Download - Jornal CBHSF | Janeiro 2014 | nº 14
Jornal do comitê da bacia hidrográfica do rio são francisco | Janeiro 2014 | nº 14
Em Nota Pública aprovada por unanimidade em sua última
plenária, em Recife, o Comitê do São Francisco volta a criticar a
postura individualista do setor elétrico ao requerer a prorrogação
nota pública contra vazão reduzida marca plenária do cbhsf
O drama da transposição
na visão de João Abner
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Universidade de Berlim
estuda o São Francisco
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ccrs prestam conta de realizações
Os representantes das quatro Câmaras Consultivas Regionais aproveitaram a participação na XXIV Plenária Ordiná-ria do CBHSF, que aconteceu entre 5
e 6 de dezembro em Jaboatão dos Guararapes, na Grande Recife, para prestar contas das atividades desenvolvidas em suas regiões. Cada CCR mostrou o que vem realizando em prol da revitalização da bacia do São Francisco, especialmente por meio das obras hidroambientais executadas com recur-sos advindos da cobrança pelo uso das águas do Velho Chico.Primeiro a falar, o coordenador da CCR do Alto São Francisco, Márcio Pedrosa, detalhou cada um dos projetos realizados na sua área de abrangên-cia – que envolve cerca de 110 mil km2 –, citando o exemplo de municípios mineiros como Pirapora, onde as obras focaram especialmente a recuperação de nascentes, e Guaraciama, onde o projeto realiza-do tem sido alvo de premiações: “Lá, temos feito um trabalho muito grande com o produtor rural”, disse o coordenador. Já o coordenador da CCR do Médio São Francis-co, Cláudio Pereira, além de fazer um balanço das obras realizadas ou em realização, manifestou pe-rante a plenária uma grande preocupação: “O São Francisco está sofrendo uma onda de contamina-
ção na nossa região. Os peixes aparecem mortos e muita gente está sendo hospitalizada. Precisamos tomar uma atitude sobre isso”, disse, recebendo do secretário do CBHSF, José Maciel Oliveira, a pro-messa de que o assunto será alvo de uma reunião, já agendada pelo Comitê com o Ministério Público da Bahia. A CCR do Submédio São Francisco, representada pelo secretário Elias Silva, (pela ausência do coor-denador Uilton Tuxá), evidenciou o grau de satis-fação das comunidades beneficiadas com as obras hidroambientais na região. “Muitos projetos não são grandes, mas têm um efeito grande para aque-las populações. No município de Brejinhos (PE), o prefeito chegou a manifestar interesse em firmar uma parceria com o Comitê para replicar o modelo que adotamos para as obras hidroambientais em outras áreas do município”. Finalmente, o coordenador da CCR do Baixo São Francisco, Antônio Avânio Feitosa, que assumiu há pouco tempo a função, manifestou a sua disposi-ção em buscar o apoio das prefeituras de sua re-gião para as ações do Comitê: “É muito impor-tante a relação mais próxima com os prefeitos. Eu me comprometi em concentrar todas as minhas forças para trazer as prefeituras para esta luta”. Segundo ele, um dos caminhos para
Coordenação geral: Malu Follador
Projeto gráfico e diagramação: CDLJ Publicidade
Edição: Antonio Moreno
Textos: Antônio Moreno, Ricardo Coelho, Delane Barros e Wilton Mercês.
Fotos: Wilton Mercês, Leonardo Ariel.
Produzido pela Assessoria de Comunicação do CBHSF
Este jornal é um produto do Programa de Comunicação do CBHSF Contrato nº 07/2012 — Contrato de Gestão nº 014/ANA/2010— Ato Convocatório nº 043/2011. Direitos Reservados. Permitido o uso das informações desde que citada a fonte.
a continuidade da vazão reduzida no Velho chico O
Comitê da Bacia Hidro-gráfica do Rio São Fran-cisco manifestou mais uma vez a sua grande
preocupação com a questão da vazão reduzida no Velho Chico. O assunto veio à tona de uma forma inesperada durante a programação da XXIV Ple-nária Ordinária do CBHSF, realizada no início de dezembro em Jaboatão dos Guararapes, na Grande Recife (PE). Logo no começo do evento, o Comitê recebeu a informação de que a vazão reduzida para 1.100m3/s ha-via sido novamente autorizada pela Agência Nacional de Águas – ANA, com prorrogação de mais um mês, a pedido do setor elétrico nacional.A falta de discussão sobre adoção de medida tão extrema foi alvo inclu-sive de uma Nota Pública aprovada pelo CBHSF, por unanimidade, no segundo dia do evento. Além dessa questão, a plenária teve uma progra-mação baseada em palestras de es-tudiosos convidados apresentações das Câmaras Consultivas Regionais e debates sobre a revitalização do rio São Francisco. Esta edição do Notícias do São Fran-cisco tem ainda como destaque uma matéria sobre mais um afluente do São Francisco, o rio Salitre, na Bahia, e apresenta uma entrevista com a pes-quisadora e engenheira agrônoma alemã Marianna Siegmund-Schultze, da Universidade de Berlim, responsá-vel pelo projeto de pesquisa científi-ca que tem como alvo a bacia do São Francisco e o trabalho do CBHSF.
Editorial
Claudio Pereira alertou para problema de contaminação das águas do Velho Chico
NOTÍCIAS DO SÃO FRANCISCO 3
abner critica obras da transposição
“A transposição do rio São Francisco já é uma instituição”, re-velou o engenheiro
civil, hidrólogo e professor da Uni-versidade Federal de Rio Grande do Norte – UFRN, João Abner Guima-rães Junior, durante a sua apresen-tação na XXIV Plenária Ordinária do CBHSF, realizada no último mês de dezembro na cidade de Jaboatão dos Guararapes, na Grande Recife (PE).O técnico definiu como “interminá-vel” a obra do governo federal, que teve início em 2005 para beneficiar os estados do Rio Grande do Nor-te, Paraíba, Pernambuco e Ceará e, até o momento, alcançou apenas a marca dos 51% das obras concluí-das, segundo dados do Governo Fe-deral. Para ele, o mau planejamento do projeto faz com que seja “levado água para duas das maiores barra-gens do Nordeste de forma desne-cessária, uma vez que nesses locais já se encontra água em abundân-cia”, declarou, referindo-se ao esta-do do Ceará, um dos beneficiados do projeto.Abner destacou que todo o viés do projeto altera a matriz energética do Nordeste, principalmente das
regiões contempladas, resultando no aumento do custo da energia do Sistema Nacional. “Os altos custos com energia para bancar o funciona-mento das bombas que puxam água dos açudes até as comunidades já es-tão endividando agricultores e preju-dicando a produção deles”, disse. O professor salientou ainda que, di-ferentemente do que se veicula na grande mídia, as obras continuam em andamento e não estão aban-donadas, devendo gerar, em breve, conflitos pelo uso da água. “Dentro da bacia do São Francisco não existe viabilidade dos perímetros irrigados – áreas loteadas entre agricultores com estrutura de irrigação pública –, o que impossibilita a leva das suas águas. Daqui a quatro ou cinco anos, quando as obras estiveram funcio-nando, os conflitos internos co-meçarão”, pontuou ele, que expôs ao público os gastos das obras inicialmente orçados em R$ 5,5 bilhões, e que hoje ultrapassam o valor de R$ 8,5 bilhões.O estudioso destacou a importância do CBHSF dentro do projeto. “O Comitê do São Francisco tem que se manifestar e saber o que ocor-re. As obras devem possuir um norte, e o CBHSF, principalmente
com a revisão do plano da bacia, é fonte essencial para o melhora-mento disso“, concluiu João Abner.QuestionamentosApós a apresentação do técnico, alguns questionamentos foram le-vantados pelo colegiado do CBHSF. “As informações não procedem. Não são oficiais. Suposições foram levantadas de forma equivocada, e gostaria de expor, quando pos-sível, dados oficiais do governo”, opõe-se José Luiz de Souza, re-presentante do Ministério da Integração Nacional,, órgão res-ponsável pela execução das obras.O professor da Universidade Fede-ral da Bahia – Ufba, Marcelo Latuf, parabenizou a apresentação do especialista e revelou o seu des-contentamento com relação ao tratamento que vem sendo dado às organizações técnicas, de ensino e pesquisa dentro do Comitê. “Essa não é a primeira vez que as univer-sidades são desmerecidas aqui no plenário. Gostaria apenas que fosse respeitada a opinião e o estudo de pessoas que lutam em prol dessa bacia”, defendeu ele.O presidente do CBHSF, Anivaldo Miranda, fez questão de elogiar a apresentação do hidrólogo. “João
Convidado especial da XXIV Plenária Ordinária do CBHSF, o professor
João Abner, da Universidade Federal do
Rio Grande do Norte, critica a “interminável”
obra da transposição do São Francisco,
antevendo para breve grandes conflitos em
relação ao uso da água.
O hidrólogo João Abner prevê conflitos entre usuários da água por causa da transposição
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Vazão reduzida domina debates durante a plenária do cbhsfRevitalização, vazão reduzida, Plano Decenal da Bahia e saneamento básico foram alguns dos assuntos tratados pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco – CBHSF
durante a XXIV Plenária Ordinária, que aconteceu em Jaboatão dos Guararapes, na Grande Recife,
entre 5 e 6 de dezembro último, mobilizando os membros do colegiado e alguns convidados.
Bastante produtiva em suas discussões, a plenária foi marcada pela polêmica decisão da Agência
Nacional de Águas – ANA em conceder a prorrogação por mais 30 dias da vazão reduzida
no São Francisco, a partir das barragens de Sobradinho (BA) e Xingó (SE).
Embora “em caráter excepcio-nal”, a prorrogação da vazão mínima de até 1.100m3, se-gundo ofício assinado pelo
presidente da ANA, Vicente Andreu, visa a atender ao quadro problemático vivido atualmente pela região nordes-tina em vista da estiagem prolonga-da, com precipitações pluviométricas abaixo da média. Segundo Andreu, esta será a última autorização conce-dida pela ANA para a prática de vazão reduzida, pelo menos nos moldes em que vem acontecendo. “Finalizado o novo prazo (concedido até o dia 31 de dezembro de 2013), somente será per-mitida autorização para a prática de vazões defluentes inferiores a 1.300m3 em Sobradinho e Xingó, após encami-nhamento do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) e apreciação pela ANA de proposta de estabelecimento de regras gerais de operação de reser-vatório da cascata do rio São Francisco em situação de baixo armazenamen-to”, diz o documento, lembrando que a Chesf deverá promover ampla divulga-ção da continuidade da medida, sobre-
tudo nas cidades do Médio e Submé-dio São Francisco.A notícia de continuidade da vazão reduzida foi recebida com indignação pelo presidente do CBHSF: “Mais uma vez o setor elétrico envia o pedido para manutenção da vazão reduzida, que já dura sete meses, sem mostrar interesse em dialogar com os atores envolvidos e especialmente com o Comitê, que re-presenta os diversos usuários de água da bacia do São Francisco. Não se trata de ser, simplesmente, contra a medida que prolonga a redução. O que quere-mos é que a questão seja discutida por todos e que seja dado o tratamento compensatório aos vários segmentos atingidos pela medida”, disse Anivaldo Miranda.Como lembrou o presidente, sendo em diversas oportunidades apoiado por relatos da realidade vivida em diversas regiões da bacia, a vazão reduzida tem causado diversos problemas tanto às populações ribeirinhas do Velho Chi-co, localizadas a jusante das duas bar-ragens (especialmente no Baixo e no Submédio São Francisco), como para
Presidente do CBHSF, Anivaldo Miranda, em seu pronunciamento
NOTÍCIAS DO SÃO FRANCISCO 5
Próxima plenária será em Belo HorizonteConcorrendo com a capital sergipana, Aracaju, a cidade de Belo Horizonte, Mi-nas Gerais, será sede da próxima plenária do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), que acontecerá entre os dias 15 e16 de maio do pró-ximo ano. A cidade foi escolhida no encerramento da XXIV Plenária Ordinária do CBHSF.
Dia Nacional de Defesa do Rio São FranciscoOutro resultado advindo da XXIV Plenária Ordinária foi a aprovação da ideia de uma grande mobilização nacional em prol do Velho Chico. A mobilização, inti-tulada Dia Nacional de Defesa do Rio São Francisco, ocorrerá no dia 3 de junho (dentro da Semana Internacional do Meio Ambiente) e, além do CBHSF, deverá contar com a participação de instituições diversas sediadas no âmbito da bacia, além de representantes dos segmentos produtivos e das populações ribeirinhas.A ideia, como explicou o presidente Anivaldo Miranda, não é lutar contra nin-guém, mas criar uma grande manifestação, envolvendo todas as regiões da ba-cia, que chame a atenção do país para o estado de abandono e degeneração do São Francisco. Além disso, a mobilização deverá focar como bandeiras a defesa por uma nova matriz energética para a bacia, a necessidade de maior participa-ção do Comitê e da sociedade no Programa de Revitalização do Rio São Francisco, a celebração do Pacto das Águas e a revisão do atual sistema de outorga.
Vazão reduzida domina debates durante a plenária do cbhsf
O Comitê da Bacia Hidrográfica
do Rio São Francisco – CBHSF,
reunido em sua XXIV Reunião
Plenária na cidade de Jaboatão
dos Guararapes (PE), recebeu
com redobrada preocupação
a notícia da prorrogação, por
mais um mês, da redução das
vazões do rio de 1.300m3/s para
1.100m3/s, o que vai prolongar
ainda mais os visíveis impactos
socioambientais que tal
medida causa ao ecossistema
e às populações ribeirinhas,
além das perdas econômicas
que provoca, atingindo um
amplo espectro de segmentos
usuários das águas, a exemplo
da pesca, abastecimento de
água, irrigação e navegação.
Além da preocupação com essa
prorrogação, o CBHSF lamenta
que, mais uma vez, o Comitê
de Monitoramento do Setor
Elétrico (CMSE) tenha solicitado
essa prorrogação no final do
último dia de prazo para essa
prática de reduções das vazões
abaixo da vazão mínima de
restrição prevista legalmente.
Tal atitude revela mais uma
vez que tais medidas extremas
continuam a ser adotadas na
contramão dos princípios da
Lei 9.433, a Lei Nacional das
Águas, sobretudo no que diz
respeito à gestão democrática e
participativa das águas.
O CBHSF não desconhece
as condições atualmente
adversas dos principais
reservatórios da Bacia
Hidrográfica do Rio São
Francisco. Todavia, lamenta
que decisões unilaterais do
setor elétrico sejam adotadas
sem que se dê oportunidade ao
universo dos demais usuários
das águas de participar do
processo decisório com vistas
à busca de alternativas menos
impactantes para a solução
dos impasses da geração de
energia.
O CBHSF lamenta, igualmente,
que os danos causados aos
demais usuários pelo uso
hegemônico que o setor elétrico
faz das águas franciscanas, não
sejam objeto, até agora, no caso
das reduções em debate, das
devidas ações compensatórias.
Finalmente, o CBHSF reitera
a urgente necessidade
da elaboração de regras
claras para a prática dessas
reduções traumatizantes e
de um processo de médio e
longo prazos que modifique
a atual matriz energética
sanfranciscana, com vistas a
uma diversificação sustentável
dessa matriz capaz de livrar o
rio São Francisco das enormes
ameaças que lhe causam essas
reduções que, de emergenciais,
agora se tornaram efetivamente
recorrentes.
NOTA PÚBLICA
o desenvolvimento de atividades produtivas, como pesca, agricultura e navegação. Membros aprovam Nota Pública Um dos resultados decorrentes da plenária do CBHSF foi a nota pública, aprovada por unanimidade, em desa-
gravo à prática de vazões reduzidas nas águas do Velho Chico para atender às demandas do setor elétrico nacional, sem que haja discussão sobre os refle-xos da medida na população ribeirinha e seus segmentos produtivos. A nota veio em consequência da mais recen-te autorização da Agência Nacional de
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Fluviais
Codevasf quer fortalecer pesca artesanalA Companhia de Desenvolvimento dos
Vales do São Francisco e do Parnaíba
– Codevasf realizou no último mês de
novembro a soltura de espécies nativas da
bacia hidrográfica do rio São Francisco em
matas alagadas do município ribeirinho de
Piaçabuçu (AL), no Baixo São Francisco.
O objetivo da ação é fortalecer a pesca
artesanal e beneficiar inúmeros moradores
que dependem do exercício da profissão
para sobreviver. Entre as espécies que
foram lançadas no rio estão o Xirau
e o Piau. Os peixamentos realizados
pela Codevasf integram as ações de
repovoamento de bacias hidrográficas
dentro do Programa de Revitalização
do Rio São Francisco. Também em
novembro, o município mineiro de
Iguatama foi agraciado com a ação,
levando para as águas do Velho Chico a
espécie Curimatã-Pacu.
Sergipe discute sobre turismoA Secretaria de Estado do Turismo de
Sergipe – Setur discutiu no último mês de
dezembro possíveis ações de dinamização
e sustentabilidade no turismo do rio São
Francisco, com destaque para a região do
Baixo São Francisco.
O projeto, denominado “Caminhos do
São Francisco”, é uma parceria entre os
estados de Alagoas e Sergipe, e prevê a
criação de uma nova rota turística que
contemplará 24 municípios ribeirinhos
através de ações de planejamento da
demanda turística para estruturar o
fortalecimento dos serviços existentes,
além de promover a comercialização
e a geração de trabalho e renda das
populações que residem às margens do
Velho Chico.
Os municípios agraciados são: em
Sergipe: Brejo Grande, Ilha das Flores,
Neópolis, Santana do São Francisco,
Propriá, Amparo do São Francisco,
Canhoba, Nossa Senhora de Lourdes,
Gararu, Porto da Folha, Poço Redondo e
Canindé do São Francisco: e em Alagoas:
Piaçabuçu, Penedo, Igreja Nova, Porto Real
do Colégio, São Brás, Traipu, Belo Monte,
Pão de Açúcar, Piranhas, Olho d’ Água do
Casado, Delmiro Gouveia e Água Branca.
Uma mostra para os ChicosContinua aberta ao público belo-horizontino até fevereiro de 2014 a exposição
multimídia “Os Chicos – O Rio São Francisco me contou...”, que narra, sob o olhar do
jornalista Gustavo Nolasco e do fotógrafo Leo Drumond, ambos mineiros, um pedaço
da história do conhecido rio da integração nacional, a partir da narrativa das próprias
pessoas que vivem às suas margens.
O trabalho rendeu anteriormente um livro chamado “Os Chicos – Prosa e Fotografia”,
e é resultado de cinco anos de pesquisa e de aproximadamente 2.700 quilômetros
percorridos pelos autores ao longo do Velho Chico.
A mostra ficará exposta na Galeria de Artes Gráficas e Fotojornalismo do Oi Futuro,
na cidade de Belo Horizonte (MG), até 2 de fevereiro de 2014, sempre de terça a
domingo, das 11h às 18h. A entrada é franca.
Ponte sobre o rio São FranciscoO Tribunal de Contas da União – TCU aprovou no último mês de dezembro a
execução das obras no lote 5A da Ferrovia de Integração Oeste–Leste – Fiol, trecho
que contempla a construção da ponte sobre o rio São Francisco, localizado entre os
municípios baianos de Serra do Ramalho e Bom Jesus da Lapa.
Sob a responsabilidade da Valec – Engenharia, Construções e Ferrovias S.A. – empresa
controlada pelo Ministério dos Transportes –, a ponte terá extensão de 2,9 quilômetros
e 42,32 metros de altura, tendo investimentos do governo federal da ordem de R$ 135
milhões. Os serviços terão início já no primeiro trimestre de 2014. A conclusão
está prevista para ocorrer em até 24 meses.
A Ferrovia de Integração Oeste–Leste se constituirá num eixo ferroviário que
dinamizará o escoamento da produção de minério de ferro e grãos entre os
estados da Bahia e Tocantins, servindo de elo para interligar aquelas regiões
aos outros polos do país.
Balanço da TransposiçãoO ministro da Integração Nacional, Francisco José Coelho Teixeira, afirmou neste
mês de dezembro, diante da audiência pública promovida pela Comissão Externa
para Acompanhar os Programas de Transposição e Revitalização do Rio São
Francisco, no Senado Federal, que as obras da transposição das águas do rio
São Francisco alcançaram a marca de 51,2% dos trabalhos concluídos, devendo
ser entregues até o final de 2015.
Na ocasião, o ministro fez um balanço dos gastos com as obras, que
já ultrapassam a ordem de R$ 4 bilhões, empregando cerca de 7.760
trabalhadores. O programa do governo federal, que teve início em 2005,
pretende beneficiar os estados do Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e
Ceará com as águas da bacia do São Francisco.
NOTÍCIAS DO SÃO FRANCISCO 7
Uma bacia marcada por conflitos pelo uso da água. Assim é conhecida a Bacia Hidrográfica do
Rio Salitre, localizada no centro-norte do estado da Bahia, na região do Sub-médio São Francisco. Afluente direto do rio São Francisco, e tendo sua extensão territorial defi-nida em 13.467,93 km², o Salitre está situado a leste do rio Itapicuru, a oes-te dos rios Verde/Jacaré e ao sul do rio Paraguaçu, abrangendo, em sua tota-lidade, nove municípios baianos. Sua nascente encontra-se na localidade conhecida como Boca da Madeira, no entorno do Parque Estadual Mor-ro do Chapéu, também em território baiano. Historicamente, entre as décadas de 1970 e 1980, a discussão inicial pelo uso equacional das águas da bacia resultou em inúmeras mortes no Vale do Salitre, uma vez que a terra rica em calcário e granito acabou atraindo inúmeros agricultores, irrigadores e pecuaristas para a região, conhecida pela excelente permeabilidade dos seus solos. Todo esse excesso no con-sumo agravou a escassez de água no rio, sucedendo a novos conflitos que perduram até os dias atuais, princi-palmente por causa da questionável
gestão estadual de recursos hídricos."A ausência de verbas e de uma in-fraestrutura definida – a secretaria executiva do comitê é de respon-sabilidade do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos /Ine-ma – faz com que o CBH dialogue persistentemente com o Estado na tentativa de melhorias para a ba-cia.”, segundo afirma o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Salitre – CBH Salitre, Almacks Luiz Silva.
O CBH SalitreOficialmente criado em dezembro de 2006, o CBH Salitre é um órgão colegiado composto pelos seg-mentos do poder público, usuários da água e sociedade civil organiza-da, totalizando 36 membros, entre titulares e suplentes. A diretoria é constituída atualmente pelo presi-dente Almacks Luiz Silva, pelo vice José Carlos Martins de Oliveira e pelo secretário José Humberto Félix de Souza. Toda mediação de conflitos pelo uso da água é atribuição do CBH, que, apesar da pouca ou nenhuma estrutura física e ajuda financeira, já alcançou feitos consideráveis para o local. “Conseguimos nos
articular politicamente com di-versos entes da esfera municipal, estadual e federal, culminando na aplicação de capacitações técni-cas em prol da bacia, bem como na revisão do regimento interno e na construção do termo de re-ferência do plano de bacia”, diz o presidente. Segundo ele, a grande discussão que se faz em nível da bacia é na tentativa de consolidar o papel do comitê. “Utilizamos meios de co-municação locais para introduzir o CBH Salitre como protagonista no debate das políticas hídricas. É necessário esse entendimento entre as comunidades ribeirinhas”, comenta.
Desafios constantes
“Queremos apenas que o comitê do Salitre seja efetivado com a im-plementação dos instrumentos da lei federal nº 9.433/2007 e que se-jam cumpridas as deliberações im-postas pelo colegiado, além, é claro, da continuidade do nosso plano de bacia, que hoje se encontra parado por conta da ineficácia do estado”, salienta Almacks Silva. Por outro lado, a antiga e boa rela-ção entre o CBH Salitre e o Comitê do São Francisco já vem proporcio-nando benfeitorias à bacia do Salitre. “A aplicação de recursos da cobrança pelo uso da água em projetos hidro-ambientais e na elaboração de pla-nos de saneamento em municípios da região tem contribuído conside-ravelmente para a recuperação da qualidade das águas”, destaca o presi-
Conhecida historicamente por conflitos pelo uso da água, a bacia do rio Salitre é um importante
provedor de águas do estado da Bahia, percorrendo nove municípios ao longo dos seus 13.467,93 km2 de
extensão. Tendo como grande desafio a efetivação dos instrumentos da Lei 9.433/2007, bem como a
integração, em conjunto com o CBHSF, de melhorias ambientais, o CBH Salitre atesta a eficácia na gestão
descentralizada das águas desse importante rio tributário do Velho Chico.
avançando com dificuldade
Afluentes | Salitre
Almacks quer consolidar na região o papel do Comitê
municípios banhados pelo salitre
Várzea Nova, Ourolândia, Campo Formoso, Mirangaba, Umburanas, Jacobina, Juazeiro, Miguel Calmon, Morro do Chapéu.
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Qual o objetivo da pesquisa?Temos o objetivo geral de buscar for-mas de governança que promovam, ao mesmo tempo, o uso sustentável dos recursos naturais e a viabilidade econômica das atividades rurais lo-cais. O objetivo é bem abrangente, vamos poder contribuir só parcial-mente. Estamos estudando a situação do uso da água e da terra e testamos futuras opções de manejo e gover-nança desses recursos naturais. Os pesquisadores são das ciências natu-rais, exatas e humanas. Acreditamos que este conjunto heterogêneo con-tribui para uma avaliação crítica e pro-veitosa dos desafios da região, entre disciplinas diferentes e com o público interessado. O foco está no lado per-nambucano da região do reservatório de Itaparica, mas para contextualizar analisamos também a bacia hidro-gráfica do rio São Francisco como um todo.
De quanto será o investimento no tra-balho?O investimento é grande e envolve energia, tempo, muita vontade e tam-bém dinheiro. O projeto é financiado, do lado alemão, pelo Ministério de Educação e Pesquisa da Alemanha, em torno de 5 milhões de euros. O lado brasileiro é financiado por um mosaico de vários fundos. Por exem-
plo, o Ministério da Ciência e Tecno-logia, por meio do CNPq [Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientí-fico e Tecnológico], a Universidade Fe-deral de Pernambuco, a Universidade Federal Rural de Pernambuco e o Ins-tituto Federal de Pernambuco estão sustentando trabalho de campo, en-quanto a maioria das bolsas vem do CNPq, Facepe [Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco] e Capes [Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior].
Por que o interesse do grupo pelo Co-mitê do São Francisco?O CBHSF é extremamente interes-sante para nós, de um lado, como parte do Sistema Nacional de Ge-renciamento de Recursos Hídri-cos. Pretendemos estudar formas de governança e o colegiado faz parte disto. Entender o seu funcio-namento, desafios e sucessos vai ajudar-nos a avaliar formas de go-vernança. Do outro lado, a plenária do Comitê reúne vários atores da bacia. O diálogo com estes atores é muito valioso para as várias linhas de pesquisa do nosso projeto. Sen-timos um interesse dos integrantes da plenária nos resultados futuros dessa pesquisa. E a qualidade da pesquisa também depende do di-
álogo com os atores envolvidos − usuários dos recursos naturais, so-ciedade civil e poder público.Qual a aplicação prática da pes-quisa na bacia?Começamos em 2012 e a previsão é continuar até final de 2016. Pre-tendemos elaborar diretrizes que apresentem de forma bem acessível os elementos que foram estudados. Isto poderia servir para aplicações em níveis bem distintos. Por exem-plo, um grupo estuda alternativas para melhoria da qualidade do solo. Se esta pesquisa gerar resulta-dos promissores, isto já poderá ser adotado em alguns lotes da região. Outro exemplo: as modelagens da qualidade e quantidade da água da bacia, comparando cenários prová-veis do futuro, poderão vir a comple-mentar os prognósticos das mudan-ças climáticas na região. De forma geral, os resultados poderão servir de apoio ao processo de tomada de decisões, mostrando opções em cir-cunstâncias complexas.
Quais os pontos que se pretendem mensurar na pesquisa?Já está sendo mensurada uma série de parâmetros, principalmente nos municípios de Petrolândia, Itacuru-ba e Floresta. Temos campanhas de amostragem de água, sedimentos
e macrófitas, bem como medição de gases de efeito estufa no reser-vatório de Itaparica; mensuramos características do solo; estamos ca-talogando e monitorando a ocorrên-cia de anfíbios e plantas da caatinga; fizemos em torno de 300 entrevistas com pescadores tradicionais e peque-nos produtores dentro e fora dos perí-metros irrigados; realizamos inúmeras entrevistas com lideranças locais e uma série de oficinas com a comuni-dade local. Também utilizamos dados secundários, por exemplo, dados his-tóricos de vazões e os planos diretores existentes na região.
Quantas pessoas estão envolvidas no trabalho e qual o papel de cada uma?Somos um grupo bem grande: em torno de 100 pesquisadores, me-tade de brasileiros, metade de ale-mães. Temos a nossa “Direc” (como é a estrutura do Comitê): compos-ta da coordenação do projeto, em que eu faço parte, e os líderes ale-mães e brasileiros dos sete sub-projetos, digamos, as “câmaras” (gestão da água; uso do solo; téc-nicas de reúso; biodiversidade; so-cioeconomia; modelagem e o gru-po de apoio à tomada de decisão). Cada líder de subprojeto se comu-nica com os seus pesquisadores de distintos grupos temáticos. A maior
a bacia sob o olhar acadêmico
Entrevista | Marianna Siegmund-Schultze
O trabalho desenvolvido pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São
Francisco e a riqueza que representa a bacia em si serão temas de estudo
por parte de pesquisadoras da Universidade de Berlim, na Alemanha, em
parceria com técnicas da Universidade Federal de Pernambuco. Durante
a plenária do CBHSF, realizada no início de dezembro em Jaboatão dos
Guararapes, na Grande Recife (PE), a engenheira agrônoma Marianna
Siegmund-Schultze, da Universidade de Berlim, responsável pelo trabalho,
apresentou os detalhes do projeto de pesquisa científica. As atividades
práticas devem começar em janeiro de 2014 e se estender até 2016. O
objetivo é identificar questões técnicas que contribuam na gestão da bacia.
Um dos itens a serem estudados é a identificação do volume atual de
água na bacia e qual a perspectiva para o futuro. A iniciativa tem à frente o
Instituto Innovate, cuja sede fica na Alemanha, que desenvolve 12 projetos
internacionais, sendo dois deles no Brasil.