Download - MODULO 2 Redação Oficial
-
8/18/2019 MODULO 2 Redação Oficial
1/79
0
Curso
rgumentação e Redação
Oficial de Peças e Pareceres
Módulo II
Redação Oficial
Renato Cabral Rezende
Ormezinda Maria Ribeiro
-
8/18/2019 MODULO 2 Redação Oficial
2/79
1Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres
O que é mais difícil não é
escrever muito; é dizer
tudo, escrevendo pouco.
Júlio Dantas
-
8/18/2019 MODULO 2 Redação Oficial
3/79
2Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres
Organização e diagramação: Ormezinda Maria RibeiroRevisão: Eni Abadia Batista
-
8/18/2019 MODULO 2 Redação Oficial
4/79
-
8/18/2019 MODULO 2 Redação Oficial
5/79
4Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres
Sumário
APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................. 5
2 REDAÇÃO OFICIAL .................................................................................................................... 8
2.1 CARACTERÍSTICAS DA REDAÇÃO OFICIAL ................................................................... 8
2.1.1 USO DA VARIEDADE PADRÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA ..................................................... 13 2.1.2 ALGUNS DEFEITOS RECORRENTES EM TEXTOS ......................................................... ............. 19 Ambiguidade....................................................................................................................................... 20 Pleonasmo e tautologia .................................................................................................................. 21 Cacófato ............................................................................................................................................... 23
2.1.3 IMPESSOALIDADE ....................................................................................................................... 25 2.1.4 CLAREZA E CONCISÃO ................................................................................................................ 28
2.2 DOIS GÊNEROS ESPECÍFICOS DE CIRCULAÇÃO JURÍDICA: PEÇAS EPARECERES ........................................................................................................................................ 39
2.2.1 A PEÇA EXORDIAL ...................................................................................................................... 40 2.2.2 O PARECER JURÍDICO ............................................................................................................... 53
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................................... 74
REFERÊNCIAS ................................................................................................................................... 77
SUGESTÕES DE LEITURA COMPLEMENTAR ......................................................................... 78
-
8/18/2019 MODULO 2 Redação Oficial
6/79
5Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres
APRESENTAÇÃO
Caros e caras cursistas:
É com satisfação que iniciamos o último módulo de nosso
curso. Estudaremos nesta etapa final alguns aspectos do tema Redação
Oficial.
Sim, deve-se falar em Redação Oficial como um "tema"
porque ele abrange diversos aspectos de produção textual para fins de
comunicação na/da Administração Pública. É dessa forma que se pode
definir, de forma abrangente, Redação Oficial: como o Estado demanda
como devem ser realizadas suas comunicações e seus atos normativos
escritos.
Inúmeros são os manuais sobre este tema. O principal delesé o Manual de Redação da Presidência da República. Todas as referências
e citações que fizermos a ele neste módulo do curso serão com base no
arquivo que está disponível neste endereço:
Por meio de uma rápida busca na internet você verá
encontrará outros; todos eles são, de alguma forma, inspirados ou
espelhados no Manual da Presidência da República. Se você observar o
sumário de mais de um manual de redação oficial, perceberá que são
assaz semelhantes em seu conteúdo. Em sua grande maioria, eles
.
http://www4.planalto.gov.br/centrodeestudos/assuntos/manual-de-redacao-da-presidencia-da-republica/manual-de-redacao.pdfhttp://www4.planalto.gov.br/centrodeestudos/assuntos/manual-de-redacao-da-presidencia-da-republica/manual-de-redacao.pdfhttp://www4.planalto.gov.br/centrodeestudos/assuntos/manual-de-redacao-da-presidencia-da-republica/manual-de-redacao.pdfhttp://www4.planalto.gov.br/centrodeestudos/assuntos/manual-de-redacao-da-presidencia-da-republica/manual-de-redacao.pdf
-
8/18/2019 MODULO 2 Redação Oficial
7/79
6Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres
abordam as características basilares da Redação Oficial 1)
impessoalidade; 2) uso do padrão culto da língua; 3) concisão e clareza;
4) formalidade e 5) uniformidade e, a partir delas, focam aspectos
normativos ortográficos e gramaticais (como aspectos de acentuação eortografia correta segundo a norma padrão da língua, pronomes de
tratamento, etc.), aspectos textual-normativos micro, isto é, referentes
a aspectos sintáticos da estrutura interna de textos oficiais, como formas
de saudação ou de conclusão de comunicações oficiais, por exemplo; ou
ainda, aspectos textual-normativos macro de gêneros textuais oficiais,
referentes à estrutura global um de gêneros textuais como estrutura da
ata, estrutura do ofício, da circular, estrutura do parecer, dorequerimento, dentre tantos outros.
Este módulo não é um Manual de Redação Oficial. Nem
pretende sê-lo.
Temos outra proposta para você, caro/a cursista. Ela tem três
dimensões:
1) vamos refletir sobre o porquê de a linguagem da redação
oficial ter as cinco características que tem;
2) vamos relacioná-la com a linguagem jurídica, discutindo,
desta última, o vocabulário, a sintaxe e a redação jurídica;
3) vamos discutir dois gêneros textuais específicos do
domínio discursivo jurídico, a saber, a peça e o parecer jurídico.
Nosso objetivo com esta proposta é o de fazer com que você
compreenda a natureza histórico social da redação oficial e entenda,
como corolário, seus aspectos linguísticos "micro" (vocabulário e sintaxe)
e "macro" (a estrutura composicional dos gêneros selecionados para
-
8/18/2019 MODULO 2 Redação Oficial
8/79
7Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres
estudo). Para isso, trabalharemos com textos diversificados, bem como
com o modelo da peça exordial e do parecer jurídico, que nos auxiliarão
na realização de nossa tarefa.
Esperamos que vocês possam aproveitar ao máximo este
Módulo!
Vamos juntos? Bons estudos!
-
8/18/2019 MODULO 2 Redação Oficial
9/79
8Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres
MÓDULO II
2 REDAÇÃO OFICIAL
2.1 Características da Redação Oficial
ara entendermos os fundamentos da Redação
Oficial, é necessário valermo-nos de algumas
ideias do sociólogo Pierre Bourdieu (1930-2002)presentes em seu ensaio A economia das trocas linguísticas: o que falar
quer dizer. Nele, Bourdieu realiza uma vigorosa reflexão sobre como a
linguagem extrapola sua condição de "instrumento de comunicação" ao
se constituir também como recurso de representação e de distinção
social: um tipo de capital simbólico.
Bourdieu afirma que a emergência e consolidação dos
diferentes Estados nacionais no ocidente só foi possível por meio da
dominação cultural e simbólica de grupos dominantes sobre os demais,
dominados. Essa dominação teve na unificação linguística do Estado um
de seus esteios mais pujantes e decisivos para o forjamento de um
sentido de unidade cultural destes Estados-Nação. Afinal, como
argumentam as ideologias nacionalistas, "um povo, uma língua e um
território" são os três pilares de um Estado-Nacional que se crê forte esoberano.
É claro que todos/as nós percebemos, porém, que falar em
unidade cultural e linguística como um fenômeno monolítico em um país
tão grande e diversificado como o Brasil é um construto teórico.
Percebemos os diferentes sotaques segundo os diferentes estados e
regiões do país. Percebemos as diferenças de vocabulário entre os
cearenses e os gaúchos (a chamada variação linguística diatópica, ou
P
-
8/18/2019 MODULO 2 Redação Oficial
10/79
9Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres
dialetal), e, mesmo, entre gaúchos de classe alta de Porto Alegre, e os
menos economicamente favorecidos, que vivem nas periferias dessa
mesma cidade (a chamada variação linguística diastrática, ou de classe
social). Escrevemos um e-mail ou uma mensagem no celular bastanteinformal para uma amiga e, nos minutos seguintes, como servidoras e
servidores do Estado, escrevemos um e-mail formal para uma servidora
da Procuradoria Regional Federal em Sergipe, redigimos uma peça, lemos
algum parecer de um/a Advogado/a da União.
Em suma: em meio a tanta diversidade linguística em seu
interior, o Estado, deve adotar uma variedade linguística para comunicar-
se com absolutamente todo o conjunto de seus/suas os/as cidadãos/ãs.
E essa variedade é a variedade padrão. Somos instados pela
Administração Pública a empregar a variedade culta da língua, também
chamada de variedade padrão ou norma padrão da língua.
Vamos entender melhor essa ideia de diversidade
linguística?
Toda essa diversidade linguística inerente a uma
democracia como a nossa, diversidade esta com que o Estado contribui,
Bourdieu afirma que ela forma um mercado linguístico.
Essa metáfora não é gratuita. Grosso modo, um mercado não
é senão uma teia de relações entre agentes econômicos que estão em
cooperação ou, mais comumente, em competição. Consumidores
empenham-se em comprar buscando sempre a melhor relação custo
benefício para si. Empresas, públicas ou privadas, em competição entre
si, empenham-se em vender seus produtos/serviços também com vistas
a obter vantagens para si. Agências reguladoras dizem se um produto
pode ou não a estar no mercado: certificam se ele pode ou não circular
-
8/18/2019 MODULO 2 Redação Oficial
11/79
10Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres
como bem (ou serviço) de uso consumo a partir de um modelo,
estabelecido por meio de regras, do que seja um produto "adequado".
Você já deve estar se perguntando: "ótimo, e o que Redação
Oficial tem a ver com tudo isso?"
Conforme dito acima, para Bourdieu a
linguagem é mais do que instrumento de
comunicação, é também recurso de representação e
de distinção social: um tipo de capital simbólico,
sendo a norma padrão o recurso linguístico de maior
prestígio social, mais capital simbólico. Quanto mais
um agente possuir desse capital, mais chances terá
de transitar junto aos diferentes agentes deste
mercado.
No mercado linguístico brasileiro,
rappers escrevem poesia em português popular
urbano; repentistas do sertão nordestino podem
cantar sua poesia oral em português popular rural,como no poema "Ai se sêsse", do poeta Zé da Luz
(1902-1965) no banner ao lado:
Além disso, há romancistas que
escrevem na variedade padrão da língua e há os que,
por outro lado, não: buscam justamente, por meio
deste recurso, representar os sujeitos desprovidos
de capital cultural e simbólico. Há editoras que
editam livros da área jurídica, plenos de jargão
técnico, há aquelas que editam livros na variedade
padrão da língua, compreensível para o sujeito
comum de formação em nível médio e superior.
Ai se sêsse
Zé da Luz
Se um dia nois se gostasse
Se um dia nois se queresse
Se nois dois se empareasse
Se juntim nois dois vivesse
Se juntim nois dois morasse
Se juntim nois dois drumisse
Se juntim nois dois morresse
Se pro céu nois assubisse
Mas porém acontecesse de
São Pedro não abrisse
a porta do céu e fosse te dizer
qualquer tulice
E se eu me arriminasse
E tu cum eu insistisse pra que
eu me arresolvesse
E a minha faca puxasse
E o bucho do céu furasse
Tarvês que nois dois ficasse
Tarvês que nois dois caisse
E o céu furado arriasse e as
virge toda fugisse
-
8/18/2019 MODULO 2 Redação Oficial
12/79
11Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres
Neste sentido, o Estado é um agente regulador do mercado
linguístico. Ele se vale de diferentes instrumentos para determinar uma
espécie de "padrão de qualidade" de como deve ser a comunicação - e a
própria representação que se faz da língua - dele com outros agentes;desses agentes com ele e, claro, em seu interior. Ou seja: o Estado é um
dos agentes normatizadores do que seja a norma padrão da língua
portuguesa no Brasil.
E é exatamente aí que se situa a Redação Oficial. Ela encarna
um conjunto de expectativas - de representações - do que é um bom
escrever na variedade padrão da língua portuguesa, expectativas essas
que são expressas como recomendações, sendo o Manual de Redação da
Presidência da República, sem sombra de dúvida, um desses
instrumentos de regulação, de construção da norma padrão; um
instrumento de normatização linguística, enfim, dentro do e para o
Estado.
Ora, então vejamos: se o Estado é um agente regulador do
mercado linguístico brasileiro, e se ele próprio, no Manual de Redação daPresidência da República, determina que "redação oficial é a maneira pela
qual o Poder Público redige atos normativos e comunicações" (p. 03), ela
deve ser a representação simbólica de atributos que o próprio Estado
requer para si vis à vis seu funcionamento administrativo:
Art. 37, CF/88. A administração pública direta e indireta de
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte (...)
É com base no Art. 37, CF/88, que a redação oficial é
pensada. Afinal, se a publicidade é um dos princípios da administração
pública, do ponto de vista linguístico as comunicações oficias e atos
normativos devem se manifestar por inteligibilidade na leitura: qualquer
cidadã/ão com formação média deve ser capaz de compreender um texto
-
8/18/2019 MODULO 2 Redação Oficial
13/79
12Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres
oficial; e qualquer comunicação oficial deve ser passível de uma única
interpretação. Vejamos o que o Manual de Redação da Presidência da
República diz acerca disso:
A transparência do sentido dos atos normativos, bem como suainteligibilidade, são requisitos do próprio Estado de Direito: é inaceitável
que um texto legal não seja entendido pelos cidadãos. A publicidade
implica, pois, necessariamente, clareza e concisão (p.03).
[...]
elas [as comunicações oficiais] devem sempre permitir uma única
interpretação e ser estritamente impessoais e uniformes, o que exigecerto nível de linguagem (idem).
Portanto, é com base no Art. 37, CF/88, que a redação oficial
é pensada em cinco características:
1) uso da variedade culta da língua;
2) impessoalidade;
3) clareza e concisão;
4) formalidade;
5) uniformidade.
Vamos ver cada uma delas separadamente?
-
8/18/2019 MODULO 2 Redação Oficial
14/79
13Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres
2.1.1 Uso da variedade padrão da língua portuguesa
Em meio a tanta diversidade linguística em seu interior, o Estado
deve adotar uma variedade linguística para comunicar-se com
absolutamente todo o conjunto de seus/suas os/as cidadãos/ãs. E essa
variedade é a norma padrão ou norma culta da língua portuguesa.
OK, mas do que ela é feita? Essa pergunta é
fundamental.
Maurizzio Gnerre, em seu livro Linguagem, escrita
e poder, explica, com base nas ideias de Bourdieu, que
a norma padrão é a fala e a escrita das classes economicamentedominantes de um determinado país e que se apoderaram,
historicamente, do poder de Estado. É a fala dos falantes pertencentes a
esta classe e, mais particularmente, os atores econômicos desta classe
que atuam no mercado linguístico, que configura a norma padrão ou
norma culta.
Sua origem está no que estes atores detentores de poder
econômico e poder político consideram como exemplos de linguagem de
excelência. E, não raro, escritores contemporâneos à formação de um
dado Estado nacional são adotados como modelos dessa excelência. E
escritores do presente também. Não é à toa que gramáticas da língua
portuguesa - e é assim que, em larga medida, se aprende na escola -
sempre se valem de fragmentos textuais de José de Alencar, Machado de
Assis ou Graciliano Ramos para exemplificar a norma culta da língua.
-
8/18/2019 MODULO 2 Redação Oficial
15/79
14Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres
Mas hoje não falamos e escrevemos mais exatamente
como se falava e se escrevia no século XIX, não é mesmo?
Exatamente! As línguas estão em constante - mas
lenta - mudança. O próprio Manual de Redação da Presidência da
República reconhece isso quando afirma que
A redação oficial não é, portanto, necessariamenteárida e infensa à evolução da língua. É que suafinalidade básica – comunicar com impessoalidade emáxima clareza – impõe certos parâmetros ao uso quese faz da língua, de maneira diversa daquele daliteratura, do texto jornalístico, da correspondênciaparticular, etc. (p. 03).
Ora, mas que confuso! Como assim a norma padrão, ensinada nas
gramáticas e nas escolas, baseia-se nos grandes mestres da literatura
mas, paradoxalmente, "impõe certos parâmetros ao uso que se faz dalíngua, de maneira diversa daquele da literatura, do texto jornalístico"?
Essa norma padrão da língua portuguesa existe realmente?
Essa última pergunta é importantíssima. Quem a responde muito
bem é o linguista Marcos Bagno em seu livro O português são dois.
A norma padrão é caracterizada por um embate entre norma
padrão enquanto língua ideal X norma padrão enquanto ideal de língua.A norma enquanto língua ideal é aquela que alguns agentes do
mercado linguístico praticam: textos instrucionais em livros didáticos e
técnicos, editoriais de jornais de grande circulação nacional, redações de
concursos públicos e... na redação oficial. Conforme já dissemos,
Estado também constrói uma representação simbólica da língua, sendo
ela a redação oficial. A norma padrão enquanto língua ideal é reconhecida
-
8/18/2019 MODULO 2 Redação Oficial
16/79
15Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres
nestas práticas de linguagem. Já a norma padrão enquanto ideal de
língua é aquela presente nas gramáticas normativas.
Seja em sua materialização como "língua ideal", seja como "ideal
de língua", a norma padrão - ou norma culta - consiste sempre em umarepresentação simbólica do que essas classes dominantes entendem
como o "bem falar" e o "bem escrever". Por isso é que dominar a norma
padrão é, como dissemos mais acima, um tipo de capital simbólico.
Estudar a redação oficial é, portanto, dominar uma face da norma
padrão enquanto prática social: a redação oficial.
E o que o vocabulário, a frase e a redação jurídica têm a ver com tudo isso?
Embora no universo jurídico não necessariamente se
adote regras da redação oficial, elas poderão de ser
grande valor para os operadores do direito. Queremos
incentivar você, caro/a cursista, a compreendê-las e a
utilizá-las em sua prática profissional.
Não basta saber escrever com correção e dominar as regras
gramaticais. Para uma comunicação eficiente, é preciso observar um
conjunto de fatores: o vocabulário, sua adequação à audiência, levando
em conta o nível intelectual, o conhecimento e a faixa etária e interesses
do auditório ao qual se destina a nossa mensagem, como vimos no
Módulo I, quando tratamos especificamente do tema argumentação; o
objetivo da comunicação, as circunstâncias e o canal usado são também
importantes. Em se tratando de comunicação oral, a postura e
gesticulação e o tom de voz interferem bastante no processo, pois a
forma como passamos a mensagem também determina sua
compreensão. Os recursos extralinguísticos, como o tom de voz, a
expressão corporal, o olhar, o ritmo, são muitos importantes na
comunicação oral e concorrem para o entendimento de uma mensagem.
-
8/18/2019 MODULO 2 Redação Oficial
17/79
16Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres
Assim, quando temos que transferir a comunicação oral para textos
escritos, devemos levar em conta que os recursos linguísticos devem ser
bem escolhidos, para que substituam esses elementos sem prejuízo da
mensagem. Diferentemente da comunicação oral, quando temos outrosmecanismos para expressar nosso pensamento com clareza e contamos
com a possibilidade de corrigir em tempo a nossa fala, no texto escrito,
principalmente porque fica registrado, o cuidado com a correção deve ser
redobrado.
Entretanto, a questão da correção não se reduz aos erros de
ortografia, mas diz respeito também à adequação ou inadequação dos
usos à situação de comunicação ou ao gênero que está sendo empregado.
Há outras impropriedades: frases ou períodos truncados, violações de
relações discursivas ao se produzir um texto: a hipercorreção, a falsa
análise do enunciado, a falsa analogia, a impropriedade lexical, a falta de
paralelismo sintático ou semântico, dentre outros fatores.
Por exemplo, o uso de uma variedade popular num gênero em que
se exige a norma culta, como o texto jurídico, ou o uso de gírias e termoschulos numa situação de comunicação em que sua utilização causa
estranheza e constrangimento. É preciso considerar que há realizações
linguísticas que, por descuido ou por falsa análise realizada pelo falante,
contrariam as regras de organização do sistema linguístico ou não
cumprem adequadamente a função de comunicar. Esses fatos são
sentidos principalmente na escrita.
Para que nosso texto seja bem compreendido, é importante
observar a ortografia das palavras para evitar incoerências. Isso é o mais
evidente e superficial em um texto, mas a preocupação com a correção
deve ir além das questões lexicais e ortográficas. Uma troca de letra pode
provocar ambiguidade ou alterar o teor da mensagem. Assim como a
pontuação incorreta. Não se trata apenas de uma questão formal, implica
mudança no sentido do que se quer dizer.
-
8/18/2019 MODULO 2 Redação Oficial
18/79
17Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres
Como vocês sabem, a Procuração é um
instrumento de mandato. É um gênero textual
em que um outorgante outorga um mandato
escrito, no qual ele expressa poderesconferidos a um/a procurador/a.
É preciso, então, retomarmos o que foi
tratado no Módulo I, quando foi dedicada uma
parte à consideração sobre o Auditório. Para que
a comunicação seja clara, é importante saber qual
é o nosso auditório. Se particular, ou universal,
assim como é necessário adequar a linguagem ao
gênero empregado. Há expressões que são
usadas apenas por um grupo de pessoas, por um
auditório particular, pois toda ciência ou profissão
tem sua linguagem técnica que lhe é peculiar e
que deve ser empregada em seu contexto. E no
Direito isso é bastante evidente. Todavia, quando
se trata de se comunicar com um auditório
universal, ainda que não se descuide dos termos
ou jargões próprios da área, o operador do direito
não pode se esquecer do princípio básico da
comunicação que é se fazer entender por um
público mais amplo que os seus pares.
Obviamente a linguagem técnica jurídica
deverá será empregada sempre que for preciso,
nos gêneros específicos requeridos, mas há que
ser evitado o uso excessivo de um léxico ou
sintaxe particular que tem se caracterizado por
uma linguagem indecifrável aos demais falantes
– simplicidade:
embora obediente à língua
culta, seu texto deve ser
acessível, com o mínimo de
erudição possível (diga
“também” ou “igualmente”
em vez de “outrossim”);
– clareza:
fuja da ambiguidade, do
“duplo sentido”, da ironia,
do conteúdo implícito; seja
explícito em suas ideias;
– objetividade:
os juízes e tribunais têm
pouco tempo; por isso, em
textos jurídicos, “sendo
completo, quanto menor,
melhor”;
– correção gramatical:
é ideal a ser perseguido por
toda a vida; o único modo de
se aprender gramática é,
infelizmente, estudando-a; a
leitura de escritores clássicos
ajuda, mas não substitui oestudo da gramática.
Extraído de: Orientações mínimas
para redação de peças forenses- Texto
produzido pelos procuradores da
República Gustavo Torres Soares e
Bruno Costa Magalhães
Um bom texto é simples,
claro, objetivo e
gramaticalmente correto:
-
8/18/2019 MODULO 2 Redação Oficial
19/79
18Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres
da Língua Portuguesa, o que se convencionou
chamar de juridiquês, posto que extrapola ao uso
comedido e necessário de termos técnicos.
Uma crítica que se apresenta na sociedadeé que a prática do juridiquês não é restrita
somente a magistrados, como acreditam
algumas pessoas, mas também a muitos
advogados, procuradores, promotores, e demais
profissionais do Direito.
Certamente, um texto jurídico não podeprescindir de sua linguagem técnica, mas o
redator terá que observar a função social da
linguagem nesta área, pois muito mais do que
produzir peças, aquele que redige este e outros
gêneros jurídicos tem uma obrigação ética e
social para a qual precisa sempre levar em conta
o outro, o destinatário de sua mensagem, em umauditório particular e tendo em vista um auditório
universal, a sociedade de forma mais ampla que
quer saber quais direitos estão sendo defendidos
ou violados.
Logo, o operador do Direito precisará ter,
além da linguagem especifica de seu campo
profissional, uma competência comunicativa tal
que o ajude a dosar o seu texto, de forma que a
linguagem técnica não se sobreponha à clareza
do que está sendo dito.
Portanto, a redação precisa ser expressa
por meio de um léxico adequado e uma sintaxe
clara, bem como os demais níveis de investigação da linguagem
Entre os vários tipos de
lexicalização possíveis
das modalizações,
podem-se citar:
•Advérbios: talvez,
felizmente, infelizmente,
lamentavelmente,
necessariamente,
certamente,
provavelmente,
possivelmente, etc.
•Predicados cristalizados: é
certo, é preciso, é
necessário, é provável, é
obrigatório, etc.
•Performativos explícitos:
eu ordeno, eu proíbo, eu
permito, eu quero, etc.
•Verbos auxiliares: poder,
dever, ter que/de, haver de
precisar de, etc.
•Verbos de atitude
proposicional: eu creio, eu
sei, eu duvido, eu acho, etc.
•Modos (e tempos) verbais:
indicativo, subjuntivo,
imperativo
Modalizadores
-
8/18/2019 MODULO 2 Redação Oficial
20/79
19Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres
(semântica e pragmática) são ferramentas valorosas no exercício do
Direito no seu sentido lato e estrito.
Assim, tão importante quanto conhecer as qualidades de um texto,
que devem ser intrínsecas às características da redação oficial, as quaismencionamos na seção 2.1 deste Módulo - e as quais veremos mais
detalhadamente -, é salutar conhecer também, para saber evitá-los, os
principais defeitos de um texto. Trataremos disso panoramicamente na
seguinte seção.
2.1.2 Alguns defeitos recorrentes em textos
Na seção anterior já tratamos das características de um texto oficial
e das qualidades que devem ser cultivadas para que o texto seja legível
e efetivo tanto para um auditório particular, quanto para um auditóriouniversal. Vamos agora tratar de
alguns defeitos que empobrecem
o texto e que, portanto, devem
ser evitados.
Devido à nossa formação
de um ensino arraigado na
concepção de que aprender
gramática garante a escrita de
um bom texto e que não
promoveu a compreensão de que
um bom texto traz em si uma
gramática implícita, mas é a leitura e o exercício da escrita que fazem o
bom escritor, em geral, ao escrever nos preocupamos muito com a
O ensino gramatical que se sistematiza com base
nessa concepção de linguagem e enformado no
aspecto prescritivo da língua tem na análise
sintática e morfológica sua estratégia mais
tradicional, enfatizando o ensino danomenclatura, que nada acrescenta ao aluno no
exercício de elaboração das ideias e muito pouco
auxilia na formatação do pensamento por meio da
língua.
(RIBEIRO, 2001, p. 152).
-
8/18/2019 MODULO 2 Redação Oficial
21/79
20Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres
ortografia ou com outros aspectos formais do texto. Porque fomos
ensinados em uma escola que se preocupou demasiado com o ensino da
gramática tradicional e com a estruturação da língua sem fornecer meios
para tal, resultando em uma ênfase exagerada no ensino danomenclatura, não raras vezes nos deparamos, ao escrever, com
preocupações do seguinte tipo: esta palavra se escreve com s ou com
ss? E esta é com x ou com ch?
Essas questões são fáceis de se resolver, se tivermos
o cuidado de consultar um dicionário de fazer uma revisãocuidados de nosso texto, mas nem todos se preocupam
com questões mais centrais da escrita e que efetivamente
truncam a compreensão do texto, ainda que superficialmente pareça
correto. Vejamos algumas delas a seguir.
Ambiguidade
A ambiguidade é, segundo Dubois et al. (1993, p. 45), a
propriedade de certas frases realizadas apresentarem vários sentidos e
pode advir do fato de que a frase tenha uma estrutura sintática suscetível
de várias interpretações, ou decorrer do léxico quando certos morfemas
apresentarem vários sentidos (RIBEIRO, 2006, p.94).
Assim posto, pode parecer por demais simplista, se tomarmos essa
definição literalmente, sem atentarmos para outros aspectos
concernentes à própria natureza do discurso, da especificidade do gênero
e seus objetivos. A ambiguidade em um texto nem sempre é uma
característica negativa. Para os humoristas ela é a coluna dorsal de seu
texto, para os jornalistas e publicitários pode ser uma excelente
coadjuvante se bem empregada. Mas em uma comunicação oficial
-
8/18/2019 MODULO 2 Redação Oficial
22/79
21Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres
dificilmente ela será apropriada. Uma construção ambígua em uma peça
jurídica pode trazer sérios danos às partes envolvidas no processo.
Em poucas palavras, podemos afirmar que ocorre ambiguidade
quando a frase apresenta mais de um sentido. Ocorre geralmente por mápontuação ou mau emprego de palavras ou expressões. É considerada
um defeito da prosa, porque atenta contra a clareza. Veja alguns
exemplos de frases ambíguas:
O guarda deteve o suspeito em sua casa.
João saiu com sua irmã.
Nesses exemplos, a ambiguidade decorre do fato de o possessivo
sua poder estar se referindo a mais de um elemento (casa do guarda ou do
suspeito? Irmã de João ou do interlocutor?). Portanto, é necessário muito
cuidado no emprego desse pronome. Você pode evitar a ambiguidade substituindo-
o por dele(s) ou dela(s).
Pleonasmo e tautologia
O pleonasmo (ou redundância) consiste na repetição desnecessária
de um conceito ou de um termo. O termo vem de pleos, em grego, que
quer dizer "abundante" e significa, em síntese, uma repetição, no falar
ou escrever, de ideias ou palavras que tenham o mesmo sentido. Assim
como a ambiguidade, há situações em que pode ser benéfico à
linguagem, tendo em vista o auditório, os objetivos e o gênero
empregado. Há situações em que pode adornar a linguagem, quando se
busca dar força à expressão, nos casos de pleonasmos de estilo.
A expressão "Vi com meus próprios olhos" pode dar ênfase a um
texto, todavia, quando se diz " Descer para baixo" fica evidente o
-
8/18/2019 MODULO 2 Redação Oficial
23/79
22Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres
empobrecimento do conteúdo, pois a repetição em nada acrescenta,
constituindo-se em um vício da linguagem que deve ser evitado.
O mesmo pode-se afirmar da tautologia, termo que vem de tautos,
em grego, e que exprime a ideia de idêntico. Há tautologias que nem
sempre são identificadas, por desconhecimento do real significado das
palavras, ou porque as expressões já estão de certo modo enraizadas no
uso que fica difícil percebê-las e eliminá-las.
Vejam os seguintes exemplos:
A brisa matinal da manhã enchia-o de frescor e de ânimo. Ele teve uma hemorragia de sangue e não resistiu.
O arquiteto definiu o acabamento final com detalhes
minuciosos, observando metades iguais para cada lado do
terreno, porque planejou antecipadamente.
Porque fez um empréstimo temporário, obteve um
superávit positivo.
Percebam que as informações destacadas são redundantes no texto,
sendo, portanto, desnecessárias, uma vez que nada acrescentam ao
leitor. Observem também o texto1 a seguir e faça o exercício de, em uma
segunda leitura, ignorar as palavras e expressões em destaque:
1 Texto retirado de RIBEIRO, Ormezinda Maria. Ri melhor quem ri na escola: quando o texto humorístico é
também pedagógico. In: VIEIRA, Sérgio Darci. (org.). Dicas para lecionar. Uberaba: Publi, 2006. p.71-98.
Depois de fazer planos e projetos para o futuro a viúva de um falecido, General do
Exército, considerando o panorama geral, decidiu encarar de frente sua nova vida e, em
seu habitat natural, criou novos empregos e conviveu junto com um vereador municipal,
gastando o erário público. O que a fez exultar de alegria. Mas isso são pequenos detalhes...
-
8/18/2019 MODULO 2 Redação Oficial
24/79
23Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres
Não podemos desprezar, no entanto, os textos de bons autores que
costumam recorrer ao pleonasmo com função estilística, a fim de tornar
a mensagem mais expressiva. Nesse caso, assim como o uso deliberadoe espirituoso da ambiguidade ou do cacófato para os publicitários e
humoristas, o pleonasmo não é considerado um defeito. Veja o exemplo
a seguir:
Cacófato
Etimologicamente, a palavra cacófato tem origem em duas palavras
gregas: kako + phóne, e significa algo que soa mal. A cacofonia (ou
cacófato) consiste num mau som obtido pela união das sílabas finais de
uma palavra com as iniciais de uma outra, como nos exemplos a seguir:
Uma mão lava a outra.
Estas ideias, como as concebo, são irrealizáveis. “Alma minha gentil, que te partiste.” (Camões).
Veja a seguir uma crônica escrita com uma lista de cacófatos.
Observe que o seu emprego não foi inadvertido, mas deliberado, tendo
em vista que a autora fez uso consciente de uma possibilidade linguística
que em outros gêneros, como os que circulam no meio acadêmico ou no
jurídico, poderia ser inadequada. A autora considerou os objetivospedagógicos e o público alvo, um auditório universal, os possíveis e
diversos leitores de um jornal. Assim, apresentou de forma cômica uma
reflexão sobre um tema relevante para a escrita de textos formais.
Por fim, além desses defeitos há que se evitar também as frases
feitas, os chavões, pois empobrecem muito o estilo.
Vejamos alguns exemplos de chavões:
-
8/18/2019 MODULO 2 Redação Oficial
25/79
-
8/18/2019 MODULO 2 Redação Oficial
26/79
25Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres
2.1.3 Impessoalidade
Conforme determina o Manual de Redação da Presidência da
República, na redação oficial, quem comunica, isto é, quem é o emissor,
é o Serviço Público; o que se comunica é um "assunto relativo às
atribuições do órgão que comunica" (p. 03); o destinatário pode ser o
conjunto dos cidadãos sobre os quais o Estado exerce sua soberania
ou outro órgão público.
Como teorizou o sociólogo Marx Weber, a burocracia estatal deveser dotada de racionalidade e precisão para seu bom funcionamento. Atos
administrativos devem ser produzidos pela função servidor público
(ocupada, obviamente, por uma pessoa física), em nome do Serviço
Público (pessoa jurídica sob diferentes formas: autarquia, departamento,
etc.), e não pelo indivíduo pessoa física com suas idiossincrasias. É neste
sentido que a impessoalidade deve necessariamente implicar em
ausência de impressões individuais tanto por parte da emissão
quanto por parte da recepção.
Não custa lembrar ainda - embora isso seja bastante evidente - que
não é apenas o Poder Público que se comunica somente consigo mesmo
ou com o conjunto da sociedade, pessoas físicas e pessoas jurídicas.
Outras pessoas de direito, sejam elas pessoas físicas ou jurídicas, de
direito privado, também podem comunicar-se com o a AdministraçãoDireta ou Indireta; ou podem provocar o Estado-Juiz, enfim, podem
dirigir-se ao Poder Público. E, para isso, devem também valer-se dos
princípios da redação oficial. Afinal, presume-se que o Estado,
enquanto um dos agentes reguladores do mercado linguístico, só aceita
ser comunicado com base em procedimentos textual-discursivos iguais
ou semelhantes aos de que se vale em suas comunicações.
-
8/18/2019 MODULO 2 Redação Oficial
27/79
26Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres
Vamos ver um exemplo disso no gênero procuração?
Como vocês todos/as sabem, a procuração é um
instrumento de mandato. É um gênero textual em que
um outorgante outorga um mandato escrito, no qual eleexpressa poderes conferidos a um/a procurador/a.
Vejamos um exemplo de Procuração de Pessoa
Jurídica a seguir2. Após sua leitura, vamos discutir a
impessoalidade neste gênero jurídico:
2 Modelo disponível em: . Acesso em: 27 dez. 2015.
-
8/18/2019 MODULO 2 Redação Oficial
28/79
27Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres
MINISTÉRIO DA FAZENDA
PROCURADORIA-GERAL DA FAZENDA NACIONAL
PROCURAÇÃO – PESSOA JURÍDICA
O outorgante: , também denominada , CNPJ nº _________________________, sita a
, telefone ___________, neste ato representada por
, constitui , sito a , CNPJ/CPF n°
_______________________, telefone _____________, como seu bastante
procurador com o fito específico de representá-la junto à Procuradoria-Geral
da Fazenda Nacional, com poderes para requerer/solicitar , responsabilizando-se por todos os atos praticados no
cumprimento deste instrumento, cessando os efeitos deste instrumento
após um ano contado da data de outorga.
__________________,______de______________de______
(local) (data)
___________________________________________________
(assinatura do sócio com poderes de gerência no contrato social)
-
8/18/2019 MODULO 2 Redação Oficial
29/79
28Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres
2.1.4 Clareza e concisão
O princípio da concisão diz respeito a uma máxima: "transmitir
um máximo de informações com um mínimo de palavras", segundo o
Manual de Redação da Presidência da República (p.05). Não há como
dissociar a concisão da impessoalidade. Se a impessoalidade é o
preenchimento da função autor, a concisão se manifesta pela ausência
marcas textuais que super dimensionam a subjetividade enunciativa:
adjetivos em excesso, por exemplo.
Que tal pensar a concisão definindo o seu oposto, a
prolixidade?
A prolixidade consiste em utilizar mais palavras do que
o necessário para exprimir uma ideia, é o oposto da concisão.
Ser prolixo é ficar “enrolando”, “dando voltas”, sem ir direto ao assunto.
O uso de expressões que não acrescentam nada ao texto, servindo tão-
somente para prolongar o discurso, também pode torná-lo prolixo.
Tema: Os jovens têm algo a transmitir aos mais velhos?
“Não se pode afirmar com convicção e segurança. Paira uma gritante e há sempre umaperene dissensão entre as gerações. Os mais jovens, de seu lado, pensam e agem de um
jeito, por vezes bizarro, que chega a escandalizar os mais idosos... Por seu turno, os mais
velhos, tendem, na maioria das vezes, a crerem que os mais jovens, em alguns casos, nada
têm a transmitir aos mais velhos.”
-
8/18/2019 MODULO 2 Redação Oficial
30/79
29Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres
Observe que se tirarmos desse texto as palavras desnecessárias a
ideia contida nele poderia ser expressa em uma única frase.
Falar em concisão é falar em busca pela objetividadeinformacional. Esta, por sua vez, remete à ideia-irmã da concisão: a
clareza.
E o que é ser claro em redação oficial?
Que tal respondermos a essa pergunta também
definindo o contrário da clareza, a obscuridade? Assim poderá
ser mais fácil compreendê-la em redação oficial.
Vários motivos podem determinar a obscuridade de um texto: 1)
períodos excessivamente longos, 2) linguagem rebuscada, 3) má
pontuação. Todavia há que se refletir, com Perelman, (1996, p. 622)
mas quando se poderá dizer que um texto é claro ? Quandoé claro o sentido que o legislador antigo lhe deu? Quando osentido que se lhe dá é claro para o juiz? Quando os doissentidos claros coincidem?
“Há sempre uma divergência entre as gerações”
-
8/18/2019 MODULO 2 Redação Oficial
31/79
30Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres
Um texto obscuro exige muito mais esforço dos seus leitores e tira-
lhes a energia e o interesse pelo conteúdo, dificultando-lhes a
compreensão e a interlocução. Observe esse exemplo retirado de Fonseca
(2010)3
:
Você reparou que o exemplo acima não é escrito na ordem
direta? O autor antepõe um conjunto de informações que
servem como premissas para afirmar sua conclusão: "fica claro
que a embargante merece ver cancelada a exigência de ICMS
(...)".
A clareza, em redação oficial, é favorecida sintaticamente
pela ordem direta da frase, por meio da estrutura
3 Disponível em: .
Por tudo o que restou até aqui exposto, considerada a legislação tributária de regência, e
tendo em vista o atual panorama da jurisprudência aplicável à hipótese em foco, fica claro
que a embargante realmente merece ver inteiramente cancelada, nesses autos de embargos
contra execução fiscal, a insustentável e inaceitável exigência de ICMS objeto da
malsinada CDA aqui guerreada pela empresa".
Confesso: ao ler o parágrafo, fiquei tentado a pular para o próximo, mesmo
sem compreender muito bem o que havia sido dito. Resisti, reli e convido-lhes
agora a um exercício de clareza:
"Pelo que foi aqui exposto, considerada a legislação tributária, e tendo em vista a
jurisprudência aplicável à hipótese, fica claro que a embargante merece ver cancelada a
exigência de ICMS objeto da CDA aqui combatida".
Sujeito (da frase) + Verbo + Predicado
-
8/18/2019 MODULO 2 Redação Oficial
32/79
31Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres
Embora a segunda versão do exemplo acima já esteja clara, ela
poderia ser trabalhada na ordem direta, tornando-se mais clara ainda,
como se lê na proposta de reescrita abaixo:
Por todo o exposto [retomada de ideias anteriores], a embargante[SUJEITO] realmente merece ver [LOCUÇÃO VERBAL] inteiramente
cancelada, nestes autos de embargos contra a execução fiscal [adjunto
adverbial], a insustentável e inaceitável exigência de ICMS
[PREDICADO VERBAL]. Para tanto, [SUJEITO INDETERMINADO PELA
PARTICULA "se"]considerou-se [VERBO] a legislação tributária de
regência [PREDICADO VERBAL 1], bem como a atual jurisprudência sobre
o tema [PREDICADO VERBAL 2], que se aplica à hipótese em foco.
Reparou que o fragmento ganhou mais clareza? Primeiramente,
dividimo-lo em dois períodos simples, articulados pelo articulador textual
"para tanto". Dois períodos bem articulados dão mais ideia de clareza e
concisão do que apenas um longo período:
Período 1 - Por todo o exposto [retomada de ideias anteriores], a
embargante [SUJEITO] realmente merece ver [LOCUÇÃO VERBAL]
inteiramente cancelada, nestes autos de embargos contra a execução
fiscal [adjunto adverbial], a insustentável e inaceitável exigência de ICMS
[PREDICADO VERBAL].
Para tanto,
Período 2 - [SUJEITO INDETERMINADO PELA PARTICULA
"se"]considerou-se [VERBO] a legislação tributária de regência
[PREDICADO VERBAL 1], bem como a atual jurisprudência sobre o tema
[PREDICADO VERBAL 2], que se aplica à hipótese em foco.
Repare ainda na presença de outros elementos, como uma
expressão de retomada de ideias anteriores ("por todo o exposto"), ou
-
8/18/2019 MODULO 2 Redação Oficial
33/79
32Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres
um adjunto adverbial ("nestes autos de embargos contra a execução
fiscal"), que é um termo acessório da oração.
Vimos que o Estado, enquanto um dos agentes reguladores do
mercado linguístico brasileiro adota e impõe uma variedade linguística, achamada "norma padrão". A clareza está diretamente relacionada ao uso
da norma padrão da língua porque este agente regulador compreende
que o léxico e as regras da gramática normativa são (ou ao menos
deveriam ser) um mínimo comum ao conjunto dos falantes da língua,
sendo, portanto, capazes de assegurar compreensão por um número
mais abrangente possível de pessoas.
Atenção a um aspecto muito importante: o próprio Manual de
Redação da Presidência da República adverte para o fato de que a
redação oficial não é um "padrão oficial de linguagem" (p. 04) e tampouco
uma forma de linguagem burocrática - o "burocratês" - ou, no caso do
universo jurídico, o juridiquês.
Veja, no quadro a seguir, que consta no Manual de Redação da
Presidência da República tendo sido retirado da obra Para falar e escrever
melhor o português, de Adriano G. Kury, com exemplos de total falta de
clareza e concisão (objetividade). Se você ler cada coluna e linha em
qualquer sequência, perceberá que a frase formada não tem sentido, um
verdadeiro como não se deve escrever:
-
8/18/2019 MODULO 2 Redação Oficial
34/79
33Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres
COLUNA A COLUNAB
COLUNA C COLUNA D COLUNA E COLUNA F COLUNA G
1. A necessidade
emergente
se
caracterizapor
uma correta
relação entre
estrutura e
superestrutura
no interesse
primário dapopulação
substanciando e
vitalizando
numa ótica
preventiva e nãomais curativa
a transparência
de cada atodecisional
2. O quadro
normativo
Prefigura a superação de
cada obstáculo
e/ou resistência
passiva
sem prejudicar o
atual nível das
contribuições
não assumindo
nunca como
implícito
no contexto de um
sistema integrado
um
indispensável
salto de
qualidade
3. O critério
metodológico
reconduz a
sínteses
a pontual
correspondência
entre objetivos e
recursos
com critérios
não-dirigísticos,
potenciando e
incrementando
na medida em que
isso seja factível
o aplacamento
de
discrepâncias e
discrasias
existentes
4. O modelo de
desenvolvimento
incrementa o
redirecionamento
das linhas de
tendências em
ato
para além das
contradições e
dificuldades
iniciais
evidenciando e
explicitando
em termos de
eficácia e
eficiência
a adoção de
uma
metodologia
diferenciada
5. O novo tema
social
Propicia o incorporamento
das funções e a
descentralização
decisional
numa visão
orgânica e não
totalizante,
ativando e
implementando
a cavaleiro da
situação
contingente,
a redefinição de
uma nova figura
profissional
6. O método
participativo
propõe-se a o reconhecimento
da demanda nãosatisfeita
mediante
mecanismos daparticipação,
não omitindo ou
calando, masantes
particualrizando,
com as devidas e
imprescindíveisenfatizações,
o co-
envolvimentoativo de
operadores e
utentes
7. A atualização
potencial
Privilegia uma coligação
orgânica
interdisciplinar
para uma práxis
de trabalho de
grupo
segundo um
módulo de
interdependência
horizontal
recuperando, ou
antes
revalorizando
como sua
premissa
indispensável e
condicionante
uma congruente
flexibilidade de
estruturas.
-
8/18/2019 MODULO 2 Redação Oficial
35/79
34Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres
2.1.5 Formalidade e Uniformidade
A formalidade, em redação oficial, diz respeito à formalidade de
tratamento, tanto do ponto de vista da formatação dos textos, quanto do
ponto de vista material.
Do ponto de vista da formatação, a formalidade de tratamento diz
respeito à própria apresentação dos textos mediante o uso de papeis
uniformes e diagramação do texto a ser redigido. O Capítulo II, "As
comunicações oficiais" do Manual de Redação da Presidência da República
fornece todas as normas específicas para diferentes gêneros textuais decomunicação oficial. Neste sentido formalidade e uniformidade são
visualmente constituídas.
Do ponto de vista material, a formalidade abrange ainda tanto o
emprego adequado de pronomes de tratamento quanto, sobretudo, a
polidez e a civilidade (p. 04) no tratamento do tema de que trata a
comunicação. Para uma lista de emprego de pronomes de tratamento,
tal como determina o Manual de Redação da Presidência, ver a seção
2.1.3 Emprego dos Pronomes de Tratamento. Quanto à polidez e à
civilidade, devem constituir o próprio enfoque do tema abordado.
Vejamos o exemplo do gênero jurídico abaixo4:
EXCELENTÍSSIMO SR. (observar a autoridade indicada no art. 4o da
Portaria no 408/2009)
Ref. Representação Judicial.
4 Exemplo retirado do documento Representação de Agentes Públicos pela Advocacia-Geral da União.Disponível em: . Acesso em: 26 dez. 2015.
-
8/18/2019 MODULO 2 Redação Oficial
36/79
35Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres
(NOME COMPLETO DO INTERESSADO), (qualificação completa, cargo ou
função ocupada na época dos fatos, endereço, e-mail e telefone de
contato), solicita à V. Exa, com fundamento no art. 22 da Lei no
9.028/95, conforme a redação dada pela Medida Provisória no 2.216-37,de 31 de agosto de 2007, bem como seja procedida à sua representação
judicial nos autos da Ação de....... no ................, em trâmite no Juízo
na Vara ..............
Esclareço que....(fazer descrição pormenorizada sobre os fatos que
deram origem à ação).
Justifica-se o pedido de representação pelo fato de que os atosadministrativos foram praticados no exercício de suas atribuições
constitucionais, legais e regulamentares (relatar o interesse público
envolvido, quando possível).
Informa que não constituiu advogado particular nos autos da referida
ação.
Anexo à presente os seguintes documentos (anexar documentos
comprobatórios, cópia reprográfica do processo ou inquérito, se
possível).
Indico como testemunhas as seguintes pessoas/servidores (nome
completo, telefone ou endereço físico ou eletrônico para contato).
Brasília-DF,.....de ........................ de 201__.
__________(Assinatura)____________
(NOME DO INTERESSADO)
-
8/18/2019 MODULO 2 Redação Oficial
37/79
36Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres
O exemplo em questão é um pedido de representação judicial.
Observa-se formalidade no documento já de início, por meio do uso do
pronome de tratamento adequado para introduzir a função interlocutor:
Excelentíssimo sr ., seguido da função-sujeito a quem o pedido se destina,com referência específica à ocupação social deste sujeito. De antemão, a
formalidade material se faz notória, atuando na construção da
interlocução.
Além disso, a polidez e a civilidade no exemplo acima
manifestam-se por meio da objetividade informacional. A ausência de
advérbios ou locuções adverbiais como "respeitosamente" ou "por
gentileza" não tiram o caráter polido do documento justamente porque
ele é construído como um pedido direto ("solicito à V. Ex.", "esclareço",
"informa", "indica") mas que não impõe obrigação de conduta ao
interlocutor . Assim como no endereçamento não cabem adjetivos
pessoais, mas somente a designação respeitosa à função sujeito por meio
da denominação do cargo, também as ações que o demandante realiza
no texto em questão são ações que não configuram afronta a sua face.
Isso, em redação oficial, significa polidez e civilidade: do ponto
de vista formal, é necessário adotar os pronomes de tratamento
adequados e redigir o texto na variedade padrão da língua; do ponto de
vista material, basta ser objetivo em seus propósitos e fundamentado em
suas justificativas. Conforme afirmamos, formalidade e uniformidade
manifestam-se na própria abordagem do tema.
A linguagem oficial prima e é reconhecida pelo uso do estilo formal
da língua, principalmente quando se trata de documento escrito. A
seleção lexical acurada (propriedade terminológica do contexto), os
pronomes de tratamento adequados, enfim, as referências de
interlocução e as marcas linguísticas de modalização discursiva (respeito,
modalização, polidez, civilidade, eufemismos, apreços) fazem parte de
um estilo que zela pela formalidade, sempre com observância nas
-
8/18/2019 MODULO 2 Redação Oficial
38/79
37Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres
relações simétricas (entre mesmo nível institucional) e assimétricas
(entre níveis institucionais diferentes), preservando o caráter hierárquico
estabelecido.
Em redação oficial, essa característica diz respeito à formalidadede tratamento, tanto do ponto de vista formal dos textos, quanto do
ponto de vista material.
Esse aspecto refere-se às relações de simetria e de assimetria entre
os interlocutores da ação verbal, isto é, às relações entre papéis sociais
desempenhados pelos sujeitos discursivos tendo em vista a hierarquia da
função ocupada pelos sujeitos com os quais se correspondem no âmbitodas instituições, interna e externas. Nesse sentido, há de se preservar o
respeito pelo cargo, não sendo considerado, portanto, o grau de
relacionamento pessoal entre os interactantes e, sim, o de formalidade,
que vai depender do nível hierárquico: superior, inferior ou de mesmo
nível.
Em qualquer um desses níveis, outro aspecto está relacionado
intrinsecamente à formalidade, qual seja, a ética, entendida como padrão
de comportamento adequado em relação a quem se dirige. Assim sendo,
é esperado, pelas regras de formalidade, que um servidor se dirija ao seu
superior, seja esse imediato ou mediato, com a correta atitude formal
que a instituição exige. Da mesma forma, os superiores devem se dirigir
aos seus colaboradores com adequação de tratamento, não sendo
tolerados menosprezos ou descortesias, em nome de uma pseudo-
superioridade pessoal.
Esses dois aspectos formalidade e ética manifestam-se, no texto
escrito, entre outras escolhas, na seleção e emprego adequado dos
pronomes de tratamento, que implicam, por sua vez, a relação de
concordância verbal.
Já sabemos que o estilo das comunicações oficiais deve ser formal,
com todas as peculiaridades linguísticas que representa. Isso implica
-
8/18/2019 MODULO 2 Redação Oficial
39/79
38Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres
necessariamente o uso do nível padrão (culto)5 da língua, compatível com
esse contexto. A obrigatoriedade desse nível padrão, segundo o Manual da
Presidência da República (2002, p. 05) “decorre do fato de que ele está
acima das diferenças lexicais, morfológicas ou sintáticas regionais, dosmodismos vocabulares, das idiossincrasias linguísticas, permitindo, por
essa razão, que se atinja a pretendida compreensão por todos os
cidadãos.” Isso não significa dizer que esse nível apresenta pobreza de
expressão. A simplicidade desse nível tem a ver com a clareza e a concisão
linguística com que a informação deve ser tratada.
A formalidade e a padronização são qualidades que conduzem a
uma uniformidade nas comunicações oficiais, o que facilita e dá agilidade
ao fluxo dessas comunicações.
5 Embora não seja de domínio comum dos cidadãos, há distinção, do ponto de vista linguístico, entre oque é considerado culto e o que é padrão na língua. O uso culto diz respeito a domínios discursivos comoLiteratura dos autores que primam pela “riqueza” da eloquência e o da Retórica, sobretudo os de tradição
clássica. Já o nível padrão, como o próprio nome já sugere, refere-se a uma certa padronização da língua, emsituações formais de fala da escrita e prima por regras morfossintáticas e ortográficas que resgatam prescrições
de orientação da tradição gramatical greco-latina. Esse nível é o que está presente nos jornais, diários, revistasde grande circulação e também nos normativos institucionais.
-
8/18/2019 MODULO 2 Redação Oficial
40/79
39Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres
2.2 Dois gêneros específicos de circulação jurídica: peças e pareceres
Chegamos à última parte deste módulo.
Vamos agora estudar dois gêneros textuais muito correntes na
prática das/os operadoras/es do Direito, em especial, gêneros muito
comuns para vocês Advogados/as da União, Procuradores/as da Fazenda
Nacional, Procuradoras/es Federais, Procuradoras/es do Banco Central e
servidores/as da AGU. São eles: a peça vestibular (ou peça exordial)e o parecer jurídico.
Do porquê da escolha destes dois gêneros: como já apresentamos
- embora todos/as vocês já saibam disso perfeitamente bem -, segundo
o Art. 131 da Constituição Federal de 1988, a "Advocacia-Geral da União
é a instituição que, diretamente ou através de órgão vinculado,
representa a União, judicial e extrajudicialmente", cabendo-lhe, segundo
prevê a Lei Complementar 73/93, realizar consultoria e assessoramento
jurídico do Poder Executivo Federal seja junto ao STF (por meio do
Advogado-Geral da União), seja junto ao STJ em questões cíveis e
trabalhistas, seja via Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, no que diz
respeito à execução de dívida ativa de natureza tributária.
Assim, a AGU, porque interpreta a Constituição, leis e atos
normativos, tem a função, constitucionalmente prevista, de provocar oEstado-Juiz para sanar problemas de ordem jurídica e/ou garantir a
aplicação correta de leis. Por essas razões práticas é que os
gêneros peça e parecer jurídico são tão importantes para
nós neste curso.
Vamos discuti-los à luz do que estudamos sobre a
linguagem da redação oficial?
-
8/18/2019 MODULO 2 Redação Oficial
41/79
40Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres
2.2.1 A Peça Exordial
Uma ressalva rápida antes de iniciarmos nossa exposição sobre
este gênero: peça é um termo polissêmico no campo do Direito e podegerar equívocos.
Tomemos duas fontes de divulgação de conteúdo jurídico que
exemplificam isso. Segundo a página Direito Virtual , o termo peça é
definido como "qualquer escrito judicial, ou documento, que é introduzido
nos autos de um processo ou o instrui"6. Nem sempre "peça" é sinônimo
de "petição" e, particularmente, de "petição inicial" ou "peça exordial".
Empregaremos, no entanto, para os fins deste curso, peça como
sinônimo de peça exordial, ou seja, petição inicial . Segundo o Glossário
Jurídico na página do STF, petição "de forma geral, é um pedido escrito
dirigido ao Tribunal. A Petição Inicial é o pedido para que se comece um
processo. Outras petições podem ser apresentadas durante o processo
para requerer o que é de interesse ou de direito das partes. No Supremo,
a Petição (PET) é um processo"7.
Vejamos passo a passo a construção de uma peça exordial 8.
Segundo Damião e Henriques (1992, p. 193), a petição inicial é um
requerimento complexo. Ela concretiza o direito geral e abstrato de ação
com vistas a "formular ao juiz uma pretensão em face de um sujeito
passivo". Ela é o "ponta pé inicial" para a aplicação do direito ao caso
concreto. Neste sentido, ela deve atender aos princípios da redação
6 Disponível em: . Acesso em: 19 dez. 2015.7 Disponível em: < http://www.stf.jus.br/portal/glossario/verVerbete.asp?letra=A&id=195>. Acesso em: 19dez. 2015.8 A sequência expositiva e os exemplos presentes nesta subseção foram fortemente baseadas em Damião e
Henriques (1992) e no site JusScientiste, disponível em: e acessado em 03 jan. 2016.
-
8/18/2019 MODULO 2 Redação Oficial
42/79
41Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres
oficial: ser impessoal e formal na construção da interlocução; clara e
concisa na narração dos fatos e na citação dos direitos; deve ser uniforme
em termos de estrutura composicional, obedecendo às regras do gênero,
pois, contém, a um só tempo, um pedido e um requerimento (op. cit ). E,resta claro, deve ser redigida na norma padrão da língua.
Um dos aspectos de uniformidade da estrutura composicional da
peça exordial - o que reforça ser o Estado um agente regulador do
mercado linguístico nacional - é o fato de que o Art. 319 do Código de
Processo Civil 2015 (CPC/2015)9
, equivalente ao Art. 282 do CPC/1973,que prevê que a petição indique o juízo a que é dirigida:
1) Para processo na esfera federal:
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA ____
VARA ________DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE _________.
2) Para processo em esfera estadual:
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___
VARA _____ DA COMARCA DE ______.
3) Para Tribunais dos Estados:
9 Lei nº 13.105 de 16 de março de 2015.
-
8/18/2019 MODULO 2 Redação Oficial
43/79
42Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres
Tribunal Regional Federal – EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR
DESEMBARGADOR FEDERAL PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL
REGIONAL FEDERAL DA _____REGIÃO.
Como você pode observar, o cabeçalho, ou endereço da petição, é
um locus muito explícito da impessoalidade e da formalidade pois o
preenchimento dos espaços em branco varia segundo a competência do
juiz ou, em alguns casos, é determinada pela natureza da ação.
Identificado o endereçamento adequado, deve-se, ato contínuo,
realizar espaçamento de dez linhas e, tal como prevê o Art. 319 do
CPC/2015, em seguida realizar a qualificação do autor e do réu:
II – os nomes, os prenomes, o estado civil, a
existência de união estável, a profissão, o número
no cadastro de pessoas físicas ou no cadastro nacional
de pessoas jurídicas, o endereço eletrônico, o
domicílio e a residência do autor e do réu; (Lei
13.105/2015) 10
O que também reitera a impessoalidade, a formalidade e a
uniformidade da redação oficial deste gênero jurídico na medida em que
para a concepção do gênero petição inicial é preciso que haja a função
autor e a função réu que podem ser ocupadas por quaisquer sujeitos.
O próximo passo é a qualificação da peça exordial. Determina a
clareza e a concisão que ela seja nomeada objetivamente: MANDADO DE
10 Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm>. Acessoem: 05 jan. 2016.
-
8/18/2019 MODULO 2 Redação Oficial
44/79
43Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres
SEGURANÇA; APELAÇÃO em caixa alta. Há quem nomeie a petição inicial
na mesma linha imediatamente após a qualificação da parte proponente.
Por outro lado, há quem pule uma linha para escrever o nome da peça
exordial, em formatação centralizada, para, em seguida, pular mais umalinha e então seguir na redação da peça, agora apresentando a
qualificação da outra parte.
Vejamos um exemplo, redigido nestas duas formas, retirado da
prova prático-profissional de Direito Civil do VI Exame da OAB de 201211.
Como a prova é anterior ao novo Código de Processo Civil, de 2015,acrescentamos na resposta um aspecto do Art. 319, II, CPC/2015, a
saber, o endereço eletrônico:
PEÇA PRÁTICO-PROFISSIONAL
Joana teve um relacionamento esporádico com Flávio, do qual nasceu
Pedro. Durante cinco anos, o infante foi cuidado exclusivamente por sua
mãe e sua avó materna, nunc a tendo recebido visita ou auxílio financeiro
do genitor, mesmo tendo ele reconhecido a paternidade. Entretanto, no
final do mês de fevereiro do corrente ano, a mãe, a pedido do pai da
crianç a, levou o menor para a cidade de Belo Horizonte/MG para que
conhecesse os avós paternos, sobretudo o avô, que se encontra
acometido de neoplasia maligna.
Chegando à casa de Flávio, Joana foi agredida fisicamente por ele e
outros familiares, sendo expulsa do local sob ameaç a de morte e obrigada
a deixar seu filho Pedro com eles contra sua vontade. Em seguida, ainda
11 Disponível em: . Acesso em: 05 jan. 2016.
-
8/18/2019 MODULO 2 Redação Oficial
45/79
-
8/18/2019 MODULO 2 Redação Oficial
46/79
45Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres
CAUTELAR DE BUSCA E APREENSÃO C/C PEDIDO DE LIMINAR em
face de Flávio, nacionalidade _______, estado civil_____, profissão
____, portadora da carteira de identidade RG nº ____, inscrita no CPF/MF
sob o nº _____, residente na Rua _____, nº___, Bairro____, Cidade ________, Estado_____, pelas razões de fato e de direito que a seguir
serão devidamente expostas:
Ou então, a qualificação da peça exordial pode vir como segue:
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___ VARA
_____ DA COMARCA DE ______.
Joana, nacionalidade _______, estado civil_____, profissão ____,
portadora da carteira de identidade RG nº ____, inscrita no CPF/MF sob
o nº _____, com correio eletrônico ___________ residente na Rua
_____, nº___, Bairro____, Cidade ________, Estado_____, por meio de
seu advogado constituído que a esta subscreve, mandato em anexo, vem
respeitosamente diante de Vossa Excelência, com fundamento nos
artigos 801, 839 e 840 do Código de Processo Civil propor
MEDIDA CAUTELAR DE BUSCA E APREENSÃO C/C PEDIDO DE
LIMINAR
em face de Flávio, nacionalidade _______, estado civil_____, profissão
____, portadora da carteira de identidade RG nº ____, inscrita no CPF/MF
sob o nº _____, residente na Rua _____, nº___, Bairro____, Cidade
________, Estado_____, pelas razões de fato e de direito que a seguir
serão devidamente expostas:
-
8/18/2019 MODULO 2 Redação Oficial
47/79
46Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres
Atendendo à clareza e à concisão da redação oficial, à qual a
redação jurídica, no contexto da AGU, deve observar, o peticionário deve
ser bastante objetivo na etapa seguida da petição inicial, a narrativa dos
fatos. Esta parte é eminentemente narrativa; mas é também expositiva
e - por que não - argumentativa.
É ela o primeiro locus, por excelência, na peça exordial, da
construção de uma argumentação dentro dos parâmetros estabelecidos
pela redação oficial. Como prevê o Art. 330, § 1o CPC/2015, "Considera-
se inepta a petição inicial quando: (...) III - da narração dos fatos não
decorrer logicamente a conclusão"; ou seja, de nada adianta um bom
conhecimento do Direito se sua competência narrativo-expositiva não for
suficiente.
Atenção, então! Agora é que a dimensão retórica e argumentativa,
que vimos no Módulo I deste curso, entra em evidência!
Assim, após a qualificação da peça exordial, deve-se saltar duas
linhas e inscrever:
I. DOS FATOS: em negrito e caixa alta com numeração sequencial em
algarismo romano. Vejamos:
-
8/18/2019 MODULO 2 Redação Oficial
48/79
47Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___ VARA
_____ DA COMARCA DE ______.
Joana, nacionalidade _______, estado civil_____, profissão ____,
portadora da carteira de identidade RG nº ____, inscrita no CPF/MF sob
o nº _____, com correio eletrônico ___________ residente na Rua
_____, nº___, Bairro____, Cidade ________, Estado_____, por meio de
seu advogado constituído que a esta subscreve, mandato em anexo, vem
respeitosamente diante de Vossa Excelência, com fundamento nos
artigos 801, 839 e 840 do Código de Processo Civil propor MEDIDACAUTELAR DE BUSCA E APREENSÃO C/C PEDIDO DE LIMINAR em
face de Flávio, nacionalidade _______, estado civil_____, profissão
____, portadora da carteira de identidade RG nº ____, inscrita no CPF/MF
sob o nº _____, residente na Rua _____, nº___, Bairro____, Cidade
________, Estado_____, pelas razões de fato e de direito que a seguir
serão devidamente expostas:
(espaço de duas linhas)
Em seguida, deve-se saltar mais três linhas para a elaboração de
II. DO DIREITO, que, a exemplo de I. DOS FATOS, também deve estar
em negrito e em caixa alta com enumeração sequencial em algarismo
romano.
A boa articulação entre essas duas partes é de suma importância
também: é II. DO DIREITO que dá consistência aos fatos como fatos
jurídicos, alocando-os dentro do ordenamento jurídico.
-
8/18/2019 MODULO 2 Redação Oficial
49/79
48Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres
Este é o segundo locus, na peça exordial, da construção de uma
argumentação dentro dos parâmetros estabelecidos pela redação oficial,
afinal, é quando o requerente se lança a convencer- isto é,
racionalmente; não se trata de persuadir - o juízo legítimo das alegaçõespostas. Vejamos:
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___ VARA
_____ DA COMARCA DE ______.
Joana, nacionalidade _______, estado civil_____, profissão ____,
portadora da carteira de identidade RG nº ____, inscrita no CPF/MF sob
o nº _____, com correio eletrônico ___________ residente na Rua
_____, nº___, Bairro____, Cidade ________, Estado_____, por meio de
seu advogado constituído que a esta subscreve, mandato em anexo, vem
respeitosamente diante de Vossa Excelência, com fundamento nos
artigos 801, 839 e 840 do Código de Processo Civil propor MEDIDA
CAUTELAR DE BUSCA E APREENSÃO C/C PEDIDO DE LIMINAR em
face de Flávio, nacionalidade _______, estado civil_____, profissão
____, portadora da carteira de identidade RG nº ____, inscrita no CPF/MF
sob o nº _____, residente na Rua _____, nº___, Bairro____, Cidade
________, Estado_____, pelas razões de fato e de direito que a seguir
serão devidamente expostas:
(espaço de duas linhas)
I. DOS FATOS .
texto texto texto texto texto
-
8/18/2019 MODULO 2 Redação Oficial
50/79
49Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres
(espaço de três linhas)
II. DO DIREITO
texto texto texto texto
A narração (I. DOS FATOS) e a apresentação do direito (II. DO
DIREITO) são de extrema importância para a argumentatividade da
peça exordial. Se feitas de forma articulada e detalhada, em linguagem
direta e objetiva, elas ensejarão, na parte seguinte, DO PEDIDO,construção da tese de adesão inicial e a tese principal, a ser desenvolvida
assente em fatos e/ou presunções que a jurisprudência ou a doutrina
ensejam.
Resta claro então que os direitos requeridos devem ter fundamento
nos textos legais pertinentes. Resta claro sobretudo que ganha força o
pedido quando também embasado em jurisprudência e na
doutrina.
Você se lembra de todas as técnicas argumentativas
que estudamos no Módulo I deste curso, não?
Perguntamos a você então: na parte DO DIREITO,
na peça exordial, o uso de jurisprudência pelo requerente para sua
construção argumentativa pode ser compreendido como um argumento
de justiça? A resposta pode ser afirmativa, não é mesmo? Mas também
pode ser um argumento por analogia, não é mesmo?
Cabe ressaltar ainda que quanto mais atuais forem as
jurisprudências utilizadas para a argumentação, melhor.
-
8/18/2019 MODULO 2 Redação Oficial
51/79
50Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres
O ideal é que, conforme lembra o site JusScientiste, "cada direito
mencionado deve ser colocado em separado, por exemplo, se você vai
alegar três direitos (inexigibilidade do débito, responsabilidade civil e
dano moral), em uma ação declaratória de inexigibilidade de débito,coloque estes três divididos em tópicos, utilizando a numeração
alfabética":
II – DO DIREITO
a – DA INEXIGIBILIDADE DO DÉBITO
xxxxxxxxxxxxxxxxxxx
b – DA RESPONSABILIDADE CIVIL
xxxxxxxxxxxxxxx
c – DO DANO MORAL
Estamos chegando à conclusão da peça exordial. O último passo é
a realização DO PEDIDO que, também como os anteriores, deve estar
em caixa alta e negrito, numerado sequencialmente em algarismo
romano (III. DO PEDIDO). Após a apresentação do direito referente ao
caso concreto, o mais lógico a se fazer é requerer junto ao Poder
Judiciário a aplicação deste direito ao caso concreto.
Saltar três linhas, escrever III. DO PEDIDO, saltar duas linhas,
para, em seguida, escrever: "Diante do exposto, requer-se a Vossa
Excelência". Aqui devem vir, numerados em ordem alfabética, e em
minúsculo, cada pedido necessário para o pleno atendimento do direito,
como segue abaixo:
-
8/18/2019 MODULO 2 Redação Oficial
52/79
51Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___ VARA
_____ DA COMARCA DE ______.
Joana, nacionalidade _______, estado civil_____, profissão ____,
portadora da carteira de identidade RG nº ____, inscrita no CPF/MF sob
o nº _____, com correio eletrônico ___________ residente na Rua
_____, nº___, Bairro____, Cidade ________, Estado_____, por meio de
seu advogado constituído que a esta subscreve, mandato em anexo, vem
respeitosamente diante de Vossa Excelência, com fundamento nos
artigos 801, 839 e 840 do Código de Processo Civil propor MEDIDACAUTELAR DE BUSCA E APREENSÃO C/C PEDIDO DE LIMINAR em
face de Flávio, nacionalidade _______, estado civil_____, profissão
____, portadora da carteira de identidade RG nº ____, inscrita no CPF/MF
sob o nº _____, residente na Rua _____, nº___, Bairro____, Cidade
________, Estado_____, pelas razões de fato e de direito que a seguir
serão devidamente expostas:
(espaço de duas linhas)
I. DOS FATOS
texto texto texto texto texto
(espaço de três linhas)
II. DO DIREITO
texto texto texto texto
(espaço de três linhas)
-
8/18/2019 MODULO 2 Redação Oficial
53/79
52Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres
III. DO PEDIDO
(espaço de duas linhas)
Diante do exposto, requer-se a Vossa Excelência:
a) que seja concedida...
b) que seja recebido o presente agravo em seu efeito Suspensivo...
c) intimar o agravado, na pessoa de seu advogado, para que...
n)...
Não custa lembrar que todos os direitos mencionados devem
constar no pedido e que, evidentemente, os itens relacionados na seção
DO PEDIDO devem ter relação lógica e jurídica com o que havia sido
exposto na seção DO DIREITO.
Por fim, deve-se solicitar deferimento seguido do local, da data e
do nome do/a Adovogado/a, como segue:
Nestes termos, pede deferimento
Termos em que
Pede o Deferimento
Termos em que pede deferimento
Local ______ Data__________
Nome da/o Advogada/o
-
8/18/2019 MODULO 2 Redação Oficial
54/79
53Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres
2.2.2 O Parecer Jurídico
Agora que já analisamos em detalhe a peça exordial, não será
difícil compreender o gênero parecer jurídico. Vamos ser bem objetivospara compreender seus aspectos principais.
Para o estudo da redação oficial, guiamo-nos pelo Manual de
Redação da Presidência da República, não foi mesmo?
Para o estudo de pareceres jurídicos, vamos dialogar
com Manual de Boas Práticas Consultivas da Advocacia-
Geral da União. O arquivo12 está disponível na página da
AGU, no link a seguir:
A importância de discutirmos este gênero textual está no fato de
que é uma das prerrogativas de caráter consultivo da Consultoria-Geral
da União, órgão superior da AGU, apoiar o Advogado-Geral da União na
elaboração de pareceres para o assessoramento da Presidência da
República temas de seu interesse. É exatamente isso que o Art. 3º da
Portaria AGU nº 1.399/2009 fundamenta:
o parecer deverá ser elaborado como resultado de estudose análises jurídicas de natureza complexa que exijamaprofundamento, como também para responder consultasque exijam a demonstração do raciocínio jurídico e o seudesenvolvimento.
12 Acesso em 08 jan. 2016.
http://www.agu.gov.br/page/content/detail/id_conteudo/153380http://www.agu.gov.br/page/content/detail/id_conteudo/153380http://www.agu.gov.br/page/content/detail/id_conteudo/153380
-
8/18/2019 MODULO 2 Redação Oficial
55/79
54Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres
E o que é um Parecer Jurídico?
O Parecer Jurídico consiste em um "instrumento
jurídico pelo qual o Advogado consultivo presta
assessoramento técnico ao Poder Público. Por meio dele, o advogado
público desenvolve o raciocínio jurídico em torno de questionamentos
formulados pela área técnica da Administração" (TOLFO JÚNIOR, 2015)13.
Ele difere da cota e do despacho segundo o enunciado nº 01 do Manual
de Boas Práticas Consultivas da AGU. Da cota, porque ela é utilizada parainstrução dos autos em que não é necessária fundamentação jurídica - e
o parecer exige fundamentação jurídica. Do despacho, porque este
consiste na avaliação, seja ela aprovação ou reprovação (total ou parcial)
de peças jurídicas- e o parecer não tem caráter deliberativo, mas
consultivo.
O parecer jurídico é fundamental na/para a tomada de decisões,
por exemplo, para a implementação de políticas públicas; é fundamental,
inclusive, para o funcionamento da própria Administração Federal,
conforme se lê no site da AGU:
O parecer do Advogado-Geral da União quando aprovado peloPresidente da República e publicado juntamente com odespacho presidencial adquire caráter normativo e vincula todosos órgãos e entidades da Administração Federal, que ficamobrigados a lhe dar fiel cumprimento. O parecer não publicadono Diário Oficial da União obriga apenas as repartiçõesinteressadas e os órgãos jurídicos da AGU ou a esta vinculados,a partir do momento em que dele tenham ciência14.
13 Disponível em: < http://www.conteudojuridico.com.br/artigo,orientacoes-para-elaboracao-de-parecer-
juridico-em-concursos-publicos,53457.html >. Acesso em: 08 jan. 2016.14 Disponível em: . Acesso em: 07 jan. 2016.
-
8/18/2019 MODULO 2 Redação Oficial
56/79
55Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres
Como é a estrutura de um Parecer Jurídico emitido
pela AGU?
Esquematicamente, o parecer não tem estrutura de difícil
compreensão, como neste modelo geral apresentado por Tolfo Júnior
(2015)15:
Já Silva Neto e Guimarães (2012), em sua obra Manual do Parecer
Jurídico - teoria e prática propõem que o parecer seja dividido em:
15 idem.
CABEÇALHO
· Numeração (Parecer nº ____);
· Referência (Processo Administrativo nº ___);
· Assunto;
· Interessado;
· Ementa.
DESENVOLVIMENTO
· Relatório;
· Fundamentos Jurídicos;
· Conclusão.
DESFECHO
· Expressão conclusiva;
· Local e data;
· Assinatura/Cargo.
-
8/18/2019 MODULO 2 Redação Oficial
57/79
56Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres
1) preâmbulo - ou cabeçalho;
2) ementa;
3) relatório;
4) fundamentação;
5) conclusão.
Reparou que há uma pequena diferença no entendimento do que
seja a estrutura geral do parecer destes autores? Para Tolfo Júnior
(2015), a ementa compreende uma parte do cabeçalho. Para Silva Netoe Guimarães (2012) a ementa é uma parte específica. Além disso, para
Tolfo Júnior (2015), relatório, fundamentos jurídicos e conclusão
compõem uma seção mais geral: o desenvolvimento. Já para Silva Neto
e Guimarães (2012), relatório, fundamentação (jurídica) e conclusão são
seções específicas e independentes.
Fazemos isso apenas para você vislumbrar, caro cursista, de que
nos basearemos mais em Silva Neto e Guimarães (2012) para o passo-
a-passo a seguir sobre como elaborar um pare