Revista de Educação Dom Alberto
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DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM DE ALUNO COM TDAH:
UM ESTUDO DE CASO
Merli Lúcia Müller1
Cleusa Schwantz2
RESUMO Este trabalho aborda estratégias de intervenção pedagógica para sanar dificuldades de aprendizagem de alunos com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. O estudo tem como objetivo discutir a aprendizagem de estudantes com esse tipo de Necessidade Educacional Especial e identificar estratégias pedagógicas que possam promover sua aprendizagem. Para desenvolver a investigação, foram usadas as pesquisas bibliográficas e documentais, através de consulta a laudos médicos. Além disso, foi adotado o estudo de caso, tendo como objeto de estudo um aluno da rede municipal, o qual possui transtorno de déficit de atenção e hiperatividade. Os dados também foram alcançados através de entrevista padronizada realizada com pais e professores. Ao realizar a pesquisa, pode-se constatar que existe a necessidade de uma forte interação entre aluno, família, professores, escola e médicos especialistas para que o processo de ensino aprendizagem deste educando tenha qualidade, e ele obtenha resultados.
Palavras-chave: Inclusão Escolar. TDAH. Dificuldades de Aprendizagem.
ABSTRACT
This work approaches strategies of pedagogical intervention to cure learning of the students with Attention Deficit Disorder and Hyperactivity. The study has as objectives to discuss the students’ learning with this type of Special Education Need and to identify pedagogical strategies that can promote student’s learning. In order to develop the investigation a bibliographical and documentarian research was done by analysing medical records. Besides that the case study was adopted having as object a student who has attention who has attention deficit disorder and hyperactivity. The infortmation was gained through standardized interview with parents and teachers. By conducting this research, it is possible to identify that there is the need of a strong interation among student, family, teachers, school, and physician in order to have a successful teaching and learning process.
Keywords: School Inclusion. ADHD. Difficulties of Learning.
1Professora da rede publica de Paraíso do Sul, RS, Graduada em Biologia pela UNIVALE, e Pós Graduada em
Educação Ambiental pela UNIFRA e em Educação Especial pela Faculdade Dom Alberto. E-mail: [email protected]. 2 Professora dos cursos de pós-graduação da Faculdade Dom Alberto. Graduada em Pedagogia, Especialista em
Supervisão Escolar e Mestre em Toxicodependência (ULBRA). E-mail: [email protected].
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INTRODUÇÃO
No contexto atual, o processo de ensino aprendizagem é um tema que preocupa
muitos educadores, tornando-se ainda maior para os docentes que se deparam com alunos
que apresentam ritmos de aprendizagem distintos, identificados como pessoas com
necessidades educacionais especiais. Isso faz com que seja necessário não só identificar
aqueles que aprendem de forma mais lenta, mas também apontar ações pedagógicas que
possam ajudá-los a aprender. Nesse sentido, este trabalho propõe um estudo sobre
deficiência cognitiva. Para desenvolver este tema, estudou-se especificamente o processo de
ensino aprendizagem de um aluno com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade,
incluído em uma turma regular de 7ª série.
Considerando que a inclusão de alunos com transtorno de déficit de atenção e
hiperatividade em classes regulares de ensino no município de Paraíso do Sul ainda não tem
sido objeto de estudo de pesquisadores e que este tema tem importância acadêmica e
social, esta pesquisa buscou responder as seguintes questões: Como o aluno com transtorno
de déficit de atenção é inserido em classe regular de ensino e essa inserção é inclusiva?
Como o trabalho dos professores pode favorecer a inclusão de um aluno de 7ª série em suas
aulas numa classe regular de ensino? Que ações pedagógicas podem ser adotadas nesta
turma regular para favorecer o sucesso escolar de toda a turma?
No desenvolvimento deste estudo, buscou-se discutir as dificuldades de
aprendizagem de alunos com necessidades educacionais especiais e identificar estratégias
pedagógicas que possam promover o sucesso escolar de discentes com deficiência mental,
contribuindo para seu crescimento pessoal e escolar.
A realização de um estudo sobre a inclusão de aluno com transtorno de déficit de
atenção e hiperatividade interessa por serem raros os trabalhos em educação especial que
focalizam os resultados escolares de sujeitos com problemas mentais. Além disso, a
proposta de investigação mostrou-se relevante em virtude do número expressivo de alunos
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nas escolas diagnosticados com este transtorno e dos limites encontrados na formação
docente quando se considera a alfabetização de alunos especiais.
Para tornar didática a apresentação deste estudo, este artigo está estruturado da
seguinte forma: primeiro faz-se uma exposição teórico-crítica sobre a escola inclusiva, o
processo de ensino aprendizagem e do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade; a
seguir, descreve-se a metodologia adotada no desenvolvimento desta investigação para,
então, registrar o estudo de caso construído e indicar os resultados e as conclusões.
Por fim, destaca-se que esta pesquisa irá contribuir para o desenvolvimento de ações
pedagógicas concretas na medida em que propôs a análise de um caso real de aluno com
dificuldades em processo de alfabetização, auxiliando professores a qualificar suas
intervenções de ensino em sala de aula e que a escola, por sua vez, precisa estar preparada,
informada e sempre pronta para apoiar os discentes e os profissionais envolvidos no
processo.
REVISÃO DE LITERATURA
A escola e a educação inclusiva
No atual contexto escolar, a inclusão vem se tornando um processo real e desafiador,
pois a cada dia novos casos de crianças com determinada deficiência ou dificuldade, de
ordem física ou psíquica são inseridas no ambiente escolar. A Declaração de Salamanca
(1994) foi, sem dúvida, um importante passo para a inclusão, mas infelizmente sabemos que
a lei não resolve todos os problemas, sendo necessárias ações práticas. Nesse sentido,
sabemos que simplesmente matricular em uma escola regular o aluno com necessidade
educativa espacial sem fazer alterações no ambiente escolar, proporciona apenas uma
integração social, o que é importante, mas não o suficiente para o desenvolvimento deste
ser humano. Sabemos que é preciso fazer mais, portanto, é essencial acreditarmos que
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todas as crianças são capazes de desenvolverem seu potencial, de acordo com suas
especificidades, dadas as condições e o apoio efetivo para as mesmas.
Nessa perspectiva, Lucas (2001, p.31) afirmou que para o sucesso do processo de
inclusão: “Temos que ser sensíveis para incluir a forma singular de cada sujeito, promover
situações de aprendizagem e estarmos capacitados como professores, para trabalharmos
com a diferença, com a diversidade em sala de aula”.
A inclusão na escola regular não resolverá o problema da deficiência do aluno, mas
proporcionará a ele o desenvolvimento de suas potencialidades e a oportunidade de
aprender do seu jeito, de acordo com suas condições. Para isso, os professores têm que
demonstrar interesse pelas individualidades de cada educando, a fim de procurar
alternativas e informações que os auxiliem nesse importantíssimo trabalho que é buscar
meios para sanar estas dificuldades.
Acerca das necessidades educacionais especiais, de acordo com a Declaração de
Salamanca, fica evidente que o foco está centrado no aluno e na sua aprendizagem.
Portanto, a educação inclusiva deve ter sempre como ponto de partida a escola e a classe
comum onde a t5otalidade de alunos, com ou sem necessidades educativas especiais
precisam aprender e ter acesso ao conhecimento, desenvolver seu aspecto cultural e
progredir social e pessoalmente.
Em relação aos profissionais docentes, evidencia-se nesse contexto, a necessidade
dos cursos de graduação rever suas emendas para incluir a disciplina de inclusão na grade
curricular. Pois é de fundamental importância uma formação profissional competente para
que seu desempenho em sala de aula promova situações de aprendizagem que contemplem
trabalhar a diferença, a diversidade. Nesse contexto, torna-se necessário refletir sobre a
inclusão de alunos especiais. Segundo Mantoan (2003), inclusão implica uma mudança de
perspectiva educacional, pois não atinge apenas alunos com deficiência e os que
apresentam dificuldades de aprender, mas todos os que estão em sala de aula, para que
obtenham sucesso na construção do conhecimento.
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Essa é a nova educação, proposta pela inclusão escolar, aquela que reconheça a
criança que se encontrava excluída da relação professor-aluno. Ainda para Mantoan (2003),
a inclusão deve ser total e sem reservas e o direito à diversidade nas escolas é uma
oportunidade que se oferece para realizar a grande maioria delas, principalmente as que
atribuem aos alunos suas próprias deficiências, necessitando analisar como está ocorrendo o
processo ensino/aprendizagem, para que os alunos não sejam penalizados pela repetência,
evasão, discriminação e exclusão.
Desta maneira, a inclusão escolar exige a criação de novos contextos escolares para
que todos os alunos, independente de suas condições humanas, possam participar da
escola. Cabe à escola buscar estratégias para o sucesso de cada aluno, primando pela
qualidade do processo ensino/aprendizagem. Para que o processo de inclusão escolar tenha
sucesso, necessitamos a participação de todos os alunos se apoiando mutuamente e
contando com os professores que garantam que as crianças com habilidades variadas
aprendam umas com as outras.
O contexto escolar da inclusão exige medidas de transformação. Existe a necessidade
urgente de se estudar e conhecer mais profundamente conceitos como cognição,
neurociência, processo de aprendizagem. E, a partir desse conhecimento, os professores
auxiliarem cada aluno em sala de aula.
De acordo com Ana Rosa Abreu (2000/2001, p. 18),
A atuação do professor que busca apoiar efetivamente seus alunos exige uma atitude de acolhimento, tanto nos aspectos estritamente didáticos quanto nos de relação interpessoal. (...) Esse acolhimento requer do professor a utilização de conhecimentos do campo da didática – para propor e apoiar seus alunos nas situações de aprendizagens relativas às áreas de conhecimento escolar – e também de conhecimentos sobre mecanismos sociológicos, culturais e psicológicos que estão envolvidos no ¨ desejo de saber e na decisão de aprender ¨ para subsidiar a reflexão sobre as representações pessoais que faz dos alunos e a forma que se relaciona com eles.
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A atual reforma educacional requer que os professores, as escolas, os sistemas de
ensino construam uma nova organização, traduzindo suas concepções sobre cultura e
educação. Existe a necessidade da participação do coletivo, das parcerias, como conclui
Pacheco (2005, p. 93): “São muitos e variados os aspectos a serem articulados pelo(a)
professor(a) com o grupo de alunos e alunas (...). Envolver a comunidade escolar, colegas, a
família dos alunos na discussão do trabalho, contar com o acompanhamento do apoio
técnico da escola, direção, supervisora e orientadora educacional na construção e
desenvolvimento da proposta didático-padagógica de alfabetização, é bastante pertinente.
São variáveis que não desde o conhecimento teórico-conceitual da lecto-escrita e sua
evolução, a fatores relacionados à organização e ao planejamento do ensino desses
processos”.
Comprova-se, então, que a docência atinja a maturidade profissional, terá que se
responsabilizar e investigar sua prática cotidiana. A criação de um ambiente agradável,
seguro, acolhedor que tenha grandes expectativas em relação aos alunos atendidos
contemplando a diversidade total das necessidades, caracteriza a educação inclusiva. Pois
num sistema educacional inclusivo é necessário que todos os alunos possam estabelecer
relações de aprendizagem, independente das diferenças.
Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)
O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) não é um simples
transtorno, mas um grave problema de saúde, dos mais estudados hoje nos países
desenvolvidos. Irineu Dias (2011) classifica o TDAH como:
É um transtorno neuropsicológico com base biológica, que afeta 10% da população mundial, de caráter hereditário, onde observamos a nível de lobo frontal do cérebro, uma baixa concentração de dopamina e/ou noradrenalina em regiões
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sinápticas das conexões neuronais das vias dopaminérgicas e noradrenérgicas, levando a uma tríade sintomatológica clássica de falta de atenção sustentada e/ou hiperatividade e impulsividade, levando a uma série de alterações comportamentais e de relacionamento, com graves conseqüências caso não seja detectado e tratado precocemente entre os 06 e 12 anos, pois o TDAH não tratado vai resultar em problemas na vida de relações das crianças e adultos comprometendo muitas vezes também o aprendizado.
Quando o TDAH não é tratado, desenvolvem-se comorbidades, dentre as quais se
incluem ansiedade generalizadas, depressão, síndrome de pânico, transtorno do comer
compulsivamente, jogar compulsivamente, hiper-sexualidade, transtorno obsessivo
compulsivo, etc. Existem quatro tipos de TDAH: TDAH do tipo predominante desatento;
TDAH do tipo hiperativo/impulsivo; TDAH do tipo combinado e TDAH do tipo inespecífico, e
é importante que haja um diagnóstico específico do tipo de TDAH para que haja um
tratamento terapêutico e pedagógico adequados.
De acordo com Irineu Dias (2011):
O diagnóstico é eminentemente clínico e baseia-se em critérios operacionais clínicos, claros e bem definidos, provenientes de sistemas classificatórios confiáveis, executados por equipe multidisciplinar (médicos, psicólogos, pedagogos, fonoaudiólogos, psiquiatras, neurologistas).
Ainda hoje há dificuldades em diagnosticar e tratar pessoas com TDAH pela falta de
centros de referência com pessoal treinado, capacitado e habilitado para diagnóstico e
tratamento, bem como, no processo de ensino aprendizagem visto que muitos profissionais
da educação desconhecem o TDAH.
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Dificuldades de aprendizagem
De acordo com Grigorenko e Sternemberg (2003, p.29), “dificuldade de
aprendizagem qualifica-se como um distúrbio em um ou mais processos psicológicos básicos
envolvidos no entendimento ou no uso da linguagem, falada ou escrita,que pode se
manifestar em uma aptidão imperfeita para ouvir,pensar,falar,ler,escrever,soletrar ou
realizar cálculos matemáticos”.
Já para Fonseca (1995), a falta de motivação dos professores assim como a existência
de escolas superlotadas com equipamentos pouco adequados contribuem para as
dificuldades de aprendizagem e intensificam o insucesso.
Segundo Fonseca (1995), revendo seus métodos de ensino e adaptando-os à
realidade de cada comunidade escolar, professores e escola devem trabalhar com
competência e dedicação, visando a tornar a escola um local atraente, onde os alunos terão
a oportunidade de aprender a ler e escrever. Optar pelo sucesso escolar, invertendo as
estatísticas do fracasso escolar, não negando que em cada escola e em cada sala de aula
existem alunos que realmente apresentam dificuldades de aprendizagem que devem ser
diagnosticadas e tratadas por profissionais competentes sempre contando com o apoio da
escola, do professor e da família.
Outro ponto importante para o sucesso escolar sucede de uma estrutura familiar
adequada que propicie condições sócio-econômico-culturais-ambientais que possibilitem
um pleno desenvolvimento. Nesse sentido, Oliveira ressalta: “Compete à família promover
um ambiente sadio para a criança, com regras, limites, compreensão, amor, confiança e
principalmente com valirização do potencial de seu filho. Compete ao professor
compreender melhor o aluno mesmo que este tenha alguns comportamentos inadequados e
criar estratégias para promover uma aprendizagem escolar eficiente”. (2007, p. 94).
Em relação à aprendizagem do aluno, sabemos que será a qualidade do ensino
ministrado que irá fazer a diferença, embora saibamos também que a motivação, a auto-
estima e o envolvimento da família constituem-se fatores importantes. O aluno que puder
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contar com professores que o apóiem, encorajem e tenham paciência, será com certeza
impelido ao sucesso escolar, com boas perspectivas para o futuro.
METODOLOGIA
No desenvolvimento deste estudo, foram adotados alguns procedimentos para
coleta de dados: a) pesquisa bibliográfica para conceituar e caracterizar o transtorno de
déficit de atenção e hiperatividade e fundamentar ações pedagógicas para desenvolver a
alfabetização; b) pesquisa documental para apresentar um diagnóstico da deficiência do
aluno estudado através da consulta a laudos médicos do aluno; c) estudo de caso, já que a
discussão sobre TDAH foi estudada com base em caso concreto; d) entrevista com
professores do aluno para conhecer o processo de aprendizagem do discente e seu nível de
compreensão dos conteúdos lingüísticos desenvolvidos; e) entrevista que será padronizada e
os informantes serão os pais e o próprio aluno cuja aprendizagem é investigada. A entrevista
foi realizada no dia 30 de março de 2011 e contou com 11 questões.
ESTUDO DE CASO
Apresentação do caso estudado
O desenvolvimento deste trabalho pautou-se no estudo de um caso em particular: as
dificuldades de aprendizagem de aluno com TDAH. Este nomeado ficcionalmente de
Nikollas, para preservar sua identidade e evitar sua exposição, encontra-se inserido em
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turma regular de 7ª série, de uma escola municipal de ensino fundamental da região central
do Rio Grande do Sul. A criança é um menino, tem 13 anos e vive com sua mãe biológica.
Nikollas, segundo sua mãe, nasceu de parto normal, desenvolveu-se normalmente,
apresentando sono tranqüilo, sem insônia ou pesadelos. Na época de pré-escola ainda não
comia bem, rejeitando alimentos, mas sem tendência a vômitos. Quanto ao
desenvolvimento psicomotor, engatinhou com 9 meses, com 1 ano e 3 meses deixou de usar
fraldas, começou a falar com 1 ano e dois meses, por ocasião da pré-escola ainda não falava
corretamente, trocando letras ( o que poderia estar associado à sua descendência alemã) e
não falando frases completas.Ocupava suas horas de lazer, brincando em casa, assistindo
televisão, olhando livrinhos e passeando com sua mãe. Costumava brincar sozinho. Na
época, relacionava-se bem com o pai, desenvolvendo uma relação de amizade, mas tinha
maior proximidade com a mãe, pois estavam sempre juntos. Nikollas não possui irmãos. Ao
ingressar na escola, a mãe expressou o desejo de que seu filho melhorasse a expressão oral
e sua comunicação.
Em 2009, cursando a 5ª série, Nikollas apresentou sérios problemas de aprendizagem
em matemática. A professora da disciplina entrou em contato com sua mãe para que juntas
pudessem traçar estratégias para solucionar o problema. Na falta de disponibilidade de
tempo, devido sua carga horária elevada, a professora de matemática não pôde ministrar
aulas no turno inverso, mas o acompanhou com maior atenção em sala de aula. A mãe de
Nikollas, sempre muito atenta as dificuldades de seu filho, resolveu contratar uma
professora particular para estudar os conteúdos. Ela também assistiu e participou de todas
as aulas de reforço, podendo assim auxiliá-lo sempre que necessário em seus temas de casa.
Em sala de aula, a professora logo notou seus avanços na aprendizagem e ele foi aprovado.
No início de 2010, Nikollas foi consultar um neurologista e na consulta foi diagnosticado
que Nikollas apresentava TDAH. Este atestado, que foi posteriormente apresentado aos
professores de Nikollas, informando-os do início do tratamento específico e dizendo que o
aluno deveria demonstrar melhoras já nas próximas semanas. No entanto, isso levou mais
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tempo, pois o paciente não se adaptou à medicação e, ao ingeri-la, sentia muito sono,
chegando, inclusive, a dormir, o que o impossibilitava de ir ao colégio. A mãe fez novo
contato com o medico que alterou a dosagem do remédio e a partir desta data os
professores puderam notar algumas mudanças. Realmente, Nikollas mostrava-se mais
atento e interessado, mas, comcomitantemente, surgiram dificuldades de aprendizagem na
disciplina de português. A escola fez contato com mãe e ficou decidido que o professor
retomaria o conteúdo no turno inverso e iria administrar-lhe exercícios de fixação como
tema de casa. Ao persistirem ainda, algumas dificuldades, sua mãe novamente contratou
uma professora particular, da disciplina de português, para suprir suas dificuldades. E num
esforço conjunto, Nikollas novamente superou estes obstáculos, demonstrando disciplina,
perseverança e superação.
Em 2011, Nikollas novamente mudou de médico, atualmente está sendo atendido no
Hospital Universitário de Santa Maria, e seus remédios foram substituídos. Suas dificuldades
em Português e Matemática ainda persistem, assim como sua determinação e o atento
acompanhamento de sua mãe.
Aprendizagem do aluno
Em relação à aprendizagem de Nikollas, os professores foram unânimes ao afirmar
que o aluno sempre necessitou de atenção especial, que tinha dificuldades em se
concentrar, abstrair e elaborar narrativas. Sempre apresentou dificuldades gráficas e
ortográficas. Sua grafia demonstrava certa torpeza motora com aspecto desorganizado,
traçado inadequado e bem maior que o normal.
Como sua trajetória estudantil ocorreu sempre na mesma escola, este fato foi
apontado pelos professores como muito positivo, pois mantinham um diálogo constante em
relação às dificuldades e evoluções e retrocessos do aluno, possibilitando a troca de
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experiências positivas e evitando as que não deram certo. Ressaltaram a importância do
acompanhamento e envolvimento materno, pois sua mãe esteve sempre pronta a auxiliar
em qualquer momento neste processo de aprendizagem, o que foi fundamental no
desenvolvimento e desempenho do estudante. Também concordaram que Nikollas
demonstrava maiores dificuldades nas disciplinas de Português e Matemática,
respectivamente. E que o aluno não foi encaminhado para a sala de recursos por não haver
atendimento especializado naquela ocasião, e , quando o atendimento passou a existir,
contemplava alunos de primeira à quarta série e Nikollas já se encontrava na quinta série. A
partir de então ele comparecia à escola no turno inverso, para aulas de reforço com
professores das disciplinas em questão e quando isso não era possível, sua mãe
providenciava aulas particulares, as quais ela também assistia para poder auxiliá-lo em suas
tarefas de casa.
Informaram ainda que o aluno, apesar de suas dificuldades nunca foi agressivo, mal
educado ou desrespeitoso, apenas necessitava de mais tempo para terminar suas tarefas, e,
quando estas eram extensas, não conseguia manter-se atento a elas.
Ações pedagógicas
Para Rossana Ramos (2010), a escola precisa ter como filosofia da educação a base
teórica construtivista, que leva em conta as diferenças na aprendizagem dos alunos. Este
primeiro passo inspira todos os seguintes, pois o trabalho de inclusão só se torna possível se
orientado por uma proposta teórica condizente com suas finalidades. Quando a instituição
tem somente um tipo de conduta em relação ao ensino e espera apenas um tipo de resposta
por parte dos educandos, a inclusão, logicamente torna-se um problema, porque o aluno
com deficiência apresentará respostas diferentes dos demais. Evidencia-se aqui, a
importância dos professores terem consciência dos diferentes modos de as pessoas
construírem conhecimento.
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Para auxiliar Nikollas em seu processo de ensino aprendizagem, os professores
adotaram diversas estratégias visando a um atendimento mais individualizado, como a
redução do número de atividades por página, o uso de reforços visuais, como cartazes, para
mantê-lo atento, além de privilegiar uma rotina diária clara,com períodos de descanso bem
definidos. Colocaram-no na primeira carteira em frente ao quadro, para supervisionar seus
trabalhos, principalmente na organização e sequencia das atividades. Exigiram dele
disciplina e concentração, mas toleraram suas dificuldades gramaticais trabalhando o erro
como forma de aprendizado e nunca como meio de punição.
Além disso, estimularam atividades conjuntas, onde um inicia a atividade e o outro
continua, como por exemplo, um texto. Criaram novas formas de ensinar os mesmos
conteúdos, pedindo que os alunos elaborassem exercícios ou atividades diversas.
Evidenciaram, ainda, que não há necessidade em exagerar na quantidade de tarefas e sim na
qualidade dela devendo-se aceitar respostas objetivas, diretas, desde que contenham o que
foi solicitado.
Outro ponto muito importante é que o aluno não podeiser privilegiado em nada,
apenas compreendido em suas reais dificuldades e que por isso necessita de um
atendimento diferenciado para evoluir como os demais educandos. Porém, ressalta-se que
todas as atividades propostas devem ser aplicadas a todos os alunos da classe, sem
diferenciação.
Fazer uma observação atenta, argumenta Rossana Ramos (2010), é o mais
importante instrumento de tomada de decisões. As observações devem ser apresentadas e
discutidas pelo corpo docente para que todos opinem e planejem as ações futuras. O
planejamento pedagógico deve ser compartilhado para que as observações de todos sejam
levadas em conta. Nesse sentido, os professores não devem ter medo de, muitas vezes, aliar
a intuição aos conhecimentos de natureza psicopedagógicos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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A investigação que se construiu sobre as dificuldades de aprendizagem de aluno com
TDAH permite o registro de alguns resultados. O primeiro refere-se ao fato de que é
necessário um atendimento mais individualizado para tornar efetiva a alfabetização de
crianças com TDAH inseridas em turmas regulares, pois esses alunos requerem atenção
especial visto seu ritmo de aprendizagem ser diferenciado.
O segundo ponto é destacar que um diagnóstico adequado e um acompanhamento
médico especializado são de vital importância inclusive para nortear o trabalho desenvolvido
tanto em casa e, principalmente na escola, evidenciando o nível de exigência a que se pode
submeter o educando.
Além disso, ressalta-se que a sensibilidade e a criatividade são indispensáveis para a
prática educacional do professor. Pois não adianta ter conhecimento se não se está disposto
a enfrentar desafios e crescer com o que se faz. Esse crescimento nada mais é do que a
aprendizagem significativa do aluno, seu desenvolvimento como pessoa e como cidadão.
Outro resultado interessante relaciona-se à interação que deve existir entre o aluno,
a família, a escola e os médicos especialistas, onde todos devem estar abertos ao diálogo à
troca de informações, e às inovações necessárias, sempre com o intuito de que o aluno se
sinta motivado, amparado e capacitado a superar obstáculos para que a aprendizagem
aconteça, percebendo que o sucesso é o resultado de esforços conjuntos.
Enfim, o estudo sobre as dificuldades de aprendizagem de Nikollas mostra que a
família e a escola devem sempre andar de mãos dadas evidenciando experiências positivas,
como a demonstração de afeto, a valorização do empenho do aluno, estimulando e
apoiando-o, respeitando seus limites e fazendo com que ele se sinta útil. Ao mesmo tempo
devemos minimizar frustrações, limites, tristezas e perdas, pois devemos oferecer condições
para que a criança possa formar sua personalidade, desenvolver sua auto imagem e
relacionar-se com a sociedade onde está inserida.
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®Artigo aceito em jul./ 2012.