Download - MONOGRAFIA - Mábio Silvan
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO
UNIDADE ACADÊMICA DE GARANHUNS
CURSO DE GRADUAÇÃO EM ZOOTECNIA
MONOGRAFIA
Parâmetros comportamentais e desempenho econômico-financeiro
na equideocultura
MÁBIO SILVAN JOSÉ DA SILVA
Garanhuns – PE
Junho de 2010
MÁBIO SILVAN JOSÉ DA SILVA
PARÂMETROS COMPORTAMENTAIS E DESEMPENHO ECONÔMICO-
FINANCEIRO NA EQUIDEOCULTURA
Monografia apresentada à Comissão de
Estágios da UFRPE/UAG como parte dos
requisitos do Estágio Curricular Supervisionado
Obrigatório.
Área de conhecimento: Equideocultura
Orientador: Jorge Eduardo C. Lucena
Prof., M.Sc. – UFRPE/UAG
Supervisor: Ilana de Oliveira Batista
Médica Veterinária, M.Sc.
Garanhuns – PE
Junho de 2010
MONOGRAFIA
Parâmetros comportamentais e desempenho econômico-financeiro na
equideocultura
MÁBIO SILVAN JOSÉ DA SILVA
Monografia aprovada em ___ / ___ / ______ .
_____________________________________________
Gustavo Ferrer Carneiro
Médico Veterinário, D.Sc. – UFRPE/UAG
_____________________________________________
Jalmir Pinheiro de Souza Júnior
Administrador, Bel. – UFRPE/UAG
_____________________________________________
Jorge Eduardo Cavalcante Lucena
Prof., M.Sc. – UFRPE/UAG
Orientador
Garanhuns – PE
Junho de 2010
IDENTIFICAÇÃO
Nome do Aluno: Mábio Silvan José da Silva
Curso: Zootecnia
Tipo de estágio: Curricular Obrigatório
Área de conhecimento: Equideocultura
Instituição: Fazenda Canaã
Endereço: BR 232, Km 64 – Gravatá-PE
Setor: Clínica de reprodução eqüína
Supervisor(a): Ilana de Oliveira Batista
Função: Proprietária e Médica Veterinária da fazenda
Formação profissional: Médica Veterinária
Professor orientador: Jorge Eduardo Cavalcante Lucena
Período de realização: 01/01/2010 a 28/02/2010
Total de horas: 330 horas
Aos meus pais, José e Marta, e aos meus
irmãos, por terem acreditado e investido em
minha educação durante todos esses anos de
minha vida, dedico.
AGRADECIMENTOS
A Deus, por ter me guiado em cada momento da minha vida rumo a essa
vitória, proporcionando fé e perseverança em minha vida;
Aos meus pais, José e Marta, pela deposição de confiança em minha vida
acadêmica e pelos esforços por eles enfrentados para a consolidação dos meus
objetivos;
Aos meus irmãos, Marcilvan e Mabiavan, pelo apoio e incentivo concedido
nos momentos de dúvidas e incertezas;
Aos meus padrinhos, Manoel e Ilton, por terem dado o primeiro passo por
mim para a inicialização da minha vida acadêmica;
Aos meus amigos, que nas horas difíceis estavam por perto para me confortar
e exaltar o ânimo;
À Universidade Federal Rural de Pernambuco – Unidade Acadêmica de
Garanhuns, pela oportunidade e apoio concedidos durante todo o curso,
concretizando a realização deste;
A todos os meus professores, especialmente ao meu orientador, Jorge
Lucena, por se fazerem presentes nos momentos de dificuldades e nos transmitir
seus conhecimentos, favorecendo a formação do meu eu profissional e pessoal;
A Fazenda Canaã, representada pela Drª Ilana, e a todos os funcionários, por
ter proporcionado o desenvolvimento deste trabalho e pelas instruções e conselhos
fornecidos;
A graduanda em Medicina Veterinária, Márcia Moraes e sua família, por toda
a atenção e auxílio prestados durante o período do estágio, se configurando como
mais que simples amigos;
A todos os meus amigos da turma de zootecnia 2005/02, pela longa jornada
enfrentada com muita perseverança e solidariedade;
Enfim, a todos aqueles que contribuíram direta ou indiretamente para a
realização desse trabalho;
MUITO OBRIGADO!
“Deus não quer que façamos as
coisas extraordinárias. Ele quer
apenas que façamos as coisas
simples extraordinariamente bem.”
Charles Gore
LISTA DE FIGURAS
Página
Figura 1 – Estrutura física da Fazenda Canaã. Visão geral (a); Piquete de
exercício (b); Baias individuais (c) e Baias coletivas (d) ......................... 19
Figura 2 – Visualização dos folículos ovarianos, o esquerdo medindo 29,6mm
de diâmetro ............................................................................................. 34
Figura 3 – Anatomia do aparelho reprodutivo da égua ............................................ 47
Figura 4 - Vista lateral do trato genital da égua ........................................................ 48
Figura 5 – Égua demonstrando comportamento de cio ............................................ 54
Figura 6 - Comportamento Dormindo Deitado (minutos/hora em 24 horas) de
éguas no Estro e no Diestro ..................................................................... 63
Figura 7 - Comportamento Dormindo em Decúbito Total (minutos/hora em
24 horas) de éguas no Estro e no Diestro ............................................... 64
Figura 8 - Comportamento Dormindo em Pé (minutos/hora em 24 horas) de
éguas no Estro e no Diestro ..................................................................... 65
Figura 9 – Comportamento alimentar (minutos/hora) de éguas no Estro e no Diestro
durante um período de 24 horas ........................................................... 66
Figura 10 – Comportamento médio de Ócio (minutos/hora) de éguas no Estro e no
Diestro durante um período de 24 horas ............................................... 66
Figura 11 – Éguas no piquete de exercício .............................................................. 67
Figura 12 – Égua externando o vício de escavar a baia .......................................... 68
Página
Figura 13 - Brasil: evolução do faturamento anual do mercado de medicamentos
veterinários, 1997 a 2004, em milhões de reais e em milhões de
dólares .................................................................................................... 80
LISTA DE TABELAS
Página
Tabela 1 - Composição química do concentrado (DuRancho) ................................. 31
Tabela 2 - Quantidade de micção (MIC), defecação (DEF), consumo de água (H2O),
em vezes por dia, quantidade de vícios (VIC) apresentados em éguas no
Estro e no Diestro .................................................................................. 61
Tabela 3 - Tempo gasto (%) no período de 24 horas conforme os parâmetros
analisados em éguas no Estro e no Diestro ....................................... 62
Tabela 4 - Movimentação econômica entre atividades de relevância para o
desenvolvimento do país .................................................................... 77
Tabela 5 - Resumo das contribuições dos diversos segmentos do Complexo
Agronegócio Cavalo no Brasil ............................................................. 78
Tabela 6 – Análise vertical da clínica de reprodução eqüina no primeiro ano de
funcionamento ....................................................................................... 85
Tabela 7 – Análise vertical da clínica de reprodução eqüina no segundo ano de
funcionamento .................................................................................... 87
Tabela 8 – Análise vertical da clínica de reprodução eqüina no terceiro ano de funcionamento ..................................................................................... 89
Tabela 9 – Análise horizontal da clínica de reprodução eqüina durante os períodos avaliados ............................................................................................... 90
Tabela 10 - Indicadores de resultados econômico-financeiros dos custos de produção por período analisado ....................................................... 91
SUMÁRIO
Página
Capítulo 1
ESTÁGIO SUPERVISIONADO OBRIGATÓRIO ........................................ 14
RESUMO ........................................................................................................ 14
ABSTRACT ................................................................................................... 15
1.1. INTRODUÇÃO ....................................................................................... 16
1.2. CARACTERIZAÇÃO DA EMPRESA .............................................. 18
1.3. REVISÃO DE LITERATURA ............................................................... 20
1.3.1. ANATOMIA E FISIOLOGIA DO SISTEMA DIGESTÓRIO DE EQÜINOS ........................................................................................ 20
1.3.2. EXIGÊNCIA NUTRICIONAL DE ÉGUAS EM PERÍODO REPRODUTIVO .............................................................................. 24
1.3.2.1. Energia .............................................................................. 26
1.3.2.2. Proteínas ........................................................................... 28
1.4. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS .................................................... 30
1.4.1. MANEJO NUTRICIONAL ................................................................ 30
1.4.2. MANEJO REPRODUTIVO............................................................... 32
1.5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................... 37
1.6. REFERÊNCIAS ..................................................................................... 38
Capítulo 2
CARACTERÍSTICAS COMPORTAMENTAIS DE ÉGUAS ESTABULADAS EM PERÍODOS REPRODUTIVOS DE ESTRO E DIESTRO ........................................................................................... 40
RESUMO ........................................................................................................ 40
ABSTRACT ................................................................................................... 41
Página
2.1. INTRODUÇÃO ...................................................................................... 42
2.2. REVISÃO DE LITERATURA ............................................................ 44
2.2.1. ANATOMIA E FISIOLOGIA REPRODUTIVA DAS ÉGUAS ......... 44
2.2.2. A REPRODUÇÃO EQÜINA ............................................................ 48
2.2.2.1. Ciclo Estral ........................................................................ 49
2.2.2.2. Comportamento Reprodutivo .......................................... 53
2.2.2.3. Biotécnicas na Reprodução Eqüina ................................ 55
2.2.2.3.1. Inseminação Artificial ........................................... 56
2.2.2.3.2. Transferência de Embriões ................................. 57
2.3. MATERIAL E MÉTODOS .................................................................. 59
2.4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ....................................................... 61
2.5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................... 69
2.6. REFERÊNCIAS SSS..S...SSSSSSSSSSSSSSSS.S.. 70
Capítulo 3
ANÁLISE ECONÔMICO-FINANCEIRA DE UMA CLÍNICA DE
REPRODUÇÃO LOCALIZADA NO MUNICÍPIO DE GRAVATÁ - PE:
ILANA REPRODUÇÃO EQÜINA .................................................................... 72
RESUMO ........................................................................................................ 72
ABSTRACT ................................................................................................... 73
3.1. INTRODUÇÃO ...................................................................................... 74
3.2. REVISÃO DE LITERATURA ............................................................ 76
3.2.1. DEFININDO AGRONEGÓCIO ........................................................ 76
3.2.2. O AGRONEGÔCIO DA EQÜIDEOCULTURA NACIONAL ............ 76
3.2.3. O MERCADO DA REPRODUÇÃO EQÜINA .................................. 79
Página
3.3 MATERIAL E MÉTODOS .................................................................... 81
3.4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ....................................................... 85
3.5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................... 93
3.6. REFERÊNCIAS SSS.........SSSSSSSSSSSS.S.SSS.S.. 94
APÊNDICE A ......................................................................................................... 95
APÊNDICE B ....................................................................................................... 105
14
Capítulo 1
ESTÁGIO SUPERVISIONADO OBRIGATÓRIO
RESUMO
O Estágio Supervisionado Obrigatório (ESO) foi realizado na clínica de
reprodução: Ilana Reprodução Eqüina (Fazenda Canaã – Gravatá/PE) no período de
04 de janeiro a 28 de fevereiro de 2010. Durante esse período, desenvolveu-se o
acompanhamento das atividades diárias da clínica, abrangendo o manejo
nutricional, reprodutivo e o estudo comportamental de algumas éguas doadoras,
bem como a coleta e análise das anotações de escrituração zootécnica. O manejo
nutricional é feito de acordo com as necessidades das éguas no período fisiológico
no qual se encontram. Especial atenção é dada ao manejo reprodutivo, já que a
clínica trabalha com a oferta de serviços biotecnológicos, como a inseminação
artificial (IA) e a transferência de embriões (TE), o que torna indispensável um
frequente controle e acompanhamento das éguas a fim de se obter bons índices de
fertilização e confirmação da implantação embrionária. Quanto ao estudo
comportamental, observou-se que o comportamento das éguas diferiu
estatisticamente, para os parâmetros observados. Na clínica não há um rígido
controle das anotações de escrituração zootécnica, não sendo possível a realização
de uma eficiente análise econômica dessa. Esses dois últimos tópicos serão
discutidos mais detalhadamente nos próximos capítulos.
Palavras – chave: Clínica de reprodução, manejo nutricional, manejo reprodutivo.
15
MANDATORY SUPERVISED INTERNSHIP
ABSTRACT
The Mandatory Supervised Internship (ESO) was performed at the clinic of
reproduction: Ilana Reprodução Eqüina (Fazenda Canaã – Gravatá/PE) from
January 4 to February 28, 2010. During this period, was developed to monitor daily
activities of the clinic, covering the nutrition management, reproductive and
behavioral study of some donor mares, as well as collection and analysis of the notes
bookkeeping animal sciences. Nutritional management is done according to the
needs of mares during the physiological period. Special attention is given to
reproductive management, as the clinic works with offerings biotechnology services,
such as artificial insemination (AI) and embryo transfer (ET), which makes an
indispensable frequent control and monitoring of the mares in order to obtain good
fertilization rates and pregnancy confirmation after embryo implantation. As for the
behavioral study, we observed that the behavior of mares statistically differed, for the
parameters observed. At the clinic there is not a strict control of zootechnical
bookkeeping entries, making it impossible to carry out an effective economic
analysis. These last two topics will be discussed in more detail in subsequent
chapters.
Key - words: Reproduction clinic, nutritional management, reproductive
management.
16
1.1. INTRODUÇÃO
Desde a domesticação da espécie eqüina até a atualidade, desenvolveu-se
uma grande aproximação entre o homem e os cavalos, devido a grande elegância,
versatilidade e desempenho destes últimos, promovendo também a admiração dos
homens por esta fascinante espécie.
Os animais domesticados do gênero Equus (cavalos, pôneis, jumento e
mulas), por serem animais versáteis, vêm sendo utilizados pelo o homem para os
mais diversos propósitos, incluindo dentre eles a competição, recreação,
entretenimento, transporte, trabalho no meio rural e urbano, e atualmente, na
equoterapia. Algumas espécies de animais do gênero Equus, não domesticados são
mantidos em parques zoológicos ou são focos de tentativas de conservação da
espécie (NRC, 2007).
Na criação de cavalos, diferentemente da maioria das outras espécies de
produção, o produto final está baseado na qualidade dos indivíduos e não na
necessidade quantitativa do grupo. Contudo, um dos conceitos básicos de
melhoramento genético animal afirma que, quanto maior o número de indivíduos,
maior também será a capacidade de seleção. Com isso a maior eficiência do manejo
reprodutivo passa a ser fundamental para o sucesso da atividade (LUCENA, 2008).
No Brasil, que possui o 4º maior rebanho mundial, a importância econômica e
social da equideocultura é traduzida por uma movimentação financeira superior a R$
7,5 bilhões anualmente e pela geração de ocupação direta para cerca de 640.000
pessoas, estimando-se a geração de 3,2 milhões de empregos diretos e indiretos
(LIMA et al., 2006)
Com as mudanças ambientais impostas aos eqüinos, percebe-se a
necessidade do desenvolvimento de artifícios que visem promover uma melhor
ambiência a esses animais, bem como a seleção de animais mais adaptados as
condições que lhe são impostas. Isso promoveu um implemento na evolução das
técnicas de manejo empregadas pelos criatórios.
De acordo com Lucena (2008) com o grande avanço obtido nas últimas
décadas na área de reprodução animal, a utilização de técnicas modernas, constitui-
se em parte fundamental no trabalho de melhoramento dos rebanhos. Biotécnicas
como a inseminação artificial e a transferência de embriões, tem contribuído na
17
utilização de indivíduos inaptos a reproduzir naturalmente e também no aumento do
número de filhos gerados por garanhões e éguas a cada ano.
Assim, com o advento das biotécnicas da reprodução, os trabalhos de
seleção e melhoramento genético têm avançado muito com o consequente ganho
morfológico e funcional expressos em vários exemplares eqüinos.
Segundo Frape (2007) o sucesso das biotécnicas reprodutivas está
intimamente associado a uma correta prática de manejo nutricional, de forma que
animais que apresentam bom escore de condição corporal (ECC) apresentam uma
maior eficiência reprodutiva.
Objetivou-se com este trabalho fazer o acompanhamento das atividades
desenvolvidas diariamente na clínica de reprodução eqüina (Fazenda Canaã),
enfatizando o manejo nutricional e reprodutivo adotado, bem como por em prática os
conhecimentos adquiridos durante o curso.
18
1.2. CARACTERIZAÇÃO DA EMPRESA
O Estágio Supervisionado Obrigatório (ESO) foi desenvolvido no período de
04 de janeiro a 28 de fevereiro de 2010, na clínica de reprodução: Ilana Reprodução
Eqüina (Fazenda Canaã), localizada na BR 232, km 64, Gravatá – PE, estando o
município de Gravatá nas coordenadas 08º12’13’’ Sul e 35º33’54’’ Oeste de latitude
e longitude, respectivamente e a uma altitude de 447 metros (CPTEC, 2010). Com
uma extensão territorial de 513 km2 e uma população de 74.584 habitantes (IBGE,
2008), o município está localizado na mesorregião do agreste pernambucano e na
microrregião do vale do Ipojuca. Segundo dados do IBGE (2005) Gravatá apresenta
um Produto Interno Bruto (PIB) igual a R$245.201 mil e um PIB per capta de
R$3.458,00. Tendo um índice de desenvolvimento humano (IDH) de 0,654 (PNUD,
2000).
A clínica de reprodução funciona em uma fazenda arrendada (Fazenda
Canaã), e apresenta como estruturas físicas (Figura 1): casa sede, casa de
funcionário, depósito de ração, escritório, laboratório, farmácia, área de manejo
(brete de contenção, currais de apartação), 18 baias individuais, 8 baias coletivas
(onde era alocado as receptoras, comportando cerca de 5 animais por baia),
piquetes de exercícios para as éguas, reservatório de água, capineira e área de
fenação irrigadas.
A clínica trabalha exclusivamente com a venda dos serviços de reprodução,
utilizando as técnicas de inseminação artificial (IA) e transferência de embrião (TE).
Porém, antes de serem submetidas às técnicas reprodutivas, as éguas recebem um
manejo nutricional que lhe proporcione atingir um bom escore de condição corporal,
entrando no período reprodutivo de estro com boas condições fisiológicas
As éguas hospedadas na clínica são, em geral, provenientes de criatórios de
municípios vizinhos ou de criatórios de outros estados, sendo fêmeas doadoras e
receptoras de embrião.
As éguas locadas na clínica são pertencentes a terceiros, e encontram-se sob
regime de hospedagem, de forma que os criadores que contratam os serviços da
clínica levam as suas éguas (doadoras e receptoras) para serem submetidas às
biotécnicas reprodutivas, porém em alguns casos, quando os criadores não dispõem
de receptoras em sua propriedade, a clínica aluga suas receptoras. Essas
19
receptoras pertencentes a clínica geralmente são compradas devido a grande
demanda por tal serviço de locação.
Figura 1 – Estrutura física da Fazenda Canaã. Visão geral (a); Piquete de exercício (b); Baias individuais (c) e Baias coletivas (d).
Fonte: Silva e Lima (2010).
Com a firmação do contrato dos serviços com a clínica, as éguas (doadoras e
receptoras) ao chegarem à clínica, são direcionadas para baias específicas,
alocando-se as doadoras em baias individuais e as receptoras em baias coletivas.
Essas éguas são submetidas às práticas de manejo da clínica e permanecem até 60
dias após a confirmação da gestação, que se dá por volta do 7º dia após a
transferência de embrião, com a utilização de ultra-sonografia. Os contratos firmados
pela clínica consistem, em sua maioria, de pacotes composto por uma doadora e
três receptoras, sendo cobrado mensalmente dos proprietários o valor das estadias
e dos serviços de reprodução.
a b
c d
20
1.3. REVISÃO DE LITERATURA
1.3.1. ANATOMIA E FISIOLOGIA DO SISTEMA DIGESTÓRIO DE EQÜINOS
A manutenção de vida requer que os animais obtenham os nutrientes
essenciais para os processos orgânicos através dos alimentos. Os animais podem
viver por um período de tempo sem alimento; em tal situação, os reservatórios
orgânicos de energia e finalmente os próprios tecidos são desdobrados e
metabolizados através de conversão bioquímica. Uma privação prolongada e
contínua de alimento, entretanto, resulta finalmente em morte devido a inanição
(REECE, 1996).
Os cavalos são, por natureza, animais herbívoros, não ruminantes, adaptados
no meio ambiente ao consumo de alimentos com grandes quantidades de fibra,
apresentando a habilidade de selecionar os alimentos, sendo, segundo Braga (2006)
capazes de processar grandes quantidades de forragens para atender a sua
demanda de nutrientes. Contudo, muitos cavalos são manejados em estábulos,
sendo submetidos a alimentação com forragens e concentrados durante grande
parte de suas vidas (HILL, 2007). Os criatórios modernos, visando maximizar o
crescimento e a produtividade, lançam mão de dietas com alta proporção de
alimentos concentrados (BRAGA, 2006).
A anatomia do trato gastrointestinal do eqüino se caracteriza por um
estômago reduzido e um intestino grosso muito desenvolvido, sendo a digestão dos
eqüinos, segundo Meyer (1995) citado por Braga (2006), dividida em duas partes:
uma pré-cecal, cuja ação predominante é a enzimática; e uma pós-ileal, onde
predomina a digestão microbiana. De acordo com Cunha (1991) citado por Braga
(2006) a digestão pré-cecal é similar a dos animais monogástricos em geral, porém
os eqüinos não apresentam a produção de α-amilase salivar, e a pós-ileal, à dos
ruminantes, embora a ação microbiana e a absorção de nutrientes não sejam tão
eficientes como nos ruminantes, já que o ceco se localiza após o intestino delgado,
ou seja, a digestão enzimática e as zonas de intensa absorção intestinal.
A digestão nos eqüinos possui características marcantes como: eficiente
mastigação, rápida taxa de passagem gástrica, intensa digestão enzimática no
21
intestino delgado e prolongada ação microbiana no intestino grosso (WOLTER,
1975, citado por BRAGA, 2006).
A função do sistema digestório é reduzir os nutrientes no alimento a
compostos moleculares que são pequenos o suficiente para serem absorvidos e
utilizados para energia e para construção de outros compostos que serão
incorporados ao tecido do corpo (FRANDSON et al., 2005).
O conhecimento dos compartimentos do trato gastrointestinal (TGI) é
importante para se conhecer os processos digestivos dos animais. Esses
compartimentos são a boca, a faringe, o esôfago, o estômago, o intestino delgado, o
intestino grosso, o reto e as glândulas acessórias (glândulas salivares, fígado e
pâncreas) (REECE, 1996).
A boca dos eqüinos apresenta os lábios, a língua e os dentes perfeitamente
adaptados para a preensão, ingestão e alteração da forma física do alimento para
aquela própria para propulsão através do trato gastrointestinal (TGI), em um estado
que facilite a mistura com os sucos digestivos. O lábio superior é forte, móvel e
sensível e é usado durante o pastejo para colocar a forragem entre os dentes e no
processo de ingestão de água é usado como um funil, através do qual a água é
sugada. A língua dos eqüinos atua no direcionamento do material ingerido para os
molares e pré-molares para ser triturado. Os eqüinos apresentam tanto os dentes
incisivos da arcada superior com o da inferior, sendo que a presença dos incisivos
superiores e inferiores possibilitam um pastar próximo do solo, bem como uma
mastigação mais intensa e uniforme, sendo que o processo de mastigação ocorre
tanto por movimentos laterais como verticais da mandíbula (FRAPE, 2007).
A faringe é a passagem comum para alimento e ar, caudal às cavidades orais
e nasais, revestidas por membrana mucosa e circundadas por músculos. A faringe
pode ser arbitrariamente dividida em partes nasal (nasofaringe), oral (orofaringe) e
laríngea (laringofaringe), denominadas dessa forma por sua associação com essas
regiões (FRANDSON et al., 2005). A faringe abre para a boca e para as cavidades
nasais, trompas de Eustáquio, laringe e esôfago. Durante a passagem através da
faringe, o alimento é impedido de entrar na laringe e cavidades nasais devido a um
reflexo e fatores mecânicos associados à deglutição (REECE, 1996).
O esôfago é um tubo muscular que se estende da faringe para o estômago. O
esôfago está normalmente colado na extremidade faringiana pela atividade tônica do
esfíncter cranioesofagiano. Ele se mantém colado na abertura do estômago (o
cárdia), não devido a um esfíncter anatômico, mas devido a um fechamento
22
funcional resultante do ângulo de penetração para o interior do estômago. O
transporte de alimentos e água para o estômago ocorre através de ondas de
contrações da parede muscular (REECE, 1996).
Segundo Frape (2007) a entrada para o estômago é guardada por uma
válvula muscular poderosa chamada esfíncter cárdico. Embora um cavalo possa se
sentir nauseado, raramente vomita, em parte pelo funcionamento dessa válvula. Isso
também tem consequências importantes. Apesar da pressão abdominal extrema, o
esfíncter cárdico é relutante em relaxar de forma a permitir a regurgitação de
alimento e gás. Nas raras ocasiões em que o vômito ocorre, a ingesta geralmente
sai pela narina, em razão da existência de um palato mole longo. Tal evento pode
indicar um estômago rompido.
O estômago do eqüino adulto é um órgão pequeno, seu volume ocupa cerca
de 10% do TGI. A maior parte da digesta é retida no estômago por um tempo
comparativamente curto, mas esse órgão raramente fica vazio e uma porção
significativa da digesta pode permanecer nele por duas a seis horas. Uma parte da
digesta passa para o duodeno logo após o inicio da ingestão de alimentos, quando
ingesta fresca adentra no estômago. A expulsão para o duodeno é aparentemente
suspensa assim que a ingestão para. Quando o cavalo bebe, uma grande proporção
da água passa pela curvatura da parede do estômago, de forma que a mistura com
a digesta e a diluição dos sucos digestórios sejam evitadas (FRANDSON et al.,
2005).
O estômago dos eqüinos é diferente do dos outros monogástricos, pois além
da força considerável dos esfíncteres cárdico e pilórico, quase metade da superfície
da mucosa é recoberta por epitélio escamoso, ao invés de glandular. A mucosa
glandular é dividida em regiões das glândulas do fundo e pilórica (FRAPE, 2007).
O intestino delgado de um eqüino de 450 kg possui um comprimento de
aproximadamente 21 metros, correspondendo a cerca de 30% do TGI (CUNHA,
1991 citado por BRAGA, 2006), através do qual o transito da digesta é bem rápido,
com uma parte aparecendo no ceco dentro de 45 minutos após uma refeição. A
maior parte da digesta se move no intestino delgado a uma taxa de 30 cm/min,
permanecendo, em média de 2 a 3 horas, estando a motilidade do intestino delgado
sob controle tanto nervoso como hormonal (CUNNINGHAM, 2004).
No intestino delgado ocorre a digestão e absorção de carboidratos não
estruturais (CNE) e gorduras da dieta. Os CNE são absorvidos na forma de glicose e
de outros açúcares simples, sendo que os que alcançam ao seco e intestino grosso
23
são digeridos por microrganismos e transformados em ácidos graxos voláteis,
absorvidos e usados como fonte de energia pelo animal (CUNHA, 1991 citado por
BRAGA, 2006). As proteínas são digeridas e absorvidas principalmente no intestino
delgado, que segundo Wolter (1975) citado por Braga (2006) a digestão pré-cecal
das proteínas é cerca de 10 a 100 vezes mais ativa do que no ceco, alcançando
pelo menos 60 a 70% da proteína alimentar, independente das proporções entre
concentrado e volumoso na ração.
O intestino grosso consiste no ceco, um saco cego, e no cólon (colo), que
compreende as partes ascendente, transversa e descendente. O cólon descendente
termina no reto e no canal anal.
O eqüino possui o maior e mais complexo intestino grosso de todos os
animais domésticos (FRANDSON et al., 2005), com cerca de 60 a 62% do TGI. Os
nutrientes que não foram digeridos no estômago e no intestino delgado sofrem, de
forma prolongada, a ação fermentativa de uma flora muito intensa e ativa.
Em contraste ao intestino delgado, as paredes do intestino grosso contêm
apenas glândulas secretoras de muco, isto é, não fornecem enzimas digestivas.
Entretanto, altas atividades de fosfatase alcalina, conhecida por estar associada com
grande ação digestiva e absortiva, são encontradas no intestino grosso do cavalo
(FRAPE, 2007).
Os principais microrganismos presentes no intestino grosso são bactérias,
protozoários e fungos (JUILLIAND, 1992 citado por POND et al., 1995) e são
similares aqueles presentes no rúmen (ARGENZIO, 1990 citado por POND et al.,
1995).
Como resultado do processo de fermentação microbiana ocorre a produção
de dióxido de carbono, metano e ácidos graxos voláteis (AGVs), primariamente
acetato, propionato e butirato. Os AGVs podem fornecer até um quarto da energia
requerida pelo eqüino. A fermentação também resulta na produção de metano,
porém em quantidades inferior a 3% do total de energia consumida (PAGAN e
HINTZ, 1986 citado por POND et al., 1995).
As bactérias presentes no intestino grosso também produzem proteínas e
vitaminas hidrossolúveis, mas a utilização desses produtos pelos eqüinos não é tão
expressiva porque a absorção a partir dessa parte do TGI não é tão eficiente
(NRC,1989 citado por NRC, 2007).
Os eqüinos não utilizam a fibra dos alimentos tão eficientemente quanto os
bovinos porque apresenta uma taxa de passagem mais rápida da digesta. Assim, a
24
microflora do intestino grosso dos eqüinos não tem tanto tempo para a fermentação
do material quanto à microflora do rúmen (POND, 1995).
Segundo relato de Uden e Van Soest (1982) citado por Braga (2006), pelo
fato da digestão e absorção de carboidratos solúveis e da proteína ocorrer antes do
intestino grosso, pouco substrato além do material fibroso atinge o ceco dos
eqüinos, podendo prejudicar a população de microrganismos, diminuindo assim o
aproveitamento dos carboidratos estruturais.
O reto ou ânus é a junção da porção terminal do TGI com a pele. Ele se fecha
por meio de um esfíncter muscular compreendido de fibras musculares lisas e
estriadas (REECE, 1996).
As glândulas salivares, fígado e pâncreas fornecem secreções para o trato
digestório e favorecem a digestão no interior do lúmen. Essas secreções são
associadas àquelas produzidas pelas glândulas do estômago e intestino e incluem
eletrólitos, água, enzimas digestivas e sais biliares. Esta combinação de secreções
causa a degeneração das substâncias da dieta no interior do lúmen, de forma que
as novas substâncias possam interagir com as enzimas epiteliais (REECE, 1996).
1.3.2. EXIGÊNCIA NUTRICIONAL DE ÉGUAS EM PERÍODO REPRODUTIVO
Nos animais reprodutores, igualmente aos animais em crescimento, existe
uma interação entre a nutrição e a produção. A reprodução determina um
incremento nas necessidades de nutrientes dos animais, caso contrário, o aporte de
nutrientes aos animais pode afetar os processos reprodutivos (McDONALD et al.,
1999).
A influência da alimentação sobre a reprodução se inicia no começo da vida
dos animais, já que o plano nutricional dos animais jovens pode afetar a idade que
atingem a puberdade. Nos animais adultos, a má nutrição pode reduzir a produção
de óvulos, bem como espermatozóides, no caso dos machos, de modo que as
fêmeas não concebem ou produzem menos cria que o normal. Durante a gestação
as fêmeas têm necessidades especificas de nutrientes para sua manutenção e
crescimento do feto ou fetos (McDONALD et al., 1999).
Segundo McDonald et al. (1999) a quantidade de nutrientes necessários a
produção de óvulos e espermatozóides em mamíferos é pequena e tem pouca
25
importância, porém, deve-se atentar para as fases posteriores da reprodução, a
partir do momento que se inicia o desenvolvimento fetal. Entretanto, Meyer (1998)
citado por Frape (2007) afirma que o consumo energético é importante para a
ovulação e desenvolvimento embrionário, porém menos importante para o
crescimento fetal. Um suprimento energético excessivo pode favorecer gêmeos, ao
passo que a restrição antes do parto pode induzir o nascimento prematuro. Por outro
lado a restrição parece ser importante somente com a extrema subnutrição da égua.
As éguas com escore de condição corporal (ECC) de apenas 3 a 3,5 (máximo: 10)
durante o período anovulatório (outono e inverno) experimentaram anestro mais
longo e profundo do que as de boas condições corpóreas, o que caracteriza o
anestro nutricional. Essa resposta foi acompanhada por menores concentrações
plasmática de leptina, de fator de crescimento semelhante a insulina I (IGF-I) e de
prolactina (GENTRY et al., 2002 citado por FRAPE, 2007). Trabalho subsequente
desse grupo indicou que existe uma interação entre a secreção de leptina e a
secreção dos hormônios insulina, hormônio tireoideano (T3) e hormônio do
crescimento (CARTMILL et al., 2003 citado por FRAPE, 2007). Assim as
concentrações séricas de leptina são positivamente correlacionadas ao escore
corporal, mas não relacionadas ao nível de consumo alimentar (BUFF et al., 2002
citado por FRAPE, 2007).
Éguas matrizes com ECC alto, de 7 ou 9, não apresentam redução ou
aumento da eficiência reprodutiva (CAVINDER et al., 2005 citado por ALMEIDA e
GODOI, 2007).
Durante a gestação se deve atentar para dois fatores principais:
primeiramente prover nutrientes para o desenvolvimento fetal e das membranas
fetais; e o outro fator é prover nutrientes para a formação de reservas de nutrientes
no corpo do animal, para que essa venha a proporcionar um aporte de nutriente
endógeno para a produção de leite durante a fase de lactação, pós-parto (PERRY et
al., 1999).
De acordo com Frape (2007) no período de gestação, no caso em que as
dietas forem grosseiramente desbalanceadas em termos de proteínas e minerais,
especialmente cálcio (Ca) e fósforo (P), o potro será adversamente afetado ao
nascimento, resultando também em reduzida produção de leite e infertilidade. Um
consumo marginal de Ca retarda o crescimento fetal e a condição de iodo (I) e
selênio (Se) tem efeitos consideráveis na fertilidade da égua e viabilidade do potro,
bem como a deficiência extrema e crônica de vitamina A pode prejudicar o
26
desenvolvimento embrionário e o ciclo ovariano (MEYER, 1998, citado por FRAPE,
2007).
Muitos nutrientes podem influenciar a taxa de concepção. Por exemplo,
deficiência de vitamina A e E pode causar esterilidade. Não há evidências de quanto
deve ser o aumento da concentração de proteínas, minerais ou vitaminas em
relação os valores recomendadas para mantença, para se obter aumentos
significativos na taxa de concepção (POND et al., 1995)
1.3.2.1. Energia
O consumo de energia e a condição corporal se mostram serem fatores
importantes, influenciando na taxa de concepção (POND et al., 1995).
De acordo com FRAPE (2007) ainda não são possíveis afirmações definitivas
sobre os requerimentos de energia e proteína para as éguas em reprodução por
duas razões:
1. Uma égua bem alimentada tem reservas consideráveis de energia e proteína
às quais pode recorrer durante a gestação se o consumo diário cair abaixo
dos níveis recomendados.
2. Uma redução no consumo geralmente parece induzir economias no
metabolismo, de forma que as deficiências são parcialmente compensadas.
Durante a gestação, a energia pode ser usada para a mantença da égua,
deposição fetal e do tecido placentário, hipertrofia do útero, desenvolvimento
mamário e mantença do feto, placenta, mamas e tecido uterino adicional (NRC,
2007).
Segundo Allen et al., (2002) e Whitehead et al., (2004) citados por Almeida e
Godoi (2007) no parto, o peso da placenta juntamente com os fluídos é de 4 kg para
uma égua de 500 kg de peso vivo (PV). O pouco crescimento do útero e tecido
placentário na metade da gestação indica que esses só começam a se desenvolver
significativamente no segundo trimestre da gestação (GITHER, 1992 citado por
ALMEIDA e GODOI, 2007).
27
A taxa de crescimento do tecido não fetal (útero e placenta) em uma égua de
500 kg de PV é estimado em 45 g/dia (0,09 g/kg de PV materno/dia) dos 150 aos
330 dias de gestação. Os dados de desenvolvimento fetal foram obtidos em estudos
com potros que foram abortados ou natimortos a partir do 150º dia de gestação, com
os quais foram desenvolvidas as seguintes equações (MEYER e AHLSWEDE, 1978;
PLATT, 1978; GIUSSANI et al., 2005 citados por NRC, 2007):
• Peso fetal (% do peso ao nascimento) = 0,5321X – 87,996 (R2 = 0,855)
• Peso fetal (% do peso ao nascimento) = 2,456 + 0,0015X2 – 0,2198X
(R2 = 0,874)
• Peso fetal (% do peso ao nascimento) = 0,8875e 0,0144X (R2 = 0,903)
• Peso fetal (% do peso ao nascimento) = 1 x 10-7 X3,5512 (R2 = 0,929)
Onde: X é os dias de gestação.
O tecido fetal e não fetal associado com a gestação são mais
metabolicamente ativo que outros tecidos maternal e com um elevado custo de
mantença, estimado em 66,6 Kcal de energia digestível (ED)/kg PV (FOLDEN et al.,
2000a; citado por ALMEIDA e GODOI, 2007). Segundo o NRC (1989) citado por
NRC (2007), o custo energético da deposição de tecido foi estimado usando as
suposições que a eficiência de utilização da ED para a deposição de tecido durante
a gestação é de 60% e que cada unidade de ganho foi de 20% de proteína e 3% de
lipídeo.
Segundo o NRC (2007) os resultados estimados de consumo de ED em égua
com peso vivo variando de 400 a 600 kg são ligeiramente maiores que o sugerido
pelo NRC (1989) que foi calculado com 11%, 13%, e 20% de aumento em relação a
mantença no 9º, 10º e 11º mês de gestação, respectivamente. Assim a exigência de
energia para as éguas gestantes é de aproximadamente 5 a 8% a mais que o
recomendado pelo NRC (1989), sugerindo-se que há um aumento no consumo de
ED acima da mantença mesmo no início da gestação.
Para se estimar a exigência de energia digestível de mantença (EDm) são
recomendadas as seguintes equações (NRC, 1989, citado por NRC, 2007):
• Para eqüinos com PV até 600 kg:
EDm (kcal/dia) = 1,4 + (0,03 x PV)
28
• Para eqüinos com PV superior a 600 kg:
EDm (kcal/dia) = 1,82 + (0,0383 x PV) – (0,000015 x PV2)
Assim, considerando os parâmetros de acréscimo nas fases do 9º, 10º e 11º
mês de gestação e um reajuste de 8% a mais, tem-se as seguintes equações:
• Éguas até o 8º mês de gestação:
ED = EDm + (EDm * 0,08)
• Éguas no 9º mês de gestação:
ED = (EDm * 1,1) + (EDm * 1,1 * 0,08)
• Éguas no 10º mês de gestação:
ED = (EDm * 1,13) + (EDm * 1,13 * 0,08)
• Éguas no 11º mês de gestação:
ED = (EDm * 1,2) + (EDm * 1,2 * 0,08)
1.3.2.2. Proteínas
Os requerimentos de proteínas por éguas gestantes têm recebido pouca
atenção. Éguas gestantes alimentadas com 1,86 g de proteína bruta (PB)/kg de
PV/dia não apresentaram efeitos negativos (BOYER et al., 1999 citado por NRC,
2007); entretanto, éguas gestantes que foram alimentadas com menos que 2,0 g
PB/kg PV/dia (1.000 g PB/dia para uma égua com 500 kg de PV) perderam peso e
houve aumento na incidência de danos ao feto prematuro, enquanto éguas
alimentadas com 2,0 g ou mais de PB/kg PV/dia (1.400 g PB/dia para uma égua com
500 kg de PV) não apresentaram esses problemas (NRC, 2007).
Segundo Van Niekerk e Van Niekerk (1997c) citado por NRC (2007) éguas
apresentando deficiência significativa de proteínas na dieta demoraram mais a iniciar
o processo de ovulação após o período anovulatório que éguas alimentadas com
dietas com grande concentração protéica. O retardamento das éguas ao retorno da
atividade cíclica ocorre possivelmente devido as baixas concentrações de
29
progesterona observado em todas as éguas do grupo com alimentação deficiente
em proteína. A progesterona é produzida pelo corpo lúteo, o qual é decisivo para a
manutenção da gestação (VAN NIEKERK e VAN NIEKERK, 1998 citado por NRC,
2007). Holtan e Hunt (1983) citado por NRC (2007) observaram uma relação linear
entre a proteína da dieta e concentração de progesterona. O estudo não descreveu
o consumo, mas a alimentação com concentrações de PB de 8,6, 11,4 e 17,2% e
encontrou resultados de 6,5, 7,9 e 10,3 ng/ml de progesterona, respectivamente.
Segundo Lewis (2000) a deficiência moderada de proteínas durante a gestação e a
lactação (8,6 e 11,2% de proteínas contra os 11 e 13% exigidos, respectivamente)
não tem nenhum efeito na concentração plasmática de hormônio luteinizante (LH)
das éguas. Consequentemente parece que o efeito principal de uma deficiência de
proteínas nas éguas é uma falha de ovulação.
As exigências de proteína para éguas gestantes podem ser estimadas pelas
seguintes equações (NRC, 2007):
• Início da gestação (até o 4º mês):
Exigência de PB = PV x 1,26 g PB/kg PV/dia
• Do 5º mês de gestação até o parto:
Exigência de PB = (PV x 1,26 g PB/kg PV/dia) + ((GPF/0,5)/0,79)
Onde: GPF é o ganho de peso do feto em kg;
0,5 representa o fator de eficiência;
0,79 representam a digestibilidade da proteína.
Para se obter a exigência do aminoácido lisina, que se apresenta deficiente
em éguas gestantes, multiplica-se a exigência de PB por 4,3%.
30
1.4. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS
1.4.1. MANEJO NUTRICIONAL
A obtenção de bons índices reprodutivos está associada a boas práticas de
manejo nutricional, de forma que animais bem alimentados apresentam uma maior
eficiência reprodutiva, viabilizando a utilização das biotécnicas reprodutivas, que em
geral apresenta altos custos. Assim para um correto manejo nutricional dos eqüinos,
faz-se necessário o conhecimento das particularidades anatômicas e fisiológicas do
seu trato gastrointestinal (TGI).
Os animais recebidos pela clínica, geralmente chegavam com condições de
escore corporal (EC), para a reprodução, baixo. Essas condições eram mais
evidentes nas éguas locadas como receptoras, já que são animais de menor valor
zootécnico, portanto recebiam menor atenção de seus proprietários, quando
comparada as doadoras. Devido a esse fato, as receptoras passavam por um
período de recuperação, sendo fornecido um aporte nutricional maior para que
chegassem ao EC desejado, e então ter início os processos reprodutivos. Isso
atrasava o cronograma reprodutivo de atividade da clínica, bem como gerava um
maior custo por receptora locada, o qual não era repassado ao criador.
O manejo nutricional adotado tinha como função melhorar o EC das éguas
debilitadas nutricionalmente e manter o EC das que se apresentavam em bom
estado nutricional (EC ≥ 5 e ≤ 8), porém em alguns casos, quando apresentavam EC
superiores, diminuía-se a quantidade de ração fornecida, diminuindo-se a
quantidade do alimento concentrado.
A ração dos animais era composta de dois alimentos volumosos: capim
elefante picado (Pennisetum purpureum Schum) e feno de tífton-85 (Cynodon
dactylon (L.) Pers.) e um alimento concentrado (“ração industrializada” DuRancho –
Tabela 1), sendo a ração distribuída em quatro refeições diárias, o que melhora a
eficiência alimentar. Segundo Andriguetto (2002) com a alimentação abundante que
é realizada naturalmente pelos eqüinos, ocorre um esvaziamento do estômago de 6
a 8 vezes por dia, em conseqüência desta passagem relativamente rápida dos
alimentos pelo estômago, associada a um pH não muito baixo, a digestão gástrica
31
nos eqüinos não é tão eficaz quanto aquela dos onívoros e carnívoros, apesar de
apresentar uma composição semelhante.
Tabela 1 – Composição química do concentrado (DuRancho)
O arraçoamento para as éguas doadoras era feito da seguinte forma: as
07:00h (capim elefante picado mais ração concentrada); 11:00h (capim elefante
picado mais ração concentrada); 13:00h (feno de tífton-85 -); 17:00h (capim elefante
picado mais ração concentrada).
Para as éguas receptoras os horários de arraçoamento eram o mesmo,
porém a quantidade de ração concentrada fornecida aos animais era diferente,
considerado as sua exigência. As 13:00h o arraçoamento das receptoras era com
capim elefante picado em substituição ao feno como ocorria na alimentação das
doadoras.
Como mencionado anteriormente, a quantidade de ração concentrada era
ofertada em função do EC em que as éguas se encontravam, de forma que, a
quantidade de ração era aumentada ou diminuída a fim de levar os animais a um
bom ECC. O fornecimento de volumoso ocorria de forma a satisfazer as
necessidades dos animais sem haver muita sobra, evitando assim a fermentação
Umidade 13
PB % 12 EE % 2,5 FB % 10 FDA % 10 MM % 10 Ca % 2 P % 0,6 Metionina (mg) 2,1 Lisina (mg) 4,8 Mn (mg) 29,9 Zn (mg) 48 Fe (mg) 14,83 Cu (mg) 12 Co (mg) 0,23 I (mg) 0,72 Se (mg) 0,36 Vit. A (UI) 8000 Vit. E (UI) 80 Vit. D (UI) 32000
32
microbiana, o que pode levar as éguas a apresentarem distúrbios digestivos, uma
vez que os eqüinos são mais exigentes e sensíveis às alterações de manejo
alimentar e ambiental, bem como a qualidade do alimento. Antes de cada
arraçoamento os cochos eram limpos de forma a retirar as sobras da refeição
anterior.
As éguas recebiam suplementação mineral e água a vontade, sendo feito a
higienização dos cochos bebedouros em dias alternados.
1.4.2. MANEJO REPRODUTIVO
Como a clínica trabalha com a aplicação de técnicas reprodutivas de
inseminação artificial e transferência de embriões, um rígido controle do estado
fisiológico dos animais fazia-se necessário, sendo prática diária o acompanhamento
do estágio de desenvolvimento folicular das éguas. Esse acompanhamento era feito
pela veterinária responsável, a doutora Ilana de Oliveira Batista, por palpação retal e
uso de ultra-sonografia, de forma que, de acordo com a necessidade de indução do
cio ou sincronização determinava-se os tratamentos hormonais para cada égua.
A palpação retal é um procedimento de alta valia para avaliação do sistema
reprodutor da égua, pois se ao exame a cérvix se apresentar longa, firme e tubular
significa que os níveis de progesterona estão altos e a égua está gestante, do
contrário, a mesma se apresentará macia e pequena indicando estro ou anestro. No
útero deve-se verificar se existe gestação. Se não, deve-se avaliar o tônus uterino.
No estro ele estará macio e com pouco tônus diferentemente do diestro, onde o
útero estará com o tônus bem aumentado e de forma tubular. Nos ovários deve-se
avaliar o tamanho, consistência e a presença de estruturas (folículo ou corpo lúteo)
(JÚNIOR, 2008).
As categorias de éguas alojadas eram doadoras e receptoras. As doadoras
são animais de genética superior selecionados para a característica desejada. De
acordo com Squires e Seidel (1995) algumas características devem ser
consideradas na seleção de éguas doadoras utilizadas em programas de
transferência, incluindo o preço do procedimento, histórico reprodutivo da égua, o
garanhão ou sêmen usado, tamanho das crias, valor potencial da cria e o número de
prenhez. Geralmente a cria deve apresentar o dobro do custo com a transferência
33
de embriões, porém em alguns casos os clientes relevam esse custo. O ideal
segundo Jacob (2007) seria fêmeas adultas provadas, apresentando ciclos estrais
regulares, com boa conformação do trato reprodutivo, sem histórico de problemas
reprodutivos, livres de endo e ectoparasitas, com vacinas em dia e com boa
condição corporal.
As receptoras são animais de baixo valor zootécnico, porém que atendam
requisitos como apresentar um bom escore corporal, ter fertilidade conhecida, idade
entre 3 e 10 anos, conformação corporal compatível com a doadora, apresentar boa
habilidade materna, ter boa índole e ser de fácil manejo (SQUIRES e SEIDEL,
1995).
Diariamente as éguas eram rufiadas nas primeiras horas do dia e ao
entardecer, de forma que, se detectado a expressão dos comportamentos
característicos do estro ou cio, as respectivas éguas que expressaram eram
encaminhadas para o brete de contenção individual, onde se fazia a palpação e
acompanhamento do desenvolvimento folicular, via aparelho de ultra sonografia.
Quando as éguas se apresentavam em estro prolongado ou em condições que se
objetivava induzir a ovulação, fazia-se a administração de hormônio a base de
gonadotrofina coriônica humana (hCG) – VETECOR - para induzir um pico artificial
do tipo LH, levando a égua a iniciar o processo recrutamento, crescimento folicular e
ovulação. Segundo Pickett et al. (1989) a utilização de hCG é preferida em relação
aos demais hormônios indutores da ovulação - hormônio liberador de
gonadotrofinas(GnRH) e prostaglandinas (PGF2α) - por apresentar uma boa resposta
e com apenas uma administração.
No momento em que o folículo estava com um diâmetro aproximado de 30
mm (Figura 2), diâmetro pouco menor que a média encontrada em éguas Crioulas
por Winter (2007) nos folículos um dia antes da ovulação (40,1mm) dos quais 90,1%
ovularam 24 horas após, fazia-se nesse mesmo dia a inseminação das éguas
doadoras de forma a aumentar a possibilidade de ocorrer a fecundação.
O sêmen utilizado na propriedade era proveniente de centrais de coleta, o que
facilitava a aquisição desses nas datas necessárias, já que as centrais obedecem a
um cronograma de coleta de sêmen de seus garanhões. Assim, tinha-se sêmen
refrigerado na data exata da inseminação. O uso de sêmen refrigerado tem crescido
nos últimos anos, principalmente após o desenvolvimento do Equitainer®, bem como
dos modelosMSP®-1 e 2, no Brasil , que são equipamentos idealizados para o
transporte de sêmen. Os referidos equipamentos permitem realizar resfriamento
34
progressivo e fisiológico do sêmen, proporcionando aumento na sua longevidade
fora do trato genital feminino de até 72 horas, com adequada capacidade fecundante
(GONÇALVES et al., 2008).
Figura 2 – Visualização dos folículos ovarianos, o esquerdo medindo 29,6mm de diâmetro.
Fonte: Winter (2007).
O aumento da longevidade de conservação do sêmen refrigerado consiste na
diminuição do metabolismo espermático, pois segundo Nunes; Zuccari; Costa e
Silva (2006) quando os espermatozóides são mantidos a 5oC, apenas 10% de seu
metabolismo é necessário para sua sobrevivência quando comparado à preservação
a 38oC. Assim, uma atenção especial deve ser dada a temperatura do sêmen, bem
como ao processo de refrigeração desses, já que a depender desses fatores as
células espermáticas podem sofrer um choque térmico, o que segundo Squires e
Seidel (1995) ocorre devido a danos estruturais diretos, como a ruptura das
membranas plasmáticas, ou indiretos, por alterações das funções celulares.
Segundo Moran et al. (1992) ao se resfriar o sêmen de 37°C a 5°C, a taxa de
refrigeração deve ser controlada, principalmente entre 19°C e 8°C, intervalo este em
que pode ocorrer o choque térmico, pois de acordo com Stryer (1992) nessa faixa de
temperatura os lipídios componentes da membrana plasmática dos espermatozóides
estão passando pela fase de transição, indo do estado fluído para o gel.
35
Amann e Graham (1993) abordam a necessidade de se utilizar taxas de
refrigeração lentas, não superiores a -0,05°C/min, entre 19 e 8°C, já que esta é a
fase crítica de ocorrência das lesões nas membranas espermáticas. Esses autores
afirmam ainda que o processo de refrigeração também afeta as funções
enzimáticas, bem como as proteínas, já que essas têm suas atividades reduzidas
quando em temperaturas baixas.
O aumento da longevidade dos espermatozóides, submetidos a refrigeração,
se dá pela redução da utilização das reservas de adenosina-trifosfato (ATP), desde
que protegido as membranas celulares e as funções espermáticas durante a
refrigeração até o momento da inseminação (VARNER et al., 1989).
Alguns produtores, responsáveis pela escolha do sêmen, levavam para a
clínica os garanhões escolhidos para fazer a cobertura natural de suas éguas,
retornando após para os seus criatórios.
Depois de inseminadas, as doadoras retornavam para suas baias e sete dias
após, tempo sugerido por Squires e Seidel (1995), fazia-se o processo de coleta dos
embriões, utilizando-se para isso a lavagem uterina, higienizando primeiramente a
genitália externa a fim de evitar contaminações e após introduzindo um cateter de
Foley através da vagina, sendo manipulado com a mão enluvada, até ultrapassar a
cérvix e sua extremidade está posicionado no corpo do útero. Como meio para o
lavado, utilizava-se soro Ringer lactato, num total de 3 litros por égua, o qual era
dividido em três lavados, sendo realizados concomitantemente com a manipulação
uterina via retal. O líquido drenado passava por um filtro com malha de 75 mm
(Encon: immunosystems incorporate, ME, USA) apropriado para reter o embrião.
Após aproximadamente 20 ml do líquido (líquido do filtro) era colocado e uma placa
de petri estéril descartável (placa de petri 100x15), onde se fazia a observação
embrião, através da lupa.
Nesse momento as receptoras, já previamente tratadas e em estágio
fisiológico do útero adequado a receber o embrião (indução do cio de forma a
ovularem de 2 a 3 dias após a doadora, apresentando no momento da inovulação
boas condições progesteronica para a manutenção da gestação) eram inovuladas e
submetidas a administração de progesterona, objetivando manter os níveis
adequado desse hormônio, aumentando a possibilidade de sucesso da gestação.
A égua possui características diferenciadas, em relação aos demais animais
domésticos, quanto a produção de progesterona, apresentando outra fonte desse
hormônio que não o corpo lúteo principal. A égua parece ser a única entre as
36
espécies domésticas em que a placenta é uma fonte de hormônio protéico que age
semelhante ao hormônio hipofisário, o hormônio luteinizante (FRANDSON et al.,
2005). A secreção de gonadotrofina coriônica eqüina (eCG) começa após cerca de
um mês de gestação e continua até cerca de quatro meses de gestação. Durante
esse período, ocorre desenvolvimento folicular no ovário da égua prenhe e a eCG
promove a luteinização desses folículos. Esses corpos lúteos acessórios são fontes
secundárias de progesterona.
Segundo Frandson et al. (2005) a progesterona possui várias ações que são
essenciais para manter a prenhez normal. Estas incluem enviar retroalimentação
negativa ao hipotálamo para inibir qualquer ciclo estral adicional, inibir o músculo liso
do útero para permitir a fixação e o desenvolvimento do feto e ajudar na manutenção
da contratilidade da cérvix para proteger o ambiente uterino.
Após a coleta de embriões era administrado prostaglandina (10 mg de
Lutalyse) nas éguas doadoras para assegurar um rápido retorno dessas ao estro.
Coletado os embriões das doadoras e inovulados nas receptoras, as éguas
eram levadas para as suas respectivas baias, sendo feito o diagnóstico da
implantação embrionária, nas receptoras, após uma semana (em média de 12 dias
após a cobertura ou inseminação). Segundo Hafez e Hafez (2004) o diagnóstico de
prenhez eqüina por ultra-sonografia via transretal pode ser feito 9 dias após a
cobertura ou inseminação, obtendo-se uma precisão de 100%.
As doadoras eram submetidas a um novo tratamento de indução do cio,
quando se pretendia a coleta de mais embriões, ou eram levadas pelos seus
proprietários quando confirmado a implantação do embrião na sua respectiva
receptora. Tanto as doadoras quanto as receptoras, geralmente deixavam a clínica
após 60 dias da inovulação, período crítico para a manutenção da gestação.
37
1.5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A realização do estágio supervisionado obrigatório permitiu visualizar na
prática todo o conteúdo abordado em sala de aula durante o curso, de forma que se
pode observar, no manejo adotado pela clínica, os erros e acertos, os quais foram
compreendidos de forma a encontrar alternativas de correção. Assim, teve-se uma
visão geral de todo o manejo reprodutivo e nutricional adotado para os eqüinos,
visualizando a importância do emprego de um correto manejo para o sucesso das
práticas reprodutivas realizadas na clínica de reprodução.
38
1.6. REFERÊNCIAS
ALMEIDA, F. Q.; GODOI, F. N. Exigências Nutricionais de Eqüinos: Energia. In: I SIMPÓSIO MINEIRO DE EQUIDEOCULTURA, 2007, Viçosa. Anais... Viçosa, MG, 2007.
AMANN, R. P.; GRAHAM, J. K. Spermatozoal Function. In: McKinnon, A. O.; Voss, J.L (Ed.). Equine reproduction. Philadelphia: Lea & Febiger, 1993. p.715-745.
ANDRIGUETO. J. M. Nutrição Animal. v. 1. São Paulo-SP. Editora Nobel Ltda. 2002. 396p.
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40
Capítulo 2
CARACTERÍSTICAS COMPORTAMENTAIS DE ÉGUAS ESTABULADAS EM PERÍODOS REPRODUTIVOS DE ESTRO E DIESTRO
RESUMO
Objetivou-se com o presente trabalho avaliar a expressão das características
comportamentais de éguas em período de estro e diestro, estabuladas submetidas a
técnicas de inseminação artificial (IA) e transferência de embriões (TE) em uma
clínica de reprodução eqüina. Utilizou-se seis éguas doadoras das raças Mangalarga
Marchador, Quarto de Milha e Campolina, com idades entre 3 e 12 anos e pesos
entre 490 a 740 kg. Essas estavam estabuladas em baias individuais de dimensão 4
x 4 metros, tendo acesso a um piquete de exercício durante algumas horas do dia.
As éguas foram observadas por um período de 24 horas, anotando a cada dez
minutos as atividades e o tempo gasto por cada animal nessas atividades, nas fases
de estro e diestro, analisando os parâmetros comportamentais de: frequência de
micção (MIC), freqüência de defecação (DEF), tempo em ócio (O), tempo gasto com
se alimentando (ALI), frequência de consumo de água (H2O), tempo caminhando
(CAM), tempo dormindo em pé (DP), tempo dormindo deitado (DD), tempo dormindo
em decúbito total (DDT) e presença de vícios (VIC). Não se observou grandes
diferenças entre os comportamentos externados pelas éguas nos diferentes
períodos, diferindo estatisticamente (P<0,05), apenas a MIC e DD, que foi maior em
éguas no estro.
Palavras - chave: Comportamento eqüino, reprodução eqüina, transferência de
embriões.
41
BEHAVIORAL CHARACTERISTICS MARES STABLES IN REPRODUCTIVE PERIOD OF ESTRUS AND DIESTROUS
ABSTRACT
The objective of this study was to evaluate the behavioral characteristics of
mares in estrus and diestrus period, housed subjected to techniques of artificial
insemination (AI) and embryo transfer (ET) in an equine reproductive clinic. We used
six donor mares Mangalarga Marchador Quarter Horse and Campolina, aged
between 3 and 12 years and weighing between 490-740 kg. They were housed in
individual barn size 4 x 4 meters, having access to a paddock for a few hours of
exercise a day. The mares were observed for a period of 24 hours, noting every ten
minutes the activities and time spent by each animal in these activities at the stages
of estrus and diestrus, analyzing the behavioral parameters: frequency of urination
(MIC), frequency of defecation (DEF), resting time (O), time spent feeding (ALI),
frequency of consumption of water (H2O), walking time (CAM), time asleep standing
up (DP), time sleeping lying down (DD) total time asleep in the supine position (DDT)
and presence of defects (VIC). There was no differences between the external
behavior by mares in different periods, differing (P<0,05) only MIC and DD, which
was higher in mares in estrus.
Key - words: Equine behavior, equine reproduction, embryo transfer.
42
2.1. INTRODUÇÃO
Historicamente, o cavalo faz parte da vida do homem há 5.000 anos. Quando
este montou pela primeira vez, não havia ninguém para lhe servir de modelo,
devendo ter aprendido a partir de suas próprias observações. Assim, fez-se
necessário estudar o cavalo, ou seja, entender o seu comportamento físico-mental
(RIBEIRO, 1989 citado por OLIVEIRA, 2008), o que também se justifica, segundo
Rezende et al. (2006b) pela retirada do cavalo do campo, onde estes eram trazidos
para cidade, que a priori oferecia espaço para sua colocação em piquetes, com
ampla área para se movimentar e pastar. Entretanto, como o espaço reservado para
esse animal foi ficando cada vez menor, o mesmo foi obrigado a viver em
confinamento em pequenas baias, acarretando modificações em seu
comportamento, diante da necessidade de adaptação a esse ambiente reduzido.
Consequentemente duas características da vida do cavalo que vive em um ambiente
natural estão ausentes quando estabulados: a vida em grupo e o tempo de pastejo o
que pode afetar no comportamento animal (REZENDE et al., 2006b).
Com a expansão no estudo da etologia, nos últimos anos, graças às novas
metodologias empregadas nos processos de observação e de etogramas
específicos montados principalmente entre os animais domésticos, a etnozootecnia
tem demonstrado com grande relevo, que desde os tempos da domesticação das
espécies o advento do aprisionamento dos animais alteraria para sempre questões
do comportamento da estrutura social ao comportamento reprodutivo destas
espécies em função da melhor produtividade entre outros amplamente estudados
(TRAVASSOS e CAJU, 2005).
Distúrbios emocionais ou psicológicos produzidos pelo confinamento
prolongado, em oposição à ocorrência de fenômenos fisiológicos ou orgânicos são
freqüentes. Sendo que os problemas de comportamento mais comumente
encontrados nos eqüinos podem ser divididos em três categorias: vícios,
agressividade e distúrbios sexuais, no qual os dois primeiros ocorrem principalmente
em animais estabulados e o terceiro presente em animais, na sua maioria,
independente do sistema de criação (McCALL, 1993; LEWIS, 2000).
O uso de metodologias científicas aliado ao conhecimento histórico ou
Etnozootécnico tem permitido informações à produção animal que vão desde
questões de hábitos alimentares, hábitos pastajo, conduta social e reprodutiva que
43
vão sendo incorporados nos manejos específicos de cada espécie no dia-a-dia das
propriedades rurais. Dentre os animais domésticos o Equus caballus tem tido um
destaque mundial em estudos de comportamento, talvez, por ser a única espécie
que promove a perfeita interação do trinômio homem/animal/ambiente
(TRAVASSOS e CAJU, 2005).
Devido a baixa quantidade de trabalhos abordando o comportamento
reprodutivo de eqüinos estabulados, objetivou-se com esse trabalho, analisar os
aspectos comportamentais de éguas estabuladas em períodos de estro e diestro.
44
2.2. REVISÃO DE LITERATURA
O comportamento dos animais tem importante papel na reprodução, afetando
tanto o sucesso do acasalamento, quanto a sobrevivência da prole. Padrões
comportamentais estão associados à corte e cópula, ao nascimento, ao cuidado
materno, e as tentativas de amamentação do filhote recém nascido. Esses padrões
comportamentais têm sido abandonados pela domesticação, e restringido ou
modificados pelas condições impostas de acordo com as necessidades do
empreendimento zootécnico. Tais necessidades incluem confinamento em piquetes,
currais ou baias; segregação sexual; coberturas controladas; partos por cesariana;
desmame forçado; proximidade imposta com outros indivíduos e a inevitável
presença de humanos, cães e maquinaria (HAFEZ e HAFEZ, 2004).
2.2.1. ANATOMIA E FISIOLOGIA REPRODUTIVA DAS ÉGUAS
As funções reprodutivas da fêmea são a produção de óvulos e a provisão de
um ambiente adequado para o crescimento e nutrição do feto que se desenvolve
após a fertilização de um óvulo maduro por um espermatozóide. Os resultados das
condições anteriores são o nascimento, num momento apropriado, e a continuação
da função nutricional através da lactação (REECE, 1996).
O sistema reprodutivo das éguas consiste de dois ovários, dois ovidutos,
útero, vagina e vulva (Figura 3).
Os ovários são glândulas pares que contribuem com o desenvolvimento dos
oócitos e produção de hormônios. Cada ovário é localizado caudal ao rim direito e
esquerdo, respectivamente, e suspenso à parede dorsal do abdômen por uma flexão
do peritônio, o mesovário (Figura 4). O mesovário é parte do ligamento largo; um
termo que se refere ao suspensor dos ovidutos (mesossalpinge) e útero
(mesométrio). O ovário equino apresenta uma estrutura em forma semelhante ao
feijão (forma de rim), e sua disposição pendular proporciona facilidade na
manipulação por palpação retal (REECE, 1996). Segundo Hafez e Hafez (2004) o
processo de ovulação (liberação do óvulo maduro) ocorre, nos ovários das éguas,
45
através da fossa de ovulação (uma reentrância), ao contrário do que ocorre em
muitas outras espécies.
Segundo Reece (1996) o ovário possui um córtex externo e uma medula
interna. A medula é mais vascular, enquanto a maior parte do córtex consiste de
tecido conjuntivo, o qual forma o estroma (tecido de sustentação do ovário). A
camada mais externa do córtex é uma cápsula densa de tecido conjuntivo,
conhecida como túnica albugínea. Devido a densidade do estroma, os ovários
parecem firmes quando palpados (PICKETT et al. 1989). A forma mais precoce do
óvulo, os folículos primordiais, e óvulos em vários estágios de desenvolvimentos
estão intercalados no córtex. Durante a vida fetal a superfície externa do ovário está
coberta pelo epitélio germinativo. Enquanto o feto se desenvolve, os óvulos
primordiais diferenciam-se do epitélio germinativo e migram para o interior da
substância do córtex ovariano. Os óvulos primordiais continuam a se desenvolver no
ovário fetal pelas divisões mitóticas; grande número é produzido durante esse
momento. O desenvolvimento progride até a prófase da primeira divisão meiótica e
então se paralisa nesse estágio.
Segundo Dukes (2006) ao nascimento, cada óvulo primordial coleciona ao
seu redor uma camada de células do epitélio germinal e são conhecidas como
células da granulosa. O oócito, rodeado por uma camada simples de células da
granulosa, é chamado de folículo primordial. A atresia (degeneração) dos folículos
primordiais continua até a puberdade e ao longo da vida reprodutiva da fêmea. No
final da vida reprodutiva da fêmea somente uns poucos folículos primordiais se
mantêm nos ovários, degenerando-se posteriormente. Conforme o estágio de
desenvolvimento dos folículos, estes podem ser classificados como folículo
primordial, folículo primário, secundário, terciário, e folículo de Graaf, sendo que
esse último, na égua, alcança um tamanho de 3 a 6 cm (REECE, 1996).
Os ovidutos ou tubas uterinas são um par de tubos enovelados que
conduzem os óvulos dos ovários para o respectivo corno do útero. As tubas servem
como local de fertilização pelo espermatozóide do óvulo liberado. A porção da
trompa adjacente ao seu respectivo ovário expande-se para formar o infundíbulo e
as fímbrias que se projetam de sua extremidade livre. As fimbrias auxiliam no
direcionamento do óvulo para o interior do infundíbulo no momento da ovulação
(FRANDSON et al., 2005).
Segundo Dukes (2006) o lúmen dos ovidutos é revestido por células
secretoras e ciliadas. Essas células fornecem ambiente para os óvulos e transporte
46
para os espermatozóides. No interior das paredes das tubas uterinas está localizada
a musculatura lisa, tanto longitudinal quanto circular, as quais auxiliam no transporte
de óvulos e esperma através de suas contrações. A cobertura serosa das trompas
uterinas é conhecida como mesossalpinge, que é uma continuação do mesovário e
parte do ligamento largo (que fornece sustentação para a genitália interna).
O útero fornece um local para o desenvolvimento do feto, se houver a
fertilização. O útero consiste de um corpo, uma cérvice (colo ou cérvix) e dois
cornos. A cérvix é uma estrutura semelhante a um esfíncter, que se projeta
caudalmente na vagina, onde esta é composta por saliências que, na égua, são
características as dobras da mucosa e as alças que se projetam para dentro da
vagina (HAFEZ e HAFEZ, 2004). A cérvix é a porção mais curta com cerca de 6 cm,
porém, as proporções são variáveis de espécie para espécie, sendo a espécie
equina a que apresenta o maior corpo do útero, em relação a extensão dos cornos
(FRANDSON et al., 2005).
Como muitos outros órgãos cavitários internos, a parede uterina consiste em
um revestimento de membrana mucosa, uma camada intermediária de músculo liso
e uma camada serosa externa de peritônio. O útero está bilateralmente suspenso da
parede do corpo pelo mesométrio. O mesométrio, o mesossalpinge e o mesovário
constituem coletivamente o ligamento largo (FRANDSON et al., 2005).
A estrutura uterina consiste em três túnicas: a serosa (perimétrio) que está
aderida a túnica muscular (miométrio) no qual apresenta duas camadas, um extrato
externo fino de fibras longitudinais e uma espessa camada interna de fibras
circulares, estando entre elas uma camada de tecido conjuntivo. A túnica mucosa
(endométrio) repousa diretamente na túnica muscular, de coloração vermelho-
marrom, exceto no colo, onde é pálida. Está coberta por uma camada única de
células colunares altas, com numerosas glândulas uterinas longas (GETTY, 1986).
A vagina é o segmento que representa o órgão copulatório da fêmea, o qual
vai do óstio uterino externo até o óstio uretral externo. Na égua, o lúmen da vagina
diminui na região cranial pela projeção do colo uterino, que forma o fórnice vaginal
(KONIG e LIEBICH, 2004).
Segundo Lucena (2008) a vulva nos eqüinos é singular, possuindo, dois
grandes lábios e o clitóris. A comissura dorsal pontiaguda e com no máximo 4 cm
acima do assoalho pélvico e a comissura ventral arredondada, uma inversão do
arranjo usual. Em geral é larga ventralmente ao assoalho pélvico e a abertura (12 a
5 cm) deve apresentar-se fechada. As alterações no tamanho da vulva estão sobre
47
influência hormonal, apresentando-se mais estreita e com maior tonicidade quando
sob efeito da progesterona e mais relaxada quando sob efeito da de estrógenos
(DYCE, 1990 citado por LUCENA, 2008)
A vulva é formada de ambos os lados pelos lábios vulvares, que se unem
conjuntamente nos ângulos dorsal e ventral. O ângulo dorsal é arredondado, e o
ventral é agudo. Somente na égua ocorre o contrário devido a presença do clitóris. O
clitóris está alojado na fossa clitoridiana do vestíbulo da vagina. Esta depressão, que
corresponde ao prepúcio nos machos, pode alojar agentes infecciosos na égua
(KONIG e LIEBICH, 2004). De acordo com McKinnon (1992) citado por Lucena
(2008) os lábios vulvares devem estar firmes e selando a entrada do canal vaginal,
funcionando como a primeira barreira física entre o ambiente externo e o útero. Para
que esta proteção seja eficaz, faz-se necessário que os mesmos estejam
verticalmente posicionados ao eixo crânio-caudal com no máximo 10º de inclinação.
Por várias razões esse fechamento se torna menos eficaz, podendo haver
contaminação principalmente pelo ar, urina e pelas fezes, da região vaginal e do
endométrio, podendo levar a um caso de vaginite, cervicite, endometrite e até
esterilização da égua.
Figura 3 - Anatomia do aparelho reprodutivo da égua.
Fonte: Júnior (2008).
48
Figura 4 - Vista lateral do trato genital da égua.
Fonte: Júnior (2008).
2.2.2. A REPRODUÇÃO EQÜINA
Dentre os animais domésticos a égua é a que está sujeita a maior
variabilidade no ciclo reprodutivo, de forma que algumas éguas parecem ser
verdadeiramente poliéstrica; podendo ficar prenhes em qualquer época do ano.
Entretanto, a maioria são poliéstricas estacionais de dias longos, comportamento
observado em éguas que são alimentadas a pasto, onde se reproduzem apenas no
verão e permanecem em anestro no inverno, porém aquelas bem alimentadas e
estabuladas tendem a ciclar o ano todo, estando, portanto, o período de início da
estação reprodutiva fértil, intimamente associado ao manejo a que os animais são
submetidos (HAFEZ e HAFEZ, 2004).
A variação no ciclo reprodutivo das éguas ocorre pela ação do fotoperíodo,
onde, segundo Lincoln et al. (2003) citado Winter (2007) o fotoperiodismo, em
mamíferos, depende da maneira como a glândula pineal traduz o fotoperíodo em um
sinal modulado pelos pulsos de melatonina nos ciclos de 24 horas (ritmo circadiano)
e também, de como a duração da melatonina é decodificada nos tecidos (sensíveis
à melatonina) que controlam aspectos específicos no comportamento e fisiologia
49
sazonal. No eqüino, o ritmo circanual da reprodução é primariamente regulado pelas
mudanças no fotoperíodo (NAGY et al., 2000 citado WINTER (2007). Este sinal
ambiental é traduzido em um sinal endócrino onde a substância melatonina,
responsável pela inibição da secreção do GnRH pelo hipotálamo, é secretada
durante a fase de escuridão (escotofase).
Segundo Hafez e Hafez (2004) a variação no fotoperíodo pode ser o sinal
ambiental mais importante e que orienta o eixo hipófise-gônada, uma vez que
tratamentos com fotoperíodo artificial estimulam o desenvolvimento folicular e o
início da estação de monta. Sendo que o padrão de secreção de LH da égua é
influenciado pelo fotoperíodo.
2.2.2.1. Ciclo Estral
Segundo Hafez e Hafez (2004) o ciclo reprodutivo relaciona-se com vários
fenômenos: puberdade, maturidade sexual, estação de monta, ciclo estral, atividade
sexual pós-parto e envelhecimento. Esses componentes são regulados por fatores
ambientais, genéticos, fisiológicos, hormonais e psicossociais.
Durante a fase pré-natal e neonatal a secreção das gonadotrofinas FSH
(Hormônios Folículo Estimulante) e LH (hormônio luteinizante) e seu fator liberador
hipotalâmico, hormônio LHRH, inicia-se durante a vida fetal, sendo essa secreção
regredida temporariamente antes do nascimento, de forma a permanecerem baixos,
os níveis de tais hormônios, até o inicio da puberdade. Nesse momento ocorre um
aumento na secreção de gonadotrofinas, o que resulta na eliminação do controle
inibidor do sistema nervoso central quando o desenvolvimento corpóreo atinge
progressivamente um nível compatível com a reprodução (HAFEZ e HAFEZ, 2004).
Estando o animal fisiologicamente apto a reprodução, ou seja, atingiu
maturidade sexual, e estando em boas condições de manejo, iniciam-se os ciclos
reprodutivos, os quais para a produção das células germinativas se fazem
necessário a influência de fatores estimulantes ou inibidores como: alimentação,
calor, luz, trauma físico, dor e presença do macho, quando em se tratando das
fêmeas, os quais atuam inicialmente no complexo hipófise-glândula pituitária,
estimulando a secreção do hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH), o qual, por
sua vez, provoca a liberação de hormônios folículo estimulante (FSH) e luteinizantes
50
(LH), que atuam diretamente nas gônadas (ovários e testículos). As atuações
desses hormônios estimulam as gônadas a produzirem hormônios esteróides
(produzidos primariamente nos ovários e nos testículos, mas também podem ser
produzidos pelas glândulas adrenais e placenta). De acordo com Hafez e Hafez
(2004) os ovários produzem dois hormônios esteróides (estradiol e progesterona) e
um protéico (relaxina), os quais são caracterizados da seguinte forma:
• Estradiol - é o estrógeno primário, sendo que a estrona e o estriol
representam outros estrógenos metabolicamente ativos. Todos os estrógenos
ovarianos são produzidos a partir de precursores androgênicos, sendo que
dentre todos os esteróides, os estrógenos tem a mais ampla gama de funções
fisiológicas, tais como: atuam no sistema nervoso central induzindo o
comportamento de cio na fêmea; atuam no útero aumentando tanto a
amplitude quanto a freqüência das contrações, potencializando os efeitos da
ocitocina e prostaglandinas; atua no desenvolvimento físico das
características sexuais secundárias femininas; estimulam o crescimento dos
ductos e desenvolvem as glândulas mamárias, além de exercem efeitos de
retroalimentação tanto negativos quanto positivos no controle da liberação de
LH e FSH através do hipotálamo.
• Progesterona - é o progestágeno natural de maior prevalência, sendo
secretada pelas células luteínicas do corpo lúteo, pela placenta e pelas
glândulas adrenais. Sua secreção é estimulada primariamente pelo LH, de
forma que em éguas a produção placentária de gonadotrofina coriônica
eqüina (eCG) estimula o crescimento folicular, por desempenhar atuação
biológica semelhante ao FSH e LH, porém predominantemente ao FSH.
Assim ocorre o desenvolvimento dos corpos lúteos acessórios, que são
responsáveis pela produção de progesterona para a manutenção da prenhez
em éguas. Segundo Frandson et al. (2005) a progesterona desempenha
funções como: fazer retroalimentação negativa com hipotálamo para inibir
qualquer ciclo estral adicional; inibir o músculo liso do útero para permitir a
fixação e o desenvolvimento do feto e ajudar na manutenção da contratilidade
da cérvix para proteger o ambiente uterino. Segundo Hafez e Hafez (2004) a
progesterona atua ainda auxiliando no desenvolvimento do tecido secretor da
glândula mamária e sinergisticamente com os estrógenos na indução do
comportamento de cio.
51
• Relaxina - é um hormônio polipeptídico que é secretado primariamente pelo
corpo lúteo durante a gestação, atuando na dilatação da cérvix e da vagina
antes do parto, além de inibir as contrações uterinas e auxiliar no crescimento
das glândulas mamárias quando administrada em conjunto com o estradiol.
Hormônios gonadotróficos e esteróides são vital no controle cíclico padrão do
desenvolvimento folicular ovariano, essencialmente para a fertilidade. Estrógenos
em particular estão diretamente relacionados a fertilidade e infertilidade em
mamíferos, pois são responsáveis por manter uma foliculogênese normal, além de
manter as características e controlar o desenvolvimento das células somática
ovarianas das fêmeas (GASTAL, 2009)
Nas fêmeas, o hormônio FSH é responsável por fornecer o estímulo para o
crescimento folicular, já o LH proporciona a maturação final do folículo pré-
ovulatório, a indução da ovulação, e o início da formação dos corpos lúteos (primário
e secundário). Os corpos lúteos produzem progesterona até o 14º ao 15º dia pós-
ovulação, com pico no 6º dia. Após a cobertura ou inseminação, os espermatozóides
são transportados, pelo útero, até a junção útero-tubárica-istmo, onde se
potencializam para encontrar o ovócito, realizar a fusão, finalizando com a
fecundação e formação do zigoto. No início da gestação, o zigoto entra no útero e é
envolvido por uma cápsula de função imunoprotetora, antiluteínica, e após 20 a 21
dias, inicia-se o processo de estabelecimento da placentação alanto-coriônica
(SILVA et al., 1998).
Segundo Frandson et al. (2005) o ciclo estral pode ser divido em várias fases
com base nas modificações comportamentais ou modificações estruturais na
genitália interna e externa:
• Proestro – primeira fase do ciclo estral - é a fase de formação, onde durante
esta, o folículo ovariano, sob influência do FSH e do LH, aumenta de tamanho
e começa a secretar estrogênios, começando, geralmente, um ou dois dias
após a regressão do corpo lúteo do ciclo prévio.
• Estro – período de receptividade sexual - é primariamente iniciado pela
elevação nos estrogênios dos folículos maduros logo antes da ovulação. Na
maioria das espécies domésticas, ocorre ovulação um dia ou dois após o
início do estro comportamental, porém, segundo Hafez e Hafez (2004) na
52
espécie eqüina, a ovulação está mais relacionada com o final do que com o
início do estro.
• Metaestro – o fim da receptividade sexual marca o início do metaestro, a fase
pós-ovulatória dominada pela função do corpo lúteo. Durante este período, os
estrogênios séricos diminuem e a progesterona aumenta. Um corpo lúteo
completamente desenvolvido possui influência notável sobre o útero. O
revestimento endometrial do útero fica mais espesso, as glândulas uterinas
aumentam e os músculos uterinos exibem desenvolvimento aumentado.
Segundo Reece (1996) a genitália externa retorna a seu estado antes do
estro à medida que os estrogênios plasmáticos diminuem.
• Diestro – período de atividade luteínica madura, que se inicia cerca de 4
(quatro) dias após a ovulação e termina com a regressão do corpo lúteo.
• Anestro – Animais com longos períodos entre ciclos ou animais poliéstricos
que interrompem o ciclo entram em um longo período de inatividade
denominado anestro. Durante o anestro, as tubas uterinas, o útero e a vagina
encolhem e permanecem pequenos até a próxima estação de procriação.
O ciclo ovulatório da égua apresenta uma duração média de 21 dias,
consistindo de 14 dias de diestro (fase luteínica) e 7 dias de estro, período em que a
ela se encontra sexualmente receptiva (a duração de estro varia tanto entre éguas
quanto entre ciclos estrais em uma mesma égua). A secreção ovulatória de LH, em
éguas, é prolongada, apresentando aumento gradual dos níveis de LH ao longo do
cio e atingindo o pico no dia seguinte a ovulação, não existindo um aumento abrupto
na secreção de LH antes da ovulação. A elevação de FSH (Hormônio Folículo
Estimulante) ocorre aproximadamente a cada 10 dias de intervalo, no meio do cio e
após a ovulação (HAFEZ e HAFEZ, 2004).
Segundo McKinnon et al. (1988), na espécie eqüina a ovulação está mais
relacionada com o final do que com o início do estro, pois as ovulações ocorrem, em
sua maioria, no terceiro, quarto ou quinto dia do estro, de 24 a 48 horas antes do
final do comportamento de estro.
Em éguas que estão ciclando normalmente, ocorrem duas ondas de FSH,
uma 20 e outra 11 dias antes da próxima ovulação, sendo que tanto a concentração
de LH quanto a de FSH aumentam próximo a ovulação. A elevação no meio do
diestro pode ser importante para um subsequente desenvolvimento dos folículos
destinados a ovular, de 10 a 13 dias mais tarde (HAFEZ e HAFEZ, 2004).
53
A égua é única entre as fêmeas domésticas com um cio ovulatório num curto
período após o parto (Blanchard e VARNER, 1993; GINTER, 1992 citado por
WINTER, 2007). Este primeiro cio, comumente chamado de cio do potro, ocorre
entre o quarto e o décimo oitavo dia pós-parto (ROSSDALE e RICKETTS, 1980
citado por WINTER, 2007). O aumento dos níveis de FSH surge logo antes do parto
e o rápido preenchimento de reservas de LH pituitário e periférico no período de pós-
parto é responsável pela ocorrência do cio do potro (BLANCHARD e VARNER,
1993; GINTER, 1992; NAGY et al., 1998 citado por WINTER, 2007).
2.2.2.2. Comportamento Reprodutivo
O comportamento dos animais tem importante papel na reprodução, afetando
tanto o sucesso de acasalamento, quanto a sobrevivência da prole.
Vários padrões de corte, demonstração, atividades motoras e posturas são
direcionados à união dos gametas masculinos e femininos para garantir a
fertilização, prenhez e propagação das espécies. A coordenação de padrões
motores que levam à inseminação da fêmea tem sido adquirida pela evolução de
uma série ordenada de respostas a estímulos específicos. A expressão dos
comportamentos sexuais é influenciada por hormônios presentes na circulação, e
modificações no comportamento trazem mudanças na secreção desses hormônios,
afetando os comportamentos subsequentes (HAFEZ e HAFEZ, 2004).
O comportamento sexual das fêmeas são mais expressos na fase de estro ou
cio, sendo que nessa fase a vulva aumentada de volume e fica edemaciada, os
lábios vulvares ficam frouxos e se abrem facilmente para exame. A vulva fica
avermelhada ou alaranjada, úmida e brilhante, coberta por uma fina camada de
muco transparente. A mucosa vaginal é altamente vascularizada e um muco aquoso
pode se acumular na vagina. A égua assume a posição característica de micção. A
cauda fica levantada, a urina é expelida em pequenas quantidades e o clitóris é
exposto através de contrações rítmicas e prolongada (Figura 5), seu trato genital
esta preparado para aceitar e transportar os espermatozóides ocorrendo a ovulação,
em média, 24 a 48 horas antes do final do cio (HAFEZ e HAFEZ, 2004).
54
Figura 5 – Égua demonstrando comportamento de cio.
Fonte: Ricardo Agrícola.
Quando abordada e estimulada por um macho, a égua assume postura de
cópula (lordose), ocorre o afastamento dos membros posteriores, a pelve é inclinada
e a cauda desviada. Além disso, everte o clitóris e elimina pequenas quantidades de
urina (DUKES, 2006). Segundo Silva et al. (1998) outros sinais característicos como
orelhas eretas, cauda levantada, micção freqüente e retroversão do clitóris podem
ser observados, sendo estes sinais característicos de estro intensificados no período
que antecede a ovulação, momento ideal para a cobertura. Nesse momento a égua
já apresenta receptividade sexual, pois tem em sua corrente sanguínea a circulação
de estrógenos derivados dos antros foliculares (REECE, 1996).
Após a ovulação, final do estro e início do diestro, a égua não se interessa
pelo macho e, em contato com um garanhão, ela pode aumentar a sua
agressividade, suas orelhas murcham, escoiceia e morde, podendo recolher a cauda
entre as pernas, porém, estes sinais também podem acontecer no início do estro
(MILLS e NANKERVIS, 2005).
Segundo Hafez e Hafez (2004) os padrões e a intensidade dos
comportamentos sexuais são afetados pela genética, pela fisiologia e pelos fatores
55
ambientais, sendo este mais pronunciado no macho que na fêmea, bem como pela
experiência prévia.
Existem éguas que, ocasionalmente, não apresentam sinais evidentes de
comportamento estral (cio silencioso), mesmo que os níveis hormonais circulantes
estejam normais e sejam francamente receptivas. Estima-se que isso ocorra em 7%
dos casos (WARING, 1983 citado por MILLS e NANKERVIS, 2005), e entende-se
que o problema tem origem central, em partes do cérebro que controla o
aparecimento de sinais do estro, sugerindo que fatores externos participam, em
grande parte, na forma do comportamento cíclico normal das éguas.
Alguns animais podem expressar comportamento sexual atípico, podendo ser
ocasionados pela homossexualidade, hipersexualidade, hiposexualidade e o
comportamento auto-erótico. Sendo que a homossexualidade consiste no
comportamento sexual entre machos ou fêmeas, particularmente durante a
puberdade e quando são alojados juntos ainda jovens; a hipersexualidade nos
machos consiste no aumento na excitação sexual, na frequência copulatória e em
tentativas de cópula com machos e fêmeas da mesma espécie ou espécie diferente;
a hiposexualidade é caracterizada por anormalidades no padrão ejaculatório, de
forma que alguns machos podem falhar na ejaculação apesar da protusão da
ereção, enquanto outros não conseguem montar ou deixam de exibir desejo sexual
por vários períodos de tempo; o comportamento auto-erótico se refere à auto-
estimulação das respostas sexuais, que nos machos é chamada de masturbação.
Essas síndromes podem ser devidas a fatores genéticos, a distúrbios no sistema
endócrino ou nervoso ou a manejo inadequado (HAFEZ e HAFEZ, 2004).
2.2.2.3. Biotécnicas na Reprodução Eqüina
A manutenção de práticas eficiente de manejo reprodutivo pode contribuir
para elevar os rendimentos dentro dos criatórios, assim como a utilização de
práticas de biotecnologias, como a inseminação artificial e a transferência de
embriões. O uso de biotécnicas aplicadas a reprodução eqüina vem sendo cada vez
mais difundido entre os criatórios brasileiros, principalmente devido a redução do
custo de muitas dessas técnicas e com a maior capacitação de profissionais ligados
a reprodução eqüina (MANSO FILHO et al.,2008).
56
Segundo Gonçalves et al. (2008) a biotecnologia da reprodução compreende
todas as técnicas utilizadas como ferramentas para aumentar a eficiência
reprodutiva dos animais. O uso de biotécnicas reprodutivas permite aumentar a
eficiência reprodutiva dos animais, já que permite um melhor aproveitamento e
disseminação de material genético superior, gerando aumentos significativos na taxa
de melhoramento genético e reduzindo o tempo para que esse ocorra (HAFEZ e
HAFEZ, 2004).
As principais biotécnicas reprodutivas mais utilizadas são descritas a seguir.
2.2.2.3.1. Inseminação Artificial
A inseminação artificial (IA) é a técnica singular mais importante desenvolvida
para o melhoramento genético dos animais, já que poucos reprodutores
selecionados produzem sêmen suficiente para inseminar milhares de fêmeas
anualmente (HAFEZ e HAFEZ, 2004).
Dentre as biotécnicas aplicadas a reprodução, a inseminação artificial (IA) foi
a que mais se mostrou economicamente viável e de fácil implementação em todas
as espécies domésticas. Embora o uso da IA em equinos tenha a citação mais
antiga, datando de 1322, essa técnica não acompanhou a evolução científica na
mesma intensidade quanto a outras espécies. Independentemente da intensidade de
uso da IA, o seu sucesso, no que se refere a índices de fertilidade, depende de
fatores intrínsecos do garanhão (qualidade do sêmen: morfologia, motilidade,
concentração e total de espermatozóides viáveis depositados no trato genital
feminino durante a IA), de fatores ligados à égua (idade e categoria reprodutiva) e do
manejo (sincronização de cio e momento da IA em relação ao momento de
ovulação) exercendo o homem uma influência marcante (GONÇALVES et al., 2008).
Para a prática da IA, apenas equipamentos estéreis, atóxicos e descartáveis
devem ser usados. Todas as inseminações devem ser executadas com técnicas de
contaminação mínima: com a égua devidamente contida, com a cauda enfaixada e
elevada e a área entre a base da cauda e a comissura ventral da vulva muito bem
esfregada, lavada e secada. O sêmen contido em uma seringa é depositado dentro
do corpo uterino anterior por uma pipeta estéril de inseminação de 22 polegadas. O
técnico deve usar uma luva esterilizada ou de plástico, limpa, protegendo desde o
57
ombro, quando estiver passando a pipeta através da cérvix para o corpo uterino,
onde o sêmen será depositado (HAFEZ e HAFEZ, 2004).
2.2.2.3.2. Transferência de Embriões
O uso da transferência de embriões (TE) em eqüinos tem aumentado nas
últimas décadas, sendo o Brasil um dos países que mais utiliza esta técnica em todo
o mundo. Apesar do inegável benefício da aplicação da transferência de embriões
para a eqüideocultura, a técnica ainda possui algumas limitações. Além do fato de
ocorrer, via de regra, somente uma ovulação por ciclo, resultando na recuperação de
no máximo um embrião por coleta, a estacionalidade reprodutiva da espécie limita
ainda mais o número de embriões obtidos por ano (PERES et al., 2006).
Segundo Hafez e Hafez (2004) a sincronização do ciclo estral é o primeiro
passo da TE, sendo que as éguas podem ser sincronizadas com a utilização de
progestágeno (Altrenogest) ou prostaglandinas (PGF2α):
1. Altrenogest – A administração de Altrenogest, via oral, nas éguas durante 15
dias induz o cio cerca de 3 dias após a remoção do progestágeno. A
fertilidade em éguas sincronizadas é semelhante àquela obtida para
controles, e uma fertilidade satisfatória pode ser obtida pelo acasalamento em
dias alternados durante o cio.
2. Prostaglandina – Éguas em diestro responderão a uma única injeção de
prostaglandina exibindo cio dentro de 3 a 5 dias. Em um grupo de éguas
ciclando ao acaso, o cio pode ser sincronizado com um regime de duas doses
de PGF2α e duas doses de gonadotrofina coriônica humana (hCG), sendo o
protocolo de tratamento: injetar PGF2α (dia 1), hCG (dia 7 ou 8), PGF2α (dia
15) e hCG (dia 21 ou 22). O cio é sincronizado dentro de um período de 2 a 4
dias e a fertilidade é normal.
As principais vantagens da TE, de acordo com Gonçalves et al. (2008), são:
• Obter potros de éguas problemáticas, mais velhas;
• Aumentar a produção de éguas geneticamente superiores;
58
• Obter produtos de éguas que se encontram em performance, sem a
necessidade de parar as atividades em razão da gestação e/ou lactação;
• Obter produtos de potras com dois anos de idade sem alterar seu
desenvolvimento.
A colheita do embrião, segundo Gonçalves et al. (2008), é feita por meio da
introdução de um cateter através da vagina e da cérvix com um balão inflável que é
mantido dentro do útero. Através desse cateter, 1 a 2L de meio tamponado é
infundido no útero da égua. Esse fluido é então drenado para um filtro. O
procedimento é então repetido de uma a três vezes, totalizando uma média de 3 a
6L, dependendo do tamanho do útero. O embrião é identificado e qualificado
morfologicamente. A transferência pode ser feita por dois métodos: cirúrgico e não
cirúrgico. O método não cirúrgico é o mais utilizado em razão da facilidade, sendo
semelhante a inseminação artificial. Coloca-se o embrião em uma pipeta de
inseminação, transferindo-o para o corpo do útero. A receptora deverá estar
devidamente sincronizada com a doadora, para que as condições do útero sejam
semelhantes. Um completo exame ginecológico é comumente realizado, sendo
selecionadas receptoras jovens e sadias para que possam levar a gestação a termo
sem problemas. Este procedimento depende inteiramente da disponibilidade de uma
fonte de embrião de boa qualidade e de um ambiente uterino apropriado na
receptora no momento da transferência (sincronia) (HAFEZ e HAFEZ, 2004).
A taxa de prenhez após a TE é grandemente influenciada pelas condições e
pela preparação das receptoras. Um animal que não é apto para o serviço natural
não pode ser usado para a TE. Fêmeas selecionadas para serem receptoras devem
ser boas reprodutoras, com um trato genital livre de infecção, ciclo estral de duração
normal e em boa condição corporal. Outro fator importante para obtenção de
resultados ótimos de prenhez é a sincronização entre o estágio de desenvolvimento
do embrião e o trato reprodutivo da receptora (HAFEZ e HAFEZ, 2004).
59
2.3. MATERIAL E MÉTODOS
A pesquisa foi desenvolvida durante o período do Estágio Supervisionado
Obrigatório (04 de janeiro a 28 de fevereiro de 2010), na clínica de reprodução: Ilana
Reprodução Eqüina (Fazenda Canaã), localizada na BR 232, km 64, Gravatá – PE.
Utilizaram-se 6 éguas doadoras das raças Mangalarga Marchador, Quarto de Milha
e Campolina, em períodos de estro e diestro, em um delineamento inteiramente
casualizado (DIC), tendo as éguas idades e pesos variando entre 3 e 12 anos e 490
a 740 kg, respectivamente. As idades dos animais foram baseadas na cronologia
dentária e os pesos foram estimados através da equação:
• Peso (kg) = PT3 x 80
Onde: PT = Perímetro Torácico
As éguas estavam alojadas em baias individuais, medindo 4,00 x 4,00 m, com
cama de maravalha, apresentando um engradado de madeira como delimitador da
frente da baia, o que permitia a comunicação dessas éguas com as vizinhas. Elas
tinham acesso a um piquete de exercício, com uma área aproximada de 2000m2,
topografia plana e cercas de madeira, durante uma parte do dia, sendo agrupadas
em dois lotes, onde um era direcionado ao piquete de exercício no período da
manhã (7:00 às 11:00 horas) e o outro no período da tarde (13:00 às 17:00 horas).
A camada suja da cama era removida diariamente e colocado uma fina
camada de reposição, sendo que quando notado a necessidade de troca, toda a
cama era substituída por uma nova. Essa troca da cama era feito no momento em
que as éguas estavam no piquete de exercício.
O acompanhamento das éguas para estudo do comportamento tinha como
parâmetro de início da observação, o acompanhamento do desenvolvimento
folicular, o qual quando atingia um diâmetro médio de 30 mm, observado com
aparelho de ultra-sonografia, iniciava-se a observação do estro. Após sete a oito
dias da observação do estro, fazia-se a observação do diestro. As éguas foram
observadas por um período de 24 horas (das 7:30h às 7:30h do dia seguinte), tanto
no estro (folículo apresentando diâmetro médio de 30 mm) como no diestro, de
forma que as observações eram anotadas a cada dez minutos, em planilhas
60
previamente elaboradas (ver Apêndice A), sendo discriminado o tempo que o animal
passava desempenhando os parâmetros avaliados.
Durante o período noturno uma lâmpada incandescente de 60 Watts era
acesa para permitir uma melhor visualização dos comportamentos expressados
pelas éguas.
Os parâmetros comportamentais avaliados foram: freqüência de micção
(MIC), freqüência de defecação (DEF), tempo em ócio (O), tempo gasto se
alimentando (ALI), Frequência de consumo de água (H2O), tempo caminhando
(CAM), tempo dormindo em pé (DP), tempo dormindo deitado (DD), tempo dormindo
em decúbito total (DDT) e presença de vícios (VIC).
O tempo em ócio é o período em que o animal se encontra acordado e em pé,
porém estagnado. Esse parâmetro é importante para determinar a agitação e/ou
inquietação do animal no ambiente ao qual está submetido.
Para a observação desses parâmetros, os observadores se posicionavam a
uma distância de 2 metros das baias das éguas observadas e junto a cerca, quando
a essas estavam no piquete de exercício. Era observada uma égua por vez.
Os dados não paramétricos, obtidos após a observação dos animais, foram
submetidos a análise estatística e comparados pelo teste t a 5% de probabilidade,
utilizando-se o programa computacional R versão 2.7.0 (2008)
61
2.4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
De acordo com os dados analisados, observa-se que para os parâmetros
defecação (DEF) (Tabela 2) e alimentação (ALI) (Tabela 3) não houve diferença
estatística (P<0,05) entre éguas em período de estro e diestro, o que, apesar das
éguas em estro demonstrarem comportamento mais ativo (HAFEZ e HAFEZ, 2004),
esse comportamento não foi observado, possivelmente devido a esses animais,
quando estabulados, ficarem condicionados ao manejo que lhe é aplicado (FRAPE,
2007), pois segundo Voith (1975) citado por Travassos (2005) o aprendizado do
cavalo se dá através da repetição dos estímulos ou exercícios e que estes estímulos
o influenciaram por toda a sua vida. É um processo de troca que tem como resultado
um animal com comportamento estável em seu ambiente. É um modelo de como o
animal se adapta ao meio.
Tabela 2 – Quantidade de micção (MIC), defecação (DEF), consumo de água (H2O), em vezes por dia, quantidade de vícios (VIC) apresentados em éguas no Estro e no Diestro
FATORES Animal 1 Animal 2 Animal 3 Animal 4 Animal 5 Animal 6 MÉDIA
ESTRO
MIC (X/dia) 18 14 13 10 12 15 13,66A
DEF (X/dia) 6 12 12 15 11 8 10,66A
H2O (X/dia) 8 14 7 8 13 11 10,16A
VIC (quantidade) 2 0 0 0 0 0 0,33A
DIESTRO
MIC (X/dia) 13 8 12 4 6 10 8,83B
DEF (X/dia) 8 10 18 11 11 13 11,83A
H2O (X/dia) 9 12 13 8 13 9 10,66A
VIC (quantidade) 2 0 0 1 0 0 0,50A
Letras diferentes entre as médias dos mesmos parâmetros no Estro e no Diestro diferem pelo teste t a 5% de probabilidade.
Fonte: Silva e Lima (2010).
Observou-se que apenas os parâmetros micção (MIC) e dormindo deitado
(DD) diferiram estatisticamente (P<0,05) entre os tratamentos de estro e diestro,
sendo observado que em relação à micção, esta apresentou maior freqüência nas
éguas em estro (Tabela 2), corroborando com Hafez e Hafez (2004), que afirma que
éguas no cio tendem a urinar frequentemente na presença do garanhão,
62
caracterizando o comportamento natural de cio. O mesmo geralmente não acontece
nas éguas em diestro, pois, elevadas concentrações de progesterona através de
mecanismos fisiológicos inibe a produção e liberação de estrógenos (estradiol) que,
quando em concentrações elevadas, é o hormônio responsável pelo comportamento
de cio.
O parâmetro DD foi mais freqüente nas éguas em estro (Tabela 3), este
variou de 117,07 minutos (8,13% de 24 horas) no estro para 54,72 minutos (3,80%
de 24 horas) no diestro. Esse comportamento ocorreu, possivelmente, devido as
éguas em estro tenderem a apresentar uma maior inquietação durante o dia,
chegando ao fim do dia com um maior desgaste físico, tendo então que dormir, já
que o sono é essencial para o descanso e funcionamento normal do animal durante
as horas que passam acordados (HOUPT, 1991 citado por MILLS e NANKERVIS,
2005). Rezende et al. (2006a) estudando o comportamento de cavalos estabulados
do exército brasileiro em Brasília encontrou para o parâmetro DD em cavalos
Mestiços, Puro Sangue Inglês, Lusitano e Brasileiro de Hipismo, valores de 45,50;
6,62; 0,00 e 16,41minutos por dia, para cada raça, respectivamente.
Tabela 3 - Tempo gasto (%) no período de 24 horas conforme os parâmetros analisados em éguas no Estro e no Diestro
FATORES Animal 1 Animal 2 Animal 3 Animal 4 Animal 5 Animal 6 MÉDIA
ESTRO
O (%) 39,66 34,76 30,97 44,89 25,9 35,6 35,29A
ALI (%) 28,87 36,99 32,29 37,77 41,87 34,9 35,44A
CAM (%) 3,57 1,75 4,52 3,04 6,04 2,5 3,57A
DP (%) 15,14 13,01 29,02 3,66 17,57 10,41 14,80A
DD (%) 9,88 9,86 1,67 8,77 8,61 9,99 8,13A
DDT (%) 2,87 3,64 1,53 1,86 0 6,59 2,74A
DIESTRO
O (%) 46,57 31,75 31,24 32,58 24,52 46,53 35,53A
ALI (%) 33,81 46,98 41,31 38,42 39,99 39,3 39,96A
CAM (%) 0,37 1,6 6,34 2,04 4,43 2,85 2,93A
DP (%) 12,46 13,91 14,69 20,89 19,04 10,62 15,26A
DD (%) 1,42 5,39 3,93 5,4 5,97 0,69 3,80B
DDT (%) 5,37 0,36 2,48 0,66 6,04 0 2,48A
Letras diferentes entre as médias dos mesmos parâmetros no Estro e no Diestro diferem pelo teste t a 5% de probabilidade. O – ócio; ALI – alimentação; CAM – caminhando; DP – dormindo em pé; DD – dormindo deitado; DDT – dormindo em decúbito total.
Fonte: Silva e Lima (2010).
63
Segundo Cintra (2003) o eqüino gasta entre 6 e 8 horas por dia dormindo.
Comportamento semelhante foi observado, pois o total de horas que as éguas
passaram dormindo (DP + DD + DDT) foi de 6:16 horas e 5:16 horas para período
de estro e diestro, respectivamente.
O sono profundo ocorre quando o animal está dormindo em decúbito total
(DDT), e é comumente observado em animais jovens. Nos animais observados
houve uma maior incidência desse tipo de comportamento no grupo em estro. Da
mesma forma ocorreu com o sono médio (quando o animal está dormindo deitado –
DD), porém diferindo não apenas numericamente, mas também estatisticamente
(P<0,05), sendo o grupo do diestro os que apresentaram uma menor incidência
desse comportamento, como já discutido anteriormente (Tabela 3). Quanto ao sono
superficial, esse se apresentou numericamente maior nas éguas em estro. Os
valores observados para o tempo gasto das éguas em estro dormindo,
possivelmente ocorreu devido a uma maior atividade desses animais durante o dia,
se analisado os dados apenas numericamente.
Os comportamentos dormindo deitado (DD) e dormindo em decúbito total
(DDT) ocorreram sempre no período noturno (Figura 6 e Figura 7), sendo o horário
que as éguas apresentaram este comportamento, em torno das 20 horas às 04
horas do dia seguinte, externando uma grande frequência no ato de deitar e levantar
durante esse período noturno, o que corrobora com Resende et al. (2006b), que
afirma que os eqüinos são animais essencialmente noturnos, um instinto herdado de
cavalos selvagens que, por serem presas na natureza, só se sentiam seguros, à
noite, quando estavam deitados.
Figura 6 - Comportamento Dormindo Deitado (minutos/hora em 24 horas) de
éguas no Estro e no Diestro.
Fonte: Silva e Lima (2010).
64
Para o parâmetro dormindo em decúbito total (DDT) entre as fases do ciclo
estral estudas foi de 39,45 e 35,71 minutos por dia no estro e diestro,
respectivamente (Figura 7). Observando-se que as éguas apresentaram esse
comportamento de forma mais acentuada no horário de 01 as 04 horas da manhã.
Figura 7 - Comportamento Dormindo em Decúbito Total (minutos/hora em 24 horas) de éguas no Estro e no Diestro.
Fonte: Silva e Lima (2010).
Observou-se que apesar das égua apresentarem o comportamento de dormir
em pé (DP) durante o dia, a maior frequencia desse ocorreu durante a noite (Figura
8). Os valores encontrados para este comportamento foi 213,12 (14,8% de 24 horas)
para as éguas em estro e 219,74 (15,26% de 24 horas) minutos por dia para as
éguas em diestro. Segundo Resende et al. (2006a) o tempo gasto dormindo em pé,
por cavalos das raças Mestiços, Puro Sangue Inglês, Lusitano e Brasileiro de
Hipismo, foi de 45,21; 71,56; 98,49 e 40,32 minutos por dia, respectivamente.
65
Figura 8 - Comportamento Dormindo em Pé (minutos/hora em 24 horas) de éguas
no Estro e no Diestro.
Fonte: Silva e Lima (2010).
Analisado o comportamento alimentar, observou-se que as éguas no período
de estro apresentaram frequência e tempo com a alimentação elevada (Figura 9),
conforme esperado, já que os eqüinos apresentam estômago relativamente
pequeno, representando cerca de 10% do TGI (FRAPE, 2007), sendo necessário,
para um melhor aproveitamento, que os animais tenham a sua ração dividida em
várias refeições. O pico de tempo gasto com a alimentação ocorreu as 17:00 horas,
horário em que era fornecido a última refeição do dia. O alimento dessa refeição
permanecia no cocho durante toda a noite, de forma que com o passar das horas,
com a alimentação das éguas, a quantidade de alimento era diminuída, e
consequentemente a frequência e tempo de alimentação. Ao se aproximar do
horário da próxima refeição, as 07:00 horas, os animais começavam a buscar mais
frequentemente o cocho para se alimentar. Percebe-se ainda, ao analisar a Figura 9,
que o tempo gasto com a alimentação diminuiu, possivelmente pelo fato citado
anteriormente, da quantidade de alimento, bem como, por ser o horário em que os
animais dormem.
A frequência e o tempo de alimentação das éguas em fase de diestro
apresentaram comportamento similar ao observado nas éguas em estro (Figura 9),
porém com uma menor amplitude de variação, o que se deve a uma menor agitação,
já que éguas nessa fase não apresentam a ansiedade pela busca do garanhão, bem
como não aceitam mais a monta, apresentando-se mais calma que éguas no
período do estro (HAFEZ e HAFEZ, 2004).
66
Segundo Mills e Nankervis (2005) o confinamento restringe a alimentação dos
eqüinos e, além disso, estes podem desenvolver estereotipias.
Figura 9 – Comportamento alimentar (minutos/hora) de éguas no Estro e no Diestro
durante um período de 24 horas.
Fonte: Silva e Lima (2010).
Após a alimentação os animais tendem a entrar em ócio (Figura 10), pois o
foco metabólico é direcionado para a digestão dos alimentos ingeridos, assim,
observa-se um comportamento quase que antagônico entre o tempo e frequência de
alimentação e ócio, quando comparado a Figura 9 e a Figura 10.
Figura 10 – Comportamento médio de Ócio (minutos/hora) de éguas no Estro e no
Diestro durante um período de 24 horas.
Fonte: Silva e Lima (2010).
67
O tempo que as éguas em diestro passaram em ócio não sofreu grandes
variações de amplitudes (Figura 10), quanto o observado nas éguas em estro
durante o período de observação, comportando-se de forma mais uniforme, dentro
de uma faixa de máximo e mínimo, porém apresentando um pico pouco antes do
momento que antecede a refeição da manhã.
Normalmente é esperado que animais estabulados apresentem o
comportamento de ócio de forma mais acentuada, devido as limitações de espaço
para desenvolverem alguma atividade, fato esse observado quando as éguas eram
liberadas no piquete de exercício. Quando no piquete de exercício as éguas
apresentavam menor tempo em ócio, passando maior parte do tempo em
movimento (Figura 11). Dessa forma, pode-se afirmar que o tempo dos animais em
ócio pode variar de acordo com o espaço onde estão alocados, de forma que
animais criados em regime extensivo, possivelmente, apresentam um gasto de
tempo maior com exercício, ficando menor tempo em ócio.
Figura 11 – Éguas no piquete de exercício.
Fonte: Silva e Lima (2010).
O confinamento excessivo, a falta de companhia, o manejo alimentar
inadequado levam os animais a uma frustração profunda e ao tédio, levando-os a
expressarem alguns distúrbios de estabulagem (CINTRA, 2003).
Dentre as éguas observadas, verificou-se que duas delas apresentavam
distúrbios comportamentais, sendo que uma delas apresentava o vício de escavar a
baia durante várias vezes no decorrer do dia (Figura 12). Esse comportamento,
segundo Cintra (2003) é comum em animais próximo ao momento do fornecimento
da alimentação, seja por inquietação, ou para chamar a atenção do tratador. Assim,
como esse comportamento não ocorria apenas próximo aos horários de
68
arraçoamento, poderia ser afirmado que é por motivos de solidão e confinamento
excessivo. Porém, essa égua estava com um ferimento na sua perna direita, o que
pode ser um indício do comportamento externado, já que ela era submetida a alguns
tratamentos durante o dia, e assim queria chamar a atenção dos tratadores.
Figura 12 – Égua externando o vício de escavar a baia.
Fonte: Silva e Lima (2010).
Outra égua apresentava dois vícios orais, sendo um deles o de morder a
madeira, o que segundo Cintra (2003) é um dos vícios mais comum, podendo ser
um comportamento normal, já que não ocorria de forma compulsiva e repetitiva.
Outro vício expressado por essa mesma égua, observado com maior intensidade de
acontecimento no período do estro, foi a aerofagia, que consiste no animal engolir
ar. Esse comportamento observado corrobora com Cintra (2003), que afirma que
esse vício apresenta uma maior incidência em eqüinos hiperativos e nervosos, tendo
como prováveis causas o tédio, a frustração e o confinamento excessivo, de forma
que o animal pode permanecer com o vício mesmo quando eliminada a causa.
Algumas medidas podem ser tomadas visando sanar o problema, que na
maioria dos casos não causa incomodo ao animal, mas muito mais a quem está ao
seu redor. Dentre as medidas, além de eliminar a causa do problema, recomenda-se
o uso de coleiras de couro, com ou sem uma parte metálica, colocada ao redor da
garganta do animal. Porém, esse método não é eficaz em 100% dos casos (MILLS e
NANKERVIS, 2005). Em alguns animais um tratamento homeopático pode dar
resultado.
69
2.5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conhecer as características comportamentais dos animais é de fundamental
importância para o desenvolvimento de técnicas de manejo que visem minimizar os
impactos psíquicos, e consequentemente o estresse dos animais estabulados,
mantendo-os de forma a demonstrarem um comportamento semelhante aos
observados, quando no ambiente natural ou criados em regime extensivo.
Dentre os parâmetros avaliados a micção (MIC) e dormindo deitado (DD)
diferiram estatisticamente (P<0,05) entre as éguas em estro e diestro, ocorrendo
com maiores frequências nas éguas em estro, por estarem sobre a ação dos
estrógenos (estradiol), hormônio que atua na expressão do comportamento de cio e
consequentemente acarretando um maior número de micção das éguas. A maior
frequência do comportamento dormindo deitado (DD) em éguas no estro se deve ao
maior cansaço, após o término do dia, das éguas nesse período, por estarem em
uma fase de grande atividade hormonal e reprodutiva e assim necessitando de um
maior período de descanso.
As éguas submetidas ao confinamento não expressaram, de forma esperada,
as diferenças comportamentais possíveis entre as fases reprodutivas de estro e
diestro, porém as diferenças observadas são indícios de um comportamento bem
diferenciado, entre os animais nessas duas fases reprodutivas, quando em ambiente
que lhes permitam expressar seu comportamento natural, uma vez que, animais
estabulados, na maioria dos casos, são privados de externarem seu comportamento
natural, sendo moldados a uma nova realidade de habitat.
Um comportamento mais característico das fases reprodutivas pode ser
observado, com maior frequência, nos momentos em que as éguas estavam no
piquete de exercício.
70
2.6. REFERÊNCIAS
CINTRA, A. G. Criação, Manejo e Nutrição dos Eqüinos. 2003.
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71
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72
Capítulo 3
ANÁLISE ECONÔMICO-FINANCEIRA DE UMA CLÍNICA DE REPRODUÇÃO LOCALIZADA NO MUNICÍPIO DE GRAVATÁ - PE: ILANA REPRODUÇÃO EQÜINA
RESUMO
Pouco se conhece a respeito das receitas geradas pelo setor eqüestre no
Brasil, devido a complexidade que engloba o agronegócio do cavalo, já que o
produto final é intangível, não sendo possível mensurar como os demais, por se
tratar de valor fenotípico e genético. Devido aos poucos estudos econômicos
desenvolvidos a respeito do setor de vendas de serviços de biotécnicas
reprodutivas, objetivou-se fazer uma análise econômico-financeira com os dados
pertencentes a uma clínica de reprodução eqüina situada em Gravatá – PE. Os
parâmetros analisados foram: análise I – análise baseada no índice de avaliação do
fluxo de caixa (análise vertical, análise horizontal e índice de lucratividade) e Análise
II, baseada nos resultados financeiros (margem bruta, margem líquida e lucro). Os
dados foram analisados com auxílio das ferramentas financeiras do programa
computacional Microsoft Office Excel 2007. Obtendo-se respostas favoráveis quanto
à viabilidade econômica de funcionamento da clínica durante o período analisado,
com índice de lucratividade (IL) de 1,10. Nos dois anos iniciais a atividade
apresentou valores positivos de fluxo de caixa, sendo de R$ 27.868,70 e R$
46.925,58, para os anos de 2007 e 2008, respectivamente. O valor de lucro obtido
também foi positivo nesse período, sendo, respectivamente, de R$ 15.813,91 e R$
36.232,23, para os anos de 2007 e 2008. Observou-se fluxo de caixa e lucro
negativos para no ano de 2009, sendo de R$ -7.563,33 e R$ -16.552,44,
respectivamente.
Palavras - chave: Agronegócio do cavalo, clínica de reprodução, viabilidade
econômica, índice de lucratividade.
73
ECONOMIC AND FINANCIAL ANALYSIS IN REPRODUCTION CLINIC PLACED IN THE CITY OF GRAVATÁ - PE: ILANA REPRODUÇÃO EQÜINA
ABSTRACT
Little is known about incoming generated by the equestrian industry in Brazil,
due to complexity that includes the horse agribussiness, as the final product is
intangible, is not possible to measure as the others, because it is genetic and
phenotypic value. Due to the limited economic studies developed about the sales
service sector of reproductive biotechnologies, aimed to make an economic and
financial analysis with the data belonging to an equine reproduction clinic placed in
Gravatá - PE. The parameters analyzed were: analysis I - analysis based on
evaluation index of cash flow (vertical analysis, horizontal analysis and profitability
index) and Analysis II, based on financial performance (gross margin, net margin and
gain). Data were analyzed with the aid of the financial tools of the software Microsoft
Office Excel 2007, getting favorable responses regarding the economic feasibility of
operating the clinic during the period analyzed, with profitability index (LI) of 1.10. In
the first two years the activity showed positive values of cash flow, with R$ 27,868.70
and R$ 46,925.58 for the years 2007 and 2008, respectively. The amount of lucre
was also positive in that period, respectively, with R$ 15,813.91 and R$ 36,232.23 for
the years 2007 and 2008. It was observed cash flow and lucre negatives for the year
2009, with R$ -7,563.33 and R$ -16,552.44, respectively.
Key - words: Horse Agribusiness, reproduction clinic, economic viability, profitability
índex.
74
3.1. INTRODUÇÃO
Com a evolução da sócio-economia, sobretudo com os avanços tecnológicos,
a fisionomia das propriedades rurais mudou totalmente, sobretudo nos últimos 50
anos. A população começou a sair do meio rural e dirigir-se para as cidades,
passando, nesse período, de 20% para 70% a taxa de pessoas residentes no meio
urbano (no caso do Brasil). O avanço tecnológico foi intenso, provocando saltos nos
índices de produtividade (ARAÚJO, 2007).
Assim, a necessidade de modernização, nos diversos setores da economia
rural no final do século XX, trouxe mudanças profundas às atividades do campo.
Sendo a eqüideocultura, um dos elos da cadeia pecuária com menor experiência na
“arte” de gerar lucro (LUCENA, 2008). Para muitos, a indústria do cavalo está
relacionada ao interesse restrito de uma elite e distante da realidade do brasileiro da
classe média (LIMA et al., 2006), sendo que grande parte dos produtores de eqüinos
brasileiros tinham a atividade como hobby, até meados da última década do século
passado. Com mudanças bastante significativas num período de tempo
relativamente curto, o setor eqüestre ainda busca a melhor forma de equilíbrio
sustentável (LUCENA, 2008).
Segundo Araújo (2007) o agronegócio é o segmento de maior valor em
termos mundiais, e sua importância relativa varia para cada país. Apesar do
segmento eqüídeo ocupar uma posição de destaque nos países desenvolvidos e em
muitos daqueles em desenvolvimento, ainda é pouco conhecida a sua configuração
no Brasil, particularmente no que se refere à sua contribuição na geração de renda e
de postos de trabalho (LIMA et al., 2006).
Na criação de cavalos, diferentemente da maioria das outras espécies de
produção, o produto final da cadeia está baseado na qualidade dos indivíduos, pois
existe uma grande correlação entre aparência geral do cavalo e seu valor
econômico. Com isso, a maior eficiência do manejo reprodutivo passa a ser
fundamental para o sucesso da atividade (LUCENA, 2008).
O uso das técnicas de transferência de embriões (TE) em eqüinos tem
crescido muito nos últimos anos, sendo os Estados Unidos, o Brasil e a Argentina os
países que mais realizam a técnica no mundo (GOMES et al., 2009), Isso permitiu
que houvesse um grande avanço na seleção e melhoramento dos rebanhos
eqüinos, já que as biotécnicas reprodutivas, aqui relatando a inseminação artificial e
75
a transferência de embriões, permitem a utilização reprodutiva de indivíduos de
genética superior inaptos a reproduzirem naturalmente, além de proporcionar,
segundo Lucena (2008), um aumento no número de filhos gerados por garanhões e
éguas a cada ano.
Nos diversos setores produtivos existe a necessidade da adoção de
processos organizacionais a fim de implementar a produtividade do setor, uma vez
que o processo organizacional consiste em um padrão de interação entre os
indivíduos da organização que leva ao surgimento de um modelo razoavelmente
definido de regras e comportamentos, sendo esses essenciais para a estabilização
do funcionamento de determinados indivíduos e grupos nas organizações
(GONÇALVES, 2000). Os processos organizacionais ou de integração
organizacional são centralizados na organização e viabilizam o funcionamento
coordenado dos vários subsistemas da organização em busca de seu desempenho
geral, garantindo o suporte adequado aos processos de negócio (GARVIN, 1998).
Os processos organizacionais dos diversos setores eqüestres ainda estão
muito aquém do desejado, por se cultuar a idéia que é um setor de público restrito,
atendendo aos interesses de uma pequena elite. Isso concretiza um grande entrave
no desenvolvimento de atividades eqüestres por parte dos brasileiros enquadrados
como de classe média. Assim, deve-se adotar uma postura de maior divulgação da
criação de cavalos para os mais diversificados objetivos, bem como, os processos,
custos e receitas geradas por tal atividade, a fim de permitir a demonstração da
importância econômica do “agronegócio cavalo”, bem como demonstrar a
necessidade de uma maior organização do segmento eqüídeo.
Até o presente momento, o dimensionamento da indústria do cavalo, incluindo
todas as atividades a ela relacionadas, não foi realizado em toda sua profundidade e
extensão (LIMA et al., 2006). Buscando contribuir com as pesquisas relacionadas ao
“agronegócio eqüino”, objetivou-se fazer uma análise econômica - financeira de uma
clínica de reprodução eqüina situada no município de Gravatá – PE.
76
3.2. REVISÃO DE LITERATURA
3.2.1. DEFININDO AGRONEGÓCIO
O termo “agribusiness”, que originou o atual termo agronegócio, foi utilizado
pela primeira vez em outubro de 1955 por John H. Davis referindo-se à soma total
das operações de produção e distribuição de suprimentos agrícolas, das operações
de produção nas unidades agrícolas e itens produzidos com eles. O termo engloba
todas as atividades existentes desde a produção e distribuição dos insumos
utilizados na atividade produtiva “dentro da porteira”, a própria atividade e até a
comercialização (o que inclui armazenamento, processamento e distribuição) dos
produtos e subprodutos originários da atividade agropecuária (LIMA et al.,2006).
O termo agronegócio foi traduzido para o francês como “filière”, que em
português significa cadeia, adquirindo uma conotação mais dinâmica, preocupada
com a evolução tecnológica e com uma visão sistêmica das relações entre os
diversos agentes econômicos. Associado ao conceito de agronegócio tem sido
utilizado com muita freqüência o conceito de cadeia de produção agroindustrial –
entendida como o conjunto de etapas consecutivas pelas quais os diversos insumos
passam e vão sendo transformados e transferidos, até a chegada do produto final ao
consumidor (GEPAI, 2007) – parte da premissa de que a produção de bens e
serviços pode ser representada como um sistema. Neste, os diversos agentes estão
interconectados por fluxos de materiais, de capital e de informação, com o objetivo
de suprir um mercado consumidor com os produtos do sistema. O funcionamento
geral deste sistema deixou de ser interpretado como um simples somatório de suas
partes componentes e passa a ser visto como resultado de complexas inter-relações
de um conjunto de partes intimamente relacionadas (LIMA et al., 2006).
3.2.2. O AGRONEGÓCIO DA EQÜIDEOCULTURA NACIONAL
A criação de cavalos e outros eqüídeos têm movimentado grandes somas no
Brasil, desde o final da década de 80 do século passado, todavia esses animais tem
77
sido importantes para o desenvolvimento nacional desde o tempo do Brasil colônia.
Atualmente o Brasil conta com mais de 8,5 milhões de eqüídeos, sendo que desse
número os eqüinos representam cerca de 6 milhões de animais (MANSO FILHO,
2001 citado por MANSO FILHO et al., 2008)
Segundo Lima et al. (2006) os negócios que envolvem a criação e utilização
do cavalo ocupam uma posição de destaque nos países desenvolvidos e em muitos
daqueles em desenvolvimento, como o Brasil, se configurando como uma atividade
de considerável importância econômica para o país (Tabela 4). No entanto, pouco se
conhece sobre a configuração do Agronegócio Cavalo, particularmente, a sua
contribuição na geração de renda, a contribuição dos seus diversos segmentos e o
número gerado de postos de trabalho (Tabela 5). Mais grave, muitas vezes, a
imagem do setor é distorcida e carregada de preconceitos. Para muitos, a “indústria”
do cavalo está relacionada ao interesse restrito de uma elite e distante da realidade
do brasileiro médio (LIMA et al.2006).
Tabela 4 - Movimentação econômica entre atividades de relevância para o desenvolvimento do país
ATIVIDADE MOVIMENTAÇÃO ECONÔMICA (R$)
EMPREGOS DIRETOS
Complexo Cavalo 7,5 bilhões 642.520
Comércio Atacadista - 633.000
Correios - 105.300
Ind. Automotiva 39,6 bilhões 101.989
Aviação Civil 8,9 bilhões 30.000
EMBRAER 4,4 bilhões 16.500
Fonte: Adaptado de Medeiros (2008).
78
Tabela 5 - Resumo das contribuições dos diversos segmentos do Complexo Agronegócio Cavalo no Brasil
nc = não calculado.
Fonte: Lima et al. (2006).
79
3.2.3. O MERCADO DA REPRODUÇÃO EQÜINA
Atualmente muitos criatórios brasileiros de eqüinos estão aderindo a utilização
de biotecnologias na reprodução animal, pois o mercado eqüino trabalha cada vez
mais com animais de alto valor genético, principalmente os criatórios que não têm o
eqüino apenas como fonte de trabalho. Assim é evidente a crescente demanda por
serviços técnicos especializados na área reprodutiva, embora existam algumas
limitações que dificultam uma busca maciça de tais serviços.
Das limitações encontradas, a que está diretamente ligada aos interesses dos
criadores é o custo da tecnologia, pois a depender do método reprodutivo
empregado, pode-se ter um maior ou menor custo. A exemplo disso tem-se a
transferência de embriões, que demanda além da exigência de um técnico
especializado, de uma boa infra-estrutura do local onde os animais serão manejados
(JACOB, 2007), bem como exige cuidados especiais quanto ao manejo, nutrição,
sanidade, instalações e muitas vezes, visando um maior controle e homogeneização
dos resultados, é necessário a utilização de alguns medicamentos, principalmente
para o controle hormonal.
Segundo Gomes et al. (2009) o uso das técnicas de transferência de
embriões (TE) em eqüinos tem crescido muito nos últimos anos, sendo os Estados
Unidos, o Brasil e a Argentina os países que mais realizam a técnica no mundo.
Em Pernambuco, segundo Manso Filho et al. (2008) dentre os criadores e
expositores entrevistados durante a 66ª Exposição Nordestina de Animais e
Produtos Derivados, o número de criatórios que trabalham com a aplicação de um
manejo reprodutivo mais tecnificado é de aproximadamente 21,74%, utilizando em
seus criatórios práticas de inseminação artificial (IA) e transferência de embriões
(TE). Obteve-se ainda que, no que se refere as montas, aproximadamente 56% dos
criatórios utilizam a monta natural e 55% utilizam a monta em período de estação de
monta definida. Dos entrevistados, aproximadamente 87% fazem escrituração
zootécnica como forma de manter um registro dos acontecimentos e ocorrências nas
suas criações, permitindo um maior controle da propriedade, e se necessário, a
tomada de decisões de forma precisa.
No Brasil, de acordo com Lima et al. (2006) o rendimento anual de um médico
veterinário é de cerca de R$ 40.000,00. Considerando apenas os profissionais direta
e independentemente dedicados ao cavalo, estima-se que existem 500 médicos
80
veterinários em atividade no País, os quais atuam prioritariamente no segmento da
medicina. Estes, ao exercerem a clínica com eqüinos, geram R$ 20 milhões para o
Agronegócio Cavalo.
Os segmentos de medicamentos veterinários e de rações movimentam juntos
R$ 107,5 milhões, apresentando um grande potencial de crescimento, pois se
estima que apenas 360 mil animais consomem ração industrializada e 250 mil
animais utilizam medicamentos veterinários. Além disso, muitos produtos
veterinários utilizados em eqüinos são registrados também para bovinos,
acarretando um subdimensionamento dos números (GUERRA E MEDEIROS, 2007).
O Brasil é o terceiro maior mercado de produtos veterinários, atrás apenas de
Estados Unidos e Japão (LIMA et al., 2006). Embora o mercado brasileiro tenha
apresentado um significativo crescimento nominal no período entre 1997 e 2004,
quando as vendas mais que dobraram, de R$ 923.629.719 para R$ 2.058.202.871,
em termos reais, o mercado não tem crescido. Pois de acordo com a evolução dos
valores quando convertidos em dólares, uma vez que os insumos e produtos
veterinários eqüinos são importados e comercializados em dólares, percebe-se que
nesse período houve uma queda média de 2,3% a.a., o que implica em um menor
investimento na aplicação de biotécnicas reprodutivas (por utilizarem medicamentos
veterinários – hormônios), atingindo um volume de faturamento equivalente a US$
706.522.679 em 2004 (Figura 13).
Figura 13 - Brasil: evolução do faturamento anual do mercado de medicamentos veterinários, 1997 a 2004, em milhões de reais e em milhões de dólares.
Fonte: SINDAN (2005) citado por Lima et al. (2006).
81
3.3 MATERIAL E MÉTODOS
A análise econômica e de controle dos animais foi desenvolvida durante o
período do Estágio Supervisionado Obrigatório (04 de janeiro a 28 de fevereiro de
2010), na clínica de reprodução: Ilana Reprodução Eqüina (Fazenda Canaã),
localizada na BR 232, km 64, Gravatá – PE. Os dados econômico-financeiro e de
controle dos animais analisados eram pertencentes a clínica, e datavam de maio de
2007 a dezembro de 2009, sendo esse o período de implantação e início da venda
dos serviços de reprodução eqüina na fazenda Canaã, instituindo a clínica de
reprodução: Ilana Reprodução Eqüina, sob responsabilidade da médica veterinária
Drª Ilana da Oliveira Batista.
A fazenda Canaã, local onde funciona a clínica de reprodução, é arrendada,
tendo suas estruturas físicas usadas para os serviços da clínica, como para a
moradia dos arrendatários.
O controle administrativo da clínica é todo feito pela responsável, por meio
das anotações referentes a dados reprodutivos, feitas em agendas, onde constavam
os custos de produção, como: insumos, mão-de-obra dos funcionários,
medicamentos veterinários, aluguel da fazenda, etc., e do número de animais
pagantes locados na clínica durante o mês em estudo. Esses dados foram utilizados
para as análises econômico–financeiras da clínica.
Para o desenvolvimento desse trabalho, as análises econômico-financeiras
foram divididas em duas etapas: Análise I, baseada no índice de avaliação do fluxo
de caixa (análise vertical, análise horizontal e índice de lucratividade); Análise II,
baseada nos resultados financeiros (margem bruta, margem líquida e lucro).
Análise I – A análise vertical foi calculada conforme descrito por Correia Neto
(2009), e utilizou-se, para obtenção dos dados de receita bruta, o número de éguas
locadas na clínica, distinguindo-as em categorias (doadoras e receptoras), por
serem cobrados valores de hospedagem diferenciados para as categorias, sendo
um salário mínimo para as doadoras e meio salário mínimo para as receptoras.
Dessa forma, obteve-se a receita bruta através da seguinte equação:
(número de doadoras x salário mínimo x meses de permanência no ano) + (número
de receptoras x ½ salário mínimo x meses de permanência no ano)
82
Durante os períodos analisados (2007, 2008 e 2009), verificou-se a presença
de animais não pagantes hospedados na clínica, sendo esses contabilizados como
abatimentos/descontos e subtraídos do valor da receita bruta, considerado a
categoria animal e o valor da referente ao tempo de hospedagem.
Os custos de produção com alimentação, mineralização, vermifugação,
medicamentos veterinários (utilizados para a reprodução), cama para as baias,
nitrogênio líquido (para a manutenção de sêmen congelado), combustível para as
máquinas e aluguel referente ao arrendamento da propriedade, foram calculados de
acordo com as anotações de custos, obtidos com a proprietária da clínica.
Os custos atribuídos a mão-de-obra foram obtidos através do valor do salário
mínimo no período em questão, acrescido dos encargos sociais e financeiros,
multiplicado pelo número de funcionário e período de trabalho (número de meses do
período). A clínica apresentava dois tipos de funcionários, os peões e o gerente,
sendo o salário do peão igual a um salário mínimo e do gerente igual a dois salários
mínimos. Para os encargos incidentes sobre a mão-de-obra, consideraram-se os
seguintes valores mensais: Provisão de férias - 11,11% am, Provisão de 13º salário -
8,33% am, FGTS - 8% am e INSS - 12% am.
A mão-de-obra médica veterinária da clínica era a da proprietária, sendo que
a quantidade de horas dedicadas ao trabalho na clínica ocorria de acordo com a
necessidade dos animais, sendo, portanto, considerado uma carga horária semanal
média de 25 horas. De acordo com esse parâmetro, calculou-se o valor médio do
custo da mão-de-obra da proprietária da clínica, adotando-se o salário do médico
veterinário equivalente a quatro salários mínimos por uma carga horária semanal de
40 horas.
As depreciações das máquinas e equipamentos da clínica foram calculadas,
considerando a duração do bem conforme descrito por Marion (2007), pelo método
da soma dos números naturais através da seguinte equação:
d.a. = t.d. (Vi-Vf)
Onde:
t.d. é a taxa de depreciação calculada em função do número de anos de
duração do bem a partir do ano em que a depreciação está sendo
calculada;
83
S é a relação entre o tempo de duração e o ano base do cálculo da
depreciação.
Assim,
T.d. = número de anos de duração que o bem ainda terá S
S = T (T+1) 2
Por as anotações não detalharem os custos em fixos e variáveis de maneira
coerente com as práticas administrativas recomendadas por Vasconcellos e Garcia
(2004), em muitos meses não há registro de alguns dados como o custo de
manutenção das máquinas e dos equipamentos e custos de água, energia, etc.
Assim, para a obtenção desses custos, considerou-se uma taxa de 5% (cinco por
cento) do valor inicial das máquinas e equipamentos utilizados na clínica (Ver
Apêndice B), referentes ao custo de manutenção de máquinas e equipamentos e
15% (quinze por cento) do custo de produção, referente aos custos com água, luz e
demais despesas.
Os custos de oportunidade das máquinas e equipamentos foram calculados
pela a seguinte equação:
J = Vi + Vf x i
2
Onde:
J = Custo de oportunidade anual referente aos juros
Vi = Valor inicial
Vf = Valor final
i = Taxa de juro alternativo
Para a taxa de juro alternativo, no cálculo do custo de oportunidade, adotou-
se 0,55%.
Após análise vertical, fez-se a análise horizontal, conforme preconizado por
Correia Neto (2009), a fim de avaliar a evolução temporal da atividade (clínica de
reprodução), seguido pelo cálculo do índice de lucratividade (IL), para o qual,
considerou-se no ano 0 (zero) um fluxo de caixa livre descontado igual ao valor
84
negativo da aquisição das máquinas e equipamentos, os quais foram adquiridos
antes do início da atividade, bem como uma taxa de juros igual a 12% ao ano. Para
o cálculo IL foi utilizada a seguinte equação (CORREIA NETO, 2009):
IL = Σ VP (FC POSITIVOS)
IΣ VP (FC NEGATIVOS)I
Onde: VP (FC POSITIVOS) - são os valores presentes dos fluxos de caixa
positivos;
VP (FC NEGATIVOS) - são os valores presentes dos fluxos de caixa
negativo, em módulo.
Análise II – A margem bruta, margem líquida e lucro foram calculados
conforme descrito por Brom e Balian (2007), utilizando-se as respectivas equações:
Margem Bruta = Renda Bruta - Custo Operacional Efetivo
Margem Líquida = Renda Bruta - Custo Operacional Total
Lucro = Renda Bruta - Custo Total
Sendo o Custo Operacional Efetivo (COE) composto pelo somatório dos
custos de alimentação, mineralização, vermifugação, medicamentos veterinários,
cama para as baias, nitrogênio líquido, combustível para as máquinas, aluguel da
propriedade, mão-de-obra (peões e gerente), manutenção de máquinas e
equipamentos e custos com água e energia.
O Custo Operacional Total (COT) é o COE mais os custos com a mão-de-
obra familiar (médica veterinária) e os custos de depreciação das máquinas e
equipamentos.
O Custo Total (CT) é o COT mais a remuneração (juros) sobre o capital
circulante e sobre o capital empatado (custo de oportunidade).
Todos os dados obtidos foram tabulados no programa computacional
Microsoft Office Excel 2007, sendo analisados com o auxílio das ferramentas
financeiras e estatísticas do mesmo, para os dados econômico-financeiros e de
controle dos animais, respectivamente.
85
3.4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Durante o primeiro ano de funcionamento da clínica, observa-se que os
maiores custos foram com a alimentação dos animais, mão-de-obra e máquinas e
equipamentos (Tabela 6), o que ocorre devido a atividade estar no início, o que
demanda um maior investimento face ao lucro esperado, sendo esperado que esse
seja revertido nos anos subsequentes. O fluxo de caixa líquido da empresa se
apresentou bastante promissor para o porte da empresa (Tabela 6), uma vez que
essa ainda está se inserindo no mercado, demonstrando uma boa perspectiva
econômico-financeira para a clínica nos anos subsequentes.
Tabela 6 – Análise vertical da clínica de reprodução eqüina no primeiro ano de funcionamento
VALOR(R$) AV (%)
RECEITA BRUTA 80.370,00 100
(-) Abatimentos/descontos 3.420,00 4,26
(=) RECEITA LÍQUIDA 76.950,00 95,74
(-) Custo de Produção:
Custo Operacional Efetivo - COE:
Alimentação (Capineira + Feno) 7.848,00 9,76
Alimentação (Concentrado) 3.753,95 4,67
Sal mineral 699,00 0,87
Vermífugos 728,00 0,91
Medicamentos veterinários (reprodução) 2.267,62 2,82
Cama para as baias 992,60 1,24
Nitrogênio 127,00 0,16
Gasolina para máquinas 52,00 0,06
Mão-de-obra (gerente) 0,00 0,00
Mão-de-obra (peões) 8.477,95 10,55
Aluguel da fazenda 6.000,00 7,47
Manutenção de Máq. e equipamentos 2.560,90 3,19
Água, Luz e demais despesas 7.974,27 9,92
TOTAL DO COE 41.481,30 51,61
86
Custo Operacional Total - COT:
Custo Operacional Efetivo 41.481,30 51,61
Mão-de-obra veterinária (25h/semana) 7.600,00 9,46
Depreciação - Roçadeira 373,40 0,46
- Carroça + arreios 308,75 0,38
- Carroça de mão 49,50 0,06
- Forrageira 140 0,17
- Motor forrageira 177,33 0,22
- Motor bomba 86,67 0,11
- Botijão de nitrogênio 420 0,52
- Brete de contenção 304 0,38
- Lupa 107,8 0,13
- Aparelho de ultra-sonografia 9.475,00 11,79
- Autoclave 363,67 0,45
- Estufa 107,83 0,13
TOTAL DO COT 60.995,25 75,89
Custo Total - CT:
Custo Operacional Total 60.995,25 75,89
Custo de oportunidade - Roçadeira 5,13 0,006
- Carroça + arreios 3,40 0,004
- Carroça de mão 0,54 0,001
- Forrageira 2,89 0,004
- Motor forrageira 3,66 0,005
- Motor bomba 1,79 0,002
- Botijão de nitrogênio 5,78 0,007
- Brete de contenção 4,18 0,005
- Lupa 1,48 0,002
- Aparelho de ultra-sonografia 104,23 0,130
- Autoclave 6,00 0,007
- Estufa 1,78 0,002
TOTAL DO CT 61.136,09 76,07
(=)LUCRO (OU PREJUÍZO) LÍQUIDO 15.813,91 19,68
(+) Depreciação 11.913,95 14,82
(+) Custo de Oportunidade 140,85 0,18
(=) Fluxo de caixa líquido 27.868,70 34,68
Fonte: Silva (2010).
Quando observado o segundo ano de funcionamento da empresa em relação
ao primeiro, percebe-se que houve um aumento de 68,38% no fluxo de caixa líquido
(Tabela 7), o que se explica pelo fim da fase de investimento inicial e início do
retorno econômico-financeiro da atividade. Porém, devido ao maior número de
animais alojados nesse período (Ver Apêndice B), pode-se afirmar que a clínica
87
apresentava uma capacidade potencial de movimentação financeira bem maior que
a observada.
Segundo Brom e Balian (2007) um fator que pode levar a esse sub-
aproveitamento do potencial produtivo de uma empresa é a falta de controle das
atividades, bem como a falta de planejamento dessas para os períodos seguintes.
Tabela 7 – Análise vertical da clínica de reprodução eqüina no segundo ano de funcionamento
VALOR(R$) AV (%)
RECEITA BRUTA 188.900,00 100
(-) Abatimentos/descontos 10.375,00 5,49
(=) RECEITA LÍQUIDA 178.525,00 94,51
(-) Custo de Produção:
Custo Operacional Efetivo - COE:
Alimentação (Capineira + Feno) 20.257,30 10,72
Alimentação (Concentrado) 23.264,13 12,32
Sal mineral 1.294,72 0,69
Vermífugos 1.930,37 1,02
Medicamentos veterinários (reprodução) 4.550,55 2,41
Cama para as baias 2.773,00 1,47
Nitrogênio 449,00 0,24
Gasolina para máquinas 277,00 0,15
Mão-de-obra (gerente) 13.693,01 7,25
Mão-de-obra (peões) 20.539,51 10,87
Aluguel da fazenda 9.000,00 4,76
Manutenção de Máq. e equipamentos 2.560,90 1,36
Água, Luz e demais despesas 18.559,93 9,83
TOTAL DO COE 119.149,42 63,08
Custo Operacional Total - COT:
Custo Operacional Efetivo 119.149,42 63,08
Mão-de-obra veterinária (25h/semana) 12.450,00 6,59
Depreciação - Roçadeira 331,91 0,18
- Carroça + arreios 264,64 0,14
- Carroça de mão 42,43 0,02
- Forrageira 130,00 0,07
- Motor forrageira 164,67 0,09
- Motor bomba 80,48 0,04
- Botijão de nitrogênio 373,33 0,20
- Brete de contenção 270,22 0,14
- Lupa 95,82 0,05
- Aparelho de ultra-sonografia 8.121,43 4,30
- Autoclave 330,61 0,18
- Estufa 98,03 0,05
TOTAL DO COT 141.902,98 75,12
88
Custo Total - CT:
Custo Operacional Total 141.902,98 75,12
Custo de oportunidade - Roçadeira 14,38 0,008
- Carroça + arreios 9,34 0,005
- Carroça de mão 1,50 0,001
- Forrageira 8,28 0,004
- Motor forrageira 10,48 0,006
- Motor bomba 5,12 0,003
- Botijão de nitrogênio 16,17 0,009
- Brete de contenção 11,70 0,006
- Lupa 4,15 0,002
- Aparelho de ultra-sonografia 286,62 0,152
- Autoclave 17,00 0,009
- Estufa 5,04 0,003
TOTAL DO CT 142.292,77 75,33
(=)LUCRO (OU PREJUÍZO) LÍQUIDO 36.232,23 19,18
(+) Depreciação 10.303,57 5,45
(+) Custo de Oportunidade 389,79 0,21
(=) Fluxo de caixa líquido 46.925,58 24,84
Fonte: Silva (2010).
Dentre as máquinas e equipamentos utilizados para os serviços na clínica, o
que mais onerou os custos de produção foi o aparelho de ultra-sonografia, por ser
um equipamento importado de ultima geração, exigindo, portanto, um alto valor de
manutenção e apresentando grande depreciação, quando comparado aos demais
(Tabela 7).
Observou-se, no terceiro período da atividade, que houve uma grande queda
no fluxo de caixa líquido da empresa, passando de R$ 46.925,58, no segundo
período, para R$ -7.563,33no terceiro período (Tabela 8), mesmo com a clínica já
sendo reconhecida no setor da reprodução eqüina a âmbito regional. Tal
acontecimento ocorreu devido inexistência de um controle administrativo adequado,
não havendo um planejamento das atividades da clínica para os anos seguintes, de
forma a encontrar alternativas para diminuir os custos mais representativos, que no
período em questão (terceiro ano) foram os custos com mão-de-obra e alimentação,
respondendo juntos por 64,53% dos custos totais da atividade.
A falta de um rigoroso processo de administração compreendendo as etapas
de planejamento, organização, controle e direção da atividade de uma empresa é a
principal causa do insucesso, uma vez que o maior desafio de uma empresa é
trabalhar com base em ocorrências futuras (BROM E BALIAN, 2007), assim, toda
89
empresa deve analisar os seus atuais dados econômico-financeiros e com base
neles adotar medidas que visem aprimorar os processos produtivos da atividade.
Tabela 8 – Análise vertical da clínica de reprodução eqüina no terceiro ano de funcionamento
VALOR(R$) AV (%)
RECEITA BRUTA 143.972,50 100
(-) Abatimentos/descontos 14.415,00 10,01
(=) RECEITA LÍQUIDA 129.557,50 89,99
(-) Custo de Produção:
Custo Operacional Efetivo - COE:
Alimentação (Capineira + Feno) 9.359,00 6,50
Alimentação (Concentrado) 23.779,67 16,52
Sal mineral 1.013,10 0,70
Vermífugos 1.481,94 1,03
Medicamentos veterinários (reprodução) 4.867,53 3,38
Cama para as baias 1.520,00 1,06
Nitrogênio 0,00 0,00
Gasolina para máquinas 333,00 0,23
Mão-de-obra (gerente) 15.282,62 10,61
Mão-de-obra (peões) 30.565,25 21,23
Aluguel da fazenda 12.000,00 8,33
Manutenção de Máq. e equipamentos 2.560,90 1,78
Água, Luz e demais despesas 19.057,82 13,24
TOTAL DO COE 121.820,83 84,61
Custo Operacional Total - COT:
Custo Operacional Efetivo 121.820,83 84,61
Mão-de-obra veterinária (25h/semana) 15.300,00 10,63
Depreciação - Roçadeira 290,42 0,20
- Carroça + arreios 220,54 0,15
- Carroça de mão 35,36 0,02
- Forrageira 120,00 0,08
- Motor forrageira 152,00 0,11
- Motor bomba 74,29 0,05
- Botijão de nitrogênio 326,67 0,23
- Brete de contenção 236,44 0,16
- Lupa 83,84 0,06
- Aparelho de ultra-sonografia 6.767,86 4,70
- Autoclave 297,55 0,21
- Estufa 88,23 0,06
TOTAL DO COT 145.814,02 101,28
90
Custo Total - CT:
Custo Operacional Total 145.814,02 101,28
Custo de oportunidade - Roçadeira 11,41 0,008
- Carroça + arreios 6,91 0,005
- Carroça de mão 1,11 0,001
- Forrageira 7,15 0,005
- Motor forrageira 9,06 0,006
- Motor bomba 4,43 0,003
- Botijão de nitrogênio 12,83 0,009
- Brete de contenção 9,29 0,006
- Lupa 3,29 0,002
- Aparelho de ultra-sonografia 212,17 0,147
- Autoclave 14,09 0,010
- Estufa 4,18 0,003
TOTAL DO CT 146.109,94 101,48
(=)LUCRO (OU PREJUÍZO) LÍQUIDO -16.552,44 -11,50
(+) Depreciação 8.693,19 6,04
(+) Custo de Oportunidade 295,92 0,21
(=) Fluxo de caixa líquido -7.563,33 -5,25
Fonte: Silva (2010).
Analisando-se a tabela de avaliação horizontal, percebe-se que do início da
atividade ao segundo ano houve um aumento de 68,38% na variação acumulada,
bem como na variação periódica do fluxo de caixa da empresa (Tabela 9),
demonstrando um aumento na movimentação financeira da empresa, porém,
quando analisado a variação acumulada e a variação periódica para o terceiro ano,
nota-se que houve um decréscimo de -27,14% e -16,12%, respectivamente. Isso se
deve, possivelmente, ao fato já comentado, da falta de um melhor controle e
planejamento da atividade.
Tabela 9 – Análise horizontal da clínica de reprodução eqüina durante os períodos avaliados
PERÍODO (ANO) 1 2 3 (=) Fluxo de Caixa Líquido (R$) 27.868,70 46.925,58 -7.563,33 VARIAÇÃO ACUMULADA 100,00 168,38 -27,14 VARIAÇÃO PERIÓDICA 100,00 168,38 -16,12
Fonte: Silva (2010).
A pesar do brusco decréscimo na variação acumulada e na variação periódica
entre o segundo e o terceiro período, conforme observado na tabela da análise
horizontal (Tabela 9), o índice de lucratividade (IL) da empresa foi positivo para os
91
três anos de funcionamento, sendo igual a 1,10, o que demonstra que a atividade
gerou lucro. Porém, se a empresa continuar a atividade sem a implementação de um
controle administrativo, passará a correr o risco de tomar prejuízos econômico-
financeiros no próximo ano da atividade (2010).
Com a aplicação da análise II desse estudo, observou-se que a todos os
períodos da atividade apresentaram uma margem bruta positiva (Tabela 10),
comportando similarmente aos valores encontrados na análise horizontal, onde
houve, entre os períodos, um acréscimo seguido de um decréscimo.
Tabela 10 - Indicadores de resultados econômico-financeiros dos custos de produção por período analisado
PERÍODO (ANO) 1 2 3
Margem Bruta 35.468,70 59.375,58 7.736,67 Margem Líquida 15.954,75 36.622,02 -16.256,52
Lucro 15.813,91 36.232,23 -16.552,44
Fonte: Silva (2010).
De acordo com a análise da margem bruta, o empreendimento é viável,
porém, tem-se que analisar conjuntamente os dados financeiros para que se
obtenham respostas mais confiáveis e precisas. Assim, ao observar a margem
líquida, percebe-se que os dois primeiros anos apresentaram valores positivos,
demonstrando um desempenho viável da atividade nesses, porém no terceiro ano a
margem líquida apresenta valores negativos (Tabela 10), indicando que o
proprietário deve tomar algumas decisões, a fim de evitar que a margem líquida
continue negativa nos anos seguintes, evitando assim o empobrecimento da
empresa ao longo dos anos de funcionamento. Uma margem líquida negativa em
períodos negativos gera o que denomina empobrecimento, pelo fato de ocasionar
real perda de valor monetário implícito em custos não contabilizados pela maior
parte das pequenas empresas rurais, que são depreciação de máquinas e
equipamentos e mão-de-obra famílias. Este último merece destaque por evidenciar
também a existência da fusão do binômio “pessoa física – pessoa jurídica”, ou seja,
quando não se separam adequadamente o que corresponde à pessoa física,
proprietária, e o que corresponde à pessoa jurídica, a empresa. Há, portanto, uma
evidência de que a gestão deste empreendimento adota tais procedimentos.
Quando se observa o histórico do lucro durante os três anos de
funcionamento da empresa, nota-se um comportamento similar ao comportamento
92
da margem líquida, porém Isso acontece quando a margem líquida não consegue
cobrir a remuneração do capital. Dessa forma, não se deve abandonar a atividade,
apesar da perpetuação do lucro negativo tornar a atividade não-atrativa. Deve-se, no
entanto, buscar alternativas para positivar a margem líquida, o que
consequentemente irá positivar o lucro da empresa. Muitos proprietários, no entanto,
acabam por desistir da atividade em função da análise deste resultado em questão,
passando a considerar investir em atividades que a princípio pareçam ser mais
atrativas. O que precisa ficar claro, no entanto, é que, toda a atividade escolhida
deverá sempre levar em consideração a remuneração do capital investido como um
custo da atividade, que deve sim, ser trabalhado e minimizado através do melhor
desempenho mercadológico e redução de custos produtivos.
93
3.5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O segmento da reprodução eqüina se encontra em franca expansão em
nosso país, porém, para a implantação de clínicas de reprodução eqüina que
trabalham com regime de hospedagem, bem como outros tipos de empresas, deve-
se atentar às ferramentas administrativas como parâmetro de avaliação e
direcionamento da atividade.
A clínica de reprodução eqüina: Ilana Reprodução Eqüina não dispõe de uma
administração criteriosa, e devido a isso, observou-se que a empresa se impôs no
segmento da reprodução nos momentos iniciais de sua existência, se tornando
reconhecida a âmbito regional, conseguindo resultados econômico-financeiros
satisfatórios nos dois primeiros anos de funcionamento, porém, no terceiro ano, a
clínica apresentou uma redução no seu fluxo de caixa, bem como, demonstrou
redução do lucro, demonstrando a fragilidade administrativa. O que certamente
minimiza este impacto são fatores ligados à elasticidade demanda x oferta da
atividade na região, que é baixa.
Para obtenção de resultados econômico-financeiros positivos e crescentes
dentro de uma empresa é necessário planejamento, organização, direção e controle
da atividade desenvolvida, pois o uso dessas ferramentas permite a identificação do
problema em um determinado período e a sua solução para os períodos seguintes,
evitando resultados inesperados e/ou falência da empresa. É importante também a
adoção de anotações de custos extremamente rigorosas, que em conjunto com
escriturações zootécnicas vão sempre possibilitar planejamentos mais arrojados e
promissores para anos seguintes.
Apesar dos resultados obtidos com a análise econômica da clínica, percebe-
se a grande importância do segmento da reprodução eqüina, salientando, porém, a
necessidade de um rigoroso controle, tanto dos animais como do fluxo de caixa da
empresa, a fim de permitir uma análise minuciosa dos dados administrativos e
financeiros.
94
3.6. REFERÊNCIAS
ARAÚJO, M. J. Fundamentos de Agronegócios. 2ª ed. 2ª reimpr. São Paulo: Atlas,
2007.
BROM, L. G.; BALIAN, J. E. A. Análise de Investimentos e Capital de Giro: Conceitos e Aplicações. São Paulo: Saraiva, 2007.
CORREIA NETO, J. F. Elaboração e Avaliação de Projetos de Investimento: Considerando o Risco. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.
GARVIN, D. The Processes of Organization and Management. Sloan Management Review, v. 39, n. 4, Summer 1998.
GEPAI: Grupo de Estudos e Pesquisas Agroindustriais. Gestão Agroindustrial/ coordenador Mário Otávio Batalha. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2007.
GOMES, G. M.; ATHAYDE, F. P. A.; GOMES, L. P. M. Manejo de Éguas Doadoras Idosas. In: II SIMPÓSIO DE EQUIDEOCULTURA, 2009, Viçosa. Anais... Viçosa, MG, 2009.
GONÇALVES, J. E. L. As Empresas são Grandes Coleções de Processos. RAE - Revista de Administração de Empresas, v. 40, n. 1, p. 6-19, Jan./Mar. 2000.
GUERRA, P.; MEDEIROS, S. A. F. O Agronegócio da Eqüideocultura no Brasil. In: I SIMPÓSIO MINEIRO DE EQUIDEOCULTURA, 2007, Viçosa. Anais... Viçosa, MG, 2007.
JACOB, J. C. F. Reprodução Assistida. In: I SIMPÓSIO MINEIRO DE EQUIDEOCULTURA, 2007, Viçosa. Anais... Viçosa, MG, 2007.
LIMA, R. A. S.; SHIROTA, R.; BARROS, G. S. A. C. Estudo do Complexo do Agronegócio Cavalo. Relatório Final - Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada - CEPEA/ESALQ/USP. Piracicaba-SP, 2006.
LUCENA, J. E. C. Exame de Qualificação. 2008. 50p. Universidade Estadual do Norte Fluminense. Campos dos Goytacazes - RJ, 2008.
MANSO FILHO, H. C.; MANSO, H. E. C. C. C.; FERREIRA, L. M. C. Perfil do Sistema de Produção de Eqüinos em Pernambuco. Recife: EDUFRPE, 2008.
MARION, J. C. Contabilidade Rural. 9ª ed. São Paulo: Atlas, 2007.
MEDEIROS, S. O Panorama da Eqüideocultura no Brasil. CNA/ENIPEC. Cuiabá – MT, 2008.
VASCONCELLOS, M. A. S.; GARCIA, M. E. Fundamentos de Economia. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2004.
95
APÊNDICE A
Planilha de Acompanhamento Animal
Animal:_________________; Raça:__________________; Peso estimado:___________; Idade aproximada_________________
Horário EVENTOS OBSERVADOS
MIC DEF O ALI H2O CAM DP DD DDT VIC OBS
07:30 – 07:40
07:40 – 07:50
07:50 – 08:00
08:00 – 08:10
08:10 – 08:20
08:20 – 08:30
08:30 – 08:40
08:40 – 08:50
08:50 – 09:00
09:00 – 09:10
09:10 – 09:20
09:20 – 09:30
09:30 – 09:40
09:40 – 09:50
09:50 – 10:00
10:00 – 10:10
10:10 – 10:20
10:20 – 10:30
10:30 – 10:40
10:40 – 10:50
10:50 – 11:00
11:00 – 11:10
11:10 – 11:20
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APÊNDICE B
Custos em uma Clínica de Reprodução Eqüina
105
Custos
Custos operacionais para o funcionamento da clínica:
Alimentação animal (capineira + feno)
Alimentação animal (concentrado)
Sal mineral
Vermífugos
Medicamentos veterinários (reprodução)
Cama para as baias
Nitrogênio
Gasolina para máquinas
Mão-de-obra veterinária (25h/semana)
Custos fixos (Mês):
Aluguel = 1.000,00
4 Funcionários = 4 salário mínimo
1 Gerente = 2 salários mínimos
Encargos sociais e financeiros (incidente sobre o valor dos salários)
• Provisão de férias: 11,11% am
• Provisão de 13 salário: 8,33% am
• FGTS: 8% am
• INSS: 12% am
Máquinas e equipamentos:
1 Roçadeira Stihl (a gasolina) __________ R$ 1.867,00
2 Carroças de mão _______ 99,00 cada = R$ 198,00
1 Carroça com arreios _________________ R$ 1.235,00
1 Forrageira _________________________ R$ 1.050,00
1 Motor forrageira _____________________ R$ 1.330,00
1 Motor bomba _______________________ R$ 650,00
1 Botijão de nitrogênio _________________ R$ 2.100,00
1 Brete de contenção __________________ R$ 1.520,00
1 Lupa ______________________________ R$ 539,00
1 Aprelho de ultra-sonografia ____________ R$ 37.900,00
1 Autoclave __________________________ R$ 2.182,00
1 Estufa _____________________________ R$ 647,00
Área média das instalações e quantidade de terra ocupada pela atividade:
Instalações = 4.560 m2
Área da atividade = 550.000 m2
Média de animais hospedados:
2007 (Abr – Set) = 9 doadoras e 5 receptoras = 14 animais
2007-2008 (Out – Mar) = 28 doadoras e 45 receptoras = 73 animais
2008 (Abr – Set) = 16 doadoras e 27 receptoras = 43 animais
2008 - 2009 (Out – Mar) = 22 doadoras e 30 receptoras = 52 animais
2009 (Abr – Set) = 5 doadoras e 28 receptoras = 33 animais
2009 (Out – Dez) = 9 doadoras e 24 receptoras = 33 animais
Receitas
1 salário mínimo por doadora hospedada
½ salário mínimo por receptora hospedada