Linguagens e Códigos Língua Portuguesa
Ensino Médio – 3º Ano
PASTICHE
Linguagens e Códigos - Língua Portuguesa – 3ª AnoPastiche
Paráfrase
Paródia
Intertextualidade
PASTICHEImagem: LeMorvandiau / GNU Free Documentation License.
REPENSANDO CONCEITOSINTERTEXTUALIDADE
diálogo entre os textos
leva em conta a diferença
“Todo texto se constrói como mosaico de citações,todo texto é
absorção e transformação de um outro texto.”
(Julia Kristeva)
Por que intertextualidade?
Textos "conversam" entre si.Exemplo: O jogo do "não confunda": · Não confunda "bife à milanesa" com "bife ali na mesa", · Não confunda "conhaque de alcatrão" com "catraca de
canhão", · Não confunda "força da opinião pública" com "opinião da
força pública".
É comum encontrar ecos ou referências de um texto em outro. A essa relação se dá o nome de intertextualidade.
Intertextualidade na poesiaChico Buarque de Holanda utiliza a intertextualidade em uma canção sua. Em "Bom Conselho", ele fazreferências a provérbios populares.
Provérbios populares (Canção de Chico Buarque)“Uma boa noite de sono combate os males”“Quem espera sempre alcança”“Faça o que eu digo, não faça oque eu faço"“Pense, antes de agir”“Devagar se vai longe”“Quem semeia vento colhe tempestade” Bom Conselho
Ouça um bom conselhoQue eu lhe dou de graçaInútil dormir que a dor não passaEspere sentadoOu você se cansaEstá provado, quem espera nunca alcançaVenha, meu amigoDeixe esse regaçoBrinque com meu fogoVenha se queimarFaça como eu digoFaça como eu façoAja duas vezes antes de pensarCorro atrás do tempoVim de não sei ondeDevagar é que não se vai longeEu semeio vento na minha cidadeVou pra rua e bebo a tempestade (Chico Buarque, 1972)
Chico Buarque inverte os provérbios, questionando-os e olhando-os sob outro ângulo, atribuindo-lhes novossentidos.
Ricardo Azevedo brinca com o famoso poema Quadrilha, de Carlos Drummond de Andrade
QuadrilhaJoão amava Teresa que amava Raimundoque amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém.João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento, Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, Joaquim suicidou-se e Lili casou-se com J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na história. (Carlos Drummond de Andrade)
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Quadrilha da sujeira João joga um palitinho de sorvete narua de Teresa que joga uma latinha derefrigerante na rua de Raimundo quejoga um saquinho plástico na rua deJoaquim que joga uma garrafinha velha na rua de Lili.Lili joga um pedacinho de isopor narua de João que joga uma embalagenzinha de não sei o quê na rua de Teresa quejoga um lencinho de papel na rua deRaimundo que joga uma tampinha derefrigerante na rua de Joaquim que jogaum papelzinho de bala na rua de J.PintoFernandes que ainda nem tinhaentrado na história. Ricardo Azevedo (”Você Diz Que Sabe Muito, Borboleta Sabe Mais”, Fundação Cargill) Enquanto um texto trata do amor não correspondido, por meio da comparaçãocom uma dança (quadrilha), o outro critica o mau hábito de jogar lixo na rua – emostra como as pessoas prejudicam as outras.
A intertextualidade também é um recurso comumente utilizado pelas crônicas de jornal
Shakespeare
“Há mais coisas entre o céu e a terra do que supõe
a nossa vã filosofia.”
Deuses do futebol: Urucubaco
Olímpico leitor, divinal leitora, há mais coisas entre
o céu dos deuses e a terra do futebol do que sonha
a nossa vã crônica esportiva.
Determinadas situações do jogo e certas fases pelas
quais os times passam não são, como pensam alguns,
obra do acaso. Ao contrário, são uma manifestação
da vontade de seres superiores, seres que controlam
a nossa vida desde o dia em que o Caos gerou a Noite.(Trecho de crônica de José Roberto Torero, Folha de S.Paulo, em17/9/02-pag.D3)
Imagem: Retrato de William Shakespeare / National Portrait Gallery,
London / Public Domain.
PARÁFRASE
-Interpretação com palavras próprias.-Mantém o pensamento original.Exemplo:Texto 1Texto 1Tão logo viu José Dias desaparecer no corredor,Bento deixou o esconderijo e correu até a varandado fundo. Não quis saber das lágrimas da mãe, por conta da promessa que ela fizera dezesseis anosantes, quando ele fora concebido.
Texto 2 (paráfrase)
Tão depressa vi desaparecer o agregado José Dias, deixei o esconderijo, e corri à varanda do fundo.Não quis saber de lágrimas nem das causas quefazia verter a minha mãe. A causa eram os seusprojetos eclesiásticos, e a ocasião destes é a que vou dizer, por ser já então história velha; datavade dezesseis anos.
Outro exemplo de paráfraseTexto OriginalMinha terra tem palmeirasOnde canta o sabiá,As aves que aqui gorjeiamNão gorjeiam como lá.
(Gonçalves Dias, “Canção do Exílio”).
ParáfraseMeus olhos brasileiros se fecham saudososMinha boca procura a ‘Canção do Exílio’.Como era mesmo a ‘Canção do Exílio’?Eu tão esquecido de minha terra…Ai terra que tem palmeirasOnde canta o sabiá!
(Carlos Drummond de Andrade, “Europa, França e Bahia”).
Imagem: Édouard Viénot / Retrato de Antônio Gonçalvez Dias, c. 1860 /
Public Domain.
Paródia
- Imita uma obra literária de forma crítica.- Subverte a mensagem do texto que o
inspirou.
Exemplo:
Canção do Exílio (Gonçalves Dias)
Canção do Exílio (paródia)
(Murilo Mendes)
Paródia Canção do Exílio
Minha terra tem palmeiras,Onde canta o Sabiá:Aves que aqui gorjeiam,Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,Nossas várzeas têm mais flores,Nossos bosques têm mais vida,Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,Mais prazer encontro lá;Minha terra tem palmeiras,Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,Que tais não encontro cá;Em cisma – sozinho, à noite –Mais prazer encontro eu lá;Minha terra tem palmeiras,Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,Sem que eu volte para lá;Sem que desfrute dos primoresQue não encontro cá;Sem qu’inda aviste as palmeiras,Onde canta o Sabiá. (Gonçalves Dias)
Canção do Exílio
Minha terra tem macieiras da Califórniaonde cantam gaturamos de Veneza.Os poetas da minha terrasão pretos que vivem em torres de ametista,os sargentos do exércitos são monitas,cubistas,os filósofos são polacos vendendo a prestação.gente não pode dormircom os oradoras e os pernilongos.Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.
Eu morra sufocadoem terra estrangeira.Nossas flores são mais bonitasnossas frutas mais gostosasmas custam cem mil réis a dúzia.
Ai quem me dera chupar uma carambola de verdadee ouvir um sabiá com certidão de idade!
(Murilo Mendes)
Revisando
INTERTEXTUALIDADE
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“Aonde fores, por onde fores, encontrarás palavras. Nem sempre tão belas. Mas podes torná-las melhores que são.” Marcio Campos
PASTICHE
PASTICHE?
O QUE É?
PASTICHE
Não é paráfrase.
Não é paródia.
É imitação.
Crítica?
Necessariamente, não.
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ETIMOLOGIA DA PALAVRA
PASTICHE derivado da palavra italiana pasticcio (massa ou amálgama de elementos compostos). Aplicado pejorativamente, no campo da pintura, aquadros forjados com tal perícia imitativa queprocuravam ser confundidos com os originais. Durante a Renascença, devido à crescente procura deobras de arte em Florença e Roma, muitos pintores medíocres foram levados a imitar quadros de grandes mestres italianos, com intenções fraudulentas. O conceito viajou para a França e pasticcio converteu-se
no galicismo pastiche, no século XVIII (2).
PASTICHE
. Inclui-se no campo da hipertextualidade
. Estabelece transfiguração estilística baseada no decalque de um hipotexto.
. Interage com fenômenos de recessão (3).
NÃO CONFUNDIR PASTICHE COM PARÓDIA
. Ambos envolvem imitação.
. O pastiche - imita um estilo sem função crítica ou satírica; - pode ser visto como uma espécie de colagem ou montagem de vários textos.
. A paródia - não há necessariamente um julgamento negativo sugerido no contraste irônico dos textos; - pode manter relações com a sátira, mas mantém-se distinta dela.
. Um pouco da sátira
- tem como referente o mundo,
a sociedade;
- ridiculariza para aperfeiçoar;
- usa formas de arte paródicas
para atingir o seu fim;
- distorce, deprecia, fere.
PASTICHE É definido como obra literária ou artística emque se imita grosseiramente o estilo de outros escritores, pintores, músicos etc.
Pode ser plágio, por isso tem sentidopejorativo, ou é uma recorrência a um gênero.
Nem sempre é grosseiro (4).
UM EXEMPLO Machado de Assis, em seu conto "O cônego ou a metafísica doestilo", faz um pastiche bíblico:
“Vem do Líbano, esposa minha, vem do Líbano, vem... Asmandrágoras deram o seu cheiro. Temos as nossas portas toda acasta de pombos...”
“Eu vos conjuro, filhas de Jerusalém, que se encontrardes commeu amado, lhe façais saber que estou enferma de amor...”
Era assim, com essas melodias do velho drama de Judá, queprocuravam um ao outro na cabeça do cônego Matias umsubstantivo e um adjetivo ... Não me interrompas, leitorprecipitado.(...) (5)
Em síntese ...Segundo Fuchs (1982:166), o pastiche:
. caracteriza-se por uma reformulação;
. tenta reproduzir não o conteúdo, mas
a forma de uma sequência original;
. pode ir do empréstimo fiel a apenas
um certo número de aparências, ou
até a livre imitação de um estilo.
Portanto,pastiche é procedimento que mescla
estilos.
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O pastiche
também foi cultuado por Manuel Bandeira (poeta pernambucano).No “Hai-kai” tirado de uma falsa lira deGonzaga, ele recorre a uma forma líricajaponesa para imitar o lirismo da obraárcade de Marília de Dirceu:
O “Hai-kai”Quis gravar “amor”
No tronco de um velho freixo
“Marília”, escrevi (6).
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Cantando...(Melodia:
O Pintinho Piu)
Olhe bem para a paráfrase (2x)Não é pastiche (6x)Preste atenção na paródia (2x)Não é pastiche (5x)Saiba como satirizar (2x)Parafrasear, parodiar, satirizarNão é pastiche (3x)Olhe bem o que eu lhe disse (2x)É imitação, reformulação, pode ser plágio, pejorativosem ser grosseiro, isto é PASTICHE. (Bis)
Imagem: Paleontour / Creative Commons Attribution 2.0 Generic.
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2 LeMorvandiau / GNU Free Documentation
License. http://commons.wikimedia.org/wiki/File:H%C3%A9raldique_meuble_Livre_ouvert.svg
22/03/2012
6 Uniesert / Domínio Público. http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Carlos_Drummond_de_Andrade,_kapo.jpg
22/03/2012
8 Retrato de William Shakespeare / National Portrait Gallery, London / Public Domain.
http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Shakespeare.jpg
22/03/2012
11 Édouard Viénot / Retrato de Antônio Gonçalvez Dias, c. 1860 / Public Domain.
http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Gon%C3%A7alves_Dias.jpg
22/03/2012
14 dabnotu/ lápis / Creative Commons Attribution-Share Alike 3.0 Unported.
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17 LeMorvandiau / GNU Free Documentation License.
http://commons.wikimedia.org/wiki/File:H%C3%A9raldique_meuble_Livre_ouvert.svg
22/03/2012
26a (a) Montagem de obras de Sandro Botticelli Antonio Pollaiuolo / GNU Free Documentation License
http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Pastiche.jpg
22/03/2012
26b (b) Alicia Wade / Creative Commons Attribution 3.0 Unported.
http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Swallow_My_Heart_pastiche.jpg
22/03/2012
28a (a) Classic "one knee" proposal / Public Domain http://commons.wikimedia.org/wiki/File:1815-regency-proposal-woodcut.gif
22/03/2012
28b (b) William-Adolphe Bouguereau / Whisperings of Love, 1889 / Public Domain.
http://commons.wikimedia.org/wiki/File:William-Adolphe_Bouguereau_(1825-1905)_-_Whisperings_of_Love_(1889).jpg
22/03/2012
29 Paleontour / Creative Commons Attribution 2.0 Generic.
http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Singing_dingo.jpg
22/03/2012
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