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V ENCONTRO BRASILEIRO DE EDUCAÇÃO E MARXISMO MARXISMO, EDUCAÇÃO E EMANCIPAÇÃO HUMANA
11, 12, 13 E 14 de abril de 2011 – UFSC – Florianópolis – SC - Brasil LIBERALISMO E (NEO)LIBERALISMO: UM BREVE BALANÇO NECESSÁRIO
Carolina da Silva Frade
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Resumo:
O liberalismo enquanto projeto societário burguês que busca se constituir
continuamente hegemônico se apresenta de diferentes formas em determinados momentos
históricos e formações sócio-econômicas. Orientados pelo princípio de “liberdade”, insere-
se nos aspectos econômico, políticos e sociais, configurando uma sociabilidade que
objetiva conformar os sujeitos à Ordem do Capital. As bases do liberalismo clássico se
derruem com o avanço do sistema capitalista, marcado pelo avanço da luta de classes, pela
emergência da classe trabalhadora, na luta pelo seu reconhecimento enquanto sujeito
político na ordem do capital. Esse grau de maturidade da classe trabalhadora é atingido na
fase monopólica, em que se demanda um complexo de regulações que vão de encontro
com o liberalismo clássico. Nesse sentido, analisar quais são os seus elementos fundantes e
desvelar e apreender como este projeto se apresenta na contemporaneidade se faz mais do
que necessário para que se possa constituir o projeto societário contra-hegemônico por
meio da ideologia da maturidade do proletariado.
Palavras-chave: liberalismo, neoliberalismo e marxismo
1 - Introdução
O presente trabalho tem como objetivo fazer um breve balanço dos elementos
fundamentais e da história do liberalismo e do neoliberalismo enquanto projetos societários
burgueses que buscando se tornar hegemônicos em diferentes períodos históricos, eles se
inserem nos aspectos econômicos e políticos da vida social, intervindo com um princípio
norteador: a liberdade.
O liberalismo clássico não é um sistema homogêneo, mas como aponta Netto
(1995), é tensionado internamente, isto porque este “fenômeno” apresenta características
próprias de acordo com as formações sócio-econômicas, na qual ele se insere, bem como
por diferentes concepções político-econômicas. Portanto, temos que ter o cuidado para não
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afirmarmos várias histórias paralelas de diversos liberalismos ou tentar construir um
modelo unificado, descaracterizando suas diferenças.
Segundo Bobbio, “O liberalismo é, como teoria econômica, defensor da economia
de mercado; como teoria política, é defensor do Estado que governe o menos possível ou,
como se diz hoje, do Estado mínimo (isto é, reduzido ao mínimo necessário)” (2000, p.
128). Portanto, o liberalismo enquanto sistema faz a defesa de um determinado tipo de
economia e um determinado tipo de política, que se articulam na defesa da sociedade
burguesa.
Enquanto sistema político, o liberalismo marca a emergência de uma forma
específica de governo, a democracia liberal, que, por receber o título de liberal, se
distingue das democracias utópicas que se legitimavam sobre uma sociedade sem classes
ou de classe única (Macpherson, 1978). Contudo, como identifica Netto (1995), há uma
confusão entre liberdades e liberalismo e uma frequente identificação de liberalismo com
democracia, retirando das conquistas democráticas a luta de classes que as possibilitou.
2 – Liberalismo: a base de fundação do projeto burguês de sociabilidade
Um primeiro ponto a ser levantado sobre o liberalismo é a dificuldade de defini-lo
devido à variedade de concepções que o circundam. O liberalismo clássico, enquanto um
sistema político-econômico é tensionado por diferentes concepções político-econômicas,
altamente marcadas pelas luta de classes que permearam as formações sócio-econômicas
em que se instaurou.
O liberalismo articula-se com a emergência da burguesia enquanto sujeito político
revolucionário que traz as bases teórico-culturais que vão conformar a dinâmica de
transição do feudalismo para a acumulação primitiva de capital. Seus eixos teóricos
fundamentais têm por base o livre mercado posto que este seria a instância reguladora da
vida social por meio da chamada mão-invisível e um Estado que seria o guarda-noturno
dos direitos individuais dos sujeitos sociais e da dinâmica do mercado, como também da
sua livre iniciativa. Portanto, a história do liberalismo encontra-se intimamente ligada a
história das democracias liberais, mas também com a história da luta de classes.
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As democracias liberais pressupõem a aceitação da sociedade dividida em classes
em oposição as chamadas democracias utópicas que defendiam as sociedades de classe
única ou sociedades sem classes (Macpherson, 1978). Entretanto, cabe esclarecer que a
liberdade e liberalismo e sua identificação com a democracia liberal não é natural e nem
remete às origens. Isto porque, a configuração do caráter democrático dos Estados liberais
(ainda que essa democracia se configure apenas no plano político e jurídico) articula-se
com a emergência da luta de classes, com a ruína de um sistema político-econômico
baseado no poder religioso.
Assim, a tradição liberal, e, portanto, o liberalismo articula-se com a gênese do
capitalismo, dentre os séculos XIX até as primeiras décadas do século XX, na tentativa de
consolidar os elementos basilares do capitalismo emergente como o trabalho como
mercadoria e sua regulação pelo livre movimento do mercado, embasados no princípio da
liberdade.
O predomínio do liberalismo enquanto sistema político e econômico relaciona-se
com o declínio da sociedade feudal e sua hierarquia política proveniente da “ordem
divina”, isto é, a separação do poder político do poder religioso. A característica do poder
político, logo, da classe dominante era se apresentar como algo natural e a-histórico nesta
época. Nesse sentido, configura-se a transição deste modelo de sociabilidade para a
acumulação primitiva de capital, rompendo com as bases feudais. Gramsci (apud DIAS
2006) aponta como o Iluminismo contribuiu para a desconstrução do sistema feudal, posto
que ele submeteu todo este sistema a crítica, “criou uma internacional espiritual burguesa”,
“ao submeter toda a institucionalidade feudal à crítica inventou o indivíduos, liberando-o
das cadeias da servidão para transformá-lo em uma necessidade e uma vontade” (DIAS,
2006, p. 88). Na emergência do Estado liberal, houve um processo de ruptura com os
marcos do feudalismo, no qual o Estado deixa de ser um braço do poder religioso e, de
outro, o poder político é emancipado do poder econômico, os quais eram a nobreza e o
clero. Cabe ressaltar que a articulação entre poder político e econômico é restaurada no
momento em que a burguesia deixa de ser apenas classe dominante economicamente e se
instaura enquanto classe dirigente por meio da organização da institucionalidade capitalista
e dos aparelhos privados ideológicos de hegemonia. Assim, de acordo com Bobbio (2005),
ao mesmo tempo em que há a separação entre o poder religioso e o poder político, tem-se
uma separação entre poder econômico e poder político, e, neste momento, o Estado passa
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se constituir o braço da economia mercantil burguesa. Concordamos com Bobbio no
seguinte ponto: o estado moderno, já dizia Marx em Manifesto do Partido Comunista, era
um Estado classista e burguês, demonstrando o caráter classista do Estado. Entretanto,
neste mesmo momento, a burguesia busca constituir-se não apenas a classe
economicamente dominante, mas também dirigente, combinando duas formas de poder: o
econômico e o político. Portanto,
“O Estado liberal é o Estado que permitiu a perda do monopólio do poder ideológico, através da concessão dos direitos civis, entre os quais sobretudo do direito à liberdade religiosa e de opinião pública, e a perda do monopólio do poder econômico, através da concessão de liberdade econômica; terminou por conservar unicamente o monopólio da força legitima cujo exercício porém está limitado pelo reconhecimento dos direitos do homem e pelos vários vínculos jurídicos que dão origem à figura histórica do Estado de direito” (BOBBIO, 2005, p. 129).
Segundo Macpherson, a tradição liberal-democrática inaugurada a partir do século
XIX, a qual se opõe as democracias utópicas1 que se constituíram até o século XVII,
“reconhecia e aceitava a sociedade dividida em classes; e propunha-se ajustar uma
estrutura democrática a ela” (1978, p. 17).
De acordo com este mesmo autor, a constituição da democracia liberal se dá no
momento em que se percebe que a democracia numa sociedade dividida em classes, isto é,
o sufrágio “universal2” se torna socializado, que não ameaçaria a propriedade privada.
Assim, as democracias liberais se socorrem de um modelo teórico de explicação da
realidade, o liberalismo, e de uma concepção de homem que se adéqua perfeitamente à
sociabilidade burguesa: o indivíduo a-histórico e sem determinações classistas. Dessa
forma, baseava-se:
“em primeiro lugar, a dedução a partir de seu modelo de homem (que reduzia todos os homens ao modelo de homem burguês maximizante, do que se seguia que todos tinham interesse em manter a santidade da propriedade) e, em segundo lugar, sua observação da habitual deferência das classes inferiores para com as classes superiores” (MACPHERSON, 1978, p. 17).
1 Para aprofundar o debate sobre as democracias utópicas e seus correspondentes elementos basilares, consultar: Macpherson (1978). 2 Cabe universal entre aspas porque a consolidação de um sufrágio universal de fato, só ocorre tardiamente, principalmente no Brasil, quando passam a incluir as mulheres dentro do quadro eleitoral.
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Dessa forma, é importante apreender quais as bases que iluminaram os teóricos do
pensamento liberal, sobre a constituição do Estado e da economia capitalista.
Segundo Bobbio:
“o liberalismo é um movimento de idéias que passa através de diversos autores diferentes entre si, com Locke, Montesquieu, Kant, Adam Smith, Humboldt, Constant, John Stuart Mill, Tocqueville (...) [cujos] aspectos fundamentais são o econômico e o político, e por isso merecem estar sempre presentes. O liberalismo é, como teoria econômica, defensor da economia de mercado; como teoria política, é defensor do Estado que governe o menos possível ou, como se diz hoje, do Estado mínimo (isto é, reduzido ao mínimo necessário)” (2005, p. 128).
A tradição contratualista, especialmente a partir de Locke que contribui para a
elaboração da tradição liberal, na medida em que busca explicar a configuração do Estado
moderno basando-se nas relações entre homens livres, objetivando ampliar ou restringir a
liberdade desses homens. Nesse sentido, afirmava que esses homens livres que se unem
para proteger suas liberdades por meio de um contrato social tinham direitos naturais que
deveriam ser respeitados, pois estes eram constantemente ameaçados pela vontade
particular. Os direitos naturais são assim considerados por se relacionarem com o ser
humano. Devido à característica intrínseca a esses homens, a de permanente guerra de
todos contra todos, vislumbrava-se a necessidade de consolidação de uma instituição que
assegurasse esses direitos e a liberdade, isto é, a sociedade civil e o Estado moderno.
De acordo com Mauriel:
“a base moral do governo é a defesa da liberdade individual. Isso é que dá legitimidade ao Estado, não sendo as desigualdades que emergem dos processos econômicos da alçada da autoridade política, cujo propósito é assegurar um sistema de leis naturais que proteja os direitos dos indivíduos e reconcilie os interesses individuais com os da sociedade” (2010, p. 3).
Neste período que precede o pensamento liberal, o Estado é colocado como um
“mediador civilizador, ao qual caberia o controle das paixões, ou seja, do desejo insaciável
de vantagens materiais, próprias do homem em estado de natureza” (BEHRING &
BOSCHETTI, 2007, p. 57; grifos do autor). Então, o Estado estaria entre os homens para
conter suas vontades agressivas que constrangessem os demais membros da comunidade.
Podemos lembrar Hobbes em sua célebre frase que o “o homem é o lobo do homem” e por
isso, os homens devem se organizar para se protegerem. Locke, concordando com Hobbes,
formula alguns princípios para o debate sobre a organização da sociedade baseada na
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reunião dos homens na constituição de uma sociedade política para defender seus espaços
de possíveis guerras. Logo, o Estado seria “formado pelo consenso e confiança entre os
homens, com o fim de organizar e gerir as relações para a formação de uma sociedade
fundada essencialmente no exercer da liberdade individual” (MELO, 2004: 33). Assim,
vislumbramos que o pacto entre sujeitos sociais visava preservar a liberdade e a
propriedade.
No campo econômico, Smith foi quem deu o tom do liberalismo afirmando a
necessidade da liberdade do mercado para o desenvolvimento da satisfação das
necessidades humanas, não necessitando de um ente regulador posto que o mercado era
auto-regulável, por uma mão-invisível. O referido autor afirmava que o desenvolvimento
da forças econômicas geraria uma melhor condição de vida mesmo para as classes
trabalhadoras. A produção da sociedade é natural, segundo Smith, portanto, ele afirma que
a liberdade individual tende, em última instância, ao bem-estar coletivo. Assim explica
Fritsch:
A segunda é a doutrina segundo a qual essa ordem natural requer, para sua operação eficiente, a maior liberdade individual possível na esfera das relações econômicas, doutrina cujos fundamentos racionais são derivados de seu sistema teórico, já que o interesse individual é visto por ele [Smith] como a motivação fundamental da divisão social do trabalho e da acumulação de capital, causas últimas do crescimento do bem-estar coletivo (1996: 15)
Isto porque considerava que no momento em que os indivíduos procuravam
satisfazer seus próprios interesses, tenderia ao mesmo tempo ao aumento da riqueza da
sociedade, podendo assim ser distribuída. Smith reconhecia na distribuição da riqueza
produzida pelas nações o meio para a prosperidade, entretanto, ao não conceber que a
desigualdade e a pobreza tinham origem na produção e na divisão da sociedade em classes,
não pode perceber que à medida em que a riqueza de uma determinada classe se amplia,
amplia-se direta e proporcionalmente o pauperismo da outra. Nas palavras de Smith:
“O esforço natural de cada indivíduo no sentido de melhorar sua própria condição, quando sofrido para exercer-se com liberdade e segurança, é um princípio tão poderoso, que ele é capaz, sozinho e sem qualquer ajuda, não somente de levar a sociedade à riqueza e à prosperidade, mas de superar centenas de obstáculos impertinentes com os quais a insensatez das leis humanas muitas vezes obstacula seus atos” (apud CANNAN, 1996, 54).
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Assim, desde os clássicos se faz a defesa do indivíduo, colocando este como o
centro do processo político e econômico, para garantia das suas liberdades e satisfação dos
seus desejos. Então, temos uma “defesa do indivíduo contra o poder (quer do Estado, quer
da sociedade) foi, porém, sempre uma constante, a fim de ressalar o valor moral original e
autônomo de que o próprio indivíduo é portador” (BOBBIO, 1991, p. 701). Portanto, há
uma defesa da liberdade individual, em especial, da liberdade em si, em um sentido
determinado: a ausência de “restrições desnecessárias ou danos” (LEWIS apud
BOTTOMORE, 1996, p. 424). Logo, a liberdade seria maior onde não houvesse restrições.
É nesse sentido que os pensadores liberais o compreendem como Mill, o qual é precursor
do liberalismo.
A articulação das esferas econômica e política se dão devido à necessidade de se
constituir as liberdades individuais para que os indivíduos se realizem na sociedade. Dessa
forma, sendo o mercado a instância máxima de realização dos desejos do homem, a
liberdade de mercado, ou seja, a falta de regulação é necessária posto que permite aos
indivíduos competirem por melhores resultados. Sob esse argumento, legitima-se a
liberdade de mercado e a compra e venda da força de trabalho livre, velando a exploração e
a dominação de uma classe sobre a outra.
Na conjuntura de transição do feudalismo para a acumulação primitiva, a burguesia
já se apresentava como classe economicamente dominante, porém subalternizada
politicamente. Ante isto, a burguesia se organiza na constituição de uma ruptura com a
ordem feudal, lutando pela garantia da
“liberdade dos indivíduos e do comércio, contra o absolutismo e seu ‘sistema econômico mercantilista’ (...) [cumprindo] papel decisivo na irrupção do capitalismo industrial e na criação de instituições políticas liberais, que estão na origem da própria democracia” (FIORI, 2002:79).
Dessa forma, a burguesia rompe com os ideais absolutistas e feudais,
transformando e revolucionando a sociabilidade e a institucionalidade daquele período,
devido à necessidade de desarticular a institucionalidade feudal que impedia a construção
da acumulação capitalista, devido à estrutura política e econômica que se ausentava de
“liberdades”
De acordo com Rousseau, teórico que contribuiu inspirando a Revolução Francesa
de 1848, o
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“Estado foi até aquele momento uma criação dos ricos preservar a desigualdade e a propriedade, e não o bem comum (...) [visando combater a desigualdade social e política] a configuração de um Estado cujo poder reside no povo, na cidadania, por meio da vontade geral” (apud BEHRING & BOSCHETTI, 2007, p. 58).
O Estado seria fundado pelas leis definidas de acordo com a vontade do conjunto
da sociedade em um consenso. Isto porque, ele entende que a liberdade é um direito natural
do homem, e no momento em que os homens estabelecem sua lei, possibilita que eles a
obedeçam, pois esta teria se constituído em harmonia, bem como por não ter sido
transmitida por autoridade constituída (BOBBIO, 2004)
Contudo, a democracia proposta por Rousseau concretiza-se dentro da ótica liberal
da liberdade individual, configurando-se apenas na dimensão política, na elaboração de leis
pelo conjunto dos homens, mas não se estendendo ao campo econômico na distribuição da
riqueza nem na socialização dos meios de produção. Assim, como justifica Melo:
“a democracia deve ser limitada aos interesses dos indivíduos que, em última instância, se realizam no mercado. A democracia – se é que esta seja necessária – se limita aos interesses expressos por esta força que é o mercado, deixada livre a dimensão da vida dos indivíduos” (2004, p. 48)
Para Macpherson, Rousseau credita ao Estado o papel de não permitir configurar-se
a desigualdade pelo controle da propriedade privada, isto é, limitando a propriedade
privada, posto que, Rousseau acreditava que a origem da desigualdade se assentava sobre a
propriedade privada, ou melhor, pela falta dela. A partir disto, podemos entender que
Rousseau não avançou num conceito de igualdade substantiva por não perceber que na
essência do fenômeno da desigualdade originava-se no modo de produção capitalista, na
teoria da mais-valia.
Logo, o Estado estrutura-se para o capital, suas funções estão atreladas aos
interesses do mercado, isso porque, no liberalismo, o mercado é o espaço de realização dos
desejos e necessidades dos indivíduos.
Sendo a liberdade um direito natural dos indivíduos bem como a necessidade de
satisfação dos interesses, é imprescindível que haja um espaço também livre para a
viabilização dos desejos dos sujeitos. Então, o mercado deve ser livre de regulamentação
de suas relações, porque se o Estado intervir, ele pode vir a ferir os direitos naturais desses
indivíduos que se realizam no mercado. Como também, havendo no mercado a “igualdade
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de oportunidades”, sua regulamentação priorizaria alguns segmentos, inibindo sua auto-
regulação por uma “mão-invisível” que permite os indivíduos a promover o bem-estar
coletivo.
Diante disto, o Estado teria o papel de “defesa contra os inimigos externos; a
proteção de todo indivíduo de ofensas dirigidas por outros indivíduos, e o provimento de
obras públicas, que não possam ser executadas pela iniciativa privada” (BEHRING &
BOSCHETTI, 2007, p. 60). Isto porque, havia um “pacto” entre os homens na constituição
de um poder soberano que garantisse a liberdade e a propriedade ameaçadas pelas guerras
e a criação de leis estabelecidas pelo consenso da população.
Ao ponto que o Estado não intervém sobre as relações de compra e venda da força
de trabalho, é um Estado mínimo na distribuição de políticas de proteção social, as
condições das ocupações e de reprodução da classe trabalhadora decaem, limitando sua
sobrevivência e a satisfação de suas necessidades. Logo, esses sujeitos são considerados
incapazes e frágeis, sendo uma base dessa sociedade o mérito, porque os sujeitos que
potencializaram suas capacidades se realizaram.
Enfim, é importante ressaltar que, na tradição liberal, o Estado burguês possibilita
que o mercado se mantenha estável, ou seja, garantindo a propriedade privada dos meios
de produção e da terra, o livre movimento do mercado e a liberdade individual (dos
capitalistas) de comprar e utilizar a força de trabalho como meio de acumulação de capital,
numa relação de dominação-exploração, ou seja, garantindo o máximo de instrumentos
para a acumulação e o mínimo de condições de sobrevivência para a classe trabalhadora.
3 – Neoliberalismo: o projeto de continuidade com o pensamento neoliberal
No Manifesto do Partido Comunista, Marx e Engels já anunciavam o
desenvolvimento das forças produtivas capitalistas, a necessidade de intervenções extra-
econômicas que garantissem a acumulação, a formação de um mercado mundial bem
como as revoluções pelas quais passariam o sistema capitalista e a sociedade inteira.
Revoluções essas com propósitos bem definidos: o desenvolvimento do capitalismo e a
manutenção da dominação-exploração da classe trabalhadora.
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O surgimento do pensamento neoliberal articula-se com a necessidade do capital de
buscar novos mercados, com a expansão das suas formas econômicas e políticas, da
configuração de um mercado mundial, na tentativa de retomar a estagflação que se
encontrava a economia mundial a partir de 1968-1974.
O pensamento neoliberal é uma tradição, como o liberalismo, que trata da realidade
social através de projetos que buscam alterar as condições econômica e política de um
determinado momento histórico no conjunto da sociedade capitalista. Suas primeiras
formulações datam da Segunda Guerra Mundial, mas sua lógica só ganha corpo a partir
dos finais do século XX com a crise do sistema capitalista de produção.
Esse projeto surge com uma contra-tendência a forma que se desenvolveu o modo
capitalista de produção e suas respectivas instituições políticas tomaram na realidade social
no período pós-guerras. Neste período, por muitos denominados de Welfare State, o Estado
teve uma forte influência na economia, principalmente garantindo as condições de
acumulação do capital sem romper com a sua pedra angular. Essa estratégia se criou frente
ao crash de 1929, o qual causou catástrofes sobre a economia mundial. Harvey (2005)
identifica este período de consolidação de uma economia planificada, marcado por um
compromisso entre burguesia e proletariado como um liberalismo embutido, posto que
busca
“sinalizar como os processos de mercado e as atividades empreendedoras e corporativas vieram a ser circundados por uma rede de restrições sociais e políticas e um ambiente regulatório que às vezes restringiu mas em outros casos liderou a estratégia econômica e industrial” (HARVEY, 2005, p. 21)
Após 1930 com a crise que levou ao crash de 1929, sob o discurso de que o
liberalismo e o comunismo terem falhado como projetos societários, apresenta-se como
caminho uma articulação entre Estado, mercado e instituições democráticas, objetivando
retomar a lucratividade do sistema de uma forma menos “agressiva” (ou, melhor velada),
combinando uma política de manutenção dos empregos a níveis altos, o qual se costuma
denominar de pleno emprego com um conjunto de políticas de seguridade social à
população, assegurando salários indiretos e níveis de consumo altos, ambas financiadas
pelo Estado interventor. Segundo Harvey:
“o que todas essas várias formas de Estado tinham em comum era a aceitação de que o Estado deveria concentrar-se no pleno emprego, no crescimento econômico e no bem-estar de seus cidadãos, e de que o poder do Estado deveria ser livremente distribuído ao lado dos processos de
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mercado – ou se necessário, intervindo ou mesmo substituindo tais processos...” (2005, p. 20).
Frente ao aprofundamento da crise do capital nos anos 1970, a burguesia precisou
organizar suas estratégias de intervenção econômica, política e ideocultural que
possibilitassem a reorganização da sua dominação e a retomada da taxa de lucratividade.
Essa crise expressa a desconstrução do modelo de produção em massa e do Estado de
Bem-Estar social e suas políticas sociais redistributivas nos países centrais. Já nos países
periféricos abandonaram o nacional-desenvolvimentismo por uma “estratégia de abertura e
desregulação econômica com vistas a uma transnacionalização radical dos centros de
decisão e das estruturas econômicas” (FIORI, 2002:11).
Esta estratégia burguesa redefiniu vários aspectos da totalidade: a divisão
internacional do trabalho, a relação entre países centrais e periféricos, as funções políticas
e econômicas dos Estados nacionais, especialmente dos países periféricos, e entre outros,
uma nova relação entre o Estado e a sociedade civil, gerando uma série de transformações
no campo das políticas públicas, alterando a correlação de forças entre as classes e frações
de classe.
Os sujeitos políticos do capital, sob discurso que se pretende hegemônico,
apresentam essa proposta de ajuste político-econômico como único possível e inevitável,
sendo colocado como resultado de um processo “natural” da história que substitui a
economia industrial por uma “‘nova economia’ baseada nos serviço de uma sociedade em
que o trabalho teria perdido sua centralidade. No seu lugar estaria nascendo uma
sociedade na qual as relações de classe seriam substituídas por redes horizontais e
comunicativas, cada vez mais extensas, envolventes e democráticas” (FIORI, 2002:14;
grifos nossos). Isto é, a formação de uma sociedade dita “globalizada”, desconsiderando
que essas alterações não modificaram o núcleo duro das relações sociais capitalistas e nem
a lei geral da acumulação em que o trabalho é a categoria central.
A chamada “globalização” é apresentada pelos intelectuais do capital como um
projeto em que se estabeleceria o fim das fronteiras econômicas e políticas entre os países
centrais e periféricos, que possibilitaria uma maior distribuição da riqueza mundial entre
esses países. É considerada como um processo inevitável e inexorável e que o benefício da
adequação dos países periféricos a essa expansão permitiria o seu desenvolvimento e
crescimento, como também o acesso de todos os indivíduos às mercadorias e tecnologias
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produzidas pelos países centrais, ocultando as reais determinações que perpassam esse
projeto que é a configuração ampliada da dependência e subordinação dos países
periféricos aos centrais, a expansão dos mercados na constituição de empresas
transnacionais com o menor nível de regulação possível e, enfim, a distribuição privada
das riquezas entre os 15% da população que representa os países centrais e a socialização
mundial dos custos da produção capitalista.
Diante disso, haveria uma tendência dos Estados nacionais se identificarem e
convergirem para este tipo de organização econômica e política, posto que esta seria a
única forma possível de história num suposto processo de homogeneização planetária.
Fukuyama (1992 apud FIORI, 2002:21) elabora uma tese de que a história da humanidade
teria chegado ao seu fim porque economia e política se desenvolveram a tal ponto que
nenhum outro tipo de organização insurgiria a economia de mercado e a democracia liberal
no mundo. Isto significa que há uma busca ensandecida de se afirma o sucesso da
sociabilidade burguesa e desconstruir as formas de configuração de uma contra-tendência
da classe trabalhadora, tentando retirar de o homem enquanto construtor da história, a sua
capacidade de construir novas estratégias de contra-hegemonia. Além do mais, sob o
discurso de homogeneização planetária e igualdade entre os países centrais e periféricos,
bem como entre os indivíduos, vela-se as desigualdades estruturais presentes nas relações
capitalistas de produção, a maior hierarquização entre esses países na divisão internacional
do trabalho e a miséria crescente de grandes segmentos populacionais do mundo.
Lima (2007) e Behring (2003), baseadas em Chesnais (1996), indicam que esse
movimento de expansão da economia para o âmbito mundial, denominada globalização
pelos sujeitos políticos do capital, é na realidade um movimento de mundialização do
capital ou mundialização financeira justificada pela necessidade do capital de retomar sua
taxa de lucratividade através da formação de um mercado mundial em busca de novos
campos de exploração. Chesnais (1996:13) identifica que esta não é uma fase do capital,
mas uma “nova configuração do capitalismo mundial e [de] mecanismos que comandam
seu desempenho e regulação”, que acarretam diversas conseqüências para os países que
interessam ao capital o investimento. Entretanto, esses investimentos não se inserem de
maneira global, em todos os países, mas em determinados tipos de formação econômico-
social, ou seja, aqueles que a economia e a política estejam subordinadas na divisão
internacional do trabalho, objetivando uma maior hierarquização entre os países centrais e
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periféricos, articulado com valores e projetos que fazem parte do atual contexto do capital
com valores próprios dessas formações. Assim, vislumbramos por meio de Chesnais (1996
apud BEHRING, 2003:41), que a “economia mundial é [e tende a se tornar mais]
fortemente hierarquizada e articulada do ponto de vista econômico e político, ou seja,
desigual e combinado”. Dessa forma, desconstrói-se o discurso hegemônico de que haveria
uma homogeneização planetária da economia e da política e a horizontalidade proposta
pela globalização entre países periféricos e centrais cujo determinam limites e
condicionalidades a economia e a política dos países periféricos.
Na ordem do capital, o Estado é um estado burguês, dessa forma, ele tem um papel
primordial na construção do projeto burguês de sociedade e dominação. Para isto, há a
exigência de um reordenamento das funções dos Estados nacionais frente a economia e a
política mundiais. Cabe fazer um esclarecimento sobre as alterações do papel do Estado na
atual conjuntura. Diferente de muitos autores, os quais entendem esse movimento como
“retirada do papel do Estado”, apreendemos essa nova configuração dos Estados nacionais
como um reordenamento de suas funções, posto que o Estado continua presente na
economia e na política, entretanto, sua atuação é ressignificada pelo desenho das políticas
neoliberais, em relação a funcionalidade do Estado no período fordista-keynesiano, e
retomada com os princípios do liberalismo clássico. Nesse contexto, a funcionalidade do
Estado ao capital é criar e preservar as condições necessárias para a ampliação da
acumulação do capital em níveis cada vez maiores, bem como criar novos campos de
exploração e lucratividade, isto é, abrir ao capital internacional e nacional a possibilidade
de explorar áreas antes prioritárias dos Estados nacionais, como água, terra, serviços
sociais, etc, caracterizando uma verdadeira mercantilização da vida social.
Hayek e Friedman são os precursores da ideologia neoliberal. Sob a argumentação
de que o desenvolvimento das liberdades individuais acarretaria o “bem-estar humano”,
portanto, a dignidade humana e que estas só poderiam se realizar em um mercado livre de
restrições. O mercado seria o espaço de maximizar os interesses e desejos dos indivíduos,
“ele [o neoliberalismo] sustenta que o bem social é maximizado se se maximizam o
alcance e a frequência das transações de mercado, procurando enquadrar todas as ações
humanas no domínio do mercado” (HARVEY, 2005, p. 13).
A dignidade humana proposta pelos neoliberais não apreende a miséria e a pobreza
que se instauraram desde a emergência do sistema capitalista de produção. Até porque a
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dignidade humana no sistema do capital só é possível a uma classe determinada, a classe
burguesa, e só possível também porque existe uma classe que é apartada dos frutos do seu
trabalho.
A agenda neoliberal retoma os elementos basilares do liberalismo com nova
roupagem em um momento histórico diversificado, posto que com esses argumentos
iniciam um movimento de desconstrução das políticas conquistadas pela luta da classe
trabalhadora por melhores condições de vida e trabalho. Articulado a isso, a funcionalidade
do Estado é reordenada, recebendo uma atribuição mais compatível com o
desenvolvimento capitalista: criar, preservar e manter as condições para o desenvolvimento
pleno da acumulação capitalista, garantindo os direitos à propriedade privada, livre
expansão dos mercados, bem como ampliar o campo de lucratividade do capital por meio
da abertura de novos campos para a exploração capitalista. Nesse sentido, a privatização de
empresas públicas é fundamental, posto que permite a burguesia nacional e internacional o
investimento nas áreas antes prioritariamente estatais. Ao Estado caberia também as tarefas
de segurança nacional por meio das instituições militares, de polícia, de proteção às
liberdade individuais, podendo até utilizar-se da força na garantia das liberdades.
A necessidade de retomar esses valores centrais: liberdade de individual e de
mercado é apontada devido, segundo Hayek e Friedman, os valores centrais da sociedade
estarem se esvaindo, ameaçando a ordem capitalista e sua democracia restrita. Nas palavras
dos referidos autores:
“os valores centrais da civilização se acham em perigo. Em grandes extensões da superfície da terra, as condições essenciais da dignidade e da liberdade humanas já desapareceram. Noutras, acham-se sob a constante ameaça do desenvolvimento das atuais tendências políticas. A posição do indivíduo e do grupo autônomo se acham progressivamente solapados por avanços do poder arbitrário. Mesmo o mais precioso bem do Homem Ocidental, a liberdade de pensamento e de reflexão, encontra-se ameaçado pela disseminação de credos que, reivindicando o privilégio da tolerância quando em posição minoritária, buscam apenas galgar uma posição de poder a partir da qual possam suprimir e obliterar todas as concepções que não a sua.” (apud HARVEY, 2005, p. 29).
Com o processo de mundialização do capital, há um conjunto de orientações
políticas e econômicas aos países, que estão relacionadas com suas posições na dinâmica
mundial, aplicando um conjunto de políticas públicas e reformas ancoradas no projeto
neoliberal orquestrado pelo capital internacional cujo objetiva a administração e o controle
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das intervenções do Estado nas diferentes esferas da vida social, mas especialmente, no
enfrentamento da questão social. Dessa forma, o trato as mazelas produzidas pelo sistema
capitalista ficariam atreladas aos moldes determinados pelos organismos internacionais
representantes dos países centrais e da lógica capitalista mundial.
Nesse sentido, para Montes, há uma:
“retirada do Estado como agente econômico, [uma] dissolução do coletivo e do público em nome da liberdade econômica e do individualismo, corte dos benefícios sociais, degradação dos serviços públicos, desregulamentação do mercado de trabalho, desaparição de direitos históricos dos trabalhadores; estes são componentes regressivos das posições neoliberais no campo social, que alguns se atrevem a propugnar como traços da pós-modernidade” (1996 apud BEHRING, 2003, p.58; grifos nossos).
Nessa citação de grande valia na demonstração de como a ótica neoliberal atua na
relação entre Estado e direitos sociais historicamente conquistados pela classe
trabalhadora, temos que fazer uma pontuação, já mencionada anteriormente, em que o
Estado permanece como agente econômico, mas numa postura diversa daquela apresentada
no período fordista-keynesiano, posto que, agora, ao desregulamentar a exploração do
trabalho pelo capital ou regulamentar a níveis mínimos, permite uma maior exploração e
apropriação de maior quantidade de trabalho não-pago. Outra pontuação seria a
demonstração da retomada no neoliberalismo de idéias presentes no pensamento liberal, ou
seja, é a recuperação de componentes que fizeram parte do projeto burguês num
determinado momento histórico com uma nova roupagem.
Assim, o Estado conduz o processo de reordenamento de suas funções, em que
além de assegurar as condições para a produção, também busca tornar os territórios mais
atrativos aos investimentos financeiros estrangeiros. Para isto, utiliza-se do seu arcabouço
jurídico na configuração de “reformas” que gerem uma série de ações liberalizantes, que
desregulamentem e flexibilizem as relações de trabalho, a fiscalização e a tributação e
normatize as relações sociais da totalidade.
No Brasil, a ótica neoliberal tem expressão na Contra-Reforma do Estado, que foi
introduzida pelo governo Collor, tendo o governo Cardoso operacionalizado a proposta,
como quando criou o MARE – Ministério de Administração e Reforma do Estado para
discutir, estudar e viabilizar as reformas. Ela foi intitulada como Reforma do Estado,
todavia a caracterizamos aqui como contra-reforma.
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A contra-reforma se apresenta como uma proposta para resolver o problema da
crise fiscal pelo qual passa o país, déficit público, creditados ao excesso com gastos sociais
provenientes do Estado de Bem-Estar Social e do período desenvolvimentista, cuja solução
seria a redução de gastos com direitos sociais, como também a passagem das
responsabilidades para as demais esferas, como estados e municípios, bem como a
participação da sociedade civil de forma solidária e colaboradora para amenizar os
problemas sociais - sendo a sociedade civil concebida como um somatório de indivíduos e
grupos sociais – configurando-se assim, uma nova forma de intervenção do Estado sobre as
refrações do sistema capitalista de produção aos trabalhadores.
A garantia de direitos e da participação popular, determinada pela Constituição
Federal de 1988, desde o governo Cardoso, é inviabilizada devido à implementação dos
ideais neoliberais impostos pelo capitalismo. Como diz Netto (2000), “os direitos sociais
foram objeto de mutilação, redução e supressão em todas as latitudes onde o grande capital
impôs o ideário neoliberal”, transferindo as responsabilidades com aqueles direitos para o
mercado e para a sociedade civil por meio do enaltecimento da solidariedade da sociedade
e do empresariado na constituição de um aparato social. Isso descaracteriza a sociedade
civil como um espaço de tensões e lutas de classe, direcionando-a para ser um espaço onde
há a coesão social e consensos e a luta de classes traveste-se por um objetivo em comum e
abstrato: o bem-estar social. Trata-se, portanto de uma descentralização, diferente da
imaginada pela Constituição, direcionada para um setor identificado como público não
estatal, na execução de serviços sociais e programas que atendam as necessidades
concretas de reprodução da população.
A cidadania burguesa estabelecida, além de restrita por não se abranger para o
campo econômico, limitando-se apenas ao campo político através do sufrágio universal,
torna-se ainda mais reduzida. Isso ocorre porque, no momento em que há o reordenamento
do papel do Estado e este deixa de ser o executor de serviços sociais direcionados às
classes pauperizadas, os direitos sociais ficam atrelados aos determinismos do mercado,
despolitizando-as e descaracterizando-as como um direito historicamente conquistado pela
luta da classe trabalhadora.
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4 - Conclusão
Podemos partir, neste trabalho, entendendo que o surgimento do liberalismo e de
sua forma política respectiva, a democracia liberal, articula-se com um determinado
momento histórico: a emergência do sistema de produção capitalista. Portanto, articula-se
com o desenvolvimento das forças produtivas para a satisfação das necessidades do
homem, da necessidade de uma ordem política correspondente que, em última instância,
defende os interesses das classes dominantes. O que nos leva a seguinte conclusão,
diferente da dos intelectuais orgânicos que a requerem, é um produto histórico, do
desenvolvimento das capacidades humanas, onde o homem é o sujeito construtor da
história e, logo, o sistema burguês não é eterno e nem natural, é passível de transformação.
De acordo com Dias: “A história do capitalismo é a história das suas reestruturações, dos
movimentos de permanente adequação entre a chamada base material e o conjunto das
formas políticas e ideológicas que lhe dá sustentação” (2006, p. 89).
Nesse sentido, a tradição liberal é um modo de explicar a realidade e a política, a
partir de uma determinada visão de mundo, classista, ligada à política burguesa, baseada no
princípio da liberdade e da igualdade formal e jurídica perante a lei. Diante disso, atua, de
modo que, racionaliza as práticas capitalistas, não ultrapassando em sua explicação da
realidade, a aparência dos fenômenos, muito pelo contrário, detém-se a aparência para
justificar as formas vigentes de sociabilidade burguesa. Como também, enquanto ideologia
burguesa tem um papel fundamental na constituição do consenso, na conformação da
classe trabalhadora à Ordem.
Segundo Dias,
“O liberalismo atua no sentido de construir uma homogeneidade social a um só tempo capaz de fazer com que as formas imaturas das classes trabalhadoras assumam o comando de suas organizações e impedir a consolidação da ideologia da maturidade do proletariado” (2006, p.12; grifos nossos).
Isto significa que suas instituições sociais, políticas e econômicas como a
democracia liberal e a cidadania burguesa objetivam velar as reais determinações da
Ordem burguesa: a produção de mais-valia, condição fundamental para a acumulação e
determinante na constituição da desigualdade social entre classes. Sob o discurso de
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universalidade, liberdade e igualdade, acaba por corroborar na subsunção da classe
trabalhadora ao capital.
A tradição liberal se materializa nas instituições e na institucionalidade capitalista,
tentando perpetuar a sociedade divida em classes, a apropriação privada da riqueza e dos
meios de produção socialmente produzidos e a dominação, exploração e direção de uma
classe sobre a outra, isto é, da classe burguesa sobre a classe trabalhadora. Portanto, atua
na tentativa de reduzir os antagonismos de classe a meras diferenças e conflitos; e as
classes sociais a indivíduos isolados, além de isolar a esfera econômica da esfera política,
“criando” dois tipos de indivíduo: o indivíduo econômico e o indivíduo político, ou seja,
desarticulam economia e política, desconsiderando ambos como momentos estrutura e
dinamicamente articulados de modo dialético na totalidade social. A realidade social é um
processo de múltiplas determinações e embates entre projetos societários hegemônicos que
não está dado, pronto, mas em contínuo processo de transformação. Então, não podemos
afirmar que está perpetuada a lógica burguesa, até porque compreendemos que o ser social
é sujeito e objeto do devir histórico (LUKACS, 1987), e, no momento em que a classe
trabalhadora enquanto sujeito histórico e político toma consciência de si mesma e se
reconhece enquanto classe revolucionária, tem-se a possibilidade desta classe se tornar a
“negação da negação”, o sujeito que possibilitará a superação da ordem burguesa. Nas
palavras de Lukacs (1987):
“é somente quando a tomada de consciência implica a operação decisiva que o processo histórico deve efetuar em direção ao próprio fim. A função histórica da teoria consiste em tornar praticamente possível essa operação. Quando se dá uma situação histórica na qual o conhecimento exato da sociedade vem a ser, para uma classe, a condição imediata da sua auto-afirmação na luta; quando, para esta classe, o conhecimento de si significa, simultaneamente, o conhecimento correto da sociedade, quando, em conseqüência, para um tal conhecimento, esta classe á o mesmo tempo sujeito e objeto, teoria e práxis se torna possível” (1987:61).
Nesse contexto, acabam por descaracterizar os direitos, produtos históricos da
luta de classes, portanto, produto coletivo, ao mero individualismo, ao indivíduo de
direitos, isto porque: “as necessidades práticas da sociedade capitalista esvaziadas da sua
historicidade ganham fóruns de conceitos universais. A particularidade aparece como
universalidade, como naturalidade” (DIAS, 2006, p. 25). Diante disso, a tradição liberal
enquanto ideologia classista portadora de um projeto societário que busca se consolidar
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hegemônico, em última instância, objetiva integrar os sujeitos políticos à Ordem, fazer
com que a classe trabalhadora tenha uma adesão acrítica e a-histórica dos processos de
produção e constituição da institucionalidade capitalista, e enfim, desconstruir as possíveis
identidades de classe da classe trabalhadora na construção de uma nova sociabilidade.
Retomando Dias: “fazer com que as formas imaturas das classes trabalhadoras assumam o
comando de suas [capitalistas] organizações e impedir a consolidação da ideologia da
maturidade do proletariado” (2006, p.12; grifos nossos). Portanto, os valores,
representações, crenças de uma classe, a burguesa são apresentadas como universais, de
todas as classes, naturais, como se desde sempre existissem e existirá. Conforme
argumenta Macpherson:
“A plausibilidade de qualquer sistema político depende amplamente de como todas as instituições, sociais e econômicas, modelaram ou poderiam modelar as pessoas com quem e pelas quais o sistema político deve operar. (...) E em geral se tem visto, pelo menos nos séculos XIX e XX, que o modo mais importante pelo qual todo o feixe de instituições sociais e relações sociais modela as pessoas como atores políticos é pela maneira como modelam a consciência delas mesmas” (1978, p. 12).
Cabe, neste momento, fazer um esclarecimento acerca dos Estados modernos os
quais se articulam organicamente com o modo de produção capitalista. Mészáros afirma
que o sistema do capital é
“em última análise, uma forma incontrolável de controle sociometabólico. A razão principal por que este sistema forçosamente escapa a um significativo curso da história como uma poderosa – na verdade, até o presente, de longe a mais poderosa – estrutura ‘totalizadora’ de controle à qual tudo o mais, inclusive seres humanos, deve se ajustar, e assim provar sua ‘viabilidade produtiva’, ou perecer, caso não consiga se adaptar” (2010, p. 96; grifos do autor).
O que acarreta, contraditoriamente, a perda do controle sobre o conjunto do sistema
reprodutivo social. Nesse quadro, surge a necessidade de uma ação corretiva que é o
chamado “Estado moderno imensamente poderoso – e igualmente totalizador – que se
ergue sobre a base deste metabolismo socioeconômico que a tudo engole, e o complementa
de forma indispensável (e não apenas servindo-o) em alguns aspectos essenciais”
(MESZAROS, 2010, p. 98)
Nesse sentido, retomando a afirmação marxiana de que o Estado é um Estado
classista, burguês, Mészáros explica que “a formação do Estado moderno é uma exigência
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absoluta para assegurar e proteger permanentemente a produtividade do sistema do capital”
(2010, p. 106). O referido autor esclarece que a chamada formação do Estado moderno
relaciona-se diretamente com a consolidação do sistema capitalista na busca de mediar as
contradições presentes nesse sistema, nas palavras do autor, os seus defeitos estruturais
acima citados. Enfim, “o Estado moderno passa a existir, acima de tudo, para poder exercer
o controle abrangente sobre as forças centrífugas insubmissas que emanam das unidades
produtivas isoladas do capital, um sistema reprodutivo social antagonicamente estruturado”
(MESZAROS, 2010, p. 107). Logo, sua função é tentar corrigir os defeitos estruturais do
sistema do capital, desde que não ameace a sua estrutura sociometabólica.
Portanto, na mesma medida em que o sistema capitalista de produção se
configura de maneiras diferentes nos mais variados países, sejam centrais ou periféricos,
marcado pela história e pela formação social, os Estados modernos nacionais são históricos
e dependentes da luta de classes em sua configuração e consolidação, podendo ganhar
diversas formas de acordo com os países e o momento histórico. A título de exemplo,
pensemos no Welfare State, no New Deal e no fascismo, até hoje o qual tem outras
determinações e novos intelectuais, como o Banco Mundial e o Fundo Monetário
Internacional.
Diante disso, emerge a necessidade história de insurreição da classe trabalhadora,
num “ajuste de contas consigo mesma”. Isto porque é no terreno da totalidade social que se
estabelece o campo de embate entre projetos societários classistas e antagônicos. A
construção da ideologia da classe trabalhadora e forma de intervenção, a qual é o
marxismo, deve permitir fazer a crítica à institucionalidade burguesa e a sua forma políca-
ideológica correspondente o liberalismo em suas diversas facetas. Dizemos isso por
entender que o liberalismo, assim como o marxismo, não são apenas concepções teóricas,
mas buscam explicar a realidade e desenhar a sociedade de acordo com interesses
classistas. Frente a falta de liberdade que o liberalismo traz, temos que nos colocar a
construir novas formas de ser e viver, uma nova forma social em que o homem se realize
de fato de maneira material, artística, espiritual.
Passamos por um período de crise estrutural, ambiente propício para a
emergência de questionamentos e difusão de certos modos de pensar e resolver questões
que afligem a realidade. Segundo Dias, “a hegemonia é exatamente isso: a criação de uma
massa de homens capazes de pensar coerentemente e de modo unitário o presente e,
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portanto, de projetar para o futuro, na perspectiva de um novo patamar civilizatório” (2006,
p. 71). A construção da hegemonia é um processo inacabado e contínuo de luta, o que nos
permite lutar pela superação dos valores, da sociabilidade e da exploração-dominação.
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