Universidade Federal do AmazonasUniversidade Federal do AmazonasUniversidade Federal do AmazonasUniversidade Federal do Amazonas Instituto de Ciências Humanas e LetrasInstituto de Ciências Humanas e LetrasInstituto de Ciências Humanas e LetrasInstituto de Ciências Humanas e Letras
Mestrado em Sociedade e Cultura na AmazôniaMestrado em Sociedade e Cultura na AmazôniaMestrado em Sociedade e Cultura na AmazôniaMestrado em Sociedade e Cultura na Amazônia
História e Memória daHistória e Memória daHistória e Memória daHistória e Memória da Biblioteca Pública do AmazonasBiblioteca Pública do AmazonasBiblioteca Pública do AmazonasBiblioteca Pública do Amazonas
(1870 a 1910)(1870 a 1910)(1870 a 1910)(1870 a 1910)
ManausManausManausManaus 2000200020002000
Guilhermina Melo ArrudaGuilhermina Melo ArrudaGuilhermina Melo ArrudaGuilhermina Melo Arruda
História e MHistória e MHistória e MHistória e Memória daemória daemória daemória da Biblioteca Pública do AmazonasBiblioteca Pública do AmazonasBiblioteca Pública do AmazonasBiblioteca Pública do Amazonas
(1870 a 1910)(1870 a 1910)(1870 a 1910)(1870 a 1910)
Manaus 2000
Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Natureza e Cultura da Amazônia à Universidade Federal do Amazonas, sob a orientação do Prof. Dr. Evandro Cantanhede de Oliveira
Ficha catalográfica
A779h Arruda, Guilhermina Melo História e memória da Biblioteca Pública do Amazonas (1870 a 1910). __ Manaus: Universidade do Amazonas, 2000. 140 p.; il.; 27 cm. Dissertação de Mestrado. 1. Biblioteca Pública do Amazonas -
História. I. Título CDU: 027.022(811.3)”1870-1910”(091.02.2)
Dissertação defendida e aprovada em 31 de agosto de 2000,
pela banca examinadora constituída pelos professores:
_______________________________________________________ Prof. Dr. Evandro Cantanhede de Oliveira
Orientador
_______________________________________________________ Profª Drª Elenise Faria Scherer
Membro
_______________________________________________________ Prof. Dr Luís Balkar Sá Peixoto Pinheiro
Membro
À Maria de Nazaré Melo Arruda, minha mãe;
A Wellington Góes Terra, meu noivo;
À Célia Regina Simonetti Barbalho, minha eterna orientadora;
À Anabela Costa Haddad, minha amiga,
DedicoDedicoDedicoDedico
Ao professor Dr. Evandro Cantanhede de Oliveira,
meu orientador;
À Ana Cristina Estevão,
Coordenadora da Biblioteca Pública do Amazonas;
Ao Departamento de Biblioteconomia da Universidade do
Amazonas, meu local de trabalho;
Aos amigos que, acreditando em meu potencial,
deram-me força para prosseguir, em especial a Ademir de Melo Amaral;
E a todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para a
realização deste trabalho,
AgradeçoAgradeçoAgradeçoAgradeço
“ Compraste livros, enchestes estantes,
oh Amantes das Musas.
Significa isso que és um erudito agora?”
(Ausônio)(Ausônio)(Ausônio)(Ausônio)
Lista de FigurasLista de FigurasLista de FigurasLista de Figuras
Figura 1: Vista de Manaus 18
Figura 2: Espaço Urbano de Manaus 19
Figura 3: Nova forma de vestir 22
Figura 4: Processo de Transformação 30
Figura 5: Processo de Europeização 33
Figura 6: Ruínas da Biblioteca de Efésos – Antiguidade 48
Figura 7: Biblioteca Nacional – Rio de Janeiro 66
Figura 8: Quartel da Polícia Militar 72
Figura 9: Catedral Nossa Senhora da Conceição 82
Figura 10: Início da Construção da Sede Definitiva 84
Figura 11: Liceu Provincial – Atual Colégio Dom Pedro II 86
Figura 12: Etapa Final da Construção da Biblioteca Pública do
Amazonas 97
Figura 13: Biblioteca Pública do Amazonas nos dias atuais 100
SumárioSumárioSumárioSumário
Considerações Iniciais 09 Capítulo 1 Um Retorno à História 16 1.1 A Construção da “Vitrina” 18 1.2 A Obscuridade do Fausto 38 Capítulo 2 Uma Sala de Leitura em Manaós 45 2.1 O Livro dos Géneses 46 Capítulo 3 Uma Nova Biblioteca para a Província 78 Considerações Finais 101 Referências 114
ResumoResumoResumoResumo
Nesta dissertação, tenho por objetivo resgatar a história e a
memória da Biblioteca Pública do Amazonas durante o período de 1870 a
1910 e através desse resgate poder contextualizá-la no processo de
constituição da cidade de Manaus.
Ainda há o propósito de relacionar a criação da Biblioteca Pública
do Amazonas, a partir dos processos sociais que influenciaram tanto na
transformação urbanística de Manaus, quanto na formação da elite
intelectual da cidade.
Isso implica afirmar que se espera, com essa pesquisa, verificar se
a criação da sala de Leitura e, posteriormente, a Biblioteca Pública
Provincial tiveram uma única finalidade: equiparar a cidade de Manaus às
cidades intelectualmente desenvolvidas; ou satisfazer as necessidades da
sociedade manauara – grupo social economicamente privilegiado-; ou
ainda, executar sua função pública.
Palavras-Chave: Biblioteca pública-Amazonas, Economia
gomífera, Urbanização-Manaus, Sala de leitura, Biblioteca provincial.
Considerações Considerações Considerações Considerações IniciaisIniciaisIniciaisIniciais
om este trabalho, espera-se obter não apenas o grau de
Mestre, pois o resgate da memória e história da Biblioteca
Pública do Estado do Amazonas, durante o Período referente
ao “ciclo da borracha”, mais precisamente entre os anos de 1870 a 1910,
não se restringe a um mero compromisso acadêmico.
A existência de apenas três fontes bibliográficas que tecem a
trajetória dessa Biblioteca, contribuiu, sobremaneira, para a realização
desta dissertação, pois a história de Manaus, bem como a do Curso de
Biblioteconomia da Universidade do Amazonas merecem a existência de
um trabalho que se volte verdadeiramente para a historia da Biblioteca
Pública do Amazonas.
A obra “Nascença e Vivencia da Biblioteca Pública do Amazonas”,
escrita por Genesino Braga, em 1971 e reeditada em 1989, é considerada
como sendo a primeira bibliografia, cuja versão revela que a Sala de
Leitura anexa a Biblioteca Pública do Amazonas, fora uma espécie de
presente à comunidade onde, sua função ligava-se à libertação dos
manauaras do estado de ignorância.
Porquanto é interessante salientar que em sua obra Genesino
transcreve a trajetória da Biblioteca sob uma visão romântica onde,
Gustavo Adolfo Ramos Ferreira, Presidente da Província do Amazonas, é
apresentado como sendo o grande responsável pela criação da Biblioteca
na cidade de Manaus.
Não obstante, afirmar que a Biblioteca Pública do Amazonas passou
por período ora de abandono e esquecimento, ora de reorganização, esse
CCCC
autor defende a hipótese de que a Biblioteca fora criada para o uso
público, satisfazendo assim, às expectativas e necessidades da população
manauara, isto é, o usuário real – grupo de pessoas que efetivamente
utilizam a biblioteca –, o usuário potencial – grupo de pessoas que
poderão vir a freqüentar a biblioteca –, e o não-usuário – grupo de
pessoas que jamais usarão a biblioteca, sendo este considerado como os
não alfabetizados, os deficientes, os idosos, crianças e outros.
Todavia, a verdade é que a história dessa Biblioteca não se firmou
por essa razão, haja vista que a época em que se criou a Sala de Leitura
como núcleo da Biblioteca Pública do Amazonas, Manaus além de ser
considerada como uma grande aldeia, apenas 3% da população tinha
condições de decifrar o código da escrita.
Diante do exposto, pode-se afirmar que sua criação, deu-se a
partir do parâmetro europeu, particularmente o francês onde, a presença
de uma Biblioteca era sinônimo de Intelectualidade e modernidade para a
cidade que a criava.
A segunda fonte bibliográfica que se tem acerca da Biblioteca
Pública do Amazonas, corresponde ao artigo publicado, em 1979, pela ex-
professora do Departamento de Biblioteconomia da Universidade do
Amazonas, Maria Sidney Garcia de Vasconcelos Lins, intitulado
“Levantamento e análise do ‘status quo’ da seção de circulação da
Biblioteca Pública do Amazonas”.
Esse artigo, apresenta a trajetória histórica da Biblioteca Pública do
Amazonas de forma sintética, mais precisamente em uma única página.
Desta forma, não se pode obter, com esse artigo, alguma informação mais
profunda acerca da Biblioteca, pois seu objetivo não se ligou ao seu
trajeto histórico.
Quanto a terceira obra, “Biblioteca Pública do Amazonas”,
publicada pela iniciativa do Governo do Amazonas, afirma-se que esta
trabalhou o percurso vivido pela Biblioteca Pública do Amazonas, a partir
da obra “Nascença e Vivência da Biblioteca Pública do Amazonas”,
levando-nos a concluir que seu conteúdo não se diferenciou muito dos
escritos de Genesino.
Em virtude disso, sentiu-se a necessidade de desenvolver este
trabalho, pois através dele visou-se efetuar um regate sobre a trajetória
histórica da Biblioteca Pública do Amazonas não mais através da versão
romântica ou sintetizada. Porém, em nenhum momento objetivou-se
desmerecer as obras escritas anteriormente, haja vista que serviram
como base para a construção desta dissertação.
Isso implicar afirmar que, através desse novo resgate histórico,
visou-se contextualizar a Biblioteca Pública do Amazonas a partir dos
processos sociais que lhe deram origem, procurando elencar as causas de
sua criação.
É valido ressaltar, entretanto, que tal resgate correspondeu
apenas às duas primeiras fases da história da Biblioteca Pública do
Amazonas, já que o período traçado nesse trabalho, ligou-se à época
vindoura do “ciclo da borracha”. Dessa forma, essa dissertação tem como
objetivo primacial identificar a trajetória histórica da Biblioteca Pública do
Amazonas no período de 19870 a 1910, abrangendo desde sua criação até
a instalação definitiva no prédio da rua Barroso – conhecido como Palácio
da Barroso.
Para isso, primeiramente, foi feito um levantamento sobre a cidade
de Manaus no período áureo da economia gomífera, com o propósito de
entender como ocorreu o processo de criação da Biblioteca Pública do
Amazonas, compreender a contextualização histórica, social e cultural da
capital do Estado naquela época, para que se fossem identificados os
fatores que influenciaram na transformação urbanística de Manaus.
Para a obtenção das fontes bibliográficas acerca da cidade de
Manaus na época da borracha e da Biblioteca Pública do Amazonas,
primeiramente coletou-se as informações junto às fontes primárias ou
diretas.
Segundo D. Grogan1, citado por Carlita M. Campos e Bernadete S.
Campello (1988:16), por tal fonte entende-se como sendo
“as informações que ainda não foram assimiladas pelo corpo do
conhecimento científico e tecnológico”.
Assim, durante essa etapa, o levantamento documental ou
bibliográfico foi realizado através de compilações de jornais, leis, decretos,
relatórios e mensagens da época.
1 GROGAN, D. The literature. In: _________. Science and technology: na introdution to the literature. 3. ed. London: C. Bringley, 1976. p. 14-49.
Para coletar esses dados, contou-se com o auxilio das seguintes
instituições: Biblioteca Pública do Amazonas, Instituto Geográfico e
Histórico do Amazonas, Arquivo Público e Museu Amazônico.
No segundo momento, o levantamento bibliográfico ou documental
deu-se junto às fontes secundárias ou indiretas, utilizando-se assim,
“a informação filtrada e organizada de acordo com um arranjo definido,
dependendo da finalidade da obra [com] a função de facilitar o uso do
conhecimento disperso nas primárias” (CAMPOS; CAMPELLO, 1988).
Para coletar essas informações, contou-se não só com as
instituições já citadas, mas também com a Biblioteca do Instituto de
Ciências Humanas e Letras da Universidade do Amazonas e acervos de
particulares.
O que não pode deixar de ser destacado é que tanto no primeiro,
quanto no segundo momento, a coleta dos dados visou a obtenção de
todo e qualquer tipo de informação acerca da:
• História da cidade de Manaus entre o final do século XIX e
início do século XX, pois foi durante esta época que a cidade sofreu seu
primeiro grande surto de urbanização, transformando-se radicalmente a
partir da adoção do modelo europeu.
• História da Biblioteca Pública do Amazonas entre os anos de
1870 a 1910 no momento de sua criação e ascensão já na Instalação
definitiva no prédio definitivo da rua Barroso onde ocorreu também, sua
extinção. Após a recuperação dessas informações, iniciou-se o processo
de exposição.
Para a organização deste trabalho, três capítulos foram
estruturados. No primeiro, intitulado “Um retorno à História”, aponta-se
alguns elementos que impulsionaram o processo de modernização da
cidade de Manaus, assim como identifico os atores/sujeitos responsáveis
pela criação da biblioteca pública do Amazonas, baseando-se na Teoria do
Cotidiano.
No segundo capítulo, denominado “Uma Sala de Leitura em
Manaós?”, visou-se traçar, primeiramente, a história da Biblioteca
verdadeiramente pública e, em seguida, a criação até ao desaparecimento
no núcleo da Biblioteca Pública do Amazonas. A fim de detectar se essa
Sala fora construída para assumir sua função pública.
Nesse momento, historiou-se o período que envolvia os anos de
1870 a 1882, com o propósito de retratar o curto ciclo de atividade
desenvolvida pela Sala de Leitura cujo desaparecimento deu-se sem se
saber como e quando.
No terceiro capítulo, chamado “Uma Nova Biblioteca para Manaus”,
descreveu-se o período referente à ascensão e reorganização da Biblioteca
Pública Provincial, percorrendo suas várias fases, ou seja, desde a
ascensão até a transferência para o prédio definitivo na rua Barroso.
Nesse interin são evidentes os momentos de abandono, ora de
franca atividade, em decorrência das sucessivas mudanças de direção e
local, sendo este menos apropriado para assumir uma Instituição desse
porte.
CCCCapítulo 1apítulo 1apítulo 1apítulo 1 UmUmUmUm Retorno à História Retorno à História Retorno à História Retorno à História
uando houve a criação da Sala de Leitura em Manaus anexa
da Biblioteca Pública, 1870, a cidade encontrava-se
estruturada sob a forma de uma grande aldeia, não estando,
portanto, pronta para receber o título de Capital da Província.
Sendo assim, para entender o verdadeiro motivo da criação dessa
Sala, em uma cidade que mais parecia uma grande aldeia, faz-se mister a
descrição do período histórico referente ao “ciclo da borracha”, pois foi
durante esse período que ocorreu desde a criação até a ascensão da
Biblioteca Pública do Amazonas, visando, para isso, apontar não só o lado
iluminado2 da economia gomífera, mas também ao lado das sombras3,
com o intuito de retratar como Manaus estava estruturada antes e
durante os anos de 1870 a 1910, haja vista que para P. L. Berger e T.
Luckmann (1995:34)
todo conhecimento e toda realidade somente têm sentido se analisarmos a partir da dimensão social e histórica que os gerou. Isto porque, [...], as verdades que representam somente podem ser encontradas nos seus contextos específicos, nunca nos contextos de caráter geral.
Diante do exposto, pode-se afirmar que, através deste capítulo,
objetivar-se-á retratar os dois lados resultantes da implantação do
processo urbanístico na cidade de Manaus no período áureo da economia
gomífera, pois somente desta forma, saberemos os verdadeiros motivos
2 Entendido como sendo tudo o que encanta, estando relacionado ao aparente, ao que é facilmente identificado e mensurável, deixando transparecer toda uma ilusão de esplendor, como nos é resgatado pela historiografia regional. 3 Compreendido como sendo a representação de tudo aquilo que está escondido, o que não é visível e captado em uma primeira leitura.
QQQQ
que levaram à criação da Sala de Leitura como núcleo da Biblioteca
Pública do Amazonas, em uma cidade em franca expansão.
Figura 1 - Vista de Manaus Fonte: MESQUITA, Otoni Moreira. História...1997.
A Construção da “Vitrina”
Para o Poder Público, a tentativa de transformar a estrutura física de
Manaus, eliminando a imagem de atraso e anti-progresso que a cidade
mantinha junto às regiões brasileiras e estrangeiras, sempre foi uma
necessidade, conforme é revelado por Ortoni Moreira Mesquita (1997).
Todavia, fatores econômicos e políticos sobrepunham-se à
consolidação de progresso do Amazonas, em relação ao resto do Império,
pois no contexto nacional o Estado mantinha-se completamente
inexpressivo, no que dizia respeito às exportações, e ainda mantinha-se
sob a dependência política do Pará, inviabilizando, assim, a realização dos
projetos que transformariam a cidade.
Diante disso, a capital do Amazonas continuava apresentando o
aspecto de uma grande aldeia, fato comprovado no relato, apresentado
em 1865, pela Senhora Agassiz, que descreveu a cidade de Manaus como
sendo uma cidade formada por um “aglomerado de casas, metades das
quais prestes a cair em ruínas, [...], castelos oscilantes decorados com o
nome de edifício público” (AGASSIZ, 1975: 127,174).
Figura 2: Espaço Urbano de Manaus Fonte: MESQUITA, Ortoni Moreira de. História... 1997.
Quanto à estrutura física da cidade, Edinea Mascarenhas Dias (1988:
10), destaca que esta, na época em que se deu a criação da Sala de
Leitura, apresentava-se da seguinte forma:
porto precário, trapiches de madeira, pontes de madeira no centro da cidade, prédios públicos em ruínas ou construídas fora do estilo que a modernidade exigia, ruas estreitas e
desniveladas, calçamentos irregulares e de madeira, sem rede de esgoto, iluminação a gás, sem saneamento, com serviço de navegação deficiente, etc.
No que diz respeito à comunicação entre os cinco bairros existentes
na época – Espírito Santo, São Vicente, República, Campinas e Remédios
– pode-se afirmar que esta era feita através de pontes de madeira.
Ademais, a condição de pobreza que Manaus enfrentou durante,
praticamente, todo o período imperial, deu-se em decorrência da precária
situação econômica vivida pela região, uma vez que entre 1616 a 1750,
as atividades incipientes desenvolvidas se baseavam, exclusivamente, na
coleta das drogas do sertão – salsa, pimenta, cacau, cravo, canela,
castanha e outros.
No período seguinte, mais precisamente entre os anos de 1750 a
1830, as atividades econômicas voltam-se para a agricultura, porém, o
retorno obtido não atingiu o resultado esperado, conforme salienta
Mesquita (1997).
Quanto ao cotidiano da população manauara, pode-se afirmar que
era considerado, também, impregnado pela rotina inóspita e impiedosa.
Durante a semana, os homens trabalhavam nos seus armazéns, trajando
camisas e chinelos acompanhados dos tradicionais aventais, enquanto as
mulheres tinham como obrigação o cuidado com suas casas e filhos.
Assim Russel Wallace (1997:110) descreve os domingos da época,
assim:
as mulheres comparecem elegantíssimas, num multicolorido desfile de musselinas e gazes francesas. Suas belas cabeleiras, cuidadosamente arrumadas e adornadas de
flores, jamais e escondem sob toucas e chapéus. A seu lado, os cavalheiros [...], trajam finíssimos ternos pretos, chapéus de feltro, gravatas de cetim e botinas de verniz de cano bem curto. Depois da missa é hora de visitas de cerimônia, quando todo mundo vai à casa de todo mundo, e lá ficam comentando os escândalos que se acumularam durante a semana.
Durante os meses de janeiro e junho, realizavam-se as tradicionais
festas do Espírito santo e de Nossa Senhora dos Remédios e
esporadicamente, ocorriam alguns espetáculos no Teatro Fênix.
A outra forma de divertimento eram os bailes oferecidos pela
sociedade manauara4 a alguma pessoa ilustre que chegava ou partia da
cidade, como uma forma de homenageá-la.
As outras atividades culturais que também mereciam destaque,
correspondiam aos eventos promovidos, segundo Genesino Braga (1989),
pelas sociedades existentes na época, principalmente pela
Ateneu das Artes, destinada à proteção e difusão das artes e também educativa e beneficente, a ela se devendo a criação da primeira escola noturna de Manaus; a Sociedade Nacional Beneficente do Amazonas, de beneficência e caridade; e a Sociedade Emancipadora Amazonense, que se batia pela abolição da escravatura e promovia e estimulava a alforria dos escravos (BRAGA, 1989:30).
Enumerando-se as atividades comerciais desenvolvidas em Manaus,
pode-se dizer que estas por apresentar apenas 75 lojas, eram
inexpressivas.
4 Entendida como sendo o grupo social constituído de pessoas economicamente privilegiadas.
Figura 3: Nova forma de vestir Fonte: DIAS, Edineia Mascarenhas. A ilusão... 2000.
Para fazer suas compras, os membros da sociedade manauara passou
a adquirir suas
[...] chitas francesas e chapelinhos de veludo no ‘Centro Comercial Amazonense’ á Rua da Boa Vista, junto ao Cais de Tamandaré; e as luvas de pelica de Jouvain, as botinas e tranças crespas das senhoras eram adquiridas na ‘Elite de Paris’. Na loja de Antônio Joaquim da Costa e Irmãos, à Rua Brasileira, havia coques enfeitados e de todas as cores para as longas madeixas femininas, bem como paletós de alpaca inglesa, ao preço de sete mil réis, para cavalheiros. Os perfumes franceses, com as marcas de Coudray e de Piver, o tão procurado ‘Fleurs d’Amour’, estavam à mostra na ‘Ville de Paris; e o bom vinho Bourdeax, os queijo do Reno, a manteiga Lepeletier e o forte chá inglês eram obtidos no empório ‘Flor de Manaus’ (BRAGA, 1989:26).
Em virtude de Manaus ser geograficamente isolada, a viabilização das
atividades comerciais dependia única e exclusivamente dos barcos
oriundos de Belém, Santarém e, às vezes, de São Luís e Recife que, além
de abastecerem a cidade de gêneros alimentícios, industriais e
ferramentais, traziam também as notícias oriundas do Império e do
mundo.
Por essa razão, a chegada desses barcos era esperada por todos com
bastante entusiasmo e expectativa, a ponto dos expectadores cancelarem
qualquer atividade, mesmo que já iniciada, somente para recebê-los.
Essa dependência dos manauaras, em relação a tais barcos, é
destacada num episodio descrito pela senhora Agassiz, onde relata:
Estavam as danças muito animadas quando, entretanto no porto, o paquete vindo do Pará, ficou todo iluminado e soltou girândolas e foguetes em sinal de regozijo. A alegria chegou ao auge; as quadrilhas interrompidas, sucederam-se ruidosas manifestações de jubilo. A maioria dos assistentes passou a noite em claro e dirigiu-se para bordo do navio para receber os jornais (BRAGA, 1989:27).
Quanto às atividades industriais, utilizando-se de produtos
resultantes das atividades extrativistas, apesar de serem desenvolvidas
com um pouco mais de intensidade, também não conseguiam satisfazer
as expectativas do Poder Público.
Por essa razão, afirma-se que foi somente com a economia gomífera
que o Amazonas começou a ter condições para concretizar os projetos
traçados em épocas anteriores , já que através dela, durante o final do
século XIX e início do Século XX a cidade de Manaus conseguiu dar seu
primeiro grande surto de urbanização.
Com as técnicas de beneficiamento da borracha conhecidas como o
processo de vulcanização5, o látex ficou mais resistente à variação da
temperatura. Conseqüentemente, a borracha deixou de ser usada apenas
na impermeabilização de peças de vestuário, passando a ser a matéria-
prima ideal junto à fabricação de pneus.
As indústrias européias e americanas demonstraram interesse pela
obtenção da goma elástica para a confecção de seus produtos, visto que o
produto possibilitaria a fabricação não só de pneus, mas também de
materiais hospitalar, bélico e naval. Logo, a borracha passaria a ser vista
com mais ambição pelos estrangeiros.
Para comprovar essa afirmação, destaca-se Sônia Conti Gomes
(1983:22) onde diz que
a extração da borracha no Norte do País, iniciada ainda nos primórdios do Império, alcançou grande desenvolvimento na ultima década do século XIX, com a inovação do uso industrial da borracha, principalmente na fabricação de pneus, [...], alcançando o Maximo na década 1901/10.
Faz-se necessário destacar que a borracha, passou a ser uma
exigência imediata, sua exportação começou a crescer de forma
vertiginosa, exigindo, com isso, mão-de-obra para desenvolver a coleta do
látex.
Porém, o grande problema era que não existia mão-de-obra
suficiente. Assim, para suprir tal falta, o Poder Público decidiu desenvolver
5 Processo descoberto, simultaneamente por Charles Goodyear (EUA) e Hancock (Reino Unido), a partir da mistura da borracha com enxofre e calor. Em decorrência de ter sido associado ao deus Vulcano, tal processo recebeu este nome.
uma política que atraísse o maior número possível de trabalhadores para a
região.
Inicialmente, o objeto voltou-se para a atração dos trabalhadores
europeus, no entanto, apesar do Brasil ter despendido consideráveis
somas para que tal fato ocorresse, o “norte do país recebera apenas um
número muito insignificante de imigrantes” (MESQUITA, 1997:231).
Conseqüentemente, a mão-de-obra asiática, japonesa e chinesa,
passou a ser o grande interesse do Poder Público, mas como na tentativa
anterior, não se conseguiu obter a resposta almejada.
Todavia, a partir da última década do século XIX, a história começou
a mudar, pois ao saber da situação de miséria vivida no nordeste
brasileiro, em decorrência das repetidas secas que assolavam o sertão, o
Poder Público passou a ver na mão-de-obra nordestina a oportunidade
ideal para a obtenção de lucro e progresso para a região.
Assim sendo, deu-se início à campanha para atrair um contingente
humano relativamente grande para a coleta do látex nos vários seringais
amazônicos.
Tam campanha, constituiu no oferecimento de passagens para quem
quisesse se estabelecer no Amazonas. Para os nordestinos, o processo de
imigração passou a ser uma ótima oportunidade, pois lhes traria sorte em
dose dupla, pois ao mesmo tempo que se libertavam das constantes secas
que assolaram o sertão feroz, a partir da mística de fortuna, da lenda de
riqueza fácil, do novo “Eldorado”, viram na extração do látex melhores
condições de vida.
Segundo Arthur Cezar Ferreira Reis (1997:47), foi por esta razão que
“grossos contingentes de nordestinos [...], alcançaram os altos rios,
empurrando a fronteira legada pelos portugueses e empreendendo o
cometimento sensacional do que podemos chamar ciclo da borracha ou do
ouro negro”.
Faz-se necessário destacar que, a economia gomífera, à medida
que ia atingindo seu clímax, fez com que Manaus deixasse de ser vista
como sendo um centro urbano – utilizado apenas como ponto de partida e
chegada de viajantes que objetivavam única e exclusivamente capturar a
mão-de-obra indígena para benefício próprio –, passando a ser vista como
uma cidade cosmopolita.
Foi nesse período que Eduardo Gonçalves Ribeiro assumiu o
Poder Público e através de suas idéias vistas pela sociedade manauara
como dinâmicas e modernas, unidas ao rápido retorno financeiro oriundo
da exploração do látex, conseguiu dar início ao processo transformado da
cidade de Manaus.
De acordo com Liz de Miranda Corrêa (1966), assim que Eduardo
Ribeiro assumiu o Poder Público, com a finalidade de transformar a grande
aldeia em uma grande cidade, apresentou um projeto administrativo,
constituído pelos seguintes pontos básicos:
[...] 1º.) Saneamento do solo, esgotos, águas fluviais, abastecimento d’água; 2º.) Remoção e destruição do lixo e limpeza pública; 3º.)Vacinação e revacinação; 4º.) Casas para as classes proletárias; 5º.) Remoção do Hospital de caridade, arrasamento do cemitério de São José, construção de hospitais para loucos e leprosos.
No entanto, o que o Poder Público não esperava era que o nível
populacional que passou a residir no perímetro urbano de Manaus
crescesse de forma veloz.
Embora o processo imigratório tenha sido extremamente relevante
para o desenvolvimento da cidade de Manaus tanto no aspecto econômico
como urbano representou um grande obstáculo para a transformação
qualitativa da cidade de Manaus, já que proporcionou o aumento junto ao
número de pobres e mendigos no perímetro urbano.
Contudo, no aspecto social despertou um forte preconceito junto à
presença do povo nordestino, devido ter sido, sobretudo, a população
cearense que manteve o monopólio junto ao processo imigratório, rumo
ao Novo Eldorado.
Todavia, a maior parte desses imigrantes não fora aproveitada para
as atividades nos seringais, já que os seringalistas optaram somente pelos
homens sadios, não escolhendo, portanto, a leva dos voluntários que se
encontrava debilitado, apresentando doenças física ou espiritual, em
decorrência da “sua condição de flagelados da seca, portanto sem
recursos materiais, e muitas vezes pela sua situação de depauperamento
físico sem condições para o trabalho” (DIAS, 1988:77).
Diante desse fato, o Poder Público visou eliminar tudo que fosse
ameaça à imagem de uma cidade “civilizada”, haja vista que o
aglomerado de voluntários que não conseguiram deslocar para os
seringais, certamente, seria um obstáculo para o desenvolvimento da
cidade. Por esta razão, o deslocamento dessas pessoas do perímetro
urbano foi a medida mais indicada.
Assim, criaram-se as chamadas colônias agrícolas, afim de deslocar
para os vários locais do interior essas pessoas, como forma de diminuir o
índice populacional que se localizava na parte central da cidade de
Manaus.
Todavia, a outra porção que não conseguiu ser deslocada para as
referidas colônias, permaneceria na cidade, pelo fato de não ter tido a
oportunidade de conseguir trabalho ou pela idade avançada, ou pela
invalidez, encontrou nas ruas a única alternativa de vida.
Em decorrência disso, continuar com os casebres, pobres e mendigos
vagando pelo centro de Manaus, significava permanecer com a imagem
negativa que tanto o Poder Público, quanto a sociedade manauara
pretendiam eliminar, pois tais “obstáculos” traziam a visão de uma cidade
“problemática, conflitiva, tensa [...]~, trazendo à luz apenas o lado idílico
de uma decantada civilização”, como destaca Francisca Deusa Sena da
Costa (1997:90).
O que não pode deixar e destacar é que durante esse momento, em
decorrência da economia gomífera encontra-se no seu período áureo,
Manaus passou não só a vivenciar a ampliação e remodelação de seu
espaço, mas também a receber inúmeros visitantes. Em virtude disso, o
Poder Público preocupou-se em fazer de tudo para saneá-la, embelezá-la
e modernizá-la, a fim de eliminar definitivamente a imagem de uma
grande aldeia.
O motivo levou a tal preocupação, ligou-se ao fato de que esses
visitantes, na grande maioria, ao desembarcarem na cidade, objetivarem
efetuar negócios ou estabelecerem-se definitivamente em Manaus para
desenvolver algum tipo de serviço, junto às atividades comercial,
industrial, educacional ou administrativa.
Por isso, Manaus não poderia mais continuar com a mesma estrutura,
pois começara a se tornar o pólo de atração de importação e exportação
da borracha, devendo portanto, apresentar-se de forma ordenada e limpa.
É interessante salientar que trazer o progresso e a modernidade para
Manaus, significou impor à cidade um novo modelo urbanístico, a fim de
redefinir suas feições, uma vez que os antigos prédios, ruas desniveladas
e demais aspectos existentes, não inspiravam simpatia aos visitantes que
nela chegavam.
Nessa época, segundo João Nogueira Mara (1988:20), a cidade
possuía como
edifícios públicos – a Fazenda, o Quartel da Guarnição a Enfermeira, e o Palácio do Governo. Seis fábricas entraram em funcionamento, olarias e padarias. As olarias abasteceram a cidade de tijolos, telhas e ladrilhos para as construções.
A política de embelezamento escolhida pelo Poder Público baseou-se
no modelo promovido pelo Barão Haussman, já que naquela época foi o
projeto urbanístico desenvolvido na cidade de Paris que passou a ser
sinônimo de progresso, beleza e modernidade, uma vez que tal reforma
foi Marshall Berman (1987:30),
universalmente aclamada como verdadeiro modelo de urbanização moderna, naquela época. Como tal, passou a ser reproduzida em cidades de crescimento emergente, em todas as partes do mundo.
Porém modificar apenas o aspecto físico da cidade não era suficiente.
Assim, estabeleceu-se rapidamente um mudança nos hábitos e costumes
da sociedade manauara, dando início, desta forma, ao processo de
aculturação da cultura local, uma vez que se buscou modificar,
significativamente, o modo de vida da época.
Figura 4: Processo de Transformação
Fonte: MESQUITA, Otoni Moreira de. História ... 1997.
Com a finalidade de comprovar tal fato, primeiramente, retratar-se-á
o aspecto social e, em seguida, o aspecto educacional que abrangeu à
sociedade manauara durante o período histórico referente à criação da
Sala de Leitura como núcleo da Biblioteca Pública do Amazonas.
Para se igualar à capital francesa, a sociedade manauara não hesitou
em eliminar seus hábitos e costumes antigos, pois queriam excluir todo e
qualquer vestígio que elencasse a cidade de Manaus como antigo Lugar da
Barra, por esta razão,
Manaus despiu-se de suas vestes indígenas, abandonou sua água de moringa para água de vichy, trocou perfumes de flores e raízes silvestres por sofisticados frasquinhos parisiense, desprezou seus aluás e o saboroso guaraná por bombons franceses e pelo shopp alemão (COSTA, 1996:21).
Ademais, por considerarem intermináveis os lucros da economia
gomífera, devido a borracha ser bastante procurada pelas fábricas da
Europa e dos Estados Unidos, os membros da sociedade manauara, para
satisfazer seus caprichos, sendo muito deles considerados fúteis, não se
importavam em gastar valores exorbitantes.
Com a abertura de bares, restaurantes, hotéis, teatros, cafés-
concerto, clubes noturnos, cabarés, jantares seguidos de saraus,
temporadas líricas no Teatro Amazonas, divertidas festas em homenagem
a alguma pessoa ilustre Manaus passou a dormir cada dia mais tarde.
Com as novas oportunidades de lazer, a sociedade manauara
aprendeu não só a se embriagar com os melhores e mais refinados
vinhos, licores e champanhes oriundos da Europa, mas também de gastar
sua fortuna com as prostitutas vindas de varias partes do mundo.
É valido salientar que em decorrência de Manaus passar a ser
conhecida como a cidade do prazer, influenciada pelo frenesi francês,
afirma-se que, diariamente, desembarcava na cidade um número grande
de mulheres se dizendo francesas, a fim de enriquecerem às custas do
capital da borracha.
A atitude não correspondia à realidade, pois a maior parte das
mulheres verdadeiramente francesas aos desembarcarem em Manaus,
não se dirigiam aos bordeis para ganharem dinheiro e sim, dedicavam-se
ao comércio de roupas, jóias e bijuterias, quando não eram fabricantes de
chapéus e costureiras habilíssimas (CORRÊA, 1966).
Diante dessa nova realidade, as boas mães de família optavam em
não mais aparecerem às janelas, freqüentarem à igreja ou dirigirem-se
aos teatros para não serem confundidas com as chamadas cocotes, bem
como passaram a temer pela saúde física e financeira de seus filhos e
maridos.
Todavia, o que não se pode esquecer é que ao mesmo tempo que
Manaus passou a oferecer inúmeras oportunidades de lazer, contribuindo
para que a vida dos membros da sociedade manauara se tornasse mais
animada e frenética, passou a ser muito cara, aumentando ainda mais o
número de pobres no perímetro urbano da cidade, conforme é
demonstrado na citação a seguir:
o chopp consumido em Manaus era de origem alemã e custava 15$000 réis e uma xícara de “mau café” no botequim do Teatro Amazonas custava 500 réis. Importavam também da Europa o queijo, a manteiga fresca, frutas, hortaliças e até mesmo peixes. Manaus importava tudo para o seu consumo, e todos os gêneros de primeira necessidade custavam o olho da cara, [...], os gêneros de outros ramos de comércio, modas armarinhos, roupas, [...], eram pouco mais caros do que em São Paulo (MESQUITA, 1997:184).
Com o intuito de dar mais sentido ao processo de europeização, os
membro da sociedade manauara passaram a transplantar a mesma
indumentária utilizada pelas pessoas que residiam no Velho Mundo,
apesar de sentirem na pele que tais trajes não eram apropriados ao clima
da região.
Figura 5: Processo de Europeização Fonte: http:// www.wimax360.com
Com base em Bittencourt (1969:70), comprova-se que a busca
de equiparar a indumentária manauara à francesa foi um fator realmente
levado a sério:
Embora [...], a temperatura media de Manaus fosse mais baixa uns 2,5ºC que a de agora, o calor às vezes era grande. Mas, não menor era a elegância da época – as mulheres espartilhadas e vestidas até os pés em pesadas sedas; os homens transpirando em seus fraques, croisé e casacas, muitas vezes talhados em Londres, cartola ou chapéu-côco, colete, peito engomado e colarinho alto sob a forte canícula ou nos animados bailes, tão
freqüentes nos palacetes particulares, em suntuoso estilo ‘fin-de-sciècle’.
Para o autor, durante o processo de europeização, os membros da
sociedade manauara, em virtude de passarem longas temporadas na
Europa, a fim de estudar, passear ou adquirir propriedades, ao
regressarem a Manaus, começaram a fazer uso das línguas francesa e
inglesa com muita naturalidade.
Entretanto, à medida que o tempo passava, a própria sociedade
manauara foi se conscientizando da impossibilidade de se manter com a
mesma elegância que o povo europeu, já que o clima quente e estável da
cidade assim não o permitia.
A partir disso, pouco a pouco a sociedade que se apresentava à
européia, começou a incrementar novos hábitos na forma de se vestir,
adotando para quase todas as ocasiões e atividades, uma indumentária
mais despojada e quase homogênea, com tecidos mais claros e leves,
sendo o branco a cor predominante. As mulheres deixaram de usar
chapéus, sendo raras as que continuaram a usar e quando usavam,
optavam pelos feitos de palha, acompanhados por um guarda-sol de cores
alegres.
A alimentação foi outra variável que, progressivamente, foi sendo
modificada, haja vista que começaram a adotar o estilo inglês, alguns
elementos nativos, como banana cozida, farinha de tapioca e outros.
Com isso, a própria sociedade manauara passou a absorver um modo
de vida ora valorizando os traços europeus, ora resgatando os modos de
origem nativa. Havia vestígio dessa absorção nas obras públicas e no
modo de vestir, não conseguindo seguir, portanto, adequar-se ao novo
estilo de vida.
Quanto ao processo educacional, na época em que a Sala de Leitura
foi criada, a Instrução Pública encontrava-se de forma precária e
insuficiente, não conseguindo satisfazer às necessidades da população.
Na época, Manaus possuía apenas sete escolas destinadas aos
ensinos profissionalizantes, fundamental e médio. Neste, destacava-se
apenas o Liceu Amazonense onde os alunos, obrigatoriamente, estudavam
o “Latim, Português, Francês, Inglês, Geometria,Contabilidade,
Escrituração Mercantil, Geografia, História, Filosofia, Retórica, Poética e
Pedagogia”(BRAGA, 1989:27).
Ainda com base no mesmo autor, no que diz respeito à estrutura
educacional, observa-se que
O Seminário São José, com 17 jovens matriculados, [ensinava] Primeiras Letras, Gramática Latina, Português, Historia Sagrada e do Brasil, Geografia, Aritmética, Catecismo e Música Vocal; O Asilo Nossa Senhora da Conceição, mantida pelo Vigararia, exclusivo para o sexo feminino [ministrava] Primeiras Letras, até Análise Gramatical, Música, Canto Religioso, Piano, Francês, Elementos de Geografia, de História Sagrada e do Brasil, Catecismo e Prendas Domésticas; e o Estabelecimento de Educando Artífices, com 106 rapazes matriculados, que ali aprendiam não só Primeiras Letras, mas também (sic), as Artes e os Ofícios de Música, Marcenaria, Encadernação, ou de Sapateiro, Pedreiro e Alfaiate” (BRAGA, 1989:29).
O que contribuiu para que a estrutura educacional ocorresse dessa
forma ligou-se à base desse sistema, haja vista que o ensino estabelecido
pelos jesuítas, correspondeu à sustentação da cultura transplantada da
Europa, estando, portanto, totalmente desvinculado da vida produtiva da
sociedade e do seu estágio de desenvolvimento.
Conseqüentemente, a instrução oferecida na cidade de Manaus,
enquanto elemento natural de ligação entre cultura e desenvolvimento, no
que se refere às práticas criativas e inovadoras, apresentava pouca
relevância, por não ser condizente com a realidade local.
Porém, tal fato, em decorrência de que os freqüentadores não só
dessas escolas, mas também das demais instituições profissionalizantes
pertenciam, à sociedade manauara, não trazia nenhum tipo de
preocupação, pois conseguia satisfazer as necessidades desse segmento
social.
De acordo com Raimundo Martins de Lima (1999:72), devido o
sistema educacional manauara ter sido transplantado da Europa, a escola
servia mais
à reprodução, a conservação e à transmissão de valores culturais obsoletos, bem como a limitar-se à ilustração das camadas sociais dominantes [...] do que à formação de hábitos novos em direção as posturas mais criativas e transformadoras.
Por essa razão, o processo de ensino, em virtude de ter sido baseado
na cultura transplantada da Europa acabou por produzir uma instrução
totalmente desvinculada da realidade regional, não conseguindo, portanto,
atingir qualitativamente sua missão, servindo apenas para compor a
ilusão de desenvolvimento.
Por cultura transplantada, entende-se como sendo o processo não só
de imposição, mas também de preservação do modelos culturais
importados, fazendo da ação escolar algo que se destinava apenas à
formação do espírito ilustrado.
Para comprovar tal fato, destaca-se Dias (1988:27) onde, ao se
referir à superação da ignorância e ao analfabetismo da sociedade
manauara descreve que o Poder Público
nesse sentido [...], [encarregou] a Diretoria Geral da Instrução Pública em 1898, de fazer um estudo obre a organização do ensino em países europeus, diga-se França e Portugal, a fim de que essas experiências estrangeiras pudessem ser aproveitadas no processo de reformulação da educação local.
A Instrução Pública estabelecida na cidade de Manaus, na época da
criação da Sala de Leitura anexa a Biblioteca Pública do Amazonas, não se
voltava para a população como um todo, prova disso é que dos 38.720
habitantes, Manaus apresentava 30.910 que não dominavam o ato de ler
e escrever, totalizando apenas 3% a porcentagem dita alfabetizada,
conforme demonstra o levantamento efetuado no ano de 1890 (DIAS,
1988). Para Otaíza de Oliveira Romanelli (1996:24), a educação
ao mesmo tempo que, [...], deu à camada dominante a oportunidade de se ilustrar, [...], se manteve insuficiente e precária, em todos os seus níveis, atingindo apenas uma minoria que nela procurava uma forma de conquistar ou manter ‘status’.
Com base no exposto, pode-se afirmar que, na verdade, o que se
estabeleceu no contexto amazônico foi uma cultura espúria, já que
correspondeu a uma “cultura de imitação sem criatividade, moldada nas
idéias e valores alheios, [...], não se adequando às condições brasileira”
(GOMES, 1983:80).
A Obscuridade do Fausto
Durante a mistificação da lenda da riqueza fácil, a cidade de Manaus
passou a receber, diariamente, um contingente de pessoas oriundas das
mais diferentes localidades, independente das suas condições física e
espiritual para o trabalho nos seringais.
Não demorou muito para a parte central da cidade ficar repleta de
casebres, pobres, doentes, mendigos e desocupados que, em decorrência
de não conseguirem trabalho, passaram a viver vagando pelas ruas,
ameaçando a imagem de harmonia e beleza que o Poder Público e a
sociedade manauara almejavam, haja vista que
os problemas a serem resolvidos como abastecimento, higiene, habitação, [ampliaram-se], pois no espaço urbano questões como roubo, vadiagem, prostituição, jogo, mendicância e doenças de toda ordem [contradiziam] a idealização de cidade ordenada em sem problemas (DIAS, 1988:63).
A transformação urbanística de Manaus, oriunda da economia
gomífera, ao mesmo tempo que proporcionou a redefinição das feições da
cidade, tornando-a mundialmente conhecida como capital da Borracha,
criou suas próprias contradições.
Destaca-se isso pois, para eliminar a imagem de atraso e anti-
progresso, segundo o projeto urbanístico apresentado pelo Poder Público,
fazia-se necessário destruir os aglomerado de casebres que proliferavam
na parte central da cidade. Partindo desse princípio, tal projeto
correspondeu a uma política de exclusão espacial dos trabalhadores e
pobres do perímetro urbano.
Com base em Costa (1997), por tal exclusão, entende-se como sendo
a construção de hospitais, casas de beneficências, asilo, hospícios e
penitenciárias para abrigar os doentes, mendigos e vadios, bem como o
deslocamento dos trabalhadores para os bairros mais afastados do
perímetro urbano.
O que não se pode esquecer é que, em decorrência do cemitério,
hospital, hospício e hospital colônia (destinado para leprosos) serem
considerados sinônimos de doença e mal-estar, o Poder Público resolveu
constituí-los em locais ainda mais afastados da cidade, acarretando sérios
danos à população, pois para que algum tipo de assistência chegasse às
referidas localidades, os voluntários necessitavam viajar cerca de quinze
dias de barco.
Como o interesse voltava-se apenas para o espaço central da cidade,
destinado ao comercio importador e exportador a população que passou a
viver nesses bairros, começou a enfrentar uma situação de miséria,
abandono, e esquecimento total não possuindo nenhum tipo de infra-
estrutura que garantisse um vida digna, já que
os novos bairros que [surgiram diferenciavam-se] do ‘fausto’ da cidade não só pelo aspecto do terreno pela forma de arruamento, fachada das casas, pela distância em relação ao Porto, à grandes casas comerciais (importadoras-exportadoras), ao Mercado, aos Hospitais, aos bancos, aos Teatros, Cinemas e etc, mas também pela distribuição desigual dos serviços urbanos (DIAS, 1988:70).
Destaca-se isso, pois nesses bairros não existia água potável, sistema
de iluminação, saneamento básico, coleta de lixo, calçamento, nem
mesmo mercado para a população obter seus alimentos, tornando-se
vitimas fáceis das epidemias da época, como a febre amarela e beribéri as
mais comuns. Ademais, as pontes de madeira que serviam de ligação para
os moradores, encontravam-se sempre em péssimo estado de
conservação, dificultando, sobremaneira, a comunicação extremamente
difícil com o centro da cidade, como destaca Dias (1988).
O Poder Público, com o intuito de não mais poluir as águas do Rio
Negro, designou que os resíduos recolhidos na parte central da cidade,
fossem jogados nos bairros distantes, piorando ainda mais a vida das
pessoas que lá residiam, pois ficavam sujeitos a varias e sérias doenças.
Para a parte da população que não se deslocou para os bairros
afastados, o Poder Público mandou erguer vilas operárias e cortiços
disfarçados por uma fachada em alvenaria, bem como hospedarias,
porões e casebres para poder abrigá-las (COSTA, 1997:91).
É interessante salientar que tais vilas e cortiços, mesmo
apresentando uma bela fachada, medindo 5m de altura, em um estilo
eclético, obedecendo assim, o padrão da época, na verdade,
correspondiam a uma grande farsa, pois sua parte interior, conforme
Annibal Amorim (1975:27) correspondia ao conjunto de
“salas insignificantes, alcovas que mal comportavam três pessoas, quartos
em puxadas, sem ventilação e capacidade para conter ar respirável em
quantidade suficiente [...]”.
Isso leva-nos a concluir que, na época, para o Poder Público, o que
interessava era única e exclusivamente equiparar a cidade de Manaus às
cidades cosmopolitas.
A estrutura faustosa desses abrigos escondia uma série de quartos
úmidos, construídos em madeira, sem renovação de ar, sem luz, água
encanada, cujos quartos, além de serem bastante pequenos, obrigando as
pessoas a dormirem amontoadas, davam para um mesmo corredor, onde
ao final deste, encontrava-se um único banheiro e uma única cozinha para
uso coletivo, não oferecendo assim, nenhuma condição de higiene para as
pessoas que ali residiam.
O que não se pode deixar de destacar é que os cortiços e vilas, por
mais bem disfarçados que se apresentassem, continuavam prejudicando
a imagem de uma cidade limpa, ordena e moderna.
Com a finalidade de deslocar a população carente definitivamente da
parte central da cidade, o Poder Público como estratégia, estabeleceu um
aumento do valor dos alugueis, porém mais uma vez houve resistência
por parte da população.
A estratégia seguinte, correspondeu à criação, no dia 1º de junho de
1872, pela lei n.º 247, do chamado Código de Posturas Municipais da
Cidade de Manaus, cuja função ligava-se à mudança dos hábitos e
costumes da população a partir de punições.
Através desse código, foi dado aos trabalhadores a possibilidade de
não permanecerem nos cortiços, vilas e porões podendo construir suas
próprias residências, desde que não fossem casas cobertas de palha, haja
vista que este tipo de material, além de ser considerado anti-estético,
carregava consigo a imagem da civilização nativa, como ressalta Costa
(1997).
Desta forma para as pessoas que não gostariam de permanecer nos
cortiços e vilas, para residirem no perímetro urbano, não poderiam
fazer escavações ou tirar pedras em todo o litoral da cidade [...]. Em relação ao espaço urbano, [destacavam-se] os seguintes itens: ficavam sujeitos a multa de 5 mil-réis os donos de carros ou carroças que chiarem pelas ruas ou praças da cidade; não era permitido [...], assoalhar-se as roupas às janelas, ruas e praças, armar cordas para estenderem nos mesmos lugares, bem como lavá-las nos igarapés que cortam esta cidade [...]; não era permitido retirar água de igarapé do Aterro para vendê-la à população (MESQUITA, 1997:44).
Quanto à questão da saúde pública, André Vidal de Araújo (1974),
destaca que entre os anos de 1895 a 1914, a cidade de Manaus
presenciou 1.921 casos de febre amarela, tendo 102 mortos; 232 casos
de varíola, com 151 mortos; 102 casos de sarampo; 1950 casos fatais de
beribéri, bem como a lepra, tuberculose e sífilis passaram a ser
concebidas como doenças sociais.
Um outro fator que começou a preocupar o Poder Público, foi a
desordem pública. Em decorrência do aumento populacional, os problemas
relacionados à mendicância, vadiagem, prostituição e embriaguez,
também aumentavam, havendo a necessidade, portanto, de se
estabelecer a ordem e a segurança de outra forma,pois uma noite de
cadeia não conseguia mais resolver os problemas sociais, pois ao saírem
da prisão
[...] o vadio voltaria a praticar a vadiagem, o mendigo a mendicância, os bêbados a freqüentar as tavernas e botequins. [Com isso,] a prisão correcional seria a solução, onde o contraventor tivesse uma educação disciplinar orientada no sentido de sua recuperação moral, [funcionando] como um mecanismo de transformação dos indivíduos (DIAS, 1988:80)
Paralelo à prisão correcional, através do Decreto n.º 1, de 23 de
fevereiro de 1892, o Poder Público passou a contar com o chamado
Agente de Segurança, cuja função ligava-se à manutenção da ordem e
tranqüilidade pública, para resgatar a população da ação dos bêbados,
mendigos, doentes, vadios e prostitutas que ameaçavam a paz das
famílias pertencentes à sociedade manauara.
É valido salientar que, assim como criaram a prisão correcional, o
Poder Público para solucionar o problema junto à presença de menores
nas ruas de Manaus, criou a Escola Correcional para abrigar menores que
passavam o dia nas ruas e praças da cidade, uma vez que suas famílias
não tomavam nenhuma atitude para coibirem suas presenças nas ruas da
cidade.
No que se refere às oportunidades de lazer, pode-se ressaltar o
seguinte fato: enquanto que para a sociedade manauara a cidade oferecia
inúmeras oportunidades glamourosas de divertimento, para a população
carente, ressaltava-se apenas as participações em touradas, carrosséis,
arraiais, cabarés de última categoria, circos, espetáculos teatrais nos
Teatros Julieta e Alhambra ou em hotéis pardieiros, foguetes juninos,
banhos em igarapés, passeios de bondes aos domingos, rinhas, cinemas e
futebol.
É notório no processo transformador proposto por Eduardo Ribeiro e
seus sucessores as prioridades apenas para a parte central da cidade, no
momento em que esta passou a atender não aos interesses e
necessidades da sociedade manauara, mas também a ser considerada
como centro exportador da goma elástica, lugar de realização dos grandes
negócios referentes às atividades exportadoras e importadoras. A outra
parte, desprestigiada pala política, foi banida dos planos de humanização
do Poder.
Isso implica afirmar que, o projeto urbanístico de estabelecido em
Manaus, por mais que se considerassem boas as suas intenções, na
verdade não deixou de ser uma maquilagem da realidade, um artifício
para camuflar a pobreza, fruto do descaso.
Inclusive a Sala de Leitura anexa a Biblioteca Pública do Amazonas foi
resultante, não da preocupação com o desenvolvimento da população em
si, mas para satisfazer os caprichos da sociedade manauara, cuja
estrutura tinha como base o modo de vida europeu, conforme veremos no
capítulo seguinte.
CCCCapítulo 2apítulo 2apítulo 2apítulo 2 Uma Sala de Leitura em ManaósUma Sala de Leitura em ManaósUma Sala de Leitura em ManaósUma Sala de Leitura em Manaós
ara que o resgate histórico referente à trajetória da sala de
leitura como núcleo da Biblioteca Pública na cidade de Manaus
ocorra de forma qualitativa, fez-se necessário, primeiramente,
considerá-la dentro do contexto geral, fundamentando-se na criação das
primeiras bibliotecas verdadeiramente públicas.
Desta forma, poder-se-á constatar se a biblioteca construída na
cidade de Manaus, deu-se para assumir a sua função pública ou, para
satisfazer a elite intelectual manauara, ou, simplesmente, para construir a
ilusão de uma Província intelectualmente desenvolvida, tendo como
modelo o padrão de modernidade oriundo da Europa que estabelecia a
criação de uma Biblioteca Pública.
A preocupação em traçar a trajetória das primeiras bibliotecas
públicas deu-se, devido ao fato de que, antes do surgimento das primeiras
bibliotecas verdadeiramente públicas, ou seja, resultantes da reivindicação
do povo, tem-se o aparecimento das bibliotecas que passaram a ser
usadas pelo público, porém, devido terem sido criadas como bibliotecas
particulares, não poderiam ser consideradas como públicas, haja vista que
não foram criadas para esse fim, conforme veremos a seguir.
O Livro dos Gêneses
No início, não se fazia distinção entre arquivo e biblioteca, cabia a
uma única instituição desempenhar ambas as funções. Entretanto, à
PPPP
medida que os anos passavam, sentiu-se a necessidade de separar os dois
segmentos.
A partir dessa separação, o arquivo passou a ficar responsável pela
reunião e conservação dos documentos não elaborados, ou seja, os que se
voltavam para a realidade da época, enquanto que a biblioteca passou a
conservar os documentos elaborados, isto é, os produtos intelectuais e
espirituais das gerações diversas.
Quanto à história da biblioteca de caráter público, é interessante
salientar que, inicialmente, estas foram criadas a partir da iniciativa de
particulares e não da reivindicação do público em geral, como deveria.
Isso implica afirmar que, em decorrência de tal fato, essas
bibliotecas apresentaram um caráter, eminentemente, particular que,
devido terem sido estruturadas a partir de necessidades especificas, não
atenderiam as necessidades do público em geral, não estando, portanto,
disponíveis a todos os cidadão, como pregava o discurso.
Durante a Antiguidade, o caráter elitista encontrava-se de forma
camuflada, embora defendendo o uso das bibliotecas por todos, sabia-se
que eram poucas as pessoas que dominavam a prática da leitura.
Figura 6: Ruínas da Biblioteca de Efésos – Antiguidade Fonte: http://1.bp.blogspot.com/_Oa2uhFlFr08/SZ9VixisepI/AAAAAAAAA-4/LTF0S278EaI/s400/ruinas+de+efeso.bmp
Na Idade Média, surgiram as bibliotecas dos mosteiros, cujo
funcionamento seguiu o mesmo exemplo das bibliotecas existentes
durante a época clássica, entretanto, com uma nítida diferença: assumiam
claramente o papel de um organismo privado. Ademais, durante esse
período, além das obras ficarem restritas aos monges, as principais
bibliotecas foram transformadas em verdadeiros labirintos, para que o
acesso ao público fosse dificultado.
A comprovação disso, liga-se não só à sua localização – em claustros,
sacristias, perto de jardins e sempre com suas portas fechadas –, mas
também nas regras de utilização – na prestavam atendimento às crianças,
aos escravos, aos iletrados, bem como os que recebiam a permissão para
adentrar, só o faziam diante da presença de uma pessoa que havia sido
treinada para dificultar-lhe o acesso ao acervo.
Como o advento da Idade Moderna, as bibliotecas passaram por
modificações tanto na sua estrutura, quanto na sua natureza, pois através
da invenção da imprensa, os documentos deixaram de ser produzidos sob
o processo caligráfico – volume por volume – para serem produzidos em
serie.
Conseqüentemente, o volume de documentos cresceu de forma
vertiginosa, contribuindo para que se chegasse ao homem comum a
oportunidade de obter uma formação intelectual, através das coleções de
livro.
O acervo bibliográfico cresceu expressivamente, forjando uma
adaptação condizente com a nova realidade, lembra-nos Alfredo Serral
(1975:148)
os sistemas medievais de conservação dos livros em armários, arcas, estantes de tampo inclinado, não são mais compatíveis com o número de livros impressos. [mediante tal foto], adotam-se prateleiras encostadas ou embutidas nas paredes e, com o passar do tempo à uma parte inferior acrescenta-se outra (a galeria) à qual se atinge por meio de rampas ou escadas.
É interessante salientar que, com as máquinas, embora tenha sido
considerável a explosão informacional, o acesso às fontes bibliográficas
continuava privilegiando poucos.
A solução veio através de dois acontecimentos: o primeiro liga-se à
abertura das bibliotecas particulares ao público, em meados do século XV,
por iniciativa de seus próprios proprietários, nas cidades de Munique,
Genebra, e Königsberg.
O segundo destaca-se a atitude dos livreiros que, com o intuito de
polarizar o uso das suas livrarias, resolveram criar as chamadas “Salas de
Leitura”, ou “Gabinetes de Leitura”, em 1761, dando oportunidade ao
público viajar pelo mundo dos sonhos, do prazer e, sobretudo, da cultura,
em troca de uma pequena mensalidade.
Porém, a primeira biblioteca como concebemos hoje, ou seja,
resultante da reivindicação do povo, historicamente falando, surgiu a
partir não só do processo obtido a partir da invenção da imprensa – que
trouxe a profanação dos textos impressos –, mas também do
desenvolvimento das indústrias que gerou a Revolução industrial –, do
suporte dado pela Revolução Liberal, da Revolução Francesa e, também,
do processo de urbanização entre os séculos XVIII e XIX.
Cita-se a imprensa, pois através dela, observou-se que “de repente,
pela primeira vez desde a invenção da escrita, era possível produzir
material de leitura rapidamente e em grandes quantidades...”, conforme
salienta Alberto Maguel (1999: 159). Tal fato contribuiu para a
popularização dos documentos que antes eram restritos à minoria
economicamente privilegiada.
Com a Revolução Industrial, destaca-se a necessidade de qualificar a
mão-de-obra disponível, a fim de possibilitar o manuseio das máquinas,
mas para isso, fazia-se necessário o domínio junto à prática da leitura.
Desta forma, durante essa Revolução, ser alfabetizado passou a ser
uma exigência, pois através do ensino formal, os funcionários
conseguiriam não só dominar e conservar as máquinas, mas também
atingirem, naturalmente, a ascensão social, como relata José Teixeiira
Oliveira (1993).
Por esta razão, madalena Sofia Mitoko Wada (1985:16), afirma que
“[...] a biblioteca pública surgiu como meio de aperfeiçoamento dos
trabalhadores que já estavam fora do ensino formal” portanto, o livro, ao
mesmo tempo que passou a ser obtido de forma mais fácil, fez com que
mais pessoas aprendessem tanto a ler, quanto a desenvolver a prática da
leitura.
Segundo Roger Chartier (1996), em decorrência do fato de que,
antes do século XVIII, o número de indivíduos que tinha acesso à
educação apresentava-se de forma bastante reduzida, o processo
referente ao ato de ler era obtido através da leitura “selvagem”. Por este
tipo de leitura, o autor entende como sendo aquela praticada de forma
ingênua, não-domesticada e pré-reflexiva.
Durante esse período, para a população camponesa ou a pertencente
às classes mais baixas, esse tipo de leitura correspondia a única forma de
acesso ao conhecimento. Com base em Guglielmo Cavallo e Roger
Chartier (1999:141), observa-se que
[...] com uma carga semanal da trabalho de seis dias, do nascer até o pôr-do-sol, não havia tempo nem motivação para que se lesse mais, [...]. Uma competência de leitura rudimentar limitava-se a tabelas de sangria, regras do clima e do plantio e livros de orações, que se difundiam nas feiras e com propaganda barata, assim como os livrinhos populares religiosos e mundanos.
O que não se pode deixar de destacar é que, na visão desses autores,
a prática oriunda a partir da leitura em voz alta encontra-se associada ao
analfabetismo coletivo, pois esse processo apesar de resultar na chamada
literalização, não proporcionava o estado de alfabetização.
Porém após o século XVIII, o acesso à informação sofreu modificação
– deixou de ser algo sagrado, passando a ser instrumento de trabalho –, o
que viabilizaria a prática de leitura àqueles menos privilegiados.
Isso implica afirmar que com a popularização do documentos, a partir
da exigência liberal em trazer igualdade e liberdade a todos os cidadãos,
houve um relativo aumento do número de leitores.
Faz-se necessário salientar que, dentre esses leitores, tanto os
públicos femininos, juvenil e infantil passaram a ter permissão para iniciar
ou ampliar o universo da leitura, como prestadores de serviço, sobretudo,
entre os lacaios, governantas, cabeleireiras, criadas de quarto,
comerciantes e artesãos.
Uma vez ampliado o número de leitores, a abertura de algumas
associações literárias e livrarias, somada à abertura de bibliotecas
particulares para o uso público foi algo incontestável. Logo, a prática de
leitura deixou de ser um monopólio apenas dos que administravam,
julgavam ou dirigiam as cidades (CHARTIER, 1996).
Novas práticas de leitura foram ampliadas durante esse período.
Enquanto que a preocupação da população, no início do século, ligava-se
mais ao seu modo de vida, principalmente, trabalho, porém, ao final
deste, a leitura de entretenimento, sobretudo, romance passou a ser o
tipo mais preferido.
Todavia, o alto preço dos livros tornou-se um obstáculo junto à
prática de leitura. Desta forma, as bibliotecas tornaram-se um lugar certo
para freqüência e uso, pois garantiriam a democratização do saber,
conforme afirma Maria Cecília Diniz Nogueira (1986).
A Revolução Liberal, contribuiu para a formação da biblioteca pública,
pois a partir da exigência liberal, a educação e o conhecimento passaram
a ser entendidos como uma questão que deveria ser igualitária a todos os
cidadãos, determinando, assim, a intistucionalização, extensão e
profundização do aparato escolar.
Na época, essa contribuição fortaleceu as manifestações de
resistência ao regime, já que passaram a lutar pela universalização da
educação antes restrita a poucos e, partindo desse princípio, a biblioteca
pública foi colocada como sendo um instrumento assegurador da
educação.
Com base em Nogueira (1983), a origem da biblioteca pública,
datando de 1850, deu-se na Inglaterra, no bojo das Revoluções Industrial
e Liberal. O Estado apresentava as condições econômicas, políticas e
culturais já amadurecidas para o estabelecimento de uma biblioteca
aberta a todo e qualquer individuo. Com os movimentos revolucionários se
fortaleceu a necessidade e criação de tal espaço cultural.
Porém, não se pode deixar de destacar a Revolução Francesa como
sendo, também, responsável pela criação dessa biblioteca, abrindo espaço
para institucionalizar-se a Instituição Elementar como fator obrigatório e
gratuito, abrindo esse direito a cada cidadão, uma conquista que se
respaldava no lema de Igualdade, Fraternidade e Liberdade (SERRAI,
1975), mas também pelo seguinte fato: Durante o período histórico que
se desenrolou essa Revolução, as bibliotecas particulares passaram a ser
concebidas como “inimigas da República”, tornado-se assim, um dos alvos
automáticos da referida Revolução.
Assim, os livros pertencentes à tais bibliotecas foram todos
confiscados e transferidos para os depósitos – bibliotecas que se
localizavam sobretudo em Paris, Lyon e Dijon –, a fim de aguardarem seu
destino. Nesse tempo, em vez de serem visitados por pessoas, passaram
a receber apenas ataque de umidade, da poeira, de insetos e de outras
pragas.
Posteriormente, o Estado resolveu dividir o acervo confiscado em
duas partes, sendo que uma foi distribuída ao exterior, enquanto que a
outra deveria ser colocada à venda. Todavia, em decorrência dos
bibliófilos franceses não possuírem o recurso financeiro exigido para a
aquisição dos documentos ofertados, foram os ingleses e alemães que os
compraram, beneficiando-se sobremaneira, com tal situação.
Quanto aos documentos que não se conseguiu nem vender, nem
distribuir, foram encaminhados às bibliotecas públicas para que ficassem à
disposição de todos os cidadãos.
Com base em Simone Balayé6, citada por Manguel (1999:272),
observa-se que
6 BALAYÉ, Simone. La bibliothèque nacionale des origines à 1800. Genebra: [s.n.], 1988.
Durante a primeira metade do século XIX, as horas de acesso a essas bibliothèques publiques eram restritas, havia exigências quanto a maneira de trajar de seus freqüentadores – e os livros preciosos novamente acumularam poeira nas estantes, esquecidos e fechados.
O que justifica a não utilização desses acervos pelo público, liga-se ao
fato de que estas bibliotecas foram resultantes da imposição do Estado em
reunir os livros que antes pertenciam às bibliotecas particulares,
refletindo, desta forma, as necessidades de seus antigos donos, não
estando, portanto, condizentes com a realidade e expectativa do público,
tornando-se, assim, um elemento estranho aos cidadãos e, como tal,
passaram a ser rejeitadas, uma vez que não faziam parte da comunidade.
Por esta razão, somente as bibliotecas que surgiram na segunda
metade do século XIX, nos paises anglo-saxônicos, poderiam ser
consideradas como sendo as primeiras bibliotecas verdadeiramente
públicas, uma vez que foram criadas a partir das reivindicações do povo,
ou seja, em conformidade com suas necessidades, cujas atividades
voltavam-se para a comunidade em geral.
Isso implica afirmar que essas bibliotecas se voltaram não só ao
usuário real – grupo social que, efetivamente, faz uso da biblioteca – e
potencial – grupo social que poderá vir a se tornar em efetivo –, mas
também ao não-usuário7 – grupo social que jamais se tornará efetivo,
nem mesmo potencial –, conforme expõe Victor Flusser (1980).
7 Entendido como sendo o grupo de cidadãos marginalizados, ou seja, o público infantil, analfabeto, recluso, livre, hospitalizado, deficiente, físico e visual, etc.
É importante frisar que as bibliotecas públicas para que atinjam
verdadeiramente o caráter público, deveriam romper o isolamento do não-
usuário, cuja cultura corresponde à cultura do silêncio, sem o direito de se
expressar ou expressar o mundo, criar ou recriar algo livremente.
Entretanto, para que tal isolamento fosse rompido, essas bibliotecas
necessitariam desenvolver, de forma qualitativa, algumas funções básicas,
sendo que estas se caracterizariam, de fato, como públicas, passando
assim, a serem um instrumento libertador, como salienta Waldomiro de
Castro Santos Vergueiro (1990).
Isso implica afirmar que uma biblioteca para tornar-se
verdadeiramente pública, faz-se necessário assumir as seguintes funções:
educativa, cultural, recreativa e informacional.
Antes de descrever essa categorização, é interessante salientar que,
na prática, as funções acima destacadas encontram-se inter-relacionadas,
não sendo possível trabalha-las isoladamente.
Porém como nossa interação liga-se à exposição dessas funções de
forma didática, visou-se apresentá-las separadamente para que o
processo de compreensão ocorra com maior qualidade.
Como afirma Susana P. M. Muller (1984) a função educacional não
deve ser entendida como sendo a mesma a escola ou da educação de
massa, pois a biblioteca deve visar ao benéfico da sociedade através da
prática de leitura, sem outras pretensões, ou seja, apenas utilizar o uso
dos livros.
No entanto, pela evolução histórica dos papeis e objetivos atribuídos
às bibliotecas, observa-se que, sobretudo ao final do século XIX, a missão
básica da biblioteca era a educação. Daí a razão de afirmar que a origem
da biblioteca de caráter público correspondeu, eminentemente, à função
educacional, haja vista que esse tipo de biblioteca nasceu a partir das
reivindicações da população em obter um maior acesso à educação
(NOGUEIRA, 1986).
De acordo com Walkíria Toledo de Araújo (1985), a biblioteca pública,
desde seus primórdios até os dias atuais, constitui-se em uma instituição
educativa por excelência. Todavia, não deve oferecer seus serviços apenas
aos usuários real e potencial, nem voltar-se unicamente a educação
formal – entendida como sendo a pesquisa escolar, já que lhe é inerente o
papel de educar os indivíduos nem processo permanente, estando
relacionada com a aprendizagem sistemática, adquirida através de meios
de comunicação de massa e de órgãos socioculturais.
Partindo desse pressuposto, pode-se frisar que a função educativa
desenvolvida pela biblioteca pública deve ser entendida como sendo as
atividades que servirão, exclusivamente, como complemento, suporte e
apoio à educação formal, sem, contudo, deixar de atender à educação
não-formal e a informal8.
8 Para Ana Maria Cardoso de Andrade (1979), a educação não-formal é vista como sendo aquela desenvolvida em entidades ou instituições, com métodos tradicionais, com métodos tradicionais de aula, por está desvinculada do sistema regular, voltando-se para a educação de adulto, treinamento profissional e outros, enquanto que a educação informal passa a ser sinônimo de educação contínua, porém, sem vinculo a nenhuma instituição sob a forma de cursos de formação esporádica.
Isso implica salientar que a biblioteca pública deve se preocupar não
só com os estudantes, visto que, atualmente, 90% dos usuários
freqüentadores da biblioteca são constituídos por alunos, sobretudo dos
níveis fundamental e médio, como destaca Oswaldo Francisco de Almeida
Júnior (1997), mas também com os usuários potencial e, sobretudo, os
não-usuários, pois a democratização do saber deve ser a meta da
biblioteca que se diz de uso público.
Para isso, necessita-se modificar os objetos da biblioteca, alterando-
se sua postura, suas atitudes e atividades para abranger a comunidade
em geral, isto é, o público alfabetizado, o neo-alfabetizado e o não-
alfabetizado, pois desta forma, a prática da leitura deixará de ser um
privilegio apenas da classe social economicamente favorecida, dando ao
público marginalizado a oportunidade de obter informação que outrora era
negada.
Contudo, lamentavelmente, até hoje, os próprios bibliotecários,
desconhecendo a extensão dessa função, permanecem excluindo a classe
marginalizada da população, quando suas práticas voltam-se apenas para
a parcela da população que sabe fazer uso da biblioteca.
É interessante ressaltar que a formação do bibliotecário também e
contextualiza nesse jogo político, pois durante seus cursos de graduação
foram preparados para servirem como agentes de informação técnico-
científica apenas para pesquisadores, especialistas, professores, alunos e
administradores (MARTINS, 1982; LIMA, 1982).
A parte cultural é denominada a segunda função básica da biblioteca
pública. Essa função deve ser entendida como sendo todo e qualquer tipo
de manifestação artística oferecida à comunidade, dando segundo Ana
Maria Cardoso de Andrade e Maria Helena de Andrade Magalhães
(1979:55), aos indivíduos a oportunidade
de contato, participação, apreciação das artes, proporcionando ambiente agradável, estimulando e agindo, tanto quanto possível, como contra-peso à cultura comercialmente orientada de nossos dias.
Isso implica destacar que a biblioteca deveria oferecer desde uma
programação de música clássica, ópera, ballet, até algumas seções de
cinema, vídeo e TV, abrangendo, também, um acervo de literatura em
nível variado, palestras, debates, exposições, conferencias, concertos,
cursos e tudo o que for em prol da proclamação da cultura.
Entretanto, a função cultural da biblioteca pública não tem por
finalidade ocupar espaço de museus, galerias de arte, ou instituições
afins, nem mesmo servir como influenciador de opiniões, pelo contrário,
visa conceber a cultura como algo que leva apenas ao refinamento,
deixando de lado a incultura, a ignorância e a rudeza da população.
A função recreativa ou de lazer, embora tenha sido criada na mesma
época que o processo cultural, é vista como sendo a que mais vem
perdendo espaço pelos meios de comunicação, uma vez que a mídia
relega o hábito de leitura para o segundo plano.
Com o intuito de promover o gosto pela boa leitura, a leitura
recreativa ou como forma de entretenimento, visa ainda atender a uma
importante necessidade social, que é o relaxamento das tensões sociais,
propiciando o equilíbrio psíquico.
Através de uma leitura descompromissada e de livre escolha que
proporcione ao público que a procura recreação e prazer, possibilitará a
quebra da rotina de todos que se encontram absorvidos pelas pressões
exercidas pela vida moderna, como destacam Andrade e Magalhães
(1979).
Isso não implica afirmar que essa função colocará a biblioteca num
estado de desordem, pelo contrário, através da aparente leitura
descompromissada, ela poderá tornar-se indispensável para a comunidade
que irá freqüentá-la apenas para a obtenção de uma leitura que desperte
a imaginação, a ficção, a criatividade ou, simplesmente, prazer estético,
como uma forma de evasão das conturbações. Através dessa
operacionalização, esse mesmo público solicitava apenas uma leitura
descompromissada, começará a se interessar pelos demais gêneros
literários existentes no acervo da biblioteca, podendo tornar-se um
usuário real.
O grande entrave para que isso não aconteça, será o processo de
seleção do material colocado à disposição da comunidade pois
[...] não se pode pretender que as pessoas acostumadas a outras formas de entretenimento se transformem repentinamente em leitores e muito menos que se possa dirigir o sue gosto literário” (Andrade e Magalhães 1979:57)
Por esta razão, inicialmente, os bibliotecários deverão oferecer
atividades que atraiam a população marginalizada para a biblioteca, a fim
de reverter a imagem de templo que esta traz consigo, rompendo,
portanto, a distancia entre a comunidade e a biblioteca, fazendo desta
algo relevante junto não só ao processo educacional, mas também ao
entretenimento.
Nesse objetivo, o público infantil não pode ser esquecido, pois a
biblioteca deve ser entendida como sendo uma instituição complementar
às tentativas da família e da escola, para isso, deve contar com um local
sortido de livros, jogos, brinquedos e gibis apropriados para cada faixa
etária, TV e vídeo, palco para representações, a fim de despertar o
raciocínio, coordenação motora e, sobretudo, o gosto pela leitura.
Por fim, destaca-se a função informacional, cuja origem deu-se a
partir da Segunda Guerra Mundial, mais precisamente, após os anos 50.
Inicialmente, essa função foi implantada nos Centros Referenciais dos
Estados Unidos sendo logo em seguida, difundida na Inglaterra.
Para se manter como uma instituição relevante à comunidade, a
biblioteca percebeu que deveria fornecer a informação de forma cada vez
mais confiável, rápida e, principalmente, com qualidade.
É valido ressaltar que a função informacional da biblioteca foi
resultante de duas finalidades. Primeiro, encontrar um meio de se manter
importante, necessária e indispensável à comunidade; e segundo, pelas
razões de subsistência ameaçada, em decorrência da falta de verbas.
Com o propósito dessa função, caberia à biblioteca, oferecer ao
público em geral, informação, tornando-se, portanto, de vital importância
para a comunidade, mesmo que tal solicitação fosse uma informação do
cotidiano, conhecida com utilitária.
Por esse tipo de informação, Oswaldo Francisco de Almeida Júnior
(1997:56), entende-se como sendo aquela que não se encontra apenas no
suporte tradicional, sobretudo no livro, pois
A ênfase portanto, do trabalho do bibliotecário deve estar voltada para a disseminação das informações e não para promover, exclusivamente, o acesso dos usuários ao suporte dessas informações.
Desenvolver essa função implica na prestação de serviço para a
comunidade de forma imediata, facilitando o acesso as informações de
diversas naturezas, como: endereços de pessoas ou instituições, indicação
de emprego, pontos turísticos, preços de hotéis, etc (NOGUEIRA, 1983;
VERGUEIRO, 1988).
Todavia, a realidade das bibliotecas públicas brasileiras, continuam
apresentando um caráter elitista, uma vez que conservam o bem público
biblioteca apenas à pequena parcela que pode e sabe utilizá-la, fecham
suas portas a quem realmente precisa delas, isto é, o não-usuário.
É evidente a contradição de sua prática, pois defende o caráter
público, no entanto, negligencia sua função pública quando não se volta
para a comunidade em geral – que não se identifica com o ato de ler –,
não sendo reconhecida, portanto, pelos cidadãos que a cercam,
contradizendo-se nos papeis a serem desempenhados , uma vez que ela
se reserva ao direito de cumprir suas funções de forma a não responder
aos interesses da população em geral, não acompanhando, assim, as
transformações sociais.
Cabe à biblioteca transformar cidadãos críticos, a partir do
cumprimento das quatro funções básicas – educacional, cultural,
recreativa e informacional –, pois dessa forma passará a desempenhar
verdadeiramente seu papel público, colocando-se como um espaço para a
contestação e desnudamento dos interesses ideológicos, local adequado
para fortalecer dinamicamente as transformações sociais, sendo capaz de
contribuir para as alterações no âmbito das sociedades que, através do
conhecimento, desvelam o mundo e buscam a qualidade de vida para
todos.
O que, sem dúvida, justifica a negligência dessas bibliotecas, liga-se
à concepção errônea arraigada na sua criação, uma vez que são frutos
não da reivindicação da população em si, mas da elite intelectual da
época, devido ser apenas essa classe que mantinha um certo domínios
junto à prática da leitura.
Por esta razão, para Zita Catarina Prates Oliveira (1994:26)
[...] as bibliotecas públicas brasileiras constituíam um universo fragmentado e sem coordenação, atendendo a uma parcela reduzida da população e prestando um serviço de informação de limitada utilidade.
O que justifica tal fato, liga-se à criação dessas bibliotecas já que
foram originadas pela iniciativa dos jesuítas, conhecidas como
conventuais, através do padre Manoel da Nóbrega, em 1549.
A primeira biblioteca brasileira foi instalada em uma sala da Igreja da
Ajuda, que ficava ao lado do Colégio dos jesuítas, em Salvador, com o
nome de livraria.
Como finalidade, essa biblioteca, cujo acervo fora construído em nível
universitário, destinava-se à formação dos alunos e aperfeiçoamento dos
mestres, não se voltando, portanto, para a comunidade em geral.
Ademais, ao final do século XVIII, os magistrados, professores e
administradores brasileiros que se formaram em Coimbra, ao regressarem
ao Brasil, querendo manter o mesmo estilo de vida vivido na Europa,
deram início, segundo Mitsi Westphal Taulor (1986:17-8),
à formação das sociedades literárias, acadêmicas, gabinetes de leituras e liceus. As bibliotecas de tais entidades retratavam a formação humanística de seus idealizadores e mantenedores e, [...] no século XVIII, [...]. As bibliotecas do Brasil colônia como se pode perceber se destinavam a ilustração dos (sic) elite cultural, representada inicialmente pelos religiosos, aos quais vieram a se juntar os bacharéis.
Durante o período de 1549 a 1759, os jesuítas detiveram o
monopólio da educação, e mesmo opôs a reforma pombalina que os
expulsou, os alicerces por eles lançados não chegaram a se anular, já que
sua influência marcou enormemente o estilo e a trajetória do sistema
educacional brasileiro.
Tendo a catequese como sendo a finalidade especifica, tais
bibliotecas, apesar de serem consideradas públicas, mantinham o caráter
elitista. Por esta razão, seus acervos serviam apenas para reproduzir a
ideologia dos colonizadores.
Um fato que comprova isso corresponde ao número de alfabetizados
existentes na época, já que segundo Lívia Marques Carvalho (1991) a
maior parte da população, não mantinha a tradição escrita tornando o ato
de ler uma variável existente apenas no cotidiano apenas da classe
economicamente privilegiada.
Porém, faz-se necessário destacar que, durante esse período
histórico, a grande parte da população não dominava o código da escrita,
decido a cultura vigente ser baseada na tradição oral, não sendo,
portanto, a escrita algo relevante à população de um modo geral, sendo,
portanto, incorreto afirmar que a maior parte das pessoas era analfabeta.
Com a chegada da Família Real a face da colônia sofreu uma relativa
transformação. Dentre esta, tem-se a instalação da primeira imprensa e a
transferência da Biblioteca Real de Lisboa9 para o Rio de Janeiro, com
cerca de 5000 volumes, em 1825, sendo esta
Instalada no Hospital da Ordem Terceira do Carmo, foi inaugurada em 13 de maio de 1811. teve sua consulta limitada apenas aos estudiosos até 1814, sendo a partir dessa data franqueada ao público (TAYLOR, 1986:18-9).
Todavia, é valido ressaltar que, apesar de ter sido esta a primeira
biblioteca que permitiu acesso livre de eu acervo ao público, não é
considerada a primeira biblioteca pública brasileira, pois não foi criada
para este fim.
9 Atual Biblioteca Nacional
Figura 7: Biblioteca Nacional – Rio de Janeiro Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/ f/f3/Biblioteca_Nacional_aerea.JPG
Por iniciativa de Pedro Gomes Ferrão Castelo Branco foi criada a
primeira biblioteca pública brasileira na Bahia, inaugurada nio dia 04 de
agosto de 1811, com o intuito de remover o primeiro e maior obstáculo
que se oferece a instituição pública: escassez de livros e falta de noticias
do Estado das artes e ciências da Europa.
Na intenção de acelerar a formação do acervo dessa biblioteca, os
sócios foram convidados a doarem ou emprestarem suas coleções
particulares, uma iniciativa do próprio Castelo Branco onde, na
oportunidade da fundação da referida biblioteca, doou todos os seus
livros, acrescido da quantia de 50$000 réis.
Pela origem das doações do acervo, vinda de particulares ou
adquiridos segundo o parecer de seus fundadores, neste predominou as
obras de autoria de filósofos ilustrados, iluminado as áreas do direito, filosofia, política e legislação; textos modernos de química, física e mineralogia, botânica e medicina; obras de
autores célebres em matemática e astronomia; uma coleção de referencia que impressionava pela quantidade diversificada e quantidade de dicionários bilíngües e especializados, [...], as obras mais representativa da literatura latina e francesa clássica e uma admirável coleção da periódicos científicos, onde figurava o que havia de melhor na França e Inglaterra (TAYLOR, 1986:19-20).
Por essa atitude, observa-se que o acervo formado continuava não se
enquadrando na necessidade da comunidade em geral, por uma simples
razão: as obras de referencia até os demais volumes encontravam-se, ou
sob a forma bilíngüe, ou especializada, comprovando que as pessoas que
dele faziam uso correspondia a um público que, no mínimo, dominavam
um outro idioma e uma atividade específica.
O que não se pode esquecer, também, é que, na época, a criação da
biblioteca pública encontrava-se associada ao termo de cultura erudita.
Disfarçadamente, acidade que erguia uma biblioteca de caráter público,
elevava-se ao mesmo patamar de intelectualidade, sobretudo, das cidades
européias.
Por essa razão, as bibliotecas públicas no Brasil não surgiram para
desempenhar verdadeiramente suas funções, já que não foram
estruturadas a partir da reivindicação da população, como deveria ser, e
sim para elevar à cidade ao estado de modernidade.
A prova maior disso, está na localização de prédios que se
destinavam à biblioteca pública. Em decorrência de terem sido construídos
em bairros nobres, leva-nos a interpretar que seu funcionamento voltava-
se às pessoas pertencentes a tais localidades.
Um outro fator que, sem dúvida, leva-nos perceber que a grande
preocupação pela criação da biblioteca pública no Brasil baseava-se
apenas em um valor ilustrativo, corresponde à luxuosidade de seus
prédios imponentes, erguidos da época, quanto mais imponência mais
divergência.
Mediante tal fato, a população pertencente, sobretudo, às classes
mais baixas via-se inibida em adentrar em um prédio que mais parecia um
templo, em vez de uma biblioteca que se destinava à comunidade em
geral.
No caso da biblioteca pública do amazonas, a sociedade manauara
visando transmitir uma imagem moderna, a partir do modelo europeu,
conforme visto no capítulo anterior, viu-se na obrigação de criar uma
biblioteca pública na Província do Amazonas.
A Busca pela Modernidade
Durante o período em que ocorreu a criação da Biblioteca Pública do
Amazonas, a realidade de letramento da população brasileira, encontrava-
se bastante tímida, uma vez que o número de alfabetizados, em 1890,
não passava de 14%, enquanto que entre os anos de 1900 a 1920 não
ultrapassou os 25,5%, como destaca Gomes (1983).
Mediante o exposto, constata-se que o acesso à educação era
privilégio de poucos em detrimento da grande maioria. O descaso com a
educação ultrapassa os limites de demanda intelectual da cidade. A
Instrução Pública encontrava-se de forma precária, diante das
expectativas de mudança.
A prova maior disso, encontra-se inserida no discurso proferido pelo
Presidente da Província Gustavo Adolfo Ramos Ferreira onde, segundo
Genesino Braga (1989:27) foi proclamado da seguinte forma:
há defficiência da organisação nos diversos planos até agora seguidos no ensino primário e secundário, [...], porque elles não satisfazem as necessidades da população, não attendem as suas circunstancias, nem se achão em harmonia com as leis geraes do desenvovimento humano.
No entendimento desse autor, a figura de Ramos Ferreira passou a
ser sinônimo da criação da Sala de Leitura na cidade de Manaus anexa a
Biblioteca Pública, uma vez que sua contribuição social, política e
administrativa voltou-se não só para as melhorias da área educacional,
através de vários Projetos de Lei, visou melhorar e ampliar as condições
de ensino da Província do Amazonas, mas também para a implantação da
idéia de se criar tal Sala.
No início, a idéia de criação da Sala de Leitura em Manaus surgiu
apenas como uma sugestão, durante o pronunciamento ocorrido em 1868,
na Assembléia Legislativa Provincial, sendo, posteriormente, vista como
uma necessidade ou mesmo, apelo.
O fato de ser amigo pessoal de João Wilkens de Matos, Presidente da
Província entre os anos de 1868 a 1870, certamente facilitou para que
Ramos Ferreira desse início à criação da referida biblioteca de forma tão
rápida.
Com o intuito de agilizar a instalação dessa biblioteca, o deputado
Aprígio Martins de Menezes, na Assembléia Legilativa, apresentou, na
sessão de 30 de abril de 1870, um breve discurso sobre a necessidade da
criação da Biblioteca Pública.
Em seguida, na seção de 14 de maio do corrente ano, o deputado
Irênio da Costa enviou à comissão de redação o requerimento para que se
validasse a discussão final acerca da criação da biblioteca. Após três dias,
o Presidente da Província, Clementino José Pereira Guimarães, converteu
em Lei a sua criação.
Finalmente, no dia 17 de maio de 1870, pela Lei n.º 205, tem-se a
criação da Biblioteca Pública do Amazonas, com a finalidade única de
servir como uma Sala de Leitura,voltada às necessidades das pessoas
cultas ou em processo de educação, conforme é mostrado em BIBLIOTECA
... (19??): “Art. 1º - Fica desde já creada, no edifício em que funciona o
Lyceu, uma sala de leitura, que servirá de núcleo para a Biblioteca Pública
da Província(13).
Uma vez criada e publicada a lei referente à criação da Sala de
Leitura, deu-se início aos procedimentos para a organização do seu
acervo10, a fim de disponibilizá-la ao uso público, bem como a nomeação
de Ramos Ferreira para a sua direção, tanto que o obrigou a afastar-se
das suas atividades políticas.
10 Resultante de doações de particulares e através da aquisição junto às gráficas brasileiras e estrangeiras, cujo recurso financeiro fora obtido por meio de campanhas comandadas pelo próprio Ramos Ferreira.
Uma vez equipada, a Sala de Leitura, com um acervo constituído por
1200 volumes, foi inaugurada no dia 19 de março de 1871, em uma
solenidade presidida pelo novo Presidente da Província, José Miranda da
Silva Reis.
Conforme apresentado na Lei de sua criação, a Sala de Leitura foi
instalada provisoriamente em uma das salas do pavimento superior do
velho sobrado do Liceu, localizado na Travessa da Imperatriz, levando-nos
a concluir que esta ainda não possuía sua sede própria.
Em 1872, por ordem do Presidente da Província, tem-se a construção
de um prédio que serviria para abrigar as aulas do Liceu, a diretoria da
Instrução Pública e a Biblioteca, sendo relevante salientar que tal local iria
ser construído não por causa da biblioteca, e sim por causa da Instrução
Pública que, também não possuía sua sede definitiva.
Após a construção desse prédio, em março de 1874, o sucessor de
José Miranda da Silva Reis, Domingos Monteiro Peixoto, anunciou que a
sala de Leitura do Amazonas passaria a funcionar no prédio localizado na
Praça 28 de Setembro – atual Quartel da Polícia Militar.
Figura 8: Quartel da Polícia Militar
Fonte: BRAGA, Gemesino, Nascenças... 1989.
Nessa época, a Sala de Leitura, funcionando com 01 (hum) Diretor e
01 (hum) Porteiro, passou a abrir suas portas das 9 as 15 horas, exceto
nos finais de semana.
No início de seu funcionamento, tal Sala apresentou um nítida
dicotomia, expressas no seu Regimento Interno, já que as regras de
funcionalidade ao mesmo tempo que defendia o uso público, determinava
o perfil das pessoas que deveriam fazer uso do referido local, conforme
demonstra o Regimento de 1871 onde defende o uso da Sala de Leitura
para todo e qualquer cidadão, desde que: “1 – apresentar-se devidamente
vestido; 2- não fumar, não conversar, não atrapalhar por forma alguma o
silencio e a tranqüilidade da sala.
Essas exigências traziam transtornos para a maior parte da população
pois ao tentarem usufruir desse espaço que se dizia público, esbarravam
na burocracia e nas etiquetas determinadas pelo seu regimento, haja vista
que pela suas condições financeiras, sentiam-se de fazer uso desse
espaço, pois não conseguiam se apresentar devidamente vestidos.
Um outro item que comprova a dicotomia entre a prática e o discurso
estabelecido pela Sala de Leitura, refere-se ao padrão de educação
exigido para o uso do ambiente, já que este fora estabelecido segundo as
práticas da sociedade manauara.
Pelos paradigmas estabelecidos, a população de Manaus jamais faria
uso dessa sala, uma vez que não tinha condições nem para se trajar
corretamente, nem mesmo para se comportar de acordo com a regra, pois
não tiveram a oportunidade de receber a mesma educação doméstica que
a comunidade economicamente privilegiada.
Por esta razão, afirma-se que a criação da Sala de Leitura em Manaus
foi resultante da preocupação da sociedade manauara em satisfazer suas
próprias necessidades, haja vista que desde suas regras até seu acervo
apresentavam-se de forma direcionada, sobretudo com obras oportunas
da Europa, estando portanto, no idiomas inglês e francês.
Como defender, então, o uso público da Sala de Leitura se, na época,
seu acervo encontrava-se, basicamente, em outro idioma, bem como
apenas 3% da população era letrada, tendo desta forma, condições para
usufruir de tal local?
A resposta, certamente, encontra-se na adequação da sociedade
manauara ao modelo francês, já que durante o final do século XVIII e
início do XX, Manaus encontrava-se sob uma forte influência da belle
epoque.
Como as “Salas de Leitura”, também conhecidas como “Gabinetes de
Leitura” já eram uma constante nos grandes centros culturais europeus, a
criação da Sala de Leitura em Manaus representou a concretização do
sonho de um pequeno grupo que fazia questão de permanecer com os
mesmos hábitos e costumes adquiridos na Europa.
Pode-se afirmar, também, que a presença do Real Gabinete de
Leitura Portuguesa, criado em 1837, bem como a fundação Biblioteca
Fluminense, em 1847, ambas no Rio de Janeiro, cujos acervos reforçavam
a preservação da cultura transplantada, principalmente, da Europa,
influenciaram, sobremaneira, para a criação da Sala de Leitura em
Manaus.
Para comprovar isso, destaca-se Nelson Schpochinik (1993:156)
onde, ao referir-se ao Gabinete Português afirmou o seguinte:
seu acervo contava com 50.000 volumes, entre os quais a ‘Camoneama completa e outras publicações em diversos idiomas, de Sciencias, legislação literatura e artes, inclusive muitas raras e manuscriptos; muitos periódicos e vocabulários de línguas vivas e mortas, de obras de direito civil, criminal, canonico, público, das gentes, natural e allemães, latinos e gregos, de matematicas, geographia, historia, viagens, romances, etc.
Quanto à Biblioteca Fluminense, destaca que seu acervo era
constituído por
[...] volumes de ‘sciencias, litteratura e artes, nas línguas portugueza, franceza, hespanhola, allemã, italiana, etc; manuscritos e mappas; os principaes jornais de todo o Imperio e muitos estrangeiros entre eles Le Siècle, Journal des Débats, L’Illustrations, La Sylphide, Gazette Médicale, Gazette des Hospotaux, Comptes rendus de l’Academie des
Sciences, Panorama, Revista Universal Lisbonense, Diário do Governo, Revolução de Setembro (SCHPOCHINIK, 1993:157).
É interessante ressaltar que um outro fato que contribuiu para a
criação da Sala de Leitura em Manaus, dentro de um contexto
europeizado, ligou-se ao costume estabelecido pelos membros da
sociedade manauara em enviar à Europa seus filhos para estudar, ou para
passar longas temporadas nas capitais do Velho Mundo, ou mesmo para
adquirir um imóvel.
Ao regressarem, entretanto, com o intuito de manterem o mesmo
padrão vivido no exterior, os membros da sociedade manauara viram ma
criação da referida Sala a oportunidade ideal para cultivar o modo de vida,
hábitos, crenças, e costumes do Velho Mundo, bem como manter a
imagem de uma cidade moderna, mesmo que ilusoriamente.
Afirma-se portanto, que a Sala de Leitura em Manaus não foi criada
para atender a comunidade em geral, como deveria ser, já que surgiu
para servir às necessidades da sociedade manauara, pois não só seu
Regimento Interno, mas também seu acervo voltavam-se para as pessoas
alfabetizadas ou em processo de alfabetização.
Isso implica frisar que o funcionamento dessa Sala destinava-se
apenas ao público letrado, haja vista que somente essa classe tinha as
condições mínimas para fazer uso do local, sendo portanto, um espaço
eminentemente elitista.
À medida que o tempo passava, o Regimento Interno da Sala de
Leitura, mesmo apresentando algumas mudanças, continuava irredutível,
no que diz respeito à exclusão do público em geral, já que seu artigo 6º
passou a descrever que “só terão ingresso na Bibliotheca as pessôas de
ambos os sexos, maiores de 14 annos, que se apresentarem
decentemente vestidas”.
Todavia, segundo Braga, a criação da Sala de Leitura em Manaus foi
algo extremamente relevante à população em geral, pois livrou-a da
ignorância e do desconhecimento. Daí a razão pela qual a versão
apresentada por esse autor é vista como sendo algo romântico, pois
apesar de destacar as diferenças sociais da época, coloca a Sala de Leitura
como uma instituição vantajosa para o desenvolvimento da Província, cujo
mentor passou a ser Ramos Ferreira, devido ter sido um
Homem de fé inegável, ação enérgica e inabalável às suas convicções o ilustre filho da gleba amazônica não repousava das lides árduas que lhe impunham a ordem nova implantada na seara da alfabetização e da educação dos menores seus contemporâneos. Todas as suas horas, a cultura, o seu trabalho, os seus parcos haveres, estavam a serviço do plano de desenvolvimento do ensino entre os seus irmãos da ongínqua Província do Império (BRAGA, 1989:37).
Independente da versão apresentada, romântica ou realista, faz-se
necessário destacar que a Sala de Leitura como núcleo da Biblioteca
Pública do Amazonas, manteve um curto período de existência, uma vez
que fora desaparecendo progressivamente sem se como e quando e
como, conforme salienta Maria Sidney Garcia de Vasconcellos Lins (1979).
A prova disso, está inserido no discurso proferido pelo Presidente da
Província, Sátiro de Oliveira Dias, em 1880, onde declarou que
“a biblioteca que se diz haver sido fundada, existe apenas no nome”.
Porém, as autoridades só foram perceber que a referida Sala, realmente,
não existia somente no ano de 1882, quando José Lustosa da Cunha
Paranaguá assumiu a Presidência da Província, no dia 17 de março do
corrente ano.
Logo, foi somente a partir da iniciativa de Paranaguá é que o assunto
da Biblioteca Pública do Amazonas voltou a ocupar a atenção
governamental, conforme veremos no próximo capítulo.
CCCCapítulo 3apítulo 3apítulo 3apítulo 3 Uma Nova Biblioteca para a Uma Nova Biblioteca para a Uma Nova Biblioteca para a Uma Nova Biblioteca para a
ProvínciaProvínciaProvínciaProvíncia
om a extinção da Sala de Leitura sem registros que pudessem
explicar a razão de tal fato, Manaus ficou desprovida de um
dos símbolos que garantiriam a imagem de uma cidade
intelectualmente desenvolvida.
Todavia, com a nomeação de José Lustosa da Cunha Paranaguá para
a Presidência da Província, em 1882, a existência de uma biblioteca em
Manaus voltou a ser uma preocupação governamental.
É valido frisar que alem da criação da Biblioteca Pública Provincial, a
Construção de algumas obras, ditas como importantes e imponentes para
o progresso do Amazonas – Teatro Amazonas, fundação do Museu
Botânico Amazonense, restabelecimento do Instituto de Educandos
Artífices, entre outras, fizeram parte das prioridades do seu governo.
Pelo fato de não permitir que a nova biblioteca continuasse com a
mesma estrutura da Sala de Leitura, José Paranaguá passou a defender
que esta deveria se apresentar “com amplo sentido da serventia geral, de
livre acesso, aberta a todos os estudiosos, aos pesquisadores das ciências
e da história, de franquia ilimitada” (BRAGA, 1989:61).
Com essa nova perspectiva, através da Li n.º 582, de 27 de maio de
1882, foi criada a Biblioteca Pública Provincial do Amazonas, com o firme
propósito de cooperar para o progresso da Instituição Pública da Província.
Quanto à política de aquisição do acervo que comporia a Biblioteca,
pode-se afirmar que do editores parisienses, foram encomendadas varias
obras e coleções. Para isso, contou-se com o auxilio de Ramiz Galvão12,
12 Bibliotecário pertencente à Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.
CCCC
que se responsabilizou pela seleção do material que deveria ser
comprado.
Em Paris, ou auxílio veio do Visconde de Nioac, Manuel Antônio da
Rocha Freire, cuja função era a de fiscalizar a compra dos quase 1.000
volumes adquiridos, bem como remeter, devidamente encaixotados, o
acervo no vapor “Paraense”.
Durante a construção do acervo que comporia a nova Biblioteca, após
ser procurado pelo escritor Franklin Dória, Paranaguá resolveu organizar
uma seção contendo, exclusivamente, obras sobre a Amazônia,
atualmente conhecida como acervo amazônico.
Para compor tal seção, 82 volumes foram comprados através do
livreiro B. L. Garnier e das demais livrarias brasileiras.
Enquanto os livros não chegavam, deu-se início a uma campanha
para arrecadar fundos, a fim de arrecadar fundos para as possíveis
despesas.
Por outro lado, algumas pessoas doaram de suas bibliotecas
particulares alguns volumes, como intuito de contribuir para a formação
do acervo da nova biblioteca.
Conforme exposto em Braga (1989:64), além dos acervo particulares
verifica-se que
Das repartições públicas vieram valiosas ofertas. O ministério da Marinha ofereceu vários mapas, dentre as quais se destacam as preciosas cartas hidráulicas do Rio Juruá, em 10 folhas, e o mapa do Amazonas. O Ministério dos Negócios e da Fazenda ofertou uma coleção de legislação brasileira e outras publicações da Tipografia Nacional; e a nossa Assembléia Legislativa Provincial
ofereceu a coleção completa dos seus anais, desde o ano de 1852 em que se inaugurava a Província e se constituía o nosso poder legislativo.
Uma vez equipada nascia, assim, a Biblioteca Pública do Provincial do
Amazonas, cuja inauguração ocorreu em 1883. porém, dois dias depois de
sua inauguração é que suas portas foram abertas ao público somente dois
dias depois.
A solenidade de inauguração da Biblioteca, comemorada na noite do
dia 25 de março, no Teatro Provincial13, representou um acontecimento
histórico para a cidade de Manaus, uma vez que tal data além de celebrar
o aniversário da Constituição Política do Império, foi marcado pela
“entrega de duas cartas de alforria a escravos negros [dando] o tom
abolicionista do Governo Paranaguá” (BIBLIOTECA... 19??:14).
Mediante tal fato, Manaus passou a ser a segunda cidade brasileira a
abolir a política abolicionista, proporcionando assim, a liberdade dos
escravos. Porém, o que não se pode deixar de frisar é que, a alforria dos
escravos, justamente no dia da reinauguração da Biblioteca Pública do
Amazonas, na verdade, correspondeu a uma estratégia desenvolvida,
provavelmente, pelo Presidente da Província e o primeiro diretor da
Biblioteca Pública Provincial, o abolicionista Lourenço Pessoa.
Afirma-se isso, pois, entregar a carta aos escravos na inauguração da
Biblioteca, sem duvida, contribuiria qualitativamente para o fortalecimento
da imagem intelectualizada da sociedade Manauara.
13 Posteriormente denominado Teatro Amazonas.
Quanto à sua localização, pelo fato de ter sido instalada no pavimento
inferior – ala oriental – do consistório da Igreja Nossa Senhora da
Conceição – catedral de Manaus –, a Biblioteca Provincial além do
privilegio de encontrar-se em uma excelente localização, leva-nos a
concluir que tanto a igreja, quanto a biblioteca tinham como finalidade a
elevação do espírito humano, sendo que a primeira destinava-se a Deus e
a segunda à cultura e erudição.
Figura 9: Catedral Nossa Senhora da Conceição Fonte: Biblioteca... [19??].
No que se refere ao acervo da Biblioteca Provincial, observa-se que
não existe, com precisão, algum tipo de informação acerca da sua
quantidade exata. Na estimativa de mesquita (1997), ela era constituída
de 4.000 volumes, para Maria Sidney Garcia de Vasconcellos Lins (1979),
esta foi instalada com um acervo de aproximadamente 3.000 volumes.
Ademais, Mavignier de Castro (19??), afirma que sua composição
resultava em um pouco mais de 6.000 volumes.
Todavia, em BIBLIOTECA... (19??:15), o total de documentos
encontrava-se em torno de 5.000 volumes. Para Braga (1989) a biblioteca
era formada por 3.000 volumes e a compilação de vários mapas
geográficos.
Provavelmente, a razão que impedia a explicação de tal fato foi o
incêndio ocorrido na madrugada do dia 22 de agosto de 1945 o qual
destruiu não só o prédio da rua Barroso, mas também a maior parte do
seu acervo, restando apenas 60 volumes, devido encontrarem-se fora do
prédio na noite do acidente.
Ao iniciar suas atividades, através do artigo 5º do regulamento
vigente na época, verifica-se que
A Biblioteca [estaria] aberta ao público ao publico todos os dias úteis desde as 5 horas da tarde até às 9 horas da noite, excepto nos dias santificados e de festa nacional, carnaval, semana Santa, e os que decorrem de 1 a 6 de janeiro e de 25 a 31 de dezembro14
É interessante salientar que, não obstante o público poder freqüentar
a Biblioteca, existia ainda uma política que determinava o perfil dos
usuários que deveriam freqüentar o referido espaço. A partir de tal
política, destaca-se que os jovens menores de 21 anos não tinham acesso
às obras que ofendiam a moral e a Religião, também eram proibidos de
14 Regulamento Interno da Biblioteca Provincial de 1883.
fazer uso dos manuscritos que eram reservados ao Presidente de
Província, necessitava-se obter a permissão do mesmo.
O que não se pode deixar de destacar é que, apesar de estar muito
bem instalada e freqüentada, a Biblioteca Pública Provincial continuava
sem sua sede própria. Por esta razão, com o intuito de solucionar tal
problema, José Paranaguá começou a lutar pela construção do prédio que
serviria de sede para a Biblioteca.
Para isso, no início dos trabalhos legislativos de 1883, em seus
relatórios, expunha preocupações sobre a necessidade da construção de
um local que abrigasse definitivamente a Biblioteca Pública Provincial.
Através de Mesquita (1997:332), verifica-se que os apelos de José
Paranaguá surtiu efeito, uma vez que “em 4 de junho de 1883 a Lei n.º
608, [autorizou] ‘despender’ a quantia de 0:000$00 réis para a construção
de um edifício para a Biblioteca Pública Provincial”.
Figura 10: Início da Construção da Sede Definitiva Fonte: http://4.bp.blogspot.com/_C-pOxEqowo0/ R2GKQJSssBI/AAAAAAAAALI/LqkGpf0KYXE/s200/01+(10).jpg
Porém com a saída de José Paranaguá da Presidência da Província,
apesar do projeto ter sido aprovado, assim como as plantas do prédio que
se destinaria à sede da Biblioteca Pública já estarem prontas, a dotação
orçamentária para o andamento da construção do referido prédio não foi
renovado.
Somente no dia 16 de maio de 1884, pela Lei n.º 640, teve-se a
autorização para o término da construção do prédio que se destinaria à
sede da Biblioteca.
Nesse mesmo ano, Lourenço Pessoa, Diretor da Biblioteca, é
substituído por Antônio Manoel de Souza Oliveira, que teve um mandato
exíguo sendo, em 1885, substituído por Carlos Pereira de Pinto, cujo
mandato estendeu-se até 1887.
Quanto ao trajeto da Biblioteca Pública Provincial, verifica-se que
esta, desde sua criação, encontrava-se subordinada à Instrução Pública,
contudo, através da Lei n.º 780, datada do dia 25 de janeiro de 1887, a
referida biblioteca tornou-se uma Diretoria autônoma.
A partir dessa data, tem-se uma mudança, também, no quadro
funcional da biblioteca, com a criação da de mais um cargo, o Amanuense,
cuja função ligava-se à fiscalização dos serviços desenvolvidos na
biblioteca.
O fato de que foi somente em 1965 que se tem a criação do Curso de
Biblioteconomia no estado do Amazonas, leva-nos a concluir que as
pessoas que eram indicadas para dirigirem a Biblioteca, além de pertencer
eminentemente ao sexo masculino, deveriam possuir um certo amor às
letras e ao serviço que se desempenharia.
Entretanto, a intelectualidade do diretor da Biblioteca sempre fora
relegada para o segundo plano, já que o cargo de Diretor passou a
representar uma acomodação política.
Assim, as pessoas que assumiram a Biblioteca não mantinham a
mesma preocupação de efetuar, corretamente, o processo técnico dos
documentos, nem conservar o patrimônio bibliográfico adquirido até o
momento.
Com o intuito de demonstrar tal fato, destaca-se Braga (1989:20),
onde relata que:
Bons e maus dirigentes estiveram a nortear as tarefas naturais de seu objetivo. Muito deles foram guindados ao posto de chefia por simples acomodação política, sem cultura, sem conhecimento do serviço, sem ideal; outros, bem poucos estes, ao mesmo conduzidos de qualquer forma, empenhara, entretanto, boa parcela e de seu intelectualismo, de sua operosidade e de seu interesse pela educação, em lutas árduas para fazer reerguer, reconstruir, reorganizar, para a utilização dos estudos, o rico patrimônio bibliográfico [...].
No ano de 1887, houve a inauguração do prédio que abrigaria a
Biblioteca Provincial, sob o comando do Presidente da Província, Ernesto
Adolpho de Vasconcellos Chaves, todavia em virtude de não ser exclusiva
da Biblioteca, pois acomodaria a instalação do Liceu Provincial, destaca-se
que esta não correspondeu ao eu prédio próprio.
Figura 11: Liceu Provincial – Atual Colégio Dom Pedro II Fonte: BRAGA, Genesino. Nascença... 1989
Apesar do prédio ter sido inaugurado em 1887, a Biblioteca Pública
foi transferida para lá somente no ano seguinte, através da ordem do
cônego Raimundo Amâncio de Miranda, 3º vice-presidente da Província.
Nesse prédio, sob a direção de Jorge Augusto de Brito Inglês –
considerado o 1º diretor nomeado –, a Biblioteca Provincial em virtude de
oferecer seus serviços apenas aos alunos, elite intelectual e poucos
particulares, continuou conservando o papel de biblioteca escolar, fato que
desviava as suas verdadeiras funções.
Funcionando regularmente, a Biblioteca Provincial, permaneceu em
atividade até o final do período monárquico, com o advento da República,
começou a presenciar momentos ora de abandono, esquecimento e
decadência, ora de reorganização.
O fato que, certamente, enveredou para o seu decadentismo foi à
extinção da Diretoria da Biblioteca, por ordem de Eduardo Gonçalves
Ribeiro, Governador do Amazonas.
Em decorrência disso, a Biblioteca que se encontrava em uma das
salas dos pavimentos superior do Liceu, pouco a pouco foi sendo
esquecida passando a servir apenas como um incomôdo de livros,
permanecendo nesse estado durante os quatro anos do governo do “O
pensador” - apelido dado a Eduardo Ribeiro.
Somente ao final do seu governo – mais precisamente, meses antes
de ser substituído – Eduardo Ribeiro resolveu reorganizar a Biblioteca
Pública do Amazonas, provavelmente, para resgatar a imagem de um
Governador preocupado com o incentivo da cultura e das artes.
Desta forma, pelo decreto n.º 86, de 17 de outubro de 1895, com
base no artigo 6.º da Lei n.º 134, de 7 de outubro do corrente ano,
Eduardo Ribeiro declarou:
Art. 1º - Fica reorganisada a Bibliotheca Publica do Estado com o pessoal seguinte: Um Director, Um secretario, Um porteiro e Um continuo15 e se regerá na conformidade do regulamento com que este baixa. Art. 3º - Revogar-se as disposições em contrario.
Durante o processo de reestruturação da Biblioteca, apesar de todos
saberem que o acervo encontrava-se completamente maltratado e
desfalcado, Eduardo Ribeiro nomeou Pedro Epifânio Regalado Batista para
assumir a sua direção, bem como autorizou a sua transferência para uma
casa alugada, localizada entre a Praça da constituição – atual praça
Roosevelt – e a rua Guilherme Moreira.
15 Pessoa responsável pela limpeza e conservação do edifício, além de ter que prestar auxílio ao porteiro e demais funcionários.
Em suas novas instalações, a fim de cooperar com a Instrução
Publica do Estado, a biblioteca Publica do Amazonas passou a funcionar,
exceto aos domingos e feriados, das 11 às 14 horas e das 18 às 20 horas.
Mesmo rompendo a barreira do tempo a Biblioteca continuava delineando
as pessoas que não se adaptavam a sua política de funcionamento.
Para comprovar isso, destaca-se o artigo 9º do seu Regimento
Interno, que dizia: “Só serão admitidas na bibliotheca as pessoas de
ambos os sexos, maiores de quatorze annos, que se apresentarem
decentemente vestidas”.
Mediante o exposto, concluiu-se que a existência de uma biblioteca
em Manaus não se voltou para desenvolver verdadeiramente sua função
pública, pois em nenhum momento se colocou a favor do não-público.
Quando o tenente Fileto Pires Ferreira – sucessor de Eduardo Ribeiro
– assumiu o Governo do Amazonas, por meio de uma mensagem enviada
ao Congresso dos Representantes, em março de 1897, confessou-se
desanimado com o estado que se encontrava a Biblioteca Pública,
afirmando o seguinte:
pelo Relatório do Diretor desta Repartição, para o qual chamo a vossa especial ettençao, verei o estado de desmoronamento, ou melhor, de aniquilamento em que se acha a Bibliotheca Pública. Desprovida de quase todos os elementos necessários e encontrando os poucos existentes em verdadeira ruína, só trabalho novo, methodico e regular poderá levantar o estabelecimento a um gráo de prosperidade capaz de preencher os seus elevados patrióticos fins, [...]. Sem obras de certo valor, truncadas as melhores que existem, sem revistas scientificas e literárias, nenhum interesse desperta e nenhuma frequência pode ter a Bibliotheca. Relativamente ao movimento, são desanimadores os dados fornecidos pelo Director, pois dá-nos frequencia de 3 leitores diários! (BRAGA, 1989:91-3).
Por esta razão, com o intuito de dar um impulso maior ao
funcionamento dessa Biblioteca, como solução, pelo Decreto n.º 208, de 8
de dezembro de 1897, resolveu vinculá-la à Diretoria de Estatística, pois
desta forma, eliminaria sua condição de repartição pública isolada (LINS,
1979).
Com tal vinculação, o Poder Público sentiu a necessidade de obter
um local mais amplo que a abrigasse a Repartição de Estatística e o
Arquivo Público.
Assim, o local escolhido foi uma casa, localizada na rua do
Progresso, atual Monsenhor Coutinho. A instalação deu-se no dia 1º de
janeiro de 1898, com a presença do Chefe do Executivo.
Durante a mudança, sob a responsabilidade de Wilson Silveira
Coelho, faz-se necessário frisar que o acervo da Biblioteca, em virtude de
ter passado por inúmeros momentos ora de desleixo, ora de abandono,
encontrava-se completamente maltratado e danificado.
Certamente, o que contribuiu ainda mais para o estado de desleixo e
abandono do acervo da Biblioteca Pública, foi mais a inauguração, nos
últimos momentos do século XIX, dessa vez da “moderna” biblioteca
instalada em uma das salas do Gymnasio Amazonense, antigo Liceu.
Tal biblioteca, funcionando sob a direção de Monteiro de Souza,
pedagogo emérito e apaixonado pelas artes e letras, comportava um
acervo de mais de 2000 volumes, obtidos por doações e compras nas
livrarias de Manaus e do Distrito Federal.
Além das “enciclopédias e dicionários especializados a obras
cientificas e obras raras, [tal biblioteca], se enriqueceu mais ainda com a
anexação do acervo bibliográfico do extinto Museu Botânico”
(BIBLIOTECA... 19??:16).
Em virtude disso, para satisfazer suas necessidades, o público que
antes freqüentava a Biblioteca Pública, progressivamente, começou a
optar pela biblioteca do Ginásio Amazonense, pois esta disponibilizava
muitos mais recursos, no que se referia às pesquisas, estudos e
recreações.
Outro fator positivo equacionado a essa biblioteca ter a preferência
do público foi seu ambiente, pois além de ter sido instalada em um amplo
espaço, suas mobílias – mesas, cadeiras, estantes e demais pertences –,
estavam devidamente adaptados às exigências de um ambiente de
estudo.
Sem oportunidade de competição, a Biblioteca Pública do Amazonas
foi, mais uma vez, transformada em um mero deposito de livros,
completamente esquecida em uma das salas da casa da rua do Progresso,
cuja freqüência, na época, registrava-se apenas 1 leitor por dia.
No estado de abandono, destaca-se o descaso com o acervo, dos
4.342 volumes que restavam, 172 encontravam-se inutilizados; 37
correspondia às coleções incompletas; 233 faziam parte dos livros em
mau estado; 2.951 tinham sido encaminhados à encadernação e apenas
681 tinham sido comprados pelo Governo.
Assim como os administradores anteriores, Fileto Pires Ferreira
durante o pouco tempo em que permaneceu no Governo do Amazonas,
pouca coisa fez pela Biblioteca Pública do Amazonas, conforme é
destacado na mensagem ferrenha, proferida pelo Sr. Pedro Freire –
responsável pela Secretaria de Estado – ao governador, onde disse:
[...] é tempo de pensar seriamente na necessidade de dotar-se esta capital com uma Bibliotheca bem organisada, [...], consigando na lei orçamentária verba suficiente para acquisição de um prédio opropriado, [...]. o prédio em que ela tenha que ser installada demanda de construcção adequada ao seus fins, com acomodações regulares para salas de estudo”16
Ademais, em um outro relatório, dessa vez apresentado pelo outro
Secretario de Estado – Francisco Público Ribeiro Bittencourt –, verifica-se
que a Biblioteca Pública encontrava-se em um estado lastimável, pois
inicia seu relato da seguinte forma: “Do que foi a Bibliotheca de Manaus,
só resta hoje um simulacro”.
Com a nomeação do Cel. José Cardoso Ramalho Júnior para o
Governo do Amazonas, em abril de 1898, com prioridade, visou
estabelecer um diagnostico do estado em que se encontrava a Biblioteca
Pública do Amazonas.
No ano seguinte de seu governo, a Biblioteca Pública, mesmo
ganhando um novo diretor – Júlio Nogueira –, não havia ainda conseguido
se desvincular da Diretoria de Estatística uma vez que
[...] o Governador Ramalho Júnior alertava para a necessidade de se estabelecer reformas na biblioteca,
16 AMAZONAS. Secretaria de Interior. Relatório
iniciando-se pelo seu desligamento da Repartição de Estatística, com o qual não apresentava nenhuma relação de dependência lógica. Além disso, observava que o prédio não era apropriado e de fazia necessária um novo regulamento que estabelecesse horários mais flexíveis (MESQUITA, 1997:333).
Assim, pela Lei n.º 254, de 9 de agosto de 1899, efetiva-se o
desligamento da Biblioteca Pública da Repartição de Estatística. Contudo,
somente no dia 3 de janeiro de 1900, pelo Decreto n.º 375-B, cuja base
ligou-se à Lei n.º 254, de 9 de agosto de 1899 é que a Biblioteca tornou-
se uma Diretoria Autônoma.
Por tal reorganização, entendia-se como sendo não só a nomeação
da nova direção, sob o comando de Raul de Azevedo, mas também a
autorização para dar início ao processo de reorganização da Biblioteca,
que passou a funcionar das “8 ás 11 da manhã e das 6 ás 10 da noite” e a
aquisição de um prédio próprio.
A partir de tal Decreto, tem-se uma relativa mudança no quadro
funcional da Biblioteca Pública , ampliou-se o quadro pessoal com 1
Diretor, 1 Sub-Diretor, 1 Chefe de Secção, 6 Amanuenses, 1 Porteiro, 1
contínuo17 e 4 serventes.
Para a aquisição desse prédio e de seus utensílios, Ramalho Júnior
conseguiu abrir mais um crédito de 615$000 réis. Posteriormente, pelo
Decreto n.º 398, de 10 de fevereiro de 1900, tem-se à aprovação do
“regulamento da Diretoria da Biblioteca Pública, e abrindo crédito, no
17 Funcionário Destinado a prestar qualquer tipo de serviço para a Biblioteca.
orçamento vigente, de cento e dezenove contos e quatrocentos e
quarenta mil réis ‘para p seu aparelhamento’” (BRAGA, 1989:105).
Entretanto, ao final do mandato de Fileto Pires, a Biblioteca Pública
sem perspectiva de melhoramento, continuou instalada na velha e
esquecida casa da rua do Progresso.
Durante a administração seguinte, sob o comando de Silvério José
Nery, Bento de Figueiredo Tenreiro Aranha foi nomeado para assumir a
direção da Biblioteca Pública.
Nessa época, a Biblioteca Pública encontrava-se em estado de
calamidade, pois durante sua trajetória histórica, em decorrência de não
possuir sua sede própria, acrescida do desinteresse da maior parte de
seus diretores, seu acervo sofreu sérios danos, resultantes ora dos
inúmeros desvios dos livros das suas estantes, ora do desinteresse em
conservar os volumes existentes.
Para comprovar o desinteresse não só dos governantes, mas
também dos diretores da Biblioteca, com base em Bento Tenreiro Aranha,
citado por Braga (1989:78), observa-se que
Com a ascensão do regime republicano esta instituição, que tanto já se recomendava às intellectualidades do nosso selecto e crescente meio social, foi pouco a pouco se extinguindo, devido às mudanças de uma para outra casas e aos enormes desvios de livros de suas estantes, por incúria, desleixo e desídia dos seus diretores, sem se exceptuar um só, animados pela proteção cega de chefes de um desenfreado partidarismo, sem ideal, nem fé política republicana, [...]. A Bibliotheca do Amazonas, se tivesse continuado a ser dirigida em dedicação, zelo, probidade e patriotismo, como fora nos anos de 1883 a 1889, seria hoje senão a primeira das existentes no Brasil, indubitavelmente estaria já classificada naquela mesma plana.
Iniciado o Governo de Silvério José Nery, esta com a finalidade de
proporcionar a melhoria da imagem da Biblioteca Pública do Amazonas, no
ano de 1902, providenciou que todos os livros e demais objeto
pertencentes a ela fossem devidamente arrumados, a fim de receber um
aspecto de ordem e método.
O que não se pode esquecer é que quando Antônio Constantino
Nery, assumiu o Governo do Amazonas, “em outubro de 1904, voltou a
ser extinta a Diretoria da Biblioteca, retornando à condição de secção, e
anexada à Diretoria de Estatisitica, Arquivo e Biblioteca” (LINS,
1979:143).
O que justificou a decisão de Constantino Nery, pode ser observado,
claramente, em sua mensagem, proferida no dia 10 de junho de 1905,
onde declarou que:
Em razão da deficiência das obras, muitas das quais acham-se truncadas e da falta de um edifício apropriado, eram nullos os serviços ultimamente prestados. A isso attendendo, auctorizei a annexação provisoria desta instituição à Repartição de Estatisitca, até que seja determinada a construção do edifício, que já foi iniciada no terreno da propriedade do Estado, situado entre as ruas Municipal18, Barroso e Henrique Martins, obedecendo em um plano as exigências do objectivo (BRAGA, 1989:106-7).
Enquanto sua sede definitiva não ficava pronta, a Biblioteca Pública
do Amazonas, com seu acervo ainda mais danificado e maltratado, fora
novamente transferido.
18 Atual Avenida Sete de Setembro.
Desta vez, o local escolhido foi um prédio que se localizava na
avenida Eduardo Ribeiro, cuja numeração, atualmente, corresponde ao
número 453, sendo que nesse prédio, a Biblioteca Pública do Amazonas
permaneceu durante seis anos.
Em virtude das suas instalações precárias, novamente a Biblioteca,
pouco a pouco, foi se transformando em um deposito de livros, passando
por momentos ora de total abandono, ora de esquecimento.
Iniciada a construção do Palácio da rua Barroso, em 1906, o
Governo do estado do Amazonas designou a verba de 200$000 de réis
para o andamento da referida obra, sendo necessário mais verba para a
sua conclusão.
Em 1907, o mesmo valor fora destinado, conforme anunciou
Constantino Nery:
Entre as obras em andamento e em vias de conclusão, consta-se s Bibliotheca, um dos nossos mais importantes edifícios, que a par de sua beleza architectonica, reune as melhores condições de olidez, e, adeantada como está, aguardando a cobretura metálica, é provavel que seja concluida antes de terminar o corrente ano (BRAGA, 1989:107).
Na intenção de trazer melhorias ao acervo da Biblioteca Pública,
Constantino Nery adquiriu a biblioteca particular do Dr. Fernando Castro e
uma coleção do escritor Alberto Rangel.
Por esta razão, o acervo da Biblioteca Pública do Amazonas ganhou
mais de 3.374 volumes resultantes da soma entre os 2.606 documentos
oriundos da biblioteca do Dr. Fernando Castro e 768 de Alberto Rangel.
Com a saúde abalada, Constantino Nery resolveu renunciar o cargo
de Governador do Estado do Amazonas e, em seguida, parte para a
Europa.
Quando seu sucessor assumiu o Governo, o Coronel Afonso de
Carvalho, o prédio da rua Barroso encontrava-se praticamente construído,
faltando apenas o acabamento do pavimento superior.
Figura 12: Etapa Final da Construção da Biblioteca Pública do Amazonas Fonte: http://2.bp.blogspot.com/_uW-3Rk4F_QY/SOk47kVgFJI/ AAAAAAAAA9E/gkqNge87Gk8/s400/082%5B1%5D.jpg
No entanto, no lugar de deslocar a Biblioteca para o seu prédio
definitivo, Afonso de Carvalho resolveu transferi-la para o pavimento
inferior do prédio, mas o Arquivo Público e a Repartição de Estatística,
levando-nos a concluir que a existência de uma biblioteca em Manaus
continuava representando, exclusivamente, o estado de intelectualidade
ao estado.
Como tentativa de justificar o ocorrido, Afonso de Carvalho, no
dia 10 de julho de 1908, em sua mensagem, declarou o seguinte:
[...] a mudança da Biblioteca para o seu prédio próprio não se consumara for falta de espaço, pois o andar superior ainda não estava concluído, e, também, por que essa transferência implicaria despesas com as quais o Estado não poderia arcar (BIBLIOTECA...19??:19).
Em decorrência de ter passado pouco tempo no Governo, Afonso
de Carvalho só realizou esse feito, já que no dia 23 de julho de 1908,
Antônio Clemente Ribeiro Bittencourt assumiu o Poder Público.
No contexto nacional, nessa época, o país encontrava-se
passando por sérias dificuldades financeiras. Por esta razão, Antônio
Bittencourt, para continuar as obras do pavimento superior da Biblioteca
Pública, teve que passar por uma delicada situação.
Não conseguindo mais contar com as verbas governamentais, e
isso logo no início de seu Governo, Antônio Bittencourt declarou: “O
edifício em construção, à rua Barroso, estava com as obras de
acabamento paralisadas, por falta de recursos” (BRAGA, 1989:112).
A fim de efetuar o processo de catalogação de todos os livros
existentes na Biblioteca, criou-se uma comissão onde, Manuel Francisco
da Cunha Júnior fora nomeado para presidi-la.
Através da Lei n.º 573, de 15 de setembro de 1908, o serviço
público passou por uma nova organizaçao, resultando no agrupamento da
Biblioteca, Estatística, Imprensa Oficial e Numismática em única Diretoria.
De acordo com seu regulamento, resultante do Decreto n.º 884,
de 22 de outubro de 1908, o quadro funcional destinado a atender à
secção estabelecida pela junção da Biblioteca e Numismática passou a ser
constituído por “1 Bibliotecário, 1 Porteiro e 1 servente”.
Pelo que afirma Braga (1989), observa-se que, como meta,
Antônio Bittencourt objetivava não só concluir as obras e os serviços para
que se iniciasse o funcionamento da Biblioteca Pública em sua sede
própria, mas também resgatar à população um espaço, cuja consulta e
estudo fossem oferecidos de forma gratuita, já que
“[...] não [compreendia] uma cidade de algum vulto e desenvolvimento
moral, intellectual e physico notável, sem a sua fonte de consultas
exposta á visitação pública [...]” (113).
Por esta razão, mesmo sem possuir o número de estantes
suficientes e mobílias adequadas, Antônio Bittencourt resolveu reabrir, em
seu prédio definitivo, a Biblioteca Pública para uso público.
Sob o comando do seu 10º Diretor, Bento Aranha, cujo cargo foi
assumido oficialmente, no dia 26 de julho de 1910. Mesmo classificado o
acervo da Biblioteca como um precioso montão de lixo, digno de lástima
onde, suas velhíssimas estantes encontravam-se arrebentadas e inúteis,
deu-se início ao último processo de transferência da Biblioteca Pública do
Amazonas.
Uma vez transportado o acervo, durante 41 dias, a equipe de
Bento Aranha, contando com a colaboração de Floro Osório Ferreira Pinto,
bibliotecário que fora contratado desde janeiro de 1900 para atuar na
Biblioteca Pública, selecionaram, catalogaram e organizaram os livros nas
estantes para que o acesso à informação fosse mais eficaz e qualitativa.
Ao final do serviço, teve-se no dia 5 de etembro de 1910, em
sessão solene: a reinauguração da Biblioteca Pública do Amazonas que
fora instalada no salão da Ala Sul do Palácio da Rua Barroso.
Durante esta ato, estiveram presentes algumas autoridades
estaduais, merecendo destaque as seguintes: Antônio Bittencourt –
Governador do Estado do Amazonas; Sá Peixoto – Vice-Governador;
Antonio Francisco Monteiro – Presidente do Congresso Legislativo e o
Coronel Joaquim Pantaleão Teles de Queiroz – Inspetor da Região Militar.
Finalmente reinaugurada, a Biblioteca Pública do Amazonas teve
suas portas abertas ao público no dia 06 de setembro de 1910,
permanecendo assim até os dias atuais, cuja trajetória histórica de
funcionamento continua oscilante, apresentando momentos ora de
decadência, ora de reorganização, devido a não preocupação, por parte de
seus responsáveis, de desenvolver verdadeiramente sua função pública.
Figura 13: Biblioteca Pública do Amazonas nos dias atuais Fonte: http://www.manausonline.com/images/img_30050501b.jpg
CCCConsidonsidonsidonsideeeeraçõesraçõesraçõesrações FinaisFinaisFinaisFinais
realização deste estudo representou um grande esforço, na
tentativa de traçar a trajetória de um dos elementos
característicos da história da cidade de Manaus: a Biblioteca
Pública do Amazonas.
Objetivamente, buscou-se resgatar a história e a memória da
Biblioteca Pública durante o período referente ao “ciclo da borracha”,
abordando os anos de 1870 a 1910.
Com base em Mario Lacerda de Melo e Hélio A. de Moura (1990),
observou-se que, apesar de sua curta duração, a economia gomífera foi
responsável pela elevação de Manaus em uma das dez maiores capitais do
País na época, haja vista que o índice populacional que crescia a passos
lentos antes da extração do látex, subiu de forma vertiginosa.
Para a obtenção de uma informação mais precisa acerca do aumento
populacional, destaca-se José Ribamar Bessa Freire (1987) onde
apresenta a expansão demográfica da seguinte forma: em 1870, Manaus
era constituída por 5.000 habitantes, passando para 20.568, em 1890,
para 30.757 em 1900 e para 60.000 em 1907.
Revela lembrar, a esse propósito, que a economia gomífera trouxe
para Manaus não só o estado de esplendor – com seus serviços públicos,
construções públicas e particulares, traçado urbano –, mas também um
lado escuro, cuja comprovação pode ser obtida em FREIRE (1987) onde
destaca que, na época, Manaus apresentando o total de 10.358, menos da
metade era alvenaria, bem como 5.710 eram concebidas como casebres,
barracões, estâncias e casas de taipa, levando-nos a concluir que a
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moderna Manaus, no seu interior, era repleta por problemas das mais
variadas espécies.
Para abordar tanto o lado esplendoroso, quanto o obscuro da
economia gomífera, através do capitulo Um Retorno a História, como
propósito, visou-se identificar os fatores e atores/sujeitos que
influenciaram na criação e ascensão da Biblioteca Pública do Amazonas.
Nesse primeiro momento, constatou-se que a vontade dos dirigentes
em transformar a grande aldeia em uma grande cidade, a partir do padrão
de modernidade européia vigente na época, sobretudo, o desenvolvimento
na França, correspondeu a uma fase de alienação para a cidade de
Manaus.
Por tal transformação, entende-se como sendo a política de imposição
de valores, crenças e costumes que, pelo fato de terem sido
transplantados, a rigor, não condiziam com a realidade local. Servindo
apenas para a ilusão de modernidade.
Partindo desse pressuposto, Márcio Souza (1977) detaca que o
processo de modernidade tão almejado pelo Poder Público e sociedade
manauara – classe economicamente privilegiada –, na verdade, resultou
na descaracterização da cidade, não deixando de ser uma maquilagem da
realidade, um artifício para iludir.
Trazendo à tona suas próprias contradições, primeiramente, o projeto
de embelezamento implantado na cidade de Manaus, gerou comentários
semelhantes ao de E. Bradford Burns (1966), onde disse que os benefícios
oriundos da borracha foram tão marcantes para Manaus ao ponto de que
“um morador da cidade do ano de 1870 teria muita dificuldade em
reconhecê-la na primeira década do século 20” (23).
Em seguida, constata-se que o abandono da classe marginalizada,
evidente na política de deslocamento para bairros afastados é destacada
como sendo a segunda contradição resultante do processo de
modernidade transplantado para a cidade de Manaus.
Sem dúvida, o afã pela modernidade, trouxe conseqüências
desumanas para grande maioria da população manauara. Em completo
abandono, por parte do Poder Público, a classe marginalizada não sabia o
significado de uma vida digna – com infra-estrutura básica, sistemas
hospitalar e educacional, de iluminação pública, de abastecimento de
água, bem como mercado e matadouro públicos para o abastecimento
junto aos gêneros alimentícios e demais serviços –, pois passou a ser
completamente ignorada.
As dificuldades, advêm de todas as ordens. Ademais, o deslocamento
de pessoas de um local para o outro, além de ser feito através de pontes,
devido estas terem sido construídas em madeira, encontravam-se sempre
em estado deplorável, acarretando grandes prejuízos à população que
residiam nos bairros afastados.
Assim, afirmar que a população marginalizada vivia em uma situação
de miséria por opção era pura demagogia, pois suas ruas encontravam-se
sempre repletas de mato, poças d’água, com desnível e sem calçamento;
sofriam pela falta de sistema de iluminação pública; saneamento básico;
mercado público, água encanada; limpeza pública; transporte; serviço
hospitalar, tornando-se vitimas fáceis de epidemias.
Como se não bastassem elencar todas as dificuldades acima, o Poder
Público, com o intuito de não continuar poluindo as águas do Rio Negro,
determinou que os lixos recolhidos nas ruas centrais da cidade fossem
deslocados para os bairros mais afastados, fazendo deles, portanto, meros
depósitos de lixo.
Apenas o núcleo da urbe, ou melhor, o centro que servia tanto de
residência para a sociedade manauara, quanto para o comércio
exportador e importador gozava de privilégios governamentais. Porém, o
que não se pode esquecer é que, por mais que Manaus tenha mergulhado
de corpo e alma na franca camaradagem dispendiosa da belle-epoquè –
através dos seus cafés-concerto, teatro, praças, boulervards, paisagens
naturais e modo de vestir – jamais conseguiu estabelecer o estilo de vida
almejado.
Isso implica frisar que, consciente ou inconscientemente, através da
incorporação de elementos nativos com os costumes transplantados,
houve a distorção não só a cultura européia, mas também a cultura local,
não conseguindo, portanto, implantar nem os valores alheios, nem
eliminar as raízes nativas.
Após traçar, sobretudo, o lado obscuro da economia gomífera, como
imaginar a criação de uma Sala de Leitura anexa a Biblioteca Pública do
Amazonas na cidade de Manaus, se a maioria da população nem escola
freqüentava, vem como não tinha condições para obedecer as regras
estabelecidas no Regimento Interno dessa Sala?
Através do segundo capítulo, Uma Sala de Leitura em Manaus?,
procurou-se questionar os motivos que levaram à criação de um local que
ao mesmo tempo que se dizia público, passou a funcionar sob um caráter
elitista.
Para compreender o surgimento da Sala de Leitura em Manaus,
visou-se, primeiramente, resgatar a história das bibliotecas públicas,
elencando suas quatro funções básicas, a fim de averiguar se tal sala
voltou-se para o não-usuário.
Uma vez trabalhada a evolução das bibliotecas verdadeiramente
públicas, observou-se que, na verdade, a Sala de Leitura em Manaus foi
resultante da preocupação da sociedade manauara que se preocupava
apenas em garantir a sua satisfação intelectual, bem como proporcionar
ao Amazonas a imagem de erudição e desenvolvimento, pois um dos
símbolos que garantia o estado de modernidade, era, justamente, a
criação de um espaço que servisse como núcleo da Biblioteca Pública.
Com o firme propósito de mascarar a dura realidade, Manaus se viu
na obrigação de criar um tipo de espaço que proporcionasse tal finalidade,
pois o Poder Público almejava, antes de tudo, transformá-la em uma
cidade moderna. A partir disso, houve a preocupação em apenas criar a
referida Sala e, posteriormente, a Biblioteca Pública Provincial e não como
se daria seu funcionamento.
O terceiro capítulo, Uma Nova Biblioteca para Manaus, trabalha o
período histórico que envolve desde a ascensão da Biblioteca Publica
Providencial ate seu deslocamento para o Palácio da Barroso. Através
dele, constatou-se que tal biblioteca foi criada em Manaus somente para
garantir a imagem de uma cidade intelectualmente evoluída.
A comprovação disso, liga-se à forma que se deu sua política de
funcionamento, bem como a estrutura interna desse espaço, já que desde
a indicação de seus diretores, até o cuidado com o acervo da biblioteca
demonstram o descaso para com a população.
Quanto aos seus diretores, destaca-se que, devido terem assumido a
direção da Biblioteca por acomodação política, praticamente, portaram-se
de forma inerte e, que é o pior, coniventes com o sistema. No que diz
respeito o acervo, nota-se um completo despreparo junto à sua
conservação e, principalmente, deslocamento. Ademais, destaca-se falta
de compromisso na construção de sua sede definitiva e, depois, a
Assembléia Legislativa.
Por essas exposições, pode-se afirmar que a Biblioteca Pública do
Amazonas, desde sua criação até seu deslocamento ao Palácio da Barroso,
apresentou uma nítida dicotomia entre sua teoria e prática, pois durante
os anos de 1870 a 1910, jamais desenvolveu verdadeiramente sua função
pública, haja vista que defendia seu uso para todo e qualquer usuário,
porém, através de seu Regimento Interno passou a delinear o perfil das
pessoas que poderiam usufruir tal espaço.
Vale relembrar que não foi somente a Biblioteca Publica do Amazonas
que foi criada para camuflar a realidade, pois a maior parte das bibliotecas
públicas criadas no Brasil, entre os anos de 1890 a 1930, apresentavam
uma infra-estrutura inadequada, devido a falta de verba regular impedia a
organização e manutenção das bibliotecas localizadas no Brasil.
Além do mais, segundo Eliany Alvarenga de Araújo (1994:675),
as bibliotecas deste período eram fruto do esforço isolado de alguns poucos, em geral, professores, que lutavam pela mesma objetivando com isto a manutenção de um instrumento educacional auxiliar para a escola. A respeito das finalidade das bibliotecas observa-se que sempre se relacionavam ao desenvolvimento e propagação da instrução escolar.
Assim, das quatro funções básicas da Biblioteca Pública –
educacional, cultural, informativa e recreativa –, tais instituições
desenvolviam apenas uma: a escolar. Ademais, por importarem os hábitos
e costumes da Europa, passaram a representar meros depósitos da
cultura estrangeira, tornando-se um elemento estranho a população em
geral, servindo apenas como um objeto de decoração.
Afirma-se isso, devido não só a grande maioria da população, na
época, não ter domínio do código da escrita, mas também pelo fato de
que o acervo dessas bibliotecas eram constituídos por obras vindas,
sobretudo, das editoras européias, estando, assim, nos idiomas inglês e
francês.
Desta forma, os usuários que utilizavam tais espaços,
minimamente, deveriam ter conhecimento dessas línguas, levando-nos a
concluir que somente os membros da classe economicamente privilegiada
tinham as condições para freqüentar e utilizar tais locais.
É interessante salientar que, a transformação das bibliotecas
públicas brasileiras em depósitos da cultura européia é justificada pelo
fato de que durante esse período, a ausência de uma indústria livreira no
país impedia o desenvolvimento dessas bibliotecas.
No caso da realidade manauara, porém, a aquisição de obras
estrangeiras fazia parte de um contexto, cuja finalidade, ligava-se à busca
do modo de vida europeu, pois para a população da época, quanto mais
se atingia a imagem européia, mais a província apresentaria o aspecto
moderno.
Apesar de Braga (1988) defender a versão de que a criação da
Sala de Leitura e, posteriormente, a Biblioteca Pública Provincial foi
resultante da reivindicação da população, na verdade, sabe-se que tal
reivindicação visava apenas a satisfação do público letrado, cuja formação
fora obtida no Velho Mundo onde, ao regressarem, visavam continuar
mantendo os hábitos e costumes adquirido durante o período que viveram
na Europa.
Paralelo a isso, devido o fato de que a existência de uma biblioteca
pública elevava a cidade ao estado de intelectualidade, a sociedade
manauara se viu na obrigatoriedade de criar uma Sala de Leitura na
cidade, haja vista que esta já era uma constate nos grandes centros
culturais europeus, bem como proporcionaria a Manaus o status de uma
cidade moderna.
Contudo, para que a Biblioteca Pública do Amazonas se tornasse de
fato pública, desde sua criação deveria ter se voltado para a comunidade
em geral, ou seja, para os alfabetizados, aos que se encontravam em
processo de alfabetização e, principalmente, aos não-alfabetizados.
Nos dias atuais, a dicotonomia entre a teoria e a prática continua
sendo uma realidade para a Biblioteca Pública do Amazonas. Assim, com o
intuito de se tornar realmente pública, tal biblioteca deve deixar e ser um
órgão alienador, passando a ser libertador, conforme destaca Vergueiro
(1990).
Porém, para que tal transformação ocorra, faz-se necessário que a
Biblioteca Pública do Amazonas descentralize suas atividades, pois em
decorrência de sua localização – parte central da cidade –, de sua
arquitetura – quanto mais pomposa melhor –, bem como de sua estrutura
– voltada apenas para as pessoas alfabetizadas ou em processo de
alfabetização –, faz com que a classe marginalizada – analfabetos,
deficientes, crianças, idosos, doentes e outros – sintam-se
desprivilegiados em fazer uso de tal espaço, pois não se vêem preparados
para freqüentar um ambiente que mais se parece com um templo
sagrado.
Assim, é fundamental que as atividades da Biblioteca Pública do
Amazonas se voltem para a classe desfavorecida, haja vista que desta
forma, proporcionará, pela prática da leitura, a transformação de todos os
indivíduos que se chegarem a ela.
A partir disso, sugere-se que a Biblioteca Pública do Amazonas, com
o intuito de atender, sobretudo, a classe marginalizada, desenvolva suas
atividades de forma centralizada e descentralizada, haja vista que as
pessoas que se localizam em bairros distantes ou de difícil acesso
dificilmente se sentirão motivadas e atraídas para freqüentar esse espaço.
Além do mais, existem pessoas que, por motivos diversos, encontram-se
também, impossibilitadas de se deslocarem para a referida biblioteca,
como é o caso dos doentes, idosos, crianças, presidiários, deficientes e
outros.
No que diz respeito às atividades centralizadas, destaca-se que a
Coordenação da Biblioteca Pública do Amazonas poderia desenvolver as
seguintes atividades: Exposições das mais variadas espécies, Oficinas de
arte para desenvolver a criatividade do público; Hora do conto, a fim de
despertar o hábito de leitura, sobretudo, das crianças e adolescentes,
devido representarem os futuro cidadãos; Gibiteca e Brinquedoteca para
atrair os públicos infantil e juvenil; Videoteca, abordando não só o aspecto
recreativo, mas também informativo; Curso de teatro com o intuito de
proporcionar a auto-estima, criatividade e raciocínio dos jovens e
crianças; Programação cultural e periodicamente e Serviço de referência
orientado para atender as mais variadas necessidades dos usuários, não
se voltando, assim, apenas para a pesquisa escolar.
Devido tais atividades não conseguirem atingir a população em
geral, devido questões financeiras ou, mesmo, motivadoras, grande parte
das pessoas continuarão não indo à biblioteca. Por esta razão, é
fundamental que a Biblioteca Pública do Amazonas vá ao encontro dessas
pessoas, pois deverá, acima de tudo, proporcionar a disseminação da
informação a todo e qualquer individuo que dela precisar.
Para isso, pode-se utilizar, como estratégia, os seguintes
instrumentos: Carro-biblioteca, sendo que este corresponde a um
automóvel, preferencialmente, ônibus ou Kombi, onde no lugar de bancos,
passa-se a ocupar algumas estantes contendo livros.
Com esse carro, a Biblioteca Pública do Amazonas poderá levar a
informação para as pessoas que se encontram nos bairros mais afastados,
proporcionando desta forma, a transformação desses indivíduos.
Faz-se necessário, também, que a Biblioteca Pública do Amazonas
se preocupe com as pessoas que moram nas comunidades ribeirinhas,
haja vista a população que se encontra as margens dos rios faz parte do
público-alvo que esta deve atingir. Por esta razão, nada mais justo que a
Biblioteca Pública, através do Barco-Biblioteca, visite as comunidades
existentes nessas áreas.
A Caixa-Estante é considerada como sendo um outro instrumento
que deve ser utilizado pela Biblioteca Pública do Amazonas, pois com ela,
as pessoas que se encontram impossibilitadas de se deslocar para o
prédio da biblioteca, devido estarem em hospitais, asilos, presídios,
orfanatos, e outros locais, poderão, também, receber a informação.
Face ao exposto, observa-se que a Biblioteca Pública do
Amazonas continua não desempenhando seu papel público, pois não se
preocupa com a população em geral, dando espaço apenas para o público
letrado ou que se encontra em processo de educação, assumindo, desta
forma, unicamente a função escolar.
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