ENSINO DE CARTOGRAFIA E USO DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS
TELMA LUCIA BEZERRA ALVES AIRES1
RESUMO:
O projeto surgiu com o intuito de promover práticas pedagógicas diferenciadas que auxiliassem na compreensão de conteúdos geográficos, principalmente relacionados à alfabetização e uso de produtos cartográficos. O presente projeto foi idealizado e desenvolvido com alunos da primeira série do ensino médio da Escola Estadual Djalma Barros Siqueira, localizada no município de Coruripe – AL. Consistiu na utilização de softwares (Google Earth, Stellarium, Philcarto) e jogos digitais geográficos nos encontros realizados no Laboratório de informática do IFAL/Campus Coruripe. Os alunos demonstraram interesse pelas ferramentas apresentadas e pelo seu potencial em auxiliar na compreensão dos conteúdos. Palavras-chave: google earth; coordenadas geográficas; jogos digitais.
ABSTRACT:
The project arose with the intention of promoting differentiated pedagogical practices that help in the understanding of geographic contents, mainly related to the literacy and the use of cartographic products. This project was conceived and developed with students of the first high school series of the Djalma Barros Siqueira State School, located in the municipality of Coruripe - AL. It consisted in the use of softwares (Google Earth, Stellarium, Philcarto) and digital geographic games in the meetings held in the Laboratory of the IFAL/Campus Coruripe. The students showed an interest in the presented tools and their potential in helping to understand the contents. Key-words: google earth; geographical coordinates; Digital games.
1 - Introdução
O ensino de geografia é objeto de investigação constante nos cursos de
formação de professores e de reflexão por parte dos docentes que diuturnamente
vivenciam experiências positivas e negativas em sala de aula. No ensino básico,
vários são os desafios para mediar à transposição didática dos conteúdos. Não
obstante, os alunos classificam as aulas de geografia como mnemônicas e
cansativas.
A alfabetização cartográfica, tão importante nas séries do ensino fundamental,
muitas vezes não ocorre satisfatoriamente, e o aluno chega ao ensino médio com
dúvidas e lacunas que deveriam ter sido sanadas. 1Professora de Geografia do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba – IFPB. E-mail de contato: [email protected]
Nesse contexto, o problema de como estabelecer uma relação efetiva de
ensino e aprendizagem de geografia persiste. Assim, indaga-se: como tornar os
conteúdos de geografia, particularmente os cartográficos, mais atrativos e
compreensíveis pelos discentes?
Algumas experiências exitosas têm sido observadas (Aguiar, 2013; Moura,
Meirelles & Teixeira, 2015; Santos, 2018 e Cazetta, 2018) e mostram que o
planejamento e a busca por inovação no processo de ensino e aprendizagem
podem sinalizar uma melhoria no ensino desse componente curricular tão
importante para a formação do discente.
Com as inquietações já mencionadas, foi idealizado o projeto de extensão
intitulado: “Geobrink: aprendendo geografia com jogos e softwares didáticos” para
complementar a formação geográfica dos estudantes da Escola Estadual Djalma
Barros Siqueira, Coruripe – AL, que teve como objetivo o uso de softwares didáticos
e jogos digitais para aprender geografia.
O artigo está divido em duas partes: no primeiro momento é discutida a
cartografia escolar, utilizando-se autores que tem se dedicado a refletir sobre os
rumos da Cartografia e as perspectivas do ensino no âmbito da educação básica. No
segundo momento, são descritas as experiências com os recursos didáticos já
mencionados.
2 - Cartografia escolar: estratégias e desafios na sala de aula
Representar o espaço geográfico tem sido objeto de investigação humana
desde os primórdios, sendo a Cartografia um instrumento de dominação do território
ao longo da história. Compreender mais sobre essa área do conhecimento é
importante na análise dos fenômenos espaciais contemporâneos.
De acordo com Castrogiovanni (2004), a Cartografia é o conjunto de estudos
e operações lógico-matemáticas, técnicas e artísticas que, a partir de observações
diretas e da investigação de documentos e dados, intervém na construção de
mapas, cartas, plantas e outras formas de representação, bem como no seu
emprego pelo homem. Assim, a cartografia é uma ciência, uma arte e uma técnica.
O ensino de cartografia no ensino fundamental e médio oportuniza ao
discente um contato com produtos cartográficos e a compreensão de sua
elaboração, almejando uma leitura de mundo. Essa prática permite a identificação
problemas de aprendizagem e fundamenta um conjunto de reflexões sobre
estratégias didáticas para a uma alfabetização cartográfica, considerando a
cartografia como uma técnica e também como uma linguagem.
Segundo Castellar (2014) a cartografia é além de técnica, uma linguagem. É
um procedimento (metodologia), mas também uma técnica que auxilia um método
de análise quando nos debruçamos sobre um fenômeno geográfico. Nesse contexto,
a cartografia transcende a sua atribuição técnica, para resguardar aspectos
simbólicos que devem ser entendidos como se fossem palavras, daí a expressão
“linguagem cartográfica”.
Katuta (2004) apresenta três fases distintas sobre o uso e a apropriação da
linguagem cartográfica no ensino de geografia, seja ele superior ou básico:
Em linhas gerais, podemos afirmar que a primeira fase ocorreu desde o surgimento dos primeiros cursos superiores de Geografia no Brasil (nos anos de 1930) até mais ou menos primeira metade da década de 1970. Nesse período, imperavam na Geografia brasileira os referenciais teórico-metodológicos denominados por muitos de positivistas. A linguagem cartográfica na época foi considerada por muitos, instrumental básico da ciência geográfica. A segunda fase vai do final dos anos 1970 a pouco além, em que houve um (des) uso do mapa. Nessa época, a Geografia brasileira passava por transformações, culminando com a criação da Geografia radical ou crítica, que valorizou, num primeiro momento, o discurso sobre a questão dos métodos de entendimento da realidade. A terceira fase compreende o início da década de 1980. Houve um aumento do número de trabalhos científicos, discussões e debates em torno da (re) apropriação e uso da linguagem cartográfica no ensino (superior e básico). Hoje, na perspectiva de vários profissionais da área, é condição sine qua non ter domínio da linguagem cartográfica.
Concordando com o que está posto na terceira fase, Passini (2013)
aponta que o conhecimento de geografia melhora a construção do
conhecimento da linguagem cartográfica, sendo conteúdo e forma elementos
indissociáveis e integradores que tornam significativa a construção do
conhecimento. E acrescenta:
Pensamos que seja responsabilidade do professor criar contingências didáticas e desafiadoras para seus alunos desvendarem os objetos de conhecimento, passando de simples identificação para análise e interpretação. Estamos propondo que a cartografia seja uma linguagem que
interaja com o sujeito, ajudando-o a desvendar o objeto de investigação: o espaço geográfico.
Os conteúdos cartográficos estão presentes na primeira série do ensino
médio e, embora já tenham sido trabalhados no ensino fundamental, os alunos
relatam muitas dificuldades relacionadas à localização e análise preliminar de
informações contidas em mapas, cartas e plantas. Simielli (2009) destaca que o
ensino médio é a etapa para se trabalhar com análise/localização, com a correlação
e com a síntese, e detalha estes níveis:
1) Localização e análise – cartas e análise, distribuição ou repartição, que
analisam o fenômeno isoladamente.
2) Correlação – permite a combinação de duas ou mais cartas de análise.
3) Síntese – mostra as relações entre várias cartas de análise, apresentando-
se em uma carta-síntese.
Assim, espera-se do discente ao final do ensino médio, uma leitura e
interpretação de mapas e cartas, além de correlação com informações contidas em
outras cartas e, finalmente, sintetização de informações que culminem na
construção de conhecimentos significativos para o aluno.
Richter (2017) ressalta a importância da Cartografia escolar e elenca alguns
pontos que podem qualificar o trabalho com o mapa em sala de aula, a saber:
1) reconhecer a Cartografia como linguagem; 2) o mapa apresenta uma contribuição para além do espaço escolar; 3) o processo de alfabetização e letramento cartográfico precisam fazer parte do trabalho escolar de Geografia; 4) para a utilização do mapa nas aulas de Geografia é fundamental que ele esteja aliado aos próprios conteúdos geográficos; e 5) o mapa contribui significativamente para o processo de desenvolvimento do pensamento espacial e do raciocínio geográfico.
Ressalta-se o ponto 4 para reconhecer a importância do uso de mapas em
todas as áreas da geografia e não apenas no âmbito da cartografia. O letramento
cartográfico possibilita ao indivíduo o uso do mapa em suas vivências cotidianas.
Para isso, o professor deve integrar a produção e análise de mapas as suas aulas,
estimulando o aluno a representar o espaço vivido no cotidiano e os fenômenos
experenciados.
Os elementos de um mapa (escala, legenda, relações espaciais, norte
geográfico, coordenadas geográficas) e também as projeções cartográficas são
apresentados aos alunos nas escolas, almejando-se uma formação que contemple a
interpretação, análise e síntese dos mapas. Martinelli (2005) considera essas etapas
essenciais à formação discente, antes de adentrar nas questões relacionadas à
cartografia temática. O autor cita métodos apropriados a serem adotados na
construção do espaço representado (mapa), como: formas de manifestação dos
fenômenos (ponto, linha, área); apreciação dos fenômenos (estática e dinâmica) e
nível de raciocínio (representação analítica e de síntese) e que podem ser
trabalhados no ensino de cartografia. Além disso, as variações visuais (tamanho,
valor, granulação, cor, orientação e forma) são aquisições básicas para o
desenvolvimento de habilidades por parte dos alunos.
3 - Metodologia
Foi estabelecida uma parceria entre o Instituto Federal de Educação, Ciência
e Tecnologia de Alagoas – IFAL, Campus Coruripe, e a Escola Estadual Djalma
Barros Siqueira para execução do projeto de extensão “Geobrink: aprendendo
geografia com jogos e softwares didáticos”. Houve a seleção de vinte alunos para
participar dos encontros realizados uma vez por semana, das 14h00min às
16h30min, ao longo de quatro meses, no Laboratório de Informática do Campus
Coruripe. Os encontros tiveram a participação efetiva de dois bolsistas do IFAL e da
orientadora.
Inicialmente foi realizada uma revisão bibliográfica sobre ensino e
aprendizagem de geografia, bem como um levantamento das principais dificuldades
apontadas pelos estudantes relacionadas ao componente curricular, especialmente
no tocante a cartografia e geoprocessamento. Posteriormente foram selecionados os
softwares a serem utilizados (Stellarium, Google Earth e Philcarto) e os sites que
disponibilizam gratuitamente jogos digitais geográficos (Quadros 1 e 2):
Quadro 1: Detalhamento dos softwares didáticos geográficos.
Software Descrição Endereço eletrônico
Stellarium Stellarium é um planetário de código aberto. Ele mostra um céu realista em três dimensões igual ao que se vê a olho nu, com binóculos ou telescópio.
https://stellarium.org/pt/
Google Earth O Google Earth é um aplicativo de mapas em três dimensões. Ele permite passear virtualmente por qualquer lugar do planeta, graças às imagens
https://www.google.com.br/earth/
capturadas por satélite.
Philcarto Software gratuito, de Cartografia Temática, referindo-se a um conjunto de procedimentos matemáticos e gráficos destinados a traduzir sobre uma base cartográfica, a variação espacial de uma variável estatística. Trabalha com dados vetoriais, tais como polígonos, pontos e linhas.
http://philcarto.free.fr/
Quadro 2: Detalhamento dos jogos digitais geográficos utilizados.
Jogo/Conteúdo Fonte Endereço eletrônico
- Capitão Tormenta e Paco em: Fusos Horários
Ministério da Educação (MEC) Rede Interativa Virtual de Educação (RIVED)
www.atividadeseducativas.com.br/index.php
?id=1824
- Jogo das Escalas - Círculos da Terra - Jogo das coordenadas
Geografia 7 http://www.geografia7.com/jogos-
geograacuteficos.html
- Mapas interativos - Aprendendo Coordenadas Geográficas
Colégio Cenecista Dr. José Ferreira - CNEC
http://www.joseferreira.com.br/blogs/geografia/aplicativos-e-jogos-educacionais/categori
a/geografia
Houve treinamento prévio dos bolsistas para o domínio das ferramentas
geotecnológicas, bússola e Global Positioning System (GPS), além do planejamento
antecipado de cada encontro, elencando objetivos e metodologia adequada.
O Quadro 3 apresenta as datas, recursos didáticos e temas contemplados em
cada encontro. No último, houve aplicação de questionário diagnóstico para
mensurar a significância do projeto na trajetória escolar dos alunos.
Quadro 3: Detalhamento de alguns encontros realizados no Campus Coruripe ao longo do projeto.
Datas Recursos didáticos Temas
01/08 Stellarium Compreensão do Universo; Constelações; Cruzeiro do Sul; Ursa Menor.
22/08 Google Earth Placas tectônicas; localização dos dobramentos modernos; coordenadas geográficas
12/09 Google Earth Hidrografia de Alagoas
16/10 Jogos digitais Coordenadas geográficas; Regionalização brasileira; Fusos horários, Escalas; Linhas
imaginárias da terra.
30/10 Philcarto Elementos de um mapa; Elaboração de mapas; Interpretação, correlação e síntese de mapas.
07/11 GPS Garmin etrex 10 e bússola convencional
Pontos cardeais e colaterais; Orientação; Coordenadas geográficas; Satélites artificiais.
Com relação aos encontros didáticos, todos foram realizados no Laboratório
de Informática do Campus Coruripe, o qual dispõe de 20 computadores com acesso
a internet e com os devidos softwares instalados.
4 - Resultados e Discussão
4.1. Experiências desenvolvidas em sala de aula
No primeiro encontro foi realizada uma revisão básica sobre conhecimentos
de astronomia, conteúdo base do primeiro software livre utilizado, o Stellarium. Após
isso, foram demonstrados os comandos básicos para que os alunos pudessem
interagir adequadamente. As constelações foram visualizadas, como a do Cruzeiro
do Sul e da Ursa Menor, que indicam respectivamente o sul e o norte geográfico,
além das figuras imaginárias que estas constelações formam (Figura 01). Vinculou-
se a orientação na antiguidade, remetendo-se a uma cartografia celeste. Isso foi
possível porque o Stellarium mostra um céu realista em três dimensões igual ao que
se vê a olho nu.
Figura 01: Interface do software Stellarium e Laboratório de Informática do IFAL/Campus Coruripe.
No segundo encontro o tema foi “placas tectônicas”. Após uma revisão
conceitual sobre o tema e demonstração dos comandos básicos do Google Earth, foi
possível visualizar o ponto de maior altitude da Terra (Monte Everest) e a fossa
abissal mais profunda, das Marianas, coletando-se as respectivas coordenadas
geográficas. Alguns dos comandos utilizados estão descritos na Figura 02:
Digite “Monte Everest” na ferramenta de busca do Google Earth - GE e use o cursor para encontrar seu ponto mais alto. Qual é a elevação aproximada acima do nível do mar (acima do nível do mar ou NMM)? Talvez seja útil inclinar a visualização para o norte a fim de selecionar o ponto mais alto.
a) 10.400m acima do NMM b) 7.380m acima do NMM c) 8.850m acima do NMM d) 9.230m acima do NMM Fonte: PRESS, F.; GROTZINGER, J.; SIEVER, R.; JORDAN, T. H. Para Entender a Terra. Tradução: MENEGAT, R. (coord.). 4a edição. Porto Alegre: Bookman, 2006.
Figura 02: Apresentação da interface do Google Earth e exemplo de comandos práticos utilizados.
No terceiro encontro foi abordado o tema: Hidrografia de Alagoas. Ainda
com o uso do Google Earth, foi possível adicionar arquivos .kml (delimitações de
áreas – polígonos), das bacias hidrográficas (Figura 03) e dos municípios do estado
de Alagoas, disponíveis nos sites de órgãos ambientais e administrativos do estado.
Além disso, as imagens de satélite permitiram analisar a foz de alguns rios (Coruripe
e São Francisco), suas extensões, situação da mata ciliar, uso do solo e feições
geomorfológicas litorâneas, ou seja, fotointerpretação das imagens. Cazetta (2011)
esclarece sobre usos e potencialidades do Google Earth, evidenciando uma
educação visual do espaço.
Figura 03: Delimitação das bacias hidrográficas do Estado de Alagoas e foz do Rio São Francisco.
No quinto encontro foram utilizados os jogos digitais, que permitiram
aprofundar os conhecimentos referentes a coordenadas geográficas, escalas, fusos
horários, localização e extensão territorial.
No jogo das escalas (Figura 04 – A) é necessário medir a distância entre dois
pontos (localidades) e, com base na escala do mapa, calcular a distância real e
escolher a alternativa correta. No jogo das coordenadas geográficas é preciso
localizar e clicar no ponto correspondente as coordenadas fornecidas (Figura 04 –
B). No jogo dos círculos, é preciso deslocar o ovni, após surgir o nome da linha
imaginária, ao círculo vermelho correspondente (Figura 04-C). Nos mapas
interativos, é preciso colar adequadamente os estados no mapa do Brasil, com
níveis de dificuldade diferenciados (Figura 04 – D). Todos os jogos mencionados são
cronometrados, possibilitando o estabelecimento de uma ordem de desempenho. No
último caso (Figura 04 – E) o desafio é saber o horário de chegada de uma
embarcação em uma dada localidade. Para isso, há pistas e explicações nas
animações.
A B C
D E
Figura 04: Jogos digitais geográficos.
No sexto encontro utilizou-se o Philcarto para elaboração de mapas.
Inicialmente foram explicados os comandos básicos e conceituais do software e da
cartografia. Os dados utilizados foram obtidos do site do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), em planilhas excel, e organizados previamente pela
orientadora para a montagem dos mapas. Com base nos dados disponibilizados,
foram realizados três tipos de mapas: da população urbana e rural e de homens e
mulheres, dos municípios alagoanos; lavouras temporárias (abóbora, algodão,
abacaxi, alho, arroz, bata inglesa...) dos estados brasileiros; distribuição dos
rebanhos (bovino, equino, caprino, ovino e suíno) nos estados da região Nordeste.
Assim, foram produzidos mapas nacionais, regionais e estaduais, usando como
base arquivos shapefile. Os mapas produzidos foram de dois tipos: coropléticos e
com símbolos proporcionais.
Com essa estratégia, foram inseridos e detalhados os elementos do mapa e
trabalhadas as variações visuais (tamanho, valor, granulação, cor, orientação e
forma), compreendendo aspectos do geoprocessamento de dados e formas de
manifestação dos fenômenos (ponto, linha, área). Como diz Castrogiovanni (2003) o
aluno precisa ser preparado para “ler” representações cartográficas. Só lê mapas
quem aprendeu a construí-los. Neste caso, foi oportunizado ao aluno a construção
de mapas em ambiente digital.
Figura 05: Orientações sobre o uso do Philcarto repassadas pela bolsista e mapa produzido.
No sétimo encontro foram apresentados e utilizados instrumentos
cartográficos (bússola convencional e GPS Garmin etrex 10). Os alunos puderam
manusear os objetos e conhecer suas aplicações. Com essa experiência, foi
possível identificar a altitude, latitude e longitude do ponto, bem como a acurácia e a
quantidade de satélites em comunicação com o receptor. Foram mostrados ícones
gerais do aparelho, para marcação de pontos específicos, traçado de rotas, cálculo
de perímetro e área. Com a bússola convencional foram identificados os pontos
cardeais e colaterais aproximados. Os alunos perceberam que agulha da bússola é
magnética e sofre a ação do campo magnético terrestre. A bússola indicava
aproximadamente o polo norte geográfico - NG (sul magnético da Terra - SM). Foi
discutida também a Declinação Magnética, ângulo formado entre o (NG) e o (SM).
Os participantes se manifestaram em relação ao projeto, seus benefícios e
execução, por meio da aplicação de questionário no último encontro.
Figura 06: Apresentação e utilização da bússola e do GPS e roda de conversa sobre o
aproveitamento do projeto.
No decorrer dos encontros, foi perceptível a evolução dos alunos nos
conhecimentos abordados e o interesse pelas metodologias adotadas. Os bolsistas
mediaram os encontros revisando os conteúdos, monitorando as atividades
realizadas e esclarecendo as dúvidas.
4.2. Diagnóstico das ações do projeto
Em relação ao questionário aplicado para diagnosticar a eficácia do projeto,
foi possível observar que no que se refere à organização dos encontros (início,
desenvolvimento e finalização), 60% consideraram como “muito bom” e 40% como
“bom”. Sobre as geotecnologias utilizadas (Google Earth, Stellarium e Philcarto),
80% dos entrevistados consideraram “muito bom” e 20% “bom”. Em relação ao
desempenho dos bolsistas, 80% consideram como “muito bom” e 20% como “Bom”.
Quanto ao ambiente físico, laboratório e equipamentos, 87% consideraram “muito
bom” e 13% como “bom”. Sobre a aula/tema que os alunos mais gostaram, houve
unanimidade em relação aos encontros que envolveram o estudo dos mapas.
5 - Considerações Finais
Sabendo-se do uso crescente das geotecnologias na contemporaneidade,
torna-se imperativo a incorporação destas ferramentas na sala de aula,
especificamente para o ensino de cartografia.
As possibilidades apresentadas são apenas apontamentos do potencial
existente a ser trabalhado, não esgotando o uso das ferramentas, que são muito
versáteis. Porém, este o uso pode vir a ser comprometido devido às limitações
técnicas e operacionais de muitas escolas (internet, computadores, etc...).
Os Sistemas de Informações Geográficas (SIGs) utilizados, aliados a
abordagens contextualizadas, trazem significância dos conteúdos geográficos para o
aluno, que associa conhecimentos teóricos e práticos, contribuindo assim, para um
desenvolvimento do raciocínio geográfico. Portanto, fica nítido o compromisso do
professor de geografia com a alfabetização e letramento cartográficos dos alunos,
para que estes possam compreender e fazer um bom uso da representação espacial
dos fenômenos. Estudar e conhecer mais sobre a Cartografia é imprescindível para
aprimorar as aulas de geografia
6 - Referências Bibliográficas
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