IMPLICAÇÕES AMBIENTAIS URBANAS DECORRENTES DAS OCUPAÇÕES EM FUNDO DE VALES: UM ESTUDO DE CASO NA
MICROBACIA DO IGARAPÉ PRICUMÃ EM BOA VISTA / RR.
Eixo temático 3: Gestão de bacias hidrográficas e dinâmica hidrológica
Márcia Teixeira Falcão1- Universidade Estadual de Roraima – [email protected]; Maria das Neves Magalhães Pinheiro2-Universidade Estadual de Roraima – [email protected]; Raimundo Feitosa Rodrigues3- Faculdade Cathedral; Kátia Juanita Marreiro Araújo de Souza4- Faculdade Cathedral.
RESUMO
As áreas urbanas constituem ambientes onde a ocupação e a concentração humana se torna intensa e muitas vezes desordenada, tornando-se assim esses espaços sensíveis às gradativas transformações antrópicas, quando aumentam em freqüência e intensidade, o desmatamento, a ocupação irregular, a erosão dos canais fluviais. Este estudo teve como objetivo fazer uma análise das implicações ambientais urbanas decorrentes das ocupações em fundos de vale na microbacia do igarapé Pricumã, localizado no setor sudoeste do município de Boa Vista – RR. Para tanto, foram utilizadas imagens do Satélite Landsat 7ETM+, a partir dais quais os dados foram tratados através do Sistema de Informação Geográfica (SIG). Para avaliação dos impactos ambientais foi utilizado o método baseado em Amorim & Cordeiro verificou-se que o processo de ocupação desordenada, aliado à falta de uma política de educação ambiental e de uma fiscalização eficiente, favoreceram os problemas ambientais detectados. Palavras-chave: Transformações antrópicas. Fundos de vale. Problemas ambientais.
ABSTRACT
1 INTRODUÇÃO
O crescimento desordenado urbano no Brasil desconsiderando as
características naturais do meio, muitas vezes aliado à falta de infra-estrutura, vem
ocasionando inúmeros impactos negativos para a qualidade do meio urbano. Apesar
de atingirem o ambiente como um todo esses impactos, se refletem de maneira
acentuada no meio urbano em áreas de fundo de vale. Isto porque estas áreas
possuem características ambientais importantes, tendo influência direta, sob vários
aspectos, nos recursos hídricos que cortam as cidades e o seu entorno.
Embora o meio urbano não apresente padrões de qualidade ambiental
desejáveis para uma vida saudável, existem mais de 80% da população mundial
morando nas cidades onde as condições ambientais das cidades criam uma
natureza hostil, onde desequilíbrio entre os elementos que compõem o sistema
urbano compromete a qualidade de vida de seus habitantes (MILANO, 1990;
CARRARA, et al. 1991).
Durante a urbanização ocorre a substituição do ecossistema natural por
outro completamente adverso, que o homem organiza conforme suas necessidades
de sobrevivência, exercendo poder sobre este espaço.
O uso intensivo do solo aliado à ausência de planejamento pelas atividades
urbanas tem gerado disfunções espaciais e ambientais, repercutindo na qualidade
de vida do homem, que se dá de modo diferenciado, atingindo na maioria das vezes
de forma mais intensa a população de baixa renda, a qual, muitas vezes sem acesso
a moradia, passa a ocupar áreas impróprias à habitação, como por exemplo, as
Áreas de Proteção Permanente – (APP’s). A ocupação irregular destas áreas não
ocorre apenas por invasões, mas pode estar associada à aprovação indevida de
loteamento, falta de legislação, e outros (BARROS, et al. 2003)
Amorim e Cordeiro (2008) relatam que nesse processo de ocupação
antrópica inadequada nessas áreas gera uma cadeia de impactos ambientais, que
passa pela impermeabilização do solo, alterações na topografia, erosão das
margens e assoreamento dos cursos d’água, perda das matas ciliares, diminuição
da biodiversidade, aumento do escoamento superficial, e outros.
Dessa forma estas mudanças acarretam também a degradação da
qualidade de vida da população, trazendo diversos tipos de problemas a serem
enfrentados, tais como: as dificuldades na captação de água adequada para
abastecimento, aumento dos custos com tratamento de água e esgoto, escassez de
água, doenças provenientes de veiculação hídrica, entre outros.
A partir dos pressupostos citados percebe-se que a ocupação irregular em
áreas de fundos de vale ocorre em muitas cidades brasileiras de médio e grande
porte, sendo este um problema bastante grave, pois não se trata apenas da
preservação ambiental destas áreas, mas, sobretudo um problema socioeconômico
que reflete as questões de moradia do país e atinge diretamente uma parcela da
população que não tem acesso a este direito.
Dessa forma a partir desta pesquisa buscou-se fazer uma análise da fazer
uma análise das implicações ambientais urbanas decorrentes das ocupações em
fundo de na microbacia do igarapé Pricumã, localizado no setor sudoeste do
município de Boa Vista – RR, buscando assim subsidiar o planejamento urbano
relacionado à ocupação e ao uso do solo.
2 OCUPAÇÕES EM FUNDO DE VALES E PROBLEMAS AMBIENTAIS
Para Guerra e Cunha (1995) fundos de vale pode ser entendido sob o ponto
de vista dos tipos de leito, de canal e de drenagem, no qual cada uma dessas
fisiografias possui uma dinâmica peculiar das águas correntes que estão associadas
a uma geometria hidráulica específica, gerada pelos processos de erosão,
transporte e deposição dos sedimentos fluviais (Figura 1).
Figura 1: Ocupações em fundo de vale e o comprometimento na vegetação ciliar . Fonte: Tucci, 2007.
O Código Florestal (IBDF, 1988), em seu artigo 2º, considera como área de
preservação permanente as florestas e demais formas de vegetação natural situada
ao longo dos rios ou de qualquer outro curso de água, desde o seu nível mais alto,
em faixa marginal cuja largura mínima seja:
1. 30 (trinta) metros para os cursos de água de menos de 10 (dez) metros de
largura;
2. 50 (cinqüenta) metros para os cursos de água que tenham de 10 (dez) a 50
(cinqüenta) metros de largura;
3. 100 (cem) metros para os cursos de água que tenham de 50 (cinqüenta) a 200
(duzentos) metros de largura;
4. 200 (duzentos) metros para os cursos de água que tenham de 200 (duzentos) a
600 (seiscentos) metros de largura;
5. 500 (quinhentos) metros para os cursos de água que tenham largura superior a
600 (seiscentos) metros.
2.2 A atuação antropogênica sobre os canais fluviais em áreas urbanas e a questão ambiental
Cunha (2007) relata que ao longo da história da humanidade os rios têm
sido utilizados como vias de penetração para o interior e facilitando o crescimento de
aglomerados urbanos, e que em função da intensidade de uso no decorrer do
tempo, os rios sofreram efeitos e/ou impactos negativos no seu padrão natural.
O proeminente crescimento populacional e econômico nos últimos anos tem
contribuído para deteriorização dos ambientes aquáticos e por conseqüência
alterações na qualidade da água em decorrência da poluição, antes considerada um
recurso infindo, agora escasso.
Nesse contexto, faz-se necessário o uso racional dos recursos naturais de
uma forma geral, para que isso aconteça se torna imprescindível, a não utilização
dos recursos naturais para além da sua capacidade de regeneração (AGUIAR et. al,
2008).
Corroborando com Christoffoletti (1993), os impactos ambientais gerados
pela urbanização repercutem no funcionamento do ciclo hidrológico ao interferir no
rearranjo dos armazenamentos e na trajetória das águas, introduzindo novos meios
para sua transferência na área urbanizada e em torno da cidade, no qual as ruas
são construídas sobre os cursos d’água ou estes são retificados, através de
canalizações, visando ao saneamento de suas margens. Para Schiel (2003),
esquecemos que todo o ecossistema agregado ao rio, faz parte de nosso meio, do
nosso cotidiano, de nossa história.
A destruição da biodiversidade aos redores de rios e outros cursos d’agua
gera impactos que proporcionam grandes desequilíbrios ambientais que muitas
vezes são irreversíveis. Os ecossistemas apesar de possuírem a capacidade de
regeneração contra inesperados impactos, muitos causados pela própria natureza,
não consegue se regenerar das ações antrópicas sucessivas do homem.
Para Cavalcante (1998) é possível constatar que a sociedade pode
conservar, criar ou até mesmo destruir os recursos naturais, mas não poderá tão
facilmente aumentar o estoque de recursos, pois a prática contínua do processo de
degradação provoca um déficit do patrimônio natural, tornando o processo
irreversível no campo ambiental.
Aguiar et. al (2008) relatam que dentre os ambientes naturais mais
ameaçados e devastados pela a ação antrópica do homem estão os ambientes
lacustres. Esse ambiente é muito vulnerável a impactos externos, o que coloca em
risco a fauna e a flora peculiar a este ambiente.
Dependendo do nível de degradação o ambiente lacustre pode chegar até a
sumir, isso ocorre quando há a mata ciliar é retirada e conseqüentemente o rio
começa a sofrer com o assoreamento, diminuindo cada vez mais seu potencial
hidrológico e seu tempo de vida.
Apesar da existência de leis que visam à preservação e conservação de
ambientes lacustres, a falta de medidas concretas que inibam esse tipo de ação
antrópica nesse ambiente, como: atividades como, expansão urbana, pesca
indiscriminada, grandes empreendimentos e entre outros, que buscam a exploração
econômica, esquecendo a relevância desse ecossistema.
3. Análise sobre a microbacia do Igarapé Grande 3.1 Localização e histórico da ocupação do Igarapé da área de estudo
O igarapé Pricumã está localizado a sudeste da zona urbana de Boa Vista,
possui aproximadamente uma área de 5,7 km a partir da foz até o rio Branco, corta
os seguintes bairros: Asa Branca, Buriti, Cinturão Verde, Jóquei Clube, 13 de
Setembro e Pricumã (Figura 2).
O processo de ocupação da área conforme Chagas (2005) relata, é que até
os anos 80 o igarapé Pricumã se caracterizava por apresentar riqueza e
exuberância, no qual havia a intensa presença da mata ciliar ao longo do seu curso,
fazendo com a comunidade das proximidades da área utilizassem o corpo hídrico
para recreação.
O processo de ocupação da área teve seu início com a implantação dos
bairros Cinturão Verde, Asa Branca e Buritis (zona oeste de Boa Vista) a partir da
década de 60, e mais tarde veio a se intensificar com as invasões principalmente ao
longo do igarapé Pricumã.
O bairro Pricumã conforme Chagas (2005) passou a ser loteado a partir dos
anos 80 através do loteamento de casas populares, já no final dos anos 80 e início
dos anos 90 houve uma intensificação desse crescimento em especial nas
proximidades do igarapé.
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8.
3.2 Avaliação dos Impactos Ambientais
Foram analisados 06 (seis) pontos ao longo do corpo hídrico, considerando
as áreas de ocupação urbana mais intensa, a investigação foi baseada no método
proposto por Amorim & Cordeiro (2004) que utiliza 12 critérios de ocupação que se
subdividem em 15 parâmetros de avaliação, sua pontuação está variada entre os
valores de 1 e 5, sendo que o número 5 é o ideal, ou seja, sem impactos negativos
ao meio ambiente. Já o número 1 indica os maiores impactos negativos e maior
distanciamento em relação ao critério.
O método foi aplicado primeiramente por Amorim e Cordeiro em 2004, no
qual se estabeleceu uma demarcação para avaliação de 50 metros de largura, a
partir do talvegue do curso, consiste em avaliar os seguintes parâmetros: tipo de
ocupação do fundo de vale, permeabilidade do solo, presença da mata ciliar nativa,
presença de áreas florestadas, interconectividade, qualidade da água, enchentes,
inundações, assoreamentos, erosões, alterações na topografia, modificações no
curso d’água, respeito a legislação incidente, permeabilidade, grau de identificação e
valorização pela população e qualidade estética e paisagística do corpo hídrico.
4. Impactos Ambientais Presentes no Igarapé Pricumã
A análise da expansão e crescimento urbano sobre áreas de proteção
ambiental, de igarapés e bacias hidrográficas, expõe os conflitos e contradições
presentes na realização deste processo. Assim essas áreas de proteção ambiental,
até então pouco transformadas pela ação social, ainda objetos da política de
preservação, estão presentes no território como um dado significativo para o
entendimento do processo de fragmentação, expansão e uso da terra urbana.
A partir deste contexto, para Penna (2002) o discurso da carência de
espaços urbanizados e da falta de políticas habitacionais abrangentes, possui um
significado e um caráter social e econômico bem definidos: capturados pelo
mercado, o espaço urbano e a natureza, incorporam as leis do valor e da
mercadoria.
No final dos anos 90 teve inicio o processo de canalização do igarapé
(Figura 3), obra executada pela Prefeitura Municipal de Boa Vista, antes da
introdução do canal de drenagem, o igarapé em certos trechos, perceber-se que o
igarapé, vinha passando por um intenso processo de assoreamento, conseqüência
da retirada da mata ciliar, que tem um importante papel na ecologia e na hidrologia
de uma bacia hidrográfica, pois auxiliam na manutenção da qualidade da água, na
estabilidade do solo, no desenvolvimento e no sustento da fauna silvestre aquática e
terrestre e na regularização dos regimes dos rios através dos lençóis freáticos.
(SEMADS, 2001)
Figura 3: a) Igarapé Pricumã antes do processo de canalização, no final dos anos 90; b) Início do processo de implantação da canalização em 2004. Fonte: Autores
Entretanto, a canalização tem como propósito solucionar os problemas
existentes nos fundos de vales, tem se tornado, muitas vezes, sinônimo de novos
problemas, porque algumas obras têm sido mal planejadas e executadas. Isso
ocorre porque, como afirmam Sudo e Leal (1996) as ocupações dos fundos de vales
têm sido concebidas “como respostas técnicas imediatas para atender a
necessidade premente de urbanizá-los face às pressões imobiliárias e políticas e
não como resultado de uma definição de alternativas baseadas em planejamento
físico-territorial urbano de âmbito global” (p.363).
Este canal já vem sendo feito a mais de quatro anos, já foi gasto quase 12
milhões de reais e a sua conclusão ficou obscura, pois não foi feito junto com os
moradores nenhuma consulta sobre o que realmente seria feito, não foi divulgado
um estudo prévio dos impactos ambientais que obra poderia ocasionar (Figura 4).
E para que haja uma drenagem de um igarapé tem que ser feito um estudo
da área que será drenada, através de um projeto chamado PCA – Plano de Controle
Ambiental, e segundo os próprios moradores, os mesmos nunca foram consultados
por nenhum órgão público, sendo informados apenas pelos outdoors que se
encontravam com os valores da obra e a firma construtora.
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O processo de fragmentação do espaço urbano ocorre porque “A ação
presente, os interesses sobre parte do território, a cobiça, e mesmo as
representações atribuídas a essa parte do território tem uma relação com o valor
que é dado ao que está ali presente” (SANTOS, 1999:18).
Figura 4: Esgoto pluvial, que recebe também efluentes domésticos das moradias no entorno do igarapé; canalização no leito do igarapé. Fonte: Autores, 2007.
Sabe-se que a partir da implantação de um sistema de drenagem resolve-se
um problema sanitário, através do controle do empoçamento e inundações, mas,
cria-se um novo problema ambiental, pois através do lançamento de águas pluviais
nesses cursos d’água, tem uma grande fonte poluidora, tanto pela possibilidade da
criação de esgotos clandestinos, como pela alta quantidade de material suspenso
enviado a esse canal de drenagem através das enchentes. Em geral os principais
poluentes encontrados são: sedimentos, nutrientes, organismos patogênicos,
matéria orgânica, metais pesados e sais.
O fato mais preocupante é que o lixo e o esgoto produzido nas residências
são depositados nas margens e no leito do igarapé o que aumenta a degradação e a
poluição na área, e posteriormente no Rio Branco, refletindo as condições sanitárias
em que vivem as pessoas daquela área, onde sem uma educação ambiental
eficiente e a falta do serviço de coleta de lixo regular, depositam os dejetos
diretamente no Igarapé, destruindo-o lentamente. (Figura 5)
Figura 5: Resíduos e esgotos clandestinos lançados diretamente nas margens do igarapé Fonte: Autores, 2007.
Esses resíduos sólidos urbanos são carregados em meados do igarapé,
contribuindo assim, no acelerando o assoreamento do curso d’água e a eutrofização
que se caracteriza pelo crescimento excessivo das plantas aquáticas, tanto
planctônicas quanto aderidas, a níveis tais que sejam considerados como
causadores de interferências com os usos desejáveis do corpo d’água (VON
SPERLING, 1996) no final do percurso do igarapé, onde desemboca no rio Branco.
Uma vez presente no igarapé, os resíduos sólidos são transportados até a bacia do
rio Branco que conseqüentemente são emaranhados na vegetação ao longo da suas
margens, e a maioria provavelmente é enterrada pelos seus sedimentos trazendo
consigo poluentes, provocando assim, um aspecto antiestético e odores fétidos
(Figura 6a e b).
Figura 6: a) Inicio de processo de eutrofização do igarapé Pricumã, no bairro 13 de setembro; b) Esquema baseado em VON SPERLING (1996) sobre eutrofização em áreas urbanas.
Durante o processo de investigação percebeu-se através do método para
avaliar os impactos ambientais que são muitos os tipos de agressões que o igarapé
do Pricumã vem sofrendo em grande parte da sua extensão, refletidas na
vegetação, volume, fluxo e qualidade da água, aspectos negativos que se mostram
claramente perceptíveis nos primeiros 2000 metros, cujas alterações paisagísticas
são imediatamente reconhecidas e nos permite supostamente dimensionar a
amplitude da degradação que hoje esse recurso hídrico, ao tempo em que
percebemos uma forte tendência ao agravamento das transformações que vem
descaracterizando esse igarapé.
As diferentes formas e intensidade de degradação estão associadas às
implicações na desconfigurações desse recurso hídrico, sendo relevante considerar
os diversos impactos ambientais no trecho estudado tais como: o desmatamento
ciliar ao longo de grande parte do igarapé, melhor onde se observa quase que
totalizada a destruição da sua mata ciliar da margem esquerda proveniente da
ocupação antrópica e, inexistente da margem direita, conseqüentemente provável da
abertura da Rua Parque do Pricumã que apresenta seu “meio-fio” a menos de 5
metros do talude do igarapé.
Conforme a pesquisa in loco, os entrevistados relataram que tem noção de
quem deve cuidar e preservar o igarapé, apenas há uma falta de ação para acionar
estes, do acordo com o gráfico 70% acha que a população é a culpada pela a
poluição do igarapé e 30% a prefeitura (Figura 7).
Figura 7: Responsabilidade pelos impactos ambientais no igarapé segundo os moradores. Fonte: In loco, 2008.
Dessa forma conforme Ikuta (2007), a degradação ambiental urbana está
associada a este modelo de ocupação territorial, que apresenta especificidades nos
fundos de vales e cuja análise permite compreender a degradação destas áreas e a
busca e exploração de novos mananciais.
Sabe-se que todo município tem que fazer seu plano diretor, e que este deve
contar com a participação de equipes multidisciplinares, permitindo o apoio da
sociedade, bem como ser dotado com base na legislação, o que lhe confere um
peso político, garantindo a qualidade ambiental e social.
Segundo Frendrich e Malucelli (2004), para preservação e recuperação dos
igarapés em áreas urbanas, devem ser considerados importantes na elaboração do
Plano Diretor:
Recolocar os moradores das áreas impróprias para proteção da população
contra as enchentes urbanas e nas áreas não ocupadas, fazer um
planejamento para infra-estrutura necessária, garantindo a manutenção da
fauna e da flora;
Executar melhorias urbanas que possam garantir a qualidade de vida, caso
não ocorra a retirada da população ao longo da drenagem. E em novas
ocupações, respeitar a faixa de drenagem, a fim de evitar invasões ao longo
do leito maior.
Elaborar zoneamento das áreas de várzeas, definindo usos compatíveis.
Evitar canalizações e retificações de igarapés e rios.
Revegetar as matas ciliares no entorno dos canais, a fim de evitar processos
erosivos.
Promover maior integração entre as instituições públicas, que são
responsáveis pela drenagem urbana, favorecendo melhorias nas condições
de fiscalização e controle.
Incentivar a educação ambiental, em todos os níveis.
Melhorar os serviços de limpeza, evitando o lançamento de resíduos sólidos
urbanos e a deterioração da qualidade da água.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Infelizmente o estado de Roraima assim como outros estados, ainda não
possui uma política de recursos hídricos, o que vem gerando o intenso processo de
deterioração dos igarapés urbanos, levando as políticas públicas a não conseguirem
resolver os problemas de ocupação ao longo das margens dos igarapés e a
recuperação das áreas degradadas, no caso a vegetação ciliar.
Atitudes como o protecionismo governamental, que muitas vezes possibilitou o
uso indiscriminado do solo através da permissão do avanço imobiliário formal
(loteamentos) e informal (invasões) em áreas ambientalmente inviáveis como o leito
de rios e igarapés, atrelado à carência de saneamento básico sem perspectiva de
melhora, precisam ser revertidas.
Para reverter este quadro ou pelo menos estacioná-lo precisam ser tomadas
ações responsáveis e articuladas em diversos níveis de governo e sociedade em
busca do desenvolvimento da consciência ecológica local, da preservação e
recuperação dos mananciais ainda existentes na cidade, sendo estabelecida uma
política voltada para a sustentabilidade dos recursos hídricos e buscando restaurar o
equilíbrio hídrico e ecológico local.
Assim, deve-se considerar dentro dessa perspectiva política, os sistemas
hídricos como sistemas hidro-sócio- econômico, voltados para o ideal de
sustentabilidade, fortalecendo a capacidade de planejamento, gestão democrática,
incorporando a participação da sociedade.
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