FACULDADE MERIDIONAL – IMED
CURSO DE DIREITO – DIURNO
Vinicius De Marchi Quaresemin de Oliveira
A (im)possibilidade de interposição de recurso de
apelação pelo não sucumbente contra decisão
interlocutória imediatamente irrecorrível
Passo Fundo
2017
Vinicius De Marchi Quaresemin de Oliveira
A (im)possibilidade de interposição de recurso de
apelação pelo não sucumbente contra decisão
interlocutória imediatamente irrecorrível
Projeto apresentado na disciplina Monografia III, do Curso de Direito, da Faculdade Meridional – IMED, como requisito para desenvolver o Trabalho de Conclusão de Curso, sob orientação do Profº. ME. Tatiani de Azevedo Lobo.
Passo Fundo
2017
Vinicius De Marchi Quaresemin de Oliveira
A (im)possibilidade de interposição de recurso de
apelação pelo não sucumbente contra decisão
interlocutória imediatamente irrecorrível
Monografia apresentada a coordenação do curso de Direito, da Faculdade Meridional, como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel em Direito, sob a orientação do profº. Me. Tatiani de Azevedo Lobo.
Aprovado em 06 de dezembro de 2017
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________ Profº. ME. Tatiani de Azevedo Lobo – Orientadora
_________________________________________ Prof. ME. Leandro Caletti – Integrante
_________________________________________ Douglas Ribeiro – Mestrando/Integrante
RESUMO
O presente trabalho tem por objetivo responder se é possível, ou não, na nova
sistemática adotada quanto à recorribilidade das decisões interlocutórias, a parte
integralmente vencedora na demanda apelar exclusivamente contra decisão
interlocutória não agravável de imediato. Para responder a indagação será utilizado
o método hipotético-dedutivo, de modo a testar a possibilidade ou não dessa
apelação exclusiva, a técnica de pesquisa a ser utilizada será a análise doutrinária,
monográfica e jurisprudencial. O trabalho está dividido em três capítulos, no capítulo
primeiro se faz uma breve análise quanto às espécies de pronunciamentos do juiz
de primeira instância, passando-se aos requisitos de admissibilidade dos recursos e
finalizando com a indagação de como se lidar com a incongruência presente entre
os artigos 278, caput e 1.009, parágrafo 1º, ambos do Código de Processo Civil de
2015(CPC/2015). No capítulo segundo, se faz uma comparação quanto à
recorribilidade das decisões interlocutórias no antigo Código de Processo Civil de
1973(CPC/73) e o CPC/2015, e quais passam ser as hipóteses de agravo de
instrumento a luz do novo diploma processual, tratando em um segundo momento
quanto à recorribilidade das interlocutórias não agraváveis, pelo vencido em
preliminar de apelação e pelo vencedor em contrarrazões, nos termos do artigo
1.009, parágrafo 1º, do CPC/2015. Já no terceiro capítulo buscou-se na doutrina e
na jurisprudência a resposta para o problema ora proposto, quanto à possibilidade,
ou não, da parte inteiramente vencedora na demanda apelar exclusivamente contra
decisão interlocutória não agravável. Concluindo-se pela impossibilidade do
inteiramente vencedor na demanda apelar exclusivamente contra a interlocutória
não agravável, pois careceria de interesse recursal.
Palavras-Chaves: Decisão interlocutória. Interlocutória em apelação. Interlocutória
não agravável. Recorribilidade. Recurso.
ABSTRACT
The purpose of this paper is to answer whether or not it is possible, in the new
system adopted regarding the recurrence of interlocutory decisions, the party wholly
winning in the case to appeal exclusively against an interlocutory decision not
immediately aggravated. To answer the question will be used the hypothetical-
deductive method, in order to test the possibility or not of this exclusive appeal, the
research technique to be used will be the doctrinal, monographic and jurisprudential
analysis. The work is divided into three chapters. In the first chapter, a brief analysis
is made of the types of pronouncements of the first instance judge, going to the
admissibility requirements of the resources and ending with the question of how to
deal with the present incongruity between articles 278, caput and 1.009, paragraph 1,
both of the Code of Civil Procedure of 2015 (CPC / 2015). In the second chapter, a
comparison is made regarding the recurrence of interlocutory decisions in the former
Code of Civil Procedure of 1973 (CPC / 73) and CPC / 2015, and which are the
hypotheses of an aggravation of an instrument in the light of the new procedural law,
dealing in a second moment with regard to the recurrence of non-aggravating
interlocutors, the loser in preliminary appeal and the winner in contrarrazões, under
the terms of article 1.009, paragraph 1, of CPC / 2015. In the third chapter, the
doctrine and jurisprudence sought to answer the problem proposed, as to whether or
not the party wholly in the claim could appeal exclusively against non-aggravating
interlocutors. In conclusion, it is impossible for the wholly winner in the claim to
appeal exclusively against the non-aggravating interlocutory, since it would lack
appeal.
Keywords: Interim decision. Interlocutory on appeal. Non-aggravating interlocutory.
Recorribilidade. Resource.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 7
1 AS DECISÕES DO JUIZ DE PRIMEIRA INSTÂNCIA E O JUÍZO DE
ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS..................................................................... 11
1.1 Das decisões do juiz singular de primeira instância ........................................... 11
1.2 Breve análise dos requisitos de admissibilidade dos recursos com foco no
interesse recursal e na legitimidade .......................................................................... 14
1.3 A necessidade de protesto específico contra interlocutória não agravável......... 22
2 ALTERAÇÕES QUANTO A RECORRIBILIDADE DAS INTERLOCUTÓRIAS À
LUZ DO ARTIGO 1.009, PARÁGRAFO 1º DO CPC/2015 ....................................... 25
2.1 Recorribilidade das interlocutórias no CPC/1973 e as alterações advindas do
CPC/2015 .................................................................................................................. 25
2.2 A parte vencida e a impugnação da interlocutória na apelação .......................... 33
2.3 A parte vencedora e a impugnação da interlocutória nas contrarrazões ............ 34
3 A DOUTRINA E A JURISPRUDÊNCIA QUANTO À APELAÇÃO EXCLUSIVA
CONTRA INTERLOCUTÓRIA NÃO AGRAVÁVEL .................................................. 40
3.1 Apelação do vencedor exclusivamente contra interlocutória não agravável ....... 40
3.2 A jurisprudência atual quanto às interlocutórias não agraváveis de imediato ..... 46
CONCLUSÃO ........................................................................................................... 55
REFERÊNCIAS BIBLIOGÁFICAS ........................................................................... 60
7
INTRODUÇÃO
O tema a ser abordado no presente trabalho tem por objetivo tratar mais
especificamente de uma, entre as inúmeras mudanças trazidas pela Lei nº 13.105
de 16 de março de 2015(CPC/2015) e que entrou em vigor no dia 18 de março de
2016, e instituiu o atual código de processo civil, diploma processual que revoga o
antigo Código de Processo Civil de 73, buscando-se através desse novo código de
processo, lidar com problemas atuais, que o antigo diploma não estava conseguindo
dar conta de maneira satisfatória.
A contextualização do assunto tratado no trabalho, diz respeito mais
especificamente as mudanças trazidas pela supressão do agravo retido e o “novo”
agravo de instrumento, este último, agora limitado a um rol taxativo de hipóteses de
interposições dispostas no artigo 1.015 do CPC/2015, mudanças estas, que podem
gerar dúvidas de quando e como agir, podendo acarretar sérios prejuízos para as
partes caso não sejam devidamente esclarecidas.
O tema em estudo delimita-se geograficamente ao território nacional, já que
se quer saber como a doutrina e a jurisprudência vêm se manifestando quanto ao
assunto, no entanto, o trabalho não abordou as decisões de todos os tribunais do
país, pois, fugiria de seu objetivo, que não é uma analise unicamente jurisprudencial
sobre a questão.
Por se estar diante de um Código de Processo que nasceu agora bem dizer, a
delimitação temporal do trabalho se dará do ano de 2015 em diante, por ser o ano
de criação da lei que instituiu tal diploma processual e que deu surgimento ao
questionamento que o trabalho busca responder.
O problema de pesquisa é: há possibilidade de interposição de recurso de
apelação da parte integralmente vencedora na demanda, com fundamento no artigo
1.009 parágrafo 1º do CPC/2015, impugnando exclusivamente a decisão
interlocutória não agravável de imediato?
A técnica de pesquisa a ser utilizada é a bibliográfica, monográfica,
jurisprudencial e doutrinária, já que somente a partir dessas informações se chegará
a uma resposta de como vêm sendo tratadas às questões que envolvem tais
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mudanças originadas pelo CPC/2015, chegando com essa investigação a uma
resposta coerente que não infrinja o atual diploma processual.
O método de abordagem a ser utilizado para enfrentar o presente problema é
o hipotético-dedutivo, onde se buscará a desconstrução das duas hipóteses
possíveis, quais sejam: a possibilidade de apelação do vencedor na demanda
principal exclusivamente contra interlocutória não agravável, ou a sua
impossibilidade, por falta de interesse recursal.
O objetivo geral do trabalho é investigar se é possível a interposição de um
recurso de apelação com fundamento no parágrafo 1º do artigo 1.009 do CPC/2015,
impugnando exclusivamente uma decisão interlocutória que ocorreu no curso do
processo de conhecimento e não era de imediato agravável, por não constar como
uma das hipóteses elencadas nos incisos do artigo 1.015, do CPC/2015, sendo que
a parte foi integralmente vencedora na demanda.
A questão que se põe é, se a parte vencedora terá interesse de apelar
exclusivamente contra interlocutória não agravável de imediato sendo que não foi
sucumbente na sentença, existindo uma corrente que defende que seria possível
essa apelação apesar da falta de interesse recursal, e uma segunda corrente,
defendida por este trabalho, quanto a não possibilidade de se apelar exclusivamente
contra esta interlocutória.
Para se alcançar essas respostas, o estudo foi divido em três capítulos, que
passam pelas mudanças trazidas à recorribilidade das interlocutórias com o
CPC/2015, após, para as hipóteses de recorribilidade das interlocutórias não
agraváveis, finalizando com a possibilidade, ou não, do vencedor impugnar na
apelação exclusivamente uma interlocutória não agravável.
No capítulo primeiro, o objetivo específico será inicialmente, relembrar as
espécies de decisões proferidas pelo juiz de primeira instância, que se subdividem
em: despachos, decisões interlocutórias e sentença. Passa-se após á análise dos
requisitos de admissibilidade dos recursos, dentre os quais estará o interesse
recursal, que se mostra como ponto nevrálgico para resposta do problema, já que, é
ele que no fim dirá se à apelação do vencedor contra interlocutória não agravável de
imediato é ou não possível.
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Ainda se mostra necessário tratar de uma incongruência existente no
CPC/2015, já que se encontra no âmbito do objeto de estudo quanto à impugnação
da interlocutória não agravável. A problemática diz respeito ao conflito existente
entre, a necessidade, ou não, da parte suscitar imediatamente o interesse futuro em
recorrer de uma decisão passível de ser anulada, já que o parágrafo 1º do artigo
1.009, do CPC/15, colide diretamente com o disposto no caput do artigo 278 do
CPC/2015, que manda a parte impugnar as nulidades relativas de imediato sob pena
de preclusão.
No segundo capítulo, o objetivo específico será primeiramente demonstrar
como funcionava no antigo diploma processual de 73 a recorribilidade quanto às
decisões interlocutórias, e as mudanças ocorridas neste diploma com a vigência da
Lei nº 9.139/95 e 11.187/2005, e após, ver quais as mudanças ocorridas com a
chegada do CPC/2015, que retirou o agravo retido do sistema processual e passou
a prever o agravo de instrumento para casos específicos que serão brevemente
vistos casos a caso, já que se mostra de suma importância para responder o
problema apresentado por este trabalho.
Em seguida, se entrará no âmbito das decisões interlocutórias não agraváveis
de imediato, analisando-se primeiramente, como deve agir a parte vencida na
demanda caso deseje impugnar alguma dessas decisões, e em seguida, a
impugnação dessa decisão interlocutória não agravável pelo vencedor em
contrarrazões da apelação do vencido, buscando responder ainda se essa
impugnação trazida em contrarrazões seria ou não, espécie de recurso subordinado.
Finalmente no terceiro capítulo, o objetivo específico será ver como a doutrina
vem se posicionando quanto à possibilidade, ou não, de interposição de recurso de
apelação exclusivamente contra interlocutória não agravável pela parte
integralmente vencedora na demanda, para isso, analisará posições doutrinárias a
favor e contra essa possibilidade, buscando desconstruir as ideias trazidas pelos
autores favoráveis, já que se baseiam apenas em exemplos para legitimar suas
posições, ao invés de demonstrarem juridicamente o porquê da possibilidade.
Em seguida, para corroborar as explicações apresentadas pela doutrina, se
fará uma análise jurisprudencial de como alguns tribunais vêm decidindo a questão.
Por obvio, que a jurisprudência não irá responder de forma direta a indagação do
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presente trabalho, já que a resposta para a questão quem dará é a doutrina, mas o
que se fará é uma análise de como vêm sendo decididos os exemplos que a
doutrina usa como hipóteses legitimadoras de tal possibilidade, já que a doutrina
favorável a apelação exclusiva, não consegue sustentar sua posição por outros
fundamentos que não seus exemplos.
Busca-se assim, ao final do presente trabalho, oferecer uma resposta satisfatória
quanto à possibilidade, ou não, do vencedor na demanda poder apelar
exclusivamente contra uma decisão interlocutória não agravável de imediato, estudo
que se passa a ver a seguir.
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1 AS DECISÕES DO JUIZ DE PRIMEIRA INSTÂNCIA E O JUÍZO DE
ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS
1.1 Das decisões do juiz singular de primeira instância
Inicialmente, para responder as questões as quais o trabalho se propõe, se
faz necessário relembrar brevemente o conceito de jurisdição, e após esclarecer
alguns pontos quanto às espécies de decisões proferidas pelo juiz de primeira
instância, a fim de relembrar quais são elas e como diferenciá-las umas das outras.
Segundo Carnelutti (2016) a jurisdição estaria na lide, pois somente quando
esta se mostrasse presente, por haver um conflito de interesses entre as partes, é
que o juiz entraria em cena para decidir, ocorrendo assim jurisdição. Assim, para o
autor, jurisdição seria a justa composição da lide. Já para Chiovenda (1969, p.37)
jurisdição seria:
[...] a função do Estado que tem por escopo a atuação da vontade
concreta da lei por meio de substituição, pela atividade de órgãos
públicos, da atividade de particulares ou de outros órgãos públicos, já
no afirmar a existência da vontade concreta da lei, já no torná-la,
praticamente, efetiva.
Conforme estabelece o artigo 203 do CPC/2015, as decisões do juiz singular
se subdividem em: sentença, decisão interlocutória e despacho. Assim, no presente
tópico, se fará uma analise de cada uma delas e o respectivo recurso cabível para
impugná-las a luz do CPC/15. Importante frisar que não se quer aqui esgotar o
assunto quanto á classificação dos pronunciamentos judiciais, já que fugiria do
objetivo do trabalho.
Conforme o parágrafo 1º do artigo 203 do CPC/2015, sentença é toda decisão
por meio da qual o juiz põe fim à fase cognitiva do procedimento comum, com
fundamento no artigo 485 ou 4871, bem como o pronunciamento que extingue a
execução.
1 Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando: I - indeferir a petição inicial; II - o processo ficar
parado durante mais de 1 (um) ano por negligência das partes; III - por não promover os atos e as diligências que lhe incumbir, o autor abandonar a causa por mais de 30 (trinta) dias; IV - verificar a ausência de pressupostos de constituição e de desenvolvimento válido e regular do processo; V - reconhecer a existência de perempção, de litispendência ou de coisa julgada; VI - verificar ausência de legitimidade ou de interesse processual; VII - acolher a alegação de existência de convenção de
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O parágrafo 1º do artigo 203 deixa claro, em sua primeira parte, a ressalva
que se deve ter quanto às disposições expressas dos procedimentos especiais, já
que nesses casos pode haver decisões denominadas de “sentença”, mesmo não se
encaixando na definição legal do artigo em comento, conforme ensina Câmara
(2016, p.152):
Fica, porém, ressalvada a possibilidade de, em algum procedimento
especial, haver pronunciamento judicial que, mesmo não se
enquadrando nesta definição legal, seja expressamente tratado como
sentença. É o que se dá, por exemplo, no procedimento especial da
“ação de demarcação de terras”, em que se prevê a prolação de
duas sentenças na fase cognitiva do processo. A primeira dessas
sentenças, julgando o pedido de demarcação, determina o traçado
da linha demarcada (art. 581). A segunda sentença homologa a
demarcação feita pelo perito nos termos determinados na primeira
sentença (art. 587).
Já a decisão interlocutória, segundo dispõe o parágrafo 2º do artigo 203 do
CPC/2015, caracteriza-se como sendo todo pronunciamento judicial com conteúdo
decisório que não é sentença, nos termos do parágrafo 1º do mesmo artigo, capaz
de causar prejuízo para uma das partes no curso do procedimento, mas que não
coloca fim a este, possibilitando às partes impugnarem tais decisões, de imediato
em se tratando de alguma das hipóteses do artigo 1.015, ou em apelação ou
contrarrazões de apelação nos termos do artigo 1.009, parágrafo 1º, ambos do
CPC/2015.
Com o advento do CPC/2015, a decisão interlocutória passa a não ser mais
tratada apenas como aquela que decide questões incidentes ocorridas no curso do
processo, passando em alguns casos a resolver parte do objeto litigioso ou extinguir
parcela dele, sem deixar de ser decisão interlocutória em razão disso, conforme
ensina Theodoro Júnior (2016, p.638):
arbitragem ou quando o juízo arbitral reconhecer sua competência; VIII - homologar a desistência da ação; IX - em caso de morte da parte, a ação for considerada intransmissível por disposição legal; e X - nos demais casos prescritos neste Código. Art. 487. Haverá resolução de mérito quando o juiz: I - acolher ou rejeitar o pedido formulado na ação ou na reconvenção; II - decidir, de ofício ou a requerimento, sobre a ocorrência de decadência ou prescrição; III - homologar: a) o reconhecimento da procedência do pedido formulado na ação ou na reconvenção; b) a transação; c) a renúncia à pretensão formulada na ação ou na reconvenção.
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Também o próprio mérito da causa pode sofrer parcelamento e,
assim, enfrentar decisão parcial por meio de decisão interlocutória,
como deixa claro o referido art. 356. Melhor orientação, portanto,
adotou o Código atual quando evitou limitar a decisão interlocutória à
solução de questões incidentes, destinandoa a resolução de
qualquer questão, desde que não ponha fim à fase cognitiva do
procedimento comum ou não extinga a execução (art. 203, §§ 1º e
2º).
No atual diploma processual, todo objeto litigioso do processo pode ser
julgado ou extinto parcialmente por decisão interlocutória, bastando para isso que
não ponha fim a fase cognitiva do procedimento comum, desse modo, por expressa
previsão legal, todas as decisões ou julgamentos parciais com fundamento nos
artigos 485 e 487 do CPC/2015 serão passíveis de agravo de instrumento, não
existindo outro momento para impugnar tais decisões, conforme estabelece o
parágrafo único do artigo 354 e o artigo 3562, ambos do CPC/2015.
Os despachos judiciais são as decisões que tem por objetivo unicamente
realizar o impulso processual, não trazendo nenhum prejuízo para as partes, são
também denominados de despachos ordinatórios ou de expediente, logo, não são
em tese passíveis de recurso, mas caso a decisão traga algum prejuízo para as
partes será na realidade uma decisão interlocutória, impugnável de imediato pelo
agravo de instrumento ou posteriormente em preliminar de eventual recurso de
apelação (Theodoro Júnior, 2017).
Após delimitar o âmbito das decisões das quais o trabalho irá tratar, serão
analisados os requisitos de admissibilidade dos recursos, pressupostos necessários
2 Art. 354. Ocorrendo qualquer das hipóteses previstas nos arts. 485 e 487, incisos II e III, o juiz
proferirá sentença. Parágrafo único. A decisão a que se refere o caput pode dizer respeito a apenas parcela do processo, caso em que será impugnável por agravo de instrumento (grifo nosso). Art. 356. O juiz decidirá parcialmente o mérito quando um ou mais dos pedidos formulados ou parcela deles: I - mostrar-se incontroverso; II - estiver em condições de imediato julgamento, nos termos do art. 355. § 1o A decisão que julgar parcialmente o mérito poderá reconhecer a existência de obrigação líquida ou ilíquida. § 2o A parte poderá liquidar ou executar, desde logo, a obrigação reconhecida na decisão que julgar parcialmente o mérito, independentemente de caução, ainda que haja recurso contra essa interposto. § 3o Na hipótese do § 2o, se houver trânsito em julgado da decisão, a execução será definitiva. § 4o A liquidação e o cumprimento da decisão que julgar parcialmente o mérito poderão ser processados em autos suplementares, a requerimento da parte ou a critério do juiz. § 5o A decisão proferida com base neste artigo é impugnável por agravo de instrumento.
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a serem observados como condição à análise do mérito recursal, que é o se passa
ver.
1.2 Breve análise dos requisitos de admissibilidade dos recursos com foco no
interesse recursal e na legitimidade
Um dos principais pontos que definem se existirá, ou não, a possibilidade de
apelação do vencedor exclusivamente quanto à interlocutória não agravável,
repousa no interesse recursal e legitimidade, mas antes, mostra-se necessário uma
passada breve pelos demais requisitos de admissibilidade, para então após, analisar
de forma mais aprofundada os requisitos de maior relevância para o presente
estudo.
Inicialmente, antes de analisar o mérito do recurso deverá o juiz observar se
estão presentes os requisitos de admissibilidade, conforme demonstra Assis (2017,
p. 89):
Todo recurso prolonga indefinidamente a solução do processo. É
natural que, para legitimar a atividade adicional subsequente à
interposição, a lei imponha uma série de requisitos específicos. Ao
exame desse conjunto de condições, que incumbirá ao órgão
judiciário, previamente ao julgamento do próprio conteúdo da
impugnação, dá-se o nome de juízo de admissibilidade.
Para que um recurso seja admitido deverá observar certos requisitos de
admissibilidade, da mesma forma que o processo deve observar pressupostos
processuais, assim, ao se interpor um recurso não se está garantindo que o mérito
do mesmo será analisado, pois antes deverá se observar se estão presentes tais
requisitos, pular as etapas nessa analise seria dispêndio de tempo, já que a decisão
relativa ao mérito seria irrelevante se ausentes os requisitos de admissibilidade.
No CPC/1973 os recursos possuíam um duplo juízo de admissibilidade,
realizado pelo órgão a quo e ad quem3 respectivamente, a primeira analise era feita
no juízo a quo, chamado de juízo provisório de admissibilidade, e o segundo pelo
3 Juízo a quo é o que proferiu a decisão, e ad quem é aquele que julgará o recurso.
15
tribunal (órgão ad quem), chamado de juízo definitivo de admissibilidade. Com o
CPC/2015, quase todos os recursos passaram a ter um único juízo de
admissibilidade feito no órgão ad quem, com exceção do recurso extraordinário e do
recurso especial, quanto a esses continua sendo duplo o juízo de admissibilidade.
Atualmente, no caso de interposição de um recurso de apelação, se, o juízo a
quo inadmitir o recurso, caberá reclamação ao respectivo Tribunal, nos termos do
artigo 988, inciso I do CPC/2015, já que, o juiz estará usurpando a competência do
Tribunal, pois como foi dito, deixou de existir no caso da apelação o juízo provisório
realizado pelo juízo a quo. Portanto, ao juiz receber o recurso de apelação apenas
fará o processamento do mesmo, que consistirá basicamente em intimar parte
contraria para que apresente contrarrazões no prazo legal, após o remeterá ao
Tribunal que realizará o juízo de admissibilidade, e em sendo este positivo, tornará o
recurso apto a ter o mérito analisado.
Os requisitos de admissibilidade se dividem em intrínsecos e extrínsecos, os
extrínsecos são os que cuidam da forma que deve ser observada para exercer esse
direito, já os intrínsecos, são aqueles que dizem respeito à própria existência do
direito de recorrer (DIDIER JR.; CUNHA, 2016). Serão analisados de forma mais
aprofundada o interesse recursal e a legitimidade, mas antes se faz necessário uma
apresentação sucinta dos demais.
Entre os requisitos extrínsecos, também chamados de requisitos objetivos,
relativos à própria forma de recorrer estão: tempestividade, regularidade formal e
preparo. Já os requisitos intrínsecos, também chamados de subjetivos, são aqueles
que dizem respeito à própria existência do direito de recorrer, observando-se o caso
concreto para saber se estão presentes ou não, e dividem-se em: cabimento,
legitimidade e interesse recursal.
A tempestividade caracteriza-se como o lapso temporal previsto em lei que a
parte terá para recorrer de determinada decisão, importante salientar que, conforme
o CPC/2015, os prazos serão contados em dias úteis, não apresentando o recurso
no prazo estipulado ocorrerá preclusão temporal4.
4 “A preclusão temporal consiste na perda do poder processual em razão do seu não exercício no momento oportuno; a perda do prazo é omissão que implica preclusão (art. 223, CPC)” Didier Jr. e Cunha (2016, p.429).
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Uma das grandes mudanças trazidas pelo CPC/2015 é o prazo para
interposição dos recursos, que passam a ser, em sua grande maioria, o mesmo para
todas as decisões, variando apenas quanto aos declaratórios, conforme ensina
Neves (2016, p.1524):
O Novo Código de Processo Civil torna o prazo recursal mais
homogêneo, prevendo em seu art. 1.003, §5º, que todos os recursos
passam a ter prazo de 15 dias (úteis), salvo os embargos de
declaração que mantêm o prazo atual de 5 dias.
A regularidade formal caracteriza-se como as formalidades que o recurso
deve observar nos termos da lei, como por exemplo, as peças obrigatórias que
devem ser juntadas no caso do agravo de instrumento, a forma escrita das peças
recursais, com exceção dos declaratórios quando estivermos no juizado especial e
alguns outros casos (DIDIER JR.; CUNHA, 2016).
Existem ainda, algumas formalidades genéricas que deverão ser observadas
por todos os recursos, que, segundo Assis (2016, p.165), são “(a) petição escrita; (b)
identificação das partes; (c) motivação; (d) pedido de reforma, invalidação,
esclarecimento ou integração do pronunciamento recorrido”.
O preparo diz respeito ao valor a ser adiantado relativo ao processamento do
recurso, que incluí as taxas judiciais e o porte de remessa e de retorno,
dispensando-se o porte de remessa e retorno quando se estiver diante de processo
em autos eletrônicos, mas caso o segundo grau seja em processo físico, existirá
necessidade do recolhimento de porte de remessa e retorno, conforme Resolução
STJ n. 2/2017, Art. 4º, Parágrafo único5.
No CPC/2015, abrandou-se a punição em razão do não recolhimento de
preparo, oportunizando o recolhimento posterior após intimação, devendo nesse
caso ser o valor recolhido em dobro, nos termos do artigo 1.007, parágrafo 4º, do
5 Na hipótese excepcional de remessa de autos físicos, o tribunal de origem deverá exigir do recorrente o recolhimento do porte de remessa e retorno antes do envio ao STJ, sob pena das sanções previstas na legislação processual.
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CPC/20156, como forma de se efetivar o princípio da primazia da decisão de mérito,
oportunidade não oferecida na vigência do CPC/1973, já que o não recolhimento do
preparo levava ao não conhecimento do recurso interposto.
Diferente da hipótese acima apresentada, onde não ocorre à juntada de
preparo, pode ocorrer de o preparo ter sido juntado, porém de forma insuficiente,
nesse caso deverá ocorrer à intimação para que seja complementado o valor
faltante, no prazo de cinco dias, nos termos do 1.007, parágrafo 2.º, acarretando a
deserção do recurso caso não seja corrigido o valor nesse prazo.
O cabimento é requisito de admissibilidade que cuida da possibilidade de se
recorrer de determinada decisão e, qual recurso se lançar mão para isso. Todo
recurso deve estar previsto em lei, que exporá em quais hipóteses e quando será
possível a utilização desse meio impugnativo, assim, não existindo previsão em lei
está decisão será irrecorrível. Importante aspecto do cabimento é o princípio da
singularidade, que determina que contra cada decisão caberá em tese a interposição
de um único recurso, no entanto existem exceções, conforme ensina Didier Jr. e
Cunha (2016, p. 110):
a) Contra acórdãos objetivamente complexos (mais de um capítulo) é
possível imaginar o cabimento simultâneo de recurso especial e
recurso extraordinário.
b) Admite-se, doutrinariamente, embora se trate de hipótese no
mínimo discutível, a interposição simultânea de embargos de
declaração e outro recurso contra a decisão.
Os demais requisitos intrínsecos de admissibilidade, que são a legitimidade e
interesse recursal, serão analisados de forma mais aprofundada, especialmente o
segundo, a fim de que se tenha uma melhor compreensão de quando surge o
interesse recursal da parte.
Um dos principais pontos para se chegar à resposta que busca o trabalho,
quanto à possibilidade, ou não, do vencedor apelar exclusivamente contra
interlocutória não agravável, está no interesse recursal, já que, a existência do
6 § 4o O recorrente que não comprovar, no ato de interposição do recurso, o recolhimento do preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, será intimado, na pessoa de seu advogado, para realizar o recolhimento em dobro, sob pena de deserção.
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interesse recursal surge justamente com a sucumbência na sentença, que, não se
mostra presente se a parte é integralmente vencedora na demanda e não sucumbiu
ao menos materialmente, nesse caso, como não haverá interesse recursal para
apelar da sentença, não poderá a parte impugnar a interlocutória, pois, se a
interlocutória tivesse lhe causado prejuízo, este estaria de alguma forma presente na
sentença.
Antes de entrar na explicação quanto a cada um destes requisitos
isoladamente, se faz necessário uma crítica à redação dada para o texto do artigo
996, do CPC/2015, já que acaba por confundir legitimidade com interesse recursal,
conforme se verá.
A legitimidade da parte para recorrer não decorre do conteúdo da decisão,
assim se a parte é legítima no processo será legítima para recorrer, tanto a parte
vencedora quanto a vencida possuem legitimidade, logo, quando artigo 996 trata dos
legitimados, deveria somente especificar “as partes” e não “a parte vencida”, pois, ao
mencionar “a parte vencida”, está tratando de interesse recursal e não de
legitimidade, ocorrendo uma confusão entre os conceitos, conforme demonstra
Neves (2016, p.1.509):
Segundo o art. 996 do Novo CPC, o recurso pode ser interposto pela
parte vencida, pelo terceiro prejudicado e pelo Ministério Público. O
dispositivo legal é criticável porque confunde indevidamente o
requisito da legitimidade recursal com o interesse recursal,
desprezando o fato de que a legitimidade é fixada sempre em
abstrato, não tendo relevância o conteúdo da decisão no caso
concreto. Dessa forma, não é correto afirmar, como faz o dispositivo
legal, que somente a parte vencida tem legitimidade para recorrer,
porque, para se descobrir se a parte é vencida ou vencedora é
indispensável analisar o conteúdo da decisão proferida no caso
concreto, o que diz respeito ao interesse de recorrer, e não à
legitimidade recursal.
O requisito da legitimidade cuida de quem poderá recorrer das decisões, e
quem determina isso é o próprio CPC/2015, no artigo 996, caput, logo quem está
autorizado a recorrer segundo o dispositivo legal é: a parte vencida, o terceiro
prejudicado (terceiro juridicamente interessado) e o Ministério Público.
19
Quando a lei trata do terceiro prejudicado como legitimado para recorrer, está
a se referir ao terceiro que intervém no processo apenas no momento de interpor o
recurso, sendo imprescindível o interesse jurídico, de forma a demonstrar que
aquela decisão lhe trouxe prejuízo, conforme ensina Talamine e Wambier (2016,
p.433):
[...] é necessário que o terceiro demonstre que há interdependência
entre seu interesse de intervir e a relação jurídica já submetida à
apreciação do juiz. Basta a possibilidade de o terceiro sofrer prejuízo
reflexo, desde que jurídico, para que fique caracterizada sua
legitimidade para recorrer.
Importante deixar claro que nos casos onde o terceiro já ingressou no
processo, como assistente simples ou assistente litisconsorcial, ele não recorre mais
como terceiro, e sim como parte, que passou a ser ao ingressar no processo
(TALAMINE; WAMBIER, 2016).
A parte terá legitimidade para recorrer ainda que não seja legitimada para a
causa, pois, sendo parte no processo, independente da legitimidade ad causum terá
interesse para recorrer, quem vai dizer em último grau se a parte possui o
pressuposto processual para estar no processo é o próprio recurso (TALAMINE;
WAMBIER, 2016).
O Ministério Público sempre poderá recorrer, seja como parte ou fiscal da lei,
nesse último caso, a legitimidade estará presente mesmo que a parte não deseje
recorrer, conforme demonstra o enunciado 99 da súmula do STJ: “O Ministério
Público tem legitimidade para recorrer no processo em que oficiou como fiscal da lei,
ainda que não haja recurso da parte” (DIDIER JR.; CUNHA, 2016).
O interesse recursal é requisito de admissibilidade intrínseco e positivo, pois,
se a parte não o possuir não poderá recorrer, acontece que, não se pode apenas
olhar se a sentença foi procedente para parte como único critério de existência ou
não do interesse recursal, o interesse deve ser observado sobre diversos aspectos,
como por exemplo, se a parte conseguiu alcançar o objetivo almejado com o
processo, conforme ensina Theodoro Júnior (2017, p.1216):
20
O interesse, porém, não se restringe à necessidade do recurso para
impedir o prejuízo ou gravame; compreende também a sua utilidade
para atingir o objetivo visado pelo recorrente. Dessa maneira, o
recurso manifestado tem de apresentar-se como necessário e
adequado, na situação concreta do processo, para ser admitido.
De forma idêntica entende Assis (2016), ao definir o interesse recursal como
sendo a possibilidade da parte de melhorar sua situação, análise esta que se dá
com a conjugação de dois fatores, utilidade e necessidade, não bastando assim à
mera análise de quem foi o formalmente sucumbente no processo, pois, não é o
único ponto a ser levado em conta para resolver a questão.
Deve-se entender que interesse recursal é para o recurso o mesmo que o
interesse de agir para o processo, logo, para que a parte tenha interesse recursal, o
recurso deve mostra-se como meio necessário para se chegar a determinado
resultado mais vantajoso.
No atual diploma processual, não se pode mais incorrer no erro de achar que
o que vai determinar o interesse recursal ou não da parte, é, somente o que está no
dispositivo da sentença, já que, em alguns casos, como no artigo 503, parágrafo 1º,
as prejudiciais decididas de forma incidente no processo se preenchidos os
requisitos dos incisos I, II e III do parágrafo 1º do artigo 503, farão coisa julgada
material, e apesar de serem decididas na fundamentação da decisão, caso não
impugnadas precluirão para parte (DIDIER JR.; CUNHA, 2016).
Outro caso interessante onde fica fácil visualizar o interesse recursal
desvinculado do pressuposto de a parte ser sucumbente será quando a coisa
julgada se der secundum eventum probationis7, como ocorre no Mandado de
Segurança julgado improcedente por insuficiência de provas. Nessas ações, quando
ocorrer uma sentença de improcedência por insuficiência de provas ela não fará
coisa julgada material, assim, o réu (vencedor) poderá eventualmente ter interesse
em recorrer dessa decisão para ver alterada a fundamentação, e assim não correr o
risco de futuramente ter a mesma demanda movida contra ele novamente, como
mostra Didier Jr. e Cunha (2016, p. 118):
7 “[...] é aquela que só se forma em caso de esgotamento das provas” DIDIER JR. Fredie, CUNHA Leonardo. Curso de Direito processual Civil, 2016,v.II, p. 534.
21
Assim, há interesse recursal do réu, por exemplo, em impugnar o
fundamento de uma decisão, mesmo concordando com a conclusão
de improcedência: ele pode desejar que a improcedência seja por
inexistência de direito, e não por falta de prova, porque isso lhe traria
o benefício da coisa julgada.
Apesar de, inicialmente, se observar apenas a improcedência do pedido da
parte como critério definidor da existência ou não do interesse recursal, isso não
basta, já que o interesse da parte, como demonstrado, vai muito além do dispositivo
da decisão, conforme ensina Assis (2017, p. 130):
Embora o interesse em recorrer se origine, de fato, relativamente aos
pronunciamentos desfavoráveis emitidos em resposta à iniciativa das
partes, revela-se manifesta a insuficiência da diretriz presa
unicamente a este lado da questão.
Interessante classificação é aquela que trabalha com a sucumbência sobre o
aspecto formal e material, sucumbência formal é aquela que ocorre quando a parte
não for vencedora em algum ou todos os seus pedidos, diferentemente da
sucumbência material, que se mostra muito mais ampla, não estando limitada ao
aspecto formal, já que a parte pode ter todos os seus pedidos julgados procedente,
porém, sem alcançar o melhor resultado possível no mundo fático (NEVES, 2016).
Uma situação onde fica fácil visualizar a sucumbência material é no caso de
cumulação subsidiária de pedidos, que é espécie de cumulação imprópria de
pedidos, pois, o autor fará mais de um pedido para que seja acolhido o segundo
caso o primeiro não o seja, no caso, sendo acolhido esse segundo pedido o
processo será formalmente procedente, porém, não materialmente, já que o autor
não conseguiu no mundo fático a melhor situação possível, sendo entendimento do
STJ que no caso de procedência de pedido subsidiário será caso de sucumbência
recíproca (NEVES, 2016).
Resta assim evidente a importância do interesse recursal para o problema,
pois, é através dele que se saberá quando em último caso uma decisão será
recorrível ou não. Constatou-se assim que nos casos onde a coisa julgada se opere
secundum eventum probationis ou das prejudiciais incidentais decididas na
22
fundamentação da decisão, nos termos do parágrafo 1º do artigo 503, a parte
poderá ter interesse recursal, apesar de, no primeiro caso a parte ter sido a
vencedora e, no segundo, o interesse surgir do que fora decidido na fundamentação
da decisão, pois, apesar de ali decidido fará coisa julgada material.
A seguir, objetivando esclarecer confusa questão do CPC/2015, se fará uma
breve análise quanto à necessidade de protesto, ou não, das interlocutórias não
agraváveis de imediato que venham a ser impugnadas em eventual apelação.
1.3 A necessidade de protesto específico contra interlocutória não agravável
Uma das questões aparentemente contraditórias existentes no CPC/2015 é a
necessidade, ou não, de sinalizar o desejo de recorrer futuramente de uma
interlocutória não agravável de imediato, como forma de harmonizar o que diz o
caput do artigo 278 e o parágrafo 1º do artigo 1.009, ambos do CPC/2015, já que um
deles diz que não haverá preclusão e o outro diz que sim, questão que será vista a
partir de agora.
Conforme restou definido na redação final do CPC/2015, não se faz
necessário o protesto da decisão interlocutória para que possa ser impugnada em
eventual recurso de apelação ou em suas contrarrazões, ocorre que, provavelmente
seguindo o procedimento antes adotado pelo agravo retido, a versão do projeto do
Código de Processo Civil na Câmara dos Deputados mencionava em seu artigo
1.022, parágrafo 2º, que seria necessário o prévio protesto para que se pudesse
futuramente impugnar tal decisão na apelação, exigência que foi posteriormente
retirada na versão final do CPC/2015.
Acontece que na versão do projeto do Código de Processo Civil na Câmara
dos Deputados, já fazia parte o artigo 278, caput, mantido sem modificações na
versão final do CPC/2015, que determina que: “A nulidade dos atos deve ser
alegada na primeira oportunidade em que couber à parte falar nos autos, sob pena
23
de preclusão”, preocupação essa que se teve provavelmente para que não
ocorresse à nulidade de algibeira8, técnica essa não admitida pelo STJ.
Ocorre que o CPC/2015 em sua versão final, retirou o parágrafo 2º do artigo
1.022 do projeto da Câmara e, com ele a necessidade de protesto da decisão para
que fosse futuramente impugnada, no caso, bastaria ficar silente no momento da
decisão para então impugná-la no momento adequado, conforme estabelece o
1.009, parágrafo 1º, acontece que o artigo 278, caput, continuou a se preocupar com
a nulidade de algibeira, assim se faz necessário definir a necessidade, ou não, da
parte sinalizar de pronto à decisão interlocutória não agravável de imediato seu
interesse em futuramente impugnar essa decisão.
Não se está aqui a discutir o que fazer quanto às decisões maculadas de
nulidade absoluta, já que, conforme o parágrafo único do artigo 278, do CPC/2015,
essa necessidade de impugnação imediata, de modo a afastar a preclusão, não se
estende as questões de ordem pública, quem podem ser reconhecidas pelo juiz de
ofício a qualquer tempo e grau de jurisdição.
Para conciliar o artigo 278 e o parágrafo 1º do artigo 1.009 do CPC/2015 se
faz necessária uma análise sucinta de como lidar com essa situação, já que se trata
de um ponto crucial relativo à nova forma de impugnação das decisões
interlocutórias.
O principal motivo de existir do artigo 278, do CPC/2015, é para se evitar a
nulidade de algibeira, que nas palavras de Didier Jr e Cunha (2016, p.226):
Não se compatibiliza com a boa-fé e é, até mesmo, anticooperativo,
deixar de alegar ou suscitar um vício no momento próprio para,
somente depois, lá na apelação, impugnar aquela decisão anterior
que continha o vício e não foi alegado oportunamente.
Assim se conclui que apesar de ao artigo 1.009, parágrafo 1º do CPC/2015,
dizer que não haverá preclusão da decisão interlocutória não agravável de imediato,
devendo apenas ser trazida em eventual apelação ou em contrarrazões desta, não
8 “[...] estratégia de permanecer silente, reservando a nulidade para ser alegada em um momento posterior, já foi rechaçada, inclusive sob a denominação de ‘nulidade de algibeira’ ”.STJ, 3º T., REsp 1.372.802-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 11/3/2014.
24
há como deixar de observar o requisito do artigo 278, caput, do CPC/2015, onde
expressamente determina que decisões sujeitas a serem invalidadas, caso não
suscitadas no momento da decisão, com o propósito de dar ciência para outra parte
que esta poderá ser eventualmente impugnada em apelação, terão precluído, não
existindo a possibilidade de rediscutir a decisão interlocutória futuramente conforme
possibilita o parágrafo 1º do artigo 1.009 do CPC/2015.
Se fosse possível agir dessa maneira se estaria a ofender a boa-fé objetiva9,
pois criaria uma expectativa na parte contrária de que não se recorreria futuramente,
já que após ser proferida a decisão interlocutória em momento algum a parte
sinalizou o fato de estar insatisfeita com a decisão (DIDIER JR.; CUNHA, 2016).
Conclui-se assim, que ocorrendo uma decisão interlocutória inválida, em
razão de error in procedendo, e, em não sendo caso de questão de ordem pública,
se não for imediatamente suscitado o interesse em recorrer futuramente, restará
preclusa a futura impugnação, conforme ensina Didier Jr. e Cunha (2016, p.200):
Assim, proferida uma interlocutória não agravável que contenha
algum vício, cabe à parte suscitá-lo na primeira oportunidade que
tiver para falar nos autos, sob pena de preclusão (art. 278, CPC). Se
suscitar, poderá impugná-la na apelação. Se não suscitar, a matéria
estará preclusa, não podendo constar da apelação.
Apesar do entendimento supramencionado, quanto à necessidade de se
suscitar o interesse em futuramente recorrer da decisão no momento em que a parte
for intimada da decisão interlocutória, Assis (2016) ensina que o método utilizado no
CPC/2015 relativo a impugnar as interlocutórias na apelação posteriormente, sem a
necessidade de suscitar a intenção de recorrer ao ser intimado conforme estabelece
o artigo 1.009, parágrafo 1º, foi cópia do direito português, mas deixa em aberto
resposta quanto ao que fazer com o que determina o artigo 278, caput.
O mais prudente é que a parte que se sinta prejudicada por uma decisão
interlocutória sinalize de imediato ao juízo seu descontentamento, pois por ser uma
9 “Consiste o princípio da boafé objetiva em exigir do agente que pratique o ato jurídico sempre pautado em valores acatados pelos costumes, identificados com a ideia de lealdade e lisura. Com isso, conferese segurança às relações jurídicas, permitindose aos respectivos sujeitos confiar nos seus efeitos programados e esperados” Theodoro Jr. (2017, p.95).
25
questão dúbia o melhor é se prevenir, para que não seja surpreendida em momento
posterior por um pronunciamento judicial dizendo estar a questão preclusa.
Assim após esclarecer os principais pontos gerais quanto aos recursos,
passa-se ao próximo capítulo, onde se abordará as mudanças trazidas pelo
CPC/2015 com relação à recorribilidade das decisões interlocutórias.
2 ALTERAÇÕES QUANTO A RECORRIBILIDADE DAS INTERLOCUTÓRIAS À
LUZ DO ARTIGO 1.009, PARÁGRAFO 1º DO CPC/2015
2.1 Recorribilidade das interlocutórias no CPC/1973 e as alterações advindas
do CPC/2015
Como o presente trabalho busca solucionar a recorribilidade ou não de uma
decisão interlocutória em um caso específico, antes se faz necessário uma
explanação quanto às mudanças trazidas pelo CPC/2015, como era e como fica a
forma de se recorrer dessas decisões e, em seguida, passa-se a analisar outra
grande mudança ocorrida que foi à retirada do agravo retido e o rol taxativo de casos
onde será possível a interposição do agravo de instrumento, temas que serão vistos
a seguir.
No CPC/1973, existiam duas formas de impugnar as decisões interlocutórias,
através do agravo de instrumento ou do agravo retido, dependendo do conteúdo da
decisão interlocutória proferida, e apesar de ambos serem agravos possuíam
procedimentos distintos.
O agravo de instrumento tinha esse nome, pois, sua interposição fazia-se por
“instrumento” próprio, que era enviado diretamente ao tribunal para que este
analisasse a controvérsia, sem que os autos do processo fossem remetidos
conjuntamente, permitindo-se assim o seguimento do processo no juízo a quo.
Nessa modalidade de agravo eram feitas cópias das principais peças do processo,
formando-se um caderno próprio que era enviado diretamente ao tribunal
(MARINONI, 2008, p. 542).
Já na modalidade retida o agravo limitava-se a demonstrar a contrariedade
com a decisão proferida, ficando a impugnação retida nos próprios autos do
26
processo, no caso não se formava instrumento, pois essa impugnação tinha como
papel principal apenas afastar a preclusão, para que a parte futuramente o
reiterasse nas razões da apelação ou contrarrazões de eventual apelação se assim
achasse necessário (MARINONI, 2008, p.543).
No entanto o agravo, na vigência do CPC/1973, sofreu diversas modificações,
no início contra qualquer decisão interlocutória caberia agravo de instrumento
conforme ensina Didier Jr. e Cunha (2016, p. 203):
O CPC de 1973, em sua sistemática originária, passou a prever o
agravo de instrumento como recurso cabível contra qualquer decisão
interlocutória. Na verdade, o recurso era o de agravo de instrumento,
que teria uma outra modalidade: o agravo retido. Ao agravante era
conferida a opção de escolha entre interpor o agravo de instrumento
e o agravo retido.
Em 1995, a Lei nº 9.139/95, trouxe grandes mudanças ao agravo de
instrumento, que passou a se chamar apenas agravo e poderia ser interposto sob a
modalidade de agravo retido ou agravo de instrumento (DIDIER JR.; CUNHA, 2016,
p.204).
Antes de 2005 a regra era o agravo de instrumento, que após com a lei
11.187/2005, que alterou a redação do artigo 522 do antigo CPC/1973, passou a ser
regra o agravo retido, ficando o agravo de instrumento reservado para aquelas
situações específicas dispostas na lei ou quando a decisão pudesse causar lesão
grave ou de difícil reparação (MARINONI, 2008, p.543).
A lei 11.187/2005, ao estabelecer o agravo retido como regra, deixou
expressamente delimitada as hipóteses onde seria possível a interposição do agravo
de instrumento, hipóteses essas que conforme ensina Didier Jr. e Cunha (2016, p.
204-205) seriam:
(a) quando se tratasse de decisão suscetível de causar à parte lesão
grave e de difícil reparação; (b) nos casos de inadmissão da
apelação; e (c) nos relativos aos efeitos em que a apelação fosse
recebida. Na liquidação de sentença e na execução, o agravo
haveria sempre de ser de instrumento.
27
Nota-se que cada vez mais o legislador foi restringindo o agravo de
instrumento para situações bem específicas, e agora com o CPC/2015, sai de cena
o agravo retido, ficando apenas o agravo de instrumento como forma imediata de
impugnação das decisões interlocutórias e, ainda assim, para casos bem
específicos, já que se passa a ter um rol taxativo de casos onde será possível a
interposição do agravo de instrumento, alterações que serão abordadas a seguir.
Com o agravo retido fora de cena, restou somente o agravo de instrumento
como forma de impugnação imediata das decisões interlocutórias, e limitado a um
rol taxativo conforme se viu, buscando com isso celeridade processual como forma
de se ter um processo cada vez mais fluido, o que não era possível no CPC/1973
quando era possível se agravar de toda decisão interlocutória, levando na maioria
das vezes a um processo truncado e com inúmeros incidentes de arrasto.
Um rol taxativo contendo as hipóteses onde será possível a interposição do
agravo de instrumento, conforme estabelece o artigo 1.015, não é novidade no
ordenamento brasileiro, já que no antigo Código de Processo Civil de 1939 já se
estabelecia um rol de decisões interlocutórias que seriam impugnáveis de imediato
(ASSIS, 2017).
O agravo de instrumento no CPC/2015 passa a ser o recurso cabível contra
decisões interlocutórias previstas nos incisos do artigo 1.015, tratando-se de um rol
taxativo, mas não exaustivo, já que deixa em aberto a possibilidade de outras
disposições legais preverem outros casos de cabimento do agravo de instrumento
(CÂMARA, 2016).
O fato de não serem todas as decisões interlocutórias recorríveis de imediato
não quer dizer que as decisões que não constem no rol do artigo 1.015 não serão
impugnáveis, até porque se assim fosse se estaria violando o contraditório e a ampla
defesa, direitos constitucionalmente garantidos conforme artigo 5º, inciso XLV, da
CF, somente se está adiando o contraditório quanto a tais decisões, já que terá um
momento correto para impugná-las, conforme ensina Theodoro Junior (2016, p.
685):
28
[...] todas as interlocutórias são passíveis de impugnação recursal. O
que há são decisões imediatamente atacáveis por agravo de
instrumento (NCPC, art. 1.015) e outras que se sujeitam, mais
remotamente, ao recurso de apelação (art. 1.009, § 1º). De tal sorte
pode-se reconhecer que todas as sentenças desafiam apelação e
todas as decisões interlocutórias são recorríveis, ora por meio de
agravo de instrumento, ora por meio de apelação.
As decisões interlocutórias agraváveis de imediato proferidas na fase de
conhecimento estão sujeitas a preclusão, logo, se após a decisão a parte não
interpor recurso ocorrerá preclusão do direito de impugnar essa decisão
futuramente. As decisões não agraváveis de imediato não precluem, mas devem ser
impugnadas na apelação ou em contrarrazões de apelação, do contrário haverá
preclusão (DIDIER JR.; CUNHA, 2016).
O CPC/2015 caminhou num sentido similar à atual justiça do trabalho10 em
que vigora a regra de que as decisões interlocutórias são irrecorríveis de imediato,
cabendo a parte apenas protestar contra a decisão que deseja impugnar, para que
desejando possa recorrer no momento oportuno que será em eventual recurso
ordinário contra sentença, assim se consegue muito mais celeridade, evitando-se
que processo tramite com inúmeros incidentes de arrasto que levam a morosidade
na resolução definitiva do processo.
É de se observar, no entanto, o apontamento feito no capítulo primeiro
referente ao caput do artigo 278 do CPC/2015, aonde se chegou à conclusão que,
nos casos onde o ato decisório do juiz estiver eivado de uma nulidade relativa deve
a parte suscitar no momento da decisão a insatisfação com a decisão, sinalizando
que futuramente pensa em recorrer se for o caso, de modo a não surpreender
futuramente a parte contrária em preliminar de eventual recurso de apelação, assim
acaba que concernente as interlocutórias não agraváveis de imediato a sistemática
ficou muito similar ao que já ocorre na justiça do trabalho.
10 "Súmula 214 do TST. DECISÃO INTERLOCUTÓRIA - IRRECORRIBILIDADE. Na Justiça do Trabalho, nos termos do art. 893, §1º, da CLT, as decisões interlocutórias não ensejam recurso de imediato, salvo nas hipóteses de decisão: a) de Tribunal Regional do Trabalho contrária à Súmula ou Orientação Jurisprudencial do Tribunal Superior do Trabalho; b) suscetível de impugnação mediante recurso para o mesmo Tribunal; c). que acolhe exceção de incompetência territorial, com a remessados autos para Tribunal Regional distinto daquele a que se vincula o juízo excepcionado consoante o disposto no art. 799, § 2º, da CLT".
29
Como se observa no diploma processual de 1973, o legislador deixava para
as partes o controle de decidir quando uma decisão poderia causar à parte lesão
grave e de difícil reparação, no sentido de que as partes que decidiam se de
determinada decisão iriam interpor agravo de instrumento ou retido, demonstrando a
ingenuidade do legislador, pois ao não estabelecer uma sanção, caso não fosse de
fato caso de agravo de instrumento, fica fácil imaginar o que a parte faria, já que
como última consequência teria a conversão do mesmo em agravo retido (ASSIS,
2017).
O CPC/2015 estabeleceu um rol de casos onde se presume haver tal lesão
grave e de difícil reparação, isso se deu provavelmente pelos abusos que ocorriam,
já que as partes ao invés de usar corretamente o instrumento processual o usavam
em qualquer situação, ou seja, acabavam banalizando o instrumento com a
interposição demasiada de agravos de instrumento.
Atualmente o rol taxativo das hipóteses onde será possível a interposição do
agravo de instrumento está no artigo 1.015, inciso I ao XIII, do CPC/2015, as quais
serão analisadas brevemente, logo, todas as decisões que não estiverem previstas
nesse rol e, não existir previsão em lei do cabimento de agravo de instrumento,
somente serão impugnáveis via apelação.
O inciso I, trata da decisão que conceda, negue, revogue ou modifique a
tutela provisória, que está regulada no artigo 300 e seguintes do CPC/2015, essa
tutela pode ser de urgência ou de evidência. Ainda conforme ensina Didier Jr e
Cunha (2016), não permitir o recurso de imediato nesse caso seria negar o acesso
ao duplo grau de jurisdição, impedindo que uma ameaça ou grave lesão pudesse ser
evitada com eficiência se analisada pelo tribunal de imediato.
Já o inciso II, trata das decisões interlocutórias que resolvem parcialmente o
mérito do processo, assim toda decisão que for de mérito e não encerre o processo
será agravável, conforme ensina Assis (2017, p.464):
30
O julgamento antecipado parcial de mérito comporta agravo de
instrumento (art. 356, § 5.º). Pode acontecer, igualmente, julgamento
conforme o estado do processo quanto à parte do mérito, havendo
negócio jurídico bilateral (transação) ou unilateral (reconhecimento
do pedido, renúncia) parcial, hipótese em que também caberá agravo
de instrumento (art. 354, parágrafo único). Também se concebe que,
formulado dois ou mais pedidos, um deles comporte improcedência
liminar (v.g., porque prescrito, incidindo o art. 332, § 1.º), hipótese em
que, nessa parte, a sentença definitiva comportará agravo de
instrumento.
O inciso III, traz a hipótese de quando o juiz rejeitar a alegação de convenção
de arbitragem, impugnação que normalmente a parte fará na contestação, nos
termos do artigo 337, inciso X, do CPC/2015, no caso de o juiz acolher a alegação
será caso de extinção do processo sem julgamento do mérito, nos termos do artigo
485, inciso VII, portanto apelável. Didier Jr. e Cunha (2016, p.216) defendem que já
que a questão discutida nesse inciso é uma decisão referente à competência, seria
possível por analogia impugnar com base nesse inciso, outros casos em que o juiz
decida sobre competência, conforme se vê:
A decisão relativa à convenção de arbitragem é uma decisão que
trata de competência. Se a decisão que rejeita a alegação de
convenção de arbitragem agravável, também deve ser agravável a
que trata de uma competência relativa ou absoluta.
No caso onde houver decisão referente à desconsideração da personalidade
jurídica, a decisão interlocutória que decide a desconsideração será agravável,
conforme o inciso IV, no entanto não será agravável se o requerimento da
desconsideração for na inicial, já que no caso por ser decidida na sentença caberá
apelação, conforme ensina Didier Jr. e Cunha (2016, p. 218):
[...] só é agravável a desconsideração da personalidade jurídica
resolvida em decisão interlocutória, quando houver o respectivo
incidente. Quando a desconsideração é resolvida na sentença, não
cabe agravo de instrumento; o que cabe é apelação. Nesse sentido,
o enunciado 390 do Fórum Permanente de Processualistas Civis:
"Resolvida à desconsideração da personalidade jurídica na sentença,
caberá apelação".
31
O inciso V trata das decisões referentes à gratuidade da justiça, quando esta
é rejeitada ou quando é acolhido o pedido de sua revogação, inciso que apenas
reitera o que já está disposto no artigo 100 do CPC/2015. Este agravo terá afeito
suspensivo nos termos do artigo 101, parágrafo 1º, do CPC/2015, assim a parte não
precisará recolher custas até a decisão do relator. Ainda importante frisar que será
apelável a decisão do juiz que não revogar o benefício da gratuidade, já que se trata
de uma decisão interlocutória não agravável de imediato (DIDIER JR.; CUNHA,
2016).
O inciso VI cuida dos casos onde se decida sobre exibição ou posse de
documento ou coisa, assim sempre que for instaurado um incidente processual para
exibição de documento ou coisa, procedimento previsto nos artigos 396 a 400,
caberá o agravo de instrumento, pois a decisão que resolve o incidente é
interlocutória. No entanto segundo Didier Jr. e Cunha (2016), se no caso for
necessário ser instaurado um processo incidental este será resolvido por sentença,
logo apelável.
O inciso VII conforme ensina Assis (2017), cuida da decisão que exclui um
litisconsorte ativo ou passivo, assim o juiz decidindo pela exclusão do litisconsorte
do processo, seja por considerar desnecessária ou ilegítima sua participação,
poderá a parte excluída lançar mão do agravo de instrumento.
O inciso VIII trata da decisão que rejeita o pedido de limitação de
litisconsortes, que ocorre em casos onde há excesso de pessoas em algum dos
pólos da relação processual, assim conforme demonstra Assis (2017), sempre que
estivermos diante de um litisconsórcio facultativo e/ou simples, poderá a parte,
normalmente o réu, requerer a limitação de pessoas no mesmo pólo, pois esse
excesso pode vir a prejudicar a defesa ou comprometer a rápida solução do litígio,
nos termos do artigo 113, parágrafo 1º do CPC/2015, e contra a rejeição do juiz
quanto a esse pedido de limitação caberá agravo de instrumento.
Nos casos onde o juiz decide pela admissão ou inadmissão de intervenção de
terceiro no processo o recurso cabível será o agravo, é o que preceitua o inciso IX
do CPC/2015, assim sempre que terceiro decidir ingressar no processo, seja como
assistente simples ou litisconsorcial, essa decisão do juiz quanto à admissão ou
inadmissão será agravável de imediato, já que postergar essa decisão para depois
32
poderia causar prejuízos irreparáveis para interveniente. No entanto, quando
estivermos diante da figura do amicus curiae11 ou amigo da corte como é conhecido,
da decisão do juiz que o admite ou inadmite, não caberá recurso, seja por
instrumento ou posteriormente na apelação, por previsão expressa no artigo 138,
caput, do CPC/2015.
No inciso X existe uma previsão de agravo um tanto quanto desnecessária, já
que conforme demonstram Didier Jr. e Cunha (2016) existem outros dois incisos que
poderiam sustentar o cabimento de agravo de instrumento contra essa decisão, pois
o inciso determina que contra decisão que conceda, modifique, ou revogue o efeito
suspensivo aos embargos à execução caberá o agravo, acontece que o inciso I do
artigo 1.015 já determina que contra decisões relativas a tutela provisória (qualquer
decisão), caberá agravo, e o parágrafo único do 1.015, que determina que no caso
de processo de execução qualquer decisão interlocutória será agravável por
instrumento de imediato.
O inciso XI cuida das decisões do juiz referente à inversão do ônus da prova,
já que em regra o ônus é de quem alega, mas pode o juiz diante das peculiaridades
do caso concreto, considerar necessária a inversão, ou porque a produção da prova
é impossível para uma das partes ou por ser de extrema dificuldade, invertendo
assim o ônus da prova para parte que pode mais facilmente produzi-la, nos termos
do artigo 373, parágrafo 1º do CPC/2015, é a chamada inversão dinâmica do ônus
da prova.
O inciso XII ainda prevê a possibilidade de interposição do gravo de
instrumento em outras hipóteses desde que previstas em lei.
O parágrafo único do artigo 1.015 ainda deixa claro que nos casos de
decisões interlocutórias proferidas em fase de liquidação de sentença, cumprimento
de sentença, processo de execução e no processo de inventário, será possível
interpor agravo de instrumento independente do conteúdo da decisão.
Todas as demais decisões interlocutórias que não estiverem nas hipóteses do
artigo 1.015 terão seu momento de impugnação diferido para eventual apelação ou
11 “O amicus curiae é o terceiro que, espontaneamente, a pedido da parte ou por provocação do órgão jurisdicional, intervém no processo para fornecer subsídios que possam aprimorar a qualidade da decisão” Didier Jr. e Cunha (2016, p. 529).
33
contrarrazões de apelação, assim com essa substancial mudança quanto à
recorribilidade de tais decisões, necessário se faz analisar como lidar com
determinadas situações que podem surgir dessa inovação, principalmente, a
questão objeto do presente trabalho, que é o interesse recursal do integralmente
vencedor para apelar exclusivamente uma decisão interlocutória não agravável de
imediato.
Após serem vistas as mudanças ocorridas quanto à recorribilidade das
interlocutórias e se ter brevemente analisado cada uma das hipóteses suscetíveis de
agravo de instrumento, passa-se agora a avaliar cada uma das hipóteses de
impugnação contra decisão interlocutória não agravável de imediato, pela parte
vencida em preliminar de apelação e pela parte vencedora em contrarrazões de
apelação.
2.2 A parte vencida e a impugnação da interlocutória na apelação
A primeira hipótese de impugnação contra interlocutória não agravável, que
não traz maiores mistérios, é a do vencido, quando esse trará em preliminares de
sua apelação a impugnação contra a interlocutória que lhe prejudicara no curso do
processo, hipótese esta prevista no parágrafo 1º do artigo 1.009 do CPC/2015, que
será vista a seguir.
Quando a parte for sucumbente na demanda principal, surgirá para esta o
interesse recursal, já que terá a faculdade de recorrer da sentença impugnando os
capítulos da sentença que lhe foram desfavoráveis. Ocorre que no curso do
processo pode ter sido proferida alguma decisão que de imediato não era agravável,
nos termos do artigo 1.015 do CPC/2015, abrindo-se, no momento da apelação, a
possibilidade da parte impugnar essa decisão interlocutória em preliminar das
razões do seu recurso de apelação.
A parte sucumbente quando for o momento de interpor seu recurso de
apelação, deverá, preliminarmente, impugnar a decisão interlocutória, já que esta
quando não agravável no curso do processo tem seu momento de impugnação
diferido para esse momento, assim, se aparte em apelação apenas impugnar a
34
sentença deixando de lado a decisão interlocutória ocorrerá preclusão quanto à
interlocutória, não podendo mais a parte discuti-la (DIDIER JR.; CUNHA, 2016).
Importante destacar que apesar do artigo 1.009, parágrafo 1º, do CPC/2015,
dizer que à interlocutória deva ser impugnada em preliminar do recurso de apelação,
preliminar aqui não se refere à admissibilidade, significa apenas que a impugnação
será feita antes (DIDIER JR.; CUNHA, 2016).
Quando a parte vencida apelar e nesta impugnar a interlocutória, haverá parte
da apelação impugnando a sentença e outra a decisão interlocutória, as duas
impugnações estarão contidas num único instrumento de apelação, havendo entre
elas uma cumulação imprópria de pedidos, mais especificamente uma cumulação
subsidiária ou eventual12, já que somente se analisará o pedido relativo à sentença
no caso de ser rejeitado o pedido relativo à interlocutória (DIDIER JR.; CUNHA,
2016).
Caso a parte vencida decida recorrer apenas da decisão interlocutória a
sentença ficará sob condição suspensiva aguardando o julgamento da decisão
interlocutória, situação é a mesma que ocorria no CPC/1973 no caso do agravo de
instrumento capaz de comprometer a sentença, e que ao tempo desta ainda não
havia sido julgado.
A impugnação da interlocutória na apelação do vencido não apresenta
maiores mistérios, assim passa-se ao segundo caso que pode vir a ocorrer que é a
impugnação à interlocutória em contrarrazões da apelação pelo vencedor.
2.3 A parte vencedora e a impugnação da interlocutória nas contrarrazões
Quando a parte for plenamente vencedora no processo ela não terá interesse
recursal para impugnar as decisões interlocutórias, já que com a sentença não terá
sucumbido formalmente nem materialmente, porém, poderá impugnar as
interlocutórias nas suas contrarrazões, pois caso seja procedente a apelação do
12 “O demandante estabelece uma hierarquia/preferência entre os pedidos formulados: o segundo só será analisado se o primeiro for rejeitado ou não puder ser examinado (falta de um pressuposto de exame de mérito)” Didier Jr. e Cunha (2016, p. 577-578).
35
vencido surgirá o interesse recursal do até então vencedor, tema que passa a ser
visto a seguir.
Inicialmente se faz necessário explicar um descuido ocorrido na redação do
artigo 1.009, parágrafo 1º do CPC/2015, já que foi usado o termo “suscitar”, redação
usada no sentido de reiterar o extinto agravo retido, isso se deu devido a alterações
durante o projeto do CPC/2015, já que inicialmente o projeto estabelecia que nos
casos de decisões interlocutórias não agraváveis deveria ser feito um protesto
antipreclusivo, que deveria ser reiterado na apelação ou contrarrazões de apelação,
conforme ensina Didier Jr. e Cunha (2016, p. 168):
O dispositivo foi reincluído, na versão final do Código de Processo
Civil, na última fase do processo legislativo, por sugestão da
Comissão de Juristas que assessorava o Senado Federal. Na
Câmara dos Deputados, o dispositivo havia sido eliminado e, em seu
lugar, se exigia que a parte apresentasse um protesto antipreclusivo
contra as decisões interlocutórias não agraváveis. Este protesto teria
de ser ratificado na apelação ou nas contrarrazões. Com a
eliminação do agravo retido e com a retirada da previsão do protesto,
feita pela Câmara dos Deputados, o sistema foi totalmente
remodelado.
Assim quando se estiver lendo artigo 1.009, parágrafo 1º do CPC/2015, o
termo “suscitar” deve agora ser lido como impugnar, já que deixou de existir o
agravo retido, e não é lógico usar uma expressão que era usualmente utilizada no
sentido de ratificar algo, pois agora não se está a ratificar nada e sim a interpor o
recurso cabível contra uma decisão interlocutória que é apelável.
Após entender em qual sentido deve ser lida a palavra “suscitar”, fica evidente
que no momento que a parte vencedora está impugnando a decisão interlocutória
nas contrarrazões do recurso de apelação, está em realidade trazendo um recurso
autônomo dentro desta, e que conforme ensina Didier Jr e Cunha (2016), não há
como não fazermos uma comparação com a reconvenção que agora no CPC/2015
deve ser apresentada na contestação, é a mesma lógica, um único instrumento que
veiculará tanto as contrarrazões do recorrido quanto o recurso contra interlocutória
não agravável de imediato.
36
Logicamente, por se estar diante de um recurso, caso a parte apresente
apenas as contrarrazões ao recurso de apelação, restará preclusa a decisão
interlocutória que o prejudicara no curso do processo, pois terá perdido o momento
processual para impugná-la, não podendo o tribunal analisar essa interlocutória no
momento da apelação já que a parte não devolveu para o tribunal essa questão,
conforme mostra Didier Jr. e Cunha (2016, p. 169):
A apelação do vencido não devolve ao tribunal o exame das
decisões interlocutórias não agraváveis desfavoráveis ao vencedor.
Somente a apelação do vencedor, interposta nos termos do § 1° do
art. 1.009, CPC, tem aptidão para devolver o exame das decisões
interlocutórias não agraváveis contra ele proferidas. Caso não
interponha esta apelação, haverá preclusão quanto à possibilidade
de reexame dessas decisões.
Partindo-se desse cenário, onde temos o vencedor na demanda principal
recorrendo da decisão interlocutória nas contrarrazões do recurso de apelação do
vencido, desdobram-se outras situações a serem analisadas, pois o recurso contido
nas contrarrazões será subordinado e condicionado, e as peculiaridades de cada
caso serão vistos a seguir.
Para melhor entender o que seria um recurso subordinado e condicionado, o
melhor é analisar separadamente cada uma dessas características que integram o
recurso contra interlocutória apresentado em contrarrazões da apelação.
A palavra recurso subordinado sob a ótica do CPC/1973, nos remete
diretamente ao recuso na forma adesiva, que é a possibilidade que a parte possui de
nos casos de sucumbência recíproca no processo, dentro do prazo das
contrarrazões, recorrer de forma adesiva ao recurso do recorrente. Importante
salientar que não se trata de outra espécie de recurso; é um recurso de apelação
que adere ao recurso de apelação do apelante, conforme afirma Câmara (2016, p.
529) “[...] recurso adesivo não é uma espécie de recurso (como a apelação ou o
agravo de instrumento), mas uma forma de interposição de certos recursos”.
A técnica foi criada como forma de não prejudicar a parte que apesar de não
ter sido vencedora integralmente no processo aceitou a decisão, tanto que preferiu
não recorrer, assim não seria justo que a parte deixasse de recorrer achando que a
37
parte contrária faria o mesmo e, logo após, fosse surpreendida com um recurso e
nada pudesse fazer além de apresentar suas contrarrazões.
O recurso subordinado se submete as mesmas condições de admissibilidade
do recurso principal, conforma ensina Assis (2017, p. 36) “O recurso subordinado
submete-se às mesmas condições de admissibilidade, conforme reza o art. 997,
parágrafo 2°, processamento e efeitos do recurso principal, salvo disposição em
contrário”, assim, apesar de subordinado ao principal deverá observar todos os
requisitos de admissibilidade analisados no primeiro capítulo.
O recurso subordinado é assim chamado por estar ligado diretamente ao
principal, dependendo desse para sobreviver, tanto que estabelece o artigo 927,
parágrafo 2º, III, que não será conhecido o recurso subordinado se houver
desistência ou não for admitido o recurso principal, logo, ocorrendo alguma dessas
hipóteses, o recurso subordinado, independente do seu conteúdo, não será nem
mesmo conhecido, conforme ensina Câmara (2016, p.529):
[...] sempre que o tribunal deixar de conhecer do recurso principal
(por ter havido desistência, ou por ser ele por qualquer razão
reputado inadmissível) estará, automaticamente, fechada a porta
para o exame do mérito do recurso adesivo, do qual não se
conhecerá. Prevalecerá, assim, a decisão recorrida (o que para o
recorrente adesivo não é de todo ruim, já que, como visto, não
pretendia ele, a princípio, recorrer contra aquela decisão, só o tendo
feito porque o recurso principal foi interposto pela parte adversária).
Acontece que com o CPC/2015, não se deve mais vincular recurso
subordinado unicamente ao recurso adesivo, pois com o surgimento da decisão
interlocutória recorrível na apelação nasce uma nova espécie de recurso
subordinado, que é justamente o recurso contra interlocutória trazido pelo vencedor
nas contrarrazões ao recurso de apelação do vencido. Assim, no atual diploma
processual, recurso subordinado passa a ser gênero dos quais passam a ser
espécies o recurso na forma adesiva e o recurso contra interlocutória apresentado
nas contrarrazões de apelação (DIDIER JR.; CUNHA, 2016, p.170-171).
Por se estar diante de uma figura recursal que passa a ser espécie de recurso
subordinado ao lado do recurso adesivo, eventuais dúvidas a serem dirimidas
38
quanto ao primeiro devem observar o 997 do CPC/2015, conforme ensina Didier Jr.
e Cunha (2016, p. 171) “Por serem espécies de um mesmo gênero, é possível
buscar, na disciplina do recurso adesivo, muito mais completa, regra que sirva para
a solução de problemas dogmáticos relacionados à apelação subordinada”.
O recurso trazido pelo vencedor em contrarrazões possui também outra
característica, que é o fato de ser condicionado ao recurso do vencido, pois,
somente será analisado caso o recurso do vencido seja provido, e é exatamente
com o provimento do recurso do vencido que o recurso do vencedor adquire o
interesse necessário para ser analisado, sendo assim uma espécie de recurso
condicionado, o que não é novidade para doutrina (DIDIER JR.; CUNHA, 2016,
p.170-171).
Outro autor que reconhece como sendo condicionado o recurso de apelação
do vencedor trazido nas contrarrazões à apelação do vencido é Neves (2016,
p.1545) “Caberá ao apelado em contrarrazões requerer o julgamento de sua
impugnação de decisão interlocutória somente na hipótese de provimento da
apelação da parte contrária”.
Ocorre que existe posição diversa quanto à natureza do recurso contra
interlocutória trazido em contrarrazões do recurso de apelação do vencido, o
professor Rogério Licastro (2015, p.2176), entende que esse recurso teria
autonomia e não dependeria do rumo da apelação principal para definir o seu,
conforme leciona:
[...] se, por alguma razão, a apelação é inadmitida por
intempestividade por exemplo, ou deixa de existir por qualquer outro
motivo (desistência do recurso), não necessariamente as
contrarrazões deixarão de ter utilidade e relevância: se nas
contrarrazões houver o apelado suscitado impugnação relativamente
a alguma decisão interlocutória, e se for pertinente sua apreciação
pelo tribunal pois ainda não foi extinto o interesse recursal do
apelado a respeito, pensamos que as contrarrazões que contenham
impugnação de decisão interlocutória, mesmo que a apelação não
mais exista, deverão ser apreciadas pelo tribunal, demonstrando-se
que remanesce o interesse de agir, repita-se, do apelado a respeito.
39
Outros autores que compartilham do entendimento de que o recurso trazido
nas contrarrazões não é subordinado ao do vencido é Talamini e Wambier (2016,
p.261), já que para eles o recurso do vencedor não pode ficar a sorte da apelação
do vencido, conforme se vê:
Isso significa que o conhecimento dessa impugnação à interlocutória,
pelo tribunal, não ficará com sua sorte atrelada ao conhecimento da
apelação do adversário, como ficaria o recurso adesivo. Vale dizer,
se a apelação for inadmitida ou se o recorrente dela desistir, a
impugnação à interlocutória contida nas contrarrazões não seguirá
necessariamente o mesmo destino que o recurso principal.
Subsistindo o interesse de agir, a impugnação recursal contida nas
contrarrazões será apreciada pelo tribunal independentemente do
desfecho da apelação.
Apesar de não se o objetivo do trabalho definir a natureza jurídica desse
recurso trazido em contrarrazões (se é ou não subordinado), não há como entender
correta a autonomia do recurso contra interlocutória trazido nas contrarrazões, já
que o artigo 1.009, parágrafo 1º, é claro ao dizer que o recurso será impugnado em
preliminar de apelação ou nas suas contrarrazões, logo é evidente a subordinação
desse recurso, pois se o vencido na demanda apelar e, vir a desistir do recurso ou
este vir a não ser admitido, com qualquer desses resultados o vencedor deixaria de
ter o interesse recursal que o possibilitou impugnar a interlocutória.
Referente às decisões interlocutórias não agraváveis, existe ainda uma
terceira hipótese que é o problema do presente trabalho, que recai quanto à
possibilidade, ou não, do inteiramente vencedor na demanda principal apelar de
forma autônoma contra interlocutória não agravável de imediato, no caso, seria
possível essa impugnação, ou não? Existiria para o vencedor da demanda o
interesse recursal para apelar exclusivamente contra essa interlocutória? É o que o
trabalho se propõe a responder no próximo capítulo.
40
3 A DOUTRINA E A JURISPRUDÊNCIA QUANTO À APELAÇÃO EXCLUSIVA
CONTRA INTERLOCUTÓRIA NÃO AGRAVÁVEL
3.1 Apelação do vencedor exclusivamente contra interlocutória não agravável
Após analisar as mudanças ocorridas com o CPC/2015, referente à
recorribilidade das interlocutórias não agraváveis de imediato, pelo vencido e pelo
vencedor em contrarrazões, nos termos do parágrafo 1º do artigo 1.009, chega-se a
uma terceira situação, que se resume na possibilidade, ou não, do vencedor na
demanda principal apelar exclusivamente contra decisão interlocutória, recaindo tal
análise inicialmente a doutrina vem dizendo sobre o assunto, conforme se passa ver.
Como ponto de partida para resolução do problema, se faz necessário um
exame sobre o que a doutrina vem dizendo sobre o assunto, assim serão expostos
os argumentos dos autores favoráveis a essa possibilidade (apesar de nenhum
deles explicar juridicamente porque seria possível e apenas se basear em
exemplos), que segundo eles, demonstrariam a possibilidade da ocorrência.
Como forma de defender a impossibilidade de se apelar exclusivamente
contra interlocutória, posição defendida no presente trabalho e, para melhor
demonstrar os equívocos dos autores favoráveis, se confrontará cada um dos
argumentos trazidos, de modo a desconstruir esses exemplos que legitimariam tal
possibilidade.
O primeiro autor a mostrar-se favorável a essa possibilidade é Neves (2016,
p.1545), que considera que não obstante rara a ocorrência, seria possível, mesmo
reconhecendo a problemática que se teria em torno do interesse de agir, conforme
ensina:
O cabimento para mim é indiscutível, porque a apelação, conforme já
exposto, deixou de ser o recurso cabível exclusivamente contra a
sentença. A questão mais tormentosa diz respeito ao interesse de
agir. Acredito que o mesmo interesse de agir existente no julgamento
das contrarrazões quando a apelação é inadmitida resolve a questão.
Inclusive o mesmo exemplo pode ser utilizado. A parte foi vitoriosa,
mas sofreu multa como sanção processual durante o processo por
meio de decisão interlocutória. Se não quiser depender da parte
contrária para recorrer de tal decisão, poderá interpor apelação.
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O trecho onde Neves (2016 p.1545) diz que “[...] o mesmo interesse de agir
existente no julgamento das contrarrazões quando a apelação é inadmitida resolve a
questão”, mostra-se equivocado, já que, conforme defende o trabalho, o recurso
contra interlocutória apresentado nas contrarrazões é recurso subordinado, assim,
somente será analisado no caso de eventual provimento da apelação do vencido,
provimento este que dará surgimento ao interesse recursal necessário ao recurso
contra interlocutória apresentado nas contrarrazões.
Em outro exemplo, Neves (2016, p.1546) ainda exemplifica que no caso de
em uma ação coletiva ou difusa, se o réu pedisse no curso do processo a produção
de uma determinada prova e esse pedido fosse negado pelo juiz, vindo o processo a
ser julgado improcedente, o réu poderia apelar em razão de ter sucumbido
materialmente, já que estarmos diante de um processo onde a coisa julgada se
opera secundum eventum probations, logo, não teria problema quanto ao interesse
recursal, já que poderia apelar contra a fundamentação da sentença e
preliminarmente discutir o indeferimento da produção da prova. Tal posicionamento
mostra a preocupação do autor em ter um veículo, no caso a apelação, para poder
recorrer da interlocutória.
No entanto o autor (NEVES, 2016) conclui dizendo que apesar de entender
ser uma situação difícil de ocorrer, para que a parte não corra o risco de ver seu
recurso de apelação exclusivamente contra interlocutória inadmitido13, deve esta
apelar contra sentença por qualquer motivo que o seja e veicular sua impugnação a
interlocutória de forma segura em preliminar desta, mas não responde como a parte
vai apelar caso não tenha sucumbido em nada na sentença. Infelizmente o autor
encerra assim sua explicação quanto ao assunto, não respondendo de onde a parte
integralmente vencedora tiraria o interesse recursal para apelar exclusivamente
contra interlocutória não agravável.
Os autores Talamini e Wambier (2016) também defendem em sua obra a
possibilidade do vencedor na demanda principal apelar exclusivamente contra
decisão interlocutória, mesmo que tenha saído vencedor integralmente na demanda
e não tenha sido prejudicado na sentença pela decisão interlocutória. Tal
posicionamento não se mostra razoável, já que se a parte foi integralmente
13 Sinalizando a sua preocupação com o entendimento doutrinário contrário.
42
vencedora não existe no caso interesse recursal capaz de legitimar um recurso de
apelação, sendo que a palavra “integralmente” usada pelos autores denota que não
tenha ocorrido nem mesmo sucumbência material, afastando-se assim qualquer
possibilidade de existência de algum interesse.
Os autores trazem como exemplo a demonstrar essa possibilidade, o caso de
multa por litigância de má fé proferida por decisão interlocutória, dizendo que por
não haver possibilidade de agravo de instrumento, em razão de não encontrar
amparo no artigo 1.015, do CPC/2015, se estaria diante de um caso onde caberia
essa apelação exclusivamente contra interlocutória, conforme mostra Talamini e
Wambier (2016, p.262):
Ao final, ele, autor, é integralmente vitorioso na sentença. Não tem
do que recorrer quanto a esse pronunciamento. Mas permanece
aquela anterior condenação por litigância de má-fé, imposta por
decisão interlocutória. O autor pode nada fazer, num primeiro
momento, e depois, se o réu apelar, suscitar nas contrarrazões o
reexame da interlocutória que o responsabilizou processualmente.
Mas, nesse caso, se o réu não apelar, será impossível ao autor
discutir recursalmente a condenação que sofreu. Então, ele pode
preferir desde logo apelar para o tão-só fim de rediscutir aquela
decisão interlocutória.
No caso, os autores estão equivocados, já que essa decisão interlocutória
que condenou o vencedor ao pagamento de multa no curso do processo por
litigância de má fé é agravável, pois, no momento em que no curso do processo
ocorre uma condenação à parte, amplia-se o mérito deste, logo essa hipótese se
encaixa no inciso II do artigo 1.015 do CPC/2015, se a parte não recorreu nesse
momento não poderá discutir mais essa questão, pois estará preclusa (DIDIER JR.;
CUNHA, 2016).
A solução apresentada por Talamini e Wambier a legitimar a apelação
exclusiva contra decisão interlocutória não se mostra possível, já que ao juiz proferir
essa decisão de multa, está condenando a parte, abrindo assim possibilidade de
execução dessa condenação provisoriamente e, correndo o prazo do agravo in
43
albis14 já se poderá ter a execução definitiva da decisão, pois se terá o transito em
julgado quanto a esta.
Outro autor que defende a ideia de ser possível a interposição pelo vencedor
de apelação exclusivamente contra interlocutória não agravável é Câmara (2016,
p.532), conforme mostra “É, pois, perfeitamente possível que a parte apele sem
oferecer à sentença qualquer impugnação, limitada sua irresignação ao conteúdo de
alguma decisão interlocutória não agravável”. Essa afirmação do autor até estaria
correta desde que estivesse tratando do vencido na demanda principal, pois nesse
caso o interesse recursal seria inerente a sua sucumbência na sentença.
No primeiro exemplo que o autor traz, para demonstrar sua posição nota-se
que está fazendo a mesma interpretação dos autores acima, já que defende a
existência de um interesse recursal contra interlocutória desvinculado de haver uma
sucumbência na demanda. No exemplo, Câmara (2016, p.533), explica a existência
do interesse isolado do vencedor:
Pense-se, por exemplo, em um processo em que se postula bem
jurídico que não tenha conteúdo patrimonial apreciável, tendo o autor
indicado, na petição inicial, que o valor da causa seria de um milhão
de reais. Figure-se, agora, a possibilidade de o juízo de primeiro
grau, por decisão interlocutória não agravável, ter reduzido o valor da
causa para mil reais. Proferida a sentença que acolheu o pedido do
autor, declarando ser o réu seu pai, e fixando honorários
advocatícios em dez por cento sobre o valor da causa, não terá o
autor interesse em recorrer contra a sentença, mas é evidente seu
interesse (ou, ao menos, o interesse de seu advogado) em apelar
para impugnar a decisão interlocutória que reduziu o valor da causa
(afinal, é evidente que dez por cento de mil reais é muito menos do
que dez por cento de um milhão de reais).
No exemplo supracitado pelo autor, este incorre em um equívoco, já que no
caso apresentado, o autor traz na inicial um valor “X” para a causa, e o juiz por
decisão interlocutória reduz esse valor para “Y”, decisão essa irrecorrível de
imediato, de fato, acontece que no momento em que o juiz profere sentença e em
um dos seus capítulos condena a parte contrária a pagar sucumbência em cima do
valor “Y”, está-se diante de uma sucumbência, pois parcialmente a parte autora foi
14 Escoamento do prazo recursal sem que haja impugnação da parte.
44
vencida na demanda, surgindo dessa sucumbência parcial o interesse para que a
parte autora recorra do presente capítulo, e preliminarmente discuta a decisão
interlocutória, afastando-se a hipótese como caso de apelação exclusiva.
O mesmo exemplo trazido acima, do valor da causa reduzido por
interlocutória é o mesmo que o autor Rodrigo Barioni traz no seu artigo15, mas como
foi dito, o exemplo não serve para legitimar uma possível apelação unicamente
contra interlocutória, já que no caso existe uma sucumbência parcial da parte e,
como sucumbiu em parte, o recorrente terá o interesse necessário para apelar
contra a sentença e com isso trazer em preliminar a impugnação à interlocutória,
logo, esse interesse não é desvinculado, pois o parcialmente vencedor deverá
recorrer tanto da sentença referente ao capítulo que lhe prejudicou, quanto da
interlocutória que reduziu o valor da causa (DIDIER JR.; CUNHA, 2016, p.171).
Outra hipótese que Câmara (2016, p.533) usa como exemplo a possibilitar a
apelação exclusiva contra interlocutória mostra-se de maior equivoco que a anterior,
já que no exemplo que traz há previsão legal quanto à possibilidade do agravo de
instrumento, que é o caso onde a parte autora postula dois pedidos cumulados e, no
momento da decisão de saneamento do processo o juiz profere uma decisão
terminativa, relativa a um dos pedidos por ausência de interesse de agir, segundo o
autor nesse caso não caberia gravo de instrumento.
No caso, o exemplo trazido pelo autor vai diretamente contra o parágrafo
único do artigo 354 do CPC/2015, que expressamente prevê o agravo de
instrumento como recurso cabível contra decisão terminativa parcial, conforme
demonstra Donizetti (2017, p.1658): “Se as decisões proferidas com base nos arts.
485 e 487, II e III, forem apenas parciais, será cabível agravo de instrumento”.
Assim, se no exemplo do autor haviam dois pedidos cumulados e, em fase de
saneamento o juiz extinguiu um desses pedidos por falta de pressuposto processual,
portanto decisão terminativa parcial, ou a parte agrava de imediato com fundamento
no parágrafo único do artigo 354 ou a questão estará preclusa.
Segundo Carolina Uzeda Libardoni (2015, p.12), para que a parte vencida
tenha interesse em impugnar as interlocutórias não agraváveis de imediato, seria
15 Preclusão diferida, o fim do agravo retido e ampliação do objeto da apelação no novo Código de
Processo Civil
45
necessário um interesse complexo, que se caracterizaria com a dupla sucumbência,
sucumbência na sentença e na interlocutória, somente assim a parte teria o
interesse recursal necessário para impugnar a interlocutória.
Justamente por entender que não há interesse recursal autônomo no caso da
parte ser vencedora, entende que esta ao impugnar alguma interlocutória que lhe
prejudicara no curso no processo, deverá ter interesse recursal complexo e
condicionado, já que somente surgirá o interesse recursal para o vencedor com o
provimento da apelação do vencido (LIBARDONI, 2015, p.12).
No ponto que interessa para o problema ser respondido, Libardoni (2015, p.9-
10) entende que haverá casos específicos onde será possível interpor recurso de
apelação exclusivamente contra decisão interlocutória, defende que não é em
qualquer tipo de decisão interlocutória que a parte vencedora poderá impugnar
exclusivamente a interlocutória, mas somente quando inexistir uma relação de
prejudicialidade entre a essa e a sentença, conforme leciona: “Trata-se de um
recurso de apelação exclusiva e unicamente interposto em face de decisão
interlocutória, sem qualquer efeito sobre a sentença”.
Como forma de demonstrar tal possibilidade, Libardoni (2015, p.4) traz como
exemplo o famigerado exemplo da condenação em multa, no caso, por não
comparecimento à audiência de conciliação e mediação, conduta considerada como
ato atentatório à dignidade da justiça, sujeita a multa nos termos do parágrafo 8º do
artigo 334 do CPC/2015, conforme se vê:
[...] se a parte totalmente vencedora, sem qualquer interesse em
modificar a sentença, for aquela inicialmente multada por faltar à
audiência de conciliação ou mediação, poderia apelar apenas para
rever a decisão interlocutória? Ou seja, poderá fazer recurso
autônomo de apelação apenas para confrontar a multa arbitrada em
decisão interlocutória no início do processo? Parece-nos que sim,
especialmente porque a multa arbitrada em dois por cento da
vantagem pretendida ou do valor da causa constitui prejuízo à parte,
que pode chegar a valores altos, dependendo da natureza da
questão substancial discutida.
Acontece que a autora deixa bem claro que a parte foi totalmente vencedora,
e por isso não há interesse em modificar a sentença, caso encerrado! Se não há
46
interesse em modificar a sentença não há interesse recursal. E quanto à decisão
interlocutória que condena a parte em multa, conforme demonstraram Didier Jr. e
Cunha (2016), o incidente decidido por decisão interlocutória, e que condena a parte
ao pagamento de multa, amplia o mérito do processo, por trazer nela uma
condenação, logo estaremos diante da hipótese do inciso II do artigo 1.015 do
CPC/2015, portanto agravável.
Conforme se viu, todos os argumentos usados pelos autores que defendem
essa possibilidade da apelação exclusiva contra interlocutória giram em torno de três
exemplos: decisão interlocutória que condena a parte a pagar alguma multa no
curso da fase de conhecimento; vencedor que teve o valor da causa reduzida por
decisão interlocutória reduzindo assim a sucumbência do advogado e processo com
pedidos cumulados com decisão de saneamento que extingue um destes pedidos.
Acontece que todos os autores favoráveis a estas possibilidades não explicam
processualmente de onde surgiria o interesse recursal para tal impugnação.
Conclui-se então que não há de fato uma hipótese em que caberá apelação
exclusivamente contra interlocutória não agravável, na realidade, todos os exemplos
aventados ou são casos que eram agraváveis ou casos onde a parte sucumbiu de
alguma forma na sentença, e sendo a parte parcialmente sucumbente estará
presente o interesse recursal para se impugnar a sentença na parte que lhe
prejudicou e, preliminarmente, a interlocutória que eventualmente tenha acarretado
tal prejuízo.
A seguir será feita uma analise de como a jurisprudência de alguns tribunais
do país vem se posicionando sobre o assunto, mais especificamente em casos
envolvendo os exemplos trazidos pelos autores favoráveis a possibilidade da
apelação exclusiva.
3.2 A jurisprudência atual quanto às interlocutórias não agraváveis de imediato
Todos os autores que defendem a possibilidade da parte inteiramente
vencedora no processo poder apelar exclusivamente contra interlocutória, não
esclarecem processualmente a questão, apenas citam hipóteses, como forma a
justificar a possibilidade de tal apelação, e não o contrário como deveria ser, uma
47
explicação processual que desse amparo aos seus exemplos. Assim se passa a
analisar de que forma os tribunais de justiça, principalmente da região sul e sudeste,
vêm decidindo a questão, mais especificamente os exemplos trazidos pela doutrina
que legitimariam tal possibilidade, já que é somente nesses exemplos que a doutrina
se ampara para concluir ser possível a interposição pelo vencedor de apelação
exclusiva contra interlocutória.
Referente à decisão que condena a parte ao pagamento de multa no curso do
processo, os precedentes da maioria dos tribunais de justiça é no sentido de não ser
possível o agravo de instrumento contra interlocutória que condenou a parte ao
pagamento de multa, pois entendem que o conteúdo desta decisão não está contido
no rol do artigo 1.015, fundamentando suas decisões em posições doutrinárias que
dizem ser tratar de rol taxativo, ocorre que de fato, o rol é taxativo, porém, tal
decisão encontra-se sim presente no artigo 1.015, mais especificamente no inciso II,
pelos motivos já explicados acima.
No TJ-RS, os relatores em decisão monocrática, com fundamento no artigo
932, inciso II, do CPC/2015, vêm inadmitindo o agravo de instrumento contra
interlocutória que condena ao pagamento de multa, pois, entendem que com o atual
diploma processual, o rol de decisões onde se mostra possível a interposição do
agravo de instrumento é taxativa, não compreendendo a condenação por multa
neste rol, devendo a parte impugnar essa questão em preliminar de apelação,
conforme se vê:
AGRAVO DE INSTRUMENTO. RESPONSABILIDADE CIVIL EM
ACIDENTE DE TRÂNSITO. HIPÓTESE NÃO PREVISTA NO
ARTIGO 1.015 DO NCPC. RECURSO NÃO CONHECIDO. O Código
de Processo Civil de 2015 estabelece, no seu artigo 1.015, as
hipóteses de cabimento do agravo de instrumento. No caso em tela,
a matéria suscitada no recurso, relativa à aplicação de multa por ato
atentatório à dignidade da justiça, não se encontra prevista no rol do
mencionado dispositivo, sendo caso de não conhecimento do
recurso, porquanto inadmissível, à luz do artigo 932, III, do NCPC.
Agravo de instrumento não conhecido. (Agravo de Instrumento Nº
70074696709, Décima Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça
do RS, Relator: Umberto Guaspari Sudbrack, Julgado em
22/08/2017) (BRASIL, 2017).
48
Como se observa, a Décima Segunda Câmara Cível do TJ-RS trata o
incidente que condenou a parte ao pagamento de multa, nos termos do artigo 334,
parágrafo 8º, do CPC/2015, como decisão não elencada no rol do artigo 1.015, e por
consequência, não entendendo que esta amplie o mérito do processo, devendo ser
impugnada futuramente nos termos do parágrafo 1º do artigo 1.009 do CPC/2015.
No mesmo sentido entende a oitava Câmara Cível do TJ-PR, não admitindo a
interposição de agravo de instrumento neste momento, entendendo que se a parte
de forma não justificada, deixou de comparecer a audiência de conciliação e
mediação, deverá impugnar a decisão que lhe condenou ao pagamento de multa
somente em eventual apelação ou nas suas contrarrazões, conforme se demonstra
em obter dictum:
[...] conforme a jurisprudência, decisões interlocutórias que versem
sobre a aplicação de multas processuais em geral, bem como
aquelas relativas à sanção do art. art. 334, § 8.º, do CPC/15 (multa
por não comparecimento à audiência de conciliação), não são
impugnáveis pela via do agravo de instrumento [...] (BRASIL, 2016).
A Sétima Câmara Cível (Consumidor) do TJ-RJ e a Terceira Câmara Cível do
TJ-ES seguem o mesmo entendimento do TJ-RS e TJ-PR, entendendo pela
impossibilidade de se agravar da decisão que condenou a parte ao pagamento de
multa por ausência injustificada na audiência de conciliação ou mediação, por esta
não constar no rol do artigo 1.015 do CPC/2015, demonstrando o entendimento que
os tribunais de forma majoritária vêm seguindo, conforme se mostra em obter dicta:
O artigo 1.015 do Código de Processo Civil de 2015 estabeleceu rol
taxativo de decisões interlocutórias que se sujeitam ao recurso de
Agravo de Instrumento na fase de conhecimento, não estando entre
elas a decisão que fixa multa em razão da ausência da parte autora à
audiência de conciliação (BRASIL, 2017).
Sobre o tema, aliás, com muita propriedade, discorrem os
doutrinadores Fredie Didier Jr. e Leonardo Carneiro da Cunha,
senão vejamos: O Código de Processo Civil de 2015 eliminou a
figura do agravo retido e estabeleceu um rol de decisões sujeitas a
agravo de instrumento. Somente são agraváveis as decisões nos
casos previstos em lei. As decisões não agraváveis devem ser
atacadas na apelação (BRASIL, 2016, grifo nosso).
49
Interessante se mostra a obter dictum proferida pela Terceira Câmara Cível
do TJ-ES, já que cita os autores Fredie Didier Jr. e Leonardo Carneiro da Cunha,
para fundamentar sua decisão de inadmissibilidade do agravo de instrumento, sendo
que os próprios autores na mesma obra de onde foi tirada a citação16 defendem que
a parte deve impugnar de imediato, via agravo de instrumento, a decisão
interlocutória que a condenou ao pagamento de multa pelo não comparecimento à
audiência de conciliação ou mediação.
Apesar de se ter analisado decisões interlocutórias onde se aplicaram multas
pela ausência injustificada de uma das partes a audiência de conciliação e
mediação, com fundamento no artigo 334, parágrafo 8º, do CPC/2015, ao se
examinar as demais decisões desses tribunais se verá que contra qualquer decisão
interlocutória que condene a parte ao pagamento de multa no curso do processo o
entendimento é o mesmo, pela impossibilidade da interposição do agravo de
instrumento em razão da hipótese não constar no rol do artigo 1.015/CPC.
Apesar das decisões supracitadas existem tribunais que vêm decidindo
conforme o defendido pelo trabalho, que, caso seja proferida no curso do processo
decisão interlocutória que condene a parte ao pagamento de multa, essa decisão
ampliará o mérito do processo, logo, se encaixando na hipótese de inciso II do artigo
1.015, do CPC/2015, portanto agravável. Reitera-se assim o posicionamento
defendido neste trabalho, de que a decisão interlocutória que condena a parte ao
pagamento de multa, não serve como exemplo a possibilitar um recurso de apelação
do integralmente vencedor exclusivamente contra interlocutória, já que, se a parte
não agravou no momento da decisão terá ocorrido preclusão.
Entendendo que caberia agravo de instrumento contra decisão interlocutória
que condenou a parte ao pagamento de multa, foi o acórdão que julgou o agravo de
instrumento nº 22346397020168260000, onde o agravante havia sido condenado ao
pagamento de 5% de multa, por litigância de má-fé, condenação que apesar de ter
sido mantida, mostrou a mudança de posicionamento da 10ª Câmara de Direito
Público do Tribunal de Justiça de São Paulo, ao entender que contra decisão
16 DIDIER Jr., CUNHA. Curso de direito processual civil: Meios de Impugnação às Decisões Judiciáis e Processo nos tribunais. v. 3. 13. ed.Salvador: JusPodivm, 2016.
50
interlocutória que condenou a parte ao pagamento da multa por litigância de má-fé
seria cabível o recurso de gravo de instrumento:
O recurso, que versa apenas sobre a condenação da agravante ao
pagamento de multa por litigância de má-fé, não comporta
provimento. Revisito entendimento anterior, passando a entender
que o recurso cabível contra decisão que condena a parte ao
pagamento de multa por litigância de má-fé é o agravo de
instrumento, com fulcro no artigo 1.015, inciso II, do Novo CPC
(BRASIL, 2016).
Conforme consta no agravo de instrumento supracitado, restou entendido
que, a hipótese da multa por litigância de má-fé se encaixaria na hipótese do inciso II
do artigo 1.015 do CPC/2015, assim entendendo que esta decisão interlocutória que
condenou a parte em multa no valor de 5% do valor da causa ampliou o mérito do
processo, logo, caso a parte esperasse para impugnar a questão em eventual
recurso apelação, já teria ocorrido preclusão, conforme doutrina defendida no
trabalho.
Outra decisão favorável a tese aqui defendida foi a proferia pela segunda
câmara cível do Tribunal de Justiça do Acre, ao afirmar que a decisão interlocutória
que condena a parte ao pagamento de multa pelo não comparecimento à audiência
de conciliação ou mediação, nos termos do artigo 334, parágrafo 8º, do CPC/2015, é
recorrível por agravo de instrumento, já que a decisão amplia o mérito do processo,
citando em obter dictum as lições de Fredie Didier Jr. e Leonardo Carneiro da Cunha
para fundamentar sua decisão, conforme se vê:
Postas as razões do inconformismo da parte Agravante em linhas
pretéritas, registro a necessidade, antecedendo ao mérito, de aferir o
cabimento do recurso em face de decisão interlocutória que
aplica multa processual. Para tanto, tomo por empréstimo a lição
doutrinária de Didier: É possível que, durante o processo, o juiz
profira decisão impondo à parte multa. Há várias multas que podem
ser impostas ao longo do processo. Há multa pelo descumprimento
de deveres processuais (art. 77, § 2°,CPC). Há multa pela ausência
injustificada em audiência de conciliação ou mediação (art. 334,
§ 8°, CPC). Há multa imposta pela litigância de má-fé (art. 81, CPC).
Há multa pela não devolução dos autos (art. 234, § 1°, CPC)
(BRASIL, 2017, grifo nosso).
51
Pelas decisões acima expostas, nota-se que existem divergências nos
tribunais quanto à possibilidade, ou não, de interposição do agravo de instrumento
contra decisão interlocutória que condene a parte ao pagamento de multa no curso
do processo de conhecimento, no entanto, apesar de o entendimento majoritário na
jurisprudência ate o momento ser pela impossibilidade do agravo de instrumento
nesse caso, a posição defendida pelo trabalho segue sendo pela sua possibilidade,
sob pena de preclusão, pelos fundamentos já apresentados.
Outro exemplo que traz a doutrina para possibilitar à apelação do vencedor
exclusivamente contra interlocutória, é o caso da parte autora que tem o valor da
causa reduzida por decisão interlocutória, e por esta hipótese não se encontrar
no rol do artigo 1.015, seria mais um caso onde a parte poderia vencer a demanda,
e assim mesmo, se ver prejudicada por essa decisão que reduziu ao valor da
causa, já que irá refletir negativamente nos horários de sucumbência por exemplo.
Apesar de ainda não haver na jurisprudência um caso específico, exatamente
igual ao apresentado pela doutrina, para saber como a jurisprudência vem se
posicionando quanto à decisão interlocutória que defere ou rejeita a impugnação ao
valor da causa, através de alguns julgados dá para se presumir qual é o
entendimento que a jurisprudência dá para o caso.
A Terceira Câmara Cível do TJ-AM, em um recurso de apelação interposto
contra sentença proferida em incidente de impugnação ao valor da causa, decidiu
por inadmitir o recurso, já que como a sentença do incidente foi proferida quando o
CPC/2015 já estava vigente, deve-se aplicar a legislação processual de imediato,
que não mais regula um incidente para esta impugnação, devendo agora a
impugnação ao valor da causa se dar em contestação, com possibilidade de
impugnação de tal decisão em preliminares de apelação ou nas suas contrarrazões,
fundamentando a decisão nos seguintes termos:
Caberá ao apelante, em sendo de seu interesse, apresentar
recurso de apelação contra a sentença de mérito da ação
principal, impugnando o delineamento judicial ora combatido
para fixação do valor da causa, adotando o disposto no art. 1009, §
1.º, CPC/15 (BRASIL, 2016, grifo nosso).
52
Conforme se vê, o modo como a desembargadora decidiu a questão dá a
entender que, somente se a parte tiver o interesse necessário para impugnar a
decisão final, com o recurso de apelação atacando algum dos capítulos da sentença
(ou em havendo sucumbência material), se poderá trazer preliminarmente a decisão
que julgou a impugnação ao valor da causa, tanto que ela usa a expressão
“apelação contra sentença de mérito da ação principal”, demonstrando que ao
menos materialmente a parte sucumbiu na sentença, e justamente dessa
sucumbência que nasceria o interesse recursal necessário para impugnar em
preliminar a decisão interlocutória relativa à impugnação ao valor da causa.
Outro caso que merece a mesma interpretação é o acórdão proferido pela
Quinta Câmara Cível do TJ-MG, que decidiu uma questão idêntica à já vista, onde a
parte apelou contra a decisão proferida no incidente de impugnação ao valor da
causa, sendo que a decisão que julgou o incidente foi proferida ao tempo de
vigência do CPC/2015. No caso, ao concluir a fundamentação do acórdão, em obter
dictum, o desembargador com suas palavras deixa evidente a necessidade de um
recurso de apelação anterior, impugnando a sentença em si, para então suscitar
preliminarmente a decisão que impugnou o valor da causa, conforme se vê:
Em resumo: a decisão que vier a ser proferida, alterando ou não o
valor da causa, não poderá ser impugnada de imediato, já que é
inadmissível o agravo de instrumento (art. 1.015 do CPC/15),
devendo a parte interessada na sua reforma suscitar a questão como
preliminar em seu recurso de apelação ou nas respectivas
contrarrazões eventualmente interpostas contra a decisão final
(art. 1.009, §1º, do CPC/15) (BRASIL, 2017, grifo nosso).
As palavras usadas pelo desembargador são auto-explicativas, como o é o
artigo 1.009, parágrafo 1º, do CPC/2015, já que a parte deve suscitar a questão
como preliminar, em eventual apelação ou contrarrazões de apelação, mas desde
que haja sucumbência na sentença, do contrário não estará presente o interesse
recursal.
53
Quanto à terceira hipótese, esta apresentada somente por Câmara (2016),
em que no exemplo a parte ingressaria com uma ação com dois pedidos cumulados,
e na decisão de saneamento do processo o juiz proferisse decisão terminativa
quanto a um desses pedidos, com fundamento em algum dos incisos do artigo 485
do CPC/2015, o autor defende que não caberia recurso imediato de agravo de
instrumento contra esta decisão, já que a hipótese não estaria contida no rol do
1.015, acontece que, a decisão é sim agravável, conforme preceitua o artigo 334,
parágrafo único.
Em decisão monocrática, o relator da Vigésima Primeira Câmara Cível do Rio
de Janeiro, não conheceu da apelação nº 00453696320158190203, já que a parte
ao ter parcela do seu pedido decidido por decisão terminativa lançou mão de recurso
manifestamente inadmissível, pois contra tal decisão o recurso correto seria o
agravo de instrumento, conforme a decisão:
Trata-se de Apelação em face de sentença que julgou extinto o feito
sem resolução do mérito com relação ao pedido de despejo, sob o
fundamento de que o imóvel fora desocupado, conforme certidão do
OJA no índice 000035
Isso porque, conforme dispõe o Novo Código de processo Civil, o
Agravo de Instrumento é o recurso cabível em face de decisão
terminativa de apenas parcela do processo (BRASIL, 2017, grifo
nosso).
No caso em tela, apesar de não ser exatamente o exemplo aventado pelo
autor (Câmara), não deixa dúvidas quanto ao recurso a ser interposto quando se
estiver diante de uma decisão que extingue parcela do processo.
Desnecessário quanto ao último exemplo trazer mais decisões, por se tratar
de letra de lei, devendo o autor ter se equivocado ao usá-lo como hipótese de
apelação exclusiva contra interlocutória não agravável de imediato, ao afirmar não
estar tal hipótese elencada no rol do artigo 1.015 do CPC/2015.
Assim, conclui-se com o presente trabalho que, apesar do esforço empregado
pela doutrina e do posicionamento majoritário da jurisprudência, quanto ao exemplo
da interlocutória que condena a parte ao pagamento de multa, não há como
defender a possibilidade de uma apelação do integralmente vencedor
exclusivamente contra interlocutória não agravável, pois não há de fato, uma
54
explicação jurídica processual que fundamente tal possibilidade, pois, nenhum autor
favorável consegue responder de onde a parte iria tirar o interesse recursal
necessário para tal apelação, tanto não conseguem responder tal indagação que
amparam suas posições em exemplos, assim não há como não concordar com a
posição defendida pelos autores Didier Jr. e Cunha, já que demonstram
processualmente o porquê de não ser possível tal espécie de apelação.
55
CONCLUSÃO
Buscou-se no presente estudo responder uma, das inúmeras mudanças
carreadas pelo novo CPC/2015, já que ao contrário do antigo diploma processual de
1973, não mais se mostra possível as partes agravarem de qualquer decisão
interlocutória, estando agora essas hipóteses adstritas a um rol taxativo, disposto no
artigo 1.015, do CPC/2015, das quais será possível de imediato lançar mão do
agravo de instrumento, nas demais hipóteses as partes deverão impugnar essas
interlocutórias em momento posterior, em eventual apelação ou nas suas
contrarrazões, nos termos do parágrafo 1º do artigo 1.009 do CPC/2015.
Inicialmente, o trabalho buscou traçar alguns parâmetros básicos quanto à
forma de se recorrer das decisões interlocutórias, já que, com o CPC/2015, deixou
de existir o agravo retido, causando por consequência, uma série de lacunas a
serem respondidas, fazendo-se necessário ir preenchendo cada uma delas, para
então, se dar uma resposta quanto à possibilidade, ou não, do integralmente
vencedor na demanda apelar exclusivamente contra interlocutória não agravável.
No capítulo inicial, se fez necessário esclarecer o que são as decisões
interlocutórias, qual o recurso a se manejar contra elas, quais são os requisitos de
admissibilidade que todos os recursos devem observar e, como lidar com algumas
incongruências surgidas com CPC/2015, para então, a partir disso se ter à base
necessária para responder as indagações que o trabalho se propôs.
Um dos pontos onde repousa grande parte da resposta que aqui se procurou
dar, diz respeito ao interesse recursal, já que se a parte for integralmente vencedora
na demanda, não sofrendo sucumbência formal e nem material, não há como
visualizar no caso, o interesse recursal para se apelar contra interlocutória.
Foi dito exaustivamente no decorrer do trabalho, que sempre que um recurso for
interposto, deverá estar presente o interesse recursal, compreendido como meio útil
e necessário a se alcançar determinado resultado, logo, não importa o malabarismo
que se queira fazer, se não estiver presente o interesse recursal o recurso não será
conhecido.
56
Ainda no capítulo primeiro, se esclareceu uma incongruência causada pelo
caput do artigo 278 e o 1.009, parágrafo 1º, ambos do CPC/2015, onde o primeiro
preceitua, que em não sendo caso de questão de ordem pública, deverá a parte
suscitar de imediato as decisões passíveis de invalidação, sob pena preclusão, ao
passo, que o segundo determina que não ocorrerá preclusão quanto às decisões
não agraváveis de imediato, devendo ser impugnadas em preliminares de eventual
apelação ou nas suas contrarrazões. Assim, por existir esse conflito aparente de
normas, o mais adequado quando se estiver diante de uma decisão passível de ser
invalidada é peticionar de imediato ao juiz, para evitar a preclusão, pois deixando
para depois poderá ver sua impugnação negada, por estar preclusa, com
fundamento no artigo 278, caput, do CPC/2015.
No segundo capítulo, entra-se de fato nas hipóteses das interlocutórias não
agraváveis de imediato, impugnáveis, pelo vencido em preliminar da apelação e pelo
vencedor em contrarrazões desta. Não apresentam esses casos maiores problemas,
exceto quanto à natureza da impugnação da interlocutória nas contrarrazões do
vencedor, que o trabalho defende se tratar de espécie de recurso subordinado, ao
lado do recurso adesivo, logo, somente será analisado em caso de provimento do
recurso do vencido, pois, desse provimento que surgirá o interesse recursal.
No terceiro capítulo, focou-se no “x” da questão a ser respondida pelo
trabalho, que é quanto à possibilidade, ou não, da parte integralmente vencedora no
processo, apelar exclusivamente contra interlocutória não agravável, ideia que este
trabalho refuta, pelos fundamentos que seguem.
Defende-se, que não há um interesse recursal desvinculado da demanda
principal, de tal modo, que o legislador criou duas espécies de interlocutórias, uma
onde se presumiu haver prejuízo para parte, que achou por bem possibilitar a
impugnação imediata via agravo de instrumento, e outra onde o prejuízo imediato se
mostraria de menor relevância, relegando sua impugnação para momento posterior,
caso a parte sucumbisse de alguma forma na demanda. Tanto que o legislador no
artigo 1.009, parágrafo 1º do CPC/2015, determina, que caberá à parte suscitar a
interlocutória não agravável em “preliminar de apelação, eventualmente interposta
contra a decisão final”, logo, se não houve interesse para um recurso de apelação
contra a decisão final, não há interesse em impugnar a interlocutória.
57
Acontece que os autores favoráveis à possibilidade de uma apelação
exclusiva com esse conteúdo, trazem somente exemplos hipotéticos, no entanto,
nenhum deles explica juridicamente de onde surgiria tal interesse recursal para
legitimar tais hipóteses, ao contrário da posição defendida por este trabalho, que
buscou dar uma resposta processual do porque não seria possível, conforme
posição defendida por Didier Jr. e Cunha.
Há três exemplos que os autores trazem para dizer ser possível a apelação
do vencedor exclusivamente contra interlocutória, a primeira e mais utilizada, é a
decisão interlocutória que condena a parte ao pagamento de multa, a segunda, é a
decisão do juiz que defere ou indefere a impugnação ao valor da causa, e a terceira
o processo com pedidos cumulados que em decisão de saneamento seja proferida
decisão terminativa quanto à parcela deles, acontece que em todos esses exemplos,
de duas uma, ou o exemplo trazido é caso de interlocutória agravável de imediato
via agravo de instrumento, ou a decisão interlocutória respingou na sentença, dessa
forma a parte terá interesse autônomo para impugnar a sentença e conjuntamente a
interlocutória que causou esse prejuízo.
É a mesma lógica da impugnação pelo vencedor das interlocutórias não
agraváveis, trazidas em contrarrazões do recurso de apelação do vencido. Conforme
se viu, a doutrina majoritariamente entende, que essa impugnação à interlocutória
trazida nas contrarrazões é espécie de recurso subordinado, logo, somente será
analisada no caso de provimento da apelação do vencido, é o que Didier Jr. e Cunha
(2016, p.117) chamam de “interesse recursal eventual”, pois ele somente surge na
eventualidade de provimento da apelação do vencido.
Se na impugnação à interlocutória em contrarrazões de apelação o interesse
recursal somente surge após a parte vencedora se tornar a vencida, que se dará
com o provimento da apelação desta, como seria possível a parte vencedora
impugnar alguma interlocutória se a outra parte não recorreu? Ela venceu, logo não
sucumbiu, assim, não terá interesse em apelar da sentença e consequentemente
não o terá para impugnar a interlocutória.
Juridicamente como se nota, não há como visualizar interesse do
integralmente vencedor na demanda em apelar exclusivamente contra interlocutória
não agravável de imediato, assim, o que resta é desconstruir cada um dos exemplos
58
usados pelos autores favoráveis a apelação exclusiva, pois não restam argumentos
suficientes a sustentar suas posições.
O primeiro e mais utilizado exemplo como se viu, é o caso de decisão
interlocutória que condena a parte ao pagamento de multa, sendo o caso onde há o
maior número de jurisprudências. A doutrina a favor desta hipótese defende, que
quando a parte fosse condenada ao pagamento de multa, hipótese não contemplada
pelo artigo 1.015, do CPC/2015, não seria possível impugnar essa decisão de
imediato, e caso a parte fosse integralmente vencedora na demanda, não teria outra
saída, senão apelar exclusivamente contra essa decisão que a condenou ao
pagamento da multa.
Acontece que conforme bem explicada à questão por Didier Jr. e Cunha
(2016), a decisão que no curso do processo condene a parte ao pagamento de
alguma multa, seja por litigância de má fé, do artigo 81, ou por ato atentatório a
dignidade da Justiça por ausência injustificada em audiência de conciliação ou
mediação, nos termos do artigo 334, parágrafo 8º, ambos do CPC/2015, dentre
outras hipóteses, são decisões que trazem uma condenação á parte, ampliando
assim o mérito do processo, encaixando-se então a hipótese no artigo 1.015, II, do
CPC/2015, já que se estará diante de uma decisão parcial de mérito.
O mais curioso, é que grande parte da jurisprudência, vem inadmitindo os
agravos de instrumento contra tais condenações, alegando que a hipótese não se
encontra no rol do 1.015, do CPC/2015. Ocorre que alguns Tribunais do país já
começaram a se manifestar no sentido de entender que o recurso cabível é o agravo
de instrumento, justamente por reconhecer o caráter condenatório de tal decisão. O
problema dessa divergência de entendimento é o prejuízo que poderá gerar para as
partes, pois, seguindo a posição defendida por este trabalho, caso não se recorra de
imediato dessa decisão terá ocorrido preclusão.
Quanto ao segundo exemplo, referente à decisão que rejeita ou acolhe a
impugnação ao valor da causa, a decisão interlocutória respingou na sentença, já
que terá capítulo desta condenando à parte contrária em honorários sucumbências,
em porcentagem correspondente ao valor da causa, assim fica implícito nesse
capítulo o prejuízo sofrido, já que não foi alcançado o melhor resultado fático
possível, no caso a parte vencedora sucumbiu, possuindo interesse para recorrer
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desse capítulo da sentença e, impugnar em preliminar, a interlocutória que
acarretou essa sucumbência, não se mostrando esse, um caso de apelação
exclusiva do vencedor contra interlocutória.
A última hipótese aventada, em que a parte autora traz na demanda dois
pedidos cumulados e um deles é extinto por decisão interlocutória, é a mais simples
de ser esclarecida, já que se trata de texto de lei, não havendo divergência
doutrinária e nem jurisprudencial quanto ao assunto, sendo a opinião isolada de um
único autor, que com a devida vênia, dever ter se equivocado ao trazer o exemplo,
pois nos termos do parágrafo único do artigo 334, do CPC/2015, decisão
interlocutória que encerre parcela do processo com fundamento nos incisos do artigo
485 e inciso II e III do artigo 487, do CPC/2015, é agravável de imediato, assim, se
ocorrendo à decisão a parte não agravou, não poderá trazer posteriormente, pois já
terá precluído.
Conclui-se, então, que não há possibilidade de interposição de recurso de
apelação da parte integralmente vencedora na demanda, com fundamento no artigo
1.009 parágrafo 1º do CPC/2015, impugnando exclusivamente a decisão
interlocutória não agravável de imediato. No caso, não haverá de fato possibilidade
do integralmente vencedor na demanda apelar exclusivamente contra uma
interlocutória não agravável, pois não possuirá interesse recursal para tanto. Caso a
parte vencedora, após a sentença, esteja se sentindo lesada de alguma forma por
decisão interlocutória proferida anteriormente, provavelmente, ou dormiu no ponto e
a questão estará preclusa, pois se tratava de decisão agravável, ou terá sucumbido
na sentença, ao menos materialmente, o que possibilitará impugnar a parte em que
sucumbiu e a interlocutória preliminarmente.
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