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MAQUIAVEL E HOBBES
Os pensadores malditos da política
Aula 06 – Prof. Ms. Fuad José Rachid Jaudy
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NICOLAU MAQUIAVEL
(1469-1527)
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CONTEXTO POLÍTICO EM QUE VIVEU MAQUIAVEL
Maquiavel nasceu em uma Itália constituída
de pequenos Estados que, além de totalmente
diferentes em muitos aspectos, lutavam entre si
pelo poder. Instabilidade era a palavra de
ordem, com governantes não conseguindo se
manter no poder em um Estado por muitos
meses. Somando-se a isso tudo, França e
Espanha, Estados Nacionais constituídos,
invadiam os Estados italianos ampliando o
caos.
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A DESVENTURA DE MAQUIAVEL
Maquiavel ocupou cargos públicos e exerceu diversas missões
diplomáticas obtendo assim uma certa vivência sobre o
funcionamento do Estado e das instituições relacionadas a ele. Tido
como republicano pelos Médicis foi preso e impedido de exercer
seu ofício e se retirou para sua propriedade rural, onde começou a
escrever suas obras. Mais tarde, escreve sobre Florença a pedido
de um dos Médicis e, quando esses são depostos, é visto como
alguém que possuía ligações com os tiranos. Isso o deixa
desgostoso. Após isso Maquiavel adoece e morre.
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CARACTERÍSTICAS DO PENSAMENTO POLÍTICO DA
ÉPOCA
Idealismo do Estado de Platão,
Aristóteles, Santo Tomás de Aquino, etc.
Ordem natural e eterna (dependendo de
uma vontade extraterrena), crença na
predestinação.
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PENSAMENTO DE MAQUIAVEL
A verità effetuale (ou a verdade efetiva das coisas): seu
ponto de partida e chegada é a realidade concreta. Para
tanto, Maquiavel buscou examinar a realidade tal como
ela é e não como se gostaria que ela fosse. O pensador
prega uma substituição do reino do dever ser pelo reino
do ser.
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FIM DA ORDEM NATURAL E ETERNA
A ordem, produto necessário da política, não é natural,
nem a materialização de uma vontade extraterrena, e
tampouco resulta do jogo de dados do acaso. Ao contrário,
a ordem tem um imperativo: deve ser construída pelos
homens para se evitar o caos e a barbárie, e, uma vez
alcançada, ela não será definitiva, pois há sempre, em
germe, o seu trabalho em negativo (como tudo na vida), isto
é, a ameaça de que seja desfeita.
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A POLÍTICA É MUNDANA
Ela é o resultado de feixes de forças, proveniente das ações concretas
dos homens em sociedade, ainda que nem todas as suas facetas venham
do reino da racionalidade e sejam de imediato reconhecíveis.
É preciso suportar a ideia da incerteza, da contingência, de que nada é
estável e que o espaço da política se constitui e é regido por mecanismos
distintos dos que norteiam a vida privada (amor, honestidade, lealdade,
etc.).
“O mundo da política não leva ao céu, mas sua ausência é o pior dos
infernos”.
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A NATUREZA HUMANA
Por toda parte, e em todos os tempos, pode-se observar
a presença de traços humanos imutáveis. Para
Maquiavel, os homens “são ingratos, volúveis,
simuladores, covardes ante os perigos, ávidos de lucro”.
Estes atributos negativos compõem a natureza humana e
mostram que o conflito e a anarquia são desdobramentos
necessários dessas paixões e instintos malévolos.
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A HISTÓRIA COMO FONTE DE ENSINAMENTOS
A História é um desfile de fatos dos quais se deve extrair
as causas e os meios utilizados para enfrentar o caos
resultante da expressão da natureza humana. A história é
cíclica, repete-se indefinidamente, já que não há meios
absolutos para "domesticar" a natureza humana. Assim, a
ordem sucede à desordem e esta, por sua vez, clama por
uma nova ordem. Como, no entanto, é impossível extinguir
as paixões e os instintos humanos, o ciclo sé repete.
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RIQUEZA, GLÓRIA E PODER
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A AMEAÇA DO CAOS
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PROBLEMA
Como por fim no inevitável
ciclo de estabilidade e caos?
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A VIRTÚ Ao contrário do pensamento cristão, que pregava as qualidades do bom
príncipe como sendo bondoso, honesto, liberal e cumpridor de promessas,
Maquiavel defendia a virtú como qualidade necessária para o príncipe.
A virtú consiste na sabedoria do uso da força, da utilização virtuosa do
poder. Assim, a qualidade exigida do príncipe que deseja se manter no
poder é sobretudo a sabedoria de agir conforme as circunstâncias.
Devendo, contudo, aparentar possuir as qualidades valorizadas pelos
governados. A virtú política exige também os vícios, assim como exige o
reenquadramento da força. O agir virtuoso é um agir como homem e como
animal. Resulta de uma astuciosa combinação da virilidade e da
natureza animal (sendo Leão ou Raposa).
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COMBATENDO A ANARQUIA: O PRINCIPADO E REPUBLICA
(UNIFICAÇÃO E REGENERAÇÃO)
A escolha de uma ou de outra forma institucional não
depende de um mero ato de vontade ou de
considerações abstratas e idealistas sobre o regime, mas
da situação concreta. Assim, quando a nação encontra-se
ameaçada de deterioração, quando a corrupção alastrou-
se, é necessário um governo forte, que crie e coloque
seus instrumentos de poder para inibir a vitalidade das
forças desagregadoras.
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PRINCIPADO
O príncipe não é um ditador; é, mais
propriamente, um fundador do Estado, um agente
da transição numa fase em que a nação se acha
ameaçada de decomposição. O príncipe deveria
ser um homem de virtú e conquistar a Deusa da
Fortuna (a honra, a riqueza, a glória e o poder) e
manter as suas conquistas.
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REPÚBLICA
Quando, ao contrário, a sociedade já encontrou
formas de equilíbrio, o poder político cumpriu sua
função regeneradora e "educadora", ela está
preparada para a República. Neste regime, que por
vezes o pensador florentino chama de liberdade, o
povo é virtuoso, as instituições são estáveis e
contemplam a dinâmica das relações sociais.
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MAQUIAVEL HOJE
Atitudes Maquiavélicas presentes
ainda hoje.
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GOLPE DE 64 (DITADURA E TRANSIÇÃO)
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ENTRE O AMOR E O MEDO
Há uma dúvida se é melhor sermos amados do que temidos, ou
vice-versa. Deve-se responder que gostaríamos de ter ambas as
coisas, sendo amados e temidos; mas, como é difícil juntar as duas
coisas, se tivermos que renunciar a uma delas, é muito mais
seguro sermos temidos do que amados... pois dos homens, em
geral, podemos dizer o seguinte: eles são ingratos, volúveis,
simuladores, covardes e ambiciosos; eles furtam-se aos perigos e
são ávidos de lucrar. Enquanto você fizer o bem para eles, são
todos teus, oferecem-te seu próprio sangue, suas posses, suas
vidas, seus filhos. Isso tudo até em momentos que você não tem
necessidade. Mas, quando você precisar, eles viram-lhe as costas.
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ENTRE O BEM E O MAL
As injúrias devem ser feitas todas de uma só vez, a
fim de que, saboreando-as menos, ofendam menos: e
os benefícios devem ser feitos pouco a pouco, a fim
de que sejam mais bem saboreados.
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ÉTICA PRAGMÁTICA
Quem num mundo cheio de perversos pretende
seguir em tudo os ditames da bondade, caminha
inevitavelmente para a própria perdição.
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Toda a ação é designada em termos do fim que
procura atingir.
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Os homens prudentes sabem tirar proveito de
todas as suas ações, mesmo daquelas a que são
obrigados pela necessidade.
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Os homens quando não são forçados a lutar por
necessidade, lutam por ambição.
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Os homens têm menos escrúpulos em ofender
quem se faz amar do que quem se faz temer, pois o
amor é mantido por vínculos de gratidão que se
rompem quando deixam de ser necessários, já que os
homens são egoístas; mas o temor é mantido pelo
medo do castigo, que nunca falha.
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Os que vencem, não importa como vençam, nunca
conquistam a vergonha.
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THOMAS HOBBES
(1588 – 1679)
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CONTRATUALISMO
Hobbes é um contratualista, quer dizer, um
daqueles filósofos que afirmaram que a origem do
Estado e/ou da sociedade está num contrato: os
homens viveriam, naturalmente, sem poder e sem
organização - que somente surgiriam depois de um
pacto firmado por eles, estabelecendo as regras de
convívio social e de subordinação política.
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O HOMEM NATURAL
O homem natural de Hobbes não é um selvagem. É o mesmo
homem que vive em sociedade. Melhor dizendo, a natureza do
homem não muda conforme o tempo, ou a história, ou a vida
social. Para Hobbes, como para a maior parte dos autores de
antes do século XVIII, não existe a história entendida como
transformando os homens. Estes não mudam. É por isso que
Hobbes, e outros, citam os gregos e romanos quando querem
conhecer ou exemplificar algo sobre o homem, mesmo e seu
tempo.
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O ESTADO DE NATUREZA OU A GUERRA GENERALIZADA
Todo homem é opaco aos olhos de seu semelhante - eu
não sei o que o outro deseja, e por isso tenho que fazer
uma suposição de qual será a sua atitude mais prudente,
mais razoável. Como ele também não sabe o que quero,
também é forçado a supor o que farei. Dessa suposições
recíprocas, decorre que geralmente o mais razoável para
cada um é atacar o outro, ou para vencê-lo, ou
simplesmente para evita rum ataque possível: assim a
guerra se generaliza entre os homens.
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A GUERRA NASCE DA IMAGINAÇÃO
O mais importante para ele é ter os sinais de honra, entre os
quais se inclui a própria riqueza (mais como meio, do que como
fim em si). Quer dizer que o homem vive basicamente de
imaginação. Ele imagina ter um poder, imagina ser respeitado -
ou ofendido - pelos semelhantes, imagina o que o outro vai fazer.
Da imaginação - e neste ponto Hobbes concorda com muitos
pensadores do século XVII e XVIII - decorrem perigos, porque o
homem se põe a fantasiar o que é irreal. O estado de natureza é
uma condição de guerra, porque cada um se imagina (com razão
ou sem) poderoso, perseguido, traído.
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“O HOMEM É O LOBO DO HOMEM”
De modo que na natureza do homem encontramos três causas principais de
discórdia. Primeiro, a competição, segundo, a desconfiança; e terceiro, a glória.
A primeira leva os homens a atacar os outros tendo em vista o lucro; a
segunda, a segurança; e a terceira, a reputação. Os primeiros usam a violência
para se tornarem senhores das pessoas, mulheres, filhos e rebanhos dos outros
homens; os segundos, para defendê-los; e os terceiros por ninharias, como uma
palavra, um sorriso, uma diferença de opinião, e qualquer outro sinal de
desprezo, quer seja diretamente dirigido a suas pessoas, quer indiretamente a
seus parentes, seus amigos, sua nação, sua profissão ou seu nome.
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NATUREZA X SOCIEDADE
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O HOMEM APRENDE A VIVER EM SOCIEDADE
Para Aristóteles, o homem naturalmente vive em
sociedade, e só desenvolve todas as suas
potencialidades dentro do Estado. Esta é a convicção
da maioria das pessoas, que preferem fechar os
olhos à tensão que há na convivência com os demais
homens, e conceber a relação social como
harmônica.
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“CONHECE-TE A TI MESMO”
O mito de que o homem é sociável por natureza nos
impede de identificar onde está o conflito, e de contê-lo.
A política só será uma ciência se soubermos como o
homem é de fato, e não na ilusão; e só com a ciência
política será possível construirmos Estados que se
sustentem, em vez de tornarem permanente a guerra
civil. Se o homem fosse naturalmente social não haveria
conflito.
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ACABANDO COM O CONFLITO SOCIAL
É preciso que exista um Estado dotado da espada, armado, para
forçar os homens ao respeito. Desta maneira, aliás, a imaginação
será regulada melhor, porque cada um receberá o que o
soberano determinar.
Não existe primeiro a sociedade, e depois o poder ("o Estado").
Porque, se há governo, é justamente para que os homens possam
conviver em paz: sem governo, já vimos, nós nos matamos uns
aos outros. Por isso, o poder do governante tem que ser
ilimitado.
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ESTADO: ÚNICO DETENTOR DO MONOPÓLIO LEGÍTIMO DA FORÇA
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E A IGUALDADE E A LIBERDADE?
A igualdade é o fator que leva à guerra de todos contra todos.
Dizendo que os homens são iguais, Hobbes não faz uma proclamação
revolucionária contra o Antigo Regime (como fará a Revolução
Francesa: "Todos os homens nascem livres e iguais..."), simplesmente
afirma que dois ou mais homens podem querer a mesma coisa, e por
isso todos vivemos em tensa competição.
Thomas Hobbes formulou a ideia da liberdade natural ampla e
ilimitada até a elaboração do pacto social. O homem entrega
a liberdade natural em troca desta liberdade civil a cargo do Estado.
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A LÓGICA DO PODER DO SOBERANO
O homem percebeu que, como todos gozavam da liberdade natural
como ele, o resultado só podia ser a guerra - "e a vida do homem
[era] solitária, pobre, sórdida, embrutecida e curta". (Ibidem, cap.
XIII, p. 76). Mas, dando poderes ao soberano, a fim de instaurar a
paz, o homem só abriu mão de seu direito para proteger a sua
própria vida.
O soberano não perde a soberania se não atende aos caprichos de
cada súdito. Mas, se deixa de proteger a vida de determinado
indivíduo, este indivíduo (e só ele) não lhe deve mais sujeição.
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MAQUIAVEL E HOBBES
FIM