Hiperglicemia e morbimortalidade nos recém-nascidos prematuros
extremos
Internos:
Alexandra Barreto
Ruiter Arantes
Gustavo Gomes
Coordenação: Paulo R. Margotto
www.paulomargotto.com.br
Internato de Pediatria - Hospital Regional da Asa SulBrasília-DF
Escola Superior de Ciências da Saúde(ESCS)/SES/DF
Introdução Hiperglicemia em prematuros:
Alta morbidade: Retinopatia e hemorragia ventricular; Enterocolite necrosante: mortalidade tardia; Estudos esparsos.
Adultos: Alta evidência entre níveis hiperglicêmicos e morbimortalidade; Van den Barghe: controle rígido com infusão contínua de
insulina com níveis menores ou igual a 110 mg/dL reduziu a mortalidade em pacientes que necessitam atendimentos intensivos por mais de 5 dias- Sespe e falência de múltiplos órgãos;
Outro estudo de coorte: Hiperglicemia moderada em lesões traumáticas (135mg/dL) e cirurgia cardíaca (>150mg/dL) resulta em desfavorável evolução.
Introdução Em recém-nascidos de baixo peso e muito baixo peso:
Há grande variedade de consensos considerando os níveis de definição de hiperglicemia e a necessidade de tratamento com insulina;
Definições incluem a glicemia, mas não se limita a ela: >/= 0,5% glicosúria,>9,9mmol/l(178mg/dl),
>8mmol/l(144mg/dl), uma única medida glicose >13,3mmol ou repetidas >8,8mmol por 4 horas, duas consecutivas >12mmol por 4 horas.
Incidência de hiperglicemia muda baseada na definição usada com variação de 40 a 80%;
Introdução Apesar da infusão contínua de insulina ser utilizada de forma
segura, os níveis de glicose ideais ainda não foram determinados;
Necessita-se de maiores informações de estudos observacionais sobre a relação entre hiperglicemia e a evolução em recém-nascidos de muito baixo peso.
Presente estudo tem o objetivo de avaliar a associação entre hiperglicemia e mortalidade e infecções tardias em recém nascidos de muito baixo peso.
Estudo randomizado.
Materiais e métodos Estudo randomizado:
213 recém nascidos; Estudo original: Administração fluidos rotineira e
água destilada; Estudo observacional retrospectivo; Memorial Hermann Children´s Hospital Lyndon Baines Johnson Gneral Hospita in
Houston.
Materiais e métodos Critérios de inclusão:
< 31 semanas pelo método de Ballard modificado; Peso de nascimento>400g e </= 1000g; Inseridos antes de 36 h de vida;
Critérios de exclusão: Asfixia severa( pH<7,1 ou lesão de órgão terminal); Anomalias congênitas maiores; Hipotensão tratada com dobutamina e dopamina com
mais de 15ug/kg/min; Morte antecipada (pH <6,8 ou hipoxia com bradicardia
>2h. Prognóstico pobre.
Materiais e métodos Março de 2000 a novembro de 2003; Não incluídas 180 crianças :
Recusa familiar(54%); Falta de Consentimento(33%); Outros (12%).
Excluídas(12): 12 não sobreviveram mais de 3 dias; 1 não havia dados disponíveis.
Materiais e métodos Institucional Review Board at University of
Texas Health Science Center;
Termo de consentimento obtido antes do estudo;
Materiais e métodos Variáveis:
Nível de glicose matinal após 3 e 7 dias de vida; Objetivo de evitar confundimento; Foram dosados eletrólitos e glicemia diariamente
no mesmo horário; Glicemia :
Normoglicemia: <120mg/dL Hiperglicemia moderada: 120 a 179mg/dL Hiperglicemia severa:>/=180mg/dL
Materiais e métodos Variáveis:
Idade gestacional (Ballard modificado) Raça Peso ao nascer Uso de corticóide Apgar nos 1° e 5 min. Desenvolvimento de infecção sistêmica (cultura positiva
após 3 e 7 dias de vida tratada por mais de 3 dias de antibiótico
Enterocolite necrosante Tempo de internação
Materiais e métodos Evolução primária:
Mortalidade e infecção tardia com 3 dias e vida e uma semana de vida;
Evolução secundária: Incidência de hipoglicemia Desenvolvimento de enterocolite necrosante Duração de ventilação mecânica Tempo de internação
Materiais e métodos Estatísticas descritivas Associação entre fatores de risco, incluindo hiperglicemia, e
mortalidade, infecção provada com cultura e tempo de internação.
Evolução primária: x2 ou Fisherm para variáveis independentes;
Mann-Whitney U test variáveis independentes contínuas. Regressão linear: tempo de ventilação mecânica e tempo de
internação P <0,25 foram incluídos na análise; Nível de glicose: variável independente
RESULTADOS
CARACTERÍSTICAS DOS NEONATOS
Resultados Dados demográficos:
96% (193) dos RN tiveram pelo menos duas glicemias matinais aferidas até 3° dia de vida;
04% (8) RN tiveram apenas uma medida; Valor médio da glicemia (3 dias): 105mg/dl;
Normoglicemia: 65% Hiperglicemia moderada: 28% Hiperglicemia severa: 7%
Resultados Dados demográficos:
Valor médio da glicemia (1 semana): 113mg/dl; Normoglicemia: 61% Hiperglicemia moderada: 35% Hiperglicemia Severa: 4%
Glicemia >180mg/dl : 38% Hipoglicemia: 5%
NÍVEIS GLICÊMICOS
?
Resultados Dados demográficos (Dividindo em 2 grupos):
Três dias:
- Grupo controle – Fluido de rotina: 104mg/dl
- Grupo recebendo água destilada: 106mg/dl
- Diferença não foi significativa (p=0,24)
Primeira semana:
- Grupo controle – Fluido de rotina: 118mg/dl
- Grupo recebendo água destilada: 108mg/dl
- Diferença foi significativa (p=0,03)
Resultados Evolução primária:
50% (100/201) dos neonatos morreram ou tiveram infecção após 3 dias de vida;
Houve grande relação entre evolução desfavorável e hiperglicemia severa quando comparado com níveis normoglicêmicos;
Não houve significância entre hiperglicemia moderada e a evolução;
Sexo masculino, corticóide, raça afro-americana e uso de água destilada: Não foram significativos;
COMBINAÇÃO ENTRE MORTALIDADE E INFECÇÃO TARDIA COMPROVADA POR CULTURA
Resultados Evolução primária (Cont.):
198 RN sobreviveram por mais de uma semana 95 (48%) morreram ou tiveram infecção subseqüente;
Mortalidade geral: 20% (40/201); Hiperglicemia severa nos 3 primeiros dias de vida
foi associado a óbito; Não houve a mesma relação com níveis
moderados; Idade e peso também se associaram a maior
mortalidade;
FATORES DE RISCO PARA MORTALIDADE
Resultados Evolução primária (Cont.):
Do total de 198 RN sobreviveram por mais de uma semana, 37 (19%) morreram posteriormente;
76 RN tiveram cultura positiva em 72hs; 74 RN desenvolveram infecção grave após 7 dias; Níveis de glicose em 3 ou 7 dias não se
relacionaram com infecção (Sepse); Raça Afro-americana e idade tiveram boa relação
como fatores de risco para não desenvolvimento de infecção (“Proteção”).
FATORES DE RISCO PARA SEPSE
:Enterocolite Necrosante 18 RN que sobreviveram uma semana
desenvolveram grau II e III de E. Necrosante; Os níveis glicêmicos maiores que 180mg/dl foram
mais significativos que os menores que 120mg/dl quando relacionados ao desenvolvimento de E. Necrosante (OR:7,40 e IC95%:1,52 a 36,1);
Resultados Evolução secundária (Cont.):
RNs que desenvolveram E. Necrosante com hiperglicemia persistente na primeira semana tiveram níveis elevados de mortalidade (OR:13,1 e IC95%:1,2 a 143);
Não houve correlação entre níveis de glicose e números de dias em ventilação mecânica ou mesmo dias de internação.
Discussão O estudo demonstrou a relação entre
níveis elevados de glicose nos três primeiros dias de vida e um pior prognóstico entre neonatos de baixo peso;
Níveis precoces e persistentes de glicemia elevados esteve associado a maior mortalidade apesar do IC amplo, conforme demonstra outros estudos em crianças e adultos.
Discussão Adultos: Schetz et al (UTI) também relaciona
hiperglicemia com pior prognóstico; Crianças: Faustino et al (932 pcts.),
Srinivasan et al e outros autores também relacionaram níveis elevados, bem como período de glicemia persistentemente altos a uma maior mortalidade (152 pcts.em UTI);
Discussão Níveis moderados de glicose não alteraram a
mortalidade; Entretanto, o pequeno número de RN neste grupo
pode ter reduzido o poder do estudo em detectar a diferença;
Embora o resultado deste estudo não tenha demonstrado associação entre hiperglicemia precoce ou persistente e infecção comprovada por cultura, um controle rigoroso da glicemia tem sido postulado como fator “protetor” de infecções.
Discussão A hiperglicemia tem sido relacionada (animais e
humanos) com alterações da resposta imune (citocinas pró ou anti-inflamatórias, diminuição dos neutrófilos e da resposta celular imuno-mediada).
O tamanho da amostra pode ter sido a causa da não demonstração destes resultados;
A média do peso e idade dos RNs que desenvolveram E. Necrozante foi de 1310g e 29 semanas, sendo que 75% dos RN com baixo peso que posteriormente desenvolveram Enterocolite necrosante. tiveram glicemia superior a 144mg/dl durante a internação.
Discussão O estudo foi limitado; O dados foram originalmente obtidos de um estudo
randomizado (Água destilada e fluidos) e apesar disto não houve efeito sobre as variáveis analisadas;
Vantagem: Rigor na coleta e planejamento dos dados; Devido à natureza retrospectiva do estudo não foi
possivel ajustar os dados de confundimento tais como NPT, administração de insulina e glicose.
Discussão Entretanto os resultados estão em acordo com
outros estudos da literatura;
CONCLUSÃO:
- Hiperglicemia: Pior prognóstico em RNs de baixo peso;
- Estudos específicos que relacionam hiperglicemia e seus efeitos são necessários (Em especial a hiperglicemia moderada).
Editorial:Análise multivariada da hiperglicemia em crianças com extremo baixo peso ao
nascimento(Multivariate analysis of hyperglycemia in
extremely low birthweight infants)
LM Soghier1 and LP Brion2Journal of Perinatology 2006; 26: 723-725
Children’s Hospital of Philadelphia, Department of Pediatrics, Philadelphia, PA, USA and Children’s Hospital at Montefiore, Department of Pediatrics, Bronx, NY, USA
E-mail: [email protected]
EDITORIAL Os RN de extremo baixo peso (RNEBP)
compõem um grande grupo de pacientes de UTI neonatais.
Estes possuem intolerância à glicose, atribuída ao inadequado processamento da pro-insulina pelo pâncreas, e pela sensibilidade diminuída do fígado pela insulina, o que leva a um aumento da produção de glicose, mesmo na presença de hiperglicemia.
EDITORIAL A relação entre hiperglicemia, morbidade
(ex: hemorragia intraventricular, que pode ser mediada por mudanças da osmolaridade) e mortalidade não está claramente definida.
Nesta edição, Kao et al. e Blanco et al. descrevem uma análise multivariada em centro-único de uma grande amostra de RNEBP.
EDITORIAL Não há nenhum consenso sobre a
definição exata de hiperglicemia neonatal. Vários autores usaram definições
estatísticas, ex, glicemia > 126 mg/dl. Hey usou a associação entre hiperglicemia, diurese osmótica e glicosúria. Pela falta de consenso, há uma grande dificuldade de comparação entre diferentes estudos.
EDITORIAL A Hiperglicemia no período neonatal pode resultar de
entrada alta de glicose exógena, estresse (sepse, enterocolite necrosante, pós-operatório e eventos intra-cerebrais) ou medicamentosa (altas doses de esteróides e teofilina).
Em estudo de caso-controle envolvendo 47 RN de extremo baixo peso (RNEBP) mostrou uma associação entre hiperglicemia e severa retinopatia da prematuridade (RP).
Ertl et al. Encontrou uma significativa relação entre hiperglicemia e RP em 201 RNEBP em análise retrospectiva, mas não houve significância estatística em 63 pacientes.
EDITORIAL Em adultos e crianças, hiperglicemia é um
dos fatores de riscos de mortalidades para pacientes com várias condições médicas ou cirúrgicas.
Em 2 grandes estudos randomizados, Van Den Berghe et al. mostrou que, com o uso contínuo de insulina, manter níveis glicêmicos abaixo de 110 mg/dl diminui a morbidade em relação a níveis abaixo de 215 mg/dl.
EDITORIAL Ambos estudos nesta edição do Journal of Perinatology acharam
uma forte associação entre hiperglicemia e baixa idade gestacional, ao passo que a associação entre hiperglicemia e baixo peso ao nascimento foi menos forte ou sem significância estatística.
Kao et al. acharam uma associação significativa entre mortalidade ou infecção com cultura positiva (odds ratio (OR) 5.07, 95% dei intervalo de confiança (IC) 1.06 a 24.3) e hiperglicemia severa precoce (nos 3 primeiros dias, com glicemia de jejum maior ou igual a 180 mg/dl). Eles também acharam uma associação entre hiperglicemia (precoce, severa e persistente) com enterocolite necrosante estágio II/III (OR 9,49, 95% de IC 1,52 a 59,3) depois de ajustar para idade e sexo masculino, e uma associação de mortalidade com hiperglicemia severa precoce (OR 15,7, 95% IC 3,74 a 65,9) ou persistente (OR 30,4, 95% IC 3,37 a 274).
EDITORIAL Kao et al. não acharam nenhuma associação significativa
entre hiperglicemia e o número total de dias de ventilação mecânica.
Blanco et al. mostraram uma inversa associação entre hiperglicemia e corioamnionite (OR 0,10, 95% IC 0,01 – 0,64), depois de ajustar para idade gestational, peso de nascimento, esteróides pós-natais e sepse. Também acharam uma associação entre hiperglicemia e RP (OR 4,6, 95% 1.1–8.9 de IC). Não havia nenhuma associação entre hiperglicemia e peso de nascimento, sepse, morte, internação prolongada, DBP, hemorragia intraventricular nem uso pós-nascimento de esteróide.
EDITORIAL Como estes dois estudos usaram
populações diferentes, definições diferentes de hiperglicemia, variáveis diferentes e estratégias diferentes , esperar-se que cheguem a conclusões diferentes.
O número da amostra foi insuficiente para detectar pequenas diferenças entre variáveis específicas.
EDITORIAL A natureza de retrospectiva de ambos estudos só
permitiu os autores testarem associações. Estes estudos levantam hipóteses adicionais, mas não demonstram causalidade.
Kao et al. analisaram os resultados de mortalidade e infecção baseado no grau de hiperglicemia e sua duração em RN de extremo baixo peso.
Blanco et al. analisaram variáveis que podiam ser causa da hiperglicemia separadamente dos que poderiam ser secundários à hiperglicemia.
EDITORIAL
Se a associação de hiperglicemia com mortalidade ou sepse e se a associação de hiperglicemia com RP é causal, ela deve ser avaliada em um ensaio randomizado.
EDITORIAL Futuras pesquisas podem embasar-se
nestes estudos para desenvolver um estudo observacional ou um randomizado multicêntrico, o qual deveria avaliar como o tratamento da hiperglicemia intervem a curto prazo em RN-PM, assim como no crescimento a longo prazo, RP e no neurodesenvolvimento.
EDITORIAL Até o momento, apenas um único trial
randomizado avaliou os efeitos da terapia de insulina em hiperglicemia neonatal. Neste estudo, RNEBP com hiperglicemia (foi definido como uma única glicemia >240 mg/dl ou glicemias repedidas em menos de 4h >160 mg/dl) foram selecionados pelo uso de insulina ou dieta com restrição de glicose.
EDITORIAL
Os 12 pacientes que usaram insulina receberam um aporte calórico superior aos 11 pacientes da dieta (<60 kcal/kg/dia por 8.6±1.3 dias, comparado ao controle com 5.5±0.6 dias).
EDITORIAL Vários estudos nutricionais mostraram o benefício de
nutrição pós-natal precoce, incluindo o acréscimo de glicose de acordo com a necessidade do RN.
A infusão de insulina foi usada com segurança, permitindo crianças hiperglicêmicas alcançarem aporte calórico adequado semelhante a de RNs euglicêmicos.
Portanto, não recomenda-se o uso padrão de glicose na dose de 4 to 7 mg/kg/min.
EDITORIAL
A literatura atual sugere um novo ensaio randomizado avaliando o uso de insulina em prematuros hiperglicêmicos, comparando com os estudos de Kao et al e Blanco et al.
Referências
EDITORIAL:referências
Consultem também:
Hiperglicemia no recém-nascido de muito muito baixo pesoAutor(es): Meetze W et al. Apresentação: Ana Maria Cândido, Márcia Pimentel
“Triste não é mudar de idéia. Triste é não ter idéia para mudar.” (Francis Bacon)
OBRIGADO!!Ddo Gustavo
Ddo Ruiter
Dda Alexandra