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IInstituto de Epistemologia Aplicada e
Metodologia Médica - Universidade de
Witten, Herdecke (Alemanha).
*Cooperativa Científica Européia de
Produtos Médicos Antroposóficos
(ESCAMP), Freiburg (Alemanha).IIClínica para a Medicina de Família e
Complementar, Langnau im Emmental
(Suíça).†Universidade de Ciências Aplicadas de
Leiden (Holanda); Louis Bolk Institute,
Driebergen (Holanda).‡Departamento de Ginecologia do Centro
Médico Nastola, Plusterveys (Finlândia).
Endereço para correspondência:
Traduzido por Eliane Follador do original
Anthroposophic medicine: an integrative
medical system originating in Europe.
Global Adv Health Med.2013; 2(6):20-31.
DOI:10.7453/gahmj.2012.087. Publicado
com autorização dos autores e da Revista
Global Advances in Health and Medicine.
Palavras-chave: Medicina antroposófica;
medicina integrativa; medicina centrada
no paciente; holismo.
Key words: Anthroposophic medicine;
integrative; patient-centered; holistic.
Medicina antroposófica: um sistema de medicina integrativa originado na Europa
Anthroposophic medicine: an integrative medical system originating in Europe
Gunver S. Kienle,I* Ulrich Albonico,II Erik Baars,*† Harald J. Hamre,I* Peter Zimmermann,‡ Helmut KieneI
RESUMOA medicina antroposófica é um sistema de tratamento multimodal integrativo que se
baseia em uma compreensão holística do homem e da natureza, e da doença e seu
tratamento. Ela está estruturada em um conceito de quatro níveis de forças formativas
e em um modelo trimembrado de constituição humana. A medicina antroposófica
está integrada com a medicina convencional em grandes hospitais e consultórios mé-
dicos. Ela utiliza remédios derivados de plantas, minerais e animais; terapia artística,
euritmia terapêutica e massagem rítmica; aconselhamento; psicoterapia; e técnicas
específicas de enfermagem como aplicações externas. Os cuidados antroposóficos
em saúde são realizados por médicos, terapeutas e enfermeiros. Um Relatório de
Avaliação das Tecnologias da Saúde (Health-Technology Assessment Report) e sua
versão atualizada identificaram 265 estudos clínicos sobre a eficácia e a efetividade
da medicina antroposófica. Os resultados foram descritos como predominantemente
positivos. Esses estudos, assim como vários estudos específicos sobre segurança, não
mostraram grandes riscos, mas sim uma boa tolerabilidade. As análises econômicas
mostraram uma estrutura de custos favorável. Os pacientes relatam uma alta satis-
fação com a assistência médica antroposófica.
ABSTRACTAnthroposophic medicine is an inte grative multimodal treatment sys tem based on a
holistic understanding of man and nature and of disease and treatment. It builds on a
concept of four levels of formative forces and on the model of a three-fold human con-
stitution. Anthroposophic medi cine is integrated with conventional medicine in large
hospitals and med ical practices. It applies medicines derived from plants, minerals, and
animals; art therapy, eurythmy ther apy, and rhythmical massage; coun seling; psycho-
therapy; and specific nursing techniques such as external embrocation. Anthroposophic
healthcare is provided by medical doctors, therapists, and nurses. A Health-Technology
Assessment Report and its recent update identi fied 265 clinical studies on the effi cacy
and effectiveness of anthropo sophic medicine. The outcomes were described as pre-
dominantly positive. These studies as well as a variety of specific safety studies found
no major risk but good tolera bility. Economic analyses found a favorable cost structure.
Patients report high satisfaction with anthro posophic healthcare.
Artigo de revisão | Review
Arte Médica Ampliada Arte Médica Ampliada Vol. 38 | N. 1 | Janeiro / Fevereiro/ Março de 2018
Arte Méd Ampl. 2018;38(1):5-17.
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A medicina antroposófica é um sistema de tratamento
multimodal integrativo, uma ampliação da medicina
convencional que integra uma abordagem holística sobre
o homem e a natureza, e sobre a doença e a cura. Ela foi funda-
da no início dos anos 1920 por Rudolf Steiner e Ita Wegman. Ela
está estabelecida em 80 países ao redor do mundo, mas predo-
mina na Europa Central. É praticada por médicos, terapeutas,
e enfermeiros* e provê tratamentos e terapias específicos que
incluem medicamentos, arte, movimento, massagens e técnicas
específicas de enfermagem. Há opções de tratamento para todo
o espectro de doenças agudas e crônicas, com foco nas doen-
ças infantis, medicina de família e especialmente nas doenças
crônicas que necessitam de tratamentos longos e complexos.
Os pacientes se mostram altamente satisfeitos com essa forma
holística de tratamento.
ANTROPOSOFIA: UMA CIÊNCIA ESPIRITUAL
A medicina antroposófica se baseia nos métodos e nos resul-
tados cognitivos da antroposofia.1 A antroposofia foi estabele-
cida por Rudolf Steiner (1861-1925).2 Aos 22 anos, após haver
estudado ciências empíricas, matemática e filosofia em Viena,
Steiner foi comissionado para publicar os textos científicos de
Johann Wolfgang Goethe na Kürschners Deutscher Nationalli-
teratur (Literatura Nacional Alemã) e colaborou na Edição Sofia
dos trabalhos de Goethe em Weimar.3-4
Steiner começou a desenvolver a antroposofia em 1901.5
A antroposofia é uma visão sobre o ser humano e a natureza
que é espiritual, mas que, ao mesmo tempo, se considera profun-
damente científica.6 Steiner considerava que a antroposofia era
um passo evolutivo e consequente no desenvolvimento do pen-
samento ocidental.7
Na antroposofia, três tradições foram integradas e ampliadas:
a tradição empírica da ciência moderna, iniciada por Copérnico,
Kepler e Galileu; a tradição cognitiva da filosofia, iniciada por
Platão e Aristóteles e trazida a um apogeu no assim chamado
idealismo alemão por Hegel, Fichte, Schelling, Schiller e Goethe; e,
finalmente, a tradição esotérica da espiritualidade cristã.
A estabilidade dessa integração se reflete na crítica e rejeição
de Steiner pela filosofia de Kant8 e pelo reducionismo materialista.3
Kant propagou a ideia de que há uma limitação definitiva para o co-
nhecimento científico,9 e o movimento do reducionismo materialista
estabeleceu que as interações das partículas materiais são o princípio
básico de toda explicação científica.10-12 Em contraste, Steiner propôs e
descreveu como os seres humanos poderiam expandir as suas capa-
cidades cognitivas e como a expansão dessas capacidades6 poderiam
ser utilizadas para investigar uma variedade de forças formativas que
atuam no organismo além das interações de partículas (Coluna I).13
O conceito de um organismo com múltiplos níveis e com
diversos subsistemas é compatível com as abordagens multis-
Arte Méd Ampl. 2018;38(1):5-17.
Medicina antroposófica: um sistema de medicina integrativa originado na Europa
*N.E.: A medicina antroposófica é exercida exclusivamente por médicos, devidamente formados e regulamentados de acordo com as leis de seu país e estado. Os autores aqui se referem à antroposofia aplicada à saúde exercida por essas classes profissionais.
sistêmicas modernas da biologia do desenvolvimento e com
modelos holísticos de câncer.16-18 Na antroposofia, o conceito de
forças formativas é mais elaborado e a isso ainda se acrescenta
o conceito correspondente de matéria. Considera-se que as es-
truturas físicas da matéria são apenas um nível, e que, quando
a substância está absorvida no contexto de um organismo, essa
substância se torna “vivificada” ou, até mesmo, “animada”.1 A
pesquisa sobre as forças formativas e as suas correspondências
materiais, e sobre as diversas correlações entre essas forças pro-
vê a base da cosmovisão antroposófica. Essa visão traz dimen-
sões espirituais às ciências naturais.6
Steiner proveu a antroposofia com uma epistemologia pro-
fundamente embasada.3-5, 7, 8, I9-2I Por outro lado, a antroposofia
tem provado ser não apenas uma filosofia, ou uma nova orien-
tação à ciência, mas também ter uma aplicação prática. A an-
troposofia deu ensejo ao desenvolvimento de várias áreas: uma
escola de ciência espiritual com várias seções especializadas,
fundada em Dornach, Suíça, em 1924; um novo método peda-
gógico (Escolas Waldorf, também conhecidas como Escolas Ru-
dolf Steiner), atualmente são mais de mil escolas e, aproxima-
damente, dois mil jardins de infância, programas de educação
domiciliar, centros de cuidado infantil e pré-escola ao redor do
mundo; o movimento da educação terapêutica, que atualmente
conta com mais de seiscentos centros de educação terapêutica e
terapia social para crianças, jovens e adultos com incapacidades
e problemas de desenvolvimento; uma nova orientação à agri-
cultura, a agricultura biodinâmica; a criação de uma nova arte
do movimento, a euritmia; uma renovação de várias atividades
artísticas, como a arte da fala, arte dramática, pintura, escultura
e arquitetura; e esforços para remodelar a vida social (trimem-
bração social).22,23 Uma companhia antroposófica, Sekem, no
Egito,24 foi homenageada com o Prêmio Nobel Alternativo e com
o Prêmio da Fundação Schwab. As percepções antroposóficas
têm sido integradas à cultura moderna, e numerosas pessoas
têm emergido do cenário antroposófico para a vida pública, co-
mércio, bancos, política, cultura, teatro e cinema, literatura, belas
artes, música, moda e medicina.
PERSPECTIVAS BÁSICAS DA MEDICINA ANTROPOSÓFICA
A etiologia e a patogênese das doenças são entendidas con-
cretamente como o resultado de interações anormais entre os
diferentes níveis do organismo humano e dos seus três subsis-
temas (Coluna I).25,26 A ponderação a respeito dessas interações
é a base para o estabelecimento dos tratamentos médicos an-
troposóficos específicos. Um exemplo desse tipo de diagnóstico
e procedimento terapêutico foi mostrado recentemente em um
relato de caso sobre ansiedade e seu tratamento com euritmia
terapêutica.27
7
Kienle GS, Albonico U, Baars E, Hamre HJ, Zimmermann P, Kiene H
Coluna 1. Conceito antroposófico de organismo humano e de patogênese
O conceito quadrimembrado das forças formativas13
O conceito antroposófico de organismo humano afirma que o organismo humano não é apenas formado por forças físicas (celulares, moleculares), mas por um total de quatro níveis de forças formativas: (1) forças formativas físicas; (2) forças for-mativas de crescimento que interagem com as forças físicas e produzem e mantêm a forma viva, como nas plantas; (3) uma classe adicional de forças formativas (anima, alma) que intera-ge com as forças de crescimento e com as forças físicas, crian-do a dualidade do interno-externo e dos sistemas sensitivos, motores, nervosos e circulatórios como é visto nos animais; (4) uma classe adicional de forças formativas (Geist, espírito) que interage com as três outras e apoia a expressão da mente indi-vidual e a capacidade de pensamento reflexivo, que é exclusiva dos seres humanos.
O modelo trimembrado da constituição humanaQuando os quatro níveis de forças formativas são integra-
dos com a polaridade humana do movimento motor ativo e da percepção sensória passiva, entra em vigor a trimembração do ser humano.
Ela abarca três sistemas principais: dois polares um ao ou-tro (sistema neurossensorial e sistema metabólico-motor) e um intermediário (sistema rítmico). Esses subsistemas estão espa-lhados por todo o organismo, mas predominam em determina-das regiões: o sistema neurossensorial na região da cabeça, o sistema metabólico-motor nos membros, e o sistema rítmico nos órgãos respiratórios e circulatórios, na região do “meio”.
Considera-se que os quatro níveis de forças formativas se inter-relacionam diferentemente nesses três subsistemas. No sistema neurossensorial, os dois níveis superiores de forças (alma, espírito) estão relativamente separados dos dois ou-tros níveis inferiores, e isso provê as condições que originam os processos de autoconsciência, de percepções conscientes, e de pensamento consciente. No sistema metabólico-motor, a interpenetração é mais próxima, provendo assim as condições à execução dos movimentos corpóreos intencionais. No siste-ma rítmico, as inter-relações entre os níveis superior e inferior flutuam em relação ao aumento ou à diminuição da conexão e isso se associa à origem das emoções; a interpenetração au-menta durante os processos rítmicos pulmonares da inspiração e diminui durante a expiração.
O modelo da constituição humana trimembrada leva a reinterpretações distintas dos ensinamentos da fisiologia convencional.
A seguir, comentamos outro aspecto básico: uma vez que se
leva em consideração a existência e a efetividade das forças for-
mativas, surge uma nova visão sobre a evolução da humanidade
e da natureza, sobre as relações específicas entre os processos
que geram formas e substâncias na natureza exterior e no cor-
po humano. Assim, pode-se procurar as correspondências entre
os desvios patológicos do organismo humano com os processos
formativos e com as substâncias da natureza. Essas correspon-
dências são como a chave e a fechadura. Relações como essa,
ou similares, têm sido reconhecidas em várias culturas desde os
primórdios da humanidade. A avaliação dessas relações pode
permitir terapias médicas racionais.1
Entre os princípios que conduzem o cuidado médico
antroposófico, estão o reconhecimento da autonomia e da
dignidade do paciente e o estímulo para que as pessoas au-
xiliem a si mesmas. A autorresponsabilidade é indicada e
os objetivos terapêuticos incluem estimular várias formas de
autocura – estimular a higiogênese,28 que significa criar uma
regulação autonômica coerente do organismo; e salutogêne-
se, que significa criar uma autorregulação psicoemocional e
espiritual coerente.30 O tratamento visa não apenas restau-
rar a condição prévia de saúde, uma restitution ad integrum,
mas provocar um novo nível de força interior do organismo
e do indivíduo.
Desse modo, a medicina antroposófica almeja uma
abordagem holística. O objetivo não é simplesmente focar
nos dados singulares da patologia, mas fortalecer a cons-
tituição do paciente como um todo, levando em conside-
ração todas as suas dimensões: física, emocional, mental,
espiritual e social. Assim, frequentemente os tratamentos
são multimodais. Eles são adaptados individualmente numa
tentativa de combinar de modo sinérgico os vários compo-
nentes terapêuticos e para aumentar as chances de melho-
rar a saúde. Esse tratamento é concebido como um sistema
terapêutico.31-33
A PRÁTICA E OS CENTROS MÉDICOS DA MEDICINA ANTROPOSÓFICA
A medicina antroposófica é praticada em hospitais, ambula-
tórios e consultórios por médicos treinados. Atualmente há
aproximadamente 24 instituições médicas antroposóficas,
que incluem hospitais, departamentos em hospitais, centros
de reabilitação, e outros centros de internação médica na
Alemanha, Suíça, Suécia, Holanda e Estados Unidos (Colu-
nas 2 e 3, e Figura 1). Na Alemanha, em três grandes hos-
pitais antroposóficos há serviços de emergência que obede-
cem à regulamentação da República Federal da Alemanha
(Bundesländer); dois deles são hospitais-escola ligados a
universidades locais (Coluna 3). Eles oferecem treinamento
em medicina antroposófica para médicos.
Em 1983, foi fundada a primeira universidade privada na
Alemanha a partir de um desses hospitais (Universidade de
Witten/Herdecke). Além dos hospitais antroposóficos, ao re-
dor do mundo, há mais de 180 clínicas ambulatoriais onde
atuam conjuntamente médicos e terapeutas antroposóficos.
Médicos antroposóficos também trabalham em seus con-
sultórios. Além disso, há também departamentos em gran-
des hospitais que proveem cuidado médico antroposófico
e serviço de consulta (por exemplo, Centro para Medicina
Integrativa, Hospital Cantonal de St. Gallen, Suíça; Instituto
de Medicina Complementar, Universidade de Berna, Suíça;
Arte Méd Ampl. 2018;38(1):5-17.
8
Centro de Medicina Complementar, Universidade de Frei-
burg, Alemanha). Os médicos antroposóficos se envolve-
ram de modo decisivo na implementação de um serviço
de saúde liberal e pluralista na Alemanha e na relevante
formulação da Lei Alemã dos Medicamentos de 1976.
A partir de 1976, a medicina antroposófica, junto com a
homeopatia e a fitoterapia, tem sido definida como um “sis-
tema terapêutico especial” (besondere Therapierichtung) na
Lei dos Medicamentos34 e é representada na Alemanha por
seu próprio comitê no Instituto Federal para Medicamentos
e Equipamentos Médicos. A Suíça e a Letônia também reco-
nhecem a medicina antroposófica como um sistema tera-
pêutico distinto. Em alguns países, o reconhecimento legal
está restrito à regulamentação farmacêutica. A autorização,
a supervisão e o registro profissional dos médicos antropo-
sóficos é delegada às associações médicas nacionais.
OS MÉDICOS
A medicina antroposófica é exercida por médicos com trei-
namento em medicina convencional e treinamento especia-
lizado em medicina antroposófica. As terapias antroposófi-
cas também são prescritas por muitos outros médicos com
níveis variáveis de treinamento. Os médicos antroposófi-
cos frequentemente trabalham na atenção primária, mas
a medicina antroposófica não se limita à clínica geral. Ela
também é exercida em âmbitos mais especializados. (Figu-
ra 2; Coluna 3). Nos diversos países, os pré-requisitos para
a certificação de um médico antroposófico são definidos e
regulamentados a nível nacional, e compartilham um curri-
culum semelhante. Na Alemanha, por exemplo, o curriculum
requer três anos de prática médica, um ano de estudo de
medicina antroposófica de acordo com um programa pré-
-estabelecido, e dois anos de prática médica sob a super-
visão de um mentor. Além disso, há programas específicos
Coluna 2: Hospitais antroposóficos, departamentos de hospitais e centros de reabilitação
Hospitais com serviço de emergência• Hospital Comunitário de Havelhöhe, Berlim, Alemanha (Co-
luna 3)• Hospital Comunitário de Herdecke, Herdecke, Alemanha (Co-
luna 3)• Clínica Filder, Filderstadt, Alemanha: medicina interna, onco-
logia, cardiologia, gastrenterologia, medicina de emergência e medicina intensiva, ginecologia e obstetrícia, pediatria, psi-quiatria infantil, neonatologia, cirurgia, anestesia, radiologia, medicina psicossomática.
• Clínica Ita Wegman, Arlesheim, Suíça: medicina interna (com oncologia, cardiologia, neurologia, cirurgia, geriatria), psi-quiatria, medicina psicossomática.
• Hospital Paracelsus, Richterswil, Suíça: cirurgia, urologia, medicina interna, oncologia, gastrenterologia, pneumologia, cardiologia, ginecologia e obstetrícia, radiologia, anestesia, serviço de emergência, cuidados paliativos.
• Clínica Vidar, Järna, Suécia: reabilitação (câncer, doenças relaciona-das ao estresse, dor crônica), cuidados paliativos (câncer).
Hospitais de especialidades e departamentos• Asklepius – West Hospital Hamburg, Centro de Medicina Ho-
lística, Hamburgo, Alemanha: medicina interna, medicina psi-cossomática.
• Hospital Lahnhöhe, Lahnstein, Alemanha: medicina psicos-somática.
• Hospital Öschelbronn, Öschelbronn, Alemanha: medicina in-terna, oncologia.
• Hospital Paracelsus, Bad Liebenzell-Unterlengenhardt, Ale-manha: medicina interna.
• Hospital Heidenheim, Heidenheim, Alemanha: clínica geral.• Clínica Friedrich-Husemann, Buchenbach, Alemanha: psi-
quiatria.• Clínica Lukas, Arlesheim, Suíça: cuidados integrativos de on-
cologia e cuidados paliativos.• Hospital Emmental – Departamento de Medicina Comple-
mentar, Langnau, Suíça: clínica geral, oncologia, cuidados pa-liativos e medicina psicossomática.
• Hospital Scuol – Departamento de Medicina Complementar, Scuol, Suíça: clínica geral, oncologia, cuidados paliativos, me-dicina psicossomática e cuidados perioperatórios.
• Clínica Lievegoed, Bilthoven, Holanda: psiquiatria.
Reabilitação e outros centros hospitalares• Clínica Alexander von Humboldt, Bad Steben, Alemanha: cen-
tro de reabilitação geriátrica.• Sanatório Sonneneck, Badenweiler, Alemanha.• Reha-Klinic Schloss Hamborn, Borchen über Paderborn, Alemanha.• Haus am Stalten, Steinen, Alemanha.• Höfe am Belchen, Kleines Wiesental – Neuenweg, Alemanha:
comunidade terapêutica psiquiátrica para crianças e jovens.• Heilstäte Sieben Zwerge, Salem – Oberstenweiler, Alemanha:
doenças relacionadas ao uso de drogas.• Mutter und Kind Kurheim Alpenhof, Rettenberg, Alemanha.• Casa de Cura Andrea Cristoforo, Ascona, Suíça.• Casa de Saúde Ragael, Roncegno (Trento), Itália.• Centro de Saúde Rudolf Steiner, Ann Harbor, Michigan, Es-
tados Unidos: centro de terapia e treinamento para doenças crônicas.
Medicina antroposófica: um sistema de medicina integrativa originado na Europa
Figura 1. Clínica Filder, um hospital antroposófico em Filderstadt, Ale-manha. Fonte: Clínica Filder, reproduzido com autorização.
Arte Méd Ampl. 2018;38(1):5-17.
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O Hospital Comunitário de Herdecke, um hospital univer-sitário e de atendimento terciário fundado em 1969, é res-ponsável por prover o atendimento hospitalar da cidade de Herdecke e dos seus arredores, incluindo os serviços médicos de emergência (cuidados níveis II e III). O atendimento mé-dico antroposófico – medicação, cuidados de enfermagem, fisioterapia, banhos terapêuticos, massagem rítmica, equi-noterapia, laborterapia, terapia da fala, psicoterapia, eurit-mia terapêutica, terapias artísticas (uso de música, pintura, escultura, terapia da fala) – está integrado com os seguintes departamentos especializados:
• Anestesia, incluindo terapia para dor.• Cirurgia: geral, abdominal, trauma, incluindo implante de
endopróteses, cirurgia plástica, vascular, torácica, oncológi-ca e procedimentos cirúrgicos menores em pediatria.
• Ginecologia e obstetrícia: aproximadamente 900 nascimen-tos/ano.
• Reabilitação interdisciplinar precoce.• Medicina Interna: cardiologia, gastrenterologia, pneumolo-
gia, medicina psicossomática.• Oncologia interdisciplinar: enfermaria, hospital-dia, ambu-
latório, aconselhamento, psico-oncologia.• Pediatria: endocrinologia pediátrica e diabetes infantil, trei-
namento em diabetes, centro terapêutico; neuropediatria com foco na epilepsia dispondo de eletroencefalograma (EEG) digital, monitoramento de EEG, vídeo EEG, serviço de apoio para problemas de retardo de desenvolvimento, pe-diatria oncológica e hematológica, colaboração com a Socie-dade de Oncologia e Hematologia Pediátrica; neonatologia, cuidado intensivo pediátrico, psiquiatria infantil e juvenil, hospital-dia com enfermaria para internação compulsó-ria, psicotraumatologia (por exemplo, síndrome de estresse pós-traumático), dessensibilização e reprocessamento por movimento dos olhos, déficit de atenção/ transtorno de hi-peratividade, terapia familiar, medicina psicossomática.
• Neurologia, incluindo um departamento para lesões medu-lares, derrame, paraplegia.
• Neurocirurgia.• Pronto socorro, unidade de terapia intensiva, unidade de
terapia semi-intensiva.• Psiquiatria: pronto atendimento, enfermaria para interna-
ção compulsória, hospital-dia.• Radiologia: raios-X, ultrassonografia, tomografia computadori-zada, angiografia por subtração digital, ressonância magnética.
Vários departamentos também mantém consultas e tra-tamentos ambulatoriais.
O Hospital Comunitário de Havelhöhe, assumido em 1995 e reorganizado como um hospital de medicina antroposófica, é um hospital de emergência com 304 leitos e que provê hos-pitalização à população daquela área.
Assistência médica antroposófica – incluindo medica-mentos, cuidados de enfermagem, euritmia terapêutica, terapias artísticas (música, pintura, escultura), massagem rítmica, massagem com o método Dr. Pressel, psicoterapia, fisioterapia, exercícios, drenagem linfática manual – está integrado nos seguintes departamentos de especialidades,
Coluna 3: Exemplos de centros de medicina integrativa em dois hospitais antroposóficos
para algumas especialidades. Um programa de treinamento
adicional internacional (International Postgraduate Medi-
cal Training - IPMT) em medicina antroposófica consiste
em uma série de treinamentos anuais de uma semana de
duração que permite que médicos formados obtenham o
certificado de médico antroposófico após três anos. O trei-
namento completo é oferecido em vários países, e inclue
Alemanha, Argentina, Austrália, Áustria, Brasil, Chile, Cuba,
Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, Estônia, Filipinas,
Finlândia, França, Geórgia, Holanda, Hungria, Índia, Israel,
Itália, Japão, Letônia, Nova Zelândia, Noruega, Peru, Polô-
nia, Reino Unido, Romênia, Rússia, Suíça, Taiwan e Ucrânia.
Em muitas universidades e escolas médicas há cadeiras de
medicina antroposófica e programas de pós-graduação em
medicina antroposófica.
As diretrizes para boa prática profissional estabelecem
os padrões sobre os princípios éticos, treinamento, certifi-
cação, educação médica continuada, conduta profissional,
relacionamento com colegas e terapeutas, e compromissos
sociais para os médicos antroposóficos. No âmbito inter-
nacional, os médicos antroposóficos são representados
pela Federação Internacional de Associações de Medicina
Antroposófica (IVAA) que funciona com uma organização
guarda-chuva para assuntos políticos e legais.
TERAPIAS ANTROPOSÓFICAS
Além dos tratamentos convencionais, a medicina antro-
posófica emprega medicamentos e procedimentos tera-
pêuticos especiais, que incluem a euritmia terapêutica, a
massagem rítmica, a terapia artística antroposófica e o
aconselhamento. Além disso, ainda há vários procedimen-
tos de enfermagem antroposófica. As terapias podem ser
usadas isoladamente ou em combinação com outras tera-
pias antroposóficas.
Kienle GS, Albonico U, Baars E, Hamre HJ, Zimmermann P, Kiene H
Figura 2. Médico antroposófico realizando uma cirurgia em um hos-pital antroposófico. Fonte: Hospital Comunitário de Havelhöhe, re-produzido com autorização.
Arte Méd Ampl. 2018;38(1):5-17.
10
MEDICAMENTOSSubstâncias derivadas de plantas, animais e minerais são usa-
das nos medicamentos antroposóficos. Os medicamentos an-
troposóficos são concebidos, desenvolvidos, e produzidos de
acordo com a visão antroposófica do ser humano, da natureza
e das substâncias que, muitas vezes, são dinamizadas. O seu
método de produção está descrito na Farmacopeia Homeopática
Alemã, na Farmacopeia Suíça, e no Anthroposophic Pharmaceu-
tical Codex e segue as Boas Práticas de Fabricação Farmacêuti-
com outros centros de competência interdisciplinar e coope-ração interdisciplinar para tratamento oncológico: • Medicina interna: geral, oncologia, diabetes (tipo I e II),
gastrenterologia (endoscopia: gastroscopia, colonoscopia, colangiopancreatografia retrógrada endoscópica, enteros-copia com balão, todos os procedimentos intervencionais terapêuticos – como polipectomia, mucosectomia, esclero-terapia, ligaduras com bandas elásticas, procedimentos com stent, drenagem guiada por ultrassom, aspiração por agulha fina guiada por ultrassom, pHmetria de esôfago e de estô-mago, manometria, radiofrequência multipolar) – cardiolo-gia (procedimentos invasivos e não invasivos incluindo sala para cateterização cardíaca, angioplastia coronária percu-tânea transluminal, implantação de stents, marca-passos, Escola Havelhöhe do Coração).
• Enfermaria de cuidados paliativos e de dor que inclui a in-serção de cateter venoso, cateter para alimentação, stents, cateter epidural, bombas e bloqueis nervosos.
• Pneumologia, incluindo pletismografia de corpo inteiro, in-vestigação de apneia do sono, videobroncoscopia flexível, toracoscopia, ultrassonografia endobronquial, preenchi-mento de cavidades pós-pneumectomia, testes de provo-cação com alérgenos e dessensibilização, determinação dos parâmetros para uso domiciliar de oxigenioterapia.
• Cirurgia: geral e oncológica, visceral, mão, ortopédica, trau-ma, centro para cirurgias minimamente invasivas incluindo cirurgia transluminal endoscópica, cirurgia vascular, centro de câncer colorretal, operações ambulatoriais e em pacien-tes internados.
• Ginecologia e obstetrícia (aproximadamente 1.200 nasci-mentos/ano).
• Centro de mama.• Terapia de retirada de drogas (usuários de múltiplas drogas,
heroína, álcool).• Medicina psicoterapêutica, medicina psicossomática.• Pediatria do desenvolvimento.• Anestesia, incluindo terapia da dor.• Enfermaria de cuidados intensivos interdisciplinar, incluindo
hemodiálise.• Radiologia, mielografia, angiografia, tomografia computa-
dorizada, medicina nuclear (câmara de tomografia com-putadorizada por emissão de fóton único, cintilografia do miocárdio, cintilografia de perfusão cerebral).
Vários departamentos proveem consultas ambulatoriais. Cinquenta por cento dos pacientes não são da região, o que é considerado um sinal da alta aceitação pelos pacientes.
O Hospital Havelhöhe é um hospital de ensino acadêmico associado ao Charité.
ca. As vias de administração medicamentosa são: oral, retal,
vaginal, parenteral (intradérmica, subcutânea ou intraveno-
sa) ou tópica (aplicação na pele, saco conjuntival ou cavidade
nasal). Várias companhias farmacêuticas produzem medica-
mentos antroposóficos (por exemplo: Weleda, Arlesheim, Suí-
ça; Wala Heilmittel, Eckwälden, Alemanha; Abnoba Heilmittel,
Pforzheim, Alemanha). No exercício da medicina antroposófi-
ca, de acordo com a indicação e necessidade, aos preparados
homeopáticos e fitoterápicos pode-se acrescentar os medica-
mentos convencionais. A organização europeia ESCAMP (Co-
operativa Científica Europeia de Produtos Médicos Antropo-
sóficos), que é independente e sem fins lucrativos, pesquisa
questões de avaliação de sistema da medicina antroposófica
com finalidades regulatórias.
APLICAÇÕES EXTERNAS
As aplicações externas – como fricções, compressas (Figura
3), hidroterapia, e banhos medicinais – são usados como ele-
mentos dos cuidados terapêuticos e de enfermagem para es-
timular, fortalecer, ou regular os processos higiogênicos. Com
esse propósito são utilizados óleos essenciais, ácidos graxos,
tinturas, unguentos e também o dióxido de carbono em ba-
nhos. De primordial importância é a massagem rítmica, que
será descrita a seguir.
ENFERMAGEM
Nos cuidados de enfermagem, a intenção é conhecer o pa-
ciente como um todo e percebê-lo em seus aspectos físico,
psicológico e espiritual. Uma relação de cuidado é estabe-
lecida com o objetivo de desenvolver um relacionamento
pessoal, de acompanhamento e de mediação. Em associa-
ção com dois hospitais antroposóficos alemães (Hospital
Medicina antroposófica: um sistema de medicina integrativa originado na Europa
Figura 3. Compressas aplicadas pela enfermagem. Fonte: Jürg Buess, Hiscia, reproduzido com autorização.
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Comunitário de Herdecke e Clínica Filder em Filderstadt,
Coluna 2), institutos oficialmente reconhecidos que pro-
movem cursos de três anos de duração sobre enfermagem
ampliada pela antroposofia. Além deles, várias outras ins-
tituições também oferecem oportunidade de treinamento.
ARTETERAPIA
A arteterapia antroposófica foi desenvolvida principal-
mente por Margareth Hauschka,35 e foi ela também que
fundou, em 1962, a primeira instituição de treinamento
nessa modalidade de terapia.
A terapia artística antroposófica emprega as seguintes
técnicas:
• Escultura: Pedra, pedra-sabão, madeira, argila, cera
de abelha, platicina e a areia são utilizadas como material
para esculpir.
• Pintura e desenhos terapêuticos: Os materiais usados
incluem tintas e pincéis, giz, giz de cera e papel.
• Musicoterapia: Os instrumentos utilizados incluem os
instrumentos de percussão como carrilhão, xilofone, cím-
balos, blocos ressonantes de madeira, tambores, timbales,
vários instrumentos de sopro como flauta, cromorno, cha-
ramela, trompete e trompa dos Alpes, instrumentos de cor-
da como chrotta (um violoncelo simplificado), violino, viola
e contrabaixo; e instrumentos de corda como harpa, lira, e
kantele. As melodias, os sons, e os ritmos são improvisa-
dos em conjunto com o terapeuta, ou simplesmente são
ouvidos. A escolha do instrumento depende das circuns-
tâncias individuais do paciente, de acordo com a gravidade
e o estádio da doença.
• Terapia antroposófica da fala: Envolve a articulação
da fala, as consoantes, as vogais, o ritmo dos textos, e os
hexâmetros. A respiração tem um papel especial no falar
(a fala é a expiração configurada). As indicações da tera-
pia antroposófica da fala não incluem apenas os distúrbios
da voz, mas também doenças clínicas gerais, doenças psi-
cossomáticas e psiquiátricas, além dos distúrbios de de-
senvolvimento e das dificuldades de aprendizagem.
A arteterapia é disponibilizada como uma terapia in-
dividual, ou como terapia individual em pequenos grupos,
ou como terapia de grupo. Os pacientes aprendem a tra-
balhar especificamente com um determinado meio (por
exemplo, escultura ou pintura). Antes da primeira sessão
de tratamento há uma sessão especial, para que se faça
a anamnese e o diagnóstico do ponto de vista da arte-
terapia. Usualmente, cada sessão de terapia subsequente
dura cinquenta minutos e tem uma frequência semanal.
A qualificação em arteterapia antroposófica requer uma
graduação universitária de quatro anos, e um período de
dois anos de experiência profissional sob a supervisão de
um mentor. Na Alemanha e na Holanda é possível fazer
essa formação como mestrado.
EURITMIA TERAPÊUTICA
A euritmia terapêutica (em grego, eurythmy significa “ritmo
harmonioso”; Figura. 4) é um exercício terapêutico que envol-
ve elementos cognitivos, emocionais e volitivos. Essa terapia é
provida por euritmistas terapêuticos em sessões individuais ou
em grupo nas quais os pacientes são instruídos a realizar mo-
vimentos específicos com as mãos, os pés, ou o corpo inteiro.
Os movimentos da euritmia terapêutica se relacionam com os
sons das vogais e das consoantes, com os intervalos musicais,
ou com os gestos anímicos (por exemplo, simpatia e antipatia).
Para cada paciente individual, é indicado apenas um, ou vários
movimentos, de acordo com a sua doença, a sua constituição,
e a observação do terapeuta sobre o padrão de movimentos do
paciente.27 Esta seleção é baseada num conjunto de princípios
que rege a prescrição de movimentos específicos para doenças,
tipos constitucionais e padrões de movimentos.37,38 Um ciclo
de terapia consiste de 12 a 15 sessões, cada uma durando ge-
ralmente entre 30 e 45 minutos; no intervalo das sessões, os
pacientes praticam os exercícios diariamente. A qualificação do
euritmista terapêutico requer cinco anos e meio de formação
de acordo com um curriculum padronizado internacionalmente.
Acredita-se que a euritmia terapêutica provê tanto efeitos gerais
(por exemplo, a melhora do padrão respiratório e da postura,
fortalecimento do tônus muscular, melhora da vitalidade físi-
ca)39 quanto efeitos específicos sobre as doenças.38
MASSAGEM RÍTMICA
A massagem rítmica foi desenvolvida a partir da massagem
sueca por Wegman, que era médica e fisioterapeuta. As técnicas
Kienle GS, Albonico U, Baars E, Hamre HJ, Zimmermann P, Kiene H
Figura 4. Euritmia terapêutica. Fonte: Associação Profissional de Eu-ritmia Terapêutica. Publicado com permissão.
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tradicionais de massagem são ampliadas por movimentos de le-
vantamento, movimentos suaves de ondulação, e padrões com-
plexos de movimento como lemniscatas e técnicas especiais de
soltura das áreas mais profundas em direção à periferia. Além
do efeito na pele, tecido subcutâneo, e na musculatura, acredita-
-se que a massagem rítmica exerça efeitos gerais (aumento da vi-
talidade física, por exemplo) e efeitos específicos sobre a doença.
A massagem rítmica é praticada por fisioterapeutas que tenham
recebido de um ano e meio a três anos de treinamento adicional
em massagem rítmica, de acordo com um curriculum padronizado.
PSICOTERAPIA ANTROPOSÓFICA E ACONSELHAMENTO
A psicoterapia tem sido ampliada pela abordagem antroposófi-
ca. A formação completa está disponível em diferentes países, e
na Alemanha, na Holanda, na Itália e no Reino Unido é possível
fazer mestrado/bacharelado em psicoterapia antroposófica. O
aconselhamento em questões biográfico-existenciais, de estilo
de vida, nutricionais, sociais, mentais e espirituais é um elemen-
to central do cuidado médico antroposófico.
PESQUISA EM MEDICINA ANTROPOSÓFICA
Desde o seu desenvolvimento na década de 1920 e início da
década de 1930, a medicina antroposófica se associou a uma
extensa prática em pesquisa. Após a Segunda Guerra Mun-
dial, quando a medicina antroposófica foi reestabelecida na
Europa, o foco não foi a pesquisa, mas a fundação de consul-
tórios, clínicas e hospitais. Nos anos 1970 e 1980, a pesquisa
foi retomada, mas ainda sendo restringida pelo paradigma
dominante do estudo duplo cego randomizado, que é difícil
de implementar para os tratamentos não farmacológicos, o
aconselhamento e o sistema de tratamento como um todo.
Além disso, os pacientes e os médicos antroposóficos fre-
quentemente rejeitam a randomização e o cegamento por
causa da forte preferência da terapia e do foco na relação
médico-paciente e na abordagem altamente individualizada
do tratamento.40,41 Nos últimos trinta anos, as atividades de
pesquisa têm crescido de modo consistente, incluindo a pes-
quisa laboratorial, os estudos pré-clínicos, os estudos clínicos
e observacionais, a pesquisa epidemiológica, a avaliação de
segurança, a análise econômica, a avaliação da perspectiva
do paciente, as revisões sistemáticas, as meta-análises e os
relatos de avaliação de tecnologia de saúde (HTA, Health-Te-
chnology Assessment Report). Um trabalho intenso tem sido
realizado no campo da metodologia, com ênfase na avaliação
da terapia individualizada, incluindo a melhora sistemática
da avaliação dos relatos de caso.13 Foram estabelecidos cen-
tros de pesquisa em hospitais e em centros universitários an-
troposóficos. Atualmente, o foco da pesquisa está em duas
vertentes: por um lado, o sistema de tratamento antroposófi-
co da medicina antroposófica e, por outro, a abordagem indi-
vidualizada das terapêuticas personalizadas.
EFICÁCIA CLÍNICA E EFETIVIDADE
A revisão mais completa e ampla de eficácia clínica e da efe-
tividade dos tratamentos antroposóficos – um relato HTA e a
sua atualização13,42 identificou 265 estudos. Foram 38 estudos
randomizados com grupo controle, 36 estudos prospectivos e
49 estudos retrospectivos controlados não randomizados. Os
142 restantes foram observacionais, sem grupo comparativo.
Esses estudos investigaram um largo espectro de tratamen-
tos antroposóficos em uma ampla variedade de doenças: 38
avaliaram o sistema de tratamento da medicina antroposófica
como um todo, dez avaliaram terapêuticas não medicamen-
tosas, 133 foram sobre a atuação dos preparados de Viscum
album no tratamento de câncer, e 84 sobre outros tratamentos
medicamentosos antroposóficos. A qualidade metodológica
dos trabalhos foi muito variável, alguns apresentando grandes
limitações, prejudicando uma conclusão válida sobre eficácia
e efetividade, e outros foram relativamente bem conduzidos.
Dos 265 estudos, 253 (incluindo 32 dos 38 estudos rando-
mizados) mostraram um resultado positivo do tratamento an-
troposófico, com um resultado comparável ou melhor do que o
tratamento convencional ou uma melhora relevante da condição
clínica, frequentemente em doenças crônicas e após tratamen-
tos convencionais mal sucedidos. Doze estudos não mostraram
benefícios, e um mostrou uma tendência negativa. Em um des-
ses 12 estudos,43 o tratamento padrão – a instilação vesical do
Bacilo Calmette-Guerin no câncer superficial de bexiga – mos-
trou resultado superior.
Viscum album no câncer. O tratamento com Viscum album
para o câncer foi desenvolvido pela medicina antroposófica. É
um dos tratamentos complementares para o câncer mais pres-
critos na Europa Central44,45, e tem sido intensamente estuda-
do.46,47 O Viscum (Viscum album L., que não deve ser confundido
com o Phoradendron, o Viscum americano) é um arbusto que
cresce em diversas árvores hospedeiras. Os extratos são pre-
parados a partir de partes específicas da planta (por exemplo,
brotos de folhas frescas, bagas). Os preparados antroposóficos
do Viscum (Abnobaviscum, Helixor, Iscador [registrado como “Is-
car” nos Estados Unidos], e Iscucin) são disponíveis a partir de
diferentes árvores hospedeiras como o carvalho, a macieira e o
pinheiro. A colheita é padronizada, e os sumos da colheita do
inverno e do verão são misturados.
O extrato de Viscum (EV) contém uma variedade de compo-
nentes biologicamente ativos46,47 como lectinas, viscotoxinas, ou-
tras proteínas de baixo peso molecular, VisalbCBA (Viscum album
aglutinina ligadora de quitina), oligo e polissacarídes, flavonoides,
vesículas, ácidos triterpênicos50 e outros. O EV e vários dos seus
componentes são citotóxicos, e as lectinas especialmente exercem
fortes efeitos de indução de apoptose.51-53 Eles também exercem
um efeito em células cancerosas resistentes a múltiplas drogas54
e potencializam a citotoxicidade de drogas anticancerígenas.55,56
Nas células mononucleares, o EV tem propriedades estabilizado-
ras de DNA. O EV e seus componentes estimulam o sistema imu-
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nológico (ativação in vivo e in vitro dos monócitos/macrófagos,
granulócitos, células natural killer [NK], células T, células dendrí-
ticas) e induzem uma variedade de citocinas.46,47 A citoxicidade
das células NK também pode ser muito aumentada por um efeito
de ponte através das ramnogalactoranas (RG-I).57,58 Quando inje-
tados em um animal com tumor, o EV e vários dos seus compo-
nentes inibem e reduzem o crescimento tumoral.46,47 O EV in vivo
também aumenta as endorfinas.46,47
Os estudos clínicos sobre o uso de Viscum no câncer descrevem,
de modo consistente, principalmente efeitos positivos sobre a qua-
lidade de vida: melhora no coping (enfrentamento), sono, apetite,
energia, capacidade de trabalho, bem estar emocional e funcional,
assim como redução na fadiga, exaustão, náusea, vômitos, depres-
são e ansiedade. Os estudos também descrevem, mas de modo
menos consistente, redução na dor e na diarreia. Com relação à
sobrevida, os resultados, até recentemente, eram inconclusivos60,61
e a melhor evidência apareceu nos estudos epidemiológicos. Um
estudo grande, bem conduzido, randomizado e com grupo contro-
le foi concluído recentemente; ele Investigou o uso do Viscum em
pacientes com câncer pancreático avançado que não eram elegí-
veis para quimioterapia. A primeira análise intermediária com 220
pacientes encontrou um benefício estatisticamente significante na
sobrevida (objetivo primário), com uma sobrevida mediana de 4,8
meses nos pacientes tratados com Viscum comparado com 2,7 me-
ses nos pacientes controle. Também a qualidade de vida, analisada
como objetivo secundário, se mostrou superior em relação às esca-
las funcionais e os sintomas de fadiga, sono, dor, náusea, vômitos
e apetite. Como esperado, o peso corpóreo diminuiu nos pacientes
controle, mas aumentou nos pacientes tratados com Viscum.62
No tratamento subcutâneo usual com baixas doses de Vis-
cum, a remissão tumoral é vista raramente.60,61,63 No entanto,
efeitos remissivos têm sido descritos após a aplicação local e em
altas doses de EV em câncer de fígado,64 pâncreas,65 carcinoma
de células de Merkel,66 câncer de mama,66 linfoma cutâneo pri-
mário de células B,67carcinoma cutâneo de células escamosas68
e outros.46,61 Resposta inflamatória local e febre são frequente-
mente observadas no início do tratamento e então o tumor re-
gride nos meses subsequentes.
Os efeitos colaterais mais frequentes são reações cutâneas
dose-dependentes e sintomas semelhantes à gripe. Também
têm sido relatadas reações alérgicas. De modo geral, o trata-
mento com Viscum é considerado seguro.13,46,69
Avaliação do sistema. Os maiores estudos clínicos sobre
medicina antroposófica são duas avaliações sobre o sistema,
abrangendo juntas mais de 2.700 pacientes.
O estudo AMOS (Anthroposophic Medicine Outcomes Study,
Estudo sobre os Resultados da Medicina Antroposófica) é um
estudo observacional de coorte sobre pacientes alemães trata-
dos ambulatorialmente de doenças mentais, doenças musculo-
esqueléticas, respiratórias e outras condições crônicas.70 Parti-
ciparam desse estudo 151 médicos antroposóficos qualificados,
275 terapeutas e 1.631 pacientes com idade variando entre 1 e
75 anos. No início do estudo, os pacientes estavam, em média,
doentes havia três anos (mediana 6,5 anos). Após o tratamento
antroposófico (terapia artística, massagem rítmica, euritmia te-
rapêutica, aconselhamento provido pelo médico, medicamentos
antroposóficos) foi observada a melhora substancial e susten-
tada dos sintomas da doença e da qualidade de vida. Tanto os
adultos70 quanto as crianças71 apresentaram melhora em todos
os grupos de modalidade terapêutica72-76 e em todos os grupos
de diagnóstico que foram avaliados (transtornos de ansiedade,
asma, déficit de atenção/transtorno de hiperatividade, depres-
são, dor lombar, enxaqueca)77-83 e os efeitos persistiram após
quatro anos. A melhora na qualidade de vida foi, no mínimo, da
mesma ordem de magnitude da melhora após outros tratamen-
tos não antroposóficos.84 Análises de sensibilidade (supressão
combinada de viés) mostraram que, no máximo, 37% da me-
lhora poderia ser explicada por melhora espontânea, regressão
à média, terapias adjuvantes e viés de não resposta.85 Em um
estudo comparativo prospectivo não randomizado aninhado (hí-
brido) os pacientes do AMOS com dor lombar mostraram melho-
ra comparável ou maior que os pacientes que receberam trata-
mento convencional.81 O estudo The International Primary Care
Outcomes Study on Anthroposophic Medicine (Estudo Interna-
cional de Desfecho em Atenção Primária na Medicina Antropo-
sófica) foi conduzido em quatro países da Europa e nos Estados
Unidos e comparou pacientes de atenção primária que eram
tratados por médicos antroposóficos ou convencionais para
infecções respiratórias agudas e otite. Quando comparado ao
tratamento convencional, o tratamento antroposófico foi muito
menos associado ao uso de antibióticos e antipiréticos, assim
como a uma recuperação mais rápida, menos efeitos adversos e
maior satisfação com a terapia. Essas diferenças permaneceram
mesmo após o ajuste para país, idade, gênero e quatro marca-
dores basais de gravidade. Apenas 3% dos pacientes antroposó-
ficos teriam concordado com uma randomização.40
Um projeto complexo sobre os cuidados de saúde antropo-
sóficos para câncer avançado, patrocinado pela Fundação Nacio-
nal Suíça de Ciências, demonstrou a dificuldade para se recrutar
pacientes para estudos randomizados sobre comparação de sis-
temas de tratamento, mesmo em uma população atendida em
hospital universitário. Embora a medicina antroposófica estivesse
bem integrada no ambiente do hospital universitário e a aderên-
cia à terapêutica antroposófica fosse boa, o componente de ran-
domização do projeto por fim teve que ser abandonado. Mesmo
assim, a parte observacional do estudo mostrou que o tratamen-
to antroposófico obteve melhora nas dimensões física, psíquica,
cognitiva-espiritual e social da qualidade de vida, e os pacientes
consideraram que houve efeito benéfico na sua recuperação física
e no seu bem estar, qualidade de vida emocional e cognitivo-es-
piritual e qualidade de relações humanas e cuidados, enquanto a
terapia convencional foi percebida como benéfica principalmente
pelo efeito no tumor com alívio dos sintomas e da dor.86-89
Uma comparação entre os sistemas de atenção médica da
medicina antroposófica e da medicina convencional foi reali-
zado pela Universidade de Uppsala, na Suécia. Como não foi
Kienle GS, Albonico U, Baars E, Hamre HJ, Zimmermann P, Kiene H
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possível financiar a randomização com os recursos públicos, foi
implementado um estudo prospectivo por pareamento. Antes do
tratamento, a qualidade de vida estava mais comprometida nos
pacientes antroposóficos. Durante e após o tratamento antropo-
sófico, a qualidade de vida melhorou, enquanto o grupo controle
tratado com medicina convencional não mostrou alteração.90,91
Outro estudo observacional investigou pacientes com condi-
ções reumáticas inflamatórias crônicas que receberam tratamen-
to antroposófico por um período de 12 meses. Foi observada uma
redução importante na atividade inflamatória local e sistêmica,
alívio dos sintomas da doença, e melhora na capacidade funcional
, inclusive na dimensão psicossocial. A satisfação dos pacientes foi
alta e a terapia convencional pode ser evitada ou reduzida.92 Este
estudo deu origem a um grande estudo comparativo sobre efeti-
vidade do tratamento antroposófico e convencional em pacientes
com artrite reumatoide, patrocinado pelo Ministério da Educação
e Pesquisa da Alemanha, concluído, mas ainda não publicado.
Outro estudo investigou a dor facial crônica (principalmente a
neuralgia do trigêmeo, presente por mais de dez anos em metade
dos pacientes) que havia sido tratada de modo convencional sem
sucesso. Após o tratamento antroposófico, houve melhora clínica
(um quinto dos pacientes ficou livre da dor e quase dois terços
obtiveram uma melhora evidente) e os agentes terapêuticos con-
vencionais foram reduzidos.93
Um estudo retrospectivo sobre anorexia nervosa mostrou
uma taxa de cura favorável após um tratamento antroposófico
com internação.94
Estudos clínicos com intervenção única ou com número
determinado de intervenções. Vários estudos têm investigado
monoterapias ou terapias com um número fixo de intervenções,
por exemplo, o tratamento com Viscum album para câncer (veja
acima) e para hepatite,95-97, óleo-gel de bétula na queratose actí-
nica,98,99 fricção rítmica (com óleo Solum) na dor crônica,100 Hepar
Magnesium nos sintomas sazonais de fadiga,101 Arnica/Echinacea
no cuidado do cordão umbilical do recém-nascido,102-103 euritmia
terapêutica no déficit de atenção e transtorno de hiperatividade,104
enemas na temperatura corpórea para crianças febris,105 Viscum
combinado com Articulatio coxae ou genus D30 na osteoartrite
de quadril ou joelho,106 Gelsemium comp. na dor muscular occipi-
tal aguda,103 e muitos outros. A maioria desses estudos mostrou
resultados positivos, exceto um sobre enxaqueca,108 um sobre cui-
dado da ferida pós-operatória109 e um sobre queratose actínica.99
Quatro estudos recentes controlados e randomizados – sobre
Disci/Rhus toxicodendron comp. para dor lombar crônica;110 sobre
Articulatio genus D5 na osteoartrite do joelho;111 sobre creme de
calêndula para o cuidado da pele durante a radioterapia;112 e sobre
Ovaria comp. para os sintomas da menopausa113 não mostraram
benefício quando comparados com o tratamento placebo.
A perspectiva do paciente. Em geral, a satisfação do paciente foi
alta e as expectativas terapêuticas foram cumpridas.13,42,114 Por exem-
plo, na pesquisa holandesa que foi completada recentemente (Índi-
ce de Qualidade do Consumidor, um padrão nacional de medida de
qualidade dos serviços de saúde a partir da perspectiva do usuário),
2.099 pacientes declararam estar altamente satisfeitos com o atendi-
mento primário das práticas antroposóficas (8,4 e 8,3 em uma escala
de 0 a 10, sendo 10 o melhor escore).115
SegurançaVários estudos avaliaram especificamente a segurança dos trata-
mentos antroposóficos.13,69, 72-74, 116-119 De modo geral, a tolerabilidade
foi boa. As reações adversas são infrequentes e, quando aconte-
cem, a maioria tem gravidade leve ou moderada. Os três tipos de
reações adversas aos medicamentos antroposóficos mais frequen-
temente descritos foram: reação local após aplicação tópica, hi-
persensibilidade sistêmica que, de modo muito raro, incluiu casos
de reação anafilática, e agravamento de sintomas pré-existentes
em pacientes sensíveis. Em uma análise detalhada de segurança
do estudo AMOS, a incidência de reações adversas confirmadas
aos medicamentos antroposóficos foi de 3% dos usuários e de
2% dos medicamentos utilizados.116 Reações adversas à euritmia
terapêutica, terapia artística e massagem rítmica foram relatadas
respectivamente em 3%, 1%, e 5% dos pacientes, 72-74 mas não
houve nenhuma reação adversa séria.116 Do ponto de vista teó-
rico, o fato de evitar um tratamento convencional necessário em
um ambiente de assistência médica antroposófica poderia apre-
sentar um risco, mas nenhuma evidência disso foi encontrada.13,42
Os estudos comparativos encontraram taxas de efeitos colaterais
similares81 ou menores40,114,120 nos tratamentos antroposóficos em
relação aos tratamentos convencionais.
CustosVárias análises econômicas avaliaram os custos da medicina antro-
posófica. Elas apontaram para uma estrutura de custos favorável e
encontraram redução de custos parcialmente devido ao menor preço
dos medicamentos, a um menor número de encaminhamentos para
especialistas e a um número menor de internações e de tempo de in-
ternação. Isso não pode ser explicado apenas por uma carga reduzi-
da da doença – ao contrário, a maioria dos estudos mostra que os
pacientes tratados de maneira antroposófica, estão mais gravemente
afetados ou estão doentes por um período maior de tempo antes de
começar o tratamento.13,121-125
Relatos de casoMetodologia para relato de caso tem sido desenvolvida para forne-
cer informação validada e transparente a partir da particularidade
do cuidar que tem o seu foco na assistência individualizada.126-130
Os relatos de caso descrevem, de modo detalhado, a abordagem
do tratamento antroposófico específico (como exemplo, ver as refe-
rências 27, 67, 68, 131 e 132). Métodos para avaliação sistemática e
crítica ainda têm que ser desenvolvidos.
CONCLUSÃO
A medicina antroposófica é um exemplo de um sistema multi-
modal de tratamento – baseado em um paradigma holístico do
organismo, da doença e do tratamento – que pode ser comple-
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tamente integrada à medicina convencional na prática médica e
hospitalar. Uma grande ênfase é colocada na assistência médica
individualizada. Para se avaliar esse sistema de saúde, tem-se
aplicado uma estratégia de avaliação integrativa, que inclui não
só uma abordagem do sistema, mas também o estudo de com-
ponentes isolados do tratamento, com relação à eficácia, efeti-
vidade, segurança e custos, assim como métodos qualitativos e
relatos de caso de alta qualidade sobre o tratamento individual.
Declaração de conflito de interesses
Os autores preencheram o formulário de divulgação ICMJE
(International Committee of Medical Journal Editors) para po-
tencial conflito de interesse e declaram que não há nenhum
conflito de interesse relacionado a esse trabalho.
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Arte Méd Ampl. 2018;38(1):5-17.
18
ICooperativa Científica Europeia sobre
Produtos Medicinais Antroposóficos
(ESCAMP: European Scientific Cooperative
on Anthroposophic Medicinal Products),
Freiburg (Alemanha); Instituto Louis Bolk,
Driebergen (Holanda); Universidade de
Ciências Aplicadas, Leiden (Holanda).IICooperativa Científica Europeia sobre
Produtos Medicinais Antroposóficos
(ESCAMP: European Scientific Cooperative
on Anthroposophic Medicinal Products),
Freiburg (Alemanha); Instituto de
Epistemologia Aplicada e Metodologia
Médica, Universidade de Witten/Herdecke,
Freiburg (Alemanha).
Endereço para correspondência:
Erik Baars: University of Applied Sciences
Leiden, Zernikedreef 11, 2333 CK Leiden,
Netherlands.
Traduzido por Nilo E. Gardin do original
em: Evidence-Based Complementary
and Alternative Medicine, vol. 2017,
Article ID 4904930, 13 pages, 2017.
doi:10.1155/2017/4904930. Publicado com
autorização dos autores e da revista.
Palavras-chave: Sistemas médicos
complexos; medicina complementar e
alternativa; medicina integrativa; holismo.
Key words: Whole medical systems;
complementary and alternative medicine;
integrative medicine; holism.
Sistemas médicos complexos versus sistema convencional de biomedicina: Uma revisão crítica e narrativa de semelhanças, diferenças e fatores que
promovem o processo de integração
Whole medical systems versus the system of conventional biomedicine: A critical, narrative review of similarities, differences, and factors that promote the integration process
Erik W. Baars,I Harald J. HamreII
RESUMOAntecedentes: Há uma necessidade crescente de integração profissional global da me-
dicina convencional e os sistemas médicos complexos (SMC) tradicionais/complemen-
tares. No entanto, a integração é percebida pela medicina convencional como proble-
mática ou inaceitável, devido a uma suposta falta de evidência de efeitos específicos
das terapias dos SMC e supostos paradigmas pré-científicos ou não científicos dos SMC.
Objetivos: Revisar a literatura sobre as características dos SMC, suas semelhanças e di-
ferenças com a medicina convencional, e questões científicas e de prática clínica que
devem ser tratadas para promover o processo de integração. Métodos: Uma revisão
crítica e narrativa da literatura em seis SMC. Resultados e conclusões: Os fatores-chave
para a integração dos SMC e da medicina convencional são os seguintes: estruturas
legais, padrões de qualidade, pesquisa de alta qualidade sobre segurança e eficácia das
intervenções dos SMC, infraestrutura e recursos financeiros. Para a avaliação científica
dos SMC, há questões ontológicas, epistemológicas e metodológicas não resolvidas e
questões de diagnóstico, administração da terapia e avaliação de resultados na prática
clínica. Pesquisas futuras não só devem ser direcionadas para a garantia de qualidade
e para gerar os dados necessários sobre segurança e eficácia/efetividade, mas também
devem abordar questões mais fundamentais (ontológicas, epistemológicas e metodoló-
gicas), a fim de superar as diferenças entre os SMC e a medicina convencional.
ABSTRACTBackground: There is an increasing need for a worldwide professional integration
of conventional medicine and traditional/complementary whole medical systems
(WMSs). However, the integration is perceived by conventional medicine as problem-
atic or unacceptable, because of a supposed lack of evidence for specific effects of
WMSs therapies and supposed prescientific or unscientific paradigms of WMSs. Ob-
jectives: To review the literature on the features of WMSs, similarities and differences
between conventional medicine and WMSs, and scientific and clinical practice issues
that should be dealt with in order to promote the integration process. Methods: A
critical, narrative review of the literature on six WMSs. Results and conclusions: Key
factors for the integration of WMSs and conventional medicine are as follows: legal
frameworks, quality standards, high quality research on safety and efficacy of WMS
interventions, infrastructure, and financial resources. For scientific assessment of
WMSs, there are unresolved ontological, epistemological, and methodological issues
and issues of diagnostics, therapy delivery, and outcome assessment in clinical prac-
tice. Future research not only should be directed at quality assurance and generating
the necessary data on safety and efficacy/effectiveness but also should address more
fundamental (ontological, epistemological, and methodological) issues, in order to
overcome the differences between WMSs and conventional medicine.
Artigo de revisão | Review
Arte Médica Ampliada Arte Médica Ampliada Vol. 38 | N. 1 | Janeiro / Fevereiro/ Março de 2018
Arte Méd Ampl. 2018;38(1):18-29.
19
1. INTRODUÇÃO
“A medicina é uma ciência e prática de intervenção, manipu-
lação e controle preocupada em curar pessoas doentes, cuidar
de pessoas doentes, prevenir doenças e promover a saúde”.1 Ao
longo da história humana, diferentes culturas em todas as par-
tes do mundo tiveram seu próprio tipo de medicina. Nos países
e culturas ocidentais, a medicina convencional biomédica foi
desenvolvida e enraizada nas ciências naturais que se desenvol-
veram desde a Idade Média.2 Em muitas culturas não ocidentais,
mas também em culturas ocidentais, foram desenvolvidos vários
tipos de sistemas médicos complexos (SMC),3 isto é, sistemas
completos de teoria e prática que evoluíram de forma indepen-
dente ao longo do tempo em diferentes culturas e separados da
medicina convencional (ou medicina ocidental).3
Atualmente, os SMC, muitas vezes referidos como medicina
tradicional e complementar (MTC) ou medicina (tradicional e)
complementar e alternativa (MTCA/MCA), e a medicina conven-
cional são encontrados em quase todos os países do mundo. Os
SMC estão em crescente demanda por pacientes e também são
estudados em universidades (por exemplo, o Consórcio Acadê-
mico para Medicina Integrativa e Saúde nos EUA – Academic
Consortium for Integrative Medicine & Health). De acordo com
a Estratégia de Medicina Tradicional: 2014-2023 da Organização
Mundial da Saúde (OMS),4
O público e os consumidores de cuidados de saúde em todo o
mundo continuam a incluir MTC em suas escolhas de saúde.
Isto obriga os Estados-membros a apoiá-los a tomarem de-
cisões informadas sobre as suas opções. [...] À medida que a
aceitação da MTC aumenta, há uma necessidade de sua inte-
gração mais próxima nos sistemas de saúde. Os decisores po-
líticos e os consumidores devem considerar como a MTC pode
melhorar a experiência do paciente e a saúde da população.
Um argumento central a favor da integração da MTC na
medicina convencional é que a MTC possui conhecimentos e in-
tervenções adicionais sobre promoção preventiva e curativa da
saúde.5 A integração pode, portanto, contribuir para questões
atuais em saúde pública e cuidados de saúde, tais como desen-
volvimento de estratégias de envelhecimento saudável, promo-
ção de autogestão e controle de gastos com saúde.6,7
Exemplos positivos que demonstram e apoiam a estratégia
da OMS de integrar o melhor dos dois mundos (MTC e medicina
convencional) são a integração do sistema AYUSH (ayurveda,
yoga, naturopatia, unani, siddha e homeopatia) no sistema con-
vencional na Índia,8 o uso crescente de técnicas de atenção ple-
na (mindfulness) no tratamento de transtornos depressivos9 e o
uso de sistemas medicinais tradicionais na redução da prescri-
ção de antibióticos na Tailândia como uma das estratégias para
combater o problema de resistência antimicrobiana global.10
Esta posição da OMS na integração da MTC com a medicina
convencional está em contraste com os desenvolvimentos em
muitos países ocidentais. Enquanto muitos sistemas médicos
tradicionais foram tolerados na prática clínica, próximos ou inte-
grados com a medicina convencional em muitos países ociden-
tais até o final do século XX, esta situação mudou rapidamente,
como resultado de dois desenvolvimentos inter-relacionados em
relação à medicina baseada na ciência.
O primeiro desenvolvimento é o crescente domínio da medi-
cina baseada em evidências (MBE) na medicina desde a década
de 1990.11 Como resultado, idealmente, apenas as terapias com
evidências científicas de alta qualidade (de revisões sistemáticas
e metanálises de ensaios clínicos randomizados e controlados)
em termos de segurança e efeitos (custo) são aceitas em medici-
na.12 E, embora na prática, muitas diretrizes médicas convencio-
nais sejam, em grande parte, baseadas em evidências científicas
de menor qualidade (incluindo conhecimentos clínicos), para os
oponentes da integração da MTC com a medicina convencional, a
falta de evidências científicas de alta qualidade é frequentemente
usada como argumento contra a integração.
O segundo desenvolvimento tem a ver com as raízes da
ciência no desenvolvimento teórico e nos ensaios teóricos.13 Nas
últimas décadas, o domínio do modelo biomédico na medicina
levou à crítica científica da MTC devido à sua base teórica que é
percebida como não estando de acordo com as teorias biomé-
dicas, mas com base em paradigmas considerados como pré-
-científicos ou não científicos. Além disso, alega-se que não há
evidência de efeitos específicos dos produtos medicinais da MCA
para indicações convencionais testadas em estudos clínicos de
acordo com o paradigma da MBE.14,15 E, embora na ciência atual-
mente o modelo reducionista seja cada vez mais desafiado e os
modelos teóricos dos SMC parecem estar em conformidade com
as abordagens de sistemas em ciência e medicina, os oponentes
da integração da MTC com a medicina convencional usam os
supostos modelos teóricos pré-científicos ou não científicos dos
SMC muitas vezes como um argumento contra a integração.
Por outro lado, há exemplos positivos de integração, como
o uso integrado de ayurveda e medicina convencional no tra-
tamento da elefantíase na Índia, que resultou em um prêmio
da Sociedade Internacional de Dermatologistas para o professor
de dermatologia de Oxford Terence Ryan; o tratamento integra-
do altamente bem sucedido da depressão com yoga e medicina
convencional no Instituto Nacional de Saúde Mental e Neuroci-
ências em Bangalore na Índia; e o uso amplamente adotado de
yoga na geriatria no Japão.
Dada a necessidade atual de algum tipo de integração da me-
dicina convencional e MTC em países de todo o mundo, a grande
quantidade de publicações científicas e o debate científico em
curso sobre esse tema entre proponentes e oponentes, decidimos
fazer uma revisão crítica na literatura. Nosso objetivo é fornecer
uma visão geral transparente sobre semelhanças e diferenças en-
tre SMC e o sistema médico convencional e, com base nesta visão
geral, identificar questões que devem ser tratadas para superar
as diferenças. Espera-se que esta visão geral apoie a tomada de
decisões informadas no processo de integração.
Arte Méd Ampl. 2018;38(1):18-29.
20
2. MATERIAL E MÉTODOS
2.1 Questões da pesquisa
Uma revisão crítica e narrativa da literatura foi realizada nas se-
guintes questões de pesquisa:
(I) Para descrever o domínio dos SMC, quais são os aspectos históri-
cos, clínicos, ontológicos, epistemológicos e metodológicos dos SMC?
(II) Para esclarecer se uma abordagem uniforme ou abordagens
diversas para a sua integração são mais apropriadas, quais são
as principais semelhanças e diferenças entre os diferentes SMC?
(III) Para esclarecer a possibilidade de generalização das experi-
ências da integração de terapias de MCA não SMC com a medi-
cina convencional, quais são as principais diferenças entre SMC
e outras terapias de ‘componente único’ ou MCA não SMC?
(IV) Para demonstrar as áreas e problemas comuns a superar no
processo de integração, quais são as semelhanças e diferenças
entre os SMC e a medicina convencional?
(V) Quais são as consequências para os testes de eficácia de
produtos medicinais dos SMC para a regulação desses produtos?
(VI) Para facilitar o processo de integração, quais aspectos preci-
sam de atenção para promover a integração do sistema médico
convencional e os SMC?
2.2 Escopo da revisão, bases de dados e termos da pesquisa
Para abordar as seis questões da pesquisa, incluímos os seguintes
seis SMC: medicina tradicional chinesa (MTCh),16,17 ayurveda,18,19
medicina unani,20 homeopatia,21 naturopatia22 e a medicina antro-
posófica.23,24 Uma discussão de ‘todos’ os SMC do mundo estava
além do escopo deste artigo; a seleção inclui SMC estabelecidos
em quatro grandes populações/culturas (China, subcontinente in-
diano, países árabes/muçulmanos e culturas ocidentais).
Está além do escopo deste artigo uma revisão abrangente
das discussões sobre os tópicos de (suposta) falta de evidência
dos efeitos específicos dos tratamentos dos SMC e a (suposta)
falta de teorias testadas dos SMC. No entanto, esses tópicos são
brevemente discutidos.
Pesquisamos no banco de dados PubMed, Google Scholar e
nossos próprios arquivos de literatura. As combinações dos ter-
mos de pesquisa usadas foram: whole medical systems (siste-
mas médicos complexos), tradicional Chinese medicine (MTCh),
ayurveda, unani, homeopathy (homeopatia), naturopathy (na-
turopatia), ou anthroposophic medicine (medicina antroposó-
fica) em combinação com features (características), philosophy
(filosofia), methodology (metodologia), ou ontology (ontologia).
3. RESULTADOS
3.1 Visão geral e desenvolvimento histórico dos sistemas médicos complexos
Uma visão condensada dos SMC incluídos nesta revisão é apresen-
tada na Tabela 1. Desses seis SMC, três (MTCh, ayurveda e una-
ni) são baseados em tradições antigas (primeiros textos clássicos
no primeiro milênio a.C., precedidos pelas transmissões orais do
segundo milênio a.C.), cada um de uma cultura específica: MTCh
desenvolvida na China em conexão com as tradições filosóficas do
taoísmo (Lao Tzu ou Lao Tsé, 605-531 a.C.) e o confucionismo (Con-
fúcio, 551-479 a.C.), com textos clássicos da MTCh escritos no perí-
odo de 221-207 a.C.25,26 Ayurveda desenvolveu-se no subcontinente
indiano em relação ao hinduísmo; os textos clássicos de ayurveda
são variadamente datados de 700-200 a.C.27,28 Unani tem raízes
na medicina grega (Hipócrates, 460-370 a.C.; Dioscorides, 40-90;
Galeno, 130-210); um texto clássico seminal da medicina medie-
val convencional e ainda usado em unani é o Cânone da medicina
(1025) de Ibn Sina (Avicena, 980-1037).29 Esses três SMC existiram
em suas respectivas culturas há milênios antes do desenvolvimento
da medicina convencional baseada na ciência natural.3,16,17,19,21-23,30
Os três outros SMC (homeopatia, naturopatia e medicina
antroposófica) são comparativamente mais jovens (<250 anos),
embora traços de influências das tradições antigas possam ser
encontrados.31-33 As publicações seminais apareceram para home-
opatia em 1796,34 para naturopatia em 1848,35 e para a medicina
antroposófica em 1925.36 Estes três SMC foram primeiro pratica-
dos na Europa Central por médicos e a seguir se desenvolveram
próximos à medicina convencional dentro das culturas ocidentais.
No decorrer da globalização, os seis SMC tornaram-se dis-
seminados desde sua cultura original para outros países e regi-
ões, às vezes com o estabelecimento de ‘segundos centros’, como
a naturopatia na América do Norte37 e homeopatia na Índia.38
Atualmente, em quase todos os países do mundo, um ou mais
tipos de SMC são praticados.4
3.2 Semelhanças e diferenças
3.2.1 Semelhanças e diferenças entre os SMC
Algumas das principais semelhanças entre os SMC são as seguintes:
(I) Têm orientação holística, ontológica não atomística, episte-
mológica e prática.
(II) Visam promover a saúde preventiva e curativa.
(III) Têm tratamento individualizado baseado em uma aborda-
gem de sistema.
(IV) Uso medicinal de um grande número de substâncias e pro-
dutos medicinais diferentes, principalmente de plantas, mas
também de origem mineral e animal (por exemplo, 700 espécies
de plantas medicinais em MTCh,39 mais de mil substâncias em
homeopatia,40 mais de 4.000 espécies de plantas medicinais na
ayurveda, e mais de 800 substâncias na medicina antroposófica.41
(V) Modalidades de tratamento não medicamentoso, incluindo
massagem, exercícios físicos, hidroterapia, termoterapia e dieta
(embora cada modalidade possa ser aplicada de forma diferen-
te – ver Tabela 1).
Algumas das principais diferenças entre os SMC são as se-
guintes:
(I) Uso de diferentes linguagens, incluindo diferentes conceitos
de níveis de totalidade.
(II) Diferentes sistemas de diagnóstico.
SMC versus sistema convencional de biomedicina: Uma revisão crítica e narrativa de semelhanças, diferenças e fatores que promovem o processo de integração
Arte Méd Ampl. 2018;38(1):18-29.
21
(III) Diferentes modalidades terapêuticas específicas, por exem-
plo, acupuntura na MTCh e terapias artísticas na medicina an-
troposófica.
A homeopatia tem dois aspectos particulares:
(I) No desenvolvimento da homeopatia, tem havido um forte ele-
mento de empirismo puro e relativamente menos ênfase na teoria.
(II) O diagnóstico e o tratamento homeopáticos são geralmente
limitados à tomada de caso e à prescrição de produtos medici-
nais homeopáticos.42 Todos os produtos medicinais homeopáti-
cos são fabricados de acordo com procedimentos homeopáticos
específicos, como a dinamização, isto é, diluição sucessiva, cada
passo de diluição envolvendo uma sucussão rítmica (agitação
repetida de líquidos) ou trituração (moagem de sólidos em
lactose monoidratada). Em contraste, o tratamento nos outros
cinco SMC é multimodal em grande medida (Tabela 1).
Um aspecto particular da naturopatia é o uso generaliza-
do de modalidades terapêuticas de outros SMC (por exemplo,
plantas chinesas e produtos medicinais homeopáticos) ou de
MCA não SMC (por exemplo, suplementos alimentares).43 Em
contraste, os outros SMC têm um elemento mais forte de uni-
formidade, seja em sua teoria (MTCh, ayurveda, unani e medici-
na antroposófica), seja no uso de um tipo específico de produto
medicinal (homeopatia).
MTCh e ayurveda têm longas tradições de transmissão prin-
cipalmente oral do conhecimento e experiência, antes dos textos
clássicos.16,26
Aspectos particulares da medicina antroposófica incluem o
amplo espectro de terapias artísticas desenvolvidas (pintura, mo-
delagem de argila, desenho, recitação e exercícios de música) e o
uso de tratamentos antroposóficos também em grandes hospitais
que oferecem serviços de emergência dentro dos planos públi-
cos de exigência.23 Os produtos medicinais usados na medicina
antroposófica podem ser fabricados de acordo com métodos an-
troposóficos específicos ou métodos usados para produtos medi-
cinais fitoterápicos, homeopáticos ou convencionais.41
3.2.2 SMC versus outras terapias da MCA de componente único ou não SMC
As maiores diferenças entre SMC e intervenções da MCA de um
único componente são:
(I) Algumas intervenções de MCA de componente único (ou de
Baars EW, Hamre HJ
Tabela 1. Visão geral dos seis sistemas médicos complexos.
SMC MTCh Ayurveda Unani Homeopatia Naturopatia Medicina antroposófica
Textos clássicos 221-207 a.C.Variadamente datados entre 700-200 a.C.
Avicena, 1025 Hahnemann, 1796 Gleich, 1848 Steiner e Wegman, 1925
Onde é usada (principais regiões)
Leste asiático Sul asiático Sul asiático, Oriente Médio Europa, Índia Europa, países de
língua inglesaEuropa, América
do Sul
Conceitos chave
2 forças (yin, yang), energia
vital (Qi), 5 elementos, meridianos
3 energias ou doshas (pitta,
vaka, kapha), 5 elementos
7 conceitos natu-rais (elementos, temperamentos, humores, órgãos,
forças, ações, espírito)
Semelhante cura semelhante, dose
mínima, experimentos em pessoas saudáveis
Poder curativo da natureza, trata a causa da doença, não causar
dano, médico como um professor, trata a
pessoa como um todo, prevenção
4 níveis de forças formativas (física,
vital, anímica, espi-ritual), constituição trimembrada (neu-rossensorial, rítmico, metabólico-motor)
Produtos medicinais e substâncias
Plantas, mine-rais, animais
Plantas, mine-rais, animais
Plantas, óleos, perfumes Homeopáticos*
Plantas, homeopáti-cos*, chineses, suple-mentos alimentares
Homeopáticos*, plantas, minerais, animais, quimica-mente definidos
Massagem Tuiná, shiatsu Massagem ayurveda Massagem tadlik Massagem sueca Massagem rítmica
Fisioterapia Hidroterapia Hidroterapia, termoterapia
Hidroterapia, termo-terapia, manipulação
articular
Hidroterapia, termo-terapia, aplicações
externas
Outros trata-mentos não medicamentosos
Acupuntura, moxabustão
Purgação, aconselha-
mento sobre estilo de vida
Purgação, vento-sa, sanguessugas
Tomada de caso, aconselhamento sobre
estilo de vida
Acupuntura, aconse-lhamento sobre estilo
de vida
Terapia artística (música, fala,
pintura, desenho, argila), biografia
e aconselhamento sobre estilo de vida
Exercícios físicos Qigong, Tai--Chi Respiração Sim Sim Sim Movimentos de
euritmia
Outros autotra-tamentos Helioterapia,
MeditaçãoRecitar texto
sagrado Redução de estresse Helioterapia, técnicas de relaxamento Meditação
Dieta Sim Sim Sim Sim Sim Sim
MTCh: medicina tradicional chinesa; SMC: sistemas médicos complexos.
*Os produtos medicinais homeopáticos podem ser de origem vegetal, mineral ou animal ou definidos quimicamente, e são definidos por procedimentos específi-cos de fabricação homeopática (ver texto).
Arte Méd Ampl. 2018;38(1):18-29.
22
combinação fixa) podem ser conceituadas dentro do paradigma
biomédico convencional: por exemplo, várias vitaminas são usa-
das como terapia de MCA, enquanto seus efeitos farmacológicos
são conceituados nos níveis de biologia celular ou bioquímica. Em
contraste, as intervenções de SMC não são tão facilmente com-
preendidas nesses níveis (embora a diferença não seja absoluta).5
(II) Intervenções de MCA de componente único podem ser pro-
tocoladas para indicações específicas convencionais ou da MCA,
enquanto isso não é o caso das intervenções dos SMC.
(III) O tratamento individual e multimodal da MCA implica na
combinação de várias modalidades de tratamento adaptadas
às necessidades do paciente individual. Quando isso acontece
dentro de um SMC, todas as modalidades de tratamento são
compreendidas dentro e derivadas de uma estrutura conceitual,
levando a uma abordagem de tratamento uniforme. Quando se
combinam diversas intervenções de MCA de componente único,
uma compreensão conceitual uniforme muitas vezes não é pos-
sível, levando ao ecletismo.
3.2.3. Semelhanças e diferenças entre SMC e o sistema de biomedicina convencional
As principais semelhanças entre SMC e alguns desenvolvimen-
tos em medicina convencional são:
(I) O desenvolvimento de uma medicina personalizada/abor-
dagem de individualização, além da abordagem convencional
protocolada.44,45
(II) O uso e o papel do julgamento profissional em alguns domínios
da prática clínica (por exemplo, interpretação de radiografias).45,46
(III) O uso crescente de intervenções complexas.47-49
(IV) Abordagens do sistema em diagnósticos e terapia (por
exemplo, biologia de sistemas, epigenética, emergentismo, me-
tabolômica, ‘medicina de rede’, ‘polifarmacologia’ e ‘tratamento
polialvo’).5,50-52
(V) Participação compartilhada na tomada de decisões.45,53
(VI) Um conceito holístico dinâmico de saúde.5,54
(VII) O uso de metodologias de reconhecimento de padrões.55,56
(VIII) A noção de que os estudos randomizados e controlados
não são aplicáveis em toda parte57,58 com uma mudança para
testes mais pragmáticos45,48,58,59 e outros tipos de estudo.48,60
(IX) A noção de que a realização de estudos clínicos para múlti-
plas condições clínicas e suas respectivas diversas opções tera-
pêuticas tem suas limitações, devido à excessiva complexidade
e custos proibitivos.
(X) O papel crescente das preferências do paciente e da autono-
mia do paciente.
(XI) A situação do mundo real que, em muitos campos médicos
(por exemplo, cirurgia pediátrica, medicina de emergência e vaci-
nação), a prática baseada em estudos randomizados e controla-
dos é apenas marginal e muitas vezes questionada criticamente.
As principais diferenças entre os SMC e o sistema médico
convencional estão resumidas na Tabela 2.61
3.3. Integração dos SMC e o sistema de medicina convencional
A integração dos SMC e com a medicina convencional implica
em alguns fatores-chave e fatores interdependentes:
(I) Legislação: provedores de terapia e SMC.
(II) Educação: profissionais dos dois sistemas médicos integran-
tes que têm que trabalhar juntos por um período de anos para de-
senvolver experiência e confiança no trabalho efetivo em equipe.
(III) Padrões de qualidade para tratamento de SMC: treinamento
de provedores, administração do tratamento e qualidade farma-
cêutica de produtos medicinais.
Tabela 2. Diferenças entre medicina convencional e sistemas médicos complexos (SMC).
Medicina convencional SMC
Cosmovisão/filosofia Modelo biomédico, humanista Modelo holista/espiritual/bio-psico-espiritual-social
Saúde Situação padrão da máquina
Resultado da atividade interna autorreguladora (por exemplo, do organismo ou psicossocial)
Restaurar integridade/equilíbrio
(Re)estabelecimento da harmonia entre as funções do corpo, alma e espírito
Doença
Quebra da máquina Expressão do desequilíbrio do sistema e/ou insuficiência das forças de criação da totalidade
Desvio de normas biológicas Desequilíbrio entre forças biológicas, psicológicas, sociais e espirituais
Não há significado intrínseco Vincula um potencial para o desenvolvimento humano
Diagnóstico Nível de grupo (muitas vezes, mas nem sempre)Nível individual
Nível de sistema
Tratamento
Diretrizes/protocolos orientados para o grupo (muitas vezes) Intervenções individualizadas complexas
Luta contra a doença Promoção de saúde
Requer recursos externos Requer recursos internos /corpo, mente, espírito estão inter--relacionados e todos devem ser considerados na cura
Uso de farmacoterapia com efeitos predominantemente específicos e alto uso de tecnologia
Uso de farmacoterapia dos SMC e terapias não medicamento-sas com efeitos de sistema
SMC versus sistema convencional de biomedicina: Uma revisão crítica e narrativa de semelhanças, diferenças e fatores que promovem o processo de integração
Arte Méd Ampl. 2018;38(1):18-29.
23
(IV) Pesquisa científica sobre segurança e eficácia de interven-
ções de produtos medicinais dos SMC.
(V) Infraestrutura e recursos financeiros.
No que diz respeito à pesquisa científica e avaliação compa-
rativa de qualidade, há questões específicas relativas às proprie-
dades inerentes aos SMC:
(I) Questões ontológicas, epistemológicas e metodológicas rele-
vantes para a compreensão geral e avaliação de SMC.
(II) Questões específicas relevantes para diagnóstico, terapia, e
avaliação de resultados na prática clínica. Essas questões são
discutidas nas subseções seguintes.
3.3.1. Legislação, padrões de qualidade, pesquisa, infraes-truturas e recursos
De importância primordial para a integração é o reconhecimen-
to dos SMC na legislação, em particular:
(I) Reconhecimento de provedores de terapia dos SMC, suas es-
colas de treinamento e diplomas.
(II) Disposições regulatórias que permitam o registro ou autori-
zação de comercialização de produtos medicinais dos SMC.
Esse reconhecimento depende do estabelecimento de pa-
drões de qualidade:
(I) Para provedores de tratamento (por exemplo, padrões de re-
ferência da OMS para treinamento em MTCh,26 ayurveda,62 me-
dicina unani63 e naturopatia;33 padrões do Comitê Europeu de
Normatização para provisão de cuidados de saúde por médicos
com qualificação adicional em homeopatia64).
(II) Para a qualidade farmacêutica dos produtos medicinais dos
SMC (por exemplo, o Códex Farmacêutico Antroposófico).41
O reconhecimento científico e social também depende de evi-
dências de alta qualidade para eficácia/efetividade e segurança
dos produtos medicinais dos SMC e também de seus tratamentos
não medicamentosos; portanto, a integração também inclui o fi-
nanciamento, a condução e a publicação de estudos de pesquisa
científica, a fim de gerar e divulgar tais evidências. A fim de pro-
mover padrões de qualidade e pesquisa científica, são necessários
infraestruturas e recursos financeiros.
Em alguns países, essas tarefas recebem prioridade nacio-
nal: por exemplo, o governo da Índia apoia pesquisa, educação,
padronização de qualidade e construção de infraestrutura para
sete SMC (AYUSH: ayurveda, yoga, naturopatia, unani, siddha,
homeopatia e sowa-rigpa), desde 2004 dentro do recém-criado
ministério de AYUSH.65
Um exemplo de construção de infraestrutura é o estabeleci-
mento de centros de medicina integrativa em hospitais universi-
tários, onde as modalidades específicas dos SMC (não necessa-
riamente o sistema médico complexo inteiro) são desenvolvidas,
aplicadas e testadas. Este modelo foi implementado nos EUA
e organizado no Consórcio Acadêmico de Medicina Integrativa
e Saúde, com base em quatro pilares: (1) a relação horizontal
entre o médico/terapeuta (coach) e o paciente (coprodutor); (2)
o papel ativo do paciente em processos de prevenção (estilo de
vida), bem-estar, terapia e processos de cura; (3) o uso de tera-
pias convencionais e complementares seguras e eficazes basea-
das em evidências; e (4) o uso de ambientes de cura.66
3.3.2. Aspectos ontológicos fundamentais
Todos os SMC estudados tomam uma posição ontológica
não atomística e holística em relação à natureza da reali-
dade. Isso significa que todos eles conceituam, cada um em
uma forma diferente, além de elementos e forças materiais,
a existência de forças não materiais que atuam na nature-
za e no homem, as quais também desempenham um papel
na saúde e na doença. Por exemplo, um conceito central da
MTCh é Qi, uma energia vital ou força vital que se move no
corpo através de um sistema de vias chamado meridianos.16
Conceitos similares são encontrados em ayurveda (prana)67
e unani (arwah ou espírito vital).29 A medicina antroposófica
tem o conceito de quatro níveis de forças formativas que tra-
balham no homem: forças físicas formativas e três forças não
materiais (vitais, anímicas e espirituais).23,30 A homeopatia
conceitua os efeitos não materiais de substâncias altamente
dinamizadas21 e também a naturopatia é baseada em princí-
pios holísticos e vitalistas.22
3.3.3. Aspectos conceituais e epistemológicos
De acordo com a posição ontológica não atomística e holística,
os conceitos centrais dos SMC são holísticos. Os conceitos do
ser humano enfatizam a totalidade e a complexidade do ser
humano;68 suas propriedades emergentes, dinâmicas não line-
ares e epigenéticas; e suas capacidades de auto-organização
e adaptação como um sistema de rede.69 A saúde é conceitu-
ada como a capacidade de equilibrar e restaurar ativamente
a integridade do ser humano.5 Dentro dos métodos de prá-
tica dos SMC, há um papel essencial para intuição e conheci-
mento especializado em diagnóstico e tomada de decisões,45
enquanto o tratamento também leva em consideração fatores
de contexto e a singularidade, constituição e complexidade do
indivíduo.45,70 Ao conceituar a causalidade, os SMC enfatizam a
causalidade dos sistemas,71 os efeitos que envolvem mudanças
globais e padronizadas através de múltiplos subsistemas da
pessoa como um todo, e o papel dos efeitos de contexto/place-
bo e dos efeitos da intenção.69
3.3.4. Aspectos metodológicos
Uma revisão sobre pesquisa clínica e epidemiológica em MCA48
demonstra que, para pesquisas sobre efeitos terapêuticos, há o
consenso de que tanto os estudos de eficácia quanto de efe-
tividade têm seu próprio lugar, validade e importância. Alguns
autores argumentam que a pesquisa de eficácia deve ser priori-
zada em relação à pesquisa de efetividade para legitimar o uso
da MCA e para ajudar a aumentar a aceitação. Outros autores
afirmam que a pesquisa de eficácia para examinar efeitos es-
pecíficos não deve ser realizada até que a efetividade geral da
terapia em questão seja demonstrada, a fim de evitar o mau uso
Baars EW, Hamre HJ
Arte Méd Ampl. 2018;38(1):18-29.
24
de recursos escassos. Esta discussão também reflete opiniões
diferentes sobre a importância e o valor de efeitos específicos
e inespecíficos em toda a prática clínica. Uma abordagem de
pesquisa integrativa foi descrita como pesquisa simultânea so-
bre mecanismos e efetividade global dos tratamentos da MCA.
Os padrões metodológicos contemporâneos da pesquisa médica
podem ser aplicados à pesquisa da MCA, mas pode ser neces-
sário adaptar os desenhos de pesquisa em algumas áreas, a
fim de explicar a complexidade das intervenções da MCA.72 Os
desafios específicos da MCA devem ser abordados, tais como o
problema da padronização estrita de diversos participantes de
tratamentos e estudo, levando à falta de validade externa. Os
estudos randomizados e controlados não respondem a todas as
questões de pesquisa e são caros de conduzir. Estudos randomi-
zados e controlados por placebo podem ser inadequados para
algumas modalidades específicas de MCA. Há necessidade de
métodos adicionais, por exemplo, estudos pragmáticos,73 estu-
dos observacionais, mistura de estudos qualitativos e quantita-
tivos, e estudos com n=1.
Nos estudos sobre tratamento, há, por um lado, a tendência
de operacionalizar as intervenções dos SMC em um ‘pacote de
tratamento’ que pode ser usado também fora do contexto origi-
nal dos SMC e, por outro lado, a crítica de que alguns aspectos
essenciais (por exemplo, a individualização) ou os componentes
da terapia podem ser excluídos por essa operacionalização, le-
vando a uma eficácia reduzida e percepções errôneas da inter-
venção ‘verdadeira’ tradicional dos SMC.74
Os resultados devem ser mais amplos do que apenas a re-
dução de sintomas, eles devem conter vários níveis do ser hu-
mano como um todo, incluindo fatores físicos, mentais, espi-
rituais e sociais.70 A avaliação econômica dos tratamentos da
MCA foi considerada particularmente relevante nos cuidados
de saúde modernos. A pesquisa sobre os mecanismos do efeito
placebo, do contexto ou de efeitos de significado também foi
considerada como importante para determinar grupos de con-
trole apropriados e seu respectivo poder explanatório, a fim de
explicar os resultados potencialmente contraditórios de estudos
e maximizar esses efeitos na prática clínica. Mais novos modelos
de avaliação, como a teoria dos programas, a teoria sobre “os
mecanismos que medeiam entre a administração (e a recepção)
do programa e o surgimento dos resultados de interesse”,75,76
abrangem uma ampla gama de mudanças relacionadas à saúde
que incluem aspectos do processo, tais como o surgimento de
novos significados e compreensão durante ou após o tratamen-
to, bem como mudanças de longo prazo na saúde, bem-estar e
competências e comportamentos relacionados à saúde.77
Outro modelo proposto é uma ‘estratégia de pesquisa rever-
sa’ para avaliar MCA, começando com estudos do contexto, pa-
radigmas, compreensão filosófica e utilização, e posteriormente
o status de segurança de todo o sistema, eficácia comparativa
de todo o sistema e eficácia específica de componentes e, final-
mente, os mecanismos biológicos subjacentes.49,78 Outros mo-
delos expressamente não hierárquicos incluem uma síntese de
informações circulares de diferentes formas de evidência45,60 e
uma ‘casa de evidências’.79
3.3.5. Aspectos da prática clínica
Os principais tópicos em relação aos métodos de prática dos
SMC pertencem ao desenvolvimento de sistemas complexos
de diagnósticos e intervenções; o desenvolvimento e aplicação
de sistemas de controle de qualidade para diagnósticos e tra-
tamentos individualizados e o uso de intervenções complexas
multidisciplinares;80 o papel dos protocolos, diretrizes e conhe-
cimento especializado em práticas clínicas de uma abordagem
de sistema complexo;81 e o uso de diagnósticos duplos (conven-
cional e SMC).
Um diagnóstico dos SMC é um diagnóstico no nível do pa-
ciente individual e é baseado no sistema. Em serviços onde os
SMC estão integrados com a medicina convencional, encontra-
mos, portanto, diagnósticos duplos. Os diagnósticos no nível
individual e no nível do sistema geralmente incluem métodos
de reconhecimento de padrões que requerem conhecimento es-
pecializado interdependente, intuição e habilidades de pensa-
mento do sistema.82
Na terapia dos SMC, o foco está no paciente doente em toda
a sua complexidade, incluindo fatores físicos, mentais, espiritu-
ais e sociais. Estes são interligados e precisam ser abordados
nos níveis total e múltiplo. O repertório de tratamento da MCA é
muitas vezes multimodal e complexo, e sua aplicação altamen-
te individualizada. Os tratamentos e o aconselhamento da MCA
são providos como sistemas integrativos com componentes em
interação. De acordo com isso, os efeitos das abordagens com-
plexas são geralmente maiores do que a soma dos efeitos dos
componentes. A terapia dos SMC visa apoiar e estimular poten-
ciais autoprotetivos e salutogenéticos (habilidades de autocura
e autorregulação), principalmente com a cooperação ativa do
paciente ou do seu organismo. As práticas dos SMC também exi-
gem uma boa interação paciente-profissional (relação terapêu-
tica) e cocriação do paciente em vários contextos terapêuticos.45
A avaliação clínica inclui resultados determinados pelo paciente,
bem como a satisfação do paciente;70 notavelmente, essas men-
surações de resultado também estão se tornando cada vez mais
utilizadas na avaliação de tratamentos convencionais.
3.3.6. Qualidade e segurança clínica dos SMC
Em relação à qualidade farmacêutica e à segurança clínica dos
SMC, há uma diferença no desenvolvimento histórico dos SMC
mais antigos e mais recentes.
No século XX, os produtos medicinais homeopáticos e an-
troposóficos foram comercializados em países europeus como
Áustria, França, Alemanha e Suíça como medicamentos, fabri-
cados de acordo com as normas da Boa Prática de Fabricação
e sujeitas à regulamentação moderna de medicamentos, in-
cluindo a farmacovigilância. As substâncias de partida toxico-
logicamente relevantes (por exemplo, acônito e cinábrio) são
altamente diluídas de acordo com os requisitos de segurança
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Arte Méd Ampl. 2018;38(1):18-29.
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das regulamentações europeias.83 As reações adversas a esses
produtos medicinais são infrequentes e geralmente de gravi-
dade leve a moderada; ocorrem reações anafiláticas, mas são
muito raras.40,84,85
Em contraste, os produtos medicinais da MTCh, ayurveda e
unani foram historicamente produzidos para uso local. Nos tem-
pos modernos, a produção em escala industrial se desenvolveu
com um controle de qualidade menos rigoroso, e os produtos
medicinais foram registrados como alimentos ou suplementos
alimentares ou foram importados para uso sem regulação. Al-
guns produtos medicinais de SMC foram associados a reações
adversas repetidas e graves, incluindo toxicidade hepática e re-
nal (às vezes fatais),86-88 envenenamento por metais pesados,
89-93 convulsões94 e supressão adrenal pela adição não declarada
de corticosteroides para produtos à base de plantas.90 Há outras
preocupações quanto às contaminações ambientais (por exem-
plo, poluição do ar, contaminação do solo), práticas de cultivo
(por exemplo, pesticidas, fungicidas, microrganismos, endoto-
xinas), procedimentos de fabricação (por exemplo, microrganis-
mos, endotoxinas) e uso inapropriado.95,96 Para superar esses
problemas, sistemas de farmacovigilância foram estabelecidos
nos principais países produtores de produtos medicinais chi-
neses, ayurvédicos e unani97,98 e há esforços consideráveis para
melhorar os padrões de qualidade desses produtos.99,100
3.4. Incompatibilidades e aspectos que precisam de atenção
3.4.1. Incompatibilidades
Atualmente, com base nas diferenças descritas, há incompati-
bilidades entre as demandas científicas empíricas (MBE) e te-
óricas (modelo biomédico) e as propriedades e especificidade
dos SMC. Descrevemos aqui estas incompatibilidades por meio
do exemplo de produtos medicinais dos SMC, com as deman-
das e sua aplicação na regulamentação de medicamentos por
um lado, e os produtos medicinais dos SMC e as propriedades
inerentes a esses sistemas por outro lado. As principais incom-
patibilidades consideradas são:
(I) Os produtos medicinais dos SMC são insuficientemente tes-
tados porque não estão de acordo com os interesses convencio-
nais e com os modelos biomédicos.
(2) Os produtos medicinais dos SMC são geralmente lidados
como intervenções de produto medicinal convencional padroni-
zado, enquanto deveriam ser lidados como parte de uma inter-
venção complexa.
(3) Os produtos medicinais dos SMC são tratados como produ-
tos medicinais convencionais, isto é, reduzem sintomas, lutam
contra doenças, enquanto eles deveriam ser tratados como te-
rapia curativa e de promoção da saúde que dá suporte às habi-
lidades de autocura do organismo.
(4) Os produtos medicinais dos SMC são testados para indi-
cações convencionais baseadas em taxonomia e diagnóstico
orientados para grupos, enquanto eles deveriam ser testados
para indicações individualizadas.
(5) Como os produtos medicinais convencionais, considera-se
que os produtos medicinais dos SMC têm efeitos bioquímicos
específicos, mas o tratamento com eles é direcionado a níveis
mais elevados, visando a regulação e harmonização (por exem-
plo, harmonização de dosha na ayurveda) de processos fisio-
lógicos abrangentes, e a transformação de processos e capa-
cidades fisiológicos e psicológicos em estados mais maduros e
integrados.
(6) Os produtos medicinais dos SMC são muitas vezes julgados
sobre eficácia pelas autoridades reguladoras como novos produ-
tos medicinais convencionais, ao passo que eles também devem
ser considerados parte de um SMC tradicional com uso de longa
data, desenvolvido seguindo um caminho reverso em compara-
ção com os produtos medicinais convencionais.45,49
As principais consequências dessas incompatibilidades são:
(1) A dominância do modelo biomédico resultou em uma ima-
gem a priori negativa e na rejeição dos produtos medicinais dos
SMC por cientistas de biomedicina convencional, pelo que, vis-
tos a partir de uma posição mecanicista reducionista, os efeitos
desses produtos medicinais são considerados meros efeitos de
contexto não específicos, não merecedores de um sério escrutí-
nio científico.
(2) Como consequência dessa atitude de rejeição, há uma sub-
-representação de cientistas dos SMC em instituições acadêmi-
cas e escasso financiamento público da pesquisa acadêmica de
produtos medicinais dos SMC.
(3) Muitos produtos medicinais dos SMC não são testados em
pesquisas clínicas e, portanto, não podem obter autorização or-
dinária para comercialização.
(4) Os produtos medicinais dos SMC geralmente não são testa-
dos de acordo com seus efeitos teóricos de ordem superior, de
nível de sistema, mas são testados em estudos randomizados
e controlados convencionais com uma abordagem de produto
único. Portanto, diminui a precisão do tratamento do produto
convencional dos SMC submetido a teste, com um alto risco de
‘resultados falsos negativos’ (o que significa: na realidade, o tra-
tamento tem efeitos benéficos, mas estes não são captados no
estudo de pesquisa).
(5) Os produtos medicinais dos SMC geralmente não aparecem
nas diretrizes para o tratamento de indicações convencionais
específicas, uma vez que muitos desses produtos não estão de
acordo com as teorias biomédicas convencionais, não são testa-
dos em pesquisas clínicas e não fazem parte do conhecimento
especializado dos desenvolvedores de diretrizes de tratamento
convencionais.
Este desenvolvimento não se restringe aos produtos me-
dicinais dos SMC: há um crescente pedido para excluir todas
as modalidades de SMC dos cuidados de saúde e para parar o
desenvolvimento da medicina integrativa, uma vez que muitas
intervenções dos SMC são percebidas como desprovidas de um
modelo plausível de eficácia científica e porque faltam os resulta-
dos relevantes dos estudos clínicos, pelas razões acima descritas.
No entanto, como descrito previamente, também há exemplos
Baars EW, Hamre HJ
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26
positivos da integração de SMC e medicina convencional na práti-
ca, exemplos de evidências de alta qualidade de efeitos específicos
do tratamento de SMC para indicações convencionais e modelos
teóricos de SMC que parecem estar alinhados em conteúdo com
a abordagem de sistemas em ciência e medicina (ver Introdução).
3.4.2. Aspectos que precisam de atenção para promover a integração do sistema médico convencional e dos SMC
A partir desta visão geral das diferenças entre o sistema médico
convencional e os SMC, pode-se deduzir uma série de questões
que devem ser tratadas na ciência e na prática clínica e regula-
tória, a fim de superar as diferenças e facilitar os processos de
integração do melhor dos dois mundos.
(I) Questões ontológicas
(a) A pesquisa futura e a discussão científica devem se
focar na natureza da realidade (matéria, organismo,
mente), na sustentabilidade da posição holística não
atomística dos SMC dentro do chamado debate sobre o
holismo-reducionismo, e questões ontológicas a serem
superadas no processo de integração.
(II) Questões conceituais e epistemológicas
(a) A pesquisa futura e a discussão científica devem se
concentrar no desenvolvimento e teste de teorias orienta-
das ao sistema e à complexidade e que sejam compatíveis
tanto com o SMC quanto com a medicina convencional.
(b) As teorias específicas que conceitualmente podem
unir as duas abordagens devem ser mais estudadas:
teorias da saúde, doença e cura;101 individualização no
diagnóstico e tratamento; e promoção da saúde.
(III) Questões metodológicas
(a) O uso futuro de metodologias/projetos de pesquisa
deve se concentrar em:
(1) uma ‘estratégia de pesquisa reversa para ava-
liação da MCA;
(2) levar em conta a complexidade das interven-
ções da MCA e o papel do conhecimento especia-
lizado, intuição e individualização de diagnósticos
e terapias;
(3) a avaliação econômica da saúde dos trata-
mentos da MCA;
(4) os mecanismos do efeito placebo, do contexto
ou dos efeitos de significado.102
(III) Questões da prática clínica
(a) Futuro desenvolvimento e implementação de abor-
dagens de tratamento integrativo deve levar em con-
sideração:
(1) alternativas para protocolos e diretrizes que
estão alinhados com as abordagens de tratamen-
to holístico e individualizante;
(2) o uso integrado de diagnósticos duplos (de
ambos os sistemas);
(3) o uso integrado do pensamento analítico e do
sistema;18
(4) a integração ideal entre opções de tratamento
de ‘luta contra a doença’ e ‘promoção da saúde’.
(IV) Questões regulatórias
(a) As estruturas regulatórias devem ser modificadas
para corresponder às características específicas dos pro-
dutos medicinais dos SMC.
(b) Novas conceituações em relação à avaliação de
benefício-risco, síntese da pesquisa de diferentes ti-
pos de evidências (não apenas estudos randomizados
e controlados), e a avaliação de produtos medicinais
dos SMC é necessária. Isto alinhado com a opinião da
comissão da União Europeia que reconheceu a neces-
sidade de regulação apropriada também dos produtos
medicinais dos SMC.103
3.4.3. Falta de evidência de efeitos específicos do tratamen-to e teorias pré-científicas ou não científicas
Considerando que o principal argumento de muitas pessoas da
medicina convencional é que a integração dos SMC com a me-
dicina convencional é inaceitável devido a uma suposta falta de
evidência de efeitos específicos do tratamento dos SMC e devido
às alegadas teorias pré-científicas ou não científicas, aqui discu-
timos essas questões com mais detalhes.
Além do fato de que há alguns estudos de boa qualida-
de que demonstram efeitos específicos de uma única terapia
de SMC para uma indicação convencional,104 as característi-
cas descritas das abordagens de SMC demonstram que tais
terapias visam mais frequentemente efeitos do sistema e a
restauração de equilíbrio, mais que a redução de sintomas, e
que muitas vezes contêm diferentes tratamentos como parte
de uma intervenção complexa. Esta situação torna frequente-
mente difícil testar um único tratamento baseado em protocolo
para uma indicação convencional. Se esse tipo de evidência
fosse obrigatório, a precisão do tratamento testado diminuiria,
com um alto risco de ‘resultados falsos negativos’ (o que sig-
nifica: na realidade, o tratamento tem efeitos benéficos, mas
estes não são captados no estudo de pesquisa). Além disso,
isso levaria a um viés de viabilidade contra os SMC. Esse foi o
motivo do desenvolvimento da ‘estratégia de pesquisa rever-
sa’ anteriormente descrita para avaliar a MCA49 e o modelo de
síntese de informação circular não hierárquica de diferentes
formas de evidências.60
No que diz respeito às teorias, as relativas aos SMC são ho-
lísticas (não atomistas) e não reducionistas e, portanto, mui-
tas vezes consideradas como pré-científicas ou não científicas.
Entretanto, a situação atual é que, em diferentes campos de
pesquisa, os cientistas questionam cada vez mais a capacida-
de das teorias puramente reducionistas de descrever e expli-
car a complexidade das organizações biológicas.51 Portanto,
novas teorias (por exemplo, biologia de sistemas, emergência
e epigenética) provenientes dos campos de pesquisa da com-
plexidade biológica nos organismos e do projeto do genoma
demonstram uma mudança do conceito reducionista para
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conceitos mais holísticos.21 Na nossa opinião, com base nessas
mudanças na ciência, é garantida mais abertura e aceitação
em relação a teorias holísticas (não atomistas).
4. DISCUSSÃO
Há uma necessidade crescente de uma integração profissional
mundial da medicina convencional e SMC tradicionais/comple-
mentares. No entanto, em muitos países ocidentais, a integração
é percebida pela medicina convencional como problemática e não
aceitável. Por isso, revisamos a literatura sobre as características
dos SMC, as semelhanças e diferenças entre medicina convencio-
nal e SMC, e futuras questões da prática clínica e científica que
devem ser tratados para promover o processo de integração.
Os principais fatores para a integração de SMC e a medicina
convencional são: estruturas legais e regulatórias para provedo-
res de terapia e produtos medicinais dos SMC; padrões de quali-
dade para treinamento de provedores de terapia, administração
do tratamento e qualidade farmacêutica dos produtos medici-
nais dos SMC; pesquisa científica de alta qualidade sobre a se-
gurança e a eficácia das intervenções dos produtos medicinais
dos SMC; e infraestrutura e recursos financeiros adequados para
realizar essas tarefas.
Para pesquisa científica e avaliação de qualidade, há ques-
tões fundamentais que pertencem às propriedades inerentes
dos produtos medicinais dos SMC: questões ontológicas, epis-
temológicas e metodológicas relevantes para a compreensão
e avaliação geral e questões relevantes para o diagnóstico, a
administração da terapia e a avaliação de resultados na práti-
ca clínica. Muitas dessas questões ainda não foram resolvidas,
com posições contraditórias entre cientistas e partes interes-
sadas de biomedicina convencional e SMC, respectivamente, e
com incompatibilidades para alocação de recursos e regulação
de medicamentos.
A principal contribuição deste artigo é que ele fornecerá
(mais) visão geral e clareza neste tópico para ambos, SMC e me-
dicina convencional. Ele dará entrada objetiva para discussões
racionais sobre o tema de integração. Além disso, apoiará as
organizações na sua preparação e tomada de decisões durante
o processo de integração.
Uma limitação do artigo é que não incluímos todos os SMC,
por exemplo, yoga, osteopatia, campo, ou SMC da África ou da
América do Sul. Também não empregamos todos os termos de
pesquisa possíveis, por exemplo, ayurvédica (além de ayurve-
da). Um tópico que está além do escopo deste artigo é que não
discutimos a (suposta) falta de evidências sobre os efeitos es-
pecíficos dos tratamentos do SMC e a (suposta) falta de teorias
testadas de SMC15 em profundidade. Entretanto, descrevemos as
diferenças subjacentes fundamentais (ontológicas, epistemoló-
gicas e metodológicas) entre os SMC e a medicina convencional
relacionadas a essas questões (evidência de efeitos específicos
e falta de teorias testadas) e ficou claro porque ambas as partes
têm diferentes percepções sobre essas questões.
As atividades de pesquisa futuras não só devem ser dire-
cionadas para os ‘problemas de linha de frente’ da garantia de
qualidade e gerar os dados necessários sobre segurança e eficá-
cia/efetividade das intervenções dos SMC, mas também devem
abordar as questões mais fundamentais (ontológicas, episte-
mológicas e metodológicas), para superar as diferenças entre
SMC e medicinas convencionais.
Declaração de conflitos de interesse
Os autores declaram que não há conflitos de interesse em rela-
ção à publicação deste artigo.
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