III Congresso Consad de Gestão Pública
DIAGNÓSTICO DAS AÇÕES JUDICIAIS
DIRECIONADAS À SECRETARIA DE ESTADO DA
SAÚDE DO ESPÍRITO SANTO
Geruza Rios Pessanha Tavares Daniela de Mello Silva
Patricia Campanha Barcelos Cíntia Ribeiro
Graziany Leite Moreira
Painel 09/035 Gestão e articulação de atores
DIAGNÓSTICO DAS AÇÕES JUDICIAIS DIRECIONADAS À SECRETARIA DE ESTADO
DA SAÚDE DO ESPÍRITO SANTO
Geruza Rios Pessanha Tavares Daniela de Mello Silva
Patricia Campanha Barcelos Cíntia Ribeiro
Graziany Leite Moreira
RESUMO A área de medicamentos se constitui em um setor muito visado em especial em conseqüência ao montante considerável de recursos financeiros aplicados na mesma e às crescentes inovações tecnológicas, que muitas vezes não provocam impacto na mudança de perfil da saúde da população. Apesar da Política Estadual de Assistência Farmacêutica implantada em 2007, da lista de medicamentos disponibilizada pelo Estado do Espírito Santo, da estruturação de Centros de Referência, da elaboração de Protocolos Clínicos e Terapêuticos e da criação do Fórum Intersetorial Permanente de Assistência Farmacêutica do Estado do Espírito Santo (FIPAFES), as ações judiciais vêm sofrendo incremento nos últimos anos, panorama este que não difere daquele identificado no nível nacional. O processo de judicialização da saúde, além de impactar de forma crescente os custos do sistema e interferir no cumprimento de metas estabelecidas no planejamento da saúde, favorece, na maioria das vezes, o individual em detrimento do coletivo. O fornecimento de medicamentos ocupa lugar de destaque nas demandas judiciais, muitas vezes, sem qualquer evidência de eficácia e segurança do tratamento solicitado e com definição equivocada do pólo passivo para cumprimento dessas decisões. Essa constatação fez com que a Secretaria de Estado da Saúde do Espírito Santo (SESA) buscasse conhecer detalhadamente essas demandas a fim de monitorá-las e traçar ações estratégicas para seu enfrentamento. O objetivo deste trabalho é construir o perfil das demandas judiciais referentes ao fornecimento de medicamentos essenciais e excepcionais impetradas em favor da SESA, permitindo a partir daí a definição de estratégias de enfrentamento do processo de judicialização na área de medicamentos. A metodologia utilizada foi estudo descritivo por meio da coletas de dados utilizando-se como fonte os processos de ações judiciais referentes ao fornecimento de medicamentos no período de janeiro a setembro de 2009, em que se levou em consideração as seguintes variáveis: a classificação dos medicamentos em padronizados e não padronizados ambos referentes a medicamentos da atenção básica e excepcionais e medicamentos oncológicos; origem das petições por município, origens jurisdicionais das decisões, origem do patrocínio das petições iniciais, número de decisões judiciais e valores gastos com as ações judiciais. Os resultados encontrados demonstram que: em relação à classificação de medicamentos, observou-se que 70% foram medicamentos não contemplados na Relação Estadual de Medicamentos Essenciais e Medicamentos Excepcionais (REMEME) (27% referentes a medicamentos da atenção básica e 43% a medicamentos excepcionais), ou seja, medicamentos considerados
não padronizados, 8% de oncológicos e 22% medicamentos que constam na lista da REMEME, isto é, padronizados (4% da atenção básica e 18% de excepcionais), sendo que esses últimos muitas vezes para CID não autorizados nos Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas do Ministério da Saúde. Quanto aos municípios de origem, constatou-se que 44% das ações judiciais propostas contra a SESA, bem como a maioria das decisões referentes aos medicamentos da atenção básica, provém de um único Município. Os resultados identificados corroboraram a necessidade de implementar as ações estratégicas anteriormente identificadas: elaboração e atualização de Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas para determinados agravos; ampliação da estruturação de Centros de Referência e direcionamento das ações do Fórum Intersetorial Permanente de Assistência Farmacêutica. Conclui-se então que é necessário que se tenha um diagnóstico correto da judicialização, no caso específico da assistência farmacêutica, que permita o monitoramento e consequentemente a tomada de decisões adequadas. Entende-se que a despeito da judicialização ter surgido no sentido de garantir e promover um direito constitucional do cidadão, que é o direito social à saúde, a não observância aos Protocolos Clínicos e Terapêuticos existentes, a desconsideração por parte dos prescritores com a Relação Oficial de Medicamentos disponibilizada, sejam estes essenciais ou excepcionais, a omissão de responsabilização de cada ente da federação naquilo que é de sua competência, bem como a não valorização das melhores evidências cientificas disponíveis que confirmem a eficácia e segurança dos medicamentos, sem sombra de dúvida irá comprometer a equidade no acesso, o uso racional de medicamentos no Sistema Único de Saúde (SUS) e o planejamento elaborado para garantir a implantação da Política de Assistência Farmacêutica.
SUMÁRIO
I INTRODUÇÃO......................................................................................................... 04
II A ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO............ 07
III A JUDICIALIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO............................................................................................... 12
IV OBJETIVOS........................................................................................................... 15
4.1 Gerais................................................................................................................... 15
4.2 Específicos........................................................................................................... 15
V METODOLOGIA..................................................................................................... 16
VI RESULTADOS...................................................................................................... 17
VII CONCLUSÃO....................................................................................................... 28
VIII REFERÊNCIAS................................................................................................... 29
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I INTRODUÇÃO
A Assistência Farmacêutica é uma das áreas da saúde mais complexa,
em especial pelo volume extraordinário de recursos financeiros que são anualmente
aplicados no setor. Prova disto é que no ano de 2009 o Governo do Estado do
Espírito Santo aplicou na assistência farmacêutica o montante de 107 milhões de
reais, o que corresponde a 9,4% do montante do recursos da saúde.
O presente trabalho tem como tema central o diagnóstico das ações
judiciais direcionadas a Secretaria de Estado da Saúde do Espírito Santo no que se
refere especificamente ao fornecimento de medicamentos. O número de pessoas
que recorrem à justiça para obtenção de medicamentos vem crescendo ano a ano,
em especial em conseqüência à incorporação de novas tecnologias na área da
saúde, pressão da indústria farmacêutica em relação aos prescritores e acesso mais
fácil dos usuários aos operadores do direito. De acordo com Vieira e Zucchi (2007) a
judicialização vai de encontro à tendência internacional de racionalizar o uso das
tecnologias na área da saúde, e ao investimento dos escassos recursos públicos
que devem priorizar os princípios éticos do Sistema Único de Saúde (SUS), em
especial o princípio da universalidade e não individuais.
Apesar das estratégias implementadas pela SESA no sentindo de reduzir
os hiatos assistenciais, por meio da definição da relação de medicamentos a serem
disponibilizados para a população, e estabelecer a regulação da dispensação de
medicamentos, o incremento das demandas judiciais se manteve. Esse incremento
fez com que a Secretaria de Estado da Saúde do Espírito Santo (SESA) acendesse
a luz amarela, tendo em vista que a possibilidade de comprometimento do
orçamento destinado à Assistência Farmacêutica tornou-se cada vez mais real. Além
desse comprometimento, causa preocupação ao Estado a obrigatoriedade por estas
ações do fornecimento, muitas vezes, de medicamentos sem evidência de real
benefício para o paciente, outras de fármacos sem eficácia cientificamente
comprovada. Corroborando com a preocupação nacional e internacional, a SESA
baseia as suas ações estratégicas no uso racional de medicamentos, na
disponibilização de medicamentos selecionados utilizando-se para tal das melhores
evidências científicas disponíveis e do critério de segurança.
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O aumento das decisões judiciais, desrespeitando uma lista de
medicamentos pré-selecionados e disponíveis para a população, um planejamento
realizado com definição de metas a serem alcançadas com recursos previstos para
o alcance das mesmas, ameaça qualquer política de saúde que se queira implantar.
Para entender melhor essas decisões e traçar ações estratégicas para o
seu enfrentamento é necessário que se conheçam detalhadamente as demandas
judiciais. Assim, até o ano de 2008, para o acompanhamento e monitorização
dessas demandas não havia indicadores específicos que permitissem um
diagnóstico mais preciso bem como o acompanhamento das ações judiciais e seu
impacto financeiro no orçamento da Assistência Farmacêutica. Já se sabia do
aumento em termos percentuais e absolutos do gasto com medicamentos não
padronizados. Porém não havia uma separação do que era referente à judicialização
daqueles medicamentos que a SESA libera, mesmo não estando contemplados na
lista, após análise individual dos processos (SESA/GEAF/SIGAF, 2008).
Com a informatização do Núcleo de Armazenamento, Controle e
Distribuição de medicamentos (NACD), setor que compõe a estrutura organizacional
da Gerencia Estadual da Assistência Farmacêutica (GEAF) e a definição pelo
MV2000i1 de um campo destinado às informações dos medicamentos liberados por
força de mandado judicial, a partir de agosto de 2008, tornou-se possível conhecer
os números tanto em quantidade quanto em valores financeiros dos itens fornecidos
por meio das demandas judiciais.
Porém, apenas identificar quantitativo e valores dos medicamentos
fornecidos não seria suficiente para o diagnóstico dessas decisões, de onde
proviam, para que tipo de medicamentos, a fim de que, a partir daí, fosse possível o
monitoramento bem como a definição das estratégias a serem adotadas. Fez-se
necessário a construção de indicadores que permitissem esta análise e
acompanhamento.
Desta forma, a partir de dezembro de 2008, passaram a ser adotados
alguns indicadores como:
1 Sistema Informatizado de Gestão de Produtos adotado pelo GEAF/NACD.
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� Origem das receitas (SUS ou particular);
� Município de Origem dos pacientes de mandados judiciais;
� Órgão de origem das petições iniciais (Defensoria, Ministério Público,
Escritório particular, outros);
� Responsáveis pelas Decisões (Juiz Estadual, Juiz Federal,
Desembargador);
� Classificação dos medicamentos demandados judicialmente (indica se
o medicamento é padronizado, não padronizado, da atenção básica,
excepcional, oncológico ou antiretroviral);
Este trabalho irá demonstrar, por meio da análise destes indicadores, um
diagnóstico das demandas judiciais impetradas em favor da Secretaria de Estado da
Saúde do Espírito Santo, o que contribuirá para a definição das estratégias para
enfrentamento deste problema, de forma a colaborar no processo de gestão da
Assistência Farmacêutica no âmbito do Estado do Espírito Santo.
7
II A ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
A Assistência Farmacêutica apresenta-se como uma área estratégica
para os sistemas de saúde, na medida em que o medicamento representa uma das
principais ferramentas de intervenção sobre grande parte das doenças e agravos
que acometem a população. (ESPIRITO SANTO, 2007b)
Alguns desafios nessa área merecem destaque. Entre eles, o de ampliar
o acesso da população aos medicamentos – tanto os essenciais como os
excepcionais – em especial para aquela camada menos favorecida da sociedade.
Diante da importância da estruturação da Assistência Farmacêutica, o
Governo do Estado do Espírito Santo, por meio da Secretaria de Estado da Saúde
(SESA), em parceria com diversas outras instituições, realizou um diagnóstico
estadual da Assistência Farmacêutica na Atenção Primária em Saúde. Em paralelo,
a equipe da SESA também realizou esse diagnóstico no campo dos medicamentos
excepcionais e da farmácia hospitalar. (ESPIRITO SANTO, 2007b)
A partir desses estudos, O Espírito Santo elaborou sua Política de
Assistência Farmacêutica, publicada em 2007, por meio do Decreto no 1956-R. O
grande desafio dessa Política Farmacêutica que se encontra em permanente
construção, é garantir o acesso a fármacos com qualidade, promovendo o seu uso
racional e proporcionando a humanização no atendimento prestado aos seus
usuários, em especial por meio do atendimento farmacêutico especializado e
farmácias com estruturas modernas e confortáveis. Assim, contempla projetos
inovadores como: a elaboração da Relação Estadual de Medicamentos Essenciais e
Excepcionais (REMEME); formulação e implantação do Projeto Farmácia Cidadã;
estruturação de Centros de Referência (Auditorias Clínicas); criação e atuação do
Fórum Intersetorial Permanente de Assistência Farmacêutica (FIPAFES). Estes
projetos idealizados e estruturados pela Gerência Estadual de Assistência
Farmacêutica do Estado do Espírito Santo serão detalhados a seguir.
A REMEME é a Relação Estadual de Medicamentos Essenciais e
Medicamentos Excepcionais, publicada em novembro de 2007 baseando-se na
última edição da Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME) do
Ministério da Saúde, bem como na 15a Lista Modelo da Organização Mundial da
Saúde (OMS) de 2007. Os medicamentos foram selecionados segundo critérios de
8
relevância em saúde pública, evidências de eficácia e segurança e estudos
comparativos de custo-efetividade. Este instrumento tem o objetivo de facilitar o
acesso da população a um conjunto de apresentações farmacêuticas necessárias às
ações de prevenção, promoção e recuperação da saúde, e orientar a padronização,
prescrição, dispensação e abastecimento de medicamentos, particularmente no
âmbito do Sistema Único de Saúde.
A REMEME ampliou significativamente a lista de medicamentos
disponibilizados à população capixaba. O número de medicamentos essenciais
aumentou de 72 para 209 itens de dispensação (sem contar com os medicamentos
dos programas estratégicos) desde a sua publicação em 2007. Já os medicamentos
excepcionais foram ampliados de 133 para 179 itens. Hoje, a lista atual contempla
185 apresentações farmacêuticas.
Desta forma, a REMEME vem acabar com muitos vazios assistenciais, ou
seja, incluiu medicamentos para doenças que não possuíam tratamento previsto,
melhorando a qualidade da assistência ao usuário e ampliando o acesso aos
medicamentos, o que contribui para uma redução da procura por acesso a
medicamentos através da via judicial.
Esta Relação de medicamentos não deve, de forma alguma, ser
estanque. Precisa de atualizações permanentes à luz da evolução do
conhecimento científico e do perfil de morbidade e mortalidade do Estado. Para ter
resultados produtivos, deve ser entendida e acatada pelos prescritores,
desestimulando-se a prescrição de fármacos ajuizados como desnecessários, pela
existência de alternativas mais racionais já relacionadas na lista estadual.
(ESPIRITO SANTO, 2007c) Para tanto, no segundo semestre de 2010 terá início o
processo de revisão da REMEME realizado pela Comissão Estadual de
Farmacologia e Terapêutica (CEFT).
Em conformidade com a melhoria prestada à população no acesso aos
medicamentos, surgiu a necessidade de aprimorar a qualidade dos serviços
ofertados aos mais de 46 mil usuários de medicamentos excepcionais do estado,
pois as condições das farmácias de dispensação de medicamentos excepcionais
eram deficientes. Desta forma, a Secretaria Estadual de Saúde promoveu a
implantação do Projeto Farmácia Cidadã, que trouxe ao Estado um conceito
moderno em farmácia pública.
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Trouxe como benefícios estrutura física ampla, climatizada e moderna,
atendimento farmacêutico especializado e humanizado, informatização, agilidade,
contratação e capacitação de RH e a melhoria do sistema de comunicação com os
usuários, por meio de torpedos e Internet e alto grau de satisfação dos usuários.
Apesar de todas as medidas adotadas pela SESA visando à ampliação do
acesso da população aos medicamentos, os prescritores insistem na indicação e
prescrição de medicamentos que não constam na REMEME, mas que possuem
substitutos, ou seja, não se constitui de um hiato assistencial.
Certamente, essa ampliação do acesso da população aos tratamentos com
medicamentos excepcionais é desejada e de grande importância, desde que aconteça
em conformidade com os Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas. Todavia,
existem prescritores que insistem em solicitar medicamentos para situações não
autorizadas, sem comprovação científica, assim como prescrevem esquemas de
tratamento com doses acima daquelas preconizadas pela literatura. Nesse contexto,
destaca-se o número crescente das ações judiciais para obrigar o Estado a fornecer
os medicamentos selecionados para as referidas indicações não autorizadas, assim
como para fornecer produtos não selecionados (TAVARES et al., 2009).
Esta Secretaria defende que o Estado não pode se eximir de garantir ao
cidadão o direito à vida e à saúde, mediante o fornecimento dos remédios essenciais
para o tratamento, previsto em lista própria; contudo, caso a situação de dado
paciente imponha tratamento que exija fármaco não incluído na relação padrão, pois
nela não há nenhum que lhe sirva, necessário se faz que haja justificativa plausível
para ensejar a tutela diferenciada, não bastando para tanto a mera alegação do
médico particular desacompanha de justificativa técnica.
Deve-se partir do pressuposto de que a Relação Estadual dos
Medicamentos Essenciais e Excepcionais (REMEME) prevê, a priori, o fármaco
adequado para o tratamento da mazela que aflige o paciente, e não o oposto. Se
realmente nenhum dos medicamentos padronizados é adequado, deve o Estado
providenciar aquele que o seja, mas, para que assim se proceda, é preciso que haja
um mínimo de prova para tanto.
Para conter essas ações e estruturar um sistema de regulação de
dispensação de medicamentos excepcionais foram estruturados a Comissão
Estadual de Farmacologia e Terapêutica (CEFT), os Centros de Referência
Estaduais e o Fórum Intersetorial Permanente de Assistência Farmacêutica do
Espírito Santo (FIPAFES) sendo a estruturação deste último, abordada mais adiante.
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A Comissão Estadual de Farmacologia e Terapêutica (CEFT) tem como
funções atualizar periodicamente o elenco de medicamentos da REMEME, participar
da elaboração de protocolos clínicos para situações especiais, não contempladas
nos Protocolos do Ministério da Saúde e avaliar as solicitações de medicamentos
não padronizados, originadas das farmácias de dispensação de medicamentos
excepcionais.
A publicação da REMEME em 2007 foi fruto de uma das ações da CEFT,
bem como a elaboração dos seguintes protocolos em conjunto com a Secretaria
Estadual de Saúde: Protocolo Clínico para Manejo das Dislipidemias e Uso das
Estatinas, Normas Técnicas e Fluxos Administrativos da Toxina Botulínica, Protocolo
Clínico para o Tratamento do Glaucoma , Diretrizes Terapêuticas para o Manejo da
Asma Não Controlada, Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para o Manejo da
DPOC, Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Dispensação do Análogo de
Insulina de Longa Duração (Glargina).
A estruturação dos Centros de Referência surgiu da necessidade de
implantar um sistema de regulação da prescrição e promoção do uso racional de
medicamentos fornecidos pelas Farmácias Estaduais de Medicamentos
Excepcionais. Os Centros de Referência são constituídos por um mínimo de 02
(dois) e o máximo de 04 (quatro) profissionais médicos especialistas, que realizam
as auditorias clínicas, emitindo parecer técnico das avaliações realizadas, a partir de
seu conhecimento técnico, devidamente embasado em evidências científicas, assim
como nos Protocolos Clínicos existentes. Contribuem ainda, por meio de pareceres
técnicos emitidos, na defesa do Estado frente às ações judiciais impetradas contra a
Secretaria de Estado da Saúde. Em alguns Centros de Referência são realizadas
aplicações de medicamentos biológicos, que contam também com profissional
enfermeiro e técnico de enfermagem. Funcionam tanto em estabelecimentos da rede
própria estadual de saúde quanto em instituições públicas e/ou filantrópicas, por
meio de convênios.
O Estado do Espírito Santo conta atualmente com os seguintes Centros
de Referência:
� Centro de Referência em Doenças Reumáticas, com serviço de
aplicação de biológicos para tratamento de Artrite Reumatóide.
Atualmente em funcionamento no Hospital Universitário Cassiano
Moraes (HUCAM).
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� Centro de Referência em Distonias e Espasticidades, com serviço de
aplicação de toxina botulínica. Funciona no Centro de Reabilitação
Física do Estado do Espírito Santo (CREFES) e no hospital filantóprico
Santa Casa de Misericórida de Vitória.
� Centro de Referência em Asma Grave e Doença Pulmonar Obstrutiva
Crônica (DPOC), com serviço de aplicação do Omalizumabe no
Hospital Santa Casa de Misericórdia de Vitoria. Estes Centros
funcionam no Centro Regional de Especialidades Metropolitano e no
Hospital Infantil Nossa Senhora da Glória.
� Centro de Referência em Hepatite C.
� Centro de Referencia em Fibrose Cística, em funcionamento no
Hospital Infantil Nossa Senhora da Glória.
� Centro de Referencia em Oftalmologia e tratamento do Glaucoma, em
funcionamento no HUCAM.
� Serviço de auditoria clínica com médicos especialistas em cardiologia e
endocrinologia no tratamento das Dislipidemias.
� Serviço de auditoria clínica com médico especialista em endocrinologia
para utilização e dispensação do análogo de insulina de ação
prolongada.
� Serviço de Referência em Aplicação do Palivizumabe (medicamento
utilizado na prevenção de infecção pelo vírus sincicial), em
funcionamento no Hospital Infantil e Maternidade Alzir Bernardino Alves
(HIMABA).
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III A JUDICIALIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA NO ESTADO DO
ESPÍRITO SANTO
A judicialização do fornecimento de medicamentos se fortaleceu,
particularmente nos últimos cinco anos, com a introdução e a pressão para
incorporação de novas tecnologias no campo da saúde (ENSP, 2008a; ENSP, 2008b).
No Espírito Santo, o impacto gerado pelo aumento das demandas
judiciais, começou a ser notado no ano de 2004. No entanto, nesta ocasião, o
Estado vivia um contexto de desorganização e ineficiência na gestão, bem como,
ainda não havia sido instituída a atual Política Farmacêutica e a Relação Estadual
de Medicamentos.
Diante do incremento das demandas judiciais, a Gerência Estadual de
Assistência Farmacêutica, buscou a realização de novas medidas buscando conter o
avanço da judicialização por medicamentos. Uma destas medidas foi tentar junto
aos médicos prescritores a substituição dos medicamentos prescritos por outros
disponíveis na rede.
No ano de 2007, quando foi lançada a Política de Assistência
Farmacêutica e a Relação de Medicamentos Essenciais e Excepcionais (REMEME),
a Gerência Estadual de Assistência Farmacêutica (GEAF) estruturou também o setor
de judicialização da Secretaria Estadual de Saúde do Espírito Santo. O setor de
judicialização é composto por duas farmacêuticas, uma advogada, um estagiário de
farmácia, além de quatro funcionários para apoio administrativo. Conta com duas
linhas telefônicas exclusivas para atendimento a Defensores Públicos, Promotores,
Procuradores e membros do Poder Judiciário. Este setor tem como finalidade
atender as demandas judiciais, assim como orientar e fornecer subsídios ao
Ministério Público, Promotoria, Procuradoria e Poder Judiciário sobre questões
relacionadas a medicamentos, tais como acesso, disponibilidade, indicação, eficácia
e segurança. Tem por objetivo garantir que os medicamentos disponibilizados sejam
de boa qualidade, tenham eficácia comprovada em evidências científicas e sejam
previstos nos Protocolos e Diretrizes Clínicas do Ministério da Saúde e nas normas
da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).
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No ano de 2007, a Assistência Farmacêutica buscou estreitar o diálogo
com o judiciário e com o Ministério Público, buscando resolver administrativamente
as demandas, evitando que chegassem à via judicial, bem como fornecendo
semanalmente os índices de cobertura em medicamentos excepcionais
padronizados no almoxarifado de medicamentos desta Secretaria, e posteriormente,
o índice de abastecimento em medicamentos nas Farmácias Estaduais de
Medicamentos Excepcionais (atual Componente Especializado).
Ocorre que até o ano de 2008, a GEAF não possuía indicadores
específicos que permitissem avaliar e acompanhar o perfil e o impacto das
demandas judiciais, apesar de o gasto com a aquisição dos medicamentos ter
saltado de 6% para 20% do gasto total com medicamentos adquiridos pela SESA.
Desta forma, a partir de dezembro de 2008, foram criados os indicadores
de demandas judiciais, por meio da alimentação de um banco de dados em planilha
do excel, de acordo com as novas decisões judiciais que vinham chegando ao setor
de judicialização. Desta forma, conseguimos vislumbrar claramente as ações que
deveriam ser adotadas no intuito de conter o aumento das demandas judiciais.
Merece destaque, a estruturação do Fórum Intersetorial de Assistência
Farmacêutica, pelo poder de estreitamento das relações entre o Judiciário e a
Saúde e pela defesa da Política e da importância da tomada de decisão embasada
em evidências.
O Fórum é um espaço democrático e participativo dos vários segmentos
da sociedade relacionados com a Assistência Farmacêutica, que deverão atuar em
favor do atendimento de qualidade do SUS e do interesse público.
Seu objetivo principal é conduzir a implementação da Política
Farmacêutica do Estado do Espírito Santo, objetivando a garantia do seu propósito
maior de prover o acesso equânime a medicamentos essenciais e excepcionais de
qualidade, em todos os níveis de atenção à saúde, cuidando de promover o seu uso
racional e a humanização do atendimento prestado aos seus usuários.
Este Fórum, instituído pelo Governador do Estado do Espírito Santo por
meio do Decreto n° 1956-R, de 07 de novembro de 2007 (ESPÍRITO SANTO,
2007a), busca promover e garantir o debate público com esclarecimentos políticos,
técnicos e científicos sobre as questões levantadas pelos membros que compõe o
Fórum segundo suas próprias experiências institucionais, para gerar uma nova
14
consciência sobre as questões éticas e sobre a responsabilidade dos profissionais
de saúde e do Poder Judiciário com o cidadão que é o destinatário de todas as
nossas ações e políticas de saúde, assim como elaborar moção pública para
fundamentar ações mais específicas junto a SESA e junto ao Poder Judiciário, a
partir do diálogo inaugurado com os demais órgãos e entidades integrantes do
FIPAF (TAVARES et al., 2009).
O Fórum é composto por membros do Poder Executivo Estadual (SESA),
Procuradoria Geral do Estado do Espírito Santo (PGE), Defensoria Pública Estadual,
Poder Executivo Municipal – Conselho de Secretários Municipais de Saúde do
Estado do Espírito Santo (COSEMS) –, Poder Judiciário Estadual, Usuários
(Conselho Estadual de Saúde) e Ministério Público Estadual.
São propostas permanentes do Fórum: o termo de pactuação com o
Poder Judiciário, orientando o encaminhamento prévio para perícias em Centros de
Referência, a criação de Varas Especializadas em Ações de Saúde para atender as
macro-regiões, termo de pactuação com os Municípios para assumirem a sua
responsabilidade, e o termo de pactuação com as Defensorias Públicas para que
estas ajuízem as demandas observando as competências e os protocolos
(TAVARES et al., 2009).
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IV OBJETIVOS
4.1 Gerais
Realizar um diagnóstico das demandas judiciais para fornecimento
medicamentos, padronizados e não padronizados, impetradas contra a Secretaria
de Estado da Saúde do Estado do Espírito Santo no período de janeiro a
setembro de 2009.
4.2 Específicos
1. Realizar o acompanhamento e monitorização dos indicadores de
demandas judiciais da Secretaria de Estado da Saúde do Espírito
Santo no período de janeiro a setembro de 2009.
2. Realizar análise do impacto financeiro gerado pelas demandas judiciais
impetradas contra a Secretaria de Estado.
3. Implementar ações estratégicas buscando conter a demanda por novas
ações judiciais.
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V METODOLOGIA
A unidade de análise do estudo é a ação judicial, movida pelo cidadão
contra a Secretaria de Estado da Saúde do Espírito Santo, sobre a qual o sistema
judiciário já se manifestou exigindo o fornecimento dos medicamentos que foram
requeridos.
Os dados necessários à descrição da evolução dos processos judiciais
foram levantados junto ao banco de dados do Sistema de Informações Gerenciais
da Assistência Farmacêutica da Secretaria de Estado da Saúde do Espírito Santo.
Foram analisados os novos mandados judiciais submetidos à SESA/GEAF no
período de janeiro a setembro de 2009, por meio da alimentação de um banco de
dados, construído em uma planilha do software EXCEL.
Este banco de dados possui as seguintes informações: classificação dos
medicamentos segundo categorização específica da GEAF, qual seja: a)
Padronizado da Atenção Básica, b) Não Padronizado da Atenção Básica, c)
Padronizado Excepcional, d) Padronizado Excepcional com CID Não Autorizado
pelo Ministério da Saúde, e) Não Padronizado Excepcional, f) Oncológico; origem
das petições por município; origens jurisdicionais das decisões (Juiz Estadual, Juiz
Federal, Desembargador) e origem do patrocínio das petições iniciais (Defensoria
Pública, Ministério Público, advogado particular, outros).
Desta forma, buscamos identificar, classificar e analisar as demandas
judiciais impetradas contra a Secretaria de Estado da Saúde do Espírito Santo
referentes ao fornecimento de medicamentos, no período de janeiro a setembro
de 2009.
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VI RESULTADOS
Nesta última parte do trabalho apresentaremos os dados coletados
referentes às ações judiciais propostas no período de janeiro a setembro de 2009
contra a Secretaria de Estado da Saúde do Espírito Santo, tendo como objeto o
fornecimento de medicamentos.
Nessas condições, através dos dados coletados, identificamos e
analisamos neste período 360 novas ações judiciais.
Destaca-se que, em alguns casos, as ações são propostas não só contra
o Estado do Espírito Santo, mas também contra o Município no qual reside o autor
da ação.
Devemos ressaltar que em algumas ações também são pleiteados outros
itens além de medicamentos, tais como alimentos, camas hospitalares, cadeiras de
rodas, luvas descartáveis, seringas, sondas, fraldas descartáveis, aparelhos para
medir glicose, entre outros.
Os autores das ações são indivíduos que buscam ter garantido o
fornecimento de determinado medicamento que alegam não lhes ter sido entregue
pelo órgão do Poder Executivo responsável pelas ações de saúde naquela
localidade sob o fundamento legal do direito à saúde, previsto no artigo 196 e da
Constituição Federal e regulamentado pela Lei no 8.080/90. Em outras palavras,
pode-se dizer que estas ações judiciais seriam medidas tomadas individualmente
pelo cidadão na busca pela efetivação, através do Poder Judiciário, de um direito
previsto constitucionalmente.
Em relação à classificação de medicamentos, observou-se que de um
total de 501 medicamentos solicitados, 72% foram medicamentos não padronizados,
sendo 40,3% classificados como excepcionais e 31,7% classificados como da
atenção básica (Gráfico 1). Constatou-se ainda que 7,8% são medicamentos
antineoplásicos, de uso oncológico, cujo fornecimento pelo SUS é feito por meio dos
Centros de Alta Complexidade em Oncologia (CACON), vinculado à atenção integral
ao paciente, mediante a destinação de recursos financeiros específicos. A simples
dispensação dos medicamentos de uso oncológico ao paciente distorce a lógica da
integralidade das ações, retirando recursos para a aquisição de medicamentos
usados na atenção primária e de média complexidade e forçando a incorporação de
novas tecnologias, muitas vezes de eficácia duvidosa.
18
7,8%
10%
5,8%
4,4%
31,7%
40,3%Não Padrão Execpcional
Não Padrão Atenção Básica
Padronizado Atenção Básica
Padronizado Excepcional (CID NãoAutorizado)
Padronizado Excepcional (CIDAutorizado)
Oncológicos
Gráfico 1: Classificação dos Medicamentos constantes das Decisões Judiciais Nota: O número total de medicamentos solicitados de janeiro a setembro de 2009 foi 501.
Dos medicamentos antineoplásicos adquiridos via ação judicial, a maioria
deles sequer possui registro na ANVISA para o tratamento da patologia em que são
prescritos, e a maior parte carece de mais ensaios clínicos controlados
randomizados que fundamentem sua eficácia. Em resumo, são gastos recursos com
medicamentos que, em sua maioria, não apresentam evidências científicas de
benefício aos pacientes. Com todas as dificuldades de gerenciar a escassez de
recursos frente à demanda crescente, que os sistemas de saúde universais
enfrentam, o SUS não está se omitindo em atender aos pacientes portadores de
câncer. A organização da rede para o atendimento dessa doença já existe, bem
como o fornecimento de medicamentos. A questão é a exigência de se tratar câncer
com o uso do medicamento A ou B, que muitas vezes não têm evidências fortes de
sua eficácia e segurança, o que revela preferências e sugere influência pesada de
mecanismos de mercado. Ainda, por imposição de ações judiciais, o SUS está
adquirindo medicamentos sem registro no País.
Verificou-se também que 21% dos itens solicitados fazem parte de listas
de medicamentos disponibilizados pelo SUS no âmbito municipal e estadual. Destes,
4,4% pertencem ao elenco de medicamentos da atenção básica, sob
responsabilidade de fornecimento municipal, e 15,8% pertencem ao elenco de
19
medicamentos excepcionais (10% com CID autorizado pelo órgão do Ministério da
Saúde e 5,8% com CID não autorizado), sob responsabilidade de fornecimento
estadual. Estes percentuais levam a crer que em algum momento pode ter ocorrido
falha no serviço público estadual e/ou municipal, no que se refere à garantia de
acesso aos medicamentos. Ou, mais provavelmente, pode ter havido
desconhecimento do prescritor ou requerente sobre a disponibilidade dos
medicamentos padronizados e disponibilizados pelas Secretarias Municipais e
Secretaria Estadual.
Quanto aos municípios de origem, constatou-se que 54,4% das ações
judiciais propostas contra a Secretaria de Estado da Saúde, bem como a maioria
das decisões referentes ao fornecimento de medicamentos da atenção básica,
provêm do município de Cachoeiro de Itapemirim, que corresponde a apenas 12%
da população do Estado do Espírito Santo. Já o município de Vitória, onde reside
22% da população do Estado, foi responsável por 16,4% das demandas judiciais,
enquanto o município de Linhares foi responsável por 9,2% e Colatina por 6.4% das
decisões (Gráfico 2).
Portanto, o alto percentual de ações judiciais provenientes do município
de Cachoeiro de Itapemirim, quando comparado à sua população e aos demais
municípios nos causa preocupação, assim como a urgente necessidade de traçar
uma estratégia de intervenção neste município.
20
0,3%
0,3%
0,3%
0,3%
0,3%
0,3%
0,6%
0,3%
0,3%
0,3%
0,3%
0,3%
1,1%
0,3%
0,6%
0,6%
0,6%
1,4%
2,2%
3,3%
6,4%
9,2%
16,4%
54,4%Cachoeiro de Itapemirim
Vitoria
Linhares
Colatina
Vila Velha
SantaTereza
Bom Jesus
Apiacá
Cariacica
Venda Nova
São Mateus
Alfredo chaves
Viana
Serra
Castelo
Guacuí
Conceção de Castelo
Itaguaçu
Vargem Alta
Fundão
Afonso Cláudio
Marilândia
Aracruz
Muqui
Gráfico 2: Petições Iniciais por Município de origem
Quanto às origens jurisdicionais das decisões judiciais, verifica-se que a
maioria delas (89%) está vinculada a Juízes Estaduais, conforme demonstrado no
gráfico 3. Cabe ressaltar que as demandas judiciais analisadas pertencem ao banco
de dados do governo do Estado do Espírito Santo, e que uma das Varas da Fazenda
Pública (Federal, Estadual ou Municipal) é a responsável pelo julgamento das ações
propostas em face do ente federado. Ou seja, se o município ou a União não forem
condenados, a ação não vai para a Vara Municipal e Federal, respectivamente.
21
89%
6%
5%
Juiz Estadual
Juiz Federal
Desembargador
Gráfico 3: Origens Jurisdicionais das decisões, referentes a medicamentos, propostas em face do Estado do Espírito Santo. Nota: O número total de ações de Janeiro a Setembro de 2009 foi de 360.
Apenas 6% das ações judiciais estão vinculadas aos Juízes Federais, em
primeira instância, e 5% aos Desembargadores, originariamente. Desta forma,
constata-se que deverão ser adotadas estratégias junto aos Juízes do Estado, com
objetivo de minimizar o número de ações vinculadas aos mesmos, principalmente
porque o maior número de ações se concentra em dois juízes responsáveis pelas
Varas da Fazenda Pública Estadual da microrregião de Cachoeiro de Itapemirim.
O gráfico 4 apresenta a distribuição do número de novas ações judiciais
propostas contra o Estado, por mês. Observou-se uma média de 40 ações por mês,
sendo que deve ser ressaltado, contudo, que a partir do mês de setembro de 2009,
este número aumentou para 52 novas ações, bem acima do que vinha sendo
observado nos meses anteriores. É um sinal de alerta para que possamos monitorar
ainda mais de perto o que está gerando este aumento, assim como definir
mecanismos de intervenção.
22
36
23
3436
46 4541
47
52
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set
Gráfico 4: Número de Novas Ações por mês Nota: O número total de novas ações de Janeiro a Setembro foi de 360.
Apesar do município de Cachoeiro de Itapemirim concentrar o maior
número de decisões judiciais impetradas em face da Secretaria de Estado da Saúde,
a região metropolitana de Vitória foi responsável por 42,8% do valor distribuído em
medicamentos de decisões judiciais, conforme demonstrado no Gráfico 5, enquanto
as ações provenientes Cachoeiro de Itapemirim correspondem a 16,8%. Isto se deve
ao fato de que 43,5% das decisões de Cachoeiro são de medicamentos da atenção
básica, como pode ser observado no Gráfico 6, enquanto na região metropolitana a
maioria das decisões trata-se do fornecimento de medicamentos excepcionais (alto
custo) e oncológicos.
23
2.178.830,54
42,8%
807.240,61
15,9%
694.340,44
13,6%
790.882,74
15,5%
403.818,69
7,9%
65.582,53
1,3%
33.620,34
0,7%
117.303,37
2,3%
0,00
500.000,00
1.000.000,00
1.500.000,00
2.000.000,00
2.500.000,00
Metropolitana Cachoeiro deItampemirim
Linhares Vila Velha Colatina Venda Nova São Mateus Outros Setores
Gráfico 5: % do Valor Distribuído em Medicamentos de Demandas Judiciais nas Farmácias Fonte: Sistema MV2000. Nota: Valor total Distribuído em Medicamentos de Demandas Judiciais nas Farmácias de Janeiro a Setembro de 2009 foi de R$ 5.091.619,26.
3,8%
9,2%
5,4%
4,6%
38,5%
38,5%Não PadrãoExecpcional
Não Padrão AtençãoBásica
PadronizadosAtenção Básica
PadronizadoExcepcional (CID Não
Autorizado)
PadronizadoExcepcional (CID
Autorizado)
Oncológicos
Gráfico 6: Classificação dos Medicamentos constantes das Decisões Judiciais do Município de Cachoeiro de Itapemirim Nota: O número total de medicamentos solicitados provenientes do Município de Cachoeiro de Itapemirim de Janeiro a Setembro de 2009 foi de 260.
24
Os resultados identificados corroboraram a necessidade de
implementar as ações estratégicas anteriormente identificadas: elaboração de
protocolos e diretrizes terapêuticas para determinados agravos; estruturação de
centros de referência e criação do Fórum Intersetorial Permanente de Assistência
Farmacêutica.
A grande maioria das ações (77,2%) foi patrocinada pela Defensoria
Pública Estadual, seguido em 10,3% por Advogado Particular, conforme
demonstrado no Gráfico abaixo.
4,2%
10,3%
2,2%
3,6%
2,5%
77,2%Defensoria Pública
Estadual
Defensoria Pública daUnião
Ministério Público Estadual
Ministério PúblicoFederal
Advogado Particular
Outros
Gráfico 7: Origem do patrocínio das petições iniciais, referentes a medicamentos, em face do Estado do Espírito Santo
Este elevado percentual de ações impetradas pela Defensoria Pública do
Estado do Espírito Santo demonstra que a maioria dos indivíduos que não possuem
condições de arcar com seus tratamentos, também não tem condições financeiras
de procurar um advogado particular, vendo a Defensoria como única forma de ter
acesso aos medicamentos necessários ao seu tratamento.
25
Considerando que a maioria dos medicamentos pleiteados em demandas
judiciais possui substitutos nas listas de medicamentos disponibilizados pelo SUS,
tanto no âmbito municipal quanto estadual, é necessário que seja realizado um
trabalho junto à Defensoria Pública Estadual, no sentido de evitar que a mesma
impetre alguma ação antes de uma consulta a área técnica da Secretaria de Estado
da Saúde, através da Gerência Estadual de Assistência Farmacêutica.
Conforme demonstrado no gráfico 8, o valor total distribuído em
medicamentos por demanda judicial, de janeiro a setembro de 2009, incluindo
aqueles que já se encontravam na demanda de fornecimento de medicamentos em
anos anteriores, foi de R$ 5.418.854,25.
233.349,58
134.041,99
634.367,77
505.302,33
566.023,53
679.533,95
1.008.666,82
844.214,02
486.119,27
0,00
200.000,00
400.000,00
600.000,00
800.000,00
1.000.000,00
1.200.000,00
jan/09 fev/09 mar/09 abr/09 mai/09 jun/09 jul/09 ago/09 set/09
Gráfico 8: Valor Distribuído em Medicamentos de Demandas Judiciais Fonte: Sistema MV2000. Nota: O valor total Distribuído em Medicamentos de Demandas Judiciais nas Farmácias de Janeiro a Setembro foi de R$: 5.091.619,26.
26
1%
1,1%
1,1%
1,2%
1,6%
2%
2%
2,1%
2,7%
2,7%
2,8%
2,9%
4,2%
4,2%
4,2%
4,5%
4,7%
4,7%
6,4%
18,7% N-
ACETILGALACTOSAM INIDASE1M G/M L
INSULINA GLARGINA 100UI/M L
RITUXIM AB 500M G FR./AM P.
SUNITINIBE M ALEATO 50M GCAPS.
SORAFENIBE 200M G COM P.
IDURSULFASE 2M G/M L - FR.3M L
TRANSTUZUM AB 440M G 20M L-SOL./INJ.
IM UNOGLOBULINA HUM . 5GF/A
VORICONAZOL 200M G
ALFAGALACTOSIDADERECOM BINANTE 35M G
TERIPARATIDA 250M CG/M L
DECITABINA 50M G/M LFR./AM P.
BEVACIZUM ABE 400M GSOL./INJ. FR. COM 16M L
ANFOTERICINA BLIPOSSOM AL 50M G SOL./INJ.
OM ALIZUM ABE 150M G
TEM OZOLAM IDA 100M GCAPSULA
RITUXIM AB 100M G FR./AM P.
BEVACIZUM ABE 100M G/4M LSOL./INJ.
TEM OZOLAM IDA 250M GCAPS.
ATORVASTATINA 20M GCOM P.
ITE
NS
% CUSTO TOTAL
Gráfico 9: Curva ABC de Consumo – Mandado Judicial
27
Diante dos dados apresentados, é possível apontar fatores contrários às
diretrizes do SUS e da Política Nacional de Medicamentos (PNM) (BRASIL, 1998)
presentes neste fenômeno de reivindicação de medicamentos via sistema judiciário:
(a) aquisição de medicamentos que não fazem parte da Relação Nacional de
Medicamentos (RENAME) e Relação Estadual de Medicamentos Essenciais e
Excepcionais do Estado do Espírito Santo (REMEME), (b) aquisição de
medicamentos sem registro na ANVISA, (c) não observância da responsabilidade
tripartite de organização do sistema, na medida em que a Secretaria de Estado é
condenada a adquirir medicamentos que fazem parte da lista sob responsabilidade
municipal e medicamentos oncológicos, cujo fornecimento deveria ser realizado
mediante atenção integral ao paciente na rede conveniada, (d) aumento da
irracionalidade no uso do recurso público financeiro, (e) prejuízo à equidade, (f) uso
irracional de medicamentos. A desconsideração dessas questões fragmenta
completamente a diretriz de racionalização do uso de medicamentos no País,
estabelecida pela PNM e pelas diretrizes do SUS (VIEIRA e ZUCCHI, 2007).
28
VII CONCLUSÃO
Entendemos que a judicialização surgiu e vem crescendo no sentido de
garantir e promover o direito social à saúde. No entanto, a não observância aos
protocolos existentes, ao elenco de medicamentos padronizados, a responsabilidade
de cada ente da federação, bem como a utilização de evidências científicas
comprometerá o propósito maior da Política Farmacêutica do Estado do Espírito
Santo, que visa acima de tudo “garantir à população capixaba o acesso equânime a
medicamentos essenciais e excepcionais de qualidade, em todos os níveis de
atenção à saúde, cuidando de promover o seu uso racional e a humanização do
atendimento prestado aos seus usuários”.
Ressaltam-se ainda as dificuldades que estas demandas judiciais criam
para a gestão do SUS. O direito do cidadão de exigir a garantia de acesso a
medicamentos via sistema judiciário é fundamental para evitar a negligência do
Estado. Entretanto, partir do pressuposto de que qualquer reivindicação de
medicamento deve ser atendida, pois, está-se garantindo o direito à saúde, revela
desconhecimento sobre as políticas públicas de saúde e seu componente
farmacêutico. As ações judiciais descritas revelam que a PNM e suas diretrizes
foram desconsideradas, em franca contraposição à tendência internacional de
racionalizar o uso de tecnologias na área da saúde. O sistema judiciário e o
executivo precisam encontrar uma solução partilhada para que o direito do cidadão
brasileiro à assistência terapêutica integral seja garantido, com medicamentos
seguros, eficazes e com relação custo-efetividade mais favorável de acordo com a
melhor e mais forte evidência científica disponível, sem causar as distorções
observadas atualmente.
A judicialização pode levar a um desequilíbrio no SUS e também a uma
violação ao princípio da isonomia, previsto no art. 5o, caput, da Constituição Federal,
visto que o fornecimento de determinado medicamento não padronizado para um
indivíduo pode representar a falta de outro para o restante da coletividade.
Além disso, a dispensação de medicamentos pelo Judiciário sem
observância da padronização oficial compromete outras diretrizes da Política
Nacional de Medicamentos, traçadas na Portaria no 3.916/98 (BRASIL, 1998), tais
como a garantia da segurança, eficácia e qualidade dos medicamentos e a
promoção de seu uso racional.
29
VIII REFERÊNCIAS
BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Portaria 3.916/GM de 30 de novembro de 1998. Aprova a Política Nacional de Medicamentos. ESPÍRITO SANTO (Estado). Decreto no 1956-R, de 07 de novembro de 2007. Aprova a Política Farmacêutica do Estado do Espírito Santo e dá outras providências. Disponível em: <http://200.165.59.196/farmaciacidada/_midias/pdf/ 183-49a6df551cc53.pdf>. Acesso em: 10 jan. 2009. Espírito Santo, 2007a. ______. Diagnóstico da assistência farmacêutica no setor público e a política farmacêutica do Estado do Espírito Santo. Vitória, ES: Secretaria de Estado da Saúde. Gerência de Assistência Farmacêutica, 2007. 111p. Disponível em: <http:// 200.165.59.196/farmaciacidada/_midias/pdf/20.pdf>. Acesso em: 09 mai. 2009. Espírito Santo, 2007b. ______. Relação Estadual de Medicamentos Essenciais e Medicamentos Excepcionais (REMEME). Vitória, ES: Secretaria de Estado da Saúde, Gerência de Assistência Farmacêutica, 2007. 342p. Disponível em: <http://200.165.59.196/farmaciacidada/_midias/pdf/14.pdf>. Acesso em: 09 maio 2009. Espírito Santo, 2007c. Informe Ensp. Judicialização do acesso a medicamentos no Brasil em debate. Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, publicada em 24/07/ 2008. Disponível em: <http://www.ensp.fiocruz.br/informe/materia.cfm?matid=11953>. Acesso em: 27 jan. 2010. Informe Ensp. Judicialização da saúde: a balança entre acesso e equidade. Agência Fiocruz de Notícias, publicada em 29/01/2008 Disponível em: <http://www. ensp.fiocruz.br/informe/materia.cfm?matid=8374>. Acesso em: 27 jan. 2010. Secretaria de Estado da Saúde do Espírito Santo. Sistema de informações gerenciais da assistência farmacêutica. SESA/GEAF/SIG-AF. 2008. TAVARES, G. R. P.; SILVA, D. M.; BERNARDOS, A. Sistema de Regulação da Dispensação de Medicamentos Excepcionais. In: Congresso CONSAD de Gestão Pública, 2., Painel 38, 2009, Brasília, DF: Consad, 2009. 1 CD-ROM. VIEIRA, F. S.; ZUCCHI. P. Distorções causadas pelas ações judiciais à política de medicamentos no Brasil. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 41, n. 2, p. 214-222, 2007.
30
___________________________________________________________________
AUTORIA
Geruza Rios Pessanha Tavares – Médica, Mestre em Saúde Coletiva, Professora do Curso de Medicina da Escola de Medicina Santa Casa de Misericórdia (EMESCAM), Gerente Estadual de Assistência Farmacêutica da Secretaria de Estado da Saúde do Espírito Santo.
Endereço eletrônico: [email protected] Daniela de Mello Silva – Farmacêutica, pós-graduada em Citopatologia Clínica, responsável pelo Setor de Judicialização do Núcleo de Medicamentos Excepcionais e Básicos e secretária executiva do Fórum Intersetorial Permanente de Assistência Farmacêutica da Secretaria de Estado da Saúde do Espírito Santo.
Endereço eletrônico: [email protected] Patricia Campanha Barcelos – Graduada em Farmácia e Bioquímica e especialista em Farmacologia Básica e Clínica pela Universidade Federal do Espírito Santo. Mestranda em Gestão de Tecnologias em Saúde no Instituto de Medicina Social (IMS/UERJ). Atua na Secretaria de Estado da Saúde do Espírito Santo na área de Monitoramento e Avaliação.
Endereço eletrônico: [email protected] Cíntia Ribeiro – Farmacêutica, pós-graduada em Citopatologia Clínica, Administração dos Serviços de Saúde e Homeopatia, responsável pela Assistência Farmacêutica na Atenção Primária à Saúde da Secretaria de Estado da Saúde do Espírito Santo.
Endereço eletrônico: [email protected] Graziany Leite Moreira – Graduada em Farmácia e Bioquímica pela Escola Superior São Francisco de Assis (ESFA). Especialista em Análises Clínicas pela EMESCAM. Coordenadora do Núcleo de Medicamentos Excepcionais e Básicos da Secretaria de Estado da Saúde do Espírito Santo.
Endereço eletrônico: [email protected]