IV CONGRESSO SERGIPANO DE HISTÓRIA & IV ENCONTRO ESTADUAL DE HISTÓRIA DA ANPUH/SE
O CINQUENTENÁRIO DO GOLPE DE 64
EDUCAÇÃO RURAL NO BRASIL : UM OLHAR A PARTIR DO
CONTEXTO HISTÓRICO
Kátia Maria Limeira Santos 1
Resumo
A educação rural no Brasil: um olhar a partir do contexto histórico, constituem o objeto
de estudo desta investigação. O objetivo é fundamentar à análise sobre a educação rural
a partir de um contexto histórico, e fazer um levantamento bibliográfico qualitativo acerca
do referido tema. O método utilizado tem inspiração dialética, o que é comum aos
autores pesquisados. A hipótese é a de que compreender criticamente a concepção
histórica da educação rural e sua influência no contexto educacional, contribuindo para
a efetividade das ações do professor do campo a partir de uma reflexão sobre os
aspectos históricos, focados nos processos de ensino e de aprendizagem, especialmente
no desenvolvimento do aluno do campo. Constatou-se com este estudo que é possível
transpor as barreiras que obtiveram na época visando o sucesso atual dessa educação, a
partir dessa reflexão.
Palavras-chave: Educação Rural, Contexto Históricos, Contemporaneidade.
Resumen
La educación rural en Brasil: una visión desde el contexto histórico, constituye el objeto
de estudio de esta investigación. El objetivo es basar el análisis en la educación rural a
partir de un contexto histórico, y hacer una literatura cualitativa relativa a dicho tema.
El método utilizado ha inspirado a la dialéctica, que es común a los autores estudiados.
La hipótesis es que entender críticamente la concepción histórica de la educación rural
y su influencia en el contexto educativo, contribuyendo a la eficacia de las acciones de
la maestra del campo de una reflexión sobre el contexto histórico, centrado en aspectos
de enseñanza y aprendizaje, especialmente en el campo del desarrollo de los
estudiantes. Se encontró en este estudio que es posible superar las barreras que
obtuvieron en el momento dirigido el éxito actual de este tipo de educación, a partir de
esta reflexión.
1 Pedagoga; Psicóloga; Psicopedagoga Institucional e Clínica; Pós-Graduanda em Neuropsicologia e
Neuropsicopedagogia; Formação em Criança Adolescência , Sociedade e Família UFS; Professora Tutora no Curso
de Pedagogia UNIT. Participa do Grupo de Pesquisa Polítcas Públicas, Gestão Socieducacional e Formação de
Professor (GPGFOP).E-mail: [email protected].
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O CINQUENTENÁRIO DO GOLPE DE 64
Palabras clave: Educación Rural, Contexto Histórico. Contemporáneo.
INTRODUÇÃO
Neste trabalho se busca investigar como se deu a educação rural , a partir de
um contexto histórico , a fim de compreendermos quais foram as influências para os
aspectos educacionais na época sobre a educação rural e o que tem influenciado até
hoje como reflexo dessa história. Interessa-nos pesquisar como se deu a educação rural
em meios conflitos sociais e políticos da época como estabeleceu a relação entre
professor e aluno, na educação de campo, onde ambos tendem a enfrentar vários
desafios no cotidiano seja no espaço escolar, bem como social e cultural, visando
contribuir, a partir de uma construção de cunho bibliográfico, para a compreensão do
valor que a educação do rural tem subjetivamente para cada aluno, seja ele criança,
jovem e adulto e a função que exerce hoje no país. Nós partimos do pressuposto de que
é importante conhecer o trabalho desenvolvido na educação rural, embora ao longo das
últimas décadas, os especialistas da educação têm-se esforçado por racionalizar o
ensino, procurando controlar a priori os fatores aleatórios e imprevisíveis do ato
educativo, expurgando o quotidiano pedagógico, como incapaz de contribuir para o
trabalho escolar propriamente dito, o que é assegurado também por Nóvoa (1999).
Acreditamos que o cotidiano é um espaço onde também se faz a história, dos sujeitos,
das instituições e da sociedade.
O desejo de desenvolver a referida pesquisa, partiu da inquietação sobre a
compreensão de como ocorreu a educação rural, os desafios e quais as perspectivas
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relacionadas à Educação do Rural, e como ela era vista pela sociedade e cultura após
1964, a partir de uma reflexão baseada em alguns pressupostos teóricos e leis que
regem a educação, enfatizando que é uma modalidade de ensino que acumula dívidas
históricas para com o seu público, inclusive no que se refere à formação docente. Desse
modo justificamos a investigação por sua relevância. Trata-se de uma relação marcada
por interações sociais entre seres humanos que se importam e se preocupam uns com os
outros, e com o futuro que estão a (re) construir.
A metodologia adotada nesta fase foi a pesquisa bibliográfica, a partir de
levantamento de fontes teóricas sobre a educação rural após 1964, onde a seleção da
amostra partiu da compreensão dos seguintes aspectos: Escola rural e seu contexto
histórico, e em seguida a conclusão. Está busca de conhecimento possibilitará para a
sociedade e outros estudos a compreensão e a importância de se fazer presente em pesquisa
sobre o professor, o aluno e o contexto da história sobre a educação rural.
Escola rural e seu contexto histórico.
É fundamental compreendermos que a pesquisa referente a educação rural
parte da premissa que é preciso considerar, no conjunto do saber historicamente
produzido, aquele saber gerado pelo povo da zona rural , tendo em vista que esse saber
tem especificidades em virtude das diversificadas condições de vida e de trabalho dos
trabalhadores rurais, seguidos de diferentes formas de organização social e política,
criando diversas visões de mundo, criando assim um rico tecido educativo sendo
permanentemente elaborado. Ou seja, é uma bagagem própria de cada indivíduo a partir
do acumulo de conhecimentos elaborados a partir dos desafios e expectativas gerado
pelos mesmos .
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No que tange à educação escolar, os estudos reforçam a tese da escola
unitária, explicitando que esta deve refletir a dinâmica das relações
entre escola e a prática produtiva, afirmando, portanto, a premissa do
trabalho como princípio educativo. Apontam a necessidade de
superação da dicotomia existente entre a escola e o trabalho no campo,
vislumbrando mecanismos para uma efetiva articulação entre a escola
rural e os movimentos sociais no campo (DAMASCENO,1993,p.9) .
Para Calazans (1993) , o ensino regular em áreas rurais teve seu surgimento
no fim do 2º Imperio e implantou-se amplamente na primeira metade deste século. O
seu desenvolvimento através da história reflete, de certo modo, as necessidades que
foram surgindo em decorrência da própria evolução das estruturas socioagrárias do país.
Com o advento da monocultura cafeeira e o fim da escravidão, a agricultura passou a
carecer de pessoal mais especializado para o setor. Desse modo, o ensino da escolar
elementar, como a escola técnica de 2º grau, começou a impor-se como uma forma de
suprir as necessidades que se esperava fossem atendidas a partir do ensino escolar. Com
isso, as revoluções agroindustriais e suas cosequências no contexto brasileiro,
principalmente a industrialização, provocaram alterações que obrigaram os detentores
do poder no campo a concordar com algumas mudanças, por exemplo a presença da
escola em seus domínios. Assim, a escola surge no meio rural brasileiro tardia e
descontínua (DAMASCENO,1993).
Para Nascimento (2006), a educação camponesa se constrói a partir de um
movimento sociocultural de humanização. Centraliza-se na busca pela pedagogia do
ritual, do gesto, do corpo, da representação, da comemoração e do ato de fazer memória
coletiva. As pessoas, gente simples do campo, tornam-se sujeitos culturais, celebrando
sua memória ao resgatar a identidade por meio da educação. Assim, a educação do
campo é chamada a construir matrizes humanistas para o Homem do campo. Na
educação do campo, todos são sujeitos e construtores de memória e da história, ou seja,
todos são sujeitos sociais e culturais.
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A escola rural representava o local onde se pretendia dizer que se
estuda. De fato, pouco de escola poderíamos encontrar nos contextos
dilapidados espalhados pelo interior do Brasil; escolas sem qualquer
condição de abrigar suas crianças para o mínimo de ambiente
qualitativo de aprendizagem. Aprende-se por conviver com o outro
(esta riqueza que a relação com o outro nos proporciona), mas não por
haver no contexto institucional, o primordial e necessário aparato que
as escolas exigem para que o “ambiente educativo” (onde o saber
elaborado ganha cenário para instalar-se como propriedade e função
social da escola) esteja disponível aos seus educandos e educadores
(CAVALCANTE,2010,p554).
No entanto, a educação do campo, além de ser um projeto de renovação
pedagógica, caracteriza-se por falar através de gestos, símbolos (rituais, músicas, danças
e teatros) e linguagens próprias da cultura camponesa, contrapondo-se, assim, às atuais
dimensões educativas com matrizes pedagógicas esquecidas pelo predomínio da
pedagogia da fala, da transmissão, do discurso do mestre para alunos e alunas
silendiosos (NASCIMENTO,2006).
Para Santos (2012) , entende-se por Educação do Campo como uma
concepção de educação elaborada pelos trabalhadores do campo, formulada como
resultado das lutas desses trabalhadores organizados em movimentos sociais populares,
com a finalidade de constituir uma educação voltada ao contexto campesino.
A Educação do Campo propõe uma escola no e do campo, feita pelos
sujeitos que nela vivem e trabalham. Esse reconhecimento extrapola a
noção de espaço geográfico e compreende as necessidades culturais,
os direitos sociais e a formação integral desses sujeitos. No entanto,
para garantir o direito de todos os cidadãos, a escola precisa estar onde
os indivíduos estão. Por isso, a escola tem que ser construída e
organizada no campo. O fato de estar no campo também interfere a
produção dos conhecimentos, porque não será uma escola descolada
da realidade dos sujeitos. Construir Educação do Campo significa
também construir uma escola do campo, significa estudar para viver
no campo, buscar desconstruir a lógica de que se estuda para sair do
campo (BRASIL,2003 apud SANTOS,2012,p.03).
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De acordo com Fernandes, Cerioli e Caldart (2009) apud Santos (2012), a
Educação do Campo precisa ser uma educação especifica e diferenciada, isto é,
alternativa. Mas, sobretudo deve ser educação, no sentido amplo de processo de
formação humana, que constrói referências culturais e políticas para a intervenção das
pessoas e dos sujeitos sociais na realidade, visando a uma humanidade mais plena e
feliz. Diante da citação, cabe compreender esse arcabouço teórico que já nos aponta
para a importância do registro da reflexão sobre o trabalho e do exercício da educação
como produtora de conhecimento, avaliação como elementos centrais para o
aperfeiçoamento e a inovação, em especial no contexto da Educação do Campo.
Deste modo, segundo Caldart (2002) apud Santos (2012), a Educação
do Campo entende campo e cidade enquanto duas partes de uma única
sociedade, que dependem uma da outra e não podem ser tratadas de
forma desigual. Contudo existem dois elementos que fundamentam a
Educação do Campo: a superação da dicotomia entre o rural e o
urbano; e a necessidade de recriar os vínculos de pertença ao campo.
A concretização desses fundamentos, exige a implementação de
políticas que compreendam a Educação e a Escola do Campo a partir
de alguns princípios citados nos Referências para uma Política
Nacional de Educação do Campo (SANTOS,2012,p3).
Portanto, nessa perspectiva, a Educação do Campo deve possibilitar
vínculos de pertença ao campo, para isso, faz-se necessário que a educação como
formação humana deva estimular os sujeitos a capacidade de criar com outros uma
espaço humano de convivência social desejável. Para isso, a educação como estratégia
fundamental para o desenvolvimento sustentável do campo deve-se constituir nas
políticas públicas como uma ação cultural comprometida com o projeto de reinvenção
do campo brasileiro (BRASIL,2003 apud SANTOS,2012). Ou seja, é de fundamental
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importância que compreendamos a importância dessas políticas relacionadas a educação
do campo, afim de regulamentar o processo educacional no campo.
Para Nóvoa (1999), definem-se finalidades em política educativa que
manifestam uma aparente visão holística, global e integrada dos problemas, mas regula-
se e decide-se compartimentando, desagregando, gerando conflitos e entropias.
Proclama-se uma escola humanista, capaz de satisfazer as aspirações individuais e de
facilitar a auto-realização, mas o sistema opera, antes de tudo, de forma a procurar
satisfazer as necessidades econômico-sociais de formação e de encaminhamento
profissional e social. Partindo dessa reflexão entendemos que a educação no campo se
consolida a partir das políticas públicas estabelecidas para esse fim.
A Declaração Mundial sobre Educação para Todos (1990) estabelece
em seu primeiro artigo que: “cada pessoa-criança, jovem ou adulto -
deverá estar em condições de aproveitar as oportunidades educativas
oferecidas para satisfazer suas necessidades básicas de
aprendizagem”. Prossegue sustentando que estas necessidades
abarcam ferramentas essenciais para a aprendizagem, como a leitura-
escrita e o cálculo, assim como conhecimentos, competências, valores
e atitudes que as pessoas exigem para funcionar bem e seguir
aprendendo em seu meio particular. Também reconhece que: “A
amplitude das necessidades básicas de aprendizagem e a maneira de
satisfazer variam segundo cada país e cada cultura e caminham
inevitavelmente no transcurso do tempo” (UNESCO, 2004, p.82).
Para Fuck (2001) aprender é passar por etapas sucessivas. Em cada uma
delas já se sabe algo sobre o assunto e este algo, embora incompleto, está organizado
em nós de maneira a resolver, provisoriamente, os problemas que envolvem o assunto
em questão, ou melhor, os conceitos nele imbricados. Por isso a necessidade de
compreendermos a educação rural no seu contexto sócio político. Ou seja , para
Damasceno (2004), a Educação de Base é de real necessidade porque vai diminuindo a
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ignorância e o analfabetismo de nosso povo, transformando-o social e
economicamente.
Torna-se importante compreendermos esse contexto para que possamos
entender a importância da educação de base e qual sua influência para a educação rural.
Na comunidade rural, a educação de base consistiria em alfabetizar e
atuar junto aos indivíduos, visando a mudanças de atitudes e
comportamentos socioculturais. Nos lugares em que o MEB
(Movimento Educação de Base) atuou, foram desenvolvidos
trabalhos nas seguintes áreas: saúde, alimentação e higiene; habitação;
convívio na família; relações sociais em casa e na vizinhança; relações
de trabalho; organização religiosa e política das comunidades
(SOUZA,2012,p.519)
Na educação rural , a educação dos camponeses do MEB, quando
consideramos as práticas e representações sociais, podemos enxergar um conjunto de
respostas culturais que resultam da mediação que os indivíduos e o coletivo realizam em
sua realidade material, em que subjazem fatos e objetividades econômicas, sociais,
políticas e culturais. E que foram esses fatos que intermediaram todo o processo da
educação rural no Brasil bem antes o movimento do golpe militar de 1964. SOUZA
(2012).
É importante compreendermos que um dos problemas hoje quando se
avaliam estudos sobre a educação rural, advém do próprio estatuto do termo rural.
Diferentemente do que se propagava quando a educação rural era um projeto ligado ao
desenvolvimento do país cuja vocação de país agrícola demandava políticas específicas
de educação rural, hoje a realidade é bastante distinta e o novo rural brasileiro guarda
pouca semelhança com o da década de 1950, inclusive no sentido da revalorização
ocorrida com a crise das cidades (Sorj, 1998; Graziano, 1999; Veiga, 2002), apud
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(Souza, 2012). Contudo, percebe-se que o problema da educação rural básica não foi
resolvido.
[...] e não é por acaso que os mais altos índices de analfabetismo do
país estão localizados na zona rural e, dentre elas, naquelas das
regiões cuja posição na divisão nacional do trabalho não exige uma
produção baseada no trabalho qualificado.A despeito de tímidas
iniciativas no final do século XIX, é somente a partir da década de
1930 e, mais sistematicamente, das décadas de 1950 e 1960 do século
XX que o problema da educação rural é encarado mais seriamente —
o que significa que paradoxalmente a educação rural no Brasil torna-
se objeto do interesse do Estado justamente num momento em que
todas as atenções e esperanças se voltam para o urbano e a ênfase
recai sobre o desenvolvimento industrial. Lembremo-nos, por
exemplo, da meta do governo Juscelino Kubitschek de desenvolver
cinqüenta anos em cinco. As ideologias do progresso que incluíam
necessariamente a extensão do urbano destroem a vocação agrícola de
todas as gerações independentemente de se em países de vocação
agrícola ou não (DAMASCENO,2004,p.76).
Segundo Damasceno (2004), após a ditadura militar, período durante o qual
as políticas industriais e agrícolas mudaram completamente a face do país, são outros os
problemas e questões que se apresentam tanto para o rural quanto para a educação rural.
É também durante esse período, que percebemos o desinteresse pela educação rural e
conseqüentemente pela pesquisa nessa área do conhecimento que também reflete,
obviamente, o limite da pressão dos movimentos sociais rurais sobre o poder público.
Inclusive, o recente interesse por esta área, verificado nos últimos dez anos, mas
insignificantemente expresso nas percentagens abaixo, está relacionado ao poder de
pressão do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra. Apesar desse fato, o interesse
pela pesquisa na área continua insignificante em relação. Portanto, para Damasceno
(2004) , em suma, essa vertente de pesquisa parte da premissa de que no tocante à
educação rural é preciso considerar, no conjunto dos saberes historicamente produzidos,
aquele saberes gerados pelos atores sociais em suas práticas produtivas e políticas,
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tendo em vista que esses saberes têm especificidades em virtude das diversificadas
condições de vida e trabalho. Por conseguinte, diferentes formas de organização criam
variadas visões de mundo nas quais novos processos educativos são permanentemente
elaborados (Brandão, 1997; Caldart, 2000, 1997,1996, 1995; Calado, 1993; Damasceno,
1998,1994, 1992, 1990; Furtado, 2000, 1998; Grzybowski, 1986, 1982; Souza, 1989;
Therrien,1991; Vendramini, 1997) apud (Damasceno,2004).
Contudo , a referida pesquisa busca uma reflexão a cerca do contexto
histórico da educação rural no Brasil e qual sua influência para as pesquisas na
contemporaneidade. Porque a partir desse olhar passamos a compreender os aspectos
voltados para a aprendizagem do aluno da zona rural.
Partindo do relatório da UNESCO (2010), a necessidade de aprender a
aprender não é opcional, é questão de sobrevivência em um mundo cada vez mais
dominado pelo capitalismo em que o poder está nas mãos de poucos e as injustiças
sociais aumentando em ritmo acelerado. Diante desse contexto complexo surge uma
busca também acelerada por maneiras de combater a realidade dominante, mudanças
acontecem historicamente, com seres humanos envolvidos, a libertação do “opressor” é
a luta por condições dignas de vida. É com este pensamento de que é preciso mudar a
realidade que a educação é entendida como um caminho para a libertação, como uma
ponte para conseguir um emprego digno e uma melhor qualidade de vida, sendo assim,
quem está fora da escola tem reduzidas as chances de se libertar. A luta pelo
reconhecimento social e a realização desse reconhecimento funda-se na ideia de
educação como direito de todos.
De acordo com Freire (1997) alfabetizar é mais que contribuir para a escrita
e decodificação de signos, é dialogar, é refletir sobre a cultura, sobre o mundo, é
possibilitar ao alfabetizando condições para que ele continue aprendendo, pesquisando,
é contribuir para a construção de “ser mais” de se conhecer como agente formador e
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transformador da história que é feita e refeita por homens. Assim ele fala da
reconstrução crítica de si e do mundo, de um projeto histórico que se inicia com a
bravura de dizer/escrever/ler sua palavra. Para Nóvoa:
As experiências de vida e o ambiente sociocultural são obviamente
ingredientes-chave da pessoa que somos, do nosso sentido do eu. De
acordo com o ‘quanto’ investimentos o nosso ‘eu’ no nosso ensino, na
nossa experiência e no nosso ambiente sociocultural, assim
concebemos a nossa prática (NÓVOA, 1995,p.71-72).
Diante da citação, cabe compreender esse arcabouço teórico que já nos
aponta para a importância de compreendermos o contexto histórico o qual está inserido
a educação rural no Brasil, e qual a perspectiva sobre educação e aprendizagem na
educação rural. Explicam perfeitamente essa relação Tardif e Lessard (2009), quando
descrevem:
A educação repousa basicamente sobre interações cotidianas entre os
professores e os alunos. Sem essas interações a escola não é nada mais
que uma imensa concha vazia. Mas essas interações não acontecem de
qualquer forma: ao contrário, elas formam raízes e se estruturam no
âmbito do processo de trabalho escolar e, principalmente, do trabalho
dos professores sobre e com os alunos ( p. .23).
Sabemos que na prática a realidade é bem difícil, são grandes as
dificuldades enfrentadas pelos professores da educação rural, onde o sacrifício e a
criatividade andam juntos, possibilitando condições para que se possa fazer algo em
prol da prática educativa. Ou seja, o professor tende a ser e deve se fazer forte frente às
complexas situações enfrentadas, devido a falta de condições de ter um bom
funcionamento, provocado pelo poder público. O contexto sociopolítico que tende a
comprometer os espaços do ensinar e do aprender na educação rural, onde o professor
fica impossibilitado de atuar com sua prática pedagógica, tendo que superar essas
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dificuldades a partir de uma autoconsciência e amor a profissão. Conforme afirmam
Tardif e Lessard (2009):
Um professor trabalha, portanto, com e sobre seres humanos. Ora, os
seres humanos apresentam algumas características que condicionam o
trabalho docente. Eles possuem, primeiramente, características
psicológicas que definem modalidades de aprendizagem concretas que
os professores precisam, de um modo ou de outro, respeitar em sua
docência, adaptando-a justamente às “competências” e atitudes de
seus alunos (p.69,)
Nessa perspectiva, cada professor exerce uma determinada função pessoal
que se atualiza no “espaço privado da classe”, na relação com seus alunos, mas há
também um papel público na coletividade de trabalho e na escola. Atualmente, o maior
desafio é compreender a prática pedagógica por se tratar de algo tão complexo, frente o
contexto histórico, sócio político.
CONCLUSÃO
Essa investigação teórica evidencia a importância de estudarmos os contexto
histórico sobre a educação rural no Brasil, a partir de diversos autores que abordam a
história sobre está educação, frisando a importância de compreendermos a relação do
professor nessa educação. Ou seja , mostrando que a escola é esse ambiente que irá
proporcionar através das relações pedagógicas a realização e o aprendizado do aluno
para o mundo.
Para Tardif e Lessard (2009) , a escolarização repousa basicamente sobre
interações cotidianas entre os professores e os alunos. Sem essas interações a escola
esvazia-se. Mas essas interações não acontecem de qualquer forma: ao contrário, elas
germinam, formam raízes e se estruturam no trabalho escolar e, principalmente, do
trabalho dos professores sobre e com os alunos. Por isso, a importância da academia
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desenvolver pesquisas voltadas para a compreensão da história da educação rural e suas
formas de trabalho, possibilitando ampliar pesquisas que visem ao reconhecimento e à
valorização da Educação Rural no país.
Os preconceitos e dificuldades que assolam essa modalidade de ensino, com
profundos reflexos inclusive na autoestima de educadores e educandos , devem ser
superados também via políticas públicas na área da educação e especialmente daquelas
que norteiam os respectivos profissionais da educação, desde sua formação à prática
profissional, possibilitando a emergência e consolidação de uma nova forma cultural
frente ao professor e ao aluno da educação rural.
A construção dessa pesquisa tem o objetivo de fazermos uma reflexão
acerca da do contexto histórico a qual está inserida a educação rural. Por isso, a
importância da visão de Tardif e Lessard (2009), que descrevem o trabalho docente
como trabalho humano, assim como a maioria das outras ocupações, sendo que nessa
profissão arca-se necessariamente com o peso da normatividade, embora sejam mais
importantes os saberes e todo um processo de história de vida.... Um professor trabalha,
portanto, com e sobre seres humanos. Ou seja, ensinar é trabalhar com seres humanos,
sobre seres humanos e para seres humanos.
Muito há que se fazer para que se possa atingir uma qualidade positiva na
educação rural , por isso a importância de compreendermos o contexto histórico o qual
envolve todo o processo dessa educação, concluindo nessa etapa da pesquisa que cada
vez fica mais evidente a necessidade de prioridade para a modalidade de ensino
Educação Rural, insuficientemente contemplada pelas políticas públicas no país, ao
longo da história da educação brasileira.
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O CINQUENTENÁRIO DO GOLPE DE 64
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