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    Expositores Impostores

    Mike Gilbart-Smith

    13 de Julho de 2015 - Liderança da Igreja

     Artigo

    Mark Dever corretamente descreve a pregação expositiva como “a pregação que toma, para o ponto de um

    sermão, o ponto de uma passagem particular da Escritura”.

    No entanto, tenho ouvido (e pregado!) sermões que pretendem ser expositivos, mas que se enquadram emalgo inferior. Abaixo estão doze armadilhas: cinco que não fazem da mensagem de uma passagem amensagem do sermão e, assim, abusam do texto; cinco que falham em conectar o texto à congregação; eduas que falham em reconhecer que a pregação é, em última análise, obra de Deus.

    Nenhuma destas observações é original. Muitas eu aprendi na Eden Baptist Church, em Cambridge, emmeados dos anos 90. Outras eu peguei ao longo do caminho. Desde que escrevi um artigo similar   algunsanos atrás, eu incluí algumas sugestões que pessoas fizeram para serem adicionadas. Eu estou certo deque você pode pensar em outras.

    Impostores que Falham em Ver o Texto

    1) O “Sermão Infundado”: o texto é mal entendido

     Aqui o pregador diz coisas que parecem ser verdadeiras, mas em nenhum sentido vêm de uma corretainterpretação da passagem. Ele é pouco cuidadoso com o conteúdo do texto (por exemplo, o sermão sobrea “resultar, motivar e prover” da tradução Nova Versão Internacional de 1 Tessalonicenses 1.3, sendo quenenhuma dessas palavras está presente no texto grego) ou com o contexto (por exemplo, o sermão sobreDavi e Golias, que pergunta “quem é seu Golias, e o que são as cinco pedras lisas que você precisa paraestar preparado para usar contra ele?”).

    Se um pregador não está extraindo profundamente a verdade da Palavra de Deus para determinar amensagem de seus sermões, eles estão provavelmente sendo dirigidos pelas próprias ideias do pregador,não pelas ideias de Deus.

    2) O “Sermão Trampolim”: o ponto do texto é ignorado

    Intimamente relacionado ao sermão anterior é o sermão no qual o pregador fica intrigado com algo que éuma implicação secundária do texto, mas que não é o ponto principal. Imagine um sermão sobre as bodasde Caná em João 2 que focaliza primariamente a permissão de cristãos beberem álcool e nada diz sobre amanifestação da glória de Cristo na Nova Aliança através do sinal de Jesus transformar a água em vinho.

    Uma das grandes vantagens de pregações expositivas sequenciais é que o pregador é forçado a pregar emtópicos que ele preferiria evitar e a dar peso apropriado a tópicos que ele tenderia a superenfatizar. Umpregador de sermões “infundados” ou “trampolins” pode involuntariamente descartar ambas as vantagens, eassim a agenda de Deus é silenciada ou colocada de lado.

    3) O “Sermão Doutrinário”: a riqueza do texto é ignorada

    Deus deliberadamente tem falado conosco “de muitas maneiras” (Hb 1.1). Muitíssimos sermões ignoram ogênero literário de uma passagem, e pregam narrativa, poesia, epístola e apocalíptica do mesmo modo,como uma série de afirmações proposicionais. Embora todos os sermões devam comunicar verdadesproposicionais, eles não devem se reduzir a elas. O contexto literário das passagens deveria significar que

    um sermão em Cântico dos Cânticos soa diferente de um em Efésios 5. A passagem pode ter o mesmoponto central, mas é comunicada de uma maneira diferente. A diversidade da Escritura não deve ser nivelada na pregação, mas valorizada e comunicada de uma maneira sensível ao gênero literário. Anarrativa deveria nos ajudar a ter empatia, a poesia deveria aumentar nossa resposta emocional e aapocalíptica e a profecia deveriam nos levar ao assombro.

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    4) O “Sermão Atalho”: o texto bíblico é apenas mencionado

    Sendo o oposto do sermão exegético, esse tipo de pregação não mostra absolutamente nenhum “trabalho”exegético. Ainda que o Senhor tenha fixado a agenda pela Sua Palavra, somente o pregador está totalmenteciente desse fato. A congregação pode terminar dizendo: “que sermão maravilhoso”, ao invés de “quepassagem da Escritura maravilhosa”.

    Encorajaremos nossa congregação a ouvir a voz de Deus, e não somente a nossa, ao apontá-losfrequentemente de volta ao texto bíblico: “veja o que Deus diz no verso cinco” mais do que “ouçacuidadosamente o que eu estou dizendo agora”.

    5) O “Sermão Sem Cristo”: o sermão interrompido sem o Salvador 

    Jesus repreendeu os fariseus: “Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elasmesmas que testificam de mim. Contudo, não quereis vir a mim para terdes vida” (Jo 5.39,40). Quão triste éque, mesmo nós, que fomos a Jesus para ter vida, levemos toda uma congregação a estudar umapassagem da Escritura, e ainda assim nos recusemos a levá-la a ver o que essa Escritura diz sobre Cristo,tornando textos do Antigo Testamento em sermões moralistas, e até mesmo pregando sermões sem Cristo esem evangelho dos próprios Evangelhos. Imagine o horror de um sermão na narrativa do Getsêmani que seconcentre em como nós podemos lidar com o estresse em nossas vidas.

    Se a Palavra de Deus é como uma enorme roda, o cubo da roda1 é Cristo e o eixo é o evangelho. Nós nãoteremos pregado fielmente nenhuma passagem da Escritura até que tenhamos encaixado os raios ao cubo,e comunicado o que a passagem diz sobre Cristo e como se relaciona com o evangelho.

    Impostores que Falham em Ver a Congregação

    6) O “Sermão Exegético”: o texto fica não aplicado

    Se o “sermão infundado” perde totalmente o texto, o “sermão exegético” perde totalmente a congregação. Algumas pregações que alegam ser expositivas são rejeitadas como chatas e irrelevantes... e corretamente!

     Algumas poderiam muito bem ser lidas em um comentário exegético. Tudo o que é dito é verdadeiro emrelação à passagem, mas não é realmente pregação; é meramente uma palestra. Muito pode ser aprendidosobre o uso que Paulo faz do genitivo absoluto, mas pouco sobre o caráter de Deus ou a natureza docoração humano. Não há aplicação a nada, exceto à mente da congregação. Certamente a verdadeirapregação expositiva, primeiro, informará a mente, mas também aquecerá o coração e compelirá a vontade.

    Uma dieta regular de pregação exegética fará as pessoas sentirem que somente pregações tópicas podemser relevantes, e modelará leituras da Bíblia que presumem que nós podemos ler a Palavra de Deusfielmente e ainda permanecer não desafiados e inalterados.

    7) O “Sermão Irrelevante”: o texto é aplicado a uma congregação diferente

    Muitas pregações promovem orgulho na congregação ao jogar pedras por cima do muro no quintal dovizinho. Ou o ponto da passagem é aplicado somente aos descrentes, sugerindo que a Palavra não temnada a dizer à igreja ou é aplicado a problemas que são raramente vistos na congregação para a qual seestá pregando.

     Assim, a congregação se torna inchada e, como os fariseus nas parábolas de Jesus, termina agradecida deque não é como os outros. A resposta não é arrependimento e fé, mas “Se aquela senhora ouvisse essesermão!” ou “aquela outra igreja realmente deveria ter esse sermão pregado a eles!”.

    Esse tipo de pregação fará a congregação crescer em justiça própria, não em piedade.

    8) O “Sermão Privado”: o texto é aplicado somente ao pregador 

    É fácil para o pregador pensar meramente sobre como a passagem se aplica a ele mesmo, e então pregar àcongregação como se a congregação estivesse exatamente na mesma situação que o pregador. Para mim,

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    é certamente mais fácil ver como uma passagem da Escritura se aplica a um homem branco britânico comseus quarenta anos, com uma esposa e seis crianças, que trabalha como pastor de uma pequenacongregação na zona oeste de Londres. Isso pode ser maravilhoso para meus momentos de devocionais,mas de não muito útil para minha igreja, já que ninguém mais se encaixa nessa lista.

    Quais são as implicações do texto para os adolescentes e as mulheres solteiras? Para a mulher com seusquarenta anos que deseja se casar e o imigrante? Para o desempregado e o visitante ateu ou muçulmano?Para a congregação como um todo e o motorista de ônibus, ou o que trabalha no escritório ou o estudante

    ou o que mora na casa da mãe?

    O sermão privado pode levar a congregação a pensar que a Bíblia só é relevante ao cristão “profissional”, eque o único uso válido da sua vida seria, realmente, trabalhar em tempo integral para a igreja ou outraorganização cristã. Esse sermão pode fazer a congregação idolatrar seu pastor e viver sua vida cristãvicariamente através dele. Esse sermão impede a congregação de enxergar como deve aplicar a Palavra acada aspecto de sua vida e como comunicá-la àqueles cujas vidas são muito diferentes da sua própria.

    9) O “Sermão Hipócrita”: o texto é aplicado a todos, menos ao pregador 

    O erro oposto do “sermão privado” é o sermão no qual o pregador é visto como aquele que ensina aPalavra, mas não é um modelo do que significa estar sob a Palavra. Há momentos quando um pregador precisa dizer “você” e não “nós”. Mas um pregador que sempre  diz “você” e nunca “nós” não é um modelode como ser apenas um subpastor que é, primeiro e antes de tudo, uma das ovelhas que deve, ela mesma,ouvir a voz do seu grande Pastor, conhecê-lo e segui-lo, confiando nele para sua vida eterna e segurança.

    Um pregador que prega dessa forma pode cometer o erro oposto ao da congregação que vive vicariamenteatravés do seu pastor: ele viverá vicariamente através da sua congregação. Ele assumirá que seudiscipulado é inteiramente sobre seu ministério e, no fim das contas, terminará não andando como umdiscípulo sob a Palavra de Deus, mas somente como alguém que coloca outros sob a Palavra, acima daqual ele se assenta distante.

    10) O “Sermão Desajustado”: o ponto da passagem é mal aplicado à congregação presente

     Algumas vezes a distância hermenêutica entre a passagem original e a presente congregação pode ser malentendida, de tal modo que a aplicação ao contexto original é, de modo errôneo, transferida diretamente aocontexto presente. Assim, se o pregador não tem uma correta teologia bíblica de culto, passagens sobre otemplo do Antigo Testamento podem ser erroneamente aplicadas ao edifício da igreja do Novo Testamento,ao invés de serem cumpridas em Cristo e em seu povo. Os pregadores do evangelho da prosperidadepodem reivindicar as promessas das bênçãos físicas dadas ao Israel fiel da Antiga Aliança e aplicá-lasirrefletidamente ao povo de Deus da Nova Aliança.

    Impostores que Falham em Ver o Senhor 

     Aulas de pregação frequentemente referem-se aos dois horizontes da pregação: o texto e a congregação.Mas o pregador cristão deve reconhecer que por trás de ambos encontra-se o Senhor que inspirou o texto eque está operando na congregação.

    11) O “Sermão Sem Paixão”: o ponto da passagem é falado, não pregado

    Seria possível haver um pregador que entendesse absolutamente a passagem e falasse sobre suasimplicações à congregação presente de maneira capaz e até mesmo profunda. Porém, o pregador entrega osermão como se ele estivesse lendo uma lista telefônica. Não há nenhum senso de que, quando o pregador entrega a Palavra de Deus, Deus mesmo está se comunicando com seu povo. Quando o pregador falha emreconhecer que é Deus mesmo, através de sua Palavra, que está pleiteando, encorajando, repreendendo,

    treinando, exortando, moldando e aprimorando seu povo, através da aplicação que o Espírito faz daquelaPalavra, frequentemente não haverá paixão, reverência, solenidade, alegria visível, lágrimas de dor perceptíveis – apenas palavras.

    12) O “Sermão Sem Poder”: o ponto da passagem é pregado sem oração

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    Tanto tempo é dedicado ao estudo da passagem e à elaboração do sermão que pouco tempo é dedicado àoração pela compreensão correta ou aplicação apropriada.

    O pregador que trabalha duro, mas ora pouco, confia mais em si mesmo e menos no Senhor. Essa é, talvez,uma das maiores tentações nas quais se pode cair, como um expositor, pois talvez só aqueles com maior discernimento na congregação estejam aptos a perceber uma exegese falsa ou uma aplicação inadequada,mas a diferença que a oração do pregador fez para o impacto do sermão será clara somente ao Senhor e nodia quando todas as coisas forem reveladas. Os horizontes do Senhor e da eternidade devem, em última

    análise, ser os mais importantes para o pregador; de fato, ele só deveria realmente se preocupar com oshorizontes do texto e da congregação porque os horizontes do Senhor e da eternidade são invisíveis, aindaque de importância infinita.

    Conclusão

     A pregação expositiva é tão importante para a saúde da igreja porque ela permite que todo o conselho deDeus seja aplicado a toda a igreja de Deus. Que o Senhor prepare pregadores de sua Palavra de tal modoque sua voz seja ouvida e obedecida.

    Notas:

    Nota do editor: Este artigo é uma versão revisada expandida de um artigo que Mike escreveu vários anosatrás.

    1 - Nota do tradutor: O cubo é a parte central da roda que liga toda a roda ao eixo e ao sistema de freios.

    Tradução: André Aloísio Oliveira da SilvaRevisão: Vinícius Musselman Pimentel

    O leitor tem permissão para divulgar e distribuir esse texto, desde que não altere seu formato, conteúdo e /

    ou tradução e que informe os créditos tanto de autoria, como de tradução e copyright. Em caso de dúvidas,faça contato com a Editora Fiel.


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