Kennedy. Ritmo espontâneo: organicismo em Raízes do Brasil de Sérgio
Buarque de Holanda. Teresina: EDUFPI. 2011.
Jornal O Dia, Teresina, 29 de julho de 1951.s/p.
FERREIRA. V.C.S. História e Memória de um lugar-fronteira: a região da grande Socopo em
Teresina-PI (1952-1970) Monografia (Graduação em Licenciatura Plena em História). Teresina,
Universidade Federal do Piauí, 2016.
HOLANDA. Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. 27ª ed. São Paulo: Companhia das letras, 2014.
MONTEIRO. Pedro Meira. Signo e desterro: Sérgio Buarque de Holanda e a imaginação do Brasil.
Disponível em: https://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&lr=&id=aN-
MDAAAQBAJ&oi=fnd&pg=PT2&dq=related:1h1h39FOeEcJ:scholar.google.com/&ots=r1Uro
qtP2D&sig=y-TxllZjXfW7NEHfTDbszSxf22w#v=onepage&q&f=false. Acesso em 24/06/2018
às 21:44.
WILLIAMS, Raymond. O campo e a cidade: na história e na literatura. São Paulo: Companhia
das Letras, 1989.
224 História e Resistência
SOCIABILIDADES, MODOS DE VIDA E PRÁTICAS DE CURA DO
POVOADO MORROS DA MARIANA (1970-2000)
Daniel Souza Braga93
Prof. Dr. Francisco Alcides do Nascimento94
1- INTRODUÇÃO
“Para alguns a cidade é o centro, onde tem calçamento, água encanada, esgoto; o resto
não é cidade pra ninguém”, afirma Luiza, personagem do romance Beira Rio Beira Vida. No
centro, de fato, se encontrava o cais, igrejas, praças, hospitais, consultórios médicos, bancos,
mercados, correios, casas comerciais. Já os bairros, eram habitados por operários,
pescadores, vendedores de água, artesãos, brincantes de boi, pegadores de caranguejo
(SANTOS, 2014, p. 10). Diante disso, reflito a relação entre o centro da cidade de Parnaíba
e os povoados que constituíam a Ilha Grande, parte litorânea do Estado do Piauí. A estrutura
responsável por ligar esses dois universos é a Ponte Simplício Dias, inaugurada em 10 de
março de 1975. Mas como era a vida desses sujeitos antes da ponte?
Numa época em que não havia pavimentação, esses sujeitos eram obrigados a fazer
longas caminhadas e atravessar o rio Igaraçu usando pequenas embarcações. No dia a dia,
criavam e recriavam estratégias de sobrevivências, saberes e modos de viver. Como bem
lembra Antônio Torres Montenegro (2013, p. 36), as populações pobres constroem
representações, imaginários que possibilitam viver o avesso da vida. Nesse espaço, marcado
pela precariedade de serviços, quais os saberes e práticas criados por esses homens e
mulheres que lhe permitiam viver longe dos serviços oferecidos por Parnaíba?
2- FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E METODOLOGIA
Uma das formas utilizadas para se compreender o passado é a reconstituição de
trajetórias de vida. Esse procedimento consiste em recolher depoimentos através do contato
direto entre entrevistador/historiador e entrevistado. Nessa relação, a escuta é
imprescindível. Esse método consiste na construção de fontes e documentos mediante
narrativas induzidas, permitindo entrar em contato com um passado recente que deixou
93 Mestre em história do Brasil pela Universidade Federal do Piauí. 94 Docente do Programa de Pós-Graduação em História do Brasil e do Departamento de História da
Universidade Federal do Piauí
225 História e Resistência
poucos rastros (DELGADO, 2010, p. 15). Outra vantagem desse procedimento teórico-
metodológico é o diálogo com as experiências de homens e mulheres cuja história foi,
durante muito tempo, ignorada.
A memória é uma categoria importante para o desfecho dessa investigação. Como nos
diz Yara Khoury (2016, p. 18), estudar a memória de sujeitos vivos é uma espécie de diálogo
aberto com a experiência social. A memória, no sentido básico do termo, é a presença do
passado; ou melhor, uma representação do passado, que não é do indivíduo somente, mas de
um indivíduo inserido num contexto familiar, social, nacional (ROUSSO, 2006, p. 94).
Deve-se atentar para o fato de a memória ser flutuante, fragmentada e transitar em diversos
tempos. Como nos alerta Bourdieu (2006, p. 185), as biografias não passam de ilusões, pois
as histórias de vida não são lineares, coerentes, tendo em vista que os homens são múltiplos.
No entanto, segundo Alessandro Portelli (1997, p. 30), mesmo as mentiras carregam
verdades psicológicas. As narrativas dizem não somente o que os homens fizeram, mas o
que gostariam de fazer ou pensam que fizeram.
3- RESULTADOS E DISCUSSÕES
Diferente do centro da cidade, o povoado não dispunha, entre os anos 70-80, de postos
de saúde, sistema de saneamento, luz elétrica, pavimentação e maternidade. No entanto, a
preocupação com as doenças e a busca por saúde é uma realidade em todas as sociedades.
Longe desses serviços, os moradores criavam e recriavam práticas de cura. Por manterem
intensas relações com a natureza, desenvolveram um apurado conhecimento sobre as
funções medicinais de ervas e raízes, como cebola, mastruz, gengibre, jalapa, raiz de cajueiro
etc. Esses remédios serviam para curar febre, diarreia, dor de cabeça e ataques de vermes.
Acreditava-se que a natureza continha a solução para todo sofrimento humano, e, por isso,
esses medicamentos naturais eram conhecidos como “remédio de Deus”.
Em alguns momentos “o remédio de Deus” se mostrava impotente, obrigando-os a
enfrentar o “monstro-cidade”. Diante da conjuntura, era necessário levar os doentes dentro
de redes até a Santa Casa de Misericórdia, em Parnaíba. Os farmacêuticos tinham prestigio
e estavam presentes no imaginário social dos moradores do povoado como os “doutores dos
pobres”, homens de mãos milagrosas.
As mulheres grávidas recorriam a serviços de parteiras. Quando as parteiras não
conseguiam “tirar” a criança, as mulheres eram levadas por entre as carnaúbas em uma rede
226 História e Resistência
até a maternidade. A memória sobre mortalidade infantil é dolorosa. Era comum enterros de
“anjos” – crianças que morriam sem mácula, batizadas, dignas de serem enterradas no
cemitério do povoado.
O Jornal Folha do Litoral e o Almanaque de Parnaíba se preocupavam com as práticas
de saúde das mães do interior do Estado que usavam teia de aranha, esterco e café para curar
a ferida umbilical. Observa-se o quanto o saber médico se mostrava preocupado com as
práticas de cura das camadas populares, no intuito de disciplinar práticas mais condizentes
com a ciência médica. Outra coisa recorrente era a procura por benzedeiras e curandeiros.
Essas pessoas se encarregavam de tirar mau-olhado, dor de dente, levantavam arca, tiravam
quebrante e sol da cabeça. A doença, em alguns momentos, era vista como algo sobrenatural,
resultante das ações de forças estranhas que rondavam o povoado.
O povoado tinha seus próprios divertimentos e espaços de sociabilidades. Segundo os
documentos, festas populares como o Bumba meu boi, Quadrilhas, Pastorinhas, assim como
os festejos religiosos, animavam a vida do povoado. Os trabalhadores contavam com jogos
de futebol nos campinhos e campeonatos, numa época em que não existia televisão. O
namoro era marcado por uma moralidade que visava vigiar e controlar os corpos das
mulheres, sempre associado ao pecado.
4- CONCLUSÃO
Diante do abordado, percebe-se que os trabalhadores e trabalhadoras associavam a
cidade ao centro. Devido à dificuldade de acesso, criavam e recriavam práticas para curar e
cuidar do corpo, lançando mão do que a natureza oferecia. Uma vez ou outra recorria-se ao
serviço de benzedeiras, curandeiros e parteiras. Caso necessitasse de serviços médico-
hospitalares, o jeito era levar os companheiros e mulheres grávidas na rede até ao centro de
Parnaíba. Os festejos e namoros eram controlados pelas regras do bons costumes católicos,
que, como se viu, procurava vigiar os corpos, sobretudo o corpo feminino. Diante disso,
observa-se que mesmo em condições adversas, os sujeitos inventam o cotidiano usando-se
de elementos da realidade social e natural, criando e recriando saberes e modos de viver.
Palavras-chave: História oral. Memória. Cura. Sociabilidade.
5- REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
227 História e Resistência
BRASIL, Assis. Beira Rio Beira Vida. Rio de Janeiro: Ediouro, 1970.
SANTOS, Benjamim. O centro era Parnaíba. In: Bembém. Parnaíba, nº 84, dez. 2014.
JOUTARD, Philipp. Desafios à história oral do século XXI. In: FERREIRA, Marieta;
FERNANDES, Tania. História Oral: desafios para o século XXI. Rio de Janeiro:
FIOCRUZ/CPDOC, 2000.
DELGADO, Lucia de Almeida. História Oral: Memória, tempo e identidade. 2. ed. Belo
Horizonte: Autêntica, 2010.
PORTELLI, Alessandro. Formas e significados da História Oral: a pesquisa como
experiência da igualdade. São Paulo: Projeto História, 1997.
KHOURY, Yara Aun. O narrador, as fontes orais, a escrita da história. In: MACIEL, Lauro
Antunes (org.).; ALMEIDA, Paulo Roberto (org.).; KHOURY, Yara Aun (org.). Outras
Histórias, outras memórias: memórias e linguagens. São Paulo: Olho d’água, 2016.
ROUSSO, Henry. A memória não é mais o que era. In: FERREIRO, Marieta; AMADO,
Janaina. Usos e abusos da História Oral. 8. ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006.
BORDIEU, Pierre. A Ilusão bibliográfica. In: FERREIRO, Marieta; AMADO, Janaina. Usos
e abusos da História Oral. 8. ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006.
228 História e Resistência
TIMON (MA): EXPANSÃO URBANA E AVANÇOS SOCIAIS ENTRE
OS ANOS 2000 – 2015
Sarah Rocha Rios (UFPI)
Cláudia Cristina da Silva Fontineles (UFPI)
1. INTRODUÇÃO
Na primeira década do novo milênio o município de Timon (MA) apresentou mudanças
significativas em diversos aspectos urbanísticos e sociais, levando à alterações da cidade em
linhas históricas e geográficas, acarretadas principalmente por sua expansão urbana e o
consequente aumento referente à habitação. Além disso, esse período também se caracteriza
pela emergência de políticas mais voltadas para o desenvolvimento humano e das cidades,
temos a exemplos o Estatuto da Cidade (2001), que visa proporcionar o desenvolvimento
urbano e garantir uma gestão democrática da cidade e a criação do Ministério das Cidades
(2003) com os objetivos de melhorar a qualidade de vida da população e o direito à cidade
por meio do combate às desigualdades sociais, da transformação da cidade num espaço mais
humanizado e da ampliação do acesso da população à moradia, saneamento e transporte.
Nesses primeiros anos do novo século o Governo Federal também se empenhou mais
significativamente no combate à miséria em âmbito nacional através de investimentos em
políticas de incentivo social com a criação de diversos programas e a criação do Ministério
do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Nesse sentido, o presente trabalho tenciona
analisar os aspectos que compõem a expansão urbana do município de Timon (MA) e como
as políticas públicas promovidas pelo Governo Federal influenciaram transformações
urbanísticas e sociais ocorridas entre os anos 2000 a 2015. O estudo dialoga, dentre alguns
autores, com Ana Fani Carlos, Ermínia Maricato e Roberto Lobato Côrrea no que tange aos
conceitos que envolvem cidade, urbanização e gestão política. Dessa forma, dispomos de
uma análise documental que contempla relatórios do Governo Federal, Caixa Econômica
Federal, Anuário Estatístico, dados do IBGE e outros sites e documentos da Prefeitura de
Timon. Embora a cidade encontre-se aqui como protagonista, são os vestígios de
humanidade que nos direcionam nesse caminho, pois entendemos que o homem ocupa um
lugar central na discussão do espaço por ser o espaço humano, não somente porque o homem
229 História e Resistência
o produz, mas porque nele habita. 95
2. DISCUSSÃO E RESULTADOS
O município de Timon (MA) encontra-se localizado mais precisamente no “entroncamento”
de duas rodovias municipais importantes, BR-316 e BR-226. Essa localização lhe permite
atuar como corredor de exportação para escoamento de riquezas entre vários estados do
nordeste, bem como o recebimento de inúmeros imigrantes à procura de melhores condições
de vida. Segundo dados levantados pela prefeitura municipal o aumento populacional vivido
nas últimas décadas acarretou problemas que giram em torno da habitação e ocupação
irregular do solo urbano, havendo um fluxo de apropriação de terrenos periféricos dentro do
perímetro urbano, já que “Timon é composta por um grande número de pequenos
agrupamentos, não muito densos, separados por grandes vazios urbanos”96, passando essas
pessoas a residirem em habitações em situações precárias e sem condições mínimas de
saneamento básico, serviços de coleta de lixo, sistema viário, pavimentação, etc., serviços
dos quais são fornecidos pela prefeitura, mas que dificilmente podia ser oferecido
satisfatoriamente devido à ocupação desordenada e o limitado recurso que dispunham as
prefeituras da maioria das cidades brasileiras até o início do século XXI.
Não obstante, pudemos constatar diante dos dados analisados um considerável aumento no
valor dos repasses governamentais para Timon a partir desse período. Por exemplo, em 2004
a quantia perpassava o valor de aproximadamente 51 milhões de reais, já no ano de 2012 o
valor das transferências somou cerca de mais de 213 milhões, incluindo as mais diversas
funções e programas.97 Assim, nesse início do século houve um crescente investimento em
políticas de incentivo social por parte do Governo Federal, proporcionando a diminuição da
pobreza no território nacional, e de forma mais pontual no nosso objeto de estudo, e maior
desenvolvimento em diversos setores do país. Nesse contexto é possível observar a criação
de diversos programas sociais, na qual
[...] em 2000, existiam apenas três programas (BPC [Benefício de
Prestação Continuada], RMV [Renda Mensal Vitalícia] e PETI
95 CARLOS, Ana Fani Alessandri. A cidade. 9ª Ed. – São Paulo: Contexto, 2015. 96 TIMON. Prefeitura Municipal. Plano Estratégico de Desenvolvimento Sustentável de Timon. Timon, 2002,
p. 26. 97 Portal da Transparência – Transferência de Recursos por Estado/Município.
230 História e Resistência
[Erradicação do Trabalho Infantil]). No entanto, nos anos seguintes outros
seis foram elaborados e implementados por diferentes ministérios: em
2001, Agente Jovem, Bolsa Escola, Bolsa Alimentação e Auxílio-Gás; em
2003, Programa Cartão Alimentação e Programa Bolsa Família.98
Os recursos transferidos do Programa Bolsa Família às famílias timonenses, desde sua
reformulação em 2004, foram de $7.116.039,00 em contrapartida à transferência de
$29.584.786,00 no ano de 2012.99 O PBF opera numa articulação que integra as áreas de
saúde, educação e assistência social. E assim, o cumprimento das condicionalidades cria
condições para que as famílias construam suas próprias capacidades de emancipação social.
No que tange ao setor habitacional a população timonense foi beneficiada com o auxílio do
Programa de Aceleração do Crescimento (2007) e Programa Minha Casa Minha Vida
(2009), os quais possibilitaram a construção de 09 conjuntos habitacionais, cerca de quase
08 mil casas destinadas às pessoas que correspondessem aos critérios de vulnerabilidade
social, sanando em quase 70% o déficit habitacional da cidade. Desse modo, com o
investimento orçado em $25.942.197,00, Timon foi o segundo município maranhense que
mais investiu no setor habitacional entre os anos de 2005 a 2010.100 Sobre o PAC, Ermínia
Maricato afirma que
o impacto de tal intervenção é notável no local que é objeto imediato do
projeto, mas também pode ser notado na região do entorno devido ao
saneamento e à circulação viária que integra esse novo bairro à cidade. O
PAC não ignora a cidade existente, mas propõe justamente incorporar esse
passivo urbano elevando seu padrão de urbanidade.101
O setor educacional configura como a área que mais logrou destaque em Timon nos
últimos anos:
O IDHM passou de 0,479 em 2000 para 0,649 em 2010 - uma taxa de
crescimento de 35,49%. O hiato de desenvolvimento humano, ou seja, a
distância entre o IDHM do município e o limite máximo do índice, que é
1, foi reduzido em 67,37% entre 2000 e 2010. Nesse período, a dimensão
cujo índice mais cresceu em termos absolutos foi Educação (com
crescimento de 0,257), seguida por Longevidade e por Renda.102
98 BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Financiamento da Assistência Social
no Brasil. Caderno SUAS, ano 3, nº 3, Brasília: 2008. p. 13. 99 Portal da Transparência – Transferência de Recursos por Estado/Município. 100 MARANHÃO. Governo do Estado. Diagnóstico do Setor Habitacional – Produto 2, p. 331. 101 MARICATO, Ermínia. O impasse da política urbana no Brasil. 3ª Ed. – Petrópolis: Vozes, 2014, p. 75. 102 Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil. Disponível em:
http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/perfil_m/timon_ma. Acesso em: 08/12/2018.
231 História e Resistência
De acordo com os dados da prefeitura foram construídas 35 novas unidade de ensino, além
de 08 creches das quais anteriormente a cidade não dispunha de nenhuma. O crescimento
apresenta-se tanto na estrutura quanto na qualidade da educação, pois em 2009 o resultado
do IDEB do município de Timon superou a meta estipulada para as escolas municipais, que
foi de 3,7 pontos, em contrapartida aos 3,9 alcançados. A construção IFMA no ano de 2010
também foi uma grande conquista, que representa não somente o acesso mais democrático
ao ensino, como também se apresenta como uma oportunidade de qualificação profissional
à população.103
Até o momento podemos perceber que a partir da paisagem urbana é possível compreender
o urbano, a sociedade e a dimensão social e histórica do espaço urbano.104 De modo
semelhante Roberto Lobato Côrrea, entende o espaço urbano como “um reflexo tanto de
ações que se realizam no presente como também daquelas que se realizaram no passado e
que deixaram suas marcas impressas nas formas espaciais do presente”.105
Podemos dizer que historicamente o aumento da população urbana nas cidades em geral,
acarreta o crescimento da pobreza, contudo, no período entre 2000 e 2010 em decorrência
dos fatos aqui elencados o município de Timon conseguiu reduzir em 49,9% o número de
pessoas vivendo abaixo da linha de pobreza e indigência106, reflexo do que aconteceu em
todo o Brasil, tendo o país saído do mapa da fome. Além disso, no ano de 2010 a cidade de
Timon foi apontada pela Revista Veja como uma das “20 metrópoles do futuro” e no ano de
2011 foi premiada como uma das “100 cidades mais dinâmicas do Brasil” pela organização
Brasil Américas.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do exposto podemos inferir que o processo de expansão do tecido urbano de Timon
caracterizou-se, essencialmente, de duas formas, sendo a primeira a partir do contingente
migratório que por meio de ocupações irregulares foram tecendo o prolongamento do
perímetro e a segunda por meio da construção de conjuntos habitacionais promovidos por
103 TIMON. Relatório de gestão (2005 – 2012). Informativo SEMED, Ano 08, nº 18, dez 2012. 104 CARLOS, op. cit., 2005, p. 23. 105 CORREA, Roberto Lobato. O espaço urbano. 4ª Ed. – São Paulo: Ática, 2004, p. 08. 106 Portal ODM (Objetivos de Desenvolvimento do Milênio) – SEPLAN.
232 História e Resistência
programas sociais geridos pela esfera do poder público. Paralelo a isso, podemos notar a
importância dos programas sociais como provedores de melhorias na qualidade de vida da
população mais pobre, embora muito se critique esse tipo de política assistencialista,
tornando possível a redução da pobreza no município de Timon, bem como a redução do
número de famílias em situação de vulnerabilidade social, caracterizando um avanço
significativo na realidade vivida pelos mesmos, podendo-se afirmar que essa mudança social
positiva constitui-se como um genuíno desenvolvimento sócio-espacial e, portanto, com
considerável valor histórico.
4. REFERÊNCIAS
AS 20 METRÓPOLES BRASILEIRAS DO FUTURO. Revista Veja. Edição 2180, ano 43,
nº 35, set. 2010.
ATLAS de Desenvolvimento Humano no Brasil. Disponível em:
http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/perfil_m/timon_ma. Acesso em: 08/12/2018.
BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Financiamento da
Assistência Social no Brasil. Caderno SUAS, ano 3, nº 3, Brasília: 2008.
CAIXA Econômica Federal. Demanda habitacional no Brasil. – Brasília: CAIXA, 2011.
CARLOS, Ana Fani Alessandri. A cidade. 9ª Ed. – São Paulo: Contexto, 2015.
CORREA, Roberto Lobato. O espaço urbano. 4ª Ed. – São Paulo: Ática, 2004.
MARANHÃO. Governo do Estado. Diagnóstico do Setor Habitacional – Produto 2.
MARICATO, Ermínia. O impasse da política urbana no Brasil. 3ª Ed. – Petrópolis: Vozes,
2014.
PORTAL da Transparência – Transferência de Recursos por Estado/Município.
PORTAL ODM (Objetivos de Desenvolvimento do Milênio) – SEPLAN.
TIMON. Prefeitura Municipal. Plano Estratégico de Desenvolvimento Sustentável de
Timon. Timon, 2002.
______. Relatório de gestão (2005 – 2012). Informativo SEMED, Ano 08, nº 18, dez 2012.
TIMON ENTRE AS 100 CIDADES MAIS DINÂMICAS DAS AMÉRICAS. Meio Norte,
2011. Disponível em: http://www.meionorte.com/blogs/brogdoplant/timon-entre-as-100-
cidades-mais-dinamicas-das-americas-169301. Acesso em: 20/11/2018.
233 História e Resistência
TRANSPORTE COLETIVO, TRÁFEGO E “TRAMPO” EM
TERESINA (DÉCADA DE 1970)
Allan Ricelli Rodrigues de Pinho (Mestre em História/UFPI)
Cláudia Cristina da Silva Fontineles (Doutora em História/UFPI)
1. INTRODUÇÃO
O transporte coletivo, em particular o ônibus, faz parte da vida de muitas pessoas que,
diariamente, o utilizam para ter acesso ao trabalho, lazer, educação ou saúde. O presente
estudo pretende refletir sobre o transporte coletivo em Teresina, durante a década de 1970.
Este é um momento de significativas decisões no transporte urbano das principais capitais
brasileiras. Teresina, durante os anos 1970 do século XX, passou por um processo de
expansão espacial que culminou em um conjunto de transformações no seu espaço urbano,
ocasionada, em grande medida, pela esfera política nacional, durante o regime militar, que
financiou uma série de intervenções no Estado e na capital, Teresina. Este processo de
modernização também incluía a abertura de novas ruas e avenidas na capital, dotando-a de
uma malha viária que possibilitasse, inclusive, a circulação dos transportes coletivos. . Nesse
sentido, o estudo visa investigar as transformações no transporte coletivo de Teresina,
durante os anos 1970, e sua relação com o projeto de modernização implantado no período.
O estudo procura, ainda, analisar os contrastes em torno do atendimento do transporte
coletivo e entender os anseios e demandas do serviço, além dos conflitos e tensões
envolvendo gestores, empresários, usuários e funcionários ligados ao serviço de coletivos
urbanos. Para isso, recorremos aos relatos orais que expressam as experiências e as memórias
de sujeitos envolvidos com o objeto, através de entrevistas de História Temática, e fontes
hemerográficas, por meio da análise dos jornais O Dia e O Estado, que circularam na capital
piauiense na década de 1970.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Empregamos, como aporte teórico, autores como Verena Alberti (2009), Janaína Amado
(1995), Roberto Lobato Corrêa (2005), Cláudia Cristina da Silva Fontineles (2015),
Francisco Alcides do Nascimento (2015), Antonio Paulo Rezende (1997), Sandra Jataí
Pesavento (2007), Michel Pollack (1992), Paul Thompson (2002), Charles Leslie Wright
(1988), e Waldemar Corrêa Stiel (2001), dentre outros.
234 História e Resistência
3. METODOLOGIA
Utilizamos como método, a análise de fontes hemerográficas. De acordo com Tania Regina
de Luca (2005, p.132), a análise deste tipo de documento, demanda alguns cuidados, pois,
“historicizar a fonte requer ter em conta, portanto, as condições técnicas de produção
vigentes e a averiguação, dentre tudo que se dispunha, do que foi escolhido e por quê”.
Portanto, ao escolhermos analisar matérias com conteúdos referentes ao transporte coletivo,
foi preciso observar o jogo de interesses, de apoios ou papel social que aquele jornal queria
transmitir aos leitores, pois os discursos são construídos por um tecido de vozes e de
contextos que precisam ser levados em consideração. Além de documentos hemerográficos,
recorremos ao uso de relatos orais, a partir da metodologia da história oral, pois o uso de
entrevistas, de acordo com a interpretação de Verena Alberti (2009, p.170), é: “um veículo
bastante atraente de divulgação de informações sobre o que aconteceu. Esse mérito reforça
a responsabilidade e o rigor de quem colhe, interpreta e divulga entrevistas, pois é preciso
ter claro que a entrevista não é um “retrato” do passado “. O método concebe uma maneira
de ampliar os caminhos do pesquisador em relação às distintas vivências sociais. Porém,
para que isso aconteça se faz fundamental o levantamento das fontes, a partir das quais será
possível assimilar as formas de vida, para entender suas vivências e ter diferentes
interpretações.
4. DISCUSSÃO E RESULTADOS
A cidade, durante o período analisado, como aponta Cláudia Cristina da Silva Fontineles
(2016, p.170), foi palco de obras que alteraram o seu espaço urbano, sendo fruto de uma
política nacional durante o regime civil-militar. Ainda sobre este momento de crescimento
da cidade de Teresina, Francisco Alcides do Nascimento (2009) comenta que as gestões
municipais e estaduais, sobretudo na primeira metade da década de 1970, aliaram-se em um
projeto de modernização que pretendia colocar Teresina ao lado das capitais mais
desenvolvidas do país na época, como São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba. Este modelo de
desenvolvimento na capital estava de acordo com uma política modernizadora que seguia
um modelo nacional. É também neste período que ocorre a chegada de um grande fluxo de
migrantes em Teresina, ocasionando assim, uma enorme expansão demográfica, e,
consequentemente, o aumento dos problemas sociais, como, por exemplo, dificuldades
habitacionais. O período da pesquisa marca um momento de explosão demográfica e
235 História e Resistência
crescimento espacial de Teresina, estes fatores são alguns dos motivos que fazem com que
não só o sistema de transporte coletivo, mas também a malha viária do município tente
assumir uma nova organização e estruturação para atender a demanda da época. De acordo
com Francisco Alcides do Nascimento (2009, p.6), “na década de 1970, Teresina
encontrava-se entre as capitais brasileiras com elevadas taxas de crescimento populacional,
em um cenário urbano recheado de problemas, contradições e desigualdades de ordem
econômica e social”. Uma dessas dificuldades passava justamente pela organização de um
sistema de coletivos na capital.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Constatou-se que o serviço de transportes coletivos se apresentava ainda insuficiente para
atender os bairros da cidade, as desigualdades eram latentes para quem utilizava o ônibus
neste período. Por isto, os usuários de coletivos continuavam a ter dificuldade para usufruir
do que a cidade oferecia, como as suas oportunidades de trabalho, educação, lazer e saúde,
pois se viam impedidos ou limitados pela pouca e ineficiente oferta de transporte coletivo.
Os aspectos econômicos, políticos e sociais que estavam ligados às decisões que envolviam
o sistema de transporte coletivo influenciavam diretamente a vida dos usuários que
utilizavam o ônibus na cidade, por isso, foi preciso ir além das questões técnicas, para
entender que o transporte é um componente fundamental na dinâmica do espaço urbano e
dos seus habitantes. A partir dos relatos orais de alguns usuários do transporte coletivo, foi
possível perceber as falhas e as carências que afetavam a população, principalmente dos
bairros mais afastados do centro da capital. Por isso, muitos desses usuários acabavam
optando por realizar os trajetos a pé, ou de bicicleta, meio de locomoção utilizado por muitos
moradores de Teresina.
6. REFERÊNCIAS:
ALBERTI, Verena. Histórias dentro da História. In: PINSKY, Carla Bassanezi et al. Fontes
históricas. São Paulo: Contexto, 2009.
CORRÊA, Roberto Lobato. O Espaço Urbano. São Paulo. Editora Ática, 2005.
DE LUCA, Tânia Regina. A história dos, nos e por meio dos periódicos. In: PINSKY, Carla
Bassanezi (org.). Fontes históricas. São Paulo: Contexto, 2005.
FONTINELES, Cláudia Cristina da Silva. Patrimônios arquitetônicos em Teresina: combates pela
memória (Década de 1970). Revista História e Perspectivas. Uberlândia, vol. 29, n.54, jan/jun.,
2016.
NASCIMENTO, Francisco Alcides. Sonhos e pesadelos dos moradores da periferia de Teresina nas
décadas de 1960 e 1970. ANPUH – XXV Simpósio Nacional de História. Fortaleza, 2009.
236 História e Resistência
REZENDE, Antonio Paulo. (Des)encantos modernos: histórias da cidade do Recife na década de
XX. Recife: Fundarpe, 1997.
Palavras-chave: História; Cidade; Transporte coletivo; Teresina; Memória.
237 História e Resistência
UMA ESCRITURISTICA DA NEGAÇÃO: O JORNAL INOVAÇÃO E
SUAS CRÍTICAS À ECONOMIA, POLÍTICA E CULTURA
PARNAIBANAS NOS ANOS 1970
Sérgio Luiz da Silva Mendes (UESPI)
Cláudia Cristina da Silva Fonteneles (UFPI)
RESUMO:
No Piauí, durante os anos da ditadura civil-militar (1964-1985), a imprensa alternativa se fez
presente e um de seus principais expoentes foi o Jornal Inovação. Produzido e veiculado,
inicialmente, na cidade de Parnaíba no final dos anos 1970; este jornal foi responsável por
protagonizar as críticas mais contundentes ao prefeito João Batista Ferreira da Silva. Neste
sentido, o presente artigo teve como objetivo investigar as representações criadas, a partir
do Jornal Inovação, sobre as dimensões econômicas, políticas e culturais da cidade de
Parnaíba durante o final dos anos 1970. Este ensaio revelou que as práticas escriturísticas do
Inovação revelaram uma Parnaíba do atraso, do retrocesso, do “já teve”, enfim, uma cidade
que nos anos 1970 deveria ser negada, e em seu lugar emergir uma cidade aos moldes do
pretérito! Para a construção deste artigo foram fundamentais as interlocuções com Michel
de Certau (2008), Roger Chartier (2011), Kucinski (2003), De Luca (2008), dentre outros.
As fontes hemerográficas, notadamente o Jornal Inovação, constituíram-se no principal
corpus documental para a análise do passado.
Palavras-chave: Parnaíba. Jornal Inovação. Escriturística da negação. Representação.
1. INTRODUÇÃO.
Nos tempos da ditadura civil-militar no Brasil (1964-1985), um fenômeno se fez
presente: a proliferação de jornais em formatos tabloides. Foram, segundo a pesquisa de
Bernardo Kucinski (2003), em torno de 150 periódicos que emergiram em quase todo o
território nacional os quais tinham como objetivo ser um espaço alternativo de luta política.
Esta imprensa também se fez presente e atuante no Piauí, e um dos jornais mais
combativos e mais duradouros do nosso Estado foi o Inovação. Neste sentido, o presente
artigo tem como principal objetivo investigar o papel que este jornal alternativo desenvolveu
em nosso território quando o assunto era sociedade, política e cultura piauiense. As questões
que nortearam a nossa pesquisa, foram: quais as concepções e práticas que nortearam a linha
editorial do jornal Inovação? Quais os usos que se faziam deste espaço de luta política?
Sendo mais preciso, quais as intencionalidades dos artigos, charges, poesias, matérias,
entrevistas e artigos inscritos neste jornal?
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
238 História e Resistência
Para a realização desta pesquisa, foram fundamentais os conceitos de econômica
escriturística do Michel de Certeau (2008), o conceito de representação do Roger Chartier
(2002), o conceito de práticas de leitura de Roger Chartier (2011), foi salutar também o
conceito de representação da historiadora Sandra Jatahy Pesavento (2004) e o conceito de
imprensa alternativa desenvolvido pelos historiadores Bernardo Kucinski (2003) e Maria
Paula Nascimento Araújo (2000).
1. METODOLOGIA
Para o trato das fontes, nos apropriamos da metodologia de inquirição das fontes
hemerográficas desenvolvidos no texto intitulado “História dos, nos e por meio dos
periódicos”, da historiadora Tânia Regina de Luca (2008). Nele, De Luca aponta para os
direcionamentos a serem seguidos pelos pesquisadores e entre eles destacamos os seguintes:
perceber a diagramação; identificar as fontes de receita; ver quais matérias e artigos estão da
primeira página; investigar a linha editorial que norteia o periódico, dentre outros. Nos
utilizamos das profícuas discussões entre Roger Chartier e Pierre Bourdieu contidas no livro
“Práticas da Leitura (2011). Segundo estes autores, nós temos que tentar perceber nestas
fontes as estratégias de tentativa de captura dos leitores, tentando ver isso na diagramação
do produto, no uso das letras maiúsculas e minúsculas, na utilização do itálico, negrito, nas
simbologias, nos grifos, observar como todo o conteúdo foi inserido no suporte físico, no
caso, o jornal.
5. DISCUSSÃO E RESULTADOS
Ao tomarmos o jornal Inovação como fonte para se perceber a cidade de Parnaíba no
final dos anos 1970, direcionamos nosso olhar para artigos, entrevistas, charges e matérias
sobre as dimensões político-sociais e culturais da cidade e chegamos aos seguintes
resultados: Parnaíba é uma cidade sem o mínimo de infraestrutura necessária para atender
às necessidades básicas de sua população, uma urbe com precário sistema de iluminação
pública, precário sistema de coleta de lixo, com uma rede de transportes deficientes, ruas,
bairros e pontos turísticos sofrendo com a falta de limpeza pública, sem sistema de esgoto,
uma cidade que não apresentava locais de disseminação de cultura letrada, enfim, uma urbe
que sofria com o descaso público e portanto, deveria ser negada e em seu lugar, os inovadores
239 História e Resistência
apontam para uma Parnaíba do passado, uma Parnaíba que se destacava pelo seu comércio
com o exterior, uma cidade que “já teve” uma das maiores economias do Estado, uma estrada
de ferro, que foi pioneira em diversos aspectos, mas que no momento em questão era o
avesso do que tinha sido e, dessa forma, deveria ser esquecida, se configurando a escrita do
jornal Inovação numa escriturística da negação.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A imprensa alternativa piauiense é uma fonte riquíssima para aqueles interessados
em se aventurar nos campos da História. Nela, podemos ter acesso a conteúdos sobre
política, juventude, sociedade, religião, economia, cultura, cidade, campo, comportamento,
enfim, um leque extraordinário de possibilidades de perceber o passado. Em suas páginas
estão registrados como os sujeitos experenciaram seu tempo, quais táticas utilizavam para
responder as questões próprias de sua contemporaneidade. Estes jornais são marcas
indeléveis de uma historicidade, caminhos que podem ser trilhados pelo pesquisador que
busca no passado um diálogo com o presente, destarte, merecem a atenção dos mesmos,
pois é através deles que podemos atribuir sentido às ações do homem no tempo.
6. REFERÊNCIAS
ARAUJO, Maria Paula Nascimento. A utopia fragmentada: as novas esquerdas no Brasil e
no mundo na década de 1970. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2000.
CERTEAU, Michel de. A Invenção do Cotidiano: 1. Artes de fazer. 9.ed. Rio de Janeiro:
Vozes, 2008.
CHARTIER, Roger. À beira da falésia: a história entre incertezas e inquietude. Porto Alegre:
Ed. Universidade/UFRGS, 2002.
_______, Roger (org.). Práticas da leitura. São Paulo: Estação Liberdade, 2011.
KUCINSKI, Bernardo. Jornalistas e Revolucionários: nos tempos da imprensa
alternativa. 2ª edição revista e ampliada. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo,
2003.
LUCA, Tânia Regina de. História dos, nos e por meio dos periódicos. In.: PINSKY, Carla
Bassanezi (org.). Fontes Históricas. 2 ed. São Paulo: Contexto, 2008.
PESAVENTO, Sandra Jatahy. História e História Cultural. Belo Horizonte: Autêntica,
2004.
240 História e Resistência
ST 06: CIDADES E PATRIMÔNIO: USO DO PASSADO,
CULTURA E SUJEITOS.
Coordenadores:
Profª. Ma. Laura Lene Brandão (Uespi) / Doutoranda Em História (Ufpi)
Prof. Me. Valério Rosa De Negreiros (Uespi) / Doutorando Em História (Uff)
241 História e Resistência
ANÁLISE DOS AGENTES E PROCESSOS DA ELITIZAÇÃO DOS
BAIRROS SÃO CRISTÓVÃO, FÁTIMA E JÓQUEI CLUBE ENTRE
1970 A 2000 Cristina Cunha de Araújo107
RESUMO
Quando se fala sobre cidade, constrói e se desconstrói imagens, as quais nos vêm à memória
quando são acionadas por nós. Ítalo Calvino (1990), ao descrever as cidades, apresenta-nos
diferentes urbes que são desenhadas em nossa memória, algumas visíveis, outras, invisíveis
ao nosso olhar. É nessa imersão e nas possibilidades de ver e estudar a História que
tencionamos pesquisar o processo de elitização dos bairros São Cristóvão, Fátima e Jóquei,
no período de 1970 a 2000, ambos situados na Zona Leste da capital. Dessa forma, esta
pesquisa procura discorrer sobre os agentes, indivíduos, órgãos que contribuíram para a
elitização dos bairros recortados nesse trabalho. Assim, parte-se do seguinte
questionamento: de que forma tais projetos foram executados em Teresina? Como se deu o
reflexo no espaço urbano da capital? Para tanto faremos uso da pesquisa bibliográfica, de
campo e metodologia da história Oral, com o objetivo de fazer usos das memórias de
moradores da região. As fontes que nos ajudarão a pensar este objeto são: Os jornais O Dia,
Meio Norte, Folha da Manhã e relatórios emitidos pela paróquia Nossa Senhora de Fátima.
As explicações plausíveis para algumas dessas questões estão ligadas a origem da “Zona do
Jóquei” como era denominada a região antes de receber as delimitações geográficas, aos
donos dos terrenos que ali existiam, pois a maioria eram pessoas de posse, como a família
Miranda, por exemplo, com edificações físicas realizadas na Zona.
Palavras chaves: História. Bairro. Elitização. Espaço Urbano. Processos.
1. INTRODUÇÃO
Quando se fala sobre cidade, constrói e se desconstrói imagens, as quais nos vêm à
memória quando são acionadas por nós, desse modo, Calvino (1990), ao descrever as
cidades, apresenta-nos diferentes urbes que são desenhadas em nossa memória, algumas
visíveis, outras, invisíveis ao nosso olhar. Nas últimas décadas, as mudanças epistemológicas
no estudo da História têm possibilitado um aumento considerável nos trabalhos sobre cidade,
um dos campos temáticos da História cultural, pois “já existe uma ampla produção
acumulada sobre cidade, particularmente no que diz respeito a uma abordagem econômico-
social” (PESAVENTO, 2004, p.77).
Nas duas últimas décadas do século XXI, muitas pesquisas foram realizadas sobre
Teresina nas mais diferentes nuanças política, social e urbana, mas um objeto de estudo pode
ser abordado de diferentes maneiras (BARROS, 2007). Nesse sentido nossa pesquisa tem
107 Mestre em História do Brasil-UFPI. Centro Universitário Uninovafapi/Faculdade Adelmar Rosado FAR
242 História e Resistência
como objetivo: analisar a atuação dos diferentes agente e processo que promoveram a
elitização dos bairros São Cristóvão, Fátima e Jóquei no período de 1970 a 2000. Tendo
como nosso recorte espacial Teresina, capital do Piauí, que desde os anos de 1960 apresenta
uma série de modificações urbanísticas que interferiram diretamente na sua configuração,
assim como possibilitou uma nova arquitetura social ocasionada, dentre outras coisas, pelo
aumento populacional e alargamento da cidade. Essas mudanças começaram a ser projetadas
para materializar “um novo Brasil”, no qual o governo militar concentrou investimentos no
processo de urbanização e modernização das grandes cidades brasileiras da época, (esse
projeto foi coordenado pelo Governo Federal, por meio de órgãos como o Serviço Federal
de Habitação e Urbanismo – SERFHAU e o Banco Nacional de Habitação – BNH). A ação
desses órgãos foram responsáveis pela edificação de conjuntos habitacionais aqui em
Teresina (FONTINELES, 2017).
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A concepção de cidade é anterior à ideia de espaço urbano, pois a formulação de
cidade está norteada pela percepção de que ela se constitui em forma e recorte concreto,
sobre o qual as ações humanas se realizam, enquanto a ideia de urbano está pautada em uma
concepção mais ampla e que envolve o aspecto social. Quando se discute a origem das
cidades, Raquel Rolnik (1995) destaca que a origem está ligada aos primeiros Zigurates,
onde já era possível vislumbrar uma ideia de urbe. Para Carlos (2001), a cidade está ligada
ao fazer cotidiano das pessoas, enquanto o espaço urbano está ligado às intervenções feitas
diariamente pelos agentes modeladores deste espaço. . Nessa conjuntura de cidades, espaços
(como os bairros) são construídos e edificados. Esses espaços, segundo Certeau (1996) são
lugares praticados cotidianamente, que se tornam espaços particulares, pois ali os indivíduos
criam vínculos e elementos que os definem como particulares.
Nessa perspectiva, pretende-se estudar o processo de elitização dos bairros
recortados nessa pesquisa, pois se entende que eles foram formados por meio de ações de
indivíduos que interferiram no espaço e o modificaram. Tal modificação foi realizada por
meio de ações dos agentes modeladores do espaço, particulares e públicos, conforme
afirmado Correa (2002).
É interessante pensarmos que esses bairros também estão atrelados ao crescimento
243 História e Resistência
populacional da capital, especialmente a partir dos anos de 1980. Segundo Lima (1996), isso
ocorreu em Teresina porque os serviços oferecidos na época (educação e saúde) motivou
muitas pessoas a morar em Teresina, contribuindo para o surgimento de moradias
desordenadas e desprovidas de serviços básicos.
3. METODOLOGIA
Ao se propor uma metodologia de pesquisa para se construir de forma cientifica uma
narrativa sobre o processo de elitização dos bairros recortados nessa pesquisa é importante
que façamos escolhas, como as metodologias. Dito isso, faremos uso inicialmente da
pesquisa bibliográfica, que conforme Gil (2008) é realizada a partir de material já escrito
sobre a temática pesquisada. No caso deste tema, já se possui um considerado acervo
bibliográfico sobre a cidade de Teresina, bem como trabalhos que analisam os bairros da
cidade.
Outra metodologia usada será a História Oral, a qual, segundo Verena Alberti (2006),
é um método que auxilia na elaboração de fontes. Paralelamente à seleção das metodologias,
selecionam-se também fontes que possam nos ajudar em história para além da escrita, pois
são relevantes o uso de outros documentos. Para esta pesquisa, far-se-á uso de Jornais,
especialmente do Jornal O Dia, Folha da Manhã, Diário do Povo e Jornal Meio Norte, pois
estes jornais circulam ou circularam no recorte de nossa pesquisa, publicando matérias que
de alguma forma falam algo sobre os bairros em questão.
4. DISCUSSÃO E RESULTADO.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístico (IBGE, 2010), Teresina
possui 814.230 habitantes. Destes, 167.443 estão concentrados na Zona Leste da capital
piauiense, onde estão situados os bairros recortados para esta pesquisa. Como moradora do
bairro de Fátima durante parte dos anos 1990, passei a interessar-me pela sua formação
histórica. Após o ingresso na academia, à medida que entrei em contato com as leituras sobre
cidade e alguns trabalhos que tratam dos bairros de Teresina, o interesse aumentou. Desse
modo, pude perceber que os espaços de uma urbe são múltiplos, que existem diferentes
cidades dentro de uma só e que os bairros não se formam por acaso. Com tais informações,
passei a questionar sobre os elementos que possibilitaram não apenas a formação daqueles,
mas também o seu caráter economicamente elitista. Esse privilégio de infraestrutura física
244 História e Resistência
está atrelado aos investimentos particulares e públicos, especialmente do poder Municipal.
Dessa forma, esta pesquisa procura discorrer sobre os agentes (públicos e privados)
e processos (histórico; econômico e social) que contribuíram para a elitização dos bairros
pesquisados neste trabalho. Junto com outros elementos, demais projetos e órgãos estaduais
foram criados para interagir com os projetos federais em Teresina, assim, parte-se do
seguinte questionamento: De que forma tais projetos foram executados em Teresina? Como
se deu o reflexo no espaço urbano da capital? Quais os impactos sócio-histórico e cultural
da elitização desses bairros para a cidade de Teresina?
5. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
ALBERT, Verena. Histórias dentro da história. In: PINSKY, Carla Bassanezi (org.) Fontes
históricas. 2 ed. São Paulo: Contexto, 2006.
CERTEAU, Michel de. A Invenção do cotidiano: 1 artes de fazer. Petrópolis: Vozes, 1994
CORRÊA, Roberto Lobato. Espaço urbano. 4 ed. São Paulo: 2002.
CARLOS, Ana Fani Alessandri. Espaço – tempo na metrópole: a fragmentação da vida
cotidiana. São Paulo: Contexto 2001.
Teresina: EDUFPI, 2017.
GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas em pesquisa social. 6 ed. São Paulo : Atlas, 2008.
LIMA, Antônia Jesuíta de. As multifaces da pobreza: formas de vida e representações
simbólicas dos pobres urbanos. Teresina: Halley, 2003.
ROLNIK, Raquel. O que é cidade. São Paulo: Brasiliense, 1995.
245 História e Resistência
ARTE URBANA CONTEMPORÂNEA NA CIDADE DE TERESINA:
A história contada através das escritas urbanas na Avenida Frei Serafim.
Nelson Machado Barbosa Filho (Arquitetura e Urbanismo - ICF)
1. INTRODUÇÃO
A cidade de Teresina, capital do Estado do Piauí, fundada em 1852 por Jose Antônio
Saraiva, então Presidente da Província do Piauí, foi planejada, de acordo com o Plano de
Desenvolvimento Local Integrado de Teresina (PDLI), “Partindo de um plano inicial em
xadrez caracterizado por ruas estreitas, onde as larguras médias não ultrapassavam 7 m e
com quadras não superiores a 100 m, tendo como centro a praça da Constituição, atual
Deodoro Fonseca.” (PDLI, 1969). O crescimento urbano até 1900 segui as diretrizes da
malha, tendo como um dos eixos de expansão a Avenida Frei Serafim, que divide
geograficamente a cidade em Norte e Sul e abre caminho em direção ao Rio Poty.
Com a construção da Igreja de São Benedito, idealizada pelo Frei Serafim de Catânia,
mediante a angariação de doações dos católicos da região, a vereda que ligava a construção
da Igreja ao Rio Poty ganhou importância e logo se tornaria um dos pontos mais belos da
cidade. Projetada para o uso de automóveis, a Frei Serafim lembrava um boulevard, pelo seu
belo paisagismo que de acordo com Silva Filho (2007, p. 114) “além dos oitizeiros do
canteiro central, havia figueiras no passeio lateral, expurgadas nos anos 70 em decorrência
da praga do lacerdinha”. As construções que compõe o entorno da Avenida apresentam
características arquitetônicas diferentes, predominando o estilo eclético e modernista,
composta por moradores elitizados que substituíram a população nativa local108.
Hoje, a Frei Serafim encontra-se extremante descaracterizada do que foi proposta
inicialmente, com o paisagismo restrito a poucos maciços verdes compostos, na sua maioria,
por oitizeiros e modestos jardins laterais formados por plantas ornamentais. As casas que
antigamente dotavam de charme e elegância a principal via da circulação da cidade perderam
suas características originais, principalmente pelo poder sicário do mercado imobiliário
local, que tem apoio dos empresários e encontra uma legislação municipal que corrobora
para a descaracterização dessa avenida.
Ao longo dos anos, a Frei Serafim assumiu o importante papel de palco das
108Sobre o tema, ver o livro: A cidade sobe o fogo: modernização e violência policial em Teresina.
246 História e Resistência
manifestações sociais, políticas, religiosas e culturais que passaram a acontecer na cidade,
mostrando a importância da formação dessa via como um espaço público democrático,
relevando que ela não se limita ao concreto, mais também é um espaço de experiencias,
histórias e produção de memórias que são contadas pela formação do imaginário da
população que a utiliza diariamente, onde a arte urbana sempre se mostrou como ferramenta
indissociável no ato da comunicação e afirmação ao direito à cidade, contribuindo de forma
dinâmica nos processos de transformação da paisagem urbana.
Diante desse cenário atual que experimenta a capital piauiense, o presente resumo
expandido pretende entender como a arte urbana contemporânea produzida nos espaços
públicos de Teresina, no recorte espacial compreendido pela Avenida Frei Serafim e as
edificações que compõem seu entorno, contribuem para o entendimento da (des)construção
históricos e sociopolíticos da cidade analisada.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O ato de grafitar uma superfície acompanha a história da evolução humana, narrando
as aventuras do homem frente aos desafios impostos pela lei da sobrevivência, tornando-se
um produto cultural que foi sendo modificando através dos tempos pelos materiais usados
nas práticas, o ato e o conteúdo das mensagens transmitidas, geralmente relacionadas com
fatos políticos e históricos que marcam a sociedade.
Em 1960, a “revolução contracultural se espalhou pelo mundo ocidental, utilizando
o spray com forma de protestos coletivos através de escritos, contra o sistema cultural
hegemônico e dominante” (HYPOLITO, 2015, p.52). Nos Estados Unidos, “Na cidade de
Nova York, o graffite foi tratado como um problema urbano tido como uma demonstração
destrutiva, violenta e vândala, tanto pela mídia como pelos poderes políticos” (DE
CASEMIRO e MACHADO, 2017. Em Teresina, as escritas urbanas surgiram nos espaços
públicos e estão atreladas a acontecimentos que marcaram a sociedade político e
culturalmente, vista como sinônimo de vandalismo e desordem pelos olhos vigilantes do
poder público.
Na tentativa de barrar os escritos urbanos produzidos nos espaços públicos nas
cidades, o poder público se fortalece com a criação de leis que punem e criminalizam as
pessoas que usam os espaços públicos para se manifestar. No Brasil, a Lei Federal N° 9.605
de 1988, considera crime contra o ordenamento urbano e o patrimônio cultural alterar a
247 História e Resistência
estrutura da edificação especialmente protegida por lei sem autorização do responsável ou
autoridade competente. Em Teresina, no ano de 2017, foi aprovado na câmara dos
vereadores, a Lei Municipal N°5070, que apresenta como um dos seus objetivos, diminuir a
poluição visual provocada por pichações e preservar o patrimônio público e privado.
Passeando pelas ruas do centro histórico da cidade, percebemos que a pratica das escritas
urbanas se mostra atual e em número expressivo, mostrando que o ato da escrita é habito
entre algumas tribos urbanas que circulam pela cidade, se expressando e comunicando
através de mensagens que dialogam com outros tribos e cidadãos que usufruam dos ruas da
cidade.
3. METODOLOGIA
Em relação a metodologia adotada, lista-se a Pesquisa Bibliográfica, no
entendimento dos principais conceitos e temas relativos ao objeto em estudo, realizadas em
artigos científicos, teses de mestrado e livros, Pesquisa Documental, principalmente na
revisão da lei federal contra crimes ambientais e lei antipichação que de certa forma
tangenciam a temática e por fim, Pesquisa de Campo, realizada durante a manhã do dia
02.05.2019, através do uso da fotografia, realizada com a finalidade de agrupas os tipos de
arte urbana produzida no espaço público facilitando o entendimento e mapeamento dessas
intervenções.
4. DISCURSÕES E RESULTADOS
Dentre as principais vertentes de escritas urbanas mapeadas podemos destacar o Pixo,
percussor de todas as outras linguagens, caracterizado por ser reproduzido em uma única
cor, de forma rápida e com enfoque no ato. O bomb, também encontrado em grande número,
que se derivou da pichação, mostra-se mais preocupado com o acabamento e o formato da
escrita, passa a usar cores na diagramação da arte e geralmente o enfoque é a tipologia das
letras. O graffite, hoje visto com bons olhos pelo mercado consumista, também foi
encontrado na pesquisa e é caracterizado por ser uma arte que se reproduz com os mais
variados matérias e cores possíveis, geralmente reproduzidos em áreas extensas, abordando,
geralmente, os problemas urbanos representados de uma maneira crítica e inteligente. Na
pesquisa também foram encontrados, em menores números, pixos políticos, que contribuem
para uma compreensão histórica da conjuntura política brasileira atual e colagens políticas.
248 História e Resistência
Figura 1: Mapeamento das principais formas de arte urbana contemporânea na Av. Frei Serafim
Fonte: Nelson Barbosa, 2019.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados da pesquisa corroboram para a formação de um pensamento crítico
sobre o fenômeno das escritas urbanas no espaço público da Avenida Frei Serafim. Nota-se,
que mesmo com a criação de leis específicas que objetivam penalizar as pessoas que se
expressam através dos muros da cidade, o número de escritas urbanas mapeadas é alta,
apontando que mais 60% dos quarteirões existentes na avenida em questão possuem alguma
forma de escritas urbanas, que podem ser interpretados como um livro a céu aberto que
ajudam a entender a história social, politica e cultural de uma sociedade que as vezes não
encontramos na academia, colaborando, ainda, para a aquisição do direito democrático à
cidade, idealizada pelo filosofo Henri Lefebvre.
Por fim, analisando a verdadeira descaracterização que vem ocorrendo na avenida,
nota-se que as políticas de preservação do patrimônio material edificado não estão sendo
cumpridas, ao passo que a Av. Frei Serafim e seu casario somem da noite para o dia, muitas
vezes, cedendo espaço para os novos projetos de mobilidade urbana que garantem resolver
os problemas urbanos sem a participação efetiva da população, hora pelo poder imobiliário
local, que movidas pelo acumulo do capital procuram transformar a via em um corredor
comercial.
6. REFERÊNCIAS
249 História e Resistência
DE CASIMIRO, Lígia Maria Silvia Melo; MACHADO, Antonio Avellaneda Santos. A
ARTE URBANA COMO MANIFESTAÇÃO DO DIREITO À CIDADE. In: IX
CONGRESSO BRASILEIRO DE DIREITO URBANÍSTICO, 9., 2017, Florianópolis.
Anais(Online)…Florianópolis: 14/12/2017. Disponível em:
https://www.even3.com.br/anais/9cbdu/51788-a-arte-urbana-como-manifestacao-do-
direito-a-cidade/. Acesso em: 29 abr. 2019.
HYPOLITO, Bárbara de Bárbara. Cidade, Corpos E Escritas Urbanas: Cartografia no
espaço público contemporâneo. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) -
Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de
Pelotas. Pelotas, 215 p.2015.
LEFEBVRE, Henry. O Direito À Cidade. São Paulo: Centauro, 2008.
LEIS DE ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO URBANO DE TERESINA. Caderno 2,
Legislação Urbana de Teresina, 1988.
NASCIMENTO, Francisco Alcino do. A Cidade Sobe O Fogo: modernização e violência
policial em Teresina (1937-1945) / Francisco Alves do Nascimento. 2. ed. – Teresina:
EDUFPI, 2015. 358 p.
PLANO DE DESENVOLVIMENTO LOCAL INTEGRADO DE TERESINA (PDLI).
Construções e Planejamento S.A (COPLAN). Newton Oliveira (coord.). 1969.
SILVA FILHO, Olavo Pereira de. Carnaúba, Pedra E Barro na Capitania de São José do
Piauhy. Belo Horizonte: Ed. do Autor, 2007. 3v.
250 História e Resistência
AS FESTIVIDADES JUNINAS NA CIDADE DE SUCUPIRA DO
NORTE-MA: TRADIÇÃO E DANÇAS DE QUADRILHAS, NOS
ÚLTMOS 20 ANOS E SUAS MUDANÇAS TEMPORAIS
Isaías Martins da Cunha
Acadêmico do curso de Licenciatura em História da Universidade Federal do Piauí
Maria Natielly Soares Campos
Acadêmica do curso de Licenciatura em História da Universidade Federal do Piauí
1. INTRODUÇÃO
O presente artigo pretende elaborar um resgate histórico acerca das festividades
juninas na cidade de Sucupira do Norte – MA, sabendo que essa manifestação cultural
sobretudo na região nordeste ganha dimensão espacial pela sua expressividade e seus modos
de fazer que são peculiares em cada município do nordeste, pretende-se apontar
transformações ocorridas ao longo do tempo, o recorte temporal aqui trabalhado nos remete
a 1999 (há vinte anos atrás), mas vale ressaltar que a data de emancipação política da cidade
de Sucupira, é de 1961. Ao fazermos uso do panorama de festividades apresentadas no
contexto histórico, regional e social, observamos o surgimento dessas festividades que
desencadeiam o sentimento cultural de pertencimento e de construção de uma identidade
regional, bem como de uma memória individual e coletiva, dessa forma, as danças de
quadrilhas juninas são responsáveis por armazenarem culturas e identidades passadas, mas
que resistem na memória coletiva da comunidade local, que estabelecem pontes que ligam o
viés histórico entre essas narrativas culturais e simbólicas de sucupirenses contemporâneos
e seus antepassados. Para a presente pesquisa, utilizamos fontes, como o manejo de coleta
de dados orais, colhidas através de entrevistas, na busca de dados referentes a eventos
culturais tradicionais da região maranhense trabalhada, bem como o uso de bibliografias.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Para tal pesquisa, utilizamos fontes como o livro organizado por Stella Bresciani e
Márcia Naxara “Memória e (re)sentimento indagações sobre uma questão sensível”,
encontramos o texto de Jacy Alves de Seixas, sobre “Percursos de memórias em terras de
história: problemáticas atuais”, que nos chama atenção para o fato de que a memória vem,
portanto, carregada de afetividade:
A memória é portanto algo que “atravessa”, que “vence obstáculos”, que
“emerge”, que irrompe: os sentimentos associados a este percurso são
ambíguos, mas estão sempre presentes. Não há memória involuntária que
251 História e Resistência
não venha carregada de afetividade e, ainda que a integralidade do passado
esteja irremediavelmente perdida, aquele que retorna vem inteiro, íntegro
porque com suas totalidades emocionais e “charme afetivo”. (SEIXAS,
Jacy, p. 47, 2004)
Dessa forma, entendemos que as memórias de moradores sucupirenses, sejam elas
involuntárias, exercitadas ou inseridas em uma coletividade, acabam por não fugirem à regra,
recobrindo-se de afetividades e emoções nostálgicas. Pierre Norra, observa que os lugares
de memória, aqui colocado como a praça pública, local de acontecimento das danças de
quadrilha, funcionam como centro detentor de histórias, saberes e ressignificações. Assim,
as danças de quadrilhas juninas, ao perderem o conceito antes adquirido, ainda permanecem
na memória coletiva local, identificadas como sentimento de pertencimento a determinado
meio social.
3. METODOLOGIA
Foram utilizadas em nossa metodologia, no presente panorama histórico, as falas
de entrevistados, através da construção de história oral, no qual localizamos um discurso
recorrente, do qual reina um sentimento de cisão cultural, o que antes era considerado tesouro
cultural presente nas manifestações juninas de Sucupira do Norte, recheado de tradições,
encontra-se sujeito a esquecimentos, devido às constantes formatações no padrão das
quadrilhas juninas sucupirenses, mas que se mantém vivo na memória da população, que
vivenciou o período retratado considerado patrimônio cultural imaterial dessa comunidade
pertencente a Sucupira do Norte – MA, é possível observar em meio às práticas,
representações e expressões narradas que tais práticas encontram-se revestidas de novos
significados, mas que ainda soam nos ecos da temporalidade histórica, viva na memória e
sentimento de pertencimento a um determinado espaço-tempo. Segundo Maria da Paz,
moradora da cidade retratada e entrevistada durante a pesquisa, são diversas mudanças
ocorridas:
“...Olha tá tudo diferente, tudo modernizado, a gente observa as
músicas, os trajes. As comidas típicas ainda conseguem predominar
né, ainda temos a canjica, a pipoca, enfim, a batata-doce. Mas a
gente vê assim que com o passar do tempo as coisas vão mudando,
hoje já não tem mais a simplicidade que tinha, então pra fazer uma
festa junina hoje as pessoas já não aceitam mais com aquilo que tem,
custa muito alto, fica muito caro e acabam pessoas não brincando
porque não tem condições financeira para se trajar à altura do que a
sociedade tá oferecendo, aqui mesmo em Sucupira você já não vê
mais a quadrilha com roupas de chitas enfeitadas com laço de fita,
com tiras de tecido coloridos que era o que a gente tinha na época,
então hoje os grupos que se organizam tentando acompanhar a
252 História e Resistência
evolução.” (Maria da Paz, Sucupira do Norte – MA, 2019)
Podemos ver que as mudanças sofridas ao longo do tempo das danças de
quadrilhas, durante as festa junina em Sucupira é, na verdade, um processo contínuo que
ocorre ano a ano, por meio do qual os participantes vão absorvendo novos valores, vindos
com a modernidade, fazendo com que às práticas culturais independentes presentes nas
festas juninas sejam ressignificadas, o que não quer dizer que deixem de representar a cultura
local. Os elementos antes tidos como identitários, agora são vistos como resquícios do
passado e tendem a desaparecer e dar lugar a novos elementos e costumes, que se enraízam
e vão mudando com o processo natural de hibridismo cultural.
Outro método aqui utilizado, foram as pesquisas de campo, através de observações
e contato com moradores de cidade de Sucupira, observamos que atualmente a festa conta
com uma estrutura montada pela prefeitura municipal em parceira com as escolas do estado
e município durante os dias 23 e 29 de junho a festa ganha corpo e enche de colorido a praça
da república com bandeirolas e a presença da comunidade. As tradicionais danças como
quadrilhas, cacuriá, carimbó sempre estão presente e o bumba meu boi principal símbolo
representativa da cultura maranhense.
4. DISCUSSÃO E RESULTADOS
Vislumbra-se que as mudanças sofridas ao longo do tempo, sobre as festa junina
em Sucupira, em especial as danças de quadrilha, compõem um processo contínuo que
ocorre ano após ano, por meio do qual os participantes vão absorvendo novos valores, vindos
com a modernidade, fazendo com que às práticas culturais presentes nas festas juninas sejam
constantemente ressignificadas. Observamos que os elementos antes tidos como identitários,
agora são vistos como resquícios do passado e tendem a desaparecer e dar lugar a novos
elementos e costumes, frutos de novas tradições e costumes contemporâneos, absorvidos
através de mídias e grupos sociais, que se enraízam e vão mudando com o processo natural
de hibridismo cultural.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Dessa forma, conclui-se que tanto o uso de narrativas históricas orais, como o uso
de dados bibliográficos e observações do espaço/tempo, auxiliam na construção de
narrativas que cristalizam a memória e a importância dos movimentos culturais imateriais
no seio da comunidade de Sucupira do Norte – MA. Assim como nos coloca Pierre Norra,
os locais vivenciados na cidade se constitui como lugar de memória, como centro detentor
253 História e Resistência
de histórias, saberes e ressignificações para a sociedade, ao beberem das fontes orais
repassadas e reaplicadas em seu núcleo social de pertencimento, que ao sofreram
modificações, permanecem na história de vida de filhos sucessores, fornecendo aos
contemporâneos, as raízes culturais, através de memórias coletivas.
Palavras-chave: Sucupira do Norte. Danças de quadrilhas juninas. Memória local.
Identidades.
5. BIBLIOGRAFIA:
Castro, Maria Laura Viveiros de Patrimônio imaterial no Brasil / Maria Laura Viveiros de
Castro e Maria Cecília Londres Fonseca. Brasília: UNESCO, Educarte, 2008. 199 p;
CLAVAL, Paul. Geografia Cultural: o estado da arte. In: CORRÊA, Roberto Lobato;
Dossiê do registro do Complexo Cultural do Bumba-meu-boi do Maranhão, 2011.
Funari, P. P. A. (2008) O que é patrimônio cultural imaterial. São Paulo: Brasiliense.
Educação Patrimonial : Manual de aplicação : Programa Mais Educação / Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. – Brasília, DF : Iphan/DAF/Cogedip/Ceduc,
2013.85 p. : il. ; 21 cm.
Memória e (re)sentimento: indagações sobre uma questão sensível / Organizadoras: Stella
Brsciani e Márcia Naxara. 2° ed. – Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2004.
Patrimônio Imaterial: O Registro do Patrimônio Imaterial: Dossiê final das atividades da
Comissão e do Grupo de Trabalho Patrimônio Imaterial. Brasília: Ministério da Cultura /
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, 4. ed, 2006. 140 páginas;
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, IPHAN. Disponível em:
<http://portal.iphan.gov.br/>. Acesso em: 01 Ago 2016
254 História e Resistência
CENTRO MATERNO-INFANTIL E LAVANDERIA E CENTRO
SOCIAL URBANO: AS AÇÕES ASSISTENCIALISTAS EM
TERESINA-PI (1972-1975)
Yasminn Escórcio Meneses da Silva (UFPI/PPGHB) 109
Marcelo de Sousa Neto (UESPI/PPGHB) 110
RESUMO: A presente pesquisa discute as nuances que levaram a desestruturação do Centro
Materno-Infantil e Lavanderia- CMIL, projeto do governo do estado iniciado na cidade de
Teresina no ano de 1972, no contexto de criação e expansão dos Centros Sociais Urbanos-
CSU’s, projeto federal iniciado em 1975. Com a criação dos CSU’s, os Centros Maternos
tiveram suas funções originais alteradas, passando a ter maior responsabilidade sobre o
menor abandonado, e, por isso, passando a receber apoio da FUNABEM, do que seu projeto
inicial que se constituía em amparar, com exclusividade as lavadeiras dos rios e seus filhos
com espaço de creche e atendimento médico-odontológico, salvaguardando-as. Para
compreender tais questões, adotou-se como aporte de fontes o uso de entrevistas, construídas
por meio da metodologia da História Oral, o uso de jornais do período pesquisado e
mensagens dos governos à Assembleia Legislativa. Por meio das análises às fontes, foi
possível perceber que grande parte dos recursos destinados ao setor social destinou-se aos
CSU’s, desestruturando o projeto de expansão dos Centros Maternos na cidade de Teresina,
resultando em muitas lavadeiras, com as mesmas condições de trabalho que antes do projeto,
sem assistência e sem visibilidade, já que era grande o número de mulheres que exerciam a
prestação de serviços na beira do rio. Observou-se, ainda, que a desestruturação do projeto
do Centro Materno-Infantil e Lavanderia esteve relacionada às disputas político-partidárias
no estado, uma vez que o projeto, pioneiro no país, recebeu apoio do governo de Alberto
Tavares Silva, projeto que não ganhou mais continuidade nos governos oposicionistas que o
sucedeu.
Palavras-chave: História. Cidade. Mulheres pobres. Teresina (PI).
1. INTRODUÇÃO
A discussão da pesquisa se baseia nas nuances que levaram a desestruturação do Centro
Materno-Infantil e Lavanderia- CMIL, projeto do governo do estado iniciado na cidade de
Teresina no ano de 1972, no contexto de criação e expansão dos Centros Sociais Urbanos-
CSU’s, um projeto federal iniciado em 1975. Com a criação dos CSU’s, os Centros Maternos
tiveram suas funções originais alteradas, passando a ter maior responsabilidade sobre o
menor abandonado, alterando o quadro do seu projeto inicial que se constituía em amparar,
com exclusividade as lavadeiras dos rios e seus filhos com uma creche, atendimento médico-
109 Pós-graduanda em História do Brasil pela Universidade Federal do Piauí (Programa de Pós-Graduação em
História do Brasil). e-mail: [email protected] 110 Professor associado da Universidade Estadual do Piauí e do Programa de Pós-Graduação em História do
Brasil. e-mail: [email protected]
255 História e Resistência
odontológico, salvaguardando-as no novo e asséptico espaço destinado.
Outra ponta da discussão se refere as ações desenvolvidas dentro dos planos de governo
de Alberto Tavares Silva (1971-1975) e Dirceu Mendes Arcoverde (1975-1977),
demonstrando, através da breve análise, que a desestruturação do CMIL pode estar
relacionada as disputas político-partidárias, observadas dentro da execução de política
públicas ou assistencialistas desenvolvidas no período.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O pensamento político-social que se desenvolveu em meados das décadas de 1970 a
1980 seguiu um padrão considerável que estabelecia a promoção do indivíduo como um
sujeito dotado de capacidades físicas e que pressupunha o crescimento econômico de sua
cidade, seu estado e por fim seu país, delimitou um quadro de ações dentro dos governos
estaduais que seguiram a linha de observação com particular atenção às populações mais
necessitadas, desenvolvendo políticas públicas que abraçassem suas necessidades. (PIAUÍ,
1975, p.18)
Dentro dessa questão, surge em 1972 a criação do Centro Materno-Infantil e Lavanderia-
CMIL, através de uma extensa pesquisa realizada pelo Serviço Social do Estado-SERSE,
que avaliou as necessidades das lavadeiras de roupas dos rios da cidade de Teresina, por
estarem, naquele momento mais sujeitas ao olhar disciplinador, ou regulador, que incidia
sobre a sociedade teresinense mediante o crescimento da capital. (PIAUÍ, 1972, p.54)
O projeto pioneiro no âmbito social, recebeu total apoio do então governador Alberto
Silva, e despontou como sendo mais um de seus feitos. Tendo ampla divulgação através da
imprensa, o projeto deu a Alberto mais visibilidade, ampliando seu campo de ações, antes
relacionadas diretamente às estruturas físicas do estado do Piauí, e por meio desse projeto
despontando como atividade assistencial, de certo pouco avaliada na literatura academicista,
porém com repercussão na imprensa do período.
Como base teórica, discutimos através de Michel de Certeau, A invenção do cotidiano:
artes de fazer, que nos dá suporte para compreender as questões relacionadas a
movimentação das mulheres pobres, as lavadeiras de roupas, através das necessidades de
renda, configurando-se em táticas, conceito usado pelo autor, e também os métodos, ou
estratégias, que a administração pública avalia e coordena as consequências provocadas pela
256 História e Resistência
utilização de locais públicos para obtenção de renda, antes da criação dos centros maternos
e centro sociais.
3. METODOLOGIA
Esse trabalho delimitou-se dentro das análises conjunturais da dissertação de mestrado,
que estuda o mesmo objeto, dando aqui particularidade em levar a discussão acerca da
criação do CMIL e o não prolongamento do projeto, diante do novo projeto nacional,
financiado pelo governo federal, que tomava espaço na capital, os CSU’s, onde o governo
deu mais atenção, deixando os centros maternos com funções diferentes da que tinha sido
sua origem. Para suprir tal análise, foi necessário o uso de fontes hemerográficas -jornais- e
entrevistas baseadas na metodologia da História Oral, além de discursos proferidos à
Assembleia Legislativa, disponíveis no Arquivo Público do Piauí- Casa Anísio Brito.
Para o uso da História Oral nos baseamos em entrevistas de cunho temático,
relacionando-a diretamente ao tema da pesquisa, na intenção de abranger um maior número
de entrevistas, para se obter uma variedade de narrativas acerca do tema. Para tanto foram
de grande valia as leituras de Verena Alberti, Manual de História Oral, detalhando a
metodologia e técnicas de entrevistas, e Paul Thompson, A voz do passado, que traça uma
análise subjetiva de entrevistas em História Oral. Possibilitando uma ampliação da
perspectiva de análise da fonte para além do discurso político que o pertence, observando
também toda a estrutura social que o envolve, ou seja, a relação da mulheres pobres com os
centro estudados na pesquisa.
Além disso, foi necessário uma revisão bibliográfica, referente ao tema proposto, para a
complementação do argumento do trabalho, perpassando pelo livro de Cláudia Cristina da
Silva Fontineles, O recinto do elogio e da crítica: maneiras de durar Alberto Silva na
memória e na história do Piauí e José Lopes dos Santos o livro Dirceu Arcoverde: missão
cumprida, ao narrarem os percursos políticos dos dois governadores aqui discutidos, além
da leitura do I PND (1972-1974) para se ter uma noção de base econômica dos recursos e
projetos de âmbitos federais no país no período escolhido para a pesquisa.
4. DISCUSSÃO E RESULTADOS
257 História e Resistência
Até o presente momento, dentro da limitação da leitura das fontes e análise do objeto,
foi possível identificar que a destinação de recursos para o CMIL, gradualmente começa a
ser reduzida a partir das delegações dos CSU’s, já dentro do quadro de governo do Dirceu
Arcoverde, reduzindo tanto a funcionalidade, ao deixar de ser um centro exclusivo para as
lavadeiras, passando a cuidar também do menor abandonado. Retirando ainda a
possibilidade de prosseguimento do CMIL para outros bairros da capital, mesmo havendo
necessidade, ficando assim somente os centros sociais dispostos a exercer tais garantias a
toda a população que dessa assistência necessitava.
O que se entende através desse ponto, é que as disputas partidárias que envolveram os
governos de Alberto Silva e Dirceu Arcoverde, restringiram o prosseguimento de um projeto
pioneiro, na medida que daria mais visibilidade aos feitos do governo anterior, retirando a
atenção aos feitos da gestão que seguia, onde os CSU’s, por se localizarem em ambientes
periféricos das cidades, abrangiam toda a necessidade da população pobre, inclusive para as
lavadeiras.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao analisarmos esses pontos, questionamos as colocações de cada projeto, e de que
forma eles foram capazes de atingir a população que dele necessitava para obter trabalho,
estudo ou assistência de modo mais abrangente. Pela análise das fontes e leituras já citadas,
entende-se que a necessidade de reformulação de projetos de governos é comum a cada novo
pleito, no entanto, o que pesa neste ponto é a disputa partidária entre os dois governadores
do período, além da construção da imagem de assistência que reconhecemos encontrar em
aberto nos dois políticos, sendo crucial para a colocação de políticas de assistência aos mais
necessitados, e por fim, a imagem pessoal dada ao representante político que o garantisse tal
feito.
6. REFERÊNCIAS
ALBERTI. Verena. Manual de História Oral. 3ª ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2007.
BORBA, Sheila Villanova. A produção de equipamentos urbanos como alternativa de
política social - o programa nacional de centros sociais urbanos. Porto Alegre: Ensaios,
1991.
CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano. v. 1. Artes de fazer. Petrópolis, RJ: Vozes,
2014.
258 História e Resistência
FONTINELES, Cláudia Cristina da Silva. O recinto do elogio e da crítica: maneiras de durar
Alberto Silva na memória e na história do Piauí. Teresina: EDUFPI. 2016.
MONTE, Regianny Lima. De marginal a problema social: o papel intervencionista de
entidades públicas e instituições sociais junto aos pobres urbanos de Teresina. VI Simpósio
Nacional de História Cultural. Teresina: 2012.
PIAUÍ, Governador 1975-1978 (Dirceu Mendes Arcoverde). Mensagem apresentada à
Assembleia Legislativa em 1975. Teresina, 1975.
PIAUÍ, Governador 1971-1975 (Alberto Tavares Silva). Mensagem apresentada à
Assembleia Legislativa em 1972. Teresina, 1972.
SANTOS, José Lopes dos. Dirceu Arcoverde: missão cumprida. Senado Federal Gráfica,
1982.
TOMPSON, Paul. A voz do passado: história oral. 3ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 2002.
ENTREVISTAS
ALVES, Rosa Maria da Costa. Entrevista concedida à Yasminn Escórcio. Teresina, 2017.
OLIVEIRA, Adalgiza Dorneles de. Entrevista concedida a Yasminn Escórcio. Teresina:
2018.
JORNAIS
Jornal O Dia (1970-1975)
Jornal O Estado (1970-1975)
Jornal A Hora (1970-1975)
259 História e Resistência
INSTITUCIONALIZAÇÃO DOS TERREIROS DE UMBANDA DE
FLORIANO: ORIGEM, CONFLITOS E PERMANECIAS (1960 – 2000)
Luan Vinicius Mendes Conceição (UESPI)
O presente trabalho tem por finalidade compreender como se deu o processo de
institucionalização da Umbanda como uma religião, e como essa legalização ocorreu, visto
que os negros de baixa capacidade intelectual eram os praticantes e sem nenhuma aceitação
social, ficando aos ditos intelectuais da classe média branca, que sentiam se no papel de guia
e precursor para dá uma visibilidade, que tentam impor através das artes e da cultura um
ideal de brasilidade. A umbanda que é o fruto do encontro de diferentes religiosidade
(Africana, Indígena e europeia), e essa perceptividade não vêm dos Pais e Mães de Santo
que são sobretudos negros e miscigenados que praticavam e cultuavam desde os meados do
século XVI, a umbanda será a religião brasileira oriunda do sincretismo que acontecerá no
país.
O processo de formação das casas de Umbanda surgiu nas décadas de 1930, período
conhecido como Estado Novo, tendo como presidente da República Getúlio Vargas. Nesse
período da História brasileira, tem se a ideia de construir uma cultura popular, buscando as
raízes da brasilidade, passando a ter uma outra dimensão, passa a ser também base de uma
identidade negra. O Estado brasileiro tem uma preocupação de converter o sincretismo
(mestiçagem cultural), em um instrumento de doutrinação da sociedade e esquecendo de
estudar essa mestiçagem como fenômeno social e racial que ocorria no país.
Queremos com esse estudo contextualizar todo o processo que se deu, na
institucionalização da religião Umbanda na cidade de Floriano dos anos 1960 aos anos 2000,
compreendendo os meios que fizeram para que esta transforma-se em uma religião de fato
no Brasil, Piauí. Entender quais caminhos percorridos pelos pioneiros na pratica das religiões
de matriz africana na cidade de Floriano. Para assim analisar os primeiros terreiros do
município e as permanecias das tendas, quais casas de santos foram capazes de sobreviver
ao tempo, preconceitos, perseguições, na sua maioria religiões monoteístas como as
Católicos e Protestantes ou pelas repressões policiais, tentar explicar como se deu o declínio
de muitos dessas tendas que no seu processo de aceitação e institucionalização, chegou a ter
mais de 30(trinta)terreiros e hoje em nossa contemporaneidade não chega aos 10 terreiros
em todo território municipal.
Este trabalho justifica-se pela necessidade de ampliar as discussões existentes sobre
260 História e Resistência
a religião Umbandista na cidade de Floriano, uma vez que identificamos a existência e
permanência de 07(sete) terreiros que ainda fazem seus rituais como antigamente de um
aglomerado de mais de 30(trinta) na segunda metade do século XX, que desde meados de
1950 são frequentados e requisitados por diferentes classes sócias para celebrações
religiosas(toque de tambor, festas de santos católicos entre outros) e atendimento ao público
em geral e seus adeptos; ora para adivinhação, curandeirismo e mandigas de forma
clandestina, estes afastados o mais longe possível dos centros urbanos da cidade, ficando
agrupados nas beiras dos riachos e rio, nas áreas mais carentes e longe do aparato policial,
nas partes escondidas do município, sendo uma forma de preservar seu culto e sua essência.
Usaremos os depoimentos e relatos para confortamos as narrativas, na perspectiva de
tentar explicar o processo de institucionalização dos terreiros de umbanda da cidade de
Floriano, os conflitos e discursos que aconteceram nesse período histórico da cidade com
relação a essa religião recém legalizada no país. Como também no uso da documentação
encontrada no ARQUIVO PÚBLICO ESTADUAL, onde traz o extrato do estatuto dos
terreiros da década de 1960, quando passam a se registar em âmbito estadual e municipal
perante aos órgãos públicos e suas respectivas federações para um funcionamento. Os
registros de institucionalização das tendas não corresponde ao início em que aquele terreiros
existem, no entanto os pais e mães de santos utilizam datas aproximadas do período que se
tem um menor represaria e maior aceitação das casas de axé para documentar perante ao
Estado.
Para tanto devemos entender que a religião segundo Jacqueline Hermann é uma
dicotomia entre o sagrado e o profano, um sentido pragmático que tem o papel de reestruturar
a vida em grupo através de uma reaproximação ritual do tempo místico das origens. Para
Mundicarmo Ferretti, é um sistema cultural produzido, tanto por sociedades tradicionais não
industrializados ou por modernas, sendo em algumas sociedades, o sistema cultural
dominante tendo líderes religiosos ocupando o mesmo cargo político. Para Leticia Hellem a
religião é um sistema comum de crenças e práticas relativas a seres sobre- humanos dentro
do universo específico histórico e cultural. Na perspectiva de Sabrina Veronica a chegada
das Federações vão contribuir para uma maior aceitação dessas religiões africanas no Estado,
serão essas instituições que iram dá suporte jurídico para as tendas.
Portanto, a religião africana será recriada e readaptada no Brasil como forma
de resistência e também como uma forma de enfrentar as impiedades do
período escravista. É através dos batuques, dos ajuntamentos, das
261 História e Resistência
festividades de caráter religioso, ou não, que o negro se integrará
socialmente. Os estudos que tratam da religiosidade negra e de suas origens
no Brasil Colônia são consensuais no sentido de apontar o Calundu como a
prática de origem africana mais comum entre cativos e libertos. (Lima,
2017.p.34)
Possuindo uma enorme força de penetração a umbanda proporcionou a reformulação
do mapa dos cultos afro-brasileiros, pelo fato de te se espalhando pelo país, ganhado posição
de uma religião nacional (Lima, 2017). No tocante à temática Artur Cesar diz que a Umbanda
revela-se uma religião que remetente ao submundo, à marginalidade e a um atraso e
ignorância (Isaias, 1999), pois o sincretismo é uma características dos países que
conheceram a escravidão, pois a partir do contato de vários outras culturas há essa mistura.
Conclui-se então que a religião umbanda na cidade de Floriano tem sobrevivido pela
resistência de uns poucos pais de santos e adeptos, em outrora uma cidade com cerca de 30
terreiros se resume hoje a 07 casa de santo onde a toque de tambor e outros que servem para
benzimentos, trabalhos espirituais. As tendas foram diminuído pelo caminho, deixando de
existirem, seja pela morte do pai ou mãe de santo que nós últimos 10 anos não foram poucos
ou pelo conversão a outras religiões dos filhos de santos que teriam como da continuidade
ao terreiro.
Palavras–chave: Federação. Floriano (PI). Institucionalização. Umbanda
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALBERTI, Verena, Tratamento das entrevistas de história orla no CPDOC. 2005
BROWN, Diana. Uma história da Umbanda no Rio. Inet al. Umbanda e Política. Rio de
Janeiro: Marco Zero. (Cadernos do ISER,18), 1985.
CAPPELI, Rogério, Saindo da Rota: Uma discussão sobre aa pureza na religiosidade Afro-
brasileira. 2007.
CASTRO, Maria Laura Viveiros de: Patrimônio imaterial no Brasil / Maria Laura Viveiros
de Castro e Maria Cecília Londres Fonseca. Brasília: UNESCO, Educarte, 2008. 199 p.
DOMINGUES, Petrônio, Movimento negro brasileiro: alguns apontamentos históricos.
2007
FERREIRA, Maneta de Morais; FERNANDES, Tania Maria; ALBERTI, Verena, História
oral desafios para o século XXI. 2000
FERRETTI, Mundicarmo Maria Rocha, Religião e sociedade: religiões de matriz africana
no Brasil, um caso de Polícia. 2007
FRANÇA, João Vieira. Intolerância Religiosa e preconceito: a umbanda na princesa do sul
entre os anos 2007 e 2012. Universidade Estadual do Piauí, Floriano, Monografia. 2015
HERMANN, Jacqueline, História das Religiões e Religiosidades, 1997 .
ISAIAS, Artur Cesar, Ordenar progredido: A obra dos intelectuais de umbanda no Brasil
262 História e Resistência
metade do século XX. 1999
JOUTORD, Philippe, Avaliações e tendências da Historia oral. 2000
LIMA, Sabrina Verônica Gonçalves. As faces da Umbanda no Piauí: Política, Festa e
criminalidade (1960 a 1978). Universidade Federal do Piauí, Teresina, Dissertação de
Mestrado. 2017.
LIMA, Solimar Oliveira. Fiéis da Ancestralidade: Comunidades de Terreiros de Teresina.
Teresina: EDUFPI, 2014.
MORAIS, Mariana Ramos de, Políticas públicas e a fé afro-brasileira: Uma reflexão sobre
ações de um estado laico. 2012
ORTIZ, Renato, A morte branca do feiticeiro negro: umbanda e sociedade brasileira –São
Paulo: Brasiliense, 2005.
PINSKY, Carla Bassanezi, Fontes Hisstoricas – 2ª edição, 1ª reimpressão – são Paulo .
contexto, 2008
POLLAK, Michael, memoria esquecimento, silêncio- estudos históricos, Rio de Janeiro, vol.
2. N. 3. 1989
PRANDI, Reginaldo, As religiões afro-brasileiras e seus seguidores. Civitas - Revista de
Ciências Sociais 2003.
_____, Reginaldo, O Brasil com axé: Candomblé e Umbanda no mercado religioso. 2004
QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. Evolution Et criation religiuses: Les cultes afro-
brasilen. Diogéne. N. 115, P. 3 – 24, 1981
SANTOS, Ivonildon de Souza, Políticas públicas e os direitos das comunidades tradicionais
de matriz africana. 2017
SANTOS, Leticia Hellem Carvalho, A umbanda em Floriano. A partir do terreiro seara são
João Batista (1963 – 2015). 2017
SEVERINO, Antônio Joaquim, 1941 – metodologia do trabalho cientifico – 23º ed. Ver e
atualizado – São Paulo : Cortez 2007 , p.117
SILVA, Vagner Gonçalves da, Religiões Afro- brasileiras: construção e legitimação de um
campo do saber acadêmico(1900-1960). 2002
263 História e Resistência
LOJA MAÇÔNICA CARIDADE II: MEMÓRIA E PATRIMÔNIO
Yasmim Assunção Coelho (UFPI) 111
RESUMO
A Loja Maçônica Caridade II é uma Loja secular, fundada por volta de 1859, ainda hoje
funciona no mesmo local, um prédio histórico teresinense e palco de muitas memórias e
histórias. A loja já foi e é cenário de diversos debates sócio-políticos, por lá já passaram
diversos nomes, incluindo nomes de destaque na sociedade teresinense. Atualmente, o
prédio histórico vive em meio ao centro frenético de Teresina, muitas vezes passando
despercebido por aqueles que ali passam, mas conservando sua importância e se mantendo
como local de memória e como patrimônio histórico. O objetivo do trabalho é caracterizar a
Loja como local de memória e como patrimônio, indicando a importância de sua
preservação, para tal se utiliza da bibliografia básica referente à memória, bem como de
obras referentes a patrimônio, à maçonaria e à literatura piauiense, além de obras que tratem
da atuação da maçonaria e de maçons em Teresina, visto que muitas vezes a Loja foi palco
dessa atuação. Assim, obtém-se uma vasta bibliografia que aponta como a Loja foi e é
importante para uma coletividade, bem como foi cenário de diversos tipos de discussões que
influenciaram a sociedade piauiense e casa de diversos literatos, sendo assim local de
memória. Até o presente momento, conclui-se que a Loja Caridade II insere-se na memória
piauiense e teresinense, que seu prédio tem inestimável valor histórico, material e
sentimental, não apenas para a sociedade maçônica, mas para toda a sociedade.
Palavras-Chaves: Memória. Maçonaria. Caridade II. Teresina.
1. INTRODUÇÃO
Neste trabalho pretende-se apresentar a Loja Maçônica Caridade II, demonstrando
seu processo de formação, bem como os momentos em que sua atuação foi mais intensa na
sociedade teresinense, ou seja, no final do século XIX e as duas primeiras décadas do século
XX. Procura-se, também, caracterizar a Loja Maçônica Caridade II como local de memória
e como patrimônio, demonstrando sua importância para a sociedade.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Para compreender o processo de formação da Loja Maçônica Caridade II é necessário
recorrer a alguns teóricos que estudam a atuação da maçonaria em Teresina, são eles: Luiz
Nódgi Nogueira Filho e Eurípedes de Sousa Dourado Filho. Nogueira Filho trabalha o
111 Graduanda em História da Universidade Federal do Piauí
264 História e Resistência
processo de formação da Loja que se localiza na Rua Teodoro Pacheco 882, tendo sido
fundada por volta de 1859, e permanece em funcionamento até os dias atuais, sobre seu
processo de formação pouco se sabe, já que os documentos são escassos (Nogueira
Filho,1987). Já Dourado filho, fala sobre a importância da Loja Caridade II para a
maçonaria piauiense:
A maçonaria de Teresina está vinculada diretamente à criação da
Loja Maçônica “Caridade II”, que revelou-se uma Loja pioneira em
assumir uma postura ideológica e que também, por ser centenária,
foi foco de grande conflito com a Igreja Católica no período
Império/República. Inquestionavelmente foi a Loja Maçônica
“Caridade II” a mola mestra na defesa ideológica que impulsionou
toda a maçonaria do Estado do Piauí. (DOURADO FILHO, 1991,
p.93)
O mesmo relata ainda sobre a atuação da Loja Caridade II durante o período
de em que ocorreu a Independência do Brasil:
Podemos relacionar a tão esperada independência do Brasil, no
estado do Piauí, com a Loja Maçônica “Caridade II”, que iniciou o
movimento, dando um caráter político aos trabalhos maçônicos-
distinguindo-se um pouco do trabalho filantrópico por ela
preconizado- e incutido o espírito revolucionário nas mentes
maçônicas, prestando, dessa forma, um relevante serviço à cauda da
Independência do Brasil. (DOURADO FILHO, 1991, p.93).
Com a análise desses autores é possível compreender a atuação da Loja
estudada durante a independência do Brasil e os anos subsequentes.
Para entendê-la como local de memória é necessário recorrer aos principais
teóricas de memória, inicialmente a Pierre Norra: “Os lugares de memória nascem e vivem
do sentimento que não há memória espontânea, que é preciso criar arquivos, que é preciso
manter aniversários, organizar celebrações, pronunciar elogios fúnebres, notariar atas,
porque essas operações não são naturais”. (NORA,1993, p.13), ou seja, são locais que nos
fazem preservar a memória, para que essa não seja esquecida. Visto a importância da Loja
Caridade II em determinado período e sua crescente atuação nos dias atuais, a memória que
ela preserva e representa nos fazem observa-la como um local de memória.
Vale destacar que é local de memória para toda uma coletividade, sobre
memória coletiva Halbwachs diz:
Mas nossas lembranças permanecem coletivas, e elas nos são
lembradas pelos outros, mesmo que se trate de acontecimentos nos
quais só nós estivemos, e com objetos que só nós vimos. É porque,
265 História e Resistência
em realidade, nunca estamos sós. Não é necessário que outros
homens estejam lá, que se distingam materialmente de nós: porque
temos sempre conosco e em nós uma quantidade de pessoas que não
se confundem. (HALBWACHS,1990, p.26).
Com a análise desses teóricos e visto que a Loja Maçônica Caridade II abrigou
diversos fatos importantes tanto para a ordem maçônica, como para a sociedade teresinense
a preservação de sua memória é de suma importância, segundo Pinheiro “Em verdade, a Loja
Caridade 2 ª de Teresina tornou-se um espaço privilegiado pera debates, conferencias,
palestras, além do espaço ocupado na imprensa local, onde as novas ideias eram divulgadas.”
(PINHEIRO,2003, p. 56). Trata-se de um local de que abriga uma memória marcante da
história do Piauí.
Além de Local de Memória, para caracteriza-la como patrimônio é necessário
recorrer aos teóricos Pedro Funari e Sandra Pelegrini, em suas definições sobre patrimônio:
“Em plena Revolução Francesa, em meio às violências e lutas civis, criava-se uma comissão
encarregada de preservação dos monumentos nacionais. O objetivo era proteger os
monumentos que representavam a incipiente nação francesa e sua cultura.” (2006, p.19).
Ainda hoje são esses os motivos básicos que nos levam a preservar os patrimônios, preservar
uma cultura, uma nação, uma memória.
Porém, “Apenas em 1980 foi consolidada entre os especialistas uma acepção
ampliada do conceito de patrimônio, compreendido não só por produção de artistas ou
intelectuais reconhecidos, mas estendido às criações anônimas, oriundas da alma popular.”
(FUNARI; PELEGRINI, 2006, p.36). É muito recente, em especial no Brasil, a preocupação
com o patrimônio, é recente o cuidado da população em manter viva sua cultura e tudo que
ela representa.
É importante ressaltar que a Loja não é tombada, porém seu valor histórico é
evidente, tanto pela importância da Loja em si como pelo prédio centenário que a abriga.
Também é importante para a sociedade teresinense pelo que ela representa e por sua atuação
em períodos significativos da historia do Brasil e do Piauí.
3. METODOLOGIA
A metodologia utilizada na pesquisa consiste em fontes bibliográficas, em especial
as obras que tratam de memória, obras que tratam sobre patrimônio e obras que tratam da
266 História e Resistência
História da Maçonaria no Piauí.
4. DISCUSSÃO E RESULTADOS
A partir da leitura sobre memória, da leitura sobre a Loja Maçônica Caridade II e da
leitura sobre patrimônio compreendemos que a Loja trata-se de um local de memória,
devido, em especial a sua atuação durante a transição Império/ República e sua atuação nas
primeiras décadas do século XX.
Ainda atuante na sociedade Teresinense a Loja faz parte da memória da sociedade
em especial devido aos anos em que sua atuação foi reconhecida por grande parte da
população.
O seu valor histórico, cultural e patrimônio se devem não apenas pelo fato da loja
ficar localizada em um prédio centenário, mas também por todas as ideias e pensamentos
que ali foram desenvolvidos.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conclui-se que a Loja Maçônica Caridade II se caracteriza como local de memória,
devido o fato de ser palco de memórias individuais e coletivas que sobrevivem ao longo dos
anos em razão constante presença da Loja e de seu prédio.
A Loja é patrimônio tanto para a sociedade maçônica como a teresinense, vez que é
um prédio centenário que abrigou e abriga diversos acontecimentos que marcar a história
dessas sociedades tendo inestimável valor histórico, material e sentimental.
6. REFERÊNCIAS
DOURADO FILHO, Eurípedes de Sousa. Questão Religiosa: A influência da Imprensa
Católica e Maçonaria no Período de Transição Império/República. Teresina, UFPI, 1991.
FUNARI, Pedro Paulo; PELEGRINI, Sandra de Cássia Araújo. Patrimônio histórico e
cultural. Rio de Janeiro: Zahar, 2006.
HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. Trad. Laurent Léon Scaffter. 2º ed. São
Paulo, Ed. Revista dos Tribunais LTDA, 1990.
NOGUEIRA FILHO, Luiz Nódgi. Contribuição à história da maçonaria no Piauí. [s.n.],
1987.
NORA, Pierre. Entre a memória e a história: a problemática dos lugares. Projeto História,
n. 10, p. 7-28, dez, 1993.
267 História e Resistência
PINHEIRO, Áurea da Paz. O desmoronar das utopias: Abdias Neves (1876-1928):
anticlericalismo e política no Piauí nas três primeiras décadas do século XX/ Áurea da Paz
Pinheiro. Campinas-SP: [s/n], 2003.
268 História e Resistência
MEMÓRIA E PATRIMÔNIO CULTURAL: A INVENÇÃO DO
CONJUNTO PAISAGÍSTICO DA CIDADE DE FLORIANO-PI.
Lara da Silva Carvalho
graduanda em História pela Universidade Estadual do Piauí
1. INTRODUÇÃO
Os Patrimônios de uma cidade abrigam parte de sua memória já que os mesmos possuem
ligação com acontecimentos históricos de bastante importância para a história de
determinado município. O presente estudo sobre a invenção do conjunto paisagístico da
cidade como se deu a chegada dos povos árabes na cidade de Floriano numa tentativa de
mostra de como se deu a chegada desses povos a cidade e seu processo de integração,
contando um pouco da história da referida cidade de como se deu a sua criação, e tentar
contar a história de alguns patrimônios arquitetônicos com traços árabes aqui deixados, como
herança histórica cultural, além de buscar conhecimento sobre quais medidas estão sendo
adotadas para a preservação dos respectivos monumentos.
O cenário escolhido para á pesquisa foi á cidade de Floriano, município brasileiro do
estado do Piauí, situa-se a margem direita do rio Parnaíba. Cidade está que fica localizada a
253 km da capital do estado do Piauí, Teresina. Cidade esta podendo ser considerada uma
“cidade patrimônio”, por ser detentora de um rico acervo patrimonial, composta por vários
monumentos arquitetônicos históricos, de bastante importância para a sua formação
paisagística. Muitos deles sendo de característica árabe, que será nosso objeto de estudo.
Conhecer a cidade de Floriano é passar pela história da colonização árabe no Nordeste, das
últimas décadas do século XIX à primeira metade do século XX. Neste período, 80 famílias
árabes, as maiorias síria, chegaram à região. Lá, ajudaram a formar o município,
introduziram hábitos e protagonizaram histórias que são contadas até hoje. A partir dessa
força marcante me instigou a buscar e conhecer a história desse povo e sua integração para
a formação paisagística da cidade de Floriano-PI. Tendo por finalidade levantar informações
acerca do desenvolvimento na paisagem do referido município a partir da chegada desses
imigrantes, além de buscar conhecimento sobre quais medidas de revitalização ou
preservação estão sendo empreendidas pelo poder publico, devido a relevância histórica
social e cultural que esses patrimônios representam para a cidade e para a memória da
269 História e Resistência
sociedade.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEORICA
O surgimento da cidade de Floriano está ligado ao inicio da colonização do Piauí, onde
a coroa lusa doou as terras a Domingos Afonso Mafrense, que fundou fazendas de gado, elas
formariam o centro da expansão da pecuária piauiense, posteriormente legadas aos jesuítas,
que foram expulsos pelo Marquês de Pombal no ano de 1760, e as referidas fazendas
passaram para o poder do estado do Piauí.
Neste período o Governador era João pereira caldas, onde após a expulsão dos jesuítas,
promoveu a tomada das fazendas e faz o arrolamento dos bens das mesmas, em seguida
divide-as em três inspeções com nomes de Canindé, Nazaré e Piauí. em 1873 houve o
desmembramento da inspeção de Nazaré para formarem a colônia rural são Pedro de
Alcântara criada pelo decreto imperial n° 5.292 de 1873.A|zCom o aumento considerável da
população em 1887, elevou-se a povoada sede do estabelecimento á categoria de vila com o
nome de “vila colônia” por a resolução n°2 de 19 de junho de 1890.Em 1897 a lei 144 elevou
a vila da colônia á categoria de cidade, com a denominação de cidade de Floriano, em
homenagem a Floriano Peixoto,
O primeiro monumento a ser construído na cidade foi o do estabelecimento rural são
Pedro de Alcântara principal e atual ponto turístico da cidade, no inicio da fundação do
referido estabelecimento e por algum tempo era proibido construções de casas, o que de certa
forma impedia um desenvolvimento mais rápido da sede da colônia. Mas a controvérsias
sobre o surgimento da cidade de Floriano, há dois núcleos iniciais: o da área em que edificou
o estabelecimento rural e o do arraial do cabo, onde se encontra a atual praça da matriz. Mas
de fato, o possível marco e mais concreto do surgimento da cidade se deu a partir dessa
construção do estabelecimento.
A cidade tem na sua colonização a influência da colônia árabe que chegaram aqui no
ano de 1889, um grande numero desse imigrante propagaram seus costumes desde arte a
arquitetura. O grande exemplo é o centro comercial que conserva os traços desta influência
desaguando no conjunto arquitetônico da praça Dr. Sebastião Martins.
O processo de ocupação urbana de Floriano se deu de forma lenta seu
desenvolvimento ocorreu com concomitância com a urbanização da cidade. Aos poucos as
moradias, casas, casarões e prédios foram ocupando o espaço de uma região, e
270 História e Resistência
gradativamente construindo uma cidade. E somente no século XX que a cidade começa a
crescer de forma mais significativa, período esse em que os imigrantes árabes chegam ao
referido município e começa a desbravarem o espaço.
3. METODOLOGIA
A metodologia utilizada foi por meio de pesquisas bibliográficas, pesquisas
documentais, sendo pesquisa de gênero qualitativo. Foram recolhidas fotos, textos e
curiosidades, como também será necessária uma pesquisa de campo, aos arredores da cidade,
em busca de informações que remetam na formação desses patrimônios aqui deixados pelos
imigrantes.
4. DISCUSSÃO E RESULTADOS
Floriano possui um importante quadro de monumentos que podem ser utilizados para
entender um pouco sobre o passado da cidade e seu desenvolvimento urbanístico. Com
isso, vemos a importância do estudo sobre a rua são Pedro e de outros monumentos com
traços árabes que se encontra aos arredores da cidade, e suas origens perante a história, visto
que ele é considerado um importante espaço histórico/cultural, pois acompanha uma
relevante fase de desenvolvimento e crescimento da cidade, fazendo parte da construção da
sociedade.
Este trabalho tem o proposito de contribuir para a História/memória da cidade, propondo
levar a todas as pessoas o conhecimento de parte do acervo arquitetônico de Floriano, bem
como os objetivos será atingido a partir do momento em que a referida pesquisa for
apresentada ao publico.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Cada cidade dispõe de uma história decorrente dos fatores da sua formação, seja ela a
cultura, tradição ou costume de um povo que passou por esse lugar. Esse conjunto faz com
que cada espaço desses possua uma identidade própria, Muitas vezes através de construções
é possível fazer uma viagem de volta ao passado, e assim, histórias podem ser contadas e
sentidas se esses permanecerem conservados. Aí então pode ser visto a importância de se
271 História e Resistência
preservar um patrimônio e fazer um resgate da sua herança cultural, percebendo o quanto foi
relevante para aquela época .
palavras-chave: Patrimônio. Floriano. Árabe. Preservação.
6. REFERENCIAS
DEMES, Josefina. Floriano: sua História sua Gente. Teresina – PI, 2002.
FERNANDES, José Nunes. Aspectos da Arquitetura de Floriano. Teresina, 1991. Gráfica
Teresina.
FLORIANO. LEI N° 416, de 23 de abril de 2007. Prefeitura municipal de Floriano.
272 História e Resistência
O ENGAJAMENTO DE GRUPOS SOCIAIS PELA SALVAGUARDA
DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO EM CAMPINAS DO PIAUÍ (1990 A
2008).
Prof. Mnd. Camila Carvalho Moura Fé - UFPI
Prof. Drº Francisco Alcides do Nascimento - UFPI
Resumo: Este trabalho estuda historicamente a fábrica de laticínios na cidade de Campinas
do Piauí, construída no final do século XIX. A abordagem toma como principal eixo o lugar
de memória na consolidação de laços de pertencimento e formação de identidades coletivas
e individuais. Dessa maneira, grupos sociais de diferentes seguimentos se empenharam na
luta pela preservação da fábrica. O recorte temporal de 1990, situando os acontecimentos
envolvendo a busca pela salvaguarda do prédio, a 2008 quando está relacionado ao fato do
IPHAN ter apresentado um projeto para o seu tombamento. O suporte metodológico deste
ensaio são os relatos orais de sujeitos que herdaram a memória construída sobre a indústria
e recortes de jornais que trataram do tema. O referencial teórico que norteia esta narrativa
são os de memória coletiva (Maurice Halbwachs), lugares de memória (Pierre Nora),
Identidade (Michel Pollak), de patrimônio e políticas preservacionistas (Sandra C. A.
Pelegrini).
Palavras-chaves: Patrimônio. Memória. Cidade. Identidade.
1 INTRODUÇÃO
Localizada na cidade de Campinas do Piauí, situada ao Sul do Estado, encontramos
as ruínas da Fábrica de Laticínios Puro Leite, construída em 1987. O prédio que deu origem
ao município se encontra em frente à praça central, despontando o cenário da cidade com
seus traços neoclássicos, possuindo um frontão na sua fachada, cornija trabalhada, e paredes
marcadas por pilastras. Se olharmos atentamente ainda podemos visualizar sua estética
original do passado, ainda que esteja tomada por um estado de degradação quase total. A
escolha dessa temática nasceu do forte sentimento de abandono pelo qual o prédio é
submetido, pois ainda que tenha passado pelo processo de tombamento através do IPHAN
em 2008 a fábrica não recebe cuidados e manutenção devidos. Grupos sociais se engajaram
na busca pela salvaguarda do prédio, bem como professores, pesquisadores, jornalistas e
moradores da cidade. Nesse sentido o objetivo desse trabalho é analisar como esses grupos
se empenharam em busca de políticas de preservação para o patrimônio.
A indústria de laticínios foi palco de uma série de conflitos políticos travados entre a
elite agrária piauiense e por Antônio José de Sampaio, o engenheiro que projetou a fábrica,
273 História e Resistência
vislumbrando um projeto econômico similar ao de países como Suíça e Alemanha, que
viviam o auge da agroindústria. Tais conflitos motivados pela disputa de poder sobre as
Fazendas Nacionais acabaram fazendo com que o engenheiro perdesse seu direito de
arrendatário dessas terras. A fábrica que posteriormente passa a ser administrada por atores
políticos que se empenharam em articular a destituição de Sampaio, encaminharam a
indústria a inatividade de sua produção, logo, em pouco tempo sua estagnação. A figura de
Sampaio causou incomodo a elite agrária, sua pretensão de um projeto privado estabeleceu
um mal-estar que configurou o que sua memória é hoje.
O enredo que envolve disputas, conflitos e embates entre os grupos políticos é bem
mais complexo e obviamente mais extenso que não daria para expor aqui. Mas podemos
ressaltar que a implantação da indústria de laticínios foi um marcador importante para a
história do Piauí também em outras esferas, como do ponto de vista econômico e sob seu
viés social. A indústria marcou o desejo de desenvolvimento das Fazendas Nacionais e o
empenho de inserir o atrasado Piauí num modelo alternativo de desenvolvimento que o
colocasse de igual para com regiões centro-sul do país. As relações de trabalho tomam uma
nova configuração, de trabalho escravo a trabalho assalariado.
Portanto, diante de sua importância para a historiografia piauiense a discussão sobre
patrimônio, vinculado à memória e poder visando no engajamento dos grupos sociais que se
empenharam na luta para salvaguardar a fábrica, é inserido nesse trabalho para compreender
como os lugares de memória remetem a ideia de lugares de preservação, mas também
importam, por outro lado, a prática da destruição ou depredação que estão entendidas como
formas de apropriação do patrimônio.
Analisaremos, dessa forma, como esses conflitos de interesses se deram sobre a
preservação da fábrica, revendo os valores identitários que perpassam a preocupação de
agentes sociais, como a sociedade de Campinas-PI e grupos de professores, pesquisadores e
jornalistas que lutaram pelo direito a memória. Haja vista que o prédio passou pelo processo
de tombamento em 2008, mas não houve ao longo do tempo práticas que assegurassem sua
manutenção e conservação.
6. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O aporte teórico utilizado neste trabalho foi selecionado de acordo com autores que
274 História e Resistência
discutem especialmente sobre patrimônio, memória e identidade. O conceito de memória
coletiva de Maurice Halbwachs (1990), foi substancial para entender a reconstrução da
memória diretamente associada aos processos sociais, o que torna importante para analisar
a memória construída sobre a fábrica. Pierre Nora (1983), e suas discussões sobre os lugares
de memória que representam noções de reconhecimento e de pertencimento, essa ideia
permitirá a compreensão da indústria como um lugar de memória que transmite essas noções
de que o autor fala.
O conceito de identidade social proposto por Michel Pollak (1990), viabiliza a analise
de como a sociedade de Campinas do Piauí constrói uma identificação com a história do
prédio, tendo em vista que sentem muitas vezes as lembranças da indústria como se fossem
suas e assim, proporcionando a luta por esse passado. A perspectiva de políticas de
preservação é importante nesse contexto, e Sandra Pelegrini faz diversas discussões sobre o
assunto, suas leituras são essenciais nesse trabalho.
7. METODOLOGIA
A metodologia se pautou nos relatos orais, foram entrevistadas algumas pessoas
residentes da cidade de Campinas do Piauí, pessoas que herdaram a memória e que tiveram
parentes que trabalharam na indústria no período de seu funcionamento. As questões das
entrevistas foram pautadas nos vários usos que a fábrica teve ao longo dos anos, quando
funcionou como igreja, clube e como escola, afim de que possamos discutir as reutilizações
e ressignificações do patrimônio cultural.
Quanto aos recortes de jornais foram coletados do segundo volume do dossiê
organizado pelo IPHAN, onde mostram a trajetória de grupos de pesquisadores na busca de
meios para conseguirem a restauração da fábrica em Campinas-PI. Essas fontes são
antecedentes ao período em que a antiga indústria foi tombada em 2008, de principais
veículos de sites e jornais respectivamente como Meio Norte e O Dia.
a. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A conclusão desse estudo permite observarmos a importância do patrimônio cultural
no Piauí e como essa temática carece de mais trabalhos na academia. A fábrica de laticínios
275 História e Resistência
em Campinas do Piauí possuí uma história riquíssima para nossa historiografia, no entanto,
pouco se fala dela ou se conhece sobre ela, além de que tem grande valor para a cidade que
se construiu em volta do prédio. Portanto, há nesse trabalho o reconhecimento da construção
da sua memória, assim como a incessante busca pelo seu passado que é representado pelos
seus laços de pertencimento e identidade para os grupos coletivos.
6. REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Luís Fernando; Patrimônio, história e sociedade. In: Áurea da Paz Pinheiro e
Sandra C. A. Pelegrini. (Org.). Tempo, Memória e Patrimônio Cultural. 1a.ed.Teresina-
Piauí: Editora da Universidade Federal do Piauí, 2010, v. 1, p. 103-113.
BURKE, Peter. História como memória social. In: Peter Burke. Variedade de História
Cultural. Rio de Janeiro. Civilização Brasileira. 2006. P. 69-112.
CHAGAS, Mário. Casas e portas da memória e do patrimônio. Revista Em Questão. Porto
Alegre. Edição 13. n. 2, p. 207-224, jul/dez 2007.
ESTABELECIMENTO DAS FAZENDAS Nacionais do Piauí. Dossiê de Tombamento da
fábrica de manteiga e queijo em Campinas e da Escola Rural São Pedro de Alcântara em
Floriano. Dossiê produzido pelo IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional. Volume I-II. Em Abril de 2008. Disponível no site do IPHAN:
http://www.fnt.org.br/painel.pdf. Acesso em 14 de março 2016
HALBWACHS, Maurice. A Memória Coletiva. Tradução de Laurent Léon Schaffer. São
Paulo: Vértice, 1990.
LE GOFF, Jacques. História e Memória. Tradução Bernardo Leitão. [et al.] -- Campinas, SP
Editora da UNICAMP, 1990.
NORA, Pierre. “Entre memória e história: a problemática dos lugares”. IN Revista Projeto
História. Nº 10 História & Cultura. São Paulo: PUC-SP – Programa de Pós-Graduação em
História, dezembro de 1993.
OLIVEIRA, Almir Felix Batista de. Memória e Patrimônio Histórico. São Cristóvão:
Editora UFS, 2010, p 206.
PELEGRINI, Sandra C. A.; Memórias, identidades e políticas preservacionistas. In: Áurea
da Paz Pinheiro e Sandra C. A. Pelegrini. (Org.). Tempo, Memória e Patrimônio Cultural.
1a.ed.Teresina-Piauí: Editora da Universidade Federal do Piauí, 2010, v. 1, p. 233-248.
PINHEIRO, Áurea da Paz. Patrimônio cultural e museus: por uma educação de sentidos. In:
Educar em Revista. Curitiba, Brasil, n. 58, p. 55-67, out./dez. 2015.
POLLAK, Michael. Memória e Identidade social. Estudos Históricos. Rio de Janeiro, v 5,
n. 10, p. 200-212, 1992
PORTELLI, Alessandro. História Oral e Poder. Conferência no XXV Simpósio Nacional da
ANPUH, Fortaleza, 2009.
SCOCUGLIA, Jovanka Baracuhy Cavalcante. Sociabilidades e usos contemporâneos do
patrimônio cultural. Revista Vitruvius, n. 5, 2004.
VILHENA, Marcos Aurélio de. Voo de Ícaro: tensões e drama de um industrial no sertão.
Teresina, 2006.
276 História e Resistência
“O QUENTE É FILMAR”: O CORPO-CIBORGUE E A
CAPTURA DA CIDADE.
Laura Brandão
Doutoranda em História – UFPI.
Professora assistente I – UESPI.
1. INTRODUÇÃO
O cinema super-8 começou, no início dos anos 70, a ser um dos principais
suportes sobre os quais parcela dos jovens teresinenses registravam suas flanâncias pela
cidade e suas subjetividades associadas ao cotidiano que os interpelava. Vários jovens que
percorriam a cidade com câmeras caseiras seguindo as ideias de Torquato, segundo as quais
o cinema não seria mais apenas “um projetor em funcionamento projetando imagens em
movimento sobre uma superfície qualquer. É muito chato. O quente é filmar.” Tratava-se de
evidenciar a “poética dos espaços”, ou seja, das formas subjetivas de apreensão da cidade.
Através da análise das fontes, procuramos apresentar, sob a ótica juvenil, a cidade como um
lugar de desejos e expectativas e atravessada por transformações características daquele
período, bem como, evidenciar as práticas cotidianas e o consumo dos espaços empreendidos
por esses jovens e registrados nos filmes Super-8. Guiamo-nos pelas seguintes perguntas:
como se movimentavam os jovens teresinenses no centro das mudanças ocorridas nessa
década? Quais as formas tácitas de consumo da cidade? Quais foram os espaços de
sociabilidades forjados por essa juventude? Qual a relação entre corpo, tecnologia e cidade
naqueles anos?
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Como suporte teórico para pensar essas questões, utilizamos Michel de Certeau
e seus conceitos de consumo, táticas, estratégias, lugar praticado e espaço. Para esse autor,
o espaço realiza-se como lugar praticado quando é vivenciado, transformado, e quando se
exercem dinâmicas sobre ele, pois “sob os discursos que a ideologizam, proliferam as
astúcias e as combinações de poderes sem identidade, legível, sem tomadas apreensíveis,
sem transparência racional – impossíveis de gerir.”112 Na mesma linha, Pál Perbart afirma
112CERTEAU, Michel de. Práticas do espaço. A invenção do cotidiano 1: Artes de fazer. 10. ed. Petrópolis:
Vozes, 2004. p. 157-197.
277 História e Resistência
que na cidade coexistem regimes de liberdade e rede e multiplicação.113 Procuramos
demonstrar nesse capítulo que a cidade é fluidez e escape, tática e estratégia, que “a cidade
se caracteriza pela sobreposição de melodias e harmonias, ruídos e sons, regras e
imprevisões”114 e que foi nesse ínterim que se constituiu a Teresina daqueles anos.
3. METODOLOGIA
Com intuito de responder às questões propostas, fizemos uso de um conjunto de
fontes compostas por jornais alternativos, memórias, depoimentos orais, literatura, encartes
culturais, filmes alternativos, fotografias e revistas jornais da grande imprensa, tanto de
circulação nacional como estadual. Este aporte documental nos permitiu ter uma visão,
panorâmica das mudanças processadas nesses anos, possibilitando inserir nosso objeto em
um quadro de referências mais amplo, onde se destacaram mudanças de caráter sociais,
políticas, econômicas e religiosas. O trabalho com as fontes foi pautado no cuidado com as
especificidades do documento e tendo em vista o lugar social e institucional que seus
produtores ocupavam. Nesse sentido, tomamos as fontes como um discurso emanado de um
espaço simbólico seja ele estratégico ou tático. Os filmes analisados dizem respeito aos
trabalhos experimentais produzidos pelo Grupo Gramma tais como: O Terror da Vermelha,
Davi Vai Guiar, Coração Materno e Miss Dora.
4. DISCUSSÃO E RESULTADOS
Os anos 70 foram uma época de efervescência científica e cultural. Além do
aprimoramento de muitas tecnologias, o que se observa nesses anos é a popularização de
alguns recursos através da invenção de dispositivos técnicos portáteis voltados ao consumo
de sujeitos comuns. A tecnologia transforma-se, então, em um espaço a ser explorado, e,
para alguns, torna-se também um anexo do corpo, meio pelo qual seus sentidos seriam
aguçados. O convite que Torquato Neto faz é:
Pegue uma câmera e saia por aí, é preciso agora: fotografe, faça o seu
arquivo de filminhos, documente tudo o que pintar, invente, guarde.
Mostre. Isso é possível. Olhe e guarde o que viu, curta essa de olhar com
113PELBART, Peter Pál. Cidade, lugar do possível. In: ____. A vertigem por um fio: políticas da subjetividade
contemporânea. São Paulo: Iluminuras, 2000. 114CANEVACCI, Massino. A cidade polifônica: ensaio sobre a antropologia da comunicação urbana. São
Paulo: EDUSP, 1993. p.18.
278 História e Resistência
o dedo no disparo: saia por aí com uma câmera na mão, fotografe, guarde
tudo, curta, documente. Vamos enriquecer mais a indústria fotográfica.
Mas pelo menos assim, amizade: documentando sempre por aí com o olho
em punho, a câmera pintando na paisagem geral brasileira. [...].115 [Grifos
nossos]
O que o poeta propõe é a fusão do corpo com a câmera, é olhar por ela, é ter “o olho
em punho”, aguçar os sentidos, registrar, disparar e transar com a imagem. Para ele, o uso das
câmeras super-8 se transformava em possibilidades de incrementar as capacidades sensórias, um
uso inventivo e inventado, metamoforseando e potencializando um corpo comum, em um corpo-
máquina, capaz de registrar, gravar, capturar o cotidiano de forma a projetar o vivido, o ordinário
e o subjetivo, o sem roteiro, oferecendo um painel de vivências comuns citadinas, capturadas
pelo corpo que se estendia através da câmera. O olho comum, limitado do humano sem a
máquina, estaria agora transformado em um olho que guarda, que registra mais, que tem alcance
maior, pois, seria possível apenas “apertar da janela do ônibus, como sugeriu Luís Otávio
Pimentel, e depois ver. É bonito isso? Descubra.”116
Para Torquato Neto, assistir aos filmes, mera projeção de imagens, teria tornado
insuficiente, era necessário viver todas as faces do cinema: filmar, lançar o olhar sobre o que os
interessava, consumi-lo e vivê-lo. Ainda segundo ele, “qualquer filme é a projeção de um sonho
reprimido. E eu quero que esse sonho seja liberado, seja livre, sem nenhum limite. O cinema
agora é feito por cineastas, ‘filmakers’, e eu quero que ele seja feito por todo mundo. Super oito
[...] Isso será o cinema liberto.117 Ao associar o filme a um sonho, Torquato aproxima ainda mais
esse suporte do corpo de quem os produzia, um corpo que teria como parte de si o produto da
filmagem, compondo o sonho, a vertigem, o inconsciente. Trata-se da gestação de uma
concepção de tecnologia a qual produz uma relação de imersão, ou seja, de um homem se
projetar na cidade, entrar nele e perder suas fronteiras através do filtro de alguma tecnologia.
Estamos, portanto, diante da concretização de organismos ciborgues, que se terrotorializam na
fronteira, no fluxo entre o natural e o artificial, que se mantém em um constante devir de se
modificar e ampliar suas capacidades limitadas.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
115 TORQUATO NETO. Material para divulgação. In: ______. Os últimos dias de Paupéria. Rio de Janeiro:
Eldorado, 1973. p. 28. 116 TORQUATO NETO, 1973. p. 15. 117 NETO, Torquato. Palavra de Glauber. In: PIRES, Paulo Roberto (Org). Torquatália: Geléia Geral. Rio de
Janeiro: Rocco, 2004. p.201.
279 História e Resistência
Esses filmes revelam uma cartografia afetiva dos jovens que consumiam a cidade
de Teresina nos anos 1970. Entre as fissuras da cidade-panorama, a cidade-latente emerge e o
espaço torna-se um lugar praticado no cotidiano e representado pelo cinema Super-8. Essas
representações permitem ver a cidade a partir do prisma da cidade sensível, resultante da forma
como essa fração da juventude se relaciona com ela, consome e subverte o discurso urbanista e
seus signos. Como afirma Peter Pál Pelbart "se o homem habita uma cidade real, ele é, ao mesmo
tempo, habitado por uma cidade de sonho."118 Analisar as flanâncias juvenis na cidade de
Teresina nos anos 70 é atestar que a cidade foi o palco privilegiado de suas ações. Torquato Neto
defendia que o “primeiro passo é tomar conta do espaço. Tem espaço à beça e só você sabe o
que pode fazer do seu. Antes, ocupe. Depois, se vire.”119 Essa ocupação proposta por Torquato,
esse teatro real que se insinua como palco, pode ser também comparado como papel pronto para
que sobre ele sejam escritas e inscritas. Que se escreva novas possibilidades de consumi-lo e que
se inscreva novos significados sobre ela através de movimentos táticos de enunciação dos
espaços e da transformação em lugares praticados. Os filmes alternativos oferecem um amplo
painel do modo como ocorria o consumo da cidade, revelando espaços consumidos por essa
juventude, uma vez que foi um dos instrumentos utilizados por essa parcela da juventude para
registrar o cotidiano e a cidade que lhes guardava.
As praças foram os espaços mais utilizados para encontro dessa juventude. A
praça geometricamente definida por um projeto urbanístico era constantemente atualizada,
burlada, consumida criativamente e transformada por essa fração da juventude, pois “sob os
discursos que a ideologizam, proliferam as astúcias e as combinações de poderes sem
identidade, legível, sem tomadas apreensíveis, sem transparência racional – impossíveis de
gerir.”120 Além das praças, o segmento jovem aqui estudado se aglutinava em alguns bares
da cidade, que além de servirem de cenários de filmes e para a realização de shows para
lançamento de livros e jornais. As coroas eram lugares de desnudamento do corpo feminino
e da prática de outros códigos culturais distantes dos reservados às moças de família. Para a
fração da juventude aqui estudada, além de representar um espaço de diversão, foi também
transformada em cenário de filmes experimentais como Adão e Eva do paraíso ao consumo,
Terror da Vermelha e Davi vai guiar.
118PELBART, Peter Pál. Cidade, lugar do possível. In: PELBART, Peter Pál. A vertigem por um fio: políticas
da subjetividade contemporânea. São Paulo: Iluminuras, 2000.p.43. 119TORQUATO NETO. Torquatália: obra reunida de Torquato Neto. v. II. Geléia geral. Organização: Paulo
Roberto Pires. Rio de Janeiro: Rocco, 2004. p. 304. 120 CERTEAU, 2004. p. 157-197.
280 História e Resistência
6. REFERÊNCIAS
PELBART, Peter Pál. Cidade, lugar do possível. In: PELBART, Peter Pál. A vertigem por
um fio: políticas da subjetividade contemporânea. São Paulo: Iluminuras, 2000.
TORQUATO NETO. Torquatália: obra reunida de Torquato Neto. v. II. Geléia geral.
Organização: Paulo Roberto Pires. Rio de Janeiro: Rocco, 2004.
CERTEAU, Michel de. Práticas do espaço. A invenção do cotidiano 1: Artes de fazer. 10.
ed. Petrópolis: Vozes, 2004.
NETO, Torquato. Palavra de Glauber. In: PIRES, Paulo Roberto (Org). Torquatália:
Geléia Geral. Rio de Janeiro: Rocco, 2004.
PALAVRAS-CHAVE: Cidade. Cinema. Corpo. Juventude.
281 História e Resistência
O SÍMBOLO E O SAGRADO NA
INDUMENTÁRIA CATÓLICA DO PIAUÍ
Ascânio Wanderley Abrantes de Carvalho
Mestre em Design e Marketing
Universidade Federal do Piauí
Cícero de Brito Nogueira
Mestre em História do Brasil
Universidade Federal do Piauí
Núbia de Andrade Viana
Mestre em Comunicação
Universidade Federal do Piauí
1. INTRODUÇÃO
A indumentária, tanto a civil quanto a religiosa, na cidade de Teresina (PI), conta
histórias presentes em museus, identificadas como patrimônio cultural. Em análise dos
museus de Teresina, encontramos no Museu Municipal de Arte Sacra Dom Paulo Libório,
grande acervo têxtil, que nos trouxe questões como: a) Que história a indumentária religiosa
pode conter?; e b) Como seus símbolos e formas representam um período da Igreja Católica
no Piauí? A partir dessas questões, observamos a necessidade de registrar a história a partir
da indumentária católica no Piauí, na perspectiva do seu simbolismo, dos seus signos e das
suas representações culturais nas vestes sagradas do primeiro bispo piauiense.
É um percurso histórico que corrobora com a conservação e a manutenção do
patrimônio cultural e religioso, cujo cunho investigativo acerca das origens desse patrimônio
possa ser documentado e registrado. Dessa forma, salientamos a importância de registrar a
indumentária católica de Dom Paulo Libório, o primeiro bispo de origem piauiense, no
período histórico compreendido entre 1940 e 1981.
Dom Paulo Libório, nascido em Picos, em 13/10/1913, percorre uma vida religiosa,
ordenado em Roma. Seu primeiro bispado iniciou-se em Caruaru (PE) foi em 15/03/1949 e
seu segundo bispado foi em 20/06/1959, em Parnaíba (PI). Faleceu em 31/03/1981 em
Teresina, na casa onde hoje se situa o museu com seu nome e que foi tombada pelo Decreto
Municipal n.º 9.312 de 27/03/2009, com fins de preservação do Patrimônio Histórico de
Teresina pela Lei Municipal n.º 3.602 de 27 de dezembro de 2006.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
282 História e Resistência
De acordo com o pensamento de Peter Burke, a Nova História ou a História Cultural
busca mesclar as disciplinas de sociologia e arqueologia. Sob este aspecto, buscamos
compreender a indumentária eclesiástica como documento histórico, político e social. Sob o
viés de fontes documentais, a indumentária “é na verdade nada mais do que o significante
de um único significado principal, que é o modo ou o grau de participação de quem a usa
(seja um grupo ou um indivíduo)” (BARTHES, 2006, p. 13)121. A Escola de Annales, em
Burke (1991), busca uma nova história, mesclada com outras disciplinas para o
entendimento mais complexo do objeto, verificando se o caminho percorrido por ele, é de
fato verdadeiro ou falso.
Para a indumentária religiosa, o poder, a autoridade e a estética clerical buscam,
através da hierarquia, fortalecer a crença por meio dos seus símbolos e seus signos.
Amparamo-nos na semiótica, ao usar o conceito de signo e seus papeis na vida social e seus
símbolos para compreender os “significados” e os “significantes” (Barnard, 2003; Saussure,
1974), de modo que a comunicação nos revele uma indumentária que apresente uma
comunicação não oral, mas simbólica. Barthes (2005, p. 259) considera o vestuário um
objeto, ao mesmo tempo histórico e sociológico. O autor afirma que o vestuário é concebido
implicitamente como o significante particular de um significado geral que lhe é exterior,
como a época, o país ou a classe social que se encontra.
Abordamos o surgimento do conceito de patrimônio público como mantenedor da
preservação da coesão nacional, inicialmente, com interesse de cunho político, dirigindo-se
à preocupação com a valorização da história e da cultura do país. Nesse sentido, os museus
são considerados importantes dispositivos de pesquisa e preservação histórica.
De acordo com Fonseca (2005, p. 59), “a noção de patrimônio se inseriu,
portanto, no projeto mais amplo de construção de uma identidade nacional, e passou a servir
ao processo de consolidação dos Estados-nações modernos.” Ou seja, buscou-se enfatizar a
ideia de cidadania no espaço público, de forma que o Estado seria seu guardião, além de
tornar a ideia de nação fortificada e unificada através de seus símbolos, de forma que a
preservação constitui a coesão nacional.
3. METODOLOGIA
121 Texto original: “dress is in fact nothing more than the signifier os a single main signified, which is the man
neror the wearer’s participation (whether a grou por individual)” (BARTHES, 2006, p. 13, tradução nosssa).
283 História e Resistência
Para a realização desta pesquisa, o locus escolhido foi a o Museu Municipal de Arte
Sacra Dom Paulo Libório, em Teresina. Como fontes, teremos a indumentária eclesiástica,
um acervo de cerca de 350 peças.
A metodologia aplicada é são as pesquisas documental e bibliográfica, na proposta
de análise de Peter Burke sobre a Nova História ou a História Cultural (Escola de Annales),
em que serão analisados os documentos, a indumentária, o livro de tombo, as fotografias e
os jornais. Os conceitos de documentação que utilizamos se centram a partir daqueles
indicados pelo IPHAN e pelo Manual de Aplicação INRC - 2000 (Inventário Nacional de
Referências Culturais), INRC (2000, p. 23).
4. DISCUSSÃO E RESULTADOS
A pesquisa está em andamento e seu desenvolvimento já conta com a aplicação de
fichas técnicas para o registro e a manutenção do acervo. Mais de 160 peças têxteis já foram
especificadas nas fichas técnicas, que é uma forma de registro mais eficaz para peças nesta
estrutura. As fichas contêm fotografias de todos os ângulos e detalhes importantes, como:
bordados, tipos de costuras e pinturas. A ficha contém o desenho técnico (desenho
planificado das peças), informações sobre os materiais de confecção e acabamentos. Já
foram registrados seis pares de calçados, ao serem detalhados os materiais de confecção,
além de bordados e os problemas na conservação.
A partir desse tipo de catalogação têxtil é que identificamos os símbolos, por vezes,
presentes em formas de bordado ou pinturas. Os mais representados até agora são: o
cordeiro, a cruz, o trigo, a espada e os peixes. As cores também possuem seu papel na
construção simbólica da mensagem. No âmbito litúrgico, cada um desses signos representa
um significado na simbologia católica. A cruz está relacionada à conversão que livra o
pecador do fio da espada, ou seja, o livramento da morte. O trigo está descrito na Bíblia
como símbolo daqueles que são dedicados a Deus, especificadamente, os convertidos
(Rangel, 2015). Cada peça é rigorosamente estudada com o propósito de relacioná-las
entre si em conjunto com o lugar e o modo de confecção, destacando seus simbolismos e
significados.
284 História e Resistência
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O conhecimento imbuído de valores simbólicos, que contam uma época, um
costume, um rito e um modo de vida, reflete a nossa cultura. Este estudo pretende
compreender esses significados, observando e esmiuçando cada detalhe para que, assim,
possamos entender a complexidade a respeito da indumentária católica do Piauí.
A partir do material já registrado, podemos iniciar as constatações com o
entendimento sobre os materiais utilizados e os bordados característicos de algumas peças.
Percebemos na etapa inicial de pesquisa, sobretudo, a partir do levante bibliográfico, que a
indumentária litúrgica é ligada ao poder simbólico que a igreja constrói. Até mesmo o
calçado apresenta-se como temático, com cores e símbolos delimitados para cada período
litúrgico, cujo sentido revela, de acordo com as passagens da Bíblia, as ações de Cristo, bem
como sua mensagem segundo o Evangelho.
6. REFERÊNCIAS
BARNARD, Malcolm. Moda e comunicação; tradução de Lúcia Olinto. – Rio de Janeiro:
Rocco, 2003.
BARTHES, Roland. Imagem e Moda. Trad. Ivone Benedetti. São Paulo: Martins Fontes,
2005.
______. The language of fashion. Translated by Andy Stafford. Bloomsbury: 2006.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil (1988). Disponível
em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>
Acesso em 02 setembro 2018.
BURKE, Peter. O que é história cultural? Rio de Janeiro: Zahar, 2005.
CORSINO, Célia Maria. LONDRES, Cecília. ARANTES NETO, Antônio Augusto.
Inventário nacional de referências culturais: manual de aplicação. – Brasília: Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, 2000.156 p.
FONSECA, Maria Cecília Londres. Patrimônio em processo: trajetória da política federal
de preservação no Brasil. 2 ed. rev. ampl. Rio de Janeiro: Editora UFRJ; MinC – IPHAN,
2005.
RANGEL, V. L. & RIBAS M. C. C. 2015. Entre a cruz e a espada ou práticas culturais sob
vigilância: René Descartes, Machado de Assis e a recepção crítica. Raído, Dourados, MS,
v.9, n.20.
http://arquidiocesedeteresina.org.br/historico-da-diocese-do-piaui/ Acesso em 28 de
novembro de 2018.
http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/276. Acesso em 28 de novembro de 2018.
http://www.icom.org.br/. Acesso em 28 de novembro de 2018.
https://www.diocesedeparnaiba.org.br/bispos-diocesanos/. Acesso em 28 de novembro de
2018.
PREFEITURA MUNICIPAL DE TERESINA. Decreto Municipal Nº 9.312 de 27/03/2009
285 História e Resistência
SAUSSURE, F. de. Curso de Linguística geral. 28ª ed, 4ª reimpressão. São Paulo – Cultrix
– 2012.
286 História e Resistência
UMA CIDADE LATINO-AMERICANA NO SERTÃO:
DESENVOLVIMENTISMO E INTEGRAÇÃO NACIONAL EM
PAUTA (1968-1975) Jônatas Lincoln Rocha Franco
Especialista em História do Brasil
Acadêmico do PPGHB-UFPI
Resumo: Este artigo é fruto de uma pesquisa mais ampla que toma a cidade de Teresina (PI),
durante a década de 70 do século XX, período em que capital do Piauí experimentou em sua
malha urbana intervenções espaciais, resultante dos projetos de integração nacional e de uma
euforia desenvolvimentista no cenário econômico brasileiro, apropriada politicamente pelo
chefe do poder executivo local, Alberto Tavares Silva (1971-1975). O objetivo central do
texto foi relacionar o processo de modernização promovido pelas forças estatais, inserindo-
o a uma conjuntura mais ampla de alteração no cotidiano das cidades brasileiras e latino-
americanas. Foi possível perceber que esses processos funcionaram como uma peça faltante
que permite a compreensão dos mais variados elementos que afetam a cidade e os sujeitos
que a habitam. Os discursos produzidos pelos jornais impressos da época, no que diz respeito
ao espaço urbano, são tomados como suporte para refletir sobre as conjunturas políticas e
socioeconômicas. As fontes principais são alguns dos jornais que circulavam em sua
materialidade como O Estado (PI), O Dia (PI) e o Correio da Manhã (RJ). Teórica e
metodologicamente, o texto se ampara em reflexões e categorias de autores como: Sandra
Jatahy Pesavento, Tânia Regina de Luca, Roberto Lobato Corrêa, Adrián Gorelik.
Palavras-Chave: História. Cidade. Modernização; Integração Nacional.
1- INTRODUÇÃO
IMAGEM 5: Teresina, 119 depois. FONTE: Jornal O Estado
Fazendo menção aos 119 de anos da transferência da capital da província do Piauí de
Oeiras para Teresina, a imagem acima destacava o processo de modernização que o estado
do Piauí, com ênfase para a sua capital Teresina, estaria passando naquele período, na
perspectiva dos intelectuais ligados à imprensa. O artigo veiculado no jornal diário O Estado,
287 História e Resistência
no dia 18 de agosto de 1971, trouxera duas fotografias que tinham como função destacar os
“ares de progresso” nos diferentes espaços da cidade. Na primeira, “localizada nas
proximidades da praça Marechal Deodoro” o articulista enaltecia a relação do então prefeito
Joel Ribeiro com o governador Alberto Silva. De acordo com a legenda, a construção da
nova Avenida Maranhão “empresta aquela parte da cidade ares de progresso ao tempo que
facilita o tráfego de veículos.”122
Teresina entre as décadas de 1950 a 1970 passou por um processo de transformações
socioeconômicas ligadas aos modelos econômicos que alternaram entre os governos
populistas, com especial destaque para Juscelino Kubitschek (1956 - 1961) e o regime
autoritário instituído após o golpe civil-militar de março de 1964. Cabe destacar que a
retórica da integração nacional e dos projetos modernizadores ganha força justamente a
partir da construção de uma cidade que se tornaria o símbolo do desenvolvimentismo:
Brasília.
No intuito de colocar o Piauí nos caminhos do desenvolvimento, após década de
1950, deu se início as tentativas de modernização da máquina pública, fundando autarquias
estaduais como a Centrais Elétricas do Piauí S.A (CEPISA), Telecomunicações do Piauí S.A
(TELEPISA), Águas e Esgotos do Piauí S.A (AGESPISA) entre outras. A cidade que antes
era “pequena, pessimamente iluminada, possuía um deficiente e precário serviço de
abastecimento d’água e não dispõe de asfalto, esgoto sanitário ou sistema de
comunicação”123, passaria por mudanças durante esses anos, ao menos no imaginário de
sujeitos como o governador Alberto Tavares Silva. O espaço urbano tornara-se palco de
transformações que modificariam o seu perfil: de uma Teresina que era o retrato da pobreza
e do atraso, para uma “capital moderna e desenvolvida.”124
2- Fundamentação teórica:
Adrián Gorelik (2005) indica em um de seus textos que, entre o início da década de
1950 e o final da década de 1970, houveram condições especiais que se articularam para a
produção de uma nova categoria nos estudos sobre o espaço urbano: “a cidade latino-
americana”. Conjunturas históricas particulares. O autor acentua que foi durante esse recorte
temporal que essas cidades “[...] funcionaram como uma verdadeira bomba de sucção para
122 Teresina 119 anos depois. O ESTADO, 18 de agosto de 1971, p.5. 123 NASCIMENTO, Francisco Alcides. Cajuína e cristalina: as transformações espaciais vistas pelos cronistas
que atuaram nos jornais de Teresina entre 1950 e 1970. Revista Brasileira de História. São Paulo, ANPUH,
vol. 27, n. 53, jan. –jun., 2007. p.197. 124 Teresina 119 anos depois. O ESTADO. Teresina. 18 de agosto de 1971, p.5
288 História e Resistência
uma série de figuras, disciplinas e instituições que estavam conformando o novo mapa
intelectual, acadêmico e político do pensamento social latino-americano, em um de seus
episódios mais ricos e produtivos.”125 Tomamos essa categoria para pensar o objeto de
estudo. Teresina seria uma capital que se enquadraria enquanto uma “cidade latino-
americana”, conforme teorizado por Gorelik?
Nesse sentido, a “cidade latino-americana” (como categoria de pensamento
e como realidade urbana, social e cultural) não apenas ilumina aspectos
pouco conhecidos desse período, como confere a eles nova inteligibilidade,
oferecendo pistas de seus percursos, assinalando as instituições criadas,
suas redes intelectuais e seus projetos de intervenção, como parte de um
projeto histórico completo e coerente, no interior do qual talvez tenha sido
formulada, com maior intensidade, a ideia de América Latina como
“projeto”, para retomar a formulação de Rama, um protagonista destacado
desse ciclo. A “cidade latino-americana” poderia ser pensada, assim, como
a peça faltante que permite entender todo esse período como um “ciclo” da
imaginação social latino-americana, um ciclo que descreve um arco
completo de posições: desde o otimismo modernizador da planificação até
sua inversão crítica radical.126
Pode-se pensar a cidade de Teresina a partir do conceito de “cidade latino-
americana”, não só pela sua localização geográfica, mas pelas características que a definem,
pois é a partir de análises em torno dela, com ênfase para os projetos de intervenção em sua
malha urbana nesse extrato temporal, que busca-se da inteligibilidade, por meio da pesquisa
histórica, a contextos políticos e sociais, ou seja, a cidade passa a funcionar como uma peça
que autoriza a criação de notas explicativas para a compreensão de ciclos, como o
experienciado no Brasil da época: o ciclo desenvolvimentista, influenciado, especialmente,
por ideais de integração nacional e por um “otimismo modernizador”.
3- METODOLOGIA
Para trabalhar com as fontes impressas nos inspiramos em autores como Maria
Helena Capelato (1988) e Tânia Regina De Luca (2006) que indicam como as fontes
impressas podem conceder indícios sobre determinado recorte temporal. De Luca indica uma
série de cuidados ao se trabalhar as fontes impressas, que no presente texto se configuram
125GORELIK. Adrián. A produção da “cidade latino-americana”. Tempo Social, revista de sociologia da USP,
v. 17, n. 1. junho de 2005. 126 Ibid. p.117.
289 História e Resistência
como principal fonte histórica consultada, para que se possa explorar as contradições que
lhe são próprias.
4- DISCUSSÕES E RESULTADOS
A cidade é palco de transformações, mudanças, construções, planos de intervenção
com desejos de promover o desenvolvimento dos espaços urbanos. No intento de tomar a
cidade como um objeto histórico, surge a necessidade de captá-la em sua dinamicidade,
passar a enxergá-la como um “locus da criatividade e das contradições.”127 Em períodos
anteriores ao recorte por nós fixado, a malha urbana de Teresina também havia sido objeto
de reflexões, debates e modificações. Desde o projeto inicial do “Plano Saraiva”, passando
pelas mudanças propostas por intelectuais, políticos e engenheiros como Luís Pires Chaves,
ainda na década de 1940, até chegar a década de 1970 e ter na persona do governador Alberto
Silva sua principal representação, o fio que atravessou as temporalidades e que
aparentemente interligou esses sujeitos foi o desejo de adequar a cidade às necessidades da
vida moderna.
Se durante a década de 1940 uma das principais preocupações do então Diretor de
Obras do Estado, Raimundo de Arêa Leão, era com o serviço de distribuição de água a
população, na década de 1970 o governador Alberto Silva, no intuito de integrar o Piauí as
práticas desenvolvimentistas nacionais, participou de um convênio de adesão do governo do
Estado do Piauí ao Plano Nacional de Saneamento (PLANASA). Essa cerimônia foi
divulgada pelo jornal do Rio de Janeiro, Correio da Manhã, na página do Diretor
Econômico, no dia 12 de outubro de 1973:
PLANASA – Em decorrência do convênio de adesão do governo do Estado
do Piauí, ao Plano Nacional de Saneamento – Planasa, foram assinados
ontem, atos que integram o município de Parnaíba àquele Plano. A
cerimônia, realizada na presença do Governador Alberto Tavares da Silva,
foi presidida pelos Ministros Antônio Reis Velloso e Costa Cavalcanti,
contando, ainda, com a presença do BNH, José do Rego Monteiro. O Plano
Nacional de Saneamento permitirá até 1980 a execução de programas de
abastecimento de água aos Estados Brasileiros, beneficiando cerca de 65
milhões de habitantes em todas as cidades do País, programas esses que
127 NASCIMENTO. Francisco de Alcides. A cidade sob o fogo: modernização e violência em Teresina (1937-
1945). 2- ed – Teresina: EDUFPI, 2015. 125.
290 História e Resistência
totalizam até o momento 4,8 bilhões de cruzeiros.128
Cabe ressaltar que durante o mandato de Alberto Silva houveram,
concomitantemente, diversos projetos de integração nacional, como o supracitado. O
Planasa, visava resolver demandas relacionadas ao abastecimento de água a estados
brasileiros que eram carentes nesse setor. O Piauí se encontrava nesse quadro. Esses projetos
favoreceram o representante do poder executivo local na construção de sua imagem como
governador/engenheiro/construtor. Era de seu interesse que a principal marca de sua
trajetória pública fosse sua atuação como engenheiro. Fontineles (2016) aponta que o
governador adotou como forma de escrituração de si a autopromoção de seu caráter técnico,
o que supostamente teria norteado o seu governo. A construção de grandes edifícios,
avenidas, estradas, o estádio Albertão entre outras obras, punha em destaque os impactos e
transformações experimentados no cotidiano da cidade.
A cidade de Teresina, portanto, tornou-se o palco privilegiado dos sonhos
e desejos, mas também dos embates em relação aos caminhos trilhados
pelo Piauí, sendo considerada a locomotiva do progresso que conduziria o
Estado rumo à modernidade, como prometera outrora. Transportando os
desejos, transportava também as frustrações deles advindas quando não
conseguia saciá-los. Em sua condição de locomotiva exigiam-lhe que
guiasse os caminhos do Estado e de sua história.129
Nessa função de ser a locomotiva do progresso, Teresina foi transformada em cidade
sensível, ou seja, “uma cidade imaginária construída pelo pensamento e que identifica,
classifica e qualifica o traçado.”130 Para Fontineles (2009), essa cidade sensível era um palco
privilegiado dos sonhos e dos desejos, como também das frustrações. Isso porquê o processo
modernizador não pôde ser recebido sem conflitos e contradições, visto que, esse ideal de
embelezamento urbano, produzido sobretudo pelos discursos de engenheiros, urbanistas,
médicos sanitaristas, políticos e intelectuais, “tropeçava numa realidade configurada por ruas
onde se enfileiravam casebres de pau-a-pique cobertos com palha de coco de babaçu.”131
128 PLANASA. Correio da Manhã. Rio de Janeiro. 12 de outubro de 1973, p.6. 129 FONTINELES, Claudia Cristina da Silva. Um engenheiro na e da política: projeções de si e ressonâncias
na história. MÉTIS: história & cultura – v. 15, n. 30, p. 111-127, jul./dez. 2016. 130 PESAVENTO, Sandra Jatahy. Cidades visíveis, cidades sensíveis, cidades imaginárias. IN: CIDADES.
Revista Brasileira de História. São Paulo, ANPUH, vol.27, n°53, jan.-jun., 2007. p.14. 131 NASCIMENTO, Francisco Alcides. Cajuína e cristalina: as transformações espaciais vistas pelos cronistas
que atuaram nos jornais de Teresina entre 1950 e 1970. Revista Brasileira de História. São Paulo, ANPUH,
vol. 27, n. 53, jan. –jun., 2007. p.197.
291 História e Resistência
5- CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pode-se inferir que os ideais desenvolvimentistas que puderam ser percebidos na
elaboração dos planos governamentais, matérias dos jornais que circulavam nos diferentes
espaços, não foram o suficiente para implementar políticas de melhorias no cenário urbano
piauiense na década de 1970. Não para a maior parcela da sociedade piauiense que ainda
continuava refém dos inúmeros imbróglios que persistiam em afligir a vida dos piauienses,
que habitavam um “sertão árido e ingratíssimo”132 Foi possível constatar também as
múltiplas possibilidades teóricas e metodológicas de se trabalhar o objeto cidades, partindo,
destacadamente, de novos posicionamento epistemológicos que compreender a necessidade
de se analisar as conjunturas locais a partir da produção de um conhecimento que lhe é
próprio.
6- REFERÊNCIAS
FONTINELES, Claudia Cristina da Silva. Um engenheiro na e da política: projeções de si e
ressonâncias na história. MÉTIS: história & cultura – v. 15, n. 30, p. 111-127, jul./dez. 2016.
GORELIK. Adrián. A produção da “cidade latino-americana”. Tempo Social, revista de
sociologia da USP, v. 17, n. 1. junho de 2005.
NASCIMENTO, Francisco Alcides. Cajuína e cristalina: as transformações espaciais vistas
pelos cronistas que atuaram nos jornais de Teresina entre 1950 e 1970. Revista Brasileira de
História. São Paulo, ANPUH, vol. 27, n. 53, jan. –jun., 2007.
NASCIMENTO. Francisco de Alcides. A cidade sob o fogo: modernização e violência em
Teresina (1937-1945). 2- ed – Teresina: EDUFPI, 2015.
PESAVENTO, Sandra Jatahy. Cidades visíveis, cidades sensíveis, cidades imaginárias. IN:
CIDADES. Revista Brasileira de História. São Paulo, ANPUH, vol.27, n°53, jan.-jun.,
2007. p.14.
SILVA, Laila Pedrosa da. “Somos partes integrante da nação”: O Piauí nas exposições do
início do século XX e os debates sobre modernização e integração da região. 104 f.
Dissertação (Mestrado em História das Ciências e da Saúde) – Casa Oswaldo Cruz, Fiocruz,
Rio de Janeiro: 2019.
Fontes:
PLANASA. Correio da Manhã. Rio de Janeiro. 12 de outubro de 1973, p.6.
Teresina 119 anos depois. O Estado. Teresina. 18 de agosto de 1971, p.5
132 SILVA, Laila Pedrosa da. “Somos partes integrante da nação”: O Piauí nas exposições do início do século
XX e os debates sobre modernização e integração da região. 104 f. Dissertação (Mestrado em História das
Ciências e da Saúde) – Casa Oswaldo Cruz, Fiocruz, Rio de Janeiro: 2019.
292 História e Resistência
UM ESTUDO SOBRE AS REFERÊNCIAS CULTURAIS NA
COMUNIDADE QUILOMBOLA MANGA-PI
Juciane de Sousa Silva
Graduanda em História pela Universidade Estadual do Piauí
O presente artigo tem como objetivo apresentar as referências culturais na comunidade
quilombola Manga em Floriano-Pi. A comunidade Manga tem um significado importante para a
cidade de Floriano porque foi o núcleo populacional referência para o surgimento da vila e
posteriormente cidade. O referido texto tem como intuito fazer uma análise das referências culturais
do tipo celebrações existente na comunidade em estudo, sendo elas: Divino Espirito Santo; Festejo
de Nossa Senhora da Conceição, Festa dos Santos Reis e as Novenas. Percebe-se que as referências
culturais são importantes na construção da identidade da população negra e para o povo desta
comunidade sendo formas de resistência que prevalece nas comunidades quilombolas como forma
de manter as suas tradições e identidade do seu povo.
Segundo o conceito do Instituto Nacional de Referências Culturais (INRC), Referências
são edificações e são paisagens naturais. São também as artes, os ofícios, as formas de expressão e
os modos de fazer. São as festas e os lugares a que a memória e a vida social atribuem sentido
diferenciado: são as consideradas mais belas, são as mais lembradas, as mais queridas. São fatos,
atividades e objetos que mobilizam a gente mais próxima e que reaproximam os que estão longe,
para que se reviva o sentimento de participar e de pertencer a um grupo, de possuir um lugar. As
referências culturais de uma comunidade são divididas em categorias diferentes sendo elas: Ofícios
e modos de fazer; Edificações; Formas de expressões; Lugares e Celebrações.
Na categoria Celebrações , incluem-se os principais ritos e festividades associados à
religião, à civilidade, aos ciclos do calendário etc. São ocasiões diferenciadas de sociabilidade,
envolvendo práticas complexas com suas regras específicas de distribuição de papéis, a preparação
e o consumo de comidas, bebidas, a produção de um vestuário específico, a ornamentação de
determinados lugares, o uso de objetos especiais, a execução de música, orações, danças etc. São
atividades que participam fortemente da produção de sentidos específicos de lugar e de território.
A construção do trabalho deu-se a partir do uso de leituras bibliográficas e fontes orais,
com realização de entrevistas a moradores. A partir de uma visita a referida comunidade constatei a
existência de quatro celebrações que são comemoradas pelos moradores, sendo elas:
O Festejo de Nossa Senhora da Conceição tem início no dia 28 de novembro e finaliza
293 História e Resistência
no dia 07 de dezembro com a cerimônia de levantamento e derrubação do mastro.
Festa dos Santos Reis ocorre no período de 24 de dezembro a 6 de janeiro, nesses dias
as pessoas da comunidade se caracterizam com roupas de couros e saem nas casas entoando cânticos
e pedindo dinheiro.
Divino Espirito Santo não possui uma data específica pois acontece mediante as
promessas feitas pelos moradores, como forma de pagamento da promessa o romeiro organiza a festa.
Na realização usa-se uma bandeira que guia a caminhada com o nome da celebração “Divino Espirito
Santo” em seguida a imagem do Divino e atrás os romeiros cantando cânticos religiosos e parando
nas casas para rezarem.
Novena é um conjunto de orações realizada no período de nove dias, na qual as pessoas
se reúnem na casa de um devoto, realizam cânticos e rezam terço.
Existe duas vertentes acerca do surgimento do povoado Manga-PI, uma de cunho
religioso baseada em relatos dos moradores e outro historiográfico baseado em autores como Josefina
Demes e Odilon Nunes.
A vertente religiosa, contada a partir de um dos entrevistados, o Sr. Pedro Alves Rodrigues de 84
anos, relata que ela passou a ser povoada após vaqueiros encontrarem a imagem de uma santa no
campo na comunidade Uíca, enquanto andavam a procura de gados, logo após a imagem ser
encontrada o vaqueiro a levou para sua residência e guardou-a em um quarto, no outro dia quando
foi olhar a imagem e mostrar aos seus vizinhos a mesma não estava mais naquele local, o vaqueiro
impressionado com o acontecido retorna ao local onde havia encontrado e a santa estava lá. Ele a
pegou e trouxe para sua casa, no outro dia o fato se repetiu novamente e ao voltar ao local pela
terceira vez ele fez uma promessa que se aquela santa não sumisse mais, parte da terra da atual
comunidade Vila da Manga - PI seria destinada para a santa na qual seria construída uma capela onde
a imagem seria colocada e denominada Nossa Senhora da Conceição, após a promessa realizada a
santa não desapareceu e igreja foi construída. Após a construção da igreja naquele local a
comunidade passou a ser povoada por pessoas de outras localidades ao retorno das terras pertencentes
a nossa senhora da conceição, como passar do tempo foram construídas escola, residências, chafariz,
entre outros.
A outra vertente apresenta que com a crescente demanda por terras no período colonial
contribuiu para a descoberta e povoação de novos territórios, e a presença do rio corroborou para o
surgimento de duas importantes povoações, uma de cada lado do rio, recebendo o nome de Manga
Piauí e Manga Maranhão.
294 História e Resistência
Como afirma Demes (2002), excepcionalmente, localizadas, experimentaram bem cedo
vertiginoso crescimento que se manifestou no expressivo desenvolvimento de suas principais
atividades: lavoura, pecuária e comércio. Vale ressaltar, contudo, por oportuno, que tanto a Manga
Maranhão piauiense quanto a Manga Maranhense nasceram e cresceram, a bem dizer, em função do
seu porto que aos poucos se firma como o mais importante da região, por oferecer melhores
condições de acesso às localidades interioranas do Maranhão, notadamente Caxias, importante
empório com o qual o Piauí setecentista e oitocentista comerciava em larga escala. A comunidade
Manga - PI está localizada nas proximidades da atual cidade de Floriano-PI, pertencendo a este
município.
Com base na observação percebe-se a relevância das referências culturais na construção
identitária de um povo, e como elas contribuem para manter um vínculo comunitário entre os
moradores, pois o exercício dessas referências contam com o apoio da maioria dos habitantes local.
FONSECA, Maria Cecilia . Referências Culturais: Base para Nova Política de Patrimônio.
Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/3%20-%20FONSECA.pdf.
Acesso em 11 de abril de 2019, às 10:55 horas.
DEMES, Josefina. Floriano: Sua História, Sua Gente. Teresina, 2002.
295 História e Resistência
USO DO PATRIMÔNIO CULTURAL: ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DE
TERESINA-PI
Cláudio Valentim Rocha Leal. Graduando em Arquitetura e Urbanismo. Centro Universitário
Uninovafapi
Vinícius Batista Ribeiro de Sousa. Graduando em Arquitetura e Urbanismo. Centro Universitário
Uninovafapi
1. INTRODUÇÃO
Teresina, capital do estado do Piauí, possui dentre seus patrimônios edificados a Estação
Ferroviária de Teresina, objeto deste estudo. Localiza-se no cruzamento da Avenida Miguel
Rosa com a Avenida Frei Serafim, duas das mais importantes avenidas da capital piauiense.
A estação foi tombada em 1997 (FUNDAC, 2009) e no ano de 2016 foi inaugurado o Parque
Estação da Cidadania, fruto de um plano de revitalização de uma área sem uso congruente à
estação. Observa-se que, do ponto de vista de preservação do patrimônio cultural, abriu-se a
possibilidade em não apenas preservar a estação através do tombamento, mas também
através do uso a partir da maior oferta de atrativos locais através do parque. A partir dessas
reflexões, o presente estudo tem como objetivo analisar se a requalificação do espaço que
abriga o Parque Estação da Cidadania contribui para a preservação do patrimônio vizinho
que ali existe, esperando-se compreender se a implantação do parque, com base na sua atual
dinâmica de uso, favorece essa preservação e aproxima o cidadão e esse patrimônio
teresinense.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A inexistência, até meados do século passado, de uma legislação que integrasse o patrimônio
às cidades e visasse a preservação deste a fim de estabelecer as metas e exigências
necessárias para que ele não se degenere contribuiu de forma decisiva para sua
descaracterização (POLTOSI, 2016). Dessa forma, objetivando a reabilitação urbana das
áreas patrimoniais, estratégias de promoção e regeneração dos sítios históricos têm sido
adotadas de forma gradativamente mais ampla, analisando o papel de diversos intervenientes
da cidade (AZEVEDO, 2010). Assim, percebe-se atualmente a evidenciação da ideia do
patrimônio e o seu entorno influenciarem-se mutuamente, devendo ocorrer, por causa disso,
a adoção de estratégias que os visem conjuntamente. A requalificação surge como
296 História e Resistência
oportunidade de rever o uso das edificações de valor cultural, possibilitando, assim, sua
manutenção e o favorecimento de todo o seu entorno.
Lamas (2014) e Varine (2012) apresentam pontos de vista complementares em relação a essa
atribuição de uso que visa salvaguardar o patrimônio cultural edificado. Lamas aponta que
é de suma importância a introdução de novas funções em velhos edifícios a fim de garantir
a preservação destes, ressaltando que esses usos devem estar de acordo com a demanda da
região para garantirem uma vida útil longa a essas edificações. Entretanto, Varine enfatiza
que o novo uso somente deve ser encorajado após esgotarem-se todas as possibilidades de
permanência sustentável do primeiro uso, pois é este o fim para o qual a edificação foi
construída.
3. METODOLOGIA
O estudo da influência do Parque Estação da Cidadania sobre o uso e a preservação da
Estação Ferroviária foi realizado através da análise comparativa do horário de
funcionamento dos dois espaços, colhido junto aos órgãos competentes à administração de
cada espaço. Em seguida, procedeu-se à análise comparativa da quantidade de pessoas em
cada local ao longo dos dias da semana, fazendo uso de quantitativos de fluxo do Google
Maps.
4. DISCUSSÕES E RESULTADOS
A Estação Ferroviária de Teresina está localizada ao lado do Parque Estação da Cidadania.
O edifício foi inaugurado em 1926, sendo um exemplar de edificação com características
ecléticas, muito adotado em várias capitais à época (FUNDAC, 2009). Atualmente, funciona
como sede administrativa da Companhia Metropolitana de Transporte Urbano (CMTP). A
tabela 1 a seguir sintetiza seus horários de funcionamento, colhidas oficialmente junto à
CMTP:
Tabela 1: Horário de funcionamento do conjunto Estação Ferroviária
Segunda-feira 7:30 às 13:30 (administrativo),
7:30 às 20h estação do VLT
297 História e Resistência
Terça-feira 7:30 às 13:30 (administrativo),
7:30 às 20h estação do VLT
Quarta-feira 7:30 às 13:30 (administrativo),
7:30 às 20h estação do VLT
Quinta-feira 7:30 às 13:30 (administrativo),
7:30 às 20h estação do VLT
Sexta-Feira 7:30 às 13:30 (administrativo),
7:30 às 20h estação do VLT
Sábado Não há funcionamento
Domingo Não há funcionamento
Fonte: CMTP, 2019. Tabela elaborada pelos autores.
O horário de maior fluxo de pessoas na Estação Ferroviária é pela manhã e início da
tarde, das 7:30 às 13:30, que coincide com o horário de funcionamento administrativo da
CMTP. O não-funcionamento do VLT aos sábados e domingos pode ter como causa
principal a baixa demanda nesses dias. O alcance do sistema metroviário teresinense é muito
pequeno, abarcando apenas a Zona Sudeste da capital e seu percurso para o centro. Além
disso, como a única linha existente faz esse percurso para o centro, existe uma grande relação
entre o uso desse modal e o horário das atividades comerciais na região central, que são bem
menores aos sábados e domingos em relação aos outros dias da semana, resultando na baixa
demanda pelo VLT.
Da mesma forma, após consulta realizada junto à Superintendência de Planejamento
Urbano Centro/Norte (SDU Centro/Norte), foi possível identificar os horários de
funcionamento do Parque Estação da Cidadania, conforme pode ser verificado na tabela 2:
Tabela 2: Horário de funcionamento do Parque Estação da Cidadania
Segunda-feira 6h às 10h
Terça-feira 6h às 10h, 16h às 22h
Quarta-feira 6h às 10h, 16h às 22h
Quinta-feira 6h às 10h, 16h às 22h
Sexta-Feira 6h às 10h, 16h às 22h
Sábado 5:30 às 22h
Domingo 5:30 às 22h
Fonte: SDU Centro/Norte, 2019. Tabela elaborada pelos autores.
Uma análise de fluxo nos dois espaços pôde ser feita a partir de dados obtidos pelo
Google Maps, utilizando-se os filtros “Parque Estação da Cidadania” e “Estação Ferroviária
de Teresina”. Esse fluxo é calculado com base no histórico de localização de usuários do
Google, dando como resposta a frequência de pessoas nos lugares. Ainda, é possível fazer
298 História e Resistência
um comparativo entre os principais horários de movimento da estação e do parque ao longo
da semana (FIGURA 1):
Figura 1: Fluxo de pessoas, em azul, na Estação Ferroviária de Teresina e no Parque Estação da Cidadania.
Fonte: Google Maps. Imagem dos autores.
Observa-se um uso dissonante entre os dois espaços, pois os principais horários de
uso do Parque Estação da Cidadania não coincidem com os da Estação Central. Apenas uma
pequena quantidade de pessoas visita o parque pela manhã de segunda a sexta-feira, ao passo
que a estação é bastante utilizada nesse horário. O intervalo diário, nos dias úteis, de
funcionamento do parque, das 10h às 16h, também não parece interferir na movimentação
da estação, que tem seu fluxo reduzido significativamente às 14h apenas devido ao fim do
expediente do setor administrativo da CMTP. Soma-se a esse desequilíbrio de usos, como
agravante, o não-funcionamento do VLT aos sábados e domingos, principais dias de
movimentação do parque.
Um fator que contribui para a não-existência de uma integração efetiva entre o parque
e a estação, e que poderia proporcionar um maior equilíbrio entre o uso desses locais, é a
impossibilidade de acesso direto entre um espaço e o outro. Embora exista um portão que
faça essa ligação, ele não se encontra aberto para os usuários do parque, da estação e das
paradas de ônibus adjacentes a ela e o acesso à estação ocorre apenas pela Avenida Miguel
299 História e Resistência
Rosa. Por isso, quem chega ao parque pelo VLT, deve contornar o perímetro oeste do parque
a fim de acessá-lo por seus portões norte ou sul.
Percebe-se, com base nos dados levantados, que o Parque Estação da Cidadania,
como fruto de requalificação do espaço, não contribui como deveria para o uso e a
valorização do patrimônio cultural vizinho, a Estação Ferroviária, sendo esta apenas cenário
para o passeio dos visitantes do parque, afastando-se da realidade do contexto em que se
insere.
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Parque Estação da Cidadania e a Estação Ferroviária, apesar de estarem situados
lado a lado, funcionam de forma independente, e até mesmo parecem excluir-se um do outro.
É necessário que haja uma compatibilização de horários de funcionamento e de usos e
disponibilidade de acessos diretos entre eles, bem como a promoção para a comunidade
sobre essa relação de integração.
8. REFERÊNCIAS
AZEVEDO, F. D. A. S. M. O papel do sector do turismo na reabilitação urbana da baixa
do Porto. Tese (Mestrado em Engenharia Civil). Faculdade de Engenharia, Universidade do
Porto, Porto, 2010.
FUNDAC. Fundação Cultural do Piauí. Bens tombados no Piauí. Coordenação de registro e
conservação. 2009. Disponível em:
http://www.fundac.pi.gov.br/download/200908/FUNDAC07_c552bc2f3a.pdf. Acesso em:
29 junho de 2017.
LAMAS, J. M. R. G. Morfologia urbana e desenho da cidade. 7 ed. Lisboa: Fundação
Calouste Gulbenkian, 2014.
POLTOSI, R. Patrimônio Ambiental Urbano e Revitalização Urbana: estratégias possíveis
para o 4o Distrito. In: IV Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação
em Arquitetura e Urbanismo, 2016, Porto Alegre/RS. Anais do IV ENANPARQ, 2016. v. I.
VARINE, H. de. As Raízes do Futuro: O Patrimônio a Serviço do Desenvolvimento. Local.
Porto Alegre: Medianiz, 2012.
Palavras-chave: Patrimônio cultural. Uso do patrimônio. Requalificação urbana. Teresina.
300 História e Resistência