Download - DISSERTAÇÃO_Certificação SASSMAQ
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CERTIFICAO SASSMAQ: ADEQUAO DE UM PRESTADOR DE SERVIOS LOGSTICOS AOS REQUISITOS DO
SEGMENTO QUMICO
LIDIANE FTIMA EVANGELISTA
2008
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LIDIANE FTIMA EVANGELISTA
CERTIFICAO SASSMAQ: ADEQUAO DE UM PRESTADOR DE SERVIOS LOGSTICOS AOS REQUISITOS DO SEGMENTO
QUMICO
Dissertao apresentada Universidade Federal de Lavras, como parte das exigncias do Curso de Mestrado em Administrao, rea de concentrao em Dinmica e Gesto de Cadeias Produtivas, para obteno do ttulo de Mestre.
Orientadora Profa. Rosa Teresa Moreira Machado
LAVRAS MINAS GERAIS - BRASIL
2008
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Ficha Catalogrfica Preparada pela Diviso de Processos Tcnicos da Biblioteca Central da UFLA
Evangelista, Lidiane Ftima. Certificao SASSMAQ: adequao de um prestador de servios logsticos aos requisitos do segmento qumico / Lidiane Ftima
Evangelista. Lavras : UFLA, 2008. 111 p. : il.
Dissertao (Mestrado) Universidade Federal de Lavras, 2009. Orientadora: Rosa Teresa Moreira Machado. Bibliografia.
1. Logstica. 2. SASSMAQ. 3. Certificao. 4. Fornecedor. 5. Associao. I. Universidade Federal de Lavras. II. Ttulo.
CDD 352.84
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LIDIANE FTIMA EVANGELISTA
CERTIFICAO SASSMAQ: ADEQUAO DE UM PRESTADOR DE SERVIOS LOGSTICOS AOS REQUISITOS DO SEGMENTO
QUMICO
Dissertao apresentada Universidade Federal de Lavras, como parte das exigncias do Curso de Mestrado em Administrao, rea de concentrao em Dinmica e Gesto de Cadeias Produtivas, para obteno do ttulo de Mestre.
APROVADA em 03 de novembro de 2008. Prof. Clber Carvalho de Castro UFLA
Profa. Silvana Prata Camargos UFOP
Profa. Rosa Teresa Moreira Machado UFLA
(Orientadora)
LAVRAS MINAS GERAIS BRASIL
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No vos inquieteis com coisa alguma, mas apresentai
as vossas necessidades a Deus, em oraes e splicas,
acompanhadas de ao de graas. E a paz de Deus, que
ultrapassa todo o entendimento, guardar os vossos
coraes e pensamentos em Cristo Jesus.
Carta de So Paulo aos Filipenses, Captulo 4, v. 6-7.
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SUMRIO
LISTA DE FIGURAS...................................................................................i LISTA DE QUADROS................................................................................ii RESUMO.................................................................................................. iii ABSTRACT...............................................................................................iv 1 INTRODUO........................................................................................1 2 REFERENCIAL TERICO......................................................................5 2.1 O papel e a importncia das Associaes de Interesse Privado (AIPs) na coordenao de cadeias produtivas: uma anlise sob o enfoque da Economia de Custos de Transao (ECT) .................................................5 2.1.1 Padres e Certificao como formas hbridas de coordenao............13 2.2 Logstica ..............................................................................................17 2.3 Supply Chain Management (SCM) .......................................................22 2.4 Servios logsticos e terceirizao ........................................................27 3 MTODO E PROCEDIMENTOS ..........................................................35 3.1 Caracterizao da empresa ...................................................................35 3.2 Caracterizao da pesquisa...................................................................36 3.3 Tcnicas de coleta de dados .................................................................36 4 RESULTADOS E DISCUSSO.............................................................39 4.1 SASSMAQ: o contexto, os procedimentos e os elementos que o compem .......................................................................................................39 4.1.1 SASSMAQ: elementos conceituais ......................................................51 4.1.2 SASSMAQ: elementos operacionais ....................................................55 4.2 O processo acerca da certificao pelo SASSMAQ na empresa Expresso Nepomuceno S/A: motivao, contexto e consideraes iniciais..................62 4.2.1 Descrio do processo de implementao de requisitos passveis de avaliao pelo SASSMAQ.........................................................................65 4.2.2 Internalizao da poltica associada ao SASSMAQ pelos colaboradores da empresa em estudo ................................................................................69 4.2.3 Comprometimento da alta direo para com o processo acerca da certificao pelo SASSMAQ .....................................................................70 4.3 SASSMAQ: principais investimentos efetuados pela empresa no processo acerca da certificao ..................................................................72 4.4 SASSMAQ: principais dificuldades e desafios encontrados pela empresa no processo acerca da certificao..............................................................76 4.4.1 Processos inerentes emisso de licenas ......................................76 4.4.2 A aquisio, a construo e as adaptaes de infra-estrutura..............77
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4.4.3 Manuteno de requisitos implementados e em pleno funcionamento ...........................................................................................78 4.4.4 Outras dificuldades e desafios encontrados no processo acerca da certificao pelo SASSMAQ .....................................................................81 4.5 SASSMAQ: principais efeitos percebidos pela empresa decorrentes do processo acerca da certificao ..................................................................84 4.5.1 Mudana na cultura da empresa.........................................................84 4.5.2 Conhecimento das expectativas do mercado composto por empresas pertencentes ao segmento qumico .............................................................85 4.5.3 Aumento do nmero de empresas clientes do segmento qumico e conseqente acrscimo no faturamento da empresa ....................................86 4.5.4 Atendimento integral a exigncias legais e desenvolvimento de conhecimentos associados s leis ...............................................................89 4.5.5 Outros efeitos percebidos decorrentes do processo acerca da certificao pelo SASSMAQ .....................................................................89 5 CONCLUSES......................................................................................92 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .......................................................95 ANEXOS .................................................................................................. 99 APNDICE............................................................................................. 105
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LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 Comisses temticas e setoriais em atividade na ABIQUIM na ocasio da pesquisa. ........................................................................42
FIGURA 2 Diretrizes segundo abordagens PDCA.............................................50 FIGURA 3 Atores do processo do SASSMAQ e suas inter-relaes.................53 FIGURA 4 Processo tpico de avaliao pelo SASSMAQ.................................56 FIGURA 5 Faturamento anual da empresa Expresso Nepomuceno S/A perodo
2003 a 2008......................................................................................88
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LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 Questes organizacionais associadas ao conceito "logstica" e relacionadas a diferentes perspectivas. ..........................................19
QUADRO 2 Evoluo da logstica ao longo da histria.................................21 QUADRO 3 Evoluo da logstica ao longo da histria associada viso
organizacional e nfase respectivamente vigentes. .....................22 QUADRO 4 Atividades logsticas terceirizveis e ndices mdios de
terceirizao...................................................................................29 QUADRO 5 Dimenses de segmentao dos prestadores de servios
logsticos. .......................................................................................33 QUADRO 6 Objetivos especficos e tcnicas de coleta de dados ......................37 QUADRO 7 Os objetivos especficos da ABIQUIM .........................................40 QUADRO 8 Elementos fundamentais do programa Responsible Care ..........44 QUADRO 9 Referncias para a confeco das diretrizes do programa atuao
responsvel da ABIQUIM ..........................................................48 QUADRO 10 Elementos passveis de avaliao por reas SASSMAQ..........54 QUADRO 11 Classificao das questes do "questionrio de avaliao de
transporte rodovirio" ..................................................................58 QUADRO 12 Nmero de questes por rea de avaliao e por mdulos. .........60 QUADRO 13 Nmero de questes por categoria e por mdulos. ......................60
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RESUMO
EVANGELISTA, Lidiane Ftima. Certificao SASSMAQ: adequao de um prestador de servios logsticos aos requisitos do segmento qumico. 2008. 111 p. Dissertao (Mestrado em Administrao) - Universidade Federal de Lavras, Lavras, MG.*
O tema deste trabalho o estudo da adaptao de uma empresa prestadora de servios logsticos a Expresso Nepomuceno S/A, com matriz sediada em Lavras, Minas Gerais para se credenciar como fornecedora de uma empresa da indstria qumica. O objetivo geral do estudo foi descrever e analisar o processo acerca da certificao da empresa Expresso Nepomuceno S/A pelo Sistema de Avaliao de Segurana, Sade, Meio Ambiente e Qualidade (SASSMAQ) - um instrumento de qualificao, avaliao e certificao destinado aos prestadores de servios de logstica s empresas pertencentes ao segmento qumico. O SASSMAQ est inserido em um contexto abrangente, relacionado ao da Associao Brasileira da Indstria Qumica (ABIQUIM), uma associao de interesse privado (AIP). Os objetivos especficos da pesquisa foram: descrever o contexto, os procedimentos e os elementos que compem o SASSMAQ; identificar os principais investimentos efetuados e as dificuldades encontradas pela empresa no processo acerca da certificao pelo SASSMAQ e identificar os efeitos percebidos aps a conquista da certificao. A pesquisa empreendida tem carter qualitativo, com enfoque exploratrio e descritivo. O estudo de caso foi adotado como mtodo e as tcnicas de coleta de dados utilizadas foram: levantamento bibliogrfico, exames de registros existentes e entrevistas semi-estruturadas. Como resultados, foram constatados entre os principais investimentos efetuados pela empresa: a aquisio, a construo e a adaptao da infra-estrutura; entre as principais dificuldades enfrentadas pela empresa: os processos inerentes emisso de licenas; e entre os principais efeitos decorrentes da certificao: o aumento do nmero de clientes do segmento qumico e o crescimento no faturamento da empresa. Conclui-se que, medida que a no adequao aos requisitos do SASSMAQ exclui o prestador de servios logsticos do mercado composto por empresas pertencentes ao segmento qumico, a adaptao o inclui e proporciona oportunidades de atuao em um universo mais amplo.
* Orientadora: Rosa Teresa Moreira Machado - UFLA.
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ABSTRACT
EVANGELISTA, Lidiane Ftima. SASSMAQ certification: adequacy of a provider of logistics services to the requirements of the chemical segment. 2008. 111 p. Dissertation (Master of Science in Administration) Universidade Federal de Lavras, Lavras, MG.*
The subject of this work was to study the adaptation of a logistics service company - the Expresso Nepomuceno S / A, based in Lavras, Minas Gerais State - to obtain accreditation as a provider of logistics service for the chemical industry. The general objective of the study was to describe and analyze the process of the certification of the company using the System for Evaluation of Safety, Health, Environment and Quality (SASSMAQ) - a tool for classification, assessment and certification for providers of logistics services to companies within the chemical segment. The SASSMAQ is inserted in a broad context, related to the action of the Brazilian Association of Chemical Industry, an association of private interest. The specific objectives of the research were: to describe the context, procedures and components of the SASSMAQ; identify key investments and the difficulties encountered by the company regarding the certification process; and to assess the effects of the accreditation. The research undertaken here was qualitative, with descriptive and exploratory approaches. As a method, the case study was adopted and the data collection techniques used were bibliography, reviews of existing records and semi-structured interviews. The results showed that the major investments required for adaptation were related to acquisition, construction and adaptation of infrastructure; the main difficulties were related to the processes of obtaining required licenses; and the main effects were the increase of the number of customers of the chemical segment and the growth in the turnover of the company. It was concluded that, as the requirements of SASSMAQ are not matched, the provider of logistics services is excluded from the chemical segment market and that the fulfillment of such requirements includes the provider in such a sector and gives opportunities for acting in a wider universe.
* Adviser: Rosa Teresa Moreira Machado - UFLA.
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1 INTRODUO
Para garantir participao e sobrevivncia no ambiente econmico
dinmico, as empresas so obrigadas a fazer rpidas adaptaes em seus
processos e estruturas produtivas. Isso mais evidente com a globalizao
econmica, o que torna cada vez mais difcil tratar o gerenciamento da empresa
como uma questo apenas interna.
Assim, enfatizando que a empresa parte de um sistema mais amplo,
onde a produo e o consumo esto distribudos por uma extenso geogrfica
cada vez maior, este trabalho sustenta-se na concepo de que qualquer empresa
pode ser vista como parte de um processo de produo e distribuio complexo,
que envolve muitas outras empresas e fluxos de materiais, de informao e de
capital que extrapolam a viso do senso comum do gerente tradicional,
concentrado na racionalizao dos processos de produo internos.
De fato, nos ltimos anos, a nfase vem sendo direcionada para o
aumento da eficincia de todo o fluxo de materiais e de produtos finais ao longo
da cadeia de suprimentos. Clientes exigem cada vez mais que as empresas
prestem um atendimento diferenciado, isto , com maior valor agregado.
preciso que o produto esteja disponvel para o cliente no lugar certo, na hora
certa, na quantidade exata e a custos adequados. Essa diferenciao competitiva
est ligada ao nvel de servio, ou seja, ao modo como a empresa coloca o
produto nas mos do cliente.
Somente empresas detentoras de processos logsticos bem estruturados
so capazes de vencer o desafio de sobrevivncia e de superao dessas
dificuldades, colocando-se frente de seus competidores. Para estruturar tais
sistemas de produo e distribuio, as grandes empresas preferem se concentrar
em suas competncias bsicas e terceirizar as demais.
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Neste contexto, aparece uma questo vital o desenvolvimento de aes
que possibilitem o estreitamento das relaes cliente-fornecedor, com a
implementao de polticas de longo prazo. Esse estreitamento leva as grandes
empresas a formarem parcerias, desenvolverem sua base de fornecedores e
clientes, ampliarem o comprometimento mtuo, criando uma interdependncia
entre os membros da cadeia produtiva. O objetivo aprimorar processos,
produtos e reduzir seus custos para se tornarem mais competitivas nos mercados
em que atuam.
Nesta perspectiva, vale salientar a importncia do papel das associaes
voluntrias de interesse privado, compostas de empresas que atuam numa
mesma rea de negcio, na promoo de aes voltadas aos interesses comuns
de seus membros. Esse tipo de associao pode, por exemplo, promover aes
conjuntas para otimizar a rede de fornecedores dos seus associados por meio de
definio de normas de qualidade que possam ser repassadas s demais
empresas da cadeia, independente de seu porte.
Aliada melhoria das relaes fornecedor-cliente na cadeia de
produo, o conceito de logstica tambm evoluiu, uma vez que, hoje em dia, a
logstica ultrapassa as fronteiras da empresa para integrar fornecedores aos
consumidores finais, levando em conta toda a cadeia de suprimento.
O cerne dessa forma de conceber a gesto das organizaes a filosofia
de que preciso cooperar para competir. Esta concepo a base do conceito de
Supply Chain Management (SCM) ou Gesto da Cadeia de Suprimentos, um
conceito academicamente novo e em construo. Nesta tica, a concorrncia real
deve ser vista entre cadeias de suprimento.
Assim, por meio de conceitos de gesto empresarial que permitem uma
empresa de base local atuar num universo mais amplo - uma cadeia de
suprimentos - o tema deste trabalho o estudo da adaptao de uma empresa
prestadora de servios logsticos a Expresso Nepomuceno S/A para se
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credenciar como fornecedora e, portanto, tornar-se membro de uma cadeia de
suprimento de uma empresa da indstria qumica.
A reviso da literatura explorou conceitos relacionados gesto das
organizaes desse novo ambiente competitivo, baseado na busca de eficincia
das relaes interorganizacionais. O estudo emprico concentrou-se nos aspectos
internos de adaptao de um fornecedor de servios logsticos interessado em
participar de uma cadeia de suprimento.
Entende-se que, embora esse tipo de adaptao implique em custos,
uma iniciativa que deve ser vista como um investimento cujo retorno se far
sentir no mdio e longo prazo, no mnimo em termos de ampliao da sua base
de clientes.
Trata-se de um estudo de caso descritivo sobre o processo de
certificao que a Expresso Nepomuceno empresa prestadora de servios
logsticos, com nfase nos servios de transporte rodovirio de cargas teve que
se submeter para poder prestar servios para uma grande empresa da indstria
qumica.
A questo que orientou a pesquisa foi assim formulada: como dirigentes
de uma empresa prestadora de servios de logstica percebem e caracterizam o
processo acerca da certificao pelo Sistema de Avaliao de Segurana, Sade,
Meio Ambiente e Qualidade (SASSMAQ)?
O processo acerca da certificao pelo SASSMAQ incluiu a
implementao de requisitos passveis de avaliao, os procedimentos de
certificao e a atuao da empresa como prestadora de servios de logstica
possuidora de certificado.
O objetivo geral do estudo, portanto, foi descrever e analisar o processo
acerca da certificao da empresa Expresso Nepomuceno pelo Sistema de
Avaliao de Segurana, Sade, Meio Ambiente e Qualidade (SASSMAQ).
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Os objetivos especficos da pesquisa foram:
(a) descrever o contexto, os procedimentos e os elementos que compem
o SASSMAQ;
(b) identificar os investimentos tangveis e intangveis principais
efetuados pela empresa Expresso Nepomuceno na implementao de requisitos
passveis de avaliao e no procedimento de certificao pelo SASSMAQ;
(c) identificar as dificuldades e/ ou restries encontradas pela empresa
Expresso Nepomuceno na implementao de requisitos passveis de avaliao e
no procedimento de certificao pelo SASSMAQ;
(d) identificar os efeitos percebidos aps a conquista da certificao pelo
SASSMAQ.
Entende-se que, a despeito das limitaes do presente estudo, ele
relevante porque busca relacionar conceitos emergentes de gesto de
organizaes em ambientes dinmicos com aspectos tradicionais de gesto
interna, indicando que os desafios de ordem macro da competio globalizada
no excluem os problemas enfrentados no dia-a-dia das empresas. Neste sentido,
estudos sobre implantao de programas relacionados gesto da qualidade,
como a busca de certificaes, so fundamentais como instrumentos de incluso
dessas empresas em cadeias de suprimento e mercados globais.
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2 REFERENCIAL TERICO
2.1 O papel e a importncia das Associaes de Interesse Privado (AIPs)
na coordenao de cadeias produtivas: uma anlise sob o enfoque da
Economia de Custos de Transao (ECT)
A seo 2.3 abordar o gerenciamento da cadeia de suprimentos que,
enquanto filosofia de gesto, admite que a cooperao entre organizaes e a
coordenao dos processos de negcio dos membros da cadeia conduzem as
empresas a resultados melhores do que aqueles alcanados por meio de aes
que visem somente seus prprios interesses (Christopher, 2001).
Antes, porm, no contexto do presente estudo cabe destacar a
importncia das chamadas Associaes de Interesse Privado (AIPs). Assim, no
intuito de elucidar a contribuio das AIPs para a cooperao e coordenao
entre as organizaes, seu papel ser discutido sob o enfoque da Economia de
Custos de Transao (ECT).
A ECT faz parte da nova economia institucional, uma corrente da teoria
econmica que surgiu como uma reao aos pressupostos da teoria neoclssica
(Barra et al., 2006). A semente do pensamento acerca da ECT foi plantada por
Coase (1937), citado por Wanderley (1995), Machado (2000) e Barra et al.
(2006). Esse economista levantou uma questo fundamental sobre o
funcionamento do sistema econmico, ao afirmar que, alm dos custos de
produo, existem os custos de transao.
Para a ECT, a transao a unidade bsica de anlise e consiste na
transferncia de bens ou servios por meio de interfaces tecnologicamente
separadas (Williamson, 1985).
Como os pressupostos da ECT so que os agentes econmicos tomam
decises sob racionalidade limitada e agem oportunisticamente, as transaes
no ocorrem sem custos. Nestas circunstncias, as organizaes necessitam
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estabelecer estruturas de controle (formas de coordenao ou formas de
governana), no intuito de minimizar os custos associados a transaes
especficas (Williamson, 1985).
Em seu fundamento, a ECT introduz na teoria econmica suposies
associadas s circunstncias de aquisio de informaes, pertinentes realidade
das organizaes. Estas suposies representam uma evoluo da teoria
neoclssica, no sentido em que explicitam que os agentes econmicos atuam em
um mercado no perfeito, onde o sistema de preos ineficiente para prov-los
de todas as informaes relevantes (Wanderley, 1995; Machado, 2000).
Com efeito, as trocas entre os agentes econmicos tm que ser iniciadas,
negociadas e completadas e isso exige informao; os custos para adquirir,
manter e acessar tais informaes so elevados; a capacidade humana para
process-las limitada; alm disso, as informaes so desigualmente
distribudas. Portanto, na vida real, os agentes econmicos realizam suas
transaes baseados em informaes assimtricas, informaes imperfeitas e
falhas de mercado. Neste contexto, aqueles que detm informaes importantes
e que no so compartilhadas igualmente entre os interessados na transao,
oportunisticamente procuraro se favorecer s custas dos outros (Machado,
2000).
Destarte, a existncia de assimetria de informao entre os agentes
econmicos uma suposio assumida pela ECT e um dos determinantes da
ocorrncia de custos associados s transaes.
Os custos associados a transaes especficas podem ser divididos em
dois grandes grupos:
(1o) custos ex-ante a uma transao: referem-se aos custos para
selecionar fornecedores, estabelecer as bases de negociao e criar salvaguardas
para minimizar possveis problemas contratuais, ou seja, so custos para se
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adquirir informaes no mercado e tratar um negcio (Coase, 1937, citado por
Machado, 2000).
(2o) custos ex-post a uma transao: relacionam-se m adaptao
devida a mudanas no previstas das condies do contrato, aos esforos
bilaterais feitos para corrigi-las, manuteno e definio de estruturas de
controle que inclusive teriam papel de arbtrio em caso de disputa entre as
partes, isto , so os custos associados ao acompanhamento da execuo de
acordos, ajustamentos em decorrncia de falhas ou defesas por quebra de
contratos (Coase, 1937, citado por Machado, 2000).
Desta forma, a firma no se restringe aos seus limites fsicos e deve ser
entendida de modo bem mais amplo, como sendo um nexo de contratos,
dentro da perspectiva contratual percebida por Coase (1937), citado por
Zylbersztajn (2005). Alm disso, assume-se pela ECT que os contratos que
regem as transaes so incompletos, uma vez que, devido racionalidade
limitada dos indivduos, no possvel prever todas as contingncias de uma
transao no futuro (Farina et al., 1997). Esta circunstncia ocasiona os custos
supracitados e determina a necessidade de diferentes formas de coordenao.
Neste sentido, Zylbersztajn (1995) classifica os fatores condicionantes
das formas de coordenao em trs grupos: os pressupostos comportamentais
(oportunismo e racionalidade limitada), as caractersticas da transao
(freqncia, incerteza e especificidade de ativos) e o ambiente institucional
(sistema legal, aspectos culturais, regulamentaes, polticas governamentais,
etc.).
Entre estes fatores, Williamson (1985) destaca a especificidade de ativos
como a caracterstica das transaes determinante para a escolha da forma de
coordenao mais adequada para viabilizar transaes de modo eficiente.
Segundo ele, o custo de se empregar ativos altamente especficos muito
pequeno em usos alternativos. Assim, a especificidade de ativos cria relaes de
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dependncia bilateral entre partes tecnologicamente distintas, com
conseqncias danosas em termos de possibilidade de ruptura contratual.
(Williamson, 1985; Machado, 2000).
Assim, a forma de governana (ou de coordenao) ser selecionada a
partir da anlise do nvel de especificidade de ativos envolvidos na transao, de
acordo com a comparao dos custos de se estabelecer a transao no mercado
(aquisio do recurso por meio de compra baseada no preo mais baixo possvel,
de agentes annimos do mercado), ou por meio da hierarquia (internalizao de
vrias etapas tecnologicamente distintas numa mesma organizao, tambm
conhecida como integrao vertical) ou por formas hbridas (formas
intermedirias, entre o mercado e a hierarquia).
Portanto, para Williamson (1985), as formas de governana so
definidas pelos atributos das transaes, com nfase na questo da
especificidade dos ativos. Entretanto, Farina et al. (1997) acrescenta que, no
longo prazo, as estratgias individuais e coletivas podem influenciar alteraes
nas estruturas de governana por produzirem impactos na redefinio dos
ambientes competitivo, institucional e tecnolgico. Alm disso, as formas de
governana podem ser alteradas em resposta a choques externos, provenientes
de mudanas de ordem institucional ou de ordem tecnolgica, tal como afirma
Machado (2000).
Enfim, North (1994) sintetiza estas consideraes por meio de uma
analogia que associa as instituies s regras do jogo e as organizaes aos
jogadores. Por conseguinte, sob a tica neo-institucional, as organizaes
definem as suas estratgias em funo das regras do jogo. Exercem, contudo,
influncias que as modificam.
A respeito da coordenao de sistemas produtivos, Farina et al. (1997)
menciona que ela pode ser compreendida como sendo um conjunto de relaes
verticais estabelecidas por contratos, que representam estruturas de governana
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intersegmentos e formam uma ordenao que oscila do mercado hierarquia.
Assim, por meio de diversas formas de estrutura de governana entre o mercado
e a hierarquia, a coordenao de sistemas produtivos assumida pela ECT como
fundamental para minimizar custos de transao e, por conseqncia, aumentar a
competitividade das organizaes. Neste sentido, Zylberstajn & Machado Filho
(1998) advertem que, em um sistema que no est coordenado, as organizaes
encontram dificuldades para se manterem competitivas por longo prazo, uma
vez que o predomnio do conflito e de aes oportunistas dificultam o
desenvolvimento de estratgias competitivas duradouras.
Elucidados estes principais aspectos tericos acerca da ECT, cumpre
avanar a discusso considerando, neste contexto, o papel das AIPs.
As Associaes de Interesse Privado (AIPs) so entidades associativas
privadas, assumidas inclusive como grupos estratgicos. So constitudas por um
conjunto de organizaes individuais e independentes, que atuam em parceria,
com determinados interesses comuns (Garcias, 2001).
As AIPs podem ser vistas como uma forma organizacional, cuja funo
proporcionar alternativas para compensar as deficincias observadas nas aes
da comunidade, do mercado e do governo (Streeck & Schmitter, 1985; Garcias,
2001; Barra et al., 2006).
Em termos de estrutura, as AIPs desempenham o papel de
disponibilizar um novo arranjo organizacional para o exerccio da solidariedade,
no sentido de reunir esforos dispersos (Streeck & Schmitter, 1985; Garcias,
2001). Desta forma, a criao de AIPs pode ocorrer em funo de determinadas
demandas, com vistas a atender necessidades conjuntas e especficas de
segmentos particulares.
Ao longo do tempo, a importncia das AIPs no contexto das
organizaes se transformou. Barra et al. (2006) afirmam que um dos principais
indutores dessa transformao foi a mudana ocorrida no ambiente institucional,
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determinada pela desregulamentao da economia no Brasil. Nesta nova
conjuntura, as AIPs expandiram sua atuao e reformularam a sua misso,
estratgias de ao e formas de gesto. Neste sentido, as AIPs passaram a atuar
em atividades fundamentais para a coordenao de sistemas produtivos.
Considera-se, no contexto de sistemas produtivos, que determinados
segmentos econmicos, incluindo suas respectivas cadeias produtivas,
funcionam inseridos em ambientes institucionais peculiares e realizam
transaes caractersticas. Assim, assume-se, em acordo com a ECT, que
ambientes institucionais caracterizados por alta assimetria de informao e
transaes associadas a ativos de alta especificidade tendem a ocasionar relaes
mais estreitas entre os agentes econmicos envolvidos. Nestas circunstncias, as
aes coletivas implementadas por AIPs contribuem para a coordenao desses
sistemas produtivos (Barra et al., 2006).
Neste sentido, as AIPs, ao desempenharem este papel coordenador
ajudam os seus membros a construrem estruturas de governana eficientes, do
tipo hbrida, ou seja, formas alternativas de coordenao, situadas entre o
mercado e a hierarquia (Garcias, 2001). As relaes entre papis desempenhados
por AIPs, formas de coordenao e custos de transao sero abordadas nos
pargrafos que seguem.
Em essncia, a funo primordial de uma AIP fornecer suporte para as
organizaes a ela associadas. O papel desempenhado por determinada AIP,
relativo a essa funo, melhor compreendido por meio do conhecimento do
ambiente institucional ao qual ela est inserida e das caractersticas das
transaes mantidas por seus membros. Ou seja, o contexto institucional da AIP
e, em especial, a especificidade de ativos relacionada s transaes de seus
associados determinam a prtica de aes de apoio especficas a um segmento
produtivo.
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Portanto, o ambiente institucional e os atributos das transaes agrupam
fatores que condicionam a forma de governana de sistemas produtivos
(Zylbersztajn, 1995) e determinam as aes de apoio empreendidas pelas AIPs
aos seus membros (Barra et al., 2006). Por conseguinte, estas aes de apoio
podem, por sua vez, influenciar as formas de governana praticadas pelas
organizaes em determinadas transaes, pois podem contribuir
significativamente para minimizar o custo dessas.
Estas consideraes traduzem, no contexto das AIPs, os aspectos
evidenciados por Farina et al. (1997). Ou seja, as aes de apoio empreendidas
pelas AIPs aos seus membros influenciam estratgias, a princpio individuais,
mas que tendem a se tornarem coletivas podendo, no longo prazo, redefinirem os
ambientes competitivo, institucional e tecnolgico.
Desta forma, as AIPs representam agentes coletivos de mudana
institucional, uma vez que as organizaes que as integram buscam influenciar
as instituies em favor de seus interesses (Barra et al., 2006). Portanto, deduz-
se que as AIPs viabilizam conjunturas institucionais que favorecem seus
membros.
Um importante aspecto que pode ser percebido como decorrente das
aes de apoio empreendidas pelas AIPs aos seus membros a reduo da
assimetria de informao entre as organizaes membros e os demais integrantes
da cadeia produtiva associada ao segmento o qual a AIP representa.
A promoo da reduo da assimetria de informao na cadeia produtiva
associada ao segmento representado por uma AIP pode ser viabilizada por meio
do desenvolvimento, por essas entidades, de polticas/ programas/ instrumentos
relacionados gesto da qualidade de processos, produtos e servios praticada
pelas organizaes associadas.
Barra et al. (2006) afirmam que as AIPs podem estabelecer padres e
cdigos de conduta para melhorar continuamente processos/ produtos/ servios e
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prover s organizaes associadas mecanismos sinalizadores de qualidade,
dentre os quais destacam-se rastreabilidade, selos de qualidade e certificaes.
Cabe destacar que estas iniciativas empreendidas por AIPs acerca da
gesto da qualidade a ser praticada pelos seus membros so muito importantes
para os negcios dessas organizaes associadas (Barra et al., 2006). Os
mecanismos criados e implementados diminuem a incerteza, reduzem
assimetrias de informao e, por conseqncia, facilitam negociaes e
contribuem para a reduo de custos de transao (Machado, 2000).
Alm disso, a postura assumida pelas AIPs, relacionada s exigncias
quanto gesto da qualidade praticada pelas organizaes associadas e quanto a
outros elementos, influenciam a construo de sua imagem. Ou seja, as AIPs,
por meio dos princpios de sua organizao interna e de sua atuao externa,
constroem uma reputao perante o ambiente institucional, o cenrio econmico
e o mercado consumidor. Esta reputao est, principalmente e intimamente,
associada forma de gesto adotada pela AIP em relao aos seus membros.
Normas formais, normas informais, exigncias mnimas, aes coercitivas e
outros elementos so recursos utilizados para selecionar membros e para
construir e/ou moldar a conduta das organizaes associadas, de forma que essas
correspondam aos valores e objetivos da AIP. Desta forma, a presena dos
recursos supramencionados funciona como mecanismo de gerao de reputao
para o sistema (Barra et al., 2006).
Assim, a reputao de uma AIP pode ser transferida para as
organizaes membros. Portanto, conforme Barra et al. (2006), as AIPs
contribuem para a construo de reputao para os seus associados,
principalmente quando apresentam uma reputao positiva.
Tendo como referncia as organizaes associadas em uma AIP e
considerando o pressuposto assumido pela ECT de que os indivduos tm
racionalidade limitada, sob a perspectiva das organizaes situadas jusante na
12
-
cadeia produtiva, a reputao um elemento que contribui para a reduo de
custos de transao. Ou seja, conforme Barra et al. (2006), quando o comprador
sente-se confiante em realizar negcios com fornecedores ligados a uma AIP,
em virtude da sua reputao, h uma tendncia de diminuio dos custos de
transao.
No mesmo sentido, AIPs possuidoras de boa reputao geram
externalidades positivas para o sistema produtivo que representam, contribuindo,
por exemplo, para a melhoria da imagem de produtos e/ou servios.
Enfim, dados os elementos at aqui desenvolvidos, infere-se que, de
fato, por meio de determinadas iniciativas empreendidas por estas formas
organizacionais, as AIPs contribuem para a coordenao de sistemas
produtivos, estabelecendo formas hbridas de governana. Neste sentido e no
contexto do presente trabalho, compete enfatizar a importncia da ao de AIPs
no sentido de estabelecer padres, associada criao do mecanismo sinalizador
de qualidade: a certificao.
2.1.1 Padres e Certificao como formas hbridas de coordenao
Padro um termo genrico, aplicvel em diferentes perspectivas
(Machado, 2000). No contexto do presente trabalho, o termo padro
abordado sob a perspectiva dos atributos de produtos, servios e sistemas de
gesto das organizaes.
Assim, na perspectiva considerada e no contexto das organizaes, os
padres podem ser obrigatrios (como, por exemplo, regulamentaes tcnicas
declaradas por entidades regulatrias) ou voluntrios (como, por exemplo,
especificaes estabelecidas por determinadas empresas como condio para
fornecimento de produtos e/ou servios). No entanto, Machado (2000) afirma
que a distino entre padres obrigatrios e voluntrios no clara. Na
conjuntura de atuao das empresas, padres obrigatrios e padres voluntrios
13
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mantm-se mutuamente relacionados. Alm disso, um padro voluntrio pode
vir a assumir conotao de padro obrigatrio, a depender do ambiente
institucional e das circunstncias de competio.
Os padres minimizam incompatibilidades, estabelecem nveis mnimos
de desempenho e garantem harmonia nos processos. Sob o enfoque da ECT, os
padres reduzem a assimetria de informao entre os agentes envolvidos nas
trocas e exercem um papel de coordenao. Portanto, os padres contribuem
para a reduo de custos de transao (Machado, 2000).
Isto posto, cabe resgatar que AIPs podem estabelecer padres de
qualidade para os produtos, os servios e os sistemas de gesto das
organizaes por ela associadas (Barra et al., 2006) e, por conseqncia, podem
promover reduo de assimetria de informao e de custos de transao entre
membros da cadeia produtiva respectiva ao segmento que representam.
Neste sentido, a atuao das AIPs importante para a consolidao
desses padres, haja vista que, conforme Zylbersztajn (1999), citado por
Machado (2000), a consolidao de padres de qualidade demanda a criao de
organizaes e estruturas de governana que exeram a funo de dar o suporte
necessrio s aes geradoras e controladoras dos padres desejados. Destarte,
AIPs so organizaes que podem exercer esta funo.
Estas aes geradoras e controladoras de padres desejados podem estar
associadas a procedimentos de certificao. Especialmente quando as empresas
adotam padres que exigem a adoo de processos produtivos especficos ou
com atributos diferenciados, comum usar este recurso para atestar as
propriedades desses processos, de servios e de produtos. Machado (2000)
menciona que a certificao a institucionalizao da padronizao porque
representa o coroamento formal de toda uma sistemtica de estabelecer e
conceder reputao a padres.
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-
Segundo a Associao Brasileira de Normas Tcnicas - ABNT (2008),
certificar um produto, servio ou sistema de gesto significa comprovar junto
ao mercado e sociedade que a organizao possui um sistema de fabricao
controlado ou que a organizao adota um determinado conjunto de prticas, de
forma a garantir a confeco de produtos e/ou a execuo de servios e/ou a
promoo de objetivos ambientais, sociais, de segurana e outros, de acordo com
normas especficas. Desta forma, a certificao um instrumento formal que
garante o produto/ servio/ sistema de gesto segundo especificaes pr-
estabelecidas e reconhecida como um instrumento indispensvel para dar
confiabilidade s empresas em um pas (Machado, 2000).
Portanto, em seu fundamento, a certificao faz parte de um amplo leque
de medidas que, em seu conjunto, so denominadas de avaliao de
conformidade. Stephenson (1997), citado por Machado (2000) identifica quatro
medidas de avaliao de conformidade:
1) avaliao de conformidade executada pelo fabricante, segundo
mecanismos internos prprios de prova e garantia de qualidade;
2) avaliao de conformidade executada por laboratrios independentes,
a pedido do fabricante;
3) avaliao de conformidade conduzida por terceiros, por meio de
apreciao formal e imparcial, resultando em um processo de certificao;
4) avaliao de conformidade por meio de aprovao do sistema de
qualidade do fabricante ou do sistema de gerenciamento empregado para
assegurar consistncia na qualidade do produto (inclui procedimentos,
treinamento e documentao). executada por auditoria independente e pode
resultar em um processo de certificao.
A condio globalizada da economia mundial, caracterizada pela
integrao de mercados, atribui s medidas de avaliao de conformidade uma
importncia igual ou maior do que a importncia dos prprios padres
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(Stephenson, 1997, citado por Machado, 2000). Ou seja, os procedimentos
empregados para avaliar e garantir a conformidade determinam a confiabilidade
de produtos/ servios/ sistemas de gesto e, por esse motivo, as medidas de
avaliao de conformidade podem ser consideradas parmetros que tangenciam
as transaes, especialmente aquelas referentes ao comrcio internacional.
Dentre as medidas de avaliao de conformidade apontadas, Stephenson
(1997), citado por Machado (2000) destaca que, com exceo da primeira, todas
as outras atividades so conduzidas ou por terceiros ou por partes no vinculadas
ao fabricante. Neste sentido e retomando o foco em medidas de avaliao de
conformidade associadas certificao, temos que, conforme Machado (2000), a
certificao um sinal de qualidade fornecido por uma instituio formal,
exterior s transaes do mercado. Essas organizaes (de terceira parte ou do
prprio Estado) assumem a responsabilidade de garantir a veracidade do que
certificam, fundamentando-se nas suas habilidades e conhecimentos tcnicos.
Desta forma, a credibilidade atribuda a processos de certificao
fundamental aferio de validade aos certificados. No intuito de assegurar essa
credibilidade, as organizaes que empreendem auditorias e emitem certificados
devem ser credenciadas por rgos do governo, de modo a serem consideradas
aptas a desempenhar estas atividades. No Brasil, o rgo responsvel por esse
papel o Instituto Nacional de Metrologia, Normalizao e Qualidade Industrial
(INMETRO) (Machado, 2000).
Peri & Gaeta (1999), citados por Machado (2000), ao considerarem
qualidade como um sinal de reafirmao e garantia de determinados atributos e
especificidades prometidas para o consumidor, afirmam que a certificao por
uma terceira parte tem papel importante. Embora no confira a qualidade do
produto ou servio, atesta que eles so produzidos sempre dentro do mesmo
padro.
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Resgatando-se o contexto da atuao de AIPs e considerando-se as
aes empreendidas por essas organizaes no sentido de desenvolver e
estabelecer padres de qualidade e cdigos de conduta com avaliao de
conformidade mediada por certificao, Barra et al. (2006) ressaltam que o
monitoramento dos programas que incorporam essa finalidade, quando efetuado
por auditorias de terceira parte, contribui para alimentar a reputao destes
arranjos organizacionais. Como conseqncia, gera-se um maior grau de
confiana por parte do comprador que se relaciona com empresas integrantes
dessas AIPs, uma vez que as garantias atestadas pelos certificados emitidos
reduzem o nvel de incerteza e a possibilidade de aes oportunistas.
2.2 Logstica
Razzolini (2001) destaca que na logstica h dois objetivos centrais: as
questes espaciais (relacionadas a onde alocar produtos) e as questes
temporais (quando disponibiliz-los). Assim, em funo destes objetivos
centrais, o conceito de logstica sistematizado por diversos autores.
A princpio, o conceito de logstica associado a guerras. Segundo
Ching (2001), o conceito de logstica, existente desde a dcada de 40, foi usado
pelos militares norte-americanos e voltava-se ao processo de
aquisio/fornecimento de materiais e atendimento aos objetivos de combate
durante a Segunda Guerra Mundial.
Na perspectiva organizacional, a logstica primariamente associada
gesto do fluxo de bens de um ponto de origem a um ponto de consumo
(Lambert et al., 1998). Ballou (2004) conceitua logstica como um processo de
planejamento, implementao e controle do fluxo e armazenamento eficiente e
econmico de matrias primas, materiais semi-acabados e produtos acabados,
bem como as informaes a eles relativas, desde o ponto de origem at o ponto
de consumo, com o propsito de atender s exigncias dos clientes.
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Os conceitos at ento citados referem-se principalmente ao fluxo de
produtos e informaes. Outros autores, como Christopher (1997) e Kobayashi
(2000), incluem a dimenso estratgica da logstica.
Christopher (1997), numa conceituao similar s descritas
anteriormente, afirma que a logstica o processo de gerenciar
estrategicamente a aquisio, movimentao e armazenagem de materiais, peas
e produtos acabados (e os fluxos de informaes correlatas) por meio da
organizao e seus canais de marketing, de modo a poder maximizar as
lucratividades presentes e futuras por meio do atendimento dos pedidos a baixo
custo.
Kobayashi (2000) tambm relaciona estratgia ao conceito de
logstica, admitindo-a como um processo dirigido estrategicamente para
transferncia e armazenagem de materiais, componentes e produtos acabados,
com incio nos fornecedores, passando pelas empresas, at chegar aos
consumidores.
Neste contexto, importante salientar que o conceito de logstica vai
alm do transporte fsico e aborda outros enfoques (Stenger & Deimling, 2006).
Assim, para Kobayashi (2000), apesar de a logstica ser considerada um
sistema de distribuio fsica, ela deve ater-se tambm aos servios, sendo
necessrio tornar-se uma atividade de suporte, interagindo com todos os setores
da empresa, buscando o incremento e a solidificao destas no mercado.
Novaes (1989) entende que a logstica refere-se a mais coisas que
apenas os aspectos fsicos dos sistemas. H que se agregar a estes informaes e
gerenciamento para que se possa ter uma anlise de todo o processo logstico
(diversificao, custos de transporte e armazenagem). O autor, em acordo com o
que menciona Razzolini (2001), afirma que o enfoque logstico busca vencer
fatores espaciais e de tempo e no apenas deslocamentos e restries espaciais
como o transporte tradicional.
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Bertaglia (2003) atribui ao profissional de logstica o entendimento
macro da empresa, sua organizao e seus processos. O autor supe que, assim,
entende-se a necessidade de flexibilidade e agilidade da cadeia de
abastecimento. Porm, alm dos ferramentais fsicos e estruturais, faz-se
necessria a interao e compreenso da equipe (recursos humanos) para com o
processo.
Em suma, a partir dos conceitos de logstica apresentados, possvel
considerar, de forma abrangente, as questes organizacionais associadas a este
conceito, relacionadas a diferentes perspectivas. O Quadro 1 as apresenta:
QUADRO 1 Questes organizacionais associadas ao conceito "logstica" e relacionadas a diferentes perspectivas.
PERSPECTIVA "QUESTES ORGANIZACIONAIS"
fluxo de bens (matria prima - produto em processo - produto acabado) canais de marketing (ponto de origem ao ponto de consumo) eficincia operacional fatores de espao
OPERACIONAL
fatores de tempo fluxos eficazes de informaes gerncia de processos busca por baixos custos busca por eficincia econmica atividades de suporte s demais reas da organizao interao com objetivos das demais reas da organizao
GERENCIAL
comprometimento das equipes responsveis por processos entendimento macro da empresa (organizao, processos, ...) atendimento s exigncias dos clientes agregao de valor por meio de servios busca de insero e solidificao da empresa no mercado maximizao de lucratividade presente e futura
ESTRATGICA
respostas rpidas s necessidades associadas flexibilidade e agilidade da cadeia de abastecimento
Fonte: Adaptado do contedo bibliogrfico referenciado.
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O conceito de logstica, portanto, bastante abrangente e deve ser
considerado sob todas as perspectivas, a fim de que o uso emprico do termo no
seja indevidamente banalizado, contribuindo para a subestimao de suas
premissas.
Ballou (2004) comenta que a idia acerca do gerenciamento coordenado
da logstica remonta de, pelo menos, 1844. Naquela data, segundo o autor, j
havia a preocupao a respeito de diminuio de custos, remetendo a escolhas de
modais e tipos de armazenagem.
Partindo de aplicaes mais explcitas, Razzolini (2001) menciona que
grande parte dos autores assume o ano 1940 como ponto de partida para o
desenvolvimento do conceito. O mesmo autor informa que, at aquela ocasio, a
evoluo da logstica aconteceu de forma lenta e que este o marco inicial
considerado para efeito de caracterizao histrica.
Desta forma, consta, no Quadro 2 a seguir, a descrio da evoluo e
desenvolvimento da logstica ao longo da histria, conforme Figueiredo &
Arkader (1999):
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QUADRO 2 Evoluo da logstica ao longo da histria. PERODO DESCRIO
At anos 40
Incio situado na virada para o sculo XX. Principal influncia terica: Economia Agrria. Principal preocupao: transporte para escoamento da produo agrcola uma vez que a demanda existente, na maioria dos casos, superava a capacidade produtiva das empresas.
Dos anos 40 at anos 60
Surge o termo "logstica", em funo das duas grandes guerras, com razes na movimentao e no abastecimento de tropas durante as guerras. nfase: fluxo de materiais (armazenamento e transporte, tratados separadamente no contexto da distribuio de bens).
Dos anos 60 at anos 70
Incio de viso integrada nas questes logsticas. nfase em aspectos como custo total, viso sistmica do processo produtivo, outras funes alm da distribuio fsica. Influncia: Economia Industrial.
Dos anos 70 at anos 80
"Foco no cliente". nfase: produtividade, custos de estoques. Surgimento de: modelos matemticos sofisticados para tratar a questo estocstica, novas abordagens para a questo dos custos (de processos logsticos e sob a perspectiva contbil).
Dos anos 80 at anos 90
Retoma-se com nfase a viso da logstica integrada. Inicia-se viso da administrao da cadeia de abastecimento - cujo pano de fundo a globalizao e o avano da tecnologia da informao.
Dos anos 90 at perodo atual
Enfoque estratgico: logstica vista como elemento diferenciador para as organizaes. Surge o conceito de Supply Chain Management com o uso das ferramentas disponibilizadas pela tecnologia da informao.
Fonte: Adaptado de Figueiredo & Arkader (1999).
Razzolini (2001), considerando a evoluo histrica da logstica
descrita por Figueiredo & Arkader (1999), sintetiza as informaes por meio do
Quadro 3, relacionando cada perodo viso organizacional e nfase, at
ento vigentes:
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QUADRO 3 Evoluo da logstica ao longo da histria associada viso organizacional e nfase respectivamente vigentes.
PERODO VISO ORGANIZACIONAL NFASE
At anos 40 Do "campo ao mercado" Economia Agrria Dos anos 40 at anos 60 Especializao Desempenhos funcionais Dos anos 60 at anos 70 Integrao interna Integrao das funes Dos anos 70 at anos 80 Foco no cliente Busca por eficincia Dos anos 80 at anos 90 Foco no mercado Integrao da logstica
Dos anos 90 at perodo atual Supply Chain Management Logstica como diferenciao competitiva
Fonte: Razzolini (2001), adaptado de Figueiredo & Arkader (1999).
Os perodos identificados na evoluo da logstica ao longo da histria
no sero discutidos, haja vista que, considerada a linha terica desenvolvida no
presente trabalho, essa discusso se faz irrelevante. Contudo, importante
destacar, no contexto dessa evoluo, o surgimento do conceito Supply Chain
Management (SCM) que, traduzido para o portugus, corresponde ao
gerenciamento da cadeia de suprimentos.
O surgimento do conceito SCM contextualizado na evoluo da
logstica ao longo da histria associado viso da logstica sob o enfoque
estratgico, como elemento de diferenciao competitiva para as organizaes.
Entretanto, embora o SCM tenha surgido da evoluo da logstica, seu
conceito transcende os limites dessa. O conceito terico e a prtica nas
organizaes do SCM sero discutidos na seqncia.
2.3 Supply Chain Management (SCM)
Tradicionalmente, a maioria das organizaes v-se como entidades que
existem independentemente umas das outras e que precisam competir para
sobreviver. No passado, eram freqentes os casos em que o relacionamento com
os fornecedores e clientes (como distribuidores e varejistas) era mais do tipo
adversrio do que cooperativo. Ainda hoje existem companhias que procuram
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alcanar reduo de custos ou aumento de lucros custa de seus parceiros
(Christopher, 2001).
Christopher (2001) afirma que a simples transferncia de custos para
clientes ou para fornecedores no faz das organizaes empresas mais
competitivas. Segundo esse autor, o motivo para isso que, ao final, todos os
custos caminharo para o mercado, para serem refletidos no preo pago pelo
usurio final. Desta forma, as companhias de ponta reconhecem a falcia desta
abordagem convencional e procuram tornar a cadeia de suprimentos competitiva
como um todo, por meio do valor que elas adicionam e dos custos que elas
reduzem em geral.
Segundo Christopher (2001), a cadeia de suprimentos representa uma
rede de organizaes, por meio de ligaes nos dois sentidos, dos diferentes
processos e atividades que produzem valor na forma de produtos e servios que
so colocados nas mos do consumidor final.
Nenhum homem uma ilha a frase que tem grande significado para
a cadeia de suprimentos (Christopher, 2001). Neste sentido, existe um
reconhecimento cada vez maior por muitas companhias de que a parceria e a
cooperao proporcionam melhores resultados do que o interesse prprio e o
conflito (Christopher, 2001).
Portanto, o conceito de SCM introduz uma importante mudana no
paradigma competitivo, na medida em que considera que a competio ocorre,
de fato, no nvel das cadeias produtivas e no apenas no nvel das unidades de
negcio isoladas (Pires, 1999, citado por Razzolini, 2001). Ratificando esta
considerao, Christopher (2001) afirma que a competio real no feita entre
uma companhia e outra, mas entre uma cadeia de suprimentos e outra.
H inmeros conceitos, elaborados por diversos autores (Wood & Zuffo,
1998; Fleury et al., 2000; Ching, 2001; Razzolini, 2001; Pires, 2004) para
descrever Supply Chain Management. O conceito elaborado por Ching (2001)
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e citado por Razzolini (2001) apresenta, de forma mais completa, a proposta do
SCM:
SCM a administrao sinrgica dos canais de abastecimento de todos os participantes da cadeia de valor, atravs da integrao de seus processos de negcios, visando sempre agregar valor ao produto final, em cada elo da cadeia, gerando vantagens competitivas sustentveis ao longo do tempo (Ching, 1999, citado por Razzolini, 2001, p. 67).
Essa nova forma de gerenciamento busca organizar a produo com base
na demanda estimada (com a maior exatido possvel), integrando as duas
pontas da cadeia (fornecedores e clientes) (Razzolini, 2001).
Para atingir seus objetivos, o SCM pressupe a simplificao e a
otimizao de toda a cadeia produtiva, por meio da utilizao de diversos
mecanismos/ recursos para sua implementao, entre os quais destacam-se
(Razzolini, 2001):
(a) Reduo do nmero de fornecedores, estabelecendo-se
relacionamentos de parcerias colaborativas em que se buscam resultados atravs
da sinergia entre os elos da cadeia produtiva;
(b) Integrao de informaes com fornecedores, clientes e operadores
logsticos, utilizando-se de sistemas como o EDI (Eletronic Data Interchange)
para a troca rpida de informaes que possam agilizar os processos produtivos;
o ECR (Efficient Consumer Response) para a reposio automtica de produtos
no ponto de venda; entre outros Sistemas de Apoio Deciso, o que possibilita a
utilizao de sistemas de produo dentro da filosofia Just in Time JIT, e a
diminuio geral dos nveis de estoques (em toda a cadeia produtiva);
(c) Utilizao de representantes permanentes junto aos principais
clientes o que possibilita um melhor balanceamento entre as necessidades do
cliente e a capacidade produtiva da empresa, alm de permitir maior agilidade na
resoluo de problemas;
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(d) Desenvolvimento conjunto de novos produtos: para atender as
necessidades especficas de determinados clientes, busca-se o envolvimento dos
fornecedores desde os estgios iniciais do desenvolvimento de novos produtos, o
que possibilita a reduo no tempo e nos custos de desenvolvimento;
(e) Integrao das estratgias competitivas dentro da cadeia produtiva:
atravs de relacionamentos profundos de parcerias colaborativas busca-se
adequar estratgias competitivas unificadas, com os mesmos objetivos, entre
empresas diferentes;
(f) Desenvolvimento conjunto de competncias e capacidades na cadeia
produtiva: competncia, como sendo o elo entre estratgia e infra-estrutura,
qualitativa e no vista ou percebida pelos clientes, embora agregue valor aos
produtos; capacidade (capability) representando o know-how, habilidades e
prticas associadas com a integrao e operao de processos;
(g) Global Sourcing: trata-se de uma viso mais abrangente do SCM,
pois trabalha-se com fornecedores/ parceiros e clientes independentemente da
sua localizao geogrfica no globo terrestre. Para tanto, necessrio que as
prticas de Pesquisa e Desenvolvimento de novos produtos sejam feitas em
conjunto, que a transmisso eletrnica de dados (EDI) seja uma prtica
constante, entre outras prticas;
(h) Outsourcing: a prtica em que parte do conjunto de produtos e
servios utilizados por uma empresa (dentro da cadeia produtiva)
providenciado por uma empresa externa, num relacionamento de
interdependncia e estreita colaborao, permitindo que a empresa cliente
concentre-se naquilo que sua competncia principal (core competence). Nessa
viso, o outsourcing vai alm da simples terceirizao, uma vez que o
fornecedor mantm uma integrao profunda e de colaborao estreita com o
cliente;
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(i) Follow Sourcing: a poltica que algumas empresas esto adotando
de trabalhar com o mesmo fornecedor de um item em todas as suas unidades
produtivas, independente da localizao geogrfica dessas unidades.
(j) Operadores Logsticos: um operador logstico uma empresa
especializada em assumir a operao parcial ou total de determinados processos
dentro da cadeia logstica. Os exemplos mais comuns so: (j.1) a rea de
transporte (tanto interno quanto externo); (j.2) a armazenagem (de matria-prima
e/ ou insumos, de produtos em processo e/ ou de produtos acabados); (j.3) os
Solution Providers (soluo de fornecimento) que se encarregam de
gerenciar todo o processo de negociao com fornecedores, consolidao e
movimentao de cargas, desembaraos aduaneiros, etc.
As prticas de Global Sourcing, Outsourcing e Follow Sourcing tm
sido praticadas sobretudo pelas indstrias montadoras e de bens de massa, o que
possibilitou o desenvolvimento dos assim chamados produtos mundiais devido
ao fato de que, realmente, so envolvidos recursos de vrias partes do mundo
para a consecuo do projeto e da manufatura dos mesmos (Razzolini, 2001).
Christopher (2001) destaca que o gerenciamento da cadeia de
suprimentos no a mesma coisa que integrao vertical. Pensou-se uma vez
que isto seria uma estratgia desejvel, mas agora as organizaes esto cada
vez mais enfocando seus negcios em outras palavras, nas coisas que elas
fazem realmente bem e onde elas tm uma vantagem diferencial. O restante
adquirido externamente, isto , obtido fora da empresa. Esta perspectiva
permite, portanto, considerar o SCM como uma forma organizacional moderna
de integrao vertical, que visa superar uma tendncia at ento muito comum
entre as empresas at os anos 70.
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2.4 Servios logsticos e terceirizao
Diversos estudos evidenciam o aumento do escopo de servios logsticos
terceirizados em todo o mundo. Segundo Fleury et al. (2004), alguns fatores
associados a este crescimento so:
(a) o movimento de terceirizao, a partir da dcada de 80;
(b) a crescente importncia do servio ao cliente;
(c) novos padres de relacionamento nas cadeias de suprimento;
(d) maior disponibilidade de tecnologia de informao para aplicaes
logsticas.
H restries relacionadas ao crescimento da terceirizao. Fleury et al.
(2004) apontam restries associadas - na perspectiva do potencial cliente - ao
receio de perder o controle de sua logstica e do nvel de servio prestado; e na
perspectiva dos prestadores de servios logsticos - ao complexo e caro processo
de venda dos servios, ressaltando-se os custos na preparao e negociao de
propostas e no desenvolvimento de solues customizadas.
Contudo, apesar de no Brasil o processo de terceirizao das atividades
logsticas ser recente, o potencial de mercado parece ser elevado (Fleury et al.,
2004). Em partes, este mercado pode ser explicado pelas diversas possibilidades
de atividades logsticas terceirizveis, bem como pelo foco adotado por
determinadas empresas, em seu core business ou core competence (Fleury
et al., 2004). No mesmo sentido, Stenger & Deimling (2006) ressaltam que, no
ambiente competitivo e globalizado no qual as organizaes esto inseridas
(caracterizado pela diminuio da verticalizao e pela necessidade de reduo
de custos, melhoria de nvel de servio e flexibilidade), as empresas esto
lanando mo do uso de prestadores de servios logsticos, podendo assim
concentrar seus esforos nas atividades centrais de suas organizaes.
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Neste contexto, a terceirizao de atividades logsticas tem se mostrado
uma alternativa para que as organizaes sustentem vantagens competitivas por
meio de prestadores de servios logsticos. Fleury et al. (2000) sustentam esta
afirmao ao argumentar que prestadores de servios logsticos podem operar
com melhores custos e oferecer melhores servios do que operaes realizadas
internamente nas empresas. Isto se deve natureza das atividades logsticas
(complexidade operacional, sofisticao tecnolgica); ao fato dos prestadores de
servios logsticos prestarem servio constante a diversos segmentos e, portanto,
aprenderem com diversas experincias; aos investimentos em tecnologias
realizados por estas empresas e capacitao de suas equipes.
Assim, Fleury et al. (2004) classificam as principais atividades logsticas
terceirizveis em trs classes (bsicas, intermedirias e sofisticadas). O Quadro 4
rene as informaes acerca das principais atividades logsticas terceirizveis e
dos ndices mdios de terceirizao:
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QUADRO 4 Atividades logsticas terceirizveis e ndices mdios de terceirizao
CLASSE ATIVIDADE NDICE MDIO DE TERCEIRIZAO
Transporte de suprimentoTransporte de transferncia Transporte de distribuio
(1) ATIVIDADES BSICAS
Desembarao aduaneiro
92%
Armazenagem
Milk Run (2) ATIVIDADES INTERMEDIRIAS
Gerenciamento de transporte multimodal
45%
Gesto de Estoques
Montagem de kits (3) ATIVIDADES SOFISTICADAS Projetos logsticos
31%
Fonte: Adaptado de Fleury et al. (2004).
A classe 1 (atividades bsicas) comporta as atividades de transporte de
suprimento, transporte de transferncia, transporte de distribuio e desembarao
aduaneiro. A classe 2 (atividades intermedirias) abrange as atividades de
armazenagem, milk run e gerenciamento de transporte multimodal. A classe 3
(atividades sofisticadas) inclui as atividades de gesto de estoques, montagem de
kits e projetos logsticos.
Estatsticas descritas pelos mesmos autores apontam que o ndice mdio
de terceirizao de atividades logsticas pelas organizaes de 92% das
atividades bsicas; 45% das atividades intermedirias e 31% das atividades
sofisticadas. Contudo, h uma tendncia de modificao desse quadro, visto que
as atividades sofisticadas esto crescendo muito mais rapidamente do que as
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atividades bsicas e intermedirias. Tal situao indica uma evoluo na direo
de uma maior sofisticao das atividades terceirizadas, o que dever refletir-se
em processos mais elaborados de seleo e contratao de provedores de
servios logsticos.
Portanto, dada a evoluo e perfil da terceirizao de servios logsticos
pelas empresas no mercado brasileiro, percebe-se que prestadores de servios
logsticos esto inseridos em um mercado cujas oportunidades esto associadas
capacidade dessas empresas em atender exigncias associadas eficincia
operacional, mas, sobretudo, em adequar-se a requisitos especficos de
determinados segmentos para atenderem aos critrios de seleo desses.
Quanto denominao de prestadores de servios logsticos, Fleury et
al. (2004) informam que h, na literatura internacional, diversas formas de se
designar empresas desta natureza. Dentre estas denominaes, destacam-se:
- provedores de servios logsticos PSLs (third-party logistics
providers ou 3PL);
- provedores de logstica integrada (integrated logistics providers);
- empresas de logstica contratada (contract logistics companies);
- operadores logsticos (logistics operators).
A partir do crescimento do nmero de prestadores de servios logsticos
e das inmeras possibilidades de atuao, Sink (1996), citado por Fleury et al.
(2004), apresenta uma pesquisa com representantes de diversos setores
industriais norte-americanos, apresentam cinco dimenses de segmentao
dessas empresas:
(a) por tipos de servios oferecidos;
(b) por escopo geogrfico de atuao;
(c) por tipo de indstrias que atendem;
(d) por caracterstica dos ativos;
(e) por atividade de origem.
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-
Sob a perspectiva dos tipos de servios oferecidos, os prestadores de
servios logsticos podem ser classificados em dois grandes grupos bsicos:
- especialistas operacionais: so empresas que oferecem servios
especficos como, por exemplo, o transporte, a armazenagem ou a etiquetagem.
A competncia bsica desse grupo a excelncia operacional.
- integradores: a empresa capaz de prover uma soluo logstica
completa, uma vez que abrange uma grande gama de servios planejados e
gerenciados de forma integrada. Apresentam alto grau de subcontratao devido
ao fato de que o foco desse segmento reside em aspectos conceituais, como a
anlise da cadeia de suprimentos e o conhecimento de conceitos logsticos
inovadores para elaborao e gerenciamento de projetos.
Sob a perspectiva do escopo geogrfico, os prestadores de servios
logsticos podem ser classificados em regionais, nacionais ou globais. H uma
tendncia expanso de atuao como forma de conseguir maior uso de ativos e
manter clientes com atuao nacional e internacional.
Sob a perspectiva do tipo de indstrias que atendem, os prestadores de
servios logsticos podem ser classificados em funo da especializao em
determinados clientes ligados a tipos de indstria especficos (qumico,
automotivo, alta tecnologia, alimentos, etc.). Esta dimenso de segmentao visa
a uma maior especializao setorial e customizao.
Sob a perspectiva de caractersticas dos ativos, os prestadores de
servios logsticos podem ser classificados quanto propriedade dos mesmos:
- baseados em ativos: possuem ou operam ativos de transporte ou
armazenagem;
- no baseados em ativos: subcontratam os ativos e sua operao com
terceiros;
- hbridos: apesar de possurem ativos fsicos, tambm contratam
ativos de terceiros.
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-
Esta dimenso de segmentao permite observar os contratos firmados
entre prestadores de servios logsticos e seus clientes sob duas estruturas:
baseados em capacidade dedicada (o operador logstico utiliza o mesmo ativo
para diversos clientes) e baseados em ativos dedicados (disponibilizao de
determinados ativos com exclusividade para determinados clientes).
Sob a perspectiva das atividades de origem, tem-se que so inmeras e
diferenciadas as atividades que originaram prestadores de servios logsticos,
podendo ser atividades de transporte, de armazenagem, de entrega expressa, etc.
tal como so citados exemplos na literatura. Luna (2004), citado por Stenger &
Deimling (2006), afirma que parte dos prestadores de servios logsticos surgiu
da redefinio ou diversificao de seus antigos negcios e se originaram de
vrios setores como da distribuio de produtos, do setor de transportes e de
armazenagem.
O Quadro 5 a seguir esquematiza as informaes acerca dessas
dimenses de segmentao.
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QUADRO 5 Dimenses de segmentao dos prestadores de servios logsticos.
DIMENSO SEGMENTOS
Especialistas operacionais (1) TIPOS DE SERVIOS OFERECIDOSIntegradores
Regionais
Nacionais (2) ESCOPO GEOGRFICO DE ATUAO Globais
Automotivo
Alimentos
Qumico
(3) TIPO DE INDSTRIAS QUE ATENDEM
ETC ...
"Baseados em ativos"
"No baseados em ativos" (4.1) CARACTERSTICA DOS ATIVOS (quanto propriedade dos ativos) "Hbridos"
Capacidade dedicada (4.2) CARACTERSTICA DOS ATIVOS (quanto estrutura dos contratos) Ativos dedicados
Transporte
Armazenagem
Entrega Expressa (5) ATIVIDADE DE ORIGEM
ETC ...
Fonte: Adaptado de Sink (1996), citado por Fleury et al. (2004).
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Por meio dessas dimenses de segmentao possvel visualizar o que
difere os prestadores de servios logsticos. De qualquer modo, Muller (1993),
citado por Fleury et al. (2004) ressalta que no h, a princpio, um tipo de
prestador de servios logsticos melhor do que outro. H, portanto, tipos de
prestadores de servios logsticos mais adequados s necessidades de empresas
especficas.
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3 MTODO E PROCEDIMENTOS
Segundo Maximiano (2000), os conhecimentos administrativos so
produzidos pela observao da experincia prtica das organizaes e de seus
administradores. H duas fontes principais desses conhecimentos: a prpria
experincia prtica e os mtodos cientficos. Gil (1999) afirma que a
investigao cientfica depende de um conjunto de procedimentos intelectuais e
tcnicos para que seus objetivos sejam atingidos: os mtodos cientficos.
Desta forma, dada a base lgica que sustenta os mtodos cientficos, as
pesquisas podem ser classificadas de acordo com determinados parmetros. A
seguir, alm da caracterizao da empresa estudada, apresentada a
classificao da pesquisa empreendida no presente trabalho.
3.1 Caracterizao da empresa
A organizao estudada uma empresa prestadora de servios logsticos
a Expresso Nepomuceno S/A cuja matriz est localizada no municpio de
Lavras/ MG. Foi fundada em 1959 pelo seu hoje diretor presidente e tem a
caracterstica de possuir uma estrutura de gesto familiar.
A empresa atua em diversos segmentos, sendo que, a partir de 2008, assumiu a
estratgia de intensificar sua atuao nos segmentos: gases do ar, papel e
celulose, ferro e ao, autopeas e qumico.
O faturamento da empresa no ano 2007 foi de R$ 210.000.000,00
(duzentos e dez milhes de reais) e a empresa espera, para 2008, um crescimento
em torno de 15% desse faturamento.
A empresa conta com aproximadamente 1780 colaboradores diretos e,
alm da matriz, possui 17 unidades entre filiais e pontos de apoio
distribudas nos estados MG, SP, PR, PE, RJ, BA e RS.
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3.2 Caracterizao da pesquisa
O problema de pesquisa apresentado neste trabalho foi abordado por
meio de pesquisa de carter qualitativo, com enfoque exploratrio e descritivo.
Godoy (1995) afirma que, segundo a perspectiva qualitativa, um fenmeno pode
ser melhor compreendido no contexto em que ocorre e do qual parte, devendo
ser analisado numa perspectiva integrada. Godoy (1995) acrescenta que, para
tanto, o pesquisador vai a campo buscando captar o fenmeno em estudo a
partir das pessoas nele envolvidas. Portanto, dados o problema de pesquisa e os
objetivos deste estudo, a pesquisa qualitativa a forma mais adequada de
abordagem.
O trabalho adotou como mtodo o estudo de caso. Este procedimento
adequado quando a pesquisa envolve o estudo profundo e exaustivo de um ou
poucos objetos de maneira que se permita o seu amplo e detalhado
conhecimento (Silva & Menezes, 2001).
3.3 Tcnicas de coleta de dados
Dado que o mtodo adotado na pesquisa o estudo de caso, descritivo
e exploratrio, sob a perspectiva qualitativa, foram utilizadas as tcnicas de
levantamento bibliogrfico, entrevistas semi-estruturadas e exames de registros
existentes. O Quadro 6 recapitula os objetivos especficos do trabalho e os
associa s tcnicas de coleta de dados respectivos:
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QUADRO 6 Objetivos especficos e tcnicas de coleta de dados
OBJETIVO TCNICA DE COLETA DE DADOS
(a) Descrever (...) SASSMAQ. Levantamento bibliogrfico (publicaes, site ABIQUIM).
(b) Identificar INVESTIMENTOS... Entrevistas semi-estruturadas; exames de registros existentes.
(c) Identificar DIFICULDADES... Entrevistas semi-estruturadas; exames de registros existentes.
(d) Identificar EFEITOS... Entrevistas semi-estruturadas; exames de registros existentes.
Inicialmente foi realizado um levantamento de informaes a respeito do
contexto, dos procedimentos e dos elementos que compem o Sistema de
Avaliao de Segurana, Sade, Meio Ambiente e Qualidade (SASSMAQ). As
fontes de consulta foram as publicaes da Associao Brasileira da Indstria
Qumica (ABIQUIM) acerca do SASSMAQ e a pgina eletrnica dessa
associao, na internet.
Em seqncia, foi elaborado o Roteiro para Entrevista (apndice), no
qual as perguntas foram associadas aos elementos Aspectos Gerais,
Investimentos, Dificuldades e Efeitos.
Foram entrevistados trs profissionais da empresa (amostra intencional e
no probabilstica), no decorrer do ms setembro/ 2008. So eles:
(a) o Gerente da Qualidade e Segurana, que exerce o papel de
Coordenador de Sade, Segurana, Meio Ambiente e Qualidade (identificado
na seo Resultados e Discusso por Coordenador de SSMAQ);
(b) a Diretora Administrativa e da Qualidade (identificada na seo
Resultados e Discusso por Diretora da Qualidade);
(c) o Diretor Comercial.
Buscou-se, pois, entrevistar profissionais envolvidos no processo acerca
da certificao pelo SASSMAQ de forma direta (Coordenador de SSMAQ e
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Diretora da Qualidade) e profissionais ocupantes de cargos da alta direo da
empresa (Diretora da Qualidade e Diretor Comercial).
As entrevistas foram gravadas e transcritas. Posteriormente, o contedo
foi analisado em funo dos objetivos propostos. Alm das entrevistas, foram
executados exame e anlise de registros disponibilizados pela empresa e
associados aos objetivos do estudo.
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4 RESULTADOS E DISCUSSO
4.1 SASSMAQ: o contexto, os procedimentos e os elementos que o compem
O Sistema de Avaliao de Segurana, Sade, Meio Ambiente e
Qualidade o SASSMAQ um instrumento de qualificao, avaliao e
certificao destinado aos prestadores de servios de logstica s empresas
pertencentes ao segmento qumico. O SASSMAQ est inserido em um contexto
abrangente, relacionado ao segmento qumico, em uma perspectiva
internacional. Com a finalidade de situar o processo acerca da certificao pelo
SASSMAQ, nesta seo h uma breve descrio sobre o papel da Associao
Brasileira da Indstria Qumica (ABIQUIM) e sobre os programas que
sustentam essa certificao.
(a) A Associao Brasileira da Indstria Qumica (ABIQUIM)
A Associao Brasileira da Indstria Qumica (ABIQUIM) uma
sociedade civil de fins no econmicos. Congrega indstrias qumicas de grande,
mdio e pequeno portes e prestadores de servios ao setor nas reas de logstica,
transporte, gerenciamento de resduos e atendimento a emergncias (Associao
Brasileira da Indstria Qumica - ABIQUIM, 2008).
De forma geral, a ABIQUIM est estruturada para realizar o
acompanhamento estatstico do setor, promover estudos especficos sobre as
atividades e produtos da indstria qumica, acompanhar as mudanas na
legislao e assessorar as empresas associadas em assuntos econmicos, tcnicos
e de comrcio exterior.
Os objetivos especficos da ABIQUIM esto discriminados no Quadro 7:
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QUADRO 7 Os objetivos especficos da ABIQUIM
I - promover a aproximao das indstrias e dos industriais dos ramos qumicos e de produtos derivados, para fins de estudos tcnicos e defesa dos interesses econmicos ou profissionais de seus membros; II coordenar e defender os interesses das indstrias qumicas e de produtos derivados do Brasil perante entidades pblicas ou privadas, nacionais ou internacionais, procurando sempre conciliar os interesses de seus associados; III representar a indstria qumica nacional nos conclaves ordinrios e extraordinrios de rgos da ALADI (Associao Latino-Americana de Integrao), bem como perante outros organismos supranacionais ligados ao comrcio exterior, prestando assistncia aos associados nesta matria; IV realizar pesquisas, levantamentos estatsticos e estudos setoriais de interesse do setor qumico, dando-lhes adequada divulgao; V promover reunies entre diferentes entidades representativas da indstria qumica e de produtos derivados e de setores com ela relacionados; VI manter relaes com entidades congneres, nacionais ou internacionais, estimulando e orientando o contato entre os empresrios dos setores por elas abrangidos; VII colaborar com o Estado e demais associaes congneres como rgo tcnico e consultivo no estudo e soluo dos problemas que se relacionem com as indstrias qumicas e de produtos derivados; VIII disseminar informaes de interesse para o setor, promovendo a realizao de cursos, seminrios ou congressos, podendo, ainda, para esse fim, promover a edio de publicaes, bem como utilizar quaisquer recursos de mdia, inclusive audiovisuais e de informtica; IX impetrar, em favor de seus associados, mandado de segurana coletivo.
Fonte: ABIQUIM (2005a).
Compete tambm ABIQUIM agir como rgo de colaborao com os
Poderes Pblicos e associaes congneres, no sentido de solidariedade social e
da subordinao dos interesses econmicos ou profissionais ao interesse social.
Funo inerente natureza de sua composio, a entidade representa o
setor nas negociaes de acordos internacionais relacionados a produtos
qumicos. Em outubro de 1996, a ABIQUIM passou a representar a indstria
qumica brasileira no Conselho da Indstria Qumica do Mercosul (CIQUIM)
e no Conselho Internacional das Associaes da Indstria Qumica (ICCA),
entidade que coordena o programa Responsible Care - abordado adiante - e
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que representa a indstria qumica mundial em diversos foros ligados rea de
comrcio internacional.
Alm da estrutura organizacional bsica de uma associao
representativa das empresas da indstria qumica (incluindo assemblia geral
dos associados e os conselhos diretor, fiscal e consultivo), a base das atividades
da ABIQUIM inclui vrias comisses temticas e setoriais, constitudas por
tcnicos e dirigentes das empresas associadas. Para apoiar as iniciativas e
executar os trabalhos dessas comisses, a ABIQUIM mantm uma estrutura
permanente, com profissionais especializados, agrupados nas reas de Assuntos
de Comrcio Exterior, Assuntos Industriais, Assuntos Regulatrios e
Economia e Estatstica, alm de consultores e assessores. Na ocasio de
realizao dessa pesquisa, encontravam-se em atividades na ABIQUIM as
comisses apresentadas na Figura 1.
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-
Assuntos de Comrcio Exterior Assuntos
Industriais
ConsultoresAssessores
COMISSES TEMTICAS COMISSES SETORIAIS
Assessoramento Jurdico Assuntos Tributrios Atuao Responsvel - Executiva Atuao Responsvel - Tcnica Atuao Responsvel - Parceiros Comrcio Exterior Confiabilidade das Instalaes Consultiva do SASSMAQ Desenvolvimento de Recursos Humanos Economia Imagem e Comunicao Poltica Ambiental Promoo da excelncia em gesto Proteo Indstria Regulamentao e Gesto de Produtos Segurana, Higiene e Sade do Trabalhador Suprimentos Tecnologia Transportes
Colas, Adesivos e Selantes Corantes e Pigmentos Insumos para Borracha Poliestireno Expansvel Poliuretano Produtos Qumicos para Couros Resinas Termoplsticas Saneamento e Tratamento de gua Silicones
Economia e Estatstica
Assuntos Regulatrios
FIGURA 1 Comisses temticas e setoriais em atividade na ABIQUIM na ocasio da pesquisa.
Fonte: ABIQUIM (2008).
No rol das atividades empreendidas pela ABIQUIM, est o
desenvolvimento e/ou coordenao e/ou operacionalizao de programas
especiais. Para efeito deste estudo, vale ressaltar, dentre eles, o programa
Atuao Responsvel. Lanado no Brasil em abril de 1992, estabelece uma
srie de princpios a serem seguidos pelas empresas adotantes, tendo em vista
um processo de melhoria contnua nas reas de sade, segurana e meio
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ambiente. Por conter relao com elementos desse trabalho, esse programa ser
abordado nas sees seguintes.
(b) O programa Responsible Care e sua relao com o SASSMAQ
Como mencionado anteriormente, para alcanar o elemento principal do
presente trabalho o Sistema de Avaliao de Segurana, Sade, Meio
Ambiente e Qualidade (SASSMAQ) necessrio abordar instncias
anteriores que demonstram o seu contexto, a sua abrangncia e a sua
importncia como parte de um sistema maior, considerado alm dos limites
nacionais. Neste sentido, entende-se que importante abordar o programa
Responsible Care.
O Responsible Care um programa criado no Canad, pelo Canadian
Chemical Producers Association (CCPA), e coordenado internacionalmente
pelo Responsible Care Leadership Group RCLG (Grupo de Liderana do
Responsible Care) do International Council of Chemical Associations ICCA
(Conselho Internacional das Associaes da Indstria Qumica). Atualmente, o
Responsible Care encontrado em 52 pases.
O programa internacional fornece mecanismos que permitem o
desenvolvimento de sistemas e metodologias para cada etapa da gesto da sade,
da segurana e do meio ambiente a ser praticada nas indstrias qumicas,
atendendo aos conceitos de dilogo transparente com as partes interessadas no
setor qumico e melhoria contnua. O modelo desenvolvido pelo programa
flexvel, o que possibilita atender s necessidades de cada pas e das empresas
nele instaladas.
A iniciativa de um pas em operacionalizar por meio de uma entidade
de representao da indstria qumica nacional um programa que possa ser
considerado de Responsible Care, deve contemplar os seguintes elementos
fundamentais, conforme descrito no Quadro 8:
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QUADRO 8 Elementos fundamentais do programa Responsible Care (a) A adoo de um nome e um logotipo que claramente identifiquem as iniciativas nacionais como consistentes com os conceitos do Responsible Care; (b) A criao de uma srie de Cdigos de Prticas Gerenciais, Guias e checklists, destinados a ajudar as empresas a implementarem o programa internamente; (c) O comprometimento formal das empresas com uma srie de princpios diretivos do processo, o que feito com a assinatura de um Termo de Adeso junto associao nacional da indstria qumica do pas; (d) Indicaes de como melhor encorajar a que todas as empresas filiadas associao se comprometam e participem do Responsible Care; (e) A existncia de fruns nos quais as empresas possam apresentar suas prprias vises e trocar experincias sobre a implementao do processo; (f) O desenvolvimento de um processo contnuo de dilogo, sobre assuntos ligados sade ocupacional, segurana e meio ambiente, com as partes interessadas; (g) O desenvolvimento progressivo de indicadores, por meio dos quais as melhorias de desempenho possam ser medidas; (h) O estabelecimento de sistemticas de verificao de progresso, adaptadas s necessidades de cada iniciativa nacional.
Fonte: ABIQUIM (2008).
Para esse programa ser eficaz, preciso que esses elementos
fundamentais e bsicos sejam aplicados coerentemente em escala mundial, em
todos os pases onde existam empresas da indstria qumica. As empresas no
apenas se comprometem com uma srie de princpios diretivos em sade,
segurana e meio ambiente, mas tambm trabalham