FICHA PARA IDENTIFICAÇÃO DA PRODUÇÃO DIDÁTICO PEDAGÓGICA-PDE 2012
Título: Análise semântico- argumentativa do gênero discursivo poesia: encaminhamentos para a leitura e a escrita.
Autora Rosane Alves de Carvalho
Escola de Atuação Escola Estadual do Campo Irmão Miguel- EF
Município da escola Planalto
Núcleo Regional de Educação
Francisco Beltrão
Orientador Antonio Marcio Ataide
Instituição de Ensino Superior
Universidade Estadual Do Oeste do Paraná- UNIOESTE
Disciplina/Área Língua Portuguesa
Produção Didático-pedagógica
Unidade Didática
Relação Interdisciplinar -
Público Alvo Alunos do nono ano do ensino fundamental
LocalizaçãoEscola Estadual Irmão Miguel -Ensino Fundamental Distrito de Barra Grande- Município de Planalto – Paraná -Zona Rural- S/NFone:(46)35731050
Apresentação O projeto "Análise Semântico- Argumentativa do Gênero Textual Poesia: encaminhamentos para a leitura e a escrita", será aplicado na Escola Estadual Irmão Miguel no nono ano. Tem por objetivo, aprimorar os conhecimentos linguísticos por meio do estudo dos diferentes gêneros textuais, dando ênfase na poesia, no sentido de garantir ao aluno a capacidade de expressar-se com clareza nas diferentes situações de comunicação. Esta pesquisa pauta-se nas observações realizadas nas aulas de Língua Portuguesa, com alunos do 6º ao 9º ano, a partir das dificuldades apresentadas na elaboração do discurso oral e escrito. Nas aulas, é possível observar que os alunos falam muito, no entanto, esta fala não contém argumentos que embasem seus posicionamentos, pois sua linguagem é desprovida de significação e o uso dos elementos linguísticos ocorre de maneira intuitiva, sem a reflexão necessária.
Tomando-se o texto como objeto de todo o fazer pedagógico , pretende-se neste projeto desenvolver um estudo de como o texto poético pode auxiliar na metodologia do ensino de leitura, análise linguística e produção textual com vistas ao melhoramento da expressão oral e escrita.
Palavras-chave Poesia. Leitura. Análise linguística. Referenciação.
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO - SEED SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO – SUED PROGRAMA DE
DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE
PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA-PROFESSOR PDE
POETIZAR ESPAÇOS É ALARGAR O TEMPO E OS PENSAMENTOS
Análise semântico-argumentativa do gênero discursivo poesia: encaminhamentos para a leitura e a escrita
CASCAVEL
2012
ROSANE ALVES DE CARVALHO
POETIZAR ESPAÇOS É ALARGAR O TEMPO E OS PENSAMENTOS
Análise semântico-argumentativa do gênero discursivo poesia:
encaminhamentos para a leitura e a escrita
Produção Didático-Pedagógica elaborada e apresentado à coordenação do PDE da Unioeste, como um dos requisitos necessários na participação do Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE, idealizado e mantido pela Secretaria de Estado da Educação do Paraná – SEED/PR, em convênio com a Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE.
CASCAVEL 2012
UNIDADE DIDÁTICA DE LÍNGUA PORTUGUESA
APRESENTAÇÃO
Esta Produção Didático- Pedagógica tem a finalidade de apresentar uma
proposta de trabalho no ensino de Literatura com o gênero textual poesia.
Apresentaremos uma Unidade Didática que fará uma análise semântico-
argumentativa, bem como o estudo dos elementos de referenciação do gênero em
questão e apontará alguns encaminhamentos metodológicos para a leitura, fala e
escrita. Destina- se aos alunos do nono ano do ensino fundamental com objetivo de
desenvolver nestes a capacidade de produção oral e escrita. Nesta intenção de
trabalho pretende-se, de maneira mais específica:
-Aprimorar os conhecimentos linguísticos por meio do estudo do gênero discursivo
poema;
-Explorar o gênero poema como ponto de partida de um conteúdo temático para
adentrar nos demais meios possíveis de narração e dissertação, levando o aluno a
ter maior segurança ao contar e ao argumentar situações do seu cotidiano;
-Ler poemas da Literatura Nacional realizando interpretações e análises linguísticas,
no intuito de levar o aluno a reconhecer as intenções implícitas ou explícitas no
discurso do outro;
-Entender o poema como produto de inquietação de grupos sociais ou de um povo,
representado pelo artista, percebendo a criação deste, como arte, a sua
contribuição literária, na intenção de desenvolver no aluno, o espírito crítico de
participação social e política, através da linguagem na sociedade que está inserido;
-Recitar poemas clássicos da Literatura Nacional para desenvolver nos alunos a
expressão oral com espontaneidade, segurança e desenvoltura exercitando
expressões faciais, gestos e demais recursos possíveis para uma boa comunicação,
como: pausas, ênfases, reticências, tom de voz entre outros.
-Trabalhar com os elementos referenciados do poema, sua função linguística e
discursiva.
Tal intenção justifica-se pelo fato de que, ao ingressarem no 6º ano, os alunos
apresentam um vocabulário bastante restrito e fazem uso, quase que
exclusivamente, da linguagem coloquial. O trabalho do professor, neste contexto,
deve estar direcionado para a função e valorização da leitura, da apreciação do
texto como manifestação social e cultural, e para a compreensão do seu
funcionamento a partir da sua constituição linguística. Esta sugestão de atividade
pauta-se nas observações realizadas nas aulas de Língua Portuguesa, com alunos
do 6º ao 9º ano, a partir das dificuldades apresentadas na elaboração do discurso
oral e escrito. Nas aulas, é possível observar que os alunos falam muito, no entanto,
esta fala não contêm argumentos que justifiquem seus posicionamentos, pois sua
linguagem é desprovida de significação e o uso dos elementos linguísticos ocorre de
maneira intuitiva, sem a reflexão necessária.
Entendemos que o ensino de Língua Portuguesa tem como princípio o
desenvolvimento da linguagem, em todos os seus aspectos, ou seja, oral, escrito,
verbal e não-verbal e, para tanto, tem como objeto de estudo o texto. O texto
constitui-se como resultado das interações realizadas pelo entre sujeito e a
realidade. A constituição da significação, no texto, ocorre por meio do
desenvolvimento dos enunciados, orientada por uma intencionalidade manifestada
na sua constituição linguística.
Cada falante ou escritor (autor de texto) tem a sua maneira particular de
elaboração do discurso e este é norteado pela capacidade linguística que o autor
desenvolveu como produto de suas relações sociais e culturais. Segundo Martins
(2004), a construção da capacidade de produzir e compreender as mais diversas
linguagens está diretamente ligada às condições propícias para ler, dar sentido e
atribuir significado a expressões formais e simbólicas, nas diferentes linguagens.
Esta capacidade está relacionada à aptidão para ler a própria realidade individual e
social. A fala e a escrita, que se apresentam nas diferentes formas de discurso, são
resultantes de um processo histórico de vivências com a linguagem. O indivíduo
inicia o processo de elaboração da linguagem desde os primeiros anos ao ouvir o
outro e interagir com a realidade. Freire (1982) destaca que é a partir da leitura do
mundo concreto que o sujeito vai se alfabetizando e incorporando conceitos. Ainda
segundo ele, é na escola que este processo se reelabora para que o aluno possa
ampliar seus horizontes de possibilidades no uso da língua e assim inserir- se na
sociedade como um sujeito autônomo.
É o trabalho com as diferentes práticas discursivas em sala de aula que
permitem ao educando o aprimoramento do seu discurso. Sendo assim, quando o
aluno compreende a função dos gêneros discursivos na sociedade e a função dos
elementos linguísticos na construção dos textos, o seu discurso torna-se mais
conciso, claro e significativo. Nesta unidade, pretende-se, a partir dos pressupostos
que envolvem o estudo dos elementos linguísticos, sua função semântico-
argumentativa, principalmente os elementos envolvidos no processo de
referenciação, nas práticas de leitura e escrita do texto poético em sala de aula,
promover um espaço de interação. Pretende-se, assim, tomar o poema como objeto
de ensino em toda sua totalidade, por meio de leituras, interpretações, estudo do
vocabulário, levantamento do tema para atribuir significações às expressões
figuradas, análise dos elementos sintáticos empregados, quanto à forma e a função.
O contato com o gênero discursivo poesia norteará e designará o tema para a
busca de outras releituras, outras reescritas de gêneros diferentes, dando ao aluno
a possibilidade de reelaboração e ampliação de uso da linguagem.
FUNDAMENTAÇÃO
TEORIA LITERÁRIA:O POEMA
Em Silva (1968), lemos que a obra literária possui conexão com objetos,
seres e fatos reais, mergulha na experiência humana e na realidade social. A
palavra é um substituto convencional do designado e sua função é apontar
diretamente para a realidade designada. A Literatura não nomeia o real como
nomeiam os historiadores ou sociólogos, embora sua natureza imaginária,
intencional e simbólica não se realize na ausência deste.
A Literatura consegue contar mais fielmente a história do que os livros de
História, porque a obra literária é influenciada pelo meio e o meio influência a obra,
ao passo que a História é contada numa visão puramente ideológica ao seu tempo.
“A prosa é um gênero literário tardio, filho da desconfiança do pensamento
ante as tendências naturais do idioma. A poesia pertence a todas as épocas: é a
forma natural de expressão dos homens. Não há povos sem poesia, mas há povos
sem prosa” (PAZ,1982, P.83). Portanto, pode-se dizer que a prosa não é uma forma
de expressão inerente à sociedade, ao passo que é inconcebível a existência de
uma sociedade sem canções, mitos ou outras expressões poéticas. Trata-se pois,
de um fenômeno universal . A poesia ignora o progresso ou a evolução e suas
origens e seus fins se confundem com os da linguagem.
“A poesia é o autêntico real absoluto. Quanto mais poético, mais verdadeiro.
O poeta é o vidente que conhece o sentido oculto das coisas e dos seres, que
desposa o mistério, penetra no absoluto e reinventa a realidade”(SILVA,1968,
P.142).
Segundo Jakobson(1973), a palavra poesia, de origem grega, prende-se a
um verbo que significa criar, e, na verdade, a poesia, não sendo o único aspecto
criador, é o domínio mais criador da linguagem. O verso (versus) quer dizer retorno,
um discurso que comporta regressos. No verso temos unidades linguísticas de toda
espécie, mas, enquanto na linguagem corrente, o seu regresso não conta,
abstraímos da repetição destas unidades, no verso a repetição desempenha um
papel de que estamos conscientes. Projeta- se na linguagem poética o princípio da
equivalência na sequência; as sílabas, os acentos tornam- se unidades
equivalentes. No verso livre não são os acentos, mas a entonação da frase que se
repete, formando por esta reiteração regular a própria base do verso.
Quanto a rima , Jakobson (1973) afirma que o que importa não é só a
repetição dum grupo de fonemas no final dos versos, importam as palavras a que
esses fonemas pertencem. A questão fundamental reside nas relações entre som e
sentido da imagem poética. A sonoridade é tratada como uma imagem estruturante
do texto poético e não aparece, necessariamente, nas rimas, mas nas aliterações,
onomatopeias e outros efeitos de musicalidade.
Paz( 1982, p. 84-85), diz que o núcleo do poema é o ritmo, isso não quer
dizer que que este seja um conjunto de metros. Metro e ritmo não são a mesma
coisa. Para os retóricos antigos o ritmo é o pai da métrica. Quando o metro se
esvazia de conteúdo e se converte em forma inerte, o ritmo continua engendrando
novos metros. O ritmo é inseparável da frase, não é composto só de palavras soltas
nem só, é medida e quantidade silábica, acentos e pausas; é imagem e sentido.
Ritmo, imagem e significado apresentam- se simultaneamente numa unidade
indivisível e compacta: a frase poética, o verso. A única exigência do metro é que
cada verso tenha as sílabas e os acentos requeridos. O metro em si mesmo , é
medida vazia de sentido, ao passo que o ritmo, jamais se apresenta sozinho , não é
medida, mas conteúdo qualitativo e concreto. Todo ritmo verbal contém em si a
imagem e constitui uma frase completa e assim o verso se transforma em medida
sonora.
Ritmo, para os formalistas russos (EIKHENBAUM ET ALL,1973, p. 131-133),
é toda alternância regular: o ritmo musical é a alternância dos sons no tempo. O
ritmo poético é a alternância das sílabas no tempo. O ritmo coreográfico é a
alternância dos movimentos no tempo. Portanto, há ritmo em toda parte onde
possamos encontrar uma repetição periódica dos elementos no tempo ou no
espaço. O poema impresso no livro é apenas a representação do movimento,
somente o discurso poético pode ser apresentado como um ritmo e não o seu
resultado gráfico. O movimento rítmico é anterior ao verso. Não podemos
compreender o ritmo a partir da linha do verso, mas podemos compreender o verso
pela percepção do ritmo. Lemos o verso porque conhecemos o impulso rítmico de
que resulta.
Ainda segundo os formalistas russos (EIKHENBAUM ET ALL,1973), todas as
épocas conhecem duas atitudes possíveis com respeito à poesia: alguns acentuam
o aspecto rítmico, outros o aspecto semântico. Habitualmente dá- se primazia à
semântica quando na vida social aparece uma nova temática e as valhas formas do
verso não chegam a assumir esses novos temas. A união indissolúvel do ritmo e da
semântica é o que chamamos de harmonia clássica.
Quanto a sintaxe na Poética, esses mesmos autores (EIKHENBAUM, ET
ALL,1973), explicam que é o sistema da combinação de palavras no discurso
cotidiano. À medida que a Poética não desobedece as leis da sintaxe, as leis da
combinação de palavras também são leis do ritmo. Portanto, o verso se constitui por
uma combinação rítmica, semântica e sintática. Está sempre em jogo a relação
entre som e sentido: tudo na linguagem poética é, nos seus diversos níveis,
significante.
Jakobson (1973)se preocupa com o papel da gramática na poesia e levanta
considerações sobre as relações entre Linguística e Poética:
(...)não podemos nos ocupar de poesia sem ter em conta a ciência
da linguagem”.Há linguistas,que, escravos da matéria verbal, não se
mostram sensíveis ao valor estético , são os maus linguístas. É
necessário ter o sentido da poesia, saber distinguir na descrição
linguística do texto o que é pertinente e o que não é pertinente do
ponto de vista poético. Por outro lado, há críticos da Literatura que,
indiferentemente à arte verbal, só se interessam pela mensagem em
si própria, pelo que as palavras significam, são os críticos
defeituosos. O que dá valor estético a um poema é a relação entre
sons e sentidos, é a estrutura dos significados- problema semântico,
problema linguístico no sentido mais amplo dos termos
(JAKOBSON,1973, P. 09).
POETIZAR ESPAÇOS É ALARGAR O TEMPO E OS PENSAMENTOS
Vive- se hoje o tempo da não- poesia. O desmembramento entre magia e vida é uma das marcas de nossa era pós-moderna - era de fragmentação e fragilidade, em que a indústria cultural esmaga o ser humano. Em épocas como esta, é contraproducente o viver poético. Não é possível combinar a harmonia da palavra mítica, que rememora o paraíso perdido, ao caos dos dias em que vivemos. É o tempo-flecha, o tempo-ponto, abismado em si mesmo, sem fronteira nem horizontes.(EDINARA LEÃO,2007)
Contrapor- se ao sistema capitalista e opressor, deveria ser o discurso mais
fluente nas escolas, mesmo que na contra-mão dos meios de comunicação de
massa. E não trabalhar poesia, é contribuir para a ascenção desta atual conjuntura
que faz cada vez mais seres individualistas e competitivos em nome do sucesso.
Infelizmente, a escola, ainda que nem sempre o assuma, reproduz este sistema
capitalista e dual, criando personalidades egoístas e descomprometidas com a
solidariedade, porque é contraproducente para esta sociedade, a construção de
sujeitos críticos e generosos, é preciso estar à altura daqueles que o mercado
precisa , um ser competitivo e com altas habilidades para a execução de tarefas.
Neste mundo mecanizado não há lugar para a poesia.
Segundo as DCEs (DiretrizesCurriculares da Educação Básica –2008, p.38),
é nos processos educativos, principalmente nas aulas de Língua Portuguesa que o
indivíduo tem a oportunidade de aprimorar a sua competência linguística, de forma a
garantir uma inserção ativa e crítica na sociedade. É nesse ambiente que o
estudante aprende a ter voz e fazer uso da palavra nesta sociedade plena de
conflitos.
O papel que o ensino de Literatura desempenha na vida do estudante no
sentido de situá-lo nos tempos e nos espaços é muito significativo, desde que o
educador compreenda a dimensão dialógica em que a leitura deve ser
experimentada. Que este saiba reconhecer as esferas discursivas em que os textos
foram produzidos e saiba reconhecer as intenções ideológicas e as vozes sociais
que se apresentam nos discursos, podendo assim inferir- lhes sentido.
As aulas de Literatura devem criar possibilidades para que o leitor seja capaz
de sentir e expressar o que sentiu , com condições de reconhecer um envolvimento
de subjetividade por meio da interação obra/ autor/ leitor.O texto poético
proporcionará este encontro subjetivo entre autor/leitor e as possíveis interpretações
e inferências de sentido serão conduzidas pelo professor.
A poesia é a extrema liberdade do ser, a palavra inquietante, perturbadora.
Ela não cria uma geração de alegres sem causa. Cria seres profundos, capazes de
ler além da letra impressa, além da palavra dita .Quem lê poesia, é questionador e
não perde a possibilidade de refazer-se constantemente e, de, estando no mundo,
interferir criticamente sobre ele. Então, a escola pode ser a instituição capaz de
descobrir a riqueza contida no dizer poético e instaurar um tempo de profundas
reflexões e desmascarar a hipocrisia do tecido social desumanizador.
Nesse sentido, o ensino de literatura, através do texto poético poderá
instaurar nos estudantes um novo olhar sobre o mundo e si mesmo.
A riqueza polissêmica da literatura é um campo de plena liberdade para o leitor, o que não ocorre em outros textos. Daí provêm o próprio prazer da leitura, uma vez que ela mobiliza mais intensa e inteiramente a consciência do leitor, sem obrigá- lo a manter- se nas amarras do cotidiano. Paradoxalmente, por apresentar um mundo pouco determinado, a obra literária acaba por fornecer ao leitor um universo muito mais carregado de informações , porque o leva a participar ativamente da construção dessas, com isso forçando-o a reexaminar a sua própria visão da realidade concreta(BORDINE; AGUIAR,1993, P. 14)
Nesta unidade, propõe-se, então, ao professor, trabalhar o gênero textual
poesia, para que os alunos sejam capazes de ler, compreender e produzir tal
gênero, podendo, assim, sentir o deleite proporcionado pela leitura, interessando-se
por outros textos e, então, acrescentá-los à sua experiência enquanto leitor. O tema
levantado nestes textos pode nortear outras releituras e outras reescritas nos tipos
de narração e argumentação, para que num processo de interação verbal este
sujeito, construtor de significados, possa adequar a linguagem à fala.
Para Véras (2007), “a poesia exige introspecção porque joga com múltiplos
sentidos, realçando signos e significantes”. O poema exige do leitor um olhar mais
atento, uma ativa mobilização do lado intelectual e afetivo, um contínuo
enredamento de emoções e desejos, juízos e considerações. A poesia leva a
criança a se perceber como sujeito construtor de significados, aquele que não se
contenta com as versões recebidas, mas que questiona e transforma os discursos
postos. Na criança, a poesia é o motivo que estimulará o encantamento, a
inspiração, a fantástica capacidade de surpreender-se, diante das revelações tão
bem construídas pelos poetas.
A criança, antes mesmo de estar na escola, já tem um conhecimento da
linguagem poética, vivenciada nas cantigas de roda, acalentos trava-línguas
parlendas, adivinhas, lengalengas, etc. Se a escola souber aproveitar esta
bagagem, o processo de ensino da leitura será muito mais determinante.
As experiências com a leitura na infância são determinantes para a formação
do leitor, tanto para despertar o interesse por ela, quanto para despertar o sentido
artístico proporcionado pela linguagem poética. Nas práticas de leitura faz-se
necessário analisar cautelosamente o trabalho com o texto poético em sala de aula,
criando momentos de reflexão e estudo do texto trabalhado.
Em algumas situações, os professores têm trabalhado a poesia em sala de
aula por ser um texto curto e por estar constantemente sugerida nos livros didáticos,
o que provoca repetição de autores e um exercício mecânico da leitura, da
interpretação e análise. Soares (1993) aponta algumas problemáticas em relação ao
trabalho com o texto poético em sala de aula:
Uma seleção limitada de autores e obras resulta em uma escolarização inadequada, sobretudo porque se forma o conceito de que leitura são certos autores e certos textos, a tal ponto que se pode vir a considerar como uma deficiência da escolarização o desconhecimento, pela criança, daqueles autores e obras que a escola privilegia...quando talvez o que se devesse pretender seria não o conhecimento de certos autores e obras, mas a compreensão do literário e o gosto pela leitura literária. (SOARES, 1999, p.28).
Nos livros didáticos, é possível encontrar obras de poetas consagrados da
Literatura Infanto-juvenil. Sendo assim, a escola é o único espaço de contato com
este gênero textual. Torna- se, então imprescindível que ela trabalhe com uma
diversidade de autores e textos, buscando o que Véras (2007) destaca com relação
à literatura, que, na sua dimensão formadora, estimula os sentidos, a capacidade
crítica, o imaginário, a liberdade expressiva. Esse é o lugar da poesia no ensino.
Há ainda outros equívocos, segundo a pesquisa de Véras (2007) no estudo
da poesia na escola que podem ser prejudiciais ao leitor:o estudo de fragmentos de
poemas ou textos descolados de sua fonte, o livro de poesia. Se a disposição
limitada de autores nos livros didáticos é uma problemática, a falta de autoria em
poemas distribuídos em folhas é um equívoco ainda maior. Como o aluno poderá
recorrer à fonte para uma segunda leitura? Como o professor poderá rever o texto
em outras aulas? Qual a referência de autor que esse aluno terá? Em suas
lembranças ficará somente a marca de um texto lindo que ele leu um dia. Ao não
oferecer-lhe a referência , rouba-lhe a oportunidade de reviver as sensações que
teve no contato com aquele texto, de relê-lo com um novo olhar. Assim, o leitor
torna-se suscetível a incorporar o hábito de não buscar o livro e a não desenvolver o
conceito de autoria.
Ainda para Véras (2007), o trabalho com poesia em sala de aula revela um
aspecto alarmante: o despreparo do professor. A formação do professor e até
mesmo a sua concepção de leitura são responsáveis pela sua ação docente. O
desconhecimento do valor estético da poesia orienta o professor, este importante
mediador na relação texto/leitor, a equívocos constantes, como oferecer aos alunos
poemas que pouco dizem ou nada dizem, apenas no intuito de fazer um recorte de
algum conteúdo de Linguística. O texto poético a ser explorado precisa trazer
significação, antes de tudo, precisa proporcionar maior interação do sujeito com
novos vocábulos, novos conceitos e uma profunda relação com as demais
disciplinas, no sentido de orientar também um trabalho interdisciplinar. O texto, em
sala de aula, precisa proporcionar um trabalho com a semântica, a sintaxe e a
pragmática.
Na proposta de trabalho, aqui apresentada, pretende-se, por meio das
atividades para o Recital de Poesias, criar estratégias de ensino da poesia
explorando este gênero do discurso em toda a sua dimensão de produção,
circulação e recepção. Além da linguagem poética, pretende-se desenvolver um
trabalho mais amplo como a organização discursivo- textual do poema.
MATERIAL DIDÁTICO:Procedimentos, Conteúdos, Orientações e Atividades
Sou um Guardador de Rebanhos
Fernando Pessoa
Sou um guardador de rebanhos.O rebanho é os meus pensamentosE os meus pensamentos são todos sensações.Penso com os olhos e com os ouvidosE com as mãos e os pésE com o nariz e a boca.
Pensar uma flor é vê-la e cheirá-laE comer um fruto é saber-lhe o sentido.
Por isso quando num dia de calorMe sinto triste de gozá-lo tanto.E me deito ao comprido na erva,E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,Sei a verdade e sou feliz.
ATIVIDADES
Orientação:Os apontamentos que faço aqui, servirão para os demais momentos de leitura que se seguem nesta unidade:
De acordo com Sollé(1998), o trabalho de leitura deverá contemplar algumas fases que o professor precisa respeitar para a formação de um leitor competente:-A pré- leitura: é o momento de antecipação do tema,o estímulo ao texto no sentido de ativar os conhecimentos prévios que interferem na construção dos sentidos. Pode- se fazer por meio da formulação de hipóteses;-O durante a leitura: é o momento em que há a leitura propriamente dita, para o conhecimento do texto, é quando se dá a ativação dos conhecimentos do cognitivo, a relação entre o inconsciente e as novas informações que estão sendo decodificadas pelo consciente. É importante que o aluno leia e que ouça também a leitura do professor que lhe serve de exemplo de leitor.-A pós- leitura:São os comandos de releituras, reflexões, análises lexicais, semânticas e linguísticas que são encaminhadas pelo professor, na perspectiva de que o aluno conheça, inter-relacione, avalie e posicione- se diante de novas informações que vão constituir- se em novos conhecimentos.
Para isso, as atividades desenvolvidas devem respeitar os níveis de informações que se estabelecem no contato com o texto:-Movimento ascendente: as informações partem do texto para o leitor;-Movimento descendente:As informações dão- se do leitor ao texto, em razão da compreensão que este estabelece a partir das mensagens recebidas:-Movimento interacional: São as conclusões formadas pelo leitor, que se construíram pelo intercâmbio verbal travado entre autor/ leitor e que foram cuidadosamente elaboradas pelo professor, via atividades.
Para o trabalho de pós- leitura proponho a exploração dos seguintes itens no texto:-Unidade temática e estrutura global do texto;-Marcas textuais e posição do autor;-Vozes presentes no texto;-Gramática textual, seus usos e sentidos (conectores, modalizadores, referentes e determinantes). Levar em consideração que o ensino da gramática precisa estar a serviço da compreensão.
1-Oportunizar a leitura do texto completo;
2-Recitar o poema(fragmento) aos alunos;
3-Promover leitura orientada do fragmento abrindo espaço para os alunos expressarem o que entenderam e sentiram;
4-Buscar o significado da palavra rebanho e explorar o sentido desta no texto a
partir dos seguintes questionamentos:a- Segundo o dicionário rebanho é ........................................................................................ b- No sentido convencional quem cuida das ovelhas é..........................................................c- Conforme a tradição, o que faz um guardador de rebanhos, quando uma ovelha se afasta ?d- No texto, rebanho é............................................................................................................e- Veja no dicionário os diferentes significados que a palavra gozar pode assumir. Reflita o emprego da mesma no poema e de o seu sentido:
5- Nestes versos, o verbo pensar está implícito em várias situações(a essa forma de uso da língua, denominamos elipse).Reconheça como isso acontece:Que problema de construção textual foi evitado, com a aplicação destas elipses?E que sentido podemos inferir ao termo “penso”?
“Penso com os olhos e com os ouvidosE com as mãos e os pésE com o nariz e a boca”.
6- A voz que fala no poema é o eu- lírico( o autor se coloca no papel de alguém que fala e sente o discurso no texto).Quem é o eu- lírico deste poema?E com que ele se preocupa?
7-O eu- lírico, particularmente neste texto, é marcado pela primeira pessoa do discurso. (isto não é regra)a- Aponte os casos em que este uso acontece no poema:b- Qual a intenção do autor em reforçar em tantos casos o uso da primeira pessoa do discurso?c- O fato do eu- lírico ser um guardador de rebanhos, lhe permite realizar muitas ações. O autor marca esta situação pela exploração de verbos. Volte ao texto e busque estes verbos(recurso que que o autor explorou para atribuir movimento ao texto).
8-Você percebeu que muitas expressões ganham um novo sentido neste texto. Esse recurso é muito comum nos textos poéticos e é denominado sentido conotativo da palavra ou linguagem figurada. Neste texto a palavra rebanho é uma metáfora que representa os pensamentos. Reconheça outras palavras e explique o que elas significam no contexto explorado pelo autor:
9- A que verdade o autor se refere no final do texto?
10-Num poema, a linguagem poética é apresentada através dos versos e estrofes(pode haver linguagem poética em prosa).Identifique o número de versos e estrofes do poema:
11- Sabendo-se que os pronomes tem a função de se referir a algum nome dito anteriormente, observe o emprego dos pronomes nestas expressões:“Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentidoPor isso quando num dia de calorMe sinto triste de gozá-lo tanto”.
a- Diga a que palavras eles se referem:b- Com que intenção o autor os empregou?
12-A poesia é a arte chamada Literatura. E Literatura é a arte da palavra.Podemos dizer, então que “O Guardador de Rebanhos” é uma obra literária e o seu autor/Fernando Pessoa é um artista. Tente representar artisticamente o poema, porém sem o uso de palavras:
13- Como você percebe o ritmo na primeira estrofe?( )pela rima ( )pela sonoridade ( )pela sequência semântica
Explique:
Orientação: Buscar os conceitos de ritmo nesta unidade no campo:fundamentação
14-Propor uma roda de conversa para que cada aluno se expresse oralmente fazendo a interpretação do poema e percebendo as relações que o tema pode ter com a sua vida e o seu cotidiano;
Orientação:Ainda nesta roda, quem já tiver disponibilidade poderá recitar o poema aos colegas(os demais recitam no dia seguinte, visto que precisam de tempo para memorizar, mas é importante que todos recitem).
15-Agora é sua vez de escrever: Com base em todas as ideias que o poema te sugeriu, libere todas as suas sensações por meio da linguagem escrita .Não tenha medo e faça o seu melhor:a- Escreva a interpretação que você faz do poema em forma de texto argumentativo:b- Escolha uma forma de dizer (gênero textual) e escreva sobre:“Eu sou aquilo que penso”.
Orientação: Promover a refacção dos textos produzidos. O professor deverá ser o mediador desta correção e não o protagonista. O aluno precisa perceber- se como avaliador de sua própria construção. A atenção despendida pelo professor deve estar no aluno e não no texto, portanto de nada adianta, as demarcações que o professor faz no texto do aluno se não tiver o comando para uma nova escrita numa perspectiva de retomada aos pontos demarcados .
16-Convidar os alunos para uma visita à biblioteca da escola e fazer uma demonstração dos poetas clássicos.
Orientação: Deixar os livros de poesia separados antecipadamente. Primeiramente do autor Fernando Pessoa, do qual o texto foi estudado, mostrar o texto completo “O guardador de rebanhos”e em seguida ler outros poemas para eles chamando a atenção para a dicção correta do texto poético. Pedir que leiam em voz alta alguns outros poemas. Cada aluno poderá escolher os livros que desejar ler em casa e tomá-los emprestado.
Aqui é o momento de muitas leituras: ler para eles; ler com eles; ouvir deles;recitar a eles;pedir que recitem...
EU ETIQUETA Carlos Drummond de AndradeEm minha calça está grudado um nome Que não é meu de batismo ou de cartório Um nome... estranho. Meu blusão traz lembrete de bebida Que jamais pus na boca, nessa vida, Em minha camiseta, a marca de cigarro Que não fumo, até hoje não fumei. Minhas meias falam de produtos Que nunca experimentei Mas são comunicados a meus pés. Meu tênis é proclama colorido De alguma coisa não provada Por este provador de longa idade. Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro, Minha gravata e cinto e escova e pente, Meu copo, minha xícara, Minha toalha de banho e sabonete, Meu isso, meu aquilo. Desde a cabeça ao bico dos sapatos, São mensagens, Letras falantes, Gritos visuais, Ordens de uso, abuso, reincidências. Costume, hábito, permência, Indispensabilidade, E fazem de mim homem-anúncio itinerante, Escravo da matéria anunciada. Estou, estou na moda. É duro andar na moda, ainda que a moda Seja negar minha identidade, Trocá-la por mil, açambarcando Todas as marcas registradas, Todos os logotipos do mercado. Com que inocência demito-me de ser
Eu que antes era e me sabia Tão diverso de outros, tão mim mesmo, Ser pensante sentinte e solitário Com outros seres diversos e conscientes De sua humana, invencível condição. Agora sou anúncio Ora vulgar ora bizarro. Em língua nacional ou em qualquer língua
(Qualquer principalmente.) E nisto me comparo, tiro glória De minha anulação. Não sou - vê lá - anúncio contratado. Eu é que mimosamente pago Para anunciar, para vender Em bares festas praias pérgulas piscinas, E bem à vista exibo esta etiqueta Global no corpo que desiste De ser veste e sandália de uma essência Tão viva, independente, Que moda ou suborno algum a compromete. Onde terei jogado fora Meu gosto e capacidade de escolher, Minhas idiossincrasias tão pessoais, Tão minhas que no rosto se espelhavam E cada gesto, cada olhar Cada vinco da roupa Sou gravado de forma universal, Saio da estamparia, não de casa, Da vitrine me tiram, recolocam, Objeto pulsante mas objeto Que se oferece como signo dos outros Objetos estáticos, tarifados. Por me ostentar assim, tão orgulhoso
De ser não eu, mas artigo industrial, Peço que meu nome retifiquem. Já não me convém o título de homem.
Meu nome novo é Coisa. Eu sou a Coisa, coisamente.
ATIVIDADES:
1-Providenciar a cópia do texto aos alunos para que realizem leitura (sempre é importante levar o livro de onde o texto foi copiado, apresentá-lo e deixar que manuseiem à medida do possível, referenciar e comentar o autor).
2-Oportunizar a visualização, através das mídias, do vídeo narrado e ilustrado sobre o poema, disponível em:http://www.youtube.com/watch?v=Wr5uHxamScE- Acesso em 28/08/20012
3-Responder aos questionamentos: a- O texto pertence ao gênero:( )poético ( )narrativo ( )descritivo ( )opinativo b--Qual é o tema do texto? c- Qual é a pessoa do discurso empregada no texto? d- Procure conceituar:(com auxílio de dicionário ou internet) consumo; consumismo; consumidor: e- De que forma a escolha lexical empregada pelo autor contribui para a formação do sentido no poema?
4- Destacar palavras das quais não sabem o significado.
Orientação:As palavras poderão ser anotadas no quadro-negro. O professor vai indicando as palavras do quadro que deverão ser conceituadas pelos alunos sem o auxílio do dicionário. O objetivo é que os alunos escrevam o significado que imaginam de tal palavra e aprendam a interpretar no contexto. Para isto sugerimos:
- ler o parágrafo ou a frase que se encontra a palavra desconhecida e tentar compreendê-la pelo significado no contexto da frase; - analisar o pre- fixo, radical e sufixo da palavra; - lembrar palavras que sejam sinônimas e antônimas.(Depois que todos registrarem os conceitos de cada palavra, deverão ler em voz alta.
Com o auxílio do dicionário,buscar o significado das demais que não puderam ser esclarecidas.
5-Perceba que a aplicação dos vocábulos neste texto foi intencionalmente construída pelo autor para inferir a ideia de como a publicidade age sobre os consumidores.
a- Volte ao texto e relacione todas os termos que sugerem :mercado/ mercadoria /venda.
b- Na poesia Eu, etiqueta, Carlos Drummond de Andrade se define de várias formas, entre elas:
• escravo da matéria anunciada; • homem- anúncio;
• objeto pulsante; • artigo industrial;
Qual a relação dessas palavras com os atos de consumo e consumismo?
6- O autor conclui que já não é mais "ser, pensante", e que seu nome tem de ser retificado para "coisa, coisante". Que interpretação podemos fazer deste pensamento do autor?
7- No texto o autor também afirma: "Estou, estou na moda". O que significa "estar na moda" para você? Isso é realmente essencial para sua autorrealização? Como a moda contribui para a expansão do capitalismo no Brasil?
8- O autor conclui: "É duro andar na moda, ainda que a moda seja negar minha identidade". Que interpretação podemos fazer desta afirmação?
9-O autor constrói uma sequência ordenada de ideias explorando o uso da oposição liberdade de ser x servidão. Elabore uma tabela identificando estas oposições construídas no texto:
10- A quem o eu- lírico serve? Ele se sente satisfeito com seu papel? Reage contra estas amarras que lhe fazem escravo?
11- O eu- lírico construído pelo autor é um sujeito crítico ou passivo? Comente a sua resposta:
12- Dividir a turma em grupos para criarem um figurino todo etiquetado em um colega. O aluno escolhido deverá recitar o poema.
13-Para uma boa interpretação do poema, questionar os alunos sobre o que entendem por capitalismo, consumismo, globalização e buscar relacionar as ideias com a disciplina de Geografia e tecendo comentários que venham reforçar o conteúdo(se o professor não dominar este assunto, precisa buscar subsídios antes). Sugestôes de sites: http://www. suapesquisa.com/o_que_e/consumismo. Acesso em 28/08/20012
14- Pode-se aproveitar este texto opinativo para auxiliar na formação da argumentação, que é o que se pretende no final do estudo de “Eu Etiqueta”.
Consumo e Consumismo Marcelo Guterman
Era uma vez a Revolução Industrial. E com ela, a era da produção em massa. Milhares, milhões de unidades de tudo o que se possa imaginar, sendo produzidas diariamente nas fábricas ao redor do mundo. No último ano, por exemplo, foram 46 milhões de automóveis, 300 milhões de fornos de microondas e 650 milhões de telefones celulares. Sem falar das mais de 6 bilhões de pizzas! Ocorre que toda essa montanha de produtos deve ser escoada. Caso contrário, a máquina emperra. Estoques se avolumam, plantas industriais são desativadas, a recessão, esse grande fantasma do sistema capitalista, se instala. Para escoar a produção, é preciso que as pessoas consumam. O consumo é o coração de todo o sistema, responsável por manter a máquina em movimento. Sem consumo – e mais, sem
consumo em níveis crescentes – o sistema capitalista, em linguagem técnica, vai para o brejo.
Como manter o consumo em níveis crescentes? Não é preciso muito esforço. O ser humano tem, por natureza, uma compulsão natural a consumir. Quer coisa mais agradável do que entrar em uma loja para comprar algo de que precisamos? E mesmo algo de que não precisamos tanto assim? Aliado a essa tendência natural, contamos com a poderosa ajuda da publicidade. Despertando necessidades que você nem ao menos suspeitava que estivessem aninhadas no fundo mesmo do seu ser, a publicidade vem de mãos dadas com a Revolução Industrial, lubrificando os canais de escoamento da produção.
O que caracteriza o consumismo? Como saber se estamos doentes? E, uma vez descoberta a infecção, qual o tratamento?
Podemos definir consumismo como uma compulsão para consumir. Essa compulsão pode atacar em vários graus, desde aquela compra ocasional em que se chega em casa com a sensação de que não precisava ter comprado aquele aquecedor de travesseiros que parecia ser tão útil quando você estava na loja, até o closet transbordando com 445 pares de sapato. Vejamos alguns sinais de que o vírus do consumismo está instalado no seu organismo: *Você não consegue sair de um Shopping Center sem pelo menos uma sacolinha na mão; * Qualquer objeto comprado há mais de um ano, desde um relógio até um automóvel, lhe parece insuportavelmente velho e ultrapassado, precisando urgentemente ser trocado;*Você estoura o seu limite do cartão de crédito com frequência;*Você se sente rebaixado, humilhado, arrasado, quando alguém próximo (o cunhado, o vizinho) aparece com um objeto mais moderno, mais atual, mais caro...*Os objetos de marca exercem um fascínio irresistível sobre você; *Ir às compras é o seu hobby predileto.
Apesar da aparência simpática (quem não gosta de fazer umas comprinhas, afinal?), o consumismo é uma doença terrível: destrói casamentos, arrasa orçamentos, deixa a vítima em um estado lastimável. Como fazer para não escorregar ladeira abaixo?
A receita clássica é distinguir o essencial do necessário, e o necessário do supérfluo. Por exemplo: para matar a sede, precisamos de água. Água, portanto, é essencial. Se estiver gelada, a água mata a sede mais depressa. Portanto, água gelada é algo necessário. Agora, água da marca San Pelegrino, a R$ 4,00 a garrafa, definitivamente é supérfluo. Não podemos viver sem o essencial. Podemos viver com alguma dificuldade sem o necessário. Podemos viver facilmente sem o supérfluo. A vida do consumista está abarrotada de supérfluos.
Sendo assim, é preciso fazer honestamente a si mesmo a pergunta: isso que estou comprando é essencial? Ou mesmo necessário? Posso continuar vivendo sem isso? As respostas a estas perguntas variarão enormemente entre as pessoas. Se o indivíduo é um alto executivo de uma multinacional, provavelmente um terno de marca será necessário. Por outro lado, se trata de um estudante que vai usar o terno em um casamento e depois encostá-lo, é mais provável que seja supérfluo.
Os pais têm um papel fundamental na educação do consumo de seus filhos. As crianças aprendem desde cedo a consumir supérfluos, mesmo porque são completamente indefesas em relação à publicidade, pois ainda não contam com um saudável espírito crítico. Quantos adultos consumistas de hoje não são o resultado de uma educação frouxa, em que os pais sempre deram tudo o que os filhos pediam. É preciso, desde cedo, acostumar as crianças com as perguntas: “É essencial? É necessário?”
Obviamente, comprar supérfluos de vez em quando não é crime. Uma data
comemorativa, uma festa, um evento, podem justificar a compra de algo supérfluo. Neste caso, o supérfluo torna-se necessário, para justamente marcar a data. É preciso, no entanto, tomar o cuidado de não multiplicar as datas comemorativas a ponto de praticamente não haver mais dias “normais”. Sob o pretexto do “eu mereço”, muitas vezes nós nos concedemos compensações que acabam no... consumismo! Não se trata, por outro lado, de ser sovina. Economizar por economizar. Fugir do consumismo não é ser avarento. Evitamos o consumismo com o objetivo de alcançar uma vida financeira mais saudável e, no final das contas, mais feliz. Porque, ser escravo do supérfluo, por mais doce que pareça, nada mais é do que uma falta de liberdade, que acaba por tornar o ser humano infeliz.http://www.podium.pro.br/forum/6-Filosofia/156-Eu-Etiqueta---Consumo-e-Consumismo---6%C2%AA-s%C3%A9rie.html -Acesso em28/08/2012
15-Pedir que os alunos escrevam um texto de opinião sobre o tema discutido.(Se os alunos apresentarem dificuldades quanto à estrutura deste gênero o professor deve criar junto deles um plano de produção de texto ).
Orientação para todos os momentos de produção desta unidade:Para a produção escrita com qualidade, o professor precisa oportunizar alguns momentos de leituras e reflexões que serão relevantes no processo de construção, visto que ninguém escreve sobre aquilo que não conhece. Talvez aí tenhamos a razão que se aborda como problemática neste documento( a fala e a escrita desprovida de significação e elaborada de maneira intuitiva).Para isto indicamos algumas sugestões de fases pelas quais deve passar a escrita:-O nascimento das ideias;-Organização das ideias;-Fase da escrita;-Revisão do texto escrito;-Escrita de uma nova versão;-Entrega da versão final ao professor.(É importante que o professor recolha as duas versões, aquela com as demarcações e a nova ,para poder observar se houve progressos).
O escritor competente é aquele que realiza várias leituras, contextualiza as leituras que faz, desenvolve ideias, faz esquemas, revisa textos, corrige textos e refaz textos. Nesse sentido caminham os comandos que o professor de Língua Portuguesa deve conduzir em suas aulas.
MORTE E VIDA SEVERINA -JOÃO CABRAL DE MELLO NETORETIRANTE EXPLICA AO LEITOR QUEM É E A QUE VAI
— O meu nome é Severino.como não tenho outro de pia.Como há muitos Severinos,que é santo de romaria,deram então de me chamarSeverino de Mariacomo há muitos Severinoscom mães chamadas Maria,fiquei sendo o da Mariado finado Zacarias.
Mais isso ainda diz pouco:há muitos na freguesia,por causa de um coronelque se chamou Zacariase que foi o mais antigosenhor desta sesmaria.
Como então dizer quem faloora a Vossas Senhorias?Vejamos: é o Severinoda Maria do Zacarias,lá da serra da Costela,limites da Paraíba.
Mas isso ainda diz pouco:se ao menos mais cinco haviacom nome de Severinofilhos de tantas Mariasmulheres de outros tantos,já finados, Zacariasvivendo na mesma serramagra e ossuda em que eu vivia.
Somos muitos Severinosiguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grandeque a custo é que se equilibra,no mesmo ventre crescidosobre as mesmas pernas finase iguais também porque o sangue,que usamos tem pouca tinta.
E se somos Severinosiguais em tudo na vida,morremos de morte igual,mesma morte severina:que é a morte de que se morrede velhice antes dos trinta,de emboscada antes dos vintede fome um pouco por dia(de fraqueza e de doençaé que a morte severinaataca em qualquer idade,e até gente não nascida).
Somos muitos Severinosiguais em tudo e na sina:a de abrandar estas pedrassuando-se muito em cima,a de tentar despertarterra sempre mais extinta,
a de querer arrancaralguns roçado da cinza.Mas, para que me conheçammelhor Vossas Senhoriase melhor possam seguira história de minha vida,passo a ser o Severinoque em vossa presença emigra.
ATIVIDADES1-a- Oportunizar aos alunos a cópia do fragmento acima e realizar leitura. b- Buscar na biblioteca a obra completa para que em grupos observem o texto na íntegra no momento em que, através das mídias, assistam ao vídeo: http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/modules/debaser/genre.php?genreid=44&letter=&start=0 -Acesso em 30/08/2012
http://www.youtube.com/watch?v=u3R3s5XeB-w Há este musical feito pela Globo
em 1981 que é muito bom; texto completo.2-Comentar o vídeo com o auxílio do mapa do Brasil referenciando a região onde a trama se desenvolve;
3-Pedir que alguns alunos, de posse do livro, leiam em voz alta,de forma dialogada, outros fragmentos que foram visualizados no vídeo e que chamaram a atenção;
4-Que imagem o autor constrói ao longo do texto que confere ritmo ao poema?Através de que recurso linguístico o autor o faz?E na primeira parte do poema o ritmo é construído semanticamente. Explique:
5- Com o auxílio do dicionário, buscar o significado destas palavras de acordo com o contexto em que foram empregadas na obra “Morte e Vida Severina”/ João Cabral de Mello Neto. Para melhor compreensão, tome os enunciados do texto:
a-— Severino, retirante, deixe agora que lhe diga: b- Mas para que me conheçam melhor Vossas Senhorias passo a ser o Severino que em vossa presença, emigra.c- Somos muitos Severinos iguais em tudo e na sina:a de abrandar estas pedras suando-se muito em cima... d- Mais isso ainda diz pouco:há muitos na freguesia, por causa de um coronel que se chamou Zacarias e que foi o mais antigo senhor desta sesmaria. e— O meu nome é Severino, como não tenho outro de pia.f-—— Seu José, mestre carpina,e que diferença faz que esse oceano vazio cresça ou não seus cabedais...g-—— é uma cova grande para teu pouco defunto, mas estarás mais ancho que estavas no mundo... h-—— é uma cova grande para teu defunto parco, porém mais que no mundo te sentirás largo.
i-—— é de bom tamanho, nem largo nem fundo, é a parte que te cabe neste latifúndio.
j- Quem sabe se nesta terra não plantarei minha sina?
retirante- emigra- latifúndio- sina ancho- cabedais- abrandar- pia- parco- sesmaria
6-Descreva o espaço geográfico contando a viagem do retirante: Primeiramente crie um roteiro com os lugares pelos quais ele passou, para que possas produzir um texto com sequência linear. ( O professor deverá explicar:linearidade)
7-O texto é um poema narrativo que conta a viagem em retirada de Severino, do semiárido nordestino à Recife. Tente identificar os elementos composicionais desta narrativa:(situação inicial,personagens,lugar,tempo, modo, conflito,clímax e desfecho)
8-Severino é nome próprio, mas no texto adquire uma conotação de generalidade. Que sentidos podemos inferir ao nome severino(substantivo)? Que significado podemos inferir ao modificador severina( adjetivo)?
9-Toda narrativa se desencadeia a partir de um fato, que vai enredando outros novos fatos consequentes do primeiro e assim dando sequência ao texto. Porém, para dar sentido ao fato e contextualizá- lo no tempo e espaço,este obedece a um tema.Em” Morte e Vida Severina”, que tema foi discutido na história? Que fato desencadeia a história?
10- O autor precisa convencer o leitor da penúria pela qual passam os severinos e, para isto utiliza-se de recursos estilísticos e de linguagem que corroboram sua intenção de dizer, usando palavras que, neste contexto, cortam como faca ,demonstram a dor , o sofrimento e a tristeza. Volte ao texto e encontre estas marcas?
11- Na descrição do personagem Severino, o autor exprime ,através das retomadas de sua identificação, uma certa dificuldade para dizer quem é. Identifique estas retomadas e explique porque o autor o faz:
12- Já no início do texto o autor diz a que veio:Nesta situação ele:( ) Individualiza- se no seu papel de retirante;( ) Coloca- se como filho do coronel Zacarias e que mesmo assim sente a necessidade de retirada;( )Compara- se aos demais severinos, na penúria e na miséria, na luta pela vida, embriagado do desejo de fuga.
13- Analise o contexto histórico de quando e onde a história acontece e explique a morte severina, segundo o trecho abaixo: (O professor precisa fazer este retrospecto histórico)
“E se somos Severinosiguais em tudo na vida,morremos de morte igual,mesma morte severina:que é a morte de que se morrede velhice antes dos trinta,de emboscada antes dos vintede fome um pouco por dia(de fraqueza e de doençaé que a morte severinaataca em qualquer idade,e até gente não nascida)”.
14-Interprete o enunciado a partir do contexto explorado no poema:“Somos muitos Severinosiguais em tudo na vida:(...)
(...)e iguais também porque o sangue,que usamos tem pouca tinta”.
15-Organizar a turma em duplas para recitarem o poema de forma dialogada, os fragmentos que assim o exige. O primeiro fragmento precisa ser recitado individualmente.
16- Fazer um levantamento dos problemas sociais que são levantados no poema e questionados de forma indireta:(sim, porque o protagonista assume a si todas as mazelas e sente- se responsável)
17- Visualizar as obra “ Os Retirantes” e “Criança Morta” de Portinari, através dos recursos tecnológicos disponíveis na escola e relacionar o seu conteúdo com o texto estudado:
18- Disponibilizar vários exemplares das obras:Vidas Secas/Graciliano Ramos e Homens e Caranguejos /Josué de Castro e pedir que os alunos leiam em casa para posterior verbalização em sala de aula:
19- Propôr produção de texto de opinião sobre as questões discutidas:Explicar aqui dissertação objetiva e dissertação subjetiva, sugerindo estes dois temas:a- O retirante que migra todos os anos do nordeste brasileiro para o sudeste em busca de trabalho;b- O ser humano em constante fuga de suas mazelas,de suas perdas,da tristeza e da morte: a fome e a sede por livrar- se de sua condição de ignorância e miséria:
OrientaçãoÉ muito importante que estas produções de textos somente sejam realizadas, após a leitura de todas as obras sugeridas nesta unidade.
I- Juca- Pirama- Gonçalves Dias
IV
Meu canto de morte, Guerreiros, ouvi: Sou filho das selvas, Nas selvas cresci; Guerreiros, descendo Da tribo tupi.
Da tribo pujante, Que agora anda errante Por fado inconstante, Guerreiros, nasci; Sou bravo, sou forte, Sou filho do Norte; Meu canto de morte, Guerreiros, ouvi.
Já vi cruas brigas, De tribos imigas, E as duras fadigas
Da guerra provei; Nas ondas mendaces Senti pelas faces Os silvos fugaces Dos ventos que amei.
Andei longes terras Lidei cruas guerras, Vaguei pelas serras Dos vis Aimorés; Vi lutas de bravos, Vi fortes — escravos! De estranhos ignavos Calcados aos pés.
E os campos talados, E os arcos quebrados,
E os piagas coitados
Já sem maracás; E os meigos cantores, Servindo a senhores, Que vinham traidores, Com mostras de paz.
Aos golpes do imigo, Meu último amigo, Sem lar, sem abrigo Caiu junto a mi! Com plácido rosto, Sereno e composto, O acerbo desgosto Comigo sofri.
Meu pai a meu lado Já cego e quebrado, De penas ralado, Firmava-se em mi: Nós ambos, mesquinhos, Por ínvios caminhos, Cobertos d’espinhos Chegamos aqui!
O velho no entanto Sofrendo já tanto De fome e quebranto, Só qu’ria morrer! Não mais me contenho, Nas matas me embrenho,Das frechas que tenho Me quero valer.
Então, forasteiro,
Caí prisioneiro De um troço guerreiro Com que me encontrei: O cru dessossego Do pai fraco e cego, Enquanto não chego
Qual seja, — dizei!
Eu era o seu guia Na noite sombria, A só alegria Que Deus lhe deixou: Em mim se apoiava, Em mim se firmava, Em mim descansava, Que filho lhe sou.
Ao velho coitado De penas ralado, Já cego e quebrado, Que resta? — Morrer. Enquanto descreve O giro tão breve Da vida que teve, Deixai-me viver!
Não vil, não ignavo, Mas forte, mas bravo, Serei vosso escravo: Aqui virei ter. Guerreiros, não coro Do pranto que choro: Se a vida deploro, Também sei morrer.
ATIVIDADES
1- Apresentar o texto aos alunos e realizar leitura;
2- Oportunizar, na TV pendrive, a visualização e leitura do texto na íntegra para um possível entendimento do cotexto e contexto;
Orientação:O cotexto é aquilo que está marcado explicitamente no texto. São as sinalizações visíveis e que podem ser percebidas instantaneamente à leitura. O contexto compreende a todos os fatores inter-relacionados internamente e externamente no texto. São os sinais verbais e não verbais utilizados para a construção do sentido do texto.
Vale aqui ressaltar, segundo Koch (2002) que “a construção do sentido ocorre a partir da reunião de todos os conhecimentos arquivados na memória, que necessitam ser mobilizados por ocasião do intercâmbio verbal”.
3- Promover a verbalização da temática e contextualização do texto;
4- Realizar leitura de forma a marcar o ritmo ao recitar. (Buscando o ritmo do tambor em dias de guerra entre tribos inimigas)
Orientação:Quanto a rima, o que importa não é só a repetição dum grupo de fonemas
no final dos versos, importam as palavras a que esses fonemas pertencem. A
questão fundamental reside nas relações entre som e sentido da imagem poética.
A sonoridade é tratada como uma imagem estruturante do texto e não aparece,
necessariamente, nas rimas, mas nas aliterações,assonâncias, onomatopeias e
outros efeitos de musicalidade(JACOBSON,1973).
O núcleo do poema é o ritmo, isso não quer dizer que que este seja um
conjunto de metros. Metro e ritmo não são a mesma coisa. Quando o metro se
esvazia de conteúdo e se converte em forma inerte, o ritmo continua engendrando
novos metros. O ritmo é inseparável da frase, não é composto só de palavras
soltas nem só, é medida e quantidade silábica, acentos e pausas; é imagem e
sentido. Ritmo, imagem e significado apresentam- se simultaneamente numa
unidade indivisível e compacta: a frase poética, o verso. A única exigência do metro
é que cada verso tenha as sílabas e os acentos requeridos. O metro em si
mesmo , é medida vazia de sentido, ao passo que o ritmo, jamais se apresenta
sozinho , não é medida, mas conteúdo qualitativo e concreto. Todo ritmo verbal
contém em si a imagem e constitui uma frase completa e assim o verso se
transforma em medida sonora (PAZ, 1982).
Destacando o que dizem os formalistas russos(1973), ritmo, portanto, é toda
alternância regular: o ritmo musical é a alternância dos sons no tempo. O ritmo
poético é a alternância das sílabas no tempo. O ritmo coreográfico é a alternância
dos movimentos no tempo. Portanto, há ritmo em toda parte onde possamos
encontrar uma repetição periódica dos elementos no tempo ou no espaço. O
poema impresso no livro é apenas a representação do movimento, somente o
discurso poético pode ser apresentado como um ritmo e não o seu resultado
gráfico. O movimento rítmico é anterior ao verso. Não podemos compreender o
ritmo a partir da linha do verso, mas podemos compreender o verso pela
percepção do ritmo. Lemos o verso porque conhecemos o impulso rítmico de que
resulta(BRIK,1973).
O que marca o ritmo nesse poema é a regularidade das sílabas tônicas que,
nestas redondilhas menores, caem sempre na segunda e na quinta(e última)
sílabas poéticas.
Meu canto de morte, Guerreiros, ouvi: Sou filho das selvas, Nas selvas cresci; Guerreiros, descendo Da tribo tupi.
5-A partir da compreensão do texto, orientada pelo professor, temática e ritmo ,
promover um estudo sobre o autor (GONÇALVES DIAS), buscando no texto as
marcas que o caracterizam como um autor indianista e romântico.
Orientação:Não cabe aqui dar a biografia completa, já que se trata de nono
ano,apenas referenciar elementos do texto que são relevantes ao estilo do autor:
Gonçalves Dias, segundo Antonio Candido, foi um dos pioneiros de
destaque na Literatura Brasileira, coube- lhe na linha central de formação de nossa
Literatura, promover a realização do tema reputado nacional por excelência, o
indianismo. Destaca- se pelas qualidades superiores de inspiração e consciência
artística. Dos escritores românticos, é o mais decoroso e elegante, embora não
seja menos forte na expressão nem menos rico na personalidade. Ele procura nos
comunicar uma visão geral do índio, por meio de cenas ou feitos ligados à vida de
um índio qualquer, cuja identidade é puramente convencional. O Tamoio da
“Canção do Tamoio” ou o prisioneiro do”I- Juca Pirama”, são vazios de
personalidade, mas ricos de sentido simbólico. Por isso as peças mais belas da
sua lira nacional sejam poemas como este último, onde se apresenta uma rápida
visão do índio integrado a sua tribo, nos costumes e nos sentimentos de honra.
O índio de Gonçalves Dias, para Antonio Candido (1981), não é mais
autêntico do que dos demais autores, mas é mais índio por ser mais poético, como
é evidente pela situação que fundamenta a obra- prima da poesia indianista
brasileira : I- Juca - Pirama. Este poema é dessas coisas indiscutidas, que se
incorporam ao orgulho nacional e à própria representação da pátria , como a
magnitude do Amazonas, o grito do Ipiranga ou as cores verde e amarelo. É um
heroico deslumbramento, com um poder mágico de enfeixar, em admirável
malabarismo de ritmos, aqueles sentimentos padronizados que definem a
concepção comum de heroísmo e generosidade. O poeta inventou um recurso
inesperado e excelente: o lamento do prisioneiro, caso único em nosso indianismo,
que rompe a tensão da bravura Tupi graças a supremacia da piedade filial:
Guerreiros, não coro
Do pranto que choro.
Esta suspensão da convenção heroica não condizendo com a expectativa
de valentia inquebrável, introduz no poema um abatimento que mais realça, pelo
contraste, a maldição dramática do velho pai(CANDIDO,1981).
A rotação psicológica do poema, as alternativas de pasmo e exaltação se
realizam de modo impecável na estrutura melódica, nos movimentos marcados
pela variação do ritmo e amparado na escolha dos vocábulos. Bem romântico pela
concepção, tem uma configuração plástica e musical que o aproxima do bailado.
É, talvez, o grande bailado da nossa poesia, com cenário, partitura e riquíssima
coreografia fundidos pela força artística do poeta(CANDIDO,1981).
Candido ainda ressalta que a poesia nacional, embora , os sucessores , a
tenham destacado, em Gonçalves Dias, o indianismo encontra muito mais: a
maneira de ver a natureza em profundidade, criando- a como significado; o sentido
heroico da vida, superação permanente da frustração; a tristeza digna, refinada
pela arte; no terreno formal, a adequação dos ritmos e sua multiplicidade, a
invenção da harmonia segundo as necessidades expressionais, o afinamento do
verso branco.
A harmonia gonçalvina, para ser bem sentida, requer participação ativa da
inteligência; requer sentimento alerta dos valores de construção, nem sempre
evidentes na aparência do poema(CANDIDO,1981
6-Produção de texto em prosa contando a narrativa conhecida no poema:
Orientação: chamar a atenção para o fato de que os recursos poéticos utilizados
pelo autor, agora não serão mais relevantes ou necessários, já que o texto em
prosa apresenta uma outra estrutura e linguagem.
7-Levar os alunos à biblioteca da escola para a demostração dos livros de Gonçalves Dias ou de outras obras que contemplem os seus poemas. Realizar leituras de: Canção do Tamoio, Canção do Exílio, Olhos Verdes....sempre buscando ler com realce ao ritmo para perceberem a musicalidade na obra gonçalvina.
Orientação:Para melhor entendimento do texto sugere- se ao professor essas considerações:
I-Juca- Pirama é da língua tupi e significa,“o que há de ser morto, e que é digno de ser morto.” Embora tenha nome próprio, “Juca Pirama” não tem nada a ver com o nome do índio aprisionado pelos Timbiras
O poema narrativo I–Juca Pirama nos dá uma visão mais próxima do índio, ligado aos seus costumes. O índio integrado no ambiente natural, e principalmente adequado a um sentimento de honra. É narrado em 3ª pessoa por um índio timbira que relata às gerações posteriores as proezas do guerreiro tupi que lá esteve. Descreve a história de um índio tupi que, por ser um bravo e corajoso guerreiro, deveria ter sua carne comida numa cerimônia religiosa.
O autor, através do narrador timbira, não revela o lugar onde decorre a ação; sabe-se, entretanto, que os timbiras viviam no interior do Brasil, ao contrário dos Tupis, que se localizavam no litoral. Não há uma indicação explícita do tempo, mas percebe-se que é a época da colonização portuguesa, quando os índios já estavam sendo dizimados pelo branco, como diz, no seu canto de morte, o guerreiro Tupi – um triste remanescente “da tribo pujante/ que agora anda errante”.
Quanto aos personagens I - Juca Pirama é o típico herói romantizado, perfeito, sem mácula que desperta bons sentimentos no homem burguês leitor. O velho tupi simboliza a tradição secular dos índios tupis. É o pai de I – Juca Pirama. Os timbiras são índios ferozes e canibais. O velho timbira é o narrador e personagem ocular da estória.
O índio adequado a um forte sentimento de honra, simboliza a própria força natural do ameríndio, sua alta cultura acerca de seu povo representado no modo como este acata o rígido código de ética de seu povo constitui a temática do poema.
O poema é apresentado em dez cantos, organizados em forma de composição épico – dramática. Todos presentam um índio cujo caráter e heroísmo são salientados a cada instante.Canto 1 - Apresentação e descrição da tribo dos Timbiras. Canto 2 - Narra a festa canibalística dos timbiras e a aflição do guerreiro tupi que será sacrificado. Canto 3 - Apresentação do guerreiro tupi – I – Juca Pirama. Canto 4 - I - Juca Pirama aprisionado pelos Timbiras declama o seu canto de morte e pede ao Timbiras que deixem-no ir para cuidar do pai alquebrado e cego. Canto 5 - Ao escutarem o canto de morte do guerreiro tupi, os timbiras entendem
ser aquilo um ato de covardia e desse modo desqualificam-no para o sacrifício. Dá a impressão do conflito que se estabelece e reflete o diálogo nervoso, entre o chefe Timbira e o índio Tupi.Canto 6 - O filho volta ao pai que ao sentir o cheiro de tinta dos timbiras, específica para o sacrifício, desconfia do filho e ambos partem novamente para a tribo dos timbiras para sanarem ato tão vergonhoso para o povo tupi. Há a reprodução do diálogo entre pai e filho e também a decepção do pai. Canto 7 - Sob a justificativa de que os tupis são fracos, o chefe dos timbiras não permite a consumação do ritual. O poeta reproduz a fala segura do pai humilhado e do chefe TimbiraCanto 8 - O pai envergonhado maldiz o filho covarde. Canto 9 – Enraivecido, o guerreiro tupi lança o seu grito de guerra e derrota a todos valentemente em nome de sua honra.Canto 10 - O velho Timbira rende-se frente ao poder do tupi e diz a célebre frase: "meninos, eu vi", o poeta fecha o poema, de forma harmoniosa e ordenada, o que reflete o fim do conflito e a serenidade dos espíritos. Disponívelem:http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/livros/analises_completas/i/i_juca_piramaAcesso em 25/10/2012
CRONOGRAMA PARA A IMPLEMENTAÇÃO DA PRODUÇÃO DIDÁTICATEXTO E ATIVIDADES DATA N° DE
AULAS
O GUARDADOR DE REBANHOS/ FERNANDO PESSOA: Leitura
01
Estudo do texto e Análise Semântica e Linguística 02
Roda da conversa para a verbalização do entendimento do texto 01
Produção de texto 01
Refacção do texto 01
Visita à biblioteca 01
Momento Literário 01
Recital 01
EUETIQUETA/ CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE: Leitura
01
Visualização de vídeo 01
Estudo do texto: Análise semântica e Linguística 02
Movimento intertextual 01
Produção de texto 02
Refacção do texto 01
Recital 01
MORTE E VIDA SEVERINA/ JOÃO CABRAL DE MELLO NETO: Leitura
01
Vídeo 02
Leitura Dramatizada 02
Estudo do texto:Aspectos semânticos e linguísticos 02
Leitura de imagem 01
Produção de texto 02
Refacção do texto 01
Recital 01
I- JUCA- PIRAMA/GONÇALVES DIAS: Leitura 01
Momento de verbalização 01
Movimento hipertextual entre as obras do autor 01
Releitura para estudo do ritmo 01
Estudo do texto: Aspectos semânticos e linguísticos 02
Leitura do texto na íntegra e estudo do cotexto 01
Produção de texto narrativo: 01
Refacção do texto 01
Recital 01
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