Direção e Edição Executiva
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Direção de Marketing
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Editora
Léia Machado
Reportagem
Jackson Hoepers
EXECUTIVE REPORT - EXPEDIENTE
O EXECUTIVE REPORT BANCOS INTELIGENTES, SEGUROS E NA NUVEM É OFERECIDO POR
Bancos e instituições financeiras estão diante da pauta mais profunda
de mudança: a transformação digital. Demanda que tem causado grande
impacto no setor, uma verdadeira mudança de mindset
Inteligência Artificial, Cloud Computing, Segurança Cibenética, Blockchain e
Internet das Coisas. Tecnologias que deixaram de ser tendências e são realidades
na transformação do negócio e no atendimento ao cliente no setor financeiro
Entrevista com Antonio João Filho, diretor-executivo de Vendas para o Mercado
Financeiro da Embratel, aborda três pontos importantes na jornada da inovação:
tecnologias emergentes, Segurança Cibernética e relação de parceria entre
players e usuários das soluções tecnológicas
>> ÍNDICE
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BANCOS INTELIGENTES, SEGUROS E NA NUVEM >> CENÁRIO
6 E X E C U T I V E R E P O R T
A
lista de tarefas da transformação digital não para
de crescer. Processos automatizados, inteligência
analítica, engajamento do cliente, construção de
capacidades e lideranças preparadas para enfren-
tar o turbilhão de demandas de uma era completamente diferente.
Hoje, esse ser digital se tornou uma questão de sobrevivência
para todos os setores da economia mundial e, claro, não seria dife-
rente no segmento de Finanças, que sempre esteve na vanguarda
e está sendo desafiado a manter essa tradição daqui pra frente.
O tradicional não tem mais espaço. Os líderes do setor – do
CIO e CMO ao CFO e CEO – estão cada vez mais envolvidos nesse
processo de transformação, pois a vantagem competitiva está à
prova, são mudanças capazes de virar o negócio de cabeça para
baixo e quem não pegar essa onda, pode colocar em risco a própria
sobrevivência empresarial.
O mundo de clientes cada vez mais conectados vem exigindo
das instituições financeiras maturidade digital com uso inovador
de tecnologias que entregam processos automatizados e uma inte-
ligência sofisticada em analisar algoritmos. Isso não é futurologia,
são decisões que já estão impactando o negócio, mudando o min-
dset e modelos estabelecidos.
DISRUPÇÃO TECNOLÓGICAO mercado de Finanças vive hoje a grande questão: apenas as
startups que nasceram no mundo digital são capazes de construir
negócios inovadores com uso de algoritmos sofisticados e inteli-
gentes como base de vantagem competitiva? O que de fato está
sendo feito diante de um cenário de mudanças que englobam o
avanço das fintechs, da rápida disseminação dos conceitos de
banco digital e de novas tecnologias que abrem as empresas do
setor para algo realmente disruptivo?
Entre diversas estratégias, certamente a tecnologia é priori-
dade, inclusive em investimentos focados em inteligência artificial,
computação cognitiva, analytics, big data, mobile payment e cloud
computing. A Pesquisa de Tecnologia Bancária 2018 da FEBRABAN,
realizada pela Deloitte, aponta que os investimentos dos bancos
brasileiros somaram R$ 19,5 bilhões em 2017, um crescimento de
5% se comparado com os R$ 18,6 no ano anterior.
“A indústria bancária brasileira segue robusta, madura e com-
prometida com avanços tecnológicos presentes na sociedade”,
pontua Gustavo Fosse, diretor setorial de Tecnologia e Automação
Bancária da FEBRABAN.
O foco dos investimentos tecnológicos dos 20 maiores ban-
cos nacionais está nas operações com movimentação financeira. A
pesquisa da FEBRABAN aponta que 80% das instituições investem
em inteligência artificial, computação cognitiva e analytics. 75%
apostam em blockchain, 55% em NFC (Near Field Communication)
e 45% investem em tecnologia de internet das coisas.
Todo esse processo vem sendo reforçado pelo alto volume
de recursos destinados pelos bancos ao setor. Os investimentos
com software, que avançam 15% em relação a 2016, representam
metade do orçamento das instituições em tecnologia. Hardware
consumiu 32% dos aportes financeiros e telecom 18%.
MOBILIDADE ROUBA A CENAOutro resultado que chama atenção no setor é o crescimento
exponencial do mobile banking. A pesquisa da FEBRABAN aponta
que houve aumento de 70% nas transações com movimentação
financeira por esse canal, subindo para 1,7 bilhão de operações,
frente a 1 bilhão no ano anterior. Em termos de participação, os
apps bancários contam com 35% das transações realizadas, segui-
dos pelo internet banking (22%).
Esse avanço foi impulsionado pela facilidade de realizar paga-
mentos e transferências, abertura de contas, solicitação de cartões
de crédito e investimento ou aplicações. A participação do mobile
banking no total das transações bancárias cresceu 3,5 vezes em
relação a 2011, confirmando-se como o preferido dos brasileiros
para realizar operações bancárias.
AGILE BANKINGEsse cenário de disrupção tecnológica somada aos novos
canais de atendimento exige das empresas do setor financeiro uma
abordagem completamente diferente, não só pautada em redução
de custos e competitividade, mas também na capacidade de entre-
gar produtos e serviços de forma ágil e inovadora.
Por isso a cultura Agile Banking tem crescido muito dentro dos
bancos brasileiros, pois o método ágil é uma mudança de mindset
junto às equipes de desenvolvedores de softwares, uma permissão
para inovar e se entregar às mudanças, mas sem sair dos trilhos.
O conceito vem provando seu valor como uma solução de proble-
mas complexos, preparando todos os colaboradores – e, de que-
bra, integrando profissionais de diferentes gerações – para uma
entrega bem-sucedida de produtos e serviços.
Ou seja, é um modelo que não está ligado somente à veloci-
dade, mas à cultura interna e à capacidade de adaptação dos cola-
boradores para promover eventuais alterações em um projeto. Isso
exige alinhamento de times e integração contínua – sistêmica,
inclusive. Tudo a fim de desburocratizar processos, processar infor-
mações em tempo real e tomar decisões assertivas.
O JOGO DOS DADOSDiante de todos esses investimentos, desenvolvimentos e
movimentações de canais, um ponto que ganha destaque na estra-
tégia das instituições financeiras é a relação do negócio com o
dado. Na era da transformação digital, os dados são o maior bem
das instituições e nunca foi tão importante saber não só coletar e
armazenar corretamente esse dado, mas entendê-lo e manipulá-lo
para que vire informação estratégica para o negócio.
De fato, os dados são o combustível para a inovação aconte-
cer dentro do negócio das instituições financeiras. “Há anos eu
falo que o dado é o centro de tudo nas empresas. Agora, final-
mente, as organizações estão acreditando em mim”, destaca o
VP de Pesquisas e Analista Emérito do Gartner, Donald Feinberg.
Para ele, as organizações que souberem manipular os dados
com ajuda de tecnologias de Data & Analytics terão diferencial
competitivo na era digital. E essa jornada é de responsabilidade
do CIO, porém, ele não está sozinho. “Nunca a TI precisou tanto
das áreas de negócio para juntos fazer a inovação acontecer den-
tro das empresas”, acrescenta Feinberg. O grande desafio é como
analisar os dados, de forma a extrair uma inteligência deles, para
que auxiliem na tomada de decisão.
No setor financeiro, o uso intensivo de dados permite aos
bancos uma redução de custos e exposição a riscos de fraudes,
além de permitir que as instituições conheçam melhor seus clien-
tes. De acordo com Pietro Delai, diretor de Pesquisas da consulto-
ria IDC, essa manipulação pode prever quais novos produtos vão
decolar e quais vão fracassar antes mesmo de lançá-los. Ou seja,
embora as empresas já tenham aprendido a coletar e processar os
dados, ainda há espaço para uso do analytics a fim de transformar
tudo isso em informações rentáveis às empresas financeiras.
No final das contas, só aplicar a tecnologia não é suficiente. É
preciso uma visão comum em toda a organização e entender que
a maneira como essas soluções são utilizadas pode redesenhar
processos e criar modelos mais consistentes de engajamento
com os clientes.
BANCOS INTELIGENTES, SEGUROS E NA NUVEM >> CENÁRIO
E X E C U T I V E R E P O R T 7
*REVISTA CIAB FEBRABAN USADA COMO FONTE NESSE TEXTO.
8 E X E C U T I V E R E P O R T
PARCERIA HOMEM-MÁQUINA, UMA RELAÇÃO MUITO ALÉM DE CÁLCULOS
As necessidades dos clientes bancários mudaram
nos últimos anos. Prova disso é que os bancos tra-
dicionais vêm investindo cada vez mais em novas
tecnologias, como é o caso do grande guarda-
-chuva da inteligência artificial (IA) que traz recur-
sos como machine learning, deep learning e computação cognitiva.
Tudo isso para competir no mundo digitalizado, baseado em dados
e com uso massivo de dispositivos móveis.
Imagine fazer trabalhos que levavam dias ou semanas em ape-
nas alguns segundos? Isso é possível com aplicações de inteligên-
cia artificial, que oferecem capacidades de análise avançada de
dados, visão computacional, processamento de linguagem natural
e aprendizado de máquina. O uso de IA permite aos bancos a cria-
ção de serviços e produtos mais atraentes aos correntistas, através
da redução de custos de diversas operações, aumento de ofertas e
melhoria na detecção de fraudes, por exemplo, o que evita o roubo
de informações pessoais.
APLICAÇÕES DE INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL SUPERAM O CONCEITO DE FICÇÃO CIENTÍFICA E OFERECEM CAPACIDADES DE ANÁLISE AVANÇADA DE DADOS, AUTOMAÇÃO DE PROCESSOS E COMPREENSÃO DE LINGUAGEM NATURAL, PONTOS IMPORTANTES PARA DESENVOLVIMENTOS E INOVAÇÕES NO SETOR FINANCEIRO
E X E C U T I V E R E P O R T 9
AI E MACHINE LEARNING >> DESAFIO
*REVISTA CIAB FEBRABAN USADA COMO FONTE NESSE TEXTO.
Um estudo sobre o impacto da IA na economia, realizado
pela Accenture, revela que essa tecnologia é o novo fator de pro-
dução e tem potencial para gerar novas fontes de crescimento.
A previsão é de que as taxas de crescimento econômico anuais
sejam duplicadas até 2035 e a produtividade da força de trabalho
aumente em até 40%.
GESTÃO DE RISCOS E AMPLIAÇÃO DOS LUCROSBancos em todo mundo, especialmente na Europa, começaram
a substituir as abordagens mais antigas, de modelagem estatística,
por inteligência artificial e computação cognitiva. Esses
recursos disruptivos auxiliam no gerenciamento
de risco de crédito, por exemplo, ao prever
com precisão quais clientes são mais pro-
pensos a cancelar o serviço ou serem
inadimplentes com seus emprésti-
mos. A análise de perfil pode deter-
minar se há alto ou baixo risco ao
avaliar interações, variáveis, depen-
dências, associações e muitos
outros aspectos.
Além disso, a ferramenta pode
ajudar a escolher ações e investi-
mentos com alto índice de ganhos,
estudando demonstrativos de lucros,
notícias e registros regulatórios, para
obter pistas e sugerir as melhores opções.
FORÇA DE TRABALHOEnquanto alguns pesquisadores preveem que a automação
conduzida pela IA afete 49% das atividades de trabalho e elimine
cerca de 5% dos empregos, um estudo da IDC aponta que, até
2021, atividades de CRM habilitadas por inteligência artificial pode-
riam aumentar as receitas de negócios globais em US$ 1,1 trilhão
e criar 800 mil novos empregos, superando aqueles que foram per-
didos devido à automação.
Outro estudo da Accenture aponta que os bancos devem investir
na capacitação da força de trabalho para novas tecnologias e oportuni-
dades de crescimento via inteligência artificial. O relatório Future Work-
force Survey - Banking: Realizing the Full Value of AI, da Accenture,
ouviu 100 executivos bancários e outra pesquisa da mesma empresa
ouviu outros 1.300 funcionários não executivos do setor e constatou
que, se os bancos investirem em IA e na colaboração entre homens e
máquinas no mesmo ritmo das empresas de alto desempenho, seus
lucros podem crescer 34% e os níveis de emprego em 14% até 2022.
“À medida que a IA ganha novas nuances, o seu papel dentro
dos bancos consegue ir além da automatização, chegando a impul-
sionar as capacidades humanas”, diz Alan McIntyre, diretor execu-
tivo global e líder de Banking da Accenture. Segundo ele, é impor-
tante que os bancos interessados nos benefícios da IA empreguem
a ‘inteligência aplicada’ - uma combinação entre tecnologia e
talento humano - em todas as áreas de seus principais negócios.
Para chegar a esse ponto, eles precisam do comprometimento dos
mais altos níveis de liderança e da compreensão que esta evolução
exigirá uma mudança drástica em suas forças de trabalho.
Outra aplicação da IA que tem se destacado é o chatbot. Essa
tecnologia - que usa recursos de inteligência artificial - está cres-
cendo exponencialmente no setor financeiro, com a capa-
cidade de manter uma relação próxima e interativa
com os clientes. O chatbot não só estabelece
uma conversa no atendimento, mas tam-
bém pode ofertar produtos e serviços
bancários, automatizar suporte e pro-
porcionar uma experiência agradável
aos clientes.
FUTURO DA IAO potencial de utilização da inteli-
gência artificial deve continuar a cres-
cer nos próximos anos. Um estudo do
McKinsey Global Institute mostra que o
impacto econômico da automação che-
gará a US$ 6,7 trilhões anualmente até 2025.
A futurista, engenheira e empreendedora Nell
Watson, que participa do CIAB, se destaca por fazer
palestras sobre a aplicação da inteligência artificial nos negócios.
A irlandesa atua como consultora sênior na The Future Society,
uma organização sem fins lucrativos incubada na Universidade de
Havard que tem como objetivo estudar as consequências e desafios
da atual onda tecnológica mundial.
Na visão de Nell, a inteligência artificial trará diversas vanta-
gens para o cotidiano de empresas e pessoas. “Apesar de duvidar
de que um robô possa verdadeiramente substituir as interações
humanas, muitas pessoas se beneficiarão por compartilhar uma
vida com maquinas, que desempenharão um papel importante
para muitos seres humanos”, pontua.
Enquanto isso, as instituições financeiras estão expandindo
as fronteiras de seus laboratórios de pesquisa e inovação, para se
organizar em grupos de trabalho e consórcios, onde a interopera-
bilidade e criação de um novo ecossistema têm sido os principais
desafios a serem vencidos.
1 0 E X E C U T I V E R E P O R T
As soluções armazenadas em cloud estão trazendo
uma nova realidade para as empresas em todo
mundo. Isso porque as ofertas e tecnologias no
modelo de nuvem estão mudando a regra do jogo,
igualando as condições de competição comercial, o
que deverá acelerar a potência das organizações, sejam elas gran-
des, médias ou pequenas.
De fato, a cloud computing tem se tornado parte integrante da
transformação digital, com um bom ritmo de adoção em diversas
verticais de negócio. Entretanto, o setor financeiro mostrava maior
resistência nesse modelo, principalmente por conta de aspectos
ligados à privacidade dos dados e à segurança dos negócios.
Era preciso quebrar esse tabu. Tanto que o Banco Central
do Brasil (BACEN) acabou de definir na Resolução nº 4.658, de
26/4/2018, a política de segurança cibernética, que estabelece os
requisitos para a contratação de serviços de armazenamento e pro-
cessamento de dados e computação em nuvem, incluindo pontos
contratuais mínimos. Com base neste regulamento, os bancos e
instituições financeiras autorizadas a funcionar pelo BACEN come-
çarão a usar provedores de nuvem pública de larga escala.
A partir de agora, as instituições financeiras devem implemen-
tar e manter política de segurança cibernética formulada com base
em princípios e diretrizes que busquem assegurar a confidenciali-
dade, a integridade e a disponibilidade dos dados e dos sistemas de
informação utilizados. Esses pontos precisam contemplar a contra-
tação de serviços de processamento e armazenamento de dados e
de computação na nuvem, seja no Brasil ou no exterior.
As empresas que contratarem serviços fora do país, deverão
se preocupar em cumprir diversos requisitos, entre eles: seguir a
indicação dos países e das regiões onde os serviços poderão ser
prestados e os dados poderão ser armazenados, processados e
gerenciados; a existência de convênio para troca de informações
entre o Banco Central do Brasil e as autoridades supervisoras dos
países onde os serviços poderão ser prestados; e a instituição con-
tratante deve prever alternativas para a continuidade dos negó-
cios, no caso de impossibilidade de manutenção ou extinção do
contrato de prestação de serviços.
APÓS RESOLUÇÃO DO BANCO CENTRAL DO BRASIL, INSTITUIÇÕES
E BANCOS TÊM O AVAL PARA CONTRATAÇÃO DE SERVIÇOS DE
ARMAZENAMENTO E PROCESSAMENTO DE DADOS EM CLOUD
COMPUTING, DECISÃO QUE ABRE CAMINHO PARA AMPLIAR A
PRESENÇA DA NUVEM NO SETOR
SETOR FINANCEIRO
QUEBRA PARADIGMAS NO
USO DA CLOUD
E X E C U T I V E R E P O R T 1 1
CLOUD COMPUTING >> DESAFIO
A resolução do BACEN não traz nenhuma menção sobre a proi-
bição ou limitação de uso desses serviços, mas a instituição pode
impor restrições na contratação caso haja irregularidades, princi-
palmente se o provedor de serviços não comprovar capacidade de
proteção de dados, qualidade nos controles de acesso, segregação
física e lógica dos dados que visem a proteção da confidenciali-
dade, integridade e disponibilidade das informações. Esse controle
abrange também a produção de softwares seguros.
ADOÇÃO EM CURSOExceto as empresas financeiras e fintechs que já nasceram
digitais e têm uma plataforma 100% em nuvem, muitas áreas
dos bancos tradicionais já vêm testando adoções no modelo em
nuvem, especialmente para o desenvolvimento de aplicações
que precisam de uma interface moderna e uma prestação de
serviço mais rápida ao usuário.
Dificilmente um banco tradicional vai colocar seu sistema de
core bancking (plataforma que processa transações bancárias diá-
rias) para rodar na nuvem, mas as instituições financeiras têm apos-
tado na arquitetura híbrida, que mescla componentes executados
em nuvem com os legados.
Por outro lado, o negócio do setor financeiro sofre pressão por
manter os atuais patamares de lucratividade, o que demanda mais
agilidade do banco. E isso dificilmente será alcançado com estra-
tégias tradicionais de infraestrutura. Diante desse cenário, o ritmo
de adoção da cloud computing vem crescendo, uma pesquisa do
Gartner apontou que um quinto dos maiores bancos do Brasil já
fazem investimentos significativos na tecnologia.
A IDC Brasil prevê que a contratação de infraestrutura, plata-
forma e Software como Serviço (SaaS) em cloud pública atingirá
US$ 1,7 bilhão em 2018 e praticamente o dobro até 2020. Nesse
mercado, a ascensão de soluções multicloud também é uma reali-
dade dentro de grandes corporações e aumenta a necessidade de
integração, padronização e gerenciamento desses ambientes. Para
um gerenciamento eficiente, a adoção de provedores de serviços
especializados em múltiplas nuvens se torna o caminho natural.
“Para extrair o máximo da nuvem, as empresas estão aumen-
tando o investimento em infraestruturas híbridas que combinam
várias configurações, como nuvem privada on premises, nuvem
pública, cloud privada hospedada e nuvem bare-metal”, completa
Renato Rosa, Gerente do Programa de Serviços de TI e Aplicações
na Frost & Sullivan.
NUVEM NÃO CAMINHA SOZINHAA pesquisa da Frost & Sullivan aponta que a adoção de novas
tecnologias, como a internet das coisas, big data, inteligência cog-
nitiva e serviços gerenciados em nuvem foram os principais fato-
res que impulsionaram o mercado de Infraestrutura como Serviço
(IaaS) na América Latina, o que gerou uma receita nesse setor de
US$ 1,8 bilhões em 2017 com projeção de US$ 7,4 bilhões até
2022, com um CAGR (Compound Annual Growth Rate) de 31,9%.
Mas o apelo da computação em nuvem junto aos bancos vai
muito além da utilização da IaaS. A pesquisa do Gartner aponta
que, em uma escala global, as quatro maiores prioridades de inves-
timento em tecnologia para o setor financeiro são, na ordem:
analytics, infraestrutura, mobilidade e cloud computing.
Os canais digitais são pontos impulsionadores para a adoção
da computação em nuvem, assim como as tecnologias como big
data e analytics, com recursos de machine learning e inteligência
artificial. Com o crescimento exponencial de dados, não terá como
falar de analytics sem o uso intensivo de computação na nuvem.
Da mesma forma, mobilidade também impulsiona investimen-
tos em cloud, pois o mobile banking no Brasil não para de crescer
e já é responsável por 35% de um universo de 71,8 bilhões de ope-
rações financeiras. Esse canal demanda performance e disponibi-
lidade, recursos que podem ser entregues no modelo em nuvem.
Outra tecnologia que tem sido bastante utilizada para auxiliar
na melhora da experiência do cliente é o Edge Computing. A ins-
talação pulverizada de pequenos data centers, em diversos locais,
resolve o problema de latência, uma vez que o conteúdo está mais
próximo do usuário.
Esse cenário de transformação exige dos bancos uma quebra
de paradigma e as empresas que tiveram iniciativas de moderni-
zação e migração para nuvem já estão colhendo os frutos desse
movimento nos processos de negócio.
SETOR FINANCEIRO
QUEBRA PARADIGMAS NO
USO DA CLOUD
1 2 E X E C U T I V E R E P O R T
SEGURANÇA EM EVIDÊNCIA:
INOVAÇÃO VERSUS RISCO
AGDPR (Regulamento Geral de Proteção de Dados) é mais um recurso de proteção das empresas. Em vigor a
partir de 25 de maio de 2018, regulação é obrigatória para todas as empresas com sede em um dos países
da União Europeia, além das companhias que manipulem dados de cidadãos europeus. A GDPR é vista
com bons olhos pelos C-Levels de finanças, pois o Brasil tem tratativas similares no que diz respeito
às obrigações e cuidados com os dados, trazendo segurança jurídica nos processos feitos pelos
profissionais no cotidiano.
Dentre as principais demandas tecnológicas no setor de Finanças, o que mais tem ganhado destaque
é a Segurança Cibernética. Não que as instituições financeiras não tenham dado a devida atenção ao
tema – muito pelo contrário, mas porque tecnologias como cloud, inteligência artificial, blockchain
e internet das coisas demandam hoje uma atuação mais profunda dos profissionais que trabalham
com a Segurança da Informação.
Da mesma forma que as tecnologias evoluíram para o setor financeiro, as ameaças virtuais e
ataques cibernéticos também cresceram e o cenário é cada vez mais alarmante. O cardápio de
ciberameaças é bem extenso, vai de fraudes bancárias e roubo de informações à falsificação
e sequestro de dados.
As instituições financeiras já possuem bastante tecnologia para fazer o negó-
cio acontecer e, daqui pra frente, os investimentos em proteção são ainda mais
importantes. De acordo com a Pesquisa de Tecnologia Bancária 2018 da
FEBRABAN, o aporte dos bancos em Segurança da Informação ocupou 10%
do total investido (R$ 19,5 bilhões em 2017), aproximadamente R$ 2
bilhões. Nesse montante estão incluídos softwares, pesquisa e desen-
volvimento de novas tecnologias, além de programas de conscienti-
zação direcionados aos clientes.
AS AÇÕES DE SEGURANÇA CIBERNÉTICA ESTÃO CADA DIA MAIS
IMPORTANTES DIANTE DE UM CENÁRIO EM CONSTANTE EVOLUÇÃO
NO SEGMENTO FINANCEIRO. COMO INOVAR EM CLOUD COMPUTING,
MOBILE BANKING E INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL SEM PERDER DE VISTA
A PROTEÇÃO DE DADOS E SISTEMAS DE NEGÓCIO?
E X E C U T I V E R E P O R T 1 3
SEGURANÇA CIBERNÉTICA >> DESAFIO
A computação em nuvem sempre foi um
tabu para as instituições financeiras. Um dos
pontos críticos era se esse modelo poderia
entregar a proteção necessária para os dados
sigilosos. Com a evolução da própria tecno-
logia, os bancos vêm reconhecendo o valor
da cloud computing para os negócios, tanto
que a Resolução nº 4.658, de 26/4/2018,
do Banco Central do Brasil estabelece os
requisitos para a contratação de serviços de
armazenamento e processamento de dados
e computação em nuvem sob a ótica da polí-
tica de segurança cibernética.
Outro ponto que exige muito da Segu-
rança da Informação é o avanço do mobile
banking. Responsável por 35% das 71,8
bilhões de transações bancárias, este canal
apresentou um crescimento de 70% no
número de transações com movimenta-
ção financeira, totalizando 1,7 bilhão. “A
quebra do ceticismo em relação ao uso
do mobile banking está justamente no
aumento do número de transações”, afirma
Gustavo Fosse, diretor setorial de Tecnolo-
gia e Automação Bancária da FEBRABAN.
De acordo com o executivo, a convi-
vência com a tecnologia é o que permitiu a
massificação do mobile banking. Ele acres-
centa que os mecanismos de proteção
implementados pelas instituições finan-
ceiras são os mais avançados, sendo ven-
cidos apenas pela engenharia social. “Se as
pessoas mantiverem seus antivírus atuali-
zados, forem conscientes e não passarem
suas credenciais em esquemas de phishing,
dificilmente haverá alguma brecha”, alerta.
NOVOS ATAQUESE nesse cenário de vulnerabilida-
des, certamente o ransomware está no
topo da onda, um modelo rentável e de
baixo custo que se tornou a menina dos
olhos dos cibercriminosos. Há um ano, o
maior ataque de ransomware da história
começou. Conhecido como WannaCry, ele
se espalhou como um incêndio e afetou
indiscriminadamente PCs em todo o
mundo, incluindo aqueles que pertenciam
a consumidores, empresas, hospitais e até
departamentos governamentais.
O sucesso do WannaCry se resume
a três principais fatores: o ransomware
explorou a vulnerabilidade EternalBlue que
prevalecia em muitos PCs, os quais execu-
tavam sistemas operacionais mais antigos;
esses sistemas estavam sem suporte e, por-
tanto, vulneráveis à exploração; nenhuma
ação do usuário foi necessária para que o
ataque fosse disseminado.
Além do WannaCry, outros tipos de ran-
somware como o NotPetya usaram a vulnera-
bilidade EternalBlue. Isso abriu as portas para
a criação de novas variantes de malware, que
também fizeram uso desse mecanismo. Tal-
vez os mais notáveis sejam o Adylkuzz, um
malware de mineração de criptomoedas, e o
Retefe, um trojan bancário. A vulnerabilidade
tem sido usada por vários grupos de cibercri-
minosos na coleta de senhas.
No entanto, desde o momento em que o
dano foi causado, diversas empresas de tec-
nologia em Segurança da Informação têm
investigado o WannaCry e os ataques sub-
sequentes com o objetivo de coletar insights
que podem ajudar a entender o que precisa
ser feito, para evitar que esse tipo de cibe-
rataque aconteça novamente. Para especia-
listas do setor financeiro, o ransomware não
vai acabar nunca e cabe agora às instituições
financeiras criar - muitas vezes em parce-
ria com players do mercado de Segurança
Cibernética - sistemas e estruturas capazes
de identificar e mitigar esses ataques.
MITIGAR RISCOSA boa notícia é que já existem mui-
tas ferramentas e soluções, baseadas em
machine learning e inteligência artificial,
que estão desenvolvendo um papel funda-
mental na prevenção dessas ameaças. Na
visão de C-Levels do mercado financeiro,
essas tecnologias ainda têm muito a avan-
çar, no entanto, elas terão um papel funda-
mental no futuro próximo.
A GDPR (Regulamento Geral de Prote-
ção de Dados da União Europeia) é mais
um recurso de proteção das empresas. Pre-
vista para entrar em vigor ainda no primeiro
semestre de 2018, e válida para empresas
com sede em todos os países que fazem
parte da União Europeia e companhias que
tenham alguma relação com elas, a regula-
ção é vista com bons olhos pelos C-Levels
de finanças, pois o Brasil tem tratativas
similares à GDPR no que diz respeito às
obrigações e cuidados com os dados e traz
uma segurança jurídica nos processos fei-
tos pelos profissionais no cotidiano.
Para o setor de Finanças, estar ade-
rente ao GDPR é uma forma também de
ampliar o comprometimento do setor com
a proteção dos dados dos seus clientes.
A troca de informações e compartilha-
mento de dados sobre ameaças e inciden-
tes cibernéticos é outra prática importante
para prevenção de ataques e evitar preju-
ízos. As instituições financeiras, o Banco
Central do Brasil e órgãos do governo
estão negociando um acordo a ser forma-
lizado em breve para permitir essa intera-
ção a fim de tornar mais ágil o intercâmbio
de informações sobre riscos de ataques ao
setor financeiro. O assunto é tratado na
Subcomissão de Cybersecurity da FEBRA-
BAN e já conta com a participação de 12
instituições do setor.
No campo tecnológico, felizmente, há
muitos recursos para se proteger contra o
crescente ritmo de ameaça. Os sistemas se
tornam cada vez mais inteligentes, detec-
tando o perigo mais rápido e neutralizando
a ameaça preventivamente.
O segmento como um todo está em
busca de respostas de como proteger as
novas tecnologias e ser capaz de entre-
gar uma disrupção no negócio de forma
segura. Um caminho para isso diz respeito
a seguir boas práticas do mercado, como as
já fornecidas por entidades e associações
que visam trazer mais proteção aos equipa-
mentos e sistemas.
1 4 E X E C U T I V E R E P O R T
BLOCKCHAIN >> DESAFIO
*REVISTA CIAB FEBRABAN USADA COMO FONTE NESSE TEXTO.
Com promessas de reduzir custos e trazer aos
bancos do mundo todo até 3 bilhões de clientes
que ainda não possuem contas em instituições
financeiras, o blockchain revolucionará a maneira
como lidamos com o dinheiro, na opinião de espe-
cialistas. A automação das tarefas bancárias será possível com a
adoção do blockchain combinado à internet das coisas e a inteli-
gência artificial.
Um estudo da Accenture, feito no início do ano passado, cal-
cula ser possível a redução de 50% nos custos de 8 dos 10 maiores
bancos de investimento do mundo, uma economia de até US$ 12
bilhões, pela menor necessidade de infraestrutura, proporcionada
pela adoção da tecnologia.
O blockchain tem recebido um volume crescente de investi-
mentos: saindo de US$ 100 milhões, entre 2009 e 2013, para US$
1,4 bilhão entre 2014 e 2016. Para a Accenture, essa tecnologia
será a “internet do dinheiro”, com o mesmo potencial disruptivo
que a internet teve nos anos 1990.
No setor financeiro, o blockchain se presta a vários casos de uso
comum, incluindo compliance, pagamentos, custódia e rastreamento
de ativos, financiamentos comerciais e liquidação pós-negociação.
Essa tecnologia exigirá intensa colaboração entre instituições, agen-
tes reguladores e grupos de inovação, tornando o processo mais
complexo e longo, visto que são necessários diversos testes e esco-
lha de um protocolo único para padronização do sistema.
QUEBRA DE PARADIGMASA FEBRABAN criou em 2016 um grupo de trabalho colaborativo,
com o propósito de acelerar o entendimento sobre o blockchain e
o desenvolvimento de aplicações financeiras. Desde então, bancos
brasileiros vêm estudando as plataformas, os cases internacionais,
criando provas de conceito e preparando o lançamento de produ-
tos viáveis para o mercado.
Uma das soluções estudadas na aplicação do blockchain foi
a criação de um cadastro único de clientes, de forma descentrali-
zada, que garantisse a privacidade, rastreabilidade e imutabilidade
dos dados, com o intuito de simplificar o processo de atualização
de informações em todos os bancos onde o cliente tivesse conta.
Outra inovação trazida pelo uso do blockchain é a possibili-
dade de validação e execução de contratos digitais inteligentes, os
“smart contracts”, que permitem a celebração de contrato entre
duas partes sem a necessidade de um intermediário (cartório,
governos), com fiscalização e automatização de mecanismos digi-
tais, como pagamentos, por exemplo.
A adoção do blockchain nas instituições financeiras deve gerar
melhorias operacionais e alavancar oportunidades de negócios com a
criação de novos produtos e serviços. Ainda há muito a ser explorado
pelo mercado e, assim como outros setores, o financeiro deverá apre-
sentar grandes e revolucionárias novidades nos próximos anos.
TECNOLOGIA DEVERÁ PROMOVER A INCLUSÃO BANCÁRIA
GLOBAL, REDUZIR CUSTOS, ALÉM DE CRIAR CADASTROS
ÚNICOS DE CLIENTES E CONTRATOS INTELIGENTES SEM A
NECESSIDADE DE UM INTERMEDIÁRIO PARA VALIDAÇÃO
A VEZ DO BLOCKCHAIN NO SETOR FINANCEIRO
E X E C U T I V E R E P O R T 1 5
INTERNET DAS COISAS >> DESAFIO
O IMPACTO DA INTERNET DAS COISAS NO SEU DINHEIROAUMENTO NO NÚMERO DE USUÁRIOS, REDUÇÃO DE FRAUDES E
MELHORIA DE PREVISIBILIDADE NA CONTRATAÇÃO DE SEGUROS
SÃO OS DESTAQUES DA IOT EM SERVIÇOS FINANCEIROS
*REVISTA CIAB FEBRABAN USADA COMO FONTE NESSE TEXTO.
Com um mercado que tem potencial de movimen-
tar US$ 5 trilhões ao ano, segundo a consultoria
Deloitte, e crescimento no número de dispositi-
vos conectados, a internet das coisas é uma das
grandes promessas tecnológicas do futuro. Apesar
disso, o setor financeiro ainda observa com um misto de fascínio e
desdém a onda de conectividade que pluga relógios, carros, pulseiras
e outros dispositivos à internet.
Segundo o levantamento da Deloitte, serão necessários “deze-
nas de bilhões de dólares” em pesquisa e desenvolvimento para criar
soluções que, de fato, farão a tecnologia decolar. Mesmo assim, as
promessas da IoT são grandes para o segmento de Finanças, desde
aumentar o número de usuários de serviços financeiros e redução de
fraudes, às melhorias em previsibilidade na contratação de seguros.
Bancos e empresas financeiras deverão se transformar diante
da internet das coisas, da mesma forma como os smartphones e
aplicativos mudaram a forma como as pessoas lidam com a comu-
nicação. Tablets nos caixas eletrônicos e monitoração de ritmo car-
díaco para avaliar saques fora do horário comercial são algumas
das funções que especialistas da consultoria financeira alemã GFT
estão prevendo futuramente.
Na área de seguros, carros conectados poderiam identificar a
forma como os motoristas dirigem, gerando análise de risco mais
assertiva, para determinar o prêmio e franquia das coberturas.
Medidores de glicemia, por exemplo, poderiam avaliar os cuida-
dos e hábitos de vida dos clientes e passar essas informações para
empresas de planos de saúde. Quem se cuida mais, paga menos no
seguro. Quem abusa, tem o fator de risco aumentado.
A monitoração de dados de saúde pode, ainda, dar subsídios
aos sistemas antifraude, como a análise de compras e saques sus-
peitos. “Alguém que está com batimento cardíaco acelerado ao
sacar, provavelmente pode estar sendo coagido”, revela Paulo Pia-
larossi, pesquisador de inovação médica no Hospital das Clínicas
de São Paulo.
AVANÇO EM ESCALAO BNDES prevê uma linha bilionária para empresas nacionais
que desejam criar soluções de IoT para o mercado. O Plano Nacio-
nal de Internet das Coisas também deverá impulsionar o desenvol-
vimento de soluções sobre essa tecnologia em todos os setores.
O fato é que a IoT tem potencial para entregar um futuro de
inovação para o setor financeiro, com instituições, bancos e fin-
techs facilitando o relacionamento dos consumidores com o
dinheiro, inclusive nos processos de compra. O avanço das tecnolo-
gias vestíveis, a chamada wearable, e pagamentos por aproximação
(contactless) permitem que sensores em dispositivos (sejam eles
celulares, relógios ou pulseiras, por exemplo) efetuem os pagamen-
tos ao aproximarem esses equipamentos aos terminais habilitados
para pagamentos de contato. Com isso, o valor é descontado auto-
maticamente do saldo disponível.
Hoje, os brasileiros ainda são dependentes de pagamentos
com cartões de débito e crédito em estabelecimentos físicos. Com
a internet das coisas trazendo uma verdadeira revolução no mer-
cado financeiro, é muito provável que essa dependência diminua
gradativamente e veremos aplicações inovadoras da IoT nas tran-
sações daqui pra frente.
1 6 E X E C U T I V E R E P O R T
BANCOS BRASILEIROS SÃO MUNDIALMENTE conhecidos
como os mais inovadores no mercado tecnológico. Os
longos anos trabalhando sob um cenário complexo da
macroeconomia no País proporcionaram uma maturidade
inquestionável às instituições financeiras. Para seguir com
esse status e, principalmente, se manterem competitivas
diante das novas gerações de consumidores, as empresas
do setor estão vivendo uma verdadeira transformação.
Novos modelos de negócio, crescimento da parceria com
as fintechs, tecnologias emergentes, avanço da mobili-
dade e perfil diferenciado de clientes são os pontos cru-
ciais de mudança de cenário. Para Antonio João Filho,
diretor-executivo de Vendas para Mercado Financeiro da
Embratel, as instituições financeiras seguem liderando a
disrupção dos negócios, mas os desafios são grandes e
exigem redesenho de estratégias.
O cenário de mudança do setor financeiro é desafiador, mas estamos falando de
uma indústria madura, que sabe aonde quer chegar.
Entrevista: Antonio João Filho, diretor-executivo de Vendas para Mercado Financeiro da Embratel
Executive Report: Como podemos dese-
nhar o cenário do setor de Finanças diante
da digitalização e experiência do usuário?
Antonio João Filho: O maior desafio das
empresas do setor é em relação ao pró-
prio negócio. Os bancos estão utilizando a
tecnologia para ultrapassar um cenário de
baixo crescimento e procuram aumentar
o engajamento dos clientes com soluções
digitais e mobilidade, o que proporciona
aumento na eficiência, redução de custos
e controle de inadimplência.
Executive Report: A presença das fintechs
também trouxe uma urgência nesse pro-
cesso de reinvenção?
Antonio João Filho: Essas novas institui-
ções financeiras traziam uma visão inicial de
ameaça ao mercado bancário. Entretanto,
vimos uma reação muito positiva, os ban-
cos se aproximam das fintechs para conhe-
cer seus processos e utilizam a capacidade
que elas possuem de atingir o público jovem
ou aquele público que ainda não consegue
participar do sistema bancário.
Tivemos a regulamentação das Fintechs
de Crédito pelo Banco Central, em abril de
2018, e essa aproximação com os órgãos
reguladores é bem vista pelos bancos, que
preferem uma coexistência mais ordenada
dentro do sistema financeiro.
TECNOLOGIAS EMERGENTESExecutive Report: Nesse processo de quebra
de paradigma, veremos inovações tecnológi-
cas, como a adoção da cloud, por exemplo?
Antonio João Filho: O sistema financeiro
é muito regulamentado e sua adesão a
serviços em cloud tem focado em nuvem
privada com alguns serviços de infraestru-
tura para armazenamento, backup, Disas-
ter Recovery e aplicações de colaboração.
Temos uma pesquisa sobre o setor que
aponta a intenção de adotar a cloud tam-
bém para aplicações de Marketing Digital e
em alguns casos de Analytics.
Executive Report: Então a tendência é
uma movimentação mais profunda rumo à
cloud computing?
Antonio João Filho: Apesar de muito estar
se falando sobre a flexibilização para utili-
zação da nuvem no setor financeiro, não é
esperada grande movimentação imediata
do setor para a cloud pública, as aplicações
críticas continuam internalizadas. A adoção
RUPTURAS TECNOLÓGICAS
EM UM ECOSSISTEMA DE
TRANSFORMAÇÃO DIGITAL
E X E C U T I V E R E P O R T 1 7
>> SOLUÇÃO
de computação na nuvem é planejada para
pontos específicos como facilitar o relacio-
namento com os clientes através da inte-
gração de sistemas inteligentes dos bancos
com os canais de comunicação como Face-
book ou WhatsApp, por exemplo.
Executive Report: A inteligência artificial
segue um ritmo diferente de adoção certo?
Antonio João Filho: Os bancos já são pio-
neiros em aprendizagem de máquina e inte-
ligência artificial, são recursos que estão
sendo utilizados inclusive no atendimento
aos clientes. O assistente pessoal por cha-
tbot é utilizado desde o ano passado e,
em alguns bancos, já representa a grande
maioria dos esclarecimentos de dúvidas.
Além disso, há previsão para entrar em pro-
dução, ainda este ano, o atendimento para
consultas do extrato da conta corrente,
poupança e investimentos, assim como
informações sobre fatura do cartão de cré-
dito. Essa nova fase vai incluir a interface
com o Facebook e com o WhatsApp, que
já são ferramentas conhecidas dos clientes.
Executive Report: Esses recursos de IA
andarão sozinhos nas aplicações?
Antonio João Filho: A inteligência artificial
é vista como estratégica para o setor e está
sendo aprimorada para, no futuro, atender
a transações. Mas não caminha sozinha. O
analytics se insere nesse contexto, pois é
um recurso que cresce em investimentos,
agregado aos chatbots, para Análise de
Clientes, Análise de Riscos, na Autentica-
ção Biométrica e em Detecção de Fraudes.
Já a internet das coisas vai viabilizar princi-
palmente o setor de Seguros Conectados
com ofertas mais personalizadas tanto
para saúde como para veículos.
Executive Report: O blockchain também
promete grandes mudanças no setor?
Antonio João Filho: Sim. Ele é visto como
uma tecnologia que, resolve com menor
custo, algumas questões importantes para
as empresas sendo um registro seguro de
informações que permite evitar fraudes, dar
credibilidade e rastreabilidade a transações.
O segmento de Finanças é pioneiro na
adoção de blockchain e já identificou suas
vantagens com economias significativas de
custos em operações e infraestrutura, em
relação ao modelo tradicional. A maioria
dos projetos globais ainda está em testes
e na fase exploratória e as expectativas são
boas para sua adoção pelo setor.
SEGURANÇA CIBERNÉTICAExecutive Report: E por falar em transações
seguras, o avanço dos ataques cibernéticos
coloca à prova o sistema financeiro?
Antonio João Filho: Os bancos são pio-
neiros em muitas tecnologias e isso acaba
virando um grande alvo para ações ciber-
criminosas. Além de liderarem a adoção de
inovações, o setor financeiro atrai os ata-
ques porque detém muitos dados sensíveis
de pessoas e transações.
Entretanto, da mesma forma em que lidera
no mercado tecnológico para prestar seus
serviços, o setor também é líder no com-
bate ao cibercrime com ações contínuas
de atualização de seus especialistas e de
tecnologias de segurança.
Executive Report: Como a Segurança
Cibernética tem avançado na proteção de
dados e transações?
Antonio João Filho: A Segurança da Infor-
mação é parte fundamental das soluções
digitais, os bancos possuem equipes muito
preparadas para atuar nessa área, priori-
zam os investimentos em Cibersecurity e
estão entre os nossos maiores clientes nes-
tes serviços.
Como a Embratel também prioriza os ser-
viços de segurança, sabemos que a atuali-
zação contínua de ferramentas e políticas,
assim como a monitoração da dark web
para prevenção, são condições chave para
se manter protegido. Enquanto atualiza-
mos nosso portfólio de Segurança com
novas ferramentas, os bancos e outras
instituições do setor Financeiro também
atuam em suas políticas setoriais.
Executive Report: As políticas de Segu-
rança abrangem, inclusive, os clientes?
Antonio João Filho: O fator humano tem
grande influência e são necessárias ações
de educação para todos, dos colaboradores
aos clientes. Não passar senhas para outras
pessoas, conhecer as técnicas de engenha-
ria social utilizadas para manipular as pes-
soas e obter informações confidenciais ou
1 8 E X E C U T I V E R E P O R T
>> SOLUÇÃO
clicar em algum link permitindo instalação
de malwares em equipamentos são temas
explorados para levar a mensagem da pro-
teção em todo lugar.
Para combater fraudes, algumas soluções
estão se provando muito eficientes, como
a biometria em autenticação ou o uso de
segunda verificação em outro dispositivo
para se autenticar um usuário.
Executive Report: A adoção do modelo
de Segurança como Serviço também está
avançando?
Antonio João Filho: Fizemos uma pesquisa
envolvendo bancos, seguradoras e fintechs
e identificamos que 44% das empresas pes-
quisadas já utilizam serviços de Segurança
Gerenciada e 16% estão planejando inves-
tir nessa modalidade de serviço.
A adesão é maior para os serviços de segu-
rança perimetral, enquanto outros tipos
de serviços ainda estão internalizados nas
instituições como o Compliance com Regu-
lamentação ou os que estão passando por
inovações recentes como Gerenciamento
de Identidade e Acesso (IAM) e Gerencia-
mento de Informação de Segurança e de
Eventos (SIEM).
Executive Report: Aqui, cibersecurity inclui
ações junto aos órgãos reguladores?
Antonio João Filho: Nosso país não possui
uma lei de proteção aos dados pessoais dos
cidadãos e o sistema financeiro está se arti-
culando para ter procedimentos padroniza-
dos a fim de contribuir com as discussões
legislativas que devem acontecer nessa
área. Uma boa iniciativa está sendo coorde-
nada pelo Banco Central, que realizou uma
consulta pública em novembro de 2017
sobre regras para uma política de ciberse-
gurança para o Brasil.
Entre os temas abordados estão, por exem-
plo, estabelecer regras para o tratamento
de incidentes cibernéticos e ações para o
compartilhamento de informações sobre
esses incidentes. As sugestões e comen-
tários recebidos estão sendo analisados e
a publicação dessas políticas está prevista
para ocorrer ainda este ano.
Executive Report: O compartilhamento
de informações é uma medida importante
nesse processo certo?
Antonio João Filho: Sim e reforça a segu-
rança do setor. Um acordo está articulado
por bancos, FEBRABAN, Banco Central e
órgãos do governo para permitir o comparti-
lhamento de dados sobre ameaças e inciden-
tes cibernéticos por meio de uma plataforma
setorial. Com o compartilhamento imediato
de um risco de ataque, todos podem se pre-
venir com rapidez. Quanto maior a duração
do ataque, maior é o prejuízo financeiro e a
quantidade de informação roubada.
PARCERIA DE INOVAÇÃOExecutive Report: As ações conjuntas
incluem também parcerias com os players
de tecnologia e conectividade? Como a
Embratel se insere neste contexto?
Antonio João Filho: A Embratel trabalha
em sintonia com os clientes do setor finan-
ceiro, com muita proximidade das áreas de
tecnologia e de negócio destas empresas.
Sabendo de suas necessidades presentes e
desafios futuros, podemos nos antecipar e
ajudá-los a encontrar as melhores soluções,
seja de conectividade, mobilidade ou solu-
ções digitais.
Executive Report: Ou seja, é uma ação con-
junta com foco na inovação?
Antonio João Filho: O caminho de trans-
formação digital que o setor financeiro
vem trilhando é muito parecido com o
da Embratel. As mudanças são cada vez
mais profundas e frequentes, com ciclos
mais rápidos. Andar no ritmo acelerado do
cliente, conhecendo suas dores e respon-
dendo às suas demandas é nossa melhor
estratégia para ser reconhecido como par-
ceiro de seu ecossistema.
Executive Report: Isso significa que esta-
mos falando de um trabalho contínuo de
disrupção?
Antonio João Filho: Sim. O uso de serviços
bancários só tende a se intensificar com a
inovação vinda de diversas frentes e dife-
rentes verticais. Tudo passa a ser transacio-
nal. Como conhecedores desse ambiente,
podemos afirmar que não existe caminho
alternativo e a visão que temos para o
futuro é a adoção contínua de inovações
que vão transformando nossos negócios
para as próximas gerações de empresas
digitais. O sistema financeiro se realimenta
com as rupturas tecnológicas.