Download - Efeitosdo eucalipto 1
CENTRO DE ESTUDOS E PESQUISAS PARA O DESENVOLVIMENTO DO EXTREMO SUL/BA
Responsável Técnico Cristiano Raykil Pinheiro
Relatório de Pesquisa Diagnostica da Situação Socioeconômica do Entorno da Fabrica de Celulose na Microrregião de Eunápolis
Eunápolis 2005
Impactos socioeconômicos da monocultura do eucalipto e produção de celulose no Extremo Sul da Bahia
Cristiano Raykil1Cientista Social
Apresentação
Pretende-se discutir os impactos negativos da monocultura do Eucalipto e
produção de celulose no extremo sul da Bahia apresentando os dados referentes
às condições de vida de sua população, seus aspectos econômicos e sociais.
Para tanto, os debates primordiais dessa empreitada econômica global deverão
ser apresentados, propondo-se desmistificar algumas narrativas veiculadas pelo
capital estrangeiro através de suas empresas prepostas que publicam a idéia de
desenvolvimento “incluindo todos”.
Os pontos essenciais para essa análise estão no debate do desenvolvimento
regional, na instalação da industria e seu suposto beneficio em investimentos
sociais, que é papel do Estado, e renda para a população através do emprego.
Efetuou-se uma pesquisa com abrangência de atingir os municípios que
compreendem o entorno da região da fábrica da Veracel / Celulose: Itapebí,
Itagimirim, Eunápolis, Belmonte, com enfoque especial nos Povoados de
Barrolândia e Ponto Central do Distrito de Mogiquiçaba no Município Belmonte.
Totalizando, segundo o IBGE, em estimativa 2004, uma população de 128.868
habitantes.
Impactos negativos
Os dados levantados, através deste diagnóstico, têm extrema importância, pois
não existem registros da situação de comunidades marginais no Extremo Sul da
Bahia. Essa relação de poder econômico, enfrentada pelas comunidades locais
reflete a disponibilidades de ferramentas, dados científicos, que auxiliem a tomada
1 Pesquisador CEPEDES – Centro de Estudos e Pesquisas para o Desenvolvimento do Extremo Sul da Bahia
de consciência dos sujeitos locais, tais como as ong’s, sindicatos, associações etc,
de extrema importância no equilíbrio das tomadas de decisões.
O universo dos dados gerais que versam sobre a região encontram-se dispersos,
orientados pelos interesses das unidades patrocinadoras dessas pesquisas e
visam originalmente justificar algum investimento local e por exigência das
agencias fomentadoras.
Desenvolvimento Humano
Um índice muito utilizado para verificar a condição sócia econômica da população
regional é o IDH municipal, inferido pela ONU, representa um interessante
referencial. Pela sua constituição não oferece uma visão mais focal de
determinada comunidade e não reflete, em curto prazo, os impactos de um grande
investimento econômico em uma micro região.
As bases de cálculo do IDH municipal refere-se aos índices educacionais,
longevidade e renda.
Uma vez escolhidos os indicadores, são calculados os
índices específicos de cada uma das três dimensões
analisadas: IDHM-E, para educação; IDHM-L, para saúde
(ou longevidade); IDHM-R, para renda. Para tanto, são
determinados os valores de referência mínimo e máximo de
cada categoria, que serão equivalentes a 0 e 1,
respectivamente, no cálculo do índice. Os sub-índices de
cada município serão valores proporcionais dentro dessa
escala: quanto melhor o desempenho municipal naquela
dimensão, mais próximo o seu índice estará de 1. O IDHM
de cada município é fruto da média aritmética simples
desses três sub-índices: somam-se os valores e divide-se o
resultado por três (IDHM-E + IDHM-L + IDHM-R / 3). (Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil – 2003)
Tabela 01
Código Município IDHM, 2000
IDHM-Renda, 2000
IDHM-Longevidade, 2000
IDHM-Educação, 2000
291650 Itapicuru (BA) 0,521 0,464 0,537 0,563
291630 Itapebi (BA) 0,636 0,52 0,715 0,674
291072 Eunápolis (BA) 0,704 0,654 0,662 0,796
290340 Belmonte (BA) 0,618 0,564 0,586 0,705
291530 Itagimirim (BA) 0,633 0,594 0,573 0,732
292740 Salvador (BA) 0,805 0,746 0,744 0,924
(fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil – 2003)
Na tabela acima, objetiva-se demonstrar um panorama dos índices IDH-M no
Estado da Bahia, evidenciando os municípios objetos desse estudo,
comparativamente com o ranking do maior (melhor) índice, apontando para o
município de Salvador, capital do Estado, com uma população de 2.440.886
habitantes, segundo o Censo de 2000 (IBGE), por conta da concentração de
investimentos e renda no Estado. E o menor (pior) índice que aponta o município
de Itapicuru, na Região Nordeste da Bahia, a cerca de 240 km da capital, com
uma população de 27.315 habitantes, segundo o censo 2000 (IBGE).
Outro ponto essencial para análise é o Êxodo Rural que acompanha o trajeto das
monoculturas, por conta da falta de planejamento estatal no deslocamento das
populações, na inclusão de novos postos de trabalho e do avanço das empresas
que mecanicamente objetivam redução de custos, traduzindo-se em vantagens
competitivas que se apresentam, segundo PEDREIRA (2004), na forma de: mão-
de-obra barata, incentivos fiscais, infraestrutura comercial e industrial: estradas,
portos, abastecimento de água e energia, terras de baixo valor e altas
potencialidades naturais.
Essa região apresenta dados alarmantes referentes ao êxodo rural em virtude do
acentuado incremento econômico periférico industrial.
Estudos recentes sobre o desenvolvimento urbano e/ou
regional, revelam que os efeitos espaciais decorrentes do
processo de globalização e das novas tecnologias não são
uniformes e homogêneos. Na verdade, frente ao novo
paradigma, observam-se tanto fatores que levam a
dispersão dos meios de produção para espaços periféricos,
como fatores que sugerem novos vetores de concentração
espacial.
(PEDREIRA apud STORPER, et al, 2004)
Tabela 02
Município de
Eunápolis População Geral Pop Urbana Pop Rural
Censo 1991 70.545 63.540 7.005
Censo 2000 84.120 79.161 4.959
População Rural em 1991 é igual a 9,92% População Rural em 2002 é igual a 5,89% Taxa de redução população Rural é de 59.37% Fonte: IBGE.
Esses dados proporcionam uma visão panorâmica, mas não são capazes refletir,
de fato, a realidade vivida pelas pessoas que foram deslocadas do campo para os
aglomerados urbanos, seja cidade, distrito ou mesmo povoados e quando usa-se
a média para cálculo de índices, corre-se o grande risco de mascarar as situações
extremas que vivem essas comunidades.
Gráfico 01
Um exemplo claro é o IDH-M do Município de Eunápolis, de 0,704, conforme
Tabela 01, que segundo o IBGE, possui uma população estimada, em 2004, de
91.085 habitantes, concentrada em 94,1%, no perímetro urbano, sem contar com
a massa de trabalhadores oriundos de todas as partes, que passaram a compor
essas comunidades e não aparecem nas estatísticas.
Verifica-se, na Tabela 02, que houve um êxodo rural considerável onde 59,37% da
população rural migrou para zona urbana, no período de 1991 a 2000, em
contrapartida a redução da população rural brasileira nesse mesmo período foi
apenas de 28%. O que aponta para um distúrbio local.
A população urbana cresceu por conta do êxodo e relacionada à propaganda
institucional das Empresas da Monocultura do Eucalipto e dos Governos Estadual,
Federal e Municipal que anunciaram a criação de 12.000 empregos segundo
reportagem de A Tarde em 24 de julho de 1994, o que chamou atenção de um
número muito grande de trabalhadores desempregados do Estado da Bahia e
Estados vizinhos como nordeste do Estado de Minas Gerais e norte do Estado do
Espírito Santo. Inclusive houveram relatos que vários trabalhadores estavam
chegando dos municípios do Norte da Bahia, como Juazeiro e até mesmo de
Pernambuco, como Petrolina, num raio de distância de aproximadamente 1000
km.
Conforme De´Nadai, et. al. (2005), discutindo sobre os dados da geração de
empregos proporcionada pela monocultura do eucalipto, em quadro comparativo
com a cultura do café, apresenta discrepância nos dados referentes a quantidade
de terras (ha) para gerar um emprego direto. A Veracel Celulose informa que para
cada 183 ha cria-se um emprego direto, enquanto que para gerar um emprego
direto na cultura do café é necessário apenas 1 ha, como vemos na tabela
abaixo.
Tabela 03
Monocultura #Terra para gerar 1
emprego direto (ha)
#Terra para gerar 1 emprego
direto e indireto (ha)
Eucalipto (Aracruz Celulose)
122 28
Eucalipto (Veracel Celulose)
183 37
Café 1 <1 Fonte: De´Nadai, et. Al. (2005). pp 19.
Em publicação da Revista Bahia Análise e Dados (2004), PEDREIRA evidencia,
em sua conclusão sobre a ocupação territorial e migração da população rural no
Extremo Sul da Bahia, que:
Em síntese, podemos inferir que a expansão dos maciços
florestais se deu, fundamentalmente, sobre as áreas
ocupadas sobre matas e florestas naturais, avançando,
posteriormente, nas áreas ocupadas com pastagens e, em
menor proporção, nas terras dedicadas ao cultivo. Sendo
assim, poderíamos ser tentados a concluir que a atividade de
reflorestamento teve reduzido impacto sobre a agricultura
familiar, ocupada primordialmente por lavouras. Entretanto,
essa conclusão escamoteia um aspecto muito importante,
qual seja: a implantação de eucalipto, a ocupar áreas
passiveis de serem utilizadas pela agricultura familiar, a
exemplo das terras improdutivas, cobertas com matas e
florestas naturais e, mesmo, aquelas ocupadas com
pastagens naturais, termina bloqueando as possibilidades de
reprodução dos agricultores familiares.
O Êxodo Rural também se deu por conta do avanço da monocultura do eucalipto
que reverteu as unidades de produção agropecuárias em plantios de eucalipto,
seja pela compra das terras pela Empresa responsável, Veracel Celulose, ou
mesmo através do Fomento, que desequilibrou economicamente a região.
Trabalhadores rurais perderam seus empregos e não acharam recolocação,
alargando as populações desempregadas e marginalizadas.
Amparados pela ação do Estado brasileiro em suas representações Federal,
Estadual e até mesmo Municipal, com investimentos na ordem de R$ 1,5 bilhão,
em financiamento pelo BNDES, que inclusive, é acionista em 12,5% das ações da
Empresa Aracruz Celulose, que detém 50% das ações da Veracel Celulose, que
por sua vez, na instalação de sua Fábrica no Extremo Sul da Bahia contou
também com investimentos do International Finance Corporation (IFC) do Banco
Mundial, no valor de 50 milhões de dólares. segundo De´Nadai, et. Al. (2005), que
corresponde a 10% do valor investido pelo Estado Brasileiro.
Conseqüentemente, os beneficiários dessa política, ao longo
do período 1972-1980, foram grandes grupos internacionais,
grupos privados nacionais e o próprio Estado, não só as
políticas de incentivo as exportações, como também das
agências como BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social e CVRD – Companhia Vale do Rio
Doce. Essas agências tinham como objetivo passar a
compor um setor dinâmico, cuja perspectiva é mais
promissora quanto maior o número de concentração de
capital atingido.
(CAR, 1994. pp28)
O mais importante a destacar nessa situação é que a escolha por esse tipo de
desenvolvimento não passou pela tomada de consciência das populações locais e
ainda mais, essas são subordinadas a força de um capital esmagador que a
seduz, num processo de mascaramento da realidade. Propagandas direcionadas
a construção da ilusão de melhor renda, cooptação econômica de políticos e
agentes sociais locais, como no caso as populações tradicionais não organizadas
e comunidades marginalizadas, combinam para a formação de um “engodo”
político-cultural difícil de resolver à luz da consciência.
Desenvolvimento Humano - Renda
Tabela 04
Município
% darenda apropriadapelos 20%mais pobres, 2000
% da renda apropriada pelos 40% mais pobres, 2000
% da renda apropriada pelos 60% mais pobres, 2000
% da renda apropriada pelos 80% mais pobres, 2000
% da renda apropriada pelos 20% mais ricos, 2000
% da renda apropriada pelos 10% mais ricos, 2000
Eunápolis (BA) 1,67 7,18 16,4 32 68 53,67
Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil
Usando os mesmos parâmetros de análise do IDH, baseados no Censo de 2000,
observamos uma realidade negativa de distribuição de renda no Município de
Eunápolis, por exemplo. Os 20% da população mais pobre apresenta um índice
1,67% da renda apropriada, enquanto os 68% da renda é apropriada pela
população dos 20% mais ricos deste município, demonstrando uma enorme
desigualdade social.
A exemplo dessa situação, com base nas mesmas fontes, observamos em recorte
estatístico, a renda per capita da média do quinto mais pobre e quinto mais rico da
população, verifica-se um acentuado fosso social, principalmente se observarmos
com atenção a enorme “contorção algébrica” que as famílias têm que executar
para sobreviver com R$ 0,54 ao dia, por indivíduo, para todas as necessidades
básicas, a exemplo do pobre em Eunápolis, conforme quadro comparativo abaixo:
Tabela 05
Código Município Renda per capita médiado 1º quinto mais pobre,2000
Renda per capita média do quinto mais rico, 2000
290340 Belmonte (BA) 16,63 366,08 291072 Eunápolis (BA) 16,35 666,01 291530 Itagimirim (BA) 17,24 442,84 291630 Itapebi (BA) 15,61 246,84 Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil
Apesar dos números absurdos, concluídos a partir dos índices de IDH-M, pode-se
perceber a proporção dessa situação em analises de extremos. Os índices
indicados são resultados de médias. É inimaginável dar conta das condições de
vida humana provocada por essa escolha de desenvolvimento produtivo.
Desenvolvimento Humano – Educação
Tabela 06
Código Município
Índice de
Desenvolvimento
Humano
Municipal-
Educação, 2000
290340 Belmonte (BA) 0,705 291072 Eunápolis (BA) 0,796 291530 Itagimirim (BA) 0,732 291630 Itapebi (BA) 0,674 Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil
Outro índice importante para a análise do desenvolvimento humano é a
Educação. Dados Oficiais, citados na Tabela 07, apontam para uma situação
alarmante. Em Eunápolis, por exemplo, 45% da população que deveria estar na
escola na faixa de 10 a 14 anos, tem menos de quatro anos de estudo, é
analfabeta funcional. Esse dado já é extremo, sem contar com conjuntura em que
esses dados são coletados. O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação,
FNDE, que disponibiliza para os municípios recursos proporcionais ao número de
matrículas efetuadas, não exige nem proporciona um controle gerencial desses
recursos que facilite uma eficácia nos resultados esperados. O que existe é fiscal,
que em certa medida proporciona uma cobrança na aplicação dos recursos, mas
não garante os resultados positivos. Poderia-se esperar a eficácia diretamente
ligada a um conjunto sistêmico de ações que estabeleçam a aplicação dos pilares
da administração: planejamento, organização, execução e controle, focando o
monitoramento qualitativo dos processos.
Tabela 07
Analfabetismo Funcional por Faixa Etária da População, 2000 Municípios do Estado da Bahia
Município
% 10 a 14 anoscom menos dequatro anos deestudo, 2000
% 15 a 17 anoscom menos dequatro anos deestudo, 2000
% 18 a 24 anoscom menos dequatro anos deestudo, 2000
% 15 anos ou mais com menos de quatro anos de estudo, 2000
Belmonte (BA) 70,18 35,02 39,21 55 Eunápolis (BA) 44,92 17,54 22,34 39,21 Itagimirim (BA) 55,82 27,99 31,74 53,39 Itapebi (BA) 76,38 44,47 47,11 61,69 Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil
O Analfabetismo Funcional mede essa eficácia da educação municipal, pois não
bastam ter escolas, professores, recursos e não oferecer uma funcionalidade
estrutural a esses elementos, através de uma estratégia gerencial participativa,
que poderia começar pela Gestão Participativa nas Unidades Escolares,
transformando-as em núcleos educacionais em detrimento ao conceito de “currais
eleitorais” que se desenvolve através da indicação político-partidária de diretores,
coordenadores e até mesmo, professores contratados em situação de
precariedade no trabalho. A exemplo disso temos os contratos do Estado,
chamado REDA, Regime Especial de Direito Administrativo, com
aproximadamente 4800 professores trabalhando (FOLHA DIRIGIDA,2005) em
condições de precariedade, sem formação adequada, direitos trabalhistas,
autonomia, dentre outros.
Desenvolvimento Humano – Saúde
Tabela 08
Código Município
Mortalidade atécinco anos deidade, 2000
Mortalidade atéum anode idade, 2000
Número de médicos residentes pormil habitantes, 2000
Percentual deenfermeiros residentes comcurso superior, 2000
Percentual depessoas com65 anosou maisde idade morando sozinhas, 2000
Percentual de pessoas commais de50% dasua renda proveniente detransferências governamentais, 2000
Probabilidade de sobrevivência até 40anos, 2000
Probabilidade de sobrevivência até 60 anos, 2000
290340 Belmonte (BA) 94,11 60,93 0,53 0,34 19,19 13,52 81,17 63,18
291072 Eunápolis (BA) 67,65 43,36 0,44 0 12,99 7,96 86,06 71,07
291530 Itagimirim (BA) 99,17 64,33 0 2,3 14,9 10,75 80,27 61,82
291630 Itapebi (BA) 51,63 32,88 0 1,2 19,67 10,49 89,16 76,6 Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil
A situação da saúde pública não destoa da precariedade apontada pelos outros
índices. A condição periférica apresenta realidades extremas, que são muitas
vezes manipuladas por números, índices estatísticos aleatoriamente justapostos
para justificar a incapacidade gerencial dos recursos destinados para tal.
A exemplo disso pode-se observar o péssimo atendimento hospitalar, onde um
único hospital atende a concentrada população do Município de Eunápolis e sua
região de influência.
Os dados relativos à concentração de médicos residentes por mil habitantes,
conforme Tabela 08, não significa que a população tenha disponível essa
quantidade de profissionais médicos para seu atendimento, através do sistema
público de saúde. O serviço publico municipal que detém a responsabilidade de
disponibilizar esses profissionais para o atendimento da grande maioria da
população, que é carente, segundo os dados referentes a concentração de renda
visto anteriormente, não o faz de forma eficaz.
A inexistência de uma política municipal de saúde, em Eunápolis, por exemplo,
concorre para um agravamento dessa situação de discrepância entre o
atendimento da população mais pobre e aquela que concentra renda, onde muitas
vezes não utiliza os serviços médicos públicos locais, buscando-os nas grandes
capitais, ou em caráter particular e/ou convênios no atendimento médico local.
Como conseqüência disso podemos destacar a marcante queda da expectativa de
vida após os 40 anos de idade, onde se reduz em 22.16%, frente a expectativa de
sobrevivência até os 60 anos.
Somando toda situação agravante de Eunápolis, município com maior
concentração populacional da região pesquisada, que possui um grande
desequilíbrio no que diz respeito à renda, o percentual de sua população, que
sobrevive com ajuda governamental correspondente a 50% de sua renda é de
7.96%.
Diante do exposto pode-se concluir que os investimentos diretos do estado
brasileiro que impactam na sobrevivência da população mais carente é ínfimo
frente aos investimentos proporcionados na instalação da Fábrica da Veracel
Celulose, de capital prioritariamente estrangeiro.
Desenvolvimento Local
Extremo Sul da Bahia, região que desponta na produção econômica em 5° lugar,
por conta de sua diversificação produtiva, como mostra o quadro abaixo o seu
destaque, corre o risco de ter comprometido as vantagens e resultados de sua
produção em nome do capital, deixando sua população e os atores econômicos
locais a margem desse processo.
Região Econômicas –Estado da Bahia
Produto Municipal (R$ Milhões) Classificação
Baixo-Médio São Francisco 1.355,49 10º
Chapada Diamantina 826,84 13º Extremo Sul 2.439,92 5º Irecê 632,69 14º Litoral Norte 2.854,97 3º Litoral Sul 2.280,68 6º Médio São Francisco 549,95 15º Metropolitana de Salvador 20.761,35 1º Nordeste 2.958,39 2º Oeste 1.720,85 8º Paraguaçu 2.461,08 4º Piemonte da Diamantina 1.083,83 12º Recôncavo Sul 1.357,55 9º Serra Geral 1.093,79 11º Sudoeste 2.014,01 7º
Fonte: Site do SEI – www. sei.ba.gov.br (novembro 2004)
Segundo COUTO FILHO (2004) em uma análise referente ocupação da mão de
obra e o produtivismo nas mesorregiões da Bahia diz que “Ainda que se
encontrem alternativas de ocupação e renda e cresçam a pluriatividade e as
atividades não-agropecuárias no meio rural, as rendas, nessa área, ainda estão
muito distantes daquelas percebidas no ambiente urbano”.
Aponta também a taxa de ocupação EHA (Equivalentes-Homens-Ano) por
hectares plantados. A Mesorregião do Sul da Bahia é a primeira o ranking com
27% do Estado quando afirma:
A região Sul é a ideal do ponto de vista da ocupação, já que é a primeira no ranking do EHA (Equivalentes-Homens-Ano) e tem apresentado um processo de diversificação, calcado em
culturas muito ocupadoras por hectare, que distribui bem sua demanda de mão-de-obra ao longo do ano.
Destacando que a análise feita para a mesorregião Sul que congrega as
microrregiões do Litoral Sul e Extremo Sul da Bahia, verifica-se a importância da
diversificação da produção e principalmente a necessidade de uma política mais
voltada para o interesse do desenvolvimento regional sustentável.
O processo de globalização regional se apresenta para essa região com a
implantação da monocultura do eucalipto e a produção fabril de celulose, numa
arrojada empreitada econômica, em detrimento de um crescimento econômico
voltado para a sustentabilidade.
A implantação e o desenvolvimento das novas atividades florestais e agroindustriais, ao tempo que proporciona a inserção competitiva da região nos circuitos dinâmicos da economia nacional e internacional, provoca transformações significativas na estrutura econômica e social local, particularmente no espaço rural. PEDREIRA (2004, pp 1006)
Os primeiros resultados de produção da fábrica já superaram as expectativas, com
51 mil toneladas, 12,2 toneladas a mais do que o esperado, conforme dados
divulgados pela empresa em seu site na internet.
Nos deparamos aqui com as limitações do modelo de desenvolvimento que, de
um lado se apresenta privilegiando o capital e sua proliferação, através de seus
instrumentos de controle e apropriação e, por outro lado, um desenvolvimento
sustentável, que propõe a produção para o atendimento das necessidades locais,
de sobrevivência das populações produtoras.
[...] as principais causas da deterioração ininterrupta do meio
ambiente mundial são os padrões insustentáveis de
consumo e produção, especialmente nos países
industrializados. Motivo de séria preocupação, tais padrões
de consumo e produção provocam o agravamento da
pobreza e dos desequilíbrios.
(NAÇÕES UNIDAS, 1992:1).
No que diz respeito aos desequilíbrios ambientais que estão ligados
sistematicamente as questões sociais e de sustentabilidade observamos que,
segundo VIANA:
[...] os efeitos ambientais adversos do plantio de eucalipto mais ressaltados por aqueles que se posicionam contrariamente a ele são: a retirada de água do solo, tornando o balanço hídrico deficitário, com o rebaixamento do lençol freático e até o secamento de nascentes; o empobrecimento de nutrientes no solo, bem como seu ressecamento; a desertificação de amplas áreas, pelos efeitos alelopáticos sobre outras formas de vegetação e a conseqüente extinção da fauna; a ocupação de extensas glebas de terra, que poderiam estar produzindo alimentos; a criação de empregos apenas durante a implantação do plantio, mesmo assim para mão-de-obra desqualificada, com baixos salários, e o estímulo ao êxodo rural e o conseqüente inchaço das metrópoles.
Ainda como conclusão do relatório para análise de dados sobre eucalipto no Brasil, VIANA conclui:
Quanto ao efeito social, alega-se que o plantio de eucalipto reduz a mão-de-obra no campo, visto que o número de empregos gerados no reflorestamento por eucalipto é de cerca de um para cada quinze hectares plantados, enquanto que a mesma área de quinze hectares cultivada com plantios tradicionais (mandioca, café, feijão, milho, banana, etc.) gera trinta empregos. Portanto, a substituição de trinta mil hectares de cultivos tradicionais por eucalipto significa empregos para apenas dois mil trabalhadores contra o desemprego de 58.000 trabalhadores rurais, caso se utilize a mesma gleba para o plantio tradicional.
O projeto da instalação da fábrica e plantação da monocultura do eucalipto na
região, remonta 14 anos conforme dados publicados em Jornal local que
questiona os impactos da monocultura do eucalipto no sistema social, a promessa
de empregos e benefícios para a comunidade, já que foi comparadamente
apontado que a produtividade da plantação é maior nessa região que em qualquer
parte do planeta (A Notícia 7, 1991), tempo suficiente para que os agentes de
transformação: O Estado em seus Governos Federal, Estadual e Municipal e
Capital Privado Internacional, executasse as bases da transformação social e de
infraestrutura básica para a população. Em análise sistêmica para deslocar a
população rura, e em seu lugar plantasse a monocultura do eucalipto, seria
necessária uma recolocação desses seres humanos em unidades produtivas para
suprir a manutenção de suas necessidades básicas de sobrevivência, se a
principal característica desse negocio não fosse a terra e sua ocupação, o que
inviabiliza as tentativas de replanejamento populacional e de ocupação.
Pesquisa Quantitativa (Survey)
O povoado de Barrolândia foi selecionado para a Pesquisa Quantitativa, pela
proximidade com a Fábrica e notoriamente seu maior impacto sócio ambiental.
Local de instalação do alojamento dos trabalhadores para a construção da fábrica
e aglomerado urbano que acolheu um grande número de pessoas que foram
atraídas pela propaganda de emprego efetuada na mídia estadual e nacional.
Barrolândia, considerada pelo IBGE como povoado, pertencente ao distrito de
Mogiquiçaba no Município de Belmonte/Ba, que em 2004, segundo informações
oficiais da unidade Estadual do IBGE, teve sua população estimada em 18.986
habitantes, não sendo possível essa estimativa para o referido povoado
trabalhamos com as informações do Censo de 2000, que infere uma população de
3.937 habitantes.
Esse recorte foi feito com o intuito de diagnosticar elementos reveladores da
situação socioeconômica da população do entorno da fábrica, que se apresenta
através de estimativa do IBGE para o ano de 2004 em 128.868 habitantes nos
municípios de Belmonte, Eunápolis, Itagimirim e Itapebí.
Representando 3,05% do total da população dos municípios circunvizinhos que
qualitativamente sofre o impacto, supera totalidades de quaisquer índices
analisados.
O cálculo da amostra para a pesquisa survey propõe 7,5% de significância, 92,5%
de confiança e 3% de erro amostral onde na população total de 3.937 habitantes
encontra-se uma amostra de 338,71 habitantes.
Baseados no proposto pelo projeto o instrumento de pesquisa survey dividiu-se
em três partes: a primeira focando os dados da residência, que foi o nosso ponto
de referência de coleta, através do mapeamento fornecido pelo IBGE; o segundo
referente ao nível e inserção econômica da população pesquisada e o terceiro
referente à expectativa da população com a instalação da fábrica.
A seleção da amostra sistemática utilizada foi à totalidade dos setores
organizados para amostragem do Censo de 2000 (IBGE), em Barrolândia, que
compreende 6 setores com o intervalo de 10 em dez residências.
A coleta de dados se deu após preparação técnica de um grupo de
pesquisadores para ação que tinha como objetivo a aplicação do instrumento
de pesquisa como também a observação e documentação de imagens, fotos e
depoimentos.
Análise de dados Barrolândia
Toma-se essa comunidade como amostra, pois representa um recorte importante
da população e sua situação referente aos impactos negativos que a instalação da
fábrica de celulose trouxe e desenvolverá na região.
Essa pesquisa tem como objetivo pontuar o “marco zero” de uma série de outras
que seguirão, no sentido de medir os impactos negativos desse modelo de
desenvolvimento regional imposto à essa comunidade.
Dados da residência
1. Densidade domiciliar
23%
38%
20%
9%
10%
01a 03 Pessoas
04 a 05 Pessoas
06 a 07 Pessoas
acima de 07Pessoas
Não resp.Pessoas
3. Quantidade pessoas trabalhando
15%
16%
56%
13%
Nenhuma
Uma
Duas
Acima de 03
4. Condição domiciliar
70%
15%
11%
3%
1%
PrópriaAlugadaImprovisadaOutrosNão Resp.
A maioria da população vive em casa própria, com 70% dos informantes e em
média com uma densidade domiciliar de 3-4 pessoas por residência. O dado que
chama atenção é a quantidade de residências em que nenhum de seus membros
tem algum tipo de trabalho e/ou atividade remunerada,conforme Gráfico 3, que
aponta um índice de 13%.
6. Existe Sanitário?
67%
33%
Sim
Não
8. Abastecimento de água
98%
0%
2%
Rede Geralpoço/nascenteNão Resp.
Destino do lixo
97%
1%
2% coleta
jogado no rio
queimado
enterrado
nâo resp.
As condições Sanitárias se encontram em dados alarmantes, pois, em 33% das
residências não existem sanitários, porém essa população conta com
abastecimento de água e coleta de lixo.
Dados de Renda
21. Remuneração Atual
5. Renda Mensal Familiar
11%
39%32%
15%3%
Os dados referentes à renda familiar apontam para uma situação de emergência,
pois a população se divide entre os que estão em situação de miséria absoluta,
com 50% das pessoas que vivem com uma renda familiar de menos de um salário
mínimo, ou nenhum, e os outros 50% em situação de pobreza. Essa comunidade
demonstra, uma condição de igualdade em pobreza e miséria, pois os detentores
de renda da região não moram nessa comunidade.
O desemprego aparece em índices muito mais alarmantes que as médias
apresentadas pelos institutos de pesquisa para o país, que ficam em torno de
9,4% conforme IBGE (março 2005) contra os 38% de Barrolândia.
É importante salientar que a coleta foi feita em pleno andamento da construção da
Fábrica da Veracel Celulose, o que pode comprovar que, se temos uma pequena
comunidade de 3.937habitantes e a empresa promete 12 mil empregos na região,
inevitavelmente essa seria a comunidade mais atingida positivamente, assim
como foi, em seus aspectos negativos.
Não tem
Menos de umS.M
01 a 02 S. M
Mais de doisS.M
Não Resp.
53%38%
9%
Sim
Não
Não Resp.
Expectativa da população com a instalação da fábrica
23. Como avalia sua condição de vida:
42%
42%
6%
5% 5%
BoaRegularRuimPéssimaNão Resp.
27. Com a construção da fábrica da veracel, qual sua expectativa de
melhoria de vida:
74%
15%
1%
1%
9%
BoaRegularRuimPéssimaNão Resp.
Reafirmando argumento anterior, pode-se perceber que o nível de consciência da
população local está comprometido pelas condicionantes culturais apresentadas
na forma da Escolaridade da Tabela 07, onde indica um índice de analfabetismo
funcional no município de Belmonte, dos indivíduos de 10 a 14 anos, com menos e
4 anos de estudo, é de 70.18% , e relacionada a população economicamente
ativa, os indivíduos com mais de 15 anos de idade e com menos de 4 anos de
estudo é de 55%.
A situação educacional, pilar estrutural do desenvolvimento econômico
sustentável, frente as novas tecnologias e a condição de cidadania efetiva, está
comprometida pelo descaso e opção, por parte do estado brasileiro, no que diz
respeito aos seus investimentos.
Dessa forma, pode-se ainda ocorrer os dados referentes à expectativa da melhoria
de vida, entre boa e regular em 89%, com a vinda da fabrica da Veracel Celulose.
Esses mesmos indivíduos avaliam sua condição de vida, conforme demonstrado,
por dados oficiais, mesmo que forjados pelas médias, em boa e regular num total
de 84%.
REFERENCIAS
FOLHA DIRIGIDA. SEE-Ba: Edital em Outubro e provas em novembro. In: < http://www.folhadirigida.com.br/script/FdgDestaqueTemplate.asp?pStrLink=2,5,14,64542&IndSeguro=0> Acesso em 20/08/2005.
BAHIA. Política de Desenvolvimento para o Extremo Sul da Bahia. CADERNOS CAR, 3 Extremo Sul, 1994.
VIANA, Maurício Boratto. O EUCALIPTO E OS EFEITOS AMBIENTAIS DO SEU PLANTIO EM ESCALA. Brasília: Câmara dos Deputados, 2004.
COUTO FILHO, Vitor de Athaide. Produtivismo e ocupçãoi da mão de obra agrícola na Bahia: uma analise regionalisada da década de 1990. In: BHIA ANÁLISE & DADOS. Salvador, v.13, n.4, p. 969-990, 2004. NAÇÕES UNIDAS (1992). Agenda 21, capitulo 4, Mudança dos padrões de consumo. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/estruturas/agenda21/arquivos/cap01.pdf> Acesso em: 23 jan. 2005. REUTERS. Desemprego no Brasil tem menor nível desde 2002. In: <http://noticias.uol.com.br/economia/ultnot/reuters/2005/07/21/ult29u41801.jhtm >Acesso em 20/08/2005. PEDREIRA, Márcia da Silva. Complexo Florestal, desenvolvimento e reconfiguração do espaço rural: o caso da região do Extremo Sul baiano. In: BAHIA ANÁLISE & DADOS. Salvador, v.13, n.4, p. 1005-1018, 2004. DE’NADAI, Alacir; OVERBEEK, Winfridus; SOARES, Luiz Alberto. Promessas de emprego e destruição de trabalho: o caso Aracuz Celulose no Brasil. Brasil: Coleção do WRM sobre as Plantações, n. 2, 2005. PNUD. Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil. Software.disponível em < http://www.undp.org.br/HDR/Atlas.htm>. Acesso em 20/08/2005. IBGE. Censo 2000. In: < http://www.ibge.gov.br/censo/default.php> cesso em 20/08/2005.