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FACULDADE ALFREDO NASSER INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA
EJA: DA LEITURA DA PALAVRA À FORMAÇÃO DO CIDADÃO
Cintia de Paula Portilho Oliveira
APARECIDA DE GOIÂNIA
2010
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CINTIA DE PAULA PORTILHO OLIVEIRA
EJA: DA LEITURA DA PALAVRA À FORMAÇÃO DO CIDADÃO Artigo entregue ao Instituto Superior de Educação da Faculdade Alfredo Nasser como requisito parcial para obtenção do título de Licenciada em Pedagogia, sob orientação da professora Dra. Luciane Silva de Souza Carneiro.
APARECIDA DE GOIÂNIA
2010
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FOLHA DE AVALIAÇÃO DA PRODUÇÃO DO TRABALHO
EJA: Da leitura da palavra à formação do cidadão
Aparecida de Goiânia ___ de dezembro de 2010
EXAMINADORES
Orientadora – Profª. Dra. Luciane Silva de Souza Carneiro. – Nota: ___/ 70
Primeiro examinador – Profª. Ms. ------ Nora: ___/ 70
Primeiro examinador – Profª. Ms. ------ Nora: ___/ 70
Média Parcial – Avaliação da produção do Trabalho: ___/ 70
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A todos que tiveram a oportunidade de ler este artigo e refletir ao menos um pouco sobre o seu conteúdo, principalmente aos profissionais da educação.
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AGRADECIMENTO
Agradeço a Deus por ter me dado esta oportunidade de realizar mais um
sonho em minha vida, que sempre esteve ao meu lado me iluminando e me dando a
paz que eu precisava, proporcionando uma aprendizagem que me fez crescer como
profissional e um ser humano capaz de atingir metas e objetivos de vida.
A minha família pela paciência, dedicação e o carinho que sempre tiveram
por mim.
A minha amiga Simone que no decorrer destes quatro anos sempre me
incentivou e me fez acreditar que devemos buscar os nossos objetivos com otimismo
e força de vontade. As amigas do curso de Pedagogia que, com perseverança, se
tornarão profissionais na área da educação.
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Não é no silêncio que os homens se
fazem, mas na palavra, no trabalho, na
ação-reflexão.
Paulo Freire
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EJA: DA LEITURA DA PALAVRA À FORMAÇÃO DO CIDADÃO
Cintia de Paula Portilho Oliveira1
RESUMO: Este artigo tem como objetivo tratar da Educação de Jovens e Adultos do ponto de vista da leitura enquanto formadora do cidadão. Utiliza-se como metodologia a pesquisa bibliográfica tendo como referenciais teóricas, principalmente, Paulo Freire e Gadotti. Justifica-se esse artigo por se tratar de um tema de suma importância para aqueles que têm o interesse voltado para a sala de aula da EJA em especial, no que concerne à leitura como formadora do ser que atua socialmente, mas não uma leitura da palavra por si só, já que ao saber ler e escrever, o homem é capaz de interpretar o mundo de forma crítica e agir sobre ele. Dentro da sala de aula o educador é o responsável pela mediação do conhecimento, compartilhando da realidade de cada educando para conceber as "palavras geradoras" e promover a compreensão do mundo e a conscientização do modo de viver. A alfabetização de jovens e adultos, portanto, insere o indivíduo no mercado de trabalho como um cidadão mais crítico que sabe lutar pelo seu crescimento profissional e intelectual. Palavras-Chave: Leitura; Cidadão; Formação;
1. INTRODUÇÃO
Este artigo tem como objetivo tratar da Educação de Jovens e Adultos,
doravante EJA, a partir da perspectiva da formação do cidadão, ou seja, refletindo
sobre esta modalidade de ensino como uma peça fundamental na formação do
sujeito enquanto cidadão que atua socialmente. Isso significa pensar referente a
postura do professor da Educação de Jovens e Adultos também na sua postura
enquanto mediador de conhecimentos que propicia ao educando no que se refere a
formação deste como um sujeito que, especialmente, por meio da leitura e escrita da
palavra e do “mundo” se tornará um sujeito que compreende tanto os aspectos
sociais, como os culturais que foram historicamente constituídos e construídos.
Dessa forma, é importante fazer parte de uma história que pode ser construída junto
com o indivíduo que cursa a EJA.
O educador da EJA deve, neste sentido, abordar o ensino nesta modalidade
como gerador de conhecimentos, para que o educando seja um indivíduo que
amplie o seu leque de conhecimentos sobre o mundo em que vive e atua. Isto só
será possível através da leitura significativa que parte da vivência e do cotidiano,
razão esta, fundamental para compreender o quanto é importante a educação de
1 Acadêmica do 8º período do Curso de Pedagogia da Faculdade Alfredo Nasser
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jovens e adultos. Nesse contexto, o que se tem observado na realidade é um
indivíduo com baixa-estima, que acredita que é capaz de seguir seus objetivos de
vida aprimorando sempre seu conhecimento através da escola. Uma escola que
deve formar cidadãos cônscios e reflexivos.
O interesse pelo tema surgiu porque ao observar as idéias de Paulo Freire,
como um educador brilhante e cheio de conhecimentos que muito deixou em termos
de reflexões, especialmente no que se refere à defesa de que todos os indivíduos
devem ter acesso ao conhecimento e para isso basta acreditar em si mesmo, o
interesse foi automático. Para Paulo Freire, os sonhos devem se construir a partir de
uma história de vida como processo intelectual da escrita e leitura da palavra não
somente no papel, no ato mecânico de codificação e decodificação.
Para que estes sujeitos sejam inseridos no mercado de trabalho, e possam
estudar na EJA de forma que tenha outro olhar dentro da educação e dos seus
respectivos modos de vida, ou seja, para que seja um cidadão autônomo que saiba
tomar suas decisões, com objetivo de crescer e prosperar dentro da sua profissão
deve acreditar e ter objetivos na vida.
2. HISTÓRICO DO PROGRAMA DA EJA NO BRASIL
A educação de adultos percorreu ao longo de séculos uma trajetória que
nem sempre foi fácil até se configurar o que se tem nas escolas hoje, que mesmo
não sendo o ideal, já se tem grandes passos rumo a uma educação de qualidade
voltada para esse público.
Em seus primórdios, a educação de adultos visava somente à alfabetização
daqueles que não sabiam ler nem escrever e esta focava apenas a leitura da
palavra, a codificação e decodificação, bem aos moldes behavioristas. Entretanto,
com as próprias mudanças ocorridas na sociedade e em função delas, a educação
de jovens e adultos se modificou e atualmente se volta para uma educação que visa
a reflexão sobre o mundo e o contexto em que esse adulto se insere, concebendo a
leitura e a escrita como uma prática social. Tanto que Cagliari (2001, p. 10) afirma
que:
O domínio da escrita e o acesso ao saber acumulado têm sido uma das maiores fontes de poder nas sociedades e, por isso mesmo, privilégio das classes dominantes. Por que todos os indivíduos não passaram a ser
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alfabetizados desde o momento em que se inventou a escrita? Porque isso representaria o compartilhamento do saber do poder e do poder do saber.
Com estas palavras, o linguista brasileiro que tem inúmeros textos e livros
publicados na área da leitura e da escrita mostra que só tem acesso ao poder
aquele que domina a leitura e a escrita e dominá-las não é simplesmente saber o
código. É antes de tudo saber ler “o mundo”
Essa colocação de Cagliari está bem próxima das idéias de Gnerre (1998, p.
5):
A linguagem não é usada somente para veicular informações, isto é, a função referencial denotativa da linguagem não é senão uma entre outras; entre estas ocupa a posição central a função de comunicar ao ouvinte a posição que o falante ocupa de fala ou acha que ocupa na sociedade em que vive. As pessoas falam para serem “ouvidas”, às vezes para serem respeitadas e também para exercer influência no ambiente em que realizam os atos linguísticos. O poder da palavra é o poder de mobilizar a autoridade acumulada pelo falante e concentrá-la num ato linguístico.
Porém, ter acesso a esse poder é perigoso para as classes dominantes, pois
haveria em vários âmbitos igualdade de chances, o que certamente a classe
burguesa não aceita. Cagliari (2001. p. 11-12), ainda continua:
A instituição escola tem sido controlada pelos poderosos e não pelo povo. E são principalmente as pessoas do povo que buscam, através do estudo condições para ganhar mais, produzir e ascender socialmente. Mas a escola não propicia essa oportunidade a todos os indivíduos, submetendo-os, através de variados instrumentos, a rigorosa seleção. [...] A escola como instituição social sempre selecionou sua clientela. Já foi a escola dos filósofos, dos religiosos, da burguesa etc. e, mais recentemente, tonou-se também a escola dos pobres.
A história da educação no Brasil se inicia com os jesuítas, como bem
documentado nos livros que tratam do assunto. Esta era de cunho tradicionalista e
se voltava para o ensino-aprendizagem da língua portuguesa e outros poucos
conteúdos sobre números (matemática) e conteúdos diversos. Era um estudo
centrado apenas na gramática no que se refere à língua portuguesa. O indivíduo
deveria codificar e decodificar conforme os padrões (normas) da língua dominante e
o conhecimento prévio não era levado em consideração. Portanto, aquilo que não
estava de acordo com o padrão era erro. Em consequência, os alunos eram
punidos.
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A educação de adultos teve uma longa caminhada tão repleta de altos e
baixos e inúmeros foram os acontecimentos que possibilitaram chegar aos moldes
atuais. Ao longo do tempo, várias discussões surgiram no sentido de pensar na
alfabetização dos jovens e adultos que não sabiam ler e escrever.
No Brasil, a alfabetização de adultos iniciou-se precariamente durante a fase
colonial, através dos jesuítas, que alfabetizavam com o objetivo de levar os alunos
ao conhecimento básico da língua portuguesa. Sempre voltados para o interesse
religioso de salvação da alma humana e não com a preocupação de fazer dessas
pessoas, cidadãos conscientes e autônomos. Os jesuítas não visavam transformá-
los em seres críticos e libertos para que pudessem exigir seus direitos enquanto ser
humano.
Freire (2000), discute sobre essa ideologia tradicional que permanece, mas
discussões sobre essas idéias abriram caminhos para a revolução de 30, o que se
configurou em vários movimentos da classe média. Associados com os setores
descontentes da própria oligarquia, assinaram abertura de um longo processo de
transformações que abalou, em conjunto, as estruturas do Estado e da economia. A
indagação sobre o interesse efetivo do populismo numa mobilização autenticamente
democrática, como foi o movimento educação popular, mais complicada do que
poderia parecer em um primeiro exame.
Em todo este período histórico, no qual a ascensão popular não apenas se
realiza por via institucional, frequentemente estimulada através do Estado, a
ambiguidade do regime populista entre a mobilização democrática e a manipulação
aparece como uma característica central.
Com a crise do regime oligárquico em 1930, as condições para uma espécie
de “pacto” entre alguns dos setores da elite e as massas urbanas, ter-se-ia tornado
cada vez mais importante para a redefinição de um equilíbrio de forças entre os
grupos dominantes e esta reestruturação do poder. Inicialmente restrita aos grupos
de dominantes, se obrigou, no transcurso do processo histórico, a fazer-se
permeável à pressão dos setores populares urbanos. As massas ganham, então,
relevância que talvez se possa mesmo afirmar, particularmente depois de 1945, que
aparecem como a principal fonte de legitimidade do regime.
As idéias de Paulo Freire àquela época eram no sentido de favorecer o
ensino e aprendizagem das pessoas e na década de 1940 foi fornecida apenas para
a zona rural e a partir da década de 1950 foi vista com outros olhos, como uma
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educação libertadora para conscientizar os adultos como profissional e ser humano
socialmente atuante, pois pretendia priorizar o desenvolvimento de mão-de-obra
mais qualificada. Desse modo, foi uma educação também voltada para atos
políticos. Pensando nisso, a alfabetização, ou melhor, para se usar um outro termo
mais “moderno”, o letramento, e conscientização jamais se separam. Esse trabalho
merece destaque por ser o campo inicial do trabalho do Freire, o qual se encontra a
maior parte das experiências e, além disso, é um tema de grande relevância social e
política para Brasil, como em muitos outros países do terceiro mundo. Conforme o
artigo 37 da Lei de Diretrizes e Bases (Lei 9394/96):
Artigo 37 – A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria. § 1º - Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames. § 2º - O Poder público viabilizará e estimulará o acesso e a permanência do trabalhador na escola mediante ações integradas e complementares entre si.
O artigo 37 dispõe que o poder público deve oferecer ao jovem e ao adulto
que não era escolarizado, ou que não se alfabetizou na idade própria, recuperando o
tempo perdido e que se possa integrar à sociedade um novo conhecimento, que se
implantam em todo o mundo nesta passagem do século. Portanto, é uma
oportunidade apropriada para aqueles que não terminaram sua escolaridade no
tempo certo. O artigo 38 ainda completa que:
Artigo 38 – Os sistemas de ensino manterão cursos e exames supletivos, que compreenderão a base nacional comum do currículo, habilitando ao prosseguimento de estudos em caráter regular. § 1º - Os exames a que se refere este artigo realizar-se-ão: I. No nível de conclusão do ensino fundamental, para os maiores de 15 anos; II. No nível de conclusão do ensino médio, para os maiores de 18 anos. § 2º - Os conhecimentos e habilidades adquiridos pelos educando por meios informais serão aferidos e reconhecidos mediante exames.
Este artigo informa que o sistema de ensino deve oferecer, ainda,
oportunidades educacionais apropriadas à jovens e adultos que se encontram fora
da escola. Cuida especificamente de cursos e exames supletivos, que uma vez
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concluídos com êxito habilitarão seus titulares ao “prosseguimento de estudos em
caráter regular”.
Desde a criação do Plano Nacional de Alfabetização direcionado por Paulo
Freire uma educação, em que os trabalhadores pudessem ser alfabetizados com
consciência de liberdade, com o intuito de conhecer o mundo a sua volta, tendo a
consciência de seus atos políticos, econômicos e culturais. Sendo assim, as
pessoas mudaram sua forma de pensar e ver o mundo a sua volta, porém teve uma
retenção referente ao golpe militar de 1964, bem como o período posterior que
também foi ditatorial, em que todas as coisas eram abordadas e os militares
tomaram poder, acontecendo o golpe de estado.
Antes das Leis que entraram em vigor nas duas últimas décadas foi criada a
lei nº 5379 de 15 de Dezembro de 1967, que propôs a alfabetização funcional de
jovens e adultos, visando conduzir a pessoa humana a adquirir técnicas de leitura,
escrita e cálculo para integrá-la a sua comunidade, permitindo dessa forma,
melhores condições de vida, ou seja, visava somente contradições inerentes ao
sistema capitalista. Se a pessoa soubesse ler e escrever estaria pronta para o
mercado de trabalho, portanto, não necessitando neste contexto, conhecimentos de
seus atos de vivência do mundo, não havia a necessidade de diálogos visando
somente para a mão de obra trabalhista, a falta de conhecimentos desses cidadãos
analfabetos para construir sua história juntamente com a elite.
A LDB 5692/71 que contemplava o caráter supletivo da EJA nos anos de
1970, trouxe o Mobral que cresceu por todo território nacional, de suma importância
para quem não era alfabetizado, principalmente para aqueles que não dominavam a
leitura e a escrita, os chamados analfabetos. Portanto, teve uma mudança fazendo
com que os alunos aprendessem a ler e escrever sem nenhuma preocupação de
formação do homem, mas baseada na formação profissionalizante.
Segundo Gadotti (2005), a educação voltou a ser entendida como suplência
da educação fundamental (escola formal). O objetivo da educação de adultos era
reintroduzir jovens e adultos, sobretudo os analfabetos no sistema formal de
educação.
Ate a década de 80 o Mobral não parou de crescer, difundido- se por todo o
território nacional e diversificando sua atuação. Uma de suas iniciativas foi o
programa de Educação Integrada (PEI), que condensava o “primário” em poucos
anos e abria a perceptiva de continuidade dos estudos aos recém - alfabetizados do
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Mobral a escolaridade se ampliou para a totalidade do ensino de 1° grau. Foram
então redefinidas as funções desse ensino, o MEC promoveu a implantação dos
centros de ensino supletivo (CES) a fim de atender todos os alunos inclusive os
egressos do Mobral que desejassem contemplar os estudos fora da idade
regulamentada para as séries iniciais do ensino de primeiro grau (GADOTTI, 2002).
Gadotti (2002), informa que a seção dedicada à educação básica de jovens
e adultos da LDB n° 9394/9, reafirmou o direito destes alunos a um ensino básico
adequado às suas condições, e o dever do poder público de oferecê-lo,
gratuitamente, na forma de cursos e exames supletivos. A lei alterou a idade mínima
para realização de exames supletivos para 15 anos, no ensino fundamental, e 18 no
ensino médio, além de incluir a educação de jovens e adultos no sistema de ensino
regular.
As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos,
Resolução CNE n° 1/2000, definem a EJA como modalidade da Educação Básica e
como direito do cidadão, afastando-se da idéia de compensação e suprimento e
assumindo a de reparação, equidade e qualificação - o que representam uma
conquista e um avanço.
A LDB nº 9394/96 prevê que a educação de jovens e adultos se destina
àqueles que não tiveram acesso (ou não deram continuidade) aos estudos no ensino
fundamental e médio, na faixa etária de 7 a 17 anos e deve ser oferecida em
sistemas gratuitos de ensino, com oportunidades educacionais apropriadas,
considerando as características, interesses, condições de vida e de trabalho do
cidadão.
Muitos jovens e adultos ingressam no mundo do trabalho e, com isso,
precisam abandonar seus estudos. Desse modo, a EJA foi uma oportunidade muito
grande para que esses cidadãos tivessem acesso ao estudo, aproveitando suas
experiências, pois de acordo com a filosofia freiriana, todas as práticas e
conhecimentos de mundo que o aluno traz para a sala de aula da EJA devem ser
respeitados. Portanto, a EJA veio para transformar a população chamada de
“iletrada”, “analfabeta”, em cidadãos críticos autônomos.
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3. O PROFESSOR DA EJA COMO FORMADOR DO SUJEITO AUTÔNOMO E
CONSCIENTE
O professor, ao adentrar a sala de aula certamente o faz, por conceitos ou
por preconceito influenciados. Suas ideologias irão de uma forma ou de outra refletir
aquilo que faz na prática. Assim, a formação do professor que almeja uma sala de
aula de adultos deve primar por reflexões sobre esses sujeitos, sua formação e sua
visão. Não só referente às disciplinas escolares, mas, principalmente à suas
reflexões e sobre o que se deve levar em consideração na sala de aula da EJA.
A educação como prática da liberdade enfoca a preocupação do educador
com o cidadão em um mundo mais humanizado, ou seja, objetiva tornar homens em
sujeitos autônomos e conscientes, tendo como seguir seus objetivos e idéias.
Através desse ensino, o educador deve propor (na interação em sala de aula), como
conseguir essa autonomia e como ter consciência e reflexão sobre o seu papel
enquanto um cidadão transformador. Sendo assim, essa luta do homem para ser
livre, e não viver como oprimido, principalmente deixar de ser oprimido para ter
liberdade de uma boa educação igualmente a todos.
O educando tendo uma visão ampla da proposta de tornar o sujeito
autônimo será um cidadão presente e que saiba acompanhar o contexto pelo qual
faz parte. Caso contrário se sentirá oprimido, pois acaba acreditando que não tem
capacidade de aprender, mas o educador deve incentivar o educando e mostrar que
todos são capazes, basta acreditar e confiar em si mesmo e através da leitura se
tornar um ser crítico. Segundo Freire (1995, p. 28):
O educador sempre deve saber ensinar com respeito, humildade sabendo lhe dar com o seu aluno desafiando a forma de ensinar, sendo assim, o aluno da EJA aprende muito mais lendo um contexto de leitura de mundo, leitura de um texto e de uma palavra, portanto deve apreciar os contextos vividos e reconhecer a compreensão do aluno em vários aspectos, pois lhe damos com a formação de seres humanos tornando seres marcantes no mundo tendo consciência do que é ensinar e compreender a leitura da palavra para a formação de um cidadão que saiba defender o que compreendeu em sua volta. O ensinante que assim atua tem no seu ensinar, um momento rico do seu aprender. O ensinante aprende primeiro a ensinar mas aprende a ensinar ao ensinar algo que é reaprendido por estar sendo ensinado.
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Para uma educação libertadora, aprender a ler e escrever deve ser o
primeiro passo, e respeitar o saber que se forma na vivência cotidiana. Nesse
sentido, Paulo Freire revolucionou a educação ensinando a construir sua própria
autonomia e afirmando que o ato de educar é um ato de socializar.
O objetivo da educação de jovens e adultos é promover esta ampliação da
visão do mundo, pois o educando melhora sua qualificação e sua intervenção nele, e
isso é facilitado mediante uma relação dialógica. Portanto, a partir desta idéia os
educandos serão produtores de uma cultura mais produtiva que vivenciamos no
nosso dia-a-dia.
De acordo com a concepção bancária, cuja educação é o ato de depositar,
de transferir, de transmitir valores e conhecimentos, não se verifica nem se pode
verificar se há esta superação, ou seja, refletindo, a sociedade aprimora, sendo
dimensão da “cultura do silêncio”. A “educação bancária” mantém e estimula a
contradição, pois quem aprende e apenas o educador e o educando só houve não
tem direito de pensar, questionar, raciocinar, sendo um mero objeto de sala de aula.
Com esta concepção, não tem como um educando sair com olhar diferente.
Portanto, deve-se conscientizar o homem para que a leitura do mundo amplie seu
círculo de cultura, pois através dele as pessoas aprendem a ser mais reflexivas e
transformadoras. Segundo Freire (1987, p. 58):
Na visão “bancária” da educação, “o saber” e uma doação dos que se julgam nada saber. Doação que se funda numa das manifestações instrumentais da ideologia da opressão, a absolutização da ignorância, que constitui o que chamamos de alienação da ignorância, segundo o qual esta se encontra sempre no outro.
Para a sociedade passar por uma transição do aprender com democracia,
ou seja, todos buscariam uma educação corajosa, ofertando o direito comum e seu
direito a participação a novas experiências correspondente a nova cultura,
experiência do diálogo, da investigação. Portanto, essa força de trabalho faria
pensar em uma educação para melhorar no futuro.
Segundo Gadotti (2000, p. 104), “a educação é um ato de amor, por isso, um
ato de coragem, não se pode temer o debate. A análise da realidade não se pode
fugir à discussão criadora, sob pena de ser uma farsa”. É o ato de dedicar-se com
amor à profissão de professor que o tira da condição de mero transmissor de
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conhecimento e eleva a condição do aluno a mais que apreende, ou aquele que
somente aprende.
Na visão de Gadotti (2000), é necessário que haja uma educação que
remete a passagem da transitividade de um ser ingênuo a um ser crítico. Para tanto,
coloca-se o homem em condições de resistir aos poderes da emocionalidade da
própria transição através de uma educação para todos de forma igualitária.
Segundo Gadotti (2000), a educação deve possibilitar ao homem a
discussão corajosa de sua problemática, sendo assim, ganha força para lutar
democraticamente com diálogo constante um com o outro. Esta expressão de
racionalidade, segundo Sócrates, da consciência das próprias limitações, a modéstia
intelectual dos que sabem quantas vezes erram e o quanto dependem dos outros
até para um conhecimento mais real.
Nos escritos de Paulo Freire (1997, p. 57), foi mostrado o compromisso com
a construção de um conhecimento autêntico (que partisse da realidade brasileira, e
que desse respostas aos problemas vividos pelo povo) e orgânico (em estreita
relação com a realidade vivida, buscando transformá-la), por isto, a palavra
mudança está intimamente ligada à compreensão critica da realidade vivida, ou seja,
a leitura do mundo. É apontado por Paulo Freire é a consciência de nosso
“inacabamento”, da nossa condição de "sujeito histórico". Ele afirma que [...] o
inacabamento do ser ou sua inconclusão é próprio da experiência vital. Onde há
vida, há inacabamento. Mas só entre homens e mulheres o inacabamento tornou-se
consciente.
Em outro momento, Freire define que o que diferencia o ser humano dos
outros seres é sua capacidade de dar respostas aos diversos desafios que a
realidade impõe. Porém, essa apreensão da realidade e esse agir no mundo não se
dão de maneira isolada. É na relação entre homens e mulheres - e entre estes e
estas com o mundo - que se constrói uma nova realidade e que se fazem novos
homens e mulheres, criando cultura e fazendo história. (1997, p. 51).
A perspectiva freiriana parte das interações do homem com a realidade
resultante de estar com ela e de estar nela, pela ação de criação, recriação e
deliberação de homens e mulheres dinamizando o seu mundo, dominando a
realidade, se humanizando, temporizando os espaços geográficos e assim
produzindo cultura. A consciência do inacabamento é também importante porque
nos alimenta a esperança, leva-nos à utopia, ao projeto futuro, à crença na
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possibilidade de mudança para Paulo Freire (1997) "Só na convicção permanente do
inacabado pode encontrar o homem e as sociedades o sentido da esperança. Quem
se julga acabado está morto". (p. 61).
Neste sentido, homens e mulheres, na sua incompletude e na sua afinidade
com o mundo e com outros seres, buscando dar réplica aos desafios de seu
contexto, edificam o seu conhecimento. Para Paulo Freire (1981), o conhecimento é
resultado desse processo, dessa construção coletiva. Por isso, afirma que "Ninguém
educa ninguém. Os homens se educam em comunhão" (p. 79). Nessa visão, o
conhecimento nasce do ato, da inclusão entre os seres humanos e destes com o
mundo e da nossa interferência no mundo, novos conhecimentos vão sendo
construídos.
O diálogo torna-se condição para o conhecimento. O ato de conhecer ocorre
em um processo social e o diálogo é o mediador desse processo. Transmitir ou
receber informações não caracterizam o ato de conhecer. Conhecer é apreender o
mundo e essa não é uma tarefa solitária. Ninguém conhece sozinho. O processo
educativo deve desafiar o educando a penetrar em níveis cada vez mais profundos e
abrangentes do saber.
Do ponto de vista abordado, não importa onde esse educador trabalhe, a
grande dificuldade, ou a grande aventura é como fazer da educação algo que, sendo
séria, rigorosa, metódica, e tendo um processo sistematizado, também cria felicidade
e alegria, ou seja, na educação de jovens e adultos o educador deve incentivar,
motivar o educando, pois estudar não é algo fácil mas depende do interesse do
aluno e da motivação do professor, mas não perdendo o foco destinado ao ensino.
Freire (2003, p. 177) afirma que:
O professor tem o papel de dirigir ou o papel de falar, mas tem obrigação de transformar o falar para em falar com, por exemplo. Então, para muitas pessoas, ia além de alguns riscos que só nos sempre temos nesse relacionamento é algo que não está claro, um dos erros que podemos cometer em nome da liberdade dos alunos e das alunas é se eu, como professor, paralisar minha ação e minha obrigação de ensinar: Em última analise eu deixaria os alunos sozinhos, e isso seria cair em uma espécie de irresponsabilidade. Neste momento, temeroso de assumir a autoridade, eu perco a autoridade. A autoridade é necessária para o processo educacional e também necessária para a liberdade dos alunos e a minha própria.
De acordo com essa concepção, o educador não deve ser o dono do saber,
mas deve saber “transmitir” o conhecimento respeitando a diversidade cultural que
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cada um carrega no decorrer de sua história, respeitando o círculo de cultura
inexistente dentro de si.
À medida que ensina e educa, o professor aprende com o aluno e deixa de
ser transmissor de conhecimento, mas que também gosta de receber do educando o
que aprendeu, ou seja, ao ensinar ele educa e ao educar ele ensina e aprende,
diminuindo as barreiras e os obstáculos e sabendo levar a vida com liberdade
tornando cidadãos cônscios de sua responsabilidade no mundo.
Esta concepção de educação libertadora exige a dialogicidade, ou seja, a
leitura do mundo coletiva. É a partir dela, que o nível de percepção dos educandos,
e as suas visões de mundo são organizadas. A realidade imediata vai sendo inserida
em totalidades mais abrangentes, revelando ao educando que a realidade local,
existencial possui relações com outras dimensões regionais, nacional, continentais,
planetária e em diversas perspectivas: social, política, econômica que se
interpenetram.
Isto faz o sujeito ter uma postura diante da realidade e do ato de conhecer
fundamentalmente a vida, a sua curiosidade. Esta que se fez epistemologicamente
visto que assumida como compromisso de tornar a leitura mundo, cada vez mais,
identificada e sofisticada face os fenômenos que integram e condicionam nossa
existência.
O papel do professor seria, então, o de fazer com que o educando possa
seguir caminhos, ou seja, ser um sujeito que tenha sua própria autonomia e
consciência no que deve seguir ao longo de sua caminhada, sendo assim, a EJA.
Afirma Freire (2003 p. 185):
Quanto mais seguro você for, quanto mais clara for sua compreensão de mundo, tanto mais você receberá que está aprendendo a por a compreensão em prática, você sabe que está muito longe de realizar seu sonho, mas se não fizer alguma coisa hoje, irá se tomar um obstáculo para centenas de pessoas que ainda não nasceram. A ação dessas pessoas no século vindouro depende de nossa ação hoje. Acho que esse tipo de educador tem que ter isso bem claro.
Além disso, para Freire (2003), o educador tem que ter um senso de
humildade nos seus atos de ensinar, pois à medida que você estuda que você lê
você se torna melhor enquanto sujeito atuante socialmente e desenvolve o seu
intelectual. Dessa forma, respeitar o educando e saber que na sua história de vida
existem experiências que edifica o aprendizado e conhecimento de forma
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abrangente é essencial. Daí, a importância de se valorizar as virtudes que se tem e
de criar e recriar um desenvolvimento intelectual, Conforme Freire (2003, p. 188):
[...] uma das virtudes que eu acho que nós educadores e educadoras temos que criar, porque tenho certeza também de que não recebemos virtudes como dons, fazemos as virtudes não intelectualmente, mas através da pratica uma das virtudes que temos que criar em nós mesmos como educadores progressistas é a virtude da humildade.
O pensamento crítico ajuda, portanto, a criar algo interessante em nossa
forma de viver e os educandos da EJA não ficam imobilizados naquilo que não lhes
interessa, mas se tornam sujeitos críticos que sabem lutar pelos seus ideais a fim de
saber o que fazer diante de qualquer situação. Mas o primeiro passo é acreditar em
si mesmo, lutando e agindo, enfrentando todos os obstáculos sem medo e com
muita força para alcançar seus objetivos ao longo do caminho. Isso talvez seja
sonho, mas um sonho muito bem sonhado por Paulo Freire e que, se seguido,
renderá bons frutos.
O educador precisa fazer a diferença como profissional, cumprindo sua
tarefa de ensinar aos seus educandos a forma certa de pensar, raciocinar e
“transmitir” conhecimentos de tudo aquilo que aprendeu. Sendo assim, os alunos da
EJA têm um histórico de vida cheio de aprendizagem e construção de
conhecimento. Para Freire (2003, p. 33):
Por isso também é que ensinar não pode ser um puro processo, como tanto tenho dito, de transferência de conhecimento da encenaste ao aprendiz. Transferência mecânica de que resulte a memorização maquinal que já critiquei. Ao estudo crítico correspondente um ensino igualmente crítico que demanda necessariamente uma forma critica de compreender e de realizar a leitura da palavra e a leitura de mundo, leitura do texto e leitura do contexto.
O ponto de vista de ensinar a leitura é um ato muito importante para a
sociedade, ler implica sempre em querer ler mais e mais. Portanto, deve ser algo
prazeroso e não uma mera obrigatoriedade para obter nota. Porém, a leitura não é
um exercício nada fácil, exigente, mas gratificante. Ninguém lê ou estuda
autenticamente se não assume, diante do texto ou do objeto da curiosidade a forma
crítica de ser ou de estar sendo sujeito da curiosidade, sujeito da leitura, sujeito do
processo de conhecer em que se acha. Ler é procurar ou buscar criar a
20
compreensão do lido; daí entre outros pontos fundamentais, a importância do ensino
da leitura e da escrita.
De acordo com Freire, para alfabetizar jovens e adultos tem-se como um fio
condutor não apenas o campo cognitivo, mas os campos sociais e políticos.
Portanto, a utilização das palavras geradoras e do círculo de cultura assume papel
essencial no ensino. Feitosa (2008, p. 86) afirma que:
A proposta de utilização dessa metodologia na alfabetização de jovens e adultos foi bastante inovadora e diferente das técnicas até então utilizador, que eram, na maioria das vezes resultado de adaptações simplistas das cartilhas. Foi diferente possibilitar uma aprendizagem não mecânica, que requer uma tomada de posição diante dos problemas que vivemos. Uma aprendizagem integradora, abrangente, não fragmentada, com forte teor ideológico. Foi diferente, pois promovia a horizontalidade da relação educador/educando, a valorização da cultura primeira do alfabetizando, de sua oralidade, enfim, foi diferente acima de tudo, por seu caráter humanístico.
Como caracteriza o autor, o educador que trabalha com a EJA deve sempre
procurar motivar suas aulas, dando oportunidades do aluno dialogar, a fim de buscar
respostas que superem as dificuldades que enfrenta no seu cotidiano. Portanto, é
muito importante essa educação conscientizadora, libertadora e transformadora de
conhecimentos para se tornar através da leitura da palavra um cidadão autônomo,
consciente em seus atos sociais, econômicos e políticos.
É na interculturalidade que o sujeito constrói sua identidade que percebe
enquanto sujeitos que sente, pensa e age, compreende que é possível transformar o
mundo que os mediatiza. Aprender através da realidade, mas não se acomodam
diante dela, ao contrário, busca instrumentos para superar os estereótipos, e a
prolixidade de preconceitos estabelecida pela cultura alienante e alienada.
4. LEITURA FORMAÇÃO DO CIDADÃO
Para Paulo Freire, a leitura de mundo precede a leitura da palavra, por isto
ele afirma (2003, p.15) “toda leitura da palavra pressupõe uma leitura anterior do
mundo, e toda leitura da palavra implica a volta sobre a leitura no mundo, de tal
maneira que ler mundo e ler palavra se constituíam um movimento em que não há
ruptura, em que você vai e volta”. Entretanto, Paulo Freire aponta que a escola não
21
tem oportunizado este movimento sem ruptura entre o ato de ler o mundo e o ato de
ler a palavra causando assim uma dicotomia que segundo Freire (2003, p. 164):
O que é que eu quero dizer com dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo? Minha impressão é que a escola está aumentando a distância entre as palavras que lemos e o mundo em que vivemos. Nessa dicotomia, o mundo da leitura é só o mundo do processo de escolarização, um mundo fechado, isolado do mundo onde vivemos experiências sobre as quais não lemos. Ao ler palavras, a escola se torna um lugar especial que nos ensina a ler apenas as “palavras da escola”, e não as “palavras da realidade”. O outro mundo, o mundo dos fatos, o mundo da vida, o mundo no quais os eventos estão muito vivos, o mundo das lutas, o mundo da discriminação e da crise econômica (todas essas coisas estão aí), não tem contato algum com os alunos na escola através das palavras que a escola exige que eles leiam. Você pode pensar nessa dicotomia como uma espécie de “cultura do silêncio” imposta aos estudantes. A leitura da escola mantém silêncio a respeito do mundo da experiência, e o mundo da experiência é silenciado sem seus textos críticos próprios.
Para esse educador, o aprendizado deve ser significativo, isto é, textos que
só existem nas cartilhas, nos livros didáticos cuja finalidade é aprender a ler através
da decodificação pela decodificação, não faz sentido, não alimenta, o cognitivo, nem
a alma. Paulo Freire propõe trazer para dentro da escola o mundo para que o ato de
ler torne-se repleto de significados reais.
A leitura tem como finalidade essencial a formação de sujeitos produtores de
história e cultura. Para que isto aconteça, a leitura deve ser viva e presente no
cotidiano do leitor, em que seja possível refletir sobre a realidade e tentar recriá-la.
Por isto, o ato de ler é antes de tudo, um ato de conhecimento, um ato criador, no
qual o leitor é um sujeito com criatividade e responsabilidade na construção de seu
conhecimento.
O aluno da EJA muitas vezes fica vários anos sem estudar, e não tem
aquele estimulo para leitura, sendo assim, tem dificuldades para ler e escrever e
interpretar texto, e somente com o tempo e dedicação, o aluno vai construindo cada
vez mais a sua leitura, precisando ter um esforço para a compreensão da leitura das
palavras. Portanto, o trabalho do professor é sempre motivar e buscar recursos que
favoreçam uma boa leitura para este cidadão, levando para a sala de aula revistas,
jornais, panfletos e materiais para que esse aluno seja estimulado ao ato de ler e,
consequentemente, ao ato de escrever. Mas, isso deve ir muito além do ao
mecânico, da decodificação e codificação a palavra, desenvolvendo e aprendendo
com a leitura da palavra e texto.
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O educador da EJA deve buscar sempre fazer círculos de cultura com os
alunos para saber qual palavra geradora deve ser trabalhada dentro do contexto do
seu dia-a-dia. Esse “método” modifica muito o aprendizado, pois esses alunos têm
uma história de vida rica em conhecimentos que podem trazer da sua realidade de
mundo para ser trabalhado na sala de aula.
A leitura é fundamental na vida destes educando trazendo conhecimentos
que dão significação de mundo, sendo que aquele cidadão que não poderia pegar
nem um ônibus por não saber ler, com a leitura pode se tornar autônomo e
independente para tomar suas decisões sozinhos, sendo assim, o aluno da EJA,
com a leitura da palavra se torna um cidadão informativo que saiba dar significação
na sua vida. Portanto, este aluno da EJA precisa estar sempre buscando cada vez
mais aprender a ler dando significação no contexto de leitura, por isso pode ser um
livro, um ônibus, um outdoor e tudo que dê significados para sua vida. De acordo
com Solé (1988, p. 91):
Ler é muito mais do que possuir um rico cabedal de estratégias e técnicas. Ler é sobretudo uma atividade voluntaria e prazerosa, e quando ensinamos a ler devemos levar isso em conta. Os alunos e os professores devem estar motivados para aprender e ensinar a ler.
Na sala de aula da EJA a leitura é um instrumento muito importante porque,
possibilita ao aluno ter mais conhecimentos e, com isto, está sempre aperfeiçoando
a leitura e adquirindo conhecimentos diferentes, novos. Isso o torna um sujeito que
através da leitura se torna cidadão e se mais produtivo nas suas atividades.
Uma proposta de Paulo Freire é que a leitura não se dá somente na leitura
da escrita da palavra, mas na leitura de mundo que o educando traz para a escola
com toda uma história de vida, cheia de experiências e acontecimentos já vividos.
Sendo assim, o educador busca trabalhar com o diálogo buscando essas finalidades
da leitura para ensinar o aluno a ter essa vivência de mundo transformando em
críticos e sabedores da realidade política e social.
As situações da leitura mais motivadora para o educador trabalhar na EJA, é
sempre buscar recursos que favoreçam no processo de leitura e,
consequentemente, de escrita a partir do contexto vivido por ele no seu dia-a-dia e
não trabalhar com palavras fragmentadas, mas que dão sentida a realidade
vivenciada por este aluno. "Quando se Lê" com o objetivo de "saber como fazer", é
23
imprescindível compreender o texto lido, e no caso de fazer uma coisa coletiva,
deve-se garantir que essa compreensão seja compartilhada (SOL, 1998, p. 94).
4.1. Alfabetizar e Letrar: Algumas reflexões
Para alfabetizar um aluno da EJA na proposta freiriana, o alfabetizador tem
de buscar, na sala de aula círculos de cultura que envolvam diálogos, ou seja,
buscando essa conscientização de forma critica, fazendo relações em que é vivido
no seu cotidiano transformando o conhecimento em vários aspectos para que haja
uma forma de aprender com significação e não somente por um mero conhecimento
solto que não tenha reflexão e critica da realidade do aluno. Portanto, não basta
saber ler e escrever para alfabetizar, tem de ter conhecimentos que ajude esse
educando a ter uma reflexão sobre a palavra tornando consciente do que foi lido,
possibilitando transformá-lo. Segundo Soares (2008, p. 120):
A alfabetização não apenas para aprender as técnicas de ler e escrever, mas alfabetização como tomada de consciência, como meio de superação de uma consciência ingênuo e conquista de uma consciência crítica, como promoção da ingenuidade em criticidade.
A alfabetização durante muitos anos é vista como prática neutra, focando
apenas no ato de ler e escrever pautado na codificação e decodificação de palavras
de forma mecânica. Sendo assim, não ajuda a ter uma aprendizagem significativa,
mas fragmentada no sentido somente de decorar textos e palavras.
A concepção que Freire revolucionou até os dias de hoje e está em
circulação, tornando o individuo não só alfabetizado enquanto pessoa, mas
consciente dos seus atos sociológicos, culturais e políticos.
Esta visão, baseada na concepção interacionista é muito importante tanto
para o alfabetizador quanto para o alfabetizando, pois ambos aprendem e
compreendem um ao outro, sendo um meio transformador de conhecimentos já que
através da leitura da palavra é possível se tornar um cidadão consciente e
responsável pelos seus atos.
Com isto, o aluno interage com a leitura e escrita e o conhecimento de
mundo já apreendido, oferece oportunidades para a conscientização de suas
escritas e palavras criadas. “Palavras que não sejam apenas objetos de mecânicas
24
operações de decomposição e recomposição, mas que se insiram no universo
semântico de situações existenciais das quais brotem, plenas de significados na
verdade, não só palavras geradoras, mas temas geradores” (SOARES, 2008, p.
120)
Ao alfabetizar o aluno da EJA é muito gratificante para o educador e
educando, pois esta consegue dar mais significado em sua vida. Com isto, se torna
importante ao saber que algo desconhecido torna-se mais sabedor de
conhecimentos, se tornando independente e sabedores de conhecimentos. Portanto,
o educando que estuda e luta pelos seus ideais transformam cidadãos em
emancipados. Para Soares (2008, p. 19-20):
[...] O domínio da linguagem falada e da leitura e da escrita [...] uma pessoa alfabetizada tem a capacidade de falar, ler e escrever com outra pessoa e a consecução da alfabetização implica aprender a falar, ler e escrever de forma competente.
O aluno da EJA é um exemplo para qualquer cidadão, pois, aprende a ter
significação na escola de algo já aprendido e compreendido na sua história de vida,
ou seja, vai para a sala de aula para aprender mais um pouco sobre a leitura e
escrita das palavras. Com isto, se torna um cidadão de grandes capacidades para
seguir no seu cotidiano.
4.2. O que é ler? Porque é difícil ler?
A leitura é muito importante na vida de qualquer pessoa, porque, é lendo que
aprendemos algo. Compreender e entender a nossa vida. Sendo assim, a leitura é
fundamental, para um aluno da EJA é muito enriquecedor saber ler uma palavra, ler
uma carta, ler uma frase para compreensão de um significado que nos faz responder
o que esta dizendo. Portanto, quanto mais lemos e compreendemos, mais
desenvolvemos a nossa capacidade de entender. Segundo Feitosa (2008, p. 16):
A leitura da palavra, não só é precedida pela leitura de mundo, mas a apresenta-se como uma forma de reescrevê-lo. Essa é, para ele, a essência da alfabetização. Ao organizar seu trabalho de alfabetização de adultos, partindo do universo vocabular do grupo de educandos (as), Freire considerava a visão de mundo do grupo, na medida em que trazia para a sala de aula sua linguagem real, seus sonhos, anseios, inquietações.
25
Através da leitura e escrita, o aluno da EJA muda o pensamento, adquire
mais conhecimentos e tem muito mais rendimento no seu cotidiano. Sendo assim,
alunos da EJA que ficaram muito tempo sem ter uma leitura podem adquirir ao
decorrer do aprendizado, pois uma pessoa não muda sua forma de ler de um dia
para outro, mas com sua persistência a ler. Portanto, é difícil, mas prazeroso quando
pergunto para mim mesma, o porquê tenho que ler? Qual o objetivo chegar ao ler
um livro, e para quê tenho que ler? São perguntas que estimulam mais o porquê da
leitura, na sala de aula, por isso o educador sempre deixar que o aluno tome
iniciativa no que quer aprender, portanto é muito importante essa mediação do
educador com educando, pois transforma o individuo em um ser que tem
capacidade de aprender.
Existem leituras que são prazerosas de ler, se lê porque é divertido e
interessante, mas também reflexiva.
5.3. Paulo Freire: Leitura da Palavra
A leitura da palavra na perspectiva freiriana é saber o que é leitura e escrita
não apenas decodificando e codificando palavras, não somente de livros e texto,
mas compreendendo o mundo à sua volta, ou seja, o seu trabalho, a família. E, a
partir de algumas palavras formam outras palavras geradoras de conhecimentos e o
aluno pode vivenciar o que aprendeu durante sua história de vida.
Na sala de aula da EJA, vivencia-se o quanto os educandos são sabedores
de conhecimento, tendo uma grande leitura de mundo e o educador pode explorar
estes aprendizados trabalhando o cotidiano, buscando sempre perguntas que levam
ao diálogo e ao conhecimento deles, para refletir e criar conscientização no seu
modo de viver.
Na medida em que este educando vai transformando sua maneira de
pensar, olhando as questões que englobam a sociedade, ou seja, se torna sabedor
das participações políticas, é capaz de ver as coisas com outro olhar, no que se
refere a sociedade e a educação. Com isto, a leitura de mundo transforma em
grandes homens capazes de buscar os seus conhecimentos e objetivos de vida.
Portanto, é importante ter conscientização de saber que a leitura da palavra mundo,
faz com que o cidadão da EJA busca uma palavra que tenha significação no sentido
de aprimorar mais conhecimentos. Segundo Freire (1981, p. 25):
26
Ao ouvir pela primeira vez a palavra conscientização, percebi imediatamente a profundidade de seu significado, porque estou absolutamente convencido de que a educação como prática da liberdade é um ato de conhecimento uma aproximação critica da realidade.
O educador da EJA deve explorar as palavras de mundo, ou seja, o
cotidiano deste educando, seja no trabalho, na escola, ou até mesmo nos costumes
do seu dia-a-dia, como ir ao supermercado, pegar um ônibus, sendo meios de usar a
palavra geradora para que este educando saiba conscientizar dos seus direitos,
abordando condições de pensar como sujeitos críticos que possam mudar a forma
de ensinar na educação tendo libertação de oprimidos como sujeitos de liberdade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A leitura e releitura de mundo possibilitam desvelar a própria realidade como
também reescrever a própria história. Reescrever significa na visão freiriana
transformar, isto é, desconstruir a organização social que vigora e impõe, para
construção de outra sociedade multicultural, na qual diversas comunidades
convivem ao se encontrar. Dessa forma, é necessário reconquistar a humanidade
roubada pela injustiça, pela exploração e pela opressão. O resultado dessa
conquista irá consubstanciar a criação de outro mundo mais justo, um mundo das
diversas cores, povos, comidas, músicas e danças. Portanto, é valido sonhar e lutar
para construção de uma sociedade multicultural.
Sendo assim, refletir sobre a capacidade do crescimento de jovens e adultos
para que não desistam de seus ideais, transformando-se em cidadãos diferentes nos
seus atos de agir e pensar com leitura de palavra e mundo é essencial para
transformação do mundo. As obras lidas e a vivência cotidiana mostram o quanto o
indivíduo é capaz. Além disso, a história de vida possibilita repensar que sempre se
está diante de situações que se pode aprimorar, basta acreditar no potencial que
cada um tem.
O que se observou, então, é que Paulo Freire almejava uma sociedade
multicultural que fosse política, não racista, não elitista, não machista, não
etnocêntrica [...] Uma sociedade que se propunha a formar gente pensante, ativa,
política, crítica e ética. Que fosse capaz de ouvir o outro mesmo este outro sendo e
27
pensando de maneira diferente, mas que acima de tudo ocorra risco. Para Paulo
Freire (1997), é própria do pensar certo a disponibilidade de risco, a aceitação do
novo que não pode ser negado ou acolhido só porque é novo assim ,como o critério
de recusa ao velho não é apenas o cronológico. O velho que preserva sua validade
ou que encarna uma tradição ou marca uma presença no tempo continua novo (p.
39).
Uma educação para todos não somente para a elite, de forma que todos os
cidadãos participem dos atos sociais que existem no seu contexto, sendo
responsável por seus deveres e direitos e que o povo deve seguir sendo membro de
uma sociedade não igualitária, mas justa e de forma democrática para que
tenhamos um futuro melhor, e perspectivas de vida,tendo foco principal, ser membro
de uma sociedade que tenha companheirismo, amor e solidariedade um com o
outro.
ABSTRACT: This article aims to address the Youth and Adult Education, throw the reading the way to develop the citzens. The methodology used is the literature having theoretical references, especially Paulo Freire and Gadotti and other methodologies. The topic in this article is important especially to the people who are in the EJA´s classroom and see throw the reading that students can develop their thought and ways to make part of the societ. Inside the classroom the teacher is responsible for the mediation of knowledge, sharing the reality of each student to design the “generative words” and to promote comprehension of the world around and awareness of his or her way of life. The literacy of young and adults, therefore, is able to insert the individual into the labor market as a citizen who knows how to fight for his professional and intellectual growth.
KEYWORDS: Reading. Citizens. Formation.
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