“GEOLOGIA, GEOQUÍMICA E GEOCRONOLOGIA DOS SILLS
MÁFICOS DA SUÍTE INTRUSIVA HUANCHACA NA PORÇÃO
NORDESTE DA SERRA RICARDO FRANCO (MT) – SW DO
CRATON AMAZÔNICO”
iii
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO - UFMT
Reitora
Profª. Drª. Maria Lucia Cavalli Neder
Vice-Reitor
Prof. Dr. Francisco José Dutra Solto
Pró-Reitora de Pós-Graduação
Profª. Drª. Leny Caselli Anzai
INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA - ICET
Diretor
Prof. Dr. Edinaldo de Castro e Silva
DEPARTAMENTO DE RECURSOS MINERAIS - DRM
Chefe
Prof. Dr. Paulo César Corrêa da Costa
Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Geociências
Prof. Dr. Denis de Jesus Lima Guerra
v
CONTRIBUIÇÕES ÀS CIÊNCIAS DA TERRA
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
N° 18
“GEOLOGIA, GEOQUÍMICA E GEOCRONOLOGIA DOS SILLS MÁFICOS DA SUÍTE
INTRUSIVA HUANCHACA NA PORÇÃO NORDESTE DA SERRA RICARDO
FRANCO (MT) – SW DO CRATON AMAZÔNICO”
Gabrielle Aparecida de Lima
Orientadora
Profª. Drª. Maria Zélia Aguiar de Sousa
Co-Orientador
Prof. Dr. Amarildo Salina Ruiz
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Geociências do Instituto de
Ciências Exatas e da Terra da Universidade Federal de Mato Grosso como requisito parcial
para a obtenção do Título de Mestre na Área de Concentração: Geoquímica de Minerais e
Rochas.
CUIABÁ
2011
vi
Universidade Federal de Mato Grosso – www.ufmt.br
Instituto de Ciências Exatas e da Terra – www.ufmt.br
Curso de Graduação em Geologia – [email protected]
Departamento de Recursos Minerais – www.ufmt.br
Programa de Pós-Graduação em Geociências – [email protected]
Campus Cuiabá – Avenida Fernando Corrêa, s/nº - Coxipó
78.060-900 – Cuiabá, Mato Grosso
Fone: (65) 3615-8000
Os direitos de tradução e reprodução são reservados.
Nenhuma parte desta publicação poderá ser gravada, armazenada em sistemas eletrônicos,
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das normas de direito autoral.
Depósito Legal na Biblioteca Nacional
Edição 1ª
Catalogação elaborada pela Biblioteca Central do Sistema de Bibliotecas e Informação – SISBIB –
Universidade Federal de Mato Grosso
Lima, Gabrielle Aparecida
Geologia, Geoquímica e Geocronologia dos Sills Máficos da Suíte Intrusiva Huanchaca na porção
nordeste da Serra Ricardo Franco (MT) – SW do Craton Amazônico
[manuscrito]. / Gabrielle Aparecida de Lima – 2011
xii, 62f.; il. Color. (Contribuições às Ciências da Terra, série 1, vol. 1, n. 1).
Orientadora: Profª. Drª. Maria Zélia Aguiar de Sousa
Co-Orientador: Prof. Dr. Amarildo Salina Ruiz
Dissertação (Mestrado). Universidade Federal de Mato Grosso. Instituto de Ciências Exatas e da
Terra.
Curso de Geologia. Programa de Pós-Graduação em Geociências.
Área de Concentração: Geoquímica de Minerais e Rochas
1. Sills máficos – Dissertação. 2. SW do Cráton Amazônico – Dissertação. 3. Magmatismo
Intracontinental – Dissertação. 4. Estudo petrográfico, geoquímico e geocronológico – Dissertação.
I. Universidade Federal de Mato Grosso. Departamento de Recursos Minerais. II. Título.
CDU: .....
ix
AGRADECIMENTOS
Agradeço de antemão a todos que de alguma forma contribuíram para a construção deste
trabalho, em especial:
Aos orientadores Profª. Drª. Maria Zélia Aguiar de Sousa e Prof. Dr. Amarildo Salina
Ruiz, meu profundo agradecimento, pelo apoio e inspiração no amadurecimento dos meus
conhecimentos, pela amizade, pelo convívio, pela compreensão e pela afetuosidade.
As colegas da graduação que permanecem convivendo comigo, em especial ao Marcel,
Thaty, Débora e Mara.
Ao Programa de Pós-Graduação em Geociências, incluindo todos os professores, técnicos
e mestrandos.
A todos do Grupo de Pesquisa em Evolução Crustal e Tectônica (Guaporé) em especial a
Ms. Maria Elisa Fróes Batata e aos alunos Shayenne, Rafael, Newton, Letícia, Jéssica, Luiz
Ricardo e Francisco.
A FAPEMAT (Proc. nº448287/2009), FAPESP (Proc. nº07/59531-4), GEOCIAM
(Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Geociências da Amazônia) e CAPES (PROCAD
nº096/2007), pelo suporte financeiro ao desenvolvimento deste trabalho, este último também pela
concessão de bolsa de mestrado.
Por fim agradeço imensamente a minha família, que sempre admirei muito, aos meus pais
Lula e Lia, aos meus irmãos Grazielle, Giselle e George, aos meus queridos sobrinhos Jullia,
Vitória e Caio, meu muito obrigada a todos vocês que tanto amo e que sempre me deram força
em todas as etapas da minha vida.
Ao meu noivo Amarildo, agradecer seria pouco, com ele compartilho a realização deste
trabalho porque ele tem sido co-autor dos momentos mais importantes da minha vida. “Te amo
amorzinho”.
x
SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS .................................................................................................... ix
SUMÁRIO ........................................................................................................................ x
RESUMO .......................................................................................................................... xi
ABSTRACT ....................................................................................................................... xii
CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO
1.1. APRESENTAÇÃO DO TEMA .......................................................................... 1
1.2. OBJETIVOS GERAIS E ESPECÍFICOS.......................................................... 1
1.3. LOCALIZAÇÃO E VIAS DE ACESSO............................................................ 2
1.4. MÉTODO DE TRABALHO ............................................................................... 3
1.4.1. Etapa Preliminar .......................................................................................... 3
1.4.2. Etapa de Aquisição de Dados .................................................................... 4
Trabalhos de Campo ................................................................................. 4
Trabalhos de Laboratório ......................................................................... 4
Análises Petrográficas ....................................................................... 4
Análises Litogeoquímicas ................................................................. 5
Análises Geocronológicas ................................................................ 5
Método Ar-Ar ......................................................................... 5
1.4.3. Etapa de Tratamento e Sistematização dos Dados .................................. 6
1.4.4. Etapa de Elaboração e Defesa da Dissertação ......................................... 6
CAPÍTULO 2 – GEOLOGIA REGIONAL
2.1.CRATON AMAZÔNICO .................................................................................... 7
2.2. SW DO CRATON AMAZÔNICO ...................................................................... 10
2.2.1. Compartimentação Tectônica................................................................... 10
2.3. UNIDADES LITOESTRATIGRÁFICAS........................................................... 12
2.3.1. Grupo Aguapeí ........................................................................................... 12
2.3.2. Suíte Intrusiva Huanchaca ........................................................................ 14
2.3.3. Unidade Tramposo ..................................................................................... 17
2.3.4. Aluviões Atuais ........................................................................................... 18
CAPÍTULO 3 - ARTIGO
Resumo ..................................................................................................................... 19
Abstract ..................................................................................................................... 19
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 20
CONTEXTO GEOLÓGICO REGIONAL ................................................................ 20
GEOLOGIA E PETROGRAFIA ............................................................................... 22
GEOQUÍMICA DE ROCHA TOTAL ....................................................................... 27
DADOS GEOCRONOLÓGICOS .............................................................................. 34
Análises 40Ar/
39Ar ................................................................................................... 34
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 37
Agradecimentos ............................................................................................................. 38
Referências .................................................................................................................... 39
CAPÍTULO 4 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
xi
ÍNDICE DE FIGURAS DA DISSERTAÇÃO
Figura 01. Mapa de localização e vias de acesso.
Figura 02. Mapa de localização de afloramentos.
Figura 03. Compartimentação geocronológica e tectônica do Craton Amazônico, considerando o Maciço
Rio Apa como parte integrante do mesmo (Extraído de Ruiz 2005).
Figura 04. Mapa tectônico do Sul/Sudoeste do Craton Amazônico (Extraído de Ruiz et al. 2010b).
Figura 05. Compartimentação Tectônica do SW do Cráton Amazônico em Mato Grosso, Rondônia e
oriente da Bolívia (modificado de Ruiz 2009).
Figura 06. Mapa geológico da região da Fazenda Paredão.
Figura 07. Formas de afloramento das rochas da Formação Fortuna: A) lajedos as margens do rio Verde,
B) em blocos; C) Base da Formação Vale da Promissão, predominância de pelitos finamente laminados;
D) predominância de intercalações de arenito quartzoso fino com pelito na Formação Vale da Promissão;
E) afloramento em blocos das rochas da Formação Morro Cristalina; F) intercalações de arenito quartzoso
com material pelítico, base da Formação Morro Cristalina.
Figura 08. Formas de afloramentos das soleiras: A) blocos; B) lajedos. C) contato nítido da Suíte
Intrusiva Huanchaca (sills) com a Formação Vale da Promissão. F) Aspecto macroscópico das rochas dos
sills.
Figura 09. A) Forma de afloramento das rochas da Unidade Tramposo, sempre nas cristas dos morrotes.
B) detalhe da estrutura maciça; C) feições similares a dobras e D) veio centimétrico de quartzo, fibroso,
com óxido de ferro.
ÍNDICE DE FIGURAS DO ARTIGO
Figura 01. Mapa tectônico do Sul/Sudoeste do Craton Amazônico (Extraído de Ruiz et al. 2010b).
Figura 02. Mapa Geológico da porção norte da Serra Ricardo Franco (Extraído de Lima 2008).
Figura 03. A) Contato do sill com a Formação Vale da Promissão. Formas de afloramentos dos sills: B)
lajedos e C) blocos. D) Aspecto macroscópico das rochas da Suíte Intrusiva Huanchaca ilustrando cor
cinza-esverdeado.
Figura 04. Fotomicrografias ilustrando: A) textura ofítica formada por cristal de augita incluindo
minúsculas ripas euédricas a subédricas de plagioclásio. B) textura subofítica formada por cristais
tabulares de plagioclásio e prismáticos de piroxênio com geminação setorial, parcialmente uralitizados e
intercrescimento gráfico. C) intercrescimento radiado, constituído por dois cristais de plagioclásio,
perpendiculares entre si em um único cristal de piroxênio. D) leques formados por ripas divergentes de
xii
plagioclásio intercaladas por piroxênio. E) detalhe de cristais de plagioclásio com percolação de óxido de
ferro e piroxênio parcialmente uralitizado. F) cristal de olivina com fraturamentos preenchidos por
serpentina, seu principal produto de alteração e também com textura coronítica, formada por piroxênio. G)
intercrescimento gráfico. H) desopatização, intercrescimento simplectítico, e textura gráfica na parte
superior direita. B), C), D), E), G), H) Hornblenda Diabásio; A) e F) Olivina Diabásio. Polarizadores
cruzados em todas as imagens.
Figura 05. Diagramas de variação mg# vs óxidos de elementos maiores (% em peso) das rochas da Suíte
Intrusiva Huanchaca.
Figura 06. Diagramas de variação mg# vs elementos traço (ppm) das rochas da Suíte Intrusiva
Huanchaca.
Figura 07. Diagramas classificatórios dos sills da Suíte Huanchaca: (A) Na2O+K2O versus SiO2 e (B)
AFM de Irvine & Baragar (1971), C) TAS de Le Bas et al. (1986), D) Zr versus Zr/Y de (Pearce & Norry
(1979).
Figura 08. A) Diagrama multi-elementar das rochas da Suíte Intrusiva Huanchaca normalizado pelo
manto primitivo (McDonough & Sun 1995). B) Diagrama de distribuição dos elementos terras raras
(ETR) para as rochas da Suíte Intrusiva Huanchaca normalizados pelo condrito segundo Boynton (1984).
Para efeito de comparação foram utilizados os padrões OIB, N-MORB e E-MORB de McDonough & Sun
(1995) e Boynton (1984), respectivamente.
Figura 09. Diagramas de correlação entre Zr versus elementos traço (incompatíveis) para as rochas da
Suíte Intrusiva Huanchaca.
Figura 10. Diagramas 40
Ar/39
Ar (mineral) da amostra LG-70 da Suíte Intrusiva Huanchaca. A)
Plagioclásio e B) Anfibólio (hornblenda).
ÍNDICE DE TABELAS DA DISSERTAÇÃO
Tabela 1. Coordenadas dos afloramentos descritos.
Tabela 02. Sumário das unidades litoestratigráficas da LIP com respectivas idades e localização no S-SW
do Cráton Amazônico. BO - Bolívia, BR – Brasil. (a) Litherland et al. (1986), (b) Santos et al. (1979), (c)
Barros et al. (1982), (d) Araújo (2003), (e) Araújo et al. (1982), (f) Boger et al. (2005).
Tabela 03. Idades obtidas para rochas da Suíte Intrusiva Huanchaca. a= Litherland et al. (1986); b=
Santos et al. (1979).
xiii
ÍNDICE DE TABELAS DO ARTIGO
Tabela 01. Sumário das unidades litoestratigráficas da LIP com respectivas idades e localização no S-SW
do Craton Amazônico. BO - Bolívia, BR – Brasil. (a) Litherland et al. (1986), (b) Santos et al. (1979), (c)
Barros et al. (1982) e Elming et al. (2009), (d) Araújo (2003), (e) Araújo et al. (1982), (f) Boger et al.
(2005).
Tabela 02. Composição química das amostras dos sills da Suíte Intrusiva Huanchaca (elementos maiores
em %, traços e terras raras em ppm) obtidas no Acme Analytical Laboratories.
Tabela 03. Composição química das amostras dos sills da Suíte Intrusiva Huanchaca (elementos maiores
em %, traços e terras raras em ppm) obtidas no Activation Labs.
Tabela 04. Dados analíticos obtidos para plagioclásio e anfibólio da Suíte Intrusiva Huanchaca.
xiv
RESUMO
A Serra Ricardo Franco é constituída pelos estratos sub-horizontais do Grupo Aguapeí
(Formações Fortuna, Vale da Promissão e Morro Cristalina, da base para o topo), pelos sills
máficos da Suíte Intrusiva Huanchaca e pelos cherts e silexitos da Unidade Tramposo. Este
trabalho objetiva apresentar os dados geológicos, petrográficos, geoquímicos e geocronológicos
dos sills máficos pertencentes à Suíte Intrusiva Huanchaca, na porção norte da Serra Ricardo
Franco, inseridos no Terreno Paraguá, SW do Craton Amazônico, e discutir o provável
significado tectônico deste evento ígneo. O mapeamento geológico permitiu a identificação de
dois sills, alojados nos argilitos da Formação Vale da Promissão. Petrograficamente, as rochas
dos sills são maciças, de granulação fina a média e cor cinza-esverdeado a preta. Apresentam
texturas equi a inequigranulares e composição gabróica. A partir de análises microscópicas,
identificaram-se dois litotipos, classificados como Hornblenda Diabásio e Olivina Diabásio.
Dados geoquímicos evidenciam natureza subalcalina do tipo toleítica para o magmatismo gerador
destes sills em ambiente geotectônico correspondente à intraplaca continental e os valores do
índice de magnésio (mg#), variando entre 0,25 e 0,38, indicam magma basáltico evoluído. Foram
obtidas duas idades plateaus (Ar-Ar) 948 ± 5 Ma (plagioclásio) e 1040 ± 40 Ma (anfibólio) que
por se tratar de rochas indeformadas, certamente, estão bem próximas à idade de cristalização
desta unidade. Os enxames de diques máficos das Suítes Intrusivas Huanchaca, Rancho de Prata
e Rio Perdido, bem com os sills máficos Huanchaca e Salto do Céu, formaram-se entre 1040 a
850 Ma, e são constituídos por diabásios e gabros com afinidade toleítica. Este episódio
magmático máfico constitui uma LIP (Large Igneous Province) de idade toniana, gerada pela
extensão crustal com vetor deslocamento NNW, que precedeu a dispersão do Supercontinente
Rodínia.
Palavras-chave: Sills máficos, Craton Amazônico, Suíte Intrusiva Huanchaca, Magmatismo
Intracontinental.
xv
ABSTRACT
The Ricardo Franco mountain ridge is comprised by sub-horizontal layers of the Aguapeí Group
(Fortuna, Vale da Promissão and Morro Cristalina Formations, from bottom to top), mafic sills
from the Huanchaca Intrusive Suite, and cherts and silexites belonging to the Tramposo Unit.
This work presents geologic, petrographic, geochemical and geochronological (Ar-Ar) data of
mafic sills belonging to the Huanchaca Intrusive Suite inserted in the Paraguá Terrane, SW of
Amazonian Craton, and discuss the possible tectonic significance of this igneous event. Two sills
are identified intruding mudstones of the Vale da Promissão Formation. Petrographically, the
mafic rocks are isotropic, fine to medium grained and greenish-gray to black. They show equi to
inequigranular textures and gabbroic composition. Two lithotypes were identified from
microscopic analysis, classified as Hornblende Diabase and Olivine Diabase. Geochemically the
sills are subalkaline tholeiitic basalts and tectonically they are related to a continental intraplate
environment. The magnesium index (mg #) values vary between 0.25 and 0.38, indicating
evolved basaltic magmas. 40
Ar-39
Ar plateau ages of 948 ± 5 Ma (plagioclase) and 1040 ± 40 Ma
(amphibole) were obtained for one of the analyzed samples which constrain the Huanchaca
magmatism to the late Mesoproterozoic. The Huanchaca sills and other 1040-850 Ma mafic
dykes (Rancho de Prata and Rio Perdido) and sills (Salto do Céu) of the southwestern sector of
the Amazonian craton, also described as diabases and gabbros with tholeiitic affinity, form a
large igneous province (LIP) of tonian age, generated by crustal extension with a NNW
displacement vector, preceding the dispersion of Rodinia Supercontinent.
Keywords: mafic sills, Amazonian Craton, Huanchaca Intrusive Suite, Intracontinental
Magmatism.
1
CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO
1.1. APRESENTAÇÃO DO TEMA
O sudoeste do Craton Amazônico em Mato Grosso, especificamente na região limítrofe Brasil-
Bolívia, nas proximidades do município de Vila Bela da Santíssima Trindade, é caracterizado pela
ocorrência de rochas pertencentes ao Terreno Paraguá, que se estende do oeste da Bolívia ao extremo
ocidente do Brasil, tendo como limites sul e leste, respectivamente, os Terrenos Rio Alegre e Jauru (Ruiz
2009).
A região, praticamente desconhecida do ponto de vista geológico, é constituída por assembléias
litológicas que retratam a evolução crustal anterior à deposição do Grupo Aguapeí, seguida por intrusões
ácidas e básicas, sem registro de efeitos da Orogenia Sunsás (0,9 a 1,1 Ga).
A área de estudo é constituída por sedimentos do Grupo Aguapeí, intrusões (sills) máficos,
sedimentos terciários e quaternários. Os sills máficos da Suíte Intrusiva Huanchaca (SIH) foram
escolhidos como objeto deste trabalho, que consta de mapeamento geológico sistemático na escala de
1:50.000, estudos petrográficos, geoquímicos e geocronológicos, bem como, descrições preliminares de
rochas que ocorrem em sua adjacência. Os resultados obtidos contribuem para o conhecimento da
evolução geológica da porção sudoeste do estado de Mato Grosso, limite Brasil-Bolívia, particularmente
sobre o magmatismo básico toniano relacionado ao estágio de ruptura do Supercontinente Rodínia.
Expressivo magmatismo básico, de idade toniana, tem sido reportado na porção Sul/Sudoeste do
Craton Amazônico como descrito em Litherland et al. (1986); Araújo et al. (1982); Sécolo et al. (2008);
Lima (2008); Corrêa da Costa et al. (2008, 2009), D`Agrella Filho et al. (2010); Ruiz et al. (2005, 2009,
2010a); sendo sugerido pelos últimos como representante de uma LIP (Large Igneous Province).
1.2. OBJETIVOS GERAIS E ESPECÍFICOS
A elaboração desta dissertação inclui a caracterização geológica, petrográfica, litogeoquímica e
geocronológica dos sills máficos da Suíte Intrusiva Huanchaca, a partir de trabalhos de campo e de
laboratório, na tentativa de contribuir com o conhecimento geológico da porção sudoeste de Mato Grosso,
especialmente da borda norte da Serra Ricardo Franco/Huanchaca.
A partir de mapeamento geológico sistemático na escala 1:50.000, de uma área situada nas
imediações da Fazenda Paredão, Município de Vila Bela da Santíssima Trindade, pretendeu-se alcançar
os seguintes objetivos específicos:
2
1. mapeamento geológico dos sills máficos e suas encaixantes;
2. caracterização petrográfica dos sills;
3. determinação da relação de contato dos sills com suas encaixantes;
4. caracterização litogeoquímica;
5. determinação da idade de colocação/resfriamento dos sills.
1.3. LOCALIZAÇÃO E VIAS DE ACESSO
A região mapeada situa-se na porção sudoeste do Estado de Mato Grosso, Folha Betânia (SD.20-
Z-B-III). A área cartografada, na escala 1:50.000, compreende em média 84 km2 e dista,
aproximadamente, 600 km de Cuiabá.
A área está localizada no município de Vila Bela da Santíssima Trindade (Fig. 01), na porção
norte da Serra Ricardo Franco ou Huanchaca, como é denominada na Bolívia. Seu acesso é feito partindo-
se de Cuiabá, pela rodovia BR-070 até o Município de Cáceres e daí a BR-174 em direção ao município
sede, a partir de onde se toma a MT-199, passando pela Vila Ricardo Franco, sem pavimentação asfáltica,
até a entrada da Fazenda Rio do Meio. A locomoção no interior da área é feita por estradas carroçáveis
(encascalhadas) que interligam as fazendas.
4
1.4. MÉTODO DE TRABALHO
A metodologia utilizada nesta pesquisa foi constituída por quatro etapas, sendo elas: etapa
preliminar, etapa de aquisição de dados (etapas de campo e de laboratório), etapa de tratamento e
sistematização dos dados e etapa de elaboração e apresentação da dissertação.
1.4.1. Etapa Preliminar
A etapa preliminar foi constituída de levantamento da literatura geológica disponível sobre a
região, interpretação de fotografias aéreas e imagens de satélite (LANDSAT), visando o entendimento
geológico regional do SW do Craton Amazônico, com objetivo de sumarizar dados de âmbito regional e
local.
A base cartográfica utilizada para confecção do mapa geológico preliminar foi elaborada a partir
da Folha Betânia (SD.20- Z-B-III) na escala de 1:100.000 editada pela Diretoria de Serviço Geográfico –
Ministério do Exército (DSG-ME) em 1973.
O levantamento bibliográfico foi feito a partir de trabalhos de conclusão de curso da Universidade
Federal de Mato Grosso, dissertações e teses, Projeto RADAMBRASIL (Folha Guaporé), além de alguns
artigos publicados na Bolívia (e.g. Litherland et al. 1986 e Boger et al. 2005) .
1.4.2. Etapa de Aquisição de Dados
Esta etapa foi dividida em duas fases: 1) trabalhos de campo e 2) trabalhos de laboratório.
Trabalhos de Campo
Foram realizadas duas etapas de campo, onde foram descritos 142 (cento e quarenta e dois) pontos
(Tabela 1 e Figura 2) situados ao longo de estradas, córregos e encostas da Serra Ricardo Franco, que
posteriormente foram lançados no mapa base obtido a partir da carta topográfica SD.20- Z-B-III (Folha
Betânia). Nesta fase buscou-se obter uma caracterização preliminar dos sills alojados no Grupo Aguapeí,
para posterior discussão do provável significado tectônico deste evento ígneo. Foram efetuadas seções
transversais à direção das cristas da serra, com descrição de feições que caracterizassem as relações de
contato entre as unidades litológicas mapeadas.
Juntamente com as descrições feitas em campo, foram realizadas coletas de amostras de rochas
para os estudos em laboratórios (análises macroscópicas, microscópicas, geoquímicas e geocronológicas).
O posicionamento dos afloramentos descritos foi feito utilizando GPS (Garmin - Legend), com sistema de
coordenadas UTM (Datum WGS84).
5
Tabela 1. Coordenadas dos afloramentos descritos.
PONTO LAT LONG LITOLOGIA
1 780721 8418714 ponto de controle
2 780929 8418282 gabro
3 780896 8418210 arenito (fortuna)
4 781195 8418140 gabro
5 781293 8417922 gabro
6 781371 8418008 arenito (fortuna)
7 781179 8418482 arenito (fortuna)
8 781056 8418418 gabro
9 778202 8421522 gabro
10 777931 8422614 ponto de controle
11 772176 8432088 pelito
12 772657 8432008 pelito
13 772519 8433050 arenito (fortuna)
14 772168 8432846 gabro
15 772240 8432764 gabro
16 772439 8432592 gabro
17 772453 8432384 arenito (vale)
18 772519 8432102 arenito (vale)
19 772638 8432010 arenito (vale)
20 780150 8418450 pelito
21 777762 8422150 ponto de controle
22 777691 8422154 pelito
23 777629 8422198 arenito (morro)
24 777517 8422274 arenito (morro)
25 777361 8422178 arenito (morro)
26 777335 8422314 arenito (morro)
27 777460 8422440 arenito (morro)
28 777481 8422498 arenito (morro)
29 777556 8422540 arenito (morro)
30 777701 8422600 ponto de controle
31 776834 8425204 ponto de controle
32 776488 8426130 ponto de controle
33 776129 8426118 gabro
34 775938 8426160 gabro
35 775952 8426094 arenito (morro)
36 775655 8426206 gabro
37 775454 8426004 ponto de controle
38 775112 8425806 pelito
39 774864 8425638 silexito
40 774135 8425346 silexito
41 773844 8425438 silexito
42 773636 8425590 silexito
43 773789 8425524 silexito
44 778580 8420586 pelito
45 778607 8420386 arenito (vale)
46 778882 8420034 silexito
6
47 779422 8419382 ponto de controle
48 778275 8420108 ponto de controle
49 778650 8419174 ponto de controle
50 777669 8419366 ponto de controle
51 776500 8419990 arenito (vale)
52 776472 8420442 ponto de controle
53 776208 8421446 ponto de controle
54 775562 8422030 ponto de controle
55 775530 8422654 ponto de controle
56 775413 8423072 silexito
57 775358 8423304 silexito
58 775228 8424254 silexito
59 774936 8425028 silexito
60 774942 8425132 pelito
61 774844 8425360 pelito
62 775757 8427482 gabro
63 775615 8427708 ponto de controle
64 775720 8427896 gabro
65 780014 8418584 pelito
66 776554 8426614 ponto de controle
67 776546 8427056 ponto de controle
68 776532 8426908 gabro
69 775999 8426492 gabro
70 775907 8427076 gabro
71 775301 8430578 gabro
72 775419 8430234 gabro
73 775431 8429648 gabro
74 775509 8429086 silexito
75 775346 8428696 gabro
76 775495 8428124 ponto de controle
77 775444 8428088 arenito (morro)
78 775541 8428178 gabro
79 776508 8425536 gabro
80 776759 8425738 ponto de controle
81 775472 8427684 gabro
82 774997 8427687 gabro
83 774413 8427703 gabro
84 774172 8427691 gabro
85 773834 8427650 pelito
86 775851 8427681 gabro
87 776516 8427670 gabro
88 777203 8427665 gabro
89 777351 8428051 gabro
90 776948 8427874 gabro
91 776538 8428021 silexito
92 779081 8420698 gabro
93 779967 8420383 arenito (fortuna)
94 780315 8419651 arenito (fortuna)
7
95 780816 8419226 arenito (fortuna)
96 775411 8429338 gabro
97 775188 8431044 gabro
98 774960 8431947 gabro
99 775686 8432464 gabro
100 775739 8432104 pelito
101 775862 8433154 gabro
102 775911 8434135 pelito
103 775898 8433699 gabro
104 775523 8433505 gabro
105 774886 8432145 gabro
106 774821 8432671 gabro
107 774757 8433043 gabro
108 774776 8433446 pelito
109 774572 8433408 gabro
110 774506 8433439 pelito
111 774776 8431292 gabro
112 774392 8431478 gabro
113 774310 8431425 pelito
114 774090 8431151 pelito
115 773858 8430964 pelito
116 773551 8430818 silexito
117 772879 8430532 gabro
118 772458 8430265 pelito
119 772069 8430023 silexito
120 771317 8429468 arenito (fortuna)
121 774035 8431698 pelito
122 773570 8431793 pelito
123 775551 8430677 pelito
124 775921 8431162 pelito
125 777425 8424262 gabro
126 776860 8424143 pelito
127 776512 8424071 arenito (morro)
128 776283 8423994 silexito
129 775945 8423933 silexito
130 777491 8424448 gabro
131 777203 8425285 ponto de controle
132 777689 8425583 arenito (fortuna)
133 777800 8425638 arenito (fortuna)
134 774855 8428775 ponto de controle
135 774683 8428787 arenito (morro)
136 774385 8428889 arenito (morro)
137 774414 8429139 gabro
138 774249 8429177 gabro
139 774482 8429185 gabro
140 774726 8429141 gabro
141 774924 8429024 gabro
142 775212 8428727 gabro
9
Trabalhos de Laboratório
Esta etapa envolveu análises petrográficas, litogeoquímicas e geocronológicas. As amostras
utilizadas para as análises litogeoquímicas e geocronológicas (Sm-Nd e U-Pb) foram tratadas no
Laboratório de Preparação de Amostras do Departamento de Recursos Minerais (DRM/UFMT), e
encaminhadas para os laboratórios.
Análises Petrográficas
Foram selecionadas trinta (30) amostras dos sills e cinco de suas encaixantes (Grupo Aguapeí)
para a confecção de lâminas delgadas e posterior caracterização petrográfica dos principais aspectos, tais
como, texturas, estruturas, processos de alteração, composição mineralógica, dentre outros.
As seções delgadas foram confeccionadas no Laboratório de Laminação do DRM/UFMT e
descritas no Laboratório de Microscopia, pertencente ao mesmo departamento, utilizando Microscópio
Óptico. As fotomicrografias das seções delgadas foram feitas com polarizadores paralelos e cruzados, com
objetivas de aumento 2,5; 4 e 10x, usando uma câmera (modelo Fujitsu General Limited) acoplada ao
microscópio.
Análises Litogeoquímicas
Após a descrição microscópica de trinta amostras dos sills, foram selecionadas dezessete para
análises litogeoquímicas de elementos maiores (%), traço e terras raras (ppm).
As amostras foram encaminhadas para os Laboratórios Acme Analytical Laboratories (Vancouver
- Canadá), e Activation Labs. (Ontário - Canadá) onde foi empregada a técnica de Fluorescência de Raios-
X para análises dos elementos maiores (SiO2, Al2O3, MgO, CaO, TiO2, MnO, Na2O, K2O, P2O5, Fe2O3(t)) e
espectrometria de emissão atômica com plasma acoplado induzido (ICP-MS) para os elementos traços
(Ba, Sc, Be, V, Co, Zn, Ga, As, Rb, Sr, Cr, Ni, Zr, Y, Ce, , Nb, Mo, Ag, Sn, Sb, Cu e Cs) e terras raras
(La, Ce, Pr, Nd, Sm, Eu, Gd, Tb, Dy, Ho, Er, Tm, Yb, Lu).
Análises Geocronológicas
Método Ar-Ar
A amostra selecionada para análise isotópica 40
Ar/39
Ar foi triturada, até alcançar granulação
inferior a 2 mm, sendo em seguida lavada em banho ultra-sônico até sua limpeza completa, e logo depois
lavada por um período mínimo de 15 minutos, sequencialmente, em água destilada e etanol absoluto e,
posteriormente seca ao ar. Os grãos minerais (plagioclásio e anfibólio), com granulação entre 0,5 e 2 mm,
foram selecionados com auxílio de um microscópio binocular a partir do material limpo. Os minerais
10
foram acondicionados em discos de alumínio junto com um padrão internacional (Fish Canyon Sanidine -
idade 28,201 ± 0,046 Ma; Kuiper et al. 2008), para monitoramento do fluxo de nêutrons, seguindo a
geometria ilustrada em Vasconcelos et al. (2002). Os discos de irradiação foram fechados com tampas de
alumínio, envolvidos em papel alumínio, selados em tubos de quartzo, dispostos num recipiente colunar
de cádmio e posteriormente irradiado, em um reator tipo TRIGA na Universidade do Estado de Oregon-
EUA, por 42 horas, no período de 03 a 15 de dezembro de 2009.
Cada amostra foi aquecida gradualmente com um feixe de laser contínuo com tamanho de 2 mm,
para extração do Ar por fusão por etapas (step-heating) das amostras irradiadas. Este procedimento resulta
em extrações de várias frações de gás a temperaturas crescentes analisadas individualmente no
espectrômetro de massa MAP-215-50, utilizando o software "MassSpec Versão 7.527", desenvolvido pelo
Centro de Geocronologia de Berkeley-EUA, os procedimentos analíticos estão descritos em Deino & Potts
(1990) e Vasconcelos et al. (2002). Os dados analíticos, apresentados no capítulo 4, foram obtidos no
Laboratório da Universidade de Queensland-Austrália.
1.4.3. Etapa de Tratamento e Sistematização dos Dados
Esta fase consistiu na integração e interpretação de todos os dados obtidos.
Nesta etapa foram utilizados os seguintes Softwares:
Microsoft Excel 2007 utilizado na elaboração de planilhas;
CorelDraw X3 para a confecção de mapas e tratamento de fotografias e fotomicrografias;
StereoNet empregado no tratamento de dados estruturais, possibilitando a preparação dos
estereogramas;
ArcGIS para confecção dos mapas de localização de afloramentos e geológico;
MinPet 2.0 para confecção dos diagramas geoquímicos.
1.4.4. Etapa de Elaboração e Defesa da Dissertação
Com os dados obtidos nas etapas anteriores foi possível a elaboração desta dissertação e a
confecção do artigo submetido à Revista Brasileira de Geociências.
Foram utilizados Microsoft Word 2007 para digitação, redação final e formatação da dissertação
e Microsoft Power Point para elaboração da apresentação.
11
CAPÍTULO 2
GEOLOGIA REGIONAL
2.1. CRATON AMAZÔNICO
O Craton Amazônico, localizado na parte norte da América do Sul corresponde a uma das
principais entidades geotectônicas pré-cambrianas. Tem como limite oriental os Cinturões
neoproterozóicos Paraguai, a sudeste, e a leste o Araguaia, estando, os limites N, S e W, recobertos pelos
sedimentos das Bacias Subandinas. Abrange, aproximadamente, uma área de 4,3 x 105
km2, e está
dividido, pela Sinéclise do Amazonas, em dois escudos: o Escudo Brasil Central e o Escudo das Guianas.
Há duas grandes linhas de pensamento quanto à evolução do Craton. A primeira concepção,
proposta por autores como Amaral (1974), Almeida (1978), Issler (1977), Hasui et al. (1984) e Costa &
Hasui (1997), in Ruiz (2005) , baseada nos conceitos da escola geossinclinal, propunha que a tectônica
pré-cambriana do cráton fosse caracterizada por processos de reativação de plataforma e formação de
blocos continentais ou paleoplacas por meio de retrabalhamento de crosta continental no Arqueano e
Paleoproterozóico e que durante o Mesoproterozóico teriam ocorrido apenas processos de reativação e/ou
retrabalhamento de rochas preexistentes. A segunda concepção, proposta por Cordani et al. (1979),
seguida e modificada por Tassinari (1981), Cordani & Brito Neves (1982), Teixeira et al. (1989),
Tassinari (1996), Santos (2000), Tassinari & Macambira (2004), entre outros, se fundamenta na Teoria da
Tectônica Global ou de Placas, defendem a ocorrência, durante o Arqueano, Paleo e Mesoproterozóico, de
uma sucessão de arcos magmáticos envolvendo a formação de material juvenil, além de processos
subordinados de retrabalhamento crustal.
Ruiz (2005) apresenta a compartimentação tectônica-geocronológica, considerando o
Maciço/Bloco Rio Apa, que aflora no Brasil (Mato Grosso do Sul) e Paraguai entre os sedimentos da
Bacia do Pantanal, como parte integrante do Craton Amazônico (Fig. 03).
12
Figura 03. Compartimentação geocronológica e tectônica do Craton Amazônico, considerando o Maciço
Rio Apa como parte integrante do mesmo (Extraído de Ruiz 2005).
O magmatismo toniano, ocorrente no sul e sudoeste do Craton Amazônico, de natureza bimodal,
está representado pelas Suítes Intrusivas Huanchaca, Salto do Céu, Rancho de Prata, Rio Perdido, Guapé,
Sunsás e Granito Vila Bela (Tab. 02 e Fig. 04), sugerindo uma tentativa de ruptura continental.
13
Tabela 02. Sumário das unidades litoestratigráficas da LIP com respectivas idades e localização no S-SW
do Cráton Amazônico. BO - Bolívia, BR – Brasil. (a) Litherland et al. (1986), (b) Santos et al. (1979), (c)
Barros et al. (1982), (d) Araújo (2003), (e) Araújo et al. (1982), (f) Boger et al. (2005).
UNIDADE DESCRIÇÃO IDADE (Ma) LOCALIZAÇÃO
Suíte Intrusiva Huanchaca diques e sills máficos 918 ± 20 (K-Ar)
936 ± 20 (K-Ar)
(a) Terreno Paraguá - BO
(b) Terreno Paraguá - BR
Suíte Intrusiva Salto do Céu sills máficos (RT) 875±21
(Pl) 960±21 (c) Terreno Jauru - BR
Suíte Intrusiva Rancho de
Prata diques máficos ----- Terreno Jauru - BR
Suíte Intrusiva Rio Perdido diques máficos 914 ± 9 (K-Ar) (e) Terreno Rio Apa -
BR
Granito Vila Bela diques graníticos ----- Terreno Paraguá - BR
Suíte Intrusiva Guapé corpos graníticos 917 ± 18 (U-Pb) (d) Faixa Móvel Aguapeí
- BR
Suíte Intrusiva Sunsás corpos graníticos 1076 ± 18 (U-Pb) (f) Faixa Móvel Sunsás -
BO
Figura 04. Mapa tectônico do Sul/Sudoeste do Craton Amazônico (Extraído de Ruiz et al. 2010b).
14
2.2. SW DO CRÁTON AMAZÔNICO
2.2.1. Compartimentação Tectônica
O SW do Cráton Amazônico exposto em Mato Grosso guarda registros geológicos e tectônicos
que se estendem do Paleo ao Neoproterozóico, culminando com a consolidação do Supercontinente
Rodínia. Apresenta uma evolução tectônica policíclica caracterizada pela superposição de episódios
orogênicos.
Monteiro et al. (1986), definiram três calhas sinformais (Faixa Cabaçal, Araputanga e Jauru)
constituídas por seqüências supracrustais do Greenstone Belt do Alto Jauru, separadas pelos terrenos
gnáissico-migmatíticos com intrusões graníticas denominadas, de leste para oeste, de Bloco Cachoeirinha,
Domo Água Clara e Bloco Córrego Fortuna.
Saes & Fragoso César (1996) apresentam o arranjo tectônico, onde se destacam os terrenos Jauru,
Paragua, San Pablo e uma zona de sutura. Saes (1999) modifica parcialmente a proposta anterior
destacando os seguintes terrenos: Paragua (TP), Rio Alegre (TRA), Santa Helena (TSH) e Jauru (TJ).
Matos et al. (2004) apresentam o SW do Cráton como um amálgama de orógenos justapostos:
Orógeno Alto Jauru (1,79 a 1,74 Ga), Cachoeirinha (1,58 a 1,52 Ga), Santa Helena, Rio Alegre e San
Ignácio.
Ruiz (2005) sugere, para a porção sudoeste do Cráton Amazônico em Mato Grosso a divisão em
cinco Domínios Tectônicos: Cachoeirinha, Jauru, Rio Alegre, Santa Bárbara e Paraguá.
Ruiz (2009) que, com base na evolução geológica que antecede a Orogenia Sunsás (1.1 a 0.9 Ga),
divide a região em cinco Terrenos (Fig. 05), sendo eles: Paraguá, Rio Alegre, Jauru, Alto Guaporé e Nova
Brasilândia, compartimentação adotada neste trabalho.
Ruiz (2009) e Bettencourt et al. (2010) adotaram o termo Terreno Paraguá, para denotar um
terreno composto por rochas do embasamento paleoproterozóico (Complexo Gnáissico Chiquitania,
Grupo Xistos San Ignácio e Complexo Granulítico Lomas Manechis) e granitóides mesoproterozóicos
(Complexo Granitóide Pensamiento), amalgamados ao proto-Craton Amazônico durante a orogenia
Rondoniano-San Ignácio. Esse embasamento paleo-mesoproterozóico encontra-se recoberto, por
discordância erosiva, pelos sedimentos do Grupo Aguapeí, que retrata uma bacia intracontinental ou do
tipo aulacogênica (Saes 1999, Teixeira et al. 2010).
Segundo Ruiz (2009) no Terreno Paraguá são reconhecidas duas orogêneses que precederam a
Orogenia Sunsás: Orogenia Lomas Manechis (1.74 a 1.69 Ga) e Orogenia San Ignácio (1.4 a 1.28 Ga)
(Boger et al. 2005, Ruiz 2005, Santos et al. 2008).
15
Figura 05. Compartimentação Tectônica do SW do Cráton Amazônico em Mato Grosso, Rondônia e
oriente da Bolívia (modificado de Ruiz 2009).
16
2.3. UNIDADES LITOESTRATIGRÁFICAS
O presente item apresentará uma breve descrição das unidades litoestratigráficas que ocorrem na
área mapeada (Figura 6), dispostas da base para o topo: Grupo Aguapeí (Formações Fortuna, Vale da
Promissão e Morro Cristalina), Suíte Intrusiva Huanchaca, Unidade Tramposo e Coberturas Aluvionares.
Figura 06. Mapa geológico da região da Fazenda Paredão.
17
2.3.1. Grupo Aguapeí
Os afloramentos de rochas da Formação Fortuna, na maioria das vezes, definem relevo de
chapadões, destacadas cristas alinhadas de direção NNW, e no cânion do rio Verde (Fig. 07A e 07B). Esta
unidade expõe-se nas porções sudeste e extremo noroeste da área e mantêm contatos tectônicos, por falhas
normais, com o embasamento metamórfico, Formação Vale da Promissão e com a Suíte Intrusiva
Huanchaca. O contato com a unidade sobreposta, Formação Vale da Promissão, é do tipo transicional.
Esta unidade constitui-se por espessos pacotes, em média 200m, de uma associação rudácea-psamítica
com estratificações cruzada acanalada e plano-paralela de pequeno porte, depositados em um ambiente
transicional de mar raso e corrente de marés, com participação de depósitos fluviais entrelaçados.
Nos níveis mais inferiores dominam os conglomerados monomíticos, suportados pela matriz
arenosa, ambos essencialmente quartzosos. Os clastos, comumente na granulação de seixos, são
compostos, essencialmente, por quartzo sub-arredondados a arredondados. A matriz apresenta tonalidade
esbranquiçada, sendo composta por areia quartzosa fina a média.
Em direção ao topo desta unidade, os conglomerados cedem lugar a arenitos quartzosos mais
finos, de cor cinza amarelada, ainda com níveis conglomeráticos, que são proporcionalmente mais
abundantes. Estes apresentam veios milimétricos de quartzo, fibrosos e não-fibrosos, subparalelos ao
acamadamento.
A Formação Vale da Promissão compreende uma seqüência dominada por pelitos marrom
acinzentados, ora com tonalidade arroxeada (Fig. 07C), finamente laminados, com intercalações, em
direção ao topo, de arenitos finos, depositados provavelmente em um ambiente marinho profundo.
Na base desta formação predominam pelitos com pequenas lentes de arenito fino, que em direção
ao topo cedem lugar as intercalações com arenito quartzoso fino (Fig. 07D).
Essas rochas afloram, principalmente, nas áreas rebaixadas, perfazendo cerca de 60% (sessenta
por cento) da área mapeada. A espessura desse pacote rochoso varia em torno de 50m, com atitude média
(S0) de 240°/12°.
A Formação Morro Cristalina é definida por um pacote, não muito espesso, aproximadamente
30m, de quartzo-arenitos, finos, esbranquiçados, com intercalações subordinadas de material pelítico (Fig.
07F) na base, e conglomerados oligomíticos quartzosos em direção ao topo. Apresenta estratificação
cruzada tabular de pequeno porte, maturidade elevada e caráter deposicional exclusivamente continental
(fluvial).
As rochas que compõem essa formação afloram em forma de blocos (Fig. 07E), nas áreas mais
elevadas topograficamente. São encontrados fragmentos, com suposto retrabalhamento, de pelito
pertencente à Formação Vale da Promissão.
18
Figura 07. Formas de afloramento das rochas da Formação Fortuna: A) lajedos as margens do rio Verde,
B) em blocos; C) Base da Formação Vale da Promissão, predominância de pelitos finamente laminados;
D) predominância de intercalações de arenito quartzoso fino com pelito na Formação Vale da Promissão;
E) afloramento em blocos das rochas da Formação Morro Cristalina; F) intercalações de arenito quartzoso
com material pelítico, base da Formação Morro Cristalina.
19
2.3.2. Suíte Intrusiva Huanchaca
A Suíte Intrusiva Huanchaca, na área em questão, está representada por dois sills, sendo o maior
com cerca de 50m de espessura, alojados nos pelitos e arenitos da Formação Vale da Promissão. Afloram
sob a forma de blocos (Fig. 08A) e lajedos (Fig. 08B).
Os contatos entre as soleiras e as encaixantes (Fig. 08C) são sempre abruptos, paralelos ao
acamadamento, não sendo reconhecidas feições de metamorfismo térmico.
Macroscopicamente, as rochas das soleiras são maciças de granulação fina a média variando de
melanocráticas a ultramáficas e cor cinza-esverdeada a preta. Apresentam texturas equigranulares a
inequigranulares e composição, predominantemente, gabróica (Fig. 08D).
Figura 08. Formas de afloramentos das soleiras: A) blocos; B) lajedos. C) contato nítido da Suíte
Intrusiva Huanchaca (sills) com a Formação Vale da Promissão. F) Aspecto macroscópico das rochas dos
sills.
Os sills estudados são constituídos, essencialmente, por minerais máficos e plagioclásio, sendo
classificados como Hornblenda Diabásio e Olivina Diabásio.
Opticamente, são rochas holocristalinas, de textura sub-ofítica a ofítica e, mais raramente,
intergranular, fina a média, marcada pela trama de ripas de plagioclásio e cristais de piroxênio.
20
O Hornblenda Diabásio, de ocorrência mais expressiva é constituído, essencialmente, por
plagioclásio, piroxênio, anfibólio, opacos, e feldspato alcalino e quartzo com intercrescimentos gráfico e
granofírico, tendo como minerais secundários e acessórios: biotita, clorita, talco, titanita, apatita, argilo-
minerais, epidoto/clinozoizita, sericita e calcita. Texturas localizadas, incomuns segundo MacKenzie et al.
(1982), são reconhecidas nestas rochas, tais como intercrescimento radiado, constituído por dois cristais
de plagioclásio, perpendiculares entre si em um único cristal de piroxênio; bem como, leques formados
por ripas divergentes de plagioclásio intercaladas por piroxênio.
O Olivina Diabásio é formado por um alto percentual de olivina (40%), piroxênio, plagioclásio e
opacos, apresentando serpentina, anfibólio, clorita, talco, epidoto, sericita, calcita, argilo-minerais, titanita,
apatita e opacos como fases de alteração e acessórias.
Esta unidade apresenta idades (K-Ar – Tabela 03) que variam entre 845 e 936 Ma.
Tabela 03. Idades obtidas para rochas da Suíte Intrusiva Huanchaca. a= Litherland et al. (1986); b=
Santos et al. (1979).
UNIDADE LITOLOGIA MATERIAL
ANALISADO
IDADE
(MA)
MÉTODO REFERÊNCIA
Huanchaca Sill Dolerítico Rocha Total 918 ± 20 K-Ar a (Bolívia)
Huanchaca Dique Dolerítico Rocha Total 845 ± 19 K-Ar a (Bolívia)
Huanchaca Dique Dolerítico Rocha Total 888 ± 20 K-Ar a (Bolívia)
Rochas Básicas e
Intermediárias
Microgabro Plagioclásio 936 ± 20 K-Ar b (Brasil)
2.3.3. Unidade Tramposo
Os cherts e silexitos encontrados foram correlacionados espacialmente aos que ocorrem em
território boliviano, próximos a fronteira com o Brasil, mapeados por Litherland et al. (1986).
As rochas que compõem essa unidade ocorrem nas cristas dos morrotes (Fig. 09A), são maciças
(Fig. 09B) de granulação muito fina (sílica microcristalina), cor variando de branca a cinza, às vezes com
tonalidade avermelhada (Fig. 09C) devido à contribuição de ferro.
Foram observados veios fibrosos de quartzo (Fig. 09D) com aspecto ferruginoso, e feições
similares a dobras não tectônicas (Fig. 09C).
2.3.4. Coberturas Aluvionares
Estes sedimentos quaternários correspondem à unidade mais jovem da área em questão. Suas
exposições ocorrem em áreas topograficamente mais arrasadas situadas ao longo dos leitos dos córregos.
São sedimentos inconsolidados de cor marrom-amarelado, mal selecionados, os grãos variam de sub-
angulosos a arredondados e, granulometricamente variam de areias muito finas a cascalhosas.
21
Figura 09. A) Forma de afloramento das rochas da Unidade Tramposo, sempre nas cristas dos morrotes.
B) detalhe da estrutura maciça; C) feições similares a dobras e D) veio centimétrico de quartzo, fibroso,
com óxido de ferro.
22
CAPÍTULO 3
ARTIGO
SILLS MÁFICOS DA SUÍTE INTRUSIVA HUANCHACA - SW DO CRATON AMAZÔNICO:
REGISTRO DE MAGMATISMO FISSURAL RELACIONADO À RUPTURA DO
SUPERCONTINENTE RODÍNIA
GABRIELLE APARECIDA DE LIMA – Programa de Pós-Graduação em Geociências, Departamento
de Recursos Minerais, Instituto de Ciências Exatas e da Terra, Universidade Federal de Mato Grosso,
Cuiabá (MT), Brasil. Email: [email protected]
MARIA ZÉLIA AGUIAR DE SOUSA – Departamento de Recursos Minerais, Instituto de Ciências
Exatas e da Terra, Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá (MT), Brasil. Email:
AMARILDO SALINA RUIZ – Departamento de Geologia Geral, Instituto de Ciências Exatas e da
Terra, Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá (MT), Brasil. Email: [email protected]
Resumo A Serra Ricardo Franco é constituída pelos estratos sub-horizontais do Grupo Aguapeí (Formações
Fortuna, Vale da Promissão e Morro Cristalina, da base para o topo), pelos sills máficos da Suíte Intrusiva
Huanchaca e pelos cherts e silexitos da Unidade Tramposo. Este trabalho objetiva apresentar os dados geológicos,
petrográficos, geoquímicos e geocronológicos dos sills máficos pertencentes à Suíte Intrusiva Huanchaca, na porção
norte da Serra Ricardo Franco, inseridos no Terreno Paraguá, SW do Craton Amazônico, e discutir o provável
significado tectônico deste evento ígneo. O mapeamento geológico permitiu a identificação de dois sills, alojados nos
argilitos da Formação Vale da Promissão. Petrograficamente, as rochas dos sills são maciças, de granulação fina a
média e cor cinza-esverdeado a preta. Apresentam texturas equi a inequigranulares e composição gabróica. A partir
de análises microscópicas, identificaram-se dois litotipos, classificados como Hornblenda Diabásio e Olivina
Diabásio. Dados geoquímicos evidenciam natureza subalcalina do tipo toleítica para o magmatismo gerador destes
sills em ambiente geotectônico correspondente à intraplaca continental e os valores do índice de magnésio (mg#),
variando entre 0,25 e 0,38, indicam magma basáltico evoluído. Os enxames de diques máficos das Suítes Intrusivas
Huanchaca, Rancho de Prata e Rio Perdido, bem com os sills máficos Huanchaca e Salto do Céu, formaram-se entre
1040 a 850 Ma, e são constituídos por diabásios e gabros com afinidade toleítica. Este episódio magmático máfico
constitui uma LIP (Large Igneous Province), gerada pela extensão crustal com vetor deslocamento NNW, que
precedeu a dispersão do Supercontinente Rodínia.
Palavras-chave: Sills máficos, Craton Amazônico, Suíte Intrusiva Huanchaca, Magmatismo Intracontinental.
Abstract The mafic Sills of Huanchaca Intrusive Suite (SW of Amazonian Craton) - are the record of a
fissural magmatism related to the break-up of the Rodinia Supercontinent. The Ricardo Franco mountain ridge is
comprised by sub-horizontal layers of the Aguapeí Group (Fortuna, Vale da Promissão and Morro Cristalina
Formations, from bottom to top), mafic sills from the Huanchaca Intrusive Suite, and cherts and silexites belonging
to the Tramposo Unit. This work presents geologic, petrographic, geochemical and geochronological (Ar-Ar) data of
mafic sills belonging to the Huanchaca Intrusive Suite inserted in the Paraguá Terrane, SW of Amazonian Craton,
and discuss the possible tectonic significance of this igneous event. Two sills are identified intruding mudstones of
the Vale da Promissão Formation. Petrographically, the mafic rocks are isotropic, fine to medium grained and
greenish-gray to black. They show equi to inequigranular textures and gabbroic composition. Two lithotypes were
identified from microscopic analysis, classified as Hornblende Diabase and Olivine Diabase. Geochemically the sills
are subalkaline tholeiitic basalts and tectonically they are related to a continental intraplate environment. The
magnesium index (mg #) values vary between 0.25 and 0.38, indicating evolved basaltic magmas. 40
Ar-39
Ar plateau
ages of 948 ± 5 Ma (plagioclase) and 1040 ± 40 Ma (amphibole) were obtained for one of the analyzed samples
which constrain the Huanchaca magmatism to the late Mesoproterozoic. The Huanchaca sills and other 1040-850
Ma mafic dykes (Rancho de Prata and Rio Perdido) and sills (Salto do Céu) of the southwestern sector of the
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Amazonian craton, also described as diabases and gabbros with tholeiitic affinity, form a large igneous province
(LIP), generated by crustal extension with a NNW displacement vector, preceding the dispersion of Rodinia
Supercontinent.
Keywords: mafic sills, Amazonian Craton, Huanchaca Intrusive Suite, Intracontinental Magmatism.
INTRODUÇÃO
Expressivo magmatismo básico localizado na porção Sul/Sudoeste do Craton Amazônico, de idade
toniana, tem sido descrito por vários autores (Litherland et al. 1986; Araújo et al. 1982; Sécolo et al.
2008; Lima 2008; Corrêa da Costa et al. 2008, 2009, D’Agrella Filho et al. 2010; Ruiz et al. 2005, 2009,
2010a). Segundo os últimos autores, este evento representa um LIP (Large Igneous Province).
O sudoeste do Craton Amazônico em Mato Grosso, especificamente na região limítrofe Brasil-Bolívia,
nas proximidades do município de Vila Bela da Santíssima Trindade, é caracterizado pela ocorrência de
rochas pertencentes ao Terreno Paraguá, que se estende do oeste da Bolívia ao extremo ocidente do Brasil
(Figura 1), o qual foi aglutinado ao Craton Amazônico ao final da Orogenia San Ignácio (1.4 a 1.28 Ga) e
reativado parcialmente durante a Orogenia Sunsás (1.1 a 0.9 Ga). A área de estudo deste trabalho está
localizada na porção leste deste terreno, ao longo da Serra Ricardo Franco ou Huanchaca, como é
conhecida em território boliviano, a qual é constituída por sedimentos do Grupo Aguapeí (Formações
Fortuna, Vale da Promissão e Morro Cristalina), intrusões (sills) máficas (Suíte Intrusiva Huanchaca) e
sedimentos terciários (Unidade Tramposo) e quaternários. Do ponto de vista tectônico, esta área
corresponde à parte do Terreno Paraguá não afetada pela orogenia Sunsás.
Os sills máficos da Suíte Intrusiva Huanchaca, alojados na Formação Vale da Promissão, foram
escolhidos como objeto deste trabalho, que consta de mapeamento geológico sistemático na escala de
1:50.000, estudos petrográficos, geoquímicos e geocronológicos, bem como, reconhecimento dos litotipos
que ocorrem em sua adjacência. Os resultados obtidos contribuem para o conhecimento da evolução
geológica da porção sudoeste do estado de Mato Grosso, limite Brasil-Bolívia, particularmente sobre o
magmatismo básico neoproterozóico relacionado ao estágio de ruptura do Supercontinente Rodínia.
CONTEXTO GEOLÓGICO REGIONAL
O Craton Amazônico, localizado na parte norte da América do Sul corresponde a uma das principais
entidades geotectônicas pré-cambrianas do mundo. A concepção mais aceita para a evolução do craton,
proposta por Cordani et al. (1979), seguida e modificada por Tassinari (1981), Cordani & Brito Neves
(1982), Teixeira et al. (1989), Tassinari (1996), Tassinari & Macambira (1999), Tassinari et al. (2000),
Tassinari & Macambira (2004), Santos et al. (2000, 2008), Ruiz (2005), dentre outros, fundamenta-se na
Teoria da Tectônica Global ou de Placas, a qual defende a ocorrência, durante o Arqueano, Paleo e
Mesoproterozóico, de uma sucessão de arcos magmáticos envolvendo a formação de material juvenil,
além de processos subordinados de retrabalhamento crustal. Ruiz (2005) apresenta a compartimentação
tectônica-geocronológica do craton, considerando o Maciço/Bloco Rio Apa, que aflora no Brasil (Mato
Grosso do Sul) e Paraguai entre os sedimentos da Bacia do Pantanal, como parte integrante (extremo sul)
do Craton Amazônico.
O sudoeste do Craton Amazônico exposto em Mato Grosso guarda registros geológicos e tectônicos
que se estendem do Paleo ao Neoproterozóico, culminando com a consolidação do Supercontinente
Rodínia, apresentando uma evolução tectônica policíclica caracterizada pela superposição de episódios
orogênicos. Há diversas propostas de compartimentação tectônica para esta porção do craton, dentre as
quais se destacam: Monteiro et al. (1986); Saes & Fragoso César (1996); Saes (1999); Geraldes et al.
(2001), Matos et al. (2004), Ruiz (2005, 2009). Adota-se neste trabalho a sugerida por Ruiz (2009) que,
com base na evolução geológica que antecede a Orogenia Sunsás (1.1 a 0.9 Ga), divide a região em cinco
Terrenos, sendo eles: Paraguá, Rio Alegre, Jauru, Alto Guaporé e Nova Brasilândia.
Ruiz (2009) e Bettencourt et al. (2010) adotaram o termo Terreno Paraguá, para denotar um terreno
composto por rochas do embasamento paleoproterozóico (Complexo Gnáissico Chiquitania, Grupo Xistos
San Ignácio e Complexo Granulítico Lomas Manechis) e granitóides mesoproterozóicos (Complexo
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Granitóide Pensamiento), amalgamados ao proto-Craton Amazônico durante a orogenia Rondoniano-San
Ignácio. Esse embasamento paleo-mesoproterozóico encontra-se recoberto, por discordância erosiva,
pelos sedimentos do Grupo Aguapeí, que retrata uma bacia intracontinental ou do tipo aulacogênica (Saes
1999, Teixeira et al. 2010).
Segundo Ruiz (2009), no Terreno Paraguá são reconhecidas duas orogêneses que precederam a
Orogenia Sunsás: Orogenia Lomas Manechis (1.74 a 1.69 Ga) e Orogenia San Ignácio (1.4 a 1.28 Ga)
(Boger et al. 2005, Ruiz 2005, Santos et al. 2008).
O magmatismo neoproterozóico, desenvolvido após a orogenia Sunsás, que ocorre no sul e sudoeste do
Craton Amazônico, de natureza bimodal, está representado pelas Suítes Intrusivas Huanchaca, Salto do
Céu, Rancho de Prata, Rio Perdido, Guapé, Sunsás e Granito Vila Bela (Tabela 01 e Figura 01), sugerindo
uma tentativa de ruptura continental.
Figura 01. Mapa tectônico do Sul/Sudoeste do Craton Amazônico (Extraído de Ruiz et al. 2010b).
Tabela 01. Sumário das unidades litoestratigráficas da LIP com respectivas idades e localização no S-SW
do Craton Amazônico. BO - Bolívia, BR – Brasil. (a) Litherland et al. (1986), (b) Santos et al. (1979), (c)
Barros et al. (1982) e Elming et al. (2009), (d) Araújo (2003), (e) Araújo et al. (1982), (f) Boger et al.
(2005). UNIDADE DESCRIÇÃO IDADE (Ma) LOCALIZAÇÃO
Suíte Intrusiva Huanchaca diques e sills máficos 918 ± 20 (K-Ar)
936 ± 20 (K-Ar)
(a) Terreno Paraguá - BO
(b) Terreno Paraguá - BR
Suíte Intrusiva Salto do Céu sills máficos 875±21(K-Ar)
960±21(K-Ar) (c) Terreno Jauru - BR
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980 ±2 (Ar/Ar)
Suíte Intrusiva Rancho de Prata diques máficos ----- Terreno Jauru - BR
Suíte Intrusiva Rio Perdido diques máficos 914 ± 9 (K-Ar) (e) Terreno Rio Apa - BR
Granito Vila Bela diques graníticos ----- Terreno Paraguá - BR
Suíte Intrusiva Guapé corpos graníticos 917 ± 18 (U-Pb) (d) Faixa Móvel Aguapeí - BR
Suíte Intrusiva Sunsás corpos graníticos 1076 ± 18 (U-Pb) (f) Faixa Móvel Sunsás -BO
GEOLOGIA E PETROGRAFIA
A Serra Ricardo Franco/Huanchaca, corresponde a uma meseta alinhada, cujo eixo principal tem
direção N30°-40°W, sendo constituída pelos estratos sub-horizontais do Grupo Aguapeí, sills máficos da
Suíte Intrusiva Huanchaca, cherts e silexitos da Unidade Tramposo (Lima 2008) e coberturas aluvionares
(Figura 02). Do ponto de vista tectônico, estas unidades litoestratigráficas não apresentam registros de
deformação penetrativa. Na borda NE da serra, no Brasil, falhas regionais, normais, bascularam as
camadas do Grupo Aguapeí, deixando-as com mergulhos íngremes de cerca de 80-85° para o quadrante
NE.
A Suíte Intrusiva Huanchaca, na área em questão, está representada por dois sills que afloram sob a
forma de blocos e lajedos (Figs. 03C e 03B), alojados nos pelitos e arenitos da Formação Vale da
Promissão, Grupo Aguapeí, sendo o maior com cerca de 50 m de espessura que compreende o corpo de
maior extensão (Figura 02). O segundo localiza-se no extremo sul da área e de menor expressão (Figura
02). Os contatos com as encaixantes (Fig. 03A) são sempre abruptos, paralelos ao acamadamento, não
sendo reconhecidas feições de metamorfismo térmico.
Macroscopicamente, as rochas são maciças de granulação fina a média variando de melanocráticas a
ultramáficas e cor cinza-esverdeado a preta (Fig. 03D). Apresentam texturas equi a inequigranulares e
composição gabróica.
27
Figura 03. A) Contato do sill com a Formação Vale da Promissão. Formas de afloramentos dos sills: B)
lajedos e C) blocos. D) Aspecto macroscópico das rochas da Suíte Intrusiva Huanchaca ilustrando cor
cinza-esverdeado.
A partir do estudo detalhado de trinta lâminas delgadas, que consistiu de descrição de texturas,
paragêneses primária e de alteração, bem como, definição das composições modais, foi possível a
caracterização petrográfica dos litotipos pertencentes à Suíte Intrusiva Huanchaca, que ocorrem na região
da Fazenda Paredão.
Os sills estudados são constituídos, essencialmente, por minerais máficos e plagioclásio, classificando-
se como Hornblenda Diabásio e Olivina Diabásio. Opticamente, são rochas holocristalinas, de textura sub-
ofítica (Fig. 04B) a ofítica (Fig. 04A) e, mais raramente, intergranular, fina a média, marcada pela trama
de ripas de plagioclásio e cristais de piroxênio.
O primeiro litotipo, de ocorrência mais expressiva é constituído, essencialmente, por plagioclásio, piroxênio, anfibólio, opacos, e feldspato alcalino e quartzo com intercrescimento gráfico (Fig. 04G), tendo
como minerais secundários e acessórios: biotita, clorita, talco, titanita, apatita, argilo-minerais,
epidoto/clinozoizita, sericita e calcita. Texturas localizadas, incomuns segundo MacKenzie et al. (1982),
são reconhecidas nestas rochas, tais como intercrescimento radiado, constituído por dois cristais de
plagioclásio, perpendiculares entre si em um único cristal de piroxênio (Fig. 04C); bem como, leques
formados por ripas divergentes de plagioclásio intercaladas por piroxênio (Fig. 04D).
O segundo litotipo é formado por um alto percentual de olivina (40%), piroxênio, plagioclásio e
opacos, apresentando serpentina, anfibólio, clorita, talco, epidoto, sericita, calcita, argilo-minerais, titanita,
apatita e opacos como fases de alteração e acessórias.
28
O plagioclásio, identificado como andesina pelo método estatístico de Michel Levy (Kerr, 1959),
ocorre incluso nos cristais de piroxênio ou intersticial entre eles e apresenta hábito tabular ou em ripas
menores, exibindo com freqüência geminação polissintética do tipo albita ou periclina, por vezes
combinadas, e subordinadamente, macla Carlsbad. Algumas amostras exibem evidências de intensos
processos de alteração, tais como, argilização, sericitização e, freqüentemente, saussuritização com
desenvolvimento de grande quantidade de epidoto/clinozoizita, sericita e calcita.
Os feldspatos alcalinos ocorrem em pequena percentagem (3%) no Hornblenda Diabásio e, quando
observados, exibem sempre intercrescimento de quartzo que caracteriza textura gráfica, sugerindo
contaminação crustal com assimilação de rochas encaixantes ricas em sílica, pertencentes ao Grupo
Aguapeí.
Os piroxênios, reconhecidos como augita, pigeonita e hyperstênio, apresentam-se euédricos a
subédricos com hábito prismático, ou anédricos com discreto pleocroísmo em tons rosa e às vezes,
geminação setorial e/ou zonação. Ocorrem comumente uralitizados nos traços de clivagens e fraturas,
exibindo textura coronítica frequente, com bordas de reação formadas principalmente por anfibólio, mas
também por clorita, talco e serpentina. Esta paragênese de alteração pode substituí-los parcialmente (Fig.
04E) ou, algumas vezes pseudomorfizá-los, de maneira que a fase primária é encontrada apenas como
minúsculos relictos.
Os anfibólios estão representados por hornblenda e actinolita, ambos como produtos de transformação
da augita, formando textura coronítica. O primeiro é mais abundante e apresenta pleocroísmo verde-claro
a marrom-claro ocorrendo em prismas subédricos e grãos anédricos; enquanto a actinolita exibe color
verde-claro e hábito principalmente fibroso. Alteram comumente para opacos, biotita, clorita e talco.
Os opacos ocorrem em quantidade expressiva, podendo representar produtos de alteração dos minerais
máficos ou fases de cristalização primária, com forma cúbica, também em grãos anédricos disseminados
por toda rocha ou com hábito dendrítico intercrescido com cristais de piroxênio e anfibólio caracterizando
textura simplectítica (Fig. 04H); localmente, apresentam evidências de desopacitização com neo-formação
de biotita, clorita ou titanita. Esta última constitui coroa de reação de ilmenita ou pode representar fase
primária acessória, ocorrendo em cristais romboédricos ou em grãos anédricos disseminados por toda a
rocha. A apatita corresponde a uma fase primária acessória, ocorrendo em pequenos cristais aciculares
inclusos principalmente no plagioclásio e piroxênio.
O Olivina Diabásio é diferenciado do Hornblenda Diabásio pela presença de olivina e ausência de
quartzo e feldspato alcalino. Semelhantemente, os dois litotipos são constituídos pelos mesmos piroxênios
e plagioclásio classificados, respectivamente, como augita/hyperstênio e andesina; a paragênese de
alteração e acessória é praticamente igual, ressaltando-se apenas a maior quantidade de serpentina no
Olivina Diabásio. Sendo assim, descreve-se apenas a olivina que nele constitui um mineral primário
fundamental e representa fase incompatível com a sílica.
A olivina perfaz cerca de 40% da rocha e sua composição mais magnesiana é estimada pelos seus
produtos de alteração, tais como, serpentina e talco; bem como pelo seu caráter óptico positivo. Ocorre em
grãos anédricos com bordas de reação para piroxênio, caracterizando textura coronítica (Fig. 04E e 04F), e
com fraturamento típico, preenchido principalmente por serpentina de hábito fibroso. Por vezes,
apresenta-se intensamente alterada, podendo estar totalmente pseudomorfisada ou ocorrer apenas como
relictos.
29
Figura 04. Fotomicrografias ilustrando: A) textura ofítica formada por cristal de augita incluindo
minúsculas ripas euédricas a subédricas de plagioclásio. B) textura subofítica formada por cristais
30
tabulares de plagioclásio e prismáticos de piroxênio com geminação setorial, parcialmente uralitizados e
intercrescimento gráfico. C) intercrescimento radiado, constituído por dois cristais de plagioclásio,
perpendiculares entre si em um único cristal de piroxênio. D) leques formados por ripas divergentes de
plagioclásio intercaladas por piroxênio. E) detalhe de cristais de plagioclásio com percolação de óxido de
ferro e piroxênio parcialmente uralitizado. F) cristal de olivina com fraturamentos preenchidos por
serpentina, seu principal produto de alteração e também com textura coronítica, formada por piroxênio. G)
intercrescimento gráfico. H) desopatização, intercrescimento simplectítico, e textura gráfica na parte
superior direita. B), C), D), E), G), H) Hornblenda Diabásio; A) e F) Olivina Diabásio. Polarizadores
cruzados em todas as imagens.
GEOQUÍMICA DE ROCHA TOTAL
Foram selecionadas dezessete amostras para análises geoquímicas, tidas como as mais representativas,
considerando sua distribuição na área de estudo, bem como sua diversidade textural e mineralógica. As
amostras foram britadas e pulverizadas no Laboratório de Preparação de Amostras do Departamento de
Recursos Minerais da Universidade Federal de Mato Grosso. As análises químicas para determinação das
concentrações de elementos maiores e menores por ICP-MS e elementos traço, incluindo terras raras, por
ICP-ES, foram realizadas em dois laboratórios distintos (Acme Analytical Laboratories, Vancouver,
Canadá, e Activation Labs. Ontário, Canadá - Tabelas 02 e 03, respectivamente). O tratamento dos dados
geoquímicos obtidos foi feito utilizando o software Minpet for Windows (versão 2.0, Minpet Geological
Software; Richard 1995).
Nos diagramas de Fenner, figuras 05 e 06, optou-se por utilizar o índice de diferenciação mg# [mg# =
Mg+2
/(Mg+2
+ Fe+2
)] em porcentagem de peso, calculado assumindo a razão Fe2O3/FeO igual a 0,15,
buscando obter melhores tendências das variações químicas. Os valores do índice de magnésio para as
rochas estudadas apresentaram variações entre 0,25 e 0,38 sugerindo tratar-se de magmas basálticos
evoluídos.
De modo geral as rochas apresentam nítidas variações composicionais dos elementos maiores com a
evolução magmática, mostrando que com o decréscimo de mg# há diminuição do teor de Al2O3, enquanto
que os teores de Fe2O3, Na2O, MnO, K2O, P2O5, TiO2 aumentam (Fig. 05), O aumento dos valores de
TiO2, com o decréscimo de mg#, demonstra que o fracionamento de óxidos Fe-Ti não foram importantes
na evolução magmática. Há uma pequena dispersão dos valores de CaO, provavelmente resultante do alto
grau de saussuritização dos plagioclásios, ou decréscimo no teor de anortita das amostras (Fig. 05F). Já
nos diagramas mg# versus elementos traço, somente o teor de Ni diminui com o decréscimo de mg#,
diferindo dos elementos Ba, Y, La, Nd, Zr, Rb, e Ce que tem seus teores acrescidos.
Quando plotadas no diagrama baseado no conteúdo de sílica total versus álcalis, proposto Le Bas et al.
(1986; Fig. 07C) as rochas classificam-se como basaltos andesíticos, de natureza subalcalina evidenciada
pelo diagrama de Irvine & Baragar (1971; Fig. 07A) . No diagrama AFM (Irvine & Baragar, 1971; Fig.
07B) observa-se que todas as amostras seguem um trend toleítico, com destacado enriquecimento em FeOt
em relação aos álcalis. Quanto à ambiência tectônica, o gráfico Zr versus Zr/Y de Pearce & Norry (1979;
Fig. 07D) discrimina essas rochas como basaltos intraplaca.
No diagrama multi-elementar (Fig. 08A), normalizado pelo manto primitivo (McDonough & Sun
1995), observa-se anomalias negativas de K, Nb, Sr e Ti e positivas de Ba e La. Para comparação são
mostrados os padrões médios para Basaltos de Ilha Oceânica (OIB), Basaltos de Cordilheira Meso-
Oceânica Normal (N-MORB) e Enriquecido (E-MORB) (McDonough & Sun 1995). Nota-se que o padrão
das amostras dos sills assemelha-se ao dos OIB, diferenciando-se apenas por apresentar anomalia negativa
de Nb, característica de ambiente continental.
Os padrões de distribuição dos elementos terras raras (ETR), normalizados para os valores do condrito
segundo Boynton (1984; Fig. 08B), apresentam-se fortemente fracionados e enriquecidos em ETR leves
em relação aos ETR pesados e uma discreta anomalia de Eu. O padrão observado é mais comparável com
o apresentado pelos OIB, sendo os sills Huanchaca um pouco menos enriquecidos nos ETR leves e
empobrecidos nos ETR pesados em relação ao mesmo, isto é, apresenta razões La/Yb mais baixas.
31
Tabela 02. Composição química das amostras dos sills da Suíte Intrusiva Huanchaca (elementos maiores
em %, traços e terras raras em ppm) obtidas no Acme Analytical Laboratories.
Amostras LG9 LG14D LG36 LG37C LG117 RV2B LG111
Coordenadas 778202/
8421522
772168/
8432846
775655/
8426206
775454/
8426004
772879/
8430532
776516/
8427670
774776/
8431292
SiO2 53,46 53,99 53,00 54,63 54,37 53,47 53,42
Al2O3 14,13 14,12 14,80 14,56 14,48 14,61 14,54
Fe2O3(T) 11,32 11,17 10,81 9,83 9,76 10,44 10,39
MnO 0,17 0,17 0,16 0,16 0,16 0,16 0,16
MgO 5,48 5,19 6,46 6,26 6,74 5,99 6,09
CaO 9,25 8,79 9,08 7,83 8,93 9,01 9,85
Na2O 2,24 2,19 2,14 2,35 2,18 2,18 2,10
K2O 1,28 1,48 1,20 1,77 1,27 1,33 1,22
TiO2 0,99 1,06 0,86 0,86 0,88 0,91 0,90
P2O5 0,12 0,11 0,11 0,10 0,09 0,11 0,11
LOI 1,3 1,4 1,1 1,3 0,8 1,5 0,9
Total 99,72 99,71 99,71 99,73 99,72 99,72 99,70
Ba 391 489 361 360 353 361 369
Sr 185,3 185,9 194,8 171,7 171,7 186,8 176,2
Y 29,2 33,5 25,8 26,6 25,2 26,1 26,1
Zr 121,9 136,5 111,6 125,0 114,4 122,9 117,3
Rb 51,6 58,4 41,0 49,8 34,2 45,2 44,6
Nb 5,8 6,3 5,2 8,0 6,2 5,0 5,8
La 19,3 24,1 17,4 19,0 18,6 18,6 17,8
Ce 41,8 51,1 39,3 42,8 40,1 41,5 39,9
Pr 5,04 6,83 4,61 4,94 4,69 4,83 4,77
Nd 19,8 24,7 17,9 20,6 19,9 19,2 18,1
Sm 4,45 5,97 4,08 4,26 3,82 4,23 4,07
Eu 1,19 2,11 1,09 1,05 1,03 1,08 1,11
Gd 4,64 6,19 4,23 4,38 4,22 4,42 4,32
Tb 0,81 1,89 0,74 0,78 0,73 0,76 0,75
Dy 4,52 6,19 4,31 4,33 4,01 4,49 4,42
Ho 0,99 2,02 0,89 0,91 0,89 0,96 0,92
Er 2,92 4,16 2,73 2,67 2,71 2,74 2,89
Tm 0,45 1,37 0,40 0,41 0,39 0,40 0,43
Yb 2,94 4,04 2,57 2,55 2,66 2,67 2,63
Lu 0,41 1,35 0,40 0,40 0,36 0,40 0,40
K 10626 12286 9961 14693 10543 11041 10128
Ti 5935 6354 5155 5155 5275 5455 5395
Ni 51 53 72 53 59 70 64
mg# 0,30 0,29 0,34 0,36 0,38 0,34 0,34
Tabela 03. Composição química das amostras dos sills da Suíte Intrusiva Huanchaca (elementos maiores
em %, traços e terras raras em ppm) obtidas no Activation Labs.
Amostras RV01A RV02C RV2D RV03A RV04A RV4B RV05B S2 S3 S4
Coordenadas 775851/
8427681
776516/
8427670
776516/
8427670
777203/
8427665
777351/
8428051
777351/
8428051
776948/
8427874
774997/
8427687
774413/
8427703
774172/
8427691
32
SiO2 54,95 52,91 53,31 53,83 54,49 54,63 54,98 54,71 52,21 54,65
Al2O3 13,77 13,96 14,06 14,65 14,57 14,45 14,54 14,07 14,37 14,54
Fe2O3(T) 11,53 11,65 11,92 10,36 10,49 10,89 10,28 10,82 10,06 10,46
MnO 0,171 0,17 0,171 0,162 0,163 0,166 0,161 0,167 0,155 0,16
MgO 4,83 5,17 4,62 6,56 6,01 5,92 5,98 5,63 6,14 6,04
CaO 8,73 8,92 8,62 9,05 9,14 9,23 9,23 9,3 8,99 9,33
Na2O 2,27 2,2 2,24 2,06 2,18 2,24 2,12 2,24 1,97 2,11
K2O 1,77 1,4 1,38 1,06 1,35 1,31 1,26 1,43 1,19 1,22
TiO2 1,095 1,018 1,097 0,917 0,943 0,935 0,928 1,009 0,906 0,956
P2O5 0,17 0,14 0,15 0,12 0,13 0,13 0,13 0,13 0,13 0,13
LOI 1,21 0,97 0,86 0,78 1,11 0,93 1,1 1,12 3,58 1,08
Total 100,5 98,51 98,42 99,55 100,6 100,8 100,7 100,6 99,69 100,7
Ba 493 414 439 250 384 384 392 408 256 380
Sr 171 179 177 176 184 171 172 169 175 173
Y 31 28 30 22 25 26 25 26 23 25
Zr 153 133 146 116 124 130 121 136 120 129
Rb 71 57 50 34 46 44 41 53 40 43
Nb 6 5 6 5 5 5 5 5 5 5
La 23,3 21,4 22 18,6 18,4 19,1 18,7 19,6 19,1 18,9
Ce 49,1 44,8 46,1 39,2 39 40,3 39,4 41,7 40,3 40,2
Pr 5,9 5,4 5,45 4,59 4,67 4,81 4,74 4,98 4,75 4,81
Nd 23,5 21,3 21,5 18,2 18,7 19,1 18,9 20 18,7 18,8
Sm 5,1 4,6 4,7 4 4,1 4,2 4,1 4,4 4,1 4,2
Eu 1,4 1,33 1,31 1,15 1,19 1,2 1,17 1,22 1,15 1,18
Gd 5,5 5 5,1 4,4 4,4 4,5 4,3 4,7 4,3 4,5
Tb 1 0,9 0,9 0,8 0,8 0,8 0,8 0,9 0,8 0,8
Dy 5,9 5,4 5,4 4,7 4,7 4,9 4,8 5,1 4,8 4,9
Ho 1,2 1,1 1,1 0,9 1 1 1 1,1 0,9 1
Er 3,5 3,2 3,3 2,8 2,9 3 2,9 3,1 2,8 2,9
Tm 0,51 0,49 0,5 0,43 0,43 0,45 0,43 0,47 0,42 0,43
Yb 3,3 3,2 3,2 2,7 2,7 2,8 2,7 3 2,7 2,8
Lu 0,5 0,48 0,47 0,41 0,42 0,43 0,41 0,45 0,41 0,42
K 14693 11622 11456 8799 11207 10875 10460 11871 9878 10128
Ti 6564 6102 6576 5497 5653 5605 5563 6049 5431 5731
Ni 40 50 40 60 60 60 40 50 60 50
mg# 0,27 0,28 0,25 0,36 0,34 0,32 0,34 0,31 0,35 0,34
As razões Zr versus elementos incompatíveis têm mostrado ser uma boa ferramenta para o estudo das
propriedades e dos processos de gênese das rochas e da investigação de heterogeneidade do manto, em
consequência do pouco fracionamento desses elementos durante os processos de cristalização fracionada
ou fusão parcial. Para as rochas estudadas (Fig. 09), exceto Sr, observam-se correlações positivas entre Zr
e La, Ce, Ti, Nd e Y com pequenas variações em suas razões (Zr/La 5,664 - 6,939; Zr/Ce 2,671 - 3,261;
Zr/Ti 0,021 - 0,022; Zr/Nd 5,526 - 6,862; Zr/Y 4,075 - 5,273; Zr/Sr 0,573 - 0,895) sugerindo que os sills
da Suíte Intrusiva Huanchaca resultam de fonte mantélica homogênea enriquecida em LILE e
empobrecida em Nb e Ti.
33
Figura 05. Diagramas de variação mg# vs óxidos de elementos maiores (% em peso) das rochas da Suíte
Intrusiva Huanchaca.
34
Figura 06. Diagramas de variação mg# vs elementos traço (ppm) das rochas da Suíte Intrusiva
Huanchaca.
35
Figura 07. Diagramas classificatórios dos sills da Suíte Huanchaca: (A) Na2O+K2O versus SiO2 e (B)
AFM de Irvine & Baragar (1971), C) TAS de Le Bas et al. (1986), D) Zr versus Zr/Y de (Pearce & Norry
(1979).
36
Figura 08. A) Diagrama multi-elementar das rochas da Suíte Intrusiva Huanchaca normalizado pelo
manto primitivo (McDonough & Sun 1995). B) Diagrama de distribuição dos elementos terras raras
(ETR) para as rochas da Suíte Intrusiva Huanchaca normalizados pelo condrito segundo Boynton (1984).
Para efeito de comparação foram utilizados os padrões OIB, N-MORB e E-MORB de McDonough & Sun
(1995) e Boynton (1984), respectivamente.
37
Figura 09. Diagramas de correlação entre Zr versus elementos traço (incompatíveis) para as rochas da
Suíte Intrusiva Huanchaca.
DADOS GEOCRONOLÓGICOS
Análises 40
Ar/39
Ar
A amostra selecionada (LG-70) para análise isotópica 40
Ar/39
Ar foi triturada, até alcançar granulação
inferior a 2 mm, sendo em seguida lavada em banho ultra-sônico até sua limpeza completa. Logo depois,
foi lavada por um período mínimo de 15 minutos, sequencialmente, em água destilada e em etanol
absoluto e, posteriormente, seca ao ar. Os grãos minerais (plagioclásio e anfibólio), com granulação entre
38
0,5 e 2 mm, foram selecionados com auxílio de um microscópio binocular a partir do material limpo. Os
minerais foram acondicionados em discos de alumínio junto com um padrão internacional (Fish Canyon
Sanidine - idade 28,201 ± 0,046 Ma; Kuiper et al. 2008), para monitoramento do fluxo de nêutrons,
seguindo a geometria ilustrada em Vasconcelos et al. (2002). Os discos de irradiação foram fechados com
tampas de alumínio, envolvidos em papel alumínio, selados em tubos de quartzo, dispostos num recipiente
colunar de cádmio e posteriormente irradiado, em um reator tipo TRIGA na Universidade do Estado de
Oregon-EUA, por 42 horas, no período de 03 a 15 de dezembro de 2009.
Cada amostra foi aquecida gradualmente com um feixe de laser contínuo com tamanho de 2 mm, para
extração do Ar por fusão por etapas (step-heating) das amostras irradiadas. Este procedimento resulta em
extrações de várias frações de gás a temperaturas crescentes analisadas individualmente no espectrômetro
de massa MAP-215-50, utilizando o software "MassSpec Versão 7.527", desenvolvido pelo Centro de
Geocronologia de Berkeley-EUA, os procedimentos analíticos estão descritos em Deino & Potts (1990) e
Vasconcelos et al. (2002). Os dados analíticos da tabela 04 foram obtidos no Laboratório da Universidade
de Queensland-Austrália.
As duas idades plateaus obtidas, tanto para o plagioclásio (948 ± 5 Ma; Fig.10A) como para o
anfibólio (1040 ± 40 Ma; Fig.10B) indicam que o sistema Ar/Ar dos minerais datados permaneceu
fechado, e todas as idades alcançadas nas diferentes temperaturas foram as mesmas, gerando um espectro
de idades contínuo e constante. Por se tratar de rochas indeformadas, essas idades, certamente, estão bem
próximas à idade de cristalização das rochas da Suíte Intrusiva Huanchaca. Devido as diferentes
temperaturas de fechamento dos minerais datados foi possível estimar a taxa de resfriamento desse magma
em torno de 2,7°C/Ma.
Tabela 04. Dados analíticos obtidos para plagioclásio e anfibólio da Suíte Intrusiva Huanchaca.
AMOSTRA/
MATERIAL N° LAB
40Ar/ 39Ar
38Ar/ 39Ar
37Ar/ 39Ar
36Ar/ 39Ar
40*Ar/ 39Ar
%40*Ar 40Ar
(Mols)
Idade
(Ma) ±(Ma)
LG-70/
PLAGIOCLÁSIO
6554-01A 103 0.072 38 0.058 91 86.1 3.32E-15 1250 200
6554-01B 59.64 0.0149 6.9 0.0108 57.21 95.48 6.98E-14 877.9 6.9
6554-01C 71.7 0.01201 3.44 0.0024 71.41 99.37 1.90E-13 1042.6 5.3
6554-01D 73.9 0.01331 0.8 0.0014 73.58 99.52 3.20E-13 1066.5 5.1
6554-01E 73.62 0.01374 1.05 0.00143 73.32 99.53 2.86E-13 1063.7 4.3
6554-01F 70.59 0.01375 2.45 0.00271 70.09 99.12 1.57E-13 1027.9 5.9
6554-01G 69.81 0.016 3 0.00432 68.89 98.48 5.50E-14 1014 10
6554-01H 71.55 0.01336 2.64 0.00158 71.41 99.63 2.29E-13 1042.6 5.4
6554-01I 70.6 0.012 6.5 0.00328 70.4 99.32 5.00E-14 1032 12
6554-01J 73.4 0.0172 5 0.0015 73.5 99.9 2.56E-14 1066 21
6554-02A 90.4 0.0496 21 0.1014 62.6 68.3 1.15E-14 942 45
6554-02B 58.66 0.02112 3.81 0.02182 52.57 89.4 1.30E-13 820.6 5.6
6554-02C 65.31 0.01155 0.82 0.00246 64.67 98.97 3.50E-13 966.2 3.7
6554-02D 64.69 0.01217 0.86 0.001611 64.31 99.36 1.04E-12 962.1 3.1
6554-02E 63.47 0.01189 0.374 0.000817 63.27 99.66 1.69E-12 950 2.8
6554-02F 63.78 0.01513 2.22 0.00638 62.14 97.28 2.06E-13 936.7 5.6
6554-02G 64.02 0.01422 1.19 0.00507 62.65 97.78 1.50E-13 942.7 4.9
6554-02H 64.35 0.01359 2.62 0.004 63.47 98.46 4.28E-13 952.3 3.5
6554-02I 64.88 0.01299 5.1 0.00893 62.82 96.49 6.80E-14 944.7 8.9
6554-02J 64.6 0.0148 2.7 0.0092 62.2 96.1 2.71E-14 937 20
39
LG-70/
ANFIBÓLIO
6556-01A 240 0.141 184 0.59 90 32.7 6.88E-15 1240 280
6556-01B 299 0.155 4 0.702 89.9 30 4.03E-14 1237 63
6556-01C 159.6 0.0706 49 0.223 100.2 60.7 1.94E-14 1337 67
6556-01D 84.3 0.0391 18.1 0.0149 82.3 96.39 4.04E-14 1160 18
6556-01E 78.9 0.0407 6.3 0.00488 78.27 98.77 8.29E-14 1117.1 9.8
6556-01F 78.53 0.0383 2.4 0.00594 77.07 97.98 7.95E-14 1104.3 8.8
6556-01G 79 0.0438 4.6 0.0032 78.7 99.26 3.96E-14 1122 15
6556-01H 79.9 0.0412 11.1 0.0057 79.6 98.94 2.72E-14 1132 21
6556-01I 79.8 0.0385 11.9 0.01324 77.4 96.19 6.37E-14 1108 13
6556-01J 107.7 0.0543 117 0.1178 88.6 75.6 2.85E-14 1224 35
6556-02A 115.3 0.071 65 0.227 54.9 45.5 8.21E-15 850 87
6556-02B 172.5 0.082 19.5 0.3295 76.6 43.84 6.10E-14 1100 27
6556-02C 90.6 0.0298 2.1 0.0725 69.2 76.3 5.16E-14 1018 17
6556-02D 72.3 0.0223 5.7 0.0184 67.5 93 2.29E-14 999 25
6556-02E 70.7 0.0141 -5 0.0153 65.5 93 1.19E-14 976 36
6556-02F 67.8 0.014 0 0.0154 63.2 93.2 6.32E-15 949 59
6556-02G 82.1 0.0254 35 0.0366 75.7 90 9.54E-15 1090 55
6556-02H 84.2 0.0302 38.4 0.0453 75.6 87.4 2.66E-14 1089 24
6556-02I 111.1 0.0418 144 0.162 81.9 66.4 1.59E-14 1155 55
6556-02J 140.6 0.0603 195 0.264 88.8 54.6 2.27E-14 1225 59
40
Figura 10. Diagramas
40Ar/
39Ar (mineral) da amostra LG-70 da Suíte Intrusiva Huanchaca. A)
Plagioclásio e B) Anfibólio (hornblenda).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os sills máficos, objeto deste estudo, ocorrem no Terreno Paraguá, em sua porção não afetada pelo
retrabalhamento crustal provocado pela Orogenia Sunsás, e encontram-se alojados segundo a orientação
dos estratos da Formação Vale da Promissão, Grupo Aguapeí.
41
Macroscopicamente, as rochas dos sills são maciças de granulação fina a média variando de
melanocráticas a ultramáficas e cor cinza-esverdeado a preta. Apresentam texturas equi a inequigranulares
e composição, predominantemente, gabróica. Opticamente, são rochas holocristalinas, de granulação fina
a média, textura sub-ofítica a ofítica e, mais raramente, intergranular. São constituídas, essencialmente,
por minerais máficos e plagioclásio, classificando-se como Hornblenda Diabásio e Olivina Diabásio. O
primeiro de ocorrência mais expressiva é constituído, essencialmente, por plagioclásio, piroxênios,
anfibólios, opacos, feldspato alcalino e quartzo com intercrescimento gráfico, tendo como minerais
secundários e acessórios: biotita, clorita, talco, titanita, apatita, argilo-minerais, epidoto/clinozoizita,
sericita e calcita. O Olivina Diabásio difere do Hornblenda Diabásio pela presença de olivina e ausência
de quartzo e feldspato alcalino. Semelhantemente, os dois litotipos são constituídos pelos mesmos
piroxênios e plagioclásio, e a paragênese de alteração e acessória é praticamente igual, ressaltando-se
apenas a maior quantidade de serpentina no Olivina Diabásio.
Geoquimicamente, as rochas classificam-se como basaltos andesíticos, de natureza subalcalina do tipo
toleítica, com destacado enriquecimento em FeOt em relação aos álcalis, gerado em ambiente geotectônico
correspondente à intraplaca continental. O índice de diferenciação mg# varia entre 0,25 e 0,38 sugerindo
magma basáltico evoluído. No diagrama multi-elementar observam-se anomalias positivas de Ba e La, e
negativas de K, Sr, Ti e Nb, esta última característica de ambiente continental. Os padrões de distribuição
dos elementos terras raras apresentam-se fortemente fracionados e enriquecidos em ETR leves em relação
aos ETR pesados e uma discreta anomalia de Eu. As pequenas diferenças das razões Zr versus elementos
incompatíveis observadas sugerem que os sills da Suíte Intrusiva Huanchaca resultam de fonte mantélica
homogênea, enriquecida em LILE e empobrecida em Nb e Ti.
Os dados isotópicos Ar-Ar indicaram idades plateaus (platôs)de 1040 ± 40 Ma para o anfibólio e 948 ±
5 Ma para o plagioclásio, sugerindo que a colocação e resfriamento do magma básico ocorreu no limiar
entre os Periodos Esteniano e Toniano. Por se tratar de rochas indeformadas, essas idades, certamente,
estão bem próximas à idade de cristalização das rochas da Suíte Intrusiva Huanchaca. Devido as diferentes
temperaturas de cristalização dos minerais datados foi possível estimar a taxa de resfriamento desse
magma em torno de 2,7°C/Ma. Considerando que os sills máficos estudados apresentam idades de
resfriamento dentro do intervalo obtido para os diques das Suítes Intrusivas Rancho de Prata (MT) e Rio
Perdido (MS) e Huanchaca (BO) e os sills máficos da Suíte Intrusiva Salto do Céu (MT), sugerimos que o
magmatismo investigado constitui parte de uma Large Igneous Province (LIP) toniana evoluída na porção
sul-sudoeste do Craton Amazônico.
Do ponto vista geotectônico, os sills máficos Huanchaca e demais unidades correlatas retratam um
evento magmático fissural relacionado aos processos de extensão e ruptura crustal que precederam a
dispersão do Supercontinente Rodínia.
Considerando o trabalho de revisão de Li et al. (2008) que afirma que o Supercontinente Rodínia
apresenta episódios de plumas mantélicas que resultaram em amplos rifteamentos e rupturas continentais
entre 825 Ma e 740 Ma, os dados Ar-Ar obtidos para os sills indicam que neste setor do Craton
Amazônico, o processo de extensão e ruptura do Rodínia não foi sincrônico e teve início logo após a sua
aglutinação.
Agradecimentos
Os autores agradecem à FAPEMAT (Proc. nº448287/2009), CAPES (PROCAD nº096/2007), FAPESP
(Proc. nº07/59531-4) e ao GEOCIAM (Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Geociências da
Amazônia) pelo suporte financeiro ao desenvolvimento da pesquisa. A primeira autora agradece a CAPES
pela concessão de bolsa de mestrado e ao Programa de Pós-Graduação em Geociências/UFMT.
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CAPÍTULO 4
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