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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
DOLLY ELIANA GARVIZU TORREZ DE GARIAZU
AÇÕES EDUCATIVAS EM SAÚDE NOS USUÁRIOS COM HIPERTENSÃO
ARTERIAL DA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE PIÇARRAS DO MUNICÍPIO DE
GUARATUBA, PARANÁ
CURITIBA
2019
DOLLY ELIANA GARVIZU TORREZ DE GARIAZU
AÇÕES EDUCATIVAS EM SAÚDE NOS USUÁRIOS COM HIPERTENSÃO
ARTERIAL DA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE PIÇARRAS DO MUNICÍPIO DE
GUARATUBA, PARANÁ
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Especialização em Atenção Básica de Saúde da Universidade Federal do Paraná, financiado pelo UNA-SUS, Setor de Ciências da Saúde, como requisito parcial à obtenção do título de especialista em Atenção Básica.
Orientadora: Prof(a). Ma. Andréia Assmann Pettres
CURITIBA
2019
À Deus pela sabedoria e discernimento em mais uma etapa vencida.
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a todos os amigos e familiares pelo carinho e
incentivo.
Agradeço à enfermeira e equipe da Unidade de Saúde que contribuíram,
apoiando e ajudando na pesquisa.
Agradeço também à orientadora por todo o apoio e paciência no
desenvolvimento desse trabalho.
RESUMO
O presente plano de intervenção trata da “Qualidade de Vida dos Usuários Hipertensos e Prevenção de Casos Novos” é resultado do Curso de Especialização em Atenção Básica da Universidade Federal do Paraná, financiado pela Universidade Aberta do Sistema Único de Saúde. A hipertensão arterial é um problema de saúde pública, sendo um fator de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, cerebrovasculares e renais. Como muitos indivíduos descobrem que são portadores quando apresentam complicações graves, ressalta- se a importância dos profissionais que atuam na atenção básica ao orientar, assistir, diagnosticar e tratar, assegurando o controle adequado da hipertensão. Nesse sentido, o propósito deste trabalho foi desenvolver ações educativas em saúde visando a qualidade de vida dos usuários hipertensos da Unidade Básica de saúde Piçarras, Guaratuba, Paraná; realizar palestras e intervenções em grupos com o intuito da informação, conscientização e prevenção aos usuários assistidos na Unidade Básica de Saúde; distribuir materiais impressos destinados à informação sobre a Hipertensão Arterial; relatar como a comunidade abordada nas práticas educativas de saúde responde ao processo interventivo. A pesquisa-ação foi o método proposto neste trabalho, sendo um tipo de pesquisa social realizada em estreita associação com uma ação, onde pesquisador e participantes são envolvidos num processo cooperativo. Esta apresenta sete etapas, incluindo: a) Exploratória; b) Interesse do tema; c) Definição do problema; d) Base teórica; e) Elaboração da proposta; f) Implantação; e g) Avaliação do impacto. A abordagem aconteceu por meio de encontros na própria unidade de saúde, no período vespertino, com duração de uma hora, nos quais foram oportunizadas práticas educativas de conscientização de hábitos saudáveis e qualidade de vida implementadas pela médica e enfermeira. Os temas abordados foram sobre os riscos, controle, conscientização e autocuidado com a hipertensão arterial sistêmica. Realizaram-se três encontros entre os meses de maio e junho, com a participação de 150 usuários hipertensos. E outros três encontros, entre junho e julho que contaram com a participação de 55 usuários não-hipertensos. Houve debate quanto à importância da adesão ao tratamento e participação no programa Hiperdia. Percebeu-se o maior comparecimento de usuários hipertensos ao programa Hiperdia e maior número de consultas revelando as queixas a esse respeito. Sabe-se que os efeitos destas ações só podem ser percebidas a longo prazo, dependendo de um tempo maior de análise diante dos envolvidos no processo interventivo. Contudo, o objetivo do projeto está gradativamente sendo atingido, pois além da participação dos usuários no programa, ainda pretende-se diminuir a incidência dos casos de hipertensão. Admite-se como limitação do estudo a insuficiência dos dados gerados no decorrer da pesquisa e o tempo de intervenção, para que houvesse uma maior percepção dos efeitos da conscientização e estímulos desenvolvidos nos hipertensos.
Palavras-chave: Hipertensão. Prevenção de doenças. Educação em Saúde. Estilo
de vida saudável. Qualidade de vida.
ABSTRACT
This intervention plan addresses the “Quality of Life of Hypertensive Users and Prevention of New Cases” is the result of the Specialization Course in Primary Care of the Federal University of Paraná, funded by the Open University of the Unified Health System. Hypertension is a public health problem, being a risk factor for the development of cardiovascular, cerebrovascular and renal diseases. As many individuals discover that they are carriers when they have severe complications, it is emphasized the importance of professionals who work in primary care when guiding, assisting, diagnosing and treating, ensuring adequate control of hypertension. In this sense, the purpose of this study was to develop health education actions aimed at the quality of life of hypertensive users of the Basic Health Unit Piçarras, Guaratuba, Paraná; hold lectures and interventions in groups with the purpose of informing, raising awareness and preventing users assisted at the Basic Health Unit; distribute printed materials for information on Hypertension; report how the community approached in health education practices responds to the intervention process. It has seven stages, including: a) Exploratory; b) Interest of the theme; c) Definition of the problem; d) Theoretical basis; e) Preparation of the proposal; f) Implementation; and g) Impact assessment. The approach took place through meetings in the health unit itself, in the afternoon, lasting one hour, in which educational practices to raise awareness of healthy habits and quality of life were implemented by the doctor and nurse. The topics addressed were risks, control, awareness and self-care with systemic arterial hypertension. Three meetings were held between May and June, with the participation of 150 hypertensive users. And three other meetings, between June and July, which were attended by 55 non-hypertensive users. There was debate about the importance of treatment adherence and participation in the Hiperdia program. It was noticed a higher attendance of hypertensive users to the Hiperdia program and a larger number of consultations revealing the complaints in this regard. Knowing if there are a lot of errors can be perceived as a longer period of time, while the analysis process is longer. However, the project is being gradually achieved, as besides the participation of users in the program, it is still intended to reduce the hypothesis of examples of hypertension. It is admitted as a part of the study unless the data generated during the research and the intervention time, so that there is a greater perception of neurosurgery and developmental outcomes in hypertensive patients.
Keywords: Hypertension. Disease Prevention. Health Education. Healthy Lifestyle. Quality of life.
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 – INTERVENÇÃO COM OS USUÁRIOS SOBRE HIPERTENSÃO
ARTERIAL DA UNIDADE DE SAÚDE PIÇARRAS, GUARATUBA, PARANÁ .......... 17
LISTA DE SIGLAS
ACS - Agentes Comunitários de Saúde
AVC - Acidente Vascular Cerebral
CAPS - Centro de Atenção Psicossocial
CNES - Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde
CRAS - Centro de Reabilitação de assistência Social
DM - Diabetes Mellitus
DPOC - Doença pulmonar obstrutiva crônica
ESF - Estratégia de Saúde da Família
HAS - Hipertensão Arterial Sistêmica
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
MS - Ministério da Saúde
NASF - Núcleo de Apoio à Saúde da Família
OMS - Organização Mundial de Saúde
OPAS - Organização Pan-Americana da Saúde
PA - Pressão Arterial
PES - Planejamento Estratégico Situacional
SCFV - Serviço de convivência e fortalecimento de vínculos
UBS - Unidade Básica de Saúde
US - Unidade de Saúde VIGITEL - Vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por
inquérito telefônico
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 10 1.1 JUSTIFICATIVA............................................................................................ 13
1.2 OBJETIVOS ................................................................................................. 15
1.2.1 Objetivo geral ............................................................................................... 15
1.2.2 Objetivos específicos .................................................................................... 15
2 MÉTODO ...................................................................................................... 16 3 REVISÃO DE LITERATURA ........................................................................ 20 3.1 DADOS EPIDEMIOLÓGICOS SOBRE A HIPERTENSÃO ARTERIAL
SISTÊMICA .................................................................................................. 20
3.2 ABORDAGENS DESTINADAS AO TRATAMENTO E CONTROLE DA
HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA ..................................................... 21
3.2.1 Particularidades para o controle da hipertensão ........................................... 23
3.2.2 Atenção básica e hipertensão arterial sistêmica ........................................... 25
4 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS ..................................................... 29 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................... 34
REFERÊNCIAS ............................................................................................ 36 APÊNDICE 1 – PANFLETO ......................................................................... 40
10
1 INTRODUÇÃO
Guaratuba, município do estado do Paraná fundada inicialmente como a
pequena Vila de São Luiz de Guaratuba, quando 200 (duzentas) famílias vieram
povoar a localidade. É uma das mais antigas cidades do estado, apresentando área
de 1325,883 km², é própria para passeios de barco, pesca e esportes náuticos, rica
em fauna e flora e hoje uma área de proteção ambiental (GUARATUBA, 2017). A
distância entre a capital Curitiba e o município é de 117,73 km (IPARDES, 2019).
Elevado à categoria de município com a denominação de Guaratuba, pela
Lei Estadual n.º 790, de 14-11-1951, desmembrado de Paranaguá. A data de
instalação do município é 25 de outubro de 1947 (IBGE, 2019).
Segundo dados do último censo IBGE (2010), o município tem 32.095
habitantes, sendo que a população estimada em 2018 foi de 36.595 pessoas. De
32.095, 28.805 estão na área urbana e 3.290 na área rural, e segundo a distribuição
por sexo, 15.975 homens e 16.120 mulheres (IPARDES, 2019).
A educação em Guaratuba é composta por 27 escolas municipais, 7
estaduais e 8 privadas. A taxa de escolarização retratada é de 6 a 14 anos de idade
97,8 % em 2010.
Em 2017, o salário médio mensal dos trabalhadores formais é de 2,2
salários mínimos, sendo que a proporção de pessoas ocupadas em relação à
população total era de 23,1% (IBGE).
De acordo com dados do IBGE, em 2010, o município apresentava 85,9% de
domicílios com esgotamento sanitário adequado, 67,2% de domicílios urbanos em
vias públicas com arborização e 18,7% de domicílios urbanos em vias públicas com
urbanização adequada.
A taxa de mortalidade infantil do município em 2017 foi de 11,72 óbitos por
mil nascidos vivos. Em 2017 não houve óbitos maternos (IPARDES, 2019).
Quanto aos serviços públicos de saúde, verificou-se que no município há: 1
unidade móvel de nível pré-hospitalar na área de urgência, 1 Pronto Socorro
Municipal, 1 Centro de Especialidades, 10 Unidades de Saúde e 1 Centro de
Atenção Psicossocial (CAPS), ainda não há especificamente um Núcleo de Apoio à
Saúde da Família (NASF) (CNES, 2019).
11
O Bairro Piçarras é localizado em área urbana e possui sua Unidade Básica
de Saúde (UBS) que funciona com duas equipes de Estratégia de Saúde da Família
(ESF). A Unidade divide a ESF e suas micro-áreas da seguinte forma: de 1-5 micro-
áreas corresponde ao ESF ÔMEGA, de 6-10 micro-áreas corresponde ao ESF
KAPPA.
A micro área 5, uma área de invasão com renda familiar baixa, e que suas
famílias dependem do benefício bolsa família; as micro-áreas 1 e 10 estão
descobertas e sem Agentes Comunitários de Saúde (ACS), devido à falta de
contratação.
Cada micro-área apresenta um cadastro individual e familiar, sendo a
população total cadastrada no ESF KAPPA é de 2350 assistidos e na ESF OMEGA
de 3500.
A UBS oferece à comunidade atendimento em clínica geral, odontologia,
enfermagem. Ela é administrada por uma enfermeira que também compõe a equipe
da ESF KAPPA. Cada equipe de ESF é composta por um Médico, uma Enfermeira,
uma Técnica de Enfermagem e 4 ACS, sendo 3 funcionários (as) na recepção, 1
funcionário (a) na farmácia, 1 dentista, 1 auxiliar de odontologia, 1 Técnica de
Enfermagem na triagem de pacientes, 1 auxiliar de serviços gerais.
A estrutura política e social desta área de abrangência é composta por uma
associação de pescadores, uma igreja católica e 8 igrejas evangélicas, o CRAS
(Centro de Reabilitação de assistência Social) onde se realiza cursos para a
comunidade, com prioridade para os que recebem bolsa família, e oferecida cesta
básica a quem participa de forma regular. Existe ainda, o SCFV (Serviço de
convivência e fortalecimento de vínculos), também chamado de posto seguro da
criança, onde ficam crianças por médio tempo, realizando algum curso, aguardando
para ir ao colégio para não ficarem ociosos e passarem pelo perigo de irem para a
rua.
Na área de abrangência da UBS tem-se um colégio estadual, Colégio Est.
Dra. Zilda Arns Newmann ensino fundamental e médio, a Faculdade ISEPE
Guaratuba, uma escola municipal, Adolpho Vercessi de ensino fundamental e uma
Creche municipal, o Peixinho Dourado; além de uma auto-escola.
Também são realizados trabalhos conjuntos entre os serviços de educação
em saúde, como as campanhas de vacinação contra gripe, febre amarela aos
professores e alunos, incluindo-se outras entidades como a Associação de
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pescadores e a igreja católica. Deve-se lembrar das palestras educativas nas
escolas, do sistema de referência e contra referência de crianças doentes nas
creches.
A população da área de abrangência da UBS realiza diferentes ocupações
como, emprego doméstico/diarista, arrumador, motorista de caminhão, pedreiro,
professor da educação de jovens e adultos, porteiro, vigia, vendedor, entre outros.
As condições de moradia apresentam disponibilidade de energia elétrica e
abastecimento de água, com rede encanada até o domicilio, água para consumo no
domicilio com filtração, fervura, cloração e sem tratamento. A forma de escoamento
do banheiro ou sanitário apresenta com rede coletora de esgoto o pluvial, fossa
séptica e fossa rudimentar.
Ainda nesta área de abrangência temos algumas vulnerabilidades, como o
analfabetismo, dificuldades para com prender o processo saúde-doença, alta
porcentagem de adultos tabagistas, área de invasão com pessoas dependentes só
da bolsa família. Além disso, a juventude não tem orientação significativa e muitos
deles se encontram na drogadição ou na criminalidade. É uma cidade com poucas
fontes de trabalho anualmente, com exceção nos períodos de temporada de verão,
existe falta de expectativa de vida e orientação recorrente da população.
As queixas mais comuns que levam a população a procurar a UBS são:
Infecções respiratórias agudas, doenças osteomusculares, gastrites, conjuntivite,
doenças da pele, doenças crônicas como HAS, diabetes, DPOC, sequelas de AVC,
doenças mentais, doenças da tireoide, doenças cardíacas, câncer de pele.
Quanto ao número de atendimentos da área de abrangência KAPPA:
hanseníase 1, tabagistas 136, uso de álcool e drogas 20, diabetes 103, hipertensão
arterial 235, tem ou teve câncer 8, teve AVC 18, problema de saúde mental 6, teve
infarto 22, doença respiratória 16 (asma 9, DPOC 7).
Portanto, fica evidente que entre as doenças com maior acompanhamento
estão a Hipertensão Arterial Sistêmica e o Diabetes Mellitus. Em toda área totaliza-
se 338 hipertensos e diabéticos. Logo, o alto número de hipertensos e diabéticos
atendidos na UBS e que, segundo Hipertensão (2019) em pesquisa realizada pelo
Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por
Inquérito Telefônico (Vigitel) dados do SIM mostram 388,7 mortes por dia (por
hipertensão) em 2017.
13
Nesse sentido, esse projeto de intervenção justifica-se para atender a
comunidade, em especial os assistidos por hipertensão atendida na UBS, localizada
no Bairro Piçarras do município de Guaratuba, Paraná.
A hipertensão arterial sistêmica (HAS) constitui-se em um grave risco para
as doenças cardiovasculares, acidentes vasculares e caracteriza-se como umas das
mais importantes doenças na área da saúde pública devido às altas taxas de
morbidade e mortalidade. Dessa forma, os usuários necessitam de informações
mediante consciência das possíveis complicações da hipertensão, uma vez que, não
se envolvem, nem buscam formas de controle dos níveis pressóricos (BRASIL,
2013).
A doença requer cuidados essenciais do usuário e um estilo de vida
adequado, por isso a equipe de saúde precisa envolver-se nesta problemática.
Segundo Oliveira et al. (2013), as equipes da saúde da família possuem
boas condições para gerarem a adesão ao tratamento de doenças como a
hipertensão, pois estimulam o bom relacionamento entre usuário e profissional e
favorecem a corresponsabilidade do tratamento.
As ações educativas promovidas pelos profissionais de saúde visam
oportunizar o desenvolvimento da autonomia do indivíduo e possibilitam as
discussões e orientações quanto à adoção de novos hábitos de vida.
Por isso, aqui se apresenta o projeto de intervenção com o objetivo de
controlar os níveis pressóricos dos hipertensos na unidade de saúde.
1.1 JUSTIFICATIVA
Considerando-se que a HAS é uma doença crônica de números alarmantes
na comunidade de Piçarras, pois, de um total de 3289 habitantes, 235 apresentam a
referida dor crônica.
Compreende-se que existem vários fatores que influenciam na alteração da
pressão e, consequentemente na HAS, como os hábitos de vida do indivíduo, como
o tabagismo, consumo de bebidas alcoólicas, obesidade, estresse, elevado
consumo de sal nos alimentos, níveis altos de colesterol, falta de atividade física,
entre outros. Além desses fatores de risco, também há o problema genético herdado
dos pais em 90% dos casos (BRASIL, 2016).
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Outra questão importante a se destacar, refere-se ao fato dessa doença ser
responsável pela morte de 300 mil brasileiros anualmente, também causa 820
mortes por dia, 30 por hora ou uma a cada 2 minutos. Ela não tem cura, mas tem
tratamento e pode ser controlada (BRASIL, 2016).
A HAS constitui-se em grave risco de desenvolvimento de outras doenças
cardiovasculares, cerebrovasculares, renais e arteriais periféricas. Nessa
perspectiva, refere-se a um problema de saúde pública pela sua cronicidade, pelos
custos com internações, por levar a incapacitação e a aposentadoria precoce
(BRASIL, 2014).
Uma doença inicialmente assintomática, a HAS frequentemente leva o
paciente a não buscar estratégias de controle da doença, a não aderir ao tratamento
de forma ativa, não se conscientizando da importância de adequar o tratamento à
sua condição, com vistas a minimizar os agravos da mesma.
Por se tratar de uma patologia crônica, o autocuidado deve ser permanente,
como também, a aceitação e adesão ao plano terapêutico somente ocorrerá à
medida que o paciente conhecer de fato a doença, tratamento e seus riscos caso
não tenha controle adequado.
Assim, é fundamental que os profissionais de saúde, em especial os
profissionais de saúde de UBS e ESF, oportunizem práticas de intervenção,
informação e conscientização para a qualidade de vida da população por meio do
processo de educação em saúde, favorecendo na manutenção de práticas de vida
saudáveis.
Afinal, as explicações que o hipertenso recebe podem auxiliar na
compreensão e manejo da doença, favorecendo na tomada de decisões cada vez
mais conscientes e ativas no processo saúde/doença.
Nessa perspectiva, este projeto de intervenção apresenta-se relevante, tanto
para estudar o tema proposto, como também para a abordagem do usuário, com
foco na educação em saúde.
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1.2 OBJETIVOS
1.2.1 Objetivo geral
Desenvolver ações educativas em saúde visando a qualidade de vida dos
usuários hipertensos da Unidade Básica de saúde Piçarras, Guaratuba, Paraná.
1.2.2 Objetivos específicos
Realizar palestras e intervenções em grupos com o intuito da informação,
conscientização e prevenção aos usuários assistidos na Unidade Básica de
Saúde;
Distribuir materiais impressos destinados à informação sobre a Hipertensão
Arterial.
Relatar como a comunidade abordada nas práticas educativas de saúde
responde ao processo interventivo.
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2 MÉTODO
Trata-se de um projeto de intervenção norteado por uma pesquisa-ação no
campo da Saúde, realizado no segundo trimestre de 2019, em um programa de
Estratégia de Saúde da Família (ESF) em Guaratuba, Paraná.
Segundo Thiollent,
[...] a pesquisa-ação é um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e participantes representativos da situação ou do problema, são envolvidos de modo cooperativo ou participativo (THIOLLENT, 2011, p. 20).
Compreende-se assim, que na pesquisa-ação os pesquisadores
desempenham um papel ativo no ponderamento dos problemas encontrados, no
acompanhamento e na avaliação das ações desencadeadas.
A pesquisa-ação é composta por sete fases: a) Exploratória; b) Interesse do
tema; c) Definição do problema; d) Base teórica; e) Elaboração da proposta; f)
Implantação; e g) Avaliação do impacto.
A primeira fase foi composta pela parte exploratória, no qual foi realizado o
diagnóstico situacional descrito na introdução, assim, foram identificadas diversas
situações-problemas, como vulnerabilidades, analfabetismo, dificuldades para a
apropriação do processo saúde-doença, alta porcentagem de adultos tabagistas,
área de invasão com pessoas dependentes apenas do bolsa família, juventude sem
orientação e muitos deles com implicações associadas ao uso de drogas, além de
problemas socioeconômicos.
Porém dentre as queixas mais comuns que levam a população a procurar a
UBS é a hipertensão arterial. Em toda área totaliza-se 235 hipertensos, deixando
evidente que entre as doenças com maior acompanhamento está a Hipertensão
Arterial Sistêmica.
A segunda fase envolveu o interesse pelo estudo do tema Prevenção da
Hipertensão Arterial na UBS Piçarras. Sendo esse um tema de grande importância
pelo perigo que representa para a população. De acordo com a OPAS (2016) a
hipertensão afeta entre 20-40% da população adulta das Américas, o que significa
que nessa região, cerca de 250 milhões de pessoas sofrem de pressão arterial
17
elevada. Portanto, a educação e a informação acerca de medidas preventivas e de
controle da hipertensão se fazem necessárias no mundo todo.
Na terceira fase, foram relacionados alguns problemas: Que estratégias
podem favorecer na melhoria da qualidade de vida do usuário hipertenso da US?
Como diminuir a incidência de casos de hipertensão na US? Como aumentar a
sobrevida do usuário com hipertensão da US?
Na quarta fase, a base teórica foi pesquisada em manuais e cadernos
técnicos do Ministério da Saúde (MS), OPAS, OMS, Sociedade Brasileira de
Cardiologia, Bancos de dados de artigos científicos Scielo, Bireme, BVS, legislações
e decretos. Em seguida foi elaborada uma proposta de intervenção como mostra a
TABELA 1:
TABELA 1 – INTERVENÇÃO COM OS USUÁRIOS SOBRE HIPERTENSÃO ARTERIAL DA UNIDADE DE SAÚDE PIÇARRAS, GUARATUBA, PARANÁ
PROBLEMA OBJETIVO ESTRATÉGIAS/ RECURSOS
PÚBLICO- ALVO
ENVOLVIDOS NO PROJETO E EXECUÇÃO
DURA ÇÃO
DATA/ HORÁRIO/
LOCAL Que estratégias podem favorecer na melhoraria da qualidade de vida do usuário hipertenso da UBS? Como aumentar a sobrevida do usuário com Hipertensão
da UBS?
Desenvolv er ações educativas em saúde visando a qualidade de vida dos usuários hipertensos da Unidade Básica de saúde Piçarras, Guaratuba, Paraná.
-Realizar palestras e intervenções em grupos com o intuito da informação, conscientização e prevenção aos usuários assistidos na Unidade Básica de Saúde; Distribuir materiais impressos destinados à informação sobre a Hipertensão Arterial.
Usuários hipertenso s da UBS Piçarras,
Guaratuba , PR.
Médica e enfermeira
Meses de Maio e Junho
20/05, 31/05 e 28/06 Realizadas sempre no período da tarde na UBS Piçarras, Guaratuba, Paraná com os usuários hipertensos.
Como diminuir a incidência de casos de hipertensão da UBS?
Usuários não
hipertenso s da UBS Piçarras,
Guaratuba , PR.
Meses de Junho e Julho
10/06, 01/07 e 12/07 Realizadas sempre no período da tarde naUBS Piçarras, Guaratuba, Paraná com os usuários não- hipertensos.
FONTE: A autora (2019).
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Para o desenvolvimento do Plano de Intervenção foi utilizado o Método do
Planejamento Estratégico Situacional – PES (CAMPOS; FARIA; SANTOS, 2010),
visando a criação de estratégias de intervenção para melhorar a abordagem da ESF
dos usuários hipertensos incluídos no grupo do HIPERDIA.
A equipe de saúde familiar tem que fazer uma intervenção comunitária,
focalizando uma abordagem preventiva tanto de fatores de risco da HAS quanto de
forma e qualidade da atenção para os pacientes.
A implementação do projeto iniciou-se com a divulgação das palestras
educativas aos usuários hipertensos e não hipertensos através de convites
impressos entregues pelas agentes comunitárias de saúde. Depois, ocorreria a
realização da palestra educativa sobre o programa Hiperdia e hábitos saudáveis de
vida, pela médica e pela enfermeira da unidade de saúde nos próprios limites da
UBS.
Foi destinada a uma população de 300 pessoas, representadas por 235
hipertensos identificados pelo programa da UBS e 65 sujeitos não hipertensos,
caracterizados como crianças, adolescentes e idosos atendidos na área de
abrangência no período de implementação da proposta, que foi de 3 (três) meses.
Sendo que a amostra correspondeu a 150 hipertensos (63,8%) e a 55 não
hipertensos (84,6%), que participaram da pesquisa-ação.
A proposta foi abranger em 3 (três) encontros os usuários hipertensos para
melhorar a qualidade de vida, e em outros 3 (três) encontros usuários em geral para
que ocorresse a intervenção por meio de palestras, conversas explicativas e
distribuição de um panfleto visando a prevenção da doença e estímulo de hábitos
saudáveis e qualidade de vida.
Foram abordadas informações sobre atividade física, alimentação, hábitos
saudáveis, com o auxílio do recurso educacional projetor e panfleto confeccionado
em conjunto com a equipe da Unidade de Saúde Piçarras.
A partir desses dados e dos materiais orientativos/explicativos, foi elaborado
em conjunto com a equipe da UBS do bairro Piçarras do município de Guaratuba,
aspectos importantes a esclarecer ao público-alvo da pesquisa, como por exemplo:
definições e implicações da doença HAS, o controle, o tratamento terapêutico,
hábitos, qualidade de vida e longevidade, entre outros. Posteriormente organizou-se
as palestras e o panfleto (APÊNDICE) a ser distribuído ao público-alvo da pesquisa.
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Destaca-se que esses materiais a serem usados nas práticas educativas,
foram elaborados considerando-se as características sociais, históricas e culturais
da comunidade abrangida.
A avaliação do impacto foi realizada através de uma reunião entre as
interventoras do projeto com a finalidade de verificar se os objetivos foram
alcançados e os seus efeitos, atendo-se possibilidade de implementação para um
futuro projeto subsequente. No final, foi feito um relatório e entregue à gerente da
unidade de saúde com os efeitos percebidos.
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3 REVISÃO DE LITERATURA
A revisão de literatura foi desenvolvida por meio de pesquisa e reflexão
teórica nos materiais disponibilizados pelo Ministério da Saúde, considerando-se
autores e pesquisas desenvolvidas/publicadas sobre a temática em estudo.
Nesse contexto, inicialmente são apresentados alguns dados
epidemiológicos sobre a hipertensão arterial sistêmica, em sequência são discutidos
aspectos fundamentais para a abordagem, controle e adesão dos pacientes
hipertensos ao tratamento.
3.1 DADOS EPIDEMIOLÓGICOS SOBRE A HIPERTENSÃO ARTERIAL
SISTÊMICA
A Hipertensão Arterial Sistêmica representa sério problema de saúde
pública, com uma prevalência que atinge mais de 30% da população adulta e mais
de 50% dos idosos no Brasil (VI DIRETRIZES BRASILEIRAS DE HIPERTENSÃO
ARTERIAL, 2010).
Segundo o documento “Linha guia de hipertensão arterial” (PARANÁ, 2018),
a prevalência da hipertensão arterial varia de acordo com a população estudada e o
método de avaliação.
Segundo o relatório da pesquisa Vigitel (Vigilância de Fatores de Risco e
Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico) (2015) destacou a
frequência de adultos que referiram diagnóstico de hipertensão numa variável entre
14% em Manaus e 28,7% em Macapá, em Curitiba foi 20,2%. Logo, a taxa de
mortalidade por hipertensão no Paraná no ano de 2016 foi 24,5/100.000 habitantes.
A hipertensão arterial contribui direta ou indiretamente para 50% das mortes por
doença cardiovascular. No Paraná, as doenças cardiovasculares historicamente
ocupam o primeiro lugar nas causas de óbito.
Sendo que em 2015 ocorreram 95.763 internações por doenças
cardiovasculares, e a taxa de mortalidade foi 182,4/100.000 habitantes,
apresentando tendência de redução desde 2010. Desde 2005 a doença isquêmica
do coração e a doença cardiovascular são as principais causas de óbito no Brasil.
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Até 2015 houve aumento de 18,8% nos óbitos pela primeira e de 13,3% pela
segunda causa. Nesse período, a doença isquêmica do coração passou da segunda
para a primeira causa de mortes prematuras (abaixo de 60 anos), com aumento de
8,5% (PARANÁ, 2018).
Nessa perspectiva, a HAS é responsável por 14% do total de internações do
Sistema Único de Saúde (SUS), sendo 17,2% por acidente vascular cerebral e
infarto agudo do miocárdio (BRASIL, 2013).
Considerando-se que a doença requer cuidados essenciais do hipertenso e
um estilo de vida adequado, é de suam importância que as equipes de saúde
envolvam-se nesta problemática.
3.2 ABORDAGENS DESTINADAS AO TRATAMENTO E CONTROLE DA
HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA
A hipertensão arterial é descrita no documento “Linha guia de hipertensão
arterial” (PARANÁ, 2018) como:
[...] um problema grave de saúde pública no Brasil e no mundo. Ela é um dos mais importantes fatores de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, cerebrovasculares e renais, sendo responsável por pelo menos 40% das mortes por acidente vascular cerebral, por 25% das mortes por doença arterial coronariana e, em combinação com o Diabetes, 50% dos casos de insuficiência renal terminal. A hipertensão arterial (HA) é, na maior parte do seu curso assintomática, implicando na dificuldade de diagnóstico precoce e na baixa adesão por parte do paciente ao tratamento prescrito já que muitos medicamentos apresentam efeitos colaterais. Por este motivo o controle da HA é tão baixo (PARANÁ, 2018, p. 12)
Assim, a hipertensão arterial sistêmica também conhecida como “pressão
alta”, pode causar sérios danos ao organismo do indivíduo.
Com base no Ministério da Saúde (BRASIL, 2013), a HAS é uma condição
clínica e multifatorial caracterizada por níveis alterados e sustentados de Pressão
arterial (PA) maior que 140 x 90 mmHg.
Falando especificamente de Brasil, a alta prevalência no país varia entre
22% e 44% para adultos, numa média de 32%, chegando a mais de 50% para
22
indivíduos com 60 a 69 anos de idade e 75% em indivíduos com mais de 70 anos
(BRASIL, 2013).
Dentro desse contexto, os dados recorrentes são agravados quando: além
de ser causa direta de cardiopatia hipertensiva, é fator de risco para doenças
decorrentes de aterosclerose e trombose, que se manifestam, predominantemente,
por doença isquêmica cardíaca, cerebrovascular, vascular periférica e renal. Em
decorrência cardiopatia hipertensiva e isquêmica, é também fator etiológico de
insuficiência cardíaca. Déficits cognitivos, como doença de Alzheimer e demência
vascular, também têm HAS em fases mais precoces da vida como fator de risco
(BRASIL, 2013 p. 19).
Diante disso, as complicações estão associadas frequentemente a
alterações funcionais ou estruturais dos órgãos-alvo (coração, encéfalo, rins e vasos
sanguíneos) e a alterações metabólicas, como aumento do risco de eventos
cardiovasculares fatais e não fatais, de acordo com a Sociedade Brasileira de
Cardiologia; Sociedade Brasileira de Hipertensão; Sociedade Brasileira de
Nefrologia (VI DIRETRIZES BRASILEIRAS DE HIPERTENSÃO ARTERIAL, 2010).
Portanto, a HAS “é responsável pelo desenvolvimento de diversas
complicações e redução da expectativa e da qualidade de vida dos indivíduos”
(BRASIL, 2013 p. 19).
Devido ao alto grau de comprometimento na vida do indivíduo, ações
precisam ser repensadas pelas equipes de saúde, atendo-se em estratégias e
abordagens de saúde em prol da conscientização, controle e adesão do tratamento
terapêutico e prevenção.
Lopes ( 2012) aborda que o enfrentamento da HAS envolve a compreensão
de seu significado, da necessidade de uso regular da medicação, dieta adequada,
entre outros. Por sua cronicidade, a hipertensão pode ser tratada, mas não curada,
logo, é fundamental o controle e cuidados ao longo da vida do indivíduo.
Entre os fatores preocupantes associados à doença, destaca-se que muitos
indivíduos só descobrem que são portadores quando apresentam complicações
graves. Assim, os profissionais que atuam na atenção básica têm um papel
importante na assistência ao hipertenso como orientar, assistir, diagnosticar e tratar,
assegurando o controle adequado da hipertensão (LOPES, 2012).
O histórico da referida doença é prolongado mediante o processo de
cronicidade, que por sua vez, associa-se há uma multiplicidade de fatores como:
23
longo curso assintomático, evolução clínica lenta e permanente, além do
aparecimento de complicações. Valores de pressão arterial sustentadamente
elevados, principalmente quando acompanhados de tabagismo, diabetes e
dislipidemia, estão relacionados a maior incidência de eventos mórbidos, como a
aterosclerose, que se manifesta por cardiopatia isquêmica, acidente cerebrovascular
e doenças vasculares renal e periférica, responsáveis por 65% dos óbitos na
população adulta em plena fase laboral (30 a 69 anos) e por 40% das
aposentadorias precoces (GOMES; SILVA; SANTOS, 2010).
No próximo item são discutidos aspectos quanto ao controle da HAS.
3.2.1 Particularidades para o controle da hipertensão
A participação ativa do indivíduo é a única solução eficaz no controle da
doença e na prevenção de suas complicações. Para que haja esse engajamento, é
importante que haja vínculo suficiente entre médico e paciente (DALLACOSTA;
DALLACOSTA; NUNES, 2010).
Gonzalez (2015, p. 25) explica que a maior razão para o controle
inadequado é a falta de adesão ao tratamento, uma vez que “um percentual
considerável de remédios prescritos por médicos e recomendações de mudança nos
hábitos de vida não são acatados por muitos pacientes”.
O tratamento da hipertensão compreende a abordagem não-farmacológica e
a abordagem farmacológica. Medidas não farmacológicas são muito efetivas para a
redução da pressão arterial, apesar de serem pouco implementadas pelas equipes
de saúde e de terem baixa adesão por parte dos pacientes, o contexto da prevenção
em saúde e a mudança de estilo de vida talvez seja o principal investimento a se
fazer para a população, visto que são expressivos, quando há adesão do paciente
(PARANÁ, 2018).
Nesse contexto, a atenção primária ao hipertenso, quando centrada na
família, percebida a partir de seu ambiente físico e social possibilita uma
compreensão ampliada do processo saúde/doença e da necessidade de
intervenções que vão além das práticas curativas.
24
Gonzalez (2015) explica que a atuação é integrada, com níveis de
competência bem estabelecidos na abordagem da avaliação de risco cardiovascular,
com medidas preventivas primárias e atendimento à hipertensão arterial. As
estratégias para a implantação de medidas preventivas dependem da atuação de
equipes interdisciplinares, adoção de políticas públicas, atividades comunitárias,
organização e planejamento dos serviços de saúde. O acesso do paciente a esses
serviços e a qualidade do trabalho desenvolvido também interferem na adesão ao
tratamento e consequentemente controle da doença (PAIVA; BERSUDA;
ESCUDER, 2007).
A abordagem da HAS na atenção primária de saúde permitiu, entre outros
avanços, a criação de vínculo entre os usuários e a Equipe de Saúde da Família
(ESF), favorecendo um acompanhamento mais sistemático e a ampliação das
atividades de promoção e prevenção. Esses avanços vieram somar esforços à
implantação das diretrizes propostas pelo Plano de Reorganização da Atenção à
Hipertensão Arterial e ao Diabetes Mellitus (COSTA et al, 2011).
Algumas estratégias de conscientização e prevenção para a HAS podem ser
adotadas/incentivadas desde a infância e adolescência. Logo, a ênfase e
importância destas medidas estão na abordagem familiar e mudanças no estilo de
vida.
As alterações voltadas para hábitos saudáveis, envolvem, sobretudo, o
controle do peso, a manutenção de uma dieta balanceada, a prática de exercícios
físicos regulares, são algumas medidas simples que, se implementadas desde fases
precoces da vida, reduzem o risco de desenvolvimento de complicações
cardiovasculares nestes indivíduos.
Segundo Quintana (2011) a obesidade, a alimentação rica em sódio e o
sedentarismo, contribuem para o desenvolvimento da hipertensão. Porém, segundo
o autor, além destes fatores o estresse psicossocial e a reatividade do sistema
nervoso simpático concomitante podem desempenhar um papel na hipertensão
arterial ao longo do tempo como podem também emoções como: desamparo, raiva,
ansiedade e depressão.
O estresse pode estimular o sistema nervoso simpático, afeta também a
pressão arterial, fazendo com que haja um aumento da frequência cardíaca e da
força contrátil dos batimentos cardíacos, assim como da resistência periférica
aumentando o risco da doença arterial coronariana (QUINTANA, 2011).
25
De acordo com o Ministério da Saúde é importante considerar os fatores de
risco cardiovascular, pois a redução destes fatores torna-se essencial para o
controle da doença. A hipercolesterolemia, por exemplo, é considerada um dos
maiores fatores de risco cardiovascular. O nível de colesterol total sérico deve ser
mantido abaixo de 200 mg/dL, com LDL-colesterol (colesterol de baixa densidade)
abaixo de 130 mg/dL (BRASIL, 2011).
O tabagismo também é um fator de risco que merece destaque, visto que
eleva a pressão arterial e favorece complicações como aterosclerose. Portanto, a
interrupção do tabagismo reduz o risco de acidente vascular encefálico e também de
doenças isquêmicas do coração (BRASIL, 2011).
A redução na ingestão de sódio, restrição ou abandono do uso do álcool,
diminuição de situações geradoras de estresse emocional e estimulo à atividade
física devem ser medidas adotadas para controle da HAS. Nessa perspectiva, é
necessária uma rede de atenção onde usuário, família e profissionais da
saúde/equipe multidisciplinar tenham sua contribuição efetiva na demanda
apresentada/atendida (BRASIL, 2011).
Dando continuidade, o próximo item traz algumas questões quanto à adesão
dos pacientes hipertensos ao tratamento mediante a atenção básica de saúde.
3.2.2 Atenção básica e a hipertensão arterial sistêmica
Embora os avanços farmacológicos tenham evoluído na sociedade
contemporânea, as políticas públicas também tenham ações e programas voltados
para a HAS, a realidade mostra-se desafiadora para pesquisadores e clínicos de todas
as áreas da saúde.
O avanço nas pesquisas farmacêuticas disponibiliza medicamentos de alta
eficácia e segurança, para o controle da hipertensão arterial e redução de suas
complicações, mas exige adesão à terapêutica (ROCHA, 2001; BORGES;
CAETANO, 2005; MION JR et al., 2006).
A citação de Quintana (2011) complementa a respeito:
O tratamento da hipertensão arterial sistêmica representa um desafio para pesquisadores e clínicos de todas as áreas da saúde, apesar dos avanços
26
farmacológicos nos últimos anos. A equipe multiprofissional, reconhecida como necessária para o sucesso do tratamento, vê-se frequentemente frustrada ao verificar a resistência do paciente à mudança de hábitos de vida, tão essenciais na terapêutica da hipertensão (QUINTANA, 2011, p. 87).
Permite-se pensar que as estratégias de saúde e abordagem dos pacientes,
precisam partir de suas realidades, considerando-se aspectos sociais, históricos e
culturais da comunidade abordada.
Na tentativa de reduzir o número de hospitalizações e de atingir o
acompanhamento e o tratamento adequados na atenção básica, diversas
estratégias e ações vêm sendo elaboradas e adotadas no Ministério da Saúde.
Silva et al. (2015) explicam que o Plano de Reorganização da Atenção à
Hipertensão Arterial e ao Diabetes Mellitus utiliza estratégias como reuniões
mensais com ações educativas, estímulo à realização de atividades físicas,
consultas médicas agendadas e entrega de medicamentos.
Cada município possui uma programação local de atividades para os
usuários cadastrados no Programa de HA e DM. Dessa forma, o cadastro e o
acompanhamento dos usuários portadores de HA e ou DM são realizados por meio
do Sistema de Cadastramento e Acompanhamento de Hipertensos e Diabéticos
(HIPERDIA), criado em 2002. Este sistema gera as informações para os
profissionais e gestores das Secretarias Municipais, Estaduais e Ministério da Saúde
(BRASIL, 2011).
A equipe de saúde deve procurar conhecer os mitos culturais sobre a HAS e
as experiências anteriores de paciente e familiares e, assim conseguir maior adesão
ao tratamento da HAS. Para isso é essencial buscar estratégias que envolvam o
usuário doente, dialogar com ele e principalmente ouvi-lo, para levantar o grau de
conhecimento sobre sua condição de saúde e sobre os fatores que podem contribuir
para a melhora ou piora do quadro atual (OLIVEIRA-NETO, 2015).
Nesse sentido, o diálogo constante entre equipe de saúde e usuário durante
o tratamento possibilitará a motivação necessária para a adoção de estilo de vida
saudável, tanto para a adesão ao tratamento medicamentoso quanto o tratamento
não medicamentoso (OLIVEIRA-NETO, 2015).
De acordo com a Linha Guia da Secretaria de Estado do Paraná (2018) na
atenção à saúde do adulto, a principal ferramenta para o tratamento da HAS é o
processo de educação em saúde por meio do qual a aquisição do conhecimento
27
influencie e estimule a transformação de atitudes tanto em relação às doenças
quanto em relação aos fatores de risco cardiovascular.
Percebe-se que a educação significa uma aquisição de conhecimentos
sobre o processo de saúde e doença, bem como de mecanismos envolvidos na
prevenção e manutenção dos níveis de saúde já presentes, baseados no
conhecimento e, sobretudo, conscientização do indivíduo (PARANÁ, 2018).
Oliveira-Neto (2015) discute que a equipe de saúde deve incentivar os
usuários a buscar ou preservar hábitos de vida saudáveis relacionados à
alimentação e à prática de atividade física. A atuação destes profissionais é
insubstituível no tratamento da hipertensão arterial, que é um processo dinâmico e
contínuo, que reflete-se em efeitos significativos a longo prazo.
É importante considerar que na APS, onde se dá o maior volume de
atendimentos a esta clientela, a Estratégia Saúde da Família (ESF) está voltada
para reorganização do modelo assistencial e das práticas de cuidado ao grupo de
portadores da HAS e no seu cotidiano prioriza as ações de promoção, proteção,
recuperação e reabilitação da saúde da população. Em relação às pessoas com
hipertensão arterial, a ESF se utiliza de várias ações que incluem aferição da
pressão arterial, consultas médicas e de enfermagem, atividades educativas
individuais e coletivas na comunidade e acesso ao tratamento apropriado nos
demais níveis hierárquicos do sistema de saúde. As equipes da ESF devem
trabalhar com o intuito de identificar precocemente os casos de pressão alta entre
sua clientela, acompanhá-los adequadamente, orientando-os sobre a manutenção
dos parâmetros pressóricos em níveis normais e os riscos decorrentes da sua
elevação (BRASIL, 2009).
Ressalta-se que um dos elementos diferenciadores da Estratégia Saúde da
Família é a vinculação do usuário a uma equipe multidisciplinar, que trabalha na
perspectiva da integralidade dos cuidados, o que favorece a promoção da saúde,
realização de ações educativas individuais e coletivas, visando maior adesão às
ações de controle da pressão arterial e manutenção da qualidade de vida dos
usuários e suas famílias (SAITO, 2008).
A equipe de saúde deve orientar o usuário sobre a manutenção da Pressão
Arterial (PA) em parâmetros normais, realização de consultas médicas, de
enfermagem e de outras especialidades quando necessárias, aferição constante da
pressão arterial, adesão consciente para tomada da medicação prescrita,
28
necessidade de incorporar hábitos saudáveis ao cotidiano de pessoas com
hipertensão arterial ou não (controle de peso, padrão alimentar adequado, redução
do consumo de sal, eliminação do fumo, moderação no consumo de bebidas
alcoólicas, prática de exercício físico sem associação ao trabalho diário, controle do
estresse psicossomático, estímulo a atividades educativas e de lazer individuais e
em grupo), participação em atividades que melhorem a capacidade mental e a
interação social desses indivíduos ao meio social em que vivem (BRASIL, 2009).
Em sequência são apresentados os resultados e discussões a partir das
ações educativas concluídas.
29
4 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
O planejamento do plano de intervenção junto à equipe ocorreu durante o
mês de maio e as ações/práticas educativas desenvolvidas aconteceram conforme
as datas especificadas na metodologia, ou seja, os 3 (três) encontros aconteceram
respectivamente em (20/05; 31/05 e 28/06) com os usuários hipertensos visando
orientar e melhorar a qualidade de vida. Enquanto os outros 3 (três) encontros
destinados aos usuários em geral (10/06; 01/07 e 12/07) para a prevenção e
informações sobre a doença.
A amostra envolveu 63,8% ou seja, 150 hipertensos e 84,6% (55) não-
hipertensos de um total, respectivamente, 235 hipertensos assistidos na UBS e 65
não-hipertensos (crianças, adolescentes, adultos e idosos), correspondendo um total
(população) de 300 pessoas.
Os não hipertensos foram escolhidos e selecionados por proximidade ou
parentesco com os hipertensos assistidos, que indicavam e ajudavam a trazer esses
outros sujeitos para as ações.
Considerando-se que o presente projeto de intervenção visou explorar
práticas e ações educativas de saúde em prol da qualidade de vida dos hipertensos
da U.S. Piçarras, Guaratuba, Paraná por meio da realização de atividades
educativas de informação, conscientização e prevenção dos usuários assistidos na
UBS, através de palestras e intervenções em grupos de hipertensos e não
hipertensos, como crianças, adolescentes e idosos, além de distribuição de um
panfleto destinado a esse fim.
Foram realizadas palestras educativas aos usuários hipertensos e não
hipertensos tendo como base o programa “Hiperdia e hábitos saudáveis de vida”.
Participaram da implementação da proposta, uma médica e uma enfermeira.
A implantação do projeto iniciou-se com a divulgação das palestras
educativas aos usuários hipertensos e não hipertensos através de convites
impressos entregues pelas agentes comunitárias de saúde. O número e quantidade
de não-hipertensos (65), corresponde que se conseguiu atingir e convidar, mediante
o tempo do projeto e a frequência de pessoas que a Unidade de Saúde atende e
suas condições externas para participar das ações educativas do projeto.
30
Depois, ocorreu a realização da palestra educativa sobre o programa
HIPERDIA e hábitos saudáveis de vida, pela médica e pela enfermeira da unidade
de saúde nos próprios limites da UBS.
A ação ocorreu em 3 (três) encontros (20/05; 31/05 e 28/06) com os usuários
hipertensos para melhorar a qualidade de vida, e em outros 3 (três) encontros
destinados aos usuários em geral (10/06; 01/07 e 12/07) para estimular medidas de
prevenção da doença. Em ambas foram abordadas informações sobre atividade
física, alimentação, hábitos saudáveis, com o auxílio do recurso educacional panfleto
(APÊNDICE), confeccionado pela equipe da Unidade de Saúde Piçarras.
Ao final das palestras os usuários eram divididos em grupos para conversas
informais perante dúvidas, depoimentos e discussão das informações do panfleto.
A importância da abordagem e controle da Hipertensão é que os benefícios
indubitáveis que os anti-hipertensivos podem trazer ao paciente estão perdidos, se
eles não realizam a atenção baseada no autocuidado e no individuo.
Salienta-se que na contemporaneidade os dados alarmantes remetem que,
somente é controlada a pressão arterial entre “5 e 58% das pessoas hipertensas que
são diagnosticadas e tratadas pelo médico, um dos fatores mais importantes que
influenciam é a situação de baixa adesão ao tratamento” (CURTO et al., 2007, p.
76).
Nossa equipe de saúde reconhece a importância e a necessidade de
identificar irregularidades que apontam para a presença ou ausência de alguns
fatores que influenciam o controle dos pacientes e que podem agir a partir de
diferentes níveis de determinação desse comportamento, que permitem que grupos
de intervenções diretas na população e indivíduos portadores de uma doença.
Percebe-se que a abordagem preventiva e de promoção à saúde à Hipertensão
Arterial é importante, uma vez que esta é uma doença muitas vezes silenciosa e
com alto índice de morbidade e mortalidade, sendo eficazes atividades que
minimizem os danos à saúde (VI DIRETRIZES BRASILEIRAS DE HIPERTENSÃO
ARTERIAL, 2010).
O primeiro encontro destinado aos hipertensos aconteceu em 20 de maio, no
período da tarde, durou aproximadamente 1 hora e participaram 50 (cinquenta)
hipertensos. O espaço em que ocorreu foi na própria unidade básica de saúde no
bairro piçarras, Guaratuba, Paraná. A palestra foi ministrada pela médica e
enfermeira da equipe. Foi usado o datashow emprestado de uma escola próxima a
31
ubs para a projeção do material em pdf disponibilizado em Paraná (2018) “Linha
guia de hipertensão arterial”, com discussões sobre: fatores de risco para a HAS,
diagnóstico e classificação; controle e tratamento; a importância da adesão e dos
hábitos saudáveis para a qualidade de vida. Após a apresentação e explicação do
material, abria-se um tempo para pergunta e distribuição do panfleto (APÊNDICE).
O panfleto traz como título: “doença silenciosa: previna-se”; indicando
ilustrações e frases de caráter injuntivo, como por exemplo: mantenha o peso
adequado; pratique atividades físicas; evite ficar parado; diminua o sal; entre outras.
Esse foi elaborado junto com a equipe, por meio de pesquisa de modelos e imagens,
adaptando a produção conforme a realidade da US Piçarras.
Assim, a abordagem realizada com os usuários hipertensos foi ao encontro
das ações preconizadas em um cuidado ampliado. Como observado por Brasil
(2016) é necessário incentivar o controle da pressão arterial baseada em dieta e
prática de atividades físicas, além de campanhas educativas para o controle da
hipertensão arterial, devem ser focadas não apenas na adesão ao tratamento
medicamentoso, mas também em práticas preventivas e de controle não
farmacológico.
Igualmente foi a organização e desenvolvimento do segundo e terceiro
encontro, em 31/05 e 28/06, cada um com a participação de 50 (cinquenta)
participantes hipertensos, ministrados na UBS Piçarras, com a intervenção da
médica e de uma enfermeira, usando-se o material em slides para explicação e
orientação quanto a HAS, seu controle e tratamento e a importância do autocuidado
dos pacientes mediante hábitos saudáveis para amenizar os riscos da doença e
favorecer a qualidade de vida.
A resposta ao panfleto foi bem positiva, onde muitos dos pacientes
identificavam-se e abordavam uma postura de interesse em seguir os cuidados e
hábitos apontados.
Os encontros destinados ao público não-hipertensos ocorreram igualmente,
num espaço na própria UBS do bairro Piçarras, no período da tarde, com a duração
de aproximadamente entre 40-60 min. Onde o público centrava-se mais em idosos e
crianças que os acompanhavam. Essa é uma característica importante, pois tanto
crianças, como idosos levaram as informações e o panfleto para suas casas e
comunidades, fazendo com que as informações preventivas da HAS
disseminassem-se.
32
No primeiro encontro, do dia 10/06, participaram um total de 22 pessoas.
Posteriormente em 01/07, participaram 10 pessoas, em decorrência do clima que
não favoreceu, pois choveu muito na região. Por fim, em 12/07, a participação foi de
23 pessoas, incluindo-se idosos, crianças e adultos, todos não-hipertensos, que
receberam informação e o panfleto com orientações para a prevenção da HAS.
Assim, os objetivos foram alcançados e a resposta dos usuários dessa UBS
foi positiva, percebendo-se integração entre os grupos, interesse em
comprometimento com o tratamento e conscientização quanto à importância dos
hábitos de vida saudáveis tanto para a prevenção da HAS, como para a qualidade
de vida e longevidade para os portadores de HAS.
Está sendo utilizado o panfleto como recurso educacional, os usuários
apresentaram-se assim, participativos e receptivos ás informações, realizando
muitas perguntas, mostrando um certo desconhecimento sobre a doença e suas
implicações e riscos. Perguntaram por exemplo: “Se a hipertensão pode causar/levar
a cegueira?” “Qual a relação entre pressão alta e AVC?”.
Nesse contexto, verificou-se por meio de reuniões com a equipe da UBS,
que durante a implementação do projeto de intervenção, a procura de consultas com
queixas relacionadas à hipertensão aumentou, porém está aumentando também a
procura por informações e explicações, onde a comunidade tem retornado para
buscar o panfleto e outros informativos de doenças gerais, como diabetes, vacinas,
entre outras. Assim, o vínculo equipe/paciente demonstra-se importante na
abordagem e continuidade dela, como também de seus efeitos.
Em consonância com Ferreira et al (2019) é preciso usar a informação
dentro de um processo educativo que leve as transformações, inclusive
comportamentais, podendo utilizar instrumentos ao incentivo do hipertenso, como no
caso de caminhadas, jogos educativos, formação de grupos, utilização de materiais
educativos, dentre outras medidas.
Acredita-se que os efeitos e resultados mais significativos serão impactados
futuramente, uma vez que, é um processo a longo prazo de mudanças de hábitos de
vida dos usuários, o que não refletirá de imediato nos impactos e controle da
doença. A não ser o interesse e motivação de todos os hipertensos envolvidos na
adesão ao processo terapêutico.
Segundo Pereira (2015) ações terapêuticas não farmacológicas apresentam
dificuldades na comprovação de sua efetividade real e principalmente em sua
33
aderência a longo prazo por parte dos hipertensos, tornando os medicamentos a
forma preferencial de tratamento, que por sua vez sofre a limitação devido aos
efeitos adversos e ao custo.
É fundamental compreender que o usuário não é apenas um ser hipertenso,
um indivíduo isolado pronto para receber e assimilar automaticamente o que
supostamente considera-se que seja o correto em termos técnicos. Pois, advém de
um contexto sociocultural e possui suas peculiaridades e fatores psicossociais e
econômicos que refletem na vida cotidiana. Portanto, é preciso respeitar suas
crenças, costumes e percepções, não apenas a respeito da doença, do profissional
de saúde, do medicamento que ingere, mas de todos os elementos que compõem a
adesão ao processo terapêutico.
Os grupos educativos da ESF junto à comunidade contribuem para a
evolução deste processo (MANO; PIERIN, 2005). A importância dos grupos
educativos na mudança de estilo de vida e incentivo à adesão ao tratamento da HAS
facilita o acesso e o entendimento das informações que contribuem para a
prevenção e promoção da saúde (OLIVEIRA, 2011). O comparecimento frequente à
UBS melhora o monitoramento dos níveis pressóricos, a possibilidade de receber
informações sobre a doença, podendo trazer maior motivação individual,
contribuindo na adesão ao tratamento da HAS. O automonitoramento pode
aumentar a motivação do paciente ao propiciar a autorresponsabilidade, acarretando
melhora no controle da pressão arterial e propiciando participação ativa do paciente
no tratamento (ARAÚJO; GARCIA, 2006).
Percebe-se assim, que os objetivos foram alcançados e os resultados
podem ser melhor analisados a longo prazo, evidenciando a necessidade de um
tempo maior de pesquisa.
34
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao final da pesquisa-ação muitas questões importantes tornaram-se claras
quanto à problemática em estudo e, sobre a proporção desafiadora, que se
apresenta a hipertensão arterial sistêmica como doença crônica no Brasil e no
mundo.
O desenvolvimento de práticas e ações educativas de saúde visando à
qualidade de vida dos hipertensos da Unidade Básica de Saúde, Piçarras,
Guaratuba, Paraná, aconteceu por meio de encontros envolvendo hipertensos e não
hipertensos da comunidade e atendeu um número significativo de pessoas.
Ressalta-se que houve a realização de atividades educativas de informação,
conscientização e prevenção dos usuários assistidos na UBS, por meio de palestras
e intervenções em grupos atingindo de maneira significativa. Os participantes
relataram curiosidades quanto ao cuidado e riscos da hipertensão no cotidiano.
A distribuição do panfleto informativo com práticas focadas ao cuidado da
prevenção da hipertensão arterial ou mesmo para colaborar no controle da pressão
arterial foi relevante, pois demonstrou com uma linguagem simples e acessível a
compreensão dos cuidados.
Na medida que as atividades educativas/preventivas foram desenvolvidas, o
outro objetivo específico também foi registrado, que era observar como a
comunidade abordada nas práticas educativas de saúde respondia ao processo
interventivo. Notou-se que outras pessoas da comunidade vinham perguntar sobre a
palestra e sobre o panfleto, demonstrando que a informação estava sendo
disseminada.
Algumas dificuldades operacionais de espaço e recursos foram encontradas
no período de organização, planejamento e implementação, entretanto, foram
sanadas no contexto da unidade de saúde. Por exemplo, a organização de um
espaço adaptado para disponibilizar as pessoas sentadas para a palestra, o
datashow para apresentação dos slides, não tinha na unidade, mas foi emprestado
de uma escola da comunidade.
Na perspectiva que os assistidos da comunidade Piçarras passaram a
freqüentar e buscar consultas com queixas como dor de cabeça, pontada na nuca
associadas a zumbidos nos ouvidos, demonstrando ainda, interesse em adesão aos
35
tratamentos de hipertensão arterial sistêmica, logo, as potencialidades do projeto de
intervenção foram emergindo gradativamente. O que mostra a importância em se
dar continuidade no projeto de intervenção.
Os programas em vigor como o Hiperdia tem demonstrado efetividade,
favorecendo na abordagem e planejamento de estratégias e ações educativas,
conforme é a intenção dos documentos norteadores. Entretanto, o uso do HIPERDIA
como ferramenta para avaliação da qualidade da atenção prestada aos portadores
de HAS ainda necessita de aperfeiçoamentos e constantes avaliações para se
chegar aos objetivos propostos na realidade municipal das políticas de saúde, como
observado na realidade deste estudo.
Espera-se que os profissionais, em especial da Esfera de Saúde da Família,
ampliem suas percepções sobre o homem e coloquem em prática no seu âmbito de
trabalho ações que podem ser aprimoradas a partir desses resultados. Uma vez que
são dados que podem favorecer na percepção da comunidade da unidade de saúde
em estudo, servindo de dados para gestores e profissionais da área de saúde
estimulando novas investigações e alicerçando a construção de estratégias, visando
a qualificação dos profissionais de saúde frente aos cuidados que os paciente
hipertensos exigem.
A formação continuada dos profissionais de saúde e o preparo das equipes
multiprofissionais é um detalhe que merece ser focalizado, para que as ações sejam
integradas e articulem-se em prol da melhoria na abordagem dos usuários, como
também, no planejamento de estratégias e ações educativas envolvendo toda a
comunidade assistida.
Como recomendação para trabalhos futuros, recomenda-se um projeto de
intervenção subsequente ao apresentado nessa pesquisa, que busque atingir cada
vez mais usuários hipertensos e não hipertensos, com ações em conjunto com
instituições próximas à Unidade de Saúde, como escolas municipais, creches e
Faculdade.
36
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, G. B. S.; GARCIA, T. R. Adesão ao tratamento antihipertensivo: uma análise conceitual. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 08, n. 02, p. 259 - 272 2006. Disponível em http://www.fen.ufg.br/revista8 2/v8n2a11htm. Acesso em: 20 jun; 2019.
BORGES, PCS.; CAETANO, JC. Abandono do tratamento da hipertensão arterial sistêmica dos pacientes cadastrados no Hiperdia/MS em uma Unidade de Saúde do município de Florianópolis-SC. Arquivos Catarinenses de Medicina, v. 34, n. 3, 2005.
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