O Comportamento Ético dos Contabilistas: Um Estudo Explorató-rio em Portugal
Catarina Alexandra Cruz Oliveira
Dissertação
Mestrado em Economia e Administração de Empresas
Orientado por Professor Doutor Carlos José Cabral Cardoso
2020
ii
Dedicatória
Aos meus pais
Virgínia Cruz e Manuel Oliveira,
e aos meus avós
Emília Cunha e António Cruz,
por tudo o que me ensinaram,
pelo apoio incondicional,
pela perseverança,
obrigada.
iii
Agradecimentos
A entrada no Mestrado em Economia e Administração de Empresas foi um objetivo
conseguido com uma enorme satisfação. E, no momento, a encerrar este capítulo não podia
deixar de mostrar o quão agradecida estou com todos os que se cruzaram no meu caminho.
Deixo um agradecimento especial:
ao meu professor orientador, Professor Doutor Carlos José Cabral-Cardoso, que
com toda a sua disponibilidade, experiência e competência, crítica e sugestão, permitiram
enriquecer este estudo. Obrigada pelo apoio e contribuição;
a todos os docentes da Faculdade de Economia do Porto com quem tive o agrado
de me cruzar. Obrigada por todos os ensinamentos;
aos participantes da presente investigação, que aceitaram participar, contribuindo as-
sim com os resultados alcançados. Obrigada pela disponibilidade;
e, a todos os meus amigos que me acompanharam até aqui, apoiaram as minhas de-
cisões e incentivaram os meus projetos. Obrigada por serem quem são.
iv
Resumo
A sociedade espera de todos um comportamento com elevados princípios éticos,
mesmo para com aqueles menos agradáveis. Contudo, a contínua proliferação de comporta-
mentos fraudulentos direciona a atenção às práticas empresariais, em particular ao papel dos
profissionais de contabilidade. Com a presente investigação pretende-se averiguar se, entre
os profissionais que atuam na área em Portugal, existe uma adequada perceção das práticas
e do desempenho ético, e se há controlo e promoção desses atributos pela OCC (Ordem dos
Contabilistas Certificados). Para tal, foi efetuada uma ampla revisão da literatura relevante,
associada à recolha e análise de dados quantitativos do Relatório e Contas da OCC bem
como uma pesquisa empírica qualitativa. Esta última é baseada no estudo de Contabilistas
Certificados (CC), via entrevistas. As principais conclusões a retirar deste estudo são: (i) em
matéria de ética e deontologia profissional, os contabilistas reconhecem a sua importância
no dia a dia da profissão; (ii) epiloga-se que os contabilistas possuem ligeiros conhecimentos
acerca da capacidade de os fatores individuais e situacionais impactarem na atuação ética de
um indivíduo; (iii) os contabilistas parecem poder contar com o apoio da Ordem para clari-
ficar e zelar pelo respeito dos princípios éticos e deontológicos. Os resultados contribuem
para a literatura, especialmente porque, em Portugal, pouco se tem feito para compreender a
perceção e o julgamento ético dos profissionais. Com esta dissertação, espera-se contribuir
com valor para aos stakeholders, professores e académicos que debatem esses temas, por forma
a dignificar os contabilistas Portugueses.
Palavras-chave: Ética Empresarial, Contabilista Certificado, Comportamento Ético, Perce-
ção Ética, Violações Éticas.
v
Abstract
Society expects everyone to behave with high ethical principles, even towards those
less pleasant. However, the continuous proliferation of questionable activities has raised
questions about the business practices, in particular about the role of public accountants.
The aim of this dissertation is to ascertain whether, among professionals working in this field
in Portugal, there exists an appropriate perception of behavior and ethical practices, and
whether there is control and promotion of these attributes by OCC (Portuguese Chartered
Accountants Association). This research methods consisted of a wide review of the relevant
literature, coupled with the collection and analysis of quantitative data from OCC Annual
Report and qualitative empirical research. The latter is based on a survey of chartered ac-
countants, using interviews. The main conclusions to be drawn from this study are: (i) in
terms of professional ethics and deontology, accountants recognize its importance in the
daily life of the profession; (ii) accountants have slight knowledge about the ability of indi-
vidual and situational factors to impact on individual’s ethical behavior; (iii) it seems that
accountants could count with OCC to clarify and oversee the respect for the ethical and
deontological principles. Our results add to the literature, especially because, in Portugal,
little has been done to understand the ethical judgement of the accounting professionals.
Whit this dissertation, we expect to bring added value to stakeholders, teachers, and scholars
engaged with these matters, in order to dignify the Portuguese accountants.
Keywords: Business Ethics, Chartered Accountant, Ethical Behavior, Ethical Perceptions,
Ethical Violations.
vi
Índice
Dedicatória ......................................................................................................................................... ii
Agradecimentos ................................................................................................................................ iii
Resumo ............................................................................................................................................... iv
Abstract ............................................................................................................................................... v
Índice .................................................................................................................................................. vi
Índice de Tabelas ............................................................................................................................ viii
Índice de Gráficos .......................................................................................................................... viii
Lista de Abreviaturas ........................................................................................................................ ix
Introdução .......................................................................................................................................... 1
PARTE UM – A REVISÃO DE LITERATURA ........................................................ 4
1. A Ética ............................................................................................................................................ 5
1.1 O Conceito de Ética Empresarial ......................................................................................... 5
1.2 O Domínio da Ética Normativa ........................................................................................... 7
1.2.1 As Teorias Consequencialistas ........................................................................................ 8
1.2.2 As Teorias Não Consequencialistas ............................................................................. 11
1.2.3 O Relativismo Ético ....................................................................................................... 15
2. A Decisão Ética e a Contabilidade ........................................................................................... 17
2.1 A Decisão Ética nas Organizações ..................................................................................... 17
2.2 A Importância da Ética na Contabilidade .......................................................................... 18
2.3 Os Comportamentos Éticos ................................................................................................ 21
2.3.1 A Influência dos Fatores Individuais ........................................................................... 24
2.3.2 A Influência dos Fatores Situacionais ......................................................................... 32
2.5 Os Códigos de Ética ............................................................................................................. 36
PARTE DOIS - A PROFISSÃO CONTABILISTA ................................................... 40
3. O Enquadramento da Contabilidade em Portugal ................................................................. 41
3.1 A Institucionalização da Profissão Contabilista Certificado ........................................... 41
3.2 O Código Deontológico ....................................................................................................... 45
3.3 As Infrações Disciplinares ................................................................................................... 47
vii
3.4 A Investigação Desenvolvida em Portugal ........................................................................ 49
PARTE TRÊS – A INVESTIGAÇÃO EMPÍRICA ................................................... 51
4. O Problema: Exposição e Metodologia de Investigação ....................................................... 52
4.1 A Questão de Investigação .................................................................................................. 52
4.2 A Estratégia de Investigação ................................................................................................ 54
4.3 Os Dados: Recolha e Método de Análise .......................................................................... 56
4.4 A Caraterização da Amostra Qualitativa ............................................................................ 60
5. Os Resultados: Descrição, Análise e Síntese ........................................................................... 62
5.1 A Atividade Disciplinar da Ordem ..................................................................................... 62
5.2 A Conceção dos Profissionais ............................................................................................. 66
5.2.1 O Enquadramento da Profissão em Portugal ............................................................ 67
5.2.2 O Conhecimento do Código Deontológico ............................................................... 75
5.2.3 Os Dilemas Éticos .......................................................................................................... 77
5.2.4 As Infrações Disciplinares............................................................................................. 80
5.2.5 As Pressões Sentidas pelos Contabilistas .................................................................... 87
5.2.6 Os Fatores que Interferem no Processo de Tomada de Decisão ............................ 94
Conclusão ....................................................................................................................................... 100
Apêndices ........................................................................................................................................ 105
Apêndice Um – Guião para a Entrevista ............................................................................... 105
Apêndice Dois – Consentimento Informado ........................................................................ 107
Referências Bibliográficas ............................................................................................................. 108
viii
Índice de Tabelas
Tabela 1. Caraterização demográfica dos entrevistados ............................................................. 61
Tabela 2. Participações recebidas na Ordem entre 2010 e 2019 ............................................... 63
Tabela 3. Decisões do Conselho entre 2010 e 2019 ................................................................... 64
Tabela 4. Tipologia de sanções disciplinares aplicadas entre 2010 e 2019 .............................. 65
Índice de Gráficos
Gráfico 1. Respostas à identificação das sanções previstas no EOCC .................................... 85
ix
Lista de Abreviaturas
AT Autoridade Tributária e Aduaneira
ATOC Associação dos Técnicos Oficiais de Contas
CC Contabilista Certificado
CDCC Código Deontológico dos Contabilistas Certificados
CDOCC Conselho Disciplinar da Ordem dos Contabilistas Certificados
CTOC Câmara dos Técnicos Oficiais de Contas
IESBA International Ethics Standards Board for Accountants
IFAC International Federation of Accountants
EOCC Estatuto da Ordem dos Contabilistas Certificados
OCC Ordem dos Contabilistas Certificados
OTOC Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas
ROC Revisor Oficial de Contas
SNC Sistema de Normalização Contabilística
SS Segurança Social
TOC Técnico Oficial de Contas
x
“O homem é naturalmente bom, mas a sua bondade foi corrompida pela socie-
dade: é preciso, sempre que possível, voltar à virtude primitiva.”
Jean-Jacques Rousseau (1712-1778)
Mencionado por Alberto da Silva Barata em “A Contabilidade em contexto de Mudança Ética e Contabilidade
na Homenagem ao Professor Doutor Rogério Fernandes Ferreira”. Disponível em: https://www.occ.pt/pt/no-
ticias/a-contabilidade-em-contexto-de-mudanca-etica-e-contabilidade-na-homenagem-ao-prof-doutor-roge-
rio-fernandes-ferreira/. Último acesso a 29 de julho de 2020.
1
Introdução
O debate sobre a ética nos negócios continua estimulante devido à proliferação de
soluções mais ardilosas, não necessariamente mais legítimas e, muitas das vezes, próximas da
ilegalidade (Borkowski & Ugras, 1992). Escândalos como os da Enron, da WorldCom, da
Parmalat e da Lehman Brothers orientaram a atenção da sociedade para o comportamento
ético dos profissionais de contabilidade (Chan & Leung, 2006; Dellaportas, 2006; Marques
& Azevedo-Pereira, 2009).
Ainda que se tratem de casos pontuais, o decréscimo de atitude positiva do público
perante o mundo dos negócios, leva a que a reputação da classe seja posta em causa. De
facto, as necessidades de regulação foram sentidas há muito tempo, pelo que a intervenção
do Governo é fundamental (Chan & Leung, 2006). Inclusive, com opções de autorregulação
profissional e regulação legal, o ser humano é passível de ser corrompido. Por haver esta
possibilidade, a questão ética na contabilidade deve continuar a ser abordada. Isto porque a
contabilidade possui um papel determinante no desenvolvimento, quer social, quer econó-
mico, de um país (Torre & Proença, 2011). Embora exista literatura sobre questões de ética
no mundo dos negócios, a quantidade dedicada às questões da ética na contabilidade, en-
quanto área restrita da ética empresarial, é bastante menor (Bampton & Cowton, 2013).
Importa observar que a existência de dilemas éticos é inerente ao ambiente de traba-
lho dos profissionais de contabilidade (Marques & Azevedo-Pereira, 2009), que têm de “apu-
rar a verdade material da capacidade contributiva de empresas e empresários”1. O dever ético
de um contabilista é matéria que diz respeito não só aos seus clientes, mas à comunidade em
geral (Flory, Phillips, Reidenbach, & Robin, 1992).
Considerando a motivação pelo crescente debate em torno da tomada de decisão
ética dos contabilistas, e à luz da pouca pesquisa sobre o tema a nível nacional, o objetivo
desta dissertação é examinar se, entre os profissionais que atuam na área em Portugal, existe
uma adequada perceção das práticas e do desempenho ético, e se há controlo e promoção
desses atributos pela OCC.
Uma primeira vertente do estudo incide sobre as queixas apresentadas à OCC por
entidades denunciantes perante infrações cometidas pelos contabilistas certificados. Apesar
do interesse desta análise, ela permite apenas examinar uma parte do problema. Com efeito,
1 Frase proferida por Domingues de Azevedo, anterior Bastonário da OCC, num artigo redigido para o Diário Económico datado de 16 de junho de 2010. Disponível em: https://www.occ.pt/fotos/editor2/DiarioEcono-mico16Junho.pdf. Último acesso a 21 de dezembro de 2019.
2
contemplando apenas as situações que foram alvo de denúncia formal, ela estará longe de
incluir a totalidade dos comportamentos eticamente reprováveis, uma vez que não são abran-
gidos comportamentos ilícitos que as entidades omitem à OCC. Neste sentido, inclui-se uma
componente que visa a compreensão dos significados que os indivíduos atribuem às circuns-
tâncias em que exercem a profissão, como também o significado dos comportamentos em
situações de infração ao Código Deontológico, levando em consideração o contexto das or-
ganizações e da sociedade em que o profissional atua. Além do mais, importa fazer menção
de que sem a aplicação de técnicas qualitativas, a necessidade de se obterem dados funda-
mentados com a experiência profissional não seria satisfeita.
A existência de investigações em contexto português possibilitaria uma análise com-
parativa de resultados, contudo não é exequível dada a carência de estudos realizados na
conjuntura Portuguesa. Deste modo, pretende-se estimular a comunidade profissional e aca-
démica na produção de pesquisas que visem o desenvolvimento, fortalecimento e ampliação
de conhecimento, contribuindo para a adequação quer de programas formativos quer para a
melhoria da autorregulação profissional. Por consequência, acredita-se que, quanto mais se
entender do comportamento daqueles que prevaricam os interesses da profissão, melhor se-
rão desenvolvidas lições de ética nos cursos que a preparam. Deveras, indivíduos a quem
foram ministradas lições de ética, denunciam mais sensibilidade a questões morais (Awasthi,
2008; Gautschi & Jones, 1998).
Não obstante, a investigação está sujeita a limitações. Antes de mais, a disponibilidade
dos dados está condicionada aos elementos publicados nos documentos à disposição no sítio
da Ordem. Por consequência, os dados apenas têm por base as queixas efetuadas pelas enti-
dades denunciantes perante infrações cometidas, pelo que podem prevalecer comportamen-
tos ilícitos que as entidades omitem à OCC, assim como o número de participações pode
não ser igual ao número de infratores. Adicionalmente, a necessidade de recorrer a uma
amostra por conveniência intrínseca à dificuldade de alcançar a totalidade do universo de
membros da Ordem. E, em último, a natureza sensível da temática e a presença de enviesa-
mentos nas respostas obtidas provocadas pelo socialmente desejável, constituem dois aspe-
tos negativos à validade dos resultados.
A dissertação encontra-se estruturada em três partes: Parte Um - A Revisão de Lite-
ratura, Parte Dois - A Profissão Contabilista e Parte Três - A Investigação Empírica.
A Parte Um trata, como o título indica, da Revisão de Literatura onde se abordam
questões do domínio da Ética (Capítulo 1), e a Decisão Ética e a Contabilidade no Capítulo
3
2. Note-se que, no início de cada parte e, consequentemente, de cada tópico, é apresentado
em maior detalhe o conteúdo em escrutínio.
A Parte Dois comporta a Profissão Contabilista, designadamente o Capítulo 3 espe-
cífica o enquadramento da contabilidade em Portugal.
A Parte Três integra a Investigação Empírica que se desdobra em dois capítulos. O
Capítulo 4 expõe o problema e a metodologia adotada na investigação, como também conta
com a caraterização da amostra. Já o Capítulo 5 apresenta a descrição, análise e síntese dos
resultados obtidos na componente qualitativa, contrastando, sempre que possível, as duas
vertentes apresentadas.
Seguidamente, surgem as conclusões face ao conteúdo exposto, tendo mente as limi-
tações a que a investigação está sujeita, e as sugestões para trabalhos futuros.
A investigação é finalizada com dois apêndices, onde constam os documentos de
suporte à consecução das entrevistas.
Por fim, a investigação encerra com as respetivas Referências Bibliográficas redigidas
de acordo com as indicações da 6ª Edição do Publication Manual of the American Psychological
Association.
4
PARTE UM – A REVISÃO DE LITERATURA
5
1. A Ética
Os valores éticos proporcionam uma base para uma sociedade civilizada e, sem a
referida base, a sociedade está em colapso (Smith, 2003). A revisão da literatura relevante
incide sobretudo sobre o conceito de ética empresarial, as abordagens no domínio da ética
normativa, onde se apresentam as principais doutrinas de pensamento: as Teorias Conse-
quencialistas - o Egoísmo Ético e o Utilitarismo; as Teorias Não Consequencialistas - a Ética
Deontológica, a Teoria da Justiça e a Teoria das Virtudes; e, por fim, o Relativismo Ético.
1.1 O Conceito de Ética Empresarial
O estudo da ética per si é uma tradição antiga. Em todo o caso, o domínio da ética
nos negócios é recente na literatura (Lewis, 1985). E, é necessário pontuar de início que, tal
como as demais conceções comportamentais, a definição do termo “ética” está sujeita ao
entendimento do investigador (Beu & Buckley, 2001). A ausência de consenso acerca da
noção de ética, preocupa quer teoristas quer académicos (Ferrell & Gresham, 1985; Tsalikis
& Fritzsche, 1989). Portanto, a clarificação do seu significado implica a exposição de diversas
interpretações encontradas na literatura.
Uma extensão natural da ética é o seu envolvimento direto na atividade empresarial,
com particular foco devido à proliferação de soluções ardilosas, não necessariamente legais,
com implicações negativas para a sociedade. Trata-se, em grande parte, de decidir o que é
ético, ou não, através dos valores (Wells & Spinks, 1996). Mais precisamente, a pesquisa no
âmbito da ética empresarial debruça-se no que é moralmente certo no quotidiano dos em-
presários (Ralston, Giacalone, & Terpstra, 1994).
Recorrendo ao contributo de Joyner e Payne (2002), é possível constatar que as em-
presas optam por introduzir a ética nos negócios por uma de duas razões: ética ou maquia-
velismo. Em primeira instância, a natureza ética relaciona-se com a ambição de fazer o cor-
reto sem qualquer imposição externa. Neste sentido, o indivíduo reconhece que é parte da
sociedade e deve seguir os seus valores, pelo que a empresa também deve operar nesse sen-
tido. Do outro lado, é visível o maquiavelismo cuja motivação preserva a utilização da ética
como forma de persuadir o stakeholder de que o propósito da empresa é salvaguardar os va-
lores morais da sociedade.
6
Face à infinidade de definições do termo ética, também a ética empresarial padece da
mesma problemática. Aliás entre empresários o termo não é consensual (Baumhart referido
em(Lewis, 1985). Todavia, é um tópico cuja investigação está em ascensão, desde livros a
artigos escolares (Schoenfeldt, Mcdonald, & Youngblood, 1991).
Na tentativa de conceptualização de ética empresarial, Keller-Krawczyk (2010) des-
mistifica o conceito e admite que não é mais do que a aplicação da ética ao contexto das
decisões empresariais. No seu entender, é um subgrupo prático da ética cuja questão basilar
se relaciona com o debate entre os valores económicos e os valores morais. A ética empre-
sarial é, justamente, aquela que os indivíduos admitem como apropriada ao ambiente orga-
nizacional (Ralston et al., 1994). Note-se que a ética nos negócios averigua o impacto das
decisões empresariais nos indivíduos, na empresa, no setor em que se insere e na comunidade
como um todo. Ao mesmo tempo, não concentra os seus esforços em separar os valores do
indivíduo como cidadão e como empresário, por forma o seu objetivo é analisar os dilemas
que as duas realidades podem provocar (Tran, 2008).
Assim, pelas razões apresentadas, é com o auxílio de um dilema ético que os investi-
gadores apresentam a natureza dos pensamentos éticos. Repare-se que um dilema ético é
entendido como a situação em que dois ou mais princípios éticos encontram-se em conflito,
para o qual não há unanimidade em como deve ser esclarecido (Tran, 2008). Pela sua natu-
reza, o comportamento ético é um fenómeno social que precisa de ser avaliado através da
relação entre os intervenientes (Beu & Buckley, 2001).
Recuperando, ainda, a tentativa de esclarecer o construto, Valentine e Fleischman
(2008) partilham a visão de que a ética empresarial corresponde à implementação de padrões
e práticas éticas na gestão corrente dos negócios. Perante o descrito, é fácil de entender que
os padrões éticos regem o indivíduo à adoção de um comportamento moralmente aceite, o
que transpondo ao contexto de negócios, o referencial ético guia os indivíduos quando con-
frontados com decisões em que os seus valores diferem dos comunicados pela organização.
A ética empresarial abrange, assim, questões do foro individual e organizacional que afetem
o ciclo económico (Enderle, 1997).
Não obstante o supramencionado, Lewis (1985) nas suas pesquisas procurou criar
uma compreensão generalizada do termo baseada em definições encontradas na literatura.
Nesta linha, o autor sintetizou a seguinte definição: ‘... business ethics' is rules, standards, codes, or
principles which provide guidelines for morally right behavior and truthfulness in specific situations.’ (p. 281).
Esta abordagem propõe, por conseguinte, a integração da compreensão do que um indivíduo
7
genuinamente faz em determinada situação. Mais se informa que a ética nos negócios inclui
não só os deveres morais da profissão como os valores e as expectativas existentes na socie-
dade (Brenner & Molander, 1977).
Em conformidade com o exposto, o papel da ética empresarial é mais do que esta-
belecer o moralmente correto, preservando os indivíduos e as organizações de se sujeitarem
a comportamentos e práticas ilícitas. No momento, a ética permite guiar o pensamento para
orientar ações de forma a precaver consequências irrevogáveis, atuando como medida pre-
ventiva das organizações (Bishop, 2013).
1.2 O Domínio da Ética Normativa
Quando nos referimos à ética empresarial é relevante enunciar as diversas perspetivas
e abordagens que lhes estão associadas. Na verdade o estudo da ética empresarial beneficia,
na sua maioria, de métodos de pesquisa normativos, essencialmente centrados em fornecer
um guia de comportamento (Beu & Buckley, 2001; Ford & Richardson, 1994; Tsalikis &
Fritzsche, 1989). Por outro lado, surge a perspetiva descritiva (ou empírica) que procura des-
crever e explicar o facto de os indivíduos agirem de determinada forma (Ford & Richardson,
1994; O'fallon & Buttetfield, 2005; Tsalikis & Fritzsche, 1989).
As primeiras abordagens a surgir na literatura da ética empresarial são essencialmente
normativas, oriundas de académicos com formação base em psicologia (Donaldson &
Dunfee, 1994; Tsalikis & Fritzsche, 1989). Com diversas críticas a serem apontadas aos mo-
delos normativos, sobretudo relacionadas com a assunção da existência de uma verdade ab-
soluta na tomada de decisão ética, os investigadores com instrução baseada em métodos
empíricos, instituíram as suas técnicas à ética organizacional (Donaldson & Dunfee, 1994;
Loe, Ferrell, & Mansfield, 2000). A vertente da ética empírica é observada no Capítulo 2.
A ética normativa, como supracitado, surge com o propósito de clarificar e justificar
a moralidade de determinada sociedade (Beu, Buckley, & Harvey, 2003). No seu domínio
encontram-se duas correntes de pensamento: consequencialistas ou teleológicas e não con-
sequencialistas ou deontológicas. A diferença fundamental é que as teorias consequencialis-
tas, como o nome indica, valorizam a ação tendo por base as consequências, enquanto que
os pensamentos deontológicos avaliam o comportamento em específico de cada indivíduo
e, independentemente das suas consequências (Buckley, Wiese, & Harvey, 1998; Ferrell &
Gresham, 1985; Hunt & Vitell, 1986). Ainda que se considere que as diferença culturais são
8
uma área pouco explorada, é de todo relevante abordar o Relativismo como corrente filosó-
fica. A referida abordagem argumenta que o indivíduo rejeita o código de comportamento
moral universal, advogando que a moral é relativa a uma cultura em particular (Chan &
Leung, 2006; Ralston et al., 1994).
1.2.1 As Teorias Consequencialistas
Tradicionalmente, as filosofias consequencialistas advogam que o direito moral de
uma ação é estabelecido através das consequências desse comportamento (Kujala &
Pietilainen, 2004). Até porque, de acordo com Fraedrich (1993), o conceito de teleologia está
associado ao alcance de um objetivo. Se uma determinada situação produzir uma quantidade
maior de bem, a ação é ética, se da situação só resultarem malefícios, esta é considerada
antiética (Hunt & Vitell, 1986; Trevino & Brown, 2004).
Os teleologistas propõem que é possível determinar se uma ação é eticamente acei-
tável considerando as consequências a nível individual ou grupal. O critério de decisão refe-
rido permite designar duas tipologias de pensamento consequencial: o egoísmo ético e o
utilitarismo, respetivamente (Fraedrich, 1993; Tsalikis & Fritzsche, 1989).
Neste sentido, o egoísmo ético, também designado de pragmatismo, prescreve a
procura máxima do benefício próprio, acima do que é correto e justo para os restantes indi-
víduos. Numa situação de conflito entre consequências positivas para o agente e para a soci-
edade, os protetores do egoísmo ético recomendam que o indivíduo prime o interesse pró-
prio (Hunt & Vitell, 1986; Kujala & Pietilainen, 2004). Embora, não permita a resolução de
conflitos entre dois defensores do egoísmo, não satisfaz completamente os requisitos de uma
teoria ética (Reidenbach & Robin, 1990).
Um equívoco associado ao egoísmo prende-se no facto de que, na sua maioria, as
pessoas não consideram o hedonismo – visão de que o prazer é um bem supremo da vida
humana - como um princípio ético a seguir. Da mesma forma que existem egoístas hedonis-
tas, subsistem egoístas que identificam o bem com conhecimento e racionalidade no que ao
interesse próprio concerne (Tsalikis & Fritzsche, 1989).
Nas fraquezas do egoísmo ético destaca-se a dificuldade em guiar resolução de con-
flitos entre indivíduos. Tendo por base a premissa de que todos as pessoas procuram satis-
fazer os seus interesses, o problema surge quando o interesse próprio se sobrepõe ao
9
interesse de terceiros. Neste sentido, o egoísmo induz os indivíduos a alcançar os seus obje-
tivos à custa de outros, o que na maioria das sociedades não é um comportamento eticamente
aceitável (Tsalikis & Fritzsche, 1989). Adicionalmente, outra das objeções à teoria ética citada
na literatura é a incompatibilidade com grande parte das práticas dos negócios (Tsalikis &
Fritzsche, 1989). A título de exemplo, um profissional de contabilidade nem sempre pode
seguir esta corrente de pensamento pois, invocar o interesse próprio muitas vezes é incon-
gruente com a honorabilidade da profissão perante a sociedade. O imperativo da classe de
profissionais é o de proteger o interesse de longo prazo dos seus clientes (Koehn, 2005). Em
suma, há consciência de que o egoísmo falha como teoria ética, não obstante, é fundamental
reconhecer que tem implicações éticas profundas (Keller, Smith, & Smith, 2007).
O utilitarismo constitui a forma de pensamento predominante na teoria consequen-
cialista vinculada à preocupação com as consequências da ação para todos os envolvidos,
incluído o agente (Tsalikis & Fritzsche, 1989). De facto, os utilitaristas salvaguardam que em
situações de dilemas éticos, a decisão deve ser confinada ao que é preferível para todos os
abrangidos (Ferrell & Gresham, 1985; Kujala & Pietilainen, 2004).
Em sentido estrito, segundo uma visão utilitarista, o comportamento ético resulta
quando o total da utilidade produzida com o ato excede a utilidade gerada por uma ação
alternativa. Pela comparação de ações, é correto afirmar que o utilitarismo promove a efici-
ência. Dentro desta linha de pensamento, a ação é correta se contribuir para o bem comum
(o maior benefício para o maior número de pessoas). Por sua vez, é antiético escolher uma
decisão que leve a uma ineficiente utilização de recursos (Ferrell & Gresham, 1985;
Reidenbach & Robin, 1990).
Face ao egoísmo ético, o utilitarismo advoga que os indivíduos se guiem em confor-
midade com a maximização de benefícios e, consequente minimização de prejuízos, para
todos os envolvidos, e não apenas para o agente (Tsalikis & Fritzsche, 1989). Em suma, os
apologistas da ética utilitarista são da opinião que as ações devem procurar um balanço entre
prazer e custos (Getz, 1990).
Tsalikis e Fritzsche (1989) indicam que uma das preocupações de uma abordagem
utilitarista é o conflito entre o princípio da utilidade e o princípio da justiça. Afinal, “produzir
o melhor benefício para o maior número de pessoas” torna-se ambíguo. Por um lado, é
possível considerar alcançar o máximo de utilidade, como também é realista afetar o maior
número de indivíduos. Será correto originar mais felicidade para um menor número de
10
indivíduos, ou menos felicidade para o maior número de indivíduos? Para Getz (1990), neste
contexto, as regras ditam a utilização da experiência humana como guia de comportamento.
Contudo, o autor admite a possibilidade de certos filósofos tenderem a aceitar a maximização
do bem para o maior número de pessoas.
A abordagem crítica ao utilitarismo apoia a incapacidade de estimar com exatidão as
consequências das ações. Não obstante, Reidenbach e Robin (1990) constatam que a repen-
são não é relevante dado que os indivíduos estão incessantemente a tomar decisões assentes
em informação imperfeita. Ainda no que concerne às objeções, é frequentemente apresen-
tada ao modelo ético utilitarista o facto de descurar o errado para o indivíduo. Com o utili-
tarismo a decisão acerca do direito moral de uma ação só é conhecida a posteriori, pelo que
a ideia de que os fins justificam os meios, pode permitir dissimular comportamentos antiéti-
cos (Tsalikis & Fritzsche, 1989). Com efeito, para qualquer forma de utilitarismo, é antiético
utilizar meios considerados ineficientes para alcançar o fim ambicionado (Cavanagh, Moberg,
& Velasquez, 1981). Reiteradamente, a natureza moral de uma ação não corresponde ao ca-
ráter moral da sua intenção, porque crimes cometidos por motivos honrosos, continuam a
ser crimes (Macdonald & Beck-Dudley, 1994).
Adverte-se para a menção de Reidenbach e Robin (1990) cuja sociedade em geral é
incutida em ideias utilitaristas através do processo democrático presente em diversas nações
que se concentra no domínio da maioria. Mas, torna-se correto afirmar que o utilitarismo
concede melhores princípios para reger as ações do que as demais perceções éticas?
Em sentido amplo, o utilitarista defende o alcance de objetivos sociais em detrimento
de ambições pessoais (Cavanagh et al., 1981). Deste modo, um ato é considerado antiético
se resultarem proveitos pessoais com o sacrifício da sociedade (Ferrell & Gresham, 1985).
Todavia, também é necessário salvaguardar que a regra acima mencionada não deve ser exer-
cida de forma a prejudicar interesses minoritários (Keller et al., 2007).
Os contabilistas, em concreto, no exercício da sua profissão adotam pensamentos
utilitaristas, porque, em regra, utilizam uma abordagem de custo-benefício na resolução de
dilemas. Não obstante, de um modo geral, os indivíduos não formam juízos de valor de igual
modo quando não existe uma regra especifica que permita avaliar corretamente o valor
(Koehn, 2005). Em contrapartida, há consciência de que é insustentável determinar com
exatidão o número de indivíduos afetados pelas decisões de um contabilista. Há que prever
que a incerteza das consequências, cria problemas à maximização da utilidade e, em último
recurso, o profissional está sujeito a tomar decisões enviesadas (Keller et al., 2007).
11
No que respeita ao método utilitarista como guia à tomada de decisão individual,
observam-se defeitos. Porventura, Keller et al. (2007) admite a hipótese de se definir uma
regra, basilar ao bem estar da comunidade, como uma constatação de moralidade social. Com
efeito, é necessário lembrar que a regra não deve aplicada às custas de outros indivíduos.
1.2.2 As Teorias Não Consequencialistas
Como previamente mencionado, é de notar que nem todas as correntes filosóficas
definem padrões para julgar os atos através da consequência. Hunt e Vitell (1986) esclarecem
que as doutrinas não consequencialistas avaliam a moralidade da ação, sem importar as con-
sequências do ato. De facto, os pensamentos não consequencialistas analisam as intenções
envolvidas em determinado comportamento (Ferrell & Gresham, 1985). Nesta linha de pen-
samento é possível identificar a Ética Deontológica, a Teoria da Justiça e a Teoria das Virtu-
des. A favor do citado, Trevino e Brown (2004) ressaltam que as teorias seguem princípios
universais como os direitos e a justiça, respetivamente, e a Ética das Virtudes a qual enfatiza
a integridade moral do autor. Em grande parte, as correntes consequencialistas e não conse-
quencialistas apreciam de forma análoga a moralidade das ações. Afinal, ambas procuram
sistematizar e explicar o julgamento moral (Beu et al., 2003).
A ética deontológica é a perspetiva filosófica que promove que as atuações éticas
devem assentar no dever de seguir princípios absolutos (Whysall, 2000). Aliás, Koehn (2005)
reconhece que os dilemas éticos devem ser solucionados tendo em vista o dever moral, não
o cumprimento de desejos pessoais. E, um dos deveres dos indivíduos é o de fazer o que é
moralmente correto, independentemente das consequências (Beu & Buckley, 2001). A deon-
tologia requer que as pessoas façam o correto simplesmente porque é o seu dever (Kujala &
Pietilainen, 2004). A par, situações que obriguem a infringir a lei, violam a visão de ética
deontológica (Hudson & Miller, 2005).
Porventura, Loo (2003) não descarta inteiramente a possibilidade de atender aos de-
sejos de outros. O autor inclusive admite que o indivíduo tem o dever de satisfazer os demais
desde que determinado por uma regra prática universal. Mais, se considerarmos verdadeira-
mente que é errado mentir, devemos, mesmo em situações desconfortáveis, obedecer ao
princípio da verdade, transcendente a diversos limites culturais e religiosos (Whysall, 2000).
Segundo os deontologistas, um comportamento é ético através da análise das regras e prin-
cípios subjacentes a esse mesmo comportamento (Buckley et al., 1998). Na verdade, os
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princípios que definem o comportamento têm inúmeros precedentes como os pais, os cole-
gas, a religião, a educação e a política (Whysall, 2000).
Não obstante o que se expõe, Hudson e Miller (2005) apontam que a ética deonto-
lógica é a corrente filosófica com um historial mais rico, privilegiando de trabalhos como o
de Sócrates, à mais recente análise de Kant. Curiosamente, na sua teoria, Kant defende que
a moralidade advém da racionalidade que, por seu turno, é universal. Na prática, cada indiví-
duo desenvolve uma lei moral todavia, conforme o referido, é a mesma para todos e, por
isso, as ações morais são universais (Beu & Buckley, 2001). Como outrora discutido, também
Kant revela preocupações: o caráter moral de uma ação pode não coincidir com o caráter
moral da intenção com que é realizada. No caso, uma boa ação, como dar esmolas pode
dissimular a intenção de humilhar o indivíduo (Macdonald & Beck-Dudley, 1994). Aliás, o
ato descrito não apresenta valor moral apesar de as suas consequências serem positivas.
Neste sentido, e para um melhor entendimento da ética Kantiana, uma ação é classi-
ficada com valor moral quando cumpre o dever por dever, isto significa agir por respeito à
lei moral sem segundas intenções. O cumprimento do dever é o único motivo pelo qual o
indivíduo deve reger as suas ações (Macdonald & Beck-Dudley, 1994). Aliás, esta condição
é o imperativo categórico que salvaguarda o indivíduo perante um dilema. O mesmo deve
agir de forma consistente e em conformidade com os seus princípios morais, insubordinado
ao contexto (Hudson & Miller, 2005).
Mesmo sendo uma das abordagens mais apreciada, está vulnerável a objeções.
Reidenbach e Robin (1990) frisam a facilidade com que é possível encontrar exceções à regra
deontológica, a qual determina o comportamento ético (Fraedrich, 1993). Os escritores pri-
mariamente citados argumentam que, na sua maioria, os seguidores da ética deontológica
têm consciência de que mentir é antiético. Não obstante, e de acordo com a lógica, é fácil
supor situações onde os indivíduos reconhecem que é a atitude mais ética a ter. Pese embora
o exposto, é possível encontrar outra ressalva. No caso de um cidadão executar o moralmente
correto de acordo com a regra deontológica, não deve ter em consideração o facto de ser
possível originar consequências prejudiciais a outros? Para Getz (1990) o mencionado é outra
exceção à regra e, a doutrina deontológica não permite delimitar quais as isenções permitidas.
Sob outra perspetiva, o contabilista apresenta o dever moral de fornecer informação
justa e verdadeira acerca do desempenho financeiro de uma empresa. Debate-se, corrente-
mente, que a ética impera na contabilidade através do estipulado no código de conduta
(Keller et al., 2007). Neste sentido, importa sobretudo realçar as situações em que o
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contabilista se encontra perante o conflito de deveres. Reputa-se, no entanto, útil saber como
avaliar ambos os deveres. E para Koehn (2005), os contabilistas devem, em última instância,
ponderar a utilização de teorias utilitaristas e egoístas. Apesar de se ilustrar a realidade do
profissional contabilista, esta inquietude é inerente aos demais indivíduos (Getz, 1990).
Alicerçada na conceção de equidade e imparcialidade, a teoria da justiça é projetada
com o intuito de acautelar os interesses de todos os envolvidos. Face ao exposto, na literatura
são encontradas três variedades de prescrições morais: as regras distributivas, as regulações
retributivas e as normas compensatórias (Cavanagh et al., 1981; Ferrell & Gresham, 1985).
No entender de Reidenbach e Robin (1990), o pensamento basilar à teoria da justiça
advém das reflexões de Aristóteles vinculadas às regras distributivas. Conforme o Princípio
da Justiça Formal, Aristóteles preconiza que indivíduos semelhantes devem ser encarados de
forma igual, assim como indivíduos distintos devem ser tratados de forma desigual. Simulta-
neamente, a regra elementar da justiça distributiva dita que o tratamento diferenciado de
indivíduos não deve ter em conta caraterísticas arbitrárias, mas deve fundamentar-se nos
aspetos materialmente relevantes à decisão (Perelman referido em(Cavanagh et al., 1981).
Por essa razão, revela-se injusto o tratamento díspar conforme atributos não relacionados à
situação em questão. De facto, Aristóteles parece estabelecer a regra todavia não esclarece
como é que o indivíduo é capaz de determinar a igualdade, nem como estipular em que
medida é que o tratamento deve ser desigual, em situações em os que os indivíduos não são
semelhantes (Reidenbach & Robin, 1990).
No que remete à noção de justiça retributiva, Cavanagh et al. (1981) referem a exi-
gência da justiça perante a correta administração das regras, pelo que é da competência das
normas retributivas recriminar e sancionar os indivíduos que as infringem (Ferrell &
Gresham, 1985). Na verdade, a natureza retributiva permite que as suas respostas se centram
no ato criminoso, na medida em que a ação é cometida de livre e espontânea vontade, em
pleno conhecimento das consequências. Face ao apresentado, esta categoria da justiça apela
a que a punição dos atos seja proporcional à transgressão, sem ponderação de quaisquer
outras variáveis (Ferrell & Gresham, 1985).
Quanto à justiça compensatória, as suas normas são subjacentes à responsabilidade
para com os indivíduos injustiçados. A teoria em questão concebe diretrizes que permitam
aos indivíduos lesados restituir a sua situação original, via compensação (Ferrell & Gresham,
1985). Embora haja desafios associados à administração de compensações, é sabido que em
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questões cujos indivíduos não possuam voto na matéria, não devem ser incumbidos de res-
ponsabilidade. Em continuação, aqueles que foram prejudicados nos seus direitos ou inte-
resses devem ser reembolsados pelos autores morais da questão (Cavanagh et al., 1981).
A despeito, segundo Reidenbach e Robin (1990), é de notar que os princípios da
justiça não são mutuamente exclusivos numa sociedade. Na verdade, diferentes situações
exigem normas distintas (Reidenbach & Robin, 1990).
Ao invés das demais teorias não consequencialistas que definem normativos de com-
portamento através do respeito aos direitos e deveres ou da conceção de justiça, a teoria das
virtudes promove a honradez de caráter do indivíduo, não obstante a situação. Eis uma
abordagem cujo cerne não é a presença de um dilema ético, mas sim o desenvolvimento do
caráter moral do indivíduo (Mintz, 2006; Trevino & Brown, 2004).
Em conformidade com o apresentando, a ética das virtudes procura focar a sua aten-
ção no indivíduo, na medida em que favorece o seu desenvolvimento individual (Koehn,
2005). Como consequência, Mintz (2006) nota que esta abordagem tem como missão incutir
determinadas caraterísticas de caráter do indivíduo por forma a desenvolver as virtudes ne-
cessárias à tomada de decisão moral. E, com o auxílio da filosofia clássica grega, é possível
depreender que as virtudes são tidas como as qualidades que possibilitam uma vida notável
em todos os seus sentidos. No seu conjunto, o autor assegura que a virtude incorpora quer
o pensamento ético, quanto a motivação ética na medida em que o indivíduo é encorajado a
fazer o certo pela razão certa.
Neste contexto, há a necessidade de realçar que as virtudes não gozam de indepen-
dência, pelo que no ato de exercer uma virtude, muitas vezes, é necessária a presença de
outra. Concretamente, um indivíduo que não exiba integridade torna-se dúbio na construção
de confiança (Mintz, 1995). Assim, recorrendo à aplicação da perspetiva virtuosa ao quotidi-
ano de um contabilista, é possível depreender que é exigido ao profissional o cumprimento
de obrigações éticas perante a entidade patronal, os clientes e a sociedade em geral. Porém,
será possível elencar as virtudes imprescindíveis à correta execução da profissão? Efetiva-
mente, para Mintz (1995), em situações que apelem à objetividade na execução de serviços,
a ética virtuosa defende a imparcialidade como virtude fulcral ao cumprimento de tais res-
ponsabilidades profissionais. Todavia, Koehn (2005) ressalva a tendência de os profissionais
desenvolverem lealdade perante os seus clientes. No seu entender, é exagerado considerar a
15
lealdade como virtude essencial a um contabilista posto que há possibilidade de afetar a in-
dependência e imparcialidade exigidas pela importância da profissão para a sociedade.
1.2.3 O Relativismo Ético
O relativismo ético é a corrente de pensamento que desafia as filosofias consequen-
cialistas e as não consequencialistas, pois reconhece a inexistência de padrões éticos objetivos
e universais (Stedham, Yamamura, & Beekun, 2007). Levando em consideração o supraci-
tado, as demais teorias éticas salientam a existência de "absolutismo ético" porque alegam a
existência de uma ética universal e apenas um código ético verdadeiro (Tsalikis & Fritzsche,
1989).
Conforme a historiografia, o relativismo ético pode ser detetado nas reflexões de
Protágoras que ditam, primeiramente, que é inexequível validar as convenções morais em
todos os contextos e, em segundo, que as pessoas seguem os princípios morais exibidos pelo
grupo em que se inserem (Tsalikis & Fritzsche, 1989). Subjacente está a perceção de que as
crenças normativas são função da cultura do indivíduo cujos padrões morais podem ser sub-
jetivos, diferindo entre grupos dentro de uma única cultura, entre culturas e ao longo do
tempo (Reidenbach & Robin, 1990; Stedham et al., 2007). Ainda que, Ralston et al. (1994)
mencionam que a questão das diferenças éticas entre culturas é pouco aprofundada apesar
da sua relevância na economia global.
Ao analisar o trabalho de Tsalikis e Fritzsche (1989), comenta-se a respeito da plura-
lidade de sentidos em que o conceito de relativismo ético é aplicado. Os autores tomam
conhecimento em que o termo é utilizado para se referir ao indivíduo que alega que uma
ação considerada moralmente correta num contexto, pode não o ser noutro. Se o relativismo
é empregue no referido sentido, os autores acreditam que todos os indivíduos são relativistas,
na medida em que as circunstâncias determinam a moralidade da ação. Por outro lado, diz-
se que um indivíduo é relativista se assumir a existência de diferentes considerações éticas
em grupos sociais distintos, bem como acreditar que os valores do grupo se replicam nos
valores individuais (Tsalikis & Fritzsche, 1989).
Sem importar o sentido aplicado, a filosofia relativista advoga a inexistência de regras
passiveis de impor a qualquer indivíduo em qualquer parte do globo. O julgamento ético está
sujeito ao contexto consoante as normas culturais aplicáveis (Hudson & Miller, 2005; Loo,
2003). E, para Reidenbach e Robin (1990), a noção de regra relativista encontra-se
16
subordinada aos valores e comportamentos das pessoas de cada cultura, resultando em dife-
rentes regras de conduta. Do ponto de vista relativista, o julgamento do conteúdo ético de
uma ação é procedente da perceção acerca das experiências de outros indivíduos. O protetor
relativista observa as ações dos membros de grupos que considere relevantes e procura o
consenso do grupo do qual faz parte sobre determinado comportamento (Stedham et al.,
2007).
Da mesma forma que as restantes abordagens à ética normativa, também o relati-
vismo ético está sujeito a críticas. Segundo o estudo de Reidenbach e Robin (1990), destaca-
se a incapacidade de atingir o principal objetivo da ética, quer seja desenvolver condições
para uma vida feliz ou mesmo potenciar a boa vontade para com os demais. Sob outra pers-
petiva, é de extrema importância ressalvar que o facto de uma crença ser totalmente aceite
numa cultura, não implica que esteja moralmente correta. Ao admitir que diferentes culturas
possuem princípios morais distintos, permite-se tolerar qualquer código ético desde que
aceite pela sociedade (Ralston et al., 1994). De modo efetivo, ao se averiguar o contexto dos
negócios, Donaldson e Dunfee (1994) depreendem que a presença do relativismo ético é
capaz de corromper o sistema de valores, originando princípios morais incomensuráveis.
Contudo, de entre as inúmeras objeções apontadas, é incontestável que suprimir di-
ferenças nos padrões éticos pode resultar em repercussões éticas e empresariais (Ralston et
al., 1994). Pois, consoante Stevenson e Bodkin (1998) com a globalização dos mercados e,
consequente internacionalização dos negócios, as organizações estão sujeitas cada vez mais
a dilemas éticos.
17
2. A Decisão Ética e a Contabilidade
A decisão ética faz parte da vida de todos os indivíduos e, por definição, é complexa
(Beu & Buckley, 2001; Trevino & Brown, 2004). E, a ascensão do corporate governance aliado a
inúmeros escândalos financeiros resultantes na falência das organizações, orientaram a aten-
ção da sociedade para a profissão contabilista e seus padrões éticos (Leung & Cooper, 2005).
Dado o tema em escrutínio, é relevante, mais do que conhecer os guias de compor-
tamento, prever e compreender o atual comportamento dos indivíduos nas organizações.
Conformemente, o último ponto da presente revisão de literatura encontra-se discriminado
em quatro subtópicos onde se expõe a relação entre a decisão ética e a contabilidade. Nesse
sentido, o primeiro ponto abrange a importância da decisão ética ao nível profissional; de
seguida, compreende-se a importância que a ética tem na contabilidade, tanto a nível educa-
cional como profissional; posteriormente, apresenta-se a análise dos principais modelos ex-
plicativos no domínio da ética descritiva; subsequentemente são expostos estudos empíricos
cuja análise testa os fatores que influenciam a tomada de decisão ética por parte de diversos
profissionais; e, por fim, surge a análise aos códigos de ética como instrumento para a incor-
poração de valores nas organizações.
2.1 A Decisão Ética nas Organizações
Diariamente os indivíduos nas organizações deparam-se com circunstâncias em que
têm de optar por agir eticamente ou não. Torna-se imperativo que as instituições reconheçam
os fatores que se encontram subjacentes ao comportamento ético dos indivíduos por forma
a evitar atitudes censuráveis (Reiss & Mitra, 1998; Trevino, Weaver, & Reynolds, 2006). Ao
contrário do referido, Johnson (1981) defende que que grande parte das decisões quotidianas
dos profissionais envolvem escolhas entre dois ou mais bens, ou opções indesejáveis, não
necessariamente entre o bem e o mal. Neste seguimento, o comportamento ético por parte
dos colaboradores é considerado parte fulcral para a viabilidade das organizações (Beu &
Buckley, 2001). Aliás, pode não ser coincidência o facto de a investigação do comportamento
ético individual nas organizações ter-se destacado, nos últimos anos, como uma das grandes
áreas de pesquisa (Trevino et al., 2006).
Estamos perante uma situação ética sempre os valores e interesses dos vários stake-
holders estão em conflito, onde as leis não são especificas (Trevino, 1986). Para Trevino et al.
18
(2006), o comportamento ético é definido em termos de normas e comportamentos morais
aceites pela sociedade, isto porque, a ética de uma sociedade afeta o julgamento ético indivi-
dual (Beu & Buckley, 2001). Não obstante, uma decisão ética é considerada legal e moral,
quando aceite numa comunidade (Jones, 1991). Ainda, recordando a definição de Tran
(2008), um dilema ético é entendido como a situação em que dois ou mais princípios éticos
válidos se encontram em conflito, para o qual não há unanimidade em como deve ser escla-
recido.
2.2 A Importância da Ética na Contabilidade
Devido à natureza dos serviços prestados, os contabilistas desempenham um papel
vital na prosperidade das organizações (Meymandi, Rajabdoory, & Asoodeh, 2015). Nas úl-
timas décadas, assistimos a numerosos escândalos empresariais alegadamente devido à má
conduta dos profissionais de contabilidade (Chan & Leung, 2006). De facto, Arfaoui,
Damak-Ayadi, Ghram e Bouchekoua (2016) propõem que a ética na prática da contabilidade
é indispensável face à situação económica e social imposta pelo colapso de diversas corpo-
rações. Já que, atendendo ao enunciado por Meymandi et al. (2015), a contabilidade constitui
o modo como são reunidas e tratadas as informações económico-financeiras de uma organi-
zação com o propósito de serem apresentadas aos stakeholders para os auxiliar no processo de
tomada de decisão. Daí que a preocupação com a ética seja resultante do reconhecimento da
veracidade dos relatórios elaborados pelos contabilistas para com os vários leitores dessa
informação (Bayou, Reinstein, & Williams, 2011).
Dado o exposto, é de fundamental importância reter que as divulgações de compor-
tamentos antiéticos por parte dos membros da classe profissional contabilista conduzem ao
declínio da confiança da sociedade (Parker, 1994). Em contraste ao exposto, Cagle e Baucus
(2006) averiguaram o efeito da utilização de escândalos éticos como ferramenta para apro-
fundar a ética no ensino. Na verdade, os autores verificaram que a análise de golpes finan-
ceiros acarreta um impacto positivo na perceção de ética empresarial e inclusive, em alguns
casos, os alunos revelam-se menos dispostos a tolerar comportamentos antiéticos. Com toda
a certeza, em consonância com Carnegie e Napier (2010), a legitimidade da profissão é dire-
tamente perturbada pela perceção da sociedade dos comportamentos exibidos pelos seus
membros, acentuados pela projeção dos meios de comunicação social. No caso, Thompson
19
e Jones (1990) corroboram o citado, defendendo que a prosperidade da profissão é subordi-
nada pela da perceção do publico.
Igualmente sob o ponto de vista educacional, Carey (1947) apela à inclusão da ética
como matéria de instrução na preparação dos profissionais que, na sua ótica, nem sempre
tem visto a reconhecida a sua importância. Paralelamente, o autor denota que os líderes da
profissão apelam aos comportamentos éticos como forma de obter a confiança dos clientes
pelo que, nesse sentido, a ética deveria ser incluída na formação dos profissionais.
Em conformidade com a diminuição da ação das instituições sociais e, decorrente,
aumento das preocupações do pendor da ética empresarial, Kerr e Smith (1995) ressalvam a
pertinência dos docentes de contabilidade como instrutores no desenvolvimento de atitudes
e crenças éticas nos estudantes. Inclusive, na sua pesquisa, Dellaportas (2006) apura que ape-
nas a discussão de dilemas éticos já tem repercussões significativas e positivas no desenvol-
vimento do raciocínio moral dos alunos. Neste contexto, as reflexões de Dellaportas (2006),
mostram que os aprendizes são vulneráveis a determinadas abordagens à ética. Portanto, o
autor sustenta que os docentes desempenham um papel vital no processo de desenvolvi-
mento moral, o que vai ao encontro do mencionado por Kerr e Smith (1995). A título de
curiosidade, no trabalho de investigação referido, os alunos são os primeiros a compreender
o valor da ética na formação académica, preconizando a necessidade da noção de ética e de
moral, imprescindíveis a um futuro profissional de excelência. Assim, a educação em ética é
o motivo pelo qual é possível restaurar a credibilidade da profissão (Ponemon, 1990).
De outro lado, a investigação conduzida por Schweikart (1992) reconhece que muitos
dos dilemas com que os contabilistas defrontam tem que ver com a falta de trabalhos de
investigação cujo foco seja o desenvolvimento de teorias éticas aplicáveis à contabilidade.
Portanto, teoricamente, a ética é reconhecida como uma área de sublime relevância. Ainda
assim, na prática, o autor salienta a carência de investimento, por parte das entidades regula-
doras da profissão contabilista, às investigações académicas.
Em virtude dos factos mencionados, Boyce (2008) entende que a repercussão da
educação em ética não deve extremista, não obstante, é de a responsabilidade dos docentes
focar a dimensão local e global da ética. O autor remata a importância do mencionado não
ser mal-interpretado, pois o movimento que se tem gerado em torno dos aspetos éticos na
contabilidade e nos negócios, em geral, é apreciado. Ressalva, contudo, que o ensino da ética
nos cursos que preparam as profissões deve desviar-se do pensamento dominante tecnicista
cujo propósito é apresentar “just another form of problem-solving skill-development.” (p. 283).
20
No que tange ao nível profissional, de acordo com Arfaoui et al. (2016) a ética nas
organizações tem um papel determinante tanto no nível moral quanto prático. Por um lado,
Schweiker (1993) classifica os contabilistas como “agentes morais” das corporações e da so-
ciedade, no sentido em que se explora a profissão através dos comportamentos éticos exibi-
dos. Do mesmo modo, é pertinente afirmar que, sem o exercício correto da contabilidade,
as organizações detém menos possibilidade de prosperar a longo prazo (Frink & Klimoski,
1998). Concomitantemente, Meymandi et al. (2015) reconhecem que sem a presença da ética
é insustentável satisfazer os objetivos da profissão, considerando que a confiança na classe
contabilista advém do nível de ética profissional percecionada.
Deveras, Leung e Cooper (2005) refletem que o contributo um contabilista é o pre-
servar da integridade e da transparência de informação, dentro e fora da organização. Por-
ventura pela responsabilidade de atestar a veracidade da situação financeira, a contabilidade
revela-se uma profissão fundamental a ser estudada. Embora, em última instância, seja da
competência da gestão divulgar as demonstrações financeiras, a sociedade procura que o
contabilista da organização aprecie e certifique a autenticidade da informação a divulgar aos
interessados (Cohen & Pant, 1991). Ao mesmo tempo, esta preocupação da sociedade com
as questões éticas na contabilidade resultam do reconhecimento de que, mais do que satisfa-
zer as exigências a que os profissionais estão sujeitos, é determinante questionar a forma de
como as informações foram obtidas e processadas (Messner, 2009).
Ainda neste sentido, Bobek, Hageman e Radtke (2015) desde logo destacam que,
através de uma sumária análise aos sítios da Internet, as Big Four2 encontram-se alertas para
a pertinência de um ambiente de trabalho ético. No seu projeto de investigação, os autores
detetaram que os contabilistas subordinados acreditam que é o seu dever proporcionar um
ambiente ético forte na organização. Por essa razão, caso haja necessidade de se fomentar
eticamente o clima organizacional, os subordinados são uma boa escolha.
Diante dos argumentos expostos, é relevante compreender que os docentes devem
assumir-se como os responsáveis pela formação ética dos seus alunos (Langenderfer &
Rockness, 1989). É imprescindível que todos reconheçam que a instrução em ética nos cur-
sos de preparação para a profissão contabilista é uma solução para o colapso ético da profis-
são (Jackling, Cooper, Leung, & Dellaportas, 2007).
2 Vide: Corporate Finance Institute – Who are the Big Four accounting firms? Disponível em: https://corporatefinan-ceinstitute.com/resources/careers/companies/big-four-accounting-firms-services-overview/. Último acesso a 12 de março de 2020.
21
2.3 Os Comportamentos Éticos
A tomada de decisão ética faz parte da vida de todos os indivíduos (Beu & Buckley,
2001) e, desse modo, o estudo da ética empresarial é um dos grandes temas abordados em
matéria do processo de decisão ética (Ford & Richardson, 1994). Desde os anos 80, o âmbito
da ética empírica tem sido inundado sobretudo por modelos teóricos (O'fallon & Buttetfield,
2005). Como referido no Capítulo 1, surgem com o intuito de explicar e prever o processo
pelo qual um indivíduo toma uma decisão em situações onde estão presentes conflitos éticos
(Ford & Richardson, 1994; Tsalikis & Fritzsche, 1989). Na verdade, a ética descritiva preo-
cupa-se com o comportamento “real” dos indivíduos (O'fallon & Buttetfield, 2005). Recor-
rendo à revisão de literatura de O'fallon e Buttetfield (2005), de entre as investigações desen-
volvidos na área, destacam-se os modelos de Trevino (1986), Rest (1986) e Jones (1991).
Examinando Trevino (1986), a tomada de decisão ética é explicada pela interação
entre variáveis individuais e situacionais - Person-Situation Interactionist Model. No seu
modelo, a autora afirma que a reação do indivíduo face a dilemas éticos é influenciada pelo
seu nível de desenvolvimento moral face à circunstância apresentada. Eis que o desenvolvi-
mento moral representa a capacidade de definir o que é certo ou errado, tendo em conta a
força do ego, a dependência do campo e o locus de controlo. Por seu turno, as variáveis
situacionais decorrem do contexto e da cultura organizacional, bem como das caraterísticas
do trabalho. Tendo por base o modelo supracitado, é esperado que um indivíduo com ele-
vado nível de desenvolvimento moral seja menos influenciado por fatores externos.
Na prática, o modelo incute uma combinação da abordagem cognitiva e da compor-
tamental por forma a otimizar o comportamento ético nas organizações. Pelo que as institu-
cionais escolares e organizacionais devem prestar especial atenção em fornecer oportunida-
des de desenvolvimento, além de fomentar um ambiente ético (Trevino, 1986).
Ainda em 1986, Rest (referido em(Craft, 2013) configura um modelo de tomada de
decisão ética baseado em processos e comportamentos - Four-Component Model. No
caso, o autor estipula que o comportamento moral é concretizado após 4 etapas conceptual-
mente distintas. O primeiro processo psicológico é designado de moral awareness, e tem que
ver com a consciencialização da situação e do resultante para as partes envolvidas. Em se-
guida, ocorre o moral judgment que define a capacidade de um indivíduo apreciar eticamente
as diferentes possibilidades. De imediato, são tidos em consideração os valores morais ao
22
viés de outros. O processo é intitulado de moral intention. Ulteriormente, emerge o moral beha-
vior que é a transposição da fase precedente à situação circunda (Rest referido em(Craft,
2013). Deveras, os construtos enunciados interagem entre si para determinar o comporta-
mento ético (Rest referido em(Chan & Leung, 2006).
Posteriormente, Jones (1991), tendo por base o modelo de Rest, desenvolve o Issue-
Contingent Model (Craft, 2013). O modelo tem como propósito colmatar uma lacuna na
literatura existente acerca da tomada de decisão ética individual nas organizações. De grosso
modo, à data os modelos vigentes, menosprezavam o impacto das caraterísticas do dilema
no processo de julgamento ético. Face à evidência, o modelo mostra que o ambiente social,
cultural, económico e organizacional são passíveis de interceder em qualquer processo de
tomada de decisão ética nas organizações (Beu & Buckley, 2001). O construto que permite
captar os efeitos das diferentes dimensões é o de intensidade moral. De facto, Robin,
Reidenbach e Forrest (1996) consentem que a intensidade moral “focuses on exogenous character-
istics of the issue rather than individual perceptions.” (p. 17).
O conceito supracitado contempla 6 dimensões: (i) a magnitude das consequências
referente à quantidade total de benéfico ou prejuízo que resulta de um ato; (ii) o consenso
social que corresponde à concordância social em relação a um determinado ato; (iii) a pro-
babilidade do efeito constituindo a possibilidade do ato realmente se concretizar, e a possi-
bilidade de se revelar benéfico ou gravoso; (iv) a brevidade temporal que abrange o intervalo
de tempo entre o ato e as suas consequências; (v) o efeito de proximidade relativo à proxi-
midade cultural, física, psicológica e social entre o agente moral e os beneficiários ou vitimas
da ação; (vi) o efeito de concentração medido através do impacto de um ato sobre o número
de pessoas afetadas (Jones, 1991).
O'fallon e Buttetfield (2005) advogam que, certos investigadores optam por estudar
os construtos associados ao desenvolvimento sociomoral - cultura, código de ética e locus
de controlo - através da Teoria do Desenvolvimento Cognitivo Moral de Kohlberg. O
autor tende a salientar que o indivíduo é o responsável último pelo seu próprio nível de
desenvolvimento moral. Recordando o Modelo de Rest (1986), a Teoria de Kohlberg (1976)
ganha especial importância no processo de moral judgment (referido em(Jones, 1991). Kohl-
berg (referido em Trevino, 1986) estipula que o julgamento moral dos indivíduos está asso-
ciado a um determinado período de tempo, considerando que progridem. No mesmo artigo,
refere-se que o Modelo de Kohlberg postula três níveis de desenvolvimento cognitivo moral,
cada um deles subdivido em dois estádios.
23
O estádio 1 e 2 correspondem ao nível Pré Convencional, no qual os indivíduos têm
em conta as consequências da ação, particularmente as recompensas e castigos. O nível é
associado à maioria das crianças com menos de 9 anos de idade. No seguimento, surge o
nível Convencional, em que o julgamento moral é manipulado pelas expectativas de com-
portamento da sociedade. O julgamento moral de um indivíduo no estádio 3 vai de encontro
ao enunciado, contudo, no estádio 4 o indivíduo é capaz de transpor as expectativas da so-
ciedade. Por fim, no quinto e sexto nível de desenvolvimento - Pós Convencional - os indi-
víduos denotam princípios morais acima das leis (Kohlberg referido em Trevino, 1986).
Repare-se, contudo, que diversas têm sido as críticas apontadas aos modelos. Randall
e Gibson (1990) nas suas investigações expressam preocupações com a validade das medidas,
nomeadamente devido às baixas taxas de respostas e à utilização de amostras de conveniên-
cia. Adicionalmente referem que, na sua maioria, os estudos não oferecem definições claras
sobre o construto de ética. Os estudos de Trevino (1986) foram indiciados como inconsis-
tentes, precisamente devido à falha supracitada (Tenbrunsel & Smith-Crowe, 2008).
Os modelos de tomada de decisão ética abordam inúmeras variáveis que interferem
no processo de tomada de decisão ética nas organizações (Loe et al., 2000). Neste sentido,
proporciona-se referência a estudos empíricos inerentes aos fatores individuais e situacionais
no âmbito da literatura ética descritiva.
Na revisão sistemática de literatura de Ford e Richardson (1994), salienta-se que os
fatores individuais têm representado o foco de inúmeras investigações empíricas, cuja cate-
goria agrega unicamente fatores inerentes ao decisor individual. Daqui se depreende a incor-
poração de variáveis como a idade e o género, em conjunto com aquelas oriundas de proces-
sos de socialização - educação, personalidade, valores, entre outros. Deste modo, as
caraterísticas individuais representam “the sum total of the life experiences and circumstances of birth
that a particular individual brings to the decision making process.” (Ford & Richardson, 1994, p. 206).
É indiscutível que a ética assume uma peça chave na profissão contabilista, pelo que
na literatura estão documentados os fatores que interferem no comportamento ético dos
profissionais e, em consequência, na adoção do código de ética profissional. Por conseguinte,
torna-se pertinente referir investigações cujo propósito incluiu a análise do processo de sen-
sibilidade ética dos contabilistas, em concreto o efeito dos fatores individuais e situacionais
no seu comportamento. Inclusive, para Jones e Hiltebeitel (1995) o género, a idade e a edu-
cação e experiência profissional são as variáveis individuais empiricamente reconhecidas
como capazes de influenciar o processo de tomada de decisão moral dos contabilistas.
24
2.3.1 A Influência dos Fatores Individuais
Não obstante o referido, Emerson, Conroy e Stanley (2007) chamam a atenção da
importância dos fatores individuais na previsão do comportamento ético dos indivíduos.
Doravante, proporciona-se referência a trabalhos empíricos cujo foco são a investigação ao
impacto do género, da idade, da educação e experiência profissional, da nacionalidade/valo-
res culturais e da religião, pois são as variáveis mais mencionadas segundo a revisão de lite-
ratura de (Lehnert, Park, & Singh, 2015).
Entre a miríade de fatores individuais, o género é inevitavelmente a variável demo-
gráfica mais considerada no campo da ética (Craft, 2013; Ford & Richardson, 1994; Lehnert
et al., 2015; Loe et al., 2000; O'fallon & Buttetfield, 2005). No entender de Craft (2013), o
avultado número de resultados está associado à facilidade de teste das diferenças de género,
assim como à simplicidade de obtenção de informação. Pese embora, é, também, o fator cuja
investigação empírica conduz a resultados mais inconsistentes (O'fallon & Buttetfield, 2005).
O despoletar da atenção à investigação sobre o género na ética empresarial conquis-
tou especial relevância desde a aparição de movimentos feministas Por seu turno, a harmo-
nização cultural no âmbito dos negócios per si não exerce força suficiente para justificar tal
interesse (Davies, 1997). Veja-se, por exemplo, os estudos de Ruegger e King (1992), Suar
e Gochhayat (2016), Wajcman (1996) e Weeks, Moore, Mckinney e Longenecker (1999) que
chamam a atenção para o facto de haver cada vez mais mulheres na força de trabalho. Desta
forma, caso se reportem diferenças entre homens e mulher quanto à capacidade de julga-
mento ético, é crucial que se reflita em contexto empresarial e na sociedade, em geral
(Khazanchi, 1995).
Há autores que advogam a conceção de as mulheres adotarem uma postura predo-
minantemente mais ética do que os homens. Como resultado, considerou-se o género um
dos fatores determinantes da conduta ética (Ruegger & King, 1992; Weeks et al., 1999). Pa-
ralelamente, a investigação de Reiss e Mitra (1998) considera a integração do contexto extra
organizacional nas suas investigações. O enunciado corrobora que indivíduos do sexo mas-
culino exibem facilidade em quebrar as regras, pelo que se deduz que as mulheres apresentem
maior capacidade de julgamento ético.
No desenvolver das suas pesquisas Callan (1992), Elango, Paul, Kundu e Paudel
(2010), e Forte (2004) estão em conformidade quanto à possibilidade de diferenças de género
25
na tomada de decisão ética. Todavia, estas não se revelam significativas. Os mesmos advogam
que, se existir um género que exibe um comportamento mais ético, é o feminino. Ressalve-
se que não se registaram diferenças significativas entre géneros relativamente à tolerância à
fraude (Forte, 2004).
Prosseguindo em contraposições, surgem trabalhos cujos resultados concluem ine-
quivocamente a inexistência de disparidades significativas sobre o julgamento ético entre gé-
neros (Mcnichols & Zimmerer, 2013; Nguyen, Basuray, Smith, Kopka, & Mcculloh, 2008;
Sweeney & Costello, 2009). Não obstante, decisões sobre a inclusão das mulheres na popu-
lação ativa, não se prendem com a facilidade de assimilação de comportamentos éticos
(Robin & Babin, 1997).
Porém, como referido, o âmbito da pesquisa que testa a discrepância entre géneros é
contraditória (O'fallon & Buttetfield, 2005). Destaca-se que são escassas as análises que se
referem ao homem como sendo o género que apresenta um comportamento mais ético
(Hopkins, Hopkins, & Mitchell, 2008; Tsalikis & Ortiz-Buonafina, 1990). Face a esta evidên-
cia, Gilligan (2003) constata que os indivíduos masculinos exibem noção de justiça em con-
flitos, o que lhes permite seguir as regras. Ao invés, as mulheres têm propensão para a que-
brar as regras de modo a preservar as relações.
Em matéria de análise ao desenvolvimento ético de futuros contabilistas, emergem
investigações como as de Arfaoui et al. (2016), Chan e Leung (2006), e Rogers e Smith (2001),
que apuram a inexistência de diferenças de julgamento moral em contexto profissional. Neste
sentido, Rogers e Smith (2001) apontam a ausência de disparidades significativas quanto à
variável género como evidência da efetividade do código de conduta, inclusive em futuros
profissionais. Curiosamente, a pesquisa Sweeney e Costello (2009), previamente referenciada,
confronta o processo de tomada de decisão ética de estudantes de contabilidade com os
demais estudantes da área dos negócios, a qual documenta que, apesar de se notarem dife-
renças entre os estudantes, o género não acarreta um impacto significativo para o processo
de tomada de decisão ética.
Com efeito, quando se observa o julgamento ético de profissionais contabilistas, os
trabalhos de Radtke (2000), Shawver e Clements (2015), e Stanga e Turpen (1991), corrobo-
ram os achados das investigações supracitadas, o que revela que os homens e as mulheres
contabilistas comportam valores éticos similares. Na prática, se de facto não há disparidades
na tomada de decisão provenientes do género, é necessário que haja paridade nos processos
desde o recrutamento até à formação e desenvolvimento. A par, levanta-se a hipótese de ser
26
dispensável o equilíbrio entre profissionais do sexo masculino e do sexo feminino em equipas
de trabalho com o propósito de fomentar o clima ético (Shawver & Clements, 2015).
Por oposição, existe evidência de que mulher adota uma postura maioritariamente
mais ética do que o homem (Ameen, Guffey, & Mcmillan, 1996). Os autores adiantam que
os alunos de contabilidade do sexo feminino demonstram menos propensão em comportar
atitudes antiéticas. Em virtude do achado, Ameen et al. (1996) defendem que uma mulher
contabilista recém recrutada ostentará níveis mais elevados de sensibilidade ética do que um
indivíduo masculino na mesma posição. Importa, todavia, observar as conclusões de
Bampton e Maclagan (2009) que, não alegando que as mulheres exibem comportamentos
moralmente mais corretos, conclui que, por comparação, os estudantes do sexo feminino
expressam maior preocupação com o bem estar.
Sob o mesmo ponto de vista, embora com o estudo da sensibilidade ética de conta-
bilistas a exercer a profissão, encontra-se na literatura a pesquisa de Eynon, Hill e Stevens
(1997), e Tyson (1992) de onde se realça a pertinência do género como fator explicativo da
tomada de decisão ética, invocando que as mulheres contabilistas manifestam maiores capa-
cidades de raciocínio moral do que os colegas de profissão. De maneira interessante, os pro-
ponentes mencionados recomendam o recrutamento de contabilistas do sexo feminino, bem
como o investimento em formação ética para os homens praticantes da profissão.
Definitivamente na literatura não existe anuência quanto ao facto de as mulheres e
os homens terem pensamentos e atos diferentes face a dilemas éticos, todavia não se encon-
traram evidências de que um contabilista profissional homem possa evidenciar um raciocínio
moral mais elevado. Inclusive, Emerson et al. (2007) fazem menção de que os entrevistados
contabilistas homens com idades mais novas denotam menor sensibilidade ética, admitindo
como toleráveis atitudes moralmente repreensíveis.
É relativamente fácil encontrar evidências de que a idade é um dos fatores que con-
diciona os julgamentos éticos. Contudo, Craft (2013), com base na sua revisão sistemática de
literatura, sublinha a descida dos contributos quer teóricos quer empíricos que descrevem a
relevância do fator. Todavia, tal como acontece com o estudo do género, não existe unani-
midade de resultados (Craft, 2013; Lehnert et al., 2015; O'fallon & Buttetfield, 2005). Se bem
que têm sido várias as investigações que apontam para a tendência de uma relação positiva
entre a idade e o comportamento ético (Elango et al., 2010; Forte, 2004; O'fallon &
Buttetfield, 2005; Ruegger & King, 1992).
27
Na pesquisa de Elango et al. (2010), aceita-se a facilidade com que os gestores mais
novos são moldados pelo clima ético organizacional. Pese embora, são os indivíduos mais
velhos que exibem decisões éticas. Isto pode acontecer porque pessoas mais velhas tendem
a ter mais experiência no trabalho, e, como consequência, a sua perceção do clima ético
organizacional é afetada (Forte, 2004). Aliás, Peterson, Rhoads e Vaught (2001) haviam es-
tabelecido que sujeitos com mais de 30 anos de idade apresentam um nível mais elevado de
comportamento ético. Em resposta, acrescentam que “ that professionals over the age of 30 reported
that they were less influenced by external factors than those 30 years of age and under” (p. 230).
Importa, todavia, observar que ocorrem trabalhos, inclusive o de Kohut e Corriher
(1994), que culminam na inexistência de influência significativa da idade no julgamento moral
de um indivíduo. Por seu turno, alguns autores defendem que indivíduos mais velhos, devido
ao contexto empresarial, ostentam atitudes menos éticas por comparação a indivíduos mais
novos (Browning & Zabriskie, 1983; Roozen, Pelsmacker, & Bostyn, 2001).
Surgem ainda situações como a de Eweje e Brunton (2010), cujos resultados foram
inconclusivos. Se por um lado encontram argumentos que suportam a relação positiva entre
a idade e a tomada de decisão ética, também se depararam com indícios de que não há relação.
Complementarmente, tendo por base o julgamento de futuros profissionais, os re-
sultados de Chan e Leung (2006) indicam que a variável está positivamente associada à sen-
sibilidade ética. Tal patenteia o potencial de indivíduos mais velhos reconhecerem com co-
modidade dilemas éticos em contexto profissional (Chan & Leung, 2006). Na mesma linha,
o trabalho de Karcher (1996) apura que a relação entre a sensibilidade ética e a idade em
profissionais contabilistas é positiva.
Em termos de resultados, salienta-se que na literatura embora domine a relação po-
sitiva entre a idade e a capacidade de julgamento ético, Eynon et al. (1997) advogam a cone-
xão negativa entre a idade e a capacidade de raciocínio moral, o que se traduz na menor
capacidade de profissionais mais velhos procederem a decisões éticas. Os autores revelam
alguma apreensão face aos resultados obtidos, pois ressalvam a não imperatividade de as
organizações excluírem contabilistas com idades mais avançadas e, ainda, somente atrair e
reter funcionários mais jovens. Por contraste com o supramencionado, acrescem ao conjunto
de trabalhos na área, investigações como a de Stanga e Turpen (1991), e de Tyson (1992) a
sustentar a ausência da idade como variável explicativa no processo de tomada de decisão.
Simultaneamente, sem importar a idade, os indivíduos apreciam-se comportamentalmente
mais éticos do que os colegas de profissão (Tyson, 1992).
28
De igual forma à análise do género, não é apropriado concluir com exatidão o efeito
provocado pela idade na capacidade de tomada de decisão. Porém, importa mencionar que,
quando nos debruçamos em investigações que procuram analisar a idade como fator influ-
enciador de comportamentos antiéticos, é frequente a sua análise conjuntamente com o nível
de educação. Aliás, Jones e Hiltebeitel (1995) revelam que os contabilistas denotam maior
credibilidade no raciocínio social com o avançar da idade e o aumento do nível da educação.
A educação e a experiência profissional são outros fatores considerados cruciais
para o estudo da tomada de decisão ética (Craft, 2013; Ford & Richardson, 1994; Lehnert et
al., 2015; Loe et al., 2000; O'fallon & Buttetfield, 2005). Atendendo ao enunciado, estudam-
se variáveis como o tipo de educação, o número de anos de educação, o tipo de emprego e
o número de anos de carreira profissional. De um modo geral, existe uma multiplicidade de
investigações a reconhecer relações significativas entre as variáveis, embora que contraditó-
rias (Ford & Richardson, 1994). Ainda assim, a educação e a experiência têm repercussões
na tomada de decisão ética (Craft, 2013).
O trabalho de Weeks et al. (1999) e, posteriormente, de Su (2006) e de Eweje e
Brunton (2010) reforçam a ideia de que o pensamento ético varia ao longo da carreira pro-
fissional. No seu conjunto, os autores sublinham que indivíduos com uma longa carreira
profissional transparecem melhores julgamentos éticos do que aqueles com pouca experiên-
cia profissional. Inclusive, Sparks e Hunt (1998) concluem pela significância da experiência
de trabalho, corroborando que indivíduos que possuem uma carreira profissional são mais
sensíveis à presença de dilemas éticos do que os estudantes. Por essa razão, é suscetível que
os trabalhadores sejam menos propensos a comportar atitudes antiéticas.
De notar que surgem na literatura ilações contraditórias como as de Roozen et al.
(2001). Os autores apuraram que pessoas com menos experiência profissional estão mais
propensas a adotar comportamentos éticos. Aparentemente, indivíduos com maior historial
profissional podem ter as suas interpretações em matéria de ética deturpadas, possibilitando
enviesamentos nas suas decisões. Em adição, emergem trabalhos empíricos cuja conclusão
foi de ausências de diferenças éticas significativas oriundas da educação e da experiência pro-
fissional (Forte, 2004; Mcnichols & Zimmerer, 2013).
Com a crescente consciência da importância do julgamento ético dos indivíduos, sur-
gem investigações empíricas subordinadas ao estudo das diferenças entre indivíduos que fre-
quentaram cursos de ética. De facto, sujeitos cujo plano de estudos incorpora lições de ética,
29
denunciam mais sensibilidade a questões morais (Awasthi, 2008; Gautschi & Jones, 1998).
Interessa, sobretudo, que a instrução em ética fortaleça e dignifique a conduta dos profissio-
nais (Chan & Leung, 2006).
Desde logo a investigação de Jones e Hiltebeitel (1995) expõe a possibilidade de o
desenvolvimento moral de um contabilista ser reforçado através de educação adicional. Pese
embora, Mccarthy (1997) defende que não existem diferenças significativas ao nível da ori-
entação ética num estudante de contabilidade no início do ciclo de estudos quando compa-
rado com um estudante na fase final do curso. Inesperadamente, a capacidade de reconhecer
dilemas éticos no exercício da profissão não tem que ver o com o êxito académico (Chan &
Leung, 2006). Acrescente-se que, em geral, os estudantes que frequentam o cursos de conta-
bilidade manifestam maior propensão a comportar atitudes éticas do que os demais alunos
de cursos da área dos negócios (Zgheib, 2005).
Ademais no domínio da educação, a inclusão da formação em ética no ciclo de estudo
de futuros profissionais contabilistas é um dos fatores consideravelmente analisado quando
nos referimos às variáveis influenciadoras do processo de tomada de decisão ética. Com
efeito, Eynon et al. (1997) apuram a relação entre a conclusão de um curso de ética na facul-
dade e a capacidade de raciocínio moral de futuros profissionais, na medida em que se define
uma relação positiva: contabilistas com menor exposição à educação em ética, comportam
menor sensibilidade ética. Adiantam que, mais do que o impacto positivo que o curso de
ética provoca este é, em larga escala, significativo, pois pode manifestar repercussões entre
dez a vinte anos após a conclusão do mesmo. Aliás, Chan e Leung (2006) fazem menção à
possibilidade de a formação com vertente ética proporcione efeitos positivos na capacidade
de os futuros contabilistas reconhecerem dilemas éticos. Tudo isto, porque, é improvável
que se proporcione no futuro oportunidades de reforçar a capacidade ética dos profissionais
após o término do seu ciclo de estudos (Eynon et al., 1997). Pelo contrário, em oposição
com o supramencionado, resultam as pesquisas de Arfaoui et al. (2016) e Geiger e O'connell
(1998) onde foram averiguadas as perceções éticas dos estudantes de contabilidade antes e
após frequentarem formação adicional com foco na ética. No seu conjunto, os autores cons-
tataram que o curso não manifestou qualquer alteração no comportamento dos indivíduos,
ou mesmo na forma de deteção de dilemas éticos.
Inerente à experiência profissional, é possível apurar a relação entre o comporta-
mento ético e o número de anos que o indivíduo exerce uma atividade profissional. De entre
a revisão de literatura da área, é possível encontrar o trabalho de Cole e Smith (1996) cuja
30
constatação assenta na relação positiva entre a experiência profissional e a propensão a exibir
comportamentos moralmente aceitáveis, designadamente os estudantes de contabilidade sem
historial no mundo do trabalho são aqueles que expressam comportamentos eticamente
questionáveis. De facto, Mccullough e Faught (2005) acrescentam que dos contabilistas en-
trevistados os que apresentavam maior carreira profissional revelaram atitudes mais conser-
vadoras e moralistas, pelo que se deduz apresentarem maior sensibilidade ética. Todavia, a
investigação de Cohen, Pant e Sharp (2001) concluiu pela inexistência de diferenças signifi-
cativas entre estudantes e profissionais de contabilidade quanto à tomada de decisão ética.
O papel da nacionalidade, associado à repercussão dos valores culturais no pro-
cesso de tomada de decisão ética, é uma das áreas de estudo que fornece resultados hetero-
géneos e inconsistentes (Loe et al., 2000). Para Beekun, Hamdy, Westerman e Hassabelnaby
(2008) a cultura nacional é uma componente que interfere significativamente no resultado de
uma decisão ética, não obstante a corrente de pensamento ético defendida, desde o Relati-
vismo, o Utilitarismo, o Egoísmo Ético e a Teoria da Justiça. A propósito, é constatado que
a perceção dos indivíduos sobre si próprios e sobre os pares é manipulada pelas caraterísticas
culturais (Brunton & Eweje, 2010).
Na pesquisa de Beekun et al. (2008) os executivos entrevistados dos Estados Unidos
da América, tendencialmente uma sociedade individualista e com baixa distância hierárquica,
consideram as decisões dos cenários exibidos menos éticas do que os entrevistados Egípcios,
que apresentam uma cultura de pendor coletivista e de elevada distância hierárquica. Adicio-
nalmente, os autores apuram que todos os entrevistados creem em três das principais cor-
rentes de pensamento ético, nomeadamente, o Utilitarismo, o Relativismo Ético e a Teoria
da Justiça, para a previsão do seu comportamento. Pese embora, quando se procuram exa-
minar as decisões dos pares, os indivíduos Norte Americanos abdicam da Teoria da Justiça
em virtude do Egoísmo Ético. Ulteriormente, em 2010, Beekun, Stedham, Westerman e Ya-
mamura determinaram que persistiam nas demais culturas caraterísticas provenientes das di-
ferenças de género. No caso, uma cultura cujo objetivo primordial é o bem estar do grupo,
é consistente com a perspetiva ética defendida por Gilligan (2003). Na realidade, Beekun et
al. (2010) reconhecem que a intenção ética da mulher é consideravelmente condicionada pela
cultura nacional, em particular pelo individualismo e pelo baixo controlo em situações de
incerteza. A mencionada pesquisa conclui, também, que a tomada de decisão ética por parte
de indivíduos masculinos não está relacionada com as demais dimensões de uma cultura.
31
Todavia, e de acordo com Loe et al. (2000) que defende a instabilidade de resultados,
a investigação conduzida por Brunton e Eweje (2010) corrobora a conclusão da revisão sis-
temática de literatura, porém, ao mesmo tempo, sugere a presença de padrões culturais pas-
síveis de afetar o processo de tomada de decisão ética. No caso, os indivíduos originários da
Europa a frequentar uma universidade na Nova Zelândia consideram frequentemente cená-
rios mais éticos face aos entrevistados Chineses. Por outro lado, quando é pedido aos indi-
víduos para divulgar ações eticamente questionáveis comportadas pelos pares, os alunos Chi-
neses optam por não o fazer.
Na categoria de pesquisas que testam a influência da religião na sensibilidade ética
dos indivíduos, surge Ho (2010) a esclarecer que a religião é referente à força das crenças
religiosas e não a possíveis afiliações. Consoante o trabalho do autor, a religião é um dos
valores culturais que possui repercussões significativas na perceção ética dos gestores. No-
meadamente, no caso os indivíduos Indianos a religiosidade foi a variável que explicou a
sensibilidade ética face a todas as ações descritas, ou seja, todos os indivíduos revelaram-se
capazes de detetar situações antiéticas. Todavia, quando se observam gestores Malaios, é o
locus de controlo que surge como fator explicativo, sendo este definido como o grau de
controlo que os indivíduos têm sobre resultados e eventos da vida.
De outro ponto de vista, Kurpis, Beqiri e Helgeson (2008) relacionam a religiosidade
com o empenho de autoaperfeiçoamento moral, na medida em que este avalia a capacidade
de os indivíduos reconhecerem dilemas éticos. E, de facto, o autoaperfeiçoamento moral
assoalhou-se a um melhor preditor do reconhecimento e das intenções éticas. Efetivamente,
há indícios que apontam para que a religiosidade possa elevar os níveis de empenho de au-
toaperfeiçoamento moral e, nesse sentido, proporcionar maior nível de sensibilidade ética
nos indivíduos (Kurpis et al., 2008).
Importa, todavia, fazer menção ao trabalho de Mccullough e Faught (2005) pois os
seus resultados apontam para uma relação positiva entre a crença na religião e a propensão a
exibir comportamentos moralistas, enquanto que indivíduos cujas crenças religiosas não se
manifestavam exibiam atitudes de pendor racional.
Não obstante o mencionado, na literatura apenas se encontra o trabalho de
Singhapakdi, Vitell, Lee, Nisius e Yu (2013) que deteta a relação negativa entre a religião e o
processo de tomada de decisão ética.
32
2.3.2 A Influência dos Fatores Situacionais
Os fatores situacionais são a segunda categoria de variáveis analisadas nos modelos
de tomada de decisão ética, e tem que ver com a formação e a definição do contexto em que
o indivíduo forma a sua decisão (Ford & Richardson, 1994). Acrescente-se que, todavia a
difícil obtenção de dados a nível organizacional, é pertinente não descurar a sua investigação
(Lehnert et al., 2015), muito porque, de acordo com Robin et al. (1996), é reconhecido que
a tomada de decisão individual é indissociável da organização.
Doravante, citar-se-ão conclusões do campo da investigação empírica relativas ao
clima ético, à cultura organizacional e às recompensas e sanções, pois Lehnert et al. (2015)
detetam que são as variáveis mais examinadas. Embora os estudos associados aos códigos de
ética sejam uma das áreas mais abordadas de entre os fatores situacionais, face a sua relevân-
cia para a investigação, o tópico em questão terá a merecida atenção no ponto seguinte.
De entre os fatores situacionais, Lehnert et al. (2015) destacam o clima ético como
a variável que despoletou um maior número de investigações, face à anterior revisão de lite-
ratura de Craft (2013), onde consta o crescimento de trabalhos relativos ao estudo das re-
compensas e sanções. De facto, Douglas, Davidson e Schwartz (2001) e, posteriormente
Sweeney, Arnold e Pierce (2010) afirmam a relevância de uma cultura ética percebida pelos
colaboradores, já que pode ter um impacto significativo na tomada de decisão ética.
No caso, o clima ético organizacional reflete os valores e os comportamentos de
todos os indivíduos que contribuem para a viabilidade de longo prazo da organização, pelo
que a presença de um forte clima ético capacita a organização a transpor possíveis adversi-
dades (Gebler, 2006). Adicionalmente, Elango et al. (2010) constatam que, para além da re-
levância das suas vivências e valores, a tomada de decisão ética dos indivíduos é maleável
através dos padrões éticos presentes no local de trabalho.
Não obstante o referido, importa referir o trabalho de Rothwell e Baldwin (2007) que
sugere a capacidade de o clima ético modelar as desígnios éticos e não o comportamento
efetivo dos indivíduos. Aliás, nesta linha de pensamento, um clima organizacional cujo pro-
pósito recompensa o comportamento ético, tem repercussões significativas na intenção de
comportamento. A saber, os líderes ao exibirem atitudes moralmente corretas, reduzem a
probabilidade de os indivíduos praticarem atitudes antiéticas (Shafer & Simmons, 2011).
33
Quando se testam as repercussões da perceção dos indivíduos sobre o clima ético na
propensão de denúncia de pares, Zhang, Chiu e Wei (2009) apuram uma relação positiva. Os
autores elucidam que indivíduos que percecionam uma cultura organizacional ética, revelam
tendência a delatar os colegas, pois ostentam confiança no seu trabalho, sem apreensão às
retaliações. Sob outra perspetiva, a investigação de Moberg e Caldwell (2007) preconiza a
possibilidade de uma forte cultura ética elevar a imaginação moral dos indivíduos, na medida
em que esta é definida pela consideração completa de todos os componentes éticos envolvi-
dos na tomada de decisão ética. Inclusive, os seus resultados propõem que as repercussões
de uma cultura ética incidem na imaginação moral mesmo quando os indivíduos são con-
frontados com decisões cujo desfecho não possui implicações éticas.
Caso nos debrucemos em investigações que testam as repercussões do clima ético no
julgamento de profissionais contabilistas, Douglas et al. (2001) reconhece que uma cultura
ética associada a uma forte orientação para as regras tem impacto ao nível dos valores indi-
viduais, no caso o idealismo, afetando indiretamente o processo de tomada de decisão ética.
Outrossim, os investigadores concretizam o facto de o clima ético ser percebido de maneira
diferente pelos os diversos colaboradores de uma organização.
Cada organização constrói a sua cultura organizacional e, por isso, é construto sem
uma definição universal (Omazić, Mihanović, & Sopta, 2020). Em conformidade com o tra-
balho de Allaire e Firsirotu (1984) a cultura organizacional pode ser definida como o con-
junto de práticas, artefactos, símbolos e valores moldados pela sociedade, pela história, pela
liderança e pelas demais contingências da organização, sujeitas às intervenções dos colabora-
dores na prática organizacional. A respeito de situações organizacionais, Armstrong, Williams
e Barrett (2004) examinam a facilidade de transgredir as normas, a possibilidade de mudanças
radicais e o escalar de comprometimento. Os seus resultados mostram que as três variáveis
mencionadas estão relacionadas com o aumento de comportamentos moralmente incorretos,
originando, dessa forma, violações éticas. Em conclusão, os autores incluem a possibilidade
de ser o impacto de diversos fatores organizacionais de menor dimensão, contribuírem para
a cultura organizacional de uma organização.
Não obstante o supramencionado, Ho (2010) apura discrepâncias na sensibilidade
ética dos indivíduos decorrentes do significado moral atribuído às situações, passíveis de
variar de cultura para cultura. Ao mesmo tempo, os resultados da investigação apontam que
34
ocorrem homogeneidades na perceção ética dos indivíduos em situações parcialmente insti-
tucionalizadas na área dos negócios, embora sejam cenários moralmente incorretos.
No que concerne a situações de avaliação de pares, pela comparação de indivíduos
Canadianos e Chines, Zhuang, Thomas e Miller (2005) verificam que os entrevistados Chi-
neses percebem a organização como um grupo em vez de colegas de trabalho, o que os torna
mais leais aos objetivos da organização. Esta caraterística está intimamente ligada ao facto de
a China demonstrar ser uma sociedade coletivista e, como mencionado por Allaire e Firsirotu
(1984), a cultura de uma sociedade manifesta-se no individual de uma organização. Assim,
quando o interesse da organização está em conflito com o dos colegas de trabalho, a fideli-
dade à organização é aparentemente considerada mais importante. Ademais, pese embora o
pronunciado, os autores destacam que uma elevada distância hierárquica dissuade os colabo-
radores a denunciarem os seus supervisores ao invés dos seus pares.
Sob outro panorama, Ferrell e Weaver (1978) detetam que os indivíduos creem que
as suas decisões são tomadas num ambiente organizacional em que quer os pares, quer os
superiores exibem padrões éticos mais baixos do que os seus. Complementarmente, os en-
trevistados defendem que as políticas organizacionais não fomentam um clima mais ético do
que a convicção das suas crenças pessoais. Na visão dos colaboradores, as sanções impostas
pela organização eram mais benevolentes do que o apropriado. Ainda assim, nas suas inves-
tigações Hwang, Staley, Te Chen e Lan (2008) detetaram que os contabilistas concordam que
a presença de um clima ético profissional e de politicas organizacionais tem repercussões
positivas na intenção de denunciar os pares.
Jones e Hiltebeitel (1995) relatam o papel da organização como peça fulcral no de-
senvolvimento moral dos seus colaboradores, sobretudo manifestado através do apoio orga-
nizacional aquando o auxílio à resolução dos seus conflitos éticos. Em específico, na referida
investigação, os autores corroboram a literatura da área e epilogam a pertinência do apoio
organizacional nos processos de tomada de decisão ética dos seus colaboradores, em especial
no ramo da contabilidade. Já a investigação de O'leary e Stewart (2007), cujo foco incidiu nos
profissionais de auditoria, revelou que mecanismos de corporate governance, como a presença
de uma comissão de ética ou a implementação de um código de conduta organizacional, não
têm qualquer repercussão na capacidade de os auditores exibirem atitudes éticas, quando
expostos a um dilema ético. Todavia, Douglas et al. (2001) chamam a atenção para o facto
de os contabilistas não serem apenas afetados pela cultura organizacional em que se encon-
tram, como também pela cultura profissional sujeita ao escrutínio da sociedade.
35
Em conclusão, Finn, Chonko e Hunt (1988) detetaram que quando os contabilistas
percecionam que os seus supervisores não consentem qualquer comportamento antiético, a
incidência de atitudes moralmente incorretas diminuirá. Tal mostrou, portanto, a importância
da presença de este tipo de cultura organizacional para contribuir para a maior perceção ética
dos contabilistas. Por outro lado, a título de curiosidade, os resultados da referida investiga-
ção sugerem que a salário do contabilista é significativo na explanação da sensibilidade ética,
na medida em que, indivíduos com maiores níveis salariais relatam em menor quantidade
ações antiéticas do que os pares que apresentam um menor nível salarial.
Na conjuntura dos fatores situacionais, Watson, Berkley e Papamarcos (2009) afir-
mam que as recompensas e as sanções afetam significativamente o processo de tomada de
decisão dos indivíduos. Mais, os autores declaram que tal como os valores morais, os valores
imorais como o hedonismo e o poder, estão correlacionados na predição do comportamento
ético, no sentido em que os valores imorais moderam os resultados do julgamento ético em
contexto de recompensas e sanções. Seguindo a mesma linha de pensamento, o trabalho de
Hayibor e Wasieleski (2009) indica que a presença de consequências, quer seja uma recom-
pensa ou uma sanção, de determinada atitude está positivamente associada à perceção da
magnitude das consequências, perceção essa que pode ser influenciada com o propósito de
reduzir as atitudes antiéticas na organização.
O estudo de Smith, Simpson e Huang (2015) examina a interação da ética e das san-
ções com a decisão de os indivíduos assumirem comportamentos antiéticos. De facto, apesar
de se vivenciar uma pressão para se aumentarem as consequências para possíveis infratores,
os autores identificam que a presença da ameaça de repercussões não afeta diretamente a
possibilidade de atitudes moralmente incorretas. Para além do mencionado, Smith et al.
(2015) revelam que a obediência à autoridade impacta a intenção de os indivíduos se envol-
verem em atitudes antiéticas, na medida em que os gestores entrevistados denotam maior
intenção imoral quando sujeitos a ordens de superiores para optarem por comportamentos
antiéticos. Saliente-se, ainda que, de forma semelhante, em contextos de baixa intensidade
moral, a possibilidade de os indivíduos comportarem atitudes eticamente questionáveis são
consideravelmente maiores quando se percecionava que os seus superiores recompensavam
o comportamento antiético (Shafer & Simmons, 2011).
Importa referir a investigação de Hwang et al. (2008) que advoga que os indivíduos
contabilistas revelam-se menos propensos do que os indivíduos das demais profissões a
36
serem influenciados por recompensas monetárias, promoções ou por afinidades no que con-
cerne à denúncia de atitudes moralmente incorretas.
2.5 Os Códigos de Ética
Devido a um maior escrutínio público, as organizações têm procurado instituciona-
lizar a ética de diversas formas, nomeadamente pela criação de códigos de ética (Lampe &
Finn, 1992). Inclusive, face à solução concebida, a comunidade académica iniciou uma série
de investigações (Gaumnitz & Lere, 2004). Ainda que o interesse com os códigos de ética
somente se tenha intensificado nos Anos 90 (Adams, Tashchian, & Shore, 2001), a sua in-
trodução na sociedade data de 1913 (Oliverio, 1989).
Os códigos de ética, de acordo com Velayutham (2003) e Ward, S., Ward, D., e Deck
(1993) são considerados o método para assegurar a honorabilidade a que a profissão se com-
promete a sustentar, transparecendo ao público, aos clientes e aos pares a competência como
profissional. Como tal, o desenvolvimento e a adoção de padrões de conduta moral revelam-
se transversais a diversos ofícios (Ward et al., 1993).
Diante do exposto, Carey (1947) identifica o código de ética como a combinação de
regras e requisitos formulados com o desígnio de induzir determinado comportamento aos
praticantes de uma profissão. Weaver (1993), corroborando esta afirmação, define-o como
o manifesto formal onde são especificadas as obrigações éticas de uma conduta organizaci-
onal de excelência. Na mesma linha de entendimento, Stevens (1994) vai mais além e advoga
que o código de ética é um documento escrito com capacidade de, em alguns casos, constituir
um mecanismo de autodefesa da organização, sendo concebido maioritariamente com o pro-
pósito de moldar o comportamento dos colaboradores a padrões morais mais elevados do
que o exigido por lei. Outrossim, a autora, acrescenta que, mais do que incidir na conduta
dos colaboradores, a mensagem, que pode variar desde um parágrafo a mais de cinquenta
páginas, deve atender à perceção do público externo à organização. Em suma, os códigos de
ética são tidos como ferramentas quer legais (Adams et al., 2001), quer gerenciais na mode-
lação de comportamentos (Stevens, 1994).
Wood e Rimmer (2003), refletindo sobre um conjunto de definições encontradas na
literatura, categorizou quatro elementos transversais à maioria das formulações acerca de có-
digos de ética. A princípio, os autores realçam a vertente de declaração que o documento
escrito assume, não obstante possa ser transmitido apenas verbalmente em empresas de
37
pequena dimensão. Em segundo lugar, um código é constituído essencialmente por normas
e/ou crenças acerca da conduta adequada ao contexto organizacional. De seguida, identifica-
se o seu propósito – impulsionar padrões de atitude nos colaboradores. Tendo em conside-
ração as componentes citadas, em último, Wood e Rimmer (2003) mencionam a finalidade
do código de ética como sendo alcançar o comportamento desejado nos colaboradores.
Pela observação dos elementos mencionados, frisa-se a sua importância, pois não só
permitem descrever sucintamente em que consiste um código de ética, como o distinguem
de um código de conduta, frequentemente utilizados no mesmo sentido. Assim, em virtude
do exposto, é intitulado de código de ética aquele onde são enunciados os princípios de uma
profissão ou organização, e de código de conduta o documento que contém as regras práticas
que possibilitem a expressão do ethos (Wood & Rimmer, 2003). De maneira interessante,
Craft (2013) indica que a expressão de “código de conduta” mencionada na revisão de Ford
e Richardson (1994) é substituída por “código de ética” na revisão de Loe et al. (2000).
De facto, como acima patente, a comunidade académica direcionou os seus esforços
à exploração dos códigos de ética, com particular foco no seu conteúdo (Gaumnitz & Lere,
2004). A título de exemplo, refira-se o estudo de Bondy, Matten e Moon (2004) que mostrou
a existência três tipologias de códigos tendo por base a linguagem empregue, bem como a
utilização de sanções. Em primeiro lugar, designam-se de códigos punitivos aqueles que con-
templam a aplicação de sanções que têm o propósito de garantir a conformidade legal e a
padronização de comportamentos dos funcionários em todas as operações. Seguidamente,
surgem os códigos de princípios que afirmam o desejo de introduzir a responsabilidade social
corporativa, ainda que seja patente a omissão de indicações de como o pretendem fazer. Em
última instância, os autores identificam os códigos de compromisso como os que indicam a
intenção de a organização integrar a responsabilidade social corporativa, onde já constam
deposições formais e específicas acerca de como o desejam fazer.
Por oposição, surge a investigação de Farrell e Cobbin (2000) a qual menciona a clas-
sificação dos códigos de ética a propósito do seu conteúdo como inspiracional ou prescritivo.
Mediante os autores, a disparidade é decorrente das diferentes manifestações éticas nas or-
ganizações. A perspetiva de um código inspiracional apela aos colaboradores a adotar um
comportamento ético, através da menção a valores e princípios considerados adequados à
organização. Na presença de códigos inspiracionais, é dada a responsabilidade aos colabora-
dores de procederem de forma ética à luz dos valores desejáveis. Por outro lado, os autores
discutem os códigos de ética prescritivos como a resposta necessária face a comportamentos
38
inapropriados à circunstância organizacional. No entender dos autores acima indicados, as
declarações presentes nos códigos são percebidas como soluções para as questões éticas
identificadas pelos destinatários do respetivo código.
A par, Dobson (2005) salienta a vertente instrumental do código de ética, meramente
projetado para evitar a exposição a disputas. Deveras, constata-se a possibilidade de a exis-
tência de códigos consciencializar os indivíduos a assumirem atitudes mais éticas em deter-
minadas questões, porém não é esperado que se alterem as motivações intrínsecas a qualquer
sujeito. Adicionalmente, o investigador comenta que o sucesso do código de ética está intei-
ramente associado à perceção dos colaboradores quanto ao comportamento defendido, pois,
tendencialmente, os indivíduos consideram que são apeladas prescrições comportamentais
não dotadas de racionalidade. Jackling et al. (2007) recordam que a vigência dos códigos de
ética não assegura que os membros da profissão o cumpram. Por esse motivo, o imprescin-
dível é invocar o comportamento ético alicerçado no raciocínio moral (Jackling et al., 2007).
No que concerne à realidade dos profissionais de contabilidade, Roxas e Stoneback
(2004) averiguam a existência de um código de ética rigoroso, sobretudo pelo seguimento de
regras com o propósito de legitimar a atuação profissional com o auxilio de várias partes
interessadas (Dillard & Yuthas, 2002). Isto porque, o contabilista certificado, assume uma
responsabilidade não só para o cliente que representa, como também para todos os benefi-
ciários da informação por ele atestada (Carey, 1947). No mesmo sentido, Farrell e Cobbin
(2000) assumem que os códigos de ética são utilizados pelos contabilistas como instrumento
para alcançar a conformidade de comportamento por meio de sanções.
Recorrendo novamente à revisão de literatura a respeito de códigos de ética de
Stevens (1994), é patente a apreensão das organizações com a sua defesa, no sentido em que
se admite a possibilidade de a má conduta dos colaboradores acarretar danos à imagem or-
ganizacional. Com efeito, Adams et al. (2001) constatam que a mera existência de um código
de ética tem um impacto positivo no comportamento ético nas organizações, precisamente
quando os colaboradores não conhecem o seu conteúdo com exatidão. Stevens (1994), pese
embora, defende que, na sua maioria, as corporações limitam o seu código de ética a justapor
a legislação. Assim, é visível a falha na sua articulação com os valores e as crenças da cultura
organizacional desejada, pelo que, segundo a investigadora não há evidência sólida para ad-
vogar a eficácia dos códigos. No entanto, Cohen e Pant (1991) na sua investigação mostram
que os contabilistas certificados consideram a autorregulação profissional via código de ética
alcançar maiores padrões éticos. Do mesmo modo, Ward et al. (1993) estabelece
39
concordância com premissa de Cohen e Pant (1991), inclusive, os autores adiantam que os
contabilistas mantêm um referencial ético superior ao código de ética profissional, pois os
profissionais identificam como inadmissíveis comportamento toleráveis pelo código de ética.
Cogita-se com frequência que a exposição ao código de ética profissional é passível
de suscitar maior sensibilidade ética por parte dos contabilistas (Mccarthy, 1997). Neste sen-
tido, o autor procurou testar a referida premissa, concluindo que existe pouca evidência de
que o entendimento do código de ética manipule positivamente a suscetibilidade ética em
cursos de preparação da profissão. Porém, Green e Weber (1997) verificam que os estudantes
de contabilidade, após a comunicação do código de ética, apresentam níveis mais elevados
de desenvolvimento ético face a alunos cujo código não lhes foi comunicado. Por conse-
guinte, é de esperar que o enfase no código de ética tenha um impacto positivo no compor-
tamento ético de futuros profissionais (Green & Weber, 1997).
Concluindo, é percetível a importância do código de ética como instrumento para
convencer o público de que os membros de uma profissão seguem padrões éticos. Apesar
disso, não é garantido que os colaboradores adotem o código imposto, que o público o
aprove, nem que reforce a sua sensibilidade ética (Leung & Cooper, 2005).
40
PARTE DOIS - A PROFISSÃO CONTABILISTA
41
3. O Enquadramento da Contabilidade em Portugal
A contabilidade representa um papel fulcral no desenvolvimento social e económico
da sociedade portuguesa (Rodrigues, Gomes, & Craig, 2003). De entre as atividades ligadas
à prática da contabilidade, é de destacar duas: CC e Revisor Oficial de Contas (ROC). Não
obstante, não constitui como desígnio da presente investigação a análise à profissão ROC.
Em virtude do exposto, primeiramente, procede-se à institucionalização da profissão
de CC em Portugal, através de uma curta panorâmica acerca dos aspetos históricos que mar-
cam a prática da contabilidade. Em segundo lugar, desenvolve-se uma análise ao Código
Deontológico a que os CC estão sujeitos. De seguida, introduz-se uma explanação das san-
ções aplicáveis a quem prevarica os interesses públicos da profissão. Em último, expõem-se
os principais resultados de investigações conduzidas em Portugal alusivas à tomada de deci-
são ética dos profissionais da área da contabilidade.
3.1 A Institucionalização da Profissão Contabilista Certificado
A profissão contabilista vivencia um grande progresso a partir dos Anos 903. Como
exemplo, Torre e Proença (2011) notam que a contabilidade era predominantemente exer-
cida por homens e, recentemente, regista-se o domínio do sexo feminino na profissão. Res-
salva-se que nos últimos oito anos é registada uma maioria de mulheres inscritas na OCC4.
Inicialmente, no desenvolver da institucionalização da profissão em Portugal, os
membros deste grupo profissional haviam sido categorizados hierarquicamente de “Guarda-
Livros”, de “Contabilista” e de “Perito Contabilista”, cada um com responsabilidades distin-
tas conforme a investigação desenvolvida por Rodrigues et al. (2003). Todavia, os autores
salvaguardam a existência em pequeno número de profissionais especializados na técnica
contabilística, pelo que nasce a necessidade de criar um estabelecimento de ensino oficial
para a instrução da profissão em Portugal, a designada Aula do Comércio. Em consequência,
o número de Portugueses com conhecimentos contabilísticos aumenta significativamente.
3 Vide: Ordem dos Contabilistas Certificados – A Ordem: História. Disponível em: https://www.occ.pt/pt/a-ordem/historia/. Último acesso a 16 de julho de 2020. 4 Vide: Ordem dos Contabilistas Certificados – A Ordem: Relatórios e Contas | Plano de Atividades e Orça-mento. Consultaram-se os Relatórios e Contas de 2004 a 2019, todavia está somente disponível a informação quanto à distribuição de género dos profissionais a partir do Relatório e Contas de 2012. Disponíveis em: https://www.occ.pt/pt/a-ordem/relatorio-e-contas-plano-de-atividades-e-orcamento/. Último acesso a 23 de junho de 2020.
42
Até à data, o acesso à profissão é exclusivo aos indivíduos que frequentassem o curso lecio-
nado pela Aula do Comércio, sendo visto como uma das primeiras regulações da profissão
em Portugal (Rodrigues et al., 2003).
Entretanto, diversos foram os esforços com o propósito de adaptar a denominação
da classe de profissionais para “Técnico de Contas”, após a rejeição da indicação de “Técnico
de Contabilidade”. Posteriormente, em resposta às necessidades competitivas impostas pelo
mercado único europeu, em 1995, a profissão começa a ser regulada pela Associação dos
Técnicos Oficiais de Contas (ATOC), sendo os seus membros designados de “Técnico Ofi-
cial de Contas” (TOC). Com a introdução de os Estatutos dos Técnicos Oficiais de Contas,
para pertencer à classe de profissionais reconhecida pelo Estado, é exigido pelo menos o
bacharelato em Contabilidade, Gestão, Administração, Economia, Finanças, entre outros
cursos, desde que reconhecidos pelo Ministério da Educação (Rodrigues et al., 2003). Asso-
ciado ao inicio da regulação da atividade profissional, as universidades começaram fornecer
instrução em ética, com o intuito de preparar os alunos para o exame de admissão à profissão
que incluía questões sobre ética e deontologia (Costa, Pinheiro, & Ribeiro, 2016). Inclusive,
Torre e Proença (2011) referem que “a ética é um elemento central da profissão de TOC.”(p.
79). Decorridos quatro anos, a ATOC altera o seu título para Câmara dos Técnicos Oficiais
de Contas (CTOC) (Rodrigues et al., 2003).
Ademais, em março de 2003, a inscrição como membro da CTOC exigia uma deter-
minada estrutura curricular, aliado a um exame e a um estágio profissional (Rodrigues et al.,
2003). Futuramente, é em julho de 2009 que o Parlamento Português possibilita a alteração
dos Estatutos da CTOC com a passagem a Ordem profissional – Ordem dos Técnicos Ofi-
ciais de Contas (OTOC). No referido ano, a Ordem é formalizada e torna-se a maior ordem
profissional portuguesa. Em 2015, procede-se novamente à renomeação da OTOC para
OCC, regulando de forma exclusiva a profissão em Portugal. A entidade reguladora da pro-
fissão é, neste momento, a maior ordem profissional portuguesa com cerca de sessenta e oito
mil membros5.
Importa mencionar que, para um indivíduo ser membro da OCC, são exigidos quatro
requisitos: formação académica numa das áreas previamente mencionadas; frequentar um
curso de preparação sobre o EOCC; executar um estágio profissional; e, por fim, alcançar
5 Vide: Ordem dos Contabilistas Certificados – A Ordem: História. Disponível em: https://www.occ.pt/pt/a-ordem/historia/. Último acesso a 16 de julho de 2020.
43
aprovação no exame de avaliação profissional6. Deveras, tendo por base o Relatório e Contas
2019 da OCC, no respetivo ano, verifica-se um aumento de candidaturas de 4% face ao ano
anterior, ascendendo a mil e quarenta e nove candidatos. Todavia, e face às exigências no
processo de acesso à profissão, apurou-se uma diminuição do número de membros admiti-
dos7.
É indiscutível que estabelecer regulamentação onde constem as normas de conduta
a assumir na prática da contabilidade é preponderante a um desempenho de excelência dos
profissionais (Ferreira, 2004). Note-se que, já em 1991, Cohen e Pant destacam a pertinência
e o desejo da profissão contabilista pela autorregulação, sobretudo devido à sua relação per-
manente com a sociedade. Inclusive, Ferreira (2004) advoga o imperativo de autorregulação
profissional e de regulação legal.
Ferreira, Lara e Gonçalves (2007) salientam a necessidade de se observar a forte in-
fluência do código-lei na contabilidade em Portugal, onde, tradicionalmente, as normas con-
tabilísticas privilegiam a informação direcionada aos credores e à autoridade tributária (Caria
& Rodrigues, 2014). A regulação legal surge, em 1977, com a implementação de o Plano
Oficial de Contabilidade (POC) (Ferreira et al., 2007). Todavia, importa mencionar que Caria
e Rodrigues (2014) frisam que face às pressões impostas pelo enquadramento internacional,
registam-se estímulos para que a contabilidade dê preferência aos investidores e acionistas,
no caso, decorrentes da relevância do International Accounting Standards Board (IASB) e da
adoção dos International Financial Reporting Standards (IFRS). Por este facto, em 2010, a exis-
tente regulamentação legal conduz a um novo modelo de harmonização contabilística, de-
nominado de Sistema de Normalização Contabilística (SNC), que assimila, como forma de
lei, as Diretivas Contabilísticas emitidas pelo IASB e adotadas na União Europeia. Não obs-
tante o referido, ressalva-se que a imposição do SNC em Portugal não significa que a prática
da contabilidade altere imediatamente, conforme se verifica na maior responsabilidade no
julgamento do contabilista (Caria & Rodrigues, 2014).
Presentemente, a classe dos CC dispõe de regulamentação legal, através do EOCC,
aprovados pelo Decreto -Lei n.º 452/99, de 5 de novembro, em conformidade com a Lei n.º
2/2013, de 10 de janeiro, que estabelece o regime jurídico de criação, organização e
6 Vide: Ordem dos Contabilistas Certificados – Inscrição: Inscrição como Contabilista Certificado - Perguntas Frequentes. Disponível em: https://www.occ.pt/pt/inscricao/inscricao-como-contabilista-certificado-pergun-tas-frequentes-faq/. Último acesso a 21 de julho de 2020. 7 Vide: Ordem dos Contabilistas Certificados – A Ordem: Relatório e Contas 2019, página 58. Disponível em: https://www.occ.pt/news/DIversos/RC2019.pdf. Último acesso a 21 de julho de 2020.
44
funcionamento das associações públicas profissionais.. Ao mesmo tempo, é da competência
da entidade que agrupa os profissionais a implementação de autorregulamentação profissio-
nal no conjunto de normas citadas no CDCC (Ferreira, 2004). Pois, com base na pesquisa de
Marques e Azevedo-Pereira (2009), em Portugal, os membros da Ordem são perspetivados
como uma classe profissional frequentemente exposta a dilemas éticos e, deste modo, a in-
frações deontológicas. Paralelamente, os autores expõem que com o elevado número de pro-
fissionais, face à dimensão do país, a competitividade é intensificada, constituindo um obs-
táculo a uma conduta profissional independente. Entre os demais comportamentos desvian-
tes, a evasão fiscal é uma das áreas a que os CC são mais propensos a tomar ações censuráveis
e antiéticas. É, neste sentido, categórico que o contabilista desenvolva a sua atitude ética face
a situações ambíguas (Marques & Azevedo-Pereira, 2009). Assinale-se que quer o EOCC,
quer o CDCC são, ulteriormente, aditados pela Lei n.º 119/2019, de 18 de setembro.
A atual Bastonária da OCC, Paula Franco, menciona na sua mensagem introdutória
à publicação do EOCC8 a intenção do documento citado. A propósito, a Bastonária informa
que a promulgação dos Estatutos e do Código Deontológico tem como objetivo facultar a
todos os profissionais contabilistas um conjunto de regras de conduta basilares a um desem-
penho de excelência. E, em harmonia com o EOCC, os deveres gerais de um CC estão con-
substanciados ao disposto no Artigo 70.º, do qual se destaca a obrigatoriedade de contribuir
para a notoriedade da profissão, desempenhando de forma idónea a sua atividade, abaste-
cendo-se de quaisquer comportamentos desviantes. Simultaneamente, os CC estão sujeitos a
deveres específicos para com as entidades a quem prestam serviços, para com a Autoridade
Tributária e Aduaneira (AT), nas suas relações com os demais CC, e para com a Ordem,
Artigo 72.º, 73.º, 74.º e 75.º, respetivamente. Importa, neste contexto, mencionar que é dever
de um contabilista comunicar ao Ministério Público e à OCC algum comportamento censu-
rável que constitua um crime público, de acordo com o estabelecido no Artigo 76.º.
É, por conseguinte, indiscutível que, no exercício da sua atividade, para além dos
direitos e deveres, e dos demais conhecimentos que lhes são exigidos, o CC necessita de
dotar de sensibilidade ética para a resolução de dilemas éticos, aquando da preparação da
informação financeira9. Afinal, a sociedade tem a expectativa de que a classe de profissionais
8 Vide: Ordem dos Contabilistas Certificados – A Ordem, Estatuto e Código Deontológico. Disponível em https://www.occ.pt/fotos/editor2/estatuto2017_v2019_final_v2.pdf. Último acesso a 24 de julho de 2020. 9 Perceção frisada por Alberto da Silva Barata em “A Contabilidade em contexto de Mudança Ética e Contabi-lidade na Homenagem ao Professor Doutor Rogério Fernandes Ferreira”. Disponível em https://www.occ.pt/pt/noticias/a-contabilidade-em-contexto-de-mudanca-etica-e-contabilidade-na-homena-gem-ao-prof-doutor-rogerio-fernandes-ferreira/. Último acesso a 29 de julho de 2020.
45
contabilistas revele elevados padrões de ética, de acordo com as regras estipuladas e, inclusi-
vamente, com os deveres menos agradáveis10.
3.2 O Código Deontológico
Os profissionais de contabilidade estão sujeitos à tomada de decisão onde a fronteira
entre o legalmente permitido e o eticamente aceitável é muito ténue (Torre & Proença, 2011).
É, face a esta dificuldade, que se procuraram estabelecer valores éticos através da criação de
um código de ética internacional passível de se adaptar aos padrões nacionais. O denominado
de International Code of Ethics for Professional Accountants, desenvolvido pelo International Ethics
Standards Board for Accountants (IESBA) e publicado pela International Federation of Accountants
(IFAC), tem como propósito elevar a qualidade e consistência dos serviços prestados pelos
contabilistas por forma a incrementar a eficácia dos mercados de capitais, refletindo a res-
ponsabilidade de interesse público da profissão. O Código preconiza que os contabilistas se
guiem por cinco princípios fundamentais: integridade, objetividade, competência profissional
associada a um devido cuidado, confidencialidade e comportamento profissional11.
Em Portugal, o CDCC vigora desde 1 de janeiro do ano de 2000 e a sua redação está
patente no Anexo II da publicação dos EOCC. A definição de regras estatutárias defende
que o “... documento, como norma geral que é, não prevê, nem tem que prever, em toda a
sua extensão, a implementação de normas éticas e deontológicas.”12. Revela-se necessário
formalizar um código de ética pois, a carência de cultura contabilística registada na sociedade
provoca uma concetualização negativa da profissão. Portanto, o apelo para que os CC culti-
vem as referências de idoneidade da profissão, comparece com a constituição do CDCC que
reúne “... a definição de um conjunto de regras comportamentais, com vista à definição de
procedimentos intra profissionais, ..., não previstos naqueles normativos.”13. Acrescente-se
que, segundo Carreira e Gonçalves (2008), para a redação do CDCC a OCC procedeu à
elaboração de um grupo de trabalho para uma sugestão de código deontológico sujeito a
discussão pública, inclusive com revisão e referendo interno à proposta elaborada.
10 Vide: Nota de Rodapé 1 - Entrevista a Domingues de Azevedo. 11 Vide: Handbook of the International Code of Ethics for Professional Accountants – Introdução e Propósito do Código. Disponível em: https://www.ifac.org/system/files/publications/files/IESBA-Handbook-Code-of-Ethics-2018.pdf. Último acesso a 1 de agosto de 2020. 12 Vide: Ordem dos Contabilistas Certificados – A Ordem, Código Deontológico antigo. Disponível em: https://www.occ.pt/pt/gca/index.php?id=274. Último acesso a 28 de julho de 2020. 13 Vide: Nota de Rodapé 12. Ressalva-se que o excerto foi transcrito na integra pelo que não foram corrigidos quaisquer erros ortográficos.
46
No exercício da sua atividade, os membros da Ordem estão sujeitos ao Ponto Nú-
mero Um, Artigo 3.º do CDCC onde se citam os Princípios Deontológicos que devem reger
o seu comportamento. A Alínea A, do Ponto indicado, remete ao Princípio da Integridade o
qual defende que o desempenho da profissão deve-se reger pela honestidade e boa-fé. De
seguida, o Princípio da Idoneidade implica que o CC tenha consciência dos seus conheci-
mentos e apenas aceite tarefas as quais consegue executar. Já na Alínea C está patente o
Princípio da Independência segundo o qual os CC devem aniquilar qualquer pressão decor-
rente do seu interesse próprio ou mesmo de influências externas, por forma a não lesar a sua
independência. A quarta Alínea comunica o Princípio da Responsabilidade de onde se deduz
que o profissional é imputado pelos atos que pratica. Posteriormente, é apresentado o Prin-
cípio da Competência pois os CC devem executar as suas atividades de forma competente,
de acordo com as leis, as normas contabilísticas e os requisitos éticos em vigor. O Princípio
da Confidencialidade consta da Alínea F, aludindo ao sigilo profissional sobre a informação
que receba, direta ou indiretamente, no prestar dos seus serviços. O sétimo Princípio é o da
Equidade e transmite o pressuposto de que deve ser salvaguardada a igualdade de conside-
ração ao todas as entidades a quem o CC preste serviços, exceto qualquer normal contratual.
E, em última instância, está vigente o Princípio da Lealdade pelo o qual o profissional deve
abster-se de comentários do foro pessoal nas suas relações, atendendo às regras da concor-
rência leal e à legislação em vigor, com o intuito de enobrecer a profissão.
É relevante realçar que os CC estão sujeitos ao Artigo 14.º do CDCC alusivo aos
honorários. Mais se informa que, segundo a alínea 3 do referido Artigo, um CC em regime
de trabalho independente, não pode aceitar nem cobrar outras importâncias para além do
honorário estipulado no contrato escrito, que não estejam relacionadas com o serviço pres-
tado. Inclusive, a Alínea 4 notifica a impossibilidade de receber ou cobrar honorários direta-
mente dependentes do lucro obtido com o serviço prestado. Para finalizar, não é possível
constatar a existência da fixação de honorários mínimos para CC que pratique a profissão de
forma independente. Note-se que, no passado existiram disposições que obrigavam a tal nos
n.ºs 3, 4 e 5 do Artigo 15.º do anterior Código Deontológico, todavia foram declaradas nulas
por sentença de nove de março de 2001 do Tribunal de Comércio de Lisboa14. Por outro
14 Informação retirada de um artigo redigido por Cláudia Reis para o Vida Económica datado de 8 de maio de 2015. Disponível em https://www.occ.pt/fotos/editor2/VidaEconomica8Maio.pdf. Último acesso a 1 de agosto de 2020.
47
lado, os honorários de um CC que execute as suas funções em regime de trabalho dependente
estão convencionados para o setor (Alínea 6).
Ademais, alude-se à pertinência da lealdade entre contabilistas patente no Artigo 16.º.
É, neste sentido, de extrema importância recordar que nas suas relações recíprocas, os con-
tabilistas não devem comportar-se de forma a prejudicar a atividade dos colegas, pelo que
qualquer ato subjacente à troca de CC deve seguir o estipulado pelo CDCC.
3.3 As Infrações Disciplinares
No quotidiano, no exercício das suas funções, é sabido que se um CC se encontrar
numa situação de conflito de interesses, o profissional não deve violar o EOCC nem o
CDCC. Todavia, em específico, a Alínea 2 do Artigo 4.º do CDCC informa que no caso de
se originarem conflitos devidos à preeminência das regras deontológicas, o contabilista deve
procurar centrar a sua solução pela análise do conjunto das disposições deontológicas e, se
não for exequível, é seu dever requerer um parecer ao Conselho Jurisdicional da Ordem.
Pois, em consonância com o disposto no Artigo 17.º, a evidência de comportamentos con-
trários ao ditame das regras deontológicas constitui uma infração disciplinar, conforme os
termos estatuários. A saber, o EOCC esclarece que a consecução do poder disciplinar é da
competência do Conselho Jurisdicional, enquanto que a execução das sanções é da respon-
sabilidade do Conselho Diretivo (Artigo 82.º).
Perante uma infração perpetuada por um CC, é da incumbência da entidade denun-
ciante dar a conhecer à Ordem a prática de tais atos. Neste aspeto, o Conselho Disciplinar
(CDOCC) recolhe participações de tribunais e quaisquer autoridades públicas, do Ministério
Público e restantes entidades, e, ainda, de entidades públicas ou privadas, inclusive de outro
CC (Artigo 83.º do EOCC). Com a receção das queixas, o Conselho Disciplinar instaura um
procedimento disciplinar composto por quatro etapas: Instrução, Defesa do CC, Decisão e
Execução15. Saliente-se que o procedimento disciplinar pode compreender um processo de
inquérito ou um processo disciplinar, compatível com o fixado pelo Regulamento do Con-
selho Diretivo no Artigo 39.º e 38.º, respetivamente.
No caso, o Relatório e Contas 2014 menciona algumas ações praticadas ou omitidas
que dão origem a infrações. A título de exemplo, as ações mais frequentes são: (i)
15 Vide: Regulamento Disciplinar – Artigo 34.º. Disponível em: https://www.occ.pt/fotos/editor2/rd_v4.pdf. Último acesso a 1 de agosto de 2020.
48
comportamento contrário à dignidade e prestígio da profissão; (ii) falta de entrega e entrega
extemporânea de declarações fiscais; (iii) incorreções técnicas quer contabilísticas quer fiscais;
(iv) retenção de documentos; (v) assunção de funções, havendo honorários em dívida ao
antecessor; (vi) angariação ilícita de clientes; (vii) falta de colaboração/informação ao cliente.
Após todas percorrer as etapas, o procedimento disciplinar resulta na aplicação de
uma sanção disciplinar ou na emissão de um parecer de arquivamento do processo (Artigo
100.º do EOCC). As sanções disciplinares tipificadas no Artigo 86.º e caraterizadas no Artigo
87.º do EOCC são a: advertência (reparo pela irregularidade praticada); multa (pagamento de
quantia certa que pode ascender a dez vezes o salário mínimo nacional); suspensão até três
anos (impedimento do exercício da profissão durante o período de suspensão); e, expulsão
(impedimento total do exercício da atividade). De facto, Célia Correia, jurista da OCC, con-
sidera que as sanções procuram restituir a ordem pelos comportamentos prevaricáveis, com
o intuito de expor ao CC de que as suas atitudes vão contra os interesses da profissão16.
Em 2018, cria-se o Departamento Disciplinar com o propósito de um tratamento
mais especializado das matérias disciplinares. Neste sentido, os processos de cobrança de
quotas passaram para a responsabilidade da AT. Até então os processos de cobrança de quo-
tas eram matéria do departamento de Consultoria Jurídica, contudo são os processos de ins-
trução disciplinar por questões de não quotas “... que verdadeiramente disciplinam a conduta
profissional dos contabilistas certificados.”17. Com esta alteração, o poder disciplinar da Or-
dem foca-se no exercício da profissão, através do sancionamento de comportamentos viola-
dores. Inclusive, o Relatório e Contas 2019 informa que a transferência dos processos de
pagamento de quotas para a AT possibilitou a diminuição do número de participações disci-
plinares em 42%. A par, expurgando os processos relativos ao não pagamento de quotas,
registou-se um aumento de 37% nos processos disciplinares face ao ano de 2019.
É de salientar que podem prevalecer comportamentos ilícitos que as entidades omi-
tem à OCC, assim como o número de participações pode não ser igual ao número de infra-
tores, pois uma infração pode abranger mais do que um CC.
16 Informação retirada de um artigo redigido para o Vida Económica datado de 22 de julho de 2016. Disponível em: https://www.occ.pt/fotos/editor2/ve22julhocelia.pdf. Último acesso a 3 de agosto de 2020. 17 Vide: Ordem dos Contabilistas Certificados – A Ordem: Relatório e Contas 2019, página 48. Disponível em: https://www.occ.pt/news/DIversos/RC2019.pdf. Último acesso a 21 de julho de 2020.
49
3.4 A Investigação Desenvolvida em Portugal
Em virtude dos factos mencionados na revisão de literatura, nos últimos anos, escas-
sos têm sido os trabalhos publicados em matéria de processo de decisão ética. Em especial,
em Portugal, são poucas as investigações inerentes à tomada de decisão ética dos contabilis-
tas. De facto, apenas se encontraram os trabalhos de Carreira e Gonçalves (2008), Marques
e Azevedo-Pereira (2009), Torre e Proença (2011), Almeida (2014) e Costa et al. (2016).
Pioneiros na área, Carreira e Gonçalves (2008) propuseram-se a aferir as repercussões
do ensino da ética empresarial na atitude ética de futuros contabilistas. No caso do grupo em
estudo, os seus resultados advogam que integração de matérias relacionadas com ética e de-
ontologia profissional no currículo, provocaram alterações favoráveis na atitude face à ética
profissional. Do ponto de vista dos autores mencionados, é válida a opção da introdução de
um módulo de ética e deontologia nos cursos de preparação da profissão.
Marques e Azevedo-Pereira (2009) procuram examinar a influencia da idade, do gé-
nero, do nível de educação e da ideologia ética nas atitudes dos contabilistas no exercício da
sua atividade. Em consequência da investigação, os autores concluem que a idade tem fortes
repercussões no relativismo ético, no sentido em que contabilistas mais velhos evidenciam
menor disposição para seguir as regras. Subjacente a esta constatação, está a ideia de que a
experiência profissional está associada à idade dos contabilistas, daí os autores defenderem
que, à medida que a idade e a experiência avançam, os padrões éticos tornam-se mais baixos.
Outro resultado notório, prende-se com o facto de os profissionais masculinos comportarem
julgamentos significativamente mais éticos do que os colegas de género oposto, refutando
toda a literatura da área. Ainda, e como expectado pelos investigadores, um maior nível edu-
cacional está positivamente relacionado com um maior rigor ético. Paralelamente, conclui-se
que a ideologia ética não é decisiva em matéria de julgamento ético, pese embora é relevante
informar que o relativismo possui um impacto notável no julgamento ético dos profissionais.
Para finalizar, os autores preconizam as empresas portuguesas a contratar jovens contabilis-
tas do género masculino dando preferência àqueles que ostentam um diploma universitário.
Numa linha de investigação semelhante a Marques e Azevedo-Pereira (2009), o tra-
balho de Torre e Proença (2011) tem como propósito apurar as diferenças na tomada de
decisão ética entre contabilistas do sexo feminino e do sexo masculino. Neste sentido, e face
à maioria dos trabalhos de revisão de literatura internacionais, os contabilistas do sexo femi-
nino não comportavam valores éticos superiores aos exibidos pelos contabilistas do sexo
50
masculino. Note-se que este achado corrobora a pesquisa anteriormente conduzida por
Marques e Azevedo-Pereira (2009). As autoras adiantam que as mulheres contabilistas con-
sideram atitudes menos éticas do que os colegas de género oposto, porém as diferenças as-
sinaladas não foram consideradas estatisticamente significativas. A par, o estudo apura que
os contabilistas, independentemente do seu género, privilegiam o critério da Justiça, seguido
da Deontologia para guiar os seus comportamentos.
Posteriormente, em 2014, Almeida propõe-se a averiguar, entre os demais profissio-
nais que atuam na área da contabilidade, a conceção dos comportamentos e atitudes éticas
adequadas, bem como a subsistência de mecanismos de controlo e promoção dessas atitudes.
A investigação constatou que na sua maioria, os diversos profissionais concordam que os
gestores Portugueses não exibem altos níveis de comportamento ético, pese embora, defen-
dem que as suas atitudes são eticamente exemplares. Ademais, importa mencionar que, a
amostra analisada admite a falta de controlo e monitorização do comportamento dos agentes
que atestam a informação financeira. Os profissionais concordam que os mecanismos de
corporate governance influem positivamente os padrões de comportamento ético.
Equitativamente a Marques e Azevedo-Pereira (2009), e Torre e Proença (2011), a
investigação conduzida por Costa et al. (2016) teve como propósito analisar as repercussões
dos fatores individuais no processo de tomada ética dos estudantes de contabilidade. Face
aos cenários expostos, os entrevistados reconhecem os problemas éticos, contudo, quando
confrontados com situações semelhantes, os alunos adotam a mesma postura, mesmo
quando a atitude não é a mais correta. Quanto ao género, os autores depreendem que este
dissuade a relevância de atributos como o empreendedorismo, a obediência e a responsabi-
lidade. Ainda assim, no que concerne à tomada de decisão, não foi possível aos investigadores
concluírem pela significância do fator. De forma análoga, a variável idade mostra-se capaz
de interferir na integridade dos entrevistados ainda que não seja estatisticamente significante
para processamento ético. Já a experiência profissional revela influenciar o grau de impor-
tância dada pelos alunos à obediência e a instrução em ética mostra-se associada à caraterís-
tica da independência, ambas sem interferir no processo de tomada de decisão ética. Para
finalizar, os autores rematam que frequentemente os entrevistados denotavam uma perceção
negativa dos seus pares.
51
PARTE TRÊS – A INVESTIGAÇÃO EMPÍRICA
52
4. O Problema: Exposição e Metodologia de Investigação
“Não existe uma fórmula mágica e única para realizar uma pesquisa ideal; talvez não
exista nem existirá uma pesquisa perfeita.”(Richardson, 1999, p. 15). O presente capítulo
integra, primeiramente, o cenário de investigação bem como os objetivos do estudo. Poste-
riormente, descreve-se a estratégia de investigação que permite atingir os objetivos do estudo
empírico. Em terceiro lugar, está patente o tópico respeitante à construção da base de dados
fulcral à investigação, onde é apresentada a estratégia de recolha, assim como os métodos de
análise. Em último, procede-se à caraterização da amostra de pesquisa com recurso à apre-
sentação das suas estatísticas descritivas.
4.1 A Questão de Investigação
O debate sobre a ética nos negócios permanece incessante devido à difusão de vul-
tuosos escândalos contabilísticos, noticiados e comprovados. Inúmeros profissionais e aca-
démicos concordam que, com o aumento de atividades questionáveis evidencia-se a falta de
preocupação sobre a ética no currículo atual dos negócios, é necessário dar muito mais enfâse
(Borkowski & Ugras, 1992). Inclusive, na Reunião Livre do dia 12 de agosto de 202018, a
Bastonária da Ordem, Paula Franco, remete a atenção da sociedade para a pressão que a
banca está a exercer sobre os contabilistas para que estes prestem falsas declarações. Em
conformidade com a Bastonária, o propósito é que as empresas possam aceder às linhas de
crédito concebidas pelo Estado para fazer face a quebras de faturação consequentes da CO-
VID-19. Paula Franco acrescenta que “... chamo a atenção aos Contabilistas Certificados de
que se vierem queixas destas para a Ordem dos Contabilistas Certificados os casos serão
levados a Conselho Disciplinar, serão consideradas falsas declarações e será considerado um
erro grave do ponto de vista profissional ...”19. Com efeito, os stakeholders têm colocado pres-
são sobre as organizações para gerir o comportamento dos seus colaboradores por forma a
reduzir comportamentos antiéticos (Trevino et al., 2006).
Devido a um maior escrutínio público, as organizações têm procurado instituciona-
lizar a ética de diversas formas, nomeadamente pela criação de códigos de ética (Lampe &
18 Vide: Transmissão via streaming da Reunião Livre de 12 de agosto de 2020, acessível no sítio do Youtube da OCC. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=q13WuIheQ1k. Último acesso a 20 de agosto de 2020. 19 O excerto pode ser encontrado aos 23 minutos e 37segundos da transmissão via streaming.
53
Finn, 1992). Pese embora, Dobson (2005) constata a possibilidade de a existência de códigos
consciencializar os indivíduos a assumirem atitudes mais éticas em determinadas questões,
porém não é esperado que se alterem as motivações intrínsecas a qualquer sujeito. Com
efeito, pela revisão de literatura, é percetível a importância do código de ética como instru-
mento para convencer o público de que os membros de uma profissão seguem padrões éti-
cos. Apesar disso, não é garantido que os colaboradores adotem o código imposto, que o
público o aprove, nem que reforce a sua sensibilidade ética (Leung & Cooper, 2005).
Aliada a esta questão, subsiste a inconclusividade de estudos empíricos realizados
sobre os fatores que impactam no processo de tomada de decisão ética, como também, em
anos recentes, poucos tem sido as investigações a debruçar-se sobre a matéria. Na realidade,
com a produção de investigação estagnada, a relação entre fatores como a idade, o género, a
educação e a experiência profissional, a tomada de decisão ética continua a exigir o interesse
quer de académicos quer de profissionais (Lehnert et al., 2015). Da mesma forma que, apesar
da difícil obtenção de dados organizacionais, é pertinente não descurar a sua investigação
(Lehnert et al., 2015), porque, de acordo com Robin et al. (1996), é reconhecido que a tomada
de decisão individual é indissociável da organização.
Considerando a motivação pelo crescente debate em torno da tomada de decisão
ética dos contabilistas, e à luz da pouca pesquisa sobre o tema a nível nacional, o objetivo
desta dissertação é examinar se, entre os profissionais que atuam na área em Portugal, existe
uma adequada perceção das práticas e do desempenho ético, e se há controlo e promoção
desses atributos pela OCC. Como consequência, o foco desta investigação recai sobre três
questões:
1. Quais as principais mudanças que se registaram na profissão em Portugal e que
desafios representam essas mudanças do ponto de vista ético?
2. Que tipos de comportamentos violadores dos princípios e deveres éticos e deon-
tológicos são mais frequentes e que fatores (individuais e situacionais) estão as-
sociados à sua ocorrência?
3. Qual o papel da entidade regulatória no tratamento de matérias disciplinares, quer
no incentivo à denúncia quer no sancionamento de práticas e atitudes antiéticas?
Face aos objetivos de pesquisa, e do leque de profissões ligadas à contabilidade, de-
termina-se eleger a profissão de CC. Esta opção prende-se com o facto de os CC serem
obrigados a cumprir com o respetivo Código Deontológico, independentemente da forma
como exercem a atividade, como também por ser uma profissão com elevado número de
54
participantes. Já que o CC assume uma responsabilidade não só para o cliente que representa,
como também para todos os beneficiários da informação por ele atestada (Carey, 1947).
Apesar do interesse desta análise, ela permite apenas examinar uma parte do pro-
blema. Com efeito, contemplando apenas as situações que foram alvo de denúncia formal,
ela estará longe de incluir a totalidade dos comportamentos eticamente reprováveis, uma vez
que não são abrangidos comportamentos ilícitos que as entidades omitem à OCC. Importa
ressalvar, que não é o propósito da investigação procurar respostas generalizáveis para o
universo de CC.
Desde logo, é oportuno ampliar o conhecimento da sociedade face ao papel de códi-
gos de deontológicos com o intuito de restabelecer a confiança da sociedade na profissão,
através do comportamento ético dos seus membros. Primeiramente, a realização desta inves-
tigação permite elucidar os profissionais quanto à prevalência do CDCC e do EOCC en-
quanto guia para um comportamento de excelência no exercício da profissão. Adicional-
mente, permite recordar aos profissionais que, qualquer conduta contrária ao referido nos
diplomas, é sujeita a abertura de processos disciplinares assim que comunicadas à Ordem.
Note-se que a existência de um elevado número de penas disciplinares aplicadas a CC infra-
tores é uma realidade, por vezes, desconhecida.
Ademais, a compreensão dos fatores que delineiam o julgamento ético dos contabi-
listas em Portugal, contribui para o desenvolvimento de programas éticos mais adequados
nas instituições que preparam os futuros profissionais. Deveras, indivíduos a quem foram
ministradas lições de ética, denunciam mais sensibilidade a questões morais (Awasthi, 2008;
Gautschi & Jones, 1998). Interessa que os profissionais disponham de meios para julgar as
situações eficientemente, exatamente para que a classe cultive a honorabilidade e o rigor da
profissão.
4.2 A Estratégia de Investigação
Para Biggam (2008) a estratégia de pesquisa permite descrever a forma de como serão
atingidos os objetivos do estudo empírico. Neste sentido, Richardson (1999) acrescenta que
a definição de uma estratégia de pesquisa implica a escolha de procedimentos para a descrição
e interpretação do fenómeno em análise. A este nível, para descrever a natureza da pesquisa,
os investigadores aplicam dois métodos distintos, nomeadamente o quantitativo e o qualita-
tivo. Não obstante a aplicação da referida terminologia, Biggam (2008) sugere associado à
55
metodologia quantitativa o conceito de positivismo, enquanto que à metodologia qualitativa
se associa o interpretativismo.
Por forma a simplificar, a pesquisa quantitativa, como o nome indicia, preocupa-se
com a quantificação e medida dos dados recolhidos, recorrendo ao uso de técnicas estatísticas
para ulterior análise dos dados (Richardson, 1999). Pelo contrário, a pesquisa qualitativa é
sobretudo utilizada em estudos de natureza exploratória (Biggam, 2008). Comummente en-
volve a compreensão detalhada de um determinado fenómeno, levando em consideração
diversos aspetos situacionais, ao invés da produção de medidas estatísticas (Richardson,
1999). Ademais, Denzin e Lincoln (2005) citam que a pesquisa qualitativa se compromete a
estudar “... things in their natural settings, attempting to make sense of, or interpret, phenomena in terms
of the meanings people bring to them.” (p. 2), contudo uma “... qualitative research is difficult to define
clearly.” (p. 6).
Note-se que, no âmbito empresarial, a associação da palavra “ética” remete, grande
parte da comunidade académica, para o estudo da filosofia, todavia é considerada uma ciência
social. Convém lembrar que a ética empresarial conota a teoria ética normativa desenvolvida
pelos filósofos e apresentada no Capítulo 1 da presente investigação. Pese embora tenha
presente a vertente explicativa vinculada às ciências sociais (Trevino, 1992). Inclusive, Baker
e Bettner (1997) corroboram que a ausência de pesquisas de teor interpretativo não é um
dilema exclusivo nas abordagens à contabilidade, em específico, mas sim inerente às ciências
sociais no seu conjunto.
A titulo de exemplo, Baker e Bettner (1997) ressalvam que a utilização de perspetivas
positivistas no domínio da contabilidade está sujeita a diversas objeções. Os autores relem-
bram a presença de limitações subjacentes à estratégia de pesquisa quantitativa uma vez que
descura a perceção da realidade social. Mais se informa que a aplicação exaustiva de estraté-
gias quantitativas originou um decréscimo da produção de resultados consistentes (Baker &
Bettner, 1997). Por estes motivos, a abordagem qualitativa torna-se uma opção válida para o
investigador quando este procura capturar a natureza de um fenómeno social (Richardson,
1999). A propósito, alicerçada na lógica e no recurso a dados empíricos, a conceção das
ciências socias advoga um conjunto de construtos capazes de explicar e prever comporta-
mentos (Trevino, 1992).
Porém, similarmente a pesquisa qualitativa sofre de críticas, e é vista com suspeição
por parte dos investigadores de ciências exatas (Richardson, 1999). Em primeiro lugar, sur-
gem preocupações quanto à validade e confiabilidade dos dados, associadas a uma possível
56
falta de rigor no método de recolha de dados. Seguidamente, tal metodologia revela um cariz
interpretativo pelo que a abordagem é, muitas das vezes, vista como subjetiva (Baker &
Bettner, 1997). Pese embora o mencionado, Richardson (1999) evidencia que o âmbito da
pesquisa qualitativa inverteu-se e adquiriu notoriedade perante a comunidade científica.
Em virtude dos factos mencionados, a pesquisa quantitativa permite, através da apli-
cação de técnicas de estatísticas, sumariar e descrever os atributos mais proeminentes dos
dados. Todavia, recorde-se que é um dos propósitos da investigação entender o porquê da
adoção de determinados comportamentos por parte dos profissionais de contabilidade, pelo
que é necessário recorrer à pesquisa qualitativa. Assim, constata-se que a estratégia viável
para a prossecução do problema de pesquisa é, numa primeira fase a adoção de métodos
quantitativos e posterior introdução de técnicas qualitativas. De facto, é fulcral para a inves-
tigação a compreensão dos significados que os indivíduos atribuem às circunstâncias em que
exercem a profissão, como também o significado dos comportamentos em situações de in-
fração ao Código Deontológico, levando em consideração o contexto das organizações e da
sociedade em que o profissional atua. Neste sentido, a pesquisa assume um caráter mais
subjetivo dos fenómenos contabilísticos por forma a interpretar e compreender as perceções
dos contabilistas. Além do mais, importa fazer menção de que sem a aplicação de técnicas
qualitativas, a necessidade de se obterem dados fundamentados com a experiência profissio-
nal não seria satisfeita (Biggam, 2008).
4.3 Os Dados: Recolha e Método de Análise
Uma vez definida a estratégia de investigação, é necessário selecionar um método de
recolha dos dados necessários à prossecução dos objetivos de pesquisa. Deveras, esta etapa
é tão importante como a definição de uma estratégia de investigação (Biggam, 2008), pois a
presença de uma base de dados sólida permitirá a extração de informações consistentes e
relevantes (Campbell & Yin, 2018).
Para Biggam (2008), subsistem diversos métodos de obtenção de dados desde o em-
prego de dados secundários, à aplicação de entrevistas e questionários, como também a sim-
ples observação do fenómeno em estudo. Ademais, o autor informa que os métodos referi-
dos não são mutuamente exclusivos pelo que é comum os investigadores recorrem a mais
do que uma técnica de recolha de dados, a designada triangulação de resultados. No âmbito
57
da pesquisa qualitativa, a aplicação de diferentes fontes de dados permite captar diferentes
dimensões do mesmo fenómeno e, assim, enriquecer a investigação (Biggam, 2008).
Em primeira instância, o estudo empírico é constituído por uma recolha e ulterior
análise aos dados presentes nos Relatórios e Contas da Ordem20. Com esta etapa pretende-
se descrever o papel regulatório da OCC na profissão em matérias de ética e deontologia
profissional, recorrendo aos dados do tratamento da ação disciplinar. A análise não só per-
mitirá examinar o poder disciplinar da Ordem bem como relatar o estado atual da situação
em Portugal, através do sancionamento de comportamentos violadores dos princípios e de-
veres éticos. Para isso foram consultados os Relatórios e Contas de 2010 a 2019 onde foram
recolhidos os seguintes dados: o número de participações disciplinares recebidas desagre-
gando os valores relativos aos processos de não pagamento de quotas e aos processos de não
quotas; o número de relatórios de instrução disciplinar total dessagrando o número de rela-
tórios com proposta de arquivamento e com proposta de aplicação de pena disciplinar; o
número de relatórios com proposta de aplicação de pena disciplinar por tipologia de sanção.
Numa segunda fase, e em conformidade com a natureza social e comportamental da
investigação, opta-se pela realização de entrevistas como método de recolha de dados sobre-
tudo por possibilitar desvendar aspetos da conduta humana, nomeadamente opiniões, senti-
mentos e comportamentos (Gómez, Flores, & Jiménez, 1999). E, de acordo com Campbell
e Yin (2018), as entrevistas expõem não só a opinião dos entrevistados como as suas perce-
ções, atitudes e, sobretudo, significados do tópico em estudo. Aliás, Denzin e Lincoln (2005)
corroboram que “... interviewing is one of the most common and powerful ways in which we try to under-
stand our fellow humans.” (pp. 697-698). A forma mais comum de desenvolver de entrevistas
pressupõe a interação verbal com contacto direto (Gómez et al., 1999) aliada ao carater indi-
vidual, o que se traduz somente na presença do entrevistador e do entrevistado (Denzin &
Lincoln, 2005).
É de algum modo consensual que se as entrevistas ocorrerem no local onde habitu-
almente os contabilistas exercem a sua profissão, é alcançada a minimização de possíveis
enviesamentos de respostas. Todavia, estando a sociedade a viver tempos exigentes e de im-
previsibilidade devido à emergência de saúde pública, ocasionada pelo COVID-19, a adoção
20 Vide: Ordem dos Contabilistas Certificados – A Ordem: Relatórios e Contas | Plano de Atividades e Orça-mento. Disponíveis em: https://www.occ.pt/pt/a-ordem/relatorio-e-contas-plano-de-atividades-e-orca-mento/. Último acesso 23 de junho de 2020.
58
de medidas de contenção torna-se imprescindível. Pelas recomendações impostas, e por
forma a não descurar a investigação, uma das entrevistas procedeu de forma virtual.
Em virtude dos factos aludidos, para o sucesso das entrevistas é necessário planear
previamente as questões a abordar. Todavia, é permitido ao investigador estipular o grau de
comprometimento com o guião, na medida em que a entrevista pode assumir um caráter
estruturado ou semiestruturado. Em situações em que o entrevistador se guia única e exclu-
sivamente pelas questões definidas sem possibilidade de introduzir novos pensamentos no
decorrer da conversa, são designadas de entrevistas estruturadas. No caso de entrevistas se-
miestruturadas, o investigador define algumas questões que considera relevante serem res-
pondidas mas permite que se introduzam novas questões à medida que o diálogo flui
(Biggam, 2008). Importa mencionar que o emprego de perguntas abertas estimula respostas
profundas sobre o tema (Partton, 2002).
Em consonância com o supramencionado, o método de recolha de dados fulcrais à
presente investigação é a adoção de entrevistas qualitativas com a aplicação de questões se-
miestruturadas. O guião é preparado com o intuito de assegurar uma linha de pensamento
transversal a todos os respondentes. A delimitação do assunto proporciona ao investigador
uma sistematização do conteúdo com vista a facilitar a posterior análise (Partton, 2002). Por-
tanto, o guião de suporte à entrevista consta no Apêndice Um, e lista as questões que devem
ser analisadas sem confinar o surgimento de novos pensamentos. Note-se que o guião é de
elaboração própria.
O guião da entrevista está preparado de acordo com as indicações de Biggam (2008)
tendo em vista a ulterior análise de dados provenientes de uma entrevista qualitativa. Nesta
perspetiva, o autor defende que para simplificar o processo de análise dos dados, torna-se
essencial agrupar as questões em subconjuntos temáticos, facilmente identificáveis. De se-
guida, Biggam (2008) aconselha a que os dados sejam comparativamente examinados dentro
de cada subtema, no caso cada subtema será descrito e analisado como um tópico separado.
Face aos argumentos expostos, para auxiliar a focar as entrevistas refletindo os principais
objetivos da investigação e viabilizar a análise dos dados qualitativos, a entrevista está estru-
turada em subconjuntos temáticos.
Para a introdução à entrevista opta-se por iniciar pelas caraterísticas demográficas dos
respondentes que ocorrem com o propósito de identificar o contexto do indivíduo. É pedido
aos entrevistados a sua idade, o género, as habilitações literárias, os anos de experiência pro-
fissional, assim como se a sua formação curricular incluiu matérias de ética e deontologia.
59
Estas questões são de cariz fechado para que seja possível descrever com exatidão o entre-
vistado (Partton, 2002).
A partir deste ponto, o guião da entrevista está organizado com o recurso a seis sub-
conjuntos temáticos. Face ao apresentado, os respondentes serão inquiridos face ao enqua-
dramento da profissão em Portugal onde, estão formuladas três questões de resposta total-
mente aberta que permitem ao entrevistado responder com as suas próprias palavras, expri-
mindo com autenticidade a sua perspetiva do tópico em estudo (Partton, 2002). A par, a
presença de questões abertas confere ao entrevistador maior capacidade de compreender o
nível de conhecimento do assunto que o respondente exibe (Denzin & Lincoln, 2005). Se-
guidamente, a abordagem ao Tema 2 conta com duas perguntas abertas com o intuito de
compreender o nível de conhecimento do Código Deontológico. O Tema 3 é intitulado de
“Dilemas Éticos” e tem como propósito evidenciar a experiência pessoal dos inquiridos face
à abordagem a dilema éticos no exercício da sua atividade profissional. é de salientar que não
é o objetivo das questões catalogar os profissionais em “bons” de um lado e “maus” do
outro. Posteriormente, surge o tópico relacionado com as infrações disciplinares, o qual
conta com cinco questões, das quais algumas foram formuladas por forma a evidenciar um
caráter mais fechado. Neste sentido, para a configuração de algumas questões recorreu-se à
recolha à informação produzida na primeira fase do estudo empírico, e, ainda, às declarações
emitidas pela Bastonária da OCC na Reunião Livre do dia 12 de agosto de 2020, patentes no
Ponto 4.1 da presente dissertação. De imediato surgem seis questões abertas relacionadas as
possíveis pressões que os contabilistas enfrentam. Por fim, o Tema 6 é constituído por três
questões e é respeitante aos fatores passíveis de influenciar o processo de tomada de decisão
ética.
Complementarmente, com o propósito de garantir que todas as informações relevan-
tes ficam registadas para ulterior análise, procedeu-se ao pedido de gravação em áudio das
entrevistas, com a elaboração de um consentimento exposto a todos os respondentes. O
consentimento está acessível no Apêndice Dois. O documento apresenta ao respondente o
propósito da investigação, autoriza ao investigador o registo em áudio da entrevista, bem
como salvaguarda a não divulgação das informações partilhadas no decorrer da conversa. O
pedido do registo em áudio é elementar já que se garante à análise dos dados recorrendo,
sempre que necessário, à conversa exata, ao mesmo tempo que possibilita que o entrevistador
se concentre no desenrolar na conversa (Biggam, 2008). Consoante o mesmo autor, esta
atividade consumirá elevado tempo, mas o seu resultado permite ao investigador alcançar
60
dados qualitativos enriquecedores. É relevante ressalvar que no caso de entrevistas presenci-
ais, os respondentes assinaram o referido consentimento, todavia na realização de entrevistas
virtuais, o consentimento foi apresentado aos entrevistados e apenas se procedeu à gravação
em áudio da conversa após o seu consentimento.
Após celebrada a recolha de dados qualitativos, proceder-se-á à transcrição das en-
trevistas, incluindo a reorganização da informação tendo em vista a posterior interpretação,
ao levantamento de declarações impactantes, seguida da interpretação dos dados.
Face ao problema de pesquisa inerente à investigação, a população em estudo é refe-
rente aos CC com inscrição ativa na Ordem. Motiva-se importante realçar que à data da
redação da dissertação não se encontra disponível a informação relativa ao número de con-
tabilistas inscritos na OCC, daí se utilizará como referência o valor presente no Relatório e
Contas 2019. Por conseguinte, a Ordem é constituída por 68 642 membros, o que perfaz o
total da população em estudo. Pela inexequibilidade de estudar toda a polução objetivo, pro-
cedeu-se à definição de uma amostra da população.
Para tal Biggam (2008) considera que existe uma variedade de técnicas de amostra-
gem passíveis de se aplicar a pesquisas de teor qualitativo ou quantitativo, designadamente a
amostragem aleatória, a amostragem aleatória simples, a amostragem estratificada, a amos-
tragem por cluster, a amostragem sistemática, a amostragem por quotas e, por fim, a amostra-
gem por conveniência. Em conformidade, determina-se executar uma amostragem por con-
veniência, ou seja, seleciona-se uma amostra da população que é acessível, não sendo aplicá-
vel nenhum critério estatístico. Biggam (2008) chama a atenção para a dificuldade de designar
a amostra de representativa, contudo face à natureza exploratória da investigação, não se
pretendem procurar respostas generalizáveis para a população, pelo que nestas situações o
autor defende que este tipo de amostragem é admissível. Ademais, ressalva-se que “there are
no rules for sample size in qualitative inquiry.” (Partton, 2002, p. 244).
4.4 A Caraterização da Amostra Qualitativa
A amostra por conveniência é constituída por sete membros ativos da Ordem. As
entrevistas qualitativas alcançaram uma duração de entre nove minutos e quarenta e oito
segundos a trinta e cinco minutos e quarenta e um segundos, obtendo uma duração média
de dezanove minutos e cinquenta segundos. Note-se que, devido à particularidade do tema
e às restrições associadas ao ambiente pandémico em que nos encontramos, encontrou-se
61
alguma dificuldade na obtenção de CC disponíveis a participar na investigação. A Tabela
infra permite caraterizar cada entrevistado por forma a traçar o seu perfil demográfico.
Tabela 1. Caraterização demográfica dos entrevistados. Tabela de elaboração própria.
Entrevistado
Sexo Faixa
Etária
Habilitações
Literárias
Experiência
Laboral
(anos)
Formação
em Ética
A Masculino 40 a 50 Licenciatura em
Contabilidade Mais de 20 Sim
B Masculino Menos de
30
Licenciatura em
Contabilidade Até 2 Sim
C Masculino Menos de
30
Licenciatura em
Contabilidade 3 a 10 Sim
D Feminino 40 a 50 Licenciatura em
Contabilidade Mais de 20 Não
E Feminino 40 a 50 Licenciatura em
Contabilidade Mais de 20 Sim
F Feminino 40 a 50 Licenciatura em
Contabilidade Mais de 20 Não
G Feminino Menos de
30
Mestrado em
Contabilidade e
Finanças
Até 2 Sim
62
5. Os Resultados: Descrição, Análise e Síntese
O presente capítulo procura dar resposta ao mote da dissertação: examinar se, entre
os profissionais que atuam na área em Portugal, existe uma adequada perceção das práticas
e do desempenho ético. Assim, a pesquisa é composta por as duas fases: qualitativa e quan-
titativa. Em conformidade, o ponto 5.1 explora o papel regulatório da OCC na profissão em
matéria de ética e deontologia profissional, recorrendo aos dados quantitativos do tratamento
da ação disciplinar. Subsequentemente, o capítulo conta com o ponto 5.2 que engloba a ex-
posição qualitativa com caráter mais subjetivo dos fenómenos contabilísticos por forma a
interpretar e compreender as perceções dos profissionais.
5.1 A Atividade Disciplinar da Ordem
A atividade jurisdicional não pode nem deve medir-se exclusivamente pela vertente
quantitativa, porque cada caso é um caso, e por isso carece de ser bem avaliado e tratado
como tal. Todavia, com a aplicação de técnicas de estatísticas torna-se possível sumariar e
descrever os atributos mais proeminentes dos dados. Por conseguinte, com a presente análise
procurar-se-á materializar essencialmente os aspetos que se relacionam com a atividade dis-
ciplinar da Ordem, numa perspetiva dinâmico-evolutiva entre 2010 e 2019. Nessa medida,
procede-se à descrição dessa atividade através da sua síntese e ulterior interpretação de dados
presentes nos Relatórios e Contas. A análise não só permite examinar o poder disciplinar da
Ordem como relatar o estado atual da situação em Portugal, através do sancionamento de
comportamentos violadores dos princípios e deveres éticos
Em virtude, crê-se que os processos que verdadeiramente disciplinam a conduta pro-
fissional são relativos a outras matérias que não a cobrança de quotas. Assim, estão ausentes
da análise alguns dos dados para os anos de 2015, 2016 e de 2017, pois os valores presentes
nos respetivos Relatórios e Contas não expurgam os dados alistados ao não pagamento de
quotas, como havia sido constante nos Relatórios e Contas antecedentes. No caso, o ano de
2015 marca o momento da alteração da designação da profissão, pelo que se acredita que é
esse o motivo para estarem disponíveis menos informações relativas a matérias disciplinares,
ou seja, por se ter dado relevância às alterações que a mudança provocou na profissão. Mais
tarde, em 2018 é criado o Departamento Disciplinar com a intenção de um tratamento mais
especializado das matérias disciplinares, dos quais os processos de cobrança de quotas
63
passam para a responsabilidade da AT. Em concordância, os valores fulcrais à análise encon-
tram-se novamente disponíveis.
Como mencionado, o Conselho Jurisdicional recebe participações de infrações pra-
ticadas pelos contabilistas de diversos órgãos. Com a observação da Tabela que se segue, é
possível obter uma visão acerca da evolução do número de participações recebidas pela Or-
dem entre 2010 e 2019, bem como o valor da sua variação percentual anual.
Tabela 2. Participações recebidas na Ordem entre 2010 e 2019. Tabela de elaboração própria.
n/d – Dados não disponíveis
Assiste-se, desde 2010, a uma tendência para a diminuição das participações, mesmo
com a ausência dos números relativos a 2015, 2016 e 2017. Deveras, o número de participa-
ções disciplinares recebidas pela OCC em 2019 diminuiu em 22% face a 2018, e em 45%
face a 2010. Tal não significa necessariamente que os CC não violem os princípios e deveres
éticos defendidos pela entidade reguladora da profissão, pois podem prevalecer comporta-
mentos ilícitos que as entidades omitem à OCC. Por outro lado, uma participação pode
abranger mais do que um CC, pelo que o valor numérico apresentado não traduz inteira-
mente a realidade das atitudes antiéticas.
Após análise das denúncias, e de percorrer todas as suas etapas, o Conselho conclui
pelo arquivamento ou pela proposta de aplicação de pena disciplinar. De notar, que a Tabela
2 sintetiza o resultado final em termos numéricos das decisões do Conselho. A par, comple-
menta-se com a observação da incidência, seja de relatórios com proposta de arquivamento
seja de relatórios com aplicabilidade de pena disciplinar, no total de relatórios deliberados. É
pertinente ressalvar que, para uma melhor perceção desta realidade, que a deliberação de
processos no ano não decorre apenas das participações recebidas no decurso do mesmo, mas
Ano 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
Número de
participações 535 556 611 450 453 n/d n/d n/d 380 296
Diferença
em relação ao
ano anterior
(%)
- 3,93 9,89 -26,3 0,67 - - - - -22
64
também aquelas que transitam do ano precedente. Portanto, o número de participações re-
cebidas num ano, pode não coincidir com número de relatórios deliberados nesse ano.
Tabela 3. Decisões do Conselho entre 2010 e 2019. Tabela de elaboração própria.
n/d – Dados Não Disponíveis
Tendo em consideração os dados supra referenciados, entre 2010 e 2013, verifica-se
uma tendência para a redução de acórdão emitidos, apesar de que, em 2014, o valor dispara,
voltando-se a registar no período seguinte a linha de evolução do intervalo anterior. Face a
esta evidência, crê-se que o Conselho possa estar com dificuldade em concluir os processos
por, possivelmente, ter dado prioridade a casos, que pelas suas caraterísticas, envolvem maior
grau de complexidade, por exemplo, com grande número de infratores, ou devido à gravi-
dade comportamental dos atos em instrução.
A par, averigua-se uma diminuição, em valor absoluto, das decisões de arquivamento
face a 2010, pese embora a sua incidência no valor total dos relatórios averiguados tem-se
mantido relativamente constante na ordem dos 60%. Este é um possível indicador de que os
motivos das participações não são de tal forma graves que merecessem por parte do Conse-
lho, o sancionamento disciplinar, o que favorece a imagem dos CC perante a sociedade. A
propósito da aplicação de pena disciplinar, a sua evolução segue a linha dos processos que
culminam em decisão de arquivamento. No caso, com exceção do ano de 2010, o valor no-
minal de processos que resultam em proposta de sancionamento ronda os 130.
Ano 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
Número de
Relatórios Total 484 446 297 314 413 n/d 154 221 237 324
Proposta de
arquivamento 272 309 163 211 258 n/d n/d n/d n/d 194
Incidência % 56,2 69,3 54,9 67,2 62,5 - - - - 59,9
Aplicação
de sanção
disciplinar
212 137 134 103 155 n/d n/d n/d n/d 130
Incidência % 43,8 30,7 45,1 32,8 37,5 - - - - 40,1
65
Como é sabido, o Conselho Disciplinar aplica as penas disciplinares, de acordo com
a gravidade do ato praticado, que podem ir desde a advertência, multa, suspensão da inscrição
até três anos ou expulsão da Ordem. Em conformidade, a Tabela 3 apresenta os dados dis-
poníveis nos Relatórios e Contas relativos ao emprego de sanções disciplinares de acordo
com a sua tipologia para o período de 2010 a 2019. Adicionalmente, incluem-se os valores
da incidência de cada tipologia de sanção disciplinar no universo de penas aplicadas.
Tabela 4. Tipologia de sanções disciplinares aplicadas entre 2010 e 2019. Tabela de elaboração própria.
n/d – Dados Não Disponíveis
Aponta-se que, quanto à aplicação de penas de advertência e multa, as penas mais
brandas adotadas pela Ordem, tem-se verificado uma diminuição dos seus valores, quer no-
minais, quer percentuais. No seu total, em 2010 e em 2019, os valores ascendem a 91% e
85% do total de penas aplicadas, respetivamente. Esta propensão parece indicar que os com-
portamentos pelos quais os CC estão a ser instruídos revelam, atualmente, menor gravidade
comportamental.
Ano 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
Advertência 109 75 60 35 n/d n/d n/d n/d n/d 64
Incidência % 51,4 54,7 44,8 34 - - - - - 49,2
Multa 84 49 57 55 n/d n/d n/d n/d n/d 47
Incidência % 39,6 35,7 42,5 53,4 - - - - - 36,2
Suspensão 16 10 12 13 11 6 7 94 130 18
Incidência % 7,5 7,3 9,0 9,7 7,1 - - - - 13,8
Expulsão 3 3 5 0 13 7 3 2 2 1
Incidência % 1,4 2,2 3,7 - 8,4 - - - - 0,8
66
Outro aspeto que se considera pertinente observar, diz respeito aos valores conheci-
dos dos processos que culminam com a aplicação de pena de suspensão. Em grande parte
do período em estudo, o número de suspensões de membros da Ordem oscilava entre uma
a duas dezenas, porventura em 2016 e 2017 esse valor ascende às centenas. Assim, considera-
se que nos referidos anos, as infrações investigadas pela Ordem revelaram comportamentos
que exigiram maior severidade de sancionamento.
Complementarmente, releva-se que no ano de 2019, comparativamente aos cinco
anos anteriores, a diminuição do número de processos decididos com a aplicação da pena de
expulsão, o que corrobora a teoria de um comportamento mais assertivo, por parte dos CC,
face à necessidade do cumprimento não só dos normativos legais, mas também dos referen-
ciais éticos e das regras deontológicas. A par, este caso vai de encontro ao pensamento rela-
tivo ao maior número de processos com proposta de arquivamentos face ao número de re-
latórios com proposta de aplicação de pena disciplinar por parte do Conselho. Há também
que referir que durante o ano de 2013 o Conselho não aplicou nenhuma pena disciplinar de
expulsão, facto que não deixa de ser relevante pela positiva. Não obstante, no ano de 2014 é
atingido o máximo dos últimos nove anos, com treze membros a serem expulsos da Ordem.
Por outro lado, levando em conta a comparação dos anos de 2010 e 2019, tendo por
referencial o conjunto das decisões de aplicação de penas de suspensão e expulsão, nota-se
um aumento de 5,7 pontos percentuais, passando de 8,9% para 14,6%, o que parece ser um
valor com algum significado. De facto, este valor parece indiciar incongruências com men-
cionado anteriormente e que, deveras, as infrações registadas no ano de 2019 assumem maior
gravidade comportamental.
Em virtude dos factos supramencionados, e em jeito de conclusão, face às perspeti-
vas expostas em cada análise, globalmente afirma-se que os CC evidenciam comportamentos
mais corretos decorrentes do cumprimento dos normativos expostos no EOCC e no CDCC.
5.2 A Conceção dos Profissionais
É fulcral para a investigação a compreensão dos significados que os indivíduos atri-
buem às circunstâncias em que exercem a profissão, como também o significado dos com-
portamentos em situações de infração ao Código Deontológico, levando em consideração o
contexto das organizações e da sociedade em que o profissional atua. Neste sentido, este
ponto da pesquisa assume um caráter mais subjetivo dos fenómenos contabilísticos por
67
forma a interpretar e compreender as suas perceções através de informação acerca dos aspe-
tos da conduta humana, nomeadamente opiniões, sentimentos e comportamentos. Além do
mais, importa fazer menção de que sem a aplicação de técnicas qualitativas, a necessidade de
se obterem dados fundamentados com a experiência profissional não seria satisfeita.
5.2.1 O Enquadramento da Profissão em Portugal
Face ao apresentado, os respondentes foram inquiridos quanto ao enquadramento
da profissão em Portugal, onde estão formuladas três questões de resposta totalmente aberta
que permitem ao entrevistado responder com as suas próprias palavras, exprimindo com
autenticidade a sua perspetiva do tópico em estudo.
A primeira questão: “Desde que iniciou a sua atividade, que mudanças sente existirem
na atividade profissional dos contabilistas? E no estatuto social e imagem dos contabilistas?”.
Dois dos sete inquiridos consideram que a situação pandémica originada pela CO-
VID-19 não só revelou a importância do papel de um contabilista na sociedade como tam-
bém concentrou o trabalho dos profissionais para a área fiscal, na sua ligação com o Estado,
e em matéria da Segurança Social (SS). Em primeira instância, face às contingências que a
pandemia impôs, a atividade desenvolvida pelos profissionais alterou, na medida em que se
registou uma corrida para a realização de processos de layoff e para o acesso às linhas de
crédito por parte das organizações em situação de crise empresarial. Por forma a fundamen-
tar o exposto, o Entrevistado C declara que:
“As empresas estão a recorrer muito à nossa atividade. Infelizmente, devido a isto, não
somos procurados para saber acerca das contas correntes. Ficava mais agradado que os
clientes nos estivessem a procurar para dúvidas mais contabilísticas ou económicas, con-
tudo é sempre pela parte fiscal ou na área da SS. Não é que sinta um grande envolvi-
mento entre o empresário e o contabilista…”.
Deveras, o Entrevistado C afirma que “… neste ano de 2020, devido à pandemia,
sinto que estamos a ser cada vez mais precisos…” e, inclusive, o Entrevistado B considera
que “os processos de layoff permitiram enaltecer a nossa profissão…”. Ainda, nesta linha, o
68
Entrevistado D concorda que se registaram alterações, nomeadamente no volume de traba-
lho a que ficaram sujeitos, contudo não reconhece que a situação valorizou a profissão. Em
específico:
“… agora na situação do COVID-19: nós trabalhamos imenso mesmo, aliás a legislação
saía quase diariamente, dois a três decretos. Foi uma situação nova para toda a gente e
exigiu muito esforço da nossa parte… Perdemos muitas horas de volta dos layoff, dos
apoios às empresas e zero valorização”.
Ademais, dois dos profissionais entrevistados consideram que as principais mudanças
que a atividade vivenciou desde que exercem a profissão se prendem com as alterações in-
formáticas. “Programas Certificados, SAF-T de Faturação, SAF-T de Contabilidade…” são
exemplos das modificações registadas pelo Entrevistado E, cuja carreira profissional já conta
com mais de vinte anos de experiência. Por outro lado, um inquirido com menos de dois
anos de experiência laboral observa que “não são evoluções em termos de técnicas, mas sim
em termos de software, de ligações com as Finanças, com a SS, de tal forma que isto se tornou
um ciclo fechado para evitar discrepâncias.” (Entrevistado G).
Outra alteração sentida por um dos profissionais é referente a alterações contabilís-
ticas, no caso com a adoção do SNC. Embora o entrevistado não tenha feito menção das
consequências decorrentes dessa mudança, ressalva-se a investigação de Caria e Rodrigues
(2014) que defende que a imposição do SNC em Portugal não significa que a prática da
contabilidade altere imediatamente, contudo resultará em maior responsabilidade no julga-
mento ético do contabilista. Note-se que, no que concerne a alterações contabilísticas, há
referência, por parte de um inquirido com menos de dois anos de experiência, à inexistência
de transformações contabilísticas.
Ademais, um entrevistado recorda a constituição da Ordem, na altura a designada
ATOC, o que permitiu regular a profissão em Portugal. Inerente a este facto, refere-se que
“… quando comecei não estava organizada a profissão e, hoje em dia, goste ou não se goste,
está muito bem organizada.” (Entrevistado A). Na verdade, a pertinência e o desejo da pro-
fissão contabilista por autorregulação já havia sido observada por Cohen e Pant (1991).
Por último, um respondente expressa a satisfação com a alteração do foco de atuação
da nova Bastonária, no caso, Paula Franco. De acordo com o entrevistado, a atual Bastonária
69
procura comunicar a necessidade de os profissionais conhecerem profundamente os direitos
e deveres por forma a exercer a atividade com dignidade, segurança e elevados padrões éticos.
Em conformidade, Paula Franco procura contribuir para uma difusão das normas
profissionais através da criação de um grupo nas redes sociais de uso exclusivo dos CC, di-
recionando o seu apelo para o imperativo de lealdade dos CC nas suas relações recíprocas.
Especificamente:
“Desde que existe a nova Bastonária, sim. Em termos de quê: ela procura que entre
contabilistas haja mais lealdade. … Neste aspeto ela procura atuar de alguma forma. Não
é fácil, porque abranger o país todos e incutir isso às pessoas, é muito complicado. Nesse
aspeto ela procura muito intervir e aquilo que eu acho, porque só fui CC com ela, nunca
fui com o outro Bastonário, daquilo que ouvi e que noto agora, ela acompanha muito
mais, dá muito mais apoio. Nós temos muito grupos no Facebook em que colocamos
questões e ela está constantemente a responder e a ajudar, aliás foi ela própria que criou
o grupo.” (Entrevistado G).
Posteriormente, quando questionados acerca das possíveis alterações na imagem e
no estatuto social dos contabilistas, as suas apreciações repartem-se em duas grandes pers-
petivas. De um lado, três inquiridos manifestaram sentir mudanças favoráveis ao reconheci-
mento da profissão, enquanto que os restantes quatro entrevistados advogam pela inexistên-
cia de quaisquer mudanças benéficas.
De entre a vertente positiva, os entrevistados consideram que os CC exercem um
papel preponderante na sociedade, sobretudo na atividade empresarial, onde as exigências
são cada vez maiores. Em específico, o Entrevistado E diz que “as pessoas sabem que sem
o apoio de um CC não conseguem, de forma alguma, resolver determinados assuntos, e
muito menos em termos de empresas, é impossível.”. Simultaneamente, realça-se o trabalho
desenvolvido pela OCC que contribui para a dignificação e reconhecimento da classe profis-
sional, pois “a profissão tem muito futuro e estamos a ser bem representados. Cada vez há
mais pessoal interessado na profissão, e isso é bom, porque eu acho que cada vez mais vamos
ser mais essenciais na sociedade.” (Entrevistado A). Pese embora ainda se registarem
70
períodos de mudança, aprecia-se a alteração da imagem de “guarda-livros” para a considera-
ção de parceiros de negócios. Efetivamente:
“Hoje em dia, acho que há muito mais ética, há uns anos nem se falava e os contabilistas
eram os simples guarda-livros. Hoje, já são vistos por muitos clientes como parceiros,
como eu costumo dizer: o contabilista para prestar um bom serviço tem que ser quase
um confidente, o cliente tem que confiar. Se o cliente começa a esconder aquilo que
acontece, o contabilista não está a prestar um bom serviço.” (Entrevistado A).
Na prática, apesar de se defender que “a profissão nunca foi tão competente como
agora, somos valorizados e isso não acontecia antes.” (Entrevistado B), os clientes “…ainda
vêm os contabilistas como os responsáveis por pagar menos impostos.” (Entrevistado A).
Pelo contrário, na opinião dos que emitem uma perspetiva negativa sobre a imagem
que a sociedade tem dos profissionais contabilistas, apura-se, sobretudo, a conceção de “faz
tudo”, designadamente “somos contabilistas, secretários, administrativos.” (Entrevistado D)
e, ainda “a parte de advogado, de solicitador, tudo e mais alguma coisa.” (Entrevistado G).
Mais propriamente, o Entrevistado D, que conta com mais de vinte anos de experiência
relata: “eu sinto que a sociedade nos vê da mesma forma de há vinte anos. Não mudou nada.
… Sinto que a nossa profissão não é valorizada como deveria ser.” visto que “…nós somos
a máquina que ajuda o Estado a fazer com que os impostos entrem a tempo e horas.”. De
facto, note-se que mesmo não encerrando o seu trabalho durante o tempo pandémico, a
sociedade permanece a atribuir uma imagem negativa aos profissionais contabilistas. Neste
sentido, um profissional desabafa que “…neste momento é o que me faz estar descrente,
sinceramente estou farta disto. Nós não somos reconhecidos.” (Entrevistado D).
Ainda nesta linha de pensamento, o Entrevistado C cuja experiência profissional se
insere na categoria dos três a dez anos, reconhece que “desde muito novo … percebi que um
contabilista era sempre muito mal visto, era a pessoa que dizia que não se podia fazer, que
estava sempre a por entraves.”. Conquanto, estar consciente de que já se verifiquem algumas
alterações na perceção supramencionada, conserva-se ainda uma imagem indesejada, na me-
dida em que o referido entrevistado se exprime da seguinte forma:
71
“É o que sinto, é o que tenho recebido de alguns clientes e de colegas que trabalham
fora da área, nós não temos muito um bom ar, parece que os contabilistas não estão
disponíveis para responder a certas questões. Nós contabilistas devíamos dar mais o
aspeto da consultadoria, mas os clientes nem estão recetivos para isso, eles querem é que
se consiga ajudar a pagar menos imposto, nem que tenham lucros brutais. Às vezes isso
é impossível, e se não o fazemos somos logo rotulados de maus contabilistas, infeliz-
mente.”.
Em suma, embora os CC tenham um papel preponderante no processo de tomada
de decisão das organizações, os contabilistas ainda são vistos por grande parte da sociedade
como funcionários do Estado ou da AT, isto porque os profissionais são frequentemente
rotulados de cobradores de impostos, pois só “servem para pedir dinheiro” (Entrevistado
G). Em concordância com os entrevistados, “a imagem dos contabilistas deveria mudar, é
assim, e infelizmente as pessoas acho que têm uma imagem um pouco distorcida de nós
(CC).” (Entrevistado F). Aliás, apesar de se registarem pequenas evoluções positivas na per-
ceção da sociedade acerca da atividade contabilista, é imprescindível que os CC contribuam
para a dignificação da profissão, por forma a que a mudança de mentalidades se efetive.
Adiante, questiona-se: “Quais os principais desafios que a profissão enfrenta?”.
De facto, os entrevistados consideram que a contabilidade enfrenta não só novos
desafios, como também alguns recorrentes. Chama-se a atenção para o facto de apenas seis
dos entrevistados responderam à questão, pelo que o sétimo profissional está o seu direito.
No entendimento de três indivíduos, o principal desafio que a profissão encara é a
evolução tecnológica, pois o sistema de informação económico empresarial é mais completo
e complexo, onde é exigido aos contabilistas que acompanhem e se adaptem às contingências.
A par, inerente aos avanços tecnológicos está o receio da substituição do contabilista pela
máquina, no sentido em que serão necessários contabilistas em menor número para executar
as mesmas tarefas. Realmente, o Entrevistado B argumenta que “com as novas tecnologias a
profissão de contabilista vai perder. Um escritório que, atualmente, tenha três membros, com
a evolução da tecnologia talvez chegue um só para supervisionar.”. Todavia, no seguimento
da perspetiva exposta outro respondente adverte para o facto de que “…esse é que é o ca-
minho.” (Entrevistado C).
72
Ressalva-se que seria de esperar que fossem os indivíduos mais velhos a evidenciar a
evolução tecnológica como um aspeto desafiador da profissão, contudo inesperadamente,
dos três mencionados, somente um tem a sua idade compreendida entre os quarenta e os
cinquenta anos. E esse inquirido reconhece que “a nossa profissão não é uma profissão es-
tática, a nossa profissão é um estudo contínuo ao longo dos anos.” (Entrevistado E).
Um outro ponto supracitado pelos entrevistados tem que ver com a imposição exi-
gente de prazos, por parte da AT, dos bancos e do Estado e, por isso, é requerido ao profis-
sional que se subordine aos interesses das entidades com quem mantém relações laborais. De
um lado, argumenta-se que a pressão por parte do Estado e da AT para o cumprimento das
obrigações fiscais direciona a atenção da sociedade para a perceção dos profissionais como
cobradores de impostos. De facto, corrobora-se o exposto com o seguinte: “Cada vez mais
o Estado nos faz uma pressão enorme em termos de prazos, em que depois os contabilistas,
em vez de se calhar estarem a fazer o trabalho que deviam fazer, estão a cobrar impostos...”
(Entrevistado A). Ademais, recolhe-se evidência da necessidade de o contabilista se adaptar
às contingências pois “com essas alterações (de legislação) drásticas e repentinas, a gente tem
de estudar todos os dias.” (Entrevistado E). Paralelamente “… nós trabalhamos diretamente
com a AT, nós precisamos deles a 100%, eles precisam de nós a 100%, mas cada um puxa
para o seu lado… é tudo muito fechado, tem que ser aquelas datas, não há flexibilidade ne-
nhuma.” (Entrevistado G). No respeitante aos bancos, é percetível que: “… forçam-te a dar
as informações que eles querem e isso não é correto. Com estes atritos, o contabilista tem de
ser flexível com todas essas coisas e nunca ninguém é flexível connosco.” (Entrevistado G).
É por tudo isto que o CC deve impor-se como agente da mudança e batalhar contra
o paradigma imposto pelas entidades, pois para o profissional exercer a sua atividade com
exatidão, necessita de atender às exigências das entidades, o que neste momento é um desafio.
Ademais, dois entrevistados partilham a opinião de que o maior desafio que os con-
tabilistas encontram é, exatamente, a perceção negativa que a sociedade tem sobre eles, curi-
osamente citam diferentes dimensões. Em primeira instância, relembra-se “o facto de o con-
tabilista ser visto muito como o fiscal…” (Entrevistado A), tema já abordado em cima. To-
davia, numa perspetiva ainda não analisada, remete-se para conceção das avenças. Um exem-
plo prático enunciado por um respondente é o seguinte:
“…na questão da pandemia quanto aos layoff, eu tive aqui no escritório um advogado a
pedir 250 euros para meter um processo de layoff. E nós se apresentássemos essa conta
73
ao cliente, podia ter a certeza que era na hora que ele ia procurar outra pessoa. …. temos
colegas que perdem clientes porque temos colegas que praticam avenças impraticáveis.
Portanto, os clientes não olham à qualidade do serviço, mas sim ao preço e isso é muito
grave. …. A nossa Bastonária dizia-nos que todos os trabalhos extra deviam ser cobra-
dos, mas eu queria que ela viesse para o mercado e dissesse isso aos meus clientes. Eu
se cobrasse um processo de layoff eu perdia o cliente. Perdemos imenso tempo na SS, a
pedir informações sobre o layoff e isso cansa muito.” (Entrevistado D).
Ainda na linha de análise ao desafio da imagem dos profissionais repercutida na so-
ciedade, aborda-se a urgência de alteração do paradigma de contabilista fiscal para consultor
e parceiro de negócios, na medida em que se defende que “a interação com o cliente é o
outro ponto fulcral da nossa área. … Se as pessoas não começarem a ver isso na nossa pro-
fissão, a profissão vai morrer mais tarde ou mais cedo.” (Entrevistado C).
Efetivamente, já na questão anterior se tinha auferido a necessidade de mudança de
paradigma, imperativo para que os profissionais possam trabalhar para a dignificação e reco-
nhecimento da classe profissional.
Em última instância, surge: “Qual a importância que, na sua opinião, os contabilistas
atribuem a matérias de ética e deontologia quando desempenham a sua atividade?”
As respostas dos entrevistados não são unânimes, enquanto que quatro entrevistados
consideram que os profissionais contabilistas atribuem importância à ética e à deontologia
no desempenho da sua atividade, os restantes indivíduos creem que a profissão tem-se de-
negrido decorrente da desvalorização dessas matérias.
Os quatro entrevistados que percebem que a ética e a deontologia são uma peça fun-
damental para o exercício de excelência da profissão reconhecem, por exemplo, a pertinência
do CDCC como guia comportamental. Em específico, o Entrevistado A destaca que “…há
mais ética, nomeadamente quando se trocam as contabilidades. O Código Deontológico hoje
já é entendido por toda a gente, e nesse aspeto, já não se andam a atropelar as coisas. Isso
tem melhorado muito, bastante.”. Adicionalmente, no seu entender é imperativo que se altere
o paradigma de contabilista fiscal o que só é possível através da adoção dos normativos e dos
referenciais éticos e deontológicos. Pese embora o mencionado, três dos quatro inquiridos
com este pensamento reconhecem que a situação está a melhorar, mas que fruta podre há
74
em todo o lado. De forma análoga, o mesmo inquirido refere que “…vivemos numa socie-
dade que é proibido matar, mas há sempre alguém que mata, e toda a gente condena isso.”
Por oposição, três respondentes concordam que a falta de integridade ética por parte
dos profissionais coloca em causa toda a classe, pois, os profissionais estão sobretudo inte-
ressados na definição dos seus honorários e na aquisição hostil de clientes do que com a
qualidade do serviço que prestam. Deveras, recolheram-se os exemplos seguintes:
“Acho que os contabilistas atribuem pouca importância, pelo que vejo, a matéria de ética
passa ao lado. Muitos contabilistas não sabem o que aplicar, por exemplo, o que têm de
fazer quando um cliente quer sair. Por vezes, quando uma empresa quer sair, eles retêm
os documentos para a empresa não poder sair, quando isso vai contra o Código.” (En-
trevistado B);
“Não consideram nada importante porque se considerassem não faziam as coisas que
fazem. Não retiravam clientes aos colegas, por exemplo. Há coisas que vejo de gabinetes
a oferecerem serviços de contabilidade a preços que “só visto”. Embora a nossa Basto-
nária diga para se denunciarem estas situações a gente vê. E isso até é proibido, fazer
publicidade com base nos honorários.”. (Entrevistado D); e
“... deveríamos por isso em primeiro lugar, mas eu acredito que nem toda a gente o faça.
Eu posso explicar, há colegas que rebaixam o preço dos serviços quase a zeros, e isso é
impossível de trabalhar hoje. Porque você hoje ao tomar conta de uma contabilidade, de
uma empresa ou assim, ela requer muito tempo de si. Se você não aplicar os seus hono-
rários corretamente, você vai estar a trabalhar para aquecer, mais nada.” (Entrevistado
E).
Na generalidade, os contabilistas entrevistados reconhecem a importância da ética e
da deontologia profissional no desenvolver das suas atividades. Contudo enquanto que
75
alguns indivíduos denotam respeito pelo conjunto de regras de carácter profissional, bem
como as interiorizam e as fomentam, outros optam por colocar o seu interesse pessoal acima
dos interesses da classe profissional, de tal forma que prevaricam o conjunto de normas.
5.2.2 O Conhecimento do Código Deontológico
A abordagem ao Tema 2 conta com duas perguntas abertas com o intuito de com-
preender o nível de conhecimento do Código Deontológico.
Em primeira instância, os CC são questionados com o seguinte: “Conhece o Código
Deontológico defendido pela Ordem? Em caso afirmativo, quais os aspetos que considera
mais relevantes?”
A propósito da primeira parte da questão, cinco dos sete entrevistados admitem que
conhecem o Código Deontológico. Inclusive, um inquirido reconhece que “Há uns quatro
anos, eu sabia de cabeça, quando fui fazer o exame. Agora sei algumas coisas, mas nada de
específico...” (Entrevistado C). Posteriormente, três destes inquiridos quando expostos à se-
gunda parte da questão, consideram como aspeto mais pertinente o referente à relação de
lealdade entre CC, nomeadamente em situações que um CC é solicitado a substituir outro
CC. Um dos inquiridos adianta que o mais relevante é “A parte da comunicação do novo
contabilista ao contabilista anterior, perceber se os honorários estão pagos. A ligação entre
os dois é fundamental. ... porque ... o futuro CC não pode aceitar a contabilidade caso hajam
honorários em atraso, e aí entra logo em erro.” (Entrevistado G).
Ainda no que concerne à segunda parte da questão, um respondente realça a matéria
da confidencialidade pois os CC e os seus colaboradores estão obrigados ao sigilo profissio-
nal sobre os factos e documentos que tomem conhecimento no exercício das suas funções.
Do universo de conhecedores do Código, apenas um indivíduo opta por declarar que “... eu
acho que o mais importante era mesmo as pessoas cumprirem aquilo que lá diz.” (Entrevis-
tado F). É de notar que este indivíduo não possuiu instrução em ética aquando da sua for-
mação académica, contudo o entrevistado dá o exemplo dos honorários de contabilistas em
regime de trabalho independente patente no Artigo 14.º do CDCC. No caso, os salários não
estão convencionados por nenhuma tabela ou índice que fixe os honorários a cobrar por um
CC pela prestação de serviços de contabilidade. Nesta linha, o mesmo respondente expõe
que “às vezes somos obrigados a baixar (os honorários) também um pouco porque os nossos
colegas o fizeram.” onde “... às vezes aquilo que se cobra não é o justo.”.
76
Todavia, e apesar de este não ser um dos temas estipulados para se abordar, consi-
dera-se pertinente incluir nesta análise porque mais três dos entrevistados fizeram menção à
necessidade de avenças mínimas, alegando que é “... uma grande lacuna.” (Entrevistado A)
do CDCC. Em conformidade, o Entrevistado C avança que “Nós (CC) neste momento an-
damos a fazer a diferenciação pelo preço, e devia ser pelo serviço.”. Realça-se que no passado
existiram disposições que obrigavam à prática de honorários mínimos, as quais se encontra-
vam nos n.ºs 3, 4 e 5 do Artigo 15.º do anterior Código, não obstante, foram declaradas nulas
por sentença de nove de março de 2001 pelo Tribunal de Comércio de Lisboa. A par, a
declaração emitida pelo CC pode ser considerada como angariação ilícita de clientela, ato que
pode dar origem a uma denúncia e, em consequência, constituir uma infração disciplinar.
Por último, os restantes inquiridos dizem-se conhecedores do Código, contudo,
quando expostos à segunda parte da questão optam por não responder diretamente, dizendo,
inclusive, que “não me recordo assim nada de relevante. Para lhe ser sincera eu leio o Código
Deontológico quando preciso.” (Entrevistado D). Por essa razão, entende-se que não há
fundamentos que validem a possibilidade de conhecimentos acerca do CDCC. Note-se que,
apesar de ambos os indivíduos serem do género feminino e contarem com mais de vinte
anos de experiência profissional, somente um revelou instrução académica em matérias de
ética e deontologia deduzindo-se que o ensino em ética não traduz necessariamente a perce-
ção dos normativos cultivados pela OCC.
Ademais acerca do CDCC, a segunda questão colocada foi: “É capaz de enumerar os
Princípios Deontológicos Gerais que devem imperar na contabilidade? Em caso afirmativo,
pode identificá-los?”
Face a esta questão, os sete entrevistados admitem que não são capazes de enumerar
os princípios pelo os quais, no exercício da profissão, os CC devem orientar a sua atuação.
Pese embora o desconhecimento, o Inquirido A mencionou recordar-se do Princípio da Con-
fidencialidade pois, na sua ótica, “... nós (CC) devemos ser os confidentes (dos clientes).”.
Ademais, outro respondente descreve um dos princípios como “... sermos corretos, um con-
tabilista com o outro, na aquisição, na tomada de posse, da nova contabilidade que vem a ser
transferida de um colega. Temos de ser corretos com os colegas de “sangue”.” (Entrevistado
E). Apesar de não se recordar do nome, a situação descrita tem que ver com o Princípio da
Lealdade que “... implica que os contabilistas certificados, nas suas relações recíprocas, pro-
cedam com correção e civilidade, abstendo-se de qualquer ataque pessoal ou alusão depreci-
ativa, pautando a sua conduta pelo respeito das regras da concorrência leal e pelas normas
77
legais vigentes, por forma a dignificar a profissão.” (Alínea h do nº 1 do Artigo 3.º do CDCC).
Em virtude dos factos supramencionados, é possível concluir que os contabilistas
entrevistados não conhecem em profundidade o Código Deontológico, na medida em que
as regras basilares de carácter profissional disponibilizadas pela Ordem, apesar de serem
aprendidas nos cursos de ética, não estão a ser interiorizadas nem fomentadas pelos profis-
sionais. Assim, o desconhecimento da ética e deontologia profissional cultivada pela entidade
regulatória coloca em causa a excelência de um CC, pois não só pela técnica um contabilista
é avaliado. Isto porque, os códigos de ética, de acordo com Velayutham (2003) e Ward, S.,
Ward, D., e Deck (1993) são considerados o método para assegurar a honorabilidade a que
a profissão se compromete a sustentar, transparecendo ao público, aos clientes e aos pares a
competência como profissional. Por conseguinte, o interesse público de uma classe profis-
sional é maior, quanto mais rigoroso for o cumprimento dos princípios éticos e deontológi-
cos dos seus membros. À partida, quando os profissionais não conhecem os normativos
éticos e deontológicos defendidos, não transparecem à sociedade integridade da profissão.
Não obstante, sob outro ponto de vista, Adams et al. (2001) defende que mesmo quando os
colaboradores não conhecem o conteúdo do código de ética com exatidão, a mera existência
do código já acarreta um impacto positivo no comportamento ético.
Em suma, é percetível a importância do código de ética como instrumento para con-
vencer o público de que os membros de uma profissão seguem padrões éticos. Porém, não
é garantido que os colaboradores adotem e conheçam o código imposto, o que traduz a
realidade inferida com base na informação recolhida.
5.2.3 Os Dilemas Éticos
O Tema 3 tem como enfoque a existência de dilemas éticos por forma a evidenciar
experiência pessoal dos inquiridos na sua abordagem no exercício da atividade.
A primeira questão assenta no seguinte: “No exercício da sua atividade enquanto CC
já se deparou com uma situação passível de gerar dilemas éticos? Sem mencionar nomes
obviamente, pode descrever esse dilema?”.
Dos sete respondentes, apenas três admitiram vivenciar situações de conflitos éticos.
No caso, quando confrontados com o pedido de descrição do dilema sucedido, dois inquiri-
dos narram conflitos relacionados com o dever de cooperar com a AT sempre que solicita-
dos. Apesar de ser um dever exposto no Artigo 73.º do EOCC, os contabilistas inquiridos
78
colocam em causa a obrigatoriedade ao sigilo profissional sobre os factos e documentos que
tomam conhecimento no exercer da sua atividade, o que verdadeiramente é matéria de ética
e deontologia profissional. A propósito, um dos inquiridos denuncia que “... temos o dever
de cooperar com as Finanças, no entanto é difícil de definir a linha que separa a confidenci-
alidade do dever de cooperar.” (Entrevistado B). Sob a mesma perspetiva, o Respondente C
acrescenta que “... da forma que eles (AT) estão a fazer, é para nós denunciarmos o nosso
cliente.”. Ainda assim, o Entrevistado C considera que é seu dever proteger o cliente mas
está ciente de que tem “... duas escolhas e numa delas também perco, porque se a AT vier
aqui e questionar o porquê de o cliente ter feito aquilo, foi com o nosso consentimento e nós
sabemos quais são as consequências.”. A situação descrita pelo terceiro indivíduo que admitiu
atravessar por uma posição passível de gerar dilemas éticos, prende-se com a difamação dos
serviços do CC por parte de um cliente. A este respeito, não há qualquer referência no
CDCC, contudo, e admitindo que o inquirido possui a verdade do seu lado, o cliente colocou
em causa a independência e a dignidade do exercício da profissão perante a sociedade.
Dos quatro inquiridos que revelaram não experienciar algum tipo de dilema ético,
dois deles exemplificaram que, nas suas relações recíprocas, sempre que um cliente opta por
trocar de contabilista, se abstêm de atuações que prejudiquem quer os colegas quer a classe.
Em particular, o Entrevistado A confessa “Já tive esses problemas de a informação ser in-
correta, de excederem o prazo para a comunicar, ou mesmo de complicarem a passagem (de
informação).”, porém nunca foi o causador de tais conflitos. Deveras, a situação ilustrada
revela uma conduta contrária às regras deontológicas, o que constitui infração disciplinar.
De maneira interessante, o grupo de três indivíduos que reconheceram vivenciar al-
gum tipo de dilema ético no exercício da sua profissão manifesta heterogeneidade ao nível
do género, da faixa etária e do número de anos de experiência profissional. Na verdade, as
únicas caraterísticas demográficas semelhantes foram a presença de uma licenciatura em con-
tabilidade com instrução em ética e deontologia profissional. Pelo contrário, os restantes
indivíduos da amostra que não identificam qualquer situação suscetível de provocar dilemas
éticos não possuem qualquer traço demográfico similar.
Antes de mais, realce-se que, de acordo com a amostra em estudo, a existência de
dilemas éticos é inerente ao ambiente de trabalho dos profissionais de contabilidade, facto já
reiterado na investigação de Marques e Azevedo-Pereira (2009). E, em conformidade com
supramencionado, depreende-se que os CC com exposição à ética e deontologia profissional
nos cursos que preparam a profissão, comportam maior sensibilidade na capacidade de
79
reconhecer dilemas éticos. A perspetiva apresentada vai de encontro ao defendido por Eynon
et al. (1997) e Chan e Leung (2006), dado que é improvável que no futuro se proporcionem
oportunidades de reforçar a capacidade ética dos profissionais após a conclusão do seu ciclo
de estudos (Eynon et al., 1997).
Em caso afirmativo à questão inicial, os CC eram confrontados com o seguinte:
“Como procedeu à sua resolução?”. Esta questão surge essencialmente para procurar com-
preender se os profissionais utilizam o guia de comportamento fornecido pela OCC desen-
volvido com o propósito de defender a dignidade e o prestígio da profissão de contabilista.
Portanto se o CC se encontrar em algum conflito que possa pôr em causa a relação laboral,
é seu dever procurar uma solução conforme as regras deontológicas e, se não for possível,
solicitar um parecer ao Conselho Jurisdicional da Ordem sobre o procedimento a adotar.
Neste sentido, apenas um dos inquiridos que sentiu conflitos de interesses na coope-
ração com a AT optou por solicitar um parecer à Ordem por “nos salvaguardar de algum
processo.” (Entrevistado B). Com esta declaração, crê-se que o CC demonstra alguma preo-
cupação com a prevalência de comportamentos contrários à dignidade e prestígio da Ordem,
dos órgãos sociais e respetivos membros, e, ainda, da profissão. Já o entrevistado que privi-
legia a relação laboral com o cliente, concretizou essa decisão sem recorrer ao consentimento
de outro colega CC, informar-se no CDCC ou, em última instância, consultar a Ordem. Pese
embora o mencionado, o indivíduo faz referência a uma situação vivida no local onde exerce
a sua atividade profissional em que foram esgotadas todas as opções acima referidas e a so-
lução encontrada foi, justamente, uma solicitação à Ordem. No entanto, note-se que nessa
questão “... só passado um ano é que obteve a resposta.” (Entrevistado C), o que na sua
opinião, não pode ser tão demorado. Por fim, o terceiro respondente saiu vitorioso da situ-
ação de difamação sem recorrer a terceiros, embora admita que ponderou envolver a Ordem.
Embora a amostra não seja exaustiva, os contabilistas parecem poder contar com o
apoio da Ordem para clarificar e zelar, sempre que lhe seja solicitado, pelo respeito dos prin-
cípios éticos e deontológicos e defender os interesses, direitos e prerrogativas dos seus mem-
bros. É indiscutível que a autorregulação, onde constem as normas de conduta a assumir na
prática da contabilidade, em específico estabelecida pela OCC, é preponderante a um desem-
penho de excelência dos profissionais. Esta linha de pensamento vai de encontro ao defen-
dido por Ferreira (2004).
80
5.2.4 As Infrações Disciplinares
O Tema 4 tem como propósito avaliar em específico a perceção do profissional
acerca da realidade testemunhada pela Ordem em relação às infrações disciplinares e aos
comportamentos que lhes deram origem. O tópico o qual conta com cinco questões, das
quais algumas foram formuladas por forma a evidenciar um caráter mais fechado.
Para iniciar o tema, foi colocada a seguinte questão: “Qualquer conduta dos CC con-
trária ao conjunto de normas citadas no EOCC e CDCC constitui uma infração disciplinar
que deve ser reportada ao Conselho Disciplinar. Tem conhecimento de queixas efetuadas
junto do CDOCC?”
Nenhum dos entrevistados revelou não ter qualquer infração registada na Ordem.
Não obstante, cinco dos sete respondentes confessam ter colegas que enfrentaram processos
de instrução disciplinar, acabando por partilhar as ações praticadas ou omitidas que deram
origem às infrações denunciadas. Demonstra-se pertinente aludir os comportamentos exem-
plificados pelos inquiridos, pois, na atualidade, a Ordem não divulga a natureza das infrações.
Neste sentido, um inquirido partilha a situação de um colega que, findo seu processo
de instrução, recebeu uma advertência devido a uma conduta violadora do respeito das regras
da concorrência leal. A referida infração relacionava-se com a angariação ilícita de clientes
via honorários, lembrando que “Nós (CC) não podemos publicitar ou promover o nosso
trabalho com base no honorário que cobramos, ou seja, não posso dizer que faço a contabi-
lidade a “100” ou a “50”.” (Entrevistado A). Simultaneamente, o entrevistado alegou que o
mesmo colega foi alvo de queixas de assédio por parte de vários clientes, o que constitui um
comportamento contrário à dignidade e prestígio da profissão.
A próxima atitude violadora dos princípios éticos e deontológicos da profissão exem-
plificada pelos inquiridos prende-se, novamente, com a angariação ilícita de clientes. Um CC
colega viu o seu trabalho ser divulgado e criticado por outro colega sem o seu consentimento.
Em específico, o Entrevistado D “ficou sem um cliente porque houve outro colega que disse
que o contabilista devia ter pedido um apoio qualquer e não pediu.”. Embora o entrevistado
reconheça a infração, não teve conhecimento de qualquer sanção aplicada ao profissional que
apreciou, sem anuência, o trabalho de outro. Em segundo lugar, o respondente partilha uma
situação que deu origem à expulsão de um membro da Ordem devido ao desvio de fundos
comunitários a favor do próprio. Deveras, o peculato integra um crime público, pelo que é
dever de qualquer entidade participar ao Ministério Público tal ato.
81
Por outro lado, um inquirido expõe a situação de um colega cujo cliente acusou-o de
falta de colaboração e comunicação para com ele. Na prática, a negação de informações ou
de colaboração, responsabiliza o contabilista pelas consequências que daí possam advir, uma
vez que viola os deveres de informação para com a entidade à qual presta serviços.
Ulteriormente, o Respondente E descreve os comportamentos de um colega como
“... fora de série.” e, pese embora a insistência, o inquirido não se revelou propenso a descre-
ver tais atos. Apesar de não se compreender a expressão aplicada pelo entrevistado, consi-
dera-se pertinente incluí-la na presente análise, pois, no caso, foram outros CC a participar
os comportamentos violadores das regras e dos normativos éticos ao Conselho.
Por último, a ocorrência descrita por um dos inquiridos tinha que ver com a quebra
de independência no exercício de funções. Mais concretamente, “pelos documentos que a
empresa tinha dado, a conta de sócios registava 100 mil euros, mas na verdade esse valor não
existia, não se sabia para onde tinha ido, porque não foi passada essa informação.” (Entre-
vistado G). Todavia, um dos sócios considerou que o contabilista em causa, subordinava a
sua atuação à indicação de outro sócio, optando por denunciá-la à Ordem.
Ainda dentro desta perspetiva, um dos dois contabilistas inquiridos que desconhece
recordar-se qualquer infração participada ao Conselho, identifica situações em que lhe é pe-
dido para avaliar o trabalho de outro colega com o consentimento do outro. Não obstante o
mencionado, o inquirido opta por comunicar à Ordem sobre o comportamento a adotar,
pois se o CC que pede a opinião considerar que o parecer pedido lhe descredibiliza o trabalho,
pode apresentar uma queixa. Assim, com o parecer da Ordem, a opinião emitida é salvaguar-
dada. Já o outro entrevistado, reconhece presenciar situações que violam os normativos éti-
cos, em especial vê colegas seus a aceitar honorários cujo montante depende diretamente dos
lucros conexos com o serviço prestado. Embora, não tenha sido efetuada qualquer denúncia
o respondente está a ser conivente com atitudes que desonram a profissão.
Diante da exposição de diversos tipos de ações praticadas ou omitidas que deram
origem a infrações denunciadas, torna-se possível a comparação com as principais causas de
sancionamento disciplinar patentes nos Relatórios e Contas de 2014. Em conformidade,
afere-se que na sua maioria, os comportamentos praticáveis no passado continuam a originar
denúncias no presente. De facto, apesar da pressão imposta pela exposição de ser divulgarem
tais comportamentos, consoante Smith et al. (2015) a ameaça de repercussões não afeta di-
retamente a possibilidade de atitudes moralmente incorretas, pelo que os comportamentos
antiéticos prevalecem. Acrescente-se que é imprescindível que todos tomem conhecimento
82
dos comportamentos que os profissionais não devem observar no exercício da profissão.
Igualmente sob a perspetiva do Tema 4, a amostra foi interpelada com: “Os proces-
sos de instrução disciplinar são da ordem das duas a três centenas por ano, notando-se algum
aumento de 2016 para cá. Com base na sua experiência, quais as razões para que estes valores
estejam a novamente a aumentar?”
De entre os entrevistados apenas um reconheceu não conseguir identificar qualquer
motivo para que os valores afetos aos processos de instrução disciplinar estarem a aumentar,
inclusive fica surpreso por os valores serem relativamente altos. A restante amostra apontou
sete motivos distintos.
Três profissionais indicam que uma possibilidade é a neglicência perante as alterações
a que o exercício da Contabilidade está sujeito. A título de exemplo, o Entrevistado C ex-
prime o seguinte:
“Eu sinto que nós não estamos a conseguir acompanhar os avanços da AT, os avanços
tecnológicos, este boom que está agora a acontecer. Neste momento, nós estamos com
dificuldades, e eu, mesmo sendo jovem, tenho dificuldade em acompanhar toda a maté-
ria ...”
pois “são todos os sistemas informáticos, o sistema que a AT nos disponibiliza está
sempre a mudar.” (Entrevistado C). Acrescente-se que é dever de um contabilista, no exer-
cício da sua atividade, procurar de forma continuada e atualizada desenvolver e incrementar
os seus conhecimentos. Não só o contabilista incorre numa prática antiética como fica sujeito
a incorreções técnicas quer contabilísticas quer fiscais.
Sob outra perspetiva, dois inquiridos consideram que a imposição de prazos impos-
tos pelo Estado é um fator potenciador de denúncias. Em conformidade, a colocação de
prazos pode ser averiguada através de dois pontos de vistas distintos. Primeiramente, a falta
de entrega ou mesmo a entrega extemporânea de declarações fiscais, por exemplo, constitui
um comportamento sancionável. Em segundo lugar, a existência de prazos rigorosos pode
induzir o profissional a cometer incorreções técnicas.
Inesperadamente, outra explicação indiciada por um inquirido é relativa à possibili-
dade de a Ordem levar a cabo supervisões aleatórias a alguns membros com o propósito de
averiguar se “... cumprem com as leis e assim. No fundo, uma auditoria.” (Entrevistado B),
83
permitindo que mais infratores sejam identificados. Em virtude do mencionado, não se en-
controu quaisquer provas que corroborem que tais atuações estão a ser executadas.
O próximo cenário que um dos inquiridos menciona prende-se com a possibilidade
de erros decorrentes da dificuldade de interpretar a informação transmitida pela legislação.
Aliás, o CC considera que “... nem é preto nem branco, é muito cinzento. Nestas situações
cada um lê de forma diferente.” (Entrevistado C).
Ademais, com base nas suas vivências defende que em muitas situações o contabilista
coloca-se em situações que podem conduzir a atitudes antiéticas devido ao cliente. A saber,
possíveis incoerências técnicas e contabilísticas advêm da documentação fornecida pelo cli-
ente e nesses momentos “... nós até podemos desconfiar, mas não está na nossa frente e não
podemos fazer nada.” (Entrevistado F).
Em seguida, aponta-se um motivo anteriormente discutido a respeito da lealdade en-
tre contabilista em que nas suas relações recíprocas, sempre que um cliente opta por trocar
de contabilista, se abstêm de atuações que prejudiquem quer os colegas quer a classe. O
inquirido crê que existem diversas ações subjacentes a esta questão, em especial, adianta que
este ano os números irão aumentar bastante já que com a situação pandémica em que nos
encontramos, presenciaram-se várias trocas muito porque “os contabilistas não estavam uns
de acordo com os outros e foi muita confusão.” (Entrevistado G).
Em último, mas não menos importante, evoca-se a necessidade do cumprimento do
princípio geral da confidencialidade que apela a que os contabilistas guardem sigilo profis-
sional sobre os factos e os documentos de que tomem conhecimento, direta ou indireta-
mente, no exercício das suas funções. Nomeadamente, o Inquirido G adverte para o seguinte:
“... as pessoas abrem a boca e dizem tudo.”.
Levando em conta o observado, não existe anuência entre os profissionais da área
quanto aos possíveis motivos dos aumentos consecutivos dos valores relacionados com pro-
cessos de instrução disciplinar. Inclusive, percebe-se que os CC desconhecem a atividade
disciplinar levada a cabo pela Ordem.
No seguimento do domínio das infrações disciplinares, os profissionais em estudo
deparam-se com o seguinte: “Em 2019, embora o número de participações recebidas pelo
CDOCC relativas a infrações tenha diminuído em 22%, registou-se um aumento de 37% de
processos de instrução disciplinar por questões de não quotas, face a 2018. Com base na sua
experiência, por que acha que isto aconteceu?”.
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Dado o exposto, somente um inquirido apontou uma razão para que o número de
participações disciplinares recebidas no CDOCC tenha diminuído e, ainda assim, o número
de processos de instrução disciplinar tenha aumentado. A razão frisada pelo CC relaciona-se
com a possibilidade de ações praticadas e omitidas que dão origem a infrações denunciadas
apresentarem maior gravidade do ponto de vista comportamental. Todavia, o entrevistado
admite “... não consigo dar uma opinião muito concreta porque realmente não faço ideia.”.
Recordando a análise exposta no ponto 5.1 do presente capítulo que dita que a pos-
sibilidade de o decréscimo de participações não traduzir necessariamente que os CC não
violam os princípios e deveres éticos defendidos pela entidade reguladora da profissão, pois
crê-se que podem prevalecer comportamentos ilícitos que as entidades omitem à OCC. Na
mesma exposição, aponta-se a possibilidade de uma participação abranger mais do que um
CC, originando diversos processos de instrução disciplinar. Inclusive, adverte-se para o facto
de que a deliberação de processos de um ano não decorre apenas das participações recebidas
no decurso do mesmo, mas também aquelas que transitam do ano precedente. Portanto, o
número de participações recebidas num ano, pode não coincidir com número de relatórios
deliberados nesse ano. Com efeito, relembre-se também de que com a interpretação evolutiva
dos valores referentes às sanções aplicadas, afere-se que, atualmente, os profissionais eviden-
ciam comportamentos mais corretos decorrentes do cumprimento dos normativos.
Por todos estes aspetos e atendendo à subjetividade inerente quer à análise prece-
dente quer à que aqui se desenvolve, defende-se que a motivo descrito pelo CC não é passível
de explicar a realidade vivenciada. Novamente se ressalva o desconhecimento, por parte dos
profissionais questionados, de uma temática que coloca em causa a excelência de um CC.
A quarta questão que compõe o Tema 4 é: “O procedimento disciplinar pode culmi-
nar na decisão de aplicação, ou não, de uma sanção disciplinar ao CC infrator. Consegue
identificar as sanções previstas no EOCC?”.
Em virtude do caráter fechado da questão, recorre-se à observação do Gráfico 1, cujo
propósito é avaliar o conhecimento dos inquiridos face às sanções previstas no EOCC exe-
cutáveis a quem prevarica os interesses da profissão em matéria de ética e deontologia pro-
fissional, recorrendo à sistematização das respostas reunidas. Primordialmente considera-se
interessante constatar que apenas um indivíduo identificou na totalidade as quatro sanções
disciplinares aplicáveis. Dos restantes inquiridos, dois reconheceram apenas uma sanção, três
identificaram duas sanções e um descreveu três das sanções.
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Numa análise sumária, verifica-se que apenas 14% dos inquiridos identificou a adver-
tência como uma das sanções aplicadas, o que em termos nominais traduz que a pena mais
branda aplicável pela Ordem é conhecida apenas por um dos profissionais respondentes.
Quanto à imposição de multas, foram quatro os indivíduos a descrever essa realidade, ou
seja, 57% da amostra é conhecedora de que a multa é uma das sanções impostas. Já no que
concerne à suspensão temporária até três anos, esta é identificada por 43% da amostra, no
caso, três indivíduos. Em último, a possibilidade de expulsão da Ordem é a sanção que os
profissionais mais se recordam, sendo que foi indicada por 100% dos indivíduos entrevista-
dos. No cômputo geral, é possível constar que, em grande parte, os CC entrevistados reco-
nhecem as sanções disciplinares aplicáveis às infrações aos normativos éticos e deontológicos
a que a profissão está sujeita.
Por forma a encerrar o tópico, interrogou-se o seguinte: “Quer em 2010, quer em
2019, a advertência e a multa são as sanções mais aplicadas, que no seu conjunto ascendem,
respetivamente, a 91% e 85% do total de penas disciplinares aplicadas. Considera que as
penas supracitadas permitem verdadeiramente disciplinar a conduta profissional?”
Dos sete entrevistados, três afirmam convictamente de que a aplicação de advertên-
cias ou de multas aos profissionais infratores não permitem correções de comportamento.
Inclusive, os três partilham a mesma linha de pensamento acerca da advertência, em especí-
fico a facilidade com que esta é ignorada pelos profissionais. O Entrevistado B adianta que
mesmo com a aplicação de uma advertência “... no ano a seguir, ou no mês a seguir estão a
fazer o ato pelo qual foram sancionados.”, pelo que “... andam sempre aí a fazer pequenos
crimes.” (Entrevistado A). Imprevistamente, dois destes inquiridos concordam com a urgên-
cia de se limitar o acumular de advertências e de multas e, no caso de um CC atingir esse
0% 20% 40% 60% 80% 100%
Advertência
Multa
Suspensão Temporária
Expulsão
Identificação das sanções previstas no EOCC
Gráfico 1. Respostas à identificação das sanções previstas no EOCC
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limite “... devia ser repreendido mais severamente ou mesmo expulso.” (Entrevistado A). Na
mesma perspetiva o Inquirido C defende que as mudanças de comportamento surgirão ape-
nas “... com a expulsão, e bem divulgada, porque eu não conheço ninguém que tenha sido
expulso da Ordem.”.
A respeito, três inquiridos aplicam expressões de dúvida quanto à eficácia das penas
de advertência e multa, utilizando expressões como “deveriam ser, mas se me está a dizer
que as infrações aumentaram, se calhar não são.” (Entrevistado E), “Eu acho que sim, pelo
menos deveriam.” (Entrevistado F) e, por fim, “Nalguns sim, noutros não.” (Entrevistado
G). Saliente-se que, em última instância, dois dos respondentes acabam por revelar que não
consideram as penas supracitadas capazes de modificar comportamentos pois “… se você
for coimado à primeira vez, acho que vai tentar corrigir o seu erro para não ser à segunda e
à terceira. Mas segundo esses números que me está a dar, elas não são corretivas.” (Entrevis-
tado E). Ainda, um CC faz referência de que sente amedrontado com a possibilidade de
aplicação de advertências ou multas, todavia constata que não parece surtir esse efeito na
restante classe. Com uma opinião divergente, o terceiro respondente que apesar da dúvida
quanto à efetividade das penas na correção de comportamento, revela que quer “… acreditar
que sim, que isto caminhe para bom porto porque é uma profissão digna.” (Entrevistado G).
Em último, um respondente refere “... porque é que foram aplicadas? É que depende
de muita coisa.” (Entrevistado D). Porém, com esta referência entende-se que cada caso é
um caso e atividade jurisdicional não pode nem deve medir-se exclusivamente pela vertente
quantitativa, e por isso carece de ser bem avaliado e tratado como tal.
Pela observação dos aspetos mencionados, genericamente, o valor da incidência das
penas de advertência e de multa no total de penas aplicadas revela, em certa parte, que os
comportamentos pelos quais os CC estão a ser instruídos continuam a demonstrar gravidade
comportamental reduzida. Pois, a aplicação de penas mais severas como a suspensão tempo-
rária e a expulsão denotam atitudes de maior gravidade comportamental. Contudo, compa-
rando os valores de 2010 e de 2019, seria de esperar que se reduzissem, o que poderia tradu-
zir, na prática, a correção de comportamento por parte dos CC. Neste sentido, e face ao
discutido pelos inquiridos, conclui-se pela ineficiência da advertência e da multa para retificar
os comportamentos contrários aos referenciais éticos e aos princípios deontológicos cultiva-
dos pela profissão.
Na verdade, o trabalho de Hayibor e Wasieleski (2009) indica que a presença de con-
sequências, quer seja uma recompensa ou uma sanção, de determinada atitude está
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positivamente associada à perceção da magnitude das consequências, perceção essa que pode
ser influenciada com o propósito de reduzir as atitudes antiéticas na organização. Contudo,
em parte explicado pelo desconhecimento da atividade desenvolvida pelo Conselho Disci-
plinar, pressupõe-se que os CC não comportam uma correta perceção da intensidade das
consequências para os comportamentos que prevaricam os interesses da profissão. Aliás,
com a divulgação em massa da realidade subjacente às matérias éticas e deontológicas seria
passível de se reduzirem os comportamentos antiéticos via consciencialização das conse-
quências.
Assim, no cômputo geral do Tema 4, é possível corroborar que os CC são capazes
de identificar ações praticadas ou omitidas que podem originar infrações disciplinares, ainda
assim desconhecem parcialmente a atividade disciplinar que a Ordem desenvolve e, parcial-
mente, as sanções disciplinares aplicáveis aos contabilistas pelas infrações que cometeram.
Pela observação de todos os factos expostos, é oportuno que se interiorizem e difundam as
consequências, isto é, as sanções disciplinares, que visam restabelecer a ordem pelo incum-
primento das normas de conduta e demonstrar ao infrator que o seu comportamento é cen-
surável e ilícito, e que no futuro deverá adotar um comportamento ético.
5.2.5 As Pressões Sentidas pelos Contabilistas
De imediato surgem seis questões abertas relacionadas com as pressões que os con-
tabilistas enfrentam. Deveras, estas situações possibilitam a presença de dilemas éticos e,
consequentemente, dificultam o processo de tomada de decisão ética.
Para questionar os indivíduos acerca da temática, recorreu-se a um cenário verídico
reportado pela Bastonária da OCC, por forma a averiguar a recorrência de pressões no am-
biente de trabalho dos contabilistas. A questão apresentada foi: “Na última semana foram
notícia declarações da Bastonária dizendo que os contabilistas são pressionados a passar de-
clarações falsas com o intuito de apresentar resultados que não correspondem aos resultados
reais da empresa. Com a sua experiência, estas situações são frequentes?”. A par, inquere-se:
“Que situações são mais propícias a que isso aconteça?”.
Dos sete entrevistados, somente um verifica que as situações de pressão não são ha-
bituais no exercício da atividade contabilística, inclusive, afirma “não, na minha situação, não
são.” (Entrevistado F). Já os restantes não só concordam que as coerções são recorrentes,
como também apontam de igual forma dois agentes causadores: os bancos e os clientes.
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Primordialmente, é pertinente destacar que surgem dois visões quando os entrevista-
dos referem os bancos como agentes de coerção. Note-se que a perceção dos profissionais
está afetada pelas condicionalidades decorrentes da situação pandémica imposta pelo CO-
VID-19. De um lado, os bancos sobrecarregaram os contabilistas com pedidos de informa-
ções financeiras que ainda não estavam devidamente preparadas, não necessariamente para
os coagir à alteração de valores, mas sim para confirmarem os dados sem análise prévia,
maioritariamente com o intuito de fornecerem créditos. Na realidade, o Inquirido C descreve:
“…há uma grande pressão da banca sobre os contabilistas para obter informações que
ainda não estão prontas. Com isto eles querem que nós assinemos “de cruz” uma coisa
que nem sabemos quais os valores que estão ali. Uma das coisas é a quebra de faturação
em 40%, eles querem que nós chegássemos lá e fizéssemos uma cruz, que sim houve
uma quebra, sem que tivéssemos de analisar os dados.”.
Concomitantemente, a perspetiva subsequente tem que ver com a corroboração das
declarações emitidas pela Bastonária. Os CC reconhecem, efetivamente, que os bancos na
tentativa da comercialização das linhas de crédito forcavam os contabilistas a “martelar” as
contas por forma a atingir a quebra de faturação requerida pelo Estado para o acesso às linhas
de apoio à economia. Em conformidade, um Inquirido G relata:
“Nesta fase do COVID-19, no início o Governo criou aí umas linhas de apoio em que
aquilo voou completamente... . Então, os bancos a dada altura … começaram a abrir o
olho, digamos, e criaram eles umas linhas de apoio. O que eles pediam sempre era para
nós enviarmos para eles a quebra de faturação, de 40% ou 75%, o que fosse, podia ser
com os dois meses anteriores ou então com o período homólogo. E o que acontece é
que, embora, às vezes, o cliente estivesse a passar por dificuldades, que acredito que
estivesse, não existia essa quebra. . E foi nesse sentido que eles procuravam o jeitinho
nas faturas para ter as quebras e não pode ser.”.
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Por outro lado, analogamente ao acima descrito, descrevem-se, simultaneamente
pressões por parte dos clientes e dos bancos para adaptar a informação financeira de forma
a cumprir os requisitos para a admissão a linhas de financiamento. Neste sentido, o Entre-
vistado B refere que o cliente “…está aflito porque precisa de uma linha de crédito…” ao
mesmo tempo que “… o banco não aprova a linha de crédito com aquele balancete.” pelo
que se aconselha o contabilista a “…“martelar” as contas.”. Constantemente, “é aí que mui-
tos contabilistas se sentem na tentação de ocultar certas coisas.” (Entrevistado B).
Ainda no que remete a sobrecargas por parte dos clientes que propiciam falhas con-
tabilísticas, uma das razões apontadas pelos inquiridos tem que ver com a exigência de cele-
ridade no processamento da informação financeira – “Chegam com os documentos hoje e
querem que amanhã as coisas estejam prontas porque a banca vai abrir as linhas de crédito.”
(Entrevistado C).
Por último, de entre explicações relacionadas com os clientes, surge a falha na entrega
atempada de documentos essenciais à preparação da informação contabilística. Deveras, a
omissão de algum documento pertinente pode induzir o profissional em erro, o que no fu-
turo pode ser prejudicial à sua atividade. Nestes casos, um CC advoga que “… se não trazem
(os documentos) também têm de assinar um papel para eu me salvaguardar na eventualidade
de faltar algum documento importante.” (Entrevistado D).
Mediante o exposto nas análises acima efetuadas, é possível auferir dois grandes agen-
tes indutores de pressões negativas à atividade desenvolvida pelos CC. De um lado, temos
os bancos, sobretudo, porque querem comercializar as linhas de crédito, por outro, os clien-
tes dos profissionais, para que possam cumprir os requisitos dos financiamentos fornecidos
pelos bancos ou porque falham, propositadamente ou não, na entrega de documentos con-
tabilísticos fulcrais à preparação da informação financeira.
No seguimento, considera-se pertinente interrogar os indivíduos se já encaram al-
guma da realidade suprarreferida com a seguinte questão: “Já foi confrontado com alguma
situação desse tipo?”.
Quatro dos sete entrevistados constatam que nunca se depararam com uma situação
semelhante, embora um admita que sente a necessidade de dos bancos comercializarem as
linhas de crédito, nunca se deparou com tal cenário. Inclusive, outro entrevistado defende
que solicitou em nome de um cliente uma das linhas de apoio à reestruturação da economia
e não experienciou qualquer tipo de pressão por parte do banco a que se dirigiu.
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Ora os restantes inquiridos, afirmam ter experienciado situações de tensão por parte
quer dos clientes, quer dos bancos. A propósito da pressão advir dos clientes, dois respon-
dentes relatam atitudes dos clientes para converter os prejuízos do período em lucros eco-
nómicos e a insistência para satisfazer os critérios para ser elegível para as linhas de financi-
amento de apoio à economia no âmbito do COVID-19. O Entrevistado E testemunha:
“Agora nesta situação da pandemia, neste subsídio estatal que existe da retoma progres-
siva da atividade comercial, eu tenho um cliente que está super aborrecido comigo por-
que acha que tem direito ao subsídio. ... ele continua a achar que se os outros têm, ele
também tem que ter… . Uma das condições principais é a diminuição de atividade co-
mercial e só por aí ele já não reúne.”.
No que concerne a pressões oriundas dos bancos, um entrevistado confessa ter-se
sentido coagido a partilhar informação financeira que ainda não estava pronta, cujos prazos
de entrega tinham sido prorrogados. Serve o exemplo abaixo para ilustrar esta ocorrência.
“…nós andamos a falar com os bancos a dizer que não era viável e não íamos enviar
nenhum balancete porque nós tínhamos tempo e eles tinham tempo, e tinham de aguar-
dar. Eles ficaram um bocado chateados connosco, mas pronto, já se resolveu. Olhe, por
exemplo, a falar dos encerramentos, eles foram adiados para junho, e estamos a falar em
abril/maio durante a pandemia, porque o normal é fechar em maio. Eles, em abril, já
queriam que as contas estivessem fechadas…” (Entrevistado C).
De facto, em virtude do mencionado, o número de profissionais que nunca se depa-
rou com uma situação de coação, parece ser um bom indicador de que o ambiente de cor-
rupção em que vivemos não se alastrou totalmente no meio empresarial. Todavia, é relevante
que o CC reconheça a conjuntura em que atua por forma a assumir uma posição de insubor-
dinado face aos interesses dos demais intervenientes nas suas relações laborais.
Ademais em relação ao Tema 5, inquerem-se os indivíduos com o seguinte: “Como
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deve proceder o contabilista nesses casos?” e “Considera que o contabilista deve denunciar
essas situações?”.
No que respeita à primeira questão apenas foram recolhidas as perspetivas de três
inquiridos, sendo que os restantes indivíduos optaram por não abordar a matéria.
Em consonância, um dos entrevistados defende que o modo de agir deve ter em
conta o agente que está a originar as pressões. Designadamente, em situações que a coação
advém do banco, o modo de atuação deve variar de acordo com o que o cliente “… está a
fazer na banca.”, isto porque o inquirido denuncia a exigência da preparação de informação
contabilística cujos prazos de entrega não estão num futuro próximo. Quer dizer, “quando é
controlo de crédito, não é urgente eles pedirem uma IES que só é para fazer em setembro,
pedirem em julho. Uma coisa é para controlo de crédito outra é para contrair empréstimos,
então aí vamos fazer um esforço.” (Entrevistado C). No entanto, quando as imposições de
prazos resultam de decisões estatais, considera-se que “…não há muito a fazer porque “é o
Estado” … temos as mãos atadas.” (Entrevistado C). Em ambas as situações, no entender
do entrevistado, podem se gerar falhas técnicas e/ou contabilistas passíveis de prejudicar a
excelência do profissional.
Por seu turno, o Entrevistado A defende que um profissional deve gozar de indepen-
dência das demais entidades com que se relaciona, argumentando que “o contabilista tem
que ter uma linha geral de julgamento e não pode deixar-se pressionar. … Caiu a primeira
vez, a dignidade vai-se perdendo, e perdendo uma vez, perde para toda a vida.”.
Em último, o terceiro inquirido salvaguarda que, independentemente da origem da
pressão, o contabilista deve expor a situação à Ordem. Ademais, “a Ordem tem um departa-
mento para isso mesmo…” e, primeiramente, “…o contabilista não deve ceder…” (Entre-
vistado G).
Tendo em consideração a possibilidade de denuncia das situações de pressão, os pro-
fissionais inquiridos reconhecem três linhas de pensamento.
Dois inquiridos afirmam inequivocamente que ocorrências semelhantes devem, sem
qualquer margem para dúvida, ser reportadas. Em contrapartida, quatro dos respondentes
confessam que este tipo de ocorrências deveria ser participado. Contudo, simultaneamente,
os inquiridos apresentam expressões de dúvida e medo de represálias da parte do cliente
como:
“…mas quem vai fazer isso? Eles (CC) vão fazer isso, mas não vão dar nomes porque o
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cliente vai ficar chateado com ele, e o cliente pode ir embora. … Se denuncias podes
amanhã não ter trabalho, se denuncias e não dizes quem foi o processo fica em “águas
de bacalhau”.” (Entrevistado A).
Inclusive, o receio de perder o cliente é ilustrado com um exemplo prático vivido por
um dos respondentes:
“No fecho do ano, temos clientes que encerram com vinte e dois ou cinquenta mil euros
de lucro. E o cliente diz assim “arranje aí qualquer coisinha para fechar só com mil ou
dois mil”. Nós muitas das vezes dizíamos que não. Mas o cliente diz logo “ah, se vocês
não fazem digam, porque o contabilista X ou Y faz”.” (Entrevistado B).
Por fim, dentro desta linha de pensamento, concorda-se que “... temos que agir. Mas
se eu fizer agora uma queixa, não sei até que ponto é que ela não “fica em saco roto”.”, muito
porque “eu acredito que quem denuncie sofra represálias” (Entrevistado C).
Ademais, sob outra perspetiva, o Entrevistado E verifica que a atuação do profissio-
nal contabilista deve ter em conta a entidade com qual a situação se desenrola. Se por um
lado, a ocorrência se relacionar com o seu cliente, advoga à não denúncia, pois “…ninguém
vai fazer nada contra isso.”, por outro lado, quando o agente em questão são os bancos, o
inquirido é da opinião de que a denúncia deve ser feita.
Face ao exposto, na sua maioria, os profissionais creem que a denúncia de situações
de pressão é relevante para a valorização da classe. Todavia, é possível auferir que subsiste a
dúvida de ineficiência no processo de averiguação da Ordem face às denúncias realizadas.
Adicionalmente, a atitude do cliente perante estas ocorrências dificulta o julgamento do pro-
fissional, pois, após denunciar, o CC receia represálias por parte do cliente.
Por forma a encerrar o Tema 5, inquere-se os indivíduos com o subsequente: “Con-
sidera que a existência de mecanismos de denúncia e de proteção do denunciante seriam
eficazes no incentivo à denúncia?”.
De entre os sete inquiridos, apenas um expressa convictamente de que a presença de
mecanismos de denúncia e de proteção ao denunciante não seriam eficazes porque, quando
o cliente é a origem da pressão ao “denunciar essas situações o cliente ia saltar para outro
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contabilista, e depois para outro. Originava uma situação em cadeia.” (Entrevistado B), o que
não permitiria uma resolução efetiva do problema.
Em alternativa, três inquiridos colocam a possibilidade de viabilizar a denúncia, con-
tudo referem-se algumas advertências. Em primeira instância, sublinha-se a necessidade de
manter o cliente informado de todas as ações, na medida em que há o risco da perda de
cliente, sobretudo devido aos honorários praticados. O Respondente C defende que:
“Quando o cliente está insatisfeito, há uma quebra de confiança com o contabilista, e o
que o cliente faz é mudar. Sinto que no nosso escritório, a relação com muitos clientes
é na base da confiança e não nos honorários. Porque acho que até praticamos honorários
um pouco acima da média. Eu acho que para quem pratique honorários baixos possa
ser complicado, porque a linha de julgamento é ainda mais ténue. Se fazem uma queixa,
eles perdem logo o cliente porque sabem que o colega faz ao mesmo preço ou ainda
mais baixo.”.
O referido entrevistado adianta a necessidade de se salvaguardar o contabilista contra
a perda do cliente, ao qual, a título de exemplo, sugere a obrigatoriedade de o cliente manter
a relação laboral com o profissional durante cinco anos. Embora reconheça que o sugerido
é descabido, salienta a necessidade de mecanismos de proteção ao denunciante.
Paralelamente, sob outra perspetiva de interpretação, relembra-se da liberdade de es-
colha do cliente, pois “…o cliente é livre de querer ficar ou não. Ele até pode chegar ao fim
e dizer “sim senhora, você tem razão, mas eu não quero trabalhar consigo” independente-
mente da proteção que você obtiver de onde quer que seja…” (Entrevistado E). No segui-
mento, o entrevistado ressalva que “se o cliente não quiser trabalhar consigo, você não con-
segue fazer absolutamente nada. Mesmo lhe sendo dada a razão a 100%.”.
É pertinente salientar que ambos os juízos de valor emitidos pelos entrevistados ime-
diatamente acima referidos, concordam sobre o papel proativo que a Ordem está a executar
no incentivo à denúncia e no tratamento de matérias disciplinares.
Finalmente, os restantes três inquiridos consentem que a presença de mecanismos de
denúncia e de proteção do denunciante seriam eficazes na promoção da denúncia, no caso
de salvaguardar o profissional das represálias passíveis de afetar a carteira de clientes. O que
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se corrobora com as seguintes afirmações: “…se ajudasse na não perda do cliente era mais
viável a denúncia.” (Entrevistado F) e “… sem dúvida para nós que denunciamos por ques-
tões lógicas, para não teres sequelas no futuro. É uma proteção…” (Entrevistado G). Mais
especificamente, frisa-se que devia “…de existir outro tipo de seguro na questão da respon-
sabilidade civil…. É verdade que toda a gente comete erros e que toda a gente está sujeita a
falhas, pode acontecer por exemplo mandar um modelo fora de prazo.” (Entrevistado D).
No cômputo geral, a disponibilização de mecanismos de denúncia e de proteção do
denunciante comportava melhorias positivas na indução da denúncia no caso de se acautela-
rem as relações entre profissional e cliente. Todavia o mencionado, subsistirá nos contabilis-
tas o medo de represálias deste tipo de exposição. Recorrendo à revisão de literatura é desde
logo possível excluir a presença de recompensas monetárias e promoções, ou mesmo a in-
fluência de afinidades no incentivo à denuncia de atitudes moralmente incorretas, isto porque
os indivíduos contabilistas são menos propensos do que os indivíduos das demais profissões
a expor infrações éticas (Hwang et al., 2008).
5.2.6 Os Fatores que Interferem no Processo de Tomada de Decisão
Muito se tem discutido acerca dos fatores capazes de influenciar o processo de to-
mada de decisão ética, e, com o intuito de desenvolver a literatura da área expõe-se os inqui-
ridos ao Tema 6.
Inicialmente questionam-se os CC com: “Na sua opinião, quais os motivos que levam
um CC a comportar-se de forma contrária às regras deontológicas estipuladas pelo conjunto
do CDCC?”. Deste modo, procuram-se os motivos que possam originar comportamentos
antiéticos inerentes ao exercício da profissão, não diretamente relacionados com as carate-
rísticas do profissional.
Dos sete entrevistados, cinco argumentam que o cliente é o principal motivo para
que um profissional se comporte de forma contrária às regras deontológicas, embora opinem
sobre duas perspetivas distintas. Quatro respondentes advogam que os profissionais preva-
ricam os interesses da classe devido à “… necessidade de ter clientes.” (Entrevistado A),
associada à forte concorrência que se faz sentir. Acrescente-se que “nos meios mais ferozes,
toda a gente quer ter clientes, toda a gente quer trabalhar. Há uma necessidade. Manter um
escritório tem alguns custos e sem clientes, isso não é possível.” (Entrevistado A). Neste
sentido, aborda-se a falta de lealdade na relação laboral associada à pressão por obter clientes,
95
pois “tu sabes que se não fazes, o teu cliente vai embora. E, se o teu cliente não estiver 100%
satisfeito contigo, há mínima coisa, ele vai embora.” (Entrevistado B). Inclusivamente, um
dos entrevistados reconhece que “… às vezes a necessidade obriga.” (Entrevistado F). Pese
embora o referido, um inquirido assume: “Eu prefiro perder (o cliente) e ser correta do que
fazer asneira atrás de asneira…” (Entrevistado F). Com o acima referenciado, entende-se que
os CC optam por esconder as suas atuações atrás dos clientes como forma de se desculpabi-
lizem pelas infrações praticadas, o que não é plausível para a dignificação da classe, dado que
“isso não cria boa imagem para ninguém” (Entrevistado F).
Simultaneamente, outro inquirido considera que os CC praticam infrações por forma
a auxiliar o cliente na medida em que “… há ali boas intenções porque o cliente está a precisar
de ajuda.” (Entrevistado C). O referido indivíduo consente que, por vezes, a presença de
ambiguidade na interpretação das normas vigentes, permite “extrair alguma coisa para o
nosso lado. E quantas vezes acontece isso! Nós fazemos isso para que o cliente consiga obter
melhores resultados ou pagar menos impostos.”. Em última instância, constata-se que agir à
face da ilegalidade permite beneficiar tanto o cliente como o profissional, isto porque “… ao
ajudar o cliente também vamos ajudar a nossa empresa, porque o cliente vai ficar satisfeito.”
(Entrevistado C). Esta linha de pensamento surge associada à necessidade de ter clientes.
Com uma interpretação diferente surge um respondente que aponta para a falta de
conhecimento dos normativos vigentes, argumentando que: “Não estou a ver nenhum con-
tabilista a infringir a lei só porque lhe apetece.” (Entrevistado E). Por outro lado, o último
motivo apresentado pela amostra, preconiza: “O dinheiro. É o principal motivo, não tenho
dúvidas” (Entrevistado G).
Em vista dos motivos apresentados, é sustentável concluir que o desejo de possuir
clientes é o motivo primordial para que os CC optem por comportar atitudes contrárias aos
desígnios da OCC. A propósito, todas as descobertas empíricas aqui expostas não são passí-
veis de serem contrastadas com a revisão de literatura existente, pois não se encontraram
trabalhos que examinem os efeitos destas perspetivas.
Por fim, no respeitante ao Tema 6, colocou-se a seguinte questão: “Que fatores indi-
viduais lhe parece que possam ter impacto no comportamento ético dos contabilistas? E, em
relação a fatores situacionais?”. Note-se que nas situações em que os respondentes não eram
capazes de identificar o objetivo da questão, foram apresentados os fatores individuais (gé-
nero, idade, educação e experiência profissional, nacionalidade e religião) e situacionais (clima
ético, cultura organizacional e recompensas e sanções).
96
A propósito dos fatores individuais, quatro dos entrevistados consideram que a idade
associada à experiência profissional interfere no processo de tomada de decisão ética. Toda-
via, apresentam perspetivas de pensamento distintas. Três dos inquiridos creem na relação
positiva entre a idade e a experiência profissional, e a propensão a adotar comportamentos
antiéticos, na medida em que “… quem é mais velho e tem mais experiência se calhar, às
vezes, facilita um bocadinho…” (Entrevistado G). Adicionalmente, o Entrevistado B retrata:
“Os contabilistas mais velhos pensam que já têm o estatuto, então não se prendem muito
às leis. Ou não se prendem, ou fazem-se de esquecidos, não olham para isso. Eu vejo no
escritório onde trabalho: eu digo muitas vezes que não é assim que se faz, a lei diz x.
Eles dizem-me “ah, nós fazemos sempre assim e não há problema, tu estás aqui há um
ano e nós temos já 25 anos de carreira e nunca tivemos problema.”.
Todavia, um dos três indivíduos que suportam o pensamento em análise advoga: “eu
com a idade que tenho era incapaz de fazer isso.” (Entrevistado F). Recorrendo à literatura
da área, a opinião supracitada pelos inquiridos, que se traduz na menor capacidade de pro-
fissionais mais velhos e com maior historial profissional procederem a decisões éticas, devido
à possibilidade de terem as suas interpretações em matéria de ética deturpadas, vai ao encon-
tro das conclusões auferidas por Browning e Zabriskie (1983), Eynon et al. (1997), Marques
e Azevedo-Pereira (2009) e Roozen et al. (2001).
Por oposição, o quarto respondente que faz menção à influência positiva da idade e
da experiência profissional na capacidade de comportar atitudes éticas, deduz que indivíduos
mais velhos e com uma longa carreira profissional transparecem melhores julgamentos éticos
do que aqueles com pouca experiência profissional. Deveras, o Profissional C refere:
“Com a experiência, pelo que acredito e pelo que falo com outros colegas, os mais novos,
como eu, conseguimos ler mais o cinzento. Conseguimos chegar ali e arriscar mais, va-
mos ao limite. Mas com a idade, pelo que vejo nos meus patrões, começam a ficar mais
para trás, mais a jogar no seguro.”.
97
Importa, todavia, realçar a presença de investigações académicas que corroboram a
linha de pensamento apresentada anteriormente. No seu conjunto, os trabalhos de Chan e
Leung (2006), Eweje e Brunton (2010), Su (2006) e Weeks et al. (1999), concluem pela signi-
ficância da experiência de trabalho, corroborando que indivíduos que possuem uma carreira
profissional são mais sensíveis à presença de dilemas éticos do que os estudantes. E, por essa
razão, é suscetível que os trabalhadores sejam menos propensos a comportar atitudes antié-
ticas. Ademais, confirma-se a conclusão auferida por Karcher (1996) que apura que a relação
entre a sensibilidade ética e a idade em profissionais contabilistas é positiva.
Outrossim, entre os demais fatores individuais passíveis de possuírem repercussões
no processo de tomada de decisão ética, somente um inquirido alega a não influência do
género, sendo a única referência à variável presente na amostra. Neste sentido, o seu pensa-
mento reitera as pesquisas de Mcnichols e Zimmerer (2013), Nguyen et al. (2008) e Sweeney
e Costello (2009) onde se preserva a inexistência de disparidades significativas a capacidade
de julgamento ético entre géneros.
Prosseguindo na exposição de variáveis individuais mencionadas, um respondente
frisa a cultura do país como fator capaz de interferir nos julgamentos éticos. Em conformi-
dade, crê-se que esta referência se traduz no papel da nacionalidade, comummente associado
à repercussão dos valores culturais. Genericamente, o CC inquirido acredita que “sai uma lei
e os Portugueses já estão a ver como a vão contornar, não como a cumprir. É o ADN do
país.” (Entrevistado A). Embora conste na literatura o conhecimento de que a cultura naci-
onal é uma componente que interfere significativamente no processo de tomada de decisão
ética (Beekun et al., 2008), não se encontram alusões às repercussões da cultura portuguesa
em comparação com as demais culturas.
Por último, dois indivíduos, advogam que os fatores individuais não são capazes de
manipular a tomada de decisão ética de um profissional, citando: “não acho que os fatores
individuais possam influenciar isso.” (Entrevistado D). Não obstante o referido, é, segundo
a literatura produzida na área, sabida a importância de que os fatores individuais têm na
previsão do comportamento ético dos indivíduos (Emerson et al., 2007).
Levando em consideração todas as perspetivas observadas pelos indivíduos, e as suas
evidências literárias, valida-se, para a realidade dos profissionais Portugueses, a influência
negativa da idade e da experiência profissional na capacidade de os indivíduos comportarem
atitudes éticas, o que se materializa na menor capacidade de profissionais mais velhos e com
maior historial profissional procederem a decisões éticas.
98
Quanto à possibilidade de os fatores organizacionais terem impacto no comporta-
mento ético dos contabilistas, três respondentes mencionam a influencia situações onde re-
tratam a cultura organizacional aliada à presença de clima ético. A título de exemplo, dois
inquiridos defendem que é possível minorar a prevalência de comportamentos antiéticos
através de práticas organizacionais. Neste caso retrata-se o seguinte: “Eu quando valido o
trabalho dos meus assistentes, tenho de ter uma lista de regras para verificação. Eu sei que
há escritórios que não têm essa cultura de verificação. É por isso que aqui no escritório temos
hierarquias bem definidas.” (Entrevistado C). Adicionalmente, outro exemplo mencionado:
“Olhe nós aqui sabemos que temos uma grande responsabilidade, eu pelo menos tenho
a noção disso e, acima de tudo, temos que ser diretos com o cliente, dizer o que tem de
ser dito. Eu alerto para as situações, há situações que eles ouvem e outras que não, mas
tento sempre dizer que se a lei diz assim, é assim que devemos fazer. E foi um aspeto
desenvolvido e praticado aqui, nós como escritório de contabilidade, acho que cada vez
mais devíamos fazer isso.” (Entrevistado F).
De facto, estes pensamentos concordam com a pesquisa de Elango et al. (2010) que
havia constatado que a tomada de decisão ética dos indivíduos é maleável aos padrões éticos
presentes no local de trabalho. Complementarmente, em específico, com o exemplar da cul-
tura de verificação traduzida no estabelecimento de regras, recorda-se a pertinência de técni-
cas de apoio organizacional nos processos de tomada de decisão dos seus colaboradores, em
especial no ramo da contabilidade, defendida por (Jones & Hiltebeitel, 1995).
Com efeito, no que concerne aos fatores situacionais, há referencia, por parte de
inquirido, do efeito da presença de recompensas, neste caso, monetárias. Recorde-se que já
havia sido reconhecida a presença de recompensas monetárias como comportamento con-
trário aos desígnios da profissão. Pese embora seja uma situação comumente aceite na orga-
nização em causa, esta deveria ser comunicada à OCC. A saber: “nós temos alguns clientes
que nos oferecem uma percentagem dos seus resultados líquidos. Vamos supor, quanto mais
resultado a empresa tiver, nós recebemos uma percentagem, 2,5 ou 3% em alguns casos.”
(Entrevistado B). Neste sentido, o apurado surge como evidência contrária à investigação de
Hwang et al. (2008) que advoga que os indivíduos contabilistas revelam-se menos propensos
99
do que os indivíduos das demais profissões a serem influenciados por recompensas monetá-
rias no que concerne à denúncia de atitudes moralmente incorretas.
Por conseguinte, três dos sete entrevistados partilham a visão de que os fatores situ-
acionais não interferem no comportamento ético ostentado pelos profissionais de contabili-
dade. Na realidade, o Entrevistado D sublinhou que “um contabilista deve ser profissional
através do conhecimento e não pelo o que o rodeia.”. Note-se que dois destes inquiridos
alegam o mesmo pensamento em relação à influência dos fatores individuais, na medida em
que creem que nem os fatores individuais nem os fatores situacionais tem repercussões na
postura ética. Todavia, é patente na área que não só que os fatores situacionais são a segunda
categoria de variáveis mais analisadas nos modelos de tomada de decisão ética (Ford &
Richardson, 1994), como também é reconhecido que a tomada de decisão individual é indis-
sociável da organização (Robin et al., 1996).
No cômputo geral, é pertinente epilogar que os contabilistas entrevistados possuem
ligeiros conhecimentos acerca da capacidade de os fatores individuais impactarem na atuação
ética de um indivíduo, dado que se revelaram capazes de identificar três das quatro categorias
de fatores mais examinadas. Face às diferentes perspetivas expostas e com a investigação
empírica a conduzir a resultados inconsistentes, não é fidedigno invocar com clareza algum
fator passível de influência a decisão ética dos profissionais Portugueses. Todavia, o exposto
parece apontar para as repercussões negativas que a idade e a experiência profissional têm na
capacidade de julgamento ético. Já no respeitante aos fatores organizacionais, e novamente
face aos resultados inconsistentes aqui expostos e encontrados na literatura, parece plausível
concluir pela prevalência de uma cultura organizacional assente num clima ético como veí-
culo para garantir melhores julgamentos éticos.
100
Conclusão
Numa época que a corrupção circula livremente, o ambiente é competitivo e as pes-
soas não medem esforços para alcançar o sucesso. A sensibilidade ética torna-se fundamental
para um desempenho de excelência dos profissionais contabilistas.
Considerando a motivação pelo crescente debate em torno da tomada de decisão
ética dos profissionais de contabilidade, e à luz da pouca pesquisa sobre o tema a nível naci-
onal, o objetivo desta dissertação é examinar se, entre os profissionais que atuam na área em
Portugal, existe uma adequada perceção das práticas e do desempenho ético, e se há controlo
e promoção desses atributos pela OCC. Como consequência, o foco desta investigação recai
sobre três questões:
1. Quais os desafios que as mudanças registadas na atividade dos profissionais de
contabilidade representam do ponto de vista ético?
2. Que tipos de comportamentos violadores dos princípios e deveres éticos e deon-
tológicos são mais frequentes e que fatores (individuais e situacionais) estão as-
sociados à sua ocorrência?
3. Qual o papel da entidade regulatória no tratamento de matérias disciplinares, quer
no incentivo à denúncia quer no sancionamento de práticas e atitudes antiéticas?
Face aos objetivos de pesquisa, e do leque de profissões ligadas à contabilidade, elege-
se o estudo da profissão de CC. Esta opção prende-se com o facto de os CC serem obrigados
a cumprir com o respetivo Código Deontológico, independentemente da forma como exer-
cem a atividade, como também por ser uma profissão com elevado número de participantes.
Importa ressalvar que não é o propósito da investigação procurar respostas generalizáveis
para o universo de CC.
No que respeita à primeira questão de investigação, é possível sumariar as seguintes
considerações:
Embora seja reconhecido que os CC têm um papel preponderante no processo de
tomada de decisão das organizações, os contabilistas ainda são vistos por grande parte da
sociedade como funcionários do Estado, isto porque os profissionais são frequentemente
rotulados de cobradores de impostos. Em concordância, conclui-se que os entrevistados ad-
vogam que o principal desafio ético é a emergência de mudança na perceção da sociedade.
Ainda nesta linha de análise, aborda-se a urgência de alteração do paradigma de contabilista
fiscal para consultor e parceiro de negócios. Aliás, apesar de os profissionais constatarem a
101
existência de pequenas evoluções positivas na conceção acerca da atividade desenvolvida por
um profissional de contabilidade, alegam a necessidade de se cumprirem os requisitos éticos
da profissão por forma a contribuir para a dignificação da classe.
Ademais, averigua-se a urgência de o CC se impor como agente de mudança e bata-
lhar contra o paradigma imposto pelas entidades com que se relaciona, pois para o profissio-
nal exercer a sua atividade com exatidão, necessita de atender às exigências das entidades, o
que neste momento é considerado um desafio ético. Efetivamente, aufere-se a urgência de
renovação de paradigma, imperativo para que os profissionais possam trabalhar para o reco-
nhecimento da classe profissional.
A par, afere-se que a atual Bastonária procura comunicar a obrigatoriedade de os
profissionais conhecerem profundamente os direitos e deveres por forma a exercer a ativi-
dade com dignidade, segurança e elevados padrões éticos. Em específico, em matéria de ética
e deontologia profissional, os contabilistas reconhecem a sua importância no desenvolver
das suas atividades profissionais. Contudo, constitui um desafio para a classe pois enquanto
que alguns profissionais denotam respeito pelo conjunto de regras de carácter profissional,
bem como as interiorizam e as fomentam, outros optam por colocar o seu interesse pessoal
acima dos interesses da classe profissional, de tal forma que prevaricam o conjunto de nor-
mas, prejudicando o seu reconhecimento na sociedade.
Em referência à segunda questão de investigação, sintetiza-se o subsequente:
Face a contingências passíveis de originar dilemas éticos, identificam-se dois grandes
agentes indutores de pressões negativas à atividade desenvolvida pelos CC. De um lado, os
bancos, sobretudo, porque querem comercializar linhas de crédito, por outro, os clientes dos
profissionais, para que possam cumprir os requisitos dos financiamentos fornecidos pelos
bancos ou porque falham, propositadamente ou não, na entrega de documentos contabilís-
ticos fulcrais à preparação da informação financeira. Todavia, em virtude do mencionado, o
número de profissionais que nunca se deparou com uma situação de coação, parece ser um
bom indicador de que o ambiente de corrupção em que vivemos não se alastrou totalmente
no meio empresarial. De facto, é relevante que o CC reconheça a conjuntura em que atua
por forma a assumir uma posição de insubordinado face aos interesses dos demais interve-
nientes nas suas relações laborais. Não obstante é justificável concluir que o desejo de possuir
clientes é o motivo primordial para que os CC optem por comportar atitudes contrárias aos
desígnios da OCC.
102
Diante da exposição de diversos tipos de ações praticadas ou omitidas que deram
origem a infrações denunciadas por parte dos profissionais, torna-se possível a comparação
com as principais causas de sancionamento disciplinar patentes nos Relatórios e Contas de
2014. Em conformidade, afere-se que na sua maioria, os comportamentos praticáveis no
passado continuam a originar denúncias no presente.
Paralelamente, no cômputo geral, é pertinente epilogar que os contabilistas possuem
ligeiros conhecimentos acerca da capacidade de os fatores individuais impactarem na atuação
ética de um indivíduo. Face às diferentes perspetivas expostas e com a investigação empírica
a conduzir a resultados inconsistentes, não é fidedigno invocar com clareza algum fator pas-
sível de influenciar a decisão ética dos profissionais Portugueses. Todavia, o exposto parece
apontar para as repercussões negativas que a idade e a experiência profissional têm na capa-
cidade de julgamento ético. Já no respeitante aos fatores situacionais, e novamente face aos
resultados contraditórios aqui expostos e observados na literatura, parece plausível concluir
pela prevalência de uma cultura organizacional assente num clima ético como veículo para
garantir melhores julgamentos éticos.
Por último, a propósito da terceira questão de investigação, averigua-se o seguinte:
Em primeira instância, é possível concluir que os contabilistas não conhecem em
profundidade o Código Deontológico, na medida em que as regras basilares de carácter pro-
fissional disponibilizadas pela Ordem, apesar de serem aprendidas nos cursos de ética, não
estão a ser interiorizadas nem fomentadas pelos profissionais. Por consequência, entende-se
que a OCC deve estimular a relevância da interiorização do Código Deontológico por forma
a que os profissionais compreendam que essa é a via para a dignificação da classe.
Adicionalmente, embora a amostra não seja exaustiva, os contabilistas parecem poder
contar com o apoio da Ordem para clarificar e zelar, sempre que lhe seja solicitado, pelo
respeito dos princípios éticos e deontológicos e defender os interesses, direitos e prerrogati-
vas dos seus membros. Ainda que se corrobore que os CC são capazes de identificar ações
praticadas ou omitidas que podem originar infrações disciplinares, desconhecem parcial-
mente a atividade disciplinar que a Ordem desenvolve e as sanções disciplinares aplicáveis
aos contabilistas pelas infrações que cometem.
No global, a disponibilização de mecanismos de denúncia e de proteção do denunci-
ante comportava melhorias positivas na indução da denúncia no caso de se acautelarem as
relações entre profissional e cliente. Todavia o mencionado, subsistirá nos contabilistas o
medo de represálias decorrentes deste tipo de exposição.
103
Ainda se revela oportuno que se interiorizem e difundam as consequências, isto é, as
sanções disciplinares, que visam restabelecer a ordem pelo incumprimento das normas de
conduta e demonstrar ao infrator que o seu comportamento é censurável e ilícito, e que no
futuro deverá adotar um comportamento ético. Aliás, em específico, conclui-se pela inefici-
ência da advertência e da multa para retificar os comportamentos contrários aos referenciais
éticos e aos princípios deontológicos cultivados pela profissão.
É sabido que as investigações empíricas ao nível da tomada de decisão ética na con-
tabilidade têm progredido nos últimos tempos, em particular nos Estados Unidos da Amé-
rica. Pelo que a existência de investigações em contexto português, permitiria contrapor as
teorias com as realidades práticas. Contudo, uma análise comparativa de resultados não é
exequível dada a carência de estudos realizados na conjuntura Portuguesa. É neste sentido
que se pretende estimular a comunidade profissional e académica à produção de pesquisas
que visem o desenvolvimento, fortalecimento e ampliação de conhecimento, contribuindo
para a adequação quer de programas formativos quer para a melhoria da autorregulação pro-
fissional. Desde logo, acredita-se que, quanto mais se entender do comportamento daqueles
que prevaricam os interesses da profissão, melhor serão desenvolvidas as lições de ética nos
cursos que a preparam.
Ultimamente, é importante salientar que o estudo é conduzido sobre limitações, pelo
que as interpretações dos resultados devem ter em atenção ao discutido de seguida.
Antes de mais é de destacar a situação pandémica, cujos efeitos se repercutiram no
desenvolver da presente investigação. A sociedade viu-se implicada a alterar a sua rotina,
tanto laboral como pessoal, pelo que a imposição de situações de contingência e de afasta-
mento social dificultaram o contacto com os profissionais contabilistas.
No que concerne à atividade disciplinar desenvolvida pela OCC, a disponibilidade
dos dados está condicionada aos elementos publicados nos documentos à disposição no sítio
da Ordem. Embora se tenha estabelecido contacto com a Ordem com o intuído de se ace-
derem aos dados em falta, o Conselho Jurisdicional entendeu que o pedido não podia de
todo ser correspondido. Ademais, ressalva-se que os dados apenas têm por base as queixas
efetuadas pelas entidades denunciantes perante infrações cometidas pelos CC pelo que po-
dem prevalecer comportamentos ilícitos que as entidades omitem à OCC, assim como o
número de participações pode não ser igual ao número de infratores.
Vale igualmente frisar a necessidade de recorrer a uma amostra por conveniência
inerente à dificuldade de alcançar a totalidade do universo de membros da Ordem, dessa
104
forma a amostra não pode ser considerada de representativa. Tendo em vista a realização de
investigações futuras, recomenda-se a utilização de uma população mais heterogénea, pois
esta amostra está concentrada geograficamente ao norte do país. Deveras, Shaub (1994) do-
cumenta a possibilidade de a localização geográfica influenciar a perspetiva ética de um indi-
viduo. Contudo, face à natureza exploratória da investigação, não se pretendem procurar
respostas generalizáveis para a população.
Ainda, a natureza sensível da temática, a presença de enviesamentos nas respostas
obtidas provocadas pelo socialmente desejável, constituem dois aspetos negativos à validade
dos resultados.
Por fim, a ausência de um estudo conduzido em contexto Português que incida sobre
a perceção das práticas e do desempenho ético, assente numa metodologia investigação so-
bretudo qualitativa impossibilita a relação estes resultados com quaisquer outros, dado que
não são comparáveis.
Nesta linha, é possível indiciar investigações futuras como a execução de estudos
longitudinais com o intuito de captar a origem de comportamentos desonrosos. Ademais,
seria pertinente estudar a capacidade de julgamento ético entre indivíduos de nacionalidade
portuguesa e das demais culturas/nacionalidades. Da mesma forma, seria aliciante aferir de
que forma é que os contextos político, social e económico e condicionam o julgamento ético.
Ainda, considera-se fulcral compreender qual a capacidade de o cliente influenciar um pro-
fissional contabilista a incorrer em comportamentos antiéticos. Por fim, outra recomendação
prende-se com a aplicação deste estudo a um maior número de profissionais por forma a
compreender se os resultados se mantem.
105
Apêndices
Apêndice Um – Guião para a Entrevista
Questões demográficas:
Idade:
Género:
Habilitações Literárias:
Anos de Experiência Profissional:
A sua formação académica incluiu matérias de ética e deontologia:
Tema 1: O enquadramento da profissão em Portugal
Desde que iniciou a sua atividade, que mudanças sente existirem na atividade profis-
sional dos contabilistas? E no estatuto social e imagem dos contabilistas?
Quais os principais desafios que a profissão enfrenta?
Qual a importância que, na sua opinião, os contabilistas atribuem a matérias de ética
e deontologia quando desempenham a sua atividade?
Tema 2: O conhecimento do Código Deontológico
Conhece o Código Deontológico defendido pela Ordem? Em caso afirmativo, quais
os aspetos que considera mais relevantes?
É capaz de enumerar os Princípios Deontológicos Gerais que devem imperar na con-
tabilidade? Em caso afirmativo, pode identificá-los?
Tema 3: Os Dilemas Éticos
No exercício da sua atividade enquanto CC já se deparou com uma situação passível
de gerar dilemas éticos? Sem mencionar nomes obviamente, pode descrever esse dilema?
Como procedeu à sua resolução?
Tema 4: As Infrações Disciplinares
Qualquer conduta dos CC contrária ao conjunto de normas citadas no EOCC e
CDCC constitui uma infração disciplinar que deve ser reportada ao Conselho Disciplinar.
Tem conhecimento de queixas efetuadas junto do CDOCC?
106
Os processos de instrução disciplinar são da ordem das duas a três centenas por ano,
notando-se algum aumento de 2016 para cá. Com base na sua experiência, quais as razões
para que estes valores estejam a novamente a aumentar?
Em 2019, embora o número de participações recebidas pelo CDOCC relativas a in-
frações tenha diminuído em 22%, registou-se um aumento de 37% de processos de instrução
disciplinar por questões de não quotas, face a 2018. Com base na sua experiência, por que
acha que isto aconteceu?
O procedimento disciplinar pode culminar na decisão de aplicação, ou não, de uma
sanção disciplinar ao CC infrator. Consegue identificar as sanções previstas no EOCC?
Quer em 2010, quer em 2019, a Advertência e a Multa são as sanções mais aplicadas,
que no seu conjunto ascendem, respetivamente, a 91% e 85% do total de penas disciplinares
aplicadas. Considera que as penas supracitadas permitem verdadeiramente disciplinar a con-
duta profissional?
Tema 5: A Pressão da Sociedade
Na última semana foram notícia declarações da bastonária dizendo que os contabi-
listas são pressionados a passar declarações falsas com o intuito de apresentar resultados que
não correspondem aos resultados reais da empresa. Com a sua experiência, estas situações
são frequentes? Que situações são mais propícias a que isso aconteça?
Já foi confrontado com alguma situação desse tipo?
Como deve o contabilista proceder nesses casos?
Considera que o contabilista deve denunciar essas situações?
Considera que a existência de mecanismos de denúncia e de proteção do denunciante
seriam eficazes no incentivo à denúncia?
Tema 6: Os Fatores que Interferem no Processo de Tomada de Decisão
Na sua opinião, quais os motivos que levam um CC a comportar-se de forma con-
trária às regras deontológicas estipuladas pelo conjunto do CDCC?
Qua fatores individuais lhe parece que possam ter impacto no comportamento ético
dos contabilistas? E, em relação a fatores organizacionais?
107
Apêndice Dois – Consentimento Informado
Eu, Catarina Alexandra Cruz Oliveira, aluna do 2º ano do Mestrado em Economia e
Administração de Empresas da Faculdade de Economia da Universidade do Porto, com o
objetivo de obter o grau de mestre, estou a elaborar uma dissertação cujo tema é subordinado
ao estudo da perceção do comportamento ético dos profissionais de contabilidade em Por-
tugal face à vigência do Código Deontológico defendido pela OCC. A par, procuram-se re-
colher informações acerca da importância do assunto na sociedade portuguesa bem como
analisar a visão dos entrevistados sobre as repercussões dos fatores individuais e situacionais
no comportamento ético dos contabilistas. A investigação é orientada pelo Professor Doutor
Carlos José Cabral Cardoso, professor catedrático da Faculdade de Economia da Universi-
dade do Porto.
Caro Contabilista, o seu anonimato é garantido e a informação recolhida é para uso
exclusivo da Aluna e do seu Orientador, pelo que não serão transmitidos a qualquer outra
entidade e/ou colaborador. Ressalva-se que não há respostas certas ou erradas.
Para alcançar este propósito solicito a sua autorização para a gravação em áudio da
entrevista para melhor interpretação da informação. Desde já, agradeço a sua disponibilidade
e contributo.
Eu, ___________________________________________ , Contabilista Certificado, mem-
bro ativo da OCC, declaro que compreendo os objetivos da entrevista e autorizo a respetiva
gravação.
_______________________________
_____, de _______________ de 2020
108
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