Download - Dissertacao Daniela - Parte 1
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UNIVERSIDADE DE SO PAULO
FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAO E CONTABILIDADE
DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAO
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ADMINISTRAO
ORGANIZAES COLETIVAS PARA MELHORAMENTO VEGETAL:
CONDICIONANTES DE SUA EXISTNCIA
Daniela de Moraes Aviani
Orientador: Prof. Dr. Paulo Roberto Feldmann
SO PAULO 2014
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Prof. Dr. Marco Antonio Zago Reitor da Universidade de So Paulo
Prof. Dr. Adalberto Amrico Fishmann
Diretor da Faculdade de Economia, Administrao e Contabilidade
Prof. Dr. Roberto Sbragia Chefe do Departamento de Administrao
Prof. Dr. Lindolfo Galvo de Albuquerque
Coordenador do Programa de Ps-Graduao em Administrao
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DANIELA DE MORAES AVIANI
ORGANIZAES COLETIVAS PARA MELHORAMENTO VEGETAL:
CONDICIONANTES DE SUA EXISTNCIA
Dissertao apresentada ao Departamento de Administrao da Faculdade de Economia, Administrao e Contabilidade da Universidade de So Paulo como requisito para obteno do ttulo de Mestre em Administrao.
Orientador: Prof. Dr. Paulo Roberto Feldmann
Verso original
SO PAULO 2014
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FICHA CATALOGRFICA Elaborada pela Seo de Processamento Tcnico do SBD/FEA/USP
Aviani, Daniela de Moraes Organizaes coletivas para melhoramento vegetal: condicionantes de sua existncia / Daniela de Moraes Aviani. -- So Paulo, 2014. 102 p. Dissertao (Mestrado) Universidade de So Paulo, 2014. Orientador: Paulo Roberto Feldmann.
1. Estratgia organizacional 2. Inovao no agronegcio 3. Melho- ramento gentico vegetal I. Universidade de So Paulo. Faculdade de Economia, Administrao e Contabilidade. II. Ttulo. CDD 658.401
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A Roberto Mesquita Melo, por acreditar.
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A Sergio Paulino, por visualizar este trabalho antes que eu o pudesse.
Ao meu orientador, Prof. Dr. Paulo Feldmann, pelo exemplo, ensinamentos,
generosidade e confiana.
A Leandro Pongeluppe, por me reconduzir aos livros.
Aos professores da FEAUSP Roberto Sbragia e Bernadete Marinho, por
compartilharem seus conhecimentos e, em especial, a Decio Zylbersztajn, Nuno Fouto e
Sylvia Saes, pelo apoio, incentivo e amizade.
Aos membros da banca, Prof. Sylvia Saes e Prof. Antnio Mrcio Buainain, por
aceitarem prontamente o convite para avaliao deste trabalho e pelas valiosas sugestes.
A Claudio Oliveira, pelo inestimvel suporte na etapa de qualificao.
A Heloisa, Daniela e Fabiana (PPGA/FEAUSP), Jos Alves (MAPA), Nice e Silvia (FIA),
pelos incontveis auxlios, mesmo a distncia.
Aos amigos que fiz na USP, Ana Luiza Mascarin, Anders Fredriksson, Caroline
Gonalves, Caroline Quevedo, Claudia Knig, Claudio Oliveira, Eder Carvalho, Gaby
Tiscoski, Leandro Pongeluppe, Lilian Schreiner, Kassia Watanabe, Nobuiuki Ito e
Thiago Carvalho, pelo companheirismo e pela acolhida em So Paulo.
Ao Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento, por me proporcionar a
inestimvel oportunidade de crescimento intelectual e pessoal.
Aos colegas do Servio Nacional de Proteo de Cultivares, pela torcida, pela ajuda na
pesquisa e pelo interesse com o qual acompanharam meu curso.
Aos dirigentes, aos lderes e ao pessoal de apoio das organizaes que colaboraram de
forma atenciosa e prestativa com as informaes aqui utilizadas.
A Elza Cunha, Ivo Carraro, Marcos Fuck e Ton Rocha, por me instigarem e inspirarem.
A amiga Rosa Ceclia, pela generosidade em contribuir com providenciais sugestes.
A Eliane e Do Carmo, fiis escudeiras que mantiveram a ordem na vida de minha
famlia.
Aos meus dois maiores amores, Joo e Elisa, por entenderem minhas frequentes
ausncias, por compartilharem seus espaos de estudo e pelo companheirismo. Se ficar o
exemplo, fizeram tudo valer a pena.
Aos meus pais, Romano e Geny, por me nutrirem de sonhos e apoiarem minhas
empreitadas.
Ao meu companheiro de vida, Roberto, por me sustentar quando no consegui
andar sozinha.
Deixo minha gratido!
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"Desde que ns descobrimos
que algumas vezes os burocratas
no tm as informaes corretas,
enquanto cidados e usurios dos recursos
tm, ns esperamos que isso ajude a
encorajar um senso de capacidade
e de poder"
Elinor Ostrom
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RESUMO
O melhoramento vegetal constitui a primeira etapa de todos os sistemas das cadeias agroindustriais, pois responsvel por gerar e disponibilizar aos agricultores, sob a forma de novas cultivares, a gentica das sementes a serem utilizadas nos cultivos que suprem a demanda do pas por produtos agrcolas. O presente trabalho pretende investigar a dinmica de constituio de entidades privadas, pertencentes a grupos de produtores rurais, com a finalidade de gerar novas cultivares. A observao deste fenmeno pode auxiliar o aperfeioamento de mecanismos institucionais para fortalecimento das aes coletivas voltadas para o interesse pblico e importantes, do ponto de vista estratgico, para o agronegcio do Brasil. Pretende-se, assim, responder seguinte questo de pesquisa: Quais os incentivos para as organizaes coletivas se dedicarem ao melhoramento vegetal? A presente investigao, de cunho qualitativo e com fins exploratrios, realiza um estudo de mltiplos casos luz de conceitos da economia das organizaes por meio de variveis motivacionais especficas situadas em duas dimenses: ambiente institucional e estrutura de mercado. As organizaes analisadas so: Cooperativa Central Gacha Ltda. CCGL, Cooperativa Central de Pesquisa Agrcola Coodetec, Centro de Tecnologia Canavieira CTC, Fundao de Apoio Pesquisa Agropecuria de Mato Grosso Fundao MT, e Instituto Mato-Grossense do Algodo IMAmt. possvel observar diferenas marcantes de estrutura, estratgia e diversas outras variveis analisadas nas organizaes, o que dificulta comparaes. Embora no tenham sido confirmadas as hipteses sugeridas de que as organizaes teriam surgido para competir no mercado de sementes ou para exercer poder de barganha nas negociaes com empresas de grande porte, a avaliao de algumas variveis motivacionais leva a crer que os ganhos dos agricultores esto na influncia que exercem sobre o direcionamento das pesquisas realizadas pelas organizaes e na celeridade com que acessam os seus resultados, na forma de novas cultivares. O financiamento dessas pesquisas sob a forma de uma ao coletiva possibilita diluir os seus elevados custos. Os achados tambm apontam a preocupao dos entrevistados com a baixa taxa de suprimento de novas cultivares ao mercado e estreitamento gentico que coloca em risco as culturas de grande expresso econmica no caso de haver agravamento de incidncia de pragas. Por fim, questiona-se a sustentabilidade das organizaes em ambiente de concorrncia acirrada, haja em vista que, em grande parte, foram estruturadas para compensar limitaes do sistema pblico de pesquisa. Diante do exposto, percebeu-se, nas entrevistas, haver uma movimentao no sentido de aperfeioar as estratgias mercadolgicas, com o aproveitamento dos mecanismos legais disponveis, como a Lei de Proteo de Cultivares, e a realizao de parcerias com empresas multinacionais. Palavras-chave: Estratgia organizacional, inovao no agronegcio, melhoramento gentico vegetal.
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ABSTRACT
Plant breeding is the very first step of agro-industrial systems. It is responsible for creating new varieties and providing farmers with the seeds to be used in agricultural production to supply the country's demand. The present study aims to investigate the establishment of private entities engaged in plant breeding, belonging to groups of farmers. The observation of this phenomenon can assist the development of institutional mechanisms for strengthening collective actions, especially if they are of public interest and important as a strategy for the Brazilian agribusiness. It is intended, therefore, to answer the following research question: What are the incentives for collective organizations to engage in plant breeding? The present investigation is classified as qualitative with exploratory purposes. It is based on a multiple case study and takes account the concepts of the economics of organizations using specific motivational variables divided into two dimensions: institutional environment and market structure. The organizations are: Cooperativa Central Gacha Ltda. CCGL, Cooperativa Central de Pesquisa Agrcola Coodetec, Centro de Tecnologia Canavieira CTC, Fundao de Apoio Pesquisa Agropecuria de Mato Grosso Fundao MT, and Instituto Mato-Grossense do Algodo IMAmt. We observed remarkable differences in structure, strategy and other variables analyzed in organizations, making any kind of comparison difficult. Although the suggested hypotheses have not been confirmed i.e. that the organizations have arisen to compete in the seed market or to exercise bargaining power against big companies, the assessment of some motivational variables suggests that the gains of the farmers could be driving the research conducted by the organizations toward their own interests and, in the short term, to access new varieties. Funding research in a collective action allows reduction of their high costs. The findings also indicate some concern of respondents about the low rate of supply of new varieties to the market and genetic narrowing which increases susceptibility of crops to pests. Finally, one can question the sustainability of organizations in a fiercely competitive environment, considering that they have been structured to compensate the limitations of public research. Lastly, it was noted in the interviews, that there is a movement in collective organizations towards improving marketing strategies, by taking advantage of legal mechanisms available, such as the Plant Variety Protection Law and building partnerships with multinational companies. Key words: Organizational strategy, innovation for agribusiness, plant breeding.
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SUMRIO
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ................................................................................... 2
LISTA DE FIGURAS .................................................................................................................... 3
1 INTRODUO........................................................................................................................ 4
1.1 Contextualizao ............................................................................................................... 4
1.2 Questo de pesquisa........................................................................................................ 11
1.3 Objetivos do estudo ........................................................................................................ 12
1.4 Definies operacionais .................................................................................................. 12
1.5 Justificativa e contribuies ........................................................................................... 15
1.6 Organizao do estudo ................................................................................................... 16
2 REVISO DE LITERATURA ............................................................................................. 17
2.1 O agronegcio no Brasil ................................................................................................. 17
2.2 Transformaes econmicas e institucionais................................................................ 19
2.3 A adaptao das organizaes ao ambiente institucional ........................................... 21
2.4 Organizao de produtores em aes coletivas ............................................................ 25
2.5 Estrutura competitiva do mercado de sementes .......................................................... 30
3 O SEGMENTO DE MELHORAMENTO VEGETAL NO BRASIL ............................... 33
4 METODOLOGIA .................................................................................................................. 48
4.1 Natureza do estudo ......................................................................................................... 48
4.2 Mtodos e tcnicas de coleta de informaes ............................................................... 49
4.3 Modelo conceitual ........................................................................................................... 52
4.4 Variveis e indicadores .................................................................................................. 52
4.5 Universo de estudo e unidades de anlise ..................................................................... 54
4.6 Procedimentos e instrumentao .................................................................................. 54
4.7 Forma de anlise ............................................................................................................. 56
4.8 Aferio da qualidade da pesquisa ................................................................................ 57
4.9 Limitaes........................................................................................................................ 59
4.10 Sntese da metodologia ................................................................................................. 60
5 AS ORGANIZAES COLETIVAS OBTENTORAS DE PLANTAS NO BRASIL .... 61
5.1 CCGL - Cooperativa Central Gacha Ltda. ................................................................ 64
5.2 Coodetec - Cooperativa Central de Pesquisa Agrcola ............................................... 68
5.3 CTC - Centro de Tecnologia Canavieira ...................................................................... 72
5.4 Fundao MT - Fundao de Apoio Pesquisa Agropecuria de Mato Grosso ...... 74
5.5 IMAmt - Instituto Mato-Grossense do Algodo .......................................................... 78
5.6 Anlise geral .................................................................................................................... 81
6 CONSIDERAES FINAIS ................................................................................................ 85
6.1 Concluses ....................................................................................................................... 85
6.2 Limitaes e investigaes futuras ................................................................................ 87
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CCGL: Cooperativa Central Gacha Ltda.
CEPEA: Centro de Pesquisas Econmicas da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz
CIRAD: Centro de Cooperao Internacional em Pesquisa Agronmica para o
Desenvolvimento
Coodetec: Cooperativa Central de Pesquisa Agrcola
CTC: Centro de Tecnologia Canavieira
CTPA: Centro Tecnolgico para Pesquisas Agropecurias
EPAMIG: Empresa de Pesquisa Agropecuria de Minas Gerais
FACUAL: Fundo de Apoio Cultura do Algodo
FAPCEN: Fundao de Apoio Pesquisa do Corredor de Exportao Norte Irineu Alcides
Bays
Fundao MT: Fundao de Apoio Pesquisa Agropecuria de Mato Grosso
IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
IMAmt: Instituto Mato-grossense do Algodo
FAO: Organizao das Naes Unidas para Agricultura e Alimentao
LPC: Lei de Proteo de Cultivares
MAPA: Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento
OCEPAR: Organizao das Cooperativas do Estado do Paran
P&D: Pesquisa e Desenvolvimento
SAG: Sistema Agroindustrial
SNPC: Servio Nacional de Proteo de Cultivares
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Fluxo genrico de produo de sementes ................................................................ 34
Figura 2 - Ganho de produtividade por produto no Brasil ....................................................... 36
Figura 3 - Evoluo de rea e produo de cereais, leguminosas e oleaginosas no Brasil ...... 37
Figura 4 - Perfil comercial de empresas globais - Investimentos em P&D 2006 .................... 39
Figura 5 - Participao de empresas no mercado de sementes de milho no Brasil em 2009 (%)
.......................................................................................................................................... 40
Figura 6 - Participao de cultivares no mercado de soja da Regio Sul, por origem ............. 44
Figura 7 - Participao de empresas no mercado de sementes de soja no Brasil em 2009 (%)45
Figura 8 - Modelo conceitual da pesquisa ................................................................................ 52
Figura 9 - Evoluo de cultivares protegidas pertencentes CCGL (dez/2013) ..................... 64
Figura 10 - Evoluo de cultivares protegidas pertencentes Coodetec (dez/2013) ............... 71
Figura 11 - Evoluo de cultivares de soja e algodo protegidas pertencentes CTC
(dez/2013) ......................................................................................................................... 73
Figura 12 - Evoluo de cultivares de soja e algodo protegidas pertencentes Fundao MT
(dez/2013) ......................................................................................................................... 78
Figura 13 - Evoluo de cultivares de soja e algodo protegidas pertencentes ao IMAmt
(dez/2013) ......................................................................................................................... 79
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1 INTRODUO
O presente trabalho busca analisar os fatores que influenciam as organizaes coletivas
mais precisamente, entidades privadas, mantidas e geridas por grupos de produtores rurais a
atuarem em atividades que antecedem a porteira, como as que envolvem o suprimento de
insumos, em particular, a criao de novas variedades vegetais. As organizaes coletivas
observadas nesta pesquisa de casos mltiplos atuam no mesmo ambiente de inovao
ocupado tradicionalmente pela pesquisa pblica e onde tm predominado, mais recentemente,
as empresas transnacionais. Haja vista a importncia do negcio de sementes para os agentes
envolvidos nos elos primrios do agronegcio brasileiro e os consequentes desdobramentos
estratgicos, entende-se como relevante conhecer um pouco mais sobre o contexto em que
essas organizaes coletivas emergiram. Quem so essas organizaes? Quais incentivos
estariam por trs dessas iniciativas? Que aspectos institucionais e caractersticas do mercado
induziram a sua formao? Em que arranjos organizacionais e mercadolgicos esto
inseridas? Quais fatores influenciam suas perspectivas futuras? So essas algumas das
indagaes que esta investigao prope desvendar.
1.1 Contextualizao
O melhoramento de plantas, ou melhoramento vegetal, reconhecido como uma das
atividades mais antigas e contnuas conduzidas pelo homem. Numa anlise histrica, Hallauer
(2011) associa a evoluo da civilizao aos sucessos obtidos pela prtica do melhoramento
gentico vegetal. O autor assinala que, apesar das diferenas encontradas entre autores sobre
seus objetivos, h consenso que o melhoramento de plantas uma combinao de arte e
cincia para manipular sistemas genticos para desenvolvimento de cultivares superiores (p.
198). Graas domesticao e ao aprimoramento das plantas para cultivo, foi possvel
garantir suprimento de alimento, combustvel e fibras necessrio para fixao do homem em
comunidades sedentrias, h aproximadamente 10.000 anos. Hallauer ainda acredita que,
apesar do relevante papel no desenvolvimento de vrias civilizaes humanas, a atividade de
melhoramento vegetal no tem sua importncia reconhecida talvez por absoluta falta de
compreenso do pblico em geral , sendo comum que desenvolvimentos nas rea de
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5
medicina, engenharia, eletrnica, transportes, por exemplo, recebam consideravelmente mais
ateno que a rea de melhoramento de plantas.
As atividades que envolvem o melhoramento de plantas constituem o primeiro segmento dos
sistemas das cadeias agroindustriais, responsvel por gerar e disponibilizar aos agricultores,
sob a forma de novas variedades, ou cultivares1, a gentica das sementes que sero utilizadas
nos cultivos agrcolas.
Esses aspectos tcnicos tornam-se relevantes em razo das preocupaes que assolam as
naes no que diz respeito ao abastecimento de alimentos nos anos vindouros. A Organizao
das Naes Unidas para Agricultura e Alimentao - FAO estima que o fornecimento de
gneros alimentcios deveria aumentar 60% nos prximos 30 a 40 anos a fim de acompanhar
o aumento da populao mundial (FAO, 2013, p. 128).
Cientes da presso que essas perspectivas exercem sobre a agricultura, os pases mais
desenvolvidos reconhecem que os caminhos passam pela produo mais eficiente e mais
sustentvel, por meio da melhoria das prticas agrcolas, dos sistemas de armazenamento, da
distribuio e minimizao das perdas ocorridas nesses canais. Porm, considerando-se que a
superfcie de terras agricultveis diminui progressivamente e que as oportunidades de
aumentar a rea cultivada so extremamente limitadas, cresce a importncia dos
investimentos em melhoramento vegetal (PARLAMENTO EUROPEU, 2014).
Diante desse quadro, o principal desafio dos melhoristas adaptar as espcies s mais
diversas condies ambientais e de manejo e tambm conferir a elas potencial produtivo para
suprir, em volume e qualidade, a demanda da populao por gros, cereais, fibras, hortalias,
frutferas, espcies energticas e florestais. Para tanto, os melhoristas lanam mo de
diferentes tcnicas: cruzamento controlado, seleo em populaes, engenharia gentica,
1 Os conceitos de variedades e cultivares so alvos contnuos de discusses tcnicas. O termo cultivar originou-
se do termo ingls cultivated variety. Assim, uma corrente de pesquisadores e tcnicos entende que as
variedades so aquelas que surgem sem interferncia do homem, ao passo que as cultivares seriam resultantes de
cruzamentos realizados pelo homem, dando origem a plantas utilizadas com fins econmicos. Para efeito deste
trabalho, cultivar e variedade sero usados como sinnimos, em consonncia com a legislao brasileira,
que dispe sobre a matria: Cultivar: a variedade de qualquer gnero ou espcie vegetal superior que seja
claramente distinguvel de outras cultivares conhecidas por margem mnima de descritores, por sua denominao
prpria, que seja homognea e estvel quanto aos descritores atravs de geraes sucessivas e seja de espcie
passvel de uso pelo complexo agroflorestal, descrita em publicao especializada disponvel e acessvel ao
pblico, bem como a linhagem componente de hbridos. (Lei de Proteo de Cultivares n. 9.456, de 25 de abril
de 1997)
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mutao, entre outras ao alcance da criatividade humana, para a obteno de novas cultivares
que so comercializadas na forma de sementes e mudas2.
Em geral, os programas de melhoramento gentico de plantas promovem inovao do tipo
incremental3, porque se dedicam a aperfeioar variedades j utilizadas nos sistemas de cultivo.
Porm, as contnuas mudanas ambientais, a migrao de espcies agrcolas para novas reas
e o comportamento dinmico de pragas e doenas exigem da pesquisa esforo ininterrupto.
Assim, os melhoristas valem-se da cincia e da criatividade para realizar recombinaes
genticas, no s entre as cultivares reconhecidamente vantajosas, mas tambm com
variedades no comerciais, chamadas de germoplasma4.
Embora o sucesso da atividade agrcola no Brasil esteja muito atrelado s condies
favorveis de solo e clima, confluncia de fatores econmicos, institucionais e capacidade
empreendedora de grupos e indivduos, sua evoluo pode ser creditada, em boa parte,
participao ativa da pesquisa geradora de tecnologia, seja ela realizada no setor pblico ou
privado. Os agentes responsveis pela promoo e pelo desenvolvimento dos programas de
melhoramento so conhecidos no meio agrcola como obtentores5.
Obtentores possuem infraestrutura de campos, casas de vegetao e laboratrios, alm de
propriedades ou contratos de arrendamento ou de parceria , para realizao de
experimentos de adaptao em diversas localidades. Empregam especialistas em gentica,
fitotecnia, entomologia, fitopatologia, biologia e em outras reas das cincias e, por
2 Neste trabalho, ser considerado o conceito amplo de sementes estabelecido pela Lei de Sementes e Mudas, n.
10.711, de 5 de agosto de 2003, que dispe que: material de reproduo vegetal de qualquer gnero, espcie
ou cultivar, proveniente de reproduo sexuada ou assexuada, que tenha finalidade especfica de semeadura.
Desse modo, englobam-se tambm as mudas, estacas, bulbos e tubrculos. 3 Inovao incremental definida por Cohen e Graham (2002) como o acrscimo de novas caractersticas aos
produtos existentes, representando pequenos ajustes aos atuais. Outro conceito dado por Afuah (1998), que
considera a inovao incremental como parte do conhecimento j existente, que requerido para oferecer um
novo produto, contrapondo-se inovao do tipo radical, que necessita de conhecimento tecnolgico diferente
do existente, resultando em um produto superior que no permite concorrente. 4 Germoplasma, em um sentido mais restrito, o conjunto de linhagens, hbridos ou populaes melhoradas que
so preservadas para utilizao em programas de melhoramento (AVIANI, 2011). Tambm pode designar, de
modo genrico, uma planta em seu estgio selvagem, porm devidamente caracterizada e catalogada por pessoa
ou instituio. As colees de germoplasma so a matria-prima dos programas de melhoramento por
englobarem o material hereditrio de uma espcie. 5 Ainda seguindo as definies da Lei de Proteo de Cultivares, obtentor considerado a pessoa fsica ou
jurdica que obtiver nova cultivar. Ele pode ser, por exemplo, horticultor amador, agricultor, cientista, instituto
de pesquisa em melhoramento vegetal ou empresa especializada no melhoramento de plantas, desde que tenha
sido o patrocinador da atividade. , portanto, o detentor dos direitos patrimoniais sobre a cultivar. O termo difere
conceitualmente de melhorista, que a pessoa fsica intelectualmente responsvel pelo desenvolvimento da
nova cultivar e detentor dos direitos morais sobre ela (AVIANI, 2011, p. 37).
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conjugao de esforos interdisciplinares, estabelecem as diretrizes dos programas de
melhoramento que resultam nas novas cultivares.
Uma vez eleitas para utilizao pelo sistema produtivo, as cultivares chegam aos agricultores
por meio da multiplicao de suas sementes em escala comercial. A depender do volume e do
local de adaptao do material, os obtentores realizam contratos de licenciamento com
agricultores especializados em produo de sementes em larga escala. A comercializao das
sementes aos agricultores comuns normalmente feita por representantes dos prprios
obtentores, que podem optar tambm por celebrar contratos com os produtores de sementes
para que realizem a venda diretamente aos agricultores. O tipo de envolvimento do obtentor
nos mecanismos de comercializao indicativo do grau de monitoramento que ele exerce
sobre o recolhimento de royalties a principal fonte de rendimentos das empresas de
melhoramento e, consequentemente, do seu poder de controle sobre o mercado.
O royalty a remunerao cobrada aos usurios de um dado produto, no caso as cultivares,
pelo detentor de um direito exclusivo de propriedade reconhecido pelo Estado. No Brasil, esse
direito pode ser concedido por diversos instrumentos legais, como, por exemplo, patentes,
direitos de marcas, direitos de autores. No contexto deste trabalho, cabe ressaltar a
importncia da proteo de cultivares, regulamentada pela Lei de Proteo de Cultivares -
LPC n. 9.456, de 25 de abril de 1997. A LPC foi instituda com o objetivo de incentivar
investimentos da iniciativa privada na pesquisa de melhoramento vegetal, outorgando o
direito de explorao exclusiva aos obtentores de novas variedades no pas, por um perodo de
15 a 18 anos. Vale lembrar que no s as organizaes privadas se beneficiam desse
dispositivo, mas qualquer organizao que detenha direitos de proteo sobre cultivares. A
Embrapa, atualmente, a empresa com maior nmero de cultivares protegidas no pas.
Rodrigues e Campante (2012) estimam que, no Brasil, a captao de royalties pelas empresas
detentoras de novas tecnologias genticas protegidas por direitos intelectuais foi de
aproximadamente R$ 2,6 bilhes em 2012. Valor equivalente correspondeu ao movimento do
mercado domstico de sementes. No h dvidas de que a liderana do Brasil no mercado
mundial de caf, suco de laranja, acar, etanol, soja e algodo devida, em grande parte, s
pesquisas em melhoramento vegetal. Em 2012, o agronegcio contribuiu com o montante de
900 bilhes de reais para o Produto Interno Bruto do pas (CEPEA, 2013), estimado em 4,4
trilhes de reais (IBGE, 2013).
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Possas et al (1994) discorrem sobre a origem das inovaes na agricultura e categorizam os
agentes em seis grupos, definidos em termos dos comportamentos na gerao e na difuso da
inovao: (a) organizaes empresariais industriais de origem privada (a qual faz parte a
indstria de sementes); (b) instituies de origem pblica (universidades, instituies de
pesquisa e empresas pblicas de pesquisa); (c) origens privadas relacionadas s agroindstrias
(agentes que atuam no processamento de alimentos); (d) organizaes coletivas de origem
privada, sem fins lucrativos (que, mesmo no dependendo de lucros, exerce forte influncia
competitiva em alguns mercados); (e) prestadores de servios de origem privada; e (f)
unidades de produo agrcola (onde o agricultor responsvel pela gerao da inovao).
Dentro das categorias apontadas destacam-se as organizaes dos tipos (a) e (b), que atuam na
gerao de novas variedades vegetais no pas. As organizaes pblicas, do tipo (b),
pertencentes s unidades estadual ou federal, caracterizam-se por dispor de ativos elevados,
fruto de investimentos a longo prazo, mas, em contrapartida, enfrentam dificuldades para
transpor barreiras burocrticas, inerentes ao setor, e para manter constante o fluxo de recursos
para o desenvolvimento de seus programas de pesquisa.
A pesquisa conduzida pela organizao do tipo (a), calcada em investimentos privados,
apresenta maior liberdade tanto em nveis financeiros quanto em tomada de deciso, o que lhe
confere agilidade administrativa. O setor privado formado por empresas nacionais e
estrangeiras (ou transnacionais), que tm em comum o fato de concentrarem seus trabalhos de
melhoramento em espcies agrcolas cujo material propagativo (sementes, mudas, tubrculos
etc.) seja passvel de controle eficaz, pois o lucro sobre a comercializao desses insumos
primrios que viabiliza seu sustento e crescimento, e possibilita a contnua retroalimentao
do mercado com novos produtos. As empresas estrangeiras caracterizam-se pelos elevados
investimentos em pesquisa e pelo constante aporte de novidades tecnolgicas. Essa
capacidade resultante do desenvolvimento proporcionado pela viso estratgica, pela
capacidade gerencial e pela atuao global. So altamente competitivas e, muitas vezes,
atuam tambm no segmento da indstria qumica, o que amplia seu poder de negociao com
os agricultores, por lidarem com pesticidas, outro insumo agrcola importante (COSTA;
SANTANA, 2013).
Empresas privadas de origem brasileira so iniciativas que geralmente partem de melhoristas
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provenientes de organizaes pblicas, com elevada capacidade tcnica, que tm a seu favor a
vivncia e facilidade para entender as necessidades dos agricultores, o conhecimento da
dinmica agrcola, e boa insero em nvel local. Todavia, sua capacidade de trabalho
tolhida, como pequenas e mdias empresas que so, pela difcil concorrncia com as grandes,
que passam a definir o patamar de investimentos e de tecnologia para se firmarem no mercado
(SCATOLIN et al, 2000).
A terceira categoria que merece destaque na tipologia de Possas et al (1994) a organizao
do tipo (d), que engloba aquelas pertencentes a grupos de agricultores, sendo-lhes peculiar o
fato de apresentarem grande capacidade de investimento e de serem alvos de incentivos por
parte do poder pblico. Os incentivos podem ocorrer por meio de isenes tributrias
(conforme a natureza jurdica da organizao), aporte de recursos por convnios ou fundos
especficos ou, ainda, pela facilitao de parcerias dessas organizaes com o setor pblico.
Os casos mais frequentes de parceria dessas organizaes com o setor pblico ocorrem entre
vrias Fundaes6, que firmam compromisso com a Embrapa no intuito de, entre outros
objetivos, canalizar recursos financeiros para o custeio da pesquisa, promover a transferncia
de tecnologia e divulgao das novas cultivares, viabilizar aporte parcial de recursos fsicos
(propriedades rurais), de veculos, mquinas, equipamentos e recursos humanos e facilitar o
recolhimento dos royalties alusivos utilizao das cultivares protegidas pela Embrapa
(FUCK; BONACELLI, 2007). Tomando-se os objetivos elencados, a pesquisa em si no
consta como atividade finalstica dessas organizaes, de forma que no sero objeto de
anlise desta investigao.
O escopo analtico do presente estudo restringe-se s organizaes fruto de aes coletivas7
de agricultores brasileiros que, por razes a serem investigadas, foram impelidos a ingressar
no setor de inovao em gentica de sementes e continuam atuando como agentes, e gerando
resultados na forma de cultivares protegidas.
6 Fuck e Bonacelli (2007) citam algumas dessas fundaes: Fundao Pr-Sementes (RS), Fundao Meridional
(PR); Fundao Vegetal (MS); Fundao Tringulo (MG); CTPA - Centro Tecnolgico para Pesquisas
Agropecurias (GO); FAPCEN - Fundao de Apoio Pesquisa do Corredor de Exportao Norte Irineu
Alcides Bays (MA); Fundao Centro Oeste (MT); Fundao Bahia (BA); EPAMIG - Empresa de Pesquisa
Agropecuria de Minas Gerais (MG); e Agncia Rural (GO). 7 Em um sentido amplo, pode-se entender ao coletiva como sendo a associao voluntria de pessoas que
compartilham interesses, podendo representar a possibilidade de atuar na soluo de problemas em escala local,
nacional ou global. O conceito de ao coletiva transcende as organizaes formais, representadas geralmente
por associaes e cooperativas, podendo assumir a forma de grupos informais engajados em esforos coletivos,
como para realizar um mutiro, ou fazer lobby poltico (SANGLARD; SANTOS, 2013).
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Em Lgica da Ao Coletiva, Mancur Olson (2011) busca explicar o comportamento de
indivduos racionais que se associam para a obteno de algum benefcio coletivo, por meio
da avaliao de que o custo dos esforos (como tempo, dinheiro, etc.) seria inferior aos
resultados alcanados. Alm disso, o autor argumenta que o incentivo econmico no seria a
nica motivao dos indivduos que agem em grupo, pois haveria interesse tambm em
alcanar objetivos sociais e psicolgicos, entre outras recompensas (WILLER, 2009; OLSON,
2011).
Adicionalmente teoria de Olson, outros referenciais utilizados para confrontar os achados
desta investigao so fundamentados na Teoria dos Custos de Transao (TCT), abordada
com maior profundidade por autores como Coase (1960), Williamson (1985, 1991, 1996),
North (2011) e Zylbersztajn (1995). Nesse sentido, as mudanas institucionais, decorridas da
crise econmica das dcadas de 1980 e 1990, podem ter induzido o surgimento das
organizaes estudadas. Do mesmo modo, luz da TCT, a mudana na configurao dos
agentes do segmento de melhoramento vegetal, no mbito da indstria sementeira, pode ser
considerada como resultado das estratgias de competio entre as organizaes.
Ideias nesse sentido podem ainda ser consideradas a partir de uma anlise menos ortodoxa,
conforme proposto por Machado-da-Silva e Fonseca (2010), que apresentam um conceito de
competitividade que abrange noes de tempo e de expectativas, segundo o qual se pode
observar o surgimento das organizaes coletivas como um fator de ajuste s circunstncias
ambientais. Esses autores elegeram, para seus estudos, a abordagem da ecologia populacional
em cuja perspectiva a competitividade vista como um tipo de relao permeada pela
disputa entre organizaes, ou populaes de organizaes, por recursos escassos, mas
essenciais a sua sobrevivncia (p. 35). Desse modo, a anlise conduzida por esta
investigao permitir entender se as organizaes coletivas so uma estratgia delineada
pelos agricultores para participarem como competidores no mercado de sementes ou para
servirem como um poderoso instrumento de barganha com os fornecedores de sementes,
sendo possvel, tambm, ocorrer as duas hipteses simultaneamente.
Dados o contexto da pesquisa e o referencial terico em que se pretende assentar as anlises,
tem-se uma premissa central, baseada em Olson (op. cit., p. 53-65), de que, ao ingressarem
numa ao coletiva, os indivduos esperam obter ganhos superiores aos que poderiam obter se
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agissem isoladamente. Outra premissa que permeia este trabalho parte do princpio de que h
uma tendncia internalizao de transaes quando ocorrem em ambiente de incerteza, por
meio da adoo de estratgias mitigadoras dos custos dessas transaes.
Procurou-se abordar nesta seo os elementos que constituiro a base do presente trabalho de
pesquisa. Ao melhoramento vegetal, atividade econmica geradora de inovaes incrementais
sob a forma de novas cultivares, atribui-se boa parte do sucesso da agricultura do pas, em
razo da disperso geogrfica dos cultivos, da reduo de custos e do incremento de
produo. Entre organizaes pblicas e privadas que operam neste segmento integrantes
dos primeiros elos de todos os sistemas de cadeias agroindustriais destacam-se aquelas
criadas e mantidas por grupos de agricultores, que disputam mercado com grandes empresas
transnacionais de sementes. Nesse contexto, gerar e adquirir direito de propriedade sobre as
cultivares um importante indicativo do nvel de controle que pode ser exercido pelas
organizaes sobre a semente principal insumo da agricultura , conferindo-lhes alta
influncia sobre as cadeias agrcolas. Dessa forma, torna-se fundamental a observao
sistemtica dos tipos de organizaes atuantes nesse setor, bem como o acompanhamento do
comportamento desses agentes.
1.2 Questo de pesquisa
A partir de evidncias de iniciativas de agricultores em financiar diretamente pesquisas em
melhoramento vegetal, em vez de apenas se utilizar da inovao disponibilizada por
obtentores especializados, surge o seguinte questionamento:
Quais os incentivos para as organizaes coletivas
se dedicarem ao melhoramento vegetal?
Por meio de relatos orais e registros documentais, busca-se identificar as motivaes, ou
mudanas conjunturais, que resultaram na fundao de organizaes de propriedade coletiva,
que atuam como aes coletivas, cujo negcio principal seria a promoo de pesquisas em
melhoramento vegetal. As explicaes sero extradas de vertentes tericas que se dedicam a
analisar os contextos organizacionais e institucionais.
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1.3 Objetivos do estudo
As seguintes hipteses sero apreciadas no decorrer da anlise dos casos apresentados por
esta investigao:
Hiptese 1 - As organizaes coletivas so estratgias dos agricultores para competir com
outras empresas no mercado de sementes;
Hiptese 2 - As organizaes coletivas so instrumentos de barganha dos agricultores diante
das grande empresas sementeiras.
Por meio da anlise da atividade de melhoramento de novas variedades vegetais, esta
investigao tem como objetivo geral compreender os fatores que estimulam os agricultores
brasileiros a tomarem aes coletivas e tornarem-se mantenedores de empresas especializadas
em melhoramento de plantas.
Para atingir o objetivo geral, sero buscados os seguintes objetivos especficos:
(a) descrever as organizaes coletivas que promovem o melhoramento vegetal no pas;
(b) relatar mudanas institucionais e econmicas que possam ter desencadeado aes
coletivas focadas no melhoramento vegetal;
(c) detectar, sob a tica de lideranas, as motivaes para o surgimento das organizaes
coletivas voltadas para o melhoramento vegetal;
(d) identificar incentivos atuais para as organizaes coletivas manterem a atividade de
melhoramento vegetal; e
(e) compreender a dinmica de funcionamento e estratgias desenvolvidas pelas organizaes
coletivas.
1.4 Definies operacionais
Os seguintes conceitos foram adotados para fins desta investigao:
Ambiente institucional: conjunto de regras bsicas sociais e culturais que definem
caractersticas comportamentais individuais e coletivas, alm dos sistemas legais de soluo
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de disputas e as polticas macroeconmicas, tarifrias, tributrias, comerciais e setoriais
adotadas pelo governo, parceiros e concorrentes, que estabelecem as bases para a produo,
troca e a distribuio.
Ambiente legal: implementao de regulamentos em nvel estadual ou nacional que
influenciam o comportamento da sociedade, dos indivduos ou das organizaes que nela
esto inseridos.
Arranjo organizacional: organizao interna de uma firma envolvendo a coordenao das
atividades, hierarquia, procedimentos, monitoramento e estratgia cuja definio associada
a: reduo de risco, economia de escala, racionalizao no uso de recursos, transferncia
tecnolgica, competio, exigncias governamentais, barreiras comerciais, realizao de
parceria, criao de valor, entre outros.
Atuao do estado: ao do governo no sentido de modificar o curso da economia ou do
mercado, seja por meio de controle da moeda, polticas de preo mnimo, financiamento, ou
de substituio da iniciativa privada em atividades produtivas que inexistam ou sejam
passveis de risco.
Concentrao do mercado: diz respeito parcela de mercado abrangida por um nmero
relativamente reduzido de empresas em um dado setor da economia ou mercado individual.
Ser analisada a partir de uma viso dinmica, observando suas variaes ao longo de um
determinado perodo de tempo. Seus efeitos sero estudados tanto com relao ao nmero de
firmas envolvidas no processo de gerao de novas cultivares quanto no que concerne s
desigualdades, capacidade de inovao e barreira entrada de novas empresas.
Concorrncia: corresponde situao de um mercado em que os diferentes
produtores/vendedores de um determinado bem ou servio atuam de forma independente face
aos compradores/consumidores, com vista a alcanar um objetivo para o seu negcio lucros,
vendas e/ou quota de mercado utilizando diferentes instrumentos, tais como os preos, a
qualidade dos produtos, os servios aps venda. um estado dinmico de um mercado que
estimula as empresas a investir e a inovar com vista maximizao dos seus ganhos e ao
aproveitamento timo dos recursos escassos disponveis.
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Custo de transao: termo criado por Ronald Coase para designar o dinheiro ou tempo
perdido que um comprador ou vendedor gastam no mercado, alm do preo ou custo de
produo, tendo em vista burocracias, dificuldades de acesso informao (assimetrias),
impostos, inseguranas e falta de garantias.
Estrutura de mercado: espao econmico formado pelo conjunto de agentes responsveis pelo
melhoramento vegetal de cultivares e pelas negociaes de sementes no mbito do Brasil.
Incerteza: grau de imprevisibilidade das mudanas, que emerge na tomada de deciso relativa
s estratgias ou aos planos feitos pelos concorrentes, e que afetado pelas contingncias
ambientais resultantes das aes aleatrias da natureza , pela falta de informaes, ou pelo
oportunismo.
Inovao: desenvolvimento ou melhora significativa de cultivares que atendam aos requisitos
legais de novidade, distinguibilidade, homogeneidade e estabilidade e sejam registradas junto
ao Ministrio da Agricultura.
Organizaes coletivas para melhoramento vegetal: entidades pertencentes a um grupo de
agricultores ou produtores de sementes atuantes em territrio nacional, cujo objetivo realizar
pesquisa para melhoramento vegetal de espcies agrcolas. Para fins desta investigao, sero
consideradas equivalentes a aes coletivas.
Poder de barganha do consumidor: uma das cinco foras de Porter, e definida pela
capacidade de barganha dos agricultores para com as empresas do setor de sementes. Esta
fora competitiva tem a ver com o poder de deciso dos compradores sobre os atributos do
produto, principalmente quanto a preo e qualidade. Os consumidores podem exigir mais
qualidade por um menor preo ou pode forar os preos para baixo, jogando os concorrentes
uns contra os outros.
Recompensa: ganho compensatrio esperado pelo indivduo em retribuio colaborao
com a ao coletiva.
Transformaes econmicas: resultado da combinao de fatores internos ou externos,
polticos ou estruturais, que implicaram mudanas macroeconmicas e resultaram em ruptura
do modo de operar dos agentes econmicos.
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1.5 Justificativa e contribuies
Observa-se uma abundncia de estudos sobre aes coletivas em pequenas comunidades do
meio rural ou de agricultores menos favorecidos economicamente, em regimes de gerao de
bens ou de preservao de recursos naturais de uso comum8. As aes coletivas voltadas para
as atividades agrcolas so principalmente investigadas sob o aspecto da influncia poltica,
ou econmica, de grupos em defesa de seus interesses, notadamente conhecidas como
atividades de lobby (IGLCIAS, 2007), que vo desde disputas por terras at intervenes no
comrcio internacional. razoavelmente explorado tambm, do ponto de vista cientfico, o
papel das organizaes coletivas como difusoras de tecnologia, para a compra de insumos e
na comercializao da produo (CHADDAD et al, 1999; MARTINELLI, 2004). Porm,
pouco se conhece sobre aes coletivas diretamente implicadas na inovao de produtos, cuja
essncia se situa na confluncia de uma associao de produtores e de uma empresa voltada
para o mercado. Portanto, no sentido de agregar conhecimento aos estudos sobre as
organizaes coletivas para fins de inovao que este estudo busca contribuir.
Desse modo, pretende-se abordar o ponto de vista dos sujeitos envolvidos na constituio das
organizaes brasileiras mantidas por agricultores e identificar as percepes sobre as
motivaes que os impeliram a ingressar como agentes do segmento de inovao em gentica
de sementes.
Em um pas de base agrcola como o Brasil, torna-se essencial o desenvolvimento de
organizaes fortes, sobretudo no que se refere ocupao de posies sensveis nas cadeias
produtivas. As organizaes contempladas neste estudo tm papel fundamental no mercado de
sementes, por vezes superando a pesquisa pblica nacional, e grande potencial competitivo
diante das empresas transnacionais, cuja participao no mercado internacional de sementes
mundial crescente. Conhecer as motivaes para esse tipo de ao coletiva pode auxiliar no
aperfeioamento de mecanismos institucionais que fortaleam, haja vista a importncia dessas
8 Apesar de no ter sido realizado uma pesquisa bibliomtrica sobre o assunto, observou-se, por ocasio da
pesquisa documental para este trabalho com buscas restritas a temticas da agricultura e da pesquisa agrcola ,
que a maior parte dos estudos sobre as aes coletivas versa sobre cooperativas, associaes ou, ainda, grupos
informais em pequenas comunidades. Via de regra esses estudos so conduzidos com abordagem
desenvolvimentista, com cunho social ou ambiental. Foram identificados em menor nmero, porm, com grande
expressividade, estudos voltados analise de aes coletivas engajadas no lobby de categorias produtivas.
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aes do ponto de vista estratgico para o agronegcio do pas, o que justifica, assim, a
presente investigao.
1.6 Organizao do estudo
O presente documento reporta-se a uma pesquisa realizada entre os anos de 2013 e 2014, e
est divido em seis partes. A introduo apresenta a temtica a ser tratada, o intuito da
dissertao, a questo de pesquisa, seus objetivos e justificativas que a amparam. Segue-se
introduo, a segunda parte que traz um levantamento de literatura com enfoque histrico
sobre o agronegcio e as transformaes econmicas e institucionais que o afetaram na
dcada de 1990, bem como uma reviso terica sobre o papel do ambiente institucional e a
dinmica de surgimento das organizaes coletivas. A terceira parte discorre sobre o
segmento de melhoramento vegetal do pas, a fim de situar a questo pesquisada no contexto
nacional. Na quarta parte so descritos os procedimentos metodolgicos utilizados, tais como
as variveis que sero consideradas para anlise da questo enfocada, o universo a ser
pesquisado, a forma de coleta e de anlise dos dados. A parte cinco apresenta as organizaes
estudadas e analisa as percepes obtidas nas entrevistas realizadas com alguns de seus
dirigentes, combinando os fatos com o referencial terico. As consideraes finais so
expressas na parte seis com as concluses, limitaes da pesquisa e recomendaes para
investigaes futuras. Por fim, listam-se as referncias bibliogrficas consultadas ao longo da
investigao.
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2 REVISO DE LITERATURA
2.1 O agronegcio no Brasil
O fenmeno das aes coletivas evidenciadas por este trabalho ocorre no contexto do
agronegcio. O conceito de agribusiness foi apresentado nos Estados Unidos da Amrica em
1957 por Davis e Goldberg para definir a soma total das operaes de produo e
distribuio de suprimentos agrcolas; as operaes de produo nas unidades agrcolas; e o
armazenamento, o processamento e a distribuio dos produtos agrcolas, e itens produzidos
com eles. No Brasil foi convertido para o termo agronegcio e, a partir da dcada de 1990,
consolidou-se com sua acepo atual, ao ser usado por Ney Bittencourt Arajo, Ivan Wedekin
e Luiz A. Pinazza (1990) e outros autores renomados, como A. Kageyama (1990) e Jos
Graziano da Silva (1991), em virtude de sua capacidade em representar, em termos de anlise
econmica, a abordagem intersetorial agricultura-indstria (HEREDIA, 2010).
Arajo et al (1990) sustentam que o agronegcio engloba os fornecedores de bens e servios,
os produtores rurais, os processadores, os transformadores e os distribuidores envolvidos na
gerao e no fluxo dos produtos agrcolas at o consumidor final. Os autores consideram que
participam tambm desse complexo os agentes que influenciam e coordenam o fluxo dos
produtos, tais como, o governo, os mercados, as entidades comerciais, financeiras e de
servios.
Farina e Zylbersztajn (1996) abordam o sistema agroindustrial como uma sequncia
encadeada de atividades montante (de dentro ou anterior fazenda) e jusante (para fora da
fazenda), ou seja, um nexo de contratos que abrangem segmentos antes, dentro e depois da
porteira. So considerados por Amaral et al (2003) como pioneiros em anlises do
agronegcio do ponto de vista sistmico, importantes para o apoio tomada de decises
corporativas (p. 67). A viso sistmica caracterizada pelo nvel de agregao dada
atividade produtiva, no mais segmentada em setores agrcola, industrial e de servios, mas
integrada a esses setores. Caracteriza-se tambm pela incluso das instituies como varivel
no neutra (FARINA; ZYLBERSZTAJN, 1996). Como consequncia, Mendes (2006, p. 312)
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destaca a importncia da estabilidade institucional para garantia do cumprimento dos
contratos e da legalidade das relaes para o desempenho do sistema.
A designao de agronegcio tambm aplicada por Jank (2005) aos sistemas integrados de
produo de alimentos, fibras e biomassa, desde o melhoramento gentico at o produto final,
no qual se devem inserir os agentes que se propem a produzir matrias-primas agropecurias,
sejam eles pequenos ou grandes produtores.
Grynszpan (2012), em uma anlise crtica sobre o conceito de agronegcio, assinala que a
terminologia passou a denominar uma categoria de aglutinao e de identificao de agentes e
instituies diversos, posicionados em diferentes setores da economia no restritos ao mundo
rural, sendo hoje um ente social que enseja polticas pblicas e que se transforma ao longo
do tempo. Essa conotao abrangente ressalta o feixe de transaes relacionais do universo
enfocado por este trabalho.
Na viso de Jank et al (2004, p.15) o agronegcio apresentou taxas elevadas de crescimento a
partir de 1999 quando a poltica de cmbio flutuante trouxe nimo aos agricultores, em
decorrncia da alta internacional dos preos aliada ao crescimento exponencial da demanda
dos pases asiticos, em especial a China. Segundo os autores, a relevncia desse complexo
para a economia nacional pode ser medida por indicadores da magnitude de um Produto
Interno Bruto (PIB) setorial de US$ 165 bilhes, ou 31% do total das riquezas produzidas no
pas, mo de obra empregada correspondente a 35% da populao economicamente ativa e
uma participao de 42% nas exportaes brasileiras.
Este estudo ocorre no mbito da cadeia de produo de sementes, um sistema especializado,
com peculiaridades inerentes a cada espcie agrcola e elo primrio de todo sistema
agroindustrial (SAG), visto que qualquer matria-prima agrcola produzida a partir de
sementes. A investigao emprica concentra-se na observao do dobramento da cadeia,
ou seja, uma situao em que agentes a jusante mantm sua posio no fluxo de produo,
porm passam a atuar na gerao de um insumo primrio, a variedade vegetal. Desse modo,
esses agentes estariam ampliando o controle sobre novos meios de produo e,
consequentemente, o poder de barganha sobre os demais agentes que concorrem na produo
desse insumo, como ser visto.
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2.2 Transformaes econmicas e institucionais
No Brasil, a dcada de 1990 foi marcada por uma srie de transformaes institucionais,
notadamente a diminuio da influncia que o governo exercia sobre o mercado, que alterou o
funcionamento e a forma de relacionamento das organizaes. Segundo Castillo (2007, p. 22),
o perodo de consolidao da produo de commodities nas regies de fronteira agrcola do
pas inicia-se a partir de 1980. O autor atribui a mudana na forma de interveno no setor
agrcola crise fiscal do Estado brasileiro. Considera tambm que polticas neoliberais, como
privatizaes, concesses, diminuio dos subsdios e abertura comercial conduziram a novas
formas de relaes entre os agentes produtivos, sobretudo quando voltadas s exportaes e
constata ter havido a transferncia do comando do Estado sobre os circuitos espaciais
produtivos para as grandes empresas do agronegcio.
Gasques et al (2004) descrevem com mais detalhes o contexto das polticas governamentais e
as transformaes macroeconmicas determinantes para a consolidao da agricultura nos
moldes atuais. A poltica intervencionista do governo, visvel nas dcadas de 1960 a 1980,
oscilava em intensidade e compreendeu diversas medidas (desde o crdito rural subsidiado at
a poltica de garantia de preos mnimos) que foram gradativamente abandonadas em razo
das crises da dvida externa e interna, causadas pela exigncia de ajuste fiscal por parte do
Fundo Monetrio Internacional. Paralelamente a isso, intensificou-se o processo de abertura
da economia brasileira na dcada de 1990. Mudanas econmicas e de polticas
governamentais ocorridas a partir de ento foram balizadas por duas condicionantes:
limitao dos gastos governamentais e maior exposio da agricultura brasileira ao comrcio
internacional (p. 18). A agricultura, assim como os demais setores da economia, sofreu
sucessivas oscilaes de crescimento provocadas pelos planos econmicos, os quais, a partir
de 1986, passam a servir de base para a poltica de combate inflao no Brasil. A dvida
agrcola foi estagnada somente com a estabilizao do Plano Real na safra 1995/1996, quando
tambm se iniciaram as renegociaes e se abriu caminho para a retomada dos investimentos
no setor. Os autores tambm destacam os reflexos da abertura comercial e da
desregulamentao de setores importantes:
A maior concorrncia vinda do exterior, decorrente da maior abertura comercial e da taxa de
cmbio valorizada, atingiu o setor agrcola como um todo e foi magnificada em razo da maior
exposio de nossos mercados aos pases do Mercosul. Note-se, ainda, que ocorreu tambm um
aumento do grau de concorrncia dentro do setor e entre o setor agrcola e os demais setores da
economia, graas sada do governo dos setores de acar e lcool, caf, leite e trigo, o que
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permitiu um desenvolvimento mais livre das relaes entre o setor agrcola stricto sensu e os
demais setores comerciais e industriais a jusante e a montante da agricultura. (grifos dos autores)
Na sequncia, Gasques et al (op. cit.) relatam que, a partir de 1999, houve um efeito benfico
da desvalorizao cambial na rentabilidade da agricultura, no to visvel de imediato, porm
importante para a gradual capitalizao dos agricultores. Os autores buscam outros fatores
que simultaneamente explicam o sucesso do agronegcio. So eles:
(a) Pesquisa e desenvolvimento, que contriburam de forma decisiva para o aumento da
produtividade agrcola e pecuria nos ltimos anos e mantiveram crescente a oferta de
produtos e matrias-primas, com pequena ampliao da rea explorada. Destacava-se a
Embrapa como principal agente promotor de incorporaes tecnolgicas na agricultura, muito
embora essa atuao muitas vezes fosse compartilhada com outras instituies pblicas e
privadas de pesquisa. Os ganhos produtivos mais relevantes deveram-se ao desenvolvimento
de novas variedades, e essa atividade foi atribuda em grande parte atuao do setor privado
sozinho ou em parcerias com o setor pblico (ALTON, 2001, apud GASGUES, 2004, p. 27).
(b) Financiamento do agronegcio, marcado pelas mudanas de fontes de recursos, de tipos
de instrumentos utilizados e de instituies de crdito. De modo geral, os custos relativos para
os produtores do segmento agropecurio eram considerados elevados. Os autores consideram
que a participao da agroindstria no financiamento de insumos foi um dos principais fatores
responsveis pelo impulso das atividades do agronegcio, no que se refere ao crdito de
custeio, assim como a agilidade introduzida nas operaes de financiamento. Mas ressaltam
que a retomada do crdito de investimento foi mais importante.
(c) Organizao do agronegcio, que, aliada s polticas macroeconmicas, setoriais e de
tecnologia, assinalada como um fator essencial para o sucesso. Envolve basicamente a
capacidade de articulao em busca de vantagens comparativas construdas principalmente
pela tecnologia e pela inovao, e no pelo menor custo dos fatores (WEDEKIN, 2002, apud
GASGUES, 2004, p. 27). Alm desse esforo, a estratgia adotada, de diferenciao de
produtos e de servios, decisiva na competitividade do agronegcio. Nesse caso, procura-se
oferecer novos produtos e agregar valor s commodities tradicionais, por meio da qualidade e
da incorporao de novos atributos.
Vale mencionar, para o caso especfico da pesquisa em melhoramento vegetal, a mobilizao
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feita, por volta de 1997, por grupos de agricultores, em unidades federativas de forte
economia agrcola, para a criao de fundos para captura de parte de impostos gerados pela
produo com o objetivo de serem aplicados no desenvolvimento de pesquisa para a gerao
de tecnologias adaptadas cada regio. Houve, deste modo, a criao do Fundo para o
Desenvolvimento da Pesquisa do Trigo - FDPT e do Fundo de Apoio Cultura do Algodo -
Facual9 importantes coadjuvantes para o fomento de algumas das organizaes coletivas.
2.3 A adaptao das organizaes ao ambiente institucional
Alfred Chandler (1962) afirma que a estrutura da organizao reflete a estratgia moldada
conforme o ambiente institucional e os recursos disponveis. Essa lgica pode ser percebida
no aparecimento de aes coletivas concebidas por agricultores para a gerao de tecnologia
no Brasil em fins da dcada de 1990, momento em que ocorreram mudanas no papel do
Estado e no ambiente competitivo das corporaes (ZYLBERSZTAJN; MACHADO FILHO,
1998).
Para Douglass North (2011, p. 3-5), instituies so as regras de jogo da sociedade, mais
especificamente, aparatos formais tais como normas elaboradas e informais como
cdigos de comportamento concebidos para restringir e moldar as interaes entre as
pessoas. A evoluo dessas regras reflete a crena dos indivduos que, atuando de modo
conjunto, constituem organizaes que, por sua vez, influenciam as instituies. A
cooperao entre agricultores com interesses voltados para a sustentao e o crescimento de
suas atividades e os consequentes efeitos nas instituies, pode ser analisada pela tica de
North, que se utiliza da teoria das aes coletivas preconizada por Mancur Olson ,
associada teoria dos custos de transao proposta por Ronald Coase e defendida por
Oliver Williamson.
Na concepo de North (op. cit.), as organizaes contempladas por este estudo estariam
9 O Fundo para o Desenvolvimento da Pesquisa do Trigo - FDPT era administrado pelo Banco do Brasil, existiu entre 1966 e 1990, e era composto de 0,2 a 0,4% do valor pago pelo governo aos agricultores na compra do trigo
contribuio conpulsria para a pesquisa do trigo. O Fundo de Apoio Cultura do Algodo - Facual, formado
por recursos advindos da renncia fiscal do ICMS recolhido pelos agricultores pela venda do algodo em
algumas Unidades da Federao - MT, GO e BA - e revertido pelo governo estadual em financiamento pesquisa de melhoramento gentico do algodo, ao treinamento de mo de obra e promoo da cotonicultura.
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sujeitas aos reflexos das transformaes institucionais, em que as restries gerariam
oportunidades (KNIGHT, 1964). Segundo Coase (1960), na tentativa de reduzir os custos
embutidos nas negociaes de mercado, as firmas internalizam algumas etapas produtivas. A
concretizao dessas negociaes depende de contratos, sendo as organizaes, portanto,
um conjunto de contratos. Dada a existncia de custos de transao, tambm necessrio
compreender como eles contribuem para a escolha da forma de coordenao dos recursos e
como isso pode impactar no desempenho econmico e formam arranjos institucionais. Com
esse entendimento, Coase inaugura a Economia dos Custos de Transao (ECT), cuja unidade
de anlise a transao, para abordar o problema da economia das organizaes como um
problema de contratao (WILLIAMSON, 1985).
Para compreenso da ECT, Williamson (op. cit.) define alguns pressupostos
comportamentais. O primeiro pressuposto a racionalidade limitada, qual apesar de o
agente econmico desejar a otimizao dos recursos, ele no consegue alcanar
(ZYLBERSZTAJN, 1995). O outro pressuposto tratado pelo autor o oportunismo, que
permite aos agentes agir por interesses prprios, contrrios outra parte contratante, antes da
transao ocorrer ou durante a vigncia do contrato.
Dados esses pressupostos, Williamson (op. cit.) descreve as dimenses que cada transao
apresenta e como elas se relacionam com a escolha da forma de coordenao, ou governana.
A primeira dimenso a frequncia das transaes, que possibilita a construo de
reputao entre os agentes e dilui os custos de adoo de um mecanismo complexo pela
ocorrncia de vrias transaes. Outra dimenso das transaes a incerteza, cujo conceito
aplicado s contingncias no previsveis que podem surgir em uma transao.
A dimenso que tem motivado o maior nmero de estudos a especificidade de ativos10
.
Investimentos em ativos especficos podem resultar em apropriao de valor por uma das
partes, ocorrendo o que se conhece por problema de hold up quando uma das partes de uma
relao contratual se comporta de forma oportunista diante dos investimentos especficos
realizados pela outra parte. Como a parte que fez o investimento especfico no consegue
converter o ativo para outra finalidade sem perda de valor, a outra parte fora uma
10
O conceito de ativo especfico pode ser aplicado quando um determinado ativo no consegue ser realocado em
outra atividade sem que haja perda de valor. Assim, o valor do ativo depende da continuidade da transao.
Quanto maior o grau de especificidade, maior a necessidade de salvaguardas para evitar o comportamento
oportunstico da outra parte.
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renegociao em que se apropria da quase renda da parte que realizou os investimentos.
Williamson (1985) relaciona a forma de governana com o grau de especificidade dos ativos
envolvidos nas transaes. Quando o ativo pouco especfico, o mercado a forma de
coordenao que apresenta o menor custo. A partir do momento em que a especificidade
aumenta, chegando a um nvel mdio, a forma hbrida (por exemplo, contratos de
terceirizao) a forma de coordenao minimizadora dos custos. No entanto, quando a
especificidade do ativo muito alta, trazer a atividade para dentro da empresa passa a ser uma
soluo. Esse cenrio de hierarquia, ou integrao vertical, a melhor alternativa para evitar
comportamentos oportunistas de apropriao de renda e minimizar os custos.
O ambiente institucional tambm foi descrito por Williamson (op. cit.) como o conjunto de
regras bsicas sociais e culturais, de sistemas legais para soluo de disputas e de polticas
macroeconmicas, tarifrias, tributrias, comerciais e setoriais adotadas por governo,
parceiros e concorrentes, que estabelecem as bases para a produo, a troca e a distribuio e
que definem as caractersticas comportamentais individuais e coletivas.
Os arranjos institucionais em curso podem facilitar ou dificultar o desenvolvimento
econmico de setores da economia e afetar a forma com que suas organizaes operam em
ambiente competitivo. No entendimento de Coase (1960), o processo de coordenao no se
baseia somente na racionalidade dos agentes, mas nos contratos entre eles e, sobretudo, leva
em conta os custos de transao percebidos e a incompletude das informaes.
Em meio incerteza, as estratgias de organizao do setor produtivo voltam-se para a
criao de condies de mercado favorveis aos seus agentes. No contexto do agronegcio, as
cooperaes ocorrem, geralmente, com o objetivo de facilitar o acesso aos fatores de
produo terra, insumo, crdito ou ainda, no outro extremo da cadeia, como forma de
agregar vantagem na comercializao dos produtos. Na agricultura, associaes com fins
produtivos podem tambm surgir para viabilizar ou reduzir o custo da adoo de novas
tecnologias. Por exemplo, comum que produtores menos capitalizados que desejem acessar
equipamentos mais modernos o faam atravs da compra conjunta e do uso compartilhado.
Assim, no processo de incorporao de inovaes, intensificam-se os relacionamentos e
consequentemente h fortalecimento das cadeias produtivas (SZAFIR-GOLDSTEIN;
TOLEDO, 2004).
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No estgio atual da agricultura, as sementes se comportam como principal meio de aporte de
novas tecnologias. Seja por meio de cruzamentos convencionais ou pelo uso de engenharia
gentica, o melhoramento vegetal a forma mais eficaz de elevar a produtividade das
culturas, adapt-las a diferentes condies climticas, aperfeioar o sistema de manejo, criar
resistncia a pragas e adequar-se s exigncias do mercado. Atuar no ramo de obtenes de
novas variedades, no entanto, requer elevados investimentos especficos, sendo esta uma das
principais razes para a grande concentrao da atividade nas mos do Estado. Poucas
empresas privadas tm capacidade de operar nessa rea haja vista o risco e o retorno a longo
prazo.
As motivaes para a atuao de organizaes de propriedade coletiva representam um
fenmeno cuja observao se faz importante para trazer tona os efeitos das mudanas
institucionais no setor de inovao em gentica de sementes, o que impulsiona transformaes
nas estruturas de governana convencionais e afeta as relaes e estratgias de mercado,
evidenciando uma terceira fora constituda pelo agrupamento de agricultores em um
ambiente onde os principais agentes so tradicionalmente as estatais e as empresas
multinacionais.
Num cenrio em que a expanso da agricultura e o crescente nvel de profissionalizao no
setor resultava em presso por nova tecnologia cuja demanda no era suportada
exclusivamente pelo setor pblico o Estado adotou a estratgia de incentivar a entrada de
empresas em pesquisa na gerao de novas cultivares, cujo retorno comercial seria favorecido
pelo aperfeioamento das normas legais de produo de sementes e de direitos propriedade
intelectual11
. Como ganhos adjacentes, encurtava-se o tempo de gerao de novos materiais e
desonerava-se o governo de gastos adicionais com pesquisas.
Em 1997, ano em que foi sancionada a Lei de Proteo de Cultivares, Avila (1997) sugeriu
haver conexo entre o aumento da participao de organizaes privadas na pesquisa agrcola
e a sua implementao. Anos depois, Vieira, Ribeiro e Carvalho (2013) reforam esse
11
O setor de sementes no Brasil basicamente regido por quatro marcos legais: MP n 2.186-16, de 23 de agosto
de 2001, que dispe sobre o acesso ao patrimnio gentico; Lei n 11.105, de 24 de maro de 2005, de
Biossegurana; Lei n 9.456, de 25 de abril de 2007, a Lei de Proteo de Cultivares (LPC); e Lei n 10.711, de 5
de agosto de 2003, conhecida como Lei de Sementes e Mudas. As duas ltimas, complementadas pelos seus
respectivos regulamentos estabelecem as bases para a organizao da produo e comrcio de sementes no pas.
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prognstico, considerando estratgica a influncia dos marcos legais de propriedade
intelectual na dinmica de inovao da agricultura por contribuirem para intensificar os
investimentos no setor. Em especial, citam que a partir da promulgao da Lei de Proteo de
Cultivares foi possvel observar simultaneamente ao fortalecimento institucional da pesquisa
pblica, uma maior coordenao entre os entes envolvidos na pesquisa agropecuria,
nacionais e estrangeiros. Os investimentos privados para melhoria gentica dos cultivos
agrcolas principalmente em espcies de relevncia econmica, como soja, arroz, trigo,
cana-de-acar e algodo intensificaram-se na medida em que direitos de propriedade sobre
novas cultivares foram garantidos pelo Estado. O titular desses direitos de propriedade
intelectual detm exclusividade para explorao de sementes resultantes de cultivares
protegidas, permitindo a cobrana de royalties aos agricultores.
O aumento gradativo da participao de instituies privadas, como fundaes, organizaes
no governamentais, cooperativas de agricultores, entre outras de propriedade coletiva, na
pesquisa agrcola, foram objeto do estudo de Massola (2002) no intuito de compreender a
organizao da pesquisa agrcola privada cooperativa. A autora abordou a gesto para
inovao existente nas organizaes privadas de fins comerciais e as transformaes
concomitantes ocorridas nas instituies pblicas. Ela se baseou em Salles Filho et al (2000)
para discorrer sobre as mudanas organizacionais sofridas pelas instituies pblicas, em que
a busca de redefinio de seu papel frente aos novos atores no espao de inovao
agropecuria e, ao mesmo tempo, a interao com eles , de novas fontes e mecanismos de
financiamento das pesquisas, bem como a redefinio de suas funes pblicas, foram
primordiais para pautar a configurao e o limite de atuao das organizaes coletivas.
Coordenar os custos de transao, sob forma de garantir ganhos mtuos e funcionalidade,
parece ser a forma dessas organizaes aproveitarem economias de escala e de escopo em um
contexto no qual a competitividade potencial (SALLES FILHO et al, 2000 apud Massola,
2002, p. 38).
2.4 Organizao de produtores em aes coletivas
Chaddad et al (1999) descrevem arranjos institucionais presentes em pases desenvolvidos
para contrabalanar o maior poder de mercado de processadores e distribuidores de alimentos
e aumentar a renda agrcola a longo prazo. Configuram-se por algum tipo de ao coletiva,
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cujo funcionamento no depende necessariamente de envolvimento do governo e citam como
exemplos as cooperativas agrcolas, associaes setoriais e certificaes de qualidade.
Dentre os arranjos conhecidos, os autores destacam a cooperativa agrcola como sendo a
forma mais disseminada e de maior sucesso. A maior parte delas tem objetivos sociais ou no
tm fins lucrativos, o que acaba induzindo a ineficincias, mas por definio, a cooperativa
um negcio que visa ao lucro. A ao coletiva de grupo de produtores surgiu inicialmente na
Europa para fortalecer o poder de negociao dos agricultores, sobretudo para
comercializao de seus produtos, evoluindo tambm para modalidades de compra coletiva de
insumos bsicos. Historicamente as cooperativas foram criadas para proteger a renda agrcola,
mas muitas se formaram com objetivos estratgicos competitivos, propiciando aos seus
membros, grande poder de mercado, sobretudo quando focadas em uma nica commodity.
Outro tipo de ao coletiva so as prprias associaes setoriais que congregam produtores
com objetivos comuns. Os autores mencionam, como exemplo, a United Soybean Board,
organizao que se ocupa com pesquisas sobre novos produtos de soja, com a divulgao de
informaes de mercado e com a promoo dos produtos em nvel nacional e internacional.
Essas associaes desempenham papel importante na reduo de assimetria informacional e
na organizao de lobby junto ao governo, influenciando nas polticas agrcolas. As
certificaes de qualidade tambm surgiram na Europa, e protegem as margens da produo
agrcola atravs da valorizao de produtos agropecurios com atributos especficos. Apesar
de dirigidas a nichos especficos de consumidores, as certificaes de qualidade tem crescido
por todo o mundo e so usadas para transmitir uma certa mensagem ao consumidor, seja pelo
sistema de produo adotado, seja decorrente de apelo ambiental, tradicional ou da origem
geogrfica. Essa modalidade organizada pela iniciativa privada mas, via de regra,
supervisionada pelo poder pblico, por envolver aspectos legais e de fiscalizao. No
obstante, constatam os autores que "todas essas alternativas apresentadas de adio e reteno
de valor pelos produtores rurais sob fortes presses competitivas dependem de um ambiente
institucional que d suporte s aes coletivas". Torna-se relevante ento polticas pblicas
que favoream iniciativas privadas e permitam a organizao de arranjos institucionais
eficientes.
Com um olhar mais contemporneo e focado nas relaes entre o empresariado brasileiro do
agronegcio e o governo, Iglcias (2007) exemplifica vrias aes coletivas do agronegcio
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com proeminente atuao poltica (lobby). Ele assinala que a interao entre Estado e
empresariado agropecurio no mais resume-se tradicional agenda formada por metas de
garantia de preos, estoques reguladores, crdito agropecurio, pesquisa e desenvolvimento,
assistncia tcnica etc., mas amplia-se no sentido da interlocuo permanente entre instncias
governamentais e agentes privados. Por meio da anlise de casos de interao entre os
empresrios dos segmentos de acar e de algodo com altas instncias do Estado brasileiro,
ele demonstrou a capacidade de adaptao de setores do agronegcio, via de regra, entendido
como atrasado em relao a outras parcelas da elite econmica nacional, ao novo regime
produtivo que vem constituindo-se no Brasil desde a virada dos anos 1980 para a dcada de
1990.
Outro mrito das aes coletivas dos produtores que resultaram na constituio das
organizaes a produo de bens pblicos12
, como pesquisas e informaes, mantendo, ao
mesmo tempo, instrumentos de gerao de recursos para sua sobrevivncia (NASSAR;
KIKUDOME; ZYLBERSZTAJN, 1998). Em um estgio onde a pesquisa fruto das aes
coletivas resultam em bens protegidos por mecanismos legais de proteo de direitos de
propriedade eles passam a ser considerados bens coletivos, ou seja, bens comuns de interesse
de um grupo exclusivo (OLSON, 2011).
O esprito da cooperao entre agricultores tem origem no objetivo comum, qual seja, a
gerao de inovaes tecnolgicas capazes de promover o seu crescimento econmico e
agregar vantagem competitiva. Vrias so as inovaes que influenciam positivamente o
crescimento da agricultura, porm a semente tem um significado mpar, pois a nica
imprescindvel para a prpria existncia da lavoura, repercutindo na minimizao de custos e
na otimizao dos demais fatores de produo. O mercado de sementes um negcio
altamente especializado que tem a jusante outra funo ainda mais especfica: o
melhoramento gentico de novas cultivares. A iniciativa de investir em empresas dedicadas a
realizar o trabalho de melhoramento gentico, desde modo, decorre da carncia de cultivares
adaptadas s reas de fronteira agrcola.
Outra consequncia da colaborao entre os produtores a ampliao de controle sobre os
12
Um bem pblico apresenta custo marginal de fornecimento para um consumidor adicional igual a zero (PINDYCK, 1994, p. 726).
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fatores de produo que, somada escala, proporciona, de acordo com Porter (1993), maior
poder de barganha junto a compradores. Combinando a necessidade de inovao com o
interesse pelo controle dos recursos, esse esforo conjunto culmina, no compartilhamento de
ganhos. O sucesso das organizaes, patrocinadas pelos agricultores para realizar pesquisa em
melhoramento vegetal, implica em ganho financeiro para a instituio, que recebe royalties
pelo uso das cultivares disponibilizadas. Por outro lado, as vantagens revertem, para os
prprios associados que contam com o aperfeioamento gentico das sementes que utilizam.
H estimativas de que os programas de melhoramento tm proporcionado ganhos genticos de
1,0 a 1,3% ao ano, em vrios pases do mundo, inclusive no Brasil (MORELLO; FREIRE,
2005). Outro benefcio aos associados, pode advir do privilgio de acesso, concedido na
forma de licenas exclusivas para produo de semente das novas cultivares.
Os agricultores, por sua vez, dispem de poder de escolha limitado s cultivares eleitas para
comercializao pelos obtentores, havendo grande preocupao com aspectos relativos
qualidade e quantidade de semente necessria para plantio. Cientes do valor deste insumo
para sobrevivncia de suas atividades, os agricultores mobilizaram-se atravs de associaes
de classe, das quais eram membros, e partiram para a criao de novas organizaes, de cunho
igualmente coletivo, que possibilitam que tomem as decises sobre o direcionamento da
pesquisa em melhoramento vegetal, a fim de suprir suas prprias necessidades. A atitude
guarda coerncia com o modelo desenvolvido por Zylbersztajn e Farina (2010) para redes de
cooperao, onde verificaram efeitos de externalidades nas escolhas das estratgias pelos
agentes sugerindo que a integrao entre eles seria estruturada como forma de proteg-los de
riscos posteriores s transaes, sobretudo na presena de investimentos especficos.
Segundo Williamson (1985), os ativos especficos so aqueles que tm seu valor
comprometido em caso de realocao provocada por quebra prematura, ou interrupo de
contratos. A existncia desse tipo de ativo numa transao faz com que a continuidade dos
vnculos estabelecidos entre as partes, ganhe uma dimenso econmica fundamental,
implicando em custos para geri-la e conserv-la. A especificidade dos ativos o mais
importante indutor da forma de governana uma vez que implica em dependncia bilateral. O
agricultor que realiza investimentos de monta, procura segurana no momento de acessar os
insumos requeridos para produo a fim de viabilizar seu negcio. Poucas opes de escolha
trazem, como consequncia, baixo poder de deciso, gerando desgaste entre os compradores
agricultores e os fornecedores de insumos obtentores.
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Esse contexto analisado sob a influncia da incerteza e da frequncia outros dois elementos
que, segundo Williamson (1985), caracterizam as transaes e acabam influenciando , a
forma de relacionamento entre agricultores e obtentores, em outras palavras, a escolha da
estrutura de governana a ser adotada pelos agricultores em suas organizaes. Para
Williamson, a incerteza passvel de ser calculada na medida em que as perdas, em caso de
quebra contratual, afetam a estrutura de governana adotada. A incerteza quanto ao
comportamento das partes envolvidas na transao que podem tender ao oportunismo
permeia, desta forma, as transaes entre agricultores e obtentores. E partindo da observao
de Zylbersztajn (1996) de que a recursividade das transaes permitiria a recuperao de
eventuais custos de investimentos e viabilizaria a emergncia das firmas como formas de
governana unificada, pode-se sugerir que, havendo a percepo de dependncia extrema de
uma das partes, pode esta decidir por internalizar transaes que sofram ameaa de
descontinuidade. Importante observar que a parte referida , na verdade uma organizao
coletiva cujos membros passam a compartilhar interesses frente a uma situao de incerteza
as transaes entre agricultores e obtentores.
Para North (2011, p. 5) o ambiente institucional a referncia para os indivduos entenderem
as circunstncias correntes, que aliadas incompletude informacional, influenciam em sua
tomada de deciso: a incerteza no s produz comportamento previsvel, como tambm a
fonte subjacente das instituies. Segundo North na incerteza, a cooperao seria difcil de
ser sustentada nos casos em que o jogo no se repete, quando falta informao sobre os outros
jogadores e quando h um grade nmero de jogadores. A instituio surge como mitigadora
dessa situao. Assim, novos arranjos institucionais, como a cooperao sob a forma de uma
organizao, podem funcionar como redutores de incertezas envolvidas na interao humana.
Nesse contexto, o surgimento das aes coletivas tido pelos agricultores, como alternativas
seguras, que, em ltima anlise, poderiam retornar sob a forma de benefcios individuais
(OLSON, 2011). O autor utiliza-se da Teoria da Lgica da Ao Coletiva para discorrer sobre
os motivos pelos quais os indivduos agem conjuntamente. Ele focaliza organizaes que
supostamente promovem os interesses de seus membros e inclui o conceito de bens coletivos
como fator de estmulo para a constituio dos grupos. Assim, os indivduos se uniriam para
atingir um objetivo comum que no alcanariam individualmente, em razo da incapacidade
de arcar com o custo, alm disso, considerariam bem sucedidas as aes cujo ganho grupal
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fosse superior soma dos ganhos individuais. Bens coletivos referidos nesse caso incluem os
ativos que esto a servio dos integrantes da organizao, como por exemplo, as cultivares, as
tecnologias de produo geradas, a assistncia tcnica, entre outros.
Outra perspectiva testada empiricamente por Willer (2009) baseada nas recompensas sociais
angariadas pelos membros individualmente ao se dedicarem ao fortalecimento da ao
coletiva. Tais ganhos estariam ligados ascenso hierrquica no grupo e influncia sobre
outros membros, sem todavia possuir conotao negativa. Pelo contrrio, o grupo se
beneficiaria da elevada contribuio proporcionada por lideranas individuais, posto que seria
convertida em um bem coletivo, alm de retroalimentar a motivao do grupo como um todo.
2.5 Estrutura competitiva do mercado de sementes
A competio na indstria sementeira tem srias implicaes no suprimento de alimentos e de
matria-prima para as indstrias. Ao descreverem a histria e o desenvolvimento da indstria
de sementes e sua importncia para o abastecimento mundial de alimentos, Matson et al
(2012) identificaram existir nos EUA um direcionamento para o controle de propriedade dos
recursos genticos, incluindo as alteraes relevantes na legislao de propriedade intelectual.
Eles descrevem o poder crescente das empresas de sementes dominantes, e discutem possveis
preocupaes antitruste (incluindo o potencial de uso de patentes para aumentar o poder das
empresas dominantes do mercado).
Barquero (2002) explicita que o desenvolvimento econmico e a dinmica produtiva
dependem da introduo e da difuso de inovaes e de conhecimento, aspectos que
alavancam a transformao e a renovao do arranjo produtivo, j que, em ltima anlise, a
acumulao de capital resultado dire