G r a d u a n d o , F e i r a d e S a n t a n a , v . 7 , n . 1 0 , p . 1 3 - 3 3 , 2 0 1 6
I S S N 2 2 3 6 - 3 3 3 5
D I F I C U L D A D E N A L E I T U RA : A S U P E RA Ç Ã O D E S S E
P RO B L E M A A I N D A N O E N S I N O F U N D A M E N T A L
M a r i a R o s a n e V a l e N o r o n h a D e s i d é r i o ( A u t o r a ) 1
U n i v e r s i d a d e E s t a d u a l d e F e i r a d e S a n t a n a
L i c e n c i a t u r a e m L e t r a s V e r n á c u l a s
v a l e 1 2 3 4 5 6 r @ g m a i l . c o m
J o i l m a M a r i a d e F r e i t a s T r i n d a d e ( C o a u t o r a )
U n i v e r s i d a d e E s t a d u a l d e F e i r a d e S a n t a n a
L i c e n c i a t u r a e m L e t r a s V e r n á c u l a s
j o i y l m a @ y a h o o . c o m . b r
P â m e l a A r a ú j o d e S o u z a C i n t r a ( C o a u t o r a )
U n i v e r s i d a d e E s t a d u a l d e F e i r a d e S a n t a n a
L i c e n c i a t u r a e m L e t r a s V e r n á c u l a s
p a m e l l a r a u j o 1 8 @ gm a i l . c o m
M a r i n a l v a L o p e s R i b e i r o ( O r i e n t a d o r a ) 2
U n i v e r s i d a d e E s t a d u a l d e F e i r a d e S a n t a n a
N ú c l e o d e E s t u d o s e P e s q u i s a s s o b r e P e d a g o g i a U n i v e r s i t á r i a ( N E P P U )
m a r i n a l v a . b i o d a n z a @ h o t m a i l . c o m
Resumo : Es te a r t i go tem por ob je t i vo d iscut i r os porquês de os
a l unos do 5 º a no do Ens i no F undamen t a l a p r esen t a r g r andes
d i f i cu l dades em dom ina r as hab i l i dades da l e i t u ra em qua i squer
que se jam as moda l i da des . A i nves t i ga ção fo i f e i t a a pa r t i r de
uma pesqu i sa compa ra t i va , com p ro fesso res e a l unos de duas
e s co l a s d a r e d e mun i c i p a l d e F e i r a d e S an t a n a . D i a n t e d o s
r es u l t a dos da i nves t i g a ção , l og o pe r cebemos qu e a q ues t ã o
nã o ap r esen t a um f a t o r s i ngu l a r pa r a s o l uc i ona r o p rob l ema
que , de f a t o , ex i s t e : o ana l fa be t i smo func i ona l . D es t e modo , é
i m p o r t a n t e r e s s a l t a r a i m p o r t â n c i a d a a ç ã o c o n j u n t a d e
p r o f e s s o r e s , p a i s e d o s p r ó p r i o s a l u n o s , p a r a r e a f i r m a r a
u rgênc i a de c r i a r mecan i smos para desenvo lve r nos a l unos as
ap t i dões de um l e i t o r que possa i n t er p re ta r o que l ê de f orma
c r í t i c a e r e f l ex i va , pa ra i n t e rv i r na soc i edade , a j udando nes ta
q u e s t ã o q u e t a n t o n os a f l i g e . Como f u nd amen t a çã o t e ó r i c a
p a r a n o s s a s d i s c u s s õ e s , l a n ç am os mã o d e t e ó r i c o s c om o
F re i re ( 1 989 ) , Jo l i ber t ( 1994 ) e Cur to et a l l ( 2000 ) .
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P a l a v r a s - c h a v e : D i f i c u l d a d e d e l e i t u r a . L e i t u r a n o E n s i n o
Fundamenta l . Ana l fabeto func i ona l .
1 I N T RO D U Ç Ã O
A d i f i cu l dade na l e i t u ra é um tema prob l emá t i co com o
qua l mu i t os professores , pa i s e a l unos têm l i dado , de mane i ra
que cada um tem um o l ha r d i fe ren te sobre suas causas . Nesse
contex to , os prof essores são aque l es que assumem o pape l de
med i adores na aqu i s i ção dessa competênc ia pe l o a l uno .
Dev ido à impor tânc ia desse tema , mu i t os autores se
ocupam em d i scut i r os porquês dessas d i f i cu l dades , po i s
percebem que mu i t os a l unos , mesmo cursando o quar to ou o
qu i n to ano do Ens i no Fundamenta l , não possuem o dom ín i o da
l e i t u ra e , consequentemente , da escr i t a , o que d i f i cu l t a e mu i t o
no sucesso do desenvo lv imento esco l a r desses a l unos nos
anos subsequentes . Por i sso , a l gumas pesqu i sas buscam
i dent i f i ca r o p rob l ema e aponta r poss íve i s ações que possam
aux i l i a r os a l unos a vencerem as d i f i cu l dades e a l en t i dão no
aprend i zado da l e i t u ra .
A pesqu i sa de Range l e Machado (2012 ) , por exemp lo ,
a t ravés da aná l i se dos í nd i ces de pesqu i sas imp l ementados
pe l os governos federa l , es tadua l e mun i c i pa l , a exemp lo do
Índ i ce de Desenvo lv imento da Educação Bás i ca ( IDEB ) nos anos
de 2005 , 2007 e 2009 , com cr i anças nas sér i es i n i c i a i s do
Ens i no Fundamenta l , apontam que as cr i anças possuem
d i f i cu l dades na compreensão , i n terpretação de tex tos e na
comun icação de seus pensamentos , pos i ções e dese jos . Os
í nd i ces do IDEB mos t ram que os a l unos a i nda es tão desen -
vo lvendo suas prá t i cas de l e i t u ra mu i t o vagarosamente , e
propõe que a esco l a , d i an te desse quadro , prec i sa i n terv i r de
mane i ra a poss i b i l i t a r que o a l uno desenvo lva sua hab i l i dade na
l e i t u ra . Pa ra i sso, p ropõem-se um pro je to i n tegrado em que
todo o corpo docente desenvo lva a t i v i dades d iversas vo l tadas
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para a prá t i ca de l e i t u ra e escr i t a , a exemp lo de roda de
l e i t u ra , a t iv i dades como o so l e t rando e confecção de jorna is .
Segundo Sampa io e Borges (20 10 ) , a soc i edade a tua l v i ve
um momento chamado cr i se da l e i t u ra , ou se ja , “a l e i t u ra não
t em ma i s espaço reservado na v i da das pessoas , pr i nc i pa lmen -
t e na das cr i anças e jovens” , porque fa l t a o i ncent i vo tan to da
fam í l i a quanto dos educadores , v í t imas , mu i t as vezes , do
própr i o s i s tema educac i ona l . Des te modo , os autores propõem
que a esco l a , j un tamente com a comun idade e a fam í l i a , unam -
se para formu la r um pro je to capaz de desper ta r o háb i t o da
l e i t u ra desses jovens e cr i anças , ob je t i vando a l e i t u ra por
prazer e não por obr i gação .
Como exemp lo , Canguçu e Korbes (201 1 ) , u t i l i zando como
métodos de pesqu i sa a observação , conversas i n forma is e
ques t i onár i os , conc l u í ram que as h i s tór i as em quadr i nhos
a t raem a a tenção dos a l unos , dev i do ao formato i n forma l da
l e i t u ra , com personagens e es tór i as d iver t i das e de fác i l en ten -
d imento , a l ém do humor . Os tex tos cur tos , de acordo com os
autores , fac i l i t am o entend imento ; e as imagens envo lvendo
personagens e l ugares aguçam a imag i nação que “encantam” o
l e i t o r . Percebem, a i nda , que quando se t raba l ha a l e i t u ra , e
co l oca a cr i ança em conta to com o l i v ro, es ta j á t raz cons i go
uma l e i t u ra do seu mundo . O l i v ro l he dará a opor tun i dade de
adqu i r i r novos conhec imentos , aux i l i ando na sua formação e
dando a rgumentos para mod i f i ca r ou rea f i rmar a l e i t u ra do seu
mundo. Ass im , cada vez ma is terá chances de ag i r sobre seus
própr i os conce i t os e sua soc i edade .
Por sua vez , F ranco e Ber toso (20 10 ) , u t i l i zando como
abordagem metodo l óg i ca a pesqu i sa quant i ta t i va , somente com
ps i copedagogos , qu i nze no to ta l , abordam a impor tânc i a das
i n tervenções ps i copedagóg i cas e como es tes prof i ss i ona i s
ava l i am o seu pape l nas d i f i cu l dades de l e i t u ra . Segundo as
autoras , quando as d i f i cu l dades de l e i t u ra do a l uno são perce -
b i das , o processo de i n tervenção do ps i copedagogo deve ser
t raba l hado a t ravés de d iversos métodos. Com base nos dados
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qual i tat ivo. Para tanto, nosso grupo de pesquisa real i zou coleta de
dados em duas escolas da rede municipa l de Feira de Santana, no
ano de 2015, através de apl icação de quest ionário aberto com cerca
de o ito perguntas para professores do quinto ano do Ensino
Fundamental I (ant iga quarta série primária) Para os alunos, as
perguntas propostas foram objet ivas, de múlt ip la escolha. Foram
entrevistados dois docentes, um de cada escola, e quatro discentes,
sendo dois de cada escola.
Os a l unos ent rev i s tados foram se l ec i onados a l ea tor i amen -
te para que não houvesse o r i sco de man ipu l ação dos dados
e , ass im , pre ju í zo no resu l t ado f i na l da i nves t i gação . Quanto
aos professores , foram ent rev is t ados os docentes que es ta -
vam t raba l hando no momento da v i s i ta à esco l a .
Após a co l e t a dos dados , es tes foram ana l isados , a
pr i nc í p i o , i nd i v i dua lmente , e na sequênc i a f i zemos a aná l i se
compara t iva para i dent i f i ca r seme lhanças e d i f erenças ent re as
duas esco l as se l ec i onadas , v is to que os resu l t ados da aná l i se
dos dados mos t ra ram sens íve i s d i ferenças ent re e l as .
O quest ionár io da pesquisa ap l icado aos professores buscou
aver iguar as estratég ias ut i l i zadas por estes no ambi ente da sa la
de au la para traba lhar a le i tura com seus a lunos , a f im de
ver i f icar se hav ia a lguma relação entre a d i f icu ldade apresentada
por uma parte cons iderável dos estudantes do quinto ano quanto
à aquis ição do domín io da le i tura e as estra tég ias ut i l i zadas em
sa la de au la para traba lhar essa habi l i dade com os d iscentes . Já
o ques t i onár i o endereçado aos a l unos do qu i n to ano das duas
esco l as pesqu i sadas buscou i dent i f i ca r a re l ação des tes com a
l e i t u ra : qua l gênero p refer i am l er , em que amb i en te essa l e i t u ra
era ma i s cons tan te e prazerosa e se a l e i t u ra era um háb i t o
ou não desses a l unos .
4 A N Á L I S E D O S D A D O S L E V A N T A D O S
A aná l i se dos dados co l e t ados nos perm i t i u observar que
de fa to a prá t i ca da l e i t u ra é cons tan te na educação das
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t u rmas do qu i n to ano . Os prof essores u t i l i zam -se de es t ra té-
g i as como l e i t u ra de contos , h i s tór i as de aventuras e fábu l as .
Segundo os dados co l e t ados, há também a prá t i ca de emprés -
t imos de l i v ros para que as cr i anças pra t i quem a l e i t u ra em
out ras s i t uações , que não se jam as espec í f i cas da sa l a de
au l a .
Pa ra me lhor v i sua l i zação dos dados de cada esco l a ,
chamaremos a pr ime i ra de esco l a X e a segunda , de esco l a Y .
A esco l a X é cons i derada uma das me lhores esco l as da rede
púb l i ca do mun i c í p i o . A turma do qu i n to ano pesqu i sada nessa
esco l a possu i cerca de 2 1 a l unos e , segundo os dados obt i dos
pe l a i nves t i gação fe i t a com os prof essores , t odos os a l unos
dom inam a l e i t u ra e , de modo gera l , possuem conhec imentos
grama t i ca is e compreensão do que l eem. A fa i xa etá r i a é de
nove a dez anos de i dade .
A esco l a X , de acordo com a pesqu i sa , t raba l ha a l e i t u ra
em sa l a de au l a a t ravés de uma roda de l e i t u ra denom inada
Momento conto , em que são oferec i dos aos a l unos d iversos
t i pos de tex tos . A esco l a i ncent i va os a l unos a se prepara rem
em casa para as a t iv i dades que serão r ea l izadas na sa l a de
au l a . A b i b l i o t eca da esco l a X empres ta seus l i v ros para que
as cr i anças l evem para casa e ass im possam cr i a r um amb ien -
te de l e i t u ra para a l ém dos l im i t es da sa la de au l a . A esco l a
acompanha o desenvo lv imento de seus a l unos a t ravés de
a t i v i dades de l e i t u ra em sa l a .
A esco l a Y es tá l oca l i zada em um ba i r ro per i f ér i co do
mun i c í p i o . A turma do qu i n to ano dessa esco l a possu i cerca de
25 a l unos , des tes cerca de 10 a l unos não dom inam o cód i go
l i ngu í s t i co e , segundo os dados co l e t ados pe l a pesqu isa , a
m inor i a possu i dom ín i o das es t ru turas da l í ngua e compreensão
tex tua l , ou se ja , a m inor i a possu i conhec imentos grama t i ca i s e
compreende o que l ê . A fa i xa etá r i a da turma é de dez a t reze
anos.
A esco l a Y , segundo os dados co l e t ados , t raba l ha a l e i t u -
ra em todas as d i sc i p l i nas e a t ravés da l e i t u ra de d iversos
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co l e tados , as autoras observaram que a ma ior i a dos ps i cope -
dagogos busca es ta r cada vez ma i s a tua l i zados sobre os
assuntos pert inentes ao seu traba lho. Segundo Bossa ( 1994 , p. 7 ) ,
[ . . . ] c ab e ao p s i c o ped agogo sab er como o su j e i t o q ue
ap r en de t r an s fo rma- se em su as v á r i a s e t ap as d a
v i d a , q u a i s o s r e cu r so s d e conh ec imen to q u e d i sp õe
[ . . . ] . T a l i n f o rmação i nc i d i r á n o s me i o s n ecessá r i o s
p a r a su sc i t a r o p r o g re sso e o su cesso do s a l u n o s
q ue ap r e sen t am s i n t omas do n ão ap r end e r .
Em suma , as autoras conc l uem que o ps i copedagogo tem
uma grande m issão em suas mãos , que é a de a judar os
a l unos com d i f i cu l dades de l e i t u ra . Pa ra i sso , são mu i t os os
recursos de que d i spon i b i l i zam esses prof i ss i ona i s . Cer tamente ,
um ma ior contato com uma d ivers i dade de tex tos , j ogos e
mús i cas fa rá com que es tes a l unos desenvo lvam me lhor suas
capac i dades i n te l ectua i s .
Ta is pesquisas possuem grande va lor para os estudos do
tema o qua l nos propomos a estudar , no entanto observamos que
a questão da lent idão no domín io da le i tura dos a lunos do quinto
ano do Ens ino Fundamenta l a inda não fo i explorada no munic íp io
de Fei ra de Santana . Tão pouco foram exploradas poss íveis ações
pedagógicas que possam auxi l i ar os a lunos destas sér ies a
superarem suas d i f icu ldades no aprendizado do código l ingu ís t ico,
bem como a lcançarem uma le i tura min imamente cr í t ica para que
possam atuar não só na escola , mas no âmbi to socia l e h is tór ico,
compreendendo melhor o mundo que os cerca .
Tendo em v i s t a que a l e i t u ra é impor tan te porque desper -
ta no a l uno o imag i ná r i o , faz ref l e t i r , ques t i ona r , concordar ou
d i scordar , t e r um pos i c i onamento cr í t i co perante o que l ê e
d i an te des tas l acunas, l ançamos a segu i n te ques tão de pesqu i -
sa : De que modo os professores da educação fundamenta l I
t êm t raba l hado a l e i t u ra na sa la de au l a? Por que será que em
uma turma do 5 º ano do Ens i no Fundamenta l I , a ma ior i a dos
a l unos não dom ina a l e i t u ra?
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Compreender essas ques tões é de fundamenta l impor tân -
c i a , po i s entendemos que a aqu i s i ção da l e i t u ra é abso l u tamen -
te v i t a l pa ra o desenvo lv imento do a l uno em sua v i da acadêm i -
ca . É prec i so desper ta r nessas cr i anças o gos to pe l a l e i t u ra
para que possam desenvo lver -se com autonom ia nas sér i es
subsequentes . São mu i t os os casos , no entan to , em que se
observam a l unos que saem do Ens i no Fundamenta l com sér i os
prob l emas de l e i t u ra . Mu i t os , embora j á t enham dom inado o
cód i go l i ngu í s t i co , não compreendem o que l eem, tornando -se ,
ass im , ana l fabetos func i ona i s . Ler e compreender são ta refas
fundamenta is para que uma pessoa cons i ga a tua r de modo
ma is a t i vo no me io soc i a l em que v ive . Ass im , faz -se necessá-
r i o buscar mecan i smos que poss i b i l i t em ao a l uno consegu i r
vencer as própr i as d i f i cu l dades a i nda no i n í c i o do Ens i no
Fundamenta l , pa ra que seu curso acadêm ico não sof ra sér i os
prob l emas e para que tenha , ef e t i vamente , au tonom ia em sua
v i da .
A pesqu i sa rea l i zada em duas esco l as púb l i cas de Fe i ra
de Santana busca responder a esses ques t i onamentos , mas
antes de tomar conhec imento dos resu l t ados obt i dos com a
pesqu i sa , é fundamenta l que se compreenda o que se ja , de
fa to , a l e i t u ra . Como def i n i - l a e qua l a impor tânc i a do a to de l er
na cons t i t u i ção do su je i t o r ef l ex i vo? Será que a l e i t u ra se
resume a apenas o dom ín i o do cód i go l i ngu í s t i co? O t raba l ho
de cons t i t u i ção de bons l e i t o res se esgota nes ta fase supos ta -
mente i n i c i a l ?
2 A L E I T U RA E S U A S D I V E R S A S C O N C E PÇ Õ E S
Pau l o F re i re ( 20 13 , p . 53 ) , em seu l i v ro Pedagog i a da auto -nom ia , dec l a ra : “ [ . . . ] m inha presença no mundo não é a de
quem a e l e se adapta , mas a de quem ne l e se i nsere . ” F re i r e
aqu i expõe a necess i dade que o su je i t o tem de não ser um
ob je to , mas um ser a tuante dent ro da soc i edade em que v ive .
O dom ín i o da l e i t u ra , não só do cód i go l i ngu í s t i co , mas da
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aqu i s i ção da capac i dade de r ef l e t i r pa ra pensar cr i t i camente , é
necessár i o para que o su je i t o tenha a poss i b i l i dade de se
pos i c i onar e a tua r cr i t i camente em seu me io soc i a l . Ao fa l a r da
l e i t u ra do própr i o l i v ro , A impor tânc i a do a to de l er ( 1 989 ) ,
evoca que é prec i so pr ime i ro saber l er o mundo para depo i s
dom ina r a pa l av ra . E d i z :
P r e f i r o -me a q u e a l e i t u r a do mundo p reced e semp r e
a l e i t u r a d a p a l av r a e a l e i t u r a d es t a imp l i c a a co n t i -
n u id ad e d a l e i t u r a d aq ue l e . N a p r o po s t a a q u e me
r e f e r i ac ima , e s t e mov imen t o do mundo à p a l av r a e d a
p a l av r a ao mundo es t á semp r e p r e sen t e . Mov imen t o
em qu e a p a l av r a d i t a f l u i d o mundo mesmo a t r avés
d a l e i t u r a qu e d e l e f az emos . D e a l guma mane i r a ,
p o r ém p od emos i r ma i s l o ng e e d i z er q ue a l e i t u r a d a
p a l av r a n ão é ap en as p r eced i d a p e l a l e i t u r a d o mundo ,
mas p o r uma ce r t a f o rma d e esc r evê - l o o u r eescrev ê
- l o , q u e r d i z e r , d e t r an s fo rmá - l o a t r av és d e n ossa
p r á t i c a con sc i e n t e . ( FR E I R E , 1 98 9 . p . 1 3 ) .
Pau lo F re i re concebe que a pr ime i ra forma de l e i t u ra não
es tá re l ac i onada ao cód i go l i ngu í s t i co , mas s im à v ivênc i a no
mundo. Pa ra e l e , o l e i t o r pr ime i ro prec i sa compreender o
contex to em que es tá i nser i do , ao menos em par te , i s to é ,
saber l er o mundo , e só depo i s dom ina r o cód i go l i ngu í s t i co ,
que surge como um reforçador para amp l i ar a capac i dade do
i nd iv í duo em sua l e i t u ra do mundo . O autor co l oca a i nda que
não só a l e i t u ra do mundo precede a l e i t u ra do cód i go l i ngu í s t i -
co , mas que a capac i dade de escrever e/ou reescrever o
mundo também surge antes da l e i t u ra da pa l av ra . O autor
descreve aqu i a capac i dade do i nd iv í duo de ser um su je i t o
a tuante em sua soc i edade . A l e i t u ra do mundo i nev i t ave lmente
produz su je i t os consc i en tes do seu contex to e o dom ín i o da
pa l av ra for t a l ece e enr i quece a capac i dade do su je i t o em sua
l e i t u ra consc i en te do mundo que o cerca .
A autora Joset te Jo l ibert ( 1994 , p. 15) , no l ivro Formando cr ianças le i toras , t raz uma def in ição do que seja para ela le i tu ra :
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Ler é l e r escr i tos rea is , que v ão desde um nome de rua
numa p lac a a té um l iv ro , passando po r um car t az , uma
emba l agem , um jo rna l , um pan f le to , e tc . , no momen to em
que se p rec i sa rea lmen te de le s numa de term inada
s i tuação de v ida , “p ara v a le r ” como d izem as cr i anças .
É lendo de verdade , desde o i n íc io , que a lguém se to rna
l e i to r e não ap rendendo p r ime i ro a le r . . .
Segundo a autora , a l e i t u ra não prec i sa passar pr ime i ro
por uma decod i f i cação , mas , ao cont rá r i o , deve ser uma ação
pautada no exerc í c i o do l evantamento de h i pó teses de sent i do
a par t i r de i nd í c i os . A l e i t u ra passa por uma a t r i bu i ção de
sent i do à pa l av ra ou tex to , de modo d i re to , sem i n terméd ios . É
prec i so i ncent i va r uma l e i t u ra que não espera o abso l u to dom í -
n i o do cód i go , mas que observando os i nd í c i os da pa l av ra ,
l evanta h i póteses do que se ja , a t r i bu i ndo - l he um sent i do .
De acordo com Pau l o F re i re ( 1 989 , 20 13 ) , a l e i t u ra de
mundo precede a l e i t u ra da pa l av ra e o dom ín i o do cód i go
l i ngu í s t i co poss i b i l i ta uma amp l i ação da capac idade de l e i t u ra de
mundo. Já Jo l i ber t ( 1 994 ) acred i t a que a aqu i s i ção da l e i t u ra
passa por uma capac i dade de l evanta r h i pó teses do que se
tem à f ren te , ou se ja , é prec i so se l ançar , a r r i sca r a l e i t u ra da
pa l av ra . E , des ta forma , l er o cód i go antes de dom iná - l o de
fa to . A grande ques tão da a tua l i dade , no entan to , é a
d i f i cu l dade que os l e i t o res têm de não só dom ina r o cód i go ,
mas também compreender o que se l ê . Ao def i n i r o que é
l e i t u ra , Cur to et a l l ( 2000 , p . 47 -48 ) i rá tocar nes ta ques tão da
necess i dade de dom ina r o cód i go e compreender a mensagem
que um ag l omerado de f rases t raz . Segundo e l e :
Ler é compreender um texto . Compreender um a to
cogn i t ivo , ou se j a , o re su l t ado de uma a t iv idade ment a l .
Não podemos compreender , se não l emos de fo rma
a t iva : an tec ipando in te rp re tações , reconhecendo
s ign i f i cados , i den t i f i cando dúv idas , e r ros e i ncompre -
ensões no p rocesso de le i t u ra . Consegu i r es ta a t iv i dade
men ta l no a luno que lê é impresc ind íve l . Mas não é
su f ic ien te . Não se t r a ta de inven tar , mas de
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G r a d u a n d o , F e i r a d e S a n t a n a , v . 7 , n . 1 0 , p . 1 3 - 3 3 , 2 0 1 6
compreender o que est á e scr i to : a justa r -se ao tex to .
Po r tan to , é p rec i so a tender as car ac ter í s t i cas do escr i to
e ao seu con teúdo . A decod i f i cação também é
necessár ia , mas como um ins t rumen to a serv iço d a
compreensão .
Des ta forma , o autor sa l i en ta que l er não é apenas dom i -
nar o cód i go l i ngu í s t i co , mas antes de tudo l er é compreender
a mensagem que um ag l omerado de l e t ras t raz . A l e i t u ra na tu -
ra lmente terá que se apossar do dom ín i o do cód i go escr i t o ,
mas não pode se resum i r a i sso . É prec i so ext rapo la r essa
f ron te i ra , é pr ec i so i n terpreta r a mensagem. Se o l e i t o r não
consegue i r a l ém do dom ín i o do cód i go , ou se ja , j un ta r s í l abas
e formar pa l av ras , não es tá , e fe t i vamente , l endo . Es te parece
ser um prob l ema bas tan te comum ent re os l e i t o res , a d i f i cu l da -
de de compreender o que l ê .
Acerca do dom ín i o do cód i go desacompanhado da capac i -
dade de compreensão e i n terpretação da mensagem, K l e iman
( 2004 , p . 20 ) a f i rma que “out ra prá t i ca mu i t o empobrecedora
es tá baseada numa concepção da a t i v i dade como equ iva l en te à
a t i v i dade de decod i f i cação [ . . . ] ” . Segundo a autora , a l e i t u ra
sendo v i s t a como uma a t iv i dade de decod i f i cação , somente , em
nada cont r i bu i pa ra mod i f i ca r a v i são de mundo do l e i t o r/a l uno .
Ass im , t a l concepção de l e i t u ra é entend i da como uma a t i v i da -
de d i spensáve l , uma vez que e l a é r ea l i zada sem propós i t os e
sem dar ao l e i t o r/a l uno a poss i b i l i dade de penet ra r o tex to , de
es tabe l ecer uma i n teração ent re o l e i t o r , o autor e o própr i o
tex to para a cons t rução de sent i do .
A inda sobre a ques tão da decod i f i cação no p rocesso de
l e i t u ra , Koch e E l i as ( 2006 , p . 10 , gr i fo nosso ) esc l a recem que
“a l e i t u ra de um t ex to ex i ge do l e i t o r bem ma i s que o conhec i -
mento do cód i go l i ngu í s t i co , uma vez que o tex to não é
s imp l es produto da decod i f i cação de um em issor a ser decod i -
f i cado por um receptor pass ivo” , ou se ja , l e r não é só decora r .
A l e i t u ra l eva em conta compreensão não apenas das f rases ,
mas de uma gama de imp l í c i t os que o tex to t raz . En tão , a l e i t u -
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ra passa pe l o conhec imento de mundo que cada l e i t o r ca r rega
cons i go , ou se ja , o contex to soc i ocogn i t i vo . “O contex to é ,
por tan to , um con jun to de supos i ções , baseadas nos saberes
dos i n ter l ocutores , mob i l i zadas para a i n terpretação de um
t ex to” (KOCH E EL IAS , 2006 , p . 64 , gr i fo nosso ) . Dessa forma ,
o l e i t o r prec i sa compreender essa d imensão do exerc í c i o de
l er . Um exerc í c i o que va i a l ém de decod i f i cações , de dom ín i o
do cód i go escr i t o . Ler va i a l ém desse es tág i o i n i c i a l .
Ler não é s imp l esmente fo l hea r um l i v ro , é um método de
apreensão/compreensão de i n formação a rmazenada no cére -
bro e env i ado med i an te determ inados cód i gos , es tabe l ecendo
um d i á l ogo com o autor , com o tex to ou a par t i r do autor -
tex to- l e i t o r , en tendendo suas i n tenções para r esga ta r o sent i -
do do t ex to . Ass im , em v i r t ude das cons tan tes t rans formações
da soc i edade , d i scut i r sobre l e i t u ra nunca ent ra em desuso. No
bo jo da d i scussão de como desenvo lver o gos to pe l a l e i t u ra , é
m i s ter compreender , de fa to , o que é l er , pa ra que e como l er .
No entanto , pa ra d i scut i r es tas ques tões é e l ementa r que se
tenha a concepção dos e l ementos essenc i a is pa ra respa l da r o
d i á l ogo ent re os envo lv i dos no processo : t ex to , au tor , l e i t o r , o
mundo de um e de out ro , sem os qua i s , d i f i c i lmente , o profes -
sor poderá es t imu l a r a prá t i ca da l e i t u ra .
O exerc í c i o da l e i t u ra depende , pr i nc i pa lmente , da i n tera -
ção desses componentes , e que todos es tes es te j am em um
determ inado momento h i s tór i co-soc ia l pa ra que os propós i t os
da l e i t u ra se jam a l cançados . Af i rmam Koch e E l i as ( 2006 , p . 1 9 ,
gr i fo do autor ) : “É c l a ro que não devemos nos esquecer de
que a cons tan te i n teração ent re o conteúdo do tex to e o l e i t o r
é regu l ada também pe l a i n tenção com que l emos o tex to , pe l os
ob je t i vos da l e i t u ra .
3 M E T O D O L O G I A
Com o intu i to de obter respostas para o problema de pesquisa
exposto neste trabalho, foi fe i ta uma invest igação de caráter
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t ex tos , t a i s como : tex tos descr i t ivos , t écn i cos , j o rna is e fábu l as
para , de acordo com a resposta do pro fessor ent rev i s tado ,
“ re f l exão do compor tamento” . A esco l a t ambém d i spon i b i l i za o
emprés t imo dos l i v ros da b i b l i o t eca para seus a l unos , porém
não f i cou c l a ro se somente para uso em sa l a de au l a ou se o
a l uno tem a poss i b i l i dade de l evar o l i v ro para casa . A esco l a
tem como a t i v i dade em sa la a produção de tex tos nos mesmos
forma tos dos tex tos apresentados aos a l unos . Segundo o
ent rev i s tado , “ t odas as d i sc i p l i nas são t raba l hadas a par t i r da
produção e l e i t u ra tex tua l ” .
No ques t i onár i o respond ido pe l os a l unos da esco l a X ,
observou-se que os a l unos possuem de fa to o háb i t o de l e i t u -
ra em casa . Quando perguntados sobre o l oca l em que pre fer i -
am l er , a casa fo i a opção esco l h i da por todos os ent rev i s ta -
dos da esco l a X . As respos tas dos ent rev i s tados d i scentes
quanto ao t i po de l e i t u ra pre fer i da também foram i gua i s . Ambos
aponta ram a l e i t u ra de h i s tór ias em quadr i nhos e de aventuras .
Na ú l t ima ques tão , o a l uno fo i perguntado acerca da quant i da -
de de l i v ros l i dos durante o ano . Dos do i s ent rev i s tados um
esco l heu a pr ime i ra opção de 1 -3 e out ro a segunda , de t rês
ou ma i s .
No ques t i onár i o respond ido pe l os a l unos da esco l a Y ,
observou-se que os a l unos também possuem háb i t o de l e i t u ra ,
mas d i fe ren temente da esco l a X , essa prát i ca de l e i t u ra se
ef et i va mu i t o ma i s no âmb i t o esco l a r do que em casa . Quando
ques t i onado sobre o l ugar pre fer i do para a p rá t i ca de l e i t u ra ,
ambos os ent rev is t ados aponta ram a opção esco l a . Apenas um
de l es marcou a l ém de esco l a o amb ien te da casa . Com re l ação
ao t i po de l e i t u ra pre fer i da , ambos os ent rev is t ados esco l heram
a opção h i s tór i as em quadr i nhos . Apenas um dos ent rev is t ados
apontou , a l ém da opção j á menc ionada , a l e i t u ra de poemas .
Es te ent rev i s tado é o mesmo que esco l heu as duas opções
para l oca i s de prefe rênc i a para l e i t u ra – casa/esco l a . Os do i s
ent rev i s tados da esco l a Y aponta ram que l eem t rês ou ma i s
l i v ros por ano .
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4 . 1 S E M E L H A N Ç A S E D I F E R E N Ç A S E N C O N T RA D A S
A pesqu isa nos perm i t i u cons ta ta r que em ambas as
esco l as os a l unos l eem h i s tór ias em quadr i nhos . Isso pode
aponta r que esse t i po de l e i t u ra é ma i s ef i caz para a t ra i r os
jovens l e i t o res na cons t rução de uma prá t i ca de l e i t u ra , bem
como , na superação das l im i t ações , po i s segundo Santos (2001 ,
p . 47 ) , “a u t i l i zação de quadr i nhos pode ser de grande va l i a
para i n i c i a r o jovem no cam inho que l eva à conso l i dação do
háb i t o e do prazer de l er . ” Em seu a r t i go , Canguçu e Korbes
( 20 1 1 ) a f i rmam a i nda que a l ém de tex tos com l e i t u ras fáce i s de
compreender , as h i s tór i as em quadr i nhos t razem como a t rat i vo
as imagens que aguçam a imag i nação do l e i t o r . Des te modo ,
são ma i s a t rat i vas , de l e i t u ra ráp i da e d iver t ida , sendo capazes
de envo lver o pequeno l e i t o r com ma ior fac i l i dade e rap i dez .
A l e i t u ra de poema fo i apontada por apenas um ent rev i s -
tado e a l e i t u ra de h i s tór i as de aventura , pe l os do i s ent rev i s ta -
dos da esco l a X . Um fa tor , t a l vez desencadeador dessa pred i -
l eção por h i s tór i as de aventuras , cons ta tadas na esco l a X ,
se j a porque essa l e i t u ra é apontada pe l o professor ent rev i s ta -
do como l e i t u ra t raba l hada em sa la de au l a .
Com re l ação ao amb ien te , há d i ferença de prefe rênc i a
ent re as esco l as , po i s os ent rev i s t ados da esco l a X pref erem
l er em casa e os a l unos da esco l a Y , na esco l a . Poss ive lmente ,
os d i scentes da esco l a X são es t imu l ados a l er em em casa .
Esse es t ímu l o pode par t i r apenas do t raba l ho de i ncent i vo em
sa l a de au l a ou também pe l o i ncent i vo da fam í l i a , porém os
dados co l e t ados não nos perm i t em ver i f i ca r a ra t i f i cação da
segunda poss i b i l i dade , mas sabe -se que a esco l a faz um
t raba l ho de i ncent i vo à l e i t u ra em casa a t ravés do emprés t imo
de l i v ros e es t ímu l os para que a cr i ança se prepare para a
au l a segu i n te . Os d i scentes da esco l a Y prefer em, em sua
ma ior ia , segundo o que se ver i f i cou com a pesqu i sa , l erem na
esco l a . Isso aponta que ta i s a l unos não possuem uma prá t i ca
de l e i t u ra fora do amb ien te esco l a r . O que se cons t i t u i em um
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prob l ema a ser superado pe l a esco l a em con jun to com os pa i s
e os a l unos , po i s a esco l a não consegue dar conta soz i nha . É
prec i so uma parcer i a en t re esco l a e fam í l i a pa ra que os a l unos
cons i gam cr i a r um háb i t o de l e i t u ra só l i do . Segundo Luck (20 13 ,
p . 98 ) , “ [ . . . ] o processo educac i ona l se assenta sobre o re l ac i o -
namento de pessoas , or i en tado por uma concepção de ação
con jun ta e i n tera t i va ” . Desse modo, é fundamenta l que , a l ém do
i ncent i vo da esco l a , a cr i ança encont re as poss ib i l i dades e o
i ncent i vo no se i o fam i l i a r pa ra que não só supere as d i f i cu l da -
des de l e i t u ra e compreensão dos t ex tos , quando ver i f i cadas ,
mas que adqu i ra um háb i t o de l e i t u ra só l i do .
Com re l ação à pergunta acerca do número de l i v ros l i dos ,
os resu l t ados são pos i t ivos , po i s a ma ior i a dos a l unos aponta
que l ê t r ês ou ma i s l i v ros por ano . Isso demons t ra que , embo -
ra ha ja um a l t o í nd i ce de d i f i cu l dades na l e i t u ra ent re os a l unos
do qu i n to ano , como é o caso da turma da esco l a Y , a qua l
quase a metade da turma não sabe l er , há prá t i cas de l e i t u ra e
i ncent i vo por par te da esco l a . O prob l ema é saber s e esses
i ncent i vos es tão abrangendo aque l es a l unos que não consegu i -
ram dom ina r o cód i go l i ngu í s t i co a i nda , po i s é fundamenta l
i ncent i va r as cr i anças a permanecerem l endo , mas e aque l as
que não consegu i ram a i nda supera r as d i f i cu l dades na l e i t u ra?
Como i ncent i vá - las a permanecer ten tando? A não des i s t i rem?
5 C O N C L U S Ã O
De cer to modo , é essa a grande ques tão de nossa
pesqu i sa : ao pergunta rmos “De que modo os professores de
Ens i no Fundamenta l I t êm t raba l hado a l e i t u ra na sa la de au l a?
Por que será que em uma turma do 5 º ano do Ens i no
Fundamenta l I a ma ior i a dos a l unos não dom ina a l e i t u ra?”
Gos ta r í amos de , no a l t o de nossas preocupações po l í t i co -
soc i a i s , buscar respos tas para compreender as causas do
prob l ema e o que se pode fazer para que esses a l unos não
des i s tam de aprender . É prec i so i ncent i vá - l os a permanecerem
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t en tando vencer o prob l ema . Ac ima de tudo , é prec i so
encont ra r cam inhos para que esses a l unos superem suas
d i f i cu l dades , se j a no dom ín i o do cód i go l i ngu í s t i co , se j a na
compreensão do que l eem. As esco l as têm sent i do grandes
d i f i cu l dades ao cons ta ta r que seus a l unos sa í ram do Ens i no
Fundamenta l , e depo i s do Ens i no Méd io , e não consegu i ram
aprender a l er de mane i ra sa t i s fató r i a , permanecendo em
l e i t u ras rasas , i ncapazes de produz i r op i n i ões cr í t i cas a par t i r
de suas l e i t u ras .
Em nossa pesqu i sa de campo , ao e l abora rmos o ques t i o -
nár i o da ent rev i s ta , buscávamos jus tamente perceber de que
mane i ra a l e i t u ra era pra t i cada em sa la de au l a . Aos professo -
res d i spon i b i l i zamos as perguntas aba i xo :
0 1 . Quan to s a l u no s h á n a t u rma?
02 . Qua l a méd i a d e i d ade do s a l un o s?
03 . De qu e mane i r a a l e i t u r a é t r ab a l h ad a em sa l a d e au l a?
04 . Qua i s t é cn i c as e/ ou f e r r amen t as são u t i l i z ad as p a r a p r o po r -
c i o n a r às c r i an ças o h áb i t o d a l e i t u r a?
05 . Que g ên e ro s t e x t u a i s v o cê t em u t i l i z ado em su a s a l a d e
au l a?
06 . Quan to s a l u no s d a t u rma dom i n am a l e i t u r a?
07 . Os a l u no s d emons t r am d om í n i o d as es t r u t u r as d a l í n gu a e a
comp r een são do s t e x t o s l i d o s?
08 . O que vo cê t em f e i t o p a r a o s a l u no s san a r em as d i f i c u l d a -
d es n a l e i t u r a?
Ao fazermos ta i s perguntas aos docentes , t í nhamos do i s
ob je t i vos pr i nc i pa i s : conhecer o pe r f i l da turma e a mane i ra
como a l e i t u ra é t raba l hada em sa l a de au l a . Pa ra tan to , qua t ro
perguntas e suas respect i vas respos tas foram fundamenta i s
para a i nves t i gação. As perguntas 03 , 04 e 08 ob j e t i va ram
e l uc i da r os métodos u t i l i zados pe l o p rofessor em sa l a de au l a
para t raba lha r a l e i t u ra a f im de cr i a r um amb ien te mot i vador
ao desenvo lv imento dos a l unos enquanto su je i t os l e i t o res .
Nas r espos tas da esco l a X o prof essor respondeu que
“ t odos os a l unos dom inam a es t ru tura da l í ngua e compreen -
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dem o que l eem” . Af i rma que “há o Momento conto nas au l as ” ,
“ [ . . . ] os a l unos são i ncent i vados a se prepararem em casa para
o momento de l e i t u ra do d i a segu i n te” e “ [ . . . ] os a l unos podem
pegar l i v ros empres tados na b i b l i o t eca e l evar para casa ” .
Nas respos tas , o pro fessor da esco l a Y a f i rma que “ todas
as d i sc i p l i nas são t raba l hadas a par t i r da produção e l e i t u ra
t ex tua l ” , o f erecendo aos a l unos uma d ivers i dade de gêneros
t ex tua i s em sa l a de au l a e acesso à b i b l i o t eca . Porém, segundo
o professor , “a ma ior ia a i nda não dom ina o cód i go l i ngu í s t i co” .
Aos a l unos d i spon i b i l i zamos o segu i n te ques t i onár i o com
perguntas de mú l t i p l a esco l ha :
0 1 . Que t i po de l e i t u ra gos ta de fazer na escol a e em
casa?
a ) h i s tór ia em quadr i nhos ( )
b ) h i s tór i as de aventura ( )
c ) contos de fadas ( )
d ) f i cção ( )
e ) poemas
f ) ou t ras ( )
02 . Em que amb ien te você ma i s gos ta de l er?
a ) casa ( )
b ) esco l a ( )
03 . Quantos l iv ros você l er por ano?
a ) 1 - 3 ( )
b ) 3 ou ma is ( )
Dese jávamos , com esse ques t i onár i o , compreender a re l a -
ção que os a l unos do qu i n to ano possuem com a l e i t u ra em
sa l a de au l a e s e essa re l ação ext rapo l a o amb ien te esco l a r ,
i nd i cando um háb i t o de l e i t u ra prazeroso e conso l i dado ou se
es tava res t r i t o ao amb ien te da sa la de au l a .
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Em suas respos tas , os a l unos da esco l a X , na ques tão
0 1 , marcaram as opções a ) e b ) ; na ques tão 02 , a opção a ) ; na
ques tão 03 , um dos ent rev is tados esco l heu a opção a ) e o
out ro a opção b ) . Já na esco l a Y , o p r ime i ro ent rev i s tado
marcou na ques tão 0 1 a opção a ) e o segundo as opções a ) e
e ) ; na ques tão 02 , um dos ent rev is tados marcou a opção b ) e
o out ro esco l heu ambas as opções ; na ques tão 03 , ambos os
ent rev i s tados esco l heram a opção b ) .
A aná l i se das ent rev i s tas demonst rou que ex i s te prá t i ca
de l e i t u ra na sa l a de au l a e que os a l unos ent ram em conta to
com d iversos t i pos de tex tos , mas de i xa rasas as respos tas
acerca das med idas tomadas para aux i l i a r o a l uno a supera r a
fa l t a de hab i l i dade para exerc i t a r a l e i t u ra . Os professores
c i t am a ap l i cação de a t i v i dades . A esco l a X chega a menc ionar
que essas a t i v i dades cor r i gem l e i t u ras er radas e pa l av ras
i ncor retas , mas i sso a i nda é vago . Como i ncent i va r esses
a l unos com d i f i cu l dades a vencê - l as? O que fazer com os 10
a l unos em uma turma com 25 que não conseguem l e r? Perma -
necerão a t rasados em re l ação aos out ros 1 5? Des i s t i rão e
abandonarão a esco la?
He l o í sa Luck , em seu l i v ro Ges tão educac i ona l : uma ques tão parad i gmá t i ca ( 2013 ) , a f i rma que é prec i so uma ação
con jun ta ent re todos os segu imentos que compõem a esco l a .
Todos prec i sam a tua r em con jun to para que a esco l a supere
suas l im i tações em re l ação aos r esu l tados nega t ivos que se
tem v i s to no Bras i l . Quando cada um f i ca preso a sua função
par t i cu l a r e não busca i n tegra r -se no todo , os resu l t ados
então não serão par t i l hados pe l o todo . E o que se vê é um
i n term ináve l j ogo de petecas em que cada um joga a cu l pa
para out ro , mas não se busca efet i vas so l uções para o
enf ren tamento dos prob l emas . A autora a f i rma que “uma das
t endênc i as desse enfoque é jogar a responsab i l i dade sobre os
out ros , i s to é , adota r uma a t i t ude de t rans ferênc i a de respon -
sab i l i dade” . (LUCK , 20 13 . p . 7 1 ) .
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Mas é um fa to que a ques tão da d i f i cu l dade de l e i t u ra
abre espaço a i nda para mu i t as perguntas e ques t i onamentos
que se não respond idas sa t i s fa tor iamente nes te momento ,
podem ser em out ro . Nossa pesqu i sa susc i tou ma i s perguntas
do que respostas , e i sso é , t ambém, ex t remamente importan te .
É prec i so que as perguntas ex i s t am, po i s só ass im teremos
ações em pro l de buscar respondê - l as .
Não consegu imos encont ra r , nos dados co l e tados, c l a reza
quanto às ações tomadas por cada esco l a para enf ren ta r o
prob l ema da d i f i cu l dade de l e i t u ra , po i s t raba l ha r os tex tos é
fundamenta l . Mas a ques tão é : como t raba l ha r esses tex tos
com os a l unos que a i nda não sabem l er? O que fazer para
que esses a l unos não se desmot ivem? Também não f i cou c l a ro
o mot i vo porque esses a l unos no qu i n to ano do Ens i no Funda -
menta l a i nda não aprenderam a l er . Suponhamos que se jam
es tudantes func i ona i s que permaneceram na esco l a , mas
exc l u í dos do processo de aprend i zagem, poss ive lmente , porque
a i nda não houve um enf ren tamento efet ivo do prob l ema .
Ao compara rmos os r esu l tados da esco l a X com os da
esco l a Y , encont ramos d i ferenças gr i t an tes quanto às rea l i da -
des de sa l a de au l a . A pr ime i ra não possu i a l unos com d i f i cu l -
dades na l e i t u ra ; a segunda , por out ro l ado , possu i um número
mu i t o e l evado de a l unos que não dom inam o cód i go l i ngu í s t i co
a i nda . Como exp l i ca r i sso? Sabe -se que as esco l as possuem
rea l i dades soc i oeconôm icas d i feren tes . A p r ime i ra possu i
v í ncu l o com a un ivers i dade es tadua l da c i dade , os a l unos
ent ram na esco l a por sor te i o . Mu i t os desses a l unos possuem
uma rea l i dade soc i oeconôm ica es táve l , enquanto a segunda
a tende a um ba i r ro hum i l de . A popu l ação possu i uma rea l i dade
de prob l emas soc i a is severos . No entan to , esses dados não
são suf i c i en tes para de l i nea r as d i fe renças encont radas no
desenvo lv imento educac i ona l dos a l unos de cada esco l a .
Des te modo , a pesqu isa não consegu iu encont ra r as
respos tas que buscava , mas l ançou perguntas que abrem
cam inho a novas pesqu i sas no i n tu i t o de r espondê - l as . Em
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razão desse resu l t ado , en tendemos que es ta pesqu i sa se
most ra va l i osa às d i scussões c i en t í f i cas , v i s to que fomenta rá
ma ior i n teresse e pr eocupação em buscar respostas para esse
prob l ema que angus t i a pa i s , ges tores , p rofessores e func i oná -
r i os preocupados com o ens i no das esco l as púb l i cas de Fe i ra
de Santana .
Abs t ract : Th i s a r t i c l e a ims to d i scuss the reasons of s tudents
of 5th year — e l ementa ry schoo l — to show grea t d i f f i cu l t i es i n
mas ter i ng read i ng sk i l l s i n wha tever forms . The i nves t i ga t i on
was made f rom a qua l i t a t ive research w i th teachers and
s tudents f rom two mun i c i pa l Fe i ra de Santana schoo ls . G iven
the resu l t s of the i nves t i ga t i on , we soon rea l i zed tha t the
ques t i on does not present a s i ng l e factor to so lve the prob l em ,
i n fact , i t ex i s ts a funct i ona l i l l i t e racy . Thus , i t i s wor th
ment i on i ng the impor tance of j o i n t act i on by teachers , pa rents
and the s tudents themse lves , to rea f f i rm the urgency of
es tab l ish i ng mechan isms to deve l op i n s tudents the sk i l l s o f a
p l ayer who can i n terpret wha t you read cr i t i ca l l y and
ref l ec t i ve l y , t o i n tervene i n soc i e ty , he l p i ng in th i s ma t ter tha t
so a f f l i c t s us . As a theoret i ca l bas is for our d i scuss i ons we
l ay ho l d of theoret i ca l as ( FRE IRE , 1989 ) , ( JOL IBERT , 1994 )
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dez . 20 16 .
NOTAS
1 G r ad u a nd a em L e t r a s Ve r n ác u l a s , 6 º s em e s t r e , B o l s i s t a d e I n i c i a ç ã o
C i e n t í f i c a -CNPq . G r adu and a em Le t r as Ve r n ácu l as , 6 º semes t r e , Bo l s i s t a
d e I n i c i a ç ã o C i e n t í f i c a - F a p e sb . G r a d u a nd a em Le t r a s Ve r n á cu l a s , 6 º
semes t r e , Bo l s i s t a PV IC .
2 P ó s -dou t o r a em Edu cação p e l a Un i v e r s i d ad e d o Va l e d o R i o d o s S i n o s
( 2 0 0 8 ) , p r o f e s s o r a P l e n a n a U n i v e r s i d a d e E s t a d u a l d e F e i r a d e
S a n t a n a ( U E F S ) , C o o r d e n a d o r a d o N ú c l e o d e E s t u d o s e P e s q u i s a s
so b re P ed agog i a Un i v e r s i t á r i a ( N EPPU ) .
Env iado em: 1 3/03/20 16 .
Aprovado em: 28/08/20 16 .