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FACULDADE SÃO LUÍS DE FRANÇA Aracaju-SE, Brasil, 24 e 25 de novembro de 2012

FICHAMENTO, RESUMO E RESENHA:

A DIFICULDADE EM DICERNI-LOS NA GRADUAÇÃO

ARCANJO, Luciana de Lima. (UFS)1

MARIANO, Márcia Regina Curado Pereira. (DLI/UFS - ORIENTADORA) 2

RESUMO: O trabalho em questão se destina a investigar, principalmente, as dificuldades que os

alunos dos cursos de Administração e de Ciências Contábeis apresentam em diferenciar entre os

gêneros: fichamento, resumo e resenha, e está circunscrito à área da Linguística Textual. No

percurso de nossa pesquisa nos atentaremos a observar a mudança de postura desses alunos, com

relação aos gêneros especificados, durante o período em que estiverem cursando a disciplina

Produção e Recepção de Texto I, delimitando os seus conceitos, as abordagens trabalhadas e a

importância desta na vida acadêmica dos graduandos dos cursos citados anteriormente. Para tanto,

iremos considerar o conhecimento de mundo desses alunos e as suas noções acerca dos gêneros

em questão a partir das produções textuais coletadas. Além disso, nos deteremos a responder as

seguintes indagações: a confusão feita pelos alunos dos cursos de Administração e de Ciências

Contábeis com relação aos gêneros fichamento, resumo e resenha, tem relação com os temas

referentes ao texto, tão recorrentes em disciplinas como Produção e Recepção de Texto I ou tem a

ver com o fato de estes não terem se deparado com um estudo específico sobre os gêneros? Quais

as contribuições da disciplina Produção e Recepção de texto I para a vida acadêmica desses

graduandos? Como o projeto de monitoria do DLI (departamento de Letras de Itabaiana) da UFS

vem a contribuir com o desempenho e com o rendimento desses alunos nas disciplinas referentes

ao estudo do texto?

Palavras-chave: gêneros textuais; texto; compreensão; produção textual; e ensino de Língua.

INTRODUÇÃO

O referido trabalho faz parte das atividades desenvolvidas na disciplina Trabalho

de Conclusão de Curso I e tem como finalidade construir um esboço acerca da pesquisa que

será produzida no processo de monografia.

Nosso trabalho se destina a investigar, principalmente, as dificuldades que os

alunos dos cursos de Administração e de Ciências Contábeis apresentam em diferenciar entre

os gêneros: fichamento, resumo e resenha, e está circunscrito à área da Linguística Textual.

1 Graduanda do curso de Letras Português – Licenciatura pela Universidade Federal de Sergipe – Campus

Universitário Profº Alberto Carvalho; monitora bolsista PROGRAD/COGEPLAN. E-mail:

[email protected] 2 Professora Doutora do curso de Letras Português - Licenciatura pela Universidade Federal de Sergipe –

Campus Universitário Profº Alberto Carvalho; pesquisadora LED/DLI/UFS. E-mail: [email protected]

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No percurso de nossa pesquisa nos atentaremos a observar a mudança de postura desses

alunos, com relação aos gêneros especificados, durante o período em que estiverem cursando

a disciplina Produção e Recepção de Texto I, delimitando os seus conceitos, as abordagens

trabalhadas e a importância desta na vida acadêmica dos graduandos dos cursos citados

anteriormente. Para tanto, iremos considerar o conhecimento de mundo desses alunos e as

suas noções acerca dos gêneros em questão a partir das produções textuais coletadas. Além

disso, nos deteremos a responder as seguintes indagações: a confusão feita pelos alunos dos

cursos de Administração e de Ciências Contábeis com relação aos gêneros: fichamento,

resumo e resenha, tem relação com os temas referentes ao texto, tão recorrentes em

disciplinas como Produção e Recepção de Texto I ou tem a ver com o fato de estes não terem

se deparado com um estudo específico sobre os gêneros? Quais as contribuições da disciplina

Produção e Recepção de texto I para a vida acadêmica desses graduandos? Como o projeto de

monitoria do DLI (departamento de Letras de Itabaiana) da UFS vem a contribuir com o

desempenho e com o rendimento desses alunos nas disciplinas referentes ao estudo do texto?

Com o intuito de buscar as respostas para tais questionamentos, tomaremos como

base as produções textuais desses alunos, em especial, os resumos, recolhidas durante o

período em que eles estavam cursando a disciplina Produção e Recepção de Texto I. Através

dessas produções, poderemos identificar as falhas mais recorrentes, o nível de conhecimento e

a compreensão desses alunos a respeito dos temas constantes na disciplina e aqueles

relacionados aos mecanismos do texto.

Partindo desse pressuposto, procuraremos fazer um recorte de algumas teorias,

como: o estudo acerca dos gêneros textuais, desenvolvido por Luiz Antônio Marcuschi, um

dos principais autores que tratam do tema, a partir do qual delimitaremos as definições e as

funcionalidades dos gêneros; a visão dos PCNs a respeito dessa questão – já que,

no que concerne ao uso de gêneros textuais no ensino, os PCNs ainda pecam bastante, embora

se note pela primeira vez uma posição determinada e determinante para esse trabalho –, e a

relação dos gêneros textuais na fala e na escrita, além de elucidar a importância dessa prática

na sala de aula; com base nas abordagens de Antônio Joaquim Severino, procuraremos

conceituar e elucidar os gêneros fichamento, resumo e resenha, objetos fundamentais de nossa

pesquisa, a fim de esclarecer em que consiste cada uma dessas atividades, pontuando os

conceitos e os objetivos dessas produções. E para concluir a nossa abordagem teórica, nos

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aprofundaremos no gênero resumo, já que ele será o corpus de nossa análise. Para isso,

faremos um recorte dos principais estudos desenvolvidos na área.

OBJETIVOS

Objetivo geral

Administração e Ciências Contábeis em discernir entre os gêneros fichamento, resumo e

resenha, buscando soluções que possam reduzir ou sanar esse problema.

Objetivos específicos

Ciências Contábeis, em especial os resumos, que serão a base de nossa pesquisa;

Produção e

Recepção de texto I na formação desses alunos;

área à qual

pertencem, e como eles reagem diante de temas direcionados à sua área e daqueles que não

tratam de temas corriqueiros em seu curso;

analisar o impacto de disciplinas relacionadas à produção textual enquanto

estão sendo cursadas. Se estas foram capazes de alterar a percepção do aluno, fazendo-o

compreender os conceitos e os tipos de produção textual, além dos gêneros textuais:

fichamento, resumo e resenha, e como o apoio da monitoria vem a contribuir com esse

processo.

JUSTIFICATIVA

A escolha dessa pesquisa partiu da necessidade de se buscar respostas para alguns

problemas relacionados às produções textuais de alunos dos cursos de Administração e

Ciências Contábeis da UFS – Campus Universitário Profº Alberto Carvalho, detectadas nas

aulas de Produção e Recepção de Texto I. Por meio do processo de monitoria do

Departamento de Letras da referida instituição, foi possível entrar em contato com a escrita

desses alunos e perceber alguns déficits e as principais dificuldades apresentadas por eles,

além de poder intervir no processo, dando apoio através da assistência estudantil que o

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programa oferece. Porém, apesar da necessidade de recorrer ao monitor, a procura era pouco

frequente, o que dificultava o processo de fixação dos conteúdos e de refacção dos textos.

O foco primordial de nossa investigação é a confusão que os alunos fazem diante

dos gêneros textuais fichamento, resumo e resenha, tão recorrentes nos cursos de graduação.

Dúvidas como estas também levantam questões como: será que o professor, ao pedir uma

dessas produções aos alunos, sabe mesmo a que se refere cada uma delas? Ou o problema está

nos alunos, que não fixaram cada gênero? Ou, ainda mais grave, será que esses graduandos

tiveram a oportunidade de entrar em contato com esses gêneros, de forma a compreender cada

um deles, até se depararem com uma disciplina específica sobre o texto, os seus tipos e os

seus mecanismos?

Enfim, indagações como estas, motivaram-nos a ir em busca das respostas e,

conforme for se enveredando a pesquisa, talvez, encontrar soluções que possam diminuir as

dificuldades apresentadas por esses graduandos, ou até, sanar o problema.

Nossa pesquisa se debruçará sobre um referencial teórico que pretende esclarecer

alguns conceitos-chave, no que se refere ao texto e à sua elaboração, além de elucidar as

concepções de gênero textual e delimitar os gêneros: fichamento, resumo e resenha.

Os estudos sobre os gêneros apesar de terem se destacado bastante nas últimas

décadas, não são recentes como muitos supõem, tiveram início com as teorias acerca dos

gêneros do discurso de Aristóteles. Atualmente, esses estudos tem sido enfatizados sob um

novo olhar, diferentemente da perspectiva aristotélica, e encara os gêneros como forma de

ação social. Isto é, correspondem a uma atividade comunicativa que envolve processos

cognitivos, aspectos culturais e manifestações sociais, ao qual o uso da língua engloba.

De acordo com as teorias de Marcuschi acerca das definições e das

funcionalidades dos gêneros textuais, observa-se que eles são processos intrinsecamente

ligados ao cotidiano cultural e social dos sujeitos: “[...] Caracterizam-se como eventos

textuais altamente maleáveis, dinâmicos e plásticos. Surgem emparelhados a necessidades e

atividades socioculturais...” (MARCUSCHI, 2002, p.19). Desse modo, podemos afirmar que

há uma relação entre os gêneros e a época em que se realizam, entre a cultura e o meio social

onde se desenvolvem, sendo assim, as suas funções e as suas intenções surgem com o intuito

de atenderem as especificidades de cada grupo social. Ou seja, não há comunicação verbal

sem o uso de algum gênero textual, de acordo com o viés discursivo e comunicativo da

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língua, vista aqui como atividade social, histórica e cognitiva. Sendo assim, os gêneros

textuais correspondem:

“[...] A uma noção propositalmente vaga para referir os textos materializados que

encontramos em nossa vida diária e que apresentam características sócio-

comunicativas definidas por conteúdos, propriedades funcionais, estilo e

composição característica. [...]” (MARCUSCHI, 2002, p.22-23).

Segundo Marcuschi, ao se dominar um gênero textual, o que está sendo

dominado, efetivamente, é uma forma particular de realizar linguisticamente “técnicas”

peculiares relacionadas a contextos sociais específicos, uma vez que, os gêneros textuais

caracterizam-se enquanto atividades sócio-discursivas. São, ainda, heterogêneos e possuem

uma relação de intertextualidade intergêneros (um gênero com a função de outro) e de

heterogeneidade tipológica (um gênero com a presença de vários tipos textuais).

No que diz respeito ao ensino de Língua, Marcuschi afirma que não existem

gêneros textuais específicos para se trabalhar em sala de aula, mas enquanto uns são mais

Paulo: Paulistana, 2006. apropriados para a produção textual, outros estão mais

voltados para a leitura. Outra questão com relação ao uso dos gêneros na escola diz respeito

aos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) lançados pelo MEC para o ensino

fundamental e médio, pois trazem uma visão redutora acerca de como se trabalhar com os

gêneros, como bem destaca Marcuschi:

“Em muitos outros aspectos os PCNs são inovadores e muito claros, mas no que

tange aos gêneros, há uma sugestão pouco clara do seu tratamento, embora esteja aí

pela primeira vez uma posição determinada e determinante para esse trabalho. O que

eu critico aqui é a forma como isso vem sendo trabalhado nos PCNs.”

(MARCUSCHI, 2008, p.207).

Nesse sentido, observa-se que os PCNs apresentam algumas falhas e algumas

confusões ao tratar dos gêneros textuais. A primeira delas está relacionada à distinção entre

tipo textual e gênero textual, pois não há uma elucidação a esse respeito. A segunda é reduzir

os gêneros apenas a uma realização linguística mais formal. Sem contar com a confusão entre

oralidade e escrita, que não são claramente distinguidas. Além disso, os PCNs não exploram a

diversidade dos gêneros, deixando de lado principalmente aqueles relacionados ao cotidiano

dos alunos, isto é, que se aproximam da realidade deles, o que proporcionaria um processo de

ensino-aprendizagem mais produtivo. Outro fator relacionado a essa questão, é a pequena

quantidade de gêneros sugeridos para as atividades de produção textual, o que reforça o

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descaso da maioria das instituições acerca do exercício da produção textual baseada em

gêneros.

“Na realidade, aqui há um problema de ordem metodológica paradoxal: por um lado,

quando os PCNs propõem conteúdos programáticos mostrando-se inevitavelmente

redutores e, por outro, quando concretizam as ações, tornam-se homogeneizadores,

sugerindo que todos os professores trabalhem determinados fenômenos. O fato é que

para planos dessa ordem dever-se-ia operar no nível conceitual, explanatório e não

de conteúdos. Nesses casos, estratégias e processos com as respectivas

exemplificações são mais importantes do que conteúdos específicos. O caso dos

gêneros textuais é apenas um exemplo paradigmático disso.” (MARCUSCHI, 2008,

p.211).

Seguindo ainda esse viés, Bernard Schneuwly e Joaquim Dolz defendem a

inserção e a importância dos gêneros textuais no processo de ensino-aprendizagem:

“[...] Os gêneros textuais, por seu caráter genérico, são um termo de referência

intermediário para a aprendizagem, o gênero pode, assim, ser considerado um mega-

instrumento que fornece um suporte para a atividade nas situações de comunicação e

uma referência para os aprendizes. [...]” (SCHNERWLY e DOLZ, 1999, p.07).

Também compartilhando dos postulados se Schneuwly e Dolz, Anna Rachel

Machado complementa:

“[...] O ensino de produção e compreensão de textos deve centrar-se

no ensino de gêneros, sendo necessário, para isso, que se construa,

previamente, um modelo didático do gênero, que defina, com clareza,

tanto para o professor quanto para o aluno, o objeto que está sendo

ensinado, guiando, assim, as intervenções didáticas.” (MACHADO,

2005, p. 139).

No que se refere à distinção entre os gêneros fichamento, resumo e resenha,

recorreremos à coleção de Antônio Joaquim Severino Metodologia do Trabalho Científico,

onde alguns autores descrevem os procedimentos referentes a cada uma dessas atividades. De

acordo com a autora Rosana Morais Weg, o fichamento “[...] é uma forma organizada de

registrar as informações obtidas na leitura de um texto. [...]” (SEVERINO, 2000, p. 13).

Consiste na elaboração de um segundo texto a partir do texto-base e serve de material de

consulta para a construção de um terceiro texto ou simplesmente para organizar as leituras já

feitas, assim, caso necessite recorrer a elas futuramente não será necessário ler novamente o

texto, uma vez que, as ideias principais já estão registradas no fichamento. Já o resumo,

segundo Marli Quadro Leite, corresponde ao processo de enumerar as ideias principais do

texto-base e a partir delas elaborar um segundo texto apresentando somente os conceitos-

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chave do primeiro. É uma forma de registrar as informações adquiridas através da interação

com o texto antes que elas se apaguem da memória e assim como o fichamento, também serve

como material de consulta. Vale frisar ainda, que o processo de resumir um texto está

diretamente ligado as “competências” do leitor. E por fim, a resenha que, de acordo com a

autora Maria Lúcia C. V. O. Andrade trata-se de um trabalho mais minucioso, pois, além de

sintetizar as ideias centrais do texto, deve expor a visão crítica do resenhista acerca do texto-

base, concordando ou discordando com o que está sendo abordado por ele. Além desses

aspectos, a resenha também deve conter dados biográficos do autor do texto-base em seu

paragrafo introdutório e um parecer do leitor sobre a importância e as contribuições da obra e

do autor para o meio em que ela está inserida.

Já que o corpus de nossa pesquisa são as produções textuais referentes ao gênero

resumo, lhe daremos um enfoque maior em nossa fundamentação teórica e no decorrer de

nossas análises, confrontando e/ou reafirmando as teorias de diversos estudiosos da área. De

antemão, assim como frisa a autora Anna Rachel Machado, é importante explorar as

definições comumente atribuídas ao gênero resumo. Para isso, tomaremos com fonte o “Novo

Aurélio – Dicionário de Língua Portuguesa” on line, que fornece os seguintes significados

para o gênero:

“resumo. [Dev. De resumir.] S. m. 1. Ato ou efeito de resumir (-se). 2. Exposição

abreviada de uma sucessão de acontecimentos, das características gerais e de alguma

coisa, etc., tendente a favorecer sua visão global: síntese, sumário, epítome, sinopse:

O repórter fez um bom resumo das últimas ocorrências. 3. Apresentação concisa, do

conteúdo de um artigo, livro, etc., a qual, precedida de sua referencia bibliográfica,

visa a esclarecer o leitor sobre a conveniência de consultar o texto integral. Ao

contrario da sinopse (2) (q. v.), o resumo aparece em publicação à parte e é redigido

por outra pessoa que não o autor do trabalho resumido. 4. Recapitulação em poucas

palavras; sumário: Esta gramatica tem um resumo claro no fim de cada capítulo. 5.

Fig. Compendio (3).” (MACHADO, 2005, p. 142- 143)

Através dessas definições podemos constatar que o resumo pode ser socialmente

reconhecido como gênero textual, que sua produção corresponde a situação comunicacional a

qual se dirige e que ele abarca vários sentidos devido aos vários contextos em que o gênero é

habitualmente usado – fator que justifica a confusão terminológica que o cerca. Por isso, faz-

se necessário aqui, por exemplo, elucidar a distinção entre o processo de sumarização e o de

produção de resumos, frequentemente confundidos no ensino. O primeiro está ligado à

compreensão da leitura e corresponde ao resumo mental do texto construído pelo leitor no

qual ele arquiva as informações pertinentes e descarta as dispensáveis para chegar ao sentido

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global do texto, ou seja, é o primeiro passo para a elaboração de um resumo. Já o segundo diz

respeito à materialização dessa sumarização, onde se deve ter em vista os objetivos, o receptor

e as condições de produção, levando em consideração as regras/estratégias referentes ao

gênero em questão.

A sumarização, juntamente com o ensino da produção de resumos, são métodos

fundamentais para o desenvolvimento da compreensão de leitura. Portanto,

“[...] Uma vez que admitimos que os usos sociais dos resumos de texto, tanto em

contexto escolar quanto não escolar, são os mais diversos e em quantidades

significativa, eles se constituem como um objeto de ensino pertinente e, para que

esse ensino seja eficaz, é necessário que aprofundemos nossas reflexões sobre sua

produção. [...]” (MACHADO, 2005, p. 138).

É importante ressaltar que, como afirma Machado, o gênero resumo possui

“subgêneros” que seriam os vários tipos de resumos que circulam na sociedade em geral –

resumo jornalístico, resumo literário, resumo escolar, resumo de livro, etc. – e que variam de

acordo com o objetivo, com o contexto em que estão inseridos, com a situação

comunicacional a que se referem e com a área a qual se dirigem. Dessa forma:

“Subgêneros de resumos de textos podem ser identificados, de acordo com a

instituição social em são produzidos e em que circulam e, portanto, de acordo com

seus destinatários, o que nos permite distinguir entre resumos jornalísticos,

científicos etc.” (MACHADO, 2005, p. 150).

Já para Marcuschi o resumo é um processo de “retextualização”, visto aqui não

como um mero processo mecânico, mas como “[...] um processo que envolve operações

complexas que interferem tanto no código como no sentido e evidenciam uma série de

aspectos. [...]” (MARCUSCHI, 2007, p.46). Dessa forma, a retextualização abrange as

relações entre os gêneros e os textos – intertextualidade – bem como, as relações entre

discursos – a interdiscursividade. O resumo, como mencionado anteriormente, é a elaboração

de um segundo texto a partir das ideias principais do texto-base; é o mesmo que registrar a

nossa compreensão acerca daquilo que foi lido e por mais que não caiba em especial nesse

processo (resumo) a nossa visão crítica, não deixa de ser a exposição de nossas percepções

sobre o conteúdo e as informações que extraímos da leitura relacionados ao conhecimento que

possuímos decisivos para a sua efetivação. Dessa forma, a compreensão torna-se um fator

importantíssimo não só no processo de resumir um texto como também em outras

modalidades que envolvem leitura, escrita, oralidade ou interpretação, uma vez que, é

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impossível relatar ou discorrer a respeito daquilo que não compreendemos ou não sabemos

interpretar.

“Há nestas atividades de retextualização um aspecto geralmente ignorado e de uma

importância imensa. Pois para dizer de outro modo, em outra modalidade ou em

outro gênero o que foi dito ou escrito por alguém, devo inevitavelmente

compreender o que esse alguém disse ou quis dizer. Portanto, antes de qualquer

atividade de transformação textual, ocorre uma atividade cognitiva denominada

compreensão. Esta atividade, que em geral se ignora ou se dá por satisfeita e não

problemática, pode ser a fonte de muitos problemas no plano da coerência no

processo de retextualização. [...]” (MARCUSCHI, 2007, p.47).

O resumo “[...] seria a representação reduzida de um texto a resumir, sendo o

problema da escrita reduzido a um simples ato de transcodificação da compreensão do texto.

[...]” (SCHNERWLY e DOLZ, 1999, p.14). Além disso, por possuir um objetivo e um

destinatário específicos, deixa marcas linguísticas específicas no texto:

“[...] O exercício „resumo‟ deve ser considerado um gênero que leva ao extremo a

atitude metalinguística em face de um texto em que é preciso reconstruir a lógica

enunciativa, sendo a situação escolar de comunicação precisamente, aquela que

solicita a demonstração da capacidade desta atitude.” (SCHNERWLY e DOLZ,

1999, p.14).

METODOLOGIA

O corpus da pesquisa em questão será os resumos coletados durante o período de

atuação da monitoria na disciplina Produção e Recepção de Texto I, desenvolvido pelo

programa de assistência estudantil da Universidade Federal de Sergipe – Campus Profº

Alberto Carvalho, referente a alunos dos cursos de Administração e de Ciências Contábeis.

Com base nessas produções, faremos um estudo de caso, de cunho qualitativo e quantitativo,

que pretende avaliar o nível de compreensão desses alunos acerca dos gêneros fichamento,

resumo e resenha, a fim de identificar se realmente há uma confusão entre os gêneros e a

persistência dela ou não no decorrer da disciplina em questão.

Nossa ideia inicial é, dentre as produções coletadas, selecionar seis resumos (parte

quantitativa da pesquisa) de cada semestre em que a monitoria atuou como apoio extra à

disciplina Produção e Recepção de Texto I, ministrada pela professora Márcia Regina Curado

Pereira Mariano, nos semestres: 2011/2, 2011/3 e 2012/1. Caso ocorra de esse número de

produções ser exagerado e/ou insuficiente, faremos as devidas alterações no decorrer da

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pesquisa, como diminuir, aumentar ou até mesmo mantermos esse número, o que irá variar de

acordo com as necessidades ou dificuldades que o trabalho for apresentando.

O processo de seleção dos resumos se dará da seguinte maneira: de cada grupo de

seis produções, escolheremos as três que apresentaram problemas mais graves e as três que

apresentaram dificuldades mais amenas, sempre levando em consideração aspectos textuais

relacionados à compreensão, a interpretação, ao uso da língua, a adequação da estrutura do

texto ao gênero resumo, e não somente ao uso da gramática, que também é importante e que

não deixaremos de lado, mas que não é o foco principal de nossa investigação (parte

qualitativa). Nessa etapa de análise dos resumos e levantamento dos dados, bem como na

observação da adequação ao gênero em questão, tomaremos como base a coleção de Severino

(SEVERINO, 2000) onde as autoras Rosana (WEG, 2006), Marli (LEITE, 2006) e Maria

Lúcia (ANDRADE, 2006) fazem a distinção entre os gêneros fichamento, resumo e resenha,

respectivamente, esclarecendo os pontos primordiais dessas atividades; e as teorias de

Marcuschi (MARCUSCHI, 2007) e Machado (MACHADO, 2005) acerca do gênero resumo,

sob o qual nos deteremos e aprofundaremos nossa análise. Feito todo esse levantamento,

discorreremos brevemente acerca de cada déficit encontrado, questionando e analisando cada

erro. Em seguida, partiremos para os questionamentos que nos propusemos a responder no

início de nossa pesquisa, com o intuito principal de detectar a causa da confusão dos

estudantes dos cursos de Administração e de Ciências Contábeis acerca dos gêneros tão

cobrados na academia.

Por fim, a partir das produções textuais coletadas, mais precisamente as do gênero

resumo, faremos um levantamento das dificuldades e dos desvios mais frequentes

apresentados pela escrita desses alunos e através deles, faremos uma comparação do

desempenho dos alunos antes, durante e depois de terem cursado a disciplina. Dessa forma,

poderemos detectar se os conceitos fornecidos pela disciplina Produção e Recepção de Texto

I, juntamente com o apoio da monitoria, estão contribuindo para o aprimoramento da escrita

desses discentes e contribuindo, assim, para a formação acadêmica deles. Além disso, com

base nessas análises, procuraremos fornecer algumas sugestões no sentido de diminuir a

incidência do problema e/ou erradicá-lo.

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REFERÊNCIAS

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