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ESCOLA INCLUSIVA:
DA UTOPIA À REALIDADE
Olívia Andrade de Carvalho
Luís Peixoto
EDIÇÕES APPACDM DISTRITAL DE BRAGA – BRAGA 2000
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INTRODUÇÃO
O ser humano que nos gabamos de ser soube sempre humilhar e ofender aqueles a quem,
com triste ironia, continua a chamar seus semelhantes. Inventamos o que não existe na
natureza, a crueldade, a tortura o desprezo. Por um uso perverso da razão viemos
dividindo a humanidade em categorias irredutíveis entre si, os ricos e os pobres, os
senhores e os escravos, os poderosos e os débeis, os sábios e os ignorantes, e em cada uma
dessas divisões fizemos novas divisões, de modo a podermos variar e multiplicar à
vontade, incessantemente, os motivos para o desprezo, para a humilhação e a ofensa.
(JOSÉ SARAMAGO)
Certas atitudes e comportamentos conduzem muitas vezes à marginalização de crianças
«diferentes» na vida social, familiar e escolar. Os preconceitos e a discriminação de que
são alvo e a exclusão a que são votados origina graves prejuízos quer para os próprios,
quer para a sociedade e sobretudo para a humanidade. No limiar do século XXI, eis-nos
diariamente a testemunhar situações em que a exclusão da pessoa diferente acontece, com
alguma passividade.
Numa Sociedade Para Todos, cada um de nós é parte integrante dela e a todos assiste o
direito de ser incluído. Garantir este direito é um dever colectivo, mas particularmente,
dos que intervêm de forma directa na orientação dos destines da sociedade, da educação.
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O direito à igualdade de oportunidades está consignado na
Declaração Universal dos Direitos do Homem e deve aplicar-se
a todos.
A Constituição Portuguesa propõe no n.º 1 do artigo 74.º «garantir o direito à igualdade
de oportunidades de acesso e êxito escolar».
Também a Declaração de Salamanca (UNESCO, 1994), subscrita por 88 governos e 25
organizações internacionais determina que «aqueles com necessidades educacionais
especiais devem ter acesso à escola regular, que deve acomodá-los dentro de uma
pedagogia centrada na criança capaz de satisfazer tais necessidades».
A construção de uma cultura de resistência às desigualdades e à exclusão escolar e social
passa sobretudo pelos caminhos traçados pelos principais agentes educativos que são os
professores. Educar na inclusão é preparar para a cidadania que rima com autonomia e
com democracia. Proclama a Declaração de Salamanca (UNESCO, 1994): «Escolas
regulares que possuam tal orientação inclusiva constituem os meios mais eficazes de
combater atitudes discriminatórias criando comunidades acolhedoras, construindo uma
sociedade inclusiva; um mundo onde caibam muitos mundos».
Materializar esta concepção, confrontar a escola com este quadro é, sem dúvida, um dos
maiores desafios, em educação que se coloca ao homem moderno. É preciso introduzir a
mudança para que a realidade deixe de ser virtual:
• mudanças jurídico-legislativas que garantam os direitos previstos;
• mudanças organizativas e de gestão ao nível das escolas;
• mudanças a nível pessoal do professor e de outros intervenientes;
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• apoio aos alunos normais numa perspectiva de escolarização de todos;
• mudanças ao nível da natureza e da estrutura do currículo;
• mudanças nos modelos de apoio individual aos alunos.
Certamente que os obstáculos serão ainda muitos. O nosso objectivo primeiro é
identificá-los, procurando conhecer a realidade presente, pois concordando com Freire
(1979), «quando o homem compreende a sua realidade, pode levantar hipóteses sobre o
desafio dessa realidade e procurar soluções. Assim, pode transformá-la e, com seu
trabalho, pode criar um mundo próprio: seu eu e suas circunstâncias» (p. 30)
É certo que a colocação deste problema implica o comprometimento próprio de quem já
se encontra envolvido, pelo trabalho que desempenha nesta área, pelos padrões culturais e
filosofia de vida.
Tal como Luther King diríamos I have a dream. Reafirmamos o nosso compromisso com
a dignificação do humano, enquanto sujeitos e, de alguma maneira, artesãos do espaço em
que estamos mergulhados e, de alguma forma, construtores das situações do mundo.
Conferimos ao nosso trabalho contornos de poesia concordando com Pascoaes (1991),
que « a sensibilidade poética vibra, como nenhuma outra, ao contacto da Realidade e a
conhece, por assim dizer, em primeira mão. Uma verdade, quando aparece no mundo, é o
poeta a primeira pessoa que a visita» (p. 5), porque a poesia também pode proporcionar
importantes informações acerca do mundo.
Esperamos que este estudo nos conduza a novos conhecimentos. Para nos assegurarmos
disso necessitamos de fazer um levantamento bibliográfico, contextualizando e
fundamentando
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o tema, de acordo com o que sobre ele tem sido dito e escrito, numa perspectiva nacional
e internacional. Será realizada uma pesquisa de cunho exploratório que servirá como base
ao nosso trabalho que se encontra dividido em duas partes: uma de cariz teórico e outra
prática, que interagem e se completam.
No primeiro capítulo traçaremos os caminhos para a inclusão, fazendo o enquadramento
de referência, passando em revista várias teorias de suporte a este paradigma.
Estudaremos ainda o conceito de utopia, na construção deste projecto.
No capítulo segundo desenvolveremos uma perspectiva histórica e conceptual da
segregação à inclusão. Realizaremos, ainda, no capítulo terceiro, uma abordagem à
formação de professores, procurando conhecer essa realidade para a relacionarmos com a
resistência ou abertura a este modelo.
Na segunda parte deste estudo realizaremos o trabalho de campo referindo, no capítulo
quarto, o problema da segregação, a que ainda assistimos, de algumas crianças e jovens, a
quem deixamos à porta da escola e da vida. Traçaremos também, neste capítulo, os
objectivos que apontamos como metas reconhecendo, no primeiro deles, a maior
importância, pois será essa, fundamentalmente, a nossa linha condutora: conhecer as
razões da exclusão. Ainda neste capítulo formulamos as hipóteses que estão na base da
nossa pesquisa.
No capítulo quinto seleccionamos a amostra, apresentamos os instrumentos de pesquisa e
descrevemos o procedimento e tratamento estatístico do nosso estudo.
A análise e interpretação dos resultados, terão lugar no capítulo sexto.
Pretendemos, afinal, conhecer quais os problemas com que a inclusão se debate, através
da análise dos dados e interpretação dos resultados do nosso estudo.
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PARTE I
INTRODUÇÃO TEÓRICA
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Capítulo I
CAMINHOS PARA A INCLUSÃO
1.1. Da utopia à construção do projecto
1.1.1. Em nome do sonho
Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida tão concreta e definida como outra coisa qualquer, (...)
Eles não sabem, nem sonham que o sonho comanda a vida.
Que sempre que um homem sonha o mundo pula e avança como bola colorida entre as
mãos de uma criança.
(António Gedeão)
É certo que este romantismo não nos afastará da ideia perseguida pois concordando com
Freire (1997), «O que eu não posso é parar satisfeito ao nível dos sentimentos, das
emoções, das intuições. Devo submeter os objectos das minhas intuições a um tratamento
sério, rigoroso, mas nunca desprezá-las» (p. 43).
A inclusão é um sonho acalentado pelos pais de crianças com NEE. Marcados por uma
realidade desumana que ditou,
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por um período demasiado longo, o estigma da diferença, encurralando crianças em
espaços artificiais, contrariando a natureza cultural da Humanidade. Como refere
Pascoaes (1998): «eliminem a palavra Humanidade e ficaremos cobertos de pêlo, num
instante» (p. 31).
Habitualmente, afirma Martins (1991), «preferimos a comodidade das ideias pronto a
vestir, das simplificações, das grotescas representações deturpadas da realidade. As ideias
vivas tornam-se incómodas. As interrogações rareiam. As certezas invadem tudo» (p. 18).
É chegado o tempo de agitar estas águas.
O paradigma emergente da inclusão assenta em ideais de Humanismo, mas também em
estudos realizados por pessoas e grupos legitimados por um conhecimento patenteado.
Concordamos com Pascoaes (1998), quando diz que «a ciência desenha a onda; a poesia
enche-a de água» (p. 29).
Reeves (1990) atribui, também ele, um papel preponderante à poesia, no campo do
conhecimento, quando afirma que «a poesia é um trilho diferente para o magma obscuro
da realidade. Aumenta a capacidade de expressão da linguagem. Além de utilitária, acha
novas vias para exprimir o mundo, para perscrutar as suas riquezas inexploradas» (p. 75).
No sonho ensaiamos voos, delineamos ideais, construímos projectos. A realidade
transforma-se com os sonhos, acreditando em utopias. Também é verdade, concordando
com Freire (1996) que «a paixão com que conheço, falo ou escrevo não diminuem o
compromisso com que denuncio ou anuncio. Sou uma inteireza e não uma dicotomia. (...)
Conheço com o meu corpo todo, sentimentos, paixão, razão também» (p. 18).
Sabemos, de acordo com Martins (1991), que «o que está em causa é o fazer fazendo, o
buscar constantemente o aperfeiçoamento, o não baixar os braços em nome da força das
inér-
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cias... No fundo, não estamos condenados à condição de seres errantes atirados
constantemente do mundo das ilusões para a angústia da mediocridade» (p. 78).
Como Patrício (citado por Azevedo, 1994) reconhecemos que a prática pedagógica
deverá assentar na reflexão e na construção e não na cristalização. «Não é nos saberes
constituídos que o processo educativo se vai enraizar, mas na fonte constituinte de todo e
qualquer saber, que é o núcleo central da pessoa humana, o próprio leme do poder criador
do homem» (p. 129).
Apoiamo-nos em Bach (1996), para sustentarmos a nossa ideia. «Se tentares / durante
algum tempo usar a ficção, / acabarás por entender que / as personagens de ficção são /
por vezes mais reais do que / pessoas de carne e osso» (p. 97).
Identificamo-nos com o projecto de Paulo Freire, com a sua intuição para antecipar as
grandes questões educativas, adoptando posições que nos ajudam a compreendê-las
melhor. Na sua concepção educativa ele cruza a teoria social, o compromisso moral e a
participação política. Freire (1992) interroga-nos sobre o nosso papel como educadores.
«Pensar que a esperança sozinha transforma o mundo e actuar movido por tal ingenuidade
é um modo excelente de
tombar na desesperança, no pessimismo, no fatalismo. Mas, prescindir da esperança na
luta para melhorar o mundo,
como se a luta se pudesse reduzir a actos calculados, apenas à pura cientificidade, é
frívola ilusão (...) a esperança precisa
da prática para tornar-se concretude histórica. É por isso que não há esperança na pura
espera, nem tão pouco se alcança
o que se espera na espera pura, que vira, assim, espera vã»
(pp. 10-11).
O trabalho será árduo... caminhemos, pois o caminho faz-se caminhando...
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Concordando com Martins (1991), «O aperfeiçoamento da humanidade faz-se com
alegria e sofrimento, faz-se com a afectividade e sentimentos, com encontros e
desencontros. E aí se revela permanentemente a mediação ética entre princípios e factos,
entre valores e acontecimentos» (p. 106). Será para isso necessário que nos desprendamos
do nosso egoísmo e nos transportemos para o outro contrariando Sartre, pois o inferno
não são os outros.
Reafirmamos com Martins (1991) que «vemos a necessidade do enraizamento dos
valores como igualdade e justiça, numa sociedade tolerante e equitativa. Não é recusando
a diferença, o que nos rodeia e a sociedade em que vivemos que poderemos descobrir o
sentido para a vida como procura plural» (p. 50).
Não podemos calar a indignação perante as várias formas de exclusão e a forma como a
educação contribui para isso. Acreditamos que tudo pode ser diferente. Subscrevemos o
ideal de justiça de Freire (1991), embalados pelo sonho. «Sou leal ao sonho. Minha acção
tem sido coerente com ele. Exigente com a ética, considero que ela tem a ver com a
coerência com que se vive no mundo, coerência entre o que se diz e o que se faz (...)
Continuem contando comigo na construção de uma política educacional, de uma escola
com outra cara mais alegre, mais fraterna e democrática» (p. 144).
Há homens diferentes que, na diferença querem construir um mundo novo, uma nova
fraternidade. Instituir uma nova ordem. É possível. Depende de todos e de cada um.
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1.1.2. Estatuto da Utopia
É necessário que todos os homens se elevem ao Homem, que todos se aproximem
daquele tipo humano perfeito idealizado pelos poetas.
(TEIXEIRA DE PASCOAES)
É sem dúvida, a poesia, que nos transporta para o ideal. O real é do domínio do
quotidiano. O raciocínio poético eleva-nos ao reino do sonho. Sena (1989) confronta-nos
com esta dualidade: «A diferença que há entre os estudiosos e os poetas é que aqueles
passam a vida inteira com o nariz num assunto a ver se conseguem decifrá-lo, e estes
abrem um livro, lêem três páginas, farejam as restantes (nem sequer todas) e sabem logo
do assunto o que os outros não conseguiram saber» (p. 157). É certo que é pela poesia que
encontramos a utopia. Percorrendo o caminho do ideal projectamo-nos para o território
do «impossível» sonhado como realizável.
Concordamos que o paradigma da inclusão se inscreve na
realidade como um modelo ideal, «desejado e, até certo ponto possível».
Passamos de seguida à exploração desta forma de projecção
no futuro, de forma a melhor entendermos esta problemática, passando em revista várias
perspectivas de outros tantos autores.
Raulet (citado por Carvalho, 1994) afirma que «a utopia é a esperança realizada, a união
da esperança e do saber, a união dos contrários, a solução das antinomias, a resolução da
contradição entre a sensibilidade e a razão, a moral e a felicidade, o indivíduo e a
comunidade» (p. 25).
A utopia situa-se então entre o sonho e o real. As utopias comunitárias, sociais e
religiosas não deixam nunca indiferente o curso da história: elas tornam-se referenciais,
valores, modelos
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para a prática, para a acção. As utopias são tentativas de transformação das situações
futuras. Elas polarizam os ideais, radicalizam as vontades, desafiam, enfim, a estabilidade
e a continuidade do presente ainda que partindo necessariamente deste.
Na sua obra, A Utopia, Thomas More (1995), precursor desta ideia apresenta-nos assim
esta conceptualização: «Uma utopia é uma possibilidade que pode efectivar-se no
momento em que forem removidas as circunstâncias provisórias que obstam à sua
realização» (p. 7).
Aqui poderemos inscrever o projecto da escola inclusiva pensando na possibilidade da
sua realização, depois de eliminadas algumas barreiras. Continuando com More, não
encontramos, ainda o caminho para chegar à ilha imaginada.
Transposta a porta da realidade ensaiemos o caminho, tentando alcançar esse espaço com
Morin (1996): «É pela porta do mal que sou obrigado a passar para ir procurar a utopia, o
não lugar, ou seja, o lugar do bem, o bom lugar» (p. 38)
A utopia é constitutiva do homem. Abrange e implica não só o homem individual, como
também o homem na relação com os outros, com o mundo que o rodeia. Afirma Pascoaes
(1998): «O que há de belo na criatura é o ponto em que ela hesita entre o pessoal e o
universal» (p. 16). A utopia reconhece a alteridade que ela protagoniza, sendo esta
qualidade que galvaniza todas as outras e as dinamiza. A busca, a insatisfação e a
inquietação são estados de espírito e impulsos humanos que a utopia assume no seu corpo
filosófico. Concordamos com Morin (1996) quando afirma: «O acto de pensar situa-se
sempre num desvio, numa marginalidade» (p. 119).
As utopias dirigem-se à Humanidade, à comunidade humana, a toda a Terra. Elas não se
circunscrevem apenas a um meio geográfico temporalmente limitado. Tentativa de
superação do presente, na senda do devir, esboço criativo de um
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projecto, neste caso a inclusão. Mas de acordo com Carvalho (1994) «... a utopia ainda
que contenha projectos não se esgota neles, da mesma maneira que um qualquer projecto
não pode ser substituído por uma utopia» (p. 20).
A utopia não é um projecto de bom senso. Mas, concordando com Carvalho (1994), «a
construção de utopias (...) é, simultaneamente, uma criação de tempos e de espaços e uma
nadificação de momentos e lugares» (p. 76)
A utopia, em época de mudança afirma-se como um valor, um critério de pertinência. A
utopia constitui-se como um desejo que poderá desestruturar as organizações
estabelecidas em nome da criação de outras organizações e de outras ordens capazes de
concretizar aspirações e de despertar consciências. Por isso, a utopia constitui uma
ameaça ao presente, por antecipar o futuro. Como refere Morin (1996): «Qualquer ideia
nova suscita resistência» (p. 120).
Tendo nós a capacidade de conhecer o presente e de prever o futuro, se apenas fizermos
isto, privamo-nos também, certamente, de um pouco mais de esperança e de capacidade
de sermos sujeitos criadores de alternativas. De acordo com Carvalho (1994), «educar é
reproduzir para transformar, imitar para criar, adaptar para mudar, sempre segundo
escolhas guiadas por ideais, (...) eis, finalmente, a grande diferença entre a educação e o
adestramento» (p. 79).
Como afirma Pascoaes (1998), «agir é construir, destruindo» (p. 32). Ou ainda, Morin
(1996) «o que não se regenera, degrada-se» (p. 221).
É certo que uma didáctica cujo principal objectivo é fazer adquirir valores, atitudes,
firmes intenções comportamentais, deve evidentemente privilegiar a acção, a vivência, o
exemplo permanente. De acordo com Mauco (citado por Peixoto, 1991), «ensinamos
mais com aquilo que somos, que com aquilo que dizemos» (p. 28).
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Concordamos com Sampaio (1998), quando diz que «o
verdadeiro ensino não está só nos manuais, não se aprende sole
trado em 10 lições, não se compra estafado na encomenda de
ocasião, nunca chega por decreto (quanto a isso, nunca)» (p. 47).
Perseguidor de utopias, construtor de projectos, Freire
personifica estes conceitos, no campo da educação como descrevem Apple e Nóvoa
(1998). «Paulo Freire que tem a capacidade de tocar em pontos sensíveis, de pôr por
escrito, frequentemente através de metáforas, as "coisas" que as pessoas já têm vontade
de dizer mas ainda não sabem. Paulo Freire tem uma intuição única para antecipar ideias
que, uma vez no papel, nos parecem tão familiares que rapidamente as sentimos como
nossas» (p. 170).
Concordamos com Apple e Nóvoa (1998): «(...) podemos estar com ou contra Freire, mas
não podemos estar sem Freire» (p. 186).
Vemos, por isso, a necessidade de beber na fonte do seu humanismo, feito conhecimento.
De acordo, ainda, com Apple e Nóvoa (1998), «no projecto de Paulo Freire, a utopia
traduz-se, antes de mais pela educação. E nos faz pensar nos meios que organizam a nossa
acção prática e a nossa reflexão científica» (p. 186).
Mas a utopia reúne muitos contestatários, segundo Morin (1996). Vemos assim a
necessidade de clarificar este conceito.
A utopia é frequentemente criticada. As críticas acentuaram-se ainda mais depois do ruir
de muitas esperanças num futuro melhor, ou antes, num progresso que, por si mesmo,
existiria e nos levaria para um mundo feliz. No entanto estes critérios não viram que havia
duas utopias. A primeira é, evidentemente, a esperança numa sociedade melhor na qual as
relações entre os seres humanos não seriam tão atrozes, tão desprezíveis, tão baseadas em
conflitos, em relações de dominação e de exploração; sociedades onde haveria mais
liberdade, mais fraterni-
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dade: esta é a boa utopia. A má utopia era aquela que pretendia realizar a harmonia
perfeita, eliminar a dor e qualquer conflito, tornar transparente cada indivíduo.
Recusemos a realidade presente, após uma reflexão crítica. Morin (1996) apresenta-nos
essa análise: temos de rejeitar o realismo trivial que diz ser preciso adaptarmo-nos ao
imediato, à ordem estabelecida, ao facto consumado, admitir a vitória do vitorioso.
Para além do realismo trivial, o que é que existe? Temos de reconhecer que o real fervilha
de possibilidades, que não sabemos o que vai de lá sair, nem como escolher as suas pró-
prias finalidades e o seu próprio partido. Na realidade humana coabitam o imaginário, o
mitológico e, com certeza, o afectivo.
Será a inclusão uma utopia realista? Avista-se no horizonte o espaço onde todas as
crianças partilham o mesmo território com os mesmos direitos. A vida é, ela própria uma
construção utópica composta por ideais: com os olhos postos no futuro e a preocupação
de nele inscrever um projecto, uma utopia, afirmamos com Pascoaes (1998) «... que o
desejo de sermos perfeitos nos compense da impossibilidade de o sermos» (p. 42).
É verdade que teremos que ser realistas. Mas será que ser realista é acreditar no que é
imediato, eterno, duradouro? Talvez Morin (1996) nos ajude a encontrar algumas
respostas.
«Não conhecemos muito bem o presente. Existem muitas forças subterrâneas que
estudam o presente; aquilo a
que Hegel chamava a velha toupeira. (...) José Ortéga y Gasset escreveu: "Não sabemos o
que se passa e é isso que se
passa. Somos inconscientes do presente". É por essa razão que eu acho que é
absolutamente necessário condenar o
realismo da aceitação do facto consumado e da adesão à superfície do presente. Com
efeito, devemos procurar as vias
difíceis, não devemos escapar-nos do real e andarmos nas nuvens sem estarmos
prisioneiros deste pretenso real.
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É talvez por esta via, dialecticamente difícil mas necessária de ser delineada, que
devemos seguir. Uma das minhas máximas preferidas é a do poeta António Machado:
"Tu que caminhas, não há caminho, és tu que o crias ao andar (...)".
Para mim, é aí que se encontra o verdadeiro realismo» (p. 13).
Se considerarmos a utopia como um valor universal, «cada um deve agir como se a luta
inteira só dependesse dele» (Morin, 1996, p. 14).
Inscrevendo a utopia num horizonte visível reconhecemos, como Morin (1996), que «o
improvável é, evidentemente, algo que não aparece como podendo ser realizado, mas
que, precisamente, permite a esperança» (p. 13).
Projectando-nos para o problema inicial da inclusão concordamos com Martins (1991)
que «há necessidade de olhar o género humano e as pessoas de carne e osso tal como são»
(p. 118).
Teremos que acreditar que a inclusão efectiva está para acontecer, como projecto inscrito
numa utopia realista. Como afirma Pascoaes (1998) «o que não aconteceu, nunca esteve
para acontecer, e o que aconteceu esteve para não acontecer» (p. 37).
Costa (1996) acredita e faz-nos acreditar neste projecto em construção:
«A escola inclusiva não é, contrariamente ao que muitos ainda pensam, uma utopia.
Existem diversas escolas no nosso país, algumas das quais situadas em áreas carenciadas,
que podemos designar como verdadeiramente INCLUSIVAS. Para que mais portas, de
mais escolas se abram a mais crianças, a todas as crianças, é simplesmente necessário que
(...) sobretudo, os pais, os profissionais, os governantes e a população em geral acreditem
que a escola inclusiva é qualquer coisa por que vale a pena lutar» (p. 161).
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É urgente, é imperativo que se abalem e anulem os modelos de exclusão; cortar amarras e
mergulhar na imensa aventura da humanidade.
Uma das funções do processo educativo é ajudar o Homem
a inventar, pô-lo nos caminhos da imaginação, do risco, e de todas as pesquisas.
A inclusão pouco se distanciou do seu estado conceptual. Tal como outros princípios, por
exemplo, a liberdade, a justiça, a igualdade, há-de conservar, sem dúvida, por algum
tempo, a distância relativamente às realizações que, por natureza, é próprio dos conceitos.
Mas, e mais uma vez, afirmamos com Pascoaes (1998), que «as coisas são possibilidades
realizáveis» (p. 16).
A utopia de hoje pode amanhecer, amanhã, realidade, porque antecipa aqueles que serão
os dados do futuro. Com efeito, o pensamento utópico visa, antes de mais, um desejável
possível que contempla a esperança, pois esta emerge, teimosamente, através de formas
utópicas.
1.1.3. A construção do futuro
Dantes estudava-se o passado para clarificar o presente. Eu porém inverti o espelho do
tempo, convencido como estava de que uma visão coerente do futuro pode também
fornecer-nos um bom número de observações, e das mais pertinentes, sobre o mundo de
hoje.
(ALVIN TOFFLER)
Não teremos um futuro se nós próprios não o inventarmos.
Lourenço (1997) traça-nos uma direcção: «O futuro, como o sol que esperamos para ver o
que nos cerca, é o tempo, unicamente feito de esperança, sonho e utopia de onde tudo vem
e em
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função do qual nós caminhamos para alguma "espécie de porto". O futuro é também e
radicalmente, o que nos surpreende» (p. 22).
O saber e a liberdade são susceptíveis de um crescimento e reprodução potencialmente
infinitos. Os direitos humanos cabem nessa ideia de liberdade, projecto e também justiça.
A luta histórica pelos direitos humanos conduziu, obviamente, a que o deficiente passasse
a ser uma pessoa com direitos e que começasse a ser considerada como par na sociedade,
não obstante a sua diferença.
Lourenço (1997) sublinha a importância do presente na construção do futuro. «Para
termos futuro, o nosso olhar sobre o passado não pode ser como o de Loth que convertia
os familiares em estátua de sal (...) o verdadeiro tempo dos homens é um eterno presente,
quinta-essência de todos os presentes onde a humanidade se transcende a si mesma e
impõe ao futuro o seu peso e a sua figura» (p. 28).
Todavia, Lourenço (1997), assinala a importância desse mesmo presente na construção
de um futuro para o qual se traçam direcções. «Haverá Futuros, já os há, pois, a títulos
diversos, o cálculo, a esperança, o sonho, a utopia que são a sua substância já incorporada
no nosso presente, coabitam connosco e guiam todos os nossos passos e pensamentos»
(pp. 9-10).
A educação, pode antecipar o futuro desejado. Contribui para o crescimento harmonioso
de uma geração, como afirma Azevedo (1994), «diz-se frequentemente que muitas das
inquietações dos homens de hoje interessam à educação, não lhes podem ser indiferentes;
antes pelo contrário, devem torná-las como pressuposto. As características sociais e
culturais dos dias que correm marcam sobretudo aqueles que estão em crescimento, a
abrir-se para a sociedade e a cultura, assimilando-a ou rejeitando-a, refazendo-a» (p.
149).
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Educar, podemos afirmar, não é preparar as novas gerações para a estabilidade, mas para
seguirem o fluir do tempo. Daí que à escola e aos professores se depare o desafio de se
assumirem em reforma permanente, para que possam corresponder à previsão de
desenvolvimentos futuros: um verdadeiro acto de criação.
É verdade, que é em tempo de mudança que nascem ideias novas, como refere Prost
(citado por Azevedo, 1994), «a crise do sistema educativo, longe de ser um acidente,
aparece como uma das condições indispensáveis da sua eficácia social. É porque está em
crise que o nosso ensino ainda é eficaz» (p. 143).
Esta ideia é reforçada por Azevedo (1994) quando estabelece a relação entre crise e
mudança.
«Vivemos um tempo de transição de paradigmas (...). O futuro é, em todos os casos,
muito incerto. (...) creio que nenhum ser humano reage bem a viver sob os efeitos das
crises. Mas as crises são também oportunidades para as sociedades se regenerarem e se
revigorarem.
Tirar partido de uma situação de crise implica, no entanto, um esforço múltiplo: exige
uma abertura de espírito, capacidade para ouvir e para acolher o que é novo, diálogo e
interacção entre as heranças culturais que se transportam e os novos valores emergentes,
requer imaginação e criatividade e uma atitude de grande flexibilidade (...) pressupõe que
nunca se perca o gosto e a oportunidade de construção de sentido, nas situações e pelas
vias mais diversas, porque ao ser humano será sempre essencial o projecto, o desafio e a
transcendência. (...) E a escola existe para dar um precioso contributo nesse processo de
desenvolvimento humano, ajudando cada um a desabrochar e a revelar livremente a sua
autenticidade» (p. 148).
I
Esteve (1995), indica-nos os professores como principais sujeitos de mudança, como
agentes da construção do futuro, ao afirmar que «as atitudes dos professores e da
sociedade são
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fundamentais para realizar as reformas que se projectam. Na atitude dos professores
perante as reformas e no apoio à sociedade está a chave para as levar a bom termo. Sem o
seu incondicional apoio não passarão do terreno das disposições legais ao terreno da
realidade: o trabalho quotidiano nas salas de aula» (p. 96).
É nesse espaço: escola e sala de aula, palco do acto educativo do presente, que se pode
projectar o futuro. De acordo com Azevedo (1994), «as escolas são ambientes de
humanidade, mesmo quando as aprendizagens se processam em ambientes escolares (...)
infraestruturalmente frágeis (...) A beleza das escolas está, antes de mais, nas pessoas, no
seu crescer e desabrochar, no abrir-se e revelar-se aos outros, no encontro de cada um
com as suas possibilidades e limitações» (p. 179).
Esteve (1991) afirma as suas expectativas positivas em relação aos professores, face ao
nosso modelo de escola para todos, afirmando acreditar «que a nossa sociedade e os
nossos professores vão apoiar a ideia e prestar uma atenção educativa de qualidade aos
milhares de crianças com dificuldades, que se encontram no sistema de ensino, pela
primeira vez na história» (p. 122).
Sabemos que há sempre resistentes, Velhos do Restelo, mas concordando com More
(1995), «se não se consegue arrancar dos seus espíritos, de uma só vez e pela raiz, as
opiniões e princípios errados e perversos; se não se consegue, mesmo que se deseje,
abolir os vícios e os costumes imorais instaurados pelo hábito, não devemos por isso
abandonar o barco num mar tempestuoso, por se não conseguir dominar os ventos» (p.
53).
Apesar da integração estar determinada, legitimada, pela lei mantêm-se ainda muitos
impedimentos à materialização deste conceito. Mas, como refere Fonseca (1997), «a
integração não se consegue por leis escolares nem por espontaneidade social. Ela deve ser
pensada a nível social antes e depois da
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29
escola. Antes, através de acções domiciliárias eficazes. Depois, por uma política de
emprego e de integração social» (p. 212).
É preciso que este novo paradigma galvanize todos os recursos e meios para uma escola
mais justa onde todos tenham o seu lugar; um espaço próprio habitado pelo sujeito, pela
sua personalidade única.
A escola regular deve ser o local legítimo para satisfazer as necessidades educacionais
das crianças que são diferentes. Desta forma a integração reflectirá uma filosofia
democrática de igualdade de acesso a serviços, recursos e instituições. A este propósito
afirma Fonseca (1997): «Como processo antidiscriminatório, a integração visa programar
para cada criança objectivos pedagógicos concomitantes com as suas necessidades e
desejos, eliminando rótulos e individualizando os seus problemas» (p. 227).
Verificamos, muitas vezes, que tanto familiares como educadores têm atitudes
permissivas e pouco exigentes em relação a estas crianças; acredita-se pouco nelas. Uma
atitude positiva relevando as qualidades em detrimento das dificuldades, impõe-se.
De acordo com Fonseca (1997), «a integração é o combate mais adequado à
institucionalização da deficiência e ao cepticismo e pessimismo educacional. A
integração implica sempre um benefício imediato educacional e social para a criança
deficiente. A integração na comunidade passa pela integração no sistema educacional.
Separar fisicamente escolas normais de escolas especiais é uma aberração, que se deve
eliminar»
(p. 312).
Conjugar os benefícios dos dois tipos de sistemas, adequando os seus serviços às
necessidades de cada aluno é o caminho certo para o futuro.
30
30
É notória, actualmente, a convergência de opiniões abalizadas sobre o direito das pessoas
portadoras de deficiência
serem respeitadas e integradas no seio da sociedade. Também Fonseca (1997) reconhece
que:
«A tendência internacional aponta para a integração de crianças deficientes em escolas
normais. A grande convicção do futuro é que as crianças deficientes tenham as mesmas
oportunidades que as crianças não deficientes, pois cabem-lhes as mesmas e legítimas
aspirações de realização pessoal e de participação e transformação social.
A integração das crianças deficientes tem de aumentar de ano para ano. Todas as crianças
deficientes poderão ser educadas em escolas normais, naturalmente sujeitas a deter-
minadas qualificações e avaliações» (pp. 211-212).
Sabemos como é difícil passar da teoria à prática, apesar de todos os pressupostos serem
teoricamente aceites e amplamente divulgados. Como Lourenço (1997), diríamos que
«todos os povos e culturas são multiplicidade de tempos, são eles que condicionam a
relação com o Futuro» (p. 12).
Fonseca (1997) traça-nos os caminhos a trilhar, reconhecendo que «no futuro, o desafio
está em garantir a todos a igualdade de oportunidades sociais e educacionais. As apostas e
as expectativas deverão ser positivas, pois devem acentuar a originalidade, a variedade e
heterogeneidade da pessoa humana, elevando ao máximo possível o seu potencial
intra-individual e promovendo, consequentemente, a integração social de todos os
cidadãos, sem excepção» (p. 52).
Também Simon (1991) acredita neste projecto fundamentando esta ideia da seguinte
forma: «Parece-nos que o movimento de integração, mesmo que tenha de sujeitar-se a
destinos diversos, já não se extinguirá. A nossa sociedade, convulsiva e mutável, não me
parece caminhar no sentido de mais egoísmo (...) Se portanto, vamos no sentido de mais
convívio, mais huma-
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31
nidade, é muito provável que vamos também para uma maior abertura ao outro, talvez
diferente de si, mas do qual não se pode ignorar nem rejeitar a diferença» (p. 134).
A inclusão é um imperativo que molda o imediato, mas é também a vontade de estar no
futuro antecipando-o, unindo todos os pontos do continente inventivo e imaginativo onde
o desejo de futuro e a sua emergência não são vividos passivamente.
1.1.4. Todo o mundo é composto de mudança
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades muda-se o ser muda-se a confiança todo o
mundo é composto de mudança tomando sempre novas qualidades.
(Luís de Camões)
Com o paradigma, emergente, da escola inclusiva vemo-nos perante novas situações que,
certamente, implicam mudanças a todos os níveis, sobretudo nas práticas educativas.
Sabemos quanto a perspectiva da mudança, por vezes, assusta e inibe mas, o grande
desafio coloca-se à imaginação, de forma a criar respostas, inovando, permanentemente,
adequando respostas novas a novas situações. Na óptica de Benoit (citado por Sousa,
1998), «a mudança não é uma ameaça à estabilidade, mas uma possibilidade de
desenvolvimento, colocando o problema conceptual do novo e da criatividade» (p. 36).
Certamente que o novo modelo de escola para todos, determina mudanças a todos os
níveis. Mudanças que provocam, contudo, muitas dúvidas e hesitações, pois, como
afirma Nóvoa (1995), «a mudança poderá ser encarada como uma ameaça à ordem
estabelecida. Mas se a estabilidade é artificial e precária
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32
então torna-se necessário abalar o sistema, em concordância com a urgência de uma nova
ordem» (p. 96).
Encontramo-nos perante uma nova concepção de escola que como «microssociedade»
reflecte as preocupações sociais pelo bem estar, pela qualidade de vida de todos os
cidadãos. Perante o instituído vemos a necessidade de implementar a mudança. Como
afirma Freire (1979), «uma época da história apresentará uma série de aspirações, de
desejos, de valores, em busca da sua realização. Formas de ser, de comportar-se, atitudes
mais ou menos generalizadas, das quais somente os visionários que se antecipam têm
dúvidas e frente às quais sugerem novas fórmulas» (p. 64).
Ao homem, como sujeito, compete intervir perante situações que comprometem o
humanismo. Concordamos com Freire (1979) que, «na medida em que o homem cria,
recria e decide, vão-se formando as épocas. E é também criando, recriando e decidindo
como deve participar nessas épocas. É por isso que obtém melhor resultado toda a vez
que, integrando-se no espírito delas, se apropria de seus temas e reconhece suas tarefas
concretas» (p. 64).
Para a construção da nova escola, cada interveniente terá que reconhecer o seu papel, de
uma forma reflexiva e dinâmica pois, como afirma Nóvoa (1995), «a passagem de um
sistema de ensino, de elite para um sistema de massas implica um aumento quantitativo
de professores e alunos, mas também o aparecimento de novos problemas qualitativos,
que exigem uma reflexão profunda» (p. 96).
É, possivelmente, através de uma prática reflexiva que cada professor encontrará o seu
lugar e assumirá o seu papel pois, concordando com Nóvoa (1995), «se as circunstâncias
mudaram, obrigando-os a repensar o seu papel como professores, uma análise precisa da
situação em que se encontram ajuda, sem dúvida, a dar respostas mais adequadas às novas
interrogações.
33
33
Provavelmente, muitas questões são de difícil solução no âmbito da actuação individual
de um professor isolado, mas, mesmo neste plano, um conhecimento mais exacto do
problema pode contribuir para evitar o desajustamento» (p. 98).
Também Freire (1979) confere importância à capacidade de reflexão para a prática: «É
exactamente esta capacidade de actuar, operar, de transformar a realidade de acordo com
finalidades propostas pelo homem, à qual está associada sua capacidade de reflectir, que o
faz um ser da práxis» (p. 17).
Teremos sempre que tomar em conta as condições, a realidade, pois concordando com
Freire (1979), «se acção e reflexão, como constituintes inseparáveis da práxis, são a
maneira humana de existir, isto significa, contudo que não estão condicionadas, como se
fossem absolutas, pela realidade em que está o homem» (p. 17).
Para imprimirmos a mudança e alterarmos o status quo, Freire (1979) propõe «o
desenvolvimento de uma consciência crítica que permita ao homem transformar a
realidade (...). Na medida em que os homens, dentro de uma sociedade, vão respondendo
aos desafios do mundo, vão temporalizando os espaços geográficos e vão fazendo história
pela sua própria actividade criadora» (p. 133).
Sujeitos e agentes de um tempo em que a inovação e mudança se tornaram quase valores
de uma sociedade que tomou conhecimento da sua evolução permanente, do seu devir
contínuo, em que a mudança constitui, mesmo, condição fundamental da sobrevivência
dos diferentes grupos, é, de facto, verdadeiramente surpreendente que estejamos a
assistir, passivamente, à imposição de novos obstáculos à transformação dos contextos e
das situações pedagógicas e educativas. Não poderemos retirar a dimensão utópica deste
projecto da inclusão. É verdade que. não existe uma solução óptima que seria, com
certeza, uma solução péssima. Vamos procurando caminhos...
35
Capítulo II – DA SEGREGAÇÃO À INCLUSÃO
2.1. Da exclusão à inclusão
2.1.1. Práticas de exclusão: evolução histórica
Basta a miséria de um desgraçado, para que todos nós sejamos miseráveis.
(TEIXEIRA DE PASCOAES)
Na antiguidade, em algumas sociedades, era normal o infanticídio quando se observavam
anormalidades nas crianças. Na Idade Média, a Igreja considerou-as possuídas pelo
demónio submetendo-as a práticas de exorcismo, condenando, ao mesmo tempo, o
infanticídio.
Os deficientes mentais eram, nos séculos XVII e XVIII, internados em orfanatos,
manicómios e prisões, junto com delinquentes, velhos e indigentes.
No final do século XVIII têm lugar as instituições especializadas. A sociedade sente-se
aliviada, proporcionando cuidados e assistência ao deficiente, protegendo-se e
protegendo-o: separando-se o deficiente, segrega-se e discrimina-se. Esta era prolonga-se
até meados do século XX.
Este século caracteriza-se pelo início da escolaridade obrigatória. Aqui se verifica a
dificuldade de muitos alunos seguirem
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36
o ritmo normal da turma, sobretudo os deficientes. Aparecem, assim as classes especiais
que agrupam as crianças segundo diversas etiquetas, em função das diferentes etiologias.
Segundo Bairrão (1998), em meados do século assiste-se à rejeição deste modelo por
parte dos pais. Na Dinamarca usa-se, pela primeira vez, o conceito de «normalização»
que apresenta a «possibilidade do deficiente desenvolver um tipo de vida tão normal
quanto possível» (p. 15)
A forma como a sociedade ao longo da história foi encarando as pessoas com deficiência
está intimamente ligada a factores económicos, sociais e culturais, de cada época.
Podemos, portanto, assumir que existem, no campo da educação, aspectos essenciais de
natureza «societal» mais vasta ligados a determinados períodos no tempo e que
imprimem à educação especial características semelhantes em diversos países.
Pensamos ser importante abordar outras perspectivas que, contudo, convergem nos
pontos essenciais.
Segundo Fonseca (1996), nos primórdios da humanidade, o indivíduo portador de
deficiência foi visto com superstição e malignidade. Em Atenas, os deficientes eram
abandonados em locais desconhecidos para aí lutarem pela sobrevivência. Em Esparta
fazia-se uma selecção desumana. Os Romanos exibiam os deficientes em festividades
sumptuosas. Eram encarados pelo cristianismo com piedade e compaixão. Fonseca
(1996) refere ainda a concepção, à data, de inteligência que, na criança era vista como
«mini-inteligência adulta e divinamente predestinada».
Os deficientes eram vistos como «crianças de Deus» ou «bobos da corte», durante a Idade
Média, ou então, esconjurados ou apedrejados.
Também durante a Reforma, Lutero e Calvino consideraram os deficientes como seres
possuídos por Satanás.
Continuamos seguindo Fonseca (1996), que refere a atitude diferente da cultura oriental,
com Confúcio, que atribui à socie-
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dade a responsabilidade de tratar dos que não podiam fazê-lo pelos seus próprios meios.
Fonseca (1996) refere, ainda, a figura de Pedro Ponce de Leon como criador da primeira
instituição para deficientes auditivos (1520-1584). Também em Paris (1745-1822),
Valentim Hauy abre a primeira escola para cegos.
Em Aveyron (1799) descobre-se uma criança-lobo à qual se chama Vítor. Philippe Pinel
trouxe-a para Paris. Diagnosticou-a como idiota (peculiar, diferente). Jean Gaspar Itard
toma a seu cargo a reabilitação desta criança adoptando uma concepção
envolvimentalista da inteligência, que atribui um maior valor à influência do meio,
minimizando a hereditariedade e os factores biológicos no desenvolvimento humano.
Como indica Fonseca (1996), «nesta concepção, os factores situacionais e extra-
-biológicos são reforçados. (...) O que conta é a herança social e cultural. A inteligência
não é mais do que o produto do meio. Estamos no envolvimento utópico e ortodoxo,
entramos no humanismo pedagógico, no determinismo cultural e no behaviorismo» (pp.
284-285).
Itard enganou-se quando pensou ser possível ensinar o Vítor a falar, ler e escrever, aos
doze anos, pois não basta a estimulação sensorial compensatória, em qualquer período do
desenvolvimento; como reconhece Fonseca (1996) «a inteligência humana não depende
só de condições do envolvimento, pois ela encerra igualmente uma pré-estrutura interna.
(...) Está provavelmente aqui o segredo, ou o êxito, do novo movimento da educação
especial e da reabilitação, isto é, a importância da identificação e intervenção precoces»
(p. 285).
Segue-se depois o período do interaccionismo. Aqui a inteligência é composta pelo
biológico e pelo social, como unidade. Segundo Fonseca (1996), é o tempo de Pavlov
(1980), Freud (1974), Wallon (1968), Piaget (1968), cujas concepções de edu-
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38
cação constituem um novo caminho, influenciando perspectivas e atitudes para com as
crianças com deficiências.
Bairrão (1998) define as linhas do desenvolvimento das estruturas organizacionais para
os deficientes: perspectiva assistencial e de protecção à educação, iniciativa privada à
pública, da segregação à integração.
Citando alguns autores, Bairrão refere três períodos históricos nesta evolução. O primeiro
período, o «dos esquecidos e escondidos» que se situa no início deste século, dando
continuidade ao modelo asilar e segregatívo do século anterior, mantém longe da
sociedade os deficientes, cujas famílias se sentiam, provavelmente, mal com a
discriminação de que eram alvo.
Durante o segundo período, denominado «de despiste e de segregação» verifica-se o
apogeu das técnicas psicométricas e do modelo da classificação e diagnóstico
(médico-diagnóstico) cuja
preocupação é, afirma Bairrão (1998), classificar e diagnosticar, em vez de educar.
«A comunidade científica do tempo pensava que prestava um melhor serviço às crianças
educando-as conjuntamente com outras crianças deficientes, protegendo-as, assim, dos
normais. Segregadas, elas seriam educadas de forma controlada, sendo objecto de
diferentes cuidados médicos, psicológicos e sociais. Fazia ainda parte dessa crença que
tais crianças, utilizando os recursos pedagógicos normais, não só não poderiam funcionar
autonomamente como poderiam até prejudicar as crianças normais. Contribuíram
também para esta visão segregada da educação a crença na fixidez dos critérios
psicométricos, a concepção da deficiência como doença e os limites das estratégias e
técnicas pedagógicas ao tempo disponíveis» (p. 18).
O terceiro período de «identificação e ajuda» tem início nos
anos 70 e está na base da lei 94-142 de 1975, publicada nos Estados Unidos da América.
Esta lei atribui direitos iguais para
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todos, em matéria de educação. Esta legislação vai ter influência em todo o mundo.
Será interessante estabelecer a relação entre escola e segregação. Niza (1996) traça uma
perspectiva da exclusão referindo que, em Portugal, no ano de 1911, apenas um terço das
crianças dos 7 aos 14 anos frequentava a escola obrigatória, nessa altura decretada. Isto
acontece ao mesmo tempo que Binet e Simon, em França, concebem a primeira Escala de
Inteligência, que selecciona os alunos da escola pública.
Os professores tratavam os alunos como um só, tendo a ilusão da turma homogénea. Com
a aplicação da Escala de Binet escolhiam-se os alunos que constituíam as classes de aper-
feiçoamento. Refere Niza (1996) que «esta designação eufemística do primeiro sistema
alternativo de escolaridade provou rapidamente, que, tal como na geometria, os sistemas
paralelos nunca se podem encontrar» (p. 139). Atente-se no decreto n.º 20 741, onde se
afirma que os liceus têm de ser «reservados aos fortes e aos mais aptos», ou o artigo de
Marcelo Caetano (citado por Cortesão, 1988), em que ele afirma que uma criança filha de
um operário não tem para as ciências «a mesma preparação hereditária que tem para o
ofício do seu pai e por isso não passará, nunca, de um medíocre intelectual (...)» (pp.
149-150). Prosseguimos na análise deste estudo que aborda a atitude do professor, que
exclui os alunos, que não acompanham as aulas colectivas, designados «atrasados».
Também a psicometria serviu de instrumento de exclusão ao atribuir a incapacidade ao
aluno. Embora o desenvolvimento de estudos tenha vindo a isolar vários factores do
insucesso como sócio-económicos, ou institucionais, grande número de professores teima
em atribuir as causas do insucesso, apenas a condições de personalidade ou de
inteligência, intrínsecas dos alunos com dificuldades.
Convém aqui reportarmo-nos ao Estado Novo, e ao seu sistema educativo, aqui
referenciado por Cortesão (1988).
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O Decreto n.º 20 741, após referir os inconvenientes de os liceus terem demasiada
população, termina afirmando que «a normalidade será estabelecida quando as famílias
compreenderem que os cursos dos liceus, de sua natureza difíceis, têm de ser reservados
aos fortes e aos mais aptos e à medida que a selecção se vai fazendo, como convém, que
seja feita, para restituir ao ensino secundário e consequentemente ao ensino superior
aquele grau de elevação que ambos, cada um na sua esfera, devem manter» (p. 78).
Desta forma a selecção «meritocrática» beneficia apenas os «herdeiros».
Para Correia (1997), «se a política de exclusão elimina as crianças da sociedade de que
devem ser parte integrante, o procedimento de as colocar com estatuto desviante
segrega-as: excluídas dos programas de educação públicos, impedidas de interacções
benéficas para o seu desenvolvimento, crescem em ambientes interpessoais áridos e,
muitas vezes, hostis» (p. 14).
Depois desta viagem pelas práticas de exclusão concluímos da sua desumanidade, só
possível pelos contextos que as determinavam.
2.1.2. Da segregação à integração
A presença de crianças que não correspondam ao menu preexistente na escola encoraja,
de alguma
forma, os professores para que procurem uma cultura mais colegial e para que se
entreajudem na experimentação de novas respostas educativas.
(Mel Ainscow)
Identificar e reconhecer a diversidade é percorrer o caminho da igualdade de
direitos. Reconhece-se, hoje, que todas as crianças têm características, interesses,
capacidades
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e necessidades de aprendizagem que lhe são próprias. Como tal, talvez possamos afirmar:
toda a educação é especial, varia a especialidade!
Para a integração de alunos com Necessidades Educativas Especiais (NEE) surgem, nos
anos 70, dois documentos fundamentais: nos EUA, em 1975 o PL- 94-142, e o
denominado Warnock Report, publicado em 1978, em Inglaterra.
O conceito de NEE surge na sequência dos movimentos de integração e inclusão e vem
dar resposta ao princípio da democratização das sociedades.
Inicia-se o período denominado «identificação e ajuda» que está na base da «revolução
silenciosa» da lei americana 94-142, de 1975. Esta lei contempla direitos iguais para
todos os cidadãos em matéria de educação e vai ter influência em todo mundo.
Com esta legislação dá-se uma viragem a vários níveis: passa a valorizar-se a educação
como forma de mudança e a integração como forma de normalização o que, do ponto de
vista científico, põe em causa o papel exclusivo, do diagnóstico médico e psicológico
para o ensino e recuperação dos deficientes. É claro que a deficiência envolve
determinantes internas, determinantes envolvimentais e a interacção entre ambas, numa
perspectiva sócio-ecológica, onde se faz sentir a importância que é necessário atribuir à
própria criança, à sua individualidade, ao seu poder e capacidade para desempenhar um
papel activo e estruturante nas interacções que estabelece com o envolvimento.
Assentando no pressuposto de que todos os cidadãos, mesmo os deficientes, têm os
mesmos direitos e que, por isso, deverão frequentar um ensino universal e gratuito
adaptado às suas necessidades, dá-se uma viragem a nível político e social.
Bairrão (1998) afirma que «este período foi, pois, marcado por grandes esforços para
realizar o despiste destas crianças de uma forma justa e não estigmatizante, por ligar
diagnóstico à
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42
intervenção e pelo actuar mais precocemente possível junto das crianças e famílias.
Iniciando-se bem cedo a intervenção, poder-se-ia atenuar e não agravar os défices que as
crianças apresentavam» (p. 19).
Brennan (citado por Correia, 1997), refere-se desta forma ao conceito de NEE:
«Há uma necessidade educativa especial quando um problema (físico, sensorial,
intelectual, emocional, social ou
qualquer combinação destas problemáticas) afecta a aprendizagem ao ponto de serem
necessários acessos especiais ao
currículo especial ou modificado ou a condições de aprendizagem especialmente
adaptadas para que o aluno possa
receber uma educação apropriada. Tal necessidade educativa pode classificar-se de
ligeira ou severa e pode ser permanente
ou manifestar-se durante uma fase do desenvolvimento do aluno» (p. 48).
O Warnock Report veio colocar o enfoque na aprendizagem escolar de um currículo ou
de um programa, desviando a centralização médica nas deficiências, assumindo o modelo
educativo em detrimento do modelo médico ou médico-pedagógico. Introduziu neste
contexto o conceito de NEE que se refere ao desfasamento entre o nível de
comportamento ou de realização da criança e o que dela se espera em função da sua idade
cronológica. Se um aluno apresenta dificuldades que exijam a adaptação das condições
em que se processa o ensino-aprendizagem, então esse aluno tem NEE, ou seja, uma
dificuldade significativamente maior em aprender, do que a maioria dos alunos da mesma
idade, ou uma incapacidade ou incapacidades que se tomem impedimento da prática das
mesmas oportunidades que são facultadas nas escolas, a alunos da mesma idade.
Desta forma o conceito de educação especial referido às crianças e jovens com
dificuldades, em consequência de deficiência dá lugar a um conceito mais amplo de
Necessidades
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Educativas Especiais (NEE), alargado a todos os tipos de dificuldades de aprendizagem.
O Warnock Report estabelece três categorias de necessidades educativas especiais:
• a necessidade de se encontrarem meios específicos de acesso ao currículo;
• a necessidade de ser facultado a determinadas crianças alunos um currículo
especial ou modificado;
• a necessidade de dar uma particular atenção ao ambiente
educativo em que decorre o processo de ensino-aprendizagem.
A Declaração de Salamanca (UNESCO, 1994) sobre princípios, política e prática em
educação especial, proclama que:
• toda a criança tem direito fundamental à educação, e deve-lhe ser dada a oportunidade
de atingir e manter o nível adequada à aprendizagem;
• toda a criança possui características, interesses, habilidades e necessidades de
aprendizagem que são únicas;
• sistemas educacionais deveriam ser designados e programas educacionais deveriam ser
implementados no sentido de se levar em conta a vasta diversidade de tais características
e necessidades;
• aqueles com necessidades educacionais especiais devem ter acesso à escola regular, que
deveria acomodá-los dentro de uma pedagogia centrada na criança, capaz de satisfazer a
tais necessidades;
• escolas regulares que possuam tal orientação inclusiva constituem os meios mais
eficazes de combater atitudes discriminatórias, criando comunidades acolhedoras, cons-
truindo uma sociedade inclusiva e alcançando educação
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para todos; além disso, tais escolas provêem uma educação efectiva à maioria das
crianças e aprimoram a eficiência e, em última instância, o custo da eficácia de todo o
sistema educacional.
Segundo Fonseca (1997), «a integração é, em suma, educar as crianças deficientes, nas
classes dos não deficientes» (p. 226). Para que isto se verifique são necessárias algumas
mudanças, tais como: formar professores, aplicar novas técnicas, planificar acções e
individualizar programas, pois a integração parte do conceito de crianças especiais para o
conceito de situações especiais que determinam formação, prática pedagógica e
investigação. A integração implica uma atenção permanente «aos estudos de organização
e modificação de comportamento, de desenvolvimento humano, de análise de sistemas de
desenho curricular, de atitudes dos professores, de atitudes dos pais e companheiros, de
modelos de sucesso escolar» (Fonseca, 1997, p. 229).
Conforme estudos da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Europeu, referidos
por Bairrão (1998), dá-se da seguinte forma a evolução da assistência a crianças e jovens
com deficiência em Portugal.
Numa primeira fase, segundo metade do século XIX, assiste-se à criação das primeiras
instituições (asilos) para cegos e surdos, com pouco financiamento por parte do Estado,
de origem, geralmente, privada.
Nos anos 60 assiste-se a uma forte intervenção, de natureza pública, com a coordenação
do Ministério dos Assuntos Sociais. «Este período caracterizou-se pela criação de centros
de educação especial e centros de observação e também pela realização dos primeiros
programas de formação especializada de professores, fora do âmbito do Ministério de
Educação» (p. 16).
Na terceira fase (início dos anos 70), o Ministério da Educação assume a liderança e cria
as Divisões do Ensino Especial
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dos Ensinos Básicos e Secundário iniciando desta forma a integração escolar.
Como primeira medida, que veio a permitir o apoio a crianças com deficiência, as
Equipas de Educação Especial foram implementadas em 1975-76. O apoio era prestado,
inicialmente a crianças e jovens com deficiências motoras e sensoriais e, mais tarde, com
deficiências mentais, integrados nas escolas regulares. Todavia só volvidos cerca de dez
anos (1988) estas equipas foram reconhecidas pela lei.
Os Serviços de Apoio às Dificuldades de Aprendizagem (SADA) foram outra iniciativa
da Direcção Geral Ensino Básico e Secundário / Ministério da Educação, no final dos
anos 70. Com esta medida propunha-se a orientação educativa junto dos professores de
turma e de apoio à escola em alternativa ao apoio directo e centrado no aluno. Outra nota
positiva era a perspectiva interdisciplinar, integrando aqui, para além de docentes,
psicólogos. Estes serviços foram entretanto extintos por serem considerados uma
sobreposição das Equipas de Educação Especial.
Hoje, a responsabilidade da Educação Especial reparte-se essencialmente pelos serviços
competentes do Ministério da Educação e do Ministério de Solidariedade Social, que
prestam serviços de atendimento a crianças e jovens com NEE. As escolas especiais, os
colégios particulares subsidiados e as Equipas de Educação Especial, a funcionar nas
escolas regulares, são estruturas de atendimento dependentes do Ministério da Educação.
Destes serviços, as equipas de Educação Especial são, porém, de acordo com a filosofia
da integração aquele que tem visto mais alargado o seu campo de actuação tendo
triplicado desde o seu início, sendo o número de crianças atendidas mais que o quíntuplo,
do seu início (cf. Bairrão, 1998)
A integração não foi, não é, um processo pacífico. É claro que este conceito implica uma
mudança cultural, dolorosamente lenta. Concordamos com Vayer e Roncin (1992)
quando afirmam
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que «é difícil integrar uma população particular numa sociedade pois, a partir de uma
certa percentagem de indivíduos diferentes, a população de origem teme perder a sua
identidade» (p. 7).
Como principal protagonista deste processo encontra-se o professor do ensino regular do
qual se espera atitudes de intervenção, que passam pela utilização de estratégias e
desenvolvimento de actividades focalizadas na diferença e individualidade, mantendo um
programa eficaz para o grupo/turma.
Este modelo tem limitações, como afirma Correia (1997), «sem a formação necessária
para responder ás necessidades educativas destes alunos, não conhecendo, muitas vezes,
a natureza dos seus problemas e as implicações que têm no seu processo educativo, os
professores do ensino regular não lhes podem prestar o apoio adequado» (p. 20).
Estes são alguns dos constrangimentos que entravam este processo, vendo-se desta forma
comprometida a aplicação do modelo pois como aponta Correia (1997), «a incapacidade
ou insegurança sentidas, relativamente ao desenvolvimento de estratégias de
ensino-aprendizagem adequadas, condiciona, evidentemente o êxito da integração» (p.
21).
Os professores do ensino regular não possuem formação específica, para o atendimento
de crianças e jovens com NEE. A legislação conhece limitações de aplicação também a
este nível: «a integração tem sido primordialmente promovida por legisladores que não
consideram a variável que consiste na capacidade de resposta daqueles que a têm de pôr
em prática» (Correia, 1997, p. 20).
Para melhor compreendermos, hoje, a integração necessário será, conhecermos uma
diferente abordagem da linha histórica do atendimento de crianças e jovens com NEE.
Segundo Sanches (1995), a educação de deficientes em Portugal teve o seu início em
1822 pela mão de Freitas Rego com
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a criação de um instituto de surdos-mudos e cegos em Lisboa. O objectivo era tornar o
deficiente num membro activo da sociedade.
Já no início deste século, existiam dois institutos para cegos e dois para surdos, em
Portugal que asseguravam a educação a uma pequena faixa das crianças e jovens com
deficiência. É em 1913 que Aurélio da Costa Ferreira dá início ao «Curso Normal» para
especialização de professores para a educação de surdos. Os «rejeitados do sistema
educativo» eram colocados nas classes especiais, a funcionar nos institutos e instituições
de assistência.
Com a Declaração dos Direitos da Criança (1921) e a Declaração dos Direitos do Homem
(1948) é posto em causa este
modelo segregacionista.
A publicação do Decreto-Lei n.º 3/8, de 1946, determina a criação de «classes especiais»
frequentadas, primeiro por crianças «anormais» e mais tarde por crianças com
«inadaptações escolares e debilidades ligeiras». Estas classes funcionavam com um
grupo de alunos inferior a quinze, com programas de estimulação sensório-motora,
leitura-escrita e cálculo.
Com a criação das Equipas de Educação Especial (EEE), dependentes das Direcções
Regionais de Educação, tutelando o ensino Integrado, possibilita-se uma resposta
alargada às (NEE). Estas equipas tinham como objectivo principal a integração familiar,
social e escolar das crianças deficientes adoptando várias formas de actuação, segundo o
Secretariado Nacional de Reabilitação (1985):
• apoio domiciliário aos pais e à criança nas primeiras idades;
• apoio pedagógico individual ou em pequenos grupos, com periodicidade variável, na
escola onde a criança está integrada,
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• sensibilização de educadores e professores das classes regulares, seja através de
encontros informais, seja através de acções de formação;
• produção de material didáctico especial;
• difusão de equipamento e material escolar;
• contacto com os recursos da comunidade que podem intervir de qualquer forma no
processo educativo da criança.
A publicação do Decreto-Lei n.º 319/91, de 23 de Agosto, vem determinar novos
princípios orientadores:
• substituição da classificação em categorias baseadas em decisões do foro médico, pelo
conceito de NEE, baseado em critérios pedagógicos;
• responsabilização da escola regular pela educação de todos os alunos, numa
perspectiva 'e «escola para todos»;
• reconhecimento do importante «papel dos pais» na orientação educativa dos seus
filhos;
• educação do aluno com necessidades educativas especiais no meio, o menos
restritivo possível.
O mesmo decreto considera medidas que possibilitam a integração:
• equipamentos especiais de compensação;
• adaptações materiais;
• adaptações curriculares;
• condições especiais de matrícula;
• condições especiais de frequência;
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• condições especiais de avaliação;
• adaptação na organização de classes ou turmas;
• apoio pedagógico acrescido;
• ensino especial.
Aqui o papel do professor de Educação Especial é, claramente, evidenciado.
À luz das várias leituras sobre este conceito, consideramos a Educação Integrada como, a
noção de escola, como espaço educativo aberto, diversificado e individualizado em que
cada criança encontre a resposta à sua diferença e individualidade.
Este conceito tem como base a normalização e assenta no conceito de «meio menos
restritivo possível» que possibilita a integração física, social e pedagógica, pressupondo a
utilização máxima dos aspectos mais favoráveis do meio para o desenvolvimento total da
sua personalidade. Este modelo permite ao professor do ensino regular um procedimento
adequado para com todos os alunos da classe. Outro aspecto, positivo relevante, é a
promoção de relações sociais entre os alunos com necessidades educativas especiais e os
outros.
Na base das recentes disposições legais de igualdade de oportunidades educativas, para
crianças com NEE na escola regular, estão . os movimentos de influência da mentalidade,
operados ao longo da Segunda metade do nosso século, sobretudo de ordem filosófica.
Afirma Correia (1997), que «à medida que os conceitos de igualdade, liberdade e justiça
se expandem, as crianças e as suas famílias evoluem de uma situação de passividade para
uma outra de maior empenhamento na resolução dos seus problemas concretos (...) a
escola está à disposição de todas as crianças em igualdade de condições e é obrigação da
comunidade proporcionar-lhes um programa público e gratuito de educação adequado às
suas necessidades» (p. 14).
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Chegados à conclusão de que o princípio de integração determina a colocação da criança
ou jovem com NEE junto da criança dita «normal» para fins académicos e sociais, tendo
em consideração as suas características e necessidades concretas, num ambiente o mais
normal possível, de modo a que lhe seja proporcionada uma educação apropriada,
torna-se ainda necessária uma diversificação de serviços, diferenciados, que possibilitem
a aplicação do modelo.
Deno (citado por Correia, 1997) desenvolveu um sistema, em cascata, dos serviços
educacionais que tem como finalidade a adequação dos meios à criança, de uma forma o
menos restritiva possível (cf. Figura 1)
Este sistema em cascata comporta uma diversidade de medidas, graduadas também em
função das necessidades das crianças numa perspectiva de normalização.
Tendo, a maior parte das crianças, com NEE, dificuldades ligeiras, ou moderadas, a base
da pirâmide constitui a maior integração e o meio menos restritivo. Numa sequência
lógica a pirâmide vai estreitando, ocupando, um pequeno espaço, as crianças que
requerem meios mais restritivos, especializados e intensos.
O objectivo principal é possibilitar a transição para o nível imediatamente superior no
sentido de permitir o alcance da base ou, melhor ainda, a saída da pirâmide.
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Número de alunos
Nível I
O aluno permanece na classe regular. Professor do ensino regular recebe orientações do
professor de educação especial (consultor) e de quaisquer outros especialistas tidos como
necessários.
Professor do ensino regular dirige programa de intervenção.
Nível II
O aluno permanece na classe regular, recebendo apoio directo do professor de educação
especial (itinerante). Programa dirigido pelo professor do ensino regular com a
colaboração do professor de educação especial.
Nível III
O aluno frequenta classe regular e sala de apoio. Programa de intervenção dirigido pelo
professor do ensino regular e pelo professor de educação especial.
Nível IV
O aluno frequenta escola especial. Programa de intervenção dirigido pelo professor de
educação especial
Nível V
O aluno frequenta escola especial. Programa elaborado por especialistas entre os quais
figura o professor de educação especial
Nível VI
O aluno recebe serviços de educação especial no seu domicílio. Programa elaborado por
especialistas entre os quais figura o professor
especial.
Nível VII
O aluno recebe serviços de educação especial em instituições especializadas: hospitais,
IPSS, lares, etc. Programa elaborado por especialistas.
Figura 1. Cascata de Serviços Educativos
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2.1.3. A integração como filosofia educacional
Mas a educação o que é? É ser bem comportado? É cumprir as regras do convívio social,
não interferir na liberdade dos outros ou dizer as coisas de uma certa maneira e com
alguma erudição?
É tudo isso e mais alguma coisa que cada um acrescenta da sua ciência e arte?
(João Dos Santos)
É evidente, que a educação permite a transmissão da cultura, dos valores éticos e cívicos,
na sua vertente socializante. João dos Santos (1991) revela-nos, com o seu pensamento,
uma visão sistémica da educação, afirmando que «educar consiste em a pessoa se
oferecer como modelo, ser educado é a pessoa crescer e evoluir de maneira a constituir-se
a ela própria como modelo» (p. 129).
O sistema de comunidade educativa é um todo, mais do que a soma das partes, um espaço
rico onde o sujeito se desenvolve e aprende. Como afirma Morrish (citado por Peixoto,
1988), «não existem eus isolados, apenas pessoas em relação, e este conceito é
interdisciplinar: assim é que a reflexão filosófica, a psicologia, a sociologia, a história,
etc. fornecem um corpo de conhecimentos para uma compreensão mais profunda da
educação como um todo» (p. 20). Aprender é um processo complexo que determina
crescimento e tem como meta maior, a autonomia do sujeito. É toda a comunidade
educativa, enquanto sistema, que em relação, permitirá atingir esse desenvolvimento e
autonomia que possibilita ao sujeito escolher, decidir por si.
De acordo com Fonseca (1996), «como seres humanos somos organismos complexos,
cuja evolução e ontogénese retrata uma interacção multifacetada entre o corpo, o cérebro
e os vários ecossistemas (exemplo: família, creche, escola, emprego, comunidade,
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etc.), e é dessa interacção que ocorre o desenvolvimento cognitivo por meio do qual nos
adaptamos ao meio exterior que nos envolve e o transformamos à nossa medida» (p. 7).
Sampaio (1998) estabelece uma relação dinâmica entre os vários factores que interagem
na construção da pessoa, da personalidade única, que diferencia cada um, afirmando:
«Sabemos da investigação psicossocial, que crianças e jovens, mesmo a viver em
circunstâncias muito desfavoráveis, conseguem desenvolver aspectos da sua
personalidade que os tornam mais resistentes às condições adversas. Todo o esforço
deverá ser concentrado, não na análise dos factores de risco, mas antes na potenciação dos
factores protectores» (p. 44).
Correia e Serrano (1998) evidenciam essa rede de relações anotando «vários foram os
contributos teóricos que influenciaram tais mudanças, nomeadamente algumas das
teorias no campo da psicologia do desenvolvimento, as quais vieram clarificar a
importância, quer da interacção indivíduo-ambiente na construção do conhecimento e no
desenvolvimento global da criança, quer a importância das relações primárias, e
igualmente as perspectivas ecológica e sistémica social» (p. 17).
Nesta lógica, todos os indivíduos são vistos num processo de desenvolvimento constante
e dinâmico, que progressivamente os faz passar para diferentes contextos, reestruturando
os contextos onde se inserem. Esta abordagem determina mudanças, pois como dizem os
autores acabados de referir, «a transformação do sistema significa que os apoios à criança
já não podem ser descontextualizados da comunidade ou da família» (p. 59).
A integração, consistindo num processo de práticas que maximizam a participação das
pessoas em actividades comuns da sua cultura, determina a «oferta de serviços
educativos» que se põem em prática, mediante a disponibilidade de uma variedade e de
alternativas de ensino e de classes, que são adequadas ao plano educativo, para cada
aluno, permitindo a máxima inte-
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gração institucional, temporal e social entre alunos deficientes e não deficientes durante o
período escolar.
Passemos em revista algumas definições de integração para melhor entendermos este
conceito (cf. Bautista, 1997):
• Birch define a integração escolar como «um processo que pretende unificara educação
regular e a educação especial, com o objectivo de oferecer um conjunto de serviços a
todas as crianças, com base nas suas necessidades de aprendizagem».
• Kaufman define a integração, tendo como marco educativo o mainstring, como
«referida à integração temporal, instrutiva e social de um grupo seleccionado de crianças
diferentes, com os seus companheiros normais, baseada numa planificação educativa e
num processo programador evolutivo e individualmente determinado. Esta integração
requererá uma distribuição de responsabilidade entre o pessoal educativo regular e
especializado e o pessoal administrativo e auxiliar».
• A National Association of Retard Citizens (NARC), dos EUA, explica que «a
integração é uma filosofia ou princípio de oferta de serviços educativos, que se põe em
prática mediante a provisão de uma variedade de alternativas de ensino e de aulas
adequadas ao plano educativo de cada aluno, permitindo a máxima integração
educacional, temporal e social entre alunos deficientes e não deficientes durante o
período escolar normal».
O processo de integração assenta em alguns pressupostos (cf. Bautista, 1997):
• a integração significa uma participação efectiva nas tarefas escolares que
proporcione à criança ou jovem a educação
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diferenciada de que necessita; não representando apenas a colocação física num ambiente
não restritivo;
• a integração inicia-se com a avaliação e identificação
das necessidades educativas especiais do aluno implicando o recurso a ajudas pessoais,
materiais, adaptações curriculares etc., que favoreçam o seu desenvolvimento;
• a colocação de uma criança num determinado ambiente ou
lugar não será definitiva; mediante avaliação periódica tentar-se-á proporcionar-lhe
situações que permitam um maior nível de integração;
• nem sempre será possível, a integração de alguns alunos numa classe regular de uma
escola regular. Sendo isto o ideal e a tendência natural, haverá casos em que a modalidade
de integração deverá ser outra.
A designação «Necessidades Educativas Especiais» (Special
Educational Needs) foi utilizada no famoso Relatório Warnock, de
Maio de 1978, apresentado no Parlamento do Reino Unido, pela Secretaria de Estado para
a Educação e Ciência e a Secretaria do Estado para a Escócia e a Secretaria do Estado
para o País de Gales.
Esse relatório foi elaborado a partir do estudo realizado pelo 1.º Comité do Reino Unido,
presidido por Mary Warnock (1978), constituído para analisar o atendimento existente
para todos os deficientes. Aqui as dificuldades apresentam-se como - um contínuo,
encaradas não «em termos de uma dificuldade particular da criança, mas em relação com
tudo sobre ela, capacidades e incapacidades, todos os factos importantes no progresso
educativo» (p. 37).
Desta forma, um aluno com NEE (Necessidades Educativas Especiais) apresenta algum
problema de aprendizagem, no seu percurso escolar que precisa de atenção específica e
um acréscimo de recursos educativos.
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Com esta concepção a atenção recai nos meios e não no aluno, passando a perspectivar-se
a situação, de acordo com Warnock (1978) não como «uma dificuldade particular que a
criança é julgada ter, mas em relação a tudo sobre ela, as suas habilidades e dificuldades»
(p. 37).
Com a Declaração de Salamanca (UNESCO, 1994), o conceito de NEE conhece uma
nova definição, referindo todas as crianças e jovens cujas necessidades educativas se
relacionem com deficiências ou dificuldades escolares e consequentemente têm
necessidades educativas especiais em algum momento da sua escolaridade. Aqui se
incluem as crianças com deficiência ou sobredotadas, crianças da rua ou crianças que
trabalham, crianças de populações remotas ou nómadas, crianças de minorias étnicas ou
culturais e crianças de área ou grupos desfavorecidos ou marginalizados.
No seu percurso escolar a criança confronta-se com desigualdades que, segundo Peixoto
(1991), podem ser de vária ordem:
(a) desigualdade do desenvolvimento mental (inteligência, psicomotricidade, etc.);
(b) desigualdade na organização da personalidade (desenvolvimento afectivo, equilíbrio
emocional, etc); e
(c) desigualdade do meio sociocultural (para um igual QI, o nível sociocultural tem um
papel discriminador).
Impõe-se, para uma análise mais realista desta problemática, uma abordagem
sociológica, proposta por Peixoto (1991):
«A escola como ponto de encontro de uma população com culturas, linguagens e códigos
de comportamentos variados, deverá ter uma postura de aceitação e valorização
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das diferenças individuais, com base no princípio de que ser diferente não significa,
necessariamente, ser pior ou melhor.
Esta atitude perante a diversidade dos alunos impõe uma prática pedagógica que respeite
as diferenças individuais e, portanto, o uso de métodos e estratégias de ensino-aprendi-
zagem diversificadas e de acordo com as características, interesses e capacidades de cada
aluno» (p. 27).
A natureza das NEE é, por isso, variada. Podem ser sintomas de problemas relacionais na
família, na escola, ou entre esses dois sistemas. Apresentando um carácter pontual as difi-
culdades poderão facilmente ser ultrapassadas. Se a criança ou jovem não receber o
atendimento necessário, as dificuldades podem vir a assumir uma forma permanente.
Quanto às deficiências ou perturbações, já instaladas, a intervenção deverá ter como
objectivo incidir sobre ás potencialidades e evitar novos problemas. Em relação aos
problemas de ordem social, a atenção deverá dirigir-se ao meio, numa atitude de respeito,
pela cultura de origem do aluno.
O objectivo da educação deve ser o mesmo para qualquer aluno: o desenvolvimento da
autonomia e da identidade pessoal. Os meios para os alcançar é que podem ser diferentes.
Se as NEE são um problema devemos procurar a solução adequada dentro da comunidade
educativa, envolvendo o meio menos restritivo possível, utilizando os meios educativos
apropriados. Sousa (1998) adverte que «devemos ser cuidadosos e não deixar o sistema
engendrar o problema, isto significa que as descrições ou explicações, as histórias e
narrativas com ele relacionadas estão a torná-lo um problema. Quando surgir uma
situação problemática, então o problema engendra o sistema, isto é; a comunidade
educativa organiza-se para o resolver» (p. 58).
A Lei de Bases do Sistema Educativo (LBSE), segundo Pires (1987), «consagra a
integração em estabelecimentos regulares de ensino como modalidade preferencial da
educação para defi-
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cientes, sem embargo da adaptação de currículos, programas e formas de avaliação a cada
tipo e grau de deficiência e comete a um único Ministério a responsabilidade pela
coordenação da política educativa, a orientação, apoio técnico pedagógico e fiscalização
de todas as iniciativas neste domínio» (p. 8).
Com a publicação do Decreto-Lei n.º 319/91, de 23 de Agosto, fica legitimada a
responsabilização da escola regular na educação de crianças e jovens com NEE,
apresentando a ideia de uma escola para todos, contempla os alunos com necessidades
educativas especiais que frequentam os estabelecimentos públicos de ensino dos níveis
básico e secundário.
O Decreto-Lei n.º 319/91 materializa duas orientações que decorrem do desenvolvimento
jurídico da Lei de Bases do Sistema Educativo, no seu artigo 59.º:
• fomentar a igualdade de oportunidades educativas a todas as crianças e jovens
deficientes;
• permitir que as NEE correspondam, no âmbito das escolas regulares, a
intervenções específicas adequadas.
Também a Declaração Mundial sobre Educação Para Todos (1990) determina a
necessidade de se tomarem as medidas necessárias destinadas a assegurar a igualdade de
oportunidades de acesso à educação, a todas as categorias de indivíduos deficientes.
É claro que a lei é um avanço importante para a modificação do sistema, mas tem de ser
acompanhada pela organização de estruturas de apoio às escolas, como reconhece Sousa
(1998). «Por enquanto, esta evolução legislativa não foi acompanhada pela adequação
dos recursos no terreno, isto é, nas escolas» (p. 74).
O Conselho Nacional de Educação, pela 5.ª Comissão - acompanhamento e análise global
da educação - e na sequência do
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seminário organizado por esta comissão («Uma educação inclusiva a partir da escola que
temos»), elaborou um documento no qual pretende prestar um contributo para uma
política educativa que dê uma resposta eficaz às crianças e jovens com necessidades
educativas especiais, contrapondo à segregação e. ao insucesso como via educativa
estimulante das suas capacidades, no quadro de uma escola para todos. Pretende-se no
referido documento (ME/CNE, 1999) ainda, prestar, um contributo que seja útil a todos
os que intervêm nesta área tão sensível, em particular aqueles que tem responsabilidades
de decisão aos diversos níveis da Administração, para que «a educação para todos seja,
efectivamente, para todos, especialmente para os mais vulneráveis e com mais
necessidades». Aqui se refere, o papel do Ministério da Educação que, se por um lado, a
partir de 1973-1974 publicou importantes diplomas legais anunciando a integração,
assumindo, pela primeira vez, a educação das crianças e alunos deficientes, por outro, fez
dirigir a maior parte dos investimentos financeiros do Estado para as estruturas
segregadas, e não para o desenvolvimento da educação integrada.
Fonseca (1997) aponta algumas das prioridades na filosofia da integração, afirmando que
«a "classe regular" e a "escola regular" terão de alargar e expandir as oportunidades de
aprendizagem a todas as crianças, incluindo as deficientes. Só assim se' pode integrar um
maior número de crianças. Novos programas, novos currículos, novas funções para os
professores das classes regulares, novos conteúdos na sua formação, novos suportes,
novos processos de colaboração entre técnicos, etc., são alguns dos sectores de
desenvolvimento educacional que o conceito de integração arrasta consigo» (p. 220).
A integração de alunos com deficiências implica, entre outras coisas, a elaboração e
adaptação de esquemas curriculares, a inovação e investigação educativa dos processos
integradores, a necessidade de formar e qualificar professores, a
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adaptação dos recursos humanos e materiais e a intervenção e orientação
psicopedagógica.
A integração assenta em dois princípios básicos:
• normalização: o aluno com necessidades educativas especiais deve desenvolver o seu
processo educativo num ambiente não restritivo e tão normalizado quanto possível;
• individualização: perspectiva pedagógica que implique ajustar o atendimento educativo
às características e particularidades de cada aluno.
2.1.4. Perto da vista, perto do coração
- O tempo que gastaste com a tua rosa é que a fez ser tão importante.
- O tempo que gastei com a minha rosa... - repetiu o principezinho, para depois se
lembrar.
(Saint-Exupéry)
É pela proximidade, pelo contacto do quotidiano, que se estabelecem os laços, que se
atam os nós, numa relação feita de cumplicidades. Concordamos com Peixoto (1990),
quando diz: «(...) a escola, que tem vindo a sobrevalorizar a dimensão cognitiva, no
processo de ensino-aprendizagem deverá rever os seus processos e atender, de forma
mais acentuada, à dimensão afectiva. Tal indicação é ainda mais justificável à medida que
descemos no nível etário dos alunos» (p. 138).
Da aprendizagem, como resultado da relação com os estímulos, que ocorre, como uma
transação entre pessoas, e entre elas e o mundo físico e social envolvente, emergem
muitas modi-
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ficações no processo cognitivo. Contudo esta aprendizagem não é suficiente para
produzir níveis e padrões de desenvolvimento cognitivo. Não basta apenas pôr em prática
a relação sujeito-objecto. Não basta a exposição a estímulos. É necessário que entre os
estímulos e os organismos dos indivíduos «mediatizados» surja um «mediatizador» que
intencionalmente actue nas estruturas cognitivas. É frequente ver crianças mergulhadas
em meios enriquecidos de estímulos, mas vazios de «mediatizadores». Fonseca (1996)
reconhece que:
«Embora em contacto com eles, não os exploram sistematicamente nem
planificadamente, não extrapolam, nem relacionam, não transferem, nem generalizam e
consequentemente, exibem disfunções cognitivas e comportamentos episódicos e
acidentais, algo que conhecemos como característico nas crianças culturalmente privadas
ou nos portadores de deficiência mental, e com intensidade diferente nas crianças com
dificuldades de aprendizagem ou com insucesso escolar» (p. 72).
Segundo Fonseca (1996), para se atingirem níveis de desenvolvimento, hierarquização e
complexidade cognitiva é necessário uma Experiência Mediatizada (EM), que é
responsável pelas principais mudanças estruturais de cognição. A EM é algo intrínseco à
raça humana, que explica a origem social da linguagem e do pensamento humano.
O indivíduo modifica-se em termos cognitivos se tiver sido sujeito à EM, uma vez que
pelos seus próprios meios ou por simples exposição directa a estímulos e a objectos não
se modificabilizará cognitivamente nem se apropriará de funções cognitivas superiores.
A exposição directa aos estímulos é fundamental para o desenvolvimento cognitivo, mas
a interacção mediatizada, a própria cultura, é que permite o acesso a funções cognitivas
superiores. O desenvolvimento humano é o produto de dois
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62
modelos de interacção; um com os estímulos, o outro, com os mediadores, sejam eles os
pais, os médicos, os psicólogos ou os professores. De acordo com Freire (1979) «o
homem não é uma ilha. É comunicação. Logo há uma estreita relação entre comunhão e
busca» (p. 28).
Não podemos continuar a aguardar que sejam os alunos a adaptarem-se às exigências das
tarefas ou dos métodos escolares. A escola e os agentes deverão envidar esforços para
adaptar as tarefas escolares ao nível «básico adaptativo» evidenciado pelos alunos: não
podemos aceitar que tais crianças se comportem apenas como preferem.
A EM tem como objectivo modificar estruturalmente a cognição dos indivíduos com
fracas prestações cognitivas. Ao referir a cognição devemos associar a emoção e a
motivação sendo elas inseparáveis em termos de intencionalidade e modificabilidade.
Feuerstein (citado por Fonseca, 1996) afirma que «a modificabilidade, portanto, não se
limita à cognição, mas também à emoção e à motivação» (p. 73).
Esta filosofia exige mudanças de atitude, e não apenas exibição de competências. A
atitude pedagógica que se impõe baseia-se, sobretudo, no amor. Diz Freire (1979):
«Ama-se na medida em que se busca comunicação, integração a partir da comunicação
com os demais. Não há educação sem amor. O amor implica luta contra o egoísmo. Quem
não é capaz de amar os seres inacabados não pode educar. Não há educação imposta,
como não há amor imposto. Quem não ama não compreende o próximo, não o respeita»
(p. 29).
Peixoto (1990) refere que «se nos preocupamos com o aspecto cognitivo melhoramos,
com certeza o rendimento escolar dos alunos, mas se, na sala de aula, atendermos ao
sentimento do aluno e nos preocuparmos em desenvolver e melhorar a dimensão afectiva
no processo de ensino-aprendizagem, a melhoria do rendimento escolar, será mais
acentuada» (p. 96).
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De acordo com Fonseca (1997), «tirar os indivíduos portadores de deficiência e com
necessidades especiais do trauma das expectativas negativas, ou do insucesso na
aprendizagem, é algo que exige uma grande abnegação, uma vez que não podemos acre-
ditar que eles estão condenados a não mudar, caso contrário, corremos o risco de advogar
uma pedagogia conservadora» (p. 74).
Sampaio (1998) afirma que «aprende melhor quem é gostado. Aprende-se melhor do que
se se gosta. Para uma criança gostar de aprender tem que primeiro gostar dela e, depois,
ter alguém de quem gostar» (p. 52).
Qualquer educador sabe, reflectindo, sobre a sua prática pedagógica, que sem contacto,
sem motivação, qualquer projecto pedagógico caminha para a ruína. A alavanca de
transmissão pedagógica pertence, de facto, à ordem de uma dinâmica psico-afectiva.
Por isso, para que a criança desfavorecida pessoalmente ou pelas circunstâncias que
marcaram as primeiras relações se integre no mundo dos outros é preciso,. antes de mais,
nada que esse mundo a aceite. Não basta dar lugar à criança, na sala de aula, ou numa
estrutura de atendimento, para que ela participe activamente na vida do grupo social do
qual faz parte. A integração é algo completamente diferente, como afirmam Vayer e
Roncin (1992), «é na medida em que a criança se integra na estrutura de comunicação que
ela pode envolver-se na acção e no relacionamento com os outros, envolvimento esse, que
é, sabemos bem, a condição de todo o desenvolvimento» (p. 53).
Considerando o ponto 4 da Declaração de Salamanca (UNESCO, 1994):
• Uma pedagogia centrada na criança pode impedir o desperdício de recursos e
enfraquecimento de esperanças, tão frequentemente consequências de uma instrução de
baixa qualidade e de uma mentalidade educacional baseada na ,
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ideia de que um tamanho serve a todos. Escolas centradas na criança são, além do mais, a
base do treino para uma sociedade baseada no povo, que respeita tanto as diferenças
quanto a dignidade de todos os seres humanos.
• Uma mudança de perspectiva social é imperativa. Por um tempo demasiadamente longo
os problemas das pessoas portadoras de deficiências têm sido compostos por uma
sociedade que inabilita, que tem prestado mais atenção aos impedimentos do que aos
potenciais de tais pessoas.
Nas crianças e jovens, com NEE é preciso mudar e transformar as suas relações com a
realidade e não apenas ocupá-las nas suas actividades preferidas. Concordamos com
Fonseca (1996) que «a estratégia de intervenção não pode ser neutra ou acrítica, deixando
que os indivíduos passem o tempo em experiências hedónicas repetitivas e
inconsequentes» (p. 73).
A .proximidade e intencionalidade entre educador e educando são assim determinantes
do desenvolvimento de ambos, permitindo o enriquecimento humano mútuo.
2.2. A caminho da inclusão
2.2.1. Direito à educação
No futuro, o desafio está em garantir a todos a igualdade de oportunidades sociais e
educacionais.
(VÍTOR DA FONSECA)
Na Declaração Universal dos Direitos do Homem vemos
consagrado no seu artigo 26.º: «Toda a pessoa tem direito à educação. A educação deve
ser gratuita, pelo menos no que diz respeito ao ensino elementar e fundamental».
Também nos
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artigos 28.º e 29.º da Convenção sobre os Direitos da Criança vemos contemplado esse
direito.
Sendo a educação um direito fundamental à própria existência, ele nem sempre foi
cumprido. Não podemos esquecer que a Constituição de 1933 não contemplava, sequer, o
direito à educação e que, no período anterior ao 25 de Abril de 1974, ele só viria a ser
consagrado com a publicação da Lei n.º 5/73, de 25 de Julho, que, na sua Base II,
estabelecia que «incumbe ao Estado assegurar a todos os Portugueses o direito à
educação». Para alguns, só porque eram diferentes, viam-se excluídos desse direito pleno.
O tratamento igualitário deve constituir a base do planeamento das sociedades. O
princípio da igualdade determina que as necessidades de cada indivíduo tenham igual
importância e que todos os recursos sejam aplicados de modo a garantir a todos iguais
oportunidades.
Nesta lógica muitos progressos se têm feito na educação das crianças com deficiência,
sofrendo esta prática uma constante evolução nas atitudes da sociedade perante as
crianças com Necessidades Educativas Especiais.
Nas últimas décadas, a tendência da política educativa e social tem sido a de promover a
integração, a participação e o combate à exclusão.
A escola deverá ser assim o espaço privilegiado da prática da democracia, criando
igualdade de oportunidades para todos os cidadãos, como ponto de convergência das
expectativas sociais quanto ao que deverá ser o homem adulto. Como refere Dewey
(citado por Rocha, 1988), «(...) a educação significa a soma total de processos, por meio
dos quais uma comunidade ou um grupo social, grande ou pequeno, transmite os seus
poderes e fins adquiridos, com o objectivo de assegurar a sua própria existência e o seu
desenvolvimento contínuo» (p. 62).
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Desta forma a escola surge. como a primeira instituição social que tem como objectivo a
preparação de cidadãos para cooperar, defender, transformar e desenvolver a sociedade a
que pertencem e a que todos têm direito, conforme o previsto na Declaração Universal
dos Direitos do Homem, no seu artigo 26.º.
Na trajectória humana, a escola assume-se como uma etapa fundamental na promoção do
desenvolvimento físico, intelectual, afectivo e social da pessoa, tendo como principal
função integrar o indivíduo na sociedade, como membro activo e participativo.
As expectativas e objectivos do processo educativo têm variado em função das
características da sociedade e dos momentos históricos. Como afirma Fonseca (1980),
«em muitos aspectos a problemática da deficiência reflecte a maturidade humana e
cultural de uma comunidade» (p. 17). Por isso, a educação de crianças com NEE tem sido
encarada de diferentes formas, com práticas diferenciadas.
O desenvolvimento do ser humano está subordinado a dois grupos de factores: os factores
da hereditariedade e adaptação biológica, dos quais depende a evolução do sistema
nervoso e dos mecanismos psíquicos elementares e os factores de transmissão ou de
interacção sociais, que intervêm desde o berço e desempenham, um papel de progressiva
importância, durante o crescimento, na constituição dos comportamentos e da vida
mental. Falar de um direito à educação é, pois, em primeiro lugar, reconhecer o papel
indispensável dos factores sociais na própria formação do indivíduo.
Ainscow (1997) refere, que muitas crianças ao longo da sua vida escolar, numa ou noutra
altura, experimentam dificuldades. Contrastando com perspectivas tradicionais em que as
dificuldades de aprendizagem eram vistas como limitações e/ou deficiências individuais,
existe uma abordagem mais positiva que reconhece que as dificuldades de aprendizagem
podem resultar
67
67
da interacção de um conjunto de factores muito complexo. Entre eles conta-se a natureza
do currículo, a organização da escola e a disponibilidade e competência dos professores.
A escola veicula modelos, atitudes e comportamentos próprios da sociedade a que
pertence, junto de uma população heterogénea que a compõe e que tem de conduzir com
sucesso. Privando, pela marginalização, qualquer criança, desta vivência, é alienar o seu
processo de socialização, proporcionando condições artificiais de relação com o meio,
retirando a oportunidade, à sociedade, de construir uma harmonia, e privando o sujeito
das condições de socialização.
O conceito de normal é relativo', como o demonstraram, já, estudos de Durkheim e
Benedick, referidos por Fonseca (1980). O conceito de ser humano perfeito ou de «norma
ideal» não tem entidade própria, mas sim existe na mente de cada indivíduo e, por
conseguinte, será diferente segundo a interpretação que se dá da mesma. 'A norma ideal é,
geralmente, de origem social e a classificação dos indivíduos em normais, segundo este
critério qualitativo, varia segundo a sociedade de que se trate.
Por isso os conceitos de norma e normalidade são relativos e socialmente estabelecidos.
Podemos afirmar que, embora diferentes entre si os indivíduos que compõem a
Humanidade mostram sempre mais semelhanças, do que diferenças. Garcia (citado por
Lopes, 1997) reconhece que, «... o sistema tem de ter uma função humanizadora,
integradora, compensadora e superadora das deficiências para não se transformar num
instrumento gerador da desigualdade, do fracasso e da patologia da deformação» (p. 24).
Concordamos com Fonseca (1980) quando diz que «... toda a abordagem da problemática
da deficiência não deve ser feita com base numa opção dicotómica normal-anormal,
deficiente-não deficiente» (p. 17), antes, se deve fundamentá-la na ideia de que todos
somos diferentes e únicos.
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Modificabilidade:
• mudança permanente contínua e sistemática;
• mudança qualitativa, consistente e intrínseca;
• mudança flexível, adaptável e disponível...
Cognitiva:
• significa processamento de informação;
• envolve processos de input, elaboração e output;
• implicados na aprendizagem e na adaptação...
Estrutural
• sistemática e multicomponencial (atenção, percepção, memória, planificação,
controlo, expressão...
• autoplástica, autopoética e autoperpétua....
Figura 2. Modificabilidade Cognitiva Estrutural
Fonseca (1996) apresenta-nos o programa de «Modificabilidade Cognitiva Estrutural»
(cf. Figura 2) introduzido pelo psicólogo Reuven Feuerstein que concebe a inteligência
humana como um constructo dinâmico flexível e modificável que está na base da
adaptabilidade da espécie ao longo do seu percurso histórico-social, e tem como base o
pressuposto de que todo o ser humano é modificável.
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69
Esta abordagem sobre Modificabilidade Cognitiva Estrutural, implica o combate a
atitudes tradicionais, como por exemplo: «- Fizemos tudo e não dá»;
«- Tentamos tudo e não foi possível registar qualquer progresso»;
«- Não foram feitos para aprender»;
«- Que direito há em submeter a criança deficiente a
testes ou processos tão duros para que afinal façam apenas mais uma habilidade»
(Fonseca, 1996, p. 59).
Qualquer sistema de ensino, regular ou especial, que rejeite, ou exclua, crianças, por
motivos de rendimento ou aproveitamento não é coerente com os princípios humanos e
pedagógicos que o criaram. Fazer que as crianças com dificuldades de aprendizagem,
severas ou moderadas, sejam segregadas vai contra os princípios das teorias aqui
expostas. Afirma Fonseca (1996) que «a filosofia da MCE não aceita acriticamente as
explicações e os determinismos despóticos da genética e da hereditariedade (...) o
indivíduo com baixo rendimento (...) pode beneficiar, não só de conforto e segurança
afectiva, mas também de programas adequadas à modificabilidade e à optimização do seu
potencial de aprendizagem» (p. 62).
Por isso é importante acreditar que os indivíduos portadores de deficiência podem mudar,
necessitando, contudo, de muito trabalho, abnegação e da eliminação definitiva das
expectativas negativas, acreditando que eles não estão condenados a não mudar, sob pena
de sermos protagonistas de uma pedagogia conservadora, desumana!
Com a aprovação da Lei de Bases do Sistema Educativo, a democratização da educação
sustenta-se em dois eixos determinantes:
• no eixo horizontal situa-se a escola para todos, gratuita e obrigatória;
70
70
• no eixo vertical temos a adaptação da escola às características individuais de todos os
alunos e em especial das crianças com NEE.
As grandes linhas de orientação da educação especial consubstanciam-se, por isso, nesta
perspectiva:
• no direito a uma educação adequada que corresponda às necessidades educativas
especiais de cada aluno;
• na opção, sempre que possível, pela educação integrada nas escolas regulares, que, para
tal, devem estar devidamente apetrechadas;
• na obrigatoriedade e na gratuitidade da educação para todos os alunos, qualquer que seja
o tipo e grau da necessidade educativa especial;
• na responsabilidade do Ministério da Educação pela educação de todas as crianças e
jovens com Necessidades Educativas Especiais.
O apoio educativo assume diversas formas de organização, em função da
heterogeneidade dos grupos de alunos com NEE: salas de apoio permanente, salas de
apoio, apoio dentro da sala de aula e apoio ao professor do ensino regular.
A avaliação da actual situação pode conduzir às seguintes conclusões:
• verifica-se um decréscimo na frequência de alunos em escolas do ensino especial;
• o ensino integrado sofreu um incremento notável na última década;
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71
• verifica-se uma tendência para. a correcção das assimetrias regionais no que se refere às
taxas de cobertura das necessidades educativas especiais;
• mantém-se a tendência para o crescimento do número de professores sem formação
especializada em todas as estruturas de educação especial;
• verifica-se um aumento significativo do número de alunos, com deficiências graves e
multideficiências, atendidos em «Salas de Apoio Permanente» nas estruturas regulares do
ensino.
Para se atingir o objectivo da equidade nos resultados da educação é fundamental
reconsiderarmos a forma como olhamos para as diferenças entre os alunos, como
consideramos os objectivos da educação e o processo que adoptamos na organização das
escolas. Se reconhecermos o sucesso escolar como possível para todos através de
processos eficazes de ensino, o maior desafio que se apresenta às escolas é criar
ambientes de aprendizagem que promovam a equidade em relação a todos os alunos,
partindo da identificação das práticas que negam um acesso igual ao currículo e o
reconhecimento de práticas que facilitem esse acesso.
O caminho certo é, afirma Wang (1997), «ir ao encontro das necessidades educativas
duma população cuja diversidade é crescente e cuja educação constitui um enorme
desafio» (p. 63).
Não há dúvida que uma das tarefas obrigatórias para o progresso educativo neste fim de
século, também fim de milénio, é decidir como responder de forma eficaz às necessidades
educativas de um crescente número de alunos com características diversas que
constituem um grande desafio às escolas que os acolhem, particularmente, os alunos com
NEE.
72
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2.2.2. Inclusão: perspectiva evolutiva
Venho da terra assombrada, Do ventre da minha mãe; Não pretendo roubar nada Nem
fazer mal a ninguém. Só quero o que me é devido Por me trazerem aqui,
Que eu nem sequer fui ouvido No acto de que nasci.
(António Gedeão)
Ao defendermos a integração como um processo encarado segundo várias perspectivas
(legal, social e curricular), podemos configurar três dimensões, na integração:
sócio-ética, jurídico-legislativa e psicológica-educacional.
Para Bairrão (1998), a dimensão sócio-ética determina a integração, pelos argumentos
humanistas, que defendem a igualdade de oportunidades e de direitos, que deverá ser
proporcionada ao indivíduo com deficiência, com o objectivo de mudar atitudes, na
sociedade em geral. A integração coloca assim a criança ou jovem com NEE, em
igualdade de estatuto, relativamente aos outros membros da comunidade. Este discurso
ético-moral, por si só, não conseguiu ainda, atingir esta mudança de atitudes.
Quanto à dimensão jurídico-legislativa, esta visa a materialização, do ponto de vista legal,
do direito à educação de crianças e jovens com NEE previstas na dimensão sócio-ética.
Em relação à dimensão psicológica-educacional, ela baseia-se nas vantagens da
integração que ao proporcionar a interacção da criança com NEE, com os seus pares, num
meio,
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mais rico e exigente, permite o desenvolvimento, ao máximo, do seu potencial.
Nesta sequência, é publicada nos Estados Unidos da América
a PL 94-142, de 1975, The Education for All Handicapped Children
Act, aprovada pelo Congresso em 1975. Esta lei determina que todas as crianças, a partir
dos seis anos, tenham direito a «uma educação pública que responda às suas dificuldades
educativas, sociais e pessoais, num meio o menos restritivo possível».
Foi decisivo, naturalmente, o facto de existirem oito milhões de crianças com NEE, para a
aprovação desta lei, apelidada, na altura, de «bombástica» e caracterizada como lei que
provavelmente será conhecida como a de maior impacto na história da educação.
Ela preconiza quatro objectivos principais:
• garantir que os serviços de educação especial sejam colocados à disposição de todas as
crianças que deles necessitem;
• assegurar que as decisões sobre a prestação de serviços sejam tomadas de maneira
justa e adequada;
• a educação especial em todos os níveis de Governo;
• disponibilizar fundos federais para auxiliar os Estados.
Também no Reino Unido o conceito de normalização passa a ter a sua aplicação
jurídico-legislativa, com suporte no Warnock Report, de 1978. O relatório Warnock
deslocou, de uma forma clara o enfoque médico das deficiências de um educando na
aprendizagem escolar de um currículo ou programa. É a passagem do paradigma médico
ou médico-pedagógico para o modelo educativo.
As resoluções da conferência internacional de Salamanca (UNESCO, 1994) propõem a
colaboração da escola regular com
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escolas especiais, sobretudo nos países que possuem sistemas de escolas especiais
fortemente estabelecidos para aqueles que possuam impedimentos específicos. Tais
escolas especiais podem representar um valioso recurso para o desenvolvimento de
escolas inclusivas. Países que possuam poucas ou nenhumas escolas especiais seriam, em
geral, fortemente aconselhados a concentrar os seus esforços no desenvolvimento de
escolas inclusivas e serviços especializados - nomeadamente, provisão de treinamento de
professores em educação especial e estabelecimento de recursos adequadamente
equipados e assessorados, para os quais as escolas se pudessem voltar quando
precisassem de apoio.
Segundo Correia (1997), podemos considerar que a ideia de inclusão pode ter de facto
nascido aquando do discurso em 1986 da então Secretária de Estado para a Educação
Especial do Departamento de Educação dos EUA, Madeleine Will, ao reconhecer que o
elevado número de alunos com NEE, não dispunha de atendimento adequado no sistema
regular.
Apontou, então, como solução, a cooperação entre os
professores do ensino regular e da educação especial. Daqui nasceu o movimento
denominado Regular Education Initiative (REI) (Iniciativa da Educação Regular ou
Iniciativa Global de Educação). Com este modelo, Will, afirma Correia (1997), desafiava
os estudiosos «a encontrar formas de atender o maior número de alunos na classe regular,
encorajando os serviços de educação especial e outros serviços especializados a
associarem-se ao ensino regular» (p. 32).
Do despiste à intervenção com crianças com NEE decorre todo um percurso que implica
um conjunto de medidas e de tomadas de decisão.
Bairrão (1998) apresenta-nos um fluxograma (cf. Figura 3) que contém os elementos do
processo de avaliação e de intervenção.
75
75
Sinalização
de problemas
(por exemplo: atraso de desenvolvimento
Despiste
Resultados negativos: ~~ o desenvolvimento é normal
l
Resultados positivos:
confirmação
dos problemas
de desenvolvimento
1
Avaliação posterior
(por exemplo: obser
vação psicológica,
relatórios)
1
Confirmar diagnóstico
Avaliação dos resultados e tomada de decisão
II
Documentar o nível desenvolvimental
Definir a intervenção
ou tratamento
Figura 3. Elementos do processo de avaliação
76
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Crianças com NEE podem apresentar um vasto leque de problemas. Para um atendimento
eficaz deverá ser efectuada uma avaliação especializada, para adequar as respostas e/ou
intervenção.
Bairrão (1998) apresenta-nos uma distinção dentro do vasto leque dos problemas da
criança (cf. fig. 4)
Refere ainda, aqui, que para um atendimento correcto e para uma organização adequada
de serviços e de recursos, os problemas de baixa frequência / alta intensidade e os de alta
frequência / baixa intensidade põem problemas de sinalização, rastreio, avaliação e
organização diferentes. Os primeiros exigem que exista uma articulação e uma
colaboração estreita entre serviços de saúde, segurança social e de educação. Os segundos
determinam também uma organização articulada com a saúde e a segurança social, mas é
sobretudo a nível das estruturas de educação que os recursos deverão ser organizados de
forma a funcionarem eficazmente. Todos são de natureza pluridisciplinar e deverão
funcionar a dois níveis: avaliação e intervenção.
[a figura 4 não foi possível de ser digitalizada.]
77
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A inclusão pode assumir formas que vão, da limitada à total, passando pela moderada,
formas essas condicionadas pelas características e necessidades do aluno com NEE e por
outros factores, entre os quais os recursos humanos e materiais existentes, o
relacionamento entre o professor do ensino regular e o de educação especial, a
participação parental, os apoios prestados por outros serviços e a formação do professor e
de outros agentes educativos.
É verdade que não basta apenas a provisão financeira, formação adequada, legislação, ou
outros meios, para garantir o sucesso deste novo modelo. É preciso também acabar com
os tabus e preconceitos e que todos reconheçam o benefício para a sociedade em geral de
tal paradigma em emergência.
2.2.3. A escola inclusiva em Portugal
A escola inclusiva (...) é uma escola melhor para todos os alunos. É nestas escolas que se
formará uma geração mais solidária e mais tolerante e é nestas escolas que aqueles que
têm problemas, dificuldades ou deficiências, aprenderão a conviver no mundo
heterogéneo que é o seu.
(BÉNARD DA COSTA)
Em Portugal a Educação Especial ensaia os primeiros passos, na década de 70. Até então
tinham sido criados vários estabelecimentos que asseguravam a assistência, despiste,
observação e educação de crianças e jovens deficientes.
Os movimentos internacionais que vinham proclamando os princípios da integração
chegam a Portugal aclamados pelos ideais da Revolução de Abril. A Constituição da
República esta-
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belece, então, que o ensino básico será universal, obrigatório e gratuito; todos os cidadãos
têm direito ao ensino e ao acesso aos seus graus mais elevados; cada cidadão terá direito à
educação e à cultura com direito à igualdade de oportunidades de acesso e êxito escolar.
Estas determinações despertam a consciência da necessidade de alterações profundas no
domínio de Educação Especial.
Com o Decreto-Lei n.º 174/77, de 22 de Maio, são criadas as Classes Especiais. Esta
legislação estabelece o regime escolar das crianças com deficiências, físicas e mentais, na
integração da escola pública.
O sistema de dispensa da obrigação escolar em presença de atestado comprovativo da
deficiência, foi anulado pelo Decreto-Lei n.º 35/90, de 25 de Janeiro. Mas é em 1986 com
a Lei de Bases do Sistema Educativo n.º 46/86, de 14 de Outubro, que estabelece a
estrutura do sistema escolar educativo português, que vemos definido o sistema
educativo, como um conjunto de meios destinados a concretizar o direito à educação.
Este princípio traduz-se numa garantia que visa promover o desenvolvimento global da
personalidade, o progresso social e a democratização da sociedade, com base numa
igualdade de oportunidades.
Passamos à sistematização dos pontos mais importantes, da Lei n.º 46/86 (LBSE),
segundo Pires (1987):
• a educação especial não se realiza apenas em relação aos educandos; ela transcende a
relação dual, habitual na educação escolar, entre educador e educandos, para a
dimensionar de modo muito mais alargado; assim a educação escolar integra actividades
dirigidas (17. º- 2):
a) aos educandos;
b) às famílias;
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c) aos próprios educadores; d) às comunidades;
• a educação especial realiza-se segundo modelos diversificados, nomeadamente em duas
situações típicas (sem prejuízo de soluções intermédias):
a) em estabelecimentos regulares de ensino tendo em conta as necessidades de
atendimento específico, e com o apoio de educadores especializados (18.º-1);
b) em instituições específicas, a cargo de educadores especializados; a opção por esta
situação depende de, comprovadamente, assim o exigir o tipo e grau de deficiência do
educando (18.º-2).
É aqui bem visível a forma inequívoca como a lei assume uma linha integradora numa
perspectiva de normalização:
• a escolaridade básica para crianças e jovens deficientes deve ter currículos e programas
devidamente adaptados às características e a cada tipo e grau de deficiência, assim como
formas de avaliação adequadas às dificuldades específicas (18. º-4);
• é estabelecida uma unidade de orientação da educação especial, que passa a pertencer a
um único ministério, o Ministério da Educação, independentemente da responsabilidade
da sua realização, mesmo em instituições dependentes de outros ministérios; a unidade de
orientação traduz-se na coordenação, pelo Ministério da Educação, da política educativa
no âmbito da educação especial, nomeadamente nos seus aspectos pedagógicos e técnicos
assim como a fiscalização de toda a actividade realizada neste âmbito (18.º – 7).
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A educação especial procura assegurar às crianças e jovens deficientes (17."-3):
• no plano individual:
a) o desenvolvimento das potencialidades físicas e intelectuais;
b) a aquisição da estabilidade emocional;
• no plano da integração social:
a) o desenvolvimento das possibilidades de comunicação; b) o desenvolvimento da
independência pessoal; c) a inserção familiar, escolar e social;
d) a integração na vida activa mediante uma adequada formação profissional.
Na sequência da LBSE e dando cumprimento ao previsto no seu artigo 18.º, n.º 7 já
referido, a Educação Especial foi objecto de um normativo legal específico (Decreto-Lei
n.º 319/91), que vem dar corpo aos princípios consagrados na Lei n.º 46/86, tendo como
objectivos fundamentais as determinações do seu artigo 59.º isto é;
• fomentar uma igualdade de oportunidades educativas a todas as crianças e jovens
deficientes;
• permitir que as necessidades educativas especiais correspondam, no âmbito das escolas
regulares, a intervenções específicas adequadas.
Este diploma, nitidamente influenciado pela legislação americana e inglesa estabelece o
regime educativo especial que consiste na adaptação das condições em que se processa o
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ensino-aprendizagem dos alunos com necessidades educativas especiais.
Juntamente com o Despacho n.º 173/ME/91, de 23 de Outubro, que regulamenta o
disposto, constituem estas medidas legais um instrumento determinante para a
materialização do conceito de inclusão:
• a modificação da escola regular que deverá tornar-se mais abrangente e individualizada,
de forma a dar resposta a todos os alunos;
• a substituição da classificação em diferentes categorias, baseada em avaliações de foro
médico pelo conceito de alunos com necessidades especiais, baseado em indicadores
pedagógicos;
• um mais explícito reconhecimento do papel dos pais na orientação educativa dos
seus filhos.
A Portaria n.º 611/93, de 29 de Junho, estabelece as normas técnicas, de execução,
necessárias à aplicação das medidas previstas no Decreto-Lei n.º 319/91, destinadas a
crianças com NEE a frequentar os jardins de infância da rede pública do ME.
O Despacho n.° 178 A193, de 30 de Julho, clarifica o conceito de apoio pedagógico.
Os alunos com NEE ficam obrigados ao cumprimento da escolaridade obrigatória pelo
Decreto-Lei n.º 301/93.
Finalmente vemos publicado o Despacho conjunto n.º 105/97, de 1 de Julho. O despacho
contextualiza os apoios educativos com base no docente de apoio educativo redefinindo o
seu papel na escola, onde deverá trabalhar não com o aluno, mas com a escola, com a
turma e com os professores da classe.
As orientações, para a inclusão, apontam para a organização curricular e para estratégias
de ensino-aprendizagem e
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de avaliação que implicam conhecimentos importantes nestes domínios. Sobretudo pelo
Despacho 178-A/ME/93, são feitas grandes exigências nos domínios de novas
metodologias de ensino/aprendizagem e da organização curricular e extracurricular e dos
recursos para os alunos e suas famílias, no que diz respeito ao conceito de apoio
pedagógico. Concordamos com Bairrão (1998), quando refere que «todas estas
exigências relevam pois de conhecimentos educacionais e psico-educacionais muito
avançados que os professores têm que dominar para realizarem as tarefas que os decretos
lhes incumbem. Na realidade, se eles dominassem estes conhecimentos e se as suas
práticas decorressem deles, então a integração seria não só possível como eficaz» (p. 52).
Documento importante, para reflexão, constitui o Parecer n.º 3/99, publicado no Diário da
República, de 17 de Fevereiro de 1999 («Crianças e alunos com necessidades especiais»),
aprovado pelo Conselho Nacional de Educação (CNE).
Com este parecer, procurou o CNE «prestar um contributo para uma política educativa
que dê uma resposta eficaz às crianças e jovens com NEE, contrapondo à segregação e ao
insucesso uma via educativa estimulante das suas capacidades, no quadro de uma escola
para todos», com base nos mais recentes estudos e orientações nacionais e internacionais.
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2.2.4. Normalização e inclusão
Só uma pedagogia diferenciada centrada na cooperação poderá vir a concretizar os
princípios da inclusão, da integração e da participação. Tais princípios devem orientar o
trânsito de uma escola de exclusão para uma escola de inclusão que garanta o direito de
acesso e a igualdade de condições para o sucesso de todos os alunos numa escola para
todos.
(SÉRGIO NIZA)
A heterogeneidade e a diversidade são a marca do humano: o mundo é «um arco-íris de
culturas».
A policromia que constitui o arco-íris é de uma riqueza indiscutível. Com o mesmo olhar
poderíamos encarar a diversidade que se nos apresenta na escola, na sala de aula. De
acordo com Cortesão (1998), «a heterogeneidade que está presente numa turma poderá
ser lida como fonte potencial de uma riqueza que importa rentabilizar e não como um
obstáculo à realização de actividades de ensino-aprendizagem. Assume-se que essa
rentabilização será feita no sentido de contribuir para que a igualdade de acesso à
educação seja acompanhada de uma maior igualdade de sucesso» (p. 10).
Com a Declaração dos Direitos da Criança, em 1921 e a Declaração Universal dos
Direitos do Homem, em 1948, verifica-se, consequentemente, uma mudança da filosofia
da Educação Especial, pelo paradigma da normalização. A segregação torna-se um
modelo anti-natural.
Em sequência do pensamento da época, que poderíamos designar como «renascimento
humanista» preocupado na defesa
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dos direitos e regalias dos cidadãos, sobretudo daqueles que são
«diferentes», surgem os movimentos de índole social, pedagógica, psicológica e
legislativa que procuravam assegurar os
direitos do indivíduo à liberdade e à igualdade de oportunidades.
Volvidos 50 anos da Declaração Universal dos Direitos do
Homem, é nosso dever, como educadores e como cidadãos, denunciar a prática da
segregação como violação dos mais elementares princípios dessa declaração.
Como afirma Saramago (1998), «chega-se mais facilmente a Marte do que ao nosso
próprio semelhante. Alguém não anda a cumprir o seu dever. Não andam a cumpri-lo os
governos, porque não sabem, porque não podem, ou porque não querem (...) Mas também
não estão a cumprir o seu dever os cidadãos que somos» (p. 3).
Reconhecendo a importância de garantir aos cidadãos uma igualdade de oportunidades
face à educação, desde a Constituição da República à LBSE, várias medidas têm
contribuído para uma igualdade de acesso à escola, que assim se foi transformando na
chamada «escola de massas», um novo modelo que compromete a comunidade escolar e
vem lançar um grande desafio. O modelo de escola para todos pressupõe uma mudança de
estruturas e de atitudes e a abertura à comunidade; deve mudar a forma de trabalho de
alguns professores que deverão reconhecer que cada criança é diferente das outras, tem as
suas próprias necessidades específicas e progride de acordo com as suas possibilidades.
Simon (1991) acredita «que o movimento de integração, mesmo que tenha de sujeitar-se a
destinos diversos, já não se extinguirá. A nossa sociedade, conclusiva e mutável, não me
parece caminhar no sentido de mais egoísmo» (p. 139).
A escola para todos é um novo modelo de escola aberta à diferença, onde cada um tem o
seu lugar próprio encontrando uma resposta às suas necessidades específicas, sem
prejudicar os outros, antes pelo contrário, beneficiando todos os alunos em
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geral, pelos recursos e serviços que determina e pela mudança que impõe. Corresponde a
uma significativa alteração teórica e a diferentes processos de ensino-aprendizagem.
Neste modelo, assume-se um posicionamento em que, segundo Cortesão (1998),
• se aceita a existência da heterogeneidade e, numa atitude positiva se procura
conviver e tirar partido dela;
• as opções feitas ao nível do processo de ensino-aprendizagem são «pilotadas» pela
identificação dos tipos de alunos presentes na sala de aula;
• a escola adapta-se também ao aluno, em vez de forçar exclusivamente o aluno a
adaptar-se à acção pedagógica, aos valores e normas que enformam habitualmente o
funcionamento da escola.
Reconhece a declaração de Salamanca (UNESCO, 1994) que a adopção de sistemas mais
flexíveis e adaptativos, capazes de mais largamente levar em consideração as diferentes
necessidades das crianças irá contribuir tanto para o sucesso educativo, quanto para a
inclusão.
Para Ainscow (1997), «esta mudança de concepções baseia-se na crença de que as
mudanças metodológicas e organizativas que têm por fim responder aos alunos que
apresentam dificuldades irão beneficiar todas as crianças» (p. 14). Assim, alunos com
NEE funcionam como um estímulo, ao promover estratégias destinadas a criar um
ambiente educativo mais rico para todos.
As culturas escolares tradicionais que se baseiam numa
organização rígida, orientadas para fins determinados, enfrentam dificuldades em se
adaptar a circunstâncias inesperadas. Por isso a presença de crianças que não
correspondem à criança «modelo», encoraja, de certa forma, novas práticas, para novas
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respostas educativas, próprias duma escola que responde efectivamente a todas as
crianças da comunidade.
Na verdade, concordando com Ainscow (1997), «os que são considerados como tendo
necessidades especiais passam a ser reconhecidos como um estímulo que promove
estratégias destinadas a criar um ambiente mais rico para todos» (p. 14).
Contudo, teremos ainda um longo caminho a percorrer, pois como afirma Benavente
(1994), «ao confundir-se igualdade de acesso com igualdade de sucesso, criam-se
desigualdades, pois confundiu-se alargamento da base de recrutamento dos alunos com
igualdade de oportunidades» (p. 16).
O professor do ensino regular deve acreditar que os alunos com NEE pertencem à
educação regular e estar confiante que, nesta situação, serão capazes de aprender. De
acordo com Porter (1997), «consequentemente, o professor da classe deve aceitar a
responsabilidade do progresso de todos os alunos da sua classe» (p. 38).
Muitas crianças vão, ainda hoje, para as escolas especiais porque as escolas normais não
podem responder às suas necessidades, e dificilmente faz sentido que estas crianças
regressem às escolas normais, a não ser que estas possuam os recursos que lhes vão
permitir fazer o que não faziam anteriormente.
A intenção de ajudar ou de rejeitar tem um papel fundamental na socialização do
indivíduo, como afirma Fonseca (1980), «o adulto fixa as normas e facilita ou não o
acesso a elas. Quando a criança tem dificuldades em satisfazer as normas desejadas, o
adulto elabora um julgamento sobre ela e nunca sobre si próprio» (pp. 13-14).
Sabemos quanto é importante o contexto para a construção da auto imagem. Afirmam
Alaíz e Barbosa (1995) que «o convívio com outras pessoas vai-nos fornecendo modelos
que tomamos, mais ou menos conscientemente, para nós; sejam
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familiares, amigos, parceiros em certos grupos ou personalidades destacadas na
sociedade» (p. 16).
A maior vantagem da normalização é o facto de esta poder trazer benefícios tanto para a
pessoa com deficiência como para a sociedade no sentido de proporcionar a ocasião de
conhecer e respeitar os deficientes e reduzir os mitos e temores que em algumas épocas
conduziram à sua marginalização. Um dos objectivos é relevar as diferenças e realçar as
semelhanças permitindo que, de acordo com Nuria (citado por Lopes, 1997), «o contacto
na relação dos alunos integrados com os normais produzirá um incremento no seu
auto-conceito e com o tempo as crianças serão modeladas pelo comportamento dos seus
companheiros "normais"». (p. 45)
Ao mesmo tempo, a presença física de alunos com deficiência, na escola regular, terá
como consequência uma valorização tanto na interacção social com os seus
companheiros, quanto na sua aceitação social.
Que fique claro que normalizar não significa converter em normal uma pessoa deficiente,
mas antes, permitir que ela aceda à normalização das condições de vida, reconhecendo os
mesmos direitos fundamentais que os demais cidadãos, do mesmo país, e da mesma
idade. De acordo com Garcia (citado por Lopes, 1997), «normalizar é aceitar a pessoa
deficiente, tal como é, com as suas características diferenciais e oferecer-lhe os serviços
da comunidade para que possa viver uma vida o mais normal possível» (p. 40).
Em relação à sociedade em geral e sobretudo à comunidade educativa será necessário um
trabalho de sensibilização para esta conceptualização.
Afirma Simon (1991) que «os pais das outras crianças ou jovens devem ser preparados
para aceitar um deficiente na classe dos seus filhos. Também aí será necessário dissipar
inquietações, evitar reacções de curiosidade, mais ou menos doentias» (p. 42).
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As relações que se estabelecem entre crianças e jovens diferentes promovem a
materialização de conceitos como: igualdade, justiça, equidade e liberdade.
Será necessário que, desde muito cedo, a criança estabeleça contacto com o mundo real,
que é o seu, por direito, pois concordando com Lopes (1998), «adquirir competências de
interacção social e aprender a utilizá-las adequadamente com o grupo de pares tem sido
considerado como uma das tarefas desenvolvimentais mais complexas nos primeiros
anos de vida» (p. 37).
A presença de alunos com NEE pode ser uma fonte de criatividade, face aos desafios que
representam e aos problemas da diversidade e da individualidade. A interacção entre
alunos diferentes conduz à socialização, promovendo atitudes de normalização, como
reconhece Soares (citado por Lopes, 1998):
«O ser membro de uma comunidade, implica primeiramente e a um nível mais básico,
tornar-se membro da comunidade de pares. É nesta comunidade de pares que as crianças e
os jovens experienciam situações diversas, de
cooperação, de competição, de jogo, com aqueles que têm, ou parecem ter, objectivos,
motivações e desejos semelhantes e que se encontram ligados por expectativas e exigên-
cias idênticas, impostas pelo mundo que as rodeia» (p. 38).
Daqui se conclui da importância da interacção com os pares «normais», tanto pedagógica
como emocionalmente.
Podemos finalmente reconhecer que normalizar é, portanto, tornar os padrões e condições
de vida diária dos indivíduos em desvantagem, «tão próximas ou semelhantes quanto
possível das que são a componente principal da comunidade em que está inserido»
(Bénard da Costa, 1995, p. 14).
89
Capítulo III – FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA A ESCOLA INCLUSIVA
3.1. Atitudes dos professores perante a mudança
3.1.1. Inclusão e mudança
«O Homem, como ser inconcluso, consciente da sua inconclusão, está em permanente
movimento de busca do Ser Mais». (PAULO FREIRE)
Os professores confrontam-se, hoje, com o desafio da «mudança contínua», que
poderá constituir-se num motivo de aprendizagem, mas que, nalguns casos, causará
ansiedade, angústia e até sofrimento.
Durante um longo período, cerca de meio século, viveu-se em Portugal uma
escola fortemente controlada, censurada, ritualizada no quotidiano, pelos valores
dominantes: o conformismo e a obediência. A interiorização normativa impunha a
auto-censura; interditava a abordagem livre e ideologicamente descomprometida dos
temas em estudo; inibia a opinião assumida sobre os assuntos que à escola diziam
respeito.
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O isolamento em que alguns professores se refugiam ocupados pelo ritual das
aulas denuncia uma atitude de renúncia e um virar de costas a outros horizontes, a
mudanças que se impõem, transformando o espaço educativo, num espaço de
incomunibilidade, feito de rotinas onde todas as inovações estão condenadas antes do seu
ensaio, onde hierarquia, norma, burocracia e ritual se opõem à crítica, ao sonho, à
inquietação e ao prazer de imaginar, arriscar e criar. Felizmente alguns professores, em
algumas escolas, criam espaços de diálogo e empenho com projectos de intervenção que
estimulam a formação interveniente de todos.
Concordamos com Sampaio (1998) quando refere que «não se pode intervir face a
um problema escolar sem se ter uma teoria sobre a mudança. A exigência face ao papel
dos professores é cada vez maior e os docentes oscilam entre um entusiasmo militante de
alguns e a rotina do deixar andar de outros» (p. 29).
Ainscow (1997) apresenta seis condições como factores de mudança das escolas:
liderança eficaz, não só por parte do director, mas difundida através da escola;
envolvimento da equipa de profissionais, alunos e comunidade nas orientações e
decisões da escola;
um compromisso relativo a uma planificação realizada colaborativamente;
estratégias de coordenação;
focalização da atenção nos benefícios potenciais da investigação e da reflexão;
uma política de valorização profissional de toda a equipa educativa.
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Quando os professores são encorajados a explorarem novas práticas, de forma a
facilitarem a aprendizagem de todos os alunos, certamente que esse convite à experiência
de novos métodos irá pôr em causa a sua experiência anterior. Por isso, afirma Ainscow
(1997) «é necessário empregar estratégias que lhes reforcem a autoconfiança e que os
ajudem nas decisões arriscadas que tomaram. A nossa experiência diz-nos que uma
estratégia eficaz consiste em implicar a participação dos professores em experiências que
demonstrem e estimulem novas possibilidades de acção» (p. 16).
A mudança que a inclusão determina não é uma simples medida de cosmética. É
uma mudança estrutural de perspectiva e de intervenção.
Não podemos dissociar a prática pedagógica associada aos alunos ditos
«normais», da exercida com alunos com NEE:
«As características das escolas consideradas eficazes nas respostas que dão aos
alunos com necessidades especiais, são de facto, as características das escolas
consideradas eficazes em geral. (...) Os dados parecem apoiar o ponto de vista de que os
professores que tem êxito nas respostas que encontram para as necessidades especiais
usam em grande medida estratégias que ajudam todos os alunos a ter sucesso. Na verdade
estamos provavelmente a referir-nos aos mesmos professores» (Ainscow, 1998a, p. 33).
São professores que, segundo o mesmo autor:
dão ênfase à importância do significado;
estabelecem tarefas que são realistas e constituem um desafio para os alunos;
asseguram-se de que os alunos progridem;
proporcionam-lhes grande variedade de experiências de aprendizagem;
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dão-lhes possibilidades de escolha;
têm expectativas elevadas;
criam uma atmosfera positiva;
facultam uma abordagem consistente;
reconhecem os esforços dos alunos e os resultados que estes conseguem alcançar;
organizam os recursos de modo a facilitar a aprendizagem;
incentivam os alunos a trabalhar cooperativamente;
orientam os seus progressos e proporcionam feedback regular.
Ao binómio professor-aluno, devemos contrapor, numa perspectiva ecológica, um
modelo sistémico, onde todos os intervenientes tenham assento.
Sabemos que a escola inclusiva não se constrói por decreto, mas é certo que sem o
empenhamento e a cooperação entre professores, auxiliares da acção educativa, alunos,
pais e comunidade, a legislação e orientações nunca surtirão o efeito desejado, não
passando de um conjunto de boas intenções, com que todos parecem concordar.
As mudanças conceptuais, assim como as práticas decorrentes, que sustentam
uma escola inclusiva põem à prova relações humanas e competências profissionais que
enfrentam resistências pessoais e de grupos, criando desânimo em muitos professores,
especialmente nos de apoio educativo, como galvanizadores de forças, que as suas
funções hoje determinam.
Qualquer projecto que visa a promoção de inovações educativas precisa não só de
mudanças organizativas, mas também e, para além de tudo, do empenhamento dos
agentes educativos
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nele implicados e ainda de uma forte consciência dos pressupostos que enquadram e
geram essas inovações.
O professor é o principal protagonista desta mudança, cabendo-lhe o principal
papel como ponte sobre as margens de um rio. Sampaio (1998) apresenta-nos a sua
perspectiva sobre o assunto:
«Parece-me essencial que as teorias sobre mudança na escola estejam centradas
no sujeito, objecto de intervenção. Foi o grupo de Palo Alto, na Califórnia, quem pela
primeira vez chamou a atenção para a importância do próprio indivíduo na génese da sua
própria mudança. Esta concepção parte do princípio de que cada sujeito-problema tem
ideias sobre a sua própria mudança, isto é, possui um conjunto de pensamentos, atitudes e
sentimentos que pensa estarem relacionados com as causas do problema e com as ideias
sobre a forma de o resolver. Cada sujeito-problema é essencial para a redefinição e deve
ser o protagonista da intervenção, tendo direito a ser ajudado a reflectir sobre novas
perspectivas de mudança. O papel de interventor é o de criar o contexto onde vai emergir
a intervenção» (p. 30).
Também Fonseca (1997) atribui um papel galvanizador no processo educativo, ao
professor, afirmando que o professor «terá de assumir a função de um sintetizador de
informação, para incorporizar a informação de médicos, psicólogos, terapeutas e
especialistas, etc., em estratégias educacionais efectivas. A interacção produtiva com
especialistas é fundamental. O respeito e a acessibilidade mútua entre especialistas e
professores é urgente, as perguntas e as simplificações léxicas terão de circular» (p. 72).
O direito à educação confere, por consequência, justiça e liberdade. De facto, Cró
(1998) reconhece que, «jamais o desejo de liberdade e vontade de libertar os sujeitos
foram afirmados como hoje (...). o homem aspira a ser ele próprio num mundo
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que ele crê ser convidado a construir (... ). A mudança incessante do meio é aceite como
condição indispensável para que ele possa afirmar a sua pessoa, os seus poderes de
exploração, de observação e de construção» (p. 31).
Construção que se crê estar nas nossas mãos, de todos os educadores, ao
colocarmos pedra sobre pedra, mas bem segura...
3.1.2. Formação de base e formação contínua
A vida inteira do indivíduo outra coisa não é
senão o processo de dar origem a si própria.
(Erich Fromm)
Numa perspectiva de educação permanente, para complemento e actualização da
formação inicial, a Lei de Bases do Sistema Educativo prevê, no seu artigo 35.º, que «a
todos os educadores, professores e outros profissionais da educação é reconhecido o
direito à formação contínua». De forma a contemplar diversas áreas a mesma lei,
determina que «a formação contínua deve ser suficientemente diversificada de modo a
assegurar o complemento, aprofundamento e actualização de conhecimentos e de
competências profissionais (...)».
Também Freire (1979) considera a educação numa perspectiva contínua ao
afirmar que «a educação é possível para o homem, porque este é inacabado e sabe-se
inacabado. Isto leva-o à sua perfeição. A educação, portanto, implica uma busca realizada
por um sujeito que é o homem. O homem deve ser o sujeito da sua própria educação» (p.
28).
Pensando que os problemas de hoje, não serão com certeza os mesmos do futuro, a
formação terá por isso que ser perspecti-
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vada numa dinâmica de permanente mudança e inovação e, como reconhece Ribeiro
(1989), «os programas de formação de professores devem conter mecanismos de
auto-renovação em ordem a permitir adaptações a condições mutáveis da sociedade
e das escolas» (p. 37).
Para ser professor, hoje não basta já só a formação inicial, pois ocorrendo ela num
período limitado de tempo, não pode ser considerada senão inicial. Sendo agente de
mudança numa sociedade que impõe hoje ao professor uma maior co-responsabilização
no processo de formação de futuras gerações, cabe-lhe então, neste processo, um papel
dinâmico, cujo desempenho depende de uma formação contínua e permanente. Campos
(1989) desenvolve a sua ideia desta forma: «(...) a formação contínua é sempre necessária
para complementar a inicial, por mais perfeita que esta seja. Há limitações da formação
inicial que são intransponíveis» (p. 130).
A formação contínua é um conceito que encerra um dos aspectos mais básicos e
mais ocultos do poder da educação: a continuidade como uma condição necessária ou
indispensável do desenvolvimento humano.
Assim é reconhecido por Ainscow (1998a), ao afirmar que «a valorização
profissional pode facilitar o ensino para todos os alunos, mas só quando começa a invadir
a cultura mais profunda de determinada escola» (p. 35).
Constituindo a escola um espaço de encontro de profissionais com vivências e
conhecimentos diversos torna-se um espaço privilegiado para a criação de
intertextualidades, crescimento e desenvolvimento de todos os seus membros, no respeito
pela diversidade e na valorização de cada um.
A presença de alunos com NEE pode ser a alavanca para a implementação da
qualidade do ensino e da promoção do sucesso educativo de todos os alunos. Para isso
contribui o optimismo e o entusiasmo dos professores, cabendo às escolas
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reforçar ou enfraquecer estes sentimentos. Daí a importância que se confere, também, à
sensibilização e formação de todos quantos constituem os órgãos de gestão das escolas.
Encontramo-nos às portas não só de um novo século, mas também de um novo
milénio. A sociedade de hoje viveu e vive de uma forma galopante as inovações e as
mudanças dos últimos tempos. Apesar deste ritmo, continuamos desatentos e atiramos
com a culpa para os outros ou então metemos a cabeça na areia, esquecendo-nos de que a
formação é absolutamente necessária para acompanhar o tempo. É necessário, ainda,
reforçar as relações existentes entre professores-professores, entre profesores-instituições
e entre instituições-instituições, numa nova ordem, estabelecendo um paradigma
ecossistémico que permita ultrapassar as dificuldades que se nos apresentam todos os
dias. Porter (1997) considera que «a colaboração deve substituir a competição e o
isolamento. O ambiente escolar deve enriquecer os professores, ajudando-os a verem-se a
si próprios e a verem os colegas como "solucionadores de problemas". As barreiras entre
os elementos do pessoal devem desaparecer, dando lugar à confiança necessária para
adquirirem novos conhecimentos e práticas» (pp. 47-48).
Todos reconhecemos quanto é importante a formação para o trabalho com alunos
com NEE e, por isso, de acordo com Wang (1998), «é necessário que se desenvolva um
trabalho de equipa capaz de pressionar os educadores a conseguirem os conhecimentos
que lhes permitam trabalhar, tendo em vista uma concepção educativa baseada na
equidade» (p. 51).
A escola inclusiva é um grande desafio, na medida de todos e de cada um dos
alunos. Isto determina respostas plurais e singulares, para o vasto leque de problemas que
se nos deparam. Ainscow (1998b) afirma que «o maior desafio para um professor é uma
criança que diz: "Eu não compreendo". Se o aluno não compreende, o professor tem que
fazer de tudo para que a
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criança aprenda. Os professores são como os músicos de jazz: têm o mesmo repertório
todas as noites, mas improvisam em função do feedback que recebem do público» (p. 34).
Esta prática exige habilidade para harmonizar o trabalho dentro da sala de aula.
Em função das respostas e observações do trabalho das crianças, o professor adapta o seu
plano de maneira a chegar a todos, com uma pedagogia diferenciada centrada na
cooperação.
A Declaração de Salamanca ao referir, no âmbito da orientação inclusiva, que as
escolas regulares são os meios mais capazes para combater as atitudes discriminatórias,
criando comunidades abertas e solidárias, construindo uma sociedade inclusiva e
atingindo a educação para todos, parte do pressuposto que os professores de turmas do
ensino regular deverão ter formação para atendimento de crianças com NEE, de modo a
promover o sucesso desses, e dos outros alunos.
É certo que isto não constitui, ainda, a nossa realidade, tornando-se num dos
primeiros obstáculos ao modelo da escola inclusiva. Porter (1997) salienta que «o
professor de ensino regular é considerado o recurso mais importante no ensino de alunos
com necessidades especiais. Isto implica que os professores actualizem continuamente os
conhecimentos e competências que já possuem e que adquiram novas competências.
Consequentemente, a formação de pessoal, a nível da escola e do concelho, é um factor
fundamental no desenvolvimento das práticas educativas» (p. 43).
Na verdade, o que se torna necessário é que a formação responda às necessidades
surgidas dos problemas e das situações concretas. Por conseguinte, a formação tem de
contribuir para encontrar e manter as condições que permitam aos professores, orientar-se
face às mudanças evolutivas, participando na sua orientação. Isto só se torna possível
utilizando métodos de reflexão sobre a prática.
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Ainscow (1998a) propõe-nos o modelo de prática reflexiva como forma de levar
os professores a aprenderem com a sua própria experiência, tomando em conta outros
contextos mas reconhecendo, sobretudo, a importância da componente prática que se
desenvolve através de uma forma de aprendizagem mais intuitiva.
«Deverão focar a sua atenção em todas as crianças da classe à medida que
interagem com tarefas e processos específicos (..). É uma mudança radical, relativamente
à perspectiva tradicional, que tem reforçado a ideia de que as crianças com necessidades
especiais são da responsabilidade de especialistas (...). Os papéis a desempenhar por
aqueles que são considerados especialistas em necessidades especiais são vitais. Devem,
cada vez mais ir focando a sua actividade em estratégias destinadas a encorajar a
perspectiva de resolução de problemas (...); é através do sucesso de iniciativas realizadas
ao nível da escola que tenham por base esta perspectiva que se poderão desenvolver
atitudes e práticas» (pp. 39-41).
Na Declaração de Salamanca vê-se reconhecida a importância da preparação de
todos os educadores, como factor-chave na promoção de progresso, no sentido do
estabelecimento de escolas inclusivas. Podemos aí, ver algumas orientações, que dizem
respeito ao entendimento que todos os profissionais devem ter daquilo que pode ser
alcançado nas escolas através de serviços de apoio disponíveis, e ainda ao conhecimento
e habilidades requeridas que incluem a avaliação de necessidades especiais, adaptação do
conteúdo curricular e utilização de tecnologia de apoio, com o objectivo de atender as
necessidades especiais dos alunos, e ainda colaborar com os especialistas e cooperar com
os pais.
Também é muito importante o envolvimento, activo, de pessoas portadoras de
deficiência em pesquisa e em formação,
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para que se assegure que as suas perspectivas sejam totalmente levadas em consideração.
Esta ideia, do envolvimento na educação, de indivíduos com deficiência, será
certamente eficaz pois o bom exemplo funciona, neste caso, como estímulo, servindo ao
mesmo tempo duas causas, como refere Fonseca (1997) ao considerar que:
«Professores deficientes visuais, auditivos ou motores podiam dar grande
contributo à formação de professores e na educação de crianças deficientes, estimulando
oficialmente a sua actividade pedagógica e científica. Ninguém pode ser classificado
medicamente como inválido para ensinar, para mais com a actual tecnologia. Há que
explorar este filão, quer para o problema da integração, quer ainda para os benefícios que,
consequentemente, resultariam para a educação de crianças deficientes» (p. 239).
Para Correia (1994), a formação é determinante, «(...) tendo em conta a filosofia
da integração que nos parece um processo irreversível e que exige uma preparação
diferente, quer do professor do ensino regular, que deverá assumir uma maior
responsabilidade quanto ao ensino da criança com NEE, quer do professor de educação
especial que deverá assumir um papel de apoio e de consulta» (p. 50).
No Despacho conjunto n.º 105/97, de 1 de Julho, vemos explícito, nas
competências que incumbem à equipa de coordenação dos apoios educativos, em
articulação com as escolas da sua área, a intervenção a nível das comunidades e junto de
instituições e serviços, designadamente, com vista ao incremento da formação contínua
dos docentes, nomeadamente através dos centros de formação das associações de escolas,
com particular incidência nos domínios do desenvolvimento curricular, da diferenciação
pedagógica e das restantes crianças e jovens com necessidades educativas especiais.
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Como atribuição da equipa de coordenação encontra-se, a prestação de
colaboração e apoio aos órgãos de gestão e de coordenação pedagógica das escolas,
designadamente quanto à formação e reflexão cooperativa dos docentes no seu contexto
de trabalho, na perspectiva da diversificação e valorização das práticas educativas.
Em relação ao processo de formação de professores do ensino especial, segundo
Fonseca (1997), a criação de módulos interdisciplinares é fundamental, a fim de se
abordarem os problemas do desenvolvimento (normal e patológico) e da neuropsicologia
e neuropsicopatologia da aprendizagem, quer na criança deficiente quer na criança dita
normal. Enquanto não for garantido este tipo de formação clínico-pedagógica, a formação
dita «especial» confunde-se com uma formação que devia ser «geral». As crianças
deficientes têm necessidades especiais e apreendem de maneiras diferentes, daí que os
professores necessitem saber estimular o sistema nervoso central, meio através do qual a
criança aprende.
Fonseca (1997) refere ainda que a formação científico-pedagógica dos
professores de Ensino Especial deve ter em conta as seguintes áreas: teorias do
comportamento, teorias da aprendizagem, neurobiologia da aprendizagem,
processamento da informação, diagnóstico, psicopedagogia da leitura, da escrita e do
cálculo, psicologia do desenvolvimento, desenvolvimento de currículos, planificação
educacional individualizada ou para pequenos grupos, epistemologia genética, teoria das
personalidades, psicologia diferencial e psicometria, metodologia da investigação,
psicolinguística, auto-aprendizagem, problemas sociais da juventude, etiologia,
defectologia humana, entre outras.
Como podemos constatar, são vastos os conhecimentos e as competências que a
escola reclama dos seus actores, sobretudo dos professores especializados em NEE. De
acordo com Ribeiro (1989), «a inovação e o progresso contínuo de qualquer sistema
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educativo não se conseguem sem o correspondente esforço de qualificação dos seus
agentes educativos e, em particular, dos professores» (p. 3).
Segundo o Conselho da Europa (1994), que tem vindo a desempenhar um papel
fundamental no estudo e difusão de soluções para a melhoria da qualidade de vida das
pessoas com deficiência, a formação deve seguir orientações relativamente ao processo
de reabilitação e de integração das pessoas com deficiência, tendo como princípio que
«toda e qualquer pessoa que pelas suas funções, intervém directa ou indirectamente no
plano médico, social e profissional da reabilitação e integração das pessoas com
deficiência, deverá receber formação adequada. Essa formação deverá ter por objectivo
ajudar as pessoas com deficiência a levar uma vida o mais normal possível. É igualmente
essencial educar e apoiar os pais, se se pretende auxiliar as pessoas com deficiência a
viver no seio da colectividade».
A formação deverá ser entendida no seu sentido mais lato e abranger:
uma formação geral, reconhecida normalmente por diploma, e que constitua a
qualificação básica para o exercício de uma dada função;
uma formação profissional suplementar num dado domínio ou disciplina;
uma especialização em reabilitação.
Deverá focar os aspectos específicos seguintes:
iniciação ou adaptação ao trabalho de equipa exigido pela reabilitação;
introdução às técnicas de comunicação e pedagógicas;
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informação sobre a natureza das deficiências, sua repercussão e papel da
reabilitação;
o papel activo que as pessoas com deficiência ou em risco de se tornarem
deficientes desempenham no processo de reabilitação.
Deverá, ainda, abranger:
formação complementar e formação em exercício;
reciclagem para se manter actualizado sobre os progressos das técnicas de
reabilitação e a evolução tecnológica nos vários campos da actividade económica
e social e, ainda, sobre a evolução das atitudes da sociedade face às deficiências;
informação sobre ajudas técnicas que contribuem para a reabilitação e a
integração das pessoas com deficiência.
Para a realização da formação contínua a Lei de Bases do Sistema Educativo
prevê, no seu artigo 35.º, n.º 3, que a responsabilidade de assegurar a formação contínua,
cabe predominantemente às instituições de formação inicial, em estreita colaboração com
os estabelecimentos onde educadores e professores trabalham.
Segundo Sanches (1999), a partir de um estudo levado a cabo pelo Ministério
através de dados recolhidos pelas Direcções de Educação (DRENs), podemos avaliar do
estado actual da situação no que se refere ao apoio educativo a crianças com NEE e à
especialização de professores nesta área.
Em 1997-98 beneficiaram de «alguma modalidade de apoio educativo» 64 133
crianças, identificadas como tendo NEE. Isto traduz-se num aumento de 67,8 % em
relação ao ano lectivo de 1996-97. Estes números traduzem uma evolução que não corres-
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103
ponde ao da especialização de professores capazes de dar resposta aos mais diversos tipos
de situações. Dos «docentes de apoio educativo», apenas 19,3 % têm formação
especializada em educação especial.
O relatório ministerial refere ainda o problema da assimetria regional na cobertura
do território nacional relativamente a docentes especializados. Os professores com
formação especializada encontram-se distribuídos de forma assimétrica. O distrito de
Lisboa é o que menos carências apresenta, situando-se alguns dos distritos mais
carenciados na Região Norte, nomeadamente Braga, Porto, Bragança, Viana do Castelo,
Aveiro e Vila Real.
Para obstar a este problema, afirma-se necessário, refere este estudo a criação de
«mecanismos legais que obriguem os docentes que frequentaram a formação
especializada, com estatuto de bolseiro, a trabalhar durante um determinado número de
anos, na área da sua especialidade e no distrito onde foram seleccionados».
Verificam-se também desigualdades na distribuição destes docentes por nível de
ensino: somente 17 % dos estabelecimentos de educação pré-escolar têm docentes de
apoio educativo, sabendo. quanto é importante a identificação precoce, para o êxito
escolar de crianças com NEE, assim como a respectiva avaliação e estimulação; esta é,
segundo o ME, uma percentagem muito baixa.
Podemos concluir, de acordo com as apreciações tornadas públicas pelo ME/CNE
(1999), que a situação actual não é animadora pois é conhecido que uma parte
significativa dos professores não está preparada para desenvolver estratégias de ensino
diferenciado.
Podemos concluir também que, na prática, os procedimentos, na sua maioria não
se encontram adequados às realidades actuais e à evolução prevista, nomeadamente no
campo das respostas encontradas para o pleno funcionamento de uma
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escola para todos. Para este quadro, entre outros factores, contribuem «a inadequação da
formação inicial de professores às necessidades educativas dos alunos, a ausência de
estruturas adequadas de formação de todos os professores que já exercem, a inexistência
de uma carreira docente que valorize o mérito e penalize a mediocridade» (Campos,
1989, p. 10). Pelo atrás exposto se conclui da necessidade absoluta de formação para o
atendimento de crianças com NEE. Como diz Fonseca (1997), «todos os professores
"regulares" ou "especiais" deverão ser envolvidos na educação de crianças (deficientes ou
não). Devem conhecer de alguma forma as características de comportamento e
compreender as suas dificuldades. Todo o professor deve estar equipado para, na situação
de classe regular, atender às necessidades educacionais especiais de qualquer criança» (p.
244).
A formação dos professores é fundamental para uma verdadeira educação
inclusiva. Formação inicial, contínua e especializada não só dos professores que
especializam o seu trabalho no ensino especial, mas também de todos os docentes.
3.1.3. Perfil pedagógico do docente de apoio educativo
Não há educação sem amor. O amor implica luta contra o egoísmo. Quem não é capaz de
amar os seres inacabados não pode educar.
(...) Quem não ama não compreende o próximo, não o respeita». (Paulofreire)
Para inverter o sentido da exclusão e reforçar os elos mais fracos da corrente
humana o Docente de Apoio Educativo (DAE)
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tem um papel determinante no espaço que lhe é concedido. É nossa convicção que, à
partida, este profissional deverá estar imbuído, primeiro, de sentimento positivo e de uma
atitude afectiva em sala de aula.
«Numa perspectiva educacional é imprescindível que a relação pedagógica
considere os sentimentos e as emoções na sala de aula; não se deve ficar pelo que o aluno
"pode fazer"; é preciso ter em conta o "como se sente" (...). A forma como um aluno se
sente a respeito de si próprio está relacionada com o rendimento que obtém, não sendo
essa relação substancialmente diferente do que se passa ao relacionarmos a inteligência
geral e o sucesso escolar. Tal facto, implicaria que, na relação pedagógica, ao nível da
sala de aula, fosse dado um peso equivalente à dimensão afectiva e cognitiva no processo
educacional, sendo mais evidente essa necessidade nos níveis etários mais baixos, onde
afectivo e cognitivo interagem mais intensamente» (Peixoto, 1999, p. 186).
Nesta ordem de ideias, afirma Santos (1991) que «os problemas infantis são
essencialmente problemas de relação. Em psicologia moderna a relação é encarada como
um sistema de comunicação que permite trocas de sentimentos, emoções e
conhecimentos». (p. 58)
Embarcamos numa atitude de despojamento, confirmada por Gama (1996), que
confessa ao seu diário: «Para ser professor, também é preciso ter as mãos purificadas. A
toda a hora temos de tocar em flores. A toda a hora a poesia nos visita» (p. 16).
Ribeiro (1989) completa esta ideia ao afirmar que «a arte de ensinar consiste,
fundamentalmente, em determinar a relação mais adequada entre modos de acesso à
aprendizagem do aluno e formas de intervenção que lhe correspondem» (p. 86).
Procurando delinear o perfil do DAE vamos em busca de mais traços. Para
Peixoto (1991), «todo o bom professor sabe que uma pequena dose de amor, paciência e
compreensão para com
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106
as crianças pode representar muito, na prevenção e no tratamento de qualquer dificuldade
de aprendizagem» (p. 31)
A Lei de Bases do Sistema Educativo determina no seu artigo 33.º - 1 que
«adquirem qualificação para a docência em educação especial os educadores de infância
e os professores do ensino básico e secundário com prática de educação ou de ensino
regular ou especial que obtenham aproveitamento em cursos especialmente vocacionados
para o efeito realizados em escolas superiores que disponham de recursos próprios nesse
domínio».
Segundo Fonseca (1997), para a Educação Especial devem ser recrutados os
professores e os técnicos mais competentes científica e pedagogicamente, na medida em
que lhes vão ser exigidas capacidades para dar resposta a complexas necessidades,
nomeadamente as seguintes: diagnóstico, planeamento curricular, metodologia
pedagógica, competência técnica na utilização de vários processos de informação,
administração, envolvimento pessoal e tolerância, relações públicas, a fim de trabalhar
em grupo com as autoridades e serviços e atender os pais.
Porter (1997) aponta para a experiência e a competência, aliadas aos
conhecimentos, neste campo, como factores relevantes para a selecção dos Docentes de
Apoio Educativo (DAE), quando afirma que «a experiência da maior parte das direcções
escolares concelhias revela-nos que os professores de M&R * que são professores do
ensino regular experientes e que são considerados como competentes pelos seus colegas,
são os que cumprem estas funções com maior sucesso. (...) É também necessário que os
professores de M&R tenham conhecimentos
__________________
* Estes professores de Métodos e Recursos são o equivalente, no Canadá, ao Docente de
Apoio Educativo, em Portugal.
107
107
específicos relevantes para a educação de alunos com necessidades especiais» (p. 41).
É verdade que todos os requisitos exigidos a um DAE apontam apenas para um
ideal a alcançar pois, como reconhece Santos (1991), «não há educadores perfeitos e
quando há pretensos educadores perfeitos os seus produtos são "casos patológicos". Tudo
quanto podemos aconselhar, no estado actual dos nossos conhecimentos é que cada um
eduque com verdade e espontaneamente» (p. 67).
O desempenho das funções que são atribuídas ao DAE pressupõe a sua formação,
através de programas, que promovam a aquisição de competências necessárias ao
atendimento adequado dos alunos com NEE.
A intervenção do DAE, no que concerne ao apoio directo aos alunos, situa-se nas
situações mais complexas que por isso o exijam. Deve esse apoio ser prestado dentro da
sala de aula, em articulação com o docente da turma e inserido na dinâmica do grupo /
turma. Esporadicamente pode o apoio acontecer fora da sala de aula de forma
complementar e fora do tempo lectivo. Mas num âmbito mais alargado a intervenção do
DAE passa pela organização das diferentes estratégias de apoio educativo.
Para Pereira (citada por Sanches, 1999), «a grande tarefa do professor de apoio
educativo é também orientar o professor do ensino regular, de forma a que este ensine de
forma diferenciada» (p. 25).
As funções do DAE pressupõem entre outras, a tarefa de aconselhamento a
professores, que passa pela reflexão sobre as práticas, para provocar a tomada de
consciência da falta de sentido de algumas delas e para motivar os professores na expe-
riência de novas formas de organização do trabalho e das relações humanas estabelecidas.
108
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Como afirma Santos (1991), «cada educador pode modificar, se o desejar, a sua
atitude educativa mas só na medida em que haja da sua parte uma tomada de consciência
da natureza inconsciente de certas atitudes. (...) Tudo quanto podemos fazer por aquele
que, por hipótese, está errado, é ajudá-lo a tomar consciência» (p. 58).
As funções do DAE representam, no Despacho n.º 105/97, de 1 de Junho, uma
viragem que significa, sobretudo, deixar de ser encarado como alguém que vem «aliviar»
os colegas, que goza de um estatuto especial, que não corresponde ao modelo idealizado,
mas antes aquele que desempenha tarefas e assume responsabilidades claramente
negociadas e definidas pelas prioridades assumidas e avaliadas por todos; mais um
elemento da equipa da escola. Porter (1997) admite que «é essencial que os professores de
métodos e recursos não sejam considerados como especialistas a quem compete
solucionar todas as dificuldades experimentadas pelos professores do ensino regular. Em
vez disso, devem ser considerados como pessoas que podem ajudar o professor a
encontrar soluções operacionais para os problemas que surjam na sala de aula» (p. 41).
No ponto 12, do referido Despacho n.º 105, vemos definidas as funções dos
docentes que prestam apoio educativo nas escolas. Assim, o DAE é um recurso
fundamental na organização e planeamento ao nível da escola, dos apoios educativos a
disponibilizar aos alunos com necessidades educativas especiais.
De acordo com o Despacho n.º 105, destacamos as seguintes funções do Docente
de Apoio Educativo. Com os órgãos de Gestão e Coordenação da Escola e de
agrupamento de escolas, o DAE deve:
colaborar na sensibilização e dinamização da comunidade educativa;
109
109
participar na elaboração (ou no seu reajustamento quando for caso disso) do
Projecto Educativo de Escola;
colaborar na organização das estruturas que funcionam ao nível da escola e de
agrupamento de escolas;
identificar, conjuntamente com os restantes órgãos de gestão pedagógica, as
soluções, os recursos humanos e as técnicas;
colaborar na organização do processo de apoio aos alunos com NEE;
colaborar na identificação, conjuntamente com os restantes órgãos de orientação
pedagógica da comunidade escolar, das necessidades de formação dos docentes;
colaborar na articulação de todos os serviços e entidades que intervêm no
processo de apoio aos alunos.
No trabalho com o(s) Docente(s) das turmas que têm alunos com NEE, o DAE
deve:
apoiar o(s) docente(s) na diversificação das práticas pedagógicas e no
desenvolvimento de metodologias e estratégias que facilitem a gestão de grupos;
colaborar com o(s) docente(s) na planificação do trabalho a realizar com o
grupo/turma;
colaborar na organização curricular;
colaborar com o(s) docente(s) da turma na construção e avaliação de programas
individualizados;
colaborar e participar no trabalho com pais e encarregados de educação.
110
110
Em articulação com o(s) docente(s) da turma, o DAE deve:
enquadrar o auxiliar de acção educativa no trabalho a desenvolver com a turma
em que existam alunos com NEE;
ajudar a compreender as necessidades pedagógicas, técnicas e sociais dos alunos
com NEE;
implicar o auxiliar de acção educativa no trabalho de planificação e avaliação.
O DAE poderá apoiar directamente o aluno, nos casos em que, para o acesso ao
currículo, se necessita de introduzir técnicas ou linguagens alternativas ou ainda,
equipamento específico, como é, designadamente, o caso dos alunos com deficiência
visual, auditiva, motora ou multideficiência.
«Em Portugal devem ser tomadas medidas drásticas para elevar o nível da
formação dos professores da EE, culminando com licenciatura e favorecendo e
estimulando a investigação.
A EE entre nós é um campo onde pairam afirmações sem comprovação factual e
onde se actua na base de preconceitos e de empirismos. A EE não pode continuar a ser
refúgio dos professores menos qualificados, a única alternativa profissional para estar
mais perto de casa ou uma opção por razões de caridade ou compaixão» (Fonseca, 1997,
p. 237).
Os traços da personalidade, embora dificilmente mensuráveis e objectiváveis, são
enunciados como imprescindíveis para a educação de crianças e jovens com NEE: amor,
aceitação, flexibilidade, adaptabilidade, criatividade, senso de humor, paciência, senso
prático, realismo e autoconfiança - são alguns dos traços que se esperam para um bom
desempenho.
111
111
Por aqui podemos concluir que o desempenho das funções que se exige ao DAE
tem como pressuposto competências e responsabilidades próprias de uma vasta formação
académica, e orientadas no sentido do humanismo.
Perguntamo-nos se na conceptualização e promulgação de legislação foi, de facto,
tomada em conta a actual situação dos DAE, que não possuem, na sua maioria, formação
específica para o trabalho com crianças com NEE.
115
PARTE II
ORGANIZAÇÃO E PLANIFICAÇÃO EXPERIMENTAL
Capítulo IV
DA IDENTIFICAÇÃO DO PROBLEMA
À FORMULAÇÃO DA HIPÓTESE
4.1. Problemática
Todos os alunos têm, de uma forma ou de outra, necessidades educativas especiais, e os
professores têm de estar preparados para os atender. Evidentemente, existem crianças que
apresentam necessidades mais estruturadas. Nestes casos, ou o professor tem
conhecimentos suficientes que lhe
permitam lidar com a situação, ou terá de ter alguém que o ajude, seja no acesso ao
currículo, seja na sua modificação, seja ainda na manutenção
de um clima social e emocional de boa qualidade desenvolvimental.
(Joaquim Bairrão)
A inclusão já não é uma utopia. Também não é, ainda, uma realidade. Mas a realidade
constrói-se...
O direito de todas as crianças à educação está proclamado na
Declaração Universal dos Direitos do Homem e foi reafirmado com veemência pela
Declaração Mundial da Educação para Todos. Também a Declaração dos Direitos da
Criança contempla esse direito.
Na Constituição da República Portuguesa vemos consignados os plenos direitos de que o
deficiente goza e os deveres do Estado, de realizar uma política de prevenção, tratamento,
reabilitação e integração.
116
116
A Lei de Bases do Sistema Educativo constitui um importante instrumento de suporte
deste quadro conceptual.
Com o Decreto-Lei n.º 319/91, de 23 de Agosto, vemos legitimadas as medidas de
integração propostas pela Lei de Bases. Constitui, este, um instrumento que apoia e
suporta a escola regular, no esforço que ela desenvolve no sentido de atender
adequadamente todos os alunos, mesmo aqueles que sejam portadores de deficiência.
A Declaração de Salamanca, de 1994, constrói uma nova ideia, a de escola inclusiva, no
sentido de escola para todos, um paradigma emergente em Educação.
A pedagogia contemporânea, em múltiplos aspectos, segue de perto as propostas
progressistas que surgem nos séculos XVIII e XIX, dando início a uma escola nova, que
se propõe corrigir assimetrias.
Os pressupostos humanistas, ao considerarem todos os indivíduos capazes de
aprenderem, desde que se atenda às suas potencialidades, conduziram o sistema
educativo a garantir a cada indivíduo o máximo de instrução.
A escola inclusiva é, sem dúvida, um dos maiores desafios em educação.
A igualdade de oportunidades não é senão a criação de condições que assegurem a todos a
dignificação social e a maximização de valorização pessoal.
O princípio da inclusão não pode ser controverso. Pode ser entendido de forma diferente
por diferentes pessoas, e a sua prática pode estar aquém do que é considerado o ideal, mas
a noção de que os alunos com necessidades educativas especiais de qualquer tipo, devem
ser educados ao lado dos seus pares em escolas normais, sempre que possível e
apropriado, não pode ser questionada.
117
117
Não vai há muito tempo que a legislação assim como os costumes e a prática ditavam que
o lugar para muitas crianças e jovens deficientes era numa escola especial.
Os alunos em situação de desvantagem terão que ter oportunidade de aceder ao lugar que
é o seu, proporcionado pela escola que é de todos, e sua também.
Não se esperem soluções imediatas para todos os problemas, mas é legítimo exigir a
abertura de caminhos, que apaguem a imagem de constante preocupação com a situação
dos alunos diferentes.
É verdade que o processo de integração se encontra legitimado pela lei, mas muito do que
está estipulado não foi ainda cumprido.
A diferença existente entre os princípios da lei e a disponibilização de condições
essenciais à concretização levam-nos a reconhecer que as medidas legais se confrontam
por vezes, com obstáculos que limitam de forma considerável a sua aplicação.
Com estas escolas não apenas se promove a educação de todos mas dá-se, também, um
grande passo no sentido de modificar atitudes discriminatórias, criando comunidades
acolhedoras e desenvolvendo uma sociedade inclusiva que determina que todas as
crianças devem aprender juntas sempre que possível, independentemente de quaisquer
dificuldades ou diferenças que elas possam ter.
Escolas inclusivas deverão reconhecer e responder às necessidades múltiplas dos seus
alunos respeitando estilos, ritmos de aprendizagem e assegurando a educação através de
um currículo apropriado, estratégias de ensino diversificadas, uso de recursos adequados
e estabelecendo parcerias com a família e a comunidade.
A escola inclusiva determina uma pedagogia de que todas as crianças beneficiam.
Assume que as diferenças são normais e
118
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por isso propõe a adaptação dos currículos à criança em lugar de se adaptar a criança a um
currículo, que espartilha.
Uma pedagogia centrada na criança é um benefício para cada um e para todos e
consequentemente para a sociedade em geral. Poderá, com certeza, esta pedagogia
reduzir a taxa de abandono e insucesso escolar e garantir um mais alto rendimento
escolar.
As crianças e os jovens com Necessidades Educativas Especiais devem ter a máxima
inserção possível na sociedade em todas as suas vertentes: familiar, comunitária,
educativa e recreativa.
Se a legislação suporta esta conceptualização, cabe-nos perguntar:
• Como justificar a realidade que permite que uma grande parte desta população se
encontre ainda confinada a espaços de segregação?
• Que factores determinam a exclusão?
4.2. Objectivos do estudo
Não conhecemos o caminho, mas sabemos que o caminho se faz andando. Não temos
promessa, mas sabemos que o impossível se torna possível na mesma medida em que o
possível se torna impossível.
(EDGAR MORIN)
Em educação nada é estático, tudo está em movimento e em reformulação constante; não
existem conceitos vitalícios nem princípios gerais e de orientação que não sofram o
processo de evolução, de aperfeiçoamento e de adaptação aos desafios que
119
119
vão surgindo à medida que se vão alterando e reformulando as formas de pensar, de agir e
de sentir nas sociedades.
Um paradigma educacional emergente é o da inclusão. Ao realizar um estudo nesta área
propomo-nos atingir os objectivos que se seguem:
• Conhecer os principais obstáculos à inclusão.
• Identificar a origem de atitudes de exclusão.
• Constatar a necessidade da formação especializada de professores.
• Desenhar caminhos que conduzam a uma escola inclusiva.
• Reconhecer o papel da escola inclusiva na construção de uma sociedade
democrática.
4.3. Hipóteses
A educação é um acto de amor, por isso, um acto de coragem. Não pode temer o debate. A
análise da realidade. Não pode fugir à discussão criadora, sob pena de ser uma farsa.
(PAULO FREIRE)
Os problemas das pessoas portadoras de deficiência por um tempo demasiado longo têm
sido agravados por uma sociedade que inabilita, que tem prestado mais atenção aos
impedimentos do que aos potenciais de tais pessoas.
Inclusão e participação são pressupostos essenciais de dignidade humana. É dentro deste
contexto que a generalidade dos alunos com Necessidades Educativas Especiais
encontrarão o seu lugar e a resposta educativa de que necessitam.
120
120
O sucesso desta tarefa exige um grande esforço, não somente da parte da escola e dos
professores, mas requer, ainda a colaboração de pais, famílias e sociedade, neste desafio.
Esta reforma não constitui somente uma tarefa técnica, ela depende, antes de mais, da
convicção, compromisso e disposição dos indivíduos que compõem esta sociedade, de
modo a favorecer o atendimento das crianças através de uma complementaridade da
respectiva intervenção.
Uma escola inclusiva exige mudanças estruturais, por acolher uma grande variedade de
alunos. Requer a conjugação de uma forte e determinada política de inclusão, com a
proporcional provisão financeira; informação pública para combater o preconceito e criar
atitudes positivas; um programa extensivo de formação, orientação e preparação
profissional.
Esta é a moldura necessária para o desenvolvimento de uma
verdadeira escola inclusiva. Contudo tem havido dificuldade na
implementação deste modelo conceptual.
As hipóteses do nosso estudo são as seguintes:
H 1 - A escola não se encontra, ainda, preparada para a
inclusão.
H 2 - Os professores não têm formação específica para o trabalho com crianças com
Necessidades Educativas Especiais.
H 3 - A falta de formação/informação determina, nos professores, atitudes de exclusão.
121
Capítulo V
METODOLOGIA
5.1. Amostra
Seleccionámos um grupo de 40 Docentes de Apoio Educativo, da Equipa de Apoios
Educativos de Amarante, o que constitui 83,5 % do total de professores desta equipa.
Responderam ao questionário 34 professores (DAE).
Seleccionámos o mesmo número de Docentes do Ensino Regular, escolhidos
aleatoriamente, entre os professores do 1.º ciclo do Ensino Básico do Concelho de
Amarante. Responderam ao questionário 37 professores (DER).
Presidiu a esta ideia a intenção de recolher elementos que respondam às questões
levantadas, estabelecendo comparações entre as perspectivas (diferentes?) dos dois
grupos alvo.
Quanto aos Docentes de Apoio Educativo são os seguintes os dados recolhidos:
No que diz respeito à idade e ao sexo (Figs. 5 e 6), verifica-se que:
• a maioria são do sexo feminino (82,4%) sendo apenas 17,6% do sexo masculino;
• o intervalo de idades mais frequente vai dos 30 aos 39 anos, havendo 61,8 % de
professores nesta situação; para o intervalo de idades entre 40 e 49 anos existem 32,3 %
de professores e apenas 5,9 % têm entre 20 e 29 anos; com mais de 50 anos, não existe
docente algum.
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A maioria dos docentes (85,3 %) encontra-se no Quadro Distrital de Vinculação e apenas
14,7 % são do Quadro da Escola (Fig. 7).
[esta página apresenta quatro gráficos que não vale a pena digitalizar e ocupam o resto da
mesma.]
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Considerando as Habilitações Académicas (Fig. 8) que os diferentes professores
apresentam, verifica-se que a maioria (76,5 %) é bacharel, e um número mais reduzido
(23,5 %), possui uma licenciatura ou equivalente.
[esta página apresenta quatro gráficos que não vale a pena digitalizar e ocupam o resto da
mesma, tal como a página anterior.]
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Relativamente ao grupo de Docentes do Ensino Regular recolhemos os seguintes dados:
• considerando a idade (Fig. 9) dos docentes verifica-se que o intervalo de idades mais
frequente vai dos 40 aos 49 anos, a que corresponde uma percentagem de 54,1 %;
para os intervalos de idades de 30 a 39 anos e de 50 a
[esta página apresenta quatro gráficos que não vale a pena digitalizar e ocupam o resto da
mesma, tal como a página anterior.]
125
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59 anos existe igual número de docentes: 21,6 %. Apenas um (2,7 %) tem menos de 29
anos; com mais de 60 anos não existe nenhum professor;
• considerando o sexo (Fig. 10) dos docentes verifica-se que a maioria são do sexo
feminino (89,2 %) sendo apenas 10,8 % do sexo masculino.
[esta página apresenta quatro gráficos que não vale a pena digitalizar e ocupam o resto da
mesma, tal como a página anterior.]
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No que diz respeito à situação profissional (Fig. 11) dos docentes verifica-se que a
maioria se encontra no quadro da escola (59,5 %) havendo 37,8 % dos professores
inseridos no quadro distrital de vinculação e apenas 2,7 % deles é contratado.
Analisando a Fig. 12, das habilitações académicas que os diversos professores
apresentam, verificamos que a maioria possui o bacharelato (94,6 %) sendo apenas 5,4 %
os que têm licenciatura ou equivalente.
5.2. Instrumentos de pesquisa e procedimento
Considerando que o objectivo do inquérito será o de obter informação que possa ser
analisada e considerando, ainda, que a ênfase principal, consiste na descoberta de factos,
adoptamos o formato de questionário, como forma relativamente acessível e rápida de
obter informação.
O inquérito foi conceptualizado a partir das leituras preliminares e do plano de pesquisa
que nos permitiram identificar as áreas importantes a investigar.
Na concepção do inquérito tivemos como preocupação a definição exacta da informação
que queríamos obter para, através dele, conseguir dados relevantes, fiáveis e válidos para
o nosso estudo.
O questionário foi construído com base no problema levantado, procurando responder
aos objectivos propostos e, ao mesmo tempo, confirmar ou infirmar as hipóteses
formuladas.
Foram ensaiadas várias tentativas para formular as questões, de forma a eliminar o factor
ambiguidade e ao mesmo tempo obter o grau de precisão necessário para que os sujeitos a
quem se dirigia compreendessem exactamente o que lhes era perguntado.
127
127
Adoptamos, em algumas questões, a Escala de Likert para avaliar a opinião e atitudes dos
inquiridos. O questionário inclui questões abertas, de modo a permitir que os inquiridos
exprimam as suas opiniões sobre alguns aspectos do tema em estudo.
Elaborámos dois inquéritos dirigidos a dois grupos de professores: Docentes do Ensino
Regular e Docentes de Apoio Educativo. A generalidade das questões são comuns aos
dois inquéritos.
Tivemos como objectivo obter respostas às mesmas perguntas, de modo a poder
compará-las e relacioná-las, de forma a mostrar a perspectiva e atitude dos dois grupos de
professores.
O inquérito destinado aos Docentes do Ensino Regular foi distribuído de uma forma
aleatória por várias escolas do concelho de Amarante, a professores do 1.º ciclo do Ensino
Básico. Foram entregues pessoalmente uns e através dos respectivos órgãos de gestão de_
escolas, ou agrupamentos de escolas, outros.
Estabelecido um curto prazo de duas semanas para devolução, foram recolhidos pela
mesma forma da sua distribuição.
Os 40 inquéritos dirigidos aos Docentes de Apoio Educativo foram distribuídos,
preenchidos e recolhidos aquando das reuniões semanais da Equipa de Apoios
Educativos de Amarante.
Os resultados serão sintetizados na forma de gráficos de colunas, sendo feito um breve
comentário para cada um deles.
Para cada conjunto de variáveis em estudo serão apresentados, primeiro os resultados
obtidos no questionário dirigido aos Docentes de Apoio Educativo (DAE) e, depois, os
resultados obtidos no questionário dirigido aos Docentes do Ensino Regular (DER).
Seguidamente será feita uma síntese comparativa.
129
Capítulo VI
ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS
6.1. Escola e Inclusão
6.1.1. Docentes de Apoio Educativo
Dos diferentes professores inquiridos, 50 % apresenta um razoável envolvimento nas
actividades da Escola; 38,2 % considera-se um pouco mais envolvido nessas actividades
e só um número mais reduzido (11,8 %) manifesta estar, nelas, plenamente envolvido
(Fig. 13).
Quanto ao grau de aceitação (Fig. 14), verificamos que 26,5 % aceita razoavelmente as
crianças com Necessidades Edu
130
130
cativas Especiais; 44,1 % já os aceita um pouco mais e 23,5 aceita plenamente essas
crianças. De notar que um número muito reduzido de professores (5,9 %) tem
dificuldades nessa aceitação.
Pelas respostas dadas (Fig. 15) ficamos a saber que um número razoável de Escolas (47,1
%) tem o apoio de um Psicólogo; um número reduzido (11,8 %) recebe apoio médico;
existindo Assistente Social a apoiar os alunos apenas em 17,6 das escolas. De salientar
que em nenhuma escola há Terapeuta Ocupacional ou Terapeuta da Fala.
Após a análise da Fig. 16, concluímos que um número elevado de professores (44,1 %)
tem a opinião de que o equipamento existente na sua escola não satisfaz as carências
apresentadas pelos seus alunos com Necessidades Educativas Especiais; só 14,7 % diz
que sim e um número elevado (41,2 %) é de opinião que, em parte, essas carências são
colmatadas.
Também um número razoável de professores (35,3 %) diz que a sua Escola não reúne
condições necessárias à inclusão, manifestando 41,2 % de professores a opinião de que,
em
131
131
parte, as suas escolas reúnem as condições exigidas a inclusão. De notar que apenas 23,5
% de professores considera reunir na sua escola as condições necessárias à inclusão (Fig.
17).
Para que se cumpra a inclusão são necessárias mudanças e os professores consideram que
a mudança mais valiosa será a que se refere à organização e gestão das Escolas seguida de
uma
133
133
mudança na Filosofia da Educação. Foi atribuída, ainda alguma importância à mudança
no modelo de formação de docentes assim como a mudanças jurídico-legislativas. É de
notar, aqui, a pouca importância atribuída à mudança no modelo de apoio educativo, por
parte dos professores que prestam este serviço (Fig. 18).
6.1.2. Docentes do Ensino Regular
Após análise da Fig. 19, ficamos a saber que 62,2 % dos docentes tem nas suas turmas
alunos com necessidades educativas especiais e 37,8 % não tem.
Um número significativo de professores (47,8 %) afirma que os seus alunos com
necessidades educativas especiais têm apoio educativo específico, facto que não acontece
para 52,2 dos docentes inquiridos (Fig. 20).
134
134
Para 54,5 % dos docentes inquiridos, esse apoio específico não é dado por professor
especializado, acontecendo apenas essa situação para 45,5 % deles (Fig. 21).
Pelas respostas dadas ficamos a saber que a maioria das escolas não tem apoio específico
para os seus alunos com neces-
135
135
sidades educativas especiais: só 18,9 % delas tem o apoio de um Psicólogo; Terapeuta da
Fala e Assistente Social (8,1 %); Terapeuta Ocupacional (5,4 %); Outro, mas sem
especificar (8 %); o apoio médico não é referido (Fig. 22).
Após a análise da Fig. 23 concluímos que um número elevado de professores (59,5 %) é
da opinião de que o equipamento
137
137
existente na sua escola não satisfaz as carências apresentadas pelos seus alunos com
necessidades educativas especiais; só 8,1 % diz que sim e um número razoável de
docentes (32,4 %) é de opinião que em parte essas carências são colmatadas.
Também um número razoável de professores (59,5 %) diz que a sua escola não reúne
condições necessárias à inclusão manifestando 29,7 % dos professores a opinião de que,
em parte, as suas escolas reúnem as condições exigidas à inclusão. Uma percentagem
mínima (10,8 %) refere que a escola onde leccionam tem condições próprias à inclusão
(Fig. 24).
Para que se cumpra a inclusão, são necessárias mudanças e os professores consideram
que a mudança mais valiosa será a que se refere à «mudança no modelo do apoio
educativo» seguida de uma «mudança na filosofia da educação»; foram estes dois tipos de
mudança que obtiveram maior escolha por parte dos docentes questionados (Fig. 25).
6.1.3. Análise comparativa: Síntese
Através deste estudo, parece-nos que a escola não se encontra, de facto, preparada para a
inclusão.
É aqui notório o número elevado de professores do ensino regular que diz ter, nas suas
turmas, alunos com Necessidades Educativas Especiais (Fig. 19). É razão para
perguntarmos: - São, de facto, Necessidades Educativas Especiais o que estes professores
identificam? É que, segundo o CNE (1999), os docentes parecem exercer a sua prática
pedagógica em torno de uma representação de aluno ideal (médio), remetendo todos os
casos que não parecem caber nesta categoria para docentes especializados.
De considerar, ainda, que menos de metade das turmas referidas, com alunos
considerados como tendo NEE, recebe
138
138
apoio educativo específico (Fig. 20). Destas, só cerca de metade conta com um professor
especializado em Educação Especial (Fig. 21).
Torna-se preocupante esta situação que deixa cerca de
metade dos alunos sem qualquer tipo de apoio, quando tanto a legislação quanto todas as
orientações nacionais e internacionais, que vivem esta problemática, têm reclamando
medidas de apoio, nomeadamente, o recurso ao professor de apoio educativo.
Dotar o sistema com técnicos especializados, designadamente psicólogos educacionais,
terapeutas e outros técnicos, por forma a assegurar às escolas o apoio indispensável, para
a construção da escola inclusiva, torna-se urgente para que se cumpra a inclusão, mas
também neste campo os professores não se encontram satisfeitos, conforme as Figs. 15 e
22 nos indicam.
Quanto às equipas multi disciplinares o quadro não é animador pois, de todos os
especialistas necessários ao sucesso das crianças com Necessidades Educativas
Especiais, somente o de psicologia presta uma colaboração significativa. Os restantes, tão
necessários, apresentam-se de uma forma insignificante uns, e ausentes, outros. Esta
situação decorre da inexistência de equipas multidisciplinares.
A escola está, em suma, carenciada de serviços de apoio que integrem profissionais de
outras áreas disciplinares que não docentes. Assim, tanto a eficácia do atendimento a
alunos com Necessidades Educativas Especiais, quanto a mudança desejada a operar nas
escolas, ficam altamente comprometidas.
Com base nos resultados obtidos e apoiados em estudos de
Bairrão (1998) reconhecemos que é impossível conceber uma «escola para todos» que
assegure uma igualdade de oportunidades sem que se disponha de uma rede de apoio com
dimensão pluridisciplinar e de recursos específicos indispensáveis a alguns
tipos de NEE.
139
139
Os professores reconhecem, na sua maioria, que o equipamento existente na escola não
satisfaz as carências dos alunos com Necessidades Educativas Especiais (Figs. 16 e 23)
como o previsto pelo artigo 3.º do Decreto-lei n.º 319/91. Estes resultados indicam que a
lei não teve ainda a força suficiente para a sua materialização.
Para que se cumpra a inclusão, os professores consideram que são sobretudo mudanças
organizativas e de gestão ao nível das escolas, mudanças no modelo de apoio educativo e
mudanças na filosofia educacional, as mais necessárias (Figs. 18 e 25).
Ressalta aqui a perspectiva dos Docentes do Ensino Regular, que situam as mudanças
sobretudo ao nível do modelo do apoio educativo.
Podemos adiantar, pela nossa experiência, e por estudos já realizados (Bairrão, 1998),
que para muitos, mantém-se a perspectiva tradicional de apoio centrado e prestado
directamente ao aluno. É indispensável que se processe uma mudanças radical neste
aspecto, o que, obviamente, passa não só por mudanças nas atitudes dos professores de
ensino regular e de apoio, como também pela sua formação.
Importante será que na selecção dos Docentes de Apoio Educativo, para além da
experiência, seja contemplado o seu perfil conforme recomenda o CNE (1999): «O perfil
do professor de apoio educativo deve integrar aspectos relativos à sua preparação
académica e pedagógica, mas também, capacidade de liderança que deverá articular-se,
devidamente, com a liderança institucional dos órgãos de gestão, capacidade de
comunicação e facilidade de relacionamento inter-institucional».
Podemos afirmar que ficou, assim, confirmada a nossa 1.ª hipótese: «A escola não se
encontra ainda preparada para
a inclusão».
140
140
Nem os Docentes de Apoio Educativo (DAE) nem os Docentes do Ensino Regular (DER)
consideram que a escola reuna, neste momento, as condições necessárias à inclusão (Figs.
17 e 24), sendo os professores do ensino regular mais pessimistas nesta matéria. Tais
resultados são um bom indicador do trabalho que falta fazer até que a escola inclusiva
venha a tornar-se numa realidade.
6.2 Formação de professores /Necessidades Educativas Especiais
6.2.1. Docentes de Apoio Educativo
Pela análise da Fig. 26 ficamos a saber que 53 % dos docentes inquiridos não recebeu
preparação adequada para o trabalho com crianças com Necessidades Educativas
Especiais. É de salientar que a maioria dos Docentes de Apoio Educativo reconhece não
ter recebido formação para o trabalho com crianças com Necessidades Educativas
Especiais, o que revela o esforço que é necessário fazer nesta área da formação de
professores.
142
142
Ficámos informados de que a totalidade dos professores que respondeu ao Inquérito tem
conhecimento do teor do Decreto-Lei n.° 319/91, de 23 de Agosto, conforme se pode
verificar pelos resultados que se indicam na Fig. 27.
Para a pergunta sobre o «tipo de Necessidades Educativas Especiais às quais é mais difícil
dar resposta», observamos que a «multideficiência» foi o tipo mais escolhido, logo
seguido pela «deficiência mental» (Fig. 28).
Procurou-se determinar qual a «característica que é considerada necessária a um Docente
de Apoio Educativo»; e, como a Fig. 29 sugere, a «formação científico-pedagógica» é a
mais escolhida, logo seguida pelo «empenhamento».
Atendendo a que há obstáculos à inclusão, os professores registaram que o principal
obstáculo é o dos «preconceitos da sociedade», logo seguido pela «falta de técnicos» (Fig.
30).
143
143
6.2.2. Docentes do Ensino Regular
Feita a análise da Fig. 31, ficamos a saber que 83,8 % dos docentes inquiridos não
recebeu preparação adequada para o trabalho com crianças com Necessidades Educativas
Especiais; 16,2 % dos docentes afirmou ter recebido essa preparação. É a confirmação,
agora de uma forma mais evidente, do trabalho que urge fazer para dar cumprimento ao
disposto no Decreto-Lei n.º 319/91, de 23 de Agosto.
Uma grande parte dos professores 73 % tem conhecimento do teor do Decreto-Lei n.°
319/91, de 23 de Agosto, havendo 27 % de docentes que afirmou desconhecer o seu
conteúdo (Fig. 32).
144
144
Para a pergunta sobre o «tipo de Necessidades Educativas Especiais a que é mais difícil
dar resposta», observamos que é a «multideficiência» o tipo mais escolhido,
seguindo-se-lhe a «deficiência mental». De salientar o elevado número de profes-
145
145
sores que não conseguiu identificar o tipo de NEE a que é mais difícil dar resposta (Fig.
33).
Procurou-se determinar qual a «característica que é considerada necessária a um Docente
de Apoio Educativo» e, como a Fig. 34 sugere, foram o «empenhamento» e a «formação
científico-pedagógica» do professor as duas opções mais escolhidas.
Quanto aos obstáculos à inclusão, os professores mencionaram como principais a
.«deficiente formação do docente do ensino regular», a «falta de técnicos», e as «barreiras
arquitectónicas», todos colocados ao mesmo nível, seguindo-se-lhe a «deficiente
formação do docente de apoio educativo» (Fig. 35).
146
146
6.2.3. Análise Comparativa: Síntese
Os professores não estão preparados, na sua maioria, para a implementação de uma
escola, verdadeiramente, inclusiva.
Na primeira parte do nosso trabalho tivemos oportunidade de fundamentar esta ideia,
concluindo que as debilidades na formação dos docentes são significativas.
Confirmamos, de facto, pela nossa amostra, que um número elevado de docentes do
ensino regular (83,8 %) não recebeu qualquer preparação para o trabalho com crianças
com Necessidades Educativas Especiais (Fig. 31). Mais grave, ainda, é o facto de mais de
metade (53 %) dos docentes de apoio educativo da nossa amostra referir que, também,
eles não receberam
147
147
formação para trabalharem com as crianças que estão a apoiar (Fig. 26).
Segundo Bairrão (1998) tendo, quer o professor do ensino
regular, quer o professor de apoio, formações semelhantes, o primeiro dificilmente
solicitará apoio ao, segundo e o segundo terá, obviamente, muita dificuldade em prestar
ajuda ao primeiro.
É interessante assinalar que nos principais obstáculos à Inclusão, os professores do ensino
regular atribuem muita importância à deficiente formação dos professores de apoio
educativo (Fig. 35).
O CNE (1999) recomenda para se «incentivar as acções de formação em serviço dos
professores de apoio por forma a
148
148
elevar significativamente a sua preparação e a contribuir decisivamente para o
desempenho competente das suas funções e incentivar uma maior expressão da formação
especializada, através da criação de recursos de pós graduação e mestrados em NEE».
Neste momento, todo o processo de inclusão assenta, legalmente, no Decreto-Lei n.°
319/91, de 23 de Agosto, que regula o atendimento dos alunos com NEE.
Importante instrumento de trabalho, este documento é conhecido pela totalidade dos
Docentes de Apoio Educativo. Mas cerca de um terço dos Docentes do Ensino Regular
confessa desconhecer tais medidas (Figs. 27 e 32).
É ocasião para colocarmos a questão: como atendem estes professores, os alunos, que
reconhecem ter, nas suas turmas, com NEE, sendo que o referido decreto estabelece as
medidas do regime educativo especial que se relacionam com a organização curricular, a
organização de turmas, as modalidades de reforço pedagógico e outras?
Pelo seu desconhecimento os professores não poderão, então, recorrer às medidas
previstas no regime educativo especial, comprometendo assim o sucesso dos alunos que é
suposto «acolherem».
É evidente e fica aqui bem claro com este estudo que «os professores não têm formação
específica para o trabalho com crianças com NEE»: a nossa 2.ª hipótese fica, assim,
confirmada.
Relativamente a outros aspectos objecto de análise, neste estudo, podemos referir, em
síntese, o seguinte:
a) Quanto ao tipo de Necessidades Educativas Especiais às quais é atais difícil dar
resposta, os dois grupos de
professores (DAE e DER), coincidem nas suas respostas: multideficiência e deficiência
mental (Figs. 28 e 33).
149
149
b) No que se refere às características que deve ter um professor de apoio educativo, a
opinião dos dois grupos de professores (DAE e DER) é, também, semelhante: formação
científico-pedagógica e empenhamento.
c) No que diz respeito aos principais obstáculos à inclusão, os DAE referem os
«preconceitos da sociedade» e a «falta de técnicos» e os DER indicam a «deficiente
formação do Docente do Ensino Regular», a «falta de técnicos», as «barreiras
arquitectónicas» e, ambos, a «deficiente formação do Docente de Apoio Educativo»
(Figs. 30 e 35).
Nas Figs. 28, 29 e 30 (DAE) e nas Figs. 33, 34 e 35 (DER), apenas quisemos salientar as
duas opções mais escolhidas e colocadas em primeiro lugar, deixando ao leitor a análise
das restantes escolhas feitas pelos respectivos docentes.
6.3. Formação de professores /Atitudes de exclusão
6.3.1. Docentes de Apoio Educativo
Pela análise da Fig. 36, constatamos que um elevado número de professores (61,8 %) é de
opinião que os alunos beneficiam com a presença de crianças com Necessidades
Educativas Especiais quando estas são incluídas nas suas turmas; uma percentagem bem
mais pequena (17,6 %) diz que não beneficiam com essa presença e 20,6 % diz que os
alunos nem ganham nem perdem se nas suas aulas houver crianças com alguma
deficiência.
150
150
Para a maioria dos professores que respondeu ao Inquérito, o Docente de Apoio
Educativo deve fazer parte do quadro da escola, 88,2 % disse que sim, apenas 2,9 %
respondeu que não, dizendo 8,8 % que o assunto não é relevante (Fig. 37).
151
151
À questão acerca de «a escola inclusiva, actualmente, ser um projecto fácil, difícil ou
impossível de realizar», a grande maioria dos docentes (85,3 %) diz que, actualmente, é
um projecto difícil de realizar e apenas 14,7 % dos inquiridos diz ser fácil de realizar.
É de notar que nenhum dos professores inquiridos acha este projecto impossível de
realizar (Fig. 38).
À questão sobre «a escola inclusiva, no futuro, ser um projecto realista, pouco realista ou
utópico», a maior parte dos docentes (73,5 %) refere que, no futuro, é um projecto
realista; 20,6 % dos inquiridos diz ser pouco realista.
Apenas 5,9 % dos professores inquiridos considera este projecto utópico (Fig. 39).
Para justificar a sua opinião sobre a escola inclusiva, actualmente, como um projecto
fácil, difícil ou impossível de realizar os Docentes de Apoio Educativo apresentaram
razões diversas (cf. anexo 3).
153
153
De salientar que a grande maioria dos professores (85,3 %) considera-o um projecto de
difícil realização (Fig. 38), justificando com a «falta de estruturas, condições materiais e
recursos»; «falta de formação específica dos professores» e, ainda, «falta de
financiamento», entre outras razões.
Para justificar a sua opinião sobre a escola inclusiva, no futuro, como um projecto
realista, pouco realista ou utópico, os Docentes de Apoio Educativo apresentaram várias
razões (cf. anexo 3).
Consideram-no, na sua grande maioria (73,5 %), um projecto realista (Fig. 39), para o que
apresentam variadas razões, das quais salientamos a «fundamentação legislativa» e,
ainda, a ideia de que «a integração beneficia todos os alunos».
De salientar a falta de justificação para a utopia do projecto apenas referida por um
número mínimo de professores (5,9 %).
6.3.2. Docentes do Ensino Regular
Ao analisarmos a Fig. 40, verificamos que um número razoável de professores (51,4 %) é
de opinião que os alunos não beneficiam com a presença de crianças com deficiência
quando são incluídas nas suas turmas; uma percentagem mais pequena (27 %) diz que
nem ganham nem perdem e apenas 21,6 % dos docentes inquiridos tem uma opinião
favorável à inclusão.
Para uma grande parte dos professores inquiridos (78,4 %) o Docente de Apoio Educativo
deve pertencer ao quadro da escola, nenhum respondeu que não deveria e 21,6% é de
opinião que o assunto não é relevante (Fig. 41).
À questão acerca de «a escola inclusiva, actualmente, ser um projecto fácil, difícil ou
impossível de realizar», a grande maioria dos docentes (83,8 %) diz que, actualmente, é
um projecto difícil de realizar; para 10,8 % é impossível realizá-lo.
Apenas 5,4 % dos professores inquiridos considera este projecto fácil de realizar (Fig.
42).
154
154
À questão sobre «a escola inclusiva, no futuro, ser um projecto realista, pouco realista ou
utópico», também a grande maioria dos professores (81,5 %) refere que, no futuro, a
escola inclusiva é um projecto pouco realista; apenas 18,9 % dos inquiridos tem a opinião
de que será um projecto realista.
155
155
Revela-se importante verificar que nenhum dos professores do ensino regular considera
um projecto utópico (Fig. 43).
As razões apontadas pelos Docentes do Ensino Regular para justificar as suas opiniões
sobre a escola inclusiva, actualmente, como um projecto fácil, difícil ou impossível de
realizar, são as mais diversas (cf. anexo 4).
É notório que a grande maioria (83,8 %) considera ser este projecto de difícil realização
(Fig. 42), referindo como justificação, a. «falta de apoios e de técnicos», o «prejuízo para
a turma», as «turmas numerosas», a «falta de professores especializados» e a «falta de
equipamento e recursos», entre outras razões.
Os Docentes do Ensino Regular apresentam variadas razões, para justificar a sua opinião
sobre a escola inclusiva, no futuro (cf. anexo 4).
A grande maioria (81,1 %) considera a escola inclusiva pouco realista (Fig. 43),
apontando como principais impedimentos a ideia de que «a formação dos professores não
parece
156
156
caminhar para a mudança», a «falta de técnicos», as «turmas numerosas», a convicção de
que «todos os alunos ficam prejudicados» e, ainda, «a mudança de ordem ético-moral dos
intervenientes no processo educativo».
6.3.3. Análise comparativa: Síntese
Sabemos que a presença de um aluno com Necessidades Educativas Especiais vem
estabelecer uma nova dinâmica na turma, impondo o desenvolvimento de respostas, no
domínio da diferenciação pedagógica, o que implica a maximização dos recursos.
A inclusão traz, como vantagem, o incentivo da relação com os outros, permitindo uma
riqueza inter-accional, designadamente através da mais completa e normal socialização.
Segundo Ainscow (1997), esta concepção baseia-se na crença de que as mudanças
metodológicas e organizativas que têm por fim responder aos alunos que apresentam
dificuldades irão beneficiar todas as crianças. Alunos com NEE funcionam como um
estímulo, ao impor estratégias destinadas a criar um ambiente educativo mais rico para
todos.
Isto não o reconhece uma grande parte dos Docentes do Ensino Regular que respondeu de
uma forma maioritariamente negativa, quando questionada sobre o benefício para outros
alunos, com a presença de crianças com deficiência, na sala de aula. (Fig. 40)
Ora, se os professores que têm, a seu cargo, uma turma
onde se encontram crianças com NEE, manifestam esta ideia, então algo deverá
forçosamente ser alterado. Torna-se urgente a preparação destes profissionais para o
trabalho com crianças
com NEE, uma vez que, concordando com Porter (1997) «o
157
157
professor do ensino regular é considerado o recurso mais importante no ensino de alunos»
(p. 43).
Segundo o CNE (1999), é preciso que, na sala de aula, se desenvolvam estratégias
pedagógicas que ajudem todas as crianças a darem o seu melhor, a progredirem tanto
quanto lhes for possível. Isto é, à preocupação com as necessidades de alguns alunos,
contrapõe-se a preocupação com as necessidades das escolas, para atenderem melhor
todos os alunos.
Quantos professores estarão conscientes de que a necessidade educativa especial não
resulta unicamente dos problemas inerentes à criança - seja a sua condição física ou
mental, seja o seu enquadramento familiar ou sócio-cultural - mas relaciona-se, também e
muito especialmente, com a situação global vivida na sala de aula?
É de salientar que os Docentes de Apoio Educativo não compartilham da opinião dos seus
colegas, pois concordam, em maioria que a presença de uma criança com deficiência irá
trazer benefícios aos outros alunos (Fig. 36).
Como explicar esta divergência de perspectivas? Será pelas funções que desempenham,
pelo nível superior de formação, pela sensibilização para esta problemática, que
assistimos a uma maior abertura por parte dos Docentes de Apoio Educativo? Ou apenas,
e só, por uma questão corporativa?
Em relação à viabilidade, presente, do projecto da escola inclusiva, consideram os
Docentes do Ensino Regular, num elevado número, que o mesmo será de difícil
realização. A esperança num melhor futuro não existe. Na sua grande maioria não
acreditam em melhores dias para este modelo de escola
(Figs 42 e 43).
A escola inclusiva é considerada, pela maioria dos Docentes de Apoio Educativo, um
projecto difícil de realizar na actuali-
158
158
dade. Contudo, numa maioria clara, acreditam ser este, no futuro, um projecto realizável
(Figs. 38 e 39)
Para a formulação da 3.° hipótese intuímos e levamos em conta o nosso conhecimento.
Agora, vemos aqui, a confirmação da hipótese formulada: «A falta de
formação/informação determina, nos professores, atitudes de exclusão».
Há, de facto, um longo e árduo trabalho a realizar ao nível da sensibilização da sociedade
em geral e da formação dos professores em particular, no sentido de se poder vir a
construir a escola inclusiva.
161
CONCLUSÕES
O bom professor é aquele que trabalha com toda a turma, mas em que cada criança sente
que ele está a falar só para ela.
(MEL AINSCOW)
Chegados ao termo desta caminhada é altura de relançarmos um olhar retrospectivo, na
procura, ao mesmo tempo, de uma prospecção, redimensionando as vertentes da inclusão.
Neste espaço de reflexão, afigura-se-nos oportuno, uma
visibilidade clara sobre algumas das faces ocultas, desvendadas ao longo do percurso,
com o levantar de alguns véus.
À medida que os assuntos iam sendo abordados, alguns aspectos, de natureza conclusiva,
foram sendo aflorados.
Aqui procuramos algumas respostas sintécticas e não acabadas, às questões e objectivos
enunciados e às hipóteses por nós formuladas.
Para a problemática enunciada obtivemos, em parte, algumas respostas, ficando, contudo,
abertas certas brechas que nos exigem reflexão e que podem, ao mesmo tempo, constituir
o ponto de partida para futuros estudos.
Conseguimos com o nosso estudo atingir os objectivos propostos, quer através da nossa
fundamentação teórica, quer com a parte prática, que constitui o nosso estudo de campo.
As hipóteses levantadas foram confirmadas na sua totalidade, pelo estudo experimental,
como demonstramos através da análise e interpretação dos resultados:
A escola ainda não se encontra preparada para a inclusão; os professores não têm
formação específica para o trabalho com crianças com Necessidades Educativas
Especiais; atitudes de exclusão têm como origem a falta de formação e informação dos
professores.
162
162
Apesar do conceito de escola inclusiva ter a lei como suporte, estes condicionalismos
constituem impedimentos ao paradigma da inclusão. Segundo o CNE (1999) a quase
unanimidade que o conceito de escola inclusiva suscita não deve conduzir-nos a uma
visão excessivamente optimista da situação.
Fundamentados no nosso estudo e apoiados em Bairrão (1998) reconhecemos que a
discrepância entre os conhecimentos que a lei implica e as suas aplicações a casos
concretos é frequente.
As exigências legais implicam conhecimentos aprofundados nos domínios da educação,
da psicologia e de outras áreas disciplinares, que muitas vezes não constaram dos
programas de formação dos professores e de outros técnicos, quer na sua formação
inicial, quer em serviço.
Registe-se que, quanto aos professores inquiridos no nosso estudo e comparativamente
aos Docentes do Ensino Regular, a faixa etária dos Docentes de Apoio Educativo é
significativamente mais baixa (Figs. 5 e 9).
Poderá esta diferença de idades indicar um interesse e motivações próprios da juventude
por questões de índole utópica e idealista, e por isso, ser este factor determinante na opção
destes professores pelo trabalho com crianças com Necessidades Educativas Especiais?
Adiantamos, para possível resposta a esta questão, a possibilidade de uma procura, nesta
escolha, por parte dos Docentes de Apoio Educativo, de alguma estabilidade, visto que na
sua grande maioria pertencem ao Quadro Distrital de Vinculação (Fig. 7)
Esta segunda ideia poderá ser reforçada pela falta de formação que estes professores
admitem (Fig. 26)
Considera-se, concordando com o CNE (1999), necessário introduzir critérios mais
rigorosos no perfil exigido para o desempenho das funções de professor de apoio
educativo, que
163
163
evitem o recrutamento de profissionais sem o devido perfil e/ou preparação.
Para além da motivação para o trabalho com crianças com Necessidades Educativas
Especiais, deverá ser ainda exigido ao Docente de Apoio Educativo, experiência no
ensino regular, como reconhece Fonseca (1997): «Os professores ou educadores que
desejassem trabalhar em EE deveriam ter demonstrado as suas competências
pedagógico-profissionais no ensino regular. (...) Só com professores prestigiados no
ensino regular se poderá caminhar para uma melhor eficácia e competência no ensino
especial, daí a relevância desta condição prévia» (pp. 254-256).
O modelo de apoio tradicional, centrado, e prestado directamente ao aluno, terá que sofrer
uma mudança radical, como determina o Despacho conjunto n.° 105/97, de 1 de Julho, o
que obviamente, passa não só por mudanças nas actividades dos professores de ensino
regular e de apoio, como também na sua formação. Uma liderança determinada e coerente
é fundamental para que o professor de apoio venha, de facto, a desempenhar o papel de
consultor na escola e verdadeiro colaborador do professor da turma no processo de
ensino/aprendizagem de todos os alunos.
É preciso reconhecer que o professor da turma é a pedra chave de uma escola inclusiva;
como vemos reconhecido por Costa (citado pelo CNE, 1999), não basta localizar alguns
alunos com NEE e procurar atendê-los, com ou sem ajuda de professores de apoio. É
preciso que, na sala de aula, se desenvolvam estratégias pedagógicas que ajudem todas as
crianças a dar o seu melhor, a progredir tanto quanto lhe for possível . Isto é, à preo-
cupação com as necessidades de alguns alunos, contrapõe-se a preocupação com as
necessidades das escolas para atenderem melhor todos os alunos.
164
164
No que se refere a meios, constata-se a sua manifesta insuficiência, quer do tipo material,
quer de recursos humanos (Figs. 16, 17, 23, 24, 30 e 40).
Para dar resposta às Necessidades Educativas Especiais, não existem equipas
pluridisciplinares, com técnicos especialistas em áreas importantes, para uma ajuda
adequada a estas crianças-alunos.
Na sua grande maioria, os professores não têm formação
adequada para atenderem os alunos com NEE.
A formação cientifico-pedagógica em serviço e também
contínua impõe-se como obrigatória para alterar esta realidade. O CNE (1999)
recomenda a formação contínua numa relação estreita com a organização escolar,
visando a criação de redes de formação nos contextos escolares, aproveitando o
estabelecimento de protocolos com instituições do ensino superior, no quadro de uma
vantajosa cooperação. Estas acções deverão ser preferencialmente organizadas a partir da
identificação de situações problemáticas decorrentes do contexto de trabalho, abrangendo
escolas ou agrupamentos de escolas.
As acções de formação deverão dirigir-se, em primeiro lugar aos profissionais que
trabalham com crianças com NEE e incidir, prioritariamente, nas temáticas necessárias
para suportar a escola inclusiva e a adopção generalizada de estratégias de ensino
diferenciado.
As linhas de força da formação de professores têm de ser procuradas no terreno onde
decorre a prática, onde emergem os problemas, investindo num professor reflexivo e não
só técnico, num professor que se torne capaz de dirigir a sua reflexão para os reais
problemas das pessoas concretas, numa procura da resposta adequada a cada caso, numa
personalização da intervenção, perspectivada num contexto ecossistémico tomando a
criança como única e inteira. Como diz Peixoto (1999), «se nos preocuparmos com o
aspecto cognitivo, melhoramos, com
165
165
certeza, o rendimento escolar dos alunos; mas se, na sala de aula, atendermos ao
sentimento do aluno e nos preocupamos em desenvolver e melhorar a dimensão afectiva
no processo de ensino-aprendizagem, a melhoria do rendimento, será mais acentuada» (p.
139).
Para que não haja «filhos de um Deus menor», é chegada
a hora, afirmamo-lo convictamente, - de formar professores que «para além de todas as
técnicas», abram os seus corações. Se esta ordem não for cumprida não há Universidade
que nos tire deste quadro:
166
166
A nossa escola está repleta de condicionalismos legados pelas gerações passadas, não
vamos nós, também, legar outros impedimentos, ao novo mundo.
Para os educadores progressistas o amanhã não está prefixado inexoravelmente. (...)
Temos de ser pós-modernamente radicais e utópicos, progressistas.
(PAULO FREIRE)
Mas o céu conhece / as razões e os padrões por detrás das nuvens, e tu também saberás,
quando te ergueres suficientemente alto para ver além dos horizontes.
(RICHARD BACH)
Figura 45. Elevados do chão
(Fotografia de Jorge Molder)
167
167
Gostaríamos de concluir reafirmando algumas ideias-base resultantes da nossa reflexão,
no final deste estudo:
• A «convicção» de que o século XXI vai ser o século da escola inclusiva;
• Tal facto vai, por si só, originar «mudanças significativas e estruturais» em todos os
sistemas educativos que adoptarem este modelo;
• A «inevitabilidade» deste movimento para a inclusão prende-se, entre outras coisas,
com uma consciência cada vez mais aguda da necessidade de se dar cumprimento à
Declaração Universal dos Direitos do Homem, o que é contrário a fenómenos de
exclusão;
• A «necessidade» de incluir nos planos curriculares para a formação de todos os
professores, um conjunto de saberes genéricos sobre crianças-alunos com Necessidades
Educativas Especiais, para além da formação de professores especializados nos vários
tipos de NEE;
• O «bom senso» de saber aproveitar as estruturas educativas existentes, com vasta
experiência em Educação Especial, adaptando-as ao novo modelo das escolas inclusivas.
169
ABREVIATURAS E SIGLAS
CERCIS : Cooperativa de Educação e Reabilitação para Crianças
Inadaptadas
CNE : Conselho Nacional de Educação
DAE : Docente de Apoio Educativo
DEE : Divisão do Ensino Especial
DER : Docente do Ensino Regular
DGEB : Direcção Geral do Ensino Básico
DGES : Direcção Geral do Ensino Secundário
EAE Equipa de Apoio Educativo
EEE Equipa de Educação Especial
LBSE : Lei de Bases do Sistema Educativo
ME Ministério da Educação
MCE Modificabilidade Cognitiva Estrutural
NEE : Necessidades Educativas Especiais
PE Programa Educativo
PEI : Plano Educativo Individualizado
SAP Sala de Apoio Pedagógico
SNR : Secretariado Nacional de Reabilitação
SPO : Serviço de Psicologia e Orientação
UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação Ciência
e Cultura
173
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180
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UNESCO (1998)-UNESCO Consultation on Special Education: Final
Report. Paris: UNESCO.
181
ANEXOS
183
Anexo 1
QUESTIONÁRIO DAE
I
QUESTIONÁRIO
O presente questionário, no âmbito do desenvolvimento de um trabalho de investigação,
tem como objectivo exclusivo a recolha de dados relativa à INCLUSÃO e dirige-se a
docentes de apoio educativo.
O questionário é anónimo e as respostas são confidenciais, pelo que não deve escrever o
seu nome.
A sua colaboração, através deste questionário é imprescindível para o êxito deste
trabalho.
O bom resultado do trabalho vai depender da veracidade dos dados fornecidos e da
resposta a todas as questões.
185
185
ANEXO I
(Assinale com um x no local certo)
1. Idade
-20-29 anos
-30-39 anos
-40 a 49 anos
-50-59 anos
-+de 60 anos
2. Sexo
-Feminino
-Masculino
3. Situação profissional
-Quadro da escola
-Quadro distrital de vinculação
-Contratado
4. Habilitações académicas
-Bacharel
-Licenciado
-Outra Qual?
5. a) Qual o seu nível de envolvimento, na programação das actividades da escola?
(Rodeie o número correspondente)
1 2 3 4 5
I I I
Baixo Médio Elevado
186
186
ANEXOS
b) Qual o grau de aceitação das crianças com Necessidades Educativas Especiais, na sua
escola, por parte do Docente do Ensino Regular?
(Rodeie o número correspondente)
1 2 3 4 5
Baixo Médio Elevado
6. A sua escola conta com o apoio de:
-Psicólogo
-Terapeuta Ocupacional
-Terapeuta da Fala
-Assistente Social
-Médico
-Outro
Qual?
7. Na sua escola o equipamento existente satisfaz as carências
dos alunos com Necessidades Educativas Especiais? (artigo 3.° do Decreto-Lei n.°
319/91)
-Sim
-Não
-Em parte
8. A inclusão tem como princípio, que as escolas deveriam acomodar todas as crianças,
independentemente das suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais,
linguísticas ou outras. Acha que a sua escola reúne as condições necessárias à inclusão?
-Sim
-Não
-Em parte
187
187
ANEXO I
9. Para que se cumpra a inclusão são necessárias mudanças:
(Ordene de 1 a 10, pelo grau de dificuldade que lhe atribui, ou seja: a que considera mais
difícil será o número 1 e assim sucessivamente)
-Mudanças jurídico-legislativas que garantam os direitos previstos
-Mudanças organizativas de gestão ao nível das escolas
-Mudanças de ordem ético-moral do docente e de outros intervenientes
-Mudanças na provisão financeira
-Mudanças ao nível da natureza e estrutura do currículo
-Mudanças no modelo de apoio educativo
-Mudanças na informação pública para combater o preconceito
-Mudanças no modelo de formação de docentes do ensino regular
-Mudanças na Filosofia da Educação
10. Recebeu alguma formação ou preparação para o trabalho com crianças com
Necessidades Educativas Especiais?
-Sim
-Não
(Se respondeu sim à pergunta anterior)
-No seu curso de docente
-No âmbito da formação contínua
-Na Equipa de Apoios Educativos
-Numa Escola Superior de Educação (curso de Especialização)
-Outra
Qual?
11. Conhece o Decreto Lei n.º 319191, de 23 de Agosto?
-Sim
-Não
188
188
12. A que tipo de Necessidades Educativas Especiais acha mais difícil dar resposta?
(Ordene de 1 a 10, pelo grau de dificuldade que lhe atribui, ou seja: a que considera mais
difícil será o número 1 e assim sucessivamente)
-Sobredotação cognitiva
-Talentos especiais
-Deficiência auditiva
-Deficiência visual
-Deficiência motora
-Deficiência mental
-Multideficiência
-Distúrbios de aprendizagem
-Distúrbios do comportamento
-Doença crónica
-Não sou capaz de responder
13. Das características que se seguem referencie as que considera necessárias a um
Docente de Apoio Educativo: (Ordene de 1 a 10, pelo grau de dificuldade que lhe atribui,
ou seja: a que considera mais difícil será o número 1 e assim sucessivamente)
-Flexibilidade
-Disponibilidade
-Persistência
-Optimismo
-Empatia
-Capacidade de relacionamento
-Capacidade de comunicação
-Empenhamento
-Formação científicolpedagógica
-Abertura à mudança
189
189
14. Na sua perspectiva, quais os principais obstáculos à inclusão?
(Ordene de 1 a 10, pelo grau de dificuldade que lhe atribui, ou seja: a que considera mais
difícil será o número 1 e assim sucessivamente)
-Barreiras arquitectónicas
-Legislação
-Deficiente formação do Docente de Apoio Educativo
-Deficiente formação do Docente do Ensino Regular
-Dificuldade na articulação entre o docente de apoio educativo e o docente do ensino
regular
-Falta de provisão financeira
-Falta de técnicos
-Falta de equipamento pedagógico-didáctico adequado
-Preconceitos da sociedade
-Falta de preparação do órgão de gestão da escola
15. Pensa que todos os alunos beneficiarão com a presença de crianças com deficiência na
sala de aula?
-Sim
-Não
-Não ganham nem perdem
16. Concorda que o Docente de Apoio Educativo deve fazer parte do Quadro da Escola?
-Sim
-Não
-Isso não é relevante
17. a) Considera que a escola inclusiva, actualmente, é um projecto:
-Fácil de realizar
-Difícil de realizar
-Impossível de realizar
190
190
b) Justifique a sua resposta apresentando três razões, no máximo.
1ª razão
2ª razão
3ª razão
18. a) Considera que a escola inclusiva, no futuro, é um projecto:
-Realista
-Pouco realista
-Utópico
b) Justifique a sua resposta apresentando três razões, no máximo.
1ª razão
2.ª razão
3.ª razão
A sua colaboração foi preciosa. Ficamos gratos pela sua participação neste estudo.
191
191
Anexo 2
QUESTIONÁRIO DER
QUESTIONÁRIO
O presente questionário, no âmbito do desenvolvimento de um trabalho de investigação,
tem como objectivo exclusivo a recolha de dados relativa à INCLUSÃO e dirige-se a
docentes do ensino regular.
O questionário é anónimo e as respostas são confidenciais, pelo que não deve escrever o
seu nome.
A sua colaboração, através deste questionário é imprescindível para o êxito deste
trabalho.
O bom resultado do trabalho vai depender da veracidade dos dados fornecidos e da
resposta a todas as questões.
193
193
(Assinale com um x no local certo)
1. Idade
-20-29 anos
-30-39 anos
-40-49 anos
-50-59 anos
-mais de 60 anos
2. Sexo
-Feminino
-Masculino
3. Situação profissional
-Quadro da Escola
-Quadro Distrital de Vinculação
-Contratado
4. Habilitações académicas
-Bacharel
-Licenciado
-Outra
Qual?
5. a) Tem alunos na sua turma com Necessidades Educativas Especiais?
-Sim
-Não
194
194
(Se respondeu sim à pergunta anterior)
b) Esses alunos têm apoio educativo específico?
-Sim
-Não
(Se respondeu sim à pergunta anterior)
c) Esse apoio é-lhes prestado por um professor especializado em Educação Especial?
-Sim
-Não
6. A sua escola conta com o apoio de:
-Psicólogo
-Terapeuta Ocupacional
-Terapeuta da Fala
-Assistente Social
-Médico
-Outro
Qual?
7. Na sua escola o equipamento existente satisfaz as carências dos alunos com
Necessidades Educativas Especiais? (artigo 3.° do Decreto-Lei n.° 319/91)
-Sim
-Não
-Em parte
195
195
8. A inclusão tem como princípio, que as escolas deveriam acomodar todas as crianças,
independentemente das suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais,
linguísticas ou outras. Acha que a sua escola reúne as condições necessárias à inclusão?
-Sim
-Não
-Em parte
9. Para que se cumpra a inclusão são necessárias mudanças:
(Ordene de 1 a 10, pelo grau de dificuldade que lhe atribui, ou seja: a que considera mais
difícil será o número 1 e assim sucessivamente)
-Mudanças jurídico-legislativas que garantam os direitos previstos
-Mudanças organizativas de gestão ao nível das escolas
-Mudanças de ordem ético-moral do docente e de outros intervenientes
-Mudanças na provisão financeira
-Mudanças ao nível da natureza e estrutura do currículo
-Mudanças no modelo de apoio educativo
-Mudanças na informação pública para combater o preconceito
-Mudanças no modelo de formação de docentes do ensino regular
-Mudanças na Filosofia da Educação
10. Recebeu alguma formação ou preparação para o trabalho com crianças com
Necessidades Educativas Especiais?
-Sim
-Não
196
196
(Se respondeu sim à pergunta anterior)
-No seu curso de docente
-No âmbito da formação contínua
-Na Equipa de Apoios Educativos
-Numa Escola Superior de Educação (curso de Especialização)
-Outra
Qual?
11. Conhece o Decreto Lei n.º 319/91, de 23 de Agosto?
-Sim
-Não
12. A que tipo de Necessidades Educativas Especiais acha mais difícil dar resposta?
(Ordene de 1 a 10, pelo grau de dificuldade que lhe atribui, ou seja: a que considera mais
difícil será o número 1 e assim sucessivamente)
-Sobredotação cognitiva
-Talentos especiais
-Deficiência auditiva
-Deficiência visual
-Deficiência motora
-Deficiência mental
-Multideficiência
-Distúrbios de aprendizagem
-Distúrbios do comportamento
-Doença crónica
-Não sou capaz de responder
197
197
13. Das características que se seguem referencie as que considera necessárias a um
Docente de Apoio Educativo: (Ordene de 1 a 10, pelo grau de dificuldade que lhe atribui,
ou seja: a que considera mais difícil será o número 1 e assim sucessivamente)
-Flexibilidade
-Disponibilidade
-Persistência
-Optimismo
-Empatia
-Capacidade de relacionamento
-Capacidade de comunicação
-Empenhamento
-Formação científico/pedagógica
-Abertura à mudança
14. Na sua perspectiva, quais os principais obstáculos à inclusão? (Ordene de 1 a 10, pelo
grau de dificuldade que lhe atribui, ou seja: a que considera mais difícil será o número 1 e
assim sucessivamente)
-Barreiras arquitectónicas
-Legislação
-Deficiente formação do Docente de Apoio Educativo
-Deficiente formação do Docente do Ensino Regular
-Dificuldade na articulação entre o docente de apoio educativo e o docente do ensino
regular
-Falta de provisão financeira
-Falta de técnicos
-Falta de equipamento pedagógico-didáctico adequado
-Preconceitos da sociedade
-Falta de preparação do órgão de gestão da escola
198
198
15. Pensa que todos os alunos beneficiarão com a presença de crianças com deficiência na
sala de aula?
-Sim
-Não
-Não ganham nem perdem
16. Concorda que o Docente de Apoio Educativo deve fazer parte do Quadro da Escola?
-Sim
-Não
-Isso não é relevante
17. a) Considera que a escola inclusiva, actualmente, é um projecto:
-Fácil de realizar
-Difícil de realizar
-Impossível de realizar
b) Justifique a sua resposta apresentando três razões, no máximo.
1.ª razão
2.ª razão
3.º razão
18. a) Considera que a escola inclusiva, no futuro, é um projecto:
-Realista
-Pouco realista
-Utópico
199
199
b) Justifique a sua resposta apresentando três razões, no máximo.
1.ª razão
2.ª razão
3.ª razão
A sua colaboração foi preciosa. Ficamos gratos pela sua participação neste estudo.
201
201
Anexo 3
QUADROS DE FREQUÊNCIAS DAE
(correspondente às Questões 17-b e 18-b)
Fácil de realizar
Razões apresentadas e correspondentes à questão 17-b
1.ª razão:
A legislação existente...............2
2.ª razão:
Sensibilização dos professores ...............1
Existência de técnicos ...............1
3.ª razão:
Devido ao apoio do professor ...............1
Difícil de realizar
1.ª razão:
Falta de estruturas, condições materiais e recursos ...............5
Localização das escolas ...............1
Currículos extensos ...............1
Falta de legislação ...............1
Falta de formação dos docentes ...............2
Barreiras arquitectónicas ...............1
2.ª razão:
Falta de formação específica dos professores ...............5
Flutuação do corpo docente...............1
Falta de financiamento ...............3
Falta de empenhamento por parte dos pais ...............1
202
202
Frequência
Falta de condições da escola...................1
Falta de meios técnicos ...................1
Dificuldade de articulação com o professor regular ...................1
3.ª razão:
Falta de formação específica...................1
Necessidade de mudar atitudes e expectativas face à inclusão . . . 1
Coordenação de horários...................2
Deficiente formação do professor de apoio...................1
Falta de técnicos...................1
Alguns professores do ensino regular...................1
Legislação mal definida...................1
Impossível de realizar
Não houve respostas
Razões apresentadas e correspondentes à questão 18-b
Realista
l,ª razão:
A fundamentação legislativa ...................2
Aumento de pessoal empenhado na mudança...................1
A integração beneficia todos os alunos...................1
A formação dos professores tende a melhorar...................1
A existência de formação de pessoal docente especializado...................1
2.ª razão:
É a medida mais integradora...................1
Preparação adequada...................1
Legislação vai obrigando as escolas a prepararem-se para receber todo o tipo de
crianças...................1
A escola deve dar resposta a todos os casos...................1
Mais autonomia e flexibilidade que terão as escolas com a nova gestão...................l
Traz benefícios para todos...................1
Nova visão da comunidade em relação às crianças com NEE ... 1
203
203
Frequència
3.ª razão:
A sua fundamentação teórica é realista..................1
Devido à escolaridade mínima obrigatória..................1
Pouco realista
1.ª razão:
Preconceitos da sociedade..................1
Barreiras arquitectónicas..................1
Falta de preparação do corpo docente..................1
Falta de condições na escola..................1
Dificuldades em despoletar as alterações necessárias..................1
2.' razão:
Falta de preparação na gestão das escolas..................1
Falta de formação do professor de apoio e do regular..................1
Legislação..................1
Colaboração do professor do, ensino regular..................1
Inadequação na formação inicial dos professores..................1
3.ª razão:
Legislação..................1
Falta de técnicos..................1
Deficiente preparação da formação contínua dos professores ... 1
Utópico
Não houve respostas
205
Anexo 4
QUADROS DE FREQUÊNCIAS DER
(correspondente às Questões 17-b e 18-b)
Razões apresentadas e correspondentes à questão 17-b
Fácil de realizar
1.ª razão:
Grande empenhamento dos órgãos competentes.............1
2.ª razão:
Igualdade de direitos.............1
Difícil de realizar
1.ª razão:
Actual filosofia da educação.............1
Falta de técnicos.............2
Falta de estruturas.............3
Falta de formação dos docentes de apoio.............2
Falta de formação dos docentes do ensino regular.............2
Falta de professores especializados.............4
Falta de técnicos.............2
Preconceitos sociais.............1
Falta de equipamentos e material.............5
2.ª razão:
Turmas numerosas.............4
Falta de apoios e de técnicos.............7
Prejuízo para a turma............. 6
Falta de empenho do docente de apoio.............1
Falta de equipamento e recursos.............4
206
206
Frequència
3.ª razão:
É impossível o professor do ensino regular dar resposta a todos ... 3
Falta de articulação entre o professor de apoio e do ensino regular........1
Turmas numerosas........2
Barreiras arquitectónicas........2
Falta de técnicos para detectarem os problemas........2
Falta de sensibilidade para o problema........1
Falta de professores de apoio e incapacidade do professor do ensino regular........1
Alunos que chegam à escola com problemas por detectar........1
Impossível de realizar
1.ª razão:
Falta de formação científico-pedagógica........1
Falta de apoios educativos........1
Falta de professores de apoio........1
2.ª razão:
Dificuldades de articulação entre o professor de apoio e o professor do regular........1
Organização escolar............1
Falta de equipamento............1
Perturba o andamento escolar dos outros............1
3.ª razão:
É impossível os professores do ensino regular darem resposta a todos............2
Falta vontade efectiva de cumprir o legislado............1
Falta de preparação e motivação............1
Razões apresentadas e correspondentes à questão 18-b
Realista
1.ª razão:
Mudanças organizativas de gestão............1
A vida é para todos............1
Todos diferentes, todos iguais............1
Novo corpo docente............1
207
207
Frequencia
2.ª razão:
Mudanças jurídicas..............1
Diferentes mais iguais oportunidades..............1
Aplicação das novas tecnologias na sala..............1
Empenho para uma mudança real..............1
3.' razão:
Mudanças na provisão financeira..............1
Melhor solidariedade.............. 1
Pouco realista
1.ª razão:
Implicações de ordem financeira..............1
Mudanças arquitectónicas..............1
Falta de técnicos..............5
Ideia geral de uma escola de sucesso..............1
Todos os alunos ficam prejudicados..............4
Legislação confusa..............1
Apoio deficiente..............2
Há casos em que a integração é maléfica..............1
Falta de estruturas..............1
2.' razão:
Falta de estruturas nas escolas..............1
Ficaria muito caro equipar as escolas..............4
Turmas numerosas..............5
A formação dos professores não parece caminhar para a mudança..............1
Falta de técnicos..............1
Falta de material..............1
Falta de pessoal..............1
Os alunos médios, fracos e bons, perdem..............1
3.ª razão:
Há mais dispersão por parte dos que aprendem..............1
Aluno está desinteressado e sente-se diferente..............1
Falta de material..............1
Falta de espaços..............4
208
208
Frequência
Impotência do professor perante a heterogeneidade..............1
Mudanças de ordem ético-moral dos intervenientes no processo educativo..............1
Falta de técnicos..............1
Falta de preparação e motivação dos professores..............1
Só os alunos com deficiências ligeiras ou dificuldades de aprendizagem deveriam fazer
parte da escola. Cegos e deficientes profundos deveriam estar noutras escolas com
condições óptimas para os receberem..............1
Utópico
Não houve respostas
209
ÍNDICE
211
ÍNDICE DE FIGURAS
Fig. 1. Cascata de serviços educativos............51
Fig. 2. Modificabilidade cognitiva estrutural............68
Fig. 3. Elementos do processo de avaliação............75
Fig. 4. Esquema de Simeonsson............76
Fig. 5. Idade (DAE) ............122
Fig. 6. Sexo (DAE) ............122
Fig. 7. Situação profissional (DAE) ............123
Fig. 8. Habilitações académicas (DAE) ............123
Fig. 9. Idade (DER) ............124
Fig. 10. Sexo (DER) ............124
Fig. 11. Situação profissional (DER) ............125
Fig. 12. Habilitações académicas (DER) ............125
Fig. 13. Nível de envolvimento do professor nas actividades da escola (DAE) ..........129
Fig. 14. Grau de aceitação das crianças com necessidades educativas especiais por parte
dos Docentes do Ensino Regular (DAE) .....130
Fig. 15. Apoios existentes na escola (DAE) ............131
Fig. 16. Equipamento existente na escola (DAE) ............131
Fig. 17. Condições necessárias à inclusão (DAE) ............132
Fig. 18. Mudanças necessárias para que se cumpre a inclusão (DAE) .... 132
Fig. 19. Alunos da turma com Necessidades Educativas Especiais (DER) ............133
Fig. 20. Alunos com Necessidades Educativas Especiais e com apoio educativo
específico (DER) ............134
Fig. 21. Apoio específico dado por professor especializado (DER) ............134
Fig. 22. Apoios existentes na escola (DER) ............135
Fig. 23. Equipamento existente na escola (DER) ............135
Fig. 24. A escola reúne as condições necessárias à inclusão (DER) ............136
Fig. 25. Mudanças necessárias para que se cumpra a inclusão (DER) .....136
212
212
Fig. 26. Preparação recebida para o trabalho com crianças com necessidades educativas
especiais (DAE)...............140
Fig. 27, Conhecimento do decreto Lei n° 319/91 de 23 de Agosto (DAE) ...............141
Fig. 28. Tipo de necessidades educativas especiais às quais é mais difícil dar resposta
(DAE) ...............141
Fig. 29. Características consideradas necessárias a um Docente de Apoio Educativo
(DAE) ...............142
Fig. 30. Principais obstáculos à inclusão (DAE) ...............143
Fig. 31. Preparação recebida para o trabalho com crianças com necessidades educativas
especiais (DER)...............144
Fig. 32. Conhecimento do Decreto Lei n° 319/91 de 23 de Agosto (DER) ...............144
Fig. 33. Tipo de necessidades educativas especiais às quais é mais difícil dar resposta
(DER) ...............145
Fig. 34. Características consideradas necessárias a um Docente de Apoio Educativo
(DER) ...............146
Fig. 35. Principais obstáculos à inclusão (DER) ...............147
Fig. 36. Benefício dos outros alunos com a presença de crianças com deficiência na sala
de aula (DAE) ...............150
Fig. 37. Vínculo do docente de apoio educativo ao quadro da escola (DAE) ..............150
Fig. 38. Classificação do tipo de projecto da escola inclusiva, actualmente (DAE) ....151
Fig. 39. Classificação do tipo de projecto da escola inclusiva. no futuro (DAE) .........152
Fig. 40. Benefício dos outros alunos com a presença de crianças com deficiências na sala
de aula (DER) ...............152
Fig. 41. Vínculo do docente de apoio educativo ao quadro da escola (DER) .............154
Fig. 42. Classificação do tipo de projecto da escola inclusiva, actualmente (DAE) ....154
Fig. 43. Classificação do tipo de projecto da escola inclusiva. no futuro (DAE) .........155
Fig. 44. A escola deve atender às diferenças...............165
Fig. 45. Elevados do chão...............166
213
ÍNDICE GERAL
DEDICATÓRIA......................................7
INTRODUÇÃO......................................9
PARTE I
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Capítulo I. CAMINHOS PARA A INCLUSÃO......................................15
1.1. Da utopia à construção do projecto......................................15
1.1.1. Em nome do sonho......................................15
1.1.2. Estatuto da Utopia......................................19
1.1.3. A construção do futuro......................................25
1.1.4. Todo o mundo é composto de mudança......................................31
Capítulo II. DA SEGREGAÇÃO A INCLUSÃO......................................35
2.1. Da exclusão à inclusão......................................35
2.1.1. Práticas de exclusão: evolução histórica......................................35
2.1.2. Da segregação à integração......................................40
2.1.3. A integração como filosofia educacional......................................52
2.1.4. Perto da vista, perto do coração......................................60
2.2. A caminho da inclusão......................................64
2.2.1. Direito à educação......................................64
2.2.2. Inclusão: perspectiva evolutiva......................................72
2.2.3. A escola inclusiva em Portugal......................................77
2.2.4. Normalização e inclusão......................................83
214
214
Capítulo III. FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA A ESCOLA INCLUSIVA.....89
3.1. Atitudes dos professores perante a mudança............................................89
3.1.1. Inclusão e mudança............................................89
3.1.2. Formação de base e formação contínua............................................94
3.1.3. Perfil pedagógico do docente de apoio educativo............................................104
PARTE II
ORGANIZAÇÃO E PLANIFICAÇÃO EXPERIMENTAL
Capítulo IV. DA IDENTIFICAÇÃO DO PROBLEMA A FORMULAÇÃO DAS
HIPÓTESES............................................115
4.1. Problemática ............................................115
4.2. Objectivos do estudo ............................................118
4.4. Hipóteses ............................................119
Capítulo V. METODOLOGIA ............................................121
5.1. Amostra............................................121
5.2. Instrumentos de pesquisa e procedimento............................................126
Capítulo VI. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS.......................129
6.1. Escola e Inclusão............................................129
6.1.1. Docentes de Apoio Educativo (DAE) ............................................129
6.1.2. Docentes do Ensino Regular (DER) ............................................133
6.1.3. Análise comparativa: Síntese............................................137
6.2. Formação de professores / Necessidades Educativas Especiais.............................140
6.2.1. Docentes de Apoio Educativo (DAE) ................................... 140
6.2.2. Docentes do Ensino Regular (DER) ............................................143
6.2.3. Análise comparativa: Síntese............................................146
6.3. Formação de professores / Atitudes de exclusão............................................149
6.3.1. Docentes de Apoio Educativo (DAE) ............................................149
6.3.2. Docentes do Ensino Regular (DER) ............................................153
6.3.3. Análise comparativa: Síntese............................................156
215
215
CONCLUSÕES....................................................159
SIGLAS E ABREVIATURAS....................................................169
BIBLIOGRAFIA....................................................171
Referências bibliográficas....................................................173
Bibliografia complementar....................................................177
ANEXOS....................................................181
Anexo 1. Questionário DAE....................................................183
Anexo 2. Questionário DER....................................................191
Anexo 3. Quadros de frequências DAE....................................................201
Anexo 4. Quadros de frequências DER....................................................205
ÍNDICES....................................................209
Índice de figuras....................................................211
Índice geral....................................................213
ESTE LIVRO, A ESCOLA INCLUSIVA, DA UTOPIA À REALIDADE, FOI
COMPOSTO, IMPRESSO E BROCHADO NA SECÇÃO DE ARTES GRÁFICAS
DAS OFICINAS DE TRABALHO PROTEGIDO DA APPACDM DISTRITAL DE
BRAGA. ACABOU DE IMPRIMIR-SE NO DIA 25 DO MÊS DE JANEIRO DE MM.