Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande M e s t r a d o e m L e t r a s • U E M S / C a m p o G r a n d e I SSN : 217 8 -148 6 • Vo l u m e 4 • N úm er o 12 • m a i o 201 4
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O COMBATE AO PRECONCEITO LINGUÍSTICO
Patricia Damasceno Fernandes (UEMS)1
Natalina Sierra Assêncio Costa (UEMS)2
RESUMO: O preconceito linguístico é uma ação que vem se propagando nas escolas brasileiras, e é
responsável por passar de geração para geração, a ideia de exclusão da variação existente na Língua
Portuguesa e a extrema valorização e imposição da norma padrão, tida como única capaz de levar o aluno
a ter boas oportunidades na vida profissional. Esta prática desencadeia uma visão preconceituosa do
falante em relação a sua língua materna, fazendo com que ele tenha ações pejorativas em relação a
variantes que não estão presentes na norma padrão. É importante levar ao conhecimento dos falantes da
língua a existência da variabilidade linguística para que o preconceito possa ser minimizado. A escola
pode dar grande contribuição no combate do mesmo, dando oportunidade aos alunos de conhecer a língua
e não apenas parte relevante dela. Por meio das mitologias existentes em torno da língua, será possível
compreender concepções que sempre estiveram presentes em nosso cotidiano, como aquilo que pensamos
sobre nossa própria língua materna. Isso é um fato linguístico, porque interfere nas mudanças linguísticas
em curso. Considerar que uma variante é de prestígio, porque ela está vinculada a uma classe social
elevada e dizer que outra é errada e que está fora da norma culta ou padrão porque é utilizada por pessoas
simples, é um fato comum que vemos todos os dias, mas que semeia o preconceito aos poucos. Este
trabalho tratará sobre o que é o preconceito linguístico, quais são os problemas desencadeados por ele nas
escolas brasileiras e possíveis soluções que podem mudar a visão de mundo do falante em relação à
língua.
PALAVRAS-CHAVE: Preconceito Linguístico;. Problemas; Combate.
ABSTRACT : The language bias is an action that has been spreading in Brazilian schools , and is
responsible for passing from generation to generation , the idea of deleting the existing variation in
Portuguese and extreme appreciation and imposition of default rule, regarded as one capable of leading
the student to get good opportunities in working life . This practice triggers a biased view of the speaker
in relation to their mother tongue, causing him to have derogatory action in relation to variations that are
not present in the standard norm. It is important to bring to the attention of the speakers of the language
the existence of linguistic variability that prejudice can be minimized. The school can give great
contribution to combat the same , giving students an opportunity to learn the language and not only
relevant part of it . Through existing mythologies around the language, you can understand concepts that
have always been present in our daily lives, such as what we think about our own mother tongue. This is a
linguistic fact, because it interferes in language change in progress. Consider that a variant is prestigious
because it is linked to a higher social class and say the other is wrong and who is out of the educated
norm or standard because it is used by ordinary people, it is a common fact that we see every day, but
who sows prejudice gradually. This paper will deal about what is linguistic prejudice, what are the
problems caused by it in Brazilian schools and possible solutions that could change the world view of the
speaker in relation to language.
1 Graduada em Letras pela Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS)
2 Professora Doutora da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS)
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KEYWORDS: Linguistic Prejudice; Problems; Combat.
1. INTRODUÇÃO
A concepção que o falante tem a respeito de sua língua materna, constitui um
fato linguístico, porque irá repercutir no que ele passará para suas gerações futuras.
Então, se o indivíduo tiver uma visão distorcida e preconceituosa, advinda da falta de
conhecimento, as crianças, que aprendem com seus pais e professores, irão também
adquirir esta mesma visão.
Logo, se faz presente a importância do papel da escola, no combate ao
preconceito linguístico, pois são os professores, que possuem a chance de mudar essa
espécie de crença popular, que já se tornou tão cristalizada na atualidade, de que o aluno
deve aprender somente a norma padrão e não utilizar a variação que adquiriu fora da
escola.
Quando o professor diz para o aluno, que não se deve utilizar a linguagem
advinda do ambiente familiar, o aluno ficar com medo de falar, porque esta é a variante
que ele conhece aquela em que sabe se expressar, isso causará um grande dano na vida
escolar do aluno, porque se sentirá coagido e com certeza terá dificuldades no
aprendizado.
O preconceito linguístico é alimentado a todo tempo na sociedade, os meios de
comunicação, que divulgam o que é necessário que ter sucesso em uma prova ou
processo seletivo, os livros e manuais didáticos que ensinam somente a norma padrão, e
deixam as pessoas limitadas a conhecerem somente parte de nossa língua, deixando de
lado aspectos que a enriquecem, como o regionalismo, os dialetos, os sotaques,as gírias,
o estrangeirismo, os neologismos etc.
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O simples fato dos falantes terem conhecimento a respeito da existência desses
aspectos mais amplos sobre a língua, e saber que as pessoas não falam da mesma
maneira, e que essas diferenças se devem a fatores sociais, que estão ligados à
diversidade geográfica, a faixa etária, ao nível de escolaridade, o gênero, o contexto
etc., contribui para mudar a história do preconceito linguístico na sociedade.
Sabemos que o Brasil possui grande extensão territorial e consequentemente
uma diversidade incrível em relação à língua, podemos observar isso nos próprios meios
de comunicação: a Língua Portuguesa falada por pessoas da Região Nordeste é diferente
da falada na Região Sul do Brasil; conseguimos identificar muito bem um falante
carioca e um falante paulista por seus respectivos sotaques característicos.
Agora imaginemos agora então a diferença existente entre a Língua Portuguesa
do Brasil e a Língua Portuguesa de Portugal, se no Brasil, a diversidade da língua já
grande e estamos falando de um mesmo País, quando falamos de países diferentes como
Brasil e Portugal a diversidade se torna bem mais intensa.
É importante salientar que não podemos negar a importância da norma padrão de
nossa língua materna, porque é ela que será exigida em todos os contextos formais de
nossas vidas profissionais, é verdade que as pessoas mais bem sucedidas na maioria das
vezes chegaram a seus lugares almejados por meio dos estudos e consequentemente
pelo domínio na norma padrão. Mas é também inegável que somente combateremos o
preconceito linguístico quando mudarmos nossa metodologia de ensino da Língua
Portuguesa, oportunizando a todos a chance de conhecer a língua como um todo, sem
preconceitos, porque somente quando conhecemos a respeito de um assunto, podemos
opinar sobre.
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2. AS MITOLOGIAS EM TORNO DA LÍNGUA
Os estudos de Ferdinand de Saussure que deram origem ao estruturalismo
consideravam a língua como um sistema homogênio, fechado em si mesmo que não
levava em consideração os aspectos sociais.
Com os avanços das teorias da sociolinguística, mais especificamente com
Willian Labov, o mito da homogeneidade foi quebrado; a língua passa a ser estudada
tendo-se em mente que é heterogenia, porém esta heterogeneidade é sistematizável,
levando em consideração os fatores sociais.
Os procedimentos de linguística descritiva se baseiam no entendimento de
que a língua é um conjunto estruturado de normas sociais. No passado, foi
útil considerar que tais normas eram invariantes e compartilhadas por todos
os membros da comunidade linguística. Todavia, as análises do contexto
social em que a língua é utilizada vieram demonstrar que muitos elementos
da estrutura linguística estão implicados na variação sistemática que reflete
tanto a mudança no tempo quanto os processos sociais extralingüísticos.
(LABOV, 1994, p.241)
Dizer que a língua é homogenia em um ambiente escolar traz um grande
problema porque, irá confundir os alunos, que logo pensarão pela lógica, e verão que a
língua portuguesa não é homogênea.
Esse mito é muito prejudicial à educação porque, ao não reconhecer a
verdadeira diversidade do português falado no Brasil, a escola tenta impor
sua norma linguística como se ela fosse, de fato, a língua comum a todos os
160 milhões de brasileiros, independentemente de sua idade, de sua origem
geográfica, de sua situação socioeconômica, de seu grau de escolarização etc.
(BAGNO, 1999, p.15).
O preconceito linguístico tem suas raízes em motivos históricos culturais e
sociais, de acordo com (Bagno, 1999, p.20), nós brasileiros infelizmente temos o
costume de nos inferiorizarmos e valorizarmos o que não é nacional, isso acontece
também com a língua, como o mito de que somente em Portugal se fala corretamente a
língua Portuguesa, talvez este sentimento tenha origem da subordinação que tivemos em
relação aos portugueses porque foram eles nossos colonizadores.
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O fato de nossa língua portuguesa ser diferente da falada em Portugal não nos
faz menores, e também não quer dizer que eles falam o português correto e nós não o
falamos.
Nossa língua é realizada de maneira diversificada porque nossa realidade e
sociedade é diferente da de Portugal, e a língua se adéqua às necessidades de seus povo.
Outra afirmação que faz parte das mitologias em torna da língua é a de que as
pessoas com o baixo nível de escolaridade falam completamente errado.
Quando nós, falantes escolarizados de uma variedade urbana culta, rimos (ou
temos pena) de alguém que diz prantá no lugar de plantar, aproveitamos essas
diferenças de pronúncia para mostrar que nós não pertencemos àquela classe
social, àquela comunidade “atrasada”, que não fazemos parte daquele grupo
desprestigiado... Queremos deixar bem clara a distância social, econômica e
cultural que existe entre nós e aquele falante de não-padrão. E é daí que nasce
o preconceito linguístico... (BAGNO, 2006, p.38).
Precisamos ter em mente que não existe o “falar certo ou falar errado”, porque
criticar uma pessoa pela maneira que ela fala, é prova da falta de conhecimento sobre a
variabilidade da língua.
Muitas pessoas acreditam que devemos falar da mesma maneira que se
escrevemos, e que se isso não for feito, o falante da língua estará falando errado. Mas na
realidade isso não se aplica, pois são modalidades diferentes, e dificilmente uma pessoa
falará da mesma maneira que escreve; tanto a fala quanto a escrita de acordo com o
contexto e finalidade irá alterar sua forma de registro, indo do informal para o formal e
vice-versa, e isso também irá exigir um nível variabilidade adequada.
É claro que é preciso ensinar a escrever de acordo com a ortografia oficial,
mas não se pode fazer isso tentando criar uma língua falada “artificial” e
reprovando como “erradas” as pronúncias que são resultado natural das
forças internas que governam o idioma. (BAGNO, 1999, p.52-53)
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O maior e talvez mais significativo dos mitos existentes em torno da língua, é
pensar que o domínio da norma culta irá levar o indivíduos que possui essa capacidade,
a alcançar todos níveis almejados de ascensão social na sociedade.
Quantas vezes não ouvimos nossos pais, avós e demais familiares, nos falando:
“Vai estudar, para ser alguém na vida”. Pois então, esta premissa vem se arrastando há
anos em nosso cotidiano, quando na verdade sabemos que mesmo aqueles que têm nível
escolar considerável não ocupam altos cargos na vida profissional.
Como já havíamos dito anteriormente a importância da norma padrão é inegável
para nossas atividades diárias, no entanto, nós professores podemos mudar a visão
distorcida que os falantes da língua possuem a respeito dela, explicando que o falante
nativo da língua portuguesa tem várias opções para escolher usar uma variação de
acordo com a necessidade que for exigida pelo contexto ou objetivo.
3. A VARIAÇÃO LINGUÍSTICA
De acordo com (Tarallo, 2007, p. 08) as variantes linguísticas são as várias
maneiras de dizer uma coisa, sendo o contexto e o valor de verdade os mesmos. Dentro
das concepções sociolinguísticas a variação é vista como uma característica da língua.
[...] a variação é essencial à própria natureza da linguagem humana e, sendo
assim, dado o tipo de atividade que é a comunicação linguística, seria a
ausência de variação no sistema o que necessitaria ser explicado.
(MONTEIRO, 2000, p. 57).
As variantes de uma língua ficam sempre em movimento de concorrência uma
com a outra, a disputa ocorre assim: padrão versus não padrão, conservadora versus
inovadora, de prestígio versus estigmatizada.
O que determina a utilização e a classificação das variações são fatores sociais
como: faixa etária, escolaridade, gênero etc.
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A variação linguística é classificada em:
TIPO DE VARIAÇÃO CARACTERÍSTICAS
Variação diastrática Variação de patamar social
Variação diacrônica Variações por período de tempo
Variação diatópica Variações por lugares ou regiões
Variação diamésica Variação entre língua oral e língua escrita
Variação diafásica Variação individual de cada falante da língua de acordo com o
grau de monitoramento em determinada situação.
Os estudos de Labov apontaram que a variação não ocorre apenas de região,
para região, de comunidade para comunidade, mais também ocorre em um mesmo
indivíduo, que pode variar sua forma de realizar sua fala dependendo da situação em
que está inserido.
Quando fez uma pesquisa nos principais shoppings de Nova Iorque, em que se
aproximava de algum informante perguntando sobre determinada secção que se
encontrava no quarto andar Fourth Floor, Labov quis investigar a pronuncia do (r), o
pesquisador perguntava duas vezes para mesma pessoa, para verificar a diferença da
pronúncia espontânea para a enfática, que era quando ele fingia não ter escutado direito
o que o informante havia respondido. Isso provou que um mesmo falante em situações
diferentes altera sua fala.
Na sala de aula, na maioria das vezes, os alunos têm acesso ao ensino
tradicional, que seria a gramática e o ensino da norma padrão, pouco são os livros que
didáticos que se aprofundam em estudar sobre a variação linguística existente em nossa
língua.
Para avaliar a gravidade da situação, basta perguntar aos alunos de segundo
graus se eles contemplariam dedicar suas vidas aos estudos gramaticais:
dificilmente se obterá uma resposta afirmativa. Na melhor das hipóteses,
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estão sendo formados jovens cuja curiosidade intelectual é dirigida em
qualquer direção, menos na dos estudos da língua. Na pior das hipóteses,
estão sendo formado jovens cuja aversão aos estudos gramaticais os leva a
sufocar a própria curiosidade intelectual (PERINI, 1992, p. 14).
É de grande importância apresentar para o aluno, parte da língua que são
descartadas, no ensino tradicional, fazer a criança entender que os chamados erros de
português fazendo parte da variação inerente à língua; não podemos de maneira alguma
parar que corrigir nossos alunos quanto ao que é utilizado na norma culta e a que não é
utilizado, mais sem menosprezar a variabilidade e diversidade linguística.
Erros de português são simplesmente diferenças entre variedades da língua.
Com frequência, essas diferenças se apresentam entre variedade usada no
domínio do lar, onde predomina uma cultura de oralidade, em relações
permeadas pelo afeto e informalidade. (BORTONI-RICARDO, 2004, p.37).
4. O PAPEL DO PROFESSOR NO COMBATE AO PRECONCEITO
LINGUÍSTICO
Somente iremos mudar a história do preconceito linguístico, quando mudarmos
de atitude em relação a ele, e iniciarmos os trabalhos pela base, ou seja, pela escola.
Os alunos são os futuros profissionais e cidadãos que estarão convivendo em
sociedade, lidando diretamente com a diversidade de nossa língua materna.
Os parâmetros curriculares nacionais Ensino Médio + (PCN+) – Linguagens,
Códigos suas Tecnologias situam os professores e a escola sobre um dos conceitos
defendidos pela sociolinguística:
A compreensão do contexto em que se produzem os objetos culturais
concretizados nas linguagens, hoje ou no passado, assim como o caráter
histórico da construção dessas representações, é fundamental também para
que o funcionamento das linguagens seja entendido, investigado e
compreendido na sua perspectiva social, não apenas como manifestações
isoladas de um indivíduo, de uma classe. As competências gerais previstas no
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eixo da Contextualização Sociocultural dão conta desses aspectos,
favorecendo o conhecimento efetivo, significativo e crítico que a escola
pretende que seus alunos construam ou adquiram. Exemplificando: – o
conhecimento de alguns conceitos de sociolingüística é essencial para que
nossos alunos não criem ou alimentem preconceitos em relação aos falares
diversos que compõem o espectro do português utilizado no Brasil. (PCN+,
2002, p. 27).
Os professores podem combater o preconceito linguístico, não alimentando esse
preconceito, não inferiorizando os alunos que vêm de casa com sua bagagem de língua
materna.
Bortoni destaca algumas ações realizadas pelo professor que podem conduzir o
aluno para o entendimento da existência da norma padrão e da norma considerada não
padrão:
Da perspectiva de uma pedagogia culturalmente sensível aos saberes dos
alunos, podemos dizer que, diante da realização de uma regra não padrão
pelo aluno, a estratégia da professora deve incluir dois componentes: a
identificação da diferença e a conscientização da diferença. A identificação
fica prejudicada pela falta de atenção ou pelo desconhecimento que os
professores tenham a respeito daquela regra. Para muitos professores,
principalmente aqueles que têm antecedentes rurais, regras do português
próprio de uma cultura predominantemente oral são “invisíveis”, o professor
as tem em seu repertório e não as percebe na linguagem do aluno,
especialmente em eventos de fala mais informais. [...] a conscientização-
suscita mais dificuldades. É preciso conscientizar o aluno quanto às
diferenças para que ele possa começar a monitorar seu próprio estilo, mas
está conscientização tem de dar-se sem prejuízo do processo de
ensino/aprendizagem, isto é, sem causar interrupções inoportunas.
(BORTONI-RICARDO, 2004, p.42).
Existem muitas maneiras de agregar ao ensino em sala de aula, a variação
linguística, trabalhando com obras literárias regionais, músicas, pesquisas, isso
enriquece o conhecimento do aluno sobre a língua e aguçar a curiosidade deles.
Infelizmente, na realidade a escola é uma grande disseminadora dos preconceitos
em relação, sempre contribuiu para a manutenção do poder das classes dominantes. “o
mito da privação verbal é extremamente perigoso, porque desvia a atenção das
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verdadeiras falhas de nosso sistema educacional para defeitos que não existem nas
crianças (LABOV, 1984, p. 202)”.
Muitas pessoas só passam a conhecer a língua mais amplamente, quando
chegam à universidade, pois na escola, são limitadas a estudarem a existência e
valorização apenas da gramática normativa e norma padrão.
Tanto a escola quanto o professor devem ter consciência do seu papel na
sociedade, ajudar o aluno a ter acesso um ensino de qualidade, eficiente, que prepare os
alunos para os desafios ao longo de suas vidas.
Uma escola transformadora é, pois, uma escola consciente de seu papel
político na luta contra as desigualdades sociais e econômicas, e que, por isso,
assume a função de proporcionar as camadas populares, através de um ensino
eficiente, os instrumentos que lhes permitem conquistar mais amplas
condições de participação cultural e política e de reivindicação social.
(SOARES, 1989, p. 73).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O preconceito linguístico é algo que sempre esteve presente em nossa realidade,
tanto escolar quanto social. O que motiva este preconceito em parte é a falta de
conhecimento das pessoas a respeito de sua própria língua, é intolerância que muitas
pessoas têm com aquilo que é diferente daquilo que estão acostumadas em seu
cotidiano.
Para mensurarmos o quanto a abordagem da variação linguística é deixada de
lado no ensino regular, basta olharmos para nossa própria vida escolar e lembramos
quantas vezes em nossas aulas o assunto variação linguística apareceu.
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Sabe que a desconstrução da concepção de língua que está tão enraizada em
nossa sociedade não é tarefa fácil, porque não são todos os professores vão ter a
iniciativa de mudar sua metodologia de ensino.
Por isso é importante discutir sobre o preconceito linguístico, para que as
pessoas saibam que isso existe, e possam ser incentivas a pesquisarem sobre o assunto e
por fim saberem da problemática que gira em torno deste tema.
Apesar da dificuldade em dar maior espaço a variabilidade linguística da língua
portuguesa, é possível mudar isso, em uma ação conjunta, porque não basta somente os
professores terem esta consciência de valorizar o estudo da variação, a escola como um
todo deve ter, afinal os professores também cumprem regras e não podem fugir da
ementa e cultura da escola.
As universidades contribuem em massa para o combate ao preconceito
linguístico, porque não estão vinculadas apenas ao ensino, mais a pesquisa e extensão, a
projetos, tudo isso dá mais espaço e oportunidade ao acadêmico de ter acesso uma visão
de mundo mais ampla e proporcionar condições para o avanço de estudos e teorias. Aos
poucos podemos ajudar a combater o preconceito linguístico e ajudar os falantes de
nossa língua materna a descobrir a riqueza e diversidade existente nela.
REFERÊNCIAS
BAGNO. Marcos. A Língua de Eulália. Novela Sociolinguística. São Paulo: Editora
Contexto. 2006. p. 38.
______. Preconceito linguístico – o que é, como se faz. 15 ed. São Paulo: Loyola,
2002. p.15,20,52-53.
BORTONI-RICARDO, S. M. Educação em língua materna - a sociolinguística na
sala de aula. São Paulo: Parábola, 2004. p. 37,42.
LABOV, William. Modelos sociolinguísticos. Madrid: Cátedra, 1994.p.202.
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LABOV, Willian. The Reflection of Social Processes in Linguistic Structures. In
FISHIMAN, Joshua (ed.) Readings in the Sociology of Language. The Hague: Mouton.
1968, p.241.
MONTEIRO, José Lemos. Para Compreender Labov. Petrópolis: Vozes, 2000. p.57
Parâmetros Curriculares Nacionais Ensino Médio (PCN+) – Linguagens, Códigos suas
Tecnologias. Brasília: MEC, 2002. p.27.
PERINI, Mário A. Gramática descritiva do português. São Paulo: Ática 1992.p.14.
SOARES, MAGDA. Linguagem e Escola: uma perspectiva social. São Paulo: Ática,
1996. p. 73.
TARALLO, F. A pesquisa sociolinguística. São Paulo: Ática, 2007.p.08.
Recebido Para Publicação em 20 de abril de 2014.
Aprovado Para Publicação em 9 de maio de 2014.