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R E S U M O Opresenteartigotemcomoobjectivotrazerapúblicoosrecentestrabalhosdeprospec-
çõesarqueológicas,efectuadosnamargemesquerdadoTejonaáreadoPortodoSabugueiro,
SalvaterradeMagos.EsteprojectoaprovadopeloIGESPARsurgiunasequência,dadetecção
fortuitadeimportantesvestígiosarqueológicoscolocadosadescobertopelarealizaçãodetra-
balhos agrícolas. Estamos, perante uma área com grandes potencialidades arqueológicas e
patrimoniaisefaceaosresultadosdasprospecçõescomumalatadiacroniadeocupação,quese
estendeaindaquecomhiatosdesdeoNeolíticoatéàAntiguidadeTardia.Osdadosmaissubs-
tanciaisreportam-seàocupaçãodaIdadedoFerro.Aindaqueestejamosalidarcominforma-
çãoprovenientederecolhasdesuperfície,ovolumedosmateriaisrecolhidoseasuaanálise
cuidada,permitemsuporestarmosperanteaáreadeumantigopovoadodecarizportuário.
A B S T R A C T Thisarticleaimstobringtothepublictheworkofrecentarchaeologicalsurveys
carriedoutontheleftbankoftheTagusinPortodoSabugueiro,SalvaterradeMagos.This
project,approvedbyIGESPAR,aroseasaresultofthefortuitousdetectionofimportantarchae-
ologicalremainsdiscoveredonthecarryingoutfarmwork.Wearefacinganareawithgreat
potentialandarchaeologicalheritageandoftheresultsofsurveyswithabroaddiachronicoccu-
pation,whichextends,evenwithgaps,fromNeolithictoLateAntiquity.Themostsignificant
datarelatetotheoccupationfromtheIronAge.Whilewearedealingwithinformationcol-
lectedfromthesurface,thevolumeofmaterialcollectedanditsanalysisenableustoassumethe
areaastheplaceofanancientriverport.
1. Razões da intervenção
NosfinaisdomêsdeJunhode2008,ossignatáriosdeslocaram-seàpovoaçãodePortodoSabugueiro,freguesiadeMuge,concelhodeSalvaterradeMagos,comoobjectivodetirarfotogra-fiasdorioTejo.
Estetrabalhodelevantamentofotográficoprendia-secomoprojectoqueestamosadesen-volversobreopovoamentodosfinaisdaIdadedoBronzeeiníciosdaIdadedoFerronaregiãodeVilaFrancadeXira,quetemvindoaseralvodediversaspublicações(Pimenta&Mendes,2007,noprelo;Mendes&Pimenta,2008).
Descoberta do povoado pré-romano de Porto do Sabugueiro (Muge) JOãOPIMENTA HENRIqUEMENdES
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 171–194
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Aodirigirmo-nosatravésdeumcampoagrícolaatéàsmargensdorio,numazonaemqueéamplamentevisívelopovoadosidéricodaalcáçovadeSantarém,deparámo-noscomumainvulgarocorrência,quedeuorigemaestetrabalho.Ameiodoterreno,numapequenaelevaçãoaparente-menteartificial,demoscomuma inusitadaconcentraçãode fragmentoscerâmicos.Faceaestaocorrência,detivemo-nos,pordefeitodeofício,nasuaanálise.Aocontráriodoqueseriaoespe-rado,peloqueseconhecedesdehádécadasnestazona,omaterialrecolhidoapresentavaumaclaracronologiapré-romana.
Aoobservarmososfragmentoscerâmicos,dispersospeloterreno,ficámosatónitospelasuaabundânciaeestadodeconservaçãopoucousual.Entreestes,destacavam-seosbocaisdeânforaspré-romanasassimcomoastípicasasasderolo.
devidoaofactodeestarmosperanteumcampoagrícolacomumaexploraçãointensivacomfortesimpactosaníveldosubsolo(tenha-sepresenteotipodemaquinariautilizadonoarroteardasterraseospeculiaresmecanismosderega),decidimosfotografaroespólioemsítioesalvaguar-darasuaintegridadefísica,recolhendo-odeimediato.
Peranteestadescoberta,efectuou-seumpedidodeautorizaçãoaoIGESPARparaarealizaçãodetrabalhosdeprospecçãoarqueológica.Estainvestigaçãointensivanoterrenotevecomoobjec-tivosoregistoecartografiaimediatadadispersãodemateriaisàsuperfície,afimdeseapreenderarealdimensãodosítiopré-romano.
2. Enquadramento arqueológico
AsprimeirasreferênciasaocupaçõesantigasnaáreadosítiodoPortodoSabugueiroremon-tam a meados dos anos 50, quando Mário de Saa, na sua obra sobre as vias da Lusitânia, nosrefere:
NoPortoSabugueiro,5km,acima,há,nasbarreirasdoTejo,importantesvestígiosdepovoa-çãoromana,visíveisnamargemesquerdae,sobretudo,quandoasenchentesdorioasrevol-vem.Mostram-se,então,bancadasdeentulho,vasoscinerários,moedasromanas,(queandamaí,nosbolsosdetodaagente),telhariadetegulaeimbrex,fornosdeaquecimento,comassuasgrelhas,canosdealvenaria(…)(Saa,1956,p.160).
Posteriormente,emMarçode1960,aquandodacavaparaplantaçãodeumavinha,foramdescobertosváriosmateriaisromanosnosterrenospertencentesàCasadoCadaval,sobressaindodesta descoberta um pavimento de mosaico (Oleiro, 1960–1961, pp.290). Na sequência desteachado,osítiofoialvodeumavisitapelodr.BairrãoOleiro.OProfessordeCoimbradá-nosnotadasuavisita,numartigonarevistaConimbriga,fornecendo-nosmaisalgumasinformaçõesacercadacronologiadestaestação:
EmdiversasocasiõessehaviamrecolhidomateriaisromanosnoPortodoSabugueiro,mate-riaisessesquepodemadmirar-seemvitrinasnopaláciodoCadaval,emMuge:fragmentosdeânforas,ponderadebarro,suportestriangularesdecerâmicaealgumasmoedasdosséculosIIIeIVd.C.(Oleiro,1960–1961,pp.290–291).
Omosaicoentãocolocadoadescobertoeravisívelnumaáreadecercade5m2.daanálisequeodr.BairrãoOleiroentãoefectuou,ficou-nosoregistofotográficoeasuadescrição,classificando
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Fig. 1 MapadelocalizaçãodaestaçãoromanadoPortodoSabugueiro,segundoCardoso(1990,p.159).Oponto1correspondeàlocalizaçãodeumfornodaÉpocaModerna.Oponto2dizrespeitoàlocalizaçãodasentulheirasdaÉpocaRomana.
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este mosaico como um pavimento de época tardia, possivelmente de finais do século III d.C.(Oleiro,1960–1961,pp.293).
Em1963,odr.JorgedeAlarcãoefectuousondagensarqueológicasnestazona,comoobjectivodeaveriguarograudeimportânciaeconservaçãodaestaçãoromana(Alarcão,1987;Cardoso,1990,p.153).Nestacampanha,terácolocadoadescobertoomosaico,edetectadoorestodeumfornodeproduçãocerâmica,acercade200mparajusantedeste.Nasequênciadestacampanhaclassifica-seestaestaçãocomoumavillaromana(Alarcão,1987),villaessaque,emmeadosdoséculoId.C.,teriaumaáreadeproduçãooleiracomalgumadimensão(Cardoso,1990)(Figs.1e2).
Sobreassuasproduçõescerâmicas,emespecialânforasecerâmicacomum,foramjápublicadosdoisestudosquenospermitemsuporodinamismodestecentrooleiroentremeadosdoséculoIefinaisdoséculoIId.C.(Cardoso,1990;Cardoso&Severino,1996).
Alémdestabemconhecidapresençaromananolocal,desdecedoalgunselementosdispersoslevavamasuspeitardaexistênciadeumaeventualocupaçãoanterior,oquelevouaincluirestaestaçãonosmapasdesíntesesobreaIdadedoFerronovaledoTejo(Arruda,1994a).
Ahipótesedeumaocupaçãopré-romanaalguresnaáreadoPortodoSabugueirofoipelaprimeiravezsugeridapelosmateriaisaquirecolhidosporHipólitoCabaçoepublicadosporMariaAméliaPereira.Emboraocontextooumesmoolocaldadescobertanãosejamclaros,conservam--se no Museu de Alenquer dois invulgares escaravelhos “egípcios” em cerâmica (Pereira, 1975)(Fig.3).EstescaracterísticosamuletosapresentamacarteladofaraóThutmosisIII(XVIIIdinastia),devendodatarentremeadosdoséculoVIIeoséculoVIa.C.(Arruda,1994b).
Alémdestasduaspeças, encontram-seexpostasnoMuseudeAlenquerdiversascontasdepastavítrea,umadasquaisoculada,assimcomocerâmicaestampilhada,queparecemcorroborarahipótesedaexistênciadeumaestaçãopré-romananaáreadoPortodeSabugueiro.
3. Descrição dos trabalhos
Aoiniciarmosostrabalhosdecampo,incidimospreferencialmenteanossaatençãosobreabibliografiadaespecialidade,referentedirectaouindirectamenteàsocupaçõesantigasdestaáreadafreguesiadeMuge.
este mosaico como um pavimento de época tardia, possivelmente de finais do século III d.C.(Oleiro,1960–1961,pp.293).
Em1963,odr.JorgedeAlarcãoefectuousondagensarqueológicasnestazona,comoobjectivodeaveriguarograudeimportânciaeconservaçãodaestaçãoromana(Alarcão,1987;Cardoso,1990,p.153).Nestacampanha,terácolocadoadescobertoomosaico,edetectadoorestodeumfornodeproduçãocerâmica,acercade200mparajusantedeste.Nasequênciadestacampanhaclassifica-seestaestaçãocomoumavillaromana(Alarcão,1987),villaessaque,emmeadosdoséculoId.C.,teriaumaáreadeproduçãooleiracomalgumadimensão(Cardoso,1990)(Figs.1e2).
Sobreassuasproduçõescerâmicas,emespecialânforasecerâmicacomum,foramjápublicadosdoisestudosquenospermitemsuporodinamismodestecentrooleiroentremeadosdoséculoIefinaisdoséculoIId.C.(Cardoso,1990;Cardoso&Severino,1996).
Alémdestabemconhecidapresençaromananolocal,desdecedoalgunselementosdispersoslevavamasuspeitardaexistênciadeumaeventualocupaçãoanterior,oquelevouaincluirestaestaçãonosmapasdesíntesesobreaIdadedoFerronovaledoTejo(Arruda,1994a).
Ahipótesedeumaocupaçãopré-romanaalguresnaáreadoPortodoSabugueirofoipelaprimeiravezsugeridapelosmateriaisaquirecolhidosporHipólitoCabaçoepublicadosporMariaAméliaPereira.Emboraocontextooumesmoolocaldadescobertanãosejamclaros,conservam--se no Museu de Alenquer dois invulgares escaravelhos “egípcios” em cerâmica (Pereira, 1975)(Fig.3).EstescaracterísticosamuletosapresentamacarteladofaraóThutmosisIII(XVIIIdinastia),devendodatarentremeadosdoséculoVIIeoséculoVIa.C.(Arruda,1994b).
Alémdestasduaspeças, encontram-seexpostasnoMuseudeAlenquerdiversascontasdepastavítrea,umadasquaisoculada,assimcomocerâmicaestampilhada,queparecemcorroborarahipótesedaexistênciadeumaestaçãopré-romananaáreadoPortodeSabugueiro.
3. Descrição dos trabalhos
Aoiniciarmosostrabalhosdecampo,incidimospreferencialmenteanossaatençãosobreabibliografiadaespecialidade,referentedirectaouindirectamenteàsocupaçõesantigasdestaáreadafreguesiadeMuge.
Fig. 2 CortedasentulheirasromanasdoPortodoSabugueiro,segundoCardoso(1990,p.161).
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Fig. 3 EscaravelhoegípciodoPortodoSabugueiro,segundoPereira(1975,Est.I).
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Comojátivemosoportunidadedeexplicitar,nestaárea,éconhecidadesdemeadosdosanoscinquentaumaocupaçãoromana.Tendopresenteestefactor,tentou-sedefinirondeéqueostra-balhosarqueológicosdeescavaçãoeprospecçãoanteriormenteefectuadostinhamincidido.Aaná-lisedabibliografiaecartografiadisponível,permitematestarqueasocupaçõesdaÉpocaRomanapreviamentedetectadas,nãosãocoincidentescomaáreaondeocorreuestanovadescobertaquepassaremosadescrever,encontrando-sedistantescercade1km(Fig.4).
Aáreaondeseidentificaramosvestígiosquederamorigemaesteprojectositua-senasime-diaçõesdeumaestradadeterrabatida,queapartirdaEstradaNacionaln.º118conduzaorio.Verificámosposteriormentenacartamilitar1/25000queestecaminhocorrespondeàlinhadivi-sóriaentreosconcelhosdeSalvaterradeMagoseAlmeirimeentreasfreguesiasdeMugeeBenficadoRibatejo.Estespormenoresdoforoadministrativosãorelevantes,porque,comoiremosverdeseguida, o decorrer dos trabalhos de prospecção conduziram à conclusão de que a estação emcausaseestendeporestalinhadivisória,pertencendoassimaosdoisconcelhosefreguesias.
OtopónimomaispróximoregistadonacartamilitaréodeCasaldaArchela,porém,ofactodeabibliografiadaespecialidadejáterregistadoalocalizaçãodopovoadopré-romanocomoPortodoSabugueiroleva-nosamanteressadesignação,afimdeevitarconfusõesfuturas.
Fig. 4 CartaMilitardazonadeMuge.Oponto1correspondeàlocalizaçãodapovoaçãofluvialdoPortodaSabugueiro.Oponto2dizrespeitoàlocalizaçãodasentulheirasdaÉpocaRomana.Oponto3equivaleàáreadedispersãodemateriaispré-romanos.
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Osterrenosondedecorreuopresenteestudosituam-sejuntoàmargemdorioTejoedaValadeAlpiarça,entreapovoaçãodoPortodoSabugueiroeoCasaldaArchela.dopontodevistageo-lógico,correspondemasolosdealuviãocomalgumasbolsasdeargila.
Fig. 5 MapadovaledoTejocomalocalizaçãodasprincipaisestaçõesdaIdadedoFerro,apartirdeArruda,1994a,modificado.
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Aanálisedetalhadadasuatopografiapermiteverificarin locoque,apesardesetratardeter-renosplanos,sãoaindavisíveisduaspequenaselevações,correspondendoaverdadeirostells.AindaqueestesmontículosnãotenhamcertamenteapotênciaestratigráficadosseushomónimosdoPróximoOriente,oconceitoéaplicável,vistoqueestaspequenaselevaçõessãooquerestadeanti-gos povoados cujos vestígios vão sendo destruídos pela contínua actividade agrícola. Um bomexemplodestetipodesítioséotristementecélebreCabeçodaBruxa,emAlpiarça,comumalongadiacroniadeocupação,desdeoCalcolíticoatéàAntiguidadeTardia(Kalb&Höck,1981–1982;delgado,1981–1982).
OprojectodeprospecçõesarqueológicassistemáticasquedesenvolvemosnestaáreapermiteatestarasuaocupaçãodesdeoNeolíticoatéàAntiguidadeTardia,atestandoumarelevanteocu-paçãohumananesteportodoTejo(Pimenta&Mendes,2009).Nopresentetrabalhovamo-nosdeterapenasnasuaocupaçãodaIdadedoFerro.
4. Ocupação da Idade do Ferro
Odesenrolardostrabalhospermitiucartografarumaextensaáreadedistribuiçãodemateriaisdecerca1ha,deixandoanteveraexistênciadeumaestaçãodegranderelevânciadesteperíodo.
Aabundânciademateriaisàsuperfícieportodaestaáreaérealmentesurpreendenteeesma-gadora.
Ofactodeestarmosperanteumcampodeforteexploraçãoagrícolanãopodedeixardeestarpresentenanossaanálisedestasleiturasnoterreno.Comopodemosconstatar,naalturadadesco-bertadestesítio,alavradestescamposdealuvião,essencialmentecompostosporareia,produzumforteeprofundoimpactoaníveldosubsolo,quesetraduzpeloconsecutivoremexerdecercade50cmdeprofundidade.
Estamosconvencidos,quefoiprecisamenteoqueteráocorridonaúltimalavra,antesdeter-mostidoasortedevisitarosítioemquestão.Essaperturbaçãodosníveisarqueológicos,possivel-mente até então preservados, colocou à superfície de uma forma totalmente caótica inúmerosfragmentoscerâmicos,encontrando-semuitosdeles,quandovisitamosolocal,fragmentadosemconexão.
Infelizmenteestapráticaagrícolaconduzaocontínuodesconstruirdaestaçãoarqueológica,nãosópelalavrasazonal,maspelasnecessáriaslimpezasdoterreno,quesetraduzemnaremoçãodoselementospétreosque“atrapalham”asmáquinas.Essefactorébemvisívelnasdiversas“des-pedregas”,existentes juntoaotaludedamargemesquerdadavaladeAlpiarça.Aanálisedestesmontículosdepedrapermitiramreconhecerdiversosblocostalhadosquedeveriampertenceraantigosmurosdeconstruçõesaquiexistentes.
Faceaoexpostoeperanteaiminenteameaçadedestruiçãoaqueosartefactosoracolocadosadescobertoestavamvotados,decidiu-secartografar,fotografarerecolheroselementosmaissig-nificativosepassíveisdefornecerinformação.
Aindaquetenhamosdelidarapenascomdadosresultantesderecolhasdesuperfície,oestudodovolumedeinformaçãoaferidopermiteavançarcomalgumashipótesesdetrabalho,emparticu-larnoquedizrespeitoàdiacroniadeocupaçãodaestação1.
Entreaamostragem,compostaporváriascentenasdepeças,destacam-seosfragmentosdeasasbocaisefundosdeânforaspré-romanas.Aprofusãodestesgrandescontentoresatestaaacti-vidadecomercialqueesteantigopovoadoportuáriodoMédioTejo terá tidodesdemeadosdoImilénioa.C.
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Oestudoemcurso,demaisdeumacentenadebocaisdeânforaspré-romanas,permiteterumaamostragemsignificativadotipodeimportaçõesdeprodutosalimentaresqueaquiaportavam.
Aníveldacronologia,asmaisantigasânforasquepudemosrecolherremontamameadosdoséculoVIII/eaoséculoVIa.C.,podendoserincluídasnotipo10.1.2.1.deRamonTorres(1995),compastascujascaracterísticasmacroscópicasnos levama inseri-lasnasproduçõesdaáreadabaíadeCádis(Fig.9).
Apresençadestasânforas,associadasaumfragmentodebojocomarranquedeasadeumaurnatipoCruzdelNegro(Fig.9,n.º7),asasbífidasdepithoi,cerâmicacinzentafinapolidaeumbocaldepratodeengobevermelho(Fig.9n.º6),deixaanteverumaprimeiraocupaçãodosítiocoetâneacomapresençaorientalizantedaalcáçovadeSantarémecomosgrandespovoadosdafozdoestuário,LisboaeAlmaraz(Arruda,2002).Aesteprimeiromomentodeveráigualmentecorres-ponderumfragmentodecontadepastavítreaoculada,recolhidapelossignatários.
Apesardestaremotaantiguidade,amaioriadoconjuntodainformaçãodisponívelapontaparaumaforteocupaçãodopovoadoapartirdemeadosdoséculoVd.C.perdurandoatéaoséculoIIa.C.Asânforasmelhoresatestadascorrespondemaimportaçõesdostipos:T.1.3.2.4.deRamonTorres(Fig.9,n.º5);B/CdePellicer(Fig.10,n.os8–10);Mañá-PascualA4tardiosemparticulardoTipo 12.1.1.1. de Ramon Torres (Fig.10, n.os11–15 e Fig.11, n.os22–25) e Pellicer d (Fig.11,n.os16–21),(Pellicer,1978;RamonTorres,1995,Arruda,2001;Arruda&alii,2005).
Étambémaestafasemaistardia,quepodemosatribuirovolumedascerâmicascomunsecerâmicascinzentasfinasaquirecolhidas.Entreasprimeirassobressaemosgrandescontentoresdearmazenamento,quejápoucotêmquevercomospithoideinfluênciaoriental(Fig.13).Estesrecipientesevidenciamgrandescapacidadesdearmazenagem,ecaracterizam-seporbocaisvolta-dosparaoexteriordeperfilemesse.Entreosexemplaresrecolhidosalgunsfragmentoseviden-ciam estampilhas de teor geométrico (Fig.13, n.os 35–37). Estes grandes contentores têm bomparalelismo em sítios da Idade do Ferro do interior alentejano e Extremadura associados ao“mundocéltico”(Fabião,1998).
Entreoconjuntodascerâmicascinzentasfinas,encontram-sebemrepresentadososjarrosdebocalbilobado,comumacaracterísticadecoraçãoemreticulabrunida(Fig.15).Peçascomdecora-ções similares foram identificadas em níveis dos finais da Idade do Ferro e da Época RomanaRepublicananaAlcáçovadeSantarém(Arruda,2002),nopovoadodoCastelo,ArrudadosVinhos(Gonçalves,1997),emLisboa(Pimenta,2005;Pimenta&alii,noprelo),emFreiria (Cardoso&Encarnação,2000,p.744),quintadaTorre,Almada(Cardoso&Carreira,1997–1998)enoBaixoSado(Chibanes,Setúbal(Silva&Soares,1997)ePedrão(Soares&Silva,1973).
Emboraestaspeçasconvivamjácomasprimeirasimportaçõesitálicas,osdadosdainterven-çãodaRuadeSãoJoãodaPraça,emLisboa,permitiramrecuaroiníciodasuaproduçãoparaosfinaisdoséculoIIIa.C.ouparaaprimeirametadedoséculoIIa.C.(Pimenta,Calado&Leitão,2005).Possivelmenteaesta fasedeveremos igualmenteatribuirumfundodetaçaemcerâmicacinzentacomumacaracterísticadecoraçãoimpressa(Fig.16).
Apardestasevidênciasmateriaismaisligadasaomundodoquotidiano,recolheu-seàsuper-fícieumapoucousualcolecçãocontasdepastavítrea(Fig.17).Estasnãoevidenciavamqualquerconcentraçãonoterreno,tendo-seidentificadosempreascontasisoladas.Talcomooconjuntojáreferido,queseencontraexpostonoMuseuHipólitoCabaço,ascontasrecolhidassãoconstituí-dasnasuamaioriaporexemplaresdetomazulebranco.Aexcepçãoéumfragmentodeumacontaoculada.
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Fig. 6 VistadorioTejoemPortodoSabugueiro.
Fig. 7 VistadosterrenosentreoPortodoSabugueiroeoCasaldaArchela.
Fig. 8 Pormenordadispersãodemateriaisnoterreno.Aocentro,umbocaldeânforaMañá-PascualA4.
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Fig. 9 Materiaisdaprimeirafasedaocupaçãodopovoado.N.os1a4:ânforasdoTipo10.1.2.1deRamonTorres,deproduçãodaáreadeCádis.N.º5:ânforadotipo1.3.2.4.deRamonTorres,combandavermelhaabaixodobordo.N.º6:pratodeengobevermelho;N.º7:fragmentodeurnatipoCruzdelNegro.
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Fig. 10 N.os8–10:ânforasdoTipoB/CdePellicer;N.os11a15:ânforasMañá-PascualA4evolucionadas,doTipo12.1.1.1.deRamonTorres.
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Fig. 11 N.os16–21:ÂnforasdoTipoddePellicer,doTipo4.2.2.5.deRamonTorres.N.os22a25:ânforasMañá-PascualA4,doTipo12.1.1.1.deRamonTorres.
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Fig. 12 Asasdeânforaspré-romanas.
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Fig. 13 Grandescontentoresdearmazenamentoemcerâmicacomumpré-romana.Osexemplaresn.os35a37apresentamestampilhascommotivosgeométricos.
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Fig. 14 Cerâmicacomumpré-romanadenotandoclarasinfluênciasmediterrânicas.
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Fig. 15 Cerâmicacinzentafinacomdecoraçãoemreticulabrunidacommotivosgeométricos.N.º42formafechadadedifícilclassificação.N.os43–50fragmentosdejarros-Oenochoé.Aasan.º49encontra-sedecoradacompequenasimpressõesformandoumadecoraçãovegetalista.Estaapresentaparalelosnosníveispré-romanosdeConímbriga,Alarcão,1975,plancheLXII,n.º14.
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Fig. 16 Fragmentodefundodetaçaemcerâmicacinzentacomdecoraçãoimpressa.
Fig. 17 Contasdepastavítrea.
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5. Ocupação da Época Romana Republicana
Aexistênciadeumaocupaçãotardo-republicananaáreadeMugefoipelaprimeiravezsuge-ridapeloProfessorJorgedeAlarcão,numabrevereferêncianasuaobradesíntesesobreoPortugalromano:
NolocaldasVillaedoPortodoSabugueiro (Muge)eRepresas (Beja) recolheu-secerâmicacampaniensequeatestaumaocupaçãoanterioraoséculoIa.C.(Alarcão,1987,p.115).
Infelizmente, não se sabe exactamente qual o sítio onde foram identificados os materiaismencionados.
Maisrecentemente,odr.diasdiogodeuaconheceralgunsmateriaisromanosidentificadosnorionasimediaçõesdeMuge.Entreeles,encontram-seumbocaldeânforavináriaitálica(diogo,1987,Fig.2n.º2),quepoderáestarindirectamenterelacionadocomestanovaestação.
Ostrabalhosquepudemosefectuarlograramidentificar,apardosdadosjáreferidosparaaProto-História,umaimpressionanteocupaçãodaÉpocaRomanaRepublicana,denotandoumafortepresençaitálica.
Aanálisedosdadosdesuperfície,eemparticulardadispersãodoselementoscerâmicos,leva--nosasuporumasobreposiçãoparcialdosdoissítios,aindaqueaestaçãorepublicanaseestendamaisparanortedaestrada,ouseja,paraoscampospertencentesjáaoconcelhodeAlmeirim.
Faceaosdadosdequedispomos,éevidentequeoantigopovoadoportuárioda IdadedoFerrodoPortodoSabugueironãoficouimuneaosprimeirosmomentosdoprocessodeconquistados exércitos de Roma. As evidências materiais dessa interacção são aliás bastante precoces,podendoremontaràprimeirafasedapresençaitálicanovaledoTejo.
Aindaqueestejamosalidarcomrecolhasdesuperfície,asevidênciassãocoerentesehomo-géneas,encontrandoparalelosnasassociaçõesdeimportaçõesatestadasparaoportodeLisboa(Pimenta,2005)eemrecolhasdesuperfícienosítiodeChõesdeAlpompé(Fabião,1989;diogo,1993;diogo&Trindade,1993).
Osmateriaisqueatribuímosaestafasesãocompostosessencialmenteporinúmerosfrag-mentosdeânforas,apardealgunselementosdecerâmicacampanienseA.Entreasânforas,domi-namdeumaformaesmagadoraoscontentoresdestinadosaotransportedovinhoitálico,estandoatestadosostiposgreco-itálicoedressel1.Ospreparadospiscícolasestãorepresentadospelapre-sençadeânforasdotipoMañáC2b,deproduçãodaáreadoEstreitodeGibraltar(Fig.18).
Chegadosaesteponto,importadetermo-nossobreorealsignificadodestaocupaçãoromanatãoprecoceecomumquadrodeimportaçõestãovincadamenteitálico.Estaremosperanteumacontinuidade de ocupação do antigo povoado portuário da Idade do Ferro? Poderíamos assiminterpretarainformaçãodisponível,comoaprovadainteracçãoqueestascomunidadesestabele-cem com os contingentes militares itálicos no vale do Tejo. Ou estaremos perante repentinamudançanasualógicadepovoamento?Osdadosdaprospecçãosãoaparentementeelucidativos,tendoaáreadoantigopovoadosidoabandonadoprecisamentenestafase.
Oestudodoespólioidentificadoapresenta-sebastantecoerentedopontodevistadacrono-logia,apontandoparaumaocupaçãocentradaemmeadosdoséculoIIa.C.,sendoestacompatívelcomosmovimentosmilitaresatestadospelasfontesclássicasparaestaáreadovaledoTejo,onde,segundoEstrabão,seteriaimplantadoabasedeoperaçõesdogeneralqueficariaconhecidocomooGalaico.
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Fig. 18 MateriaisdaÉpocaRomanaRepublicana.N.os52a55Ânforasgreco-itálicas;N.º56:ânforaMañáC2b;n.º57:taçadeCampanienseA.
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6. Considerações finais
Apesar das diversas referências, algo dispersas na bibliografia da especialidade, às antigasocupaçõeshumanasnaáreadoPortodoSabugueiro,apresentedescobertacomprovaaexistênciadeumanovaestaçãoarqueológica.
Adistânciaaqueestasevidênciasseencontramrelativamenteàáreaidentificadacomovillaromanaeaopossívelcentrodeproduçãooleirocoetâneo,cercade1km,demonstra,anossover,queestamosperantedistintasrealidades.
Trata-seassimdeumaáreacomgrandespotencialidadesarqueológicasepatrimoniais,pos-suindo,faceaosresultadosdasprospecções,umalatadiacroniadeocupação,queseestende,aindaquecomhiatos,desdeoNeolíticoatéàAntiguidadeTardia(Pimenta&Mendes,2009).
Osdadosmaissubstanciaisreportam-seàocupaçãodaIdadedoFerro.Sebemqueestejamosa lidarcominformaçãoprovenientedeprospecções,ovolumedosmateriais recolhidoseasuaanálisecuidadapermitemsuporestarmosperanteaáreadoantigopovoado,quesepresumiaexis-tirnestaárea,dadasasantigasrecolhasaíefectuadas.
Asuaimplantaçãonumaáreadeplaníciealuvionar,semqualquerdefensibilidadenatural,emboracomexcepcionaiscondiçõesdeancoradouronatural,leva-nosainterpretarestaestaçãocomoumpovoadoportuário.Aanálisedassuascaracterísticasgeográficasegeológicasleva-nosasublinharasespecificidadesdestesítio,dentrodoquesesabesobreaIdadedoFerronovaledoTejo.
Seria particularmente interessante, de futuro, realizarem-se estudos geológicos específicossobreaevoluçãodocursodorioTejo,afimdeseperceberaevoluçãodestaáreadelezíriaemmea-dosdoprimeiromilénioa.C.TalvezassimfossemaisclarooporquêdadensidadedepovoamentoemtornodoPortodoSabugueiro;poderíamoseventualmenteestarperanteumaantigailha(mou-chão)doTejo?
AsevidênciasmateriaisrecolhidasapontamparaqueoiníciodasuaocupaçãosesitueemmeadosdoséculoVIIa.C.,denotandofortesinfluênciasorientalizantes.
Aindaque,desdecedo,sejaconhecidaumasignificativaocupaçãodoBronzeFinalnamar-gemesquerdadorioTejonasimediaçõesdeAlpiarça(Vilaça&Arruda,2004),odesconhecimentosobrecomoterãoascomunidadesindígenasinteragidocomapopulaçãofeníciaestabelecidanopovoadodaalcáçovadeSantarémcontinuaaserprofundo.
Não podemos olvidar que do alto da antiga alcáçova de Santarém se domina na margemesquerdadoTejoumazonaextremamentefértilequeestasvastasplaníciesribatejanasdeverãotersidoamplamenteaproveitadasemépocapré-romana.Ospequenospovoadosondeassentariamestasexploraçõesdeveriaminserir-sedentrodeumarededepovoamentosecundária,imprescindí-velparaabastecerdevíveresograndepovoadodomorrodaalcáçovadeSantarém(Arruda,2002).
OpovoadodoPortodoSabugueiro,aparentementedemédiadimensão,poderiaassimterumatriplavertente:agrícola,piscatóriaeportuária.Asuavertentedeportonaturaldeveriaprender--secomaimportânciadanavegaçãodeumTejoentãomuitodiferente,sendoesteomelhormeioparaoescoamentodasriquezasagrícolasepecuárias.TemostambémdeteremcontaquenoPortodoSabugueirosesituaumdospontosdetravessianaturaldorio.
EstepovoadoentraemcontactocomomundoitálicoemmeadosdoséculoIIa.C.nocon-textodaconquistadoterritório.Nãoéaindaclarooquesucedeaosítio.Porém,aausênciademateriaisdoséculoIa.C.leva-nosasuporqueopovoadoéabandonado.
Apósestafase,todaaextensaáreaaquenosreferimoséabandonada,nãoexistindoaparen-tementequalquervestígioposterior.ApenasnasproximidadesdapovoaçãodoportodoSabu-
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gueirosedetectaapresençademateriaiseestruturasdeépocaalto-imperial.Tudolevaasupornestecaso,podermosestarperanteacontinuidadeestruturaldavilla,intervencionadanosanos70peloProfessorAlarcão.
Emjeitodeconclusão,importaressalvarqueumdoselementosmaisperturbantes,resultan-tesdarealizaçãodestetrabalho,foiprecisamenteaconstataçãodaimportânciaarqueológicadetodaestaextensaáreadeterrenosdoPortodoSabugueiroeBenficadoRibatejoedoestadodeameaçadedestruiçãoaqueestesestãosujeitos.
Apardasameaçasinerentesàcontínuapraticaagrícoladaexploraçãointensivadestescam-pos, estes terrenos estão sujeitos à prática depredatória dos caçadores de tesouros munidos dedetectores de metais. Ainda que não tenhamos testemunhado directamente a sua actividadeduranteoperíododaprospecção,erambemvisíveisdiversosburacosespalhadospeloscamposresultantesdasuaactividade,aqualébemtestemunhadapelaspopulaçõesdaaldeiadoPortodoSabugueiroquenosreportaramsernormalasuapresençaaosfinsdesemana.Peranteestasitua-çãoinformámosoIGESPARafimdequefossefiscalizadaestasituação,ficaaquiigualmenteonossoalerta.
Oquefazerperanteumsítiodestanatureza?Éumadasquestõescomquenostemosdeba-tidodesdeasuadescobertaeaolongodaelaboraçãodesteprojecto.Perantearelevânciadoquefoidetectado,algomaistemqueserfeito.
Napossedestesdadosagoraapresentadoseperanteoiminenteestadodedestruiçãoaqueestaestaçãoestásujeita,parece-nosimperativoefectuar-setrabalhosarqueológicosdeescavaçãonoterrenoafimdeaferirdorealestadodeconservaçãodestajazida.
nOTA
1 FaceàimportânciaintrínsecadoconjuntodemateriaisassimrecolhidoparaoestudodaProto-HistórianovaledoTejo,osdiversostiposserãoalvodeumestudoexaustivoporparte
dossignatários.
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