I SIMPÓSIO NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS
DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES
– PELO FIM DOS CASTIGOS FISICOS E HUMILHANTES
DE 02 A 04 DE DEZEMBRO DE 2009
RIO DE JANEIRO *
PARTICIPAÇÃO INFANTIL
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SUMÁRIO
Participação Infantil na Rede Não Bata, Eduque!:
“O Direito das Crianças a terem Direitos Iguais .................................................................................. 03
1. O processo da participação infantil no I Simpósio Nacional de Direitos
Humanos de Crianças e Adolescentes – pelo fim dos castigos físicos e humilhantes ............... 07
2. Metodologia e desenvolvimento das oficinas de Participação Infantil
nas Regiões do Brasil .................................................................................................................. 08
GT 5: Participação Infantil no I Simpósio Nacional Direitos Humanos de
Crianças e Adolescentes ............................................................................................................ 13
3. Vez e Voz das crianças e adolescentes: como se sentem e o que pensam do
castigo físico e tratamento humilhante........................................................................................... 17
a) O que crianças e adolescentes pensam sobre o castigo físico e
o tratamento humilhante ........................................................................................................... 17
b) Como as crianças e adolescentes se sentem ao serem castigados ....................................... 20
c) Linguagens e linguagens ........................................................................................................... 22
d) Propostas ................................................................................................................................... 26
4, Impressões e resultados ................................................................................................................. 27
Papéis sociais constituídos cultural e historicamente: sobre a
autoridade dos pais/ mães/ cuidadores: ........................................................................................ 27
Espaços de vez e voz para as crianças: um universo ainda a ser explorado
como cidadania infantil ................................................................................................................... 29
Oficinas de PI nas regiões: espaços para expressões culturais das crianças e
Adolescentes .................................................................................................................................. 30
As mediações durante o GT de Participação Infantil no Simpósio Nacional DHCA ..................... 31
Videoconferência e blog: espaço de diálogo ................................................................................. 33
Repercussões do trabalho de PI e desafios para a continuidade das ações ................................ 33
Anexo I – Desenhos ............................................................................................................................ 35
Anexo II – Fotos .................................................................................................................................. 37
Anexo III – Lista de crianças e adolescentes que participam do GT 5 – Participação Infantil
Durante o I Simpósio Nacional de Direito Humanos de Crianças e Adolescentes
- pelo fim dos castigos físicos e humilhantes .................................................................... 41
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Participação Infantil na Rede Não Bata, Eduque! : “O Direito das Crianças a terem Direitos
Iguais” 1
Um dos principais eixos de ação da Rede Não Bata, Eduque (doravante “RNBE”) caracteriza-
se pelo enfoque prioritário ao direito à participação de crianças e adolescentes em todos os assuntos
que afetam suas vidas, permitindo, encorajando e estimulando-as a expressar suas opiniões, além de
sensibilizar os adultos a considerar e valorizá-las, como preconiza o artigo 12 da Convenção sobre os
Direitos da Criança, adotada pela Assembléia Geral das Nações Unidas em 1989 e ratificada pelo
Brasil em setembro de 1990.
Artigo 12
1. Os Estados Partes garantem à criança com capacidade de
discernimento o direito de exprimir livremente a sua opinião sobre
as questões que lhe respeitem, sendo devidamente tomadas em
consideração as opiniões da criança, de acordo com a sua idade e
maturidade.
Dentre os objetivos específicos da RNBE, o direito a participação infantil destaca-se nos
itens:
• Promover a participação de crianças e adolescentes nas ações da Rede;
• Influenciar a opinião pública por meio de campanhas permanentes e programas
direcionados para pais e cuidadores, com foco na educação não violenta infantil baseada
no diálogo, na compreensão e no afeto.
Sendo a causa da erradicação dos castigos físicos e tratamento humilhante de crianças e
adolescentes o principal objetivo e fonte de mobilização da RNBE, consideramos fundamental que
esteja incorporada nas suas diferentes ações, a reflexão, a discussão e a busca de alternativas para
que haja um fortalecimento e a consolidação da participação infantil nos diversos espaços de
convivência das crianças brasileiras.
Além da garantia do direito a expressar-se, ter sua voz e opiniões valorizadas nos âmbitos
familiar, escolar, comunitário, a participação infantil também pode ser uma importante ferramenta de
auto-proteção e promoção de crianças e adolescentes. Ao fazer o exercício do diálogo, da expressão,
da reflexão, da discussão sobre diferentes questões que as afetam, crianças e adolescentes vão
tecendo e vivenciando a autonomia e a co-responsabilidade em diversos momentos da vida em
sociedade. Este exercício também pode colaborar na concretude de um caminho para a cidadania e
de uma educação cidadã, que esperamos, possa repercutir em uma relação familiar e comunitária
mais horizontalizada, interativa e dialógica.
1 “O Direito das Crianças a terem Direitos Iguais” é uma consigna utilizada pela RNBE em diferentes ações, como o show de Natal organizado em 2009, coordenado pela porta voz da campanha Não Bata Eduque, Xuxa Meneghel, para enfatizar a importância da equidade de direitos entre todas as pessoas.
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Temos clareza que este processo não é simples, mas enfatizamos que é urgente pensar em
uma nova abordagem frente às concepções e padrões histórico-social e culturalmente constituídos,
onde o adulto possui um poder hierárquico diante da criança, o pai, mãe ou outro cuidador detém a
autoridade e poder de decisão frente às situações que afetam a vida da criança, sem que esta possa
expressar seu ponto de vista e/ou sua proposta, sua idéia sobre o fato.
Seria interessante, então, fazer uma reflexão a partir da indagação: a criança tem o direito
de ser tratada como igual? Tente não responder de imediato. Vamos juntos refletir e nos perguntar se
nossas práticas cotidianas estão estruturadas no princípio da equidade, do respeito e da
universalidade.
A Convenção sobre os Direitos da Criança, adotada pela Assembléia Geral das Nações
Unidas em 1989 e ratificada pelo Brasil em setembro de 1990, confere ao país o compromisso com a
execução das chamadas “medidas de aplicação geral”, especificadas no referido documento. A
ratificação pelo Brasil corresponde um avanço inegável para os meninos e meninas brasileiros, posto
que a aplicação prática da Convenção implique em uma mudança de percepção e concepção do
lugar ocupado pela criança na sociedade.
Além disso, traz à tona a importância, de fato, da criança e do adolescente exercerem seus
papéis enquanto sujeitos plenos de direitos em igualdade a todas as outras pessoas integrantes da
sociedade; respaldando o exercício desses atores frente ao plano político e, conseqüentemente,
provocando impacto na ação dos poderes públicos no que diz respeito à proteção, promoção e
defesa dos direitos humanos desses cidadãos em condição peculiar de desenvolvimento. É através
da garantia da participação infantil que as crianças e adolescentes são capazes de opinar, refletir e
propor caminhos e alternativas para questões que afetam suas vidas.
Este processo, porém, não é fácil de ser vivenciado em nossa sociedade, que culturalmente
estabelece um “contrato” de convivência onde a relação adultocêntrica e verticalizada predomina. Os
adultos possuem experiências que modelam seu ponto de vista e seu comportamento em relação às
crianças e, por isso, crianças e adultos precisam estar preparados (emocional e socialmente) para
entenderem, aceitarem e apoiarem completamente a participação infantil. Isto porque nossas
heranças culturais em relação ao papel das crianças e dos adultos em nossa sociedade podem ser
questionadas, quando se dá a elas a oportunidade efetiva de participar, conforme ressalta Goulart
(2009):
“A participação de meninos e meninas é um tema complexo e delicado,
embora, a princípio, assim não pareça. O reconhecimento dos direitos infantis, não
os de proteção e cuidado, mas de expressão e participação, baseado nos princípios
de liberdade e igualdade que contemplam o empoderamento das crianças como
seres autônomos e independentes, influem de forma determinante nas relações de
autoridade dos adultos que com elas convivem: pais, responsáveis, educadores.
Por vezes, parece inconciliável considerar a criança como sujeito pleno, sem
problematizar o uso do poder absoluto dos adultos sobre sua individualidade, e as
possíveis conseqüências que pode trazer às relações cotidianas entre adultos e
crianças.”
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Essa questão ganha complexidade e se torna ainda mais difícil quando as crianças não
dispõem de espaços para refletir sobre o assunto, para questionar as formas de participação na
família e na sociedade de forma geral e, mais, ter condição autônoma de verbalizar suas opiniões,
experenciando o conflito sobre o que pensam e acham ser satisfatório para suas vidas e o que os
adultos – pessoas naturalmente consideradas como referência por elas, queridas e em quem confiam
- apresentam como as melhores opções para que alcancem uma vida feliz, com proteção e
desenvolvimento pleno.
Importante também refletir de que forma os espaços de socialização das crianças e
adolescentes estão impregnados de estigmas de olhar a criança como ser imaturo e incapaz de
assumir responsabilidades, de opinar e traduzir seus interesses e de serem co-autores e co-
responsáveis na história e vida familiar.
O direito à participação infantil traz a tona também uma discussão sobre relações de poder,
de cidadania, governo e de direitos. Por isso, a RNBE enfoca este tema com a concepção dos
direitos humanos, considerando o que os marcos legais apontam: a criança e o adolescente são
sujeitos de direito e cidadãos plenos em igualdade a todas as outras pessoas integrantes da
sociedade. A aceitação legal e social do uso da violência como forma de educar crianças e
adolescentes, desconsiderando a legitimidade do direito à participação infantil coloca a criança em
uma situação desigual frente aos demais membros da sociedade.
As crianças e adolescentes têm o direito de serem educados e cuidados sem o uso de
qualquer forma de violência. E também é dever do Estado garantir esse direito, desenhando e
executando políticas que instalem e desenvolvam sistemas de proteção em todos os níveis de
governo. A proteção a todos os cidadãos está na esfera do direito público e subordina qualquer outro
interesse privado, mesmo que familiar.
As normativas legais relacionadas aos direitos das crianças e adolescentes referendam que
a criança deve ter status de cidadania igual aos demais integrantes da sociedade e não podem ficar
esperando crescer para ter seus direitos respeitados de forma plena.
Comentário nº8, do Comitê dos Direitos da Criança, de 2006:
“A resolução do problema da aceitação generalizada ou da tolerância dos
castigos corporais sobre as crianças e a eliminação dos mesmos, na
família, nas escolas e noutros contextos, não é apenas uma obrigação dos
Estados Partes da Convenção. Constitui igualmente uma estratégia chave
para a redução e prevenção de todas as formas de violência nas
sociedades.”
Relatório do Comitê dos Direitos da Criança –ONU- 2004- item 43:
“O Comitê recomenda que o Estado-parte proíba explicitamente a punição
corporal na família, na escola e nas instituições penais, e empreenda
campanhas educativas para educar os pais sobre alternativas de disciplina.”
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A RNBE quer enfatizar exatamente o principio de equidade e igualdade de direitos, da
exigibilidade desses princípios no processo de efetivação dos direitos de crianças e adolescentes –
responsabilidade de todos: da família, do estado e da sociedade.
“... A sociedade brasileira reconhece as normativas legais internacionais
e nacionais que constituem avanços na proteção dos direitos de crianças
e adolescentes: a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a
Constituição Federal, a Convenção Internacional sobre os Direitos da
Criança e o Estatuto da Criança e do Adolescente. Entretanto, precisa
superar a prática cultural que prevalece pautada numa história de
relação de poder e opressão que considerou crianças e adolescentes
como seres incapazes, propriedade e objeto de preocupação de seus
pais ou responsáveis.” (Carta Aberta da Rede Não Bata, Eduque - 2009)
O percurso para efetivação da garantia de igualdade e equidade de direitos de crianças e
adolescentes com todos os demais membros da sociedade não desconsidera a necessidade da
disciplina e de limites positivos para o pleno desenvolvimento de meninos e meninas, conforme
ressalta o Comitê dos Direitos da Criança- ONU- Observação Geral N°. 8, item 13, de 2006:
“Ao rejeitar qualquer justificativa para a violência e humilhação como
formas de castigar crianças, o Comitê não está de modo algum
rejeitando um conceito positivo de disciplina. O desenvolvimento
saudável das crianças depende dos pais e de outros adultos para a
orientação e instrução necessárias de acordo com as capacidades
evolutivas das crianças, e para assistir seu crescimento rumo a uma
vida em sociedade responsável.”
A RNBE considera esta reflexão como um movimento importante nas ações que permeiam
o tema da participação infantil e reitera a importância de inclusão das próprias crianças e
adolescentes em todos os momentos e espaços em que formos dialogar, tratar, pesquisar, consultar,
informar sobre os direitos humanos de crianças e adolescentes.
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1) O processo da participação infantil no I Simpósio Nacional de Direitos Humanos de
Crianças e Adolescentes – Castigos Físicos e Humilhantes
No processo de organização do I Simpósio Nacional de Direitos Humanos de Crianças e
Adolescentes (doravante “I Simpósio Nacional DH CA”), a participação infantil foi um dos aspectos
considerados como relevantes em todas as etapas de execução dos trabalhos. Os objetivos do
Simpósio eram celebrar os 20 anos da Convenção sobre os Direitos de Crianças e Adolescentes e
mobilizar as forças estratégicas nacionais pela infância brasileira para que, nesse momento histórico,
colocassem na pauta da agenda nacional a urgência de pôr fim à aceitação social e legal no Brasil de
práticas de violação sistemática de direitos humanos de crianças e adolescentes. Dentre as principais
violações estão a do direito à dignidade, à integridade física e psicológica, bem como o direito a
participar e expressar suas opiniões a respeito de assuntos que afetam suas vidas.
O consenso estabelecido era que não seria possível tratar destes temas sem garantir o
direito à voz e vez às crianças e adolescentes brasileiras. Para discutir estes assuntos, é
fundamental saber o que elas pensam, como se sentem diante destas violações e que alternativas
propõe diante deste cenário. Esta participação é legítima e expressa no artigo 12 da Convenção.
As ações e etapas que envolveram a participação infantil no I Simpósio Nacional DH CA
antecederam todas as demais, tendo em vista que para efetivar uma participação igualitária,
consistente e real, consideramos fundamental estabelecer atividades prévias com as crianças e
adolescentes, incorporando ações reflexivas, debates e construção coletiva de proposições com
representações das cinco regiões brasileiras.
Nos três meses anteriores a realização do Simpósio, a Rede Não Bata, Eduque! consolidou
parcerias, nas cinco regiões brasileiras, com organizações de referência no trabalho com crianças e
adolescentes que já desenvolviam ações de formação política e de lideranças infanto-juvenis, para
participação no evento nacional.
As organizações foram indicadas pelos Centros de Defesa da Criança e Adolescente das
regiões, ligadas à ANCED (Associação Nacional dos Centros de Defesa) ou por membros do Grupo
Gestor da RNBE. Todas realizam atendimento direto e sistematizado a crianças e adolescentes e
atuam na perspectiva de defesa e garantia dos direitos humanos da infância.
Em todas as regiões, o programa, metodologia e proposta de ação específica e direta da
participação infantil para o ISDHCA foram apresentadas e discutidas com as organizações parceiras
e o processo de desenvolvimento das oficinas foi realizado de forma conjunta com as mesmas,
considerando as especificidades e características de cada região e cada grupo.
A continuidade das ações de participação infantil (doravante “PI”) nas regiões, como parte
da segunda etapa de preparação para participação no I Simpósio Nacional DH CA, foi desenvolvida e
estimulada diretamente pelas organizações parceiras, com acompanhamento da RNBE. As cinco
organizações parceiras no processo de efetivação da participação infantil no I Simpósio Nacional DH
CA as seguintes:
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Região Brasileira Organização Parceira
Centro-Oeste - Brasília- Cidade Estrutural Associação Viver
Nordeste - Fortaleza- Município de Redenção IFAN (Instituto da Infância)
Norte - Belém – Bairro Benguí CEDECA Emaús
Sudeste - Rio de Janeiro - Pedra de Guaratiba Fundação Xuxa Meneghel
Sul - Porto Alegre – Bairro Cristal Casa de Nazaré
2) Metodologia e desenvolvimento das oficinas de Participação Infantil nas Regiões do Brasil
O Grupo de Participação Infantil iniciou suas atividades dois meses antes da realização do I
Simpósio Nacional de Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes, pois foi definido nas reuniões
da RNBE para organização do evento, que este grupo demandava uma preparação e sensibilização
prévias, para garantir uma participação mais efetiva e representativa, envolvendo no primeiro
momento crianças e adolescentes das cinco regiões, e que juntos deliberassem democraticamente as
suas representações diretas no simpósio, que trouxessem os sentimentos e proposições coletivas.
Entendemos também que a participação infantil requer que as crianças compartilhem suas
idéias, opiniões e sentimentos de maneira aberta e sincera e que para tal precisava ser criado um
ambiente propício, com a garantia de um tempo mais adequado para que todos tivessem
oportunidade de expressão.
Por esta razão, foram escolhidas instituições de atendimento direto e que estão envolvidas
na defesa e promoção dos direitos da infância. E mais, que em seu cotidiano já possibilitavam às
crianças e adolescentes algumas ações e vivências, onde podiam se reconhecer como sujeitos de
direitos, com oportunidades de expressar suas opiniões sobre situações e temas relevantes de suas
vidas.
O contato prévio com as organizações parceiras foi fundamental, pois ao apresentarmos e
discutirmos com a equipe local a proposta com as atividades a serem desenvolvidas, foi possível
avaliar e colaborar na adaptação às necessidades e realidade institucional e regional. Coube também
a elas a organização das listagens de crianças e adolescentes participantes, que buscou avaliar os
que tinham interesse pelas ações que seriam desenvolvidas e a organização do espaço físico para
realização das atividades.
Dada a importância do ambiente para o desenvolvimento infantil, era fundamental propiciar
um espaço em que as crianças se sentissem seguras e confiantes, que favorecesse uma interação
positiva e alegre entre elas e os adultos. Foi importante oferecer um espaço de escuta ativa e
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qualificada, que propiciaram encontros significativos, que permitiram que as crianças e os adultos se
conhecessem de forma mais pessoal.
Com essa perspectiva, especialistas em PI visitaram cada uma das cinco regiões brasileiras
para realizar oficinas prévias com o objetivo de propiciar um ambiente sensibilizador, encorajador e
promotor da participação infantil para discutir sobre a temática com crianças e adolescentes e
educadores.
As oficinas aconteceram em dois dias consecutivos, e em cada região, o número de
participantes foi de cerca de 30 (trinta) crianças e adolescentes, entre 07 e 17 anos, totalizando 161
(cento e sessenta e uma) crianças e adolescentes, tendo uma dupla de especialistas da RNBE como
facilitadores nos encontros. Deste grupo 74 tinham entre 07 e 12 anos e 60 tinham entre 13 e 17
anos, porém, 27 crianças/adolescentes não registraram a idade. A seguir o detalhamento da faixa-
etaria e gênero das crianças e adolescentes de cada região:
Região Gênero Idade Total de
participantes
Centro-Oeste 15 meninos
15 meninas
07 a 12 anos – 16 participantes
13 a 17 anos – 10 participantes
não registraram a idade - 4 participantes
30 participantes
Nordeste 10 meninos
19 meninas
07 a 12 anos – 14 participantes
13 a 17 anos – 04 participantes
não registraram a idade - 11 participantes
29 participantes
Norte 28 meninos
18 meninas
07 a 12 anos – 10 participantes
13 a 17 anos – 24 participantes
não registraram a idade - 12 participantes
46 participantes
Sudeste 07 meninos
24 meninas
07 a 12 anos – 16 participantes
13 a 17 anos – 15 participantes
31 participantes
Sul 15 meninos
10 meninas
07 a 12 anos – 18 participantes
13 a 17 anos – 07 participantes
25 participantes
Total: 161 crianças e adolescentes
Com relação à participação dos educadores, registramos 30 participações, sendo 04
educadores do sudeste e 04 do sul, 05 da região norte, 07 do nordeste e 10 educadores da região
centro-oeste. Assim o total de pessoas envolvidas diretamente no processo de Participação Infantil
chegou a 191 pessoas, entre crianças, adolescentes e educadores.
O desenvolvimento das atividades aconteceu em dois momentos distintos: sensibilização e
formação dos educadores locais sobre o tema e sensibilização, informação e reflexão com os
meninos e meninas sobre as alternativas para educar sem violência, na família, na escola, na
comunidade. Os educadores locais foram estimulados a participar nos dois momentos e muitos
apoiaram o desenvolvimento das oficinas, o que teve extrema importância pela referência que
representavam para as crianças e adolescentes.
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As atividades iniciavam com o vídeo “Era uma vez uma família” - um desenho animado sem
palavras, que apresenta a história de uma família e os desafios cotidianos que pais, cuidadores e
responsáveis enfrentam na criação e educação dos filhos.
A animação foi escolhida por ser uma ferramenta lúdica e dinâmica, que estimularia o
envolvimento e a sensibilização das crianças e adolescentes na abordagem de um tema complexo e
mobilizador para suas vidas. Após a exibição do vídeo, iniciamos um “bate papo” sobre as situações
cotidianas apresentadas, e também foi um momento para apresentação da “Rede Não Bata,
Eduque.”, seu trabalho e os objetivos para realizar o I Simpósio Nacional DH CA, especialmente a
importância da representação da PI no evento nacional.
Ainda nesta etapa inicial, após as apresentações, reflexões e explicações, o grupo ficou
sozinho para que, entre eles e sem interferência dos adultos, decidissem se realmente gostariam de
participar do simpósio representando todas as crianças e adolescentes do Brasil, dando continuidade
aos encontros para elaborar propostas para uma educação sem violência e pensando em alternativas
criativas, com uma linguagem que expressasse os resultados das discussões e as proposições
deliberadas pelos meninos e meninas em cada região.
Inicialmente percebemos uma inibição natural, que logo deu passagem para a expressão
dos sentimentos, dúvidas, ponderações, questionamentos, propostas, compromisso, engajamento,
etc. Com a aceitação de cada grupo, mais um desafio foi lançado: como todos os grupos, em
diferentes partes do país, poderiam interagir? A representação democrática poderia ser ainda mais
efetiva com a interação entre todas as crianças e adolescentes participantes, com a interlocução
entre eles e a partilha de idéias, opiniões, sentimentos, fortalecendo também a construção coletiva de
proposições que contemplasse os diferentes pontos de vista, demandas, realidades, etc.
Várias sugestões foram dadas: e-mails, site, blog, Orkut... Ficou definido que criaríamos um
blog, mas que o nome seria decidido em uma eleição online com os nomes sugeridos por cada grupo.
O espaço de votação online seria a comunidade no Orkut criada pelos especialistas em Participação
Infantil chamada Participação Infantil da RNBE. A modalidade de votação escolhida possibilitou a
ampliação da participação de crianças e adolescentes que não estavam diretamente envolvidos nos
grupos de PI, mas que foram mobilizados por eles nas escolas e outros espaços da comunidade.
A segunda parte da metodologia desenvolvida incluiu atividades que contemplavam três
eixos norteadores, que privilegiaram formas de linguagens diversificadas, como desenhos e
dramatizações, onde os meninos e meninas eram os próprios autores e atores.
Os três eixos baseavam-se nas questões:
1- “O que é o castigo físico e tratamento humilhante para você?, que tinha como
objetivo entender e ouvir o que as crianças consideravam como castigo físico e
tratamento humilhante;
2- “Como vocês se sentem ao serem castigados?”, espaço para estimular formas de
expressão dos seus sentimentos diante destas situações;
3- “É possível educar sem o castigo físico e humilhante? Como?”, momento para
modificar a lógica dominante e estimular que as crianças e adolescentes ocupassem um
lugar propositivo, co-responsável e protagonista diante do tema discutido.
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Como forma de expressão da primeira questão - “O que é o castigo físico e tratamento
humilhante para você?”- propusemos que respondessem através da composição de desenhos.
Muitas vezes as formas de expressão não verbais não são valorizadas, tendo uma utilização
minimizada diante do processo de escolarização formal, que geralmente privilegia a comunicação
verbal e escrita, além do raciocínio lógico.
Sendo o castigo físico e humilhante um tema extremamente complexo para abordar,
especialmente com crianças e adolescentes, reconhecemos no desenho um instrumento que
possibilita perceber um contexto da sua história de vida, seus sentimentos, medos, anseios e
desejos. Proporciona um caminho no qual eles podem expressar suas emoções, ajudando-os a
promover a criatividade e a auto-estima e isto pode refletir positivamente em todas as áreas de suas
vidas, tanto no nível pessoal quanto social. Assim que terminaram os desenhos as crianças puderam,
espontaneamente, falar sobre suas produções e o significado da sua expressão.
Crianças e adolescentes do século XXI já nasceram inseridos em uma sociedade midiática.
Os livros, o rádio, a televisão, o computador, o celular, as campanhas publicitárias, os outdoors, os
jogos eletrônicos, a publicidade e outras formas de tecnologia de informação e comunicação são
elementos que colaboram para que crianças e adolescentes possam compreender o mundo. A mídia
contribui com diferentes formas de ser e de estar no mundo.
Eles identificam-se com as linguagens da mídia, pois elas estão presentes no seu dia–a-
dia, e é com desenvoltura que lidam com as tecnologias que rapidamente se modificam. Pela vivência
nessa sociedade e ao usar essas linguagens, crianças e adolescentes constituem valores e se
reconhecem com relação ao gênero, raça, etnia. Mas é importante que se use essas linguagens
construtivamente, estabelecendo diálogo, ouvindo-os, percebendo como pensam, o que ouvem, o
que vêem, o que e como utilizam, o que desejam possuir ..., promovendo a troca de saberes e
identificando questões a serem consideradas também pelas famílias.
Foi por esta razão que em todas as atividades propostas solicitamos que meninos e
meninas ficassem responsáveis pelos registros feitos com máquina fotográfica e câmera de vídeo.
Para muitos isto foi uma novidade fantástica, e logo se apropriavam dos equipamentos, com a
curiosidade do aprender e com a ousadia do fazer. Câmera de vídeo e fotográfica são elementos que
colaboram para que eles possam olhar e compreender o mundo. Olhar para si mesmo, para o grupo
e para a comunidade. E assim ir ampliando o olhar...
O segundo eixo “Como vocês se sentem ao serem castigados?” desejava despertar os
sentimentos que meninos e meninas têm quando sofrem algum tipo de castigo, seja ele físico ou
humilhante.
Para o desenvolvimento e reflexão desta questão, utilizamos os sociodramas, técnica
centrada em dramatizações teatrais, que traz o “tema emergente do grupo”, e através da vivência
destas situações, são partilhadas experiências concretas entre eles. Possibilita o contato com o eu,
com o outro, com o grupo. Solicitamos no grupo alguns voluntários e apresentamos cenas com
situações de violência física e psicológica que foram exibidas no vídeo “Era uma vez uma família” e
propusemos que eles remontassem as situações através de dramatizações (algumas com falas e
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outras não). Foi uma forma de revisitar aquelas experiências e em seguida refletir sobre elas, de
forma dinâmica, participativa e concreta.
Na seqüencia, identificamos com os participantes quais foram as mensagens enviadas
pelas cenas vivenciadas nos sociodramas. Listamos de maneira que todos pudessem ler e ao lado
das mensagens, as crianças e adolescentes falavam sobre os sentimentos que elas geram. A
dinâmica das mensagens enviadas e sentimentos foi o elo para a próxima pergunta-reflexão, que
introduzia um momento riquíssimo de busca coletiva de alternativas para educar sem violência.
O último eixo “É possível educar sem o castigo físico e humilhante? Como?” utilizou as
situações dos sociodramas vivenciadas anteriormente e provocamos o grupo com as perguntas:
“quando estas situações aconteciam?”; “quando as crianças e adolescentes fazem algo de errado há
outra forma de se resolver o problema?”; “o que as crianças podem fazer para diminuir os conflitos
familiares?”. Para responder a estas questões aplicamos a técnica do Teatro do Oprimido, criada por
Augusto Boal. Por ser uma linguagem dialógica/interativa, facilitou as crianças e adolescentes o seu
direito à palavra e o seu direito de ser um interlocutor ativo na ação, com o poder, inclusive, de
transformá-la.
Por meio da encenação de uma situação real, estimulamos a troca de experiências entre
atores e espectadores e através da intervenção direta na cena, crianças e adolescentes passaram a
analisar a situação representada e podiam intervir na cena, sugerindo meios concretos e ações
efetivas que levassem à transformação daquela realidade.
Com o encaminhamento do último eixo, que configurou as proposições dos grupos,
concluímos as atividades das oficinas, já com o propósito e compromisso deliberado com o grupo e a
instituição parceira de dar continuidade às ações de participação infantil na região, buscando envolver
e mobilizar outras crianças, adolescente, famílias, gestores, etc. na discussão e ação propositiva pela
causa da erradicação do castigo físico e tratamento humilhante.
Na verdade, as ações de PI só estavam começando, pois a partir da sensibilização inicial e
concretização preliminar das propostas dos grupos de crianças e adolescentes para educar sem o
uso da punição corporal e degradante, cada grupo representante da sua região deveria organizar,
juntamente com os educadores locais um plano de trabalho para ser compartilhado com as demais
regiões no grupo de trabalho (“doravante GT”) de participação infantil no I Simpósio Nacional DH CA.
Além dos dois representantes de cada região que estariam participando diretamente do Simpósio no
Rio de Janeiro, todos os demais estariam articulados através de videoconferência, consolidando a
posição e deliberando a plataforma de proposições das crianças e adolescentes para o
enfrentamento dos castigos físicos e tratamento humilhante.
Por terem um papel decisivo na ação e continuidade efetiva do trabalho e campanha pelo
direito de crianças e adolescentes terem uma vida livre de violência, garantindo sua integridade física
e psicológica, a metodologia aplicada aos grupos de PI também envolvia a sensibilização e formação
dos educadores, pois ao apresentar um conhecimento crítico sobre o a temática teriam subsídios
para colaborar no desenvolvimento das atividades e dar continuidade as reflexões dos eixos
norteadores propostos pelos especialistas da RNBE.
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A intenção era que, durante as oficinas pré-simpósio, os educadores locais não fossem
meros “repetidores” dos conteúdos, mas que pudessem abrir espaço para o diálogo sem qualquer
forma de discriminação, respeitar e valorizar a experiência das crianças e adolescentes e associar
sua vivência à temática proposta.
Após a exibição do filme “Era uma vez uma família”, iniciamos uma discussão que deu
oportunidades para que questões fundamentais fossem refletidas, como: o que era o castigo físico;
como percebiam esse tema no dia a dia de trabalho com as crianças na instituição; que relações
faziam com outros aspectos do trabalho com as crianças e famílias e como entendiam e vivenciavam
na rotina institucional e na própria vida o direito a participação infantil.
Com esse espaço de diálogo criado, percebemos nos educadores uma postura positiva e
um engajamento para que junto com os meninos e meninas construíssem um plano de trabalho até o
Simpósio e pensassem em formas de apresentação de suas proposições por uma educação sem
violência, a serem consolidadas no GT de Participação Infantil durante o evento nacional.
GT 5: Participação Infantil no I Simpósio Nacional Direitos Humanos de Crianças e
Adolescentes
O processo que envolveu a escolha das representações de crianças e adolescentes de
cada região para participar do I Simpósio Nacional DH CA no Rio de Janeiro, a possibilidade da
viagem, de conhecer outras pessoas, em especial dos grupos de PI das regiões, bem como a
dimensão simbólica, porém, significativa de, a partir da sua voz, fazer ecoar as vozes de meninos e
meninas que desejam ver seus direitos respeitados, foi realmente um marco para o grupo de
Participação Infantil no Simpósio.
Para o GT 5 – Participação Infantil – foram escolhidos em cada região uma dupla de
criança e/ou adolescente, que vieram para o RJ participar diretamente das discussões e fazer uma
compilação das proposições encaminhadas pelos grupos que se envolveram nas oficinas prévias, a
fim de apresentá-las juntamente com os demais GTs constituídos de adultos especialistas na área da
infância e direitos humanos. Todas as orientações, documentações e encaminhamentos necessários
a liberação e autorização de viagem de crianças e adolescentes foram realizados pela Secretaria
Executiva da RNBE, e executados pelas organizações parceiras nas regiões.
Além das representações das regiões, escolhidas nos grupos de oficinas prévias,
participaram do GT5, 02 adolescentes da região centro-oeste - uma liderança juvenil de comunidade
quilombola, atuante em projetos da ONG IBISS (Instituto Brasileiro de Inovações Pró-Sociedade
Saudável), no Mato Grosso do Sul e uma adolescente que acompanhava o pai, que é representante
do Conselho Estadual Direitos da Criança e Adolescente de Goiás. Da região Sudeste, todas as
crianças e adolescentes envolvidos nas oficinas pré-Simpósio participaram das atividades do
Simpósio, pela proximidade com o local de realização do mesmo. E, ainda, representando a região
Sudeste, mas, que não tinham participado das oficinas prévias, participaram três (3) adolescentes
surdos, totalizando 44 representações de crianças e adolescentes.
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No primeiro momento, privilegiamos a integração do grupo, conhecer a cada um, os nomes,
de onde vieram, motivações e perspectivas. Sem dúvida, conhecer o Rio de Janeiro era uma
motivação que os unia e, para os que já viviam no local, a perspectiva era a possibilidade de
conhecer outras culturas e realidades.
A primeira atividade que os reuniu foi a abertura do I Simpósio Nacional DH CA, que contou
com uma representação juvenil na mesa de convidados.
“Em primeiro lugar, eu quero dizer que é uma honra estar aqui representando todas as crianças do Brasil e agradecer por me darem essa oportunidade. Mas eu quero chamar representantes de crianças e adolescentes das diferentes regiões do Brasil para ficarem aqui comigo neste momento... Bom, não estamos aqui à toa, eu sei. Estamos aqui para falar um pouco sobre um assunto muito importante, no qual os adultos tentam resolver mas sem procurar, muitas vezes, o que nós crianças, as partes mais interessadas no assunto, achamos disso... E achamos, achamos não, temos certeza, que todos nós, crianças e adolescentes, temos que ter a nossa hora. A nossa vez de falar o que achamos e queremos não só para nós, do Brasil de hoje, mas para outras crianças e adolescentes que ainda vão vir ao mundo.”
(Menina, 16 anos)
No segundo dia do Simpósio, a atividade de referência para o GT de Participação Infantil foi
a realização da videoconferência, que envolveu todos os grupos que realizaram as oficinas prévias
nas regiões brasileiras. Em cada região, com a parceria estratégica da CNI - Confederação Nacional
da Indústria, os grupos envolvidos na ação encadeada pela RNBE se deslocaram para unidades do
Sistema S, a fim de se encontrar, dialogar, questionar, debater e consolidar as propostas das
crianças e adolescentes.
A experiência foi extremamente enriquecedora, no primeiro momento confirmou toda a
expectativa que os grupos traziam de que crianças e adolescentes de regiões diferentes e por vezes
tão distantes, pudessem se encontrar para tratar de assuntos relevantes para suas vidas. Eles
vibravam ao ver seus colegas de região no Simpósio no Rio de Janeiro, de rever os educadores com
quem tem referência e principalmente foi um espaço concreto de partilha de saberes e vivências
protagonizadas pelas crianças e adolescentes.
A metodologia utilizada foi amplamente interativa e dialógica, onde o facilitador intermediava
o bate papo, mas a programação ia sendo reinventada pelas crianças e adolescentes a cada tempo,
que ora chamavam uma região para fazer perguntas ou questionamentos sobre proposições da
mesma, ou para reforçar alguma opinião considerada importante, ou para debater sobre algum
conteúdo relacionado aos direitos, ou para apresentar proposições através de linguagens
diversificadas, como teatro, música, paródia, cartazes, literatura,etc.
O grupo de crianças e adolescentes que estava no Simpósio ajudou a mediar os trabalhos e
ia considerando cada nova proposição, anotando as propostas, não deixando escapar nenhum
aspecto apresentado pelos demais. Uma intérprete de LIBRAS (Linguagem Brasileira de Sinais)
participou na sala de videoconferência, a fim de garantir o entendimento e participação dos
adolescentes surdos presentes, que também se comunicaram com os grupos das regiões,
expressando suas opiniões e debatendo acerca do uso da violência como forma de educar crianças.
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Nos intervalos da videoconferência, percebíamos uma integração ainda maior do grupo de
PI que estava no simpósio, durante e após as refeições foi possível observar vários episódios que
comprovaram o contexto interativo e de troca de experiências sobre a realidade de cada um, suas
culturas e vivências. Como exemplo, podemos citar um grupo que ensinava coreografias de hip hop
para outro, misturando os ritmos, com os sons da percussão corporal, trazida por uma das
integrantes do GT. E ainda, um grupo que aprendia como emitir sons da natureza com as mãos e
boca.
Outro exemplo de integração foi a dinâmica coordenada pelos adolescentes surdos, que a
partir das características dos colegas, oferecia um sinal que os representasse. Assim como fazem
entre si, cada criança e adolescente participante poderia ser reconhecido através do seu sinal. Todos
estes momentos serviram também para identificar idéias, propostas e conteúdos importantes que
inspiraram a apresentação final do GT para a plenária do simpósio.
No terceiro dia do simpósio, o grupo de crianças e adolescentes reuniu todas as
proposições anotadas durante a videoconferência, além das que já tinham identificado com seus
pares nas suas regiões e partiu para o trabalho de consenso e elaboração da proposta final do GT.
Com a plataforma de propostas que apresentaria, construíram o formato desta apresentação,
misturando os sotaques, os ritmos, os sons, as idéias, as experiências, os desejos e sonhos.
Não foi fácil transpor este momento, os conflitos surgiram, e o próprio grupo, com apoio do
facilitador, redefiniu o que era necessário e deu prosseguimento aos trabalhos.
A apresentação final foi dividida em três partes:
1) Jogral com sotaques diferentes para expressar os mesmos sentimentos negativos em
relação ao que é o castigo físico e tratamento humilhante e como se sentem quando sofrem violência.
Um narrador indicava cada momento.
“Boa tarde...
Se vocês, adultos, acham que vocês trabalharam durante esse simpósio pensando em ações para
tentar resolver esse problema dos castigos físicos e tratamento humilhante fiquem sabendo que
desde outubro o Grupo de trabalho de participação infantil vem se encontrando para pensar e
propor jeitos de convencer as pessoas ( pais, professores, os adultos) de que educar sem bater dá
certo.
Mais de 150 crianças e adolescentes estiveram envolvidas nesse processo nas cinco regiões
brasileiras... Ontem em vídeo conferência todos estivemos juntos e tomamos decisões importantes
sobre esse assunto.
E agora chegou a nossa vez de falar... Norte, Nordeste, Sul, Sudeste e Centro-Oeste, todas as
crianças e adolescentes do Brasil....
As crianças e adolescentes tem voz e vez no I Simpósio Nacional de Direitos Humanos de Crianças
e a Adolescentes.
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O que é, então, o castigo físico e o tratamento humilhante de crianças e adolescentes?
Independente do nome e da expressão usada em cada região para o castigo físico e tratamento
humilhante, todos tem o mesmo significado e provocam sentimentos muito ruins em cada um de
nós. Então com vocês se sentem quando são castigados e humilhados?”
Momento reflexivo e provocativo direcionado exclusivamente aos adultos da plenária, com
perguntas elaboradas pelas crianças e adolescentes para que avaliassem como se sentiriam ao
sofrer violência.
“Agora, nós gostaríamos de fazer perguntas, para que vocês possam refletir sobre como se sentiriam
nessas situações.
Raiane: Vocês gostariam de apanhar? E se apanhassem, ficariam com raiva da pessoa que te
bateu?
Osmar: Você gostaria de ser humilhado na frente de seus colegas de trabalho?
Raiane: Você gostaria de ser desprezado pelas pessoas que você ama?
Osmar: E se tudo isso acontecesse com você? Como seu coração ficaria?
“Esses sentimentos que vocês pensaram são os mesmos que as crianças sentem nessas
situações.”
2) Apresentação das proposições das crianças e adolescentes para que não sejam
educadas com o uso dos castigos físicos e humilhantes.
“Não basta julgar e apontar os pais e responsáveis. Viemos aqui também com soluções e
propostas para educar sem violência. Então, quais são as propostas?”
Estas são as propostas de crianças e adolescentes do Brasil representadas aqui por cada um de nós. 1. Fale para as crianças palavras de incentivo 2. Incentivar as crianças com uma boa educação 3. Tirar as coisas que as crianças gostam depois de explicar o que fizeram de errado. 4. Em lugar de um tapa, um abraço e um bom conselho. 5. Acreditar no que as crianças dizem. 6. Deixar a criança ter liberdade de expressão. 7. Quando a criança errar, ajude-a a entender seu erro. 8. Levar Paz e não violência para casa. 9. Dar mais atenção aos filhos, participar e acompanhar sua vida nos diversos espaços que eles
freqüentam: escola, praça, rua ... 10. Conversar e explicar com calma as atividades da escola. 11. O diálogo entre Pai e Filho – Uma boa conversa sempre. 12. Explicar as regras de casa e da escola. 13. Não tratar os filhos como lixo. 14. Não tratar os filhos com indiferença, pois os filhos também podem ser um bom exemplo para os
pais. Assim como os pais ensinam coisas para os filhos, os filhos também podem ensinar coisas para os pais
15. Os pais devem ter tempo, paciência, ser mais amigos e brincar com os filhos.
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16. Os pais devem explicar o que e como fazer, e não, fazer pelos filhos. 17. Os pais não devem deixar nascer sentimentos ruins nos filhos. 18. Não deixar criar rancor entre pai e filho. 19. Antes de dormir deve fazer as pazes. 20. Realizar palestras organizadas e conduzidas por crianças e adolescente sobre educar sem
violência para pais, educadores e instituições. 21. Criar mais estruturas para os abrigos, conselhos tutelares e cumprir o ECA em unidades de
medidas sócio-educativas. 22. Criar uma Rede Não Bata, Eduque formada por crianças e adolescentes. 23. Os pais devem respeitar os filhos que tenham alguma deficiência. 24. Formação em LIBRAS para pais e educadores para melhorar a comunicação entre crianças e
adolescentes surdos. 25. Falar para os filhos seus direitos e deveres para que ele possa ajudar a construir sua educação. 26. Tratar todos os filhos da mesma maneira, pois somos todos iguais em nossos direitos e deveres. 27. Incentivar seus filhos a não desistir de seus sonhos. 28. Os pais tem direitos e deveres e as crianças e adolescentes também 29. Toda crianças tem direito a conhecer sua cultura local, regional e nacional. 30. As crianças nasceram para serem educadas com amor, carinho e atenção e diálogo e não com
agressões físicas e psicológicas.
Após a apresentação das proposições com alternativas para uma educação sem violência, o
grupo cantou o rap “Violência, Nunca Mais” e antes do encerramento trouxe um grito de mobilização
para a plenária, cuja mensagem constava também em uma faixa que abriram no auditório:
“BASTA, JÀ É HORA DE ACABAR COM ESTA VIOLÊNCIA”
3) Vez e Voz das crianças e adolescentes: como se sentem e o que pensam do castigo físico e
tratamento humilhante
“Não adianta falar sobre crianças, não bater em criança se não tem nenhuma criança aqui, falando do assunto.” (menino, 13 anos)
Cada criança, de cada região brasileira trouxe seu sotaque diferente para o I Simpósio
Nacional DH CA, mas todos, sem exceção, e em uma única voz, trouxeram seu ponto de vista,
sentimento, percepção, imagem e expressão sobre o castigo físico e tratamento humilhante na vida
de crianças e adolescentes.
a) O que crianças e adolescentes pensam sobre o castigo físico e o tratamento humilhante
O castigo físico é muito errado para os pais fazerem com as crianças. Eles tem que conversar, não sair batendo nas crianças. Primeiro a criança tem que entender, tem que conversar com a criança para a criança entender o que tá acontecendo. (menina, 09
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Os adultos, às vezes, acham que a criança é um
objeto. (menino, 10 anos)
Você viu como a criança do desenho “encolheu” quando chamaram ele de jumento?. “Ele ficou humilhado...” “E quando o patrão fez a mesma coisa com ele, aí ele sentiu a mesma coisa que o filho”. (menina- 13 anos)
O pai bateu no filho e o filho foi descontar no
colega. (menino, 14 anos)
Nós se sente igual a um cachorro de rua. (menino, 10 anos)
Eu acho que o castigo físico não é uma forma muito legal de tratar as crianças... E o humilhante também não é... É chamar de abestado, burro, de ... desajeitado. Não é legal... A criança sai com isso... lembrando... Bater é uma forma
de expressar suas raivas nele. (menina, 10 anos)
A maioria dos pais pensa que educa, mas só faz piorar. A maioria dos filhos que são espancados, viram bandidos e a maioria das vezes, morrem. (menino, 12 anos)
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Se a pessoa apanha, quando ela crescer ela vai descontar nos seus filhos. Você deve conversar antes de bater. Isso pode prejudicar você e seus filhos. (menino, 13 anos)
Quando o pai bate no filho e ele fica com revoltado. Isso não é bom pra ele... Eles vão ficar com aquele rancor... Quando eles crescerem vão querer fazer a mesma coisa com os filhos deles... (menino, 14 anos)
As crianças às vezes são invisíveis para os pais. (menina, 10 anos)
Se os pais continuarem agredindo e usando violência com os filhos, como será o futuro do nosso país... Como será o futuro para nós? (menino, 14 anos)
Se não pode bater em adultos, se isso é falta de respeito, falta de educação... Por que é certo bater nas crianças? (menina, 15 anos)
A lei é pros pais terem mais atenção com os filhos. (menina, 16 anos)
Ser humano nenhum se sente bem sendo humilhado e não merece ser humilhado. (menino, 17 anos)
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b) Como as crianças e adolescentes se sentem ao serem castigados
21
c) Linguagens e linguagens
� Expressões que representam castigos físicos nas regiões brasileiras
Centro-Oeste:
• Porrada • Levar um sapeca • Levar um chega pra lá • Tomar um couro de cinta • Levar uma sova • Levar / tomar uma
coronhada • Ser ripado
Nordeste:
• Rebolar • Pisa • “Pegar” • Levar uma pêia • Chinelada • Quebrar os dentes
Norte:
• Pisa • Chamar o Chico Chicote • Levar tapa só na cara • Levar uma pêia
Sudeste:
• Dar um retão • Fazer picadinho • Vou te pegar até dar no
sangue • Levar porrada • Arrebentar a cara • Quando eu te pegar vou te
matar • Baixar o cacete
Sul:
• Dar uma bifa • Tapa no beiço
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� Região Nordeste – Literatura de Cordel
Não bata, eduque Essa é a solução Seu filho não precisa de “pêia” E sim de educação. Use o diálogo Ao invés de cinturão Converse, explique as coisas direito Não bata nele, não. Bater só leva a um fim Tornará seu filho numa pessoa ruim Nisso vocês podem crer Quem bate para ensinar Ensina a bater. Os pais devem dizer O que os filhos devem fazer Esse é o melhor jeito de ensinar É o melhor jeito de aprender. Então queridos pais Prestem atenção nesse batuque Não Bata, Eduque.
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� Região Nordeste – Paródia da música do Latino (Amigo fura olho)
Mamãe Fura Olho MÃE: Meu filho, você é um burro, jumento, nada sabe fazer Faz tudo errado, não entende nada, dar vontade de te bater Já não sei o que faço com você. FILHO: Mamãe, a minha vida é torturada e humilhada por você Tudo o que faço a senhora reclama, não dá prá entender Não consigo te entender. MÃE: Francisco é uma loucura cabeluda ter que te acordar Passo mais de uma hora gritando e te chamando Você sabe muito bem que tem que estudar. FILHO: Mamãe tu tem que mudar por amor MÃE: Não fale besteira filho, por favor, Se não te dou uma pisa de cinturão. FILHO: Você machuca tanto o meu coração. MÃE: Desculpa meu filho foi mal Minha atitude foi irracional Coisa do mal tudo o que falei Fui tão injusta que nada enxerguei. Meu filho é sério pode acreditar Estou arrependida e quero mudar Francisco perdão fale o que quiser Agora eu sei que sou uma Mané Eu sou uma Mané, eu sou uma Mané Meu filho eu amo tanto você Agora percebo o quanto cresceu Tanto quanto eu Te amo
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� Região Sul – Rap - Violência nunca mais –
(autores: Patrick / Alisson (Tinguinha) / Jonathan (Gordinho) - SASE III tarde 2009) Então faça a sua escolha E logo se decida Se quer agressão Ou bem pra sua vida O tempo é muito curto Não dá pra demorar Escolha qual caminho Que você vai andar Por isso eu vou mandar E também te avisar Nada de violência Só tente educar Tudo nessa vida É merecimento O que a brisa leva Eu levo contra o tempo Se não decidir Então corra atrás Entre o bem e o mal O bem nunca é demais Se liga nesse som Preste muita atenção Nada de violência É muito mais educação Por isso eu vou mandar E também te avisar Nada de violência Só tente educar
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� Região Sudeste – Rap - Basta. Queremos Paz! (Criação coletiva de crianças e adolescentes da Fundação Xuxa) As crianças querem paz Amor em casa todos os dias Então vamos mudar Essa história para nossa alegria Nós queremos o seu amor E também o seu carinho O diálogo e uma boa opção Vamos sentar e achar uma solução O diálogo e uma boa opção Vamos sentar e achar uma solução Não bata. Pare e cuide. Pense no futuro da gente Sem dor e humilhação Cresceremos mais contentes Contente pra viver Contente pra sonhar Contente pra aprender e estudar Contente pra viver, pra viver Contente pra sonhar. pra sonhar Contente pra aprender e estudar, aprender e estudar O mundo não agüenta mais Vamos ter consciência Basta. Já é hora De acabar com essa violência. Basta. Já é hora De acabar com essa violência
� Desenhos (Anexo I)
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d) Propostas
I) Propostas da Região Centro-Oeste • Tirar as coisas que eles gostam. • Eduque seu filho sem violência • Eduque, não bata • Ter paciência com os filhos • Ser mais amigo dos filhos • Converse com seu filho para que ele tenha consciência. • Ser mais responsável com os filhos • Proíba-o de ir à casa de amigos • As crianças podem mudar o mundo se forem educados sem violência
II) Propostas da Região Sudeste • Diálogo • Paciência • Compreensão • Atenção • Conversar • Explicar o que está errado • Os pais escutarem os filhos • Crianças e adolescentes deveriam conversar mais com os pais • Obedecer • Respeitar • Não responder • Escutar os pais • Não se estressar tanto e descontar nos pais
III) Propostas da Região Nordeste • Levar paz não violência para casa • Dar bons conselhos • Os pais devem ter mais responsabilidades • Aconselhar e não espancar • Conversar e explicar • Mais dialogo entre pai e filho • Ter mais tempo para os filhos • Explicar as regras • Uma boa conversa • Brincar com os filhos • Não tratar os filhos como lixo • Dar mais carinho • Não deixar criar rancor entre pai e filho • Levar Paz e não violência para casa. • Dar mais atenção aos filhos. • Conversar e explicar com calma as atividades da escola. • O diálogo entre Pai e Filho – Uma boa conversa sempre. • Ter tempo para os filhos. • Explicar as regras de casa e da escola. • Brincar com os filhos. • Não tratar os filhos como lixo. • Dar carinho. • Ter paciência. • Os pais devem explicar o que fazer, e não, fazer pelos filhos. • Os pais não devem deixar nascer sentimentos ruins nos filhos. • Não deixar criar rancor entre pai e filho. Antes de dormir deve fazer as pazes.
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IV) Propostas Região Norte • Diálogo • Respeito • Ter mais tempo com os filhos • Dar um castigo para os filhos tirando o que eles gostam de fazer • Dar atenção para os filhos • Respeitar a opinião dos filhos • Se unir mais com os filhos, e não bater porque se bater desse jeito todas as crianças e
adolescentes não fariam coisas erradas • Fazer encontros de adolescentes e crianças nas escolas com dinâmicas
V) Propostas da Região Sul • Os pais tem que conversar mais com os filhos • Tirar o que ele mais gosta • Incentivar os filhos com palavras de elogios
4) Impressões e resultados:
• Papéis sociais constituídos cultural e historicamente: sobre a autoridade dos pais/ mães/
cuidadores:
A fala do menino de 09 anos explicita a força cultural e histórica que corrobora o poder dos
adultos sobre as crianças e o sentimento de que aos primeiros cabe a função de corrigir e disciplinar
os filhos, mesmo que seja necessário usar o castigo físico. Perguntado sobre o que achava do
castigo físico, o menino respondeu:
“Acho errado o castigo físico, bater sem perguntar antes, ouvir o filho.
Depois, dependendo do que for, pode bater.” (menino, 09 anos)
Questionado sobre o que significava o termo “...dependendo do que for, ele pode bater.”,
ele disse que se referia aos momentos em que as crianças não obedecem às orientações que são
dadas pelos adultos ou respondem os mesmos. Outras crianças e adolescentes não concordaram,
mas a naturalidade e aceitação de algumas crianças para o fato de que os adultos podem usar o
castigo físico para educar e ensinar reforça os papéis sociais construídos cultural e historicamente,
que mostram e definem que os adultos têm total autoridade e poder sobre as crianças.
E ainda, o entendimento construído secularmente do que é ser criança, encontrando-se em
uma situação de dependência, necessitando ser controlada, disciplinada, sem que tenha um espaço
equitativo de escuta, expressão e direitos, como sujeito pleno que também compõe a família e a
sociedade.
Observamos, também, em algumas falas das crianças, que responder ou argumentar com
os adultos pode ser considerado desobediência ou mau comportamento, reforçando a nossa cultura
adultocêntrica, que fortalece uma autoridade hierárquica, pautada em uma relação verticalizada, que
não confere espaço igualitário às crianças e adolescentes, tendo em vista que os adultos são
detentores do poder supremo concedido aos que sabem o que é melhor e mais indicado aos demais,
neste caso, as crianças e adolescentes.
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Percebemos durante as oficinas que, apesar de exigirem um espaço onde possam dar suas
opiniões, especialmente em casa, e terem a oportunidade de serem ouvidos e receberem explicações
sobre o que é certo e o que é errado antes de receberem castigos, algumas crianças, em especial, no
grupo de 7 a 10 anos, ainda legitimam o poder e autoridade dos adultos sobre as crianças,
principalmente quando estas não escutam o que os pais dizem ou não fazem o que eles pedem, isto
é, quando não obedecem aos adultos.
Em relação ao tratamento humilhante, não vimos relatos de concordância deste tipo de
atitude para disciplinar. As crianças e adolescentes não conferem, de modo geral, legitimidade ao uso
do tratamento humilhante para educar. Pelo contrário, afirmam que o que este tipo de castigo traz, o
que realmente fica muito marcado são os sentimentos negativos que geram nas crianças, como raiva,
ódio, mágoa, sentimento de inferioridade, solidão, tristeza, sentir-se como um objeto, “um nada”,
conforme ressalta a fala da menina de 09 anos:
“Rejeitar o filho faz ele se sentir igual uma folha de papel que o pai
rebola no lixo.” (menina, 09 anos)
Reforçada nas opiniões seguintes:
“Tratamento Humilhante é xingar, os pais que xingam a gente,
deixando a gente machucado...” (menino, 13 anos)
“A irmã mais velha não deu atenção a ela, e é muito ruim, ela não se
sente como pessoa, se sente objeto.” (menina, 08 anos)
Um dos argumentos mais defendidos pelas crianças e adolescentes durante as oficinas de
PI e no Simpósio Nacional foi que o exemplo deve ser dado pelo pai, mãe ou outro cuidador, e que a
criança pode repetir a violência se assim aprender durante a vida, como mostram as falas seguintes:
“O costume de casa vai à praça. O que ela aprendeu em casa, vai
repetir na rua, vai fazer em todo canto. Ela acha que é normal...”
(menina, 14 anos)
“Não gosto de castigo físico porque não ensina coisas boas e o que vê
em casa faz em todos os lugares. Eu fiquei pensando: será que o que
os irmãos vão querer repetir o que vêem os pais fazendo, coisas
ruins?” (menina, 08 anos)
Transpor o limite entre a desigualdade de voz e vez na relação familiar, a construção
histórica do ser criança e dos papéis sociais dos adultos e o dever de educar, cuidar, proteger, que
sem dúvida alguma, é função dos pais, mães, demais cuidadores, sociedade e Estado. É o desafio
29
que percebemos durante o desenvolvimento das oficinas de participação infantil nas regiões e
durante o Simpósio Nacional de Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes.
• Espaços de vez e voz para as crianças: um universo ainda a ser explorado como cidadania
infantil
As oficinas de PI realizadas nas regiões brasileiras, em preparação ao I Simpósio Nacional
DH CA, se efetivaram como espaços de vez e voz para os meninos e meninas que participaram dos
encontros. Em vários aspectos e momentos, tivemos oportunidade de perceber como isto se
desenvolveu e também nos mostrou que ainda há um longo caminho a ser percorrido em relação à
concretização da participação infantil como uma prática natural, possível e legítima na família e na
comunidade.
Ainda no início das atividades, na etapa de autorização para participação das crianças e
adolescentes no grupo de PI, algumas famílias compareceram as instituições para esclarecer dúvidas
sobre os objetivos do projeto. Durante a conversa com os familiares para os devidos esclarecimentos,
percebíamos que o tema proposto pela RNBE trazia um misto de incômodo, estranhamento e
preocupação, e alguns, inclusive, questionavam a validade de abordar com crianças um tema
polêmico e complexo como o proposto.
Em uma das situações, fomos procurados pela mãe de uma criança para saber sobre a
autorização que a filha havia levado para casa. Após explicar detalhadamente as ações propostas, a
educadora local ouviu a seguinte resposta: “Você acha que a minha filha tem capacidade de discutir
um tema como este?”. Mesmo com a dúvida, a família autorizou a participação da menina e, durante
as oficinas, fomos surpreendidos pelo depoimento emocionado da mesma educadora, ao perceber
que aquela criança, cuja mãe questionou a capacidade de falar sobre assuntos complexos, estava
participando, expressando suas opiniões, interagindo com os colegas e assumindo suas proposições
frente ao tema discutido. Esta passagem reforça que nossa sociedade ainda não proporciona,
incentiva e legitima espaços de participação infanto- juvenil na vida cotidiana.
A educadora sabia da capacidade da criança, inclusive questionou isso com a mãe, mas ao
se defrontar com a objetividade e firmeza de opinião da mesma, ela confirmou que ações como esta,
de promoção e estímulo a participação infantil, reafirmam a capacidade das crianças e adolescentes
para discutir, opinar e construir alternativas coletivas em relação a assuntos que afetam suas vidas
seja na família, na escola, na comunidade.
Este foi um relato importante para os demais educadores presentes e principalmente para
as crianças, pois corroborou a importância daquele espaço de representatividade e participação na
vida dos meninos e meninas participantes e ainda explicitou a importância dos adultos acreditarem na
capacidade das crianças, como sujeitos e cidadãos plenos que são.
A fala da menina de 12 anos reforça como se sentem diante desta questão:
“É muito chato porque os adultos acham que as crianças não sabem
falar sobre as coisas.”
30
E mais:
“Os pais devem prestar mais atenção nos filhos e não só a gente tem
que aprender com eles.” (menina, 10 anos)
Outra questão interessante foi de uma menina que não retornou no segundo dia de
atividades e não participou das ações de continuidade com os educadores locais, pois a mãe não
permitiu que a filha conversasse sobre “estes assuntos”, referindo-se ao tema do castigo físico e
tratamento humilhante. A mãe da criança relatou que não concordava com uma proposta de
educação sem violência. A educadora tentou argumentar com a família, porém, esta foi incisiva em
afirmar que os assuntos de sua “vida familiar” eram definidos pelos adultos e que a filha não discutiria
sobre estes aspectos.
Esta foi a única situação de não participação confirmada durante as oficinas de PI, mas a
experiência nos traz a reflexão sobre o princípio definido nos marcos legais sobre a infância de que o
espaço da família como esfera privada não pode se sobrepor ao dever de zelar pela proteção e
garantia dos direitos humanos de crianças e adolescentes.
Estes resultados mostram também as dificuldades e os desafios que devemos estar atentos
na realização de ações de promoção de espaços onde crianças e adolescentes possam exercitar de
forma igualitária o direito de opinar, partilhar saberes, argumentar sobre diferentes assuntos que
interferem na sua vida, na vida da família, da comunidade, do país.
• Oficinas de PI nas regiões: espaços para expressões culturais das crianças e adolescentes
Como demonstraram muito desejo e interesse em expressar as diferentes linguagens que
exercitam em suas oficinas e por ser esta uma das importantes formas de participação de crianças e
adolescentes, além de efetiva representação da identidade regional, incluímos durante as oficinas
momentos de apresentações e vivências definidas pelo próprio grupo.
Na região Norte, o grupo declamou e interpretou monólogos criados na Oficina de Teatro
para um concurso que tinha acabado de acontecer na instituição e ainda brindou todo o grupo com
uma roda de capoeira, que fez parte do encerramento da oficina na região, sendo entremeada com
declarações das crianças, adolescentes e educadores locais sobre os dois dias de atividades de PI
organizada pela RNBE.
Também tivemos momentos de pura expressão regional e de forte emoção com a dança do
carimbó, manifestação de criatividade artística do povo paraense que foi criada pelos índios
Tupinambá e, quando os escravos africanos tomaram contato com essa manifestação artística a
aperfeiçoaram e a mesma passou a vibrar como uma espécie de variante do batuque africano.
Conduzida por um casal de adolescentes - Anderson e Érica e também pela mãe da Érica,
simbolizando duas gerações que ajudam a manter viva a identidade da região.
Na região Nordeste, o grande símbolo que ficou evidenciado com todo o grupo foi a
presença do Capitão Rapadura, super herói criado por um cartunista da região e símbolo constante
31
nas ações e produções do IFAN (Instituto da Infância)2, como apresentações em praças, lançamentos
de cartilhas e gibis com histórias contadas pelo próprio, que retratam as situações de violações de
direitos sofridas pelas crianças e adolescentes , sempre trazendo alternativas para a efetivação de
uma cultura de paz.
O Capitão Rapadura esteve presente em alguns momentos das oficinas, apoiando as
atividades realizadas de forma lúdica, criativa e principalmente como um símbolo de defesa e
proteção na vida das crianças e adolescentes da região.
No Sul, o que teve forte expressão foi o ritmo musical, onde o grupo criou um rap sobre o
tema discutido nas oficinas.
No Centro-Oeste dois momentos de expressão cultural e de lazer foram trazidos pelo grupo:
a linguagem da dança, representada pelo Hip Hop e as brincadeiras recreativas que realizam na
instituição, como ping-pong, futebol, pique pega e outras.
Na região Sudeste também teve forte expressão da dança, através do Hip Hop, onde o
grupo criou coreografias para o rap que escreveram sobre a violência.
Estes momentos trouxeram expressões da cultura local e também significaram um espaço
de representatividade direta dos meninos e meninas, que têm linguagens, identidades e histórias
próprias.
• As mediações durante o GT de Participação Infantil no Simpósio Nacional DHCA:
As etapas de criação, organização e principalmente consenso e deliberação sobre a
linguagem, formato metodológico e encadeamento da apresentação feita pelas crianças e
adolescentes, com as proposições elaboradas durante as oficinas nas regiões e que foram
consolidados durante o Simpósio, não foi um processo simples, porém, foi extremamente
enriquecedor e importante para o fortalecimento do sentido de grupo e da educação cidadã.
As crianças e os adolescentes trouxeram idéias e propostas discutidas na sua região e
durante o desenvolvimento das oficinas expressavam de diferentes formas a defesa das mesmas. O
processo de eleição das prioridades, consenso das propostas e linguagem de apresentação no
momento da plenária geral, elaboração e divisão das tarefas definidas pelo grupo geraram alguns
conflitos, considerados saudáveis e que podem acontecer, especialmente, em relações pautadas na
horizontalidade, que foram mediados pelos facilitadores do GT com diálogo, momentos de integração,
dinâmicas para exercitar o sentido de equipe e garantia de um espaço democrático de defesa e
debate de idéias, concepções e, quando necessário, elaboração de novas propostas feitas pelos
próprios meninos e meninas.
As reações do grupo durante os conflitos se revezaram entre raiva, descobertas,
recomeços, encontros e desencontros, zangas... Todos estes sentimentos circularam em uma
ambiência que incluiu vivência e exercício de representação, cidadania, liderança, participação e
espírito de equipe, apresentando-se como resultados do trabalho realizado.
2 O IFAN- Instituto da Infância- foi o parceiro da RNBE na região Nordeste para efetivação das oficinas prévias de PI na região, bem como o responsável pela continuidade das ações locais realizadas no I Simpósio Nacional Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes.
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• Videoconferência e blog: espaço de diálogo
Ao propor o blog como uma ferramenta interativa de continuidade e de convergência de voz
e vez das crianças e adolescentes percebemos que esta ação oportunizou o acesso de forma mais
permanente aos espaços de tecnologia das instituições e motivou-os a mobilizar a comunidade para
participar da votação do nome do blog. Mesmo quem não tinha um perfil no Orkut pode votar através
do perfil de um dos educadores locais.
Tivemos seis propostas de nomes e o score apresentado no quadro abaixo:
Propostas para nome do blog Região % de votação
Criança e Adolescente tem voz Sudeste 1%
Criança e Adolescente bota a boca no trombone Sudeste 1%
Criança e Adolescente também podem mudar o mundo Norte 5%
Não bata, Eduque – Pela educação de crianças e adolescentes sem violência!
Nordeste 68%
Nada de violência. Muita educação! Sul 16%
As crianças e os adolescentes são livres! Centro-Oeste 5%
Total de votos: 118
O blog foi um espaço pensado para conexão direta e permanente entre as crianças e
adolescentes, envolvidos em todo o processo do I Simpósio Nacional DH CA, que apesar de viverem
em lugares tão distantes, puderam/poderão ficar mais próximos, possibilitando maior interação. A
postagem de notícias, fotos, vídeos, comentários criou um espaço de encontro para debate de
questões de suas vidas.
Em relação à videoconferência, percebemos que o deslocamento da sede da instituição
parceira para os espaços de videoconferência possibilitou que as crianças e adolescentes
conhecessem espaços que ainda não tinham freqüentado e como a transmissão simultânea de áudio
e vídeo colaborou para eles pudessem debater sobre o tema com crianças e adolescentes de
regiões, culturas e realidades diferentes; compartilhar propostas para uma educação sem violência e
elaborar um documento único que representou a voz e a vez dos meninos e meninas do Brasil no I
Simpósio Nacional DH CA.
Esse foi um recurso tecnológico diferentes dos outros que foram usados nas oficinas
(registro com câmera de vídeo e fotográfica) e dos que eles conheciam. E até a chegada ao local,
essa tecnologia parecia “uma mágica” que conectaria as cinco regiões e os 161 meninos e meninas
participantes...
• Repercussões do trabalho de PI e desafios para a continuidade das ações
Um dos objetivos do trabalho com os educadores durante as oficinas prévias foi a
importância de promover um espaço contínuo de vez e voz para as crianças e adolescentes que se
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envolveram nas ações propostas pela RNBE, como participantes do I Simpósio Nacional DH CA. Este
desafio percorreu as cinco regiões brasileiras e se tornou o foco de ação dos facilitadores das oficinas
de Participação Infantil após o desenvolvimento das mesmas.
Ainda durante a execução das oficinas, foi possível perceber em algumas regiões o
desdobramento de ações encadeadas por gestores públicos, coordenadores das instituições, e pelas
próprias crianças e adolescentes.
No Nordeste, uma facilitadora da oficina de PI, recebeu convite para participar do programa
de rádio do município, a fim de esclarecer a comunidade sobre o desenvolvimento das ações e
campanhas de erradicação do castigo físico e tratamento humilhante contra crianças e adolescentes,
desenvolvidas pela RNBE.
Dando continuidade ao desenvolvimento do tema para a comunidade, uma dupla de
adolescentes também participou de alguns programas da rádio e teve oportunidade de expressar as
suas opiniões e apresentar as propostas do grupo para os ouvintes.
Foi possível observar em visita realizada a uma das escolas públicas da região como as
atividades, dinâmicas e discussões desenvolvidas nas oficinas com as crianças e adolescentes
invadiram a sala de aula. Durante visita para conhecer o projeto “Estação do Brincar”, desenvolvido
pelo IFAN (parceiro da RNBE na região Nordeste), acompanhamos uma dinâmica onde o grupo
inventava e contava histórias, utilizando o recurso dos bonecos de fantoche. Na roda de histórias
inventadas pelas crianças naquele dia, o tema escolhido foi como educar sem violência, sugerido por
uma criança integrante das oficinas de participação infantil.
Sob coordenação dos educadores locais e com especial empenho da Secretária Municipal
de Educação, as ações de PI na região tiveram continuidade, onde foi organizada uma passeata, com
cartazes, faixas e folder sobre a importância de garantir às crianças e adolescentes uma vida livre de
violência. Todos estes materiais foram elaborados pelo grupo com apoio dos educadores. Reuniu
centenas de pessoas, e percorreu as principais ruas do município. Uma representação de crianças e
adolescentes também esteve na Câmara de Vereadores do município de Redenção para abordar o
tema de tamanha importância para a vida de todos e todas.
Como proposta da Secretaria Municipal de Educação de Redenção, que participou
ativamente das oficinas de PI na Região Nordeste, foi sugerido a inclusão do tema do Castigo Físico
e Tratamento humilhante contra Crianças e Adolescentes como eixo de ação, discussão, prevenção e
promoção no Plano Municipal de Educação, que seria revisto no segundo semestre de 2010.
Na região Sudeste, uma das atividades desenvolvidas durante as ações preparatórias ao
Simpósio, foi realizada por um grupo de adolescentes participantes das oficinas de PI – RNBE, que
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participou de encontros representativos e deliberativos para a área da infância, como VIII Conferência
Estadual dos Direitos da Criança e Adolescente e Fórum Comunitário de Guaratiba, onde realizaram
consulta com jovens e adultos sobre o uso do castigo físico e humilhante como forma de educar
crianças e adolescentes. Como resultado preliminar da consulta, destacamos a possibilidade que o
grupo teve de dialogar com os adultos sobre o tema, abrindo um canal de intervenção direta na
argumentação relacionada ao assunto em questão.
De modo geral, em todas as regiões onde desenvolvemos as oficinas de PI, foram
programados encontros pós-oficinas, que reuniu os grupos participantes das atividades relacionadas
ao I Simpósio Nacional DH CA e em alguns momentos envolveu inclusive outras crianças e
adolescentes, participantes dos projetos institucionais ou de escolas públicas, para criação e
produção de rap, dramatizações teatrais, literatura, paródias, desenhos, produção de textos,
passeata, entrevista em programa de rádio, etc.
E ainda a mobilização para a eleição do nome do blog e as postagens iniciais, ferramenta
utilizada para motivar a interatividade e comunicação entre as crianças e adolescentes de todas as
regiões.
Este é um dos desafios que foi apontado na conclusão dos trabalhos preparatórios para o I
Simpósio Nacional DH CA e durante o próprio evento: manter um canal de comunicação, voz e vez
para as crianças e adolescentes, motivando-os a participar intensa e diretamente das postagens e
publicações que garantam a disseminação de suas opiniões, idéias e alternativas para uma educação
das crianças e adolescentes brasileiras sem o uso da violência. E que pode absorver outros temas de
interesse dos próprios grupos, criando um espaço de cidadania infanto-juvenil.
A RNBE pretende reavivar o blog “Não bata, Eduque – Pela educação de crianças e
adolescentes sem violência!”, criado durante as ações de PI nas regiões, apoiando na mobilização
inicial e contato com representações parceiras durante a execução dos trabalhos do I Simpósio
Nacional DHCA, a fim de que seja mais um acesso de meninos e meninas ao direito de expressar e
usar a palavra como possibilidade concreta de mudança de atitude e comportamento cultural e
histórico da sociedade em que vivemos, especialmente no que tange a educação de crianças e
adolescentes sem o uso de castigos corporais e humilhantes.
Encerramos com a declaração de uma educadora da região Nordeste que expressa o
tamanho do desafio que está colocado para todas as pessoas que acreditam em “Um Outro Mundo
Possível”, onde o diálogo e o exemplo venha muito antes de qualquer tipo de humilhação ou uso de
força física e poder do “mais forte sobre o mais fraco”.
“As crianças têm voz e este projeto chegando aqui em Redenção
causou uma repercussão enorme. As pessoas estão acreditando
mais nas crianças, a passeata foi linda, a caminhada que eles
fizeram, na rádio, na Câmara de Vereadores. Eles foram ouvidos...”
(Conceição- educadora no Município de Redenção – região Nordeste)
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ANEXO I – DESENHOS Oficinas preparatórias para a participação infantil
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ANEXO II – FOTOS
Oficinas preparatórias para a participação infantil – Centro Oeste
Oficinas preparatórias para a participação infantil – Região Norte
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Oficinas preparatórias para a participação infantil – Região Nordeste
Oficinas preparatórias para a participação infantil – Região Sudeste
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Oficinas preparatórias para a participação infantil – Região Sul
Oficinas com educadores
Expressões culturais das crianças e adolescentes
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Outras ações de participação infantil nas regiões
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ANEXO III – LISTA DE PARTICIPANTES DO GT 5
GT5 – Participação Infantil
Nº NOME INSTITUIÇÃO
1 Adriana de Jesus Fundação Xuxa Meneghel - PI
2 Aline Rosa Marques de Oliveira Casa de Nazaré
3 Ana Carolina Gomes Fundação Xuxa Meneghel - PI
4 Ana Clara Gomes Fundação Xuxa Meneghel - PI
5 Camila Bezerra Fundação Xuxa Meneghel - PI
6 Carolina Ferreira Almeida CEDECA Emaús (Pará)
7 Danilo Nascimento Fundação Xuxa Meneghel - PI
8 Danuza Nascimento Representante Criança e Adolescente
9 Débora Moreira Fundação Xuxa Meneghel - PI
10 Dayane Santos Fundação Xuxa Meneghel - PI
11 Eleildo Vieira Miranda Associação Viver
12 Evelyn Elaine Fundação Xuxa Meneghel - PI
13 Fabíola Costa Fundação Xuxa Meneghel - PI
14 Fernanda Carneiro Fundação Xuxa Meneghel - PI
15 Fernando Muniz da Cruz Associação Viver
16 Francisca Aline Fundação Xuxa Meneghel - PI
17 Gisele Rocha Fundação Xuxa Meneghel - PI
18 Hyago Braga Fundação Xuxa Meneghel - PI
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GT5 – Participação Infantil
Nº NOME INSTITUIÇÃO
19 Jamile Klécia Fundação Xuxa Meneghel - PI
20 João Vítor Bispo Fundação Xuxa Meneghel - PI
21 Juliana Alves Fundação Xuxa Meneghel - PI
22 Karen Bispo Fundação Xuxa Meneghel - PI
23 Ketlen Magalhães Fundação Xuxa Meneghel - PI
24 Layane da Conceição Silva CEDECA Emaús
25 Luciana Dias Fundação Xuxa Meneghel - PI
26 Leonardo Peixoto Fundação Xuxa Meneghel - PI
27 Maria Guadalupe Fundação Xuxa Meneghel - PI
28 Maria Rita Lourenço Fundação Xuxa Meneghel - PI
29 Nicolas Eduardo Nascimento Rufino CEDECA Emaús
30 Osmar Lopes de Castro Júnior IFAN
31 Pablo Teixeira Fundação Xuxa Meneghel - PI
32 Rayane Cristina Lameck Fundação Xuxa Meneghel - PI
33 Ronaldo Fernandes Fundação Xuxa Meneghel - PI
34 Ruth Shely de Castro Queirós Pelucio IFAN