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Neve em
Panambi
Elio E. Müller
Vista parcial de Panambi – RS, coberta de neve.
20 de agosto de 1965.
A NOSSA PRIMEIRA EXPERIÊNCIA
COM A NEVE.
Foi numa sexta-feira, dia 20 de agosto de 1965, que a maioria dos
moradores de Panambi viram pela primeira vez, em suas vidas, o fenômeno
meteorológico raro na região, ainda mais considerando a precipitação
acumulada que foi fantástica. Aconteceu um dia de neve. A cidade ficou
tomada pelos flocos brancos.
Depois de observar os canteiros, as calçadas, os arbustos e as árvores
cobertas de branco, passamos a olhar admirados para os carros estacionados
ao redor da praça. Notamos que era quase impossível identificar o modelo ou a
cor dos veículos.
A maioria das fotos que tiramos foi em preto e branco. Tivemos bem
poucas fotos coloridas. O que importou foi que estas fotos é que ajudaram para
fixarmos ainda mais firmemente na memória aquele momento inédito.
As escolas liberaram os alunos e o mesmo aconteceu com boa parte dos
empregados do comércio e da indústria de Panambi.
Nós funcionários do Jornal O Panambiense também fomos liberados pois
não conseguimos trabalhar com os tipos de chumbo, as chapas metálicas e os
componedores. Os dedos não obedeciam, deixando inviabilizado o trabalho
tipográfico. As impressoras também ficaram sem condições para a impressão
pois a tinta ficava enregelada sobre os rolos o que passou a prender e amassar
o papel.
O dono do jornal, jornalista Miguel Schmitt-Prym, apareceu e nos liberou,
dizendo: - “Não tem sentido ficarem fechados entre as quatro paredes desta
oficina, e perderem a oportunidade talvez única em vossas vidas de apreciar a
neve caindo. Saiam e sigam até a praça. Lá poderão observar o quanto a
paisagem ficou modificada. Vejam a neve que cobre arbustos e galhos das
árvores. As casas em torno também estão com os telhados cobertos de neve.
Brinquem, corram, façam um boneco de neve. Levem a nossa máquina
fotográfica e tentem trazer algumas fotos. Caso houver uma que o mereça
poderá ser publicada em nossa próxima edição do jornal”.
Lá fomos nós, o José Paulo Schmitz, o Orlando Schemmer, o Elo Zilmmer,
e nos reunimos com diversos colegas da escola que também haviam se
dirigido até a praça.
Correndo e pulando conseguimos suportar melhor o frio que era intenso. A
primeira coisa que fizemos foi de apreciar a vista da cidade coberta de neve. Lá
no alto, no morro da Igreja, a paisagem era linda, mas esquecemos de tirar
fotos dessa vista estupenda.
Decidimos fazer um boneco de neve. Porém isso não foi muito fácil. É bem
mais complicado do que eu imaginara, de conseguir moldar a neve e montar
um boneco que fôsse semelhante a uma pessoa.
Depois de confeccionarmos o boneco de neve, aliás, bastante grotesco, inventamos brincar de atirar bolas de neve uns nos outros.
Ficamos jogando bolas de neve uns nos outros até não aguentarmos mais, de tanto cansaço.
Quase não conseguíamos acreditar no que estávamos vivenciando. Na praça então não tinha mais aquele lindo gramado e nem canteiros com flores. Possivelmente pisoteamos a grama e os canteiros, porém, naquela hora, ninguém pensou nisso.
Ficaram marcadas para sempre aquelas árvores antes de folhagem verde e que agora não apareciam mais com suas diferentes cores esverdeadas. Era tudo esbranquiçado, e os flocos e pingos brancos caindo sobre o gramado e sobre as nossas cabeças. Uma visão e uma experiência, inesquecíveis...
Os telhados das casas eram agora brancos, tirando de nós a impressão de
estarmos em nossa própria terra natal.
Por que foi possível esta neve tão intensa em Panambi e em toda a nossa região? Foi pela combinação de gigantescas massas polares do Pólo Sul, que conseguiram atravessar a Cordilheira dos Andes e a Argentina.
Essas massas polares unindo-se com a intensa umidade do ar existente na nossa região, resultou nesse espetáculo de flocos de neve caindo, fato que entrou para a história da minha terra natal e para a minha vida.
Produção:
Elio Eugenio Müller