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8/10/2019 Fuso, Incorporao e Ciso de Sociedades e Seus Reflexos Nos Direitos Reais Imobilirios
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FACULDADE DE DIREITO MILTON CAMPOSPrograma de Ps-Graduao em Direito Empresarial
FUSO, INCORPORAO E CISO DESOCIEDADES E SEUS REFLEXOS NOS
DIREITOS REAIS IMOBILIRIOS
Paulo Henrique Gonalves Pires
Nova Lima2010
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Paulo Henrique Gonalves Pires
FUSO, INCORPORAO E CISO DESOCIEDADES E SEUS REFLEXOS NOS
DIREITOS REAIS IMOBILIRIOS
Dissertao apresentada ao programa de Ps-Graduao Stricto Sensu da Faculdade deDireito Milton Campos, como requisito parcialpara obteno do ttulo de Mestre em Direito.
rea de concentrao: Direito Empresarial
Orientador: Prof. Dr. Alexandre BuenoCateb
Nova Lima2010
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FICHA CATALOGRFICA
Pires, Paulo Henrique GonalvesP667f Fuso, incorporao e ciso de sociedades e seus reflexos nos direitos reais
imobilirios. / Paulo Henrique Gonalves Pires. Belo Horizonte, 2010.159f.
Orientador: Alexandre Bueno CatebDissertao (Mestrado) Faculdade de Direito Milton Campos. Ps-
Graduao em Direito Empresarial.
1. Empresas Fuso e Incorporao. 2. Sociedade Comerciais - Ciso. 3.Registros de Imveis. I. Cateb, Alexandre Bueno. II. Faculdade de Direito MiltonCampos. Ps-Graduao em Direito Empresarial. III. Ttulo.
CDU: 347.72Daniela Teixeira Lacerda CRB-6 / 2672
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Faculdade de Direito Milton Campos Mestrado em Direito Empresarial
Dissertao intitulada Fuso, incorporao e ciso de sociedades e
seus reflexos nos direitos reais imobilirios, de autoria do mestrando
Paulo Henrique Gonalves Pires, aprovada pela banca examinadora
com mdia final igual a (______) ____________________________,
constituda pelos seguintes professores:
_________________________________________Prof. Doutor Alexandre Bueno Cateb Orientador
Faculdade de Direito Milton Campos
_________________________________________Prof. Doutor
_________________________________________Prof. Doutor
Nova Lima, de de 2010.
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Aos familiares, pelo incentivo e compreenso.
A meus pais, grandes amores da minha vida, pelo carinho
e dedicao.
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AGRADECIMENTOS
Ao Prof. Dr. Alexandre Bueno Cateb, pela orientao, pelos ensinamentos e pela
amizade.
Aos meus colegas de mestrado, pelo convvio e pela rica troca de experincias.
A todos que, de alguma forma, contriburam para esta conquista.
Aos primos e amigos, por compreenderem a minha ausncia.
Aos colegas do 4Ofcio de Registro de Imveis, pe lo incentivo e compreenso.
Em especial, ao Dr. Francisco Jos Rezende dos Santos, meu eterno professor,
amigo e conselheiro, pela confiana e por proporcionar-me mais esta conquista.
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RESUMO
A presente dissertao aborda os reflexos dos atos de reorganizao societria nosdireitos reais imobilirios das sociedades envolvidas na operao. A partir da
doutrina, da jurisprudncia e da legislao em vigor no ordenamento jurdico ptrio,
foram analisados os institutos da fuso, da incorporao e da ciso de sociedades,
para a fixao dos seus principais caracteres. Com o mesmo intuito, foram
estudados os direitos reais relativos a imveis: a propriedade, a superfcie, a
servido, o usufruto, o direito do promitente comprador do imvel, a hipoteca, a
anticrese e a propriedade fiduciria, tendo sido demonstradas as particularidades decada um dos citados direitos, tais como o modo de constituio e a
transmissibilidade. Em seguida, tratou-se dos sistemas registrais e, em especial, do
sistema registral imobilirio brasileiro, com a explanao dos atos praticados pelo
Registro de Imveis matrcula, registro e averbao para distingui-los e aferir se
a Lei n. 6.404/76, ao prescrever em seu artigo 234 que a transmisso dos direitos
reais imobilirios se opera por meio de averbao, est tecnicamente correta, ou se
deve prevalecer o disposto no artigo 64 da Lei n. 8.934/94, que prev o ato de
transcrio. Concluiu-se que os atos de reestruturao societria implicam na
alterao da titularidade dos bens, direitos e obrigaes, razo pela qual h direitos
reais que se extinguem, por serem personalssimos, outros so transmissveis e
existem aqueles que no sofrem qualquer alterao. Assim, em alguns casos deve-
se proceder o ato de averbao, em outros registro, revelando, portanto, a
insuficincia dos dispositivos legais em vigor para, tecnicamente, abrangerem todas
as possibilidades, j que nem a Lei n. 6.404/76, nem a Lei n. 8.934/94 so capazes
de faz-lo.
Palavras-chave:Fuso. Incorporao. Ciso. Registro. Averbao.
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ABSTRACT
This work addresses the consequences of the acts of company`s reorganization in
real state property rights of the companies involved in the operation. From the
doctrine, jurisprudence and legislation in force in Brazilian law, the institutes of
merger, incorporation and demerger of companies were analyzed, for the setting of
its main characters. With the same purpose, the real rights relating to real estate
were studied including property, area rights, servitude, usufruct, the right of the
prospective buyer of the property, the mortgage, the antichresis and the trust
property, has demonstrated the characteristics of each one of the aforementionedrights, such as the mode of formation and transferability. Then, the system registry
was studied and mainly the Brazilian real estate registral system, with the
explanation of the acts of Real Estate Registration - enrollment, registration and
annotation - to distinguish them and judge if the Law No 6404/76, by stipulating in its
Article 234 that the transfer of real property rights occurs by way of annotation is
technically correct or if the provisions of Article 64 of Law No 8.934/94, which
provides for the act of transcription, must prevail. It was concluded that acts ofcorporate restructuring has as a consequence the change of ownership of property,
rights and obligations, that is why there are real rights that became extinct, because
they are not subject to be transfered to anybody, others are transferable and there
are other rights that does not change. Therefore in some cases the act of annotation
is compulsory and in others registration thus indicating the inadequacy of legal
provisions in force for technically to embrace all possibilities, since neither the Law
No 6404/76, nor the Law No 8.934/94 are able to do so.
Keywords: Merger. Incorporation. Demerger. Registration. Annotation.
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SUMRIO
1 INTRODUO.......................................................................................................10
2 DOS TIPOS SOCIETRIOS ..................................................................................122.1 Breve relato histrico das sociedades empresrias.........................................122.2 Dos tipos societrios........................................................................................14
2.2.1 Sociedades no personificadas................................................................152.2.1.1 Da sociedade em comum...................................................................15
2.2.2 Da sociedade em conta de participao...................................................172.2.3 Sociedades personificadas.......................................................................19
2.2.3.1 Da sociedade simples.........................................................................19
2.2.3.2 Da sociedade em nome coletivo.........................................................252.2.3.3 Da sociedade em comandita simples .................................................272.2.3.4 Da sociedade limitada ........................................................................292.2.3.5 Da sociedade annima.......................................................................322.2.3.6 Da sociedade em comandita por aes..............................................37
3 DOS ATOS DE REORGANIZAO SOCIETRIA................................................403.1 Introduo........................................................................................................403.2 Fuso...............................................................................................................41
3.2.1 Conceito, natureza jurdica e responsabilidade.........................................413.2.2 Caractersticas..........................................................................................44
3.2.3 Efeitos.......................................................................................................453.2.4 Do processamento....................................................................................473.2.5 Direito de retirada......................................................................................503.2.6 Direito dos debenturistas e dos credores..................................................51
3.3 Incorporao....................................................................................................523.3.1 Conceito, natureza jurdica e responsabilidade.........................................523.3.2 Caractersticas..........................................................................................563.3.3 Efeitos.......................................................................................................563.3.4 Do processamento....................................................................................573.3.5 Direito de retirada......................................................................................623.3.6 Direito dos debenturistas e dos credores..................................................63
3.4 Ciso................................................................................................................643.4.1. Conceito, natureza jurdica e responsabilidade........................................643.4.2 Caractersticas..........................................................................................673.4.3 Efeitos.......................................................................................................683.4.4 Do processamento....................................................................................693.4.5 Direito de retirada......................................................................................713.4.6 Direito dos debenturistas e dos credores..................................................72
4 DOS DIREITOS REAIS IMOBILIRIOS.................................................................754.1 Introduo........................................................................................................754.2 Propriedade .....................................................................................................76
4.2.1 Conceito e caractersticas.........................................................................764.2.2 Extenso do direito de propriedade...........................................................814.2.3 Aquisio da propriedade imobiliria.........................................................82
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4.2.4 Perda da propriedade imobiliria...............................................................864.2.4.1 Alienao............................................................................................884.2.4.2 Abandono ...........................................................................................884.2.4.3 Perecimento da coisa .........................................................................90
4.2.4.4 Desapropriao ..................................................................................914.2.4.5 Renncia ............................................................................................924.3 Superfcie.........................................................................................................93
4.3.1 Conceito e caractersticas.........................................................................934.3.2 Transferncia e extino...........................................................................96
4.4 Servido...........................................................................................................984.4.1 Conceito e caractersticas.........................................................................984.4.2 Classificao.............................................................................................994.4.3 Constituio e extino...........................................................................100
4.5 Usufruto .........................................................................................................1044.5.1 Conceito e caractersticas.......................................................................1044.5.2 Constituio e extino...........................................................................106
4.6 Direito do promitente comprador do imvel ...................................................1094.6.1 Conceito e caractersticas.......................................................................1094.6.2 Extino..................................................................................................111
4.7 Hipoteca.........................................................................................................1124.7.1 Conceito e caractersticas.......................................................................1124.7.2 Espcies..................................................................................................114 4.7.3 Ttulo e modo de constituio.................................................................1154.7.4 Efeitos.....................................................................................................116 4.7.5 Extino e cancelamento........................................................................118
4.8 Anticrese........................................................................................................1194.8.1 Conceito e caractersticas.......................................................................1194.8.2 Constituio e extino...........................................................................121
4.9 Propriedade fiduciria....................................................................................1214.9.1 Conceito e caractersticas.......................................................................1214.9.2 Cessibilidade...........................................................................................124 4.9.3 Constituio e extino...........................................................................125
5 REORGANIZAO SOCIETRIA E OS REFLEXOS NO DIREITO REGISTRALIMOBILIRIO ..........................................................................................................127
5.1 Introduo......................................................................................................127
5.2 Sistemas registrais ........................................................................................1295.2.1 Conceito..................................................................................................129 5.2.2 Caractersticas........................................................................................129
5.2.2.1 A forma.............................................................................................1305.2.2.2. Os efeitos ........................................................................................1305.2.2.3. A presuno de veracidade.............................................................131
5.3 O sistema registral brasileiro .........................................................................1315.3.1 Finalidades do Registro de Imveis Brasileiro........................................133
5.3.1.1 Autenticidade....................................................................................1345.3.1.2 Segurana ........................................................................................1345.3.1.3.Eficcia.............................................................................................135
5.3.2 Atos praticados no Registro de Imveis..................................................1365.3.2.1 Matrcula...........................................................................................1365.3.2.2 Registro ............................................................................................137
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5.3.2.3 Averbao ........................................................................................1385.4 Transmissibilidade dos direitos reais imobilirios decorrentes de atos dereorganizao societria......................................................................................139
5.4.1 Propriedade.............................................................................................140
5.4.2 Superfcie................................................................................................141 5.4.3 Servido..................................................................................................142 5.4.4 Usufruto...................................................................................................142 5.4.5 Direito do promitente comprador do imvel.............................................1435.4.6 Hipoteca..................................................................................................144 5.4.7 Anticrese.................................................................................................146 5.4.8 Propriedade fiduciria.............................................................................146
6 CONCLUSO.......................................................................................................148
REFERNCIAS.......................................................................................................156
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1 INTRODUO
Na atual conjuntura global, em que as relaes intersubjetivas se intensificam cada
dia mais entre pessoas de todo o mundo, inevitvel que estruturas tradicionais,
tanto no mbito social, cultural, poltico, como no econmico, experimentem
modificaes capazes de atender aos anseios da sociedade.
Neste processo de globalizao, evidencia-se a necessidade de aperfeioamento
dos bens e servios disponibilizados no mercado, tendo em vista o aumento da
competitividade. Passam a ter posio de destaque na estratgia das empresas os
atos de reorganizao societria, como a fuso, a incorporao e a ciso, pois
permitem a racionalizao das despesas, mediante a melhor utilizao de processos
tcnicos de produo e de administrao.
Este trabalho aborda os reflexos dos atos de fuso, incorporao e ciso de
sociedades nos direitos reais imobilirios. Para tanto, foi dado enfoque inicial, no
Captulo 1, aos tipos societrios previstos no ordenamento jurdico brasileiro,
especialmente aqueles regulados pelo Cdigo Civil em vigor e pela Lei de
Sociedades por Aes Lei n. 6.404/1976 com apresentao de suas formas de
constituio e extino, caractersticas, especificidades etc.
Assentadas as noes dos tipos societrios, passa-se ao Captulo 2, que se atm
anlise dos atos de reorganizao societria, mediante a exposio de conceitos,
natureza jurdica, responsabilidades, caractersticas, efeitos, processamento econseqncias de cada um dos atos de fuso, incorporao e ciso de sociedades.
O Captulo 3 foi destinado ao estudo minucioso dos direitos reais incidentes sobre
bens imveis, como a propriedade, a superfcie, a servido, o usufruto, o direito do
promitente comprador do imvel, a hipoteca, a anticrese e a propriedade fiduciria.
Versar sobre os conceitos, caractersticas, formas de constituio e extino, dentre
outras, de crucial importncia para se aferir a compatibilidade entre os atos dereorganizao e os citados direitos reais.
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No Captulo 4 foi realizado o cotejo dos institutos de direito societrio e de direito
civil a fim de se verificar a compatibilidade entre ambos. Para tanto, necessria a
prvia explanao acerca da classificao dos sistemas registrais no mundo e o
modelo adotado no Brasil, com a indicao das suas finalidades, bem como dos
principais atos praticados pelo Oficial de Registro de Imveis, quais sejam: a
matrcula, o registro e a averbao.
Em seguida, com base no que j fora abordado, feito um exame voltado para a
indicao da transmissibilidade, ou no, de cada um dos direitos reais imobilirios,
assim como a sua forma de ingresso no Registro de Imveis, ou seja, mediante ato
de registro ou de averbao.
Por fim, o trabalho concludo com as convices decorrentes do estudo
sistemtico do direito societrio, dos direitos reais imobilirios e do sistema registral
brasileiro, explicitando-se, inclusive, o atecnicismo do legislador quando da
elaborao de normas jurdicas.
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2 DOS TIPOS SOCIETRIOS
2.1 Breve relato histrico das sociedades empresrias
A vida em sociedade decorre do carter essencialmente social do ser humano.
Desde os tempos mais remotos o homem j vivia em grupos, em virtude da
necessidade da reunio de esforos para obteno de bens necessrios
sobrevivncia, alm de servir como meio de proteo. O aumento das relaes
intersubjetivas fez surgir a denominada sociedade civilizada, at o grau de
complexidade hodierno.
Entretanto, a reunio de pessoas para a consecuo de fins especficos ocorreu
somente aps o surgimento da propriedade privada, que possibilitou o nascimento
de agremiaes com finalidades claramente predeterminadas, umas colimando fins
interesseiros, a bem de seus associados, outras propondo-se a finalidades
impessoais ou idealsticas1.
De acordo com Alfredo de Assis Gonalves Neto, a doutrina dominante afirma ter
nascido em Roma as primeiras formas de sociedade, a partir da necessidade de os
herdeiros prosseguirem no desenvolvimento das atividades exercidas pelo pater
familiae2. Os sucessores, por ato voluntrio, podiam criar uma comunidade familiar
de natureza contratual (consortium) para distinguir os negcios celebrados pela
citada comunidade daqueles que cada indivduo realizasse individualmente. Almdisso, a insero de terceiros estranhos ao crculo familiar determinou a
necessidade de ligar por um contrato aqueles que a comunidade do sangue j no
mantinha unidos3. A sociedade era identificada pelo nome civil de um ou mais
scios, ou mesmo pelo nome da famlia da a origem da sociedade em nome
coletivo.
1ESTRELLA, Hernani. Curso de Direito Comercial. Rio de Janeiro: Konfino, 1973.p.271-272.2GONALVES NETO, Alfredo de Assis. Direito de empresa: comentrios aos artigos 966 a 1195 doCdigo Civil. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.p.3.3BORGES. Joo Eunpio. Curso de Direito Comercial Terrestre.5.ed. Rio de Janeiro: Forense,1991.p.298.
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H autores, contudo, que citam origens diversas dos contratos sociais, como por
exemplo, os contratos celebrados pelos assrios entre os anos 2.000 e 1.800 a.C,
semelhantes a um fundo de capital de uma venture moderna4, bem como os
contratos de commendacelebrados na Babilnia e tambm na Grcia (nesta, sob a
denominao emprstimo contra tudo ou emprstimo contra todos os riscos),
pelos quais uma pessoa (scio comanditrio) entregava uma quantia outra (scio
comanditado) para ser aplicado em um determinado empreendimento, e participava
dos lucros decorrentes do mesmo5.
As sociedades em nome coletivo no restringiam a responsabilidade de seus
membros e tampouco estabeleciam graus de responsabilizao entre os mesmos, oque equivale dizer que a responsabilidade dos scios era ilimitada e solidria. Em
reao a essa responsabilidade irrestrita, surgiram as sociedades em comandita
(originadas do contrato de commenda), que prescreviam a responsabilidade do
scio comanditrio (investidor) apenas at o montante do capital emprestado, no se
obrigando pelos eventuais prejuzos superiores quantia investida. O scio
comanditado quem respondia ilimitadamente pelas obrigaes oriundas da
atividade por ele desenvolvida. Juliana Joo, ao comentar sobre as sociedades emcomandita, afirma que outro importante aspecto desse tipo de sociedade foi o fato
de que, pela primeira vez na histria, surgia uma sociedade com alguns scios de
responsabilidade limitada6.
Concomitantemente sociedade em comandita (simples), desenvolveram-se outras
formas de sociedades (ex.: capital e indstria e em conta de participao) em que
alguns scios procuraram eximir-se da responsabilidade ilimitada por meio declusula expressa no contrato social, que passou a ser oponvel a terceiros.
Somente com o aparecimento das grandes companhias coloniais (sculos XVII e
XVIII), constitudas para a explorao do comrcio martimo e posteriormente para
4JOO. Juliana. Evoluo histrica das sociedades empresrias: direito societrio na atualidade.Aspectos polmicos. Belo Horizonte: Del Rey, 2007.p.15. (Leonardo de Faria Beraldo organiz. ecolaborador)5SILVA, Bruno Mattos e. Direito de Empresa: teoria da empresa e direito societrio. So Paulo: Atlas,
2007.p.5-6.6JOO. Juliana. Evoluo histrica das sociedades empresrias: direito societrio na atualidade.Aspectos polmicos. Belo Horizonte: Del Rey, 2007.p.19. (Leonardo de Faria Beraldo organiz. ecolaborador)
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as conquistas da navegao que se consolidou a limitao da responsabilidade de
todos os scios. Tais companhias se formaram originariamente com recursos do
Estado e com os coletados do povo, tal como uma sociedade de economia mista.
Alfredo de Assis Gonalves Neto7 afirma que estas sociedades deram origem s
atuais companhias ou sociedades annimas.
A constituio de sociedades annimas eram demoradas e trabalhosas, j que
demandavam um maior nmero de scios fundadores, destinando-se, portanto, via
de regra, s grandes empresas comerciais. Verificando-se que a criao de uma
sociedade annima muitas vezes era invivel para os pequenos e mdios
comerciantes, foi criado um novo tipo societrio, pela Lei de 20 de abril de 1892, naAlemanha. Trata-se da sociedade de responsabilidade limitada, que atendia s
necessidades dos comerciantes, haja vista a facilidade de criao deste tipo
societrio (bastavam dois scios) e a limitao da responsabilidade pelas obrigaes
assumidas pela sociedade8.
2.2 Dos tipos societrios
As sociedades so pessoas jurdicas de direito privado9, e adquirem essa condio
mediante inscrio dos atos constitutivos no registro pblico competente10. Ao
contrrio do que ocorre com as pessoas naturais, que adquirem a personalidade
pelo simples fato de nascerem com vida, a personalidade jurdica das sociedades se
d por um fato humano. Importante ressaltar que o momento de criao dasociedade anterior aquisio da personalidade jurdica por esta. Isto porque a
sociedade surge por meio de contrato social (para as sociedades de pessoas11) ou
7GONALVES NETO, Alfredo de Assis. Direito de empresa: comentrios aos artigos 966 a 1195 doCdigo Civil. So1Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p. 5.8MARTINS, Fran. Curso de Direito Comercial. Rio de Janeiro: Forense, 2002. p202.9Cdigo Civil Brasileiro, art. 44. So pessoas jurdicas de direito privado: 1 - as associaes; II - associedades; III - as fundaes; IV - as organizaes religiosas; V - os partidos polticos..10Cdigo Civil Brasileiro, art. 985. A sociedade adquire personalidade jurdica com a inscrio, no
registro prprio e na forma da lei, dos seus atos constitutivos (arts. 45 e 1.150)..11O autor Bruno Mattos e Silva cita a divergncia doutrinria quanto classificao das sociedadescontratuais como sociedades de pessoas, e afirma que tal classificao nem sempre adequada, jque sociedades contratuais tambm podem ser consideradas sociedades de capital, como por
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estatuto (para as sociedades de capital). Assim, o registro dos atos constitutivos
imprescindvel para a aquisio da personalidade jurdica, e no para a existncia da
sociedade12.
Alm das sociedades no personificadas (sociedade em comum e sociedade em
conta de participao), o Cdigo Civil Brasileiro elenca os seguintes tipos
societrios, dotados de personalidade jurdica: sociedade simples; sociedade em
nome coletivo; sociedade em comandita simples; sociedade limitada; sociedade
annima; sociedade em comandita por aes; sociedade cooperativa.
2.2.1 Sociedades no personificadas
2.2.1.1 Da sociedade em comum
O Cdigo Civil de 2002 disps expressamente (arts. 986 a 990) sobre a sociedade
em comum, que compreende as figuras doutrinrias da sociedade de fato e da
sociedade irregular13. Enquadram-se na condio de sociedade em comum aquelas
cujos atos constitutivos no foram inscritos no registro pblico competente, salvo as
sociedades por aes em organizao, eis que subordinadas a regime prprio,
previsto na Lei das Sociedades por Aes (Lei n. 6.404/1976).
exemplo a sociedade limitada que preveja em seu contrato a possibilidade de ingresso de novosscios sem o consentimento dos demais. Neste caso, exemplifica o autor, ter-se-ia uma sociedade decapitais criada pelo modelo contratual. SILVA, Bruno Mattos e. Direito de Empresa: Teoria daEmpresa e Direito Societrio. So Paulo: Atlas, 2007.p.317-318.12Embasam tal entendimento os artigos 986 a 996 do Cdigo Civil Brasileiro, que versam sobre associedades no personificadas, dentre outros.13 Apesar de haver divergncias doutrinrias, trata-se de entendimento majoritrio, tendo sido,inclusive, objeto do Enunciado n. 58 do Centro de Estudos Judicirios do Conselho da JustiaFederal: a sociedade em comum compreende as figuras doutrinrias da sociedade de fato e dairregular. Disponvel em: www.jf.jus.br
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Subsidiariamente, aplicam-se s sociedades em comum, as normas concernentes
s sociedades simples. Apesar disso, explica Alfredo de Assis Gonalves Neto14, a
sociedade em comum no uma sociedade simples ou empresria, mas a vala
comum das sociedades que no logram registro no rgo prprio (Junta Comercial,
Ofcio de Registro Civil das Pessoas Jurdicas, ou, ainda, a OAB no que respeita
sociedade de advogados); , mais propriamente, um terceiro gnero, que pode
abrigar ambas.
A prova da existncia da sociedade em comum pelos scios, seja entre si ou com
terceiros, s admitida se apresentada por escrito, mas os terceiros podem prov-la
por todos os meios admitidos em direito. Em regra, utiliza-se a teoria da aparncia,pela qual se presume que qualquer dos scios tem amplos poderes de gesto dos
bens e direitos utilizados pela sociedade, que poder praticar atos isoladamente15.
Tal presuno afastada quando h pacto expresso de limitao de poderes cujo
terceiro tenha conhecimento, ou deveria t-lo.
Em que pese no possuir personalidade jurdica, a sociedade em comum possui um
patrimnio especial, afetado atividade que exercer (ou exerce), e titularizado emcomum pelos scios16.
A responsabilidade dos scios pelas obrigaes sociais solidria e ilimitada,
segundo o artigo 990 do Cdigo Civil. Contudo, a segunda parte do texto do citado
artigo prescreve que aquele (scio) que contratou pela sociedade, no pode invocar
o benefcio de ordem, previsto no artigo 1.02417.
Ora, se a redao do artigo veda expressamente ao scio que contratou pela
sociedade a alegao do benefcio de ordem, significa que todos os outros scios
podem faz-lo. Assim, excetuando-se o scio que contratou com terceiros, a
14GONALVES NETO, Alfredo de Assis. Direito de Empresa: comentrios aos artigos 966 a 1.195 doCdigo Civil. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p.134.15SILVA, Bruno Mattos e. Direito de Empresa: teoria da empresa e direito societrio. So Paulo:Atlas, 2007.p.307.16O artigo 988 do Cdigo Civil citou as dvidas sociais, como integrante do patrimnio especial. H
um equvoco no texto do artigo, pois as dvidas no so valores ativos que compem um patrimnio.Ao contrrio, tm neste a garantia de seu adimplemento.17Art. 1.024. Os bens particulares dos scios no podem ser executados por dvidas da sociedade,seno depois de executados os bens sociais.
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responsabilidade dos scios subsidiria, respondendo com seus bens particulares
apenas depois de esgotado o patrimnio afetado sociedade, j que, apesar de
subsidiria, ilimitada.
Enfim, caso o credor exija do scio contratante o seu crdito, este tem direito de
regresso contra a sociedade e, subsidiariamente, em face dos demais scios, para
ser reembolsado do valor pago.
2.2.2 Da sociedade em conta de participao
A sociedade em conta de participao encontra-se regulada nos artigos 991 a 996
do Cdigo Civil Brasileiro. Trata-se de uma sociedade sui generis, com
caractersticas que a distinguem fundamentalmente das demais espcies
societrias18. Por no possuir personalidade jurdica, incabvel at mesmo a
classificao como sociedade simples ou empresria. Gonalves Neto19 chega a
negar a condio de sociedade conta de participao, ao afirmar que a principal
caracterstica da sociedade est no surgimento de um novo sujeito de direito, distinto
daquele ou daqueles que a ajustam, razo pela qual fica por demais evidente a
impossibilidade de identificar na conta de participao uma sociedade. Afinal,
nenhum dos atributos da sociedade pode ser nela encontrado..
A sociedade constituda por duas ou mais pessoas, fsicas ou jurdicas,
empresrias ou no, cuja atividade estabelecida no objeto social desenvolvidasomente pelo scio ostensivo, em seu nome individual e sob sua prpria e exclusiva
responsabilidade. Os demais scios, denominados scios participantes ou ocultos,
obrigam-se apenas entre si e o scio ostensivo, nos termos do contrato social.
18ALMEIDA, Amador Paes de. Direito de empresa no Cdigo Civil. 2.ed. So Paulo: Saraiva,2008.p.111.19GONALVES NETO, Alfredo de Assis. Direito de empresa: comentrios aos artigos 966 a 1.195 doCdigo Civil. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.p.144.
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Em caso de participao do scio oculto nas relaes do scio ostensivo com
terceiros, responder aquele solidariamente com este pelas obrigaes em que
intervier. Na condio de scio participante, assiste-lhe apenas o direito de fiscalizar
os negcios sociais.
Em virtude de a atividade ser exercida apenas pelo scio ostensivo, a sociedade no
aparece perante terceiros, apesar de estes poderem ter conhecimento da sua
existncia. No se trata de uma sociedade clandestina ou secreta; apenas
desnecessria a sua publicidade, vez que irrelevante a qualquer pessoa estranha ao
contrato social.
O referido contrato social produz efeitos apenas entre os scios, e pode ser provado
por todos os meios de direito, j que independe de qualquer formalidade. Mesmo
que registrado, no adquire a sociedade personalidade jurdica.
Alis, o registro de tal documento s vivel no Cartrio de Ttulos e Documentos,
que possibilita o ingresso de instrumentos particulares, conferindo-lhes publicidade e
produo de efeitos face a terceiros (art. 221 do Cdigo Civil). No caso dos contratossociais em conta de participao, contudo, o registro proporcionar apenas a
publicidade, e a conservao dos documentos, haja vista que o art. 993 do Cdigo
Civil restringe os efeitos destes apenas aos scios.
Os recursos destinados formao do patrimnio comum, oriundos do scio
participante e do scio ostensivo, integram o patrimnio deste e constituem
patrimnio especial, afetado ao objeto da conta de participao relativa aos negciossociais. Tal especializao, contudo, somente produz efeitos entre os scios, ou
seja, com relao a terceiros, inexiste separao entre os bens destinados
realizao do objetivo social e os bens do scio ostensivo, respondendo todo o
patrimnio deste pelas obrigaes assumidas, referentes ao objetivo social ou no.
No que se refere falncia do scio ostensivo, proceder-se- a dissoluo da
sociedade e a liquidao da respectiva conta. Havendo saldo favorvel ao scio
oculto, este figurar no quadro geral de credores, como credor quirografrio. Se
houver saldo favorvel ao scio ostensivo, cumpre ao administrador judicial proceder
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a cobrana. Por outro lado, no caso de falncia do scio participante, aplicam-se as
regras relativas aos contratos bilaterais do falido em relao sociedade em conta
de participao.
Prev ainda o Cdigo Civil que o scio ostensivo, salvo estipulao em contrrio,
no pode admitir novo scio sem o consentimento expresso dos demais. A regra
deve ser aplicada tambm aos scios ocultos, que dependem da autorizao do
scio ostensivo para modificarem o quadro social da sociedade em conta de
participao.
As regras concernentes s sociedades simples so subsidiariamente aplicveis sociedade em conta de participao, no que com ela for compatvel, e sua liquidao
dever observar o disposto nas normas relativas prestao de contas, na forma da
lei processual.
Enfim, Rubens Requio20, resumindo as caractersticas da sociedade em conta de
participao: curiosa a sociedade em conta de participao. Ela no tem razo
social ou firma; no se revela publicamente, em face de terceiros; no terpatrimnio, pois os fundos do scio oculto so entregues, fiduciariamente, ao scio
ostensivo que os aplica como seus, pois passam a integrar o seu patrimnio.
2.2.3 Sociedades personificadas
2.2.3.1 Da sociedade simples
A sociedade simples foi introduzida no ordenamento jurdico brasileiro por meio do
Cdigo Civil de 2002, que neste tpico teve como inspirao o Cdigo de
Obrigaes Suo (promulgado no final do sculo XIX) e tambm o Cdigo Civil
Italiano de 1942 (que tem como supedneo as normas suas).
20REQUIO, Rubens. Curso de direito comercial. Vol. 1. 26.ed. So Paulo: Saraiva, 2006.
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Dessa forma, a sociedade simples constituir-se- mediante contrato escrito (pblico
ou particular), devendo conter, alm das clusulas estipuladas pelas partes, os
requisitos elencados nos incisos I a VIII do artigo 99730do Cdigo Civil brasileiro. A
aquisio da personalidade jurdica pela sociedade est vinculada ao seu registro no
Registro Civil das Pessoas Jurdicas do local de sua sede. Ressalte-se que a
adoo de uma das formas de sociedades empresrias no altera a competncia
registral do Registro Civil das Pessoas Jurdicas, que dever, contudo, obedecer s
normas fixadas para o registro do tipo societrio estabelecido pelos scios no
contrato social da sociedade simples.
Apesar de as cooperativas serem consideradas sociedades simples, por imposiolegal31, seu registro efetuado junto ao Registro Pblico das Empresas Mercantis e
Atividades Afins, tendo em vista o disposto no artigo n. 32 da Lei n. 8.934/94 32.
O contrato social pode ser alterado a qualquer tempo, sendo necessria a
aprovao pela unanimidade dos scios, se envolver matria indicada no artigo 997,
ou pela maioria absoluta de votos, nos demais casos (salvo disposio diversa no
contrato social). A maioria absoluta, na sociedade simples, aferida por meio devotos correspondentes a mais da metade do capital social. Assim, torna-se relevante
verificar o valor das cotas de cada um. Se a votao baseada no valor das quotas
resultar em empate, prevalece a deciso apoiada pelo maior nmero de scios e,
persistindo a igualdade, cumpre ao juiz decidir.
30 Cdigo Civil, Art. 997. A sociedade constitui-se mediante contrato escrito, particular ou pblico,que, alm de clusulas estipuladas pelas partes, mencionar: I - nome, nacionalidade, estado civil,profisso e residncia dos scios, se pessoas naturais, e a firma ou a denominao, nacionalidade esede dos scios se jurdicas; II - denominao, objeto, sede e prazo da sociedade; III - capital dasociedade, expresso em moeda corrente, podendo compreender qualquer espcie de bens,suscetveis de avaliao pecuniria; IV - a quota de cada scio no capital social, e o modo de realiz-la; V - as prestaes a que se obriga o scio, cuja contribuio consista em servios; VI - as pessoasnaturais incumbidas da administrao da sociedade, e seus poderes e atribuies; VII - a participaode cada scio nos lucros e nas perdas; VIII - se os scios respondem, ou no, subsidiariamente,pelas obrigaes sociais. Pargrafo nico. ineficaz em relao a terceiros qualquer pacto separado,contrrio ao disposto no instrumento do contrato.31Cdigo Civil, pargrafo nico do artigo 982: Independentemente de seu objeto, considera-se
empresria a sociedade por aes; e, simples, a cooperativa.32Art. 32. O registro compreende: [...] II - O arquivamento: a) dos documentos relativos constituio,alterao, dissoluo e extino de firmas mercantis individuais, sociedades mercantis ecooperativas; [...].
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scio por ato separado podem ser revogados a qualquer tempo, tal como ocorre em
relao aos poderes conferidos a quem no seja scio. A nomeao de
administrador em ato separado necessita que este seja averbado margem da
inscrio da sociedade. Os atos praticados pelo administrador antes do
requerimento da averbao implicam na sua responsabilizao pessoal e solidria
com a sociedade.
A responsabilidade dos scios da sociedade simples depende da forma adotada
para sua constituio. Assim, pode a responsabilidade de um, alguns ou todos os
scios limitar-se participao no capital social. Desconsiderando-se, porm, essa
possibilidade, os scios respondem subsidiariamente pelo dbito, na proporo emque participem das perdas sociais, se os bens sociais forem insuficientes para
atender ao passivo. O contrato social pode prever a responsabilidade solidria dos
scios. Neste caso, o credor pode pleitear de qualquer deles o cumprimento integral
da obrigao, e o executado tem direito de regresso em face dos demais scios, na
proporo da participao social de cada.
Quanto dissoluo da sociedade simples, o artigo 1.033 do Cdigo Civil elenca umrol exemplificativo, pois o artigo 1.035 do citado diploma possibilita ao contrato
prever outras causas de dissoluo. Dentre as hipteses de dissoluo extrajudicial
citadas encontram-se: o vencimento do prazo de durao; o consenso unnime dos
scios; a deliberao por maioria absoluta dos scios, na sociedade de prazo
indeterminado; a falta de pluralidade de scios por mais de cento e oitenta dias; a
extino, na forma da lei, da autorizao para funcionar.
Pode ainda haver a dissoluo judicial da sociedade, quando houver sido anulada a
sua constituio, bem como se exaurido o seu fim social, ou verificada a sua
inexequibilidade.
A ocorrncia de qualquer das hipteses de dissoluo implica na restrio da gesto
aos negcios inadiveis e na investidura, pelos administradores, do liquidante. A
realizao de novas operaes acarreta a responsabilidade solidria e ilimitada dos
administradores. Aprovadas as contas de liquidao da sociedade, esta ser extinta
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mediante averbao da ata da assemblia no Registro Civil das Pessoas Jurdicas
em que a sociedade encontra-se registrada.
2.2.3.2 Da sociedade em nome coletivo
A sociedade em nome coletivo uma das formas societrias mais antigas que se
tem conhecimento. Desde a formao do seu nome at a responsabilidade dos
scios, verificam-se elementos de uma organizao secular.
A designao da sociedade em nome coletivo se d por meio de firma social,
conforme reproduzido no artigo 104235do Cdigo Civil. Dessa forma, a razo social
da sociedade deve ser composta pelo nome civil de um, alguns, ou todos os scios,
no todo ou em parte. Se o nome de pelo menos um scio no integrar a razo
social, esta deve conter elementos indicativos de membros no citados na firma,
como por exemplo a utilizao da expresso e companhia, por extenso ou
abreviada, ao final daquela.
Historicamente, a composio da firma mediante a utilizao dos nomes dos scios
buscava noticiar sociedade os membros da sociedade, gerando assim maior
segurana para a comunidade e para o mercado. Esse trao caracterstico tem sido
preservado pelas normas jurdicas ao longo do tempo.
O Cdigo Civil brasileiro contm apenas seis artigos dedicados sociedade emnome coletivo (arts. 1.039 a 1.044). Isto no significa que o legislador deu pouca
importncia mesma; ele assim o fez porque se preocupou em dispor sobre os seus
elementos especficos e, nos demais casos, utilizam-se as normas concernentes
sociedade simples.
35Cdigo Civil, art. 1.041. O contrato deve mencionar, alm das indicaes referidas no art. 997, afirma social..
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H previso legal de que apenas as pessoas naturais podem fazer parte de uma
sociedade em nome coletivo, bem como de que a responsabilidade dos scios
solidria e ilimitada, pelas obrigaes sociais (art. 1.039). O que se pode
convencionar, no ato constitutivo ou por deliberao posterior unnime, a Iimitao
da responsabilidade de cada scio, desde que isso no cause qualquer prejuzo da
responsabilidade perante terceiros. Em sntese, os scios podem limitar a
responsabilidade de cada nas relaes entre si, mas perante terceiros, a
responsabilidade da sociedade sempre solidria e ilimitada.
Deve-se ressaltar que a solidariedade entre a sociedade e os scios quanto s
obrigaes sociais no deve ser interpretada de forma absoluta, pois o artigo 1.024(aplicvel sociedade em nome coletivo) garante aos scios o benefcio de ordem,
ou seja, seus bens s podero ser executados por dvidas da sociedade depois de
exauridos os bens desta.
O administrador da sociedade necessariamente scio, que poder ser designado
por meio do contrato social ou documento apartado (devidamente averbado
margem do registro constitutivo da sociedade). A administrao pode ser exercidasingularmente por um nico scio, por alguns deles ou por todos. Na omisso do
contrato social, presume-se que todos os scios possam geri-Ia.
Enquanto no dissolvida a sociedade, no pode o credor de um dos membros da
sociedade pretender a liquidao da quota do seu devedor, a menos que a
sociedade tenha sido tacitamente prorrogada ou que esta tenha se operado por
meio de alterao contratual. Neste ltimo caso, necessrio que o credor tenhaacolhida a sua oposio, feita em at noventa dias aps a publicao do ato
dilatrio, pelo Poder Judicirio.
A sociedade em nome coletivo pode ser utilizada para a constituio de sociedade
simples ou para sociedade empresria. Dessa forma, passvel de dissoluo por
quaisquer das hipteses previstas no art. 1.033 (que rege tanto a sociedade simples
quanto a empresria) e, se empresria, acrescenta-se a possibilidade de sua
dissoluo pela declarao da falncia.
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2.2.3.3 Da sociedade em comandita simples
Do mesmo modo que na sociedade em nome coletivo, a sociedade em comanditasimples tratada em um nmero restrito de artigos do Cdigo Civil (arts. 1.045 a
1.051). As normas gerais devem ser extradas daquelas que regulam a sociedade
em nome coletivo que, por sua vez, baseia-se nas regras da sociedade simples.
Uma das particularidades da sociedade em comandita simples a coexistncia
necessria de duas categorias de scios: em uma delas, a dos scios comanditrios
(ditos investidores), que respondem apenas pelas obrigaes sociais at o valor doque foi prometido ou entregue; a outra, dos scios comanditados (tambm
chamados de empreendedores), os quais se responsabilizam solidria e
ilimitadamente pelas obrigaes sociais, ressalvado, como j dito, o benefcio de
ordem.
Os scios comanditados so obrigatoriamente pessoas fsicas e seus direitos e
deveres so os mesmos estabelecidos para os scios da sociedade em nomecoletivo. Permite-se, portanto, que os scios comanditados estabeleam regras de
redistribuio da responsabilidade entre si. Somente a eles compete a gesto da
sociedade, a qual poder ser conferida a um, alguns ou todos os scios dessa
categoria. A razo social tambm formada pelos nomes dos scios comanditados.
J os scios comanditrios podem ser pessoas naturais ou jurdicas, sendo-lhes
vedado praticar qualquer ato de gesto bem como ter o nome na firma da
sociedade, sob pena de responsabilidade solidria e ilimitada, tal qual a do scio
comanditado, como prev o art. 1.046. oportuno frisar que a proibio legal no
compreende os atos inerentes condio de scio e salvaguarda de seus direitos,
como por exemplo, a faculdade de participar das deliberaes sociais e a de
fiscalizar as operaes da sociedade, inclusive daqueles que a administram.
H uma permisso legal, contudo, que permite ao comanditrio ser constitudo
procurador da sociedade, para a realizao de negcio determinado, desde que
munido de poderes especiais. Nesse diapaso, a procurao conferida com amplos
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2.2.3.4 Da sociedade limitada
A sociedade limitada, regulada pelos artigos 1052 a 1087 do Cdigo Civil em vigor, o tipo societrio mais comum atualmente. A doutrina procura conceitu-la, de forma
geral, a partir da responsabilidade dos scios. Modesto Carvalhosa36afirma que a
sociedade limitada aquela de cuja firma. ou denominao consta a palavra
limitada ou sua abreviatura, e na qual a responsabilidade dos scios limitada ao
valor das quotas por ele subscritas no capital social, quando este estiver
integralizado, sendo, porm, solidria e limitada ao valor total do capital social,
quando esse capital no estiver totalmente integralizado.
A solidariedade ressalvada pelo autor, nos casos em que o capital social no esteja
integralizado, justifica-se pelo fato de que o capital social atua como uma garantia
para os credores da sociedade. Assim, caso no esteja integralizado, podem os
credores exigir de qualquer dos scios (individual ou coletivamente) a integralizao
do capital. A responsabilidade dos scios limitada, mas essa limitao ultrapassa a
cota do scio, garantindo a integralizao do capital. Uma vez integralizado, porm,os scios liberam-se de qualquer responsabilidade adicional37.
H tambm a previso legal de responsabilidade solidria de todos os scios, pelo
prazo de cinco anos, em relao avaliao dos bens conferidos sociedade para
integralizao de capital. Se foram transmitidos sociedade por um valor acima dos
parmetros de mercado, a diferena entre estes e o valor estimado pelos scios
obriga-os, solidariamente, perante credores.
O capital social dividido em quotas, que correspondem aos bens suscetveis de
apreciao econmica ou valores com os quais cada scio contribui (ou se obriga a
contribuir) para a formao do capital social. vedado, portanto, na sociedade
limitada, a contribuio que consista em prestao de servios.
36CARVALHOSA, Modesto. Comentrios ao Cdigo Civil. Vol.13. So Paulo: Saraiva, 2002.p. 33.37BORBA. Jos Edwaldo Tavares. Direito societrio. 8.ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2003. p.100.
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As quotas podem ter valores iguais ou no, cabendo ao contrato social especific-
las e indicar os scios que as titularizam. Se as cotas tiverem valores distintos,
torna-se relevante observar que o cmputo das maiorias opera-se pelo montante do
capital de cada scio, e no pelo nmero de quotas.
Ainda em relao s quotas desiguais, Mauro Rodrigues Penteado38afirma que:
J est hoje pacificada, tanto na prtica (Juntas Comerciais), quanto nadoutrina e jurisprudncia, a admissibilidade de quotas preferenciais. Essamodalidade de participao privilegiada dos scios no mbito das limitadaspode ter, como figurino, a Lei das Sociedades Annimas, mas com maiorelastrio, em razo da j decantada liberdade de contratar de que desfrutam,
na elaborao do contrato social.Esses privilgios podem ser tanto de natureza econmica (como prioridadena distribuio dos lucros, ou na liquidao da sociedade), quanto denatureza poltica (no que se refere ao voto dos scios e sua maiorparticipao na gerncia social.
Percebe-se assim que o autor admite, alm da desigualdade de quotas pelo valor de
cada uma delas, a distino em funo das prerrogativas que podem ser conferidas
a cada uma, ou a grupos de quotas. O raciocnio apia-se na autorizao dada pelo
legislador aos scios em optarem pela regncia supletiva da sociedade limitada
pelas normas especficas da sociedade annima. Tal opo deve estar expressa no
contrato social, pois a sua omisso implica na utilizao dos dispositivos
concernentes sociedade simples39.
Uma vez estipulada a estrutura de cada quota, ela se torna indivisvel40em relao
sociedade, mais isso no impede o seu condomnio, caso em que os direitos a ela
inerentes s podem ser exercidos pelo condmino representante, ou pelo
inventariante do esplio de scio falecido.
38PENTEADO, Mauro Rodrigues. Aspectos atuais das sociedades por quotas de responsabilidadelimitada. Revista do Advogado, 57/13, jan. 2000.39Cdigo, Civil, art. 1.053. A sociedade limitada rege-se, nas omisses deste Captulo, pelas normasda sociedade simples. Pargrafo nico. O contrato social poder prever a regncia supletiva dasociedade limitada pelas normas da sociedade annima.40Gladston Mamede ressalta que as quotas sociais so definidas com liberdade pelo contrato social:nmero e valor, igualdade ou desigualdade. Por meio de alterao contratual, ademais, essa divisodo capital pode ser alterada: a previso de 190 quotas de R$10.000,00 pode ser transformada empreviso de 100 quotas de R$1.000,00; a previso de quotas desiguais pode ser alterada pelapreviso de quotas iguais e vice-versa; uma quota desigual de R$30.000,00 no capital social de
R$100.000,00, pode ser dividida em duas quotas de R$15.000,00. Essas alteraes, todavia, exigemanuncia da totalidade do capital social, como se afere do artigo 997, III e IV, cominado com o artigo999, primeira parte, ambos do Cdigo Civil (MAMEDE, Gladston. Direito Societrio: sociedadessimples e empresrias. Vol.2. So Paulo: Atlas, 2007. p.300.).
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Nesse diapaso, se o contrato for omisso, pode o scio formar um condomnio sobre
a sua cota, cedendo-a parcialmente a outro scio ou a terceiros, desde que com
anuncia de scios que correspondam a do capital social. O mesmo procedimento
deve ser utilizado para a cesso total da quota. Em ambos os casos, a cesso s
tem eficcia perante a sociedade e terceiros a partir da averbao do instrumento no
Registro Pblico competente.
O capital social pode sofrer modificaes para aument-lo ou reduzi-lo, com a
correspondente modificao do contrato. O aumento s pode ser viabilizado depois
de integralizadas todas as quotas j subscritas. A reduo admitida em caso de
perdas irreparveis (desde que as quotas estejam integralizadas), bem como se ocapital se revelar excessivo para a realizao do objeto social. No primeiro caso,
haver uma diminuio proporcional do valor nominal de cada quota; no segundo,
restituir-se- parte do valor das quotas aos scios ou dispensar-se- as prestaes
ainda devidas, com diminuio proporcional, em ambos os casos, do valor nominal
das quotas.
Do contrato social para formao da sociedade limitada devem constar, no quecouber, as indicaes do art. 997. Em relao ao nome da sociedade limitada,
contudo, faculta-se a utilizao de denominao ou firma social.
A administrao da sociedade exercida por uma ou mais pessoas, designadas no
contrato social ou em ato separado. Neste ltimo caso, deve o administrador
requerer a averbao do mesmo no Registro Pblico competente.
Podem os scios estipular, no contrato social, a atribuio da administrao a todos
eles. oportuno ressaltar que a sociedade limitada admite a presena de scios
pessoas naturais e tambm pessoas jurdicas. Quanto a estas, apesar de no haver
vedao expressa no Cdigo Civil em relao possibilidade de ser administradora,
o Manual de Atos de Registro da Sociedade Limitada (Instruo Normativa n. 98, de
23/12/2003, do Departamento Nacional de Registro do Comrcio -- DNRC) listou no
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rol dos impedimentos para ser administrador de sociedade limitada, a pessoa
jurdica41.
A sociedade limitada pode ser administrada por pessoas que no sejam scias da
mesma. Para isto deve haver previso expressa no contrato social, e a designao
est condicionada aprovao unnime dos scios (enquanto o capital ainda no
estiver integralizado), ou de 2/3, no mnimo (aps a integralizao).
As deliberaes dos scios ocorrem nas reunies ou assemblias (se houver mais
de dez scios obrigatria a deliberao por assemblia; no ultrapassando este
nmero, o contrato social pode optar entre esta e a reunio). O Cdigo CiviI citaalgumas matrias que dependem da deliberao dos scios42 (rol exemplificativo),
bem como o quorum necessrio para a sua aprovao43.
Por fim, as causas de dissoluo da sociedade limitada so idnticas s da
sociedade em nome coletivo, j abordadas anteriormente.
2.2.3.5 Da sociedade annima
A sociedade annima no foi regulada pelo Cdigo Civil, que, entretanto, dedicou-
lhe dois artigos, um para caracteriz-la44 e outro para estabelecer a aplicao do
41Tal restrio objeto do Enunciado n. 66 da III Jornada de Direito Civil do Conselho da Justia
Federal: a teor do 2do art. 1.062 do Cdigo Ci vil, o administrador s pode ser pessoa natural..42Cdigo Civil, art. 1.071. Dependem da deliberao dos scios, alm de outras matrias indicadasna lei ou no contrato: I - a aprovao das contas da administrao; II - a designao dosadministradores, quando feita em ato separado; III - a destituio dos administradores; IV o modo desua remunerao, quando no estabelecido no contrato; V - a modificao do contrato social; VI - aincorporao, a fuso e a dissoluo da sociedade, ou a cessao do estado de liquidao; VII - anomeao e destituio dos liquidantes e o julgamento das suas contas; VIII - o pedido deconcordata..43 Cdigo Civil, art. 1.076. Ressalvado o disposto no art. 1.061 e no 1o do art. 1.063, asdeliberaes dos scios sero tomadas: I - pelos votos correspondentes, no mnimo, a trs quartosdo capital social, nos casos previstos nos incisos V e VI do art. 1.071; II - pelos votoscorrespondentes a mais de metade do capital social, nos casos previstos nos incisos II, III, IV e VIIIdo art. 1.071 ; IlI - pela maioria de votos dos presentes, nos demais casos previstos na lei ou no
contrato; se este no exigir maioria mais elevada.44 Cdigo Civil, art. 1.088. Na sociedade annima ou companhia, o capital divide-se em aes,obrigando-se cada scio ou acionista somente pelo preo de emisso das aes que subscrever ouadquirir..
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Cdigo Civil nos casos em que a legislao especial atinente a este tipo societrio
for omissa45.
O primeiro artigo, de n 1.088, no inova o ordenamento jurdico ptrio, pois
praticamente transcreve o artigo 1da principal le i das Sociedades por Aes
LSA (Lei n. 6404/76), que dispe:
Art. 1 A companhia ou sociedade annima ter o capital dividido em aes, ea responsabilidade dos scios ou acionistas ser limitada ao preo deemisso das aes subscritas ou adquiridas.
O texto do artigo citado acima evidencia algumas das caractersticas bsicas dasociedade annima: a diviso do capital em aes e a limitao da responsabilidade
do acionista ao preo de emisso das aes subscritas.
As aes podem ter valor nominal ou no. No primeiro caso, sua emisso no pode
ocorrer por um preo inferior ao previsto. No segundo caso, o preo de emisso
definido pelos fundadores (quando da constituio da companhia), ou pela
assemblia geral ou conselho de administrao (quando do aumento de capital),
podendo ser atribudo um preo inferior, tendo em vista que a ao no possui valor
nominal.
Apesar da utilizao da expresso sociedade annima para identificao deste tipo
societrio, no se pode afirmar que os scios so annimos. Pelo contrrio, so
todos identificveis, tendo em vista a obrigatoriedade de registro dos scios desde a
extino das aes ao portador, ocorrida pelo advento da Lei n. 8021/90. A partir de
ento, todas as aes devem ser nominativas sejam elas registradas (o registro dos
nomes dos acionistas est em livro da companhia), sejam escriturais (o registro dos
nomes dos acionistas da companhia est em uma determinada instituio financeira,
que o mantm em meio eletrnico).
No que diz, respeito s espcies de aes, possvel identificar as ordinrias, as
preferenciais e as de fruio. As aes de fruio so, na verdade, aes (ordinrias
45Cdigo Civil, art. 1.089. A sociedade annima rege-se por lei especial, aplicando-se-lhe nos casosomissos, as disposies deste Cdigo..
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ou preferenciais) que foram amortizadas pela companhia46. As aes ordinrias so
aquelas que conferem ao seu titular direito a voto nas deliberaes da companhia.
J as aes preferenciais no tm, via de regra, direito de voto, mas possuem
alguns benefcios, como por exemplo, a preferncia na distribuio dos Iucros. A
sociedade pode ter apenas aes ordinrias, ou conjug-Ias com as demais. A LSA
permite ainda que as aes preferenciais da companhia aberta e as aes ordinrias
da companhia fechada sejam divididas em classes47.
Independentemente do objeto social, a sociedade annima sempre empresria, a
teor do art. 982 do Cdigo Civil. Seu nome composto pelas expresses sociedade
annima ou companhia (esta, obrigatoriamente no incio do nome), por extenso ouabreviadamente, bem como da denominao designativa do objeto social48,49.
vedada a utilizao de firma ou razo social, mas possvel que se insira na
denominao da sociedade o nome do fundador, acionista ou pessoa que haja
concorrido para o bom xito da sua formao.
Nos termos do art. 4 da LSA, a sociedade annima pode ser classificada em
sociedade de capital aberto e sociedade de capital fechado, conforme estejam ouno os valores mobilirios de sua emisso admitidos negociao no mercado de
valores mobilirios. Valores mobilirios, nos dizeres de Rubens Requio50, so
todos os papis emitidos pelas sociedades annimas para captao de recursos
financeiros no mercado.
Em sntese, a sociedade annima aberta aquela que busca recursos junto ao
46LSA, art. 44. O estatuto ou a assemblia-geral extraordinria pode autorizar a aplicao de lucrosou reservas. No resgate ou na amortizao de aes, determinando as condies e o modo deproceder-se operao. [...] 2A amortizao co nsiste na distribuio aos acionistas, a ttulo deantecipao e sem reduo do capital social, de quantias que lhes poderiam tocar em caso deliquidao da companhia. [...].47 LSA, art. 15. As aes, conforme a natureza dos direitos ou vantagens que confiram a seustitulares so ordinrias, preferenciais, ou de fruio. 1As aes ordinrias da companhia fechada eas aes preferenciais da companhia aberta e fechada podero ser de uma ou mais classes..48 Cdigo Civil, art. 1.160. A sociedade annima opera sob denominao designativa do objetosocial, integrada pelas expresses sociedade annima ou companhia, por extenso ouabreviadamente. Pargrafo nico. Pode constar da denominao o nome do fundador, acionista, oupessoa que haja concorrido para o bom xito da formao da empresa.49 Lei n 6404/76, art. 3 A sociedade ser designad a por denominao acompanhada das
expresses companhia ou sociedade annima, expressas por extenso ou abreviadamente masvedada a utilizao da primeira ao final. 1O no me do fundador, acionista, ou pessoa que porqualquer outro modo tenha concorrido para o xito da empresa, poder figurar na denominao. [...].50REQUIO, Rubens. Curso de direito comercial. Vol. 2.24.ed. So Paulo: Saraiva, 2006. p.32.
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pblico, seja por meio de aes, seja por meio de outros ttulos mobilirios, mediante
a negociao no mercado destes bens. A sociedade annima fechada, por sua vez,
aquela que no formula apelo poupana pblica, obtendo recursos entre os
prprios acionistas ou terceiros subscritores51.
A constituio da companhia demanda o cumprimento de alguns requisitos
preliminares: subscrio, pelo menos por duas pessoas, de todas as aes em que
se divide o capital social fixado no estatuto (salvo no caso de subsidiria integral)52
realizao em dinheiro de no mnimo 10% do preo de emisso das aes
subscritas; depsito no estabelecimento bancrio competente do capital
integralizado em dinheiro. Se parte do capital for integralizado por bens suscetveisde avaliao em dinheiro, tal avaliao dever ser realizada por trs peritos ou por
empresa especializada, nomeados em assemblia geral dos subscritores53.
Aps a constituio, o capital social pode ser alterado, aumentando-o ou diminuindo-
o. O aumento pode ocorrer mediante a emisso de novas aes, pela capitalizao
dos lucros ou reservas, e tambm pela converso de debntures e partes
beneficirias em aes. Na primeira hiptese, dever ser reformado o estatuto social(salvo se neste j houver a possibilidade de aumento do capital, o que caracteriza a
sociedade de capital autorizado). Na segunda hiptese, haver o aumento do valor
nominal de cada ao ou a emisso de novas aes em favor dos acionistas,
utilizando os recursos das reservas. Neste caso, os acionistas recebero novas
aes sem ter que desembolsar qualquer valor por elas.
A reduo do capital social pode ocorrer por deliberao da assemblia geral, na
hiptese de prejuzos acumulados
54
, caso seja excessivo, em relao ao objeto
51ALMEIDA, Amador Paes de. Direito de Empresa no Cdigo Civil. 2.ed. So Paulo: Saraiva,2008.p.180.52LSA, art. 251, A companhia pode ser constituda, mediante escritura pblica, tendo como nicoacionista sociedade brasileira..53 Ricardo Negro afirma que no caso de transferncia de bens a favor da companhia, exige-seavaliao por trs peritos ou por empresa especializada, sendo certo que estes, bem como osubscritor, respondem perante a companhia, os acionistas e terceiros, pelos danos que lhescausarem por culpa ou dolo na avaliao dos bens, sem prejuzo da responsabilidade penal em que
tenham incorrido. No caso de bens em condomnio a responsabilidade solidria. (NEGRO,Ricardo. Direito Empresarial: estudo unificado. So Paulo: Saraiva, 2008. p 59.).54LSA, art. 173. assemblia-geral poder deliberar a reduo do capital social se houver perda,at o montante dos prejuzos acumulados, ou se julg-lo excessivo..
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mnimo de dois no for reconstitudo at do ano seguinte (salvo se for subsidiria
integral); e pela extino, na forma da lei, da autorizao para funcionar.
Por deciso judicial engloba as hipteses de anulao da constituio da sociedade,
em ao proposta por qualquer acionista; quando provado que no pode preencher
o seu fim, em ao proposta por acionistas que representem 5% ou mais do capital
social; e em caso de falncia, na forma prevista na respectiva lei.
Por fim, por deciso de autoridade administrativa competente, nos casos e na forma
previstos em lei especial.
2.2.3.6 Da sociedade em comandita por aes
A sociedade em comandita por aes surgiu no Cdigo comercial francs de 1807
como uma alternativa s sociedades annimas que no podiam, poca, ser
livremente constitudas (dependiam de autorizao estatal). Por influncia francesa,
algumas sociedades no Brasil constituram-se por meio deste tipo societrio, apesar
da ausncia de regulao expressa, o que s ocorreu em 1882, por meio da Lei n
3150, que disciplinou as comanditas por aes. Cogitou-se inclusive, por ocasio da
elaborao da LSA, a extino deste tipo societrio, tendo em vista a sua pouca
utilizao. Optou-se, contudo, pela sua manuteno no ordenamento jurdico
brasileiro.
As sociedades em comandita por aes so tratadas pelo artigos 1.090 a 1.092 do
Cdigo Civil, bem como pelos artigos 280 a 284 da Lei das Sociedades por Aes.
Possui caractersticas das sociedades em comandita simples (como a presena de
duas categorias de acionistas, tais como os scios comanditados e os scios
comanditrios), e tambm das sociedades annimas (como por exemplo, a diviso
do capital em aes).
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As normas aplicveis s sociedades annimas regem tambm as sociedades em
comandita por aes, no que no conflitar com as normas especficas destas. Da
porque a afirmao de Fabrcio Zamprogna Matiello58 de que possvel, por
exemplo, dividir as aes em ordinrias preferenciais, fixar no estatuto os dividendos
dos acionistas, atribuir sociedade a condio de aberta ou fechada etc..
facultado sociedade optar pela operao sob firma ou denominao. Em caso de
opo pela firma, deve-se observar a restrio legal de que somente os nomes dos
scios-diretores ou gerentes (atualmente denominados administradores) podem
integrar o nome da sociedade, ficando ilimitada e solidariamente responsveis pelas
obrigaes sociais aqueles que lhe emprestaram o nome. Em qualquer hiptese(firma ou denominao), deve figurar no nome da sociedade a expresso comandita
por aes, por extenso ou de forma abreviada.
Somente acionistas podem exercer a administrao da sociedade e, como diretor,
respondem subsidiria e ilimitadamente pelas obrigaes da sociedade. Entre si,
so solidariamente responsveis, depois de esgotados os bens sociais. Os diretores
so nomeados no ato constitutivo da sociedade sem limitao de tempo, e somentepodero ser destitudos por deliberao de acionistas que representem no mnimo
dois teros do capital social. O diretor destitudo ou exonerado continua, durante
dois anos, responsvel pelas obrigaes sociais contradas sob sua administrao.
O art. 1.092 estabelece algumas restries assemblia geral. Nos casos citados
no artigo o consentimento dos direitos necessrio para que a assemblia possa
mudar o objeto essencial da sociedade, prorrogar-lhe o prazo de durao, aumentarou diminui o capital social, criar debntures, ou partes beneficirias. Alm desses, a
LSA, em seu art. 283 cita a necessidade de consentimento dos diretores para a
aprovao, pela assemblia, da participao em grupo de sociedade.
Por fim, Rubens Requio59 faz uma interessante observao acerca da
sobrevivncia deste tipo societrio no ordenamento jurdico brasileiro:
58MATIELLO, Fabrcio Zamprogna. Cdigo Civil comentado. 2.ed.So Paulo: LTr, 2005.p.681.59REQUIO, Rubens. Curso de direito comercial. Vol. 2. 24.ed. So Paulo: Saraiva, 2006. p.310.
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as sociedades em comandita por aes tendem atualmente para oressurgimento, aps o abandono, por quase um sculo, como forma deconstituio de grande empresa. Com as preocupaes sociais maisaguadas, o direito moderno est reexaminando a questo daresponsabilidade limitada dos administradores. Tanto no direito estrangeiro,
como no brasileiro, a responsabilidade limitada dos administradores egerentes tem sido posta em relevo, em seus perniciosos efeitos sociais ejurdicos. [...] A tendncia moderna, pois, est-se acentuando no sentido derever-se a ampla irresponsabilidade dos administradores pelos atos degesto, mesmo normal, que exercitarem. Isso revela o renascimento, por oradisfarado ou inconfessado, das comanditas por aes, que logo mais, emfuturo prximo, bem poder ser ostensivo.
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3 DOS ATOS DE REORGANIZAO SOCIETRIA
3.1 Introduo
O crescente acirramento da competio no plano global tem motivado as empresas
a adotar estratgias que possibilitem a apresentao de produtos e servios mais
eficientes e, portanto, competitivos. Neste cenrio, atos de reestruturao societria,
como fuso, incorporao e ciso tm sido cada vez mais utilizados, pois permitem a
racionalizao das despesas, mediante a melhor utilizao de processos tcnicos de
produo e de administrao.
Egberto Lacerda Teixeira e Jos Alexandre Tavares Guerreiro60 afirmam que a
fuso, incorporao e a ciso, sob a tica exclusivamente jurdica,
so consideradas tcnicas de reorganizao societria. Atravs delas,combinam-se sob novas regras os interesses dos diversos grupos que podemexistir em uma sociedade ou mais sociedades, ora concentrando-se em umas pessoa jurdica, ora agregando-se para formar uma nova pessoa jurdica,ora dividindo-se em mais de uma pessoa jurdica. J sob um prismaeconmico sustentam aqueles autores a incorporao e a fuso traduzemfenmeno observado a partir da Revoluo Industrial que se convencionouchamar de concentrao empresarial, enquanto a ciso implica exatamentenuma tendncia inversa, no sentido de desconcentrao, embora possatambm servir a propsitos concentracionistas.
Essas reorganizaes afetam a personalidade jurdica das sociedades envolvidas,
seja para desmembr-las (ciso parcial), seja para extingui-las, uma ou outra
(incorporao), ou ambas (ciso plena e fuso). E por se tratar de atos entre
sociedades (pessoas jurdicas), Waldirio Bulgarelli61, ainda sob a vigncia do Cdigo
Civil de 1916, j rechaava a possibilidade de realizao de incorporao da
empresa individual, por sociedade, por ser ininquadrvel a hiptese no instituto
concebido como contrato entre sociedades; tambm, assim, a fuso de empresas
60TEIXEIRA, Egberto Lacerda; GUERREIRO, Jos Alexandre Tavares. Das sociedades annimas nodireito brasileiro. Vol. II. So Paulo: Jos Bushatsky, 1979.p.651-652.61BULGARELLI, Waldirio. Fuses, incorporaes e cises de sociedades. 4.ed. So Paulo: Atlas,1999.p.39.
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individuais que resulta em mera constituio societria. A empresa individual foi
substituda, no Cdigo Civil em vigor, pela figura do empresrio, razo pela qual a
observao do autor ainda hoje pertinente e de grande utilidade.
A complexidade e particularidades de cada um dos atos reclamam um estudo detido
da fuso, da incorporao e da ciso de sociedades.
3.2 Fuso
3.2.1 Conceito, natureza jurdica e responsabilidade
O instituto da fuso tratado de maneiras distintas pela doutrina, haja vista o seu
estudo por alguns como gnero e por outros como espcie. No primeiro caso, a
fuso subdivide-se em duas hipteses: a fuso propriamente dita (tambmdenominada fuso por constituio ou fuso prpria), em que h o desaparecimento
da personalidade jurdica das sociedades envolvidas na operao em decorrncia
da criao de uma nova sociedade, que sucede quelas em todos os seus direitos e
obrigaes; a segunda hiptese, denominada fuso imprpria, tem natureza jurdica
de incorporao, pois no h a extino da personalidade jurdica de uma das
sociedades envolvidas.
A corrente que adota o termo fuso como gnero se alinha ao sentido dado pelos
norte-americanos para a expresso mergers & aquisitions, utilizada para
caracterizar os atos de concentrao societria.
De Plcido e Silva62definiu a fuso, em sentido amplo, como:
a reunio de duas coisas ou de duas sociedades, individualmente distintas,
para formarem ou se transformarem em um s corpo ou em uma ssociedade.
62SILVA, De Plcido e. Vocabulrio jurdico. Rio de Janeiro: Forense, 2006.p.646.
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Neste conceito, ento, a fuso tanto pode ocorrer pela absoro de umasociedade ou coisa por outra, que mantm a sua individualidade anterior,como pode suceder pela criao ou especificao de uma nova coisa, quevem substituir as individualidades das coisas fundidas.A rigor, o primeiro caso se apresenta, propriamente, como incorporao de
uma sociedade por outra, sendo a fuso, propriamente, a criao de umanova entidade para substituio das que se fundem e que desaparecem.
Em que pese a utilizao, lato sensu, da expresso fuso, por parte da doutrina, o
legislador brasileiro optou pelo conceito em sentido estrito, ao prever o surgimento
de uma sociedade nova, conforme se verifica abaixo:
Art. 228. A fuso a operao pela qual se unem duas ou mais sociedades
para formar sociedade nova, que lhes suceder em todos os direitos e
obrigaes. (Lei n6.404/1 976)
Art.1.119. A fuso determina a extino das sociedades que se unem, paraformar sociedade nova, que a elas suceder nos direitos e obrigaes.(Cdigo Civil Brasileiro)
Em consonncia com a opo legislativa, a fuso pode ser definida como um
processo de unificao de duas ou mais sociedades, cujos patrimnios se unem
para a composio de uma nova sociedade, que sucede em todos os direitos e em
todas as obrigaes vinculadas s sociedades fusionadas, as quais se extinguem
em virtude da operao.
O fato de culminar na criao de uma nova sociedade caracteriza a fuso como um
ato constitutivo. Paradoxalmente, configura-se tambm como desconstitutivo, por
acarretar a extino das personalidades jurdicas das sociedades que tiveram seus
patrimnios agregados para a formao da nova sociedade.
Trata-se de um negcio plurilateral que objetiva a integrao de patrimnios
societrios em uma nova sociedade, criada a partir da extino das sociedades
fundidas. A operao afeta, portanto, a personalidade jurdica de todas as
sociedades envolvidas.
Quanto natureza jurdica, a doutrina apresenta diversas teorias, como por
exemplo: maneira de dissoluo e constituio de sociedade; transformao, na qualse combina a dissoluo com nova fundao; cesso, compra ou troca de
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patrimnios; transmisso de patrimnio de uma sociedade a outra; forma de
extino de sociedade. Sobre o tema, Modesto Carvalhosa63afirma que:
A vontade das sociedades no de alienar, permutar ou vender o seupatrimnio, mas de extinguir-se, fazendo com que seus scios ou acionistassubscrevam com esse patrimnio o capital da nova sociedade. A entrega dopatrimnio das sociedades fundidas, como forma de pagamento dasubscrio feita pelos seus scios ou acionistas na sociedade agoraconstituda, tem como efeito a transferncia de propriedade sobre talpatrimnio, no valor correspondente ao da subscrio.
E conclui o citado autor:
Temos assim que a transferncia dos patrimnios das sociedades fundidaspara a nova sociedade d-se a ttulo de pagamento da dvida contrada pelosseus scios e acionistas com a subscrio do capital inicial da sociedade, embens.
A tese de Carvalhosa incita a anlise da estrutura jurdica do negcio de fuso e,
para melhor apreenso, do seu cotejo com a incorporao. Nesta, a subscrio do
aumento de capital da incorporadora realizada pela sociedade a ser incorporada,
por meio de seu patrimnio lquido, que contrata a operao em nome prprio, mas
em favor de seus scios e, uma vez concretizada, desaparece do mundo jurdico.
J na fuso h, inicialmente, a contratao entre as sociedades que daro origem
nova sociedade, as quais celebram um pr-contrato, o protocolo, firmado pelas
administraes de ambas. Em seguida, os scios ou acionistas sucedem as
sociedades fundidas, para o efeito de constiturem uma nova sociedade com os
patrimnios lquidos daquelas. Os scios ou acionistas das sociedades fundidas
atuam em benefcio prprio, so eles os subscritores do capital da nova sociedadee, portanto, fundadores desta. A sucesso decorrente da fuso assumida
diretamente pelos acionistas, que recebem o seu correspondente quinho do
patrimnio social na forma de aes da nova sociedade64.
Nesse diapaso, a fuso implica na subscrio das quotas ou aes da sociedade
nova pelos scios ou acionistas das sociedades fundidas, que as integralizam por
63CARVALHOSA, Modesto. Comentrios Lei de Sociedades Annimas. Tomo I. 4 Vol. 3.ed. SoPaulo: Saraiva, 2.002.p.286.64CARVALHOSA, Modesto. Comentrios Lei de Sociedades Annimas. Tomo I. 4 Vol. 3.ed. SoPaulo: Saraiva, 2.002.p.282.
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A operao envolvendo sociedades de tipos diversos implica na deliberao
particularizada de cada sociedade, com base na forma prevista para alterao dos
respectivos estatutos ou contratos sociais. Nesse diapaso, a participao de uma
sociedade por aes em uma fuso depende da observao dos preceitos
normativos constantes da LSA, como por exemplo, a deliberao, pela assemblia
geral (art. 122), a elaborao de protocolo (art. 224) e justificao (art. 225).
3.2.3 Efeitos
A fuso implica na extino das sociedades fundidas em decorrncia da criao de
uma sociedade nova, que lhes sucedem em todos os direitos e obrigaes, formada
a partir da unio dos patrimnios lquidos daquelas. A sociedade resultante da fuso
goza de total independncia em relao s que a precederam, ou seja, no h
correlao necessria entre os rgos da sociedade nova e os das sociedades
extintas; administrao no se funde, tampouco os quadros de scios. Em suma,
no h transpasse algum das antigas organizaes das sociedades extintas com
respeito nova sociedade.
O procedimento ordinrio de extino de uma sociedade por aes passa pelas
fases de dissoluo e liquidao, institutos previstos pelos artigos 206 a 218 da Lei
n6.404/76. A fuso causa direta de extino das sociedades fundidas (conforme
previsto no art. 219, ll66), no necessitando, portanto, de prvia dissoluo e
liquidao. Conforme explanado por Carvalhosa67, embora haja partilha indireta doativo das sociedades fundidas entre os seus scios, a transferncia do patrimnio
social destas faz-se diretamente a favor da sociedade resultante dessa fuso.
Como j frisado, a fuso acarreta a sucesso universal, pela nova sociedade, de
todas as obrigaes, direitos e responsabilidades das antigas sociedades, de forma
66Art. 219. Extingue-se a companhia: I - pelo encerramento da liquidao; II -- pela incorporao oufuso, e pela ciso com verso de todo o patrimnio em outras sociedades.67CARVALHOSA, Modesto. Comentrios Lei de Sociedades Annimas. Tomo I. 4Vol. 3.ed. SoPaulo: Saraiva, 2.002.p.282.
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que tais direitos e obrigaes passam sociedade constituda no estado contratual e
extracontratual em que se encontravam no momento da consumao do negcio, ou
seja, da subscrio do capital da nova sociedade. H uma continuidade das
obrigaes e dos direitos que compem o patrimnio transferido para a nova
sociedade. Da porque no h que se falar em prvia liquidao de obrigaes e
dbitos antes da extino das sociedades por meio de fuso.
A extino das sociedades fundidas se d pela aprovao da constituio da nova
sociedade, que se materializa com a aprovao de seu estatuto e do boletim de
subscrio. No h necessidade de qualquer ato especfico ou formalidade para a
extino das mesmas, haja vista que e extino se opera ope legis. O que ocorre aextino por entrega do patrimnio lquido da soc