HISTÓRIA DA ASTRONOMIA
NA ABORDAGEM DA FÍSICA ESCOLAR
Leticia Patricio Christopholi1
Luís Dário Sepulveda2
Resumo - Este estudo trata da Astronomia na Física Escolar e das novas linguagens na
abordagem do ensino dessa disciplina. Visa que seu uso torne-a mais aprazível e lúdica
em sala de aula. A pesquisa teve por objetivo a análise da evolução dos conceitos
científicos da astronomia no ensino da Física Escolar, a partir do levantamento
bibliográfico de artigos e livros, a fim de instituir novas práticas pedagógicas na formação
dos professores. Tendo como base a Aprendizagem Significativa (MOREIRA, 1999), da
reflexão diante da informação, em tensão a aprendizagem. Fora escolhida uma
bibliografia principal, esta se trata de “O telescópio na magia natural de Giambattista
Della Porta” escrito por Fumikazu Saito (2011), que permitiu a determinação do período
a ser analisado, sendo este do século XVI ao XVII, e por consequência os artigos e
periódicos necessários para complementação da pesquisa. As leituras realizadas
possibilitaram a identificação das contribuições e argumentações que os instrumentos
referentes à História da Ciência nos oferece para a prática docente. De forma geral, é
claramente perceptível a contribuição do estudo de História da ciência, para a prática
docente. A partir do momento em que nós educadores passamos a interpretar a Física
além da dimensão matemática, somos capazes de influenciar e convencer nossos
educandos que tudo o que é apresentado de forma fragmentada em sala de aula, está
interligado e nos permite compreender um pouco melhor os fenômenos do nosso mundo.
Palavras-chave: Ensino de Física, Física Escolar, História da Ciência, Astronomia,
Aprendizagem significativa.
Introdução - Este estudo trata da Astronomia3 na Física Escolar e das novas
linguagens na abordagem do ensino dessa disciplina, visando que seu uso torne-a mais
aprazível e lúdica em sala de aula.
1 Licencianda em Física – PUC-PR 2 Professor do Curso de Licenciatura em Física - PUC-PR 3 Astronomia é uma ciência natural que estuda corpos celestes e os fenômenos que se originam fora
da atmosfera da Terra.
A Física Escolar se propõe a estudar os fenômenos naturais e tecnológicos de forma
integrada com as outras áreas do conhecimento que compõem a Educação Básica4. Nesse
estudo, a abordagem privilegia a História da Ciência, o uso de uma linguagem específica
e a investigação científica.
O papel de mediador exercido pelos educadores é de caráter desafiador, não se trata
somente de lançar, aos estudantes informações de forma aleatória, pois a intenção não é
uma “aprendizagem mecânica”. Ela é caracterizada por ser superficial resultante do
simples ato de memorizar dados, sob influência de uma motivação externa como, por
exemplo, a nota.
Observa-se que no ensino da Física Escolar essa aprendizagem mecânica está bem
presente, muitas vezes devido à matematização excessiva da mesma. Como resultado,
temos estudantes que entendem, ou não, a Física como apenas aplicação de fórmulas e
sentem-se obrigados a decorá-las para o vestibular.
Tomando como base a teoria da Aprendizagem Significativa de David Ausubel
(1918-2008), trataremos do uso do estudo da história da Astronomia como organizador
prévio para facilitar o processo de ensino-aprendizagem, pois servirá como ponte entre o
que o estudante já sabe e, o que ele deverá aprender (MOREIRA, 1999).
Tendo como proposta a abordagem da história da Astronomia na Educação Básica,
iniciou-se a pesquisa a partir da escolha de um dos autores contribuintes, no
desbravamento dos estudos referentes a astronomia. Isto nos permite focar em apenas um
período, já que não seria viável realizar a análise de toda a história da astronomia.
A bibliografia escolhida foi de Della Porta (1535-1615) que encontramos na obra:
“O telescópio na magia natural de Giambattista Della Porta” escrito por Fumikazu Saito
(2011). Desta forma decidimos que o período a ser estudado seria entre o século XVI e
XVII.
O intuito deste trabalho é mostrar como a História da Ciência deveria ser
implementada no cotidiano das salas da aulas, mediante o estudo da Astronomia. A
4 Física Escolar é a física da escola, para a escola e ensinada na escola. Diferentemente da Ciência Física
cujo objeto é discutido na Universidade.
historiografia da ciência torna-se subliminar no tecido da investigação por novas
abordagens de ensino. Portanto, espera-se que a procura por novas metodologias
pedagógicas auxilie o professor em sua prática doscente.
Objetivos - O trabalho do qual trata este projeto se dará na análise da evolução dos
conceitos científicos da Astronomia no ensino da Física Escolar. A partir do levantamento
bibliográfico de artigos e livros, a fim de instituir novas práticas pedagógicas na formação
dos futuros-professores. Tendo como base a aprendizagem significativa, da reflexão
diante da informação, em tensão a aprendizagem, e da história da ciência.
Materiais e Método - Com o objetivo de realizar a análise da evolução dos
conceitos científicos da astronomia, fora escolhida uma bibliografia principal referente a
uma personalidade de importância no desenvolvimento da mesma. A bibliografia se trata
de “O telescópio na magia natural de Giambattista Della Porta”, de Fumikazu Saito.
Após leitura e fichamento da obra, iniciamos a pesquisa de material complementar
sobre a biografia de Della Porta o que nos permitiu estabelecer o período histórico a ser
estudado, sendo este do início do século XVI ao XVII. A partir de então se iniciou o
levantamento dos artigos e periódicos complementares referentes a tal período para
compreensão do mesmo.
Também foram realizadas leituras de materiais referentes à educação, a fim de
facilitar a percepção de como as contribuições e argumentos identificados no material
analisado, poderia contribuir não somente para a formação do profissional da educação,
mas também no processo de ensino-aprendizagem que é de responsabilidade do mesmo.
Resultados - Em “O telescópio na magia natural de Giambattista della Porta” o
autor começa nos apresentando a obra “Magia Naturalis”, do napolitano Giambattista
della Porta, introduzindo qual seria a intenção da construção de tal obra. Esta tratava da
busca por revelar os vários segredos da natureza, de forma que seria possível encontrar
relatos de várias áreas como, por exemplo, cosmética, alquimia, óptica entre outras.
É interessante ressaltar que o autor, ao relatar que a obra não se trata apenas de
uma espécie de lista de curiosidades e que Della Porta além de ter dividido as ciências em
“Naturais e Matemáticas” e estipulado uma ordem, diz que há em muitos capítulos do
livro I princípios que um mago deveria seguir. Saito relata que Della Porta acreditava que
“...a magia natural era a mais alta expressão das ciências e afigurava-se como
conhecimento perfeito.” (p.26) e assim se propunha a imitá-la para alcançar o poder sobre
a mesma.
No decorrer do livro Saito apresenta muitas citações retiradas das obras de Della
Porta, tanto do relato das experiências quanto das conclusões adquiridas e suas
explicações, incluindo as ilustrações correspondentes. No segundo capítulo Saito dedica
uma atenção especial aos estudos da Óptica de Della Porta. Intitulados no original como
“De Refractione”, apresenta proposições sobre a Óptica que influenciaram na explicação
do funcionamento do telescópio que é o grande protagonista.
Por fim, no terceiro capítulo nos conta como se deu a disputa quanto à patente da
invenção do telescópio em que Della Porta parece passar a reclamar sua autoria após a
publicação de “Sidereus nuncius”, de Galileu, em 1610. Porém ele observa que Della
Porta reclama a prioridade da “invenção da combinação de lentes” e não do instrumento
em si, até porque o termo telescópio ainda não estava bem estabelecido nesta época.
Em 2 de junho de 1612 sentindo-se capaz de explicar o funcionamento do
telescópio decide escrever sobre o assunto, e solicita a um amigo que anuncie sua decisão.
O tratado conhecido por “De telescopio”, que estava perdido, fora encontrado em 1940 e
transcrito entre os anos de 1945 e 1946. Saito apresenta resumidamente as explicações
contidas nesse tratado e termina analisando o que representava o telescópio para magia
natural e para filosofia natural.
Para Della Porta, o próprio telescópio era um fenômeno das lentes, tanto que se
houvesse alguma ilusão ótica ela não deveria ser descartada e considerada como um erro,
mas sim estudada. Enquanto que para a filosofia natural era considerada uma invenção
mecânica para remediar as debilidades visuais, para magia a natural o telescópio era visto
como a possibilidade de aumentar nossas capacidades.
Percebe-se que quando se fala na invenção do Telescópio5, geralmente o primeiro
nome sugerido em um grupo é Galileu Galilei (1564-1642), porém a história deste
instrumento que fora tão importante para a Astronomia não se resume apenas a um nome.
A invenção do instrumento telescópio deu-se aos poucos, e o interessante é ter
ocorrido de maneira tão espontânea. A partir da invenção da imprensa e a distribuição de
livros, ocorreu aumento do interesse literário e estímulo pela teoria heliocêntrica de
Nicolau Copérnico (1473-1543). O que resultou em uma maior atenção voltada a
“filosofia natural”6 e ao estudo do que chamamos atualmente de Óptica.
Com a introdução dos óculos, no século XIII, na Itália, que viriam no século XVI
a ser supervalorizados, o estudo da óptica vem à tona com o interesse despertado pela
tradução de escritos mais antigos sobre óptica, como as obras de Al-Haytan e Witelo
(SAITO, 2011).
Um dos estudiosos que publicaram escritos no século XVI sobre óptica fora
Giambattista Della Porta. Porém ele, que se considerava um “mago da magia natural”,
não imaginava que o seu estudo sobre os fenômenos de combinação de lentes serviria
para explicação de um instrumento que se tornaria, anos mais tarde, tão importante para
Astronomia.
Em meados de 1609, Galileu(1564-1642) responsável por empregar o telescópio
cientificamente, publica “Mensageiro Sideral”. A obra relata observações irregularidades
no solo lunar e, que a Via-Láctea era composta por estrelas, Júpiter era acompanhado por
luas entre outras observações.
Essas conclusões foram extremamente importantes para as mudanças que
ocorreram na astronomia, pois iam de apoio com a teoria sugerida por Copérnico, que
5 Hoje,é um instrumento óptico utilizado na obtenção de imagens ampliadas de objetos situados a grandes
distâncias e que, na forma mais simples, é constituído por um tubo com uma objetiva em uma das
extremidades e uma ocular na outra. 6 A “filosofia natural” é a parte da filosofia que trata o conhecimento das primeiras causas e dos princípios
do mundo material. Ela é considerada a precursora da “ciência natural”, tal como a física.
causou tanta polêmica por ir contra o pensamento aristotélico tão aceito até aquele
momento.
Refração para Giambattista Della Porta - O estudo da refração no século XVI
não era uma novidade, já que estudiosos mais antigos como Cláudio Ptolomeu (87-150),
já tinham conhecimento e haviam sugerido explicações para tal fenômeno. Os trabalhos
que teriam exercido mais influência sobre a óptica de Della Porta seriam os de Alhazen
(965-1040) e Witelo (1280-1314). Eles se tornaram referencia na óptica do século XIII
ao XVI, porém Della Porta não se restringiu a estes dois, e em seu trabalho considerou
estudos feitos por antigos como Euclides ( 300 a.C) e também de seus contemporâneos.
Naquele momento histórico a óptica não sofria com a fragmentação atual, que
verificamos hoje na escola. Os fenômenos ópticos eram analisados não só do ponto de
vista matemático, mas também do medicinal e até mesmo espiritual.
Desta forma, Della Porta analisou as teorias existentes sobre o funcionamento do
órgão visual, refutando-as e identificando seus prós e contras. As principais vertentes
eram a recepcionista (em que o órgão receberia o raio de luz vindo do corpo), e a
emissionista (o órgão visual seria responsável por emitir algo homólogo a luz
proporcionando a visão) e Della Porta identificou algumas falhas em ambas as vertentes.
A teoria emissionista, por exemplo, não conseguia explicar como era possível
enxergarmos os astros que se encontram a uma grande distância, sem que os tais raios
corpóreos emitidos pelo órgão visual não se esgotassem. E quanto à recepcionista uma de
suas falhas seria para explicar a reflexão das imagens em espelhos. (SAITO, 2011)
Além dessas vertentes principais, analisou outras teorias, mescla das duas, como,
por exemplo, a teoria de “corradiação” de Platão (em que a visão ocorreria pelo encontro
do raio emitido pelo olho com o raio emitido pelo corpo quando iluminado). Desta
maneira, após analise das teorias de vários autores além dos citados, Della Porta teria
chegado a uma conclusão quanto à visão:
A forma da coisa visível tem a natureza material na própria coisa, mas tomada
pela luz, separa-se subitamente da matéria e sai por alguma razão imaterial
(spiritualis) e, quanto mais, vindo do objeto, se aproxima do olho, tanto mais a
partir da base mais larga se ajusta à própria pupila e olho, assim como os corpos
líquidos também se introduzem por si nos lugares. Donde, a partir das linhas
piramidais dos raios revela a figura a partir dele para o olho e atinge o cristalino
com o cone [...] (DELLA PORTA apud SAITO, 2011)
Percebe-se então a tendência recepcionista de Della Porta, que faz jus a influência
dos autores principiais, do cenário da época, como Alhazen e Witelo. O próprio Della
Porta estudou o funcionamento do órgão visual, a seguir na figura 1 o desenho do olho
encontrado em Magia Naturalis apresentado por Saito em seu livro.
Figura 1- Anatomia do órgão visual segundo Della Porta.
Fonte: SAITO, Fumikazu. O telescópio na magia natural de Giambattista dela Porta. EDUC/Livraria
da Física Editorial: FAPESP, 2011, p.114.
Segundo Saito a óptica sempre recebeu uma atenção especial de Della Porta, tanto
que dentre os livros de Magia Naturalis publicados posteriormente como tratados
específicos se encontra De Refractione, que apresenta uma análise geométrica da refração
e ainda enuncia seus princípios em sete definições. Estas são as duas primeiras definições:
I. A linha incidente é aquela pela qual o fulgor do luminoso (fulgor
luminosi) se esguicha ou o simulacro (simulachrum) flui através de um
[corpo] diáfano.
II. A linha refratada é aquela pela qual é lançado o raio ou a imagem
através de outro [corpo] diáfano de diferente transparência.
(DELLA PORTA apud SAITO, 2011)
A teoria que explicaria a refração para Della Porta é muito parecida com atual, a
não ser pela compreensão dos raios que nos proporcionariam a visão. Em suas
proposições temos fulgor luminoso como raio incidente emitido por uma fonte luminosa,
simulacro que se tratava do raio refratado.
Na figura 02, a seguir, temos A como fonte luminosa, sendo sobre AB o fulgor
luminoso e BC o fulgor refratado. E na figura 03, temos um objeto A imerso em um meio
menos transparente que o ar, (sobre AB) temos o simulacro do objeto e (sobre BC) o
simulacro refratado.
Figura 2 – Refração – Fonte Luminosa.
Fonte: SAITO, Fumikazu. O telescópio na magia natural de Giambattista dela Porta.
EDUC/Livraria da Física Editorial: FAPESP, 2011, p.79-80.
E na figura 03, temos um objeto A imerso em um meio menos transparente que
o ar, (sobre AB) temos o simulacro do objeto e (sobre BC) o simulacro refratado.
Figura 3 – Refração – Objeto imerso.
Fonte: SAITO, Fumikazu. O telescópio na magia natural de Giambattista dela Porta. EDUC/Livraria
da Física Editorial: FAPESP, 2011, p.79-80.
Nas imagens apresentadas por Saito, o fenômeno é descristo segundo Della Porta,
e demonstram que apesar da Lei de Snell7 não ter sido publicada até aquele momento,
haveria percepção quanto ao comportamento do raio referente à ordem de alternância de
passagem de um meio mais ou menos transparente para outro com tais características.8
Mediante as análises descritas anteriormente e análises distribuídas nos 9 capítulo
de “De Refractione” SAITO (2011), Della Porta queria mostrar ao leitor que a refração
além de fazer as coisas parecerem deslocadas do lugar, era responsável por causar
deformidade em relação a características como: tamanho, cor e movimento.
“De Refractione” e principalmente os estudos sobre associação de lentes
apresentados também em Magia Naturalis foram os que permitiram Della Porta reclamar
a invenção da composição base para o funcionamento do Telescópio.
Telescópio de Della Porta - Na epígrafe a seguir Della Porta reivindicava a
patente da invenção do óculo9 dentro tubo. Esta teria sido feita após a publicação da obra
Sidereus Nuncius de Galileu Galilei. Saito (2011) observa que a reclamação não se refere
7 Willebrord Snellius (1580-1626) foi astrônomo e matemático holandês, mais conhecido por sua lei da refração. 8 Há outras cinco definições referentes às questões geométricas, em que Della Porta enuncia na última e antiga “regra
do cateto”. Ela era utilizada para identificar o local da formação da imagem em sistemas ópticos.
9 Trata-se da associação de lentes.
diretamente à invenção do Telescópio, mas sim aos princípios de associação de lentes que
seria a base para a construção do mesmo.
[...] e eu me queixo que a invenção do óculo (occhiale) dentro
do tubo é uma invenção minha e Galileu, Lettor di Padua, o
ajustou com o qual encontrou 4 outros planetas ( pianeti) no
céu e milhares de estrelas fixas e, no círculo lácteo, outras
tantas ainda não vistas e grandes coisas no globo da lua, que
enchem o mundo de espanto [...]
(DELLA PORTA apud SAITO, 2011)
E de fato havia registros que justificassem essa reclamação, pois como nos é
apresentado por Saito (2011). A análise de combinação de lentes esta presente não só na
obra de Magia Naturalis, como em seu tratado de óptica De Refractione e apesar de não
fazer referência direta ao instrumento teria definido a base de seu funcionamento.
Então em 1612, Della Porta começa a escrever “De Telescopio”, porém devido à
idade avançada em 1615 vem a falecer e não chega a publicar o tratado. Os conjuntos de
165 potifólios referentes a este tratado estavam perdidos até 1940, e só começaram a ser
transcritos em 1945. Neste tratado além da descrição de montagem e funcionamento do
telescópio, se encontram os estudos de bolas de cristal, das lentes côncavas e convexas
assim como em “De Refractione”.
A questão referente à patente do telescópio é realmente muito complexa,
geralmente em pesquisas superficiais como as realizadas internet a atribuem a Galileu
Galilei, isso provavelmente se deve ao fato de através do aperfeiçoamento alcançado por
ele de tal instrumento, ter permitido realizar as observações apresentadas em “Sidereus
Nuncius”, tão importantes no salto de desenvolvimento da Astronomia que se encontrava
até àquele momento, estagnada à cerca de quatorze séculos. Abaixo encontra-se a figura
4 referente a associação de lentes para o funcionamento do telescópio.
Figura 4 - Associação de lentes para o telescópio de Della Porta.
Fonte: SAITO, Fumikazu. O telescópio na magia natural de Giambattista dela Porta. EDUC/Livraria
da Física Editorial: FAPESP, 2011, p.239.
Porém, além de Della Porta, outros antes mesmo da notícia das observações
astronômicas de Galileu com o telescópio tivessem repercussão, haviam declarado a
invenção do instrumento óptico precedente ao telescópio. Um destes fora Hans
Lippershey (1570-1619)10, os relatos em sua maioria sugerem uma descoberta acidental,
algumas afirmam ter sido fruto da brincadeira de duas crianças com duas lentes, outras
que ele como comerciante de óculos. Certo dia durante o trabalho, teria acidentalmente
feito a combinação das lentes e então percebido o fenômeno.
Astronomia - A astronomia é considerada uma das ciências mais antigas, a
observação do céu é algo intrínseco ao ser humano devido à sua óbvia influência em nossa
sobrevivência. Um dos exemplos mais claros seria a nossa alimentação:
Ainda na pré-história, o domínio da agricultura dependeu da compreensão do
ciclo das estações do ano, determinado pelo movimento aparente do Sol. Esse
tipo de conhecimento, indispensável na identificação do momento ideal para a
preparação da terra, o plantio ou a colheita, aparece cristalizado nos
monumentos de pedra de diversas culturas, de Stonehenge, na Gra-Bretanha, a
pedra Intihuatan em Machu Picchu, no Peru. (ITOKAZU apud PORTO, 2013)
10 Hans Lippershey (1570-1619),fabricante de lentes dos Países Baixos.
E sabe-se ainda que a observação e a interpretação não se detinham à apenas
utilidades práticas, mas também questões místicas ligadas, por exemplo, à previsão do
futuro. De forma geral não se tinha a separação entre astronomia e astrologia como hoje.
A separação teve início na idade média, provavelmente com Nicolas Oresme (1320-
1382). Ele teria identificava três tipos de astrologia: a astrologia matemática (ou
astronomia); a astrologia natural (física) e a astrologia espiritual.
O modelo cosmológico de Aristóteles e Ptolomeu prevaleceu durante quase
quatorze séculos. O pensamento medieval ocidental, de natureza cristã, adotou
sua estrutura, porém transformando o Universo de eterno em criado pela
Vontade Divina. (PORTO, PORTO & PORTO, 2013)
As contribuições de Della Porta foram significativas para o desenvolvimento da
Astronomia. Ela ficara por muitos anos estagnada na cosmologia dominante do
pensamento aristotélicos. Mas, sem dúvidas, as observações, os estudos e as medidas
celestes, mediante telescópios, iniciavam outro momento da história da Astronomia.
Discussão - Cada sociedade e cada cultura geram suas próprias formas de
aprendizagem, nosso cotidiano está marcado pela cultura da informação, ou vive-se na
sociedade de conhecimento, como sinaliza HARGREAVES (2004). Na qual, a mesma é
bombardeada a todo o momento com novidades. Além disso, com a “descentração”11 do
conhecimento que vem ocorrendo desde a renascença12, sendo submetida ao desafio de
se reconstruir e integrar constantemente.
Atualmente os educadores têm encontrado em sala de aula estudantes
desmotivados, realidade que se torna cada vez mais sólida, devido ao comodismo de
ambas as partes. E infelizmente, até o momento, o que professores tem utilizado como
agente motivador, na sua maioria, são as notas; que se tratando de uma motivação
11 Trata-se do processo de perda do papel e do lugar centralizado que o ser humano acreditava ter no
cosmos até o inicio da renascença, que constituía a certeza de possuir um saber verdadeiro. (POZO, 2002) 12 Fora a partir da renascença que as teorias que faziam o ser humano sentir ter um papel central no
cosmos, começam a ser questionadas e substituídas. Copernico, por exemplo, nos faz perder o centro do
universo com sua teoria Heliocentrica. (POZO, 2002)
extrínseca, caracterizada pela busca da aprovação, não promove uma aprendizagem
significativa, nos esclarece POZO (2009).
Para que ocorra a aprendizagem significativa é necessária uma motivação
intrínseca, que despertará o interesse científico nos estudantes. Desta forma, o ensino deve
tomar como ponto de partida os interesses dos estudantes, estabelecendo conexões com
seu mundo cotidiano, a fim de introduzí-los de maneira sutil na tarefa cientifica (POZO,
2009). A forma com que os educadores apresentam a ciência é muito importante, não há
como exigir interesse dos aprendizes apresentando conceitos e dados de forma
descontextualizada.
A história da ciência seria uma das ferramentas para esta contextualização.
“[...] a dimensão histórica assume nesse contexto uma importância muito
significativa, uma vez que as pessoas constroem historicamente o que
conhecem, e nesse sentido o conteúdo parece se tornar mais atrativo e mais
próximo do universo cognitivo do aluno e da aluna.” (PENITENTE, DE
CASTRO, 2010)
Para professora Alfonso-Golbfard (1994), essa análise diz respeito ao estudo de
conceitos, pessoas, instituições e movimentos, enriquecendo o conhecimento da ciência.
Não é somente o estudo de fatos históricos, com suas datas e nomes. Estudar ciência é
procurar absorver todos os fatores que chamam a atenção dos historiadores. Quando se
trabalha em determinada história, ela passa ser questionada, e suas controvérsias
analisadas.
A formação continuada em serviço é uma necessidade, e para tanto é preciso
que garantam jornadas com tempo para estudo, leitura e discussão entre
professores, dando condições para que possam ter acesso às informações mais
atualizadas na área de educação e de forma que os projetos educativos possam
ser elaborados e reelaborados pela equipe escola. Os professores devem ser
profissionais capazes de conhecer os estudantes, adequar o ensino à
aprendizagem, elaborando atividades que possibilitem a ação reflexiva do
aluno. É preciso criar uma cultura em todo o país, que favoreça e estimule o
acesso dos professores a atividades culturais, como exposição, cinemas,
espetáculos, congressos, como meio de intervenção social (PCNs,
KAPTANGO-A-SAMBA, 2005)
E para que os docentes sejam capazes de realizar uma abordagem histórica
pertinente, o estudo da mesma deve fazer parte da sua formação. Sabendo-se que durante
a sua formação acadêmica não usufrui do aprofundamento sobre história da ciência. É
clara a necessidade da formação continuada, apesar de muitas vezes não compreendida,
é defendida nos Parâmetros Curriculares Nacionais, conforme apresentado anteriormente.
Conclusão - A História da Astronomia geralmente é abordada no primeiro ano do
ensino médio, quando se trata da Física Escolar os próprios livros didáticos costumam
apresentar um breve histórico no início do capítulo que tem por objetivo discorrer sobre
Gravitação Universal incluindo as Leis de Kepler.
Desta forma, a abordagem da História da Astronomia no ensino da Física escolar
se torna muito restrita a assuntos que teoricamente se relacionam diretamente à mesma.
Porém a história da evolução dos conceitos astronômicos envolve outros estudiosos além
dos mitificados, e conceitos de áreas diversas da física como a óptica.
A leitura de bibliografias como “O telescópio na magia natural de Giambattista
Della Porta”, nos possibilita como futuros-professores uma capacitação histórica e
conceitual abrangente, permitindo a desmitificação de uma ciência que é percebida pelos
educandos na sua maioria, como imutável e desenvolvida por gênios.
A História da Ciência torna-se ferramenta de contextualização que dá significado,
facilita e possibilita o processo de ensino-aprendizagem de qualidade. No material
analisado fora possível identificar vários trechos que poderiam ser implementados em
discussões contextualizadoras durante o processo de ensino. O que será objeto de
investigação posteriormente.
Por exemplo, nas figuras 02 e 03 são apresentadas a interpretação de Della Porta
quanto a refração, estas poderiam ser utilizadas para comparação e compreensão da
evolução de tal conceito até os dias atuais. Saito (2011) discute também a aplicação do
instrumento que no caso do telescópio, por exemplo, não foi empregado desde o inicio na
Astronomia. Estes dentre outros argumentos identificados, podem facilmente ser
inseridos no discurso dos professores.
De forma geral, é claramente perceptível a contribuição do estudo de História da ciência,
para a prática docente. A partir do momento em que nós educadores passamos a
interpretar a Física além da dimensão matemática, somos capazes de influenciar e
convencer nossos educandos que tudo o que é apresentado de forma fragmentada em sala
de aula, está interligado e nos permiti compreender um pouco melhor os fenômenos do
nosso mundo.
Referências
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