Lideranças intermédias e articulação
curricular como espaço de contextualização
José Carlos Morgado Universidade do Minho
Quando o currículo escolar valoriza os saberes e as experiências
de vida dos alunos influencia positivamente a aprendizagem.
A articulação curricular promove melhores condições de
aprendizagem.
As lideranças intermédias podem desempenhar um papel crucial
ao nível da contextualização e da articulação do currículo.
Pressupostos
• Identificar tendências de articulação associadas a processos
de contextualização curricular.
• Averiguar influências das lideranças intermédias em práticas
de articulação/contextualização curricular.
As lideranças intermédias e a articulação curricular promovem
a contextualização do currículo?
Questão
Objetivos
Conceitos…
Estruturas intermédias
• Os Conselhos de Turma, o Conselho Pedagógico, os Departamentos
Curriculares e os Grupos Disciplinares têm vindo a ser reconhecidos
como elementos fundamentais na organização e desenvolvimento
do currículo.
• Ao nível das estruturas intermédias devem criar-se condições para alterar
as práticas pedagógicas, uma vez que aí se podem desenvolver
dinâmicos de trabalho colaborativo, se afirmam lideranças de sucesso, se
concretizam capacidades de decisão e se constroem a autonomia e a
inovação curriculares.
Conceitos…
Lideranças intermédias
• A liderança em contexto escolar é um processo de influência entre
líderes e seguidores e envolve responsabilidades morais, uma vez que nas
escolas deve imperar o interesse público.
(Sergiovanni, 2004).
• As lideranças intermédias devem estimular a partilha de informação e
a clarificação de expectativas, fazer com que as pessoas se sintam
membros de uma equipa, contribuir para a obtenção dos recursos
necessários e ajudar a identificar e resolver problemas.
(Bolívar, 2003)
Conceitos…
Lideranças intermédias
• A função do Coordenador Departamento é determinante na criação
de espaços/tempos de diálogo, na promoção do trabalho de grupo, no
incentivo à inovação, na reflexão sobre estratégias pedagógicas a
adotar e no planeamento das atividades educativas.
• No plano pedagógico, o Diretor de Turma assume um papel crucial
tanto ao nível da articulação entre professores, alunos e encarregados
de educação, como no desenvolvimento, com os seus pares, de tarefas
de adequação das atividades, dos conteúdos, das estratégias e dos
métodos de trabalho à turma.
Conceitos…
Articulação Curricular
Interligação de saberes oriundos de distintos campos do conhecimento
com vista a facilitar a aquisição, por parte do aluno, de um conhecimento
global, integrador e integrado.
O conceito de articulação curricular circunscreve-se, ainda, à ideia da
sequencialidade que deve nortear todo o processo educativo, uma vez
que o desenvolvimento de capacidades e competências por parte de
cada indivíduo deve ser feito de forma contínua e progressiva.
(Morgado & Tomaz, 2010)
Conceitos…
Contextualização Curricular
Conjunto de orientações e de práticas didático-pedagógicas que
trabalham os conteúdos curriculares aproximando-os dos alunos e dos
contextos onde se desenrolam os processos de ensino-aprendizagem,
tornando-os mais familiares, mais significativos e mais compreensíveis.
Parte-se da ideia de que a contextualização curricular
promove a aquisição dos saberes e o sucesso escolar.
(Leite et al., 2011)
Articulação
Curricular
Estruturas Intermédias
Lideranças
Intermédias
A contextualização do currículo é essencial na realização de
processos educacionais mais consonantes com os interesses,
ritmos de aprendizagem e expectativas dos alunos.
Sistematizando…
Categorias de análise
Articulação Curricular
(Vertical e horizontal)
Currículo
Características
dos Professores
Escola e
Cultura Escolar
Trabalho
Colaborativo
APRESENTAÇÃO DE DADOS APRESENTAÇÃO DE DADOS
0
20
40
60
80
100
120
140
Articulaçãocurricular
Característicasdos Professores
Escola e culturaescolar
Trabalhocolaborativo
Aveiro 18 4 43 96
Braga 41 7 85 125
Porto 23 11 11 42
DADOS POR ESCOLA
0
10
20
30
40
50
60
70
80
Profs (9) Coords(5)
Profs(11)
Coords(5)
Profs (9) Coords(5)
Aveiro Braga Porto
Articulação curricular 13 5 21 20 13 10
Características dosProfessores
3 1 3 4 5 6
Escola e cultura escolar 23 20 43 42 4 7
Trabalho colaborativo 53 43 75 50 14 28
Nº DE REFERÊNCIAS POR ESCOLA /PROFESSORES E COORDENADORES
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
Aveiro Braga Portp
18
41
22
REFERÊNCIAS À ARTICULAÇÃO CURRICULAR / POR ESCOLA
As referências ao trabalho colaborativo são as que surgem em maior
número nos discursos dos professores inquiridos (44) nas três escolas,
sendo um aspeto mais referenciado pelos professores da escola de
Braga.
O número significativo de referências ao trabalho colaborativo, à cultura
escolar e, ainda que em menor número, à articulação curricular, poderá
ser indicativo da sua importância na consecução de processos de
contextualização do currículo e no sucesso dos alunos.
A análise de conteúdo aos discursos dos entrevistados permitiu, ainda,
constatar que existem aspetos inerentes aos docentes, bem como às
condições da escola e da sua cultura que são essenciais na consecução
da articulação curricular e das práticas de trabalho colaborativo.
0
20
40
60
80
100
120
Lideranças Estruturasintermédias
Articulaçãocurricular
55
87 86
39
114 114
Coordenadores
Professores
LIDERANÇAS / ESTRUTURAS INTERMÉDIAS / ARTICULAÇÃO
Grupo Disciplinar
Departamento Curricular
Conselho Pedagógic
o
Coordenação de Ano
Conselho de Turma
ESTRUTURAS INTERMÉDIAS
Apesar do número de entrevistas ser idêntico nas três escolas, verifica-se
que é na escola de Braga que os discursos dos professores referem a
articulação curricular com mais frequência.
Tanto os discursos dos professores como os dos coordenadores de
departamento revelam que as práticas de articulação curricular se
desenvolvem com mais regularidade entre docentes de grupos
disciplinares afins – por exemplo, Matemática e Físico-Química, Português e
História, Português e Filosofia –, sem prejuízo de outros grupos disciplinares
as poderem também desenvolver
Comparando as referências feitas pelos coordenadores (15) e pelos
professores (29) à importância das lideranças, verificamos que, embora
em menor número, são os coordenadores que, nos seus discursos, as
referem com mais frequência.
Porém, a situação anterior inverte-se quando analisamos as referências
feitas às estruturas intermédias, às quais os professores consignam mais
importância do que os coordenadores.
Os discursos dos entrevistados evidenciam a importância das estruturas
intermédias na consecução de práticas de articulação curricular (como
por exemplo, as planificações, a aferição de critérios, a elaboração de
instrumentos, a compatibilização dos conteúdos a abordar…).
A análise das entrevistas tornou, ainda, patente a valorização positiva
que os professores fazem das estruturas intermédias, relegando para nível
de menor importância as “lideranças unipessoais”.
No que diz respeito às práticas de articulação e contextualização do
currículo, os dados permitiram verificar que, do conjunto de estruturas
intermédias que existem na escola, as mais valorizadas pelos professores
são o Grupo Disciplinar e o Departamento Curricular. As referências ao
Conselho de Turma são muito pouco frequentes e relativamente ao
Conselho Pedagógico da escola são praticamente inexistentes.
ALGUMAS CONCLUSÕES… ALGUMAS CONCLUSÕES…
Embora os professores reconheçam que as lideranças facilitam a
comunicação entre os diversos atores e são importantes ao nível das
tarefas mais formais, consideram que é no âmbito do trabalho
colaborativo com os pares que desenvolvem práticas de articulação e
contextualização do currículo. Neste domínio, a liderança “cede” lugar
ao trabalho colaborativo dos professores.
Em termos de decisão curricular, é evidente a importância que os
professores atribuem ao grupo disciplinar a que pertencem, deixando
transparecer nos seus discursos um forte sentido de pertença e um
sentimento de fidelidade a essa unidade mais restrita, em detrimento de
outras estruturas educativas mais diversificadas e mais globalizadoras da
ação educativa, como é o caso do departamento curricular ou do
conselho de turma.
A forte incidência no grupo disciplinar, enquanto espaço privilegiado de
interações no âmbito das práticas curriculares, pode acarretar um outro
problema mais profundo: a fragmentação disciplinar do currículo, com a
consequente segmentação do conhecimento, de acordo com as
respetivas especificidades científicas e profissionais.
As práticas de articulação que se desenvolvem em algumas escolas
circunscrevem-se mais ao domínio da sequencialidade do que ao da
articulação horizontal do currículo, o que poderá constituir um entrave à
contextualização dos saberes e à melhoria dos resultados dos alunos.
É preocupante a progressiva desvalorização estratégica que, em termos
curriculares, tem sido feita do conselho de turma. Sendo uma unidade
orgânica fundamental, corre-se o risco dessa desvalorização produzir
efeitos muito negativos quer ao nível da profissionalidade docente, quer
do desenvolvimento contextualizado do currículo.
Em resposta à nossa questão de partida,
As lideranças intermédias e a articulação curricular promovem a
contextualização do currículo?
concluímos que as lideranças intermédias e a articulação curricular têm
facilitado a contextualização do currículo, ainda que os professores
reconheçam que muito do que tem sido feito a esse nível seja mais do
foro do seu trabalho colaborativo do que da influência que os “líderes”
têm desempenhado nesse processo.
Em suma, embora se reconheça que têm estado a ser dados passos
significativos no campo da articulação e contextualização do currículo,
existe ainda algum caminho a percorrer para que estas sejam uma
realidade nas nossas escolas.
Referências
LEITE, C.; FERNANDES, P.; MOURAZ, A.; MORGADO, J.; ESTEVES, M.; RODRIGUES, M.; COSTA,
N. & FIGUEIREDO, C. (2011). Contextualizar o saber para a melhoria dos resultados dos
alunos. In C. Reis & F. Neves (Coord.), Atas do XI Congresso da Sociedade Portuguesa
de Ciências da Educação, Vol. II, pp. 147-152. Guarda: Instituto Politécnico da Guarda.
MORGADO, J. & TOMAZ, C. (2010). Articulação Curricular e Sucesso Educativo: parceria
de investigação. In A. Estrela et al. (Org.), A escola e o mundo do trabalho. Atas do XVII
Colóquio da AFIRSE. Lisboa: Universidade de Lisboa (CD-Rom).
SERGIOVANNI, T. (2004). O mundo da liderança. Porto: Edições Asa.
BOLÍVAR, A. (2003). Como melhorar as escolas – Estratégias e dinâmicas das Políticas
Educativas. Porto: Edições ASA.